DESAFIOS FRENTE À EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO CURSO
DE FORMAÇÃO DE DOCENTES
Autor:Silvana Tomaz da Silva1
Orientadora:Marta Rejane Proença Filietaz2
Resumo
A compreensão do assunto inclusão de alunos com deficiência nas escolas, é quase sempre restrito aos professores que se especializam em Educação Especial. No entanto devemos atentar para a importância do conhecimento deste assunto por todos os professores, principalmente por aqueles que se dedicam aos primeiros anos do ensino fundamental. Incluir no Curso de Formação de Docentes um conhecimento maior e prático desta realidade é a principal proposta, para levar a estes profissionais uma maior conscientização sobre este assunto. São portanto necessárias visões com relação à Educação Inclusiva, Educação Especial nas suas diversas modalidades, a realidade desta no Estado do Paraná e no Município de Pinhais que serviram de subsídio para implementação do projeto “Desafios frente à Educação Inclusiva no Curso de Formação de Docentes”.O resultado desta implementação, relatados neste artigo, falam da importância de se trabalhar o assunto educação inclusiva desde a primeira etapa da formação de professores.
Palavras-chave: Formação Docente,Rede de Apoio, Inclusão, Parcerias.
Abstract
The understanding of the subject including students with disabilities in schools, is almost always restricted to teachers who specialize in Special Education. However we must pay attention to the importance of knowledge of this subject by all teachers, particularly those engaged in the early years of elementary school. Include in the Course of Teacher Training greater knowledge and practical reality is that the main purpose, to bring these professionals a greater awareness of this issue. Visions are therefore required in relation to Inclusive Education, Special Education in its various forms, the reality of the state of Paraná and the city of Pinhais that served as a grant to implement the project "Challenges facing the Inclusive Education in Teacher Training Course" the result of this implementation, reported in this article, spoke of the importance of inclusive education work the subject from the first stage of teacher training.
Key words: Teacher Training, Support Network, Inclusion, Partnership
1 Professora de Didática e Prática de Ensino da Rede Pública Estadual de Ensino Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato [email protected] 2 Doutoranda em Distúrbios da Comunicação, Professora da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná- UTFPR. [email protected]
1. Introdução
Este artigo tem o propósito de apresentar o estudo e aplicação do
projeto pedagógico intitulado: “Desafios frente à Educação Inclusiva no Curso
de Formação de Docentes” implementado no segundo ano do Curso de
formação de Docentes do Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato-
Ensino Fundamental Médio Normal e Profissionalizante, no município de
Pinhais-Paraná.Este estudo procurou mostrar aos alunos a realidade doServiço
de Educação Especial no município de Pinhais bem como da Escola de
Educação Especial CENTRAU de Curitiba-Ensino Fundamental, que atende
em período integral alunos surdos com perda auditiva de leve à profunda,
surdos-cegos cuja visão esteja classificada de subnormal à cegueira total.
Este estudo foi feito com o objetivo de conscientizar os alunos do Curso
de Formação de Docentes, para que os mesmos possam se interessar por esta
área, e estejam preparados para o trabalho a fim de buscarem novas
perspectivas em suas metodologias.
Tendo em vista a preocupação com a formação dos alunos do Curso,
fez-se necessário uma pesquisa em torno da Inclusão para que os mesmos
possam entendê-la, nos seus diversos aspectos atuais e sua política de
aplicação.O envolvimento das alunas foi primordial e essencial para a efetiva
construção do trabalho com a inclusão.
O projeto foi aplicado nas disciplinas de Prática de Formação e de
Concepções Norteadoras de Educação Especial, onde o trabalho realmente se
efetivou em uma nova metodologia de ensino onde os alunos puderam
observar, analisar e acompanhar os profissionais da Educação Especial.Foram
proporcionados momentos onde as alunas puderam perceber como é
desenvolvido este trabalho e sua eficácia.
A metodologia envolveu palestras, vídeos, visitas às escolas, aulas
expositivas, seminários, trocas de experiências, exposições à comunidade
escolar, estudos dirigidos, confecção de cartazes e camisetas como prática de
conscientização da comunidade escolar a respeito da Educação Especial e da
Inclusão. O envolvimento dos alunos foi expressivo, bem como houve
interdisciplinaridade com a disciplina de Trabalho Pedagógico na Educação
Infantil, com um teatro montado pelos alunos e apresentado na Casa da
Cultura do município de Pinhais, referente à Inclusão.
O tema abordado foi de suma importância para o esclarecimento da
Inclusão e da Educação Especial, pois os alunos tornaram-se mais
conscientes, críticos e capazes de perceber a diferença entre sentir-se apenas
entristecidos com a situação e o trabalho que se pode fazer para auxiliar as
crianças com deficiências, a terem mais autonomia/aprendizagem em suas
vidas.
2. Educação Inclusiva
A partir da década de 1990 a palavra inclusão tem sido tema de reflexão
e discussão em todo mundo. Etimologicamente a palavra “Inclusão” vem do
verbo incluir (do latim includere) que significa conter em, compreender, fazer
parte de, ou participar de. Quando falamos de inclusão escolar é falar de
educando que se sente contido no processo ao qual estamos vivenciando.
A escola se torna inclusiva à medida que reconhece a diversidade que
constitui seu alunado e a ela responde com eficiência pedagógica. Para
responder ás necessidades educacionais de cada aluno, condição essencial na
prática educacional inclusiva, há que se adequar os diferentes elementos
curriculares de forma a atender as peculiaridades de cada um e de todos os
alunos.
Deve-se criar alternativas, adotando-se estratégias diferenciadas e adequando a ação educativa ás maneiras peculiares dos alunos aprenderem, sempre considerando que o processo de ensino e de aprendizagem pressupõe atender á diversificação de necessidades dos alunos na escola. (Brasil, 1999 apud ARANHA; SILVA, 2005, p. 377).
A constatação da necessidade de ampliação do conhecimento sobre a
educação inclusiva,pouco efeito produziu na construção dos profissionais de
educação. Embora, a escola pública fundamental tenha apresentado
constantes situações problemas. Para os educadores de modo geral, já é claro
que a nova concepção de escola exige comportamentos que se situam para
além das demandas de qualificação determinadas no processo pedagógico.
Os processos pedagógicos que se fundamentam ainda na apropriação
do conhecimento enquanto aquisição e memorização de informações
fragmentadas, ou mesmo na prática de formação de campo, ficam totalmente
obsoletos frente ao comportamento e níveis de aprendizagem que as crianças
com necessidades educacionais especiais apresentam.
Em decorrência, observam-se novas formas do desenvolvimento
educacional que sinaliza uma pedagogia de inclusão, objeto de estudo deste
projeto. Neste sentido, há necessidade de pesquisar se uma nova pedagogia
está sendo implementada, e se em caso positivo o que a compõe concretiza as
ações educacionais especiais. Diante deste contexto faz- se necessário que se
pesquise sobre a Educação Especial no Paraná , como modalidade, nos dias
atuais.
2.1. Educação Especial
A Educação Especial no Paraná tem pouco mais de 70 anos. Durante
esse período ocorreram muitas mudanças relacionadas à sua organização e ao
lugar que ocuparia no Sistema Educacional. No entanto, na última década do
século XX, em razão das intensas transformações sociais, houve novos
redirecionamentos às suas concepções e práticas que trouxeram avanços
significativos para toda a sociedade.
A partir de 1992 o Departamento de Educação Especial da Secretaria de
Educação do Estado do Paraná concebeu para sua política educacional, as
classes especiais e Instituições Especializadas como parte de sua rede de
apoio, por compreender que algumas crianças, jovens e adultos com graves
aspectos comportamentais e problemas no desenvolvimento cognitivo não
apresentariam os mesmos resultados na aprendizagem acadêmica formal dos
demais alunos. Haveria assim, necessidade da construção de propostas
curriculares alternativas em natureza e finalidade àquelas desenvolvidas pela
escola regular.
É importante salientar que, mesmo os alunos sendo atendidos por
Instituições Especializadas, não constituem um grupo homogêneo, suas
diferenças individuais devem ser evidenciadas, por meio da execução de
propostas diversificadas, o que requer, muitas vezes, um plano individual de
Ensino.
As Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a Educação
Pública do Estado do Paraná chegam às Escolas como um documento oficial
que traz as marcas de sua construção, garantindo estratégias que visam
nortear os trabalhos dos professores e garantir a apropriação do conhecimento
pelos estudantes da Rede Pública, utilizando dos serviços de apoio
especializados de 1º ao 9º ano ofertado no contra turno daquele em que o
aluno frequenta na classe comum.
A Educação Especial conta com professor especializado, espaço físico
adequado, onde o atendimento pedagógico específico se dá individualmente ou
em pequenos grupos, com cronograma de atendimento, com vistas ao
progresso global dos alunos que apresentem dificuldades no processo de
aprendizagem, com a utilização de programas específicos, métodos,
estratégias, atividades diversificadas e extracurriculares.
2.2 Educação Especial no Município de Pinhais
A Educação Especial no Município de Pinhais tem como princípio, uma
política inclusiva que ultrapassa a ideia do ajustamento da pessoa com
deficiência, transtorno global do desenvolvimento, e altas
habilidades/superdotação para a sua participação no processo educativo. A
inclusão aqui é concebida enquanto um processo, no qual a escola, consciente
da sua função, coloca-se à disposição do educando, revendo suas concepções
para desenvolver as potencialidades de todos que apresentam necessidades
educacionais especiais , sejam elas transitórias ou permanentes.
As tabelas 1 e 2 indicam o número de educandos inclusos na rede de
apoio do Município de Pinhais,bem como as modalidades ofertadas:
Tabela 1 : Comparativo do número de educandos da Educação Infantil e do Ensino
Fundamental da Rede Municipal de Ensino em 2010 em relação aos educandos inclusos
Etapa de
Ensino Número de
educandos Número de educandos
inclusos Percentual
Educação
Infantil 3.577 21 0,59%
Ensino
Fundamental 9.553 303 3,17%
Total 13.130 324 2,47%
Fonte: Proposta Pedagógica Curricular 2010-EnsinoFundamental Anos Iniciais-Secretaria
Municipal de Educação-Pinhais-Paraná
Na Tabela 1 percebe-se que o percentual de educandos inclusos no Ensino
Fundamental é maior do que no Ensino Infantil .De acordo com a lei vigente em
2010, o Ensino Infantil compreende as crianças de zero à cinco anos e o
Ensino Fundamental I compreende as crianças de seis à onze anos.Entende-
se como idade de corte a criança que completa seis anos até 31 de março.
Tabela 2: Distribuição dos educandos nos programas da Educação Especial entre os anos de
2003 a 2010
Serviço 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Sala de
Recursos para
Transtornos
Funcionais
Específicos
88
96
87
137
170
162
118
141
Sala de
Recursos
Multifuncional
_ _ _ _ _ _ 15 75
Classe Especial 27 31 27 29 41 49 56 38
CAES 15 11 10 10 11 11 10 07
CAEDV 16 22 20 24 28 28 30 31
Escola Especial 79 70 75 76 85 84 91 86
Total 225 230 219 276 335 334 320 378
Fonte: Proposta Pedagógica Curricular 2010-EnsinoFundamental Anos Iniciais-Secretaria
Municipal de Educação-Pinhais-Paraná
2.2.1Sala de Recursos para Transtornos Funcionais Específicos
As Salas de Recursos para Transtornos Funcionais Específicos
oferecem serviços de natureza pedagógica complementar ao atendimento
educacional regular, sendo destinadas aos educandos que apresentam
dificuldades específicas de aprendizagem, contando com métodos e atividades
diversificadas visando o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor. Como
percebe-se na Tabela 2 o número de alunos aumentou em 62% em 2010
comparando-se com o ano de 2003.
2.2.2 Sala de Recursos Multifuncional
A sala de recursos multifuncional é um dos serviços da Educação
Especial e faz parte do que chamamos de Atendimento Educacional
Especializado, que complementa e suplementa o atendimento educacional
realizado nas classes comuns do Ensino Regular.Atende os alunos com
Deficiência, transtornos Globais do Desenvolvimento e Altas
Habilidades/Superdotação.Na tabela 2 percebe-se que esta modalidade só é
oferecida a partir de 2009 e seu crescimento foi considerável em 2010.
2.2.3 Classe Especial
As Classes Especiais, oferecidas desde 2003 conforme tabela 2, são
salas de aula do ensino regular, em espaço físico e modulação adequada,
onde o professor especializado na área de defiência mental utiliza métodos,
técnicas, procedimentos didáticos e recursos pedagógicos, para que o
educando tenha acesso ao currículo da base nacional comum.Estes espaços
estão sendo fechados e o seu educando está sendo inserido no ensino regular
passando a receber atendimento complementar nas Salas de Recursos
Multifuncionais em contra turno.
2.2.4 Centro de Atendimento Especializado aos Surdos - CAES
Havia 15 educandos que frequentavam o Centro de Atendimento
Especializado aos Surdos, ficando esse número em 2010 reduzido à 7
educandos.Tal situação ocorreu devido à inserção de alguns educandos no
mercado de trabalho.
2.2.5 Centro de Atendimento Educacional de Deficiência Visual - CAEDV
A média de atendimento do Centro de Atendimento Educacional de
Deficiência Visual, de 2003 a 2009 era de 25 educandos, tendo esse número
avançado para 31 em 2010.
2.2.6 Escola Especial
A Escola Especial no Município de Pinhais, oferta a Educação Básica à
educandos comcomprometimentos mental moderado a severo e educandos
com múltipla deficiências, que necessitam de apoio intenso e contínuo,
inclusivo no desenvolvimento de Atividades de Vida Autônoma (AVA’s).Ela
apresenta os programas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Iniciação à
Educação Profissional e Método TEACCH, promovendo a escolarização de
educandos a partir de seis meses até 24 anos de idade.Sua proposta
pedagógica está passando por alterações para atender a Política de Educação
Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva.
3. A FORMAÇÃO DE DOCENTES FRENTE AO PARADIGMA DA INCLUSÃO
Uma das práticas mais humanas é a educação. Desde que o homem
surgiu na face da Terra, a educação tornou-se o diferencial existente entre o
homem e os demais seres vivos.
Marcada por rituais de iniciação,a educação primitiva era confiada a
toda a comunidade. A escola era a aldeia e, ali, tudo era igual para todos. Com
a divisão social do trabalho, a escola passou a ser vista como um lugar
especializado para ensinar e aprender.
A escola de hoje, nasceu com a hierarquização e a desigualdade
econômica gerada por aqueles que se apoderaram do excedente produzido
pela comunidade. A educação primitiva, espontânea e solidária, foi substituída
pelo temor e terror.
Com fundamentos baseados numa educação desigual, a escola foi se
firmando e se tornando parte integrante das sociedades. Durante o longo
período existente entre a sociedade primitiva e a atual, muitas foram às
concepções que nortearam a educação e os princípios de cada pensamento
psicológico foram direcionando a educação escolar em conformidade com a
necessidade e interesses de cada sociedade.
O trabalho docente é uma das modalidades específicas da prática
pedagógica que ocorre nas diversas sociedades. Como cada sociedade
precisa cuidar da formação dos seus indivíduos é necessário ter quem faça;
assim, o professor é o profissional encarregado de auxiliar na formação e no
desenvolvimento dos outros indivíduos para que estes possam participar de
forma mais crítica e atualmente, nas várias instâncias da vida social.
De acordo com a Proposta Pedagógica Curricular do Curso de
Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental em Nível Médio na Modalidade Normal, do Estado do Paraná , as
questões complexas e abrangentes, compreendidas como fundamentais para
discutir a Formação de Professores, a equipe do Departamento de Educação
Profissional do Estado da SEED-PR, junto com representações dos
professores da rede e dos técnicos dos demais Departamentos de Ensino da
SEED-PR, retoma em 2003, o debate sobre a reconfiguração das propostas de
formação de professores em nível Médio no Estado do Paraná.
A formação de professores é uma demanda que a SEED-PR decidiu
enfrentar como uma forma de continuar a história do compromisso do setor
público paranaense com esses profissionais que necessitam do acesso a essa
formação profissional, relata a proposta.
O processo de fechamento dos cursos da rede pública em 1996, não foi
sem resistências.Em outubro deste ano, ainda não havia sido aprovada a LDB,
pois a data de sua promulgação é 20/12/1996.Ainda não havia legislação
regulamentado o Segundo Grau e o Ensino Profissionalizante , o que
aconteceu em 1997, pelo decreto 2.208.O Paraná adiantava-se à legislação
federal e só não foram desativados todos os cursos já em 1996, porque
algumas escolas não obedeceram a essa orientação e, com base em amparo
legal , mantiveram os cursos funcionando.
Os diretores, professores e coordenadores do curso de magistério
tiveram um papel de destaque nesta luta, porque enfrentaram um aparato
discursivo e persuasivo muito forte de defesa das reformas como mudanças
boas e modernas.Além disso, as escolas sofreram ameaça de não serem mais
financiadas ou modernizadas com o dinheiro que viria do BID para o PROEM.
As que não aderissem ao PROEM ficariam sem financiamento. Mesmo assim,
quatorze escolas mantiveram seus cursos, no caso dos cursos de magistério,
somente os Colégios: C.E. Arnaldo Busato, Pinhais; C. E. José Estadual Cristo
Rei, Cornélio Procópio; C.E. Paulo Leminski, Curitiba; C. E. Barão do Rio
Branco, Foz do Iguaçú; C.E. Barboza Ferraz, Ivaiporã; C.E. Cristóvão Colombo,
Jardim Alegre; C.E. GeremiaLunardelli, Lunardelli; C.E. Monteiro Lobato,
Floresta; Inst. Est. De Educação de Maringá, Maringá; Inst. Est. Dr. Caetano
Munhoz da Rocha, Paranaguá; C.E. Anchieta, Cruzeiro do Oeste e C. E.
Vicente Tomazini, Francisco Alves.
Foram oito anos de pressão constante para que tudo desse errado
nessas escolas, porém estas ganharam respeitabilidade e hoje contribuem na
elaboração dessa proposta de retomar a oferta dos cursos na rede pública
estadual.
O Departamento de Educação Profissional a partir das definições das
políticas públicas (2003-2006) do setor público na oferta da modalidade de
ensino Formação de Professores em Nível Médio enfrentando o grave
problema da falta de professores para a Educação Infantil no Estado.
Para que o professor possa realizar bem o seu trabalho, necessita de
uma educação de qualidade, de um “ensino” que lhe ofereça educação,
instrução e ensino. Pois, o professor precisa aprender para depois ensinar. A
formação do professor é um processo pedagógico, é intencional, organizado e
abrange a teoria e a prática.
De acordo com Romanowski (2006,p.117),
A sala de aula é um ambiente de diversidade uma vez que abriga um universo heterogêneo, plural e em movimento constante, em que cada aluno é singular, com uma identidade originada de seu grupo social estabelecida por valores, crenças, hábitos, saberes, padrões de conduta, trajetórias peculiares e possibilidades cognitivas diversas em relação à aprendizagem.
O domínio das bases teóricas – científicas e técnicas, e sua articulação
com exigências concretas do ensino, proporcionam mais segurança e permitem
ao futuro docente questionamentos sobre sua prática possibilitando
aprimoramentos e uma melhor qualidade no trabalho a ser desenvolvido em
sala de aula.
O curso de formação de docentes deve estar sempre atento aos rumos
tomados pela sociedade, as ideologias, as concepções, as legislações e aos
interesses da comunidade. É importante que os profissionais que trabalham
com esse nível de escolaridade, tenham claro que as futuras gerações
dependem em grande parte do trabalho a ser realizado por esses futuros
profissionais.
O compromisso social e ético dos professores é fundamental nesse
curso, ou seja, no direcionamento da formação dos futuros docentes, pois, uma
formação científica mais sólida, favorecerá tomadas de decisões e contribuirá
para uma prática pedagógica mais elucidante, passando do senso comum para
o científico e/ou, aliando o conhecimento que é mais comum com o científico,
desmistificando e valorizando a cultura, os costumes, os credos, as étnicas e
as diferenças.
As diretrizes Curriculares para a Educação Especial apontam para um
avanço nas políticas Públicas no Estado do Paraná. Os mesmos princípios
democráticos que fundamentam a construção destas Diretrizes solicitam, dos
professores, o engajamento na continua reflexão sobre as estratégias que
nortearam o trabalho do docente garantindo a apropriação do conhecimento
pelos estudantes da rede pública.
Conforme assinalam FERREIRA E GUIMARÃES, 2003, p. 32:
A noção de deficiência é, pois, uma questão contingencial de normas e expectativas da sociedade [...] é uma situação que surge como produto da intenção de interação daqueles que apresentam determinados atributos com o meio social, que interpreta e
consideram tais aspectos como desvantagens.
Como esclarece Ross (2004,p. 204 apud MONTOAN), “as necessidades
especiais são decorrentes das oportunidades, existentes ou não, bem como
dos instrumentos e medições que possam ser apropriadas por estas pessoas
em suas relações sociais”. Se as condições sociais forem favoráveis o
problema da deficiência será abrandada, e os estudantes se sentirão mais
socializados no cotidiano escolar.
No Estado do Paraná, o Departamento de Educação Especial é o órgão
responsável pela orientação da política de atendimento às pessoas com
necessidades educacionais especiais, em cumprimento aos dispositivos legais
e Filosóficos estabelecidos na esfera federal e em consonância com os
princípios norteadores da Secretaria de Estado da Educação – SEED.
Os princípios dispositivos legais e políticos–filosóficos que possibilitam
estabelecer o horizonte das políticas educacionais asseguram o atendimento
educacional especializado, com oferta preferencial na rede de ensino, de modo
a promover a igualdade de oportunidade e a valorização da diversidade no
processo educativo.
A oferta de atendimento educacional aos educandos com necessidades
educacionais especiais no Estado vem sendo orientada de acordo com a
legislação vigente, com destaque aos documentos. Embora desde a
Conferência Mundial de Educação para todos em 1990, tenham sido
delineados os caminhos para uma educação inclusiva, seus contornos são
diferenciados apenas na Declaração de Salamanca, em 1994; documento que
inspirou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996). Em todos esses
documentos encontram-se princípios, conceitos e diretrizes de ações
anunciadas em Salamanca.
Mesmo com todas as garantias legais que asseguram o direito de
acesso à escola na prática, não se garante o ensino de qualidade, ou seja, a
“escola de todos, não é a escola para todos” (FACON, 2005, p.49 apud
MONTOAN) almejada nos princípios das políticas educacionais.
Isso se deve a um complexo conjunto de fatores que evoluem desde a
ineficaz gestão de órgãos governamentais, considerados barreiras político –
administrativas, até as que são consideradas as formas mais perversas de
exclusão, aquelas com baixa visibilidade, que se manifestam simbolicamente
por meio de (pré) conceitos e discriminação que constroem estereótipos e
mitos sobre as pessoas, consideradas barreiras atitudinais, presentes na
sociedade como um todo.
É comum se ouvir depoimentos de professores que dizem ser “um
absurdo, além de seus 40 alunos, terem que dar conta de mais um com
deficiência”; outros alegam que não são obrigados a trabalhar com esse “tipo”
de alunos, pois não receberam preparo em seus cursos de formação.
A resistência dos professores em relação à implementação da proposta
de inclusão escolar pode ser motivada pela insegurança, ao temor de não
corresponder às expectativas, ao fato de não terem sido preparados para lidar
com esses alunos, ou por razões menos nobres como o preconceito e a
discriminação.
Já, professores especialistas desconfiam e ficam temerosos de que, com
o processo de inclusão, a educação especial seja "exterminada”, por meio do
fechamento de classes e de escolas especiais. Muitos, ao serem consultados,
exageram no uso de terminologias técnicas e enumeram metodologias e
matérias específicas das quais depende o aprendizado de seus alunos
especiais, prevendo seu improvável sucesso caso sejam incluídos pela falta de
domínio dos professores do ensino regular em relação a essa especialidade.
A meta da inclusão é, desde o inicio, não deixar ninguém fora do sistema escolar, que deverá adaptar-se às particularidades de todos os alunos (...) à medida que as práticas educacionais excludentes do passado não estão dando espaços e oportunidades à unificação das modalidades de educação, regular e especial, em um sistema único de ensino, encaminha-se em direção a uma reforma educacional mais ampla, em que todos os alunos começam a ter suas necessidades educacionais satisfeitas dentro da educação regular”(MANTOAN, 2001, s/p)
A Secretaria de Estado da Educação do Paraná atualmente tem sua
política de inclusão denominada de “inclusão responsável”. O desafio da
inclusão escolar é enfrentado como uma nova forma de repensar e reestrutura
política e estratégias educativas, de maneira a não apenas criar oportunidades
efetivas de acesso para crianças e adolescentes com necessidades
educacionais especiais, mas, sobretudo, garantir, manter-se na escola e
aprender.
Assim sendo, os alunos com deficiência, especialmente os que estão em
idade de cursar o Ensino Fundamental, devem, ser, obrigatoriamente,
matriculados e frequentar com regularidade as turmas de sua faixa etária, nas
escolas comuns, e ter assegurado, em horário oposto ao das aulas, o
atendimento educacional especializado complementar. Deixam, então, de fazer
parte dos antigos serviços especializados de ensino da Educação Especial
(classes, escolas especiais, salas de recursos e outros) para fins de
escolarização. O entendimento de que o atendimento educacional
especializado é um pressuposto e é uma garantia da inclusão de alunos com
deficiência já seria suficiente para que os professores especializados e
membros de outras corporações profissionais, assim como os dirigentes e
líderes de instituições e os pais, não se afligissem tanto, temendo os riscos de
perderem seus lugares e domínio na área. A inclusão escolar impõe a abertura
de novas frentes de trabalho especializados, mas só conseguem percebê-las e
encontrá-las os que conseguem se desvencilhar das amarras do passado e
vislumbrar o futuro como tempo de novos desafios, conquistas, mudanças de
toda ordem.
“Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza;
temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”
(SANTOS, 1995 apud MANTOAN)
4. Implementação
Quando o projeto de implementação do PDE foi apresentado às alunas
do 2º ano do Curso de Formação de Docentes, expliquei que seria a única
oportunidade que teriam no curso para que conhecessem a realidade da
inclusão, conhecerem as escolas, terem o contato com professores e
alunosdas escolas especiais, e a maioria se entusiasmou. Três delas fizeram
curso de libras ofertado pela Prefeitura de Pinhais.
A primeira atividade feita com os alunos foi a apresentação do filme Mr.
Holland adorável professor que mostra a relação de um professor de música
com seu filho portador de deficiência auditiva.As alunas comentaram que esta
área da inclusão era vista de outra forma, e que depois de ver o filme,
conseguiam perceber o quão importante é entender mais dessa área, e fazer
os cursos ofertados por diversas instituições, os quais falam sobre inclusão e o
alunado da Educação Especial.
Durante as atividades do caderno pedagógico relativas à reflexão sobre
a realidade da inclusão dos alunos com necessidades especiais nas escolas,
cujos textos foram discutidas em grupos e socializados, as alunas comentaram
que não sabiam que o Município tinha tanto projetos voltados à inclusão dos
alunos e à capacitação de profissionais da educação para trabalhar com AEE.
Algumas questionaram o porquê de não fazerem estágio nos centros ou nas
escolas que tenham salas multifuncionais.Expliquei à elas que o preparo para
esta atividade é mais extenso, e que o estágio supervisionado, está sendo
revisto junto à coordenação do Curso de Formação de Docentes.
A experiência da palestra feita pela representante da GESPI sobre a
Inclusão no Município de Pinhais foi muito proveitosa. Teve a duração de 2
horas e meia, foi apresentado com data show e muito bem explicado. Ao abrir
para perguntas, as alunas questionaram bastante, e perguntaram por que as
escolas não têm o material necessário para o trabalho combraile , por exemplo.
Por que é tão caro o material para o aluno especial e sobre o trabalho do
professor do AEE e da saúde por que não trabalham juntos com a criança. Se
as famílias são comprometidas com a criança, etc. Portanto se interessaram e
aprofundaram o assunto.
O projeto também incluiu visitas às escolas, onde as alunas então
usaram o questionário, que foi muito útil para a sistematização da visita. As
alunastiveram a oportunidade de presenciar uma feira de meio ambiente
apresentada à comunidade pelos alunos desta Escola Especial. Valorizaram
muito, fazer as visitas e vivenciar estes momentos.
Na visita à Escola Municipal Maria Chalcosk de Pinhais, onde
conheceram a sala de Recurso Multifuncional e o trabalho do AEE, professora
relatou sua experiência com alunos autistas, síndrome de down e aqueles com
deficiência intelectual. As alunas interagiram com o material
pedagógico,riquíssimo, que havia na sala de aula,fizeram várias perguntas
para a professora, e esta respondeu de tal maneira que a visita virou um mini
curso de capacitação na área. As alunas compreenderam e valorizaram o
trabalho da professora de Educação Especial. Entenderam a importância do
trabalho multidisciplinar que envolve além da professora, a psicóloga, a
fonoaudióloga, os médicos, os fisioterapeutas,e outros profissionais, que juntos
fazem com que esta criança tenha um melhor desenvolvimento e possam
conviver em sociedade. Partindo desta experiência as alunas tiveram várias
ideias para divulgar o trabalho no Curso de formação para conscientização da
escola como um todo.
Dentro desta perspectiva também houve novas propostas na escola
para a disciplina de estágio supervisionado no 2º ano do Curso de Formação
de Docentes, incluindo mais visitas às escolas especiais de Curitiba, uma
parceria com a prefeitura de Pinhais para cursos de capacitação nesta área e
palestras comprofissionais especialistas na Educação Especial.
Na sequência da implementação do projeto foi realizada uma palestra
sobre Políticas Públicas de Educação Inclusiva numa perspectiva de
Educação Especial proferida pela professora orientadora deste projeto, na
escola. As alunas, que já estavam mais inteiradas do assunto inclusão, fizeram
muitas perguntas e puderam obter mais conhecimentos sobre este tópico. Esta
palestra trouxe vários subsídios para que as alunas desenvolvessem ideias
para a apresentação do projeto à comunidade escolar e suas conclusões sobre
inclusão de pessoas com necessidades especiais nas escolas.
Outra particularidade na implementação deste projeto é que houve a
interdisciplinaridade com a disciplina de Concepções Norteadoras da Educação
Especial e o apoio da professora Araci, teve grande importância ,pois contribuiu
para a validação da implementação do Projeto do PDE. A professora Araci
trabalhou a legislação e a política envolvida nesta área o que subsidiou as
alunas na teoria proporcionando assim, melhor compreensão da prática.No
encerramento da implementação houve a apresentação do trabalho sobre
inclusão, pelas alunas, à comunidade escolar. As alunas estamparam
camisetas com o tema do projeto e a usaram por uma semana na escola.
Depois, fizeram entrevistas com cada segmento da escola sobre o assunto
inclusão.Em seguida houve um dia especial para uma exposição de cartazes
com o tema, e grupos de alunas revezaram-se na explicação de assuntos
referentes à inclusão de alunos com deficiência. Houve apresentação de
vídeos e explicaçãodos materiais usados com os alunos com deficiência,
profissionais especializados para esta função e a realidade que envolve o
ensino e inclusão destas pessoas.Houve também uma experiência prática de
boliche com olhos vendados, para exemplificar a inclusão do deficiente visual,
e como esta pode ser incluída também nestas atividades.Todas as turmas da
escola foram trazidas por seus professores, uma de cada vez, para escutarem
as explicações das alunas, ver os vídeos, materiais e cartazes, e participarem
das atividades que as alunas prepararam, que também incluía o aprendizado
de seu nome em Braille.
4. Considerações Finais
Diante dos resultados obtidos, percebe-se a importância de
conscientizar os futuros profissionais do Curso de Formação de Docentes, para
o trabalho com a Educação Inclusiva. Percebe-se ainda que esta realidade
deveria estar contida em todos os cursos de licenciatura, situação esta ainda
não idealizada na sua maioria.A interação das alunas com os diversos setores
da Educação Especial no município, deixou clara a importância das visitas nos
locais que estas acontecem pois a constatação da prática dos profissionais que
trabalham com a Educação especial foi essencial ,pois as imagens in loco
ficaram gravadas em suas memórias e serão úteis em sua prática como
professoras. Isto ficou evidenciado pelos depoimentos das alunas após estas
visitas, pois não esperavam ter esta experiência prática, que lhes servirá muito
no futuro. Algumas até mencionaram ter optado pelo trabalho com Educação
Especial, em razão desta experiência.
As atividades programadas no caderno pedagógica, filme, palestras,
visitas, pesquisas, questionários,seminários e mostra pública de trabalhos,
evidenciou-se importante na divulgação do ensino com inclusão no Curso de
Formação de Docentes, e abriu novas possibilidades para que este processo
torne-se uma prática inclusa dentro do currículo deste curso.Porém o trabalho
para o professor que o ministra requer muitas horas de planejamento e
dedicação, e isto necessitaria de mais horas atividade, para que o professor
pudesse fazer seu trabalho, tendo tempo hábil para a programação das
atividades propostas.Quiçá tenhamos consciências mais voltadas à valorização
do trabalho do professor e da educação, assim certamente poderemos pensar
em um futuro mais promissor para nossa sociedade.A educação faz um povo
evoluir, mas a evolução só está completa quando todos estão incluídos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.
DiretrizesNacionais de Educação Especial na Educação Básica. Parecer
CNE/CEB nº 017/2001.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96.
Brasilia, 1996.
FERREIRA, Maria Elisa Caputo; GUIMARÃES, Marly. Educação inclusiva.
Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
MACHADO, Rosângela. Educação Especial na escola inclusiva. Políticas,
paradigmas e práticas. São Paulo: Cortez, 2009.
MANTOAN, Maria Tereza Egler. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como
se faz? São Paulo: Moderna, 2003.
____. Ensinando a turma toda. Revista Pedagógica Pátio. Porto Alegre, Ano
V, n. 20, p. 18, 23 fev/abril, 2002.
____. O direito de ser, sendo diferente, na escola. In: Revista de Estudos
Jurídicos, Brasília, n. 26, jul/set., 2004.
____. Caminhos pedagógicos da inclusão. Como estamos implementando
a educação (de qualidade) para todos nas escolas brasileiras. São Paulo:
Memnon. (Org.). 2001
PARANÁ. Conselho Estadual de Educação. Deliberação nº 002/2003.
PARANÁ. Secretariade Estado de Educação. Ensino Fundamental da rede
pública de ensino da educação básica do Estado do Paraná. Curitiba:
SEED/SUED, 2005. Mimeog.
________. Secretaria de Estado de Educação. Diretrizes Curriculares da
Educação Especial para a Construção de Currículos Inclusivos. Curitiba:
SEED/SUED, 2006
________.Secretaria de Estado de Educação.Superintendência da
Educação.Departamento de Educação Profissional.Proposta Pedagógica
Curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em Nível Médio , na Modalidade
Normal.
PINHAIS.Secretaria Municipal de Educação.Proposta Pedagógica
Curricular 2010.Ensino Fundamental Anos Iniciais.
ROMANOWISK, Joana Paulin; Formação e Profissionalização Docente -
Página 117 , 2007 Editora IBPEX
SHIGUNOV NETO, Alexandre; MACIEL, Lizete S. B. (org.).Formação de
professores: passado, presente e futuro. São Paulo: Cortez, 2004.
UNESCO & MEC - Espanha. Declaração de Salamanca e linhas de ação.
Brasilia: CORDE, 1994.