Lutando contra Deus em um mundo imperfeito .
Anthony J. Saldarini & Joseph Kanofsky
DIMENSÕES DA CONDIÇÃO HUMANA NO
JUDAÍSMO
1ARLINDO ROCHA - MESTRANDO EM C. DA RELIGIÃO 12/11/2015
SUMÁRIO
12/11/2015ARLINDO ROCHA - MESTRANDO EM C. DA RELIGIÃO 2
Introdução
1. A condição humana compreendida como obrigação sob a torá;
2. Tendências humanas ao mal;
3. Responsabilidade divina e humana para o mal;
4. Cooperação divino-humana;
5. Responsabilidade divina pelo bem e pelo mal;
6. Inclinação e efeitos para o mal;
7. O período moderno
Conclusão
As “Dimensões religiosas da condição humana” no judaísmo devem ser
buscadas na literatura tradicional, que se inicia com as narrativas bíblicas, leis,
profecias e escritos de sabedorias editadas nos séculos V e VI a. C.
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A categoria “condição humana” não pode ser tratado de forma isolada.
Existe uma variedade de tópicos importantes à tradição incluindo:
Deus como criador e soberano do mundo;
A revelação de Deus na Bíblia e os mandamentos (Torá);
A resposta à Deus, mediante a felicidade, obediência e estudo da Torá;
Responsabilidade e fraqueza face as tentações;
Desobediência a Deus mediante o pecado;
A justiça e a misericórdia de Deus na punição do pecado.
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A condição humana tem sido tratado numa variedade de sínteses do
pensamento tradicional, influenciado fortemente pelas preocupações modernas:
• Algumas obras nos podem ser úteis para tal:
1. Samuel Belkin. In His Image: The Jewish Philosophy of Man as expresed in
Rabbinic Tradiction; (wetsport, Conn; Greenwood Press, 1960)
2. Georg Foot Moore, Judaism in the First Centuries of the Christian Era (3 vols.;
Cambridge: Harvard University Press, 1927-30), vol. I, 445-552)
3. Kaufman Kohler, Jewish Theology Systematically and Historically Considered (New
York: Ktav, 1968; original de 1918);
4. Solomon Schechter, Some Aspects of Rabbinic Theology (New York: Macmillan,
1909).
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• Uma seleção de temas proporcionarão material para uma comparação de
visões religiosas sobre o assunto:
Textos retirados dos períodos do Segundo Templo (séc. V a.C. até séc. I d.C),
rabínico primitivo, e moderno;
O período do Segundo Templo assistiu o desenvolvimento de narrativas, leis,
comentários, visões apocalípticas, orações baseadas na tradição bíblica.
A sabedoria de bem Sirac (ou Eclesiástico) que incorpora muitos temas do
Judaísmo do Segundo Templo.
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• Existem também uma série de comentários, códigos, reflexões místicas, ensaios
filosóficos, exortações marais e tratados institucionais constituídos nos períodos
medievais e modernos, porém, omitidos.
• Entretanto, uma sinopse das resposta contemporâneas judaicas ao Holocausto, que
levou a destruição de seis milhões de Judeus e a dizimação do Judaísmo europeu
darão senso de vitalidade da tradição hoje.
• Esses textos proporcionam uma entrada neste sistema simbólico auto-referencial,
em que as narrativas, leis oráculos e imagens funcionem de modo imaginativo
dinâmico e intelectual.
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A CONDIÇÃO HUMANA COMPREENDIDA COMO OBRIGAÇÃO SOB A TORÁ
Uma análise judaica da “condição humana” depende da compreensão judaica de Deus .
Em toda sua complexidade, pode ser definida como vida sob, em relação com, e em
resposta à Deus, ou como o desvio dessa relação divina ordenada.
Felicidade, obediência e amor mantem o relacionamento com Deus saudável e
ordenado;
Pecado, desobediência e fraqueza humana, causam desordem, sofrimento e o mal.
Os humanos ou cumprem e desfrutam dos favores de Deus ou pecam pela
desobediência o que leva ao fracasso e a punição.
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• A Teologia Cristã vê os seres humanos como pecadores e necessitados da salvação
através de Jesus Cristo, mas, nem a fraqueza humana, nem a antropologia existencial
moderna são pontos de partida para a consideração sobre “as Dimensões religiosas da
condição humana” no Judaísmo.
• O Rabi Joseph Soloveitchik, líder espiritual do Judaísmo ortodoxo moderno, responde as
filosofias Kantianas, românticas e existencias com a concretude da Torá, como cura do
fracasso humano.
• A Torá, é a revelação divina e por isso, tem prioridade sobre a razão e a experiência
humanas.
• Soloveitchik, trata a angústia e o arrependimento á luz da Torá como a
reconstituição do self e a retificação do relacionamento humano-divino.
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TENDÊNCIAS HUMANAS AO MAL
• Na perspectiva judaica, o mal e o pecado, causados pela deficiência humana, levanta
problemas da justiça e do poder de Deus.
• Ambos, Bem Sirac e a tradição rabínica reconhecem a inclinação humana para o
mal, mas não atribui ao pecado de Adão os efeitos catastróficos atribuídas pela
doutrina Cristã do “pecado Original”.
• Sirac, responde a esse problema apontando a obrigações mútuas entre Deus e os
humanos...
• A acusação de que Deus leva os humanos ao pecado tem uma dupla afirmação
a respeito da retidão de Deus e da responsabilidade humana (...)
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Desde o principio Deus criou o homem
E o abandonou nas mãos de sua própria decisão.
Se quiseres, observarás os mandamentos:
A fidelidade está no fazer a sua vontade...
Diante dos homens está a vida e a morte,
Ser-te-á dado o que preferires.
(Sirac 15,14-17)
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• Essa passagem resume os debates sobre a natureza humana e o governo divino. A
criatividade de Deus em fazer humanos no versículo 14 (Gen. 1-2) é completada no
versículo 15 pela criatividade humana em fazer a vontade de Deus.
• A tradição antes e depois de Bem Sirac, acentua a tendência ao mal na livre escolha
humana, que conduz ao pecado.
• Sirac reconhece que a escolha humana é crucial, isto é, uma escolha de vida ou
morte e coloca a responsabilidade para o mal no homem e não em Deus:
“Ele não ordenou a ninguém a ser perverso e não deu permissão a
ninguém para pecar”.
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• A literatura rabínica atribui a Deus maior responsabilidade para o mal e o pecado,
fazendo de Deus o autor da “inclinação para o mal” nos seres humanos.
• Bem Sirac, escolhe a temática oposta, neutralizando as tendências “naturais”
humanas e coloca a responsabilidade no homem sob o jugo do criador e soberano
do mundo.
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RESPONSABILIDADE DIVINA E HUMANA PARA O MAL
• A imagem do humano, responsável às obrigações e dos mandamentos explícitos ou
revelados, são qualificadas pela tendência humana para a rejeição das obrigações, da
Torá e de Deus.
• Esse paradoxo solicita uma reflexão sobre a origem a natureza e o poder do mal na vida
humana, especialmente, o mal moral.
• Embora os rabinos estejam convictos sobre a fragilidade humanas, as suas atribuições
de responsabilidade pelo pecado, varia de acordo com as ambiguidades da vida.
Deus como criador dos homens é tanto culpado como isento em relação aos
males na vida humana.
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COOPERAÇÃO DIVINO-HUMANA
• A história do pecado de Adão serve como paradigma para a condição humana, mas,
contrariamente à Teologia Cristã, não como causa do mal e do sofrimento.
• A onipotência do mal suscita um problema da teodiceia para os rabinos.
• Um sumário de ambiguidades sobre a existência podem ser encontrados no
Tratado Berakot (bênçãos), que ensina sobre os momentos e formas de
bênçãos.
• Orar ou abençoar implica relacionamento ativo entre Deus e o devoto.
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“Tu deves amar o Senhor teu Deus com todo o seu
coração e com toda a sua alma e força”
(Deuteronômio 6,5).
• “Com todo o seu coração” – significa com ambos os impulsos; com o bom e
o mau impulso;
• “Com toda a sua alma” – significa que mesmo que [Deus] leve sua alma;
• “Com toda sua força” – Significa que, qualquer que seja a medida com que
[Deus] meça você, agradeça a Ele imensamente.
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Essa exegese bíblica comprime a situação humana em três estágios.
• Primeiro: os humanos experimentam o bem e o mal na vida e não controlam os
resultados;
• Segundo: o mal constantemente ameaça a alma, que é o princípio da vida e da
morte;
• Terceiro: preservar a vida e resistir ao mal requer uma força que está além da força
humana.
A solução para as tensões na natureza humana e o caminho para a integridade requer um
relacionamento ativo com Deus.
Essa resposta não explica o problema do mal, porque a fraqueza humana e o pecadonão são questões simples. A desobediência de Adão não explica a origem do pecado edo mal , mas exemplifica uma a fragilidade da condição humana.
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RESPONSABILIDADE DIVINA PELO BEM E PELO MAL
• Os rabinos elegem Deus como responsável pelo estado geral da vida humana com
suas ambiguidades e o mal.
• No próprio ato da criação, Deus viu-se diante de um paradoxo:
• [...] Deus disse: “se eu o criar, pessoas perversas surgirão dele; se eu não o
criar, como poderão os justos resultar dele?” [...]
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Já que os seres humanos produzem o mal e bem, Deus governa o mundo seguindo duas
normas complementares: Justiça e misericórdia.
• Se governasse unicamente pela justiça, o mundo perverso seria destruído;
• Se governasse somente pela misericórdia, o pecado e o mal dominariam.
O bem e o mal são constitutivos dos humanos desde o início e de acordo com a decisão
divina.
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INCLINAÇÃO E EFEITOS PARA O MAL
A inclinação ou o impulso para o mal, não é todo o mal...
• Embora o termo seja usado com neutralidade, é mais inclinado para as paixões
humanas como a necessidade sexual e a ira, e que podem facilmente tornar-se
egoístas e destrutivas.
• Alguns textos dramatizam seus efeitos destrutivos, enquanto outros colocam a
responsabilidade do impulso para o mal em Deus.
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• O “impulso para o mal” , cuja raiz significa criar, fazer, moldar, não é uma teoria mal
organizada. Várias soluções são propostas para controlar essa inclinação,
sobretudo no estudo e observância da Torá.
• O impulso ou a inclinação, referem-se aos impulsos corporais, emocionais e
pessoais para atingir metas humanas.
• No tratado de Abot, o rabi Joshua alerta sobre três perigos para as relações
humanas:
O olhar mau, o impulso mau e o ódio da humanidade.
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• A tradição propõe o arrependimento como solução para a inevitabilidade do mal que é
concebido como poderosamente resistente e crescente, se não for combatido.
• É tratado como uma força negativa e por isso, deve ser contida pelo esforço humano
com o auxílio divino incorporado nas obrigações dos mandamentos.
• Somente a disciplina, vigilância e devoção à Torá podem neutralizar sua influência.
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O PERÍODO MODERNO
Percepções judaicas da condição humana sobre o mal e o sofrimento, desenvolveram no
Ocidente, devido a ênfase iluminista na razão e nas perseguições anti-semitas que
culminaram na destruição da maior parte das comunidades judaicas europeias, durante a
Segunda Guerra.
• Escritos tradicionais impulsionaram a aceitação desses eventos como decretos divinos
como punição dos pecados.
• Mas após o iluminismo, os Judeus começaram a questionar o sofrimento como uma
realidade fora de Deus.
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A reflexão sobre o holocausto, alcançou seu maior impacto quando Richard Rubenstein que
declarou que a luz do Holocausto, Deus estava morto.
• Um sobrevivente do holocausto, perguntou a um líder carismático:
“depois de tudo o que aconteceu conosco, como pode você acreditar em Deus?”.
• Ele respondeu:
“e como você pode não acreditar em Deus depois de tudo o que aconteceu?”.
• Até o Papa Bento XVI ao visitar Auschwitz, em abril de 2010, exclamou: por que, Senhor,
permaneceste em silêncio? Como pudeste tolerar tudo isto? Onde estava o Senhor
nesses Dias?
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CONCLUSÃO
Por detrás das aborrecidas particularidades de uma vida observante da Torá, permanece
Deus, o criador e soberano, que garante a unidade e a ordem do cosmo onde os Judeus
vivem.
O sofrimento, a morte, a destruição e a alienação decorrem do rompimento com Deus.
Desde o início, no Jardim do Éden (Gen. 3) e por intermédio do símbolo rabínico da
inclinação para o mal, até a desumanidade do Holocausto.
A tradição judaica tem tentado entender, responder e reconciliar o poder cósmico, a
presença de um Deus que se dedica à ordem com propensão para ordem e a desordem nos
desejos e comportamentos humanos.
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