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DIA&NOITEQUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2009 PÁGINA 19

TRIBUNA DA BAHIA

Paulo Ricardo quer

exercitar o jornalismoPágina 24

AXÉ AGITA

MICARETA

NA ESPANHA

Página 19

Alemão descobre o inferno no Rio de JaneiroDIMAS NOVAIS

As mais belas garotas, o solmais relaxante e o baixo custo dedrogas. Deslumbrado com umanova realidade de vida queencontrara em terras brasileiras,Rodger Klingler decide se arriscara fim de tirar proveito dasfacilidades que o país lhe oferecia.Da fria e úmida Alemanha, ele saíaem direção a um paraísoensolarado chamado Brasil. Mas oque encontrou foi um mundo sujo,corrupto e infernal. Em“Memórias do Submundo – umalemão desce ao inferno no Rio deJaneiro”, ele conta de formabiográfica seus quatro anos dereclusão nas penitenciárias deÁgua Santa, Galpão e Lemos deBrito, essa última, a maior doEstado da Bahia. A obra literária de384 páginas, da Editora Best Seller,já está à venda.

Em sua terceira visita ao Riode Janeiro, Rodger Klingler tinhaum objetivo traçado: comprar umquilo de cocaína paracontrabandeá-lo de volta para a

Alemanha. Na tentativa de deixar opaís, em 1984, ele foi detido e teveque encarar humilhações eaprender com a vida que levou nosquatro anos subsequentes, o valorde um cobertor, de um colchão, deuma simples escova de dente eprincipalmente da honestidade.“Tem lugares neste mundo que avida humana não vale nada. Masno mesmo lugar também há amor,calor humano. Aprendi asobreviver nos chãos e mais, aconviver com estas situações”,conta Klingler, diretamente deIngolstadt, Alemanha, ondevive com sua esposa euma filha de 13 anos.Lá, ele trabalha comjovens desajustadosnuma escola da cidade,perto de Munique.

Em sua passagempelo maior complexopenitenciário daBahia, ele já eraexperiente noassunto.Por lápermaneceu cercade dois anos emeio. E foi láque conheceu oprof. Arthur,quem,segundoKlingler, ofez umhomemhonesto. “Na verdade,virei outro homem. De Saulus à

Paulus.” Para o alemão, apesar detoda cadeia ter suas peculiaridades,todas são verdadeiros infernos,submundos. “Ninguém nestemundo merece uma coisa destas”,pontua. Sobre esse período de suavida carcerária, relata um trechode seu livro: “Aqui no Lemos deBrito a coisa era totalmentediferente do que eu haviaconhecido até então. Eu não podiaacreditar nos meus ouvidosquando, no meu primeiro sábado,logo depois das 14h, ouvi derepente vozes de mulheres nocorredor. Podia ser verdade? Sim,

estava certo. (...) Por mais quese pudesse ter uma

impressãonegativa dos

presídiosbrasileiros, no

que diz respeitoa visitas eles

eramsubstancialmente

mais humanos quena Alemanha, onde

é preciso se dar porsatisfeito com apenas

duas horas por mês, eisso com supervisão

de um funcionário”.O livro

começou a seridealizado 15 anos atrás,

uma década depois desua prisão. Ele, que

queria chamar a atençãopara as condições dos

A ambição fez RodgerKlingler ver além dasbelezas brasileiras.O horror o levou aescrever um livrobiográfico chocante

Elba Ramalho antecipa show da nova turnêA cantora Elba Ramalho está de

volta aos palcos baianos. Desta vezpara um show especial no Ensaiosde São João da Estakazero, dia 22de maio, no Bahia Café Hall. Alémde cantar alguns xotes e baiões doseu mais novo disco Balaio deAmor, lançado mês passado pelaBiscoito Fino em comemoração aos30 anos de carreira, Elba tambémsoltará a voz nos sucessos “BateCoração”, “Forró do Poeirão” e“Eu Quero Meu Amor”, entreoutros do repertório. Mas, antes decomeçar a dançar no ritmoinconfundível da paraibana, opúblico irá curtir a abertura dasexta noite do projeto com a bandaEstakazero, anfitriã da festa, quecomanda o arraiá semanalmente atéo mês de junho.

Representante declarada do

estilo musical, filha de músicos esangue paraibano correndo nasveias, Elba começou a se interessarpelo que faz ainda na adolescência,quando morava em CampinaGrande. Um pouco mais tarde, já nafaculdade, entrou para o grupo AsBrasas, que foi visto pelo produtordo Quinteto Violado. Aprendizado debase não faltou. No seu maisrecente trabalho, ela conseguiucolocar canções românticas daquelaépoca. “É como voltar a minhasraízes. Por isso gravei coisas com acara do Nordeste, que é a minhacara, o meu trabalho de corpo ealma”, revelou Elba.

Tranquila e amadurecida, aparaibana encara as três décadas depalcos com alegria. Com a agendade shows apertada, aprendeu novas formas de bem viver. “O medo do

palco, de fracassar nasapresentações foi superado. Meulink com o bem, com o universo,com minhas crenças me dá calma”,afirmou a cantora. Numa relaçãopositiva com os palcos e cominúmeros shows programados peloPaís, a sua turnê de Balaio de Amorganhará estrada no próximo dia 30com o início dos festejos juninosem Caruaru (PE).

BALAIO DE AMORO disco em parceria com o

namorado, o músico Cezinha, queassina a produção e os arranjos doálbum batizado de Balaio de Amor,celebra os seus 30 anos de carreirada cantora e fala sobre a adoção daterceira filha, Paulinha, de seis anos.

Concebido e gravado na casada cantora, no bairro carioca do

Joá, o CD segundo Elba, espelhabem o seu estado de espírito atual.“É um disco leve, delicado eromântico. Um disco para dançar etocar o coração. Todo mundo gostadisso, né? Somos todos carentes deafeto”, observou.

Balaio de Amor reúne xotes ebaiões, alguns inéditos e muitos jáconhecidos da cultura nordestina.Entre os compositores gravadosestão Accioly Neto, Chico Bezerra,Maciel Melo, Petrúcio Amorim. Asfaixas inéditas são composições dosartistas Nando Cordel,Dominguinhos em parceria inéditacom o poeta Climério Ferreira.

No projeto, a intérprete retomauma das principais característicasde sua carreira: a aposta emtalentosos compositores,principalmente da Paraíba e de

Pernambuco, reunindo uma boasafra de canções recentes, combelas melodias e letras poéticas,compostas por artistas quedificilmente rompem a barreirageográfica nordestina.

SERVIÇO

O quê: Ensaios de São João daEstakazeroAtrações: Elba Ramalho, Estakazero,Cangaia de Jegue, grupos Cabrueira eOs 3 MatutosQuando: 22 de maioLocal: Bahia Café Hall (Av. Luiz VianaFilho, s/n, Parque Metropolitano dePituaçu)Horário: 22hIngressos: R$30 (pista) e R$60(camarote) – nos balcões dosshoppingsTel: (71) 3371-0664

Rodger Klingler conta suaexperiência como detento em trêspresídios brasileiros

presídios do país, conseguiualcançar seu objetivo: a obra échocante desde as primeiraspáginas. “Como escritor, acheique a história valia a pena serescrita. Também foi umapromessa que fiz ao prof.Arthur”, explica. Em apenas cincomeses escreveu a biografia,finalizando-a em 2004. Mesmodepois de ter registrado suahistória na obra – certamente elenão se orgulha dela -, Klinglerconta que seus familiares não o

perdoaram pelo crime quecometeu. Sobre a saída da prisãoe a tentativa de retorno aoconvívio em sociedade, comenta:“Foi duro porque tinha queorganizar a minha vidanovamente. Mas nos pioresmomentos, a gente cresce eaprende. O pior de tudo é que aminha família não quis saber maisde mim, até hoje. Paguei um preçomuito alto pelo que fiz”.

Rodger Klingler ainda assimacredita na reeducação de umdetento. Mas, para isso, o sistemaprisional do Brasil precisa sofrermudanças. “O governo tem quecriar as circunstâncias para queisto possa virar realidade“, afirma.“Em Memórias do Submundo”,percebe-se o porquê. Corrupção,violência consentida e ódioacumulado são algumas dasmazelas incessantementealimentadas por um sistemadesumano. Ressocialização? Páginaa página, o leitor vai entender,através de relatos detalhados, omotivo de carcerários brasileirosfugirem ou mesmo cumpriremsuas penas e depois retornarem asociedade muito mais violentos eperigosos. Para o alemão, aexperiência foi uma dura liçãoaprendida. Enquanto o submundoparece ter lhe feito um ser humanomelhor e mais forte, suasmemórias são hoje seu impulsopara dar rumos mais saudáveis àsua própria vida.

Capa do livro“Memórias do Submundo”