DEPRESSO: EFEITOS APS UMA PERDA FAMILIAR
Karyna Lucena Valena de Souza 1 Giselda Martins Romero2
RESUMO
Introduo: A depresso uma doena psiquitrica, caracterizada por alterao da
maneira como a pessoa pensa e sente, alm de afetar o comportamento social da pessoa
e o seu senso de bem-estar fsico. As pessoas, normalmente, evitam falar sobre as perdas
que decorrem da morte. A morte, na nossa sociedade um tabu, embora todos saibam
ser ela inevitvel. Quando perdemos algo ou algum, automaticamente somos
vinculados fsica e mentalmente situao de luto. Objetivo: O artigo tem como
objetivo a compreenso dos efeitos de uma perda familiar e conseqncia depresso,
bem como os efeitos aps deteco dessa patologia. Metodologia: O estudo foi
realizado em uma residncia localizada no bairro Vila Mariana, Paracatu-MG, e trata-se
de um estudo de caso. Os dados foram coletados por meio de entrevistas e visitas
residncia da famlia selecionada. A famlia foi escolhida por uma agente de sade do
PSF. Resultados: Os resultados alcanados incluem o acolhimento de V. S e sua famlia
no PSF, o diagnstico eficiente por parte da mdica, preparo da famlia em relao aos
fatores de risco e iniciativa por parte da paciente de buscar tratamento mdico.
1 Acadmica do curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu - Minas Gerais, Brasil. E-mail para contato: [email protected]. Data: 04 de julho de 2008. 2 Professora do curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu-MG.
Concluses: Devido a escassez de estudos de extrema importncia que se faam
estudos buscando a identificao de novos casos, bem como tratamentos e formas de re-
inserirem esses indivduos na sociedade, pois devido prpria doena eles acabam se
isolando.
PALAVRAS-CHAVE: Depresso. Perda familiar. Luto. Pais.
1.INTRODUO
1.1 ESTADO DA ARTE
A depresso uma doena psiquitrica, caracterizada por alterao da maneira
como a pessoa pensa e sente, alm de afetar o comportamento social da pessoa e o seu
senso de bem-estar fsico.
Clinicamente um mal que afeta o bem-estar, resultando em fadiga crnica,
problemas de sono e alteraes no apetite. Compromete o humor, os sentimentos de
tristeza, podendo levar a sensao de desesperana e desamparo. Alm disso, costuma
afetar a capacidade de concentrao e de tomada de decises. O comportamento,
frequentemente, est alterado, e a pessoa fica irritvel, apresentando acessos de raiva,
evitando ambientes e situaes de contato com outras pessoas.
Existem trs tipos principais de depresso: transtorno depressivo maior; distimia;
e depresso bipolar. Alm desses tipos bsicos, muitos pacientes desenvolvem um tipo
denominado "depresso reativa", a qual costuma ser mais leve, embora necessite de
tratamento psicoterpico adequado. A depresso reativa ocorre quando a pessoa
desenvolve muito dos sintomas de depresso, em resposta ao estresse de um evento
traumtico importante, porm esses sintomas no so graves o suficiente para
caracterizar o distrbio como depresso maior. Se esses sintomas leves ocorrem sem um
evento claramente identificvel, e os sintomas no duram o tempo suficiente para
classificar o quadro como de distimia, o distrbio chamado de "depresso
inespecfica". Outros tipos de depresso podem ser causados pelos efeitos psicolgicos
de doenas orgnicas ou do uso de substncias (drogas).
"A depresso um problema de sade pblica, e ser o mal do sculo 21,
juntamente com a sndrome do pnico", afirma Slvia Ivancko, psicoterapeuta e
psicloga do Instituto de Cancerologia de So Paulo. Os nmeros da depresso so
mesmo alarmantes: embora no se tenha um clculo exato, estima-se que cerca de 30%
da populao mundial sofra da doena, sem saber.
A Organizao Mundial de Sade (OMS) estima que a depresso seja
atualmente a doena psiquitrica mais diagnosticada: ocupa o quarto lugar entre os
maiores problemas de sade do Ocidente e a segunda causa de invalidez. A depresso
afeta cerca de 340 milhes de pessoas, dentre essas 13 milhes ocorrem no Brasil, e
causa 850 mil suicdios por ano em todo o mundo. Depresso e ansiedade so
responsveis pela metade (740 milhes de pessoas) das doenas mentais existentes no
mundo.
Quem j teve um episdio de depresso no passado possui 50% de risco de
repeti-lo. Caso tenha tido dois casos, a probabilidade de voltar a ter a doena pode
chegar a 90%, sendo essa percentagem superior em caso de trs episdios.
Para a maioria das pessoas, esses episdios so relacionados a algum
acontecimento adverso, como a morte de uma pessoa prxima, a perda de um emprego,
a falta temporria de perspectivas, o sofrimento com doenas crnicas, etc. So as
chamadas depresses ocasionais, ou situacionais, e geralmente se corrigem sozinhas,
com o tempo; ou com uma psicoterapia de apoio.
As pessoas, normalmente, evitam falar sobre as perdas que decorrem da morte.
A morte, na nossa sociedade um tabu, embora todos saibam ser ela inevitvel. Quando
perdemos algo ou algum, automaticamente somos vinculados fsica e mentalmente
situao de luto.
interessante falar da sintomatologia do luto, pois se tm a noo de que
quando uma pessoa morre, entraremos em luto ou ficaremos em luto. Bromberg
(1994) analisa os sintomas a partir de reaes afetivas como:
a) Depresso: caracterizada por um sentimento de tristeza, e um intenso
sofrimento subjetivo, dor mental. Os episdios depressivos podem ser intensos e,
algumas vezes, precipitados por eventos externos (receber carinho, ir a certos locais,
lembranas de atividades feitas em conjunto, aniversrio, etc.). Sentimentos de
desespero, lamentao e pena so predominantes.
b) Ansiedade: a pessoa demonstra medo de viver sozinha, de morrer; sente-se
ameaada; tem sensao de impotncia, de ser incapaz de sobreviver.
c) Culpa: auto-acusaes de eventos do passado; sentimentos de culpa em
relao pessoa que morreu (sentir que poderia ter feito algo para evitar a morte).
d) Raiva e hostilidade: Irritabilidade em relao famlia e amigos; raiva do
destino, dos mdicos e de toda a equipe do hospital.
e) Falta de prazer: perda do prazer obtido com comida, hobbies, eventos sociais
ou familiares. Sensao de que nada mais ser prazeroso sem a pessoa que morreu.
f) Solido: a pessoa se sente sozinha mesmo estando na presena de outras
pessoas; crises peridicas de intensa solido, principalmente nos momentos em que a
pessoa que morreu estaria presente.
As pessoas, normalmente, evitam falar sobre as perdas que decorrem da morte.
Na nossa sociedade ela um tabu, embora todos saibam ser inevitvel. Quando
perdemos algo ou algum, automaticamente somos vinculados fsica e mentalmente
situao de luto.
A perda de um filho um tipo singular de luto. Perder um filho requer dos pais
(ou outro cuidador), um ajuste emocional para enfrentar a situao individual e tambm
as alteraes no sistema familiar.
Apesar de todos na famlia sentirem um vazio, ou at mesmo culpa em relao
criana que morreu, talvez a me seja a pessoa mais atingida neste sentimento porque
ela acredita que poderia ter feito algo, (qualquer coisa), para evitar a morte do filho.
A morte de um filho abala o equilbrio familiar. H diferentes reaes entre os
membros da famlia. A me, freqentemente, sente-se culpada por ter falhado nos
cuidados maternos, que podem ter contribudo para a morte do filho.
Diversos fatores influenciam o reconhecimento da depresso. Se, por um lado,
ser do sexo feminino, ter meia-idade, estar desempregado, ter co-morbidade com
ansiedade, pouca sustentao social e depresses mais graves facilitam o
reconhecimento, por outro lado, sintomas fsicos presentes atrapalham.7
Nos principais estudos, tm sido utilizados sistemas diagnsticos baseados em
critrios como o Manual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes Mentais - DSM
IV- (APA, 1994) e o CID 10 (WHO, 1992), ou escalas e inventrios em que um ponto
de corte estabelecido e pontos acima ou abaixo indicam um diagnstico de depresso
(ex: escala de Beck, 1988). Sentimentos de infelicidade, inutilidade, culpa e vazio so
normais e ocorrem em todas as pessoas aps acontecimentos indesejveis. Geralmente
desaparecem algum tempo depois, no devendo ser encarados como depresso.
Entretanto, deve-se ficar atento quando esses sentimentos se tornam graves e duram
vrias semanas.
Ao contrrio do que se pensa, a depresso tem cura. O tratamento pode ser
realizado com o uso de antidepressivos, psicoterapia ou com a associao dos dois.
fundamental o apoio e a participao de familiares e amigos no sucesso do tratamento.
Os antidepressivos (Ex: Amitriptilina, Fluoxetina) de um modo geral no causam
sonolncia, nem dependncia e no precisam ser tomados para o resto da vida.
1.2 CONTEXTUALIZAO
Em visita domiciliar do ms 05 de 2007 foi entrevistada a Sra. V. S., 52 anos. O
grupo familiar abordado heterogneo, baixa renda, constitudo por seis pessoas. Foi
informado que V. S. era hipertensa, portadora de cardiopatia e foi possvel observar seu
estado depressivo e com auto cuidado diminudo. Seu marido A. T. S., a qual est junta
h um ano, tem 40 anos, trabalhador, ficando maior parte do tempo fora de casa. Com
eles moram os netos devido perda da filha mais velha L. P., 27 anos, por complicaes
Top Related