DIFICULDADES FREQUENTES DA LÍNGUA PORTUGUESA
TANIA MARIA STEIGLEDER DA COSTA
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO DA AUTORA
MÓDULO 1 - Palavras / expressões que provocam dúvida
MÓDULO 2
2.1 Uma só forma correta
2.2 Redundância
MÓDULO 3 - Outras questões
QUESTÕES PARA AVALIAÇÃO
AVALIAÇÃO FINAL
REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO
Em algum momento da sua vida, na fala ou na escrita, você já teve dúvida no
emprego de uma palavra ou expressão? "Será desse modo? Ou será de outro? Eu falo
(ou escrevo) assim, mas não tenho certeza se está correto..." Esses são questionamentos
muito mais frequentes do que possamos imaginar, quando nos vemos frente a um texto
falado ou escrito. Diante dessa realidade, apresentamos-lhe um material para orientação
no emprego da língua portuguesa no padrão culto, ou seja, aquele exigido em situações
mais formais de comunicação; desse modo, você poderá comunicar-se com segurança,
clareza e elegância. No módulo 1, são analisadas palavras e expressões que, no
cotidiano, podem deixar você, caro aluno, em situação difícil e, até mesmo, embaraçosa.
Isso porque elas são muito parecidas, possibilitando uma troca inadequada no seu
emprego, em textos orais ou escritos. Já o módulo 2 contempla casos de fala ou escrita
de palavras / expressões que apresentam uma única forma correta, considerando-se o
nível culto da língua, mas que, por haver forma correspondente no nível coloquial,
podem deixar dúvida no momento da escolha. E o módulo 3 aborda outras questões da
língua em uso que, igualmente, costumam provocar dificuldade no emprego. Esperamos
que o presente trabalho possa levar a você muitas soluções e certezas, a fim de que sua
comunicação seja aprimorada. Bom trabalho!
APRESENTAÇÃO DA AUTORA
Tania Maria Steigleder da Costa é graduada em Letras Português pela Universidade do
Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS (1980), especialista em Administração e
Planejamento para Docentes pela Universidade Luterana do Brasil - ULBRA (1985) e
doutoranda em Educação pela Universidad Pontifícia de Salamanca (Espanha). Atuou
como docente de língua portuguesa em cursos de Graduação e, por mais de 20 anos, em
curso de Licenciatura em Letras presencial e a distância, nas áreas de morfossintaxe,
produção textual, redação técnica e supervisão de estágios. Foi membro da Banca de
Avaliação das Redações do Processo Seletivo da ULBRA e membro da equipe de
elaboração, aplicação e avaliação de provas de Proficiência Internacional em Língua
Portuguesa realizadas anualmente, por essa mesma Universidade, em Montevidéu
(Uruguai).
MÓDULO 1
Palavras/expressões que provocam dúvida
Neste módulo, consideraremos expressões parecidas na fala ou na escrita, mas
com significados diferentes.
1- acerca de / a cerca de / há cerca de
Trata-se de expressões absolutamente iguais na fala, porém com significados muito
diferentes. Se você grafar uma pela outra, poderá alterar significativamente seu texto ou,
até mesmo, deixá-lo sem sentido.
Se você quer dizer sobre, a respeito de, empregue acerca de, como em:
Conversaremos acerca de seu caso no próximo encontro.
↓
sobre
Já com o significado de tempo futuro aproximado ou de distância aproximada, deve
empregar a cerca de. Veja os exemplos:
Chegarei daqui a cerca de quinze minutos. (em aproximadamente quinze minutos)
Estou a cerca de dois quilômetros de sua casa. (a aproximadamente dois quilômetros)
Entretanto, se você está referindo tempo passado aproximado, deverá usar a forma
há cerca de:
Já estamos a sua espera há cerca de duas horas! (ou seja, faz aproximadamente)
2- tão pouco / tampouco
Apesar de muito semelhantes na fala, essas expressões têm diferença na significação.
Tão pouco corresponde a muito pouco, como podemos ver em:
Temos tão pouco tempo para o lazer e tantas tarefas a realizar!
Tampouco, entretanto, significa também não, conforme o exemplo:
O professor não sabia isso, eu tampouco.
3- a fim / afim
Na forma escrita, há significativa diferença de sentido.
A fim empregamos em substituição a para, como vemos no exemplo:
Todos estamos aqui a fim de estudar. (no intuito de estudar)
A forma afim apresenta duas possibilidades; nesses casos, funciona como adjetivo e,
portanto, pode variar em número, concordando com o substantivo ao qual se refere.
Vejamos:
a. no sentido de semelhança: Seu pensamento é afim ao meu. (semelhante ao meu)
b. no sentido de parentesco não consanguíneo: Sogra e genro são parentes afins.
4- ao encontro de / de encontro a
Preste atenção a essas expressões, caso contrário, você poderá expressar exatamente
o inverso do que pretende!
Ao encontro de significa a favor de. Veja:
Votarei neste candidato, pois minhas idéias vão ao encontro das que ele apresenta.
Se, todavia, você quer expressar desacordo, empregue de encontro a:
Não apoio esse candidato, pois as idéias dele vão de encontro às minhas!
Podemos, nessas expressões, apelar para a seguinte associação:
- ao encontro= a favor
- de encontro= desacordo
5- estada / estadia
Embora grande parte dos falantes empregue indistintamente essas palavras, elas têm,
em rigor, uma diferença bem significativa.
Usamos estada quando queremos dizer tempo de permanência de pessoas ou de
animais em determinado lugar. Assim:
Minha estada nesta cidade foi muito gratificante!
A estada de meu cão no hotel para animais foi de três dias.
Quando, porém, nos referimos a tempo de permanência de veículos em determinado
lugar, usamos estadia. Exemplo:
Ao viajar, paguei a estadia do meu carro no próprio aeroporto.
6- em vez de / ao invés de
Também essas expressões são, frequentemente, empregadas como se fossem
sinônimas, o que não é correto.
Em vez de significa mera escolha, ou seja, troca de alguma coisa por outra qualquer.
Assim:
Devia ter ido à aula, mas, em vez disso, foi ao cinema.
Ir à aula e ir ao cinema, é óbvio, não são ações contrárias!
Já ao invés de significa ao contrário (invés lembra inverso):
Para chegar ao local, ao invés de subir, desça a rua!
Subir e descer são ações inversas.
7- a princípio / em princípio
A simples mudança da preposição que antecede a palavra determina mudança de
significado.
A princípio quer dizer no começo, inicialmente:
Você, a princípio, pensou como eu.
Nesse caso, quer-se dizer que, inicialmente, houve pensamentos iguais.
Em princípio tem o significado de em tese, teoricamente:
Você, em princípio, é contra a pena de morte.
Aqui, o que se afirma é que você tem um posicionamento teórico; na prática, ou
seja, no caso real, talvez haja outra possibilidade.
8- proeminente / preeminente
A simples troca de uma letra determina forte mudança no significado dessas
palavras. Assim, veja:
Proeminente significa saliente no aspecto físico: nariz proeminente, queixo
proeminente, barriga proeminente...
Com a idade, os homens tendem a adquirir uma barriguinha proeminente...
Trata-se da saliência de uma parte do corpo, visível para todos.
Preeminente tem relação com saliência, igualmente, mas no sentido cultural ou
profissional:
Participará do debate preeminente autor de várias obras sobre o tema.
Já esse destaque ou saliência, que não se refere a aspecto físico, não pode ser visto,
mas sim percebido pelo aspecto cognitivo.
9- vultoso / vultuoso
Muito confundidas na fala, essas palavras têm significativa diferença, na língua
culta.
Se você quer dizer que algo é enorme, de muito vulto, empregue vultoso:
Foi investigado vultoso desvio de verbas públicas no município X.
↓
grande
A palavra vultuoso significa inchado e tem relação com uma deformidade, sendo o
resultado de uma doença. Veja:
Após a cirurgia, a atriz ficou com os lábios vultuosos.
↓
inchados
10- em fim / enfim
Mais uma dupla de expressões que não apresenta diferença na fala, porém na escrita
sim.
Em fim empregamos para significar no final, ao término. Veja:
Após trinta anos de trabalho, está em fim de carreira. (ou seja: no final da carreira)
Enfim significa finalmente; trata-se de um advérbio, como em:
Estava ansioso pela formatura e, enfim, esse dia chegou! (ou seja: finalmente)
11- para eu / para mim
Ambas as construções são legítimas, desde que observemos a peculiaridade da
frase.
Empregamos para eu - pronome pessoal reto - sempre que, após essa expressão,
houver um verbo no infinitivo. Vale lembrar o que é infinitivo: forma verbal que,
comumente, se diz ser "aquela que dá nome ao verbo" e tem as terminações: ar (1ª -
cantar, expressar, lembrar), er (2ª- comer, entender, fazer) e ir (3ª- pedir, dormir,
distinguir). Vamos ao exemplo:
Pediram para eu fazer uma saudação aos visitantes.
Esse emprego explica-se gramaticalmente: havendo verbo - fazer -, o pronome
exerce a função de sujeito: quem fazer? Eu. Sabemos que, nessa função, somente o
pronome pessoal reto pode ser empregado, jamais o oblíquo.
Já nas demais situações, ou seja, em que o pronome pessoal exerce a função de
complemento, empregamos para mim - pronome pessoal oblíquo:
Para mim, essa situação já chegou ao limite!
12- se não / senão
Em se não, com duas palavras, temos um se - condicional - e um não - negação.
Nesse caso, uma condição negativa, equivalendo a caso não:
Farei o que pedem, se não houver empecilho. (caso não haja empecilho)
E senão, como uma só palavra, pode apresentar mais de um significado:
a. caso contrário: Faça o que lhe pedem, senão haverá punição.
b. a não ser: Nada disse, senão o que esperavam ouvir.
c. sem que: Ele não faz uma afirmação senão esteja convencido dela.
d. exceto: O acusado nunca se manifestou, senão naquele momento difícil.
e. como substantivo, no lugar de problema, erro (nesse caso, sofre as flexões do
substantivo e é precedido de um artigo ou de outro determinativo, como pronome ou
numeral, por exemplo):
Sua fala tem um senão: é muito prolixa.
↓
artigo
Há dois senõezinhos nesse texto, deves corrigi-los!
↓
numeral
13- porventura / por ventura
Em geral, essa é uma dificuldade que muitos usuários da língua nem percebem ter,
pois desconhecem a existência das duas possibilidades com diferentes aplicações.
Então, vejamos:
Porventura pode ser substituída pela expressão por acaso. Ex.:
Você, caro leitor, porventura conhece o autor desta obra?
E a expressão por ventura corresponde a por sorte:
Você, por ventura, já conhece este autor, pois participou de um encontro literário em
que ele era palestrante.
14- abaixo-assinado / abaixo assinado
De uso frequente em ambientes escolares, essas expressões comumente são
confundidas. Veja como fazer para isso não acontecer com você.
Um abaixo-assinado é um documento coletivo, que reúne certo número de
assinaturas de pessoas que buscam apresentar um pedido a quem de direito possa
realizá-lo. Ex.:
Um abaixo-assinado com quinhentas assinaturas foi encaminhado ao Prefeito
Municipal, solicitando que a rua X seja calçada.
A expressão abaixo assinado designa cada uma das pessoas que assina o
documento de solicitação coletiva, dirigido a alguma autoridade. Geralmente inicia o
documento. Veja como empregá-la:
Nós, abaixo assinados, solicitamos ao Exmo. Sr. Prefeito Municipal que destine verba
para o calçamento da rua X, a fim de ...
15- onde / aonde
Por ambas essas palavras expressarem lugar, são facilmente confundidas quando
empregadas, tanto na oralidade quanto na escrita. Gramaticalmente, entretanto, há
diferença entre elas.
Onde empregamos quando queremos dizer, simplesmente, em que lugar. Seu uso
se restringe a verbos estáticos (que não indicam movimento): estar, ficar, permanecer,
por exemplo) Assim:
Onde estão meus livros? ( ou seja: em que lugar)
Aonde, por conter a preposição "a", indicativa de direção, significa para que lugar.
Usamos com verbos dinâmicos, que expressam movimento, como ir, dirigir-se, chegar e
outros. Vejamos o exemplo:
Aonde você se dirige, sem a autorização dos responsáveis pelo local?
Existe, ainda, a palavra donde, de emprego mais restrito; contém a preposição "de",
que expressa origem, como em:
Não sei donde ela vem...
16- conjetura / conjuntura
Até mesmo nos meios mais cultos presenciamos equívocos no emprego dessas
palavras que, em geral, são empregadas com um só significado.
Conjetura (ou conjectura) quer dizer suposição, situação hipotética. Ex.:
É bom não tomarmos decisões baseados em conjeturas; vamos aguardar a confirmação
dos fatos.
Conjuntura significa situação, circunstância. Ex.:
Nossas decisões foram acertadas, pois a conjuntura confirmou-se propícia.
17- despercebido / desapercebido
Essas duas palavras são muito empregadas como sinônimas; todavia, além dessa
possibilidade, há alguma diferença. Então, vejamos:
Despercebido significa não percebido, não notado, como em:
Com uma vestimenta discreta, a atriz passou despercebida pela multidão.
Desapercebido também significa não percebido, não notado; todavia, pode, ainda,
ser usado como desaparelhado, desprevenido, descuidado. Isso significa que tem um
sentido mais amplo. Observe os exemplos:
Não pude adquirir a coleção que desejava, pois estava desapercebido (desprevenido) de
verba ...
Como eu estava desapercebido (descuidado), puderam me surpreender em uma situação
constrangedora...
Alguns autores consideram essas últimas significações de "desapercebido" fora de
uso, tendo permanecido apenas a primeira, como sinônima de despercebido. Os
dicionários, de qualquer modo, registram a diferença.
18- genitor / progenitor
Há grande confusão no emprego dessas duas palavras, como se uma só fossem a
possibilidade e o respectivo emprego. Vejamos a diferença.
Genitor quer dizer o pai, aquele que gera. Ex.:
Não fui criado pelos meus genitores, mas por um casal de tios que considero como
meus pais.
Progenitor apresenta o prefixo "pro", designativo de anterioridade; portanto,
progenitor é aquele que vem antes do genitor, ou seja, o avô. Ex.:
É muito comum que os progenitores sejam mais condescendentes com seus netos do
que o foram com seus filhos...
19- ótico / óptico
Em rigor, são palavras que se referem a diferentes órgãos do corpo humano.
Ótico vem de ouvido; daí a otite, ou seja, a inflamação do ouvido.
Já óptico deriva de visão, originando, por exemplo, o nome da casa que trabalha
com artigos para a visão: Óptica X, Óptica Y.
Na prática, porém, as duas palavras são usadas indiscriminadamente, nessa última
significação, sendo que a primeira - ótico - é mais difundida. Por essa razão, vê-se,
também, a Ótica X, a Ótica Y... Já para ouvido, apenas a forma "ótico" é aceita.
20- desmitificar / desmistificar
É bastante comum o emprego dessas duas palavras, especialmente em textos orais
ou escritos na modalidade culta da língua; nem sempre, todavia, na forma correta!
Vejamos a diferença.
Desmitificar vem de mito, antecedido do prefixo "des", que significa ausência,
falta. Desmitificar, então, quer dizer retirar de alguém a característica de mito (pessoa
considerada exemplar, em sua atividade, ou, como diz a sabedoria popular, um
"monstro sagrado"), banalizar, como no exemplo:
O famoso jogador, ao cometer gol contra, foi desmitificado pela imprensa
especializada...
Desmistificar vem de místico, igualmente precedido do prefixo "des". Mistificar é
mascarar, enganar. Acrescido do prefixo, quer dizer desmascarar, revelar o caráter
enganoso de alguém. Ex.:
A publicação das falcatruas desmistificou a entidade que se dizia "caritativa".
21- as / ás/ az
Pequenas diferenças originam grandes erros, no caso do emprego dessas palavras
em textos escritos.
A primeira delas, as, é um simples artigo definido; como tal, acompanha
substantivos, determinando-lhes o gênero (feminino) e o número (plural). Ex.:
As palavras proferidas dificilmente podem ser corrigidas.
A segunda, ás, refere o nome de uma carta do baralho ou, ainda, uma pessoa que
se destaca em sua atividade. Veja o emprego, nessas duas condições:
Neste jogo, o ás tem o valor do um. (carta do baralho)
O Brasil já teve um ás do volante... (um exímio profissional do volante)
A terceira e última, az, significa ala de exército, fileira. Por ficar restrita à área
militar, é menos empregada. Ex.:
Aquele valoroso oficial comandou um az de dedicados soldados.
22- quantia / quantidade
Pode não parecer, mas há um uso específico para cada uma dessas palavras.
Quantia restringe-se a valores pecuniários (em dinheiro):
Nem sempre a quantia que recebemos é a que necessitamos...
Quantidade é empregada para qualquer outro contexto, como em:
Qual a quantidade de pessoas que virão ao evento?
23- sobrescrever / subscrever
Podemos fazer uma analogia, nessas duas palavras, com sobre e sub, que,
significam, respectivamente, em cima e embaixo.
Sobrescrever (escrever sobre) é endereçar, ou seja, escrever o endereço no
envelope ou na folha que se usa para determinada correspondência. Veja o exemplo:
Você já sobrescritou a carta que lhe entreguei para pôr no correio?
Subscrever é assinar, escrever embaixo de algo escrito. Assim:
Veja só, escrevi a carta e esqueci-me de subscrevê-la!
24- com nós / conosco
Na língua coloquial, familiar, sobrevive apenas a primeira forma: com nós.
Entretanto, há usos específicos para ambas as formas, que querem dizer a mesma coisa.
Com nós empregamos quando, após essa expressão, houver uma palavra
determinativa, do tipo todos, mesmos, próprios, outros, ou ainda uma expressão
numérica. Veja os exemplos:
A diretora já havia falado com nós todos sobre esse caso.
Você gostaria de sair com nós três?
Conosco empregamos em qualquer outra situação:
Você gostaria de sair conosco?
Conosco ninguém falou sobre isso!
25- todo / todo o
Tanto no masculino como no feminino, há diferença de significado se empregarmos
a palavra todo com ou sem o artigo.
Todo (ou toda) é um termo generalizante, indicando a totalidade, e pode ser
substituído por qualquer. Veja:
Toda criança precisa de cuidados.
↓
qualquer
Todo o (ou toda a) significa por inteiro, do início ao fim, dos pés à cabeça. Assim:
Todo o trabalho contém erros!
↓
o trabalho inteiro
Já a mesma expressão, quando pluralizada, é empregada sempre com o artigo:
todos os, todas as, indicando uma generalização. Assim:
Todos os brasileiros sabem da importância da Educação.
↓
a totalidade
26- mais bom / melhor
Por incrível que pareça, existe a possibilidade do uso de mais bom! Assim, de modo
descontextualizado, essa expressão pode causar estranheza, pois tem o mesmo
significado de melhor, que é mais empregado.
Mais bom usamos em comparações, desde que se comparem duas qualidades
referentes a um ser, sendo que uma delas é a da bondade. Ex.:
Você me parece mais bom que esperto...
Melhor usamos, igualmente em comparações, nos demais contextos. Ex.:
Você me parece melhor que seu irmão.
27- mais bem / melhor
A exemplo do item anterior, a expressão mais bem, equivalente a melhor, pode nos
surpreender. É possível usá-la? Sim, em contexto específico.
Mais bem devemos empregar quando, após, vier um verbo no particípio. Vale
lembrar: particípio é a forma nominal do verbo que tem as terminações ado, na 1ª
conjugação, e ido, na 2ª e na 3ª. Assim: falar - falado; contar - contado; comer - comido;
dizer - dito (forma irregular); dormir - dormido; fugir - fugido. Ex.:
Seu trabalho está mais bem feito que o meu! (feito: particípio irregular do verbo fazer)
Melhor empregamos nas demais situações. Ex.:
Seu trabalho de português está melhor que o de inglês.
28- a par / ao par
Como outras expressões com semelhança na pronúncia e na escrita, essa é
empregada indistintamente, valendo uma pela outra. Isso porque o sentido de uma delas
é mais comum, aparece mais no nosso cotidiano.
A primeira delas, a par, significa estar ciente, ter conhecimento. Veja:
Todos estamos a par dos fatos veiculados na imprensa.
A outra, ao par, embora seja confundida com a primeira, tem outro sentido, restrito
à área das finanças. Significa equiparação, igualdade. Ex.:
Quando o real foi introduzido como moeda brasileira, estava ao par com o dólar. (ou
seja: um real valia um dólar)
29- a moral / o moral
Empregadas em contextos bem diferentes, a primeira no sentido científico e a
segunda no popular, essas expressões têm seu uso, em geral, confundido.
A moral é o conjunto de valores concernentes à conduta humana, em
determinados grupos sociais. Assim:
A moral dominante no Ocidente, em alguns aspectos, é diferente da do Oriente.
O moral significa estado de espírito, ânimo. Ex.:
Quando seu time perde um título, o brasileiro fica com o moral abalado...
30- bebedor / bebedouro
Talvez você já tenha se deparado com esta dúvida: empregar uma ou outra das
palavras acima. Será que ambas existem? Terão o mesmo valor? Serão empregadas em
quais contextos?
Bebedor, como outras palavras com essa terminação - dor -, remete a um agente,
ou seja, a alguém que realiza uma ação; no caso, o ato de beber. Bebedor, então, é
aquele que bebe. Assim também temos comprador - aquele que compra -; trabalhador -
aquele que trabalha; consumidor - aquele que consome, e assim por diante. Veja o
exemplo:
Meu amigo é um grande bebedor... de leite!
Bebedouro, com a terminação - douro -, refere um lugar, no caso, o lugar onde se
bebe. Podemos encontrar essa mesma derivação em paradouro - lugar onde se para;
comedouro - lugar onde se come; matadouro - lugar onde se abate o gado. Exemplo:
A escola instalou vários bebedouros em suas dependências.
31- bimensal / bimestral
Muito usadas em contextos escolares, essas palavras não devem ser confundidas,
pois determinam espaços de tempo diferentes.
Bimensal é aquilo que ocorre duas vezes no mês, ou seja, no decorrer de 30 dias.
Encontramos também, com facilidade, essa palavra em referência a publicações escritas.
Veja os exemplos:
Você que é feliz, tem recebimento bimensal de salário!
A revista que lhe indiquei tem publicação bimensal.
Bimestral, igualmente com o prefixo bi, é o que ocorre a cada dois meses.
Exemplo:
Em suas avaliações bimestrais, a escola considera inúmeras formas de trabalhos
realizados pelo aluno.
32- ante / anti
Ambas são prefixos, quer dizer, precedem palavras, atribuindo a elas um
significado diferente. Vejamos como isso ocorre.
Ante, com o valor de prefixo, atribui à palavra o sentido de anterioridade, como
em:
Na citação, você deve antepor o sobrenome do autor e a data de publicação da obra.
↓
pôr antes
Note bem: há, também a palavra ante, que é uma preposição e significa diante de:
Todos ficaram maravilhados ante a obra apresentada pelo famoso artista.
↓
diante da
Anti, prefixo, refere oposição, contrariedade, como em:
Em caso de gripe, use um antigripal adequado.
↓
contra gripe
33- diferençar / diferenciar
Tanto em um quanto em outro caso, a relação que fazemos é com o substantivo
diferença. Entretanto, para os verbos, há um entendimento específico.
Se você disser que deseja diferençar uma coisa de outra, está significando que vai
distingui-las, ou seja, estabelecer a diferença entre elas. Assim:
Vou diferençar para você um verbo regular de um irregular.
Já se você disser que vai diferenciar algo, significa que vai mudar, alterar esse
algo. Veja:
O passar dos anos foi diferenciando as marcas no seu rosto...
34- mandato / mandado
Trata-se de palavras muito parecidas, tanto na oralidade quanto na escrita e, por
isso, são facilmente confundidas até mesmo por pessoas bem escolarizadas.
Ouve-se, por exemplo: "Será que o juiz vai expedir este mandato de segurança?"
Provavelmente não! Isso porque o magistrado pode expedir ou não um mandado, não
um mandato. Vamos examiná-las.
Um mandado é uma ordem escrita emanada de uma autoridade judicial. É o caso
da frase acima. Portanto, o correto seria:
Será que o juiz vai expedir este mandado de segurança?
Mandato é o poder dado a alguém por outrem; delegação, incumbência. Seria o
caso dos exemplos:
Eu não tenho mandato (delegação) para falar em seu lugar, mas conheço sua
opinião.
O mandato (poder político conquistado em eleição) dos prefeitos e vereadores é
de quatro anos.
35- a fora / afora
Mais uma vez, a simples junção ou separação de uma partícula a um nome pode
mudar todo o sentido do que se diz.
A fora, com a separação do "a", é o oposto de a dentro; esse "a" corresponde a
"para", como podemos ver em:
Estávamos na sala e, de dentro a fora, tivemos a impressão de que estava nevando.
↓
para fora
Afora, como uma só palavra, é usada nos demais casos, podendo ser substituída
simplesmente por fora (advérbio, oposto a "dentro"). Vejamos os exemplos:
Podemos encontrar muita gente boa por este mundo afora.
Afora a família, ele ainda se lembrou dos amigos no testamento.
36- apurado / acurado
É uma interessante dupla, com várias observações a serem realizadas.
Primeiramente: a segunda forma, acurado, é praticamente inexistente na língua
coloquial. E, na culta, nem sempre é empregada de forma correta, sendo, facilmente,
trocada pela outra forma. Vamos analisar esses casos.
Acurado, como adjetivo que é, sofre flexões e tem o significado de cuidadoso.
Podemos dizer, por exemplo:
O professor realizou acurada revisão em meu trabalho.
Apurado, igualmente, é adjetivo e sofre flexões. Há dois significados para essa
palavra: o primeiro é refinado, como em:
Percebe-se que você tem gosto apurado...
Já o segundo é averiguado, estudado, como em:
Na análise do caso, ficou apurado que não houve má-fé dos envolvidos.
37- vestuário / vestiário
Parece fácil, e realmente é, mas provoca certa dúvida e algum emprego equivocado.
Usamos vestuário significando vestimenta, conjunto de peças que compõem um
traje. Assim:
Aquela cantora se destaca pelo vestuário extravagante com que se apresenta...
E vestiário é, nada mais, nada menos, que o local onde se troca de roupa. Ex.:
Nossa loja tem um amplo vestiário, oferecendo mais conforto ao cliente.
38- aprender / apreender
Com significados muito similares, essas palavras são, muitas vezes, tomadas uma
pela outra. Todavia, há diferença entre elas.
Aprender significa instruir-se, adquirir conhecimento ou prática de algo que não
se sabia anteriormente. Aprendemos a ler, a falar outro idioma, a cantar, a dançar, a
respeitar as leis e assim por diante. Vejamos o exemplo:
Consegui aprender o teu idioma em tão pouco tempo!
Apreender significa compreender, assimilar com profundidade algo que se
aprende. Portanto, precisamos apreender o que aprendemos... Assim:
Apreendendo os conhecimentos, temos mais condições de repassá-los aos outros.
39- com quanto / conquanto
A expressão com quanto compõe-se de um pronome - quanto - antecedido de uma
preposição - com. Como pronome, o quanto é flexionado, de acordo com o nome que
acompanha. Assim: quantos dias, quanto calor, quanta capacidade, quantas vezes.
Nesse emprego, não há dúvida com relação ao seu significado. Vejamos os exemplos:
Agora eles vão ver com quantos paus se faz uma canoa!
Preciso saber com quanto dinheiro posso contar para a viagem.
Já a forma conquanto não é muito empregada na fala usual, por isso, surge a
dificuldade. Equivale a embora e se trata de uma conjunção, isto é, uma palavra
invariável, com função relacional: faz a conexão entre orações do texto. Então, vamos
aos exemplos:
Conquanto esteja cansado, assim mesmo seguirei minha busca.
Tudo sairá bem, conquanto haja grandes dificuldades.
40- com tudo / contudo
Com tudo é uma expressão constituída pelo pronome "tudo", antecedido da
preposição "com", significando com todas as coisas. De uso fácil, não é comum que
provoque dúvidas, mas não podemos trocá-la pela outra forma. Ex.:
Agora é fácil acertar, com tudo o que aprendemos.
A forma contudo é que pode deixar margem a erros no emprego. Trata-se de uma
conjunção com sentido de oposição, que tem o mesmo significado de mas, porém,
todavia, entretanto, no entanto. Ex.:
Aprendemos muito, contudo podemos não acertar sempre.
41- discriminar / descriminar
Típicas palavras parônimas, isto é, que apresentam semelhança na escrita e na
pronúncia, mas que têm significados bem diferentes.
Discriminar pode ter três significados:
- distinguir, ou seja, notar a diferença entre dois elementos. Ex.:
Você deverá discriminar o bom alimento daquele prejudicial à saúde.
- relacionar os diversos itens de uma lista. Ex.:
Há quem goste de que sejam discriminados seus gastos, nos restaurantes.
- fazer diferença entre pessoas, credos, raças. Ex.:
No Brasil, há uma lei que proíbe a discriminação racial.
Descriminar é uma palavra derivada de crime, que recebe o prefixo "des"; significa
retirar o caráter de crime, isentar de culpa. Assim:
Há movimentos que pretendem descriminar essa substância.
42- história / estória
Muito se tem lido e ouvido com relação a essas palavras, no que tange à existência
da segunda forma. Os dicionários, porém, registram as duas, dando-lhes a devida
distinção.
História, de acordo com eles, é a evolução da humanidade ao longo do seu
passado e do seu presente. Nesse caso, deve ser grafada com letra maiúscula. Admite-
se, ainda, que seja a designação de fato real, verídico. Ex.:
A História nos traz muitos ensinamentos que nem sempre aproveitamos.
A história que você me contou é reproduzida em muitos livros.
Estória, sempre com letra minúscula, significa ficção, narrativa fantasiosa, lenda
ou, até mesmo, mentira, conversa fiada. Ex.:
Ainda hoje me lembro das estórias contadas por meu avô...
Você acreditou nessa estória sem pé nem cabeça?
43- meio / meia
Nessa palavra, há um emprego específico para cada significado que assume, no
contexto. Assim, vejamos:
- significando metade: usamos meio para o masculino e meia para o feminino, como
em:
Use meio quilo do produto, para obter o efeito desejado.
A receita indica o uso do suco de meia laranja na massa.
- significando uma peça do vestuário: trata-se de um substantivo, em que usamos apenas
a forma meia (ou no plural, meias):
Perdi uma meia deste par!
- significando um tanto, um pouco: funciona como advérbio, que é uma palavra
invariável; a única forma correta é meio, não apresentando flexão de gênero nem de
número:
Você hoje me parece meio cansada, cara amiga...
O rapaz ficou meio indignado com a atitude do amigo...
MÓDULO 2
2.1 Uma só forma correta
Neste item, abordaremos casos de palavras ou expressões que, na língua culta,
apresentam uma única forma.
1- Existe uma grande diferença entre mim e ti.
ou
Existe uma grande diferença entre eu e tu.
Está correta a primeira frase!
A segunda opção não existe, pela norma culta de língua. Isso se explica porque, regra
geral, após preposição, os pronomes pessoais de 1ª e de 2ª pessoa do singular (eu, tu)
só podem ser usados na forma oblíqua: mim, ti.
Nas demais pessoas verbais, usamos os pronomes pessoais retos após preposição.
Vamos lembrar alguns casos:
- sem mim (1ª pessoa do singular), sem ti (2ª pessoa do singular), pronomes oblíquos;
mas sem ele (3ª pessoa), sem nós (1ª pessoa do plural), sem eles (3ª pessoa do plural),
pronomes retos;
- contra mim, contra ti, oblíquos; mas contra ele, contra nós, contra eles, retos;
- em mim, em ti, oblíquos; mas em ele (ou melhor: nele, forma aglutinada), em nós, em
eles (neles), retos.
Essa mesma frase, com outros pronomes que não da 1ª e da 2ª pessoas, portanto,
terão as formas retas:
Existe uma grande diferença entre nós e eles.
Mas, se um dos pronomes for de 1ª ou de 2ª pessoa, esse fica na forma oblíqua:
Existe uma grande diferença entre ele e mim. (ou entre mim e ele, indiferentemente)
↓ ↓
3ª pes. 1ª pes.
(reto) (oblíquo)
2- a nível ou em nível?
Amanhã haverá uma reunião em nível de diretoria.
Embora essa seja a única forma possível, para o caso, prefira-se simplificar:
Amanhã haverá uma reunião de diretoria.
Note que a expressão é desnecessária, nada acrescenta ao sentido.
Há , ainda, as expressões no nível, de nível e ao nível, também corretas, conforme o
caso:
Um dia hei de me encontrar no nível em que ele está!
Trata-se de um imóvel de nível médio.
Algumas cidades ficam ao nível do mar.
A única forma inexistente, na língua culta, é a nível que, incrivelmente, é a mais
empregada!
3- a cores ou em cores?
A TV em cores foi uma bela invenção, à época.
Podemos fazer uma analogia com: voto em branco, desenho em preto e branco. Você
não diria voto a branco, desenho a preto e branco, não é mesmo? Então, por que usar
TV a cores?
4- a domicílio ou em domicílio?
Para seu conforto, fazemos entrega em domicílio.
Você faz uma entrega em algum lugar, não a algum lugar! Esse emprego, na língua
corrente, não tem sido observado...
5- grosso modo ou a grosso modo?
Estavam presentes, grosso modo, umas trinta pessoas.
Trata-se de uma expressão latina que veio para o português sem alteração.
Significa por alto, de modo superficial, sem uma análise mais profunda. No exemplo
citado, havia a presença de aproximadamente trinta pessoas, talvez um pouco menos,
talvez um pouco mais.
6- alto e bom som ou em alto e bom som?
Já lhe disse alto e bom som: não haverá represálias.
Significa com clareza, com todas as letras. Ouve-se, também, às vezes, alto e bom
tom. Trata-se de forma da língua coloquial. Nada tem a ver com altura do som, da fala,
mas sim com a sua imediata compreensão.
7- haja vista ou haja visto?
Tudo correu bem, haja vista o prêmio ter sido entregue pessoalmente.
A expressão haja vista é invariável, significando tenha em vista, veja.
Trata-se da junção de uma forma do verbo haver - haja - com a palavra vista - de
visão -, que é invariável: a vista é a única forma.
Há registro, em algumas referências bibliográficas, da possibilidade de o verbo variar
em número, concordando com a expressão posposta:
Tudo correu bem, hajam vista os prêmios entregues.
Nesse caso, como a expressão posposta está no plural - os prêmios entregues, o
verbo flexiona-se também no plural - hajam.
8- a presença ou as presenças?
Registramos a presença dos professores homenageados neste ato.
A palavra presença, como substantivo abstrato, não flexiona.
Ocorre, porém, a possibilidade de flexionar, em outro emprego:
Colega, já registrei as suas presenças no livro-ponto.
9- berruga ou verruga?
Ela tem uma verruga na ponta do dedo!
A forma berruga é de uso popular, gramaticalmente usamos verruga.
10- tinha chego ou tinha chegado?
Não sabia que você tinha chegado tão cedo.
A forma do particípio do verbo chegar é, unicamente, chegado. A outra é de nível
coloquial, devendo ser evitada na língua culta.
11- face a ou em face de?
Em face dos acontecimentos, os planos foram mudados.
Essa construção é a adequada na nossa língua, embora se use muito a outra, que é
uma forma afrancesada.
12- companhia ou compania?
Sua companhia me agrada muito...
A pronúncia da palavra é tal qual sua grafia, com nh, e não somente n.
13- isso me indigna ou isso me indiguina?
Esse tipo de notícia me indigna.
O verbo é indignar, indignar-se, logo, em todas as suas formas conjugadas, o g se
mantém.
Você talvez já tenha ouvido a forma indiguina, indiguinado, porém, trata-se de uso
popular e não gramatical.
14- mal e porcamente ou mal e parcamente?
Um bom número de brasileiros mal e parcamente assina o nome.
A expressão significa de modo simples, elementar, podendo ser substituída por
apenas, somente, unicamente.
Parcamente vem de parco, ou seja, pouco, como em parcos recursos.
15- duzentos gramas ou duzentas gramas?
Por favor, me dê duzentos gramas de queijo.
A unidade de medida é um grama, o grama, portanto, o numeral deve concordar no
masculino.
Se você disser duzentas gramas, estará se referindo ao vegetal a grama.
16- aspiral ou espiral?
Gosto de caderno espiral, é mais prático.
Espiral vem de espiras, ou seja, volteado como a rosca de um parafuso.
A outra forma não existe.
17- perante vocês ou perante a vocês?
Fico à vontade perante vocês, haja vista nossa velha amizade.
Trata-se de duas preposições empregadas juntas: perante e a, o que não se
justifica.
18- uma mão de tinta ou uma demão de tinta?
Esta parede está precisando de uma demão de tinta branca.
Demão significa camada da cal, tinta ou verniz, por isso, está correta essa forma.
19- água saloba ou água salobra?
Foi aberto um poço na região, mas a água era salobra.
Apesar de a outra forma ser amplamente usada, gramaticalmente não existe.
20- meretíssimo ou meritíssimo?
Essa forma de tratamento é dirigida unicamente a juízes e juízas de Direito.
Supostamente, essas são pessoas de grande mérito, por isso, meritíssimo, que é o
superlativo absoluto sintético do adjetivo.
A outra forma é incorreta.
21- de repente ou derrepente?
A palavra é repente, antecedida da preposição de; significa de súbito,
repentinamente, subitamente. Portanto:
O candidato chegou e, de repente, começou a falar.
22- repetir o ano ou repetir de ano?
Estudante que não vai bem na escola repete o ano (escolar), e não de ano. Ocorre
que se faz uma confusão entre o ano escolar e o ano civil. O ano escolar se pode repetir;
já o ano civil não, pois o tempo não volta jamais...
23- namorar a pessoa ou namorar com a pessoa?
O verbo namorar é transitivo direto, isto é, não pede preposição. Portanto, quem
namora, namora alguém e não com alguém.
Você realmente quer namorar a minha amiga?
Essa confusão talvez aconteça por analogia com os verbos noivar e casar-se, que
pedem a preposição "com": noivou com minha amiga; casou-se com a primeira
namorada.
24- é de menor ou é menor?
A pessoa é menor de idade ou é menor, nunca de menor.
Os infratores são menores, por isso foram entregues ao Conselho Tutelar.
25- Todo ano cai geada?
Não! Isso porque a geada não cai de lugar algum, ela simplesmente se forma, pois é
a condensação da umidade do solo (ou de outra superfície), chamada orvalho, quando a
temperatura é muito baixa. Talvez essa construção tenha surgido por analogia com
outros fenômenos atmosféricos, como a neve e a chuva que, realmente, caem... como
empregar, então, o verbo gear?
Todo ano geia em algumas cidades do sul, no inverno.
Caso essa forma lhe pareça estranha, empregue a forma alternativa:
Todo ano se forma geada em algumas cidades do sul, no inverno.
26- meio dia e meio ou meio dia e meia?
Qual o significado dessa expressão? É a passagem de metade de um dia mais
metade de uma hora, não é mesmo? Então: meio dia mais meia hora! Portanto:
Você ficou de vir ao meio dia e meia e só chegou agora!
27- por isso ou porisso?
O pronome isso, no texto, faz referência a algo já mencionado. Na expressão por
isso, então, está subentendido por essa razão, por esse motivo, ou seja, a preposição
"por" mais o pronome "isso" (que já foi dito). Veja o exemplo:
Você está atrasado, por isso, apresse-se!
28- a longo prazo ou em longo prazo?
O pagamento pode ser realizado em longo prazo.
Podemos raciocinar da seguinte forma: o pagamento será realizado em que prazo (e
não a que prazo)? Logo, a única expressão correta é a do exemplo acima: em longo
prazo.
29- manicura ou manicure?
Trata-se de uma palavra de origem francesa, manicure, que foi aportuguesada como
manicura. A forma manicure, embora de uso mais amplo, é afrancesada. O seu
masculino é manicuro, em português; já manicure não tem forma correspondente em
nossa língua e designa tanto o profissional do sexo feminino como o do sexo masculino.
No dicionário, encontramos ambas as palavras, consideradas como formas variantes,
pois seu uso está disseminado.
Assim, quem quer empregar a língua portuguesa ou aportuguesada, diz:
Esta manicura é uma excelente profissional!
Quanto à forma pedicuro, segue o mesmo princípio.
30- maisena ou maizena?
Conhecemos essa palavra pela famosa caixinha amarela, que contém um produto
culinário muito usado. Entretanto, o nome registrado nessa caixinha não representa o
nome do produto, e sim a marca registrada do fabricante. O produto é maisena; a marca
é maizena. Atualmente, já existem outras marcas desse produto; você pode comprovar a
grafia em todas elas: maisena (ou, como alguns preferem, amido de milho, para não
lembrar a outra marca, mais famosa.).
31- perda ou perca?
Ouve-se, muitas vezes, na mídia falada: "a perca do subsídio ..."; "com a perca
desse incentivo...". trata-se de uma troca do substantivo pelo verbo, nessas falas.
Observe o emprego correto:
Em seu discurso, o candidato destacou que não deve acontecer a perda do incentivo à
alfabetização de todos os brasileiros.
Temos, aí, o substantivo perda, antecedido do artigo "a". a outra palavra, perca, é
uma forma verbal, como em: "Desejo que ela não perca os pontos obtidos."
32- menas ou menos?
Significando diminuição de algo, a única palavra gramaticalmente correta é menos,
independentemente de estar se referindo ao masculino ou ao feminino. Ex.:
Hoje ela está menos impressionada com os fatos divulgados.
O professor ficou menos preocupado, ao comprovar o aproveitamento dos alunos.
33-cabelereiro ou cabeleireiro ?
Como essa palavra se deriva de cabeleira, o correto é cabeleireiro, ou seja, a
palavra primitiva acrescida do sufixo "eiro", que designa ocupação, profissão. A outra
forma seria derivada de cabelo, essa sim, originando cabeleira. Portanto, emprega-se
assim:
Um famoso cabeleireiro brasileiro agora está fazendo sucesso no exterior.
34- a rigor ou em rigor?
Mais uma vez, estamos empregando mais a forma afrancesada do que a
aportuguesada... Na nossa língua, o melhor é dizer em rigor, significando
rigorosamente, de modo mais adequado.
Neste momento, em rigor, a atitude mais racional seria apressar as modificações nos
planos.
35-cujo ou cujo o?
Este é um pronome relativo e tem tido seu uso bastante reduzido na língua,
especialmente na coloquial. Mesmo na forma culta, entretanto, muitas vezes é
empregada de modo incorreto. A única forma correta é sem o artigo: cujo. Veja o
exemplo:
O autor cuja obra estou analisando fará uma palestra no próximo sábado.
36- a meu ver ou ao meu ver?
Entre as duas formas, devemos escolher a primeira! Também é aceita a expressão
em meu ver, como no exemplo:
Sua atitude é acertada, em meu ver.
37- se acaso ou se caso?
A expressão se acaso significa se porventura, se por alguma circunstância.
Portanto, está corretamente empregada em:
Se acaso você não puder comparecer, por favor, envie uma justificativa.
Já a expressão se caso não deve ser empregada, pois ambas as palavras se
equivalem: correspondem a palavras que exprimem condição. Assim, devemos usar, na
mesma construção, uma ou a outra. Veja:
Se você não puder ir, avise-me!
Caso você não possa ir, avise-me!
38- viva os noivos ou vivam os noivos?
A palavra viva, nessa frase, é um verbo; expressa a ação realizada pelo sujeito os
noivos, que está pluralizada. Portanto, o verbo deve concordar com o sujeito, sendo
flexionado no plural:
Vivam os noivos!
Ocorre, aqui, uma possível confusão de viva (verbo) com salve! (interjeição), como
ensina Sacconi(1990). A interjeição é uma palavra invariável, mas o verbo não! Nesse
caso, se usarmos a interjeição, assim fica a frase:
Salve os noivos!
39- zero ponto ou zero pontos?
Em numerais, somente aplicamos o plural quando a referência for a dois ou mais.
Então, o certo, aqui, é:
O meu time, antes do jogo de ontem, estava com zero ponto, mas agora, com a vitória,
passou para três pontos!
40- viemos a sua presença ou vimos a sua presença?
Ambas as formas verbais são do verbo vir; ocorre que a primeira - viemos - é do
tempo passado e a outra - vimos - é do presente. Assim, deve ser observada a intenção
do falante. Em correspondência comercial, é muito empregada a flexão desse verbo no
presente:
Vimos apresentar nossas desculpas pelo equívoco no envio da mercadoria.
Note que a fórmula vimos apresentar pode ser facilmente substituída por apresentamos,
mais reduzida.
41- talvez eu vou ou talvez eu vá?
Talvez é uma palavra que denota dúvida; eu vou é uma forma do verbo ir no
presente do modo indicativo. Ora, o modo indicativo designa certeza. Desse modo, há
uma incoerência entre a dúvida e a certeza. O correto, nesse caso, é talvez eu vá, pois a
construção do verbo passa a ser no presente do modo subjuntivo, designando incerteza.
Passa a haver, então, uma concordância entre a dúvida de talvez com a incerteza do
verbo vá.
42- no entanto ou no entretanto?
Há uma confusão no emprego dessas duas conjunções: entanto e entretanto,
ambas designando oposição, contrariedade. Apenas a primeira é que recebe a partícula
"no", ficando, então, no entanto. A outra não pode receber essa partícula. Veja o
exemplo:
Eu gostaria de ir, no entanto, devo permanecer trabalhando.
Eu gostaria de ir, entretanto, devo permanecer trabalhando.
43- é 3 horas ou são 3 horas?
O numeral 3, por indicar mais de um, leva o verbo para o plural. Assim:
Vamos embora logo, pois já são dezessete horas!
Vamos logo, pois já deram dezessete horas!
44- hoje é seis de setembro ou hoje são seis de setembro?
Em expressões que designam data, o verbo ser vai para o plural com os algarismos
dois ou mais:
Hoje são cinco de setembro, véspera da Independência.
2.2 Redundância
Veremos, a seguir, alguns casos de redundância: repetição desnecessária da
mesma idéia, exagero.
1- acrescentar mais um
O que significa a palavra acrescentar? É pôr mais um, ou seja, a própria palavra já
subentende a ideia de "mais". Portanto, a redundância está na palavra mais. Dizemos,
então:
Vais acrescentar um detalhe no teu relatório?
Ou, ainda:
Vais pôr mais um detalhe no teu relatório?
Veja que ambas as formas estão corretas, desde que não sejam usadas as palavras
acrescentar e mais na mesma construção.
2- amanhece o dia
Pode amanhecer algo que não seja o dia? Parece-nos que não... Dessa forma,
empregamos apenas uma das duas palavras:
Quando amanhece, saúdo a natureza...
Ou, então:
Quando chega o dia, saúdo a natureza...
3- breve alocução
A palavra alocução já significa, por si mesma: discurso ou fala curta. Por isso, dizer
breve alocução é a mesma coisa que afirmar breve discurso curto. A construção correta,
nesse caso, é:
Em sua alocução, o diretor saudou os visitantes.
4- cair um tombo
Expressão amplamente empregada na língua coloquial, trata-se de exagero porque
cair já significa tombar, ir ao chão. Escolhemos, então, uma das duas palavras para não
ocorrer o exagero indesejado:
Durante a brincadeira, a criança caiu e feriu o joelho.
Durante a brincadeira, a criança levou um tombo e feriu o joelho.
5- canja de galinha
Uma canja é uma sopa que se faz com caldo de galinha; logo, canja de galinha é uma
repetição desnecessária do mesmo significado. Dizemos uma das duas formas:
Uma canja não faz mal a ninguém.
Um caldo de galinha não faz mal a ninguém.
6- chutar com o pé
Mais uma vez, temos uma palavra que já contém o significado da outra: chutar já
pressupõe uma ação realizada com o pé (ou os pés). Muitos dos comentaristas
esportivos, portanto, cometem uma redundância quando se referem a essa ação. O
correto seria:
O jogador chutou a bola para fora.
7- comer com a boca
Seria muito estranho alguém comer sem que fosse com a boca, não é mesmo? Assim
sendo, a expressão com a boca está sobrando, é um exagero. Dizemos, apenas:
Ele comeu tudo o que encontrou pela frente!
8- conviver junto
O verbo conviver é a junção de viver + com; assim, a palavra junto torna-se
redundante. Veja o exemplo correto:
Para conviver, é preciso uma boa dose de tolerância...
9- criar novos
O ato da criação pressupõe a novidade: somente se cria algo novo. Então, criar
novos regulamentos, por exemplo, é redundante. Por isso, dizemos apenas:
O governo criou, nesse período, vinte mil empregos.
10- dar de graça
Se você dá algo a alguém, vai cobrar por isso? Não! Isso porque, nesse caso, não
seria um ato de doação. Quem dá, somente pode dar sem nada cobrar. Usamos,
portanto, apenas o verbo, sem essa expressão redundante:
O atleta deu a bola para o adversário!
11- elo de ligação
Um elo é um elemento de ligação; isso significa que todo elo já contém o sentido
de junção, união. Por esse motivo, dizer elo de ligação é um exagero sem propósito.
Veja o exemplo:
Você será o elo entre mim e os demais integrantes do grupo.
12- emulsão de óleo
Ao usar uma emulsão, você já está usando um produto que contém óleo; nesse caso,
não é necessário o reforço da expressão de óleo. Dizemos, simplesmente:
Passei esta emulsão no ferimento e ele logo cicatrizou.
13- encarar de frente
Pode-se encarar algo ou alguém sem que seja de frente? Não, pois o verbo encarar
contém o significado de "cara", rosto. Podemos dizer, então:
Você deve encarar seus problemas para poder resolvê-los.
14- é vontade geral de todos
Se a vontade é geral, já está dito que é de todos! Portanto, não há necessidade de
acrescentar essa expressão para ser entendido. Podemos escolher entre as seguintes
construções, ambas corretas:
Sabe-se que é vontade geral a realização de eleições democráticas.
Sabe-se que é vontade de todos realização de eleições democráticas.
15- há dois anos atrás
O verbo haver já significa tempo decorrido, nessa expressão; desse modo, o
acréscimo de atrás é redundante. Temos duas possibilidades, nesse caso:
Há dois anos participei de um concurso para professor.
Dois anos atrás participei de um concurso para professor.
16- individual para cada um
Tudo o que é individual é para uma só pessoa. A expressão para cada um, então, é
um exagero. Dizemos apenas:
O uso de equipamentos de segurança é individual.
17- introduzir dentro
Introduzir é pôr para dentro; introduzir dentro segue o mesmo princípio de sair
para fora, entrar para dentro, subir para cima, descer para baixo, todas expressões
sabidamente redundantes. Preferimos, então:
Esta peça deverá ser introduzida no espaço indicado.
18- manter a mesma
O verbo manter já pressupõe deixar como está; desse modo, é exagero dizer o
restante da expressão: a mesma. Entretanto, muito ouvimos, por exemplo, manter a
mesma equipe, manter o mesmo horário, e assim por diante. O correto é:
O treinador decidiu manter a equipe que já estava escalada.
19- mensalmente a cada mês
Quando dizemos mensalmente, estamos referindo que é no mês; então, o acréscimo
de a cada mês deve ser evitado. Dizemos, por isso:
O prêmio será oferecido mensalmente a quem cumprir todos os requisitos.
20- minha própria opinião
Minha e própria, nessa expressão, têm o mesmo sentido. Para evitar tal
redundância, o correto é:
Minha opinião é que ele seja readmitido.
21- novidade inédita
Inédito é tudo aquilo que nunca foi dito ou visto; e novidade é, igualmente, aquilo
que é novo. Assim sendo, escolhemos apenas uma das duas palavras na mesma
construção:
Essa notícia é uma novidade!
Essa notícia é inédita.
22- o mais absoluto silêncio
A palavra absoluto significa uma totalidade; não pode haver uma totalidade a mais
nem a menos, caso contrário, deixará de ser absoluta. Por isso, devemos dizer:
Naquele momento, reinou absoluto silêncio na sala.
23- os mínimos detalhes
Ao detalhar algo, estamos realizando uma descrição minuciosa desse algo, em
todos os seus detalhes. É exagero acrescentar mínimos! Então, veja o exemplo:
Vou lhe relatar o fato em detalhes.
24- outra alternativa
A palavra alternativa contém o significado de outra (alter, em latim); seu sentido,
originalmente, era de uma escolha entre um ou outro. Na língua popular, está
sedimentado o emprego de alternativa por opção, palavra esta que significa escolha
entre várias possibilidades. Se, entretanto, você quiser empregar a língua culta, prefira
apenas alternativa, como em:
Não tive alternativa, marquei a viagem para o dia em que havia passagem disponível.
Mas você pode usar, também, a palavra opção, esta sim com o acréscimo de outra:
Não tive outra opção, marquei a viagem para o dia em que havia passagem disponível.
25- plebiscito popular
Um plebiscito - palavra derivada de plebe (povo) - é uma forma de consulta
dirigida ao povo, portanto, já contém o significado de popular. Construímos, então,
assim nossa frase:
Aquele plebiscito teve como resultado a negação do que se pretendia realizar.
26- pomar de frutas
Um pomar é um conjunto de árvores frutíferas. Desse modo, é desnecessário
acrescentar de frutas, pois não há pomar que não seja de frutas. Veja o exemplo:
Adquiri um sítio que tem um belo pomar!
27- reincidir de novo
O prefixo re - indicativo de repetição - anteposto à palavra incidir - ocorrer -,
significa incidir novamente. Assim sendo, devemos escolher entre as duas formas:
O funcionário reincidiu no erro.
O funcionário incidiu de novo no erro.
28- repetir outra vez
Para dizer outra vez, basta repetir; não é necessário que se repita outra vez, trata-se
de exagero. Veja:
Vou lhe repetir as normas que a casa impõe.
29- todos são unânimes
A unanimidade pressupõe a totalidade das ocorrências (de uma opinião, de votos,
de indicações,...). Por isso, evitamos a palavra todos, já contida em unânimes:
Os alunos foram unânimes: aquela havia sido a melhor aula do semestre!
MÓDULO 3
Outras questões
Abordaremos, neste módulo, questões diversas que podemos rotular como
dúvidas de sempre.
1- champanha: como se pronuncia?
Essa palavra, de origem francesa (Champagne - uma região da França), designa um
tipo de espumante muito apreciado para ocasiões especiais. Sua pronúncia, por
influência da língua de origem, disseminou-se como champanhe; a forma
aportuguesada, todavia, é champanha. Os dicionários registram ambas as formas como
aceitáveis, tanto com o artigo "o" como com o artigo "a".
2- verbo haver: como se dá a concordância?
O verbo haver costuma provocar muita dúvida, no momento do seu emprego na
língua culta. Há algumas particularidades, como veremos a seguir.
a. no sentido de existir, ter existência - é verbo impessoal, quer dizer, conjuga-se
apenas na terceira pessoa do singular. Ex.:
Havia pessoas que não concordavam com esse tipo de atitude.
↓
Existiam
Note que, se for empregado o verbo existir, a concordância será no plural.
b. no sentido de tempo já decorrido - é impessoal, assim como no item anterior. Nesse
caso, pode ser substituído pelo verbo fazer, que também se torna impessoal:
Há dois meses não chove nesta região.
↓
Faz
c. no sentido de acontecer - é impessoal, conjugado, igualmente, apenas na terceira
pessoa do singular:
Houve diversos fatos que provocaram alta no custo de vida.
↓
aconteceram
Na substituição pelo verbo acontecer, este se flexiona no plural, de acordo com a
expressão a que se refere: diversos fatos.
d. nos demais empregos, é pessoal: conjuga-se em todas as pessoas:
Eu hei de vencer esta prova!
Eles hão de chegar a tempo.
Nós havemos de fazer o melhor possível.
3- como é o plural de certas palavras?
Muitas vezes paramos para pensar: esta palavra tem flexão de número? E a dúvida
toma conta de nós. Vejamos, então, alguns desses casos.
a. gravidez
Nas duas gravidezes, ela teve gêmeos!
b. arroz
Alguns arrozes são mais nutritivos que outros.
c. giz
Traga-me cinco gizes coloridos, por favor!
d. zíper
Os zíperes funcionavam bem, mas com o uso estão emperrados.
e. pôster
Meus pôsteres de formatura ficaram muito bonitos...
4- palavras ou expressões que só existem no plural
Há palavras, na nossa língua, que só existem no plural e com o artigo (ou outro
determinativo) também pluralizado:
a. as cócegas
Sentia muitas cócegas nos joelhos.
b. expensas
Ele vivia a expensas da mulher...
↓
na dependência financeira
Essa expressão admite duas formas: a expensas ou às expensas, mas sempre no
plural.
c. a olhos vistos
Aquela artista está emagrecendo a olhos vistos!
Não existe o singular, nessa expressão que significa visivelmente.
d. parabéns
Dei-lhe os parabéns pela conquista do título.
Essa palavra, em sua origem, existia no singular; todavia, com o uso, passou a haver
apenas a forma do plural.
5- palavras que têm diferentes significados do singular para o plural
Outras palavras, diferentemente das anteriores, existem nas duas formas - singular e
plural, mas com significados diferentes. Vejamos algumas:
a. féria e férias
Após o expediente, os feirantes calcularam a féria.
↓
faturamento do dia
Nas próximas férias, pretendo realizar uma viagem ao interior do Brasil.
↓
período de repouso
b. gás e gases
Houve um vazamento de gás, mas felizmente nada de grave resultou.
↓
tipo de combustível
O acúmulo de gases no abdômen costuma provocar fortes dores.
↓
ar no tubo digestivo
c. costa e costas
A costa brasileira apresenta praias belíssimas!
↓
litoral
Carregou muito peso, por isso ficou com dores nas costas.
↓
dorso, região posterior
6- palavras com dupla grafia
Há, ainda, palavras que podem ser grafadas tanto no singular quanto no plural, sem
alteração de sentido; o artigo (ou outro determinativo), entretanto, deve concordar com
elas.
a. ciúme / ciúmes
Tenho muito ciúme de meus livros.
Você deve controlar esses ciúmes exagerados.
b. saudade / saudades
Quem se afasta de sua terra natal sente saudade.
As saudades da infância nos acompanham por toda a vida.
7- palavra que faz o plural no seu interior
Há uma só palavra, na nossa língua, que traz a marca do plural em seu interior, e não
no seu final: é a palavra qualquer:
Quaisquer materiais, em suas mãos, viram obras de arte!
8- bodas de prata
Essa expressão tem seu uso restrito a matrimônio, ou seja, apenas comemoram
bodas de prata (vinte e cinco anos de casamento) pessoas casadas. Para outros eventos,
empregamos jubileu de prata (vinte e cinco anos desde seu início).
Organizamos uma festa surpresa para as bodas de prata de meus pais.
A empresa em que trabalho comemora, neste ano, seu jubileu de prata.
9- quando empregar mau ou mal
É fácil: mau (adjetivo) é o contrário de bom; mal (substantivo) é o contrário de bem.
Se fizermos a substituição, na frase, e o sentido permanecer, estamos no caminho certo!
Vejamos:
Passava por um mau momento, mas assim mesmo ficou firme em seu propósito.
Poderíamos dizer bom momento, e não bem momento.
Aquele marginal fez muito mal a sua própria família.
Poderíamos dizer fez muito bem, e não fez muito bom.
10- quando eu ver ou quando eu vir?
Essa é uma flexão do verbo ver, no futuro de modo subjuntivo. Facilmente nos
confundimos, pois ela é exatamente igual à forma do verbo vir no infinitivo pessoal.
Vejamos, então, os dois casos:
Quando eu vir teu irmão, darei o recado. (verbo ver)
É para eu vir amanhã à tarde ou posso vir à noite? (verbo vir)
Note que a forma quando eu ver não existe!
11- aluga-se ou alugam-se casas?
Esse tipo de construção é, comumente, visto na forma errada, sem que haja
concordância entre o verbo e seu sujeito. Veja a construção correta:
Aluga-se um apartamento na praia.
Alugam-se apartamentos na praia.
Explica-se, gramaticalmente, por ser uma voz passiva e corresponder às seguintes
formas: um apartamento é alugado; apartamentos são alugados.
Assim também outros verbos:
Vende-se um cão de guarda.
Vendem-se filhotes de cães de raça.
Compra-se um carro velho.
Compram-se carros usados.
Dá-se uma cadeira de rodas.
Dão-se aulas de português...
12- é proibido ou é proibida?
Ambas as formas são adequadas, dependendo da construção da frase. Vejamos:
É proibido entrada de menores.
Observe que entrada não está determinada pelo artigo "a", portanto, a expressão
fica invariável.
É proibida a entrada de menores.
Já nesta construção, entrada está determinada pelo artigo "a", por isso, a expressão
varia no feminino.
Assim também ocorre com as expressões:
- é permitido / é permitida:
Não é permitido permanência de pessoas estranhas ao serviço.
Não é permitida a permanência de pessoas estranhas ao serviço.
- é vedado / é vedada:
Neste recinto, é vedado consumo de bebidas alcoólicas.
Neste recinto, é vedado o consumo de bebidas alcoólicas.
- é bom / é boa:
Frutas é bom para a saúde.
As frutas são boas para a saúde.
- é necessário / é necessária:
Para ingressar na sala, é necessário uso de equipamento de segurança.
Para ingressar na sala, é necessário o uso de equipamento de segurança.
13- emprego dos pronomes demonstrativos este e esse
O pronome este (e suas flexões: esta, estes, estas) é usado para indicar proximidade
do falante em relação ao objeto a que ele se refere. Assim:
Esta caneta que tenho em mão foi um presente de formatura.
Ou seja: a caneta está comigo, o falante.
Já o pronome esse (e suas flexões: essa, esses, essas) é usado para indicar
proximidade do objeto a que se refere em relação ao ouvinte. Assim:
Essa caneta que você está usando é muito sofisticada!
Observe que a caneta está próxima ao ouvinte: você.
Além disso, esses pronomes também fazem referência a tempo: este, tempo
próximo e esse, tempo mais distanciado no passado. Exemplos:
Este ano pretendo concluir meus estudos.
↓
ano em curso
Esse foi um período de muito trabalho em minha vida.
↓
período mais afastado
Ocorre, ainda, a referência a algo já dito ou a ser dito. Muito empregados em textos,
esses pronomes realizam uma função de substituição de algum nome ou ideia, da
seguinte forma:
- este (e suas flexões) antecipa o nome ou a idéia que se segue no texto:
Estas são suas atividades: ler o texto, analisá-lo e apontar as ideias do autor.
↓
as atividades referidas
- esse (e suas flexões) retoma o nome ou a ideia já mencionada:
Ler o texto, analisá-lo e apontar as ideias do autor: essas são suas atividades.
14- casos de ortoepia - pronúncia correta de todos os fonemas da palavra
Muitas palavras do nosso cotidiano causam-nos dúvida quanto à pronúncia; às
vezes, acrescentam-se, omitem-se ou troca -se fonemas indevidamente.Vejamos alguns
casos:
- advocacia - e não advogacia
-asterisco - e não asterístico
- bandeja- e não bandeija
- beneficente - e não beneficiente
- bicarbonato - e não bicabornato ou bircabonato
- caranguejo - e não carangueijo
- disenteria - e não desinteria ou disinteria
- empecilho - e não impecilho
- entretela - e não intertela ou entertela
- entreter - e não enterter ou interter
- entretenimento - e não entertimento ou entreterimento
- estupro - e não estrupo
- frustrar - e não frustar
- irrequieto - e não irriquieto
- manteigueira - e não manteguera
- meteorologia - e não metereologia
- paralelepípedo - e não paralepípedo
- prazeroso - e não prazeiroso
- privilégio - e não previlégio
- problema - e não poblema
- próprio - e não própio
- reivindicar - e não reinvindicar
15- casos de prosódia - adequada pronúncia da sílaba tônica das palavras
É bastante comum a pronúncia equivocada de palavras, com relação a sua sílaba
tônica. Então, vejamos alguns casos:
- ambroSIa - e não ambrósia
- aVAro- e não avaro
- baTAvo - e não bátavo
- caracTEres - e não carácteres
- cateTER - e não catéter
- criSÂNtemo - e não crisântemo
- filanTROpo - e não filântropo
- FLUido - e não fluído
- forTUito - e não fortuíto
- graTUito - e não gratuíto
- iBEro - e não íbero
- inauDIto - e não ináudito
- ÍNterim - e não interim
- juniOres - e não juniores
- liBIdo - e não líbido
- MadagasCAR - e não Madagáscar
- misTER - e não míster
- NoBEL - e não Nóbel
- PÓlipo - e não polipo
- puDIco - e na púdico
- reCORde - e não récorde
- ruBRIca - e não rúbrica
- ruIM- e não ruim
- tuLIpa - e não túlipa
- ureTER - e não ureter
16- palavras com dupla posição da sílaba tônica
Diferentemente das palavras do item anterior, as que se seguem admitem mais de
uma posição da sílaba tônica:
- acróbata e acrobata
- anídrido e anidrido
- dúplex e duplex
- estereótipo e estereotipo
-hieróglifo e hieroglifo
- projétil e projetil
- réptil e reptil
- sóror e soror
- zângão e zangão
O emprego de uma ou de outra das formas é escolha do falante.
17 - a letra H
Em rigor, a letra H não representa nenhum som na fala. É usada pelos seguintes
motivos:
- no início da palavra:
a. por causa da sua origem (etimologia): haver, herói, horta, humano;
b. nas interjeições: hein, hã, hum;
- no interior da palavra:
a. quando faz parte de um dígrafo: ch, lh, nh. Nesses casos, a presença do H altera a
pronúncia da palavra. Veja a diferença entre canha e cana; ralhar e ralar; minha e
mina.
b. em palavras compostas, escritas com hífen, quando o segundo elemento se inicia por
H: sobre-humano, anti-higiênico.
Note que a palavra Bahia, nome de um estado brasileiro, mantém o H por tradição.
Seus derivados, no entanto, não são escritos com H: baiano, bainista, baianismo e
outros.
- no final da palavra: seu uso é restrito às interjeições: ah!, oh!, bah!
18- feminino de alguns nomes
Há palavras que, anteriormente, só existiam como comuns de dois gêneros e, hoje,
existem com diferentes formas para o masculino e o feminino. Lembrando: comum de
dois gêneros - que tem uma única forma para os dois gêneros, mudando apenas o
artigo: o chefe, a chefe; o dentista, a dentista. Vejamos algumas das palavras que, antes,
eram apenas comuns de dois mas que agora admitem o feminino, já registradas no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, edição de 2009:
- o ajudante - a ajudanta:
Uma grande empresa está contratando ajudantas de pedreiro.
- o almirante - a almiranta:
Conheci uma almiranta, pessoa muito enérgica e correta.
- o comediante - a comedianta:
No espetáculo, havia dois comediantes e quatro comediantas.
- o hóspede - a hóspeda:
Neste hotel, a hóspeda tem seus direitos garantidos.
- o parente - a parenta:
Descobri que ela é minha parenta por parte de pai.
- o presidente - a presidenta:
São duas as candidatas a presidenta da empresa.
19- verbos defectivos
Há muitos verbos que se classificam como defectivos, isto é, não são conjugados
em todas as pessoas, como os demais. Isso por motivos diversos, como cacofonias,
absurdos ou impossibilidade. Vejamos alguns:
- verbos que expressam fenômenos da natureza: chover, ventar, amanhecer e outros -
são impessoais, pois conjugam-se apenas na 3ª pessoa do singular: chove, choveu,
chovia, choverá, ...
- verbos que expressam vozes de animais: latir, cacarejar, miar e outros - são
unipessoais, pois conjugam-se apenas na 3ª pessoa, singular e plural: late, latem;
cacarejou, cacarejaram; miava, miavam; ...
- outros verbos: abolir, banir, colorir, delinquir, demolir, emergir, exaurir, explodir,
falir, polir, ressequir e outros, da 3ª conjugação. Esses verbos não são conjugados nas
pessoas em que ao radical se seguem as terminações A ou O, o que corresponde à
primeira pessoa do singular do presente do indicativo, em todas as pessoas do presente
do subjuntivo e em todas as formas do imperativo. Ex. de formas absurdas:
Eu abolo a gordura do meu cardápio.
Eu demolo uma parte da casa.
O que fazer, nesses casos em que não se pode empregar o verbo defectivo? Simples:
substituí-lo por outro de sentido equivalente:
Eu elimino a gordura do meu cardápio.
Eu destruo uma parte da casa.
20- formas variantes
Muitas vezes nos vemos em dificuldade para descobrir se a palavra que queremos
empregar é de uma ou de outra forma. Ocorre que existem, na língua portuguesa, o que
se denomina formas variantes. É a possibilidade de mais de uma grafia para a mesma
palavra, mantendo o significado inalterado. Algumas delas são até conhecidas, porque
usadas no dia a dia. Vejamos os casos:
amídalas e amígdalas
assoalho e soalho
carroceria e carroçaria
catorze e quatorze
cociente e quociente
germe e gérmen
loura e loira
porcentagem e percentagem
Outras, entretanto, causam-nos surpresa quando descobrimos sua variante.
Apresentaremos algumas que julgamos mais surpreendentes ou que mais costumam
provocar dúvida:
abdome e abdômen
afeminado e efeminado
alarme e alarma
alevantar e levantar
aluguel e aluguer
apalpar e palpar
assobio e assovio
assoprar e soprar
barbaria e barbárie
bêbado e bêbedo
bile e bílis
bilhão e bilião
bilheteria e bilhetaria
biscoito e biscouto
cãibra e câimbra
calouro e caloiro
coisa e cousa
cosmo e cosmos
crina e clina
covarde e cobarde
dependurar e pendurar
derme e derma
despertar e espertar
dourar e doirar
espécime e espécimen
flauta e frauta
flecha e frecha
garagem e garage
hierarquia e jerarquia
imundície e imundícia
labareda e lavareda
laje, lajem e lájea
lavanderia e lavandaria
macela e marcela
marimbondo e maribondo
miríada e miríade
mobiliar, mobilhar e mobilar
parênteses e parêntesis
presépio e presepe
ramalhete e ramilhete
rubi e rubim taberna e taverna
sobressalente e sobresselente
taramela e tramela
tesoura e tesoira
transladar e trasladar
transpassar e traspassar
E, para finalizar, uma variação que chega a oito palavras:
relampadar, relampadear, relampadejar,
relampaguear, relampaguejar, relampar,
relampear, relampejar.
21- uso da crase
Dificuldade recorrente na nossa língua, o estudo da crase é assunto obrigatório em
qualquer material. Podemos simplificar essa abordagem com algumas breves
considerações, nem sempre presentes nos manuais de língua portuguesa. Então,
vejamos:
a. crase não é o acento que usamos no "a" (acento grave). É, sim, a indicação de que
naquela palavra houve a fusão de dois "a": uma preposição e um artigo, nessa
ordem. Isso pode ocorrer para evitar a repetição do mesmo fonema:
à
↓ ↓
preposição a + artigo a
No próximo feriado, iremos à praia.
No próximo feriado, iremos a (=para, preposição) a (artigo feminino) praia.
b. somente aceitam a anteposição do "à", nesse caso, palavras que aceitam o artigo "a";
excluem-se, então, palavras masculinas porque, se aceitarem artigo, esse será "o" e não
"a":
Foi entregue o prêmio à atleta vencedora.
↓ ↓
a (preposição exigida pelo verbo entregar)+a(artigo aceito pelo nome feminino atleta)
Foi entregue o prêmio ao atleta vencedor.
↓ ↓
a(preposição exigida pelo verbo entregar)+o(artigo aceito pelo nome masculino atleta)
c. por consequência do item anterior, somente aceitam anteposição do "à" palavras
femininas (nem todas, porém, necessitarão dessa anteposição):
Já encaminhei à professora o material solicitado.
↓
a(preposição exigida pelo verbo encaminhar)+a(artigo aceito pelo nome feminino professora)
Já entreguei a prova solicitada.
↓
a (artigo aceito pelo nome feminino prova)
d. ainda por consequência do item (b) acima, não aceitam a anteposição do "à" palavras
como: verbos, artigos indefinidos, a maioria dos pronomes:
Convidei-o a fazer um trabalho comigo.
↓ ↓
preposição verbo
Entreguei o trabalho a uma colega.
↓ ↓
preposição artigo indefinido
Já contei a ela acerca do nosso projeto.
↓ ↓
preposição pronome pessoal
Daqui a alguns dias teremos o resultado do concurso.
↓ ↓
preposição pronome indefinido
e. não aceitam crase as expressões formadas por palavras repetidas,
independentemente de serem elas femininas ou masculinas: dia a dia, hora a hora,
corpo a corpo, sol a sol.
f. com nomes locativos (que indicam lugar), aplica-se o mesmo princípio: se esse nome
aceitar o artigo "a", haverá crase; caso contrário, não haverá. Vejamos:
- a Argentina: Iremos à Argentina domingo.
- a África: Todos que foram à África foram bem recebidos.
- São Paulo: Quando for a São Paulo, visite o Parque Ibirapuera.
- Roma: Quero ir a Roma e ver o Papa.
- a praça: Para ir à praça, basta atravessar esta rua.
- a avenida: Se você for à Avenida Brasil, procure esta amiga.
Há um expediente prático que alguns manuais utilizam para facilitar o
entendimento e a aplicação da crase em nomes locativos:
Quem vai A e volta DA, crase HÁ;
Quem vai A e volta DE, crase PRA QUÊ?
Os casos apresentados não esgotam as explicações acerca do emprego da crase.
O que abordamos, foi uma tentativa de esclarecer pontos de fácil assimilação, deixando
os mais complexos para você pesquisar e entender por outros meios.
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