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z ZagodoniEditora

Diálogos sobre Formação e Transmissão em Psicanálise

Ernesto DuvidovichOrganizadOr

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Copyright 2013 © by Ernesto Duvidovich e coautores

Todos os direitos desta edição reservados à Zagodoni Editora Ltda. Nenhu ma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida, seja qual for o meio, sem a

permissão prévia da Zagodoni.

EDiTorAdriano Zago

DiAgrAmAção E CApAgivaldo Fernandes

imAgEm DA CApAmichael & Christa richert

rEvisãoraquel Benchimol rosenthal

Cip-Brasil. Catalogação-na-Fontesindicato Nacional dos Editores de Livros, rJ

D527

Diálogos sobre Formação e Transmissão em psicanálise / Ernesto Duvi-dovich. - [1. ed.] - são paulo : Zagodoni, 2013.

208 p. ; 23 cm.

isBN 978-85-64250-60-4

1. psicanálise. i. Duvidovich, Ernesto.

13-05110 CDD: 150.195 CDU: 159.964.2

[2013]zagOdOni EditOra Ltda.rua Brigadeiro Jordão, 84804210-000 – são paulo – spTel.: (11) 2334-6327contato@zagodonieditora.com.brwww.zagodonieditora.com.br

Agradecimentos

Agradeço especialmente aos autores que se dispuseram a participar desta discussão, e com a sua colaboração de grande valor intelectual enrique-cem nossas práticas de formação e transmissão da psicanálise.

Aos jovens alunos, participantes, aprendizes e interessados no saber psicana-lítico de todos os contextos institucionais, acadêmicos ou informais, dos quais os autores participam, que nos estimulam constantemente a revigorar o pensamento sobre os desdobramentos da formação e transmissão do nosso conhecimento e das nossas práticas.

A Zagodoni Editora, pelo convite para organizar e acompanhar o andamento desta obra.

Ernesto Duvidovich

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Sobre os Autores

Ernesto Duvidovich (org.)psicanalista, analista institucional. Diretor do Centro de Estudos psicanalíticos (CEp). Fundador e diretor-presidente da oNg Núcleo de psicanálise e Ação social (NupAs). organizador dos livros “maternagem – Uma intervenção preventiva em saúde” e “A supervisão na Clínica psicanalítica”.

Alfredo Jerusalinskypsicanalista. mestre em psicologia Clínica. Doutor em psicologia da Educação e De-senvolvimento Humano. membro da Association Lacaniènne internationale e da Associação psicanalítica de porto Alegre (AppoA). Diretor do Centro Lydia Coriat, de porto Alegre e de Buenos Aires.

Arnaldo Domínguezpsicanalista. Fundador do projeto Etcétera e tal... psicanálise e sociedade. Colabo-rador da Escola da Causa Analítica, rio de Janeiro. integrante do instituto Tempos modernos, Brasil e Argentina. Docente do curso de formação em psicanálise do Centro de Estudos psicanalíticos (CEp).

Christian Ingo Lenz Dunkerpsicanalista. professor Livre-Docente do instituto de psicologia da Usp (ipUsp). Ana-lista membro de Escola (AmE) da Escola de psicanálise do Fórum do Campo Lacania-no. membro da Associação Universitária de pesquisa em psicopatologia Fundamen-tal. Doutorado (ipUsp) e pós-Doutorado pela manchester metropolitan University

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D i á l o g o s s o b r e F o r m a ç ã o e T r a n s m i s s ã o e m P s i c a n á l i s e8 9S o b r e o s A u t o r e s

(UK). Autor de vários livros, entre eles o vencedor do prêmio Jabuti 2012: “Estrutura e Constituição da Clínica psicanalítica: uma Arqueologia das práticas de Cura, psico-terapia e Tratamento” e “A psicose na Criança: Tempo, Linguagem e sujeito”.

Daniel Kupermannpsicanalista. professor Doutor do Departamento de psicologia Clínica do instituto de psicologia da Universidade de são paulo (Usp), autor dos livros “Transferências Cruzadas: uma História da psicanálise e suas instituições”, “ousar rir: Humor, Cria-ção e psicanálise” e “presença sensível: cuidado e criação na clínica psicanalítica”.

Emília Estivalet Broidepsicanalista. membro da Associação psicanalítica de porto Alegre (AppoA). mestre em saúde pública pela Faculdade de saúde pública da Usp. Doutoranda do Curso de psicologia social da pUCsp. professora do Curso de psicossociologia da Juven-tude e políticas públicas da FEsspsp e do Centro de Estudos psicanalíticos (CEp). supervisora das equipes de NAsF, Consultório na rua e Centro de Atenção psicos-social da prefeitura de guarulhos/sp.

Enrique Mandelbaumpsicanalista. Doutor pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Usp (FFLCH-Usp). Autor do livro “Franz Kafka: um Judaísmo na ponte do impossível”. Docente do curso de Formação em psicanálise do Centro de Estudos psicanalíticos (CEp).

Franklin Goldgrubpsicólogo e psicanalista. mestre em Filosofia e Doutor em Linguística pela pUCsp. professor do curso de psicologia da pUCsp. Autor dos livros “A máquina do Fantas-ma”, “A metáfora opaca – Cinema, mito, sonho e interpretação”, entre outros.

Jorge Broidepsicanalista. Doutor em psicologia social pela pUCsp. membro da Associação psi-canalítica de porto Alegre (AppoA). professor do Curso de psicologia da pUC e do Centro de Estudos psicanalíticos (CEp) e Coordenador do Curso de psicossociologia da Juventude e políticas públicas da FEsspsp. Analista institucional.

José Waldemar Thiesen Turnapsicanalista. mestre em psicologia Clínica pela pUCsp. Coordenador técnico do se-tor de psicologia e coordenador do voluntariado do setor de psicologia do Hospital são João de Deus. Docente do curso de Formação em psicanálise do Centro de Estudos psicanalíticos (CEp).

Karin de Paulapraticante da psicanálise. Doutora em processos de singularização pela pUCsp. membro fundadora do Um Lugar – psicanálise e Transmissão. professora e super-visora em universidades e do Curso de Formação em psicanálise do Centro de Es-tudos psicanalíticos (CEp). Autora dos livros: “$em? sobre a inclusão e o manejo do Dinheiro numa psicanálise” e “Do Espírito da Coisa: um Cálculo de graça – sobre o percurso de uma psicanálise”, entre vários outros artigos publicados.

Luis Hornsteinpresidente da sociedad psicoanalítica del sur (sps) e da Fundación para el Estu-dio de la Depresión (FUNDEp). ganhador do prêmio Konex de platina: 1996-2006 –psicanálise. professor convidado de pós-graduação em diversas instituições da Argentina e no exterior. Autor de diversos artigos e dos livros “Teoría de las ideolo-gías y psicoanálisis”, “Cura psicoanalítica y sublimación”, entre outros.

Mauro Mendes Diaspsicanalista. membro fundador da Escola de psicanálise de Campinas (EpC). Coor-denador do grupo de trabalho sobre as psicoses da EpC e supervisor do CAps de Campinas.

Radmila Zygourispsicanalista francesa de origem yugoslava. membro da Escola Freudiana de pa-ris até sua dissolução por Lacan, em 1978. Cofundadora da revista L’Ordinaire du Psychanaliste (1973-1978), que chamou a atenção por publicar textos não assina-dos por seus autores, com o objetivo de criar um espaço no qual a palavra pudesse circular livremente. Cofundadora da Federation des Ateliers de psychanalyse (FAp). Em português, publicou os livros “pulsões de vida”, “psicanálise e psicoterapia”, entre outros.

Ricardo Goldenbergpsicanalista. mestre em Filosofia pela Usp. Doutor em Comunicação e semiótica pela pUCsp. Autor dos livros “Ensaio sobre a moral de Freud”, “política e psicanáli-se”, entre outros.

Rita Bícego Vogelaarpsicanalista, psicóloga, engenheira. mestre pela Universidade Federal do paraná (UFpr). Docente do curso de Formação em psicanálise do CEp. membro da Escola de psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano e do Fórum do Campo Lacaniano de são paulo. supervisora do Núcleo de psicanálise e Ação social (NupAs).

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ApresentaçãoSilvia Marina M. P. de Melo e Paivapsicóloga e psicanalista. supervisora clínica e analista institucional com formação e experiência em psicossomática psicanalítica e especificidades das clínicas com dependentes químicos. Docente do Curso de Formação em psicanálise do CEp.

É com muito prazer que apresento ao leitor esta valiosa sequência de refle-xões de altíssima qualidade e de extrema pertinência no panorama atual da psicanálise. Na medida em que o campo psicanalítico cresce e o número de

praticantes aumenta, torna-se mais difícil estabelecer fronteiras entre quais práti-cas se mantêm dentro do campo da psicanálise e quais se posicionam fora. Há as práticas que, cuidando de objetos próximos ao nosso1, claramente partem de prin-cípios definidos absolutamente em outras coordenadas, às vezes até se definindo em oposição às práticas psicanalíticas. mas há também as que se posicionam de maneiras confusas, híbridas (como as que vendem religião em sessões individuais, aproveitando o prestígio da psicanálise e a intensidade do estado de mal-estar na cultura), até os que também em nome da psicanálise produzem práticas para a eliminação do mal-estar, o que certamente a sociedade compra cada vez com mais avidez.

Essas práticas, as psicoterapias da neurociência, são complementares ao pre-domínio do “império dos laboratórios”, que responde eficazmente oferecendo o remédio para as maneiras que o império define os novos diagnósticos e categorias para as formas do mal-estar, por meio de seu porta-voz: a psiquiatria.

Esse panorama das práticas atuais em relação às diversas formas do sofrimen-to é extremamente confuso para o público que as procura, mas, na medida da mul-tiplicação e fragmentação, também é confuso para os “profissionais” que oferecem esses cuidados. As demandas que o sofrimento produz não são por uma prática

1 Existem práticas de cuidados do sofrimento, da alma ou do espírito desde o início da história (xamanis-mo, religiões etc.), precursoras dos inúmeros serviços que a sociedade atual oferece ao consumo dos cidadãos.

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D i á l o g o s s o b r e F o r m a ç ã o e T r a n s m i s s ã o e m P s i c a n á l i s e12 13A p r e s e n t a ç ã o

ou outra, mas tentativas de lidar, resolver, dar algum destino ao sofrimento com bastante urgência. As respostas que os diversos serviços disponíveis oferecem para esses demandantes são inúmeras e de difícil discriminação. Faz-se necessário man-ter vivo o debate epistemológico tanto no acompanhamento geral da evolução dessas práticas quanto especificamente para nós, dentro do campo da psicanálise, acompanhar as evoluções, inovações e mutações que as experiências dos psicana-listas foram sedimentando na história do movimento psicanalítico.

Em geral, temos nos conformado com definições bastante gerais que dizem a verdade, mas não toda ela, e que são insuficientes. inicialmente, entendemos que se encontra dentro do campo psicanalítico a prática clínica pautada nas teo-rias principais que o inauguraram a partir da obra do Dr. sigmund Freud, a saber: teoria do inconsciente, teoria da sexualidade infantil e teoria da transferência. Essa definição de campo teve seu valor histórico quando a preocupação dominante do mestre Freud era garantir um lugar no universo científico e encontrar um critério de transmissão. Ao mesmo tempo, a chegada dos discípulos estrangeiros fez com que a prática analítica deixasse de ser restrita à intimidade da dúzia de discípulos que se reuniam às quartas-feiras, os quais Freud a todos conhecia.

Consideramos que um elemento central que define a posição do psicanalista é o destino que se propõe a dar a angústia do sujeito. o psicanalista se situa em sentido radicalmente oposto às práticas vigentes e tão vastamente consumidas pela população hoje de patologização e consequente tentativa de eliminação do sofrimento do sujeito. As práticas que se orientam à eliminação do mal-estar se propõem a encontrar a fórmula química certa (o remédio certo da psiquiatria sus-tentada em um marketing magnífico) ou a encontrar a fórmula comportamental certa na perspectiva das práticas que propõem uma pedagogia para alcançar o sucesso no amor e nos negócios (como as correntes da autoajuda).

o psicanalista é aquele que aposta na angústia como propulsora do cresci-mento, da apropriação e do amadurecimento. Tornar a angústia o motor e a ala-vanca para a invenção de recursos para a vida implica um respeito e um cuidado essencial com ela, a angústia. se Eros é a tendência à complexidade e Thanatos, a tendência à simplificação, nós, os analistas, trabalhamos na direção de Eros. isso vale para todos os sujeitos, claro, incluindo nós, psicanalistas. Entre outras, a pri-meira consequência é que, na clínica psicanalítica, não há nenhuma possibilidade de aplicar generalizações. Assim como a angústia, cada fenômeno no ponto de vista da escuta clínica é da ordem do singular.

Esta publicação não tem a intenção de criar um desenvolvimento homogêneo sobre esse tema tão complexo e questionador que é a atualidade das práticas de transmissão do legado de Freud. Ao contrário, a intenção é, desde o início deste projeto, convocar um grupo de colegas para que, partindo desse eixo temático central, contribua com suas reflexões singulares a partir da abordagem e do estilo que cada um escolhe para expor seu ponto de vista. Essa proposta então provocou o efeito de diversidade que se propunha. A partir de uma convocação ampla, a

organização optou por não agrupar os capítulos a partir de subtemas, incluindo os textos a partir da abordagem escolhida por cada convidado sem restrições, por conta de se tratar aqui de uma temática tão ampla e complexa. o resultado é uma coletânea que produz um estímulo importante na reflexão de um assunto impor-tante para o presente e o futuro da nossa prática.

A pertinência de estabelecer fronteiras precisas nas práticas vigentes não está na intenção de insistir em emblemas de pertencimento que garantam o reconheci-mento dos pares e excomungue os hereges (Hornstein). Não é à toa que esse tema está tão presente nas reflexões apresentadas neste livro. Trata-se de uma questão central na orientação dos nossos esforços de transmissão. o que é praticar a psica-nálise? Qual é a nossa meta? Quais as operações para as quais nos direcionamos? Estas são questões que acompanham todo o percurso de formação.

Nas próximas páginas, com diversos estilos e argumentos, serão aprofundadas essas questões sem uma perspectiva de dar respostas definitivas. os reducionis-mos e suas nefastas consequências são naturalmente impossibilitados numa publi-cação que se propõe a incluir diferenças. Não espere encontrar o desenvolvimento linear dessas ideias nos diferentes capítulos. Trata-se de uma coletânea composta por textos de psicanalistas com muita experiência e, portanto, com diversos estilos consolidados. são relatos de práticas e de seus impasses e dificuldades na vida pro-fissional dos psicanalistas.

Ernesto Duvidovich

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Sumário

1 psicanalista global? Formação do psicanalista e transmissão da psicanálise entre norma e contingência ......................................................................17Christian Ingo Lenz Dunker

2 A formação do psicanalista em sete breves considerações ..................................32Alfredo Jerusalinsky

3 Quem quer ser senhor da sua própria casa? ...............................................................36Daniel Kupermann

4 A escola da rua .......................................................................................................................50Radmila Zygouris

5 Da escuta à cura .....................................................................................................................66Luis Hornstein

6 o mal-estar na formação ....................................................................................................79Ernesto Duvidovich

7 A falha da transmissão ........................................................................................................96Mauro Mendes Dias

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8 metáforas da desmetaforização. Teoria do sujeito, teoria do método ..............99Franklin Goldgrub

9 Trabalhando com a psicanálise: dos porta-dores da peste ................................. 107Karin de Paula

10 supervisão clínico-institucional: possibilidades de transmissão .................. 119Jorge Broide / Emília Estivalet Broide

11 operadores de formação: modificação e competência .................................. 130José Waldemar Thiesen Turna

12 Notas sobre a formação em psicanálise ................................................................ 138Enrique Mandelbaum

13 Quem suporta uma psicanálise? .............................................................................. 147Rita Bícego Vogelaar

14 os desafios na formação do psicanalista .............................................................. 152Silvia Marina M. P. de Melo e Paiva

15 A eficácia do simbólico na clínica do ato .............................................................. 160Arnaldo Domínguez

16 CrôniCa: Entrevista de ricardo goldenberg a maría Elena Ángeles ............ 179Ricardo Goldenberg

Psicanalista global?2

Formação do psicanalista e transmissão da Psicanálise entre norma e contingência

Christian Ingo Lenz Dunker

O pior cenário possível

Quando observamos o debate atual sobre a regulação da prática psicanalíti-ca pelo Estado, duas constatações se impõem. primeira: é um debate que surge, simultaneamente, em vários lugares do mundo. Deveria chamar

nossa atenção o fato de que semelhante tipo de pressão pela regulamentação da psicanálise apareça, ao mesmo tempo, em países que atravessam diferentes mo-mentos em termos de organização política da sociedade civil e refiram-se a reali-dades culturais distintas, em termos de inserção da psicanálise. ou seja, penso que o problema não deve ser reduzido às contingências locais dos sistemas de saúde, que são, por exemplo, absolutamente distintos em países como reino Unido, Brasil e Estados Unidos. Também não se deve reduzi-lo ao esforço de homogeneização normativa, decorrente de um ajuste na racionalidade administrada em países que buscam a integração econômica ou legislativa. Essa simultaneidade temporal, na aparição da questão, não pode ser explicada, inteiramente, pela ideologia da abre-viação do risco e da segurança das populações, cuja inscrição na ordem médica é a medicina Baseada em Evidências. Afinal, reconhecer que há risco na prática da psicanálise é reconhecer, indiretamente, que ela é eficaz, o que está longe de ser consenso entre os mesmos que incitam sua regulamentação.

Não se trata da expansão do Estado enquanto instância de manutenção do bem-estar social, mas do único ponto em que o Estado ainda interessa ao capital,

2 versão parcial deste trabalho foi publicada inicialmente em parker, i. & revelli, s. Psychoanalitic practice and state regulation. London: Karnac, 2008.

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