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Rui Jesus

11-02-2010

Disponibilidades hídricas

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Precipitação: factor condicionante das disponibilidades hídricas

Os recursos hídricos disponíveis correspondem, no essencial, à água que se encontra em circulação nos continentes, tanto à superfície, as chamadas águas superficiais (rios, lagos, lagoas e albufeiras), como em profundidade, as ditas águas subterrâneas (nascentes naturais e lençóis de água existentes no subsolo).

As disponibilidades hídricas - quantidade de água disponível - dependem, essencialmente, do volume de precipitação e da sua distribuição ao longo do ano. Em Portugal, da água doce gerada anualmente pela precipitação, cerca de 44% evolui para recursos hídricos superficiais e subterrâneos (Quadro I e fig. 2).

Apesar desta relativa abundância das nossas disponibilidades

hídricas, a realidade é que a irregularidade temporal com que surgem, a desigual distribuição no espaço (fig. 3), a acentuada dependência de Espanha no que diz respeito aos rios internacionais e as diferentes necessidades regionais, conduzem frequentemente a situações de carência de água em muitas regiões do país, principalmente durante a época estival.

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Águas Superficiais As águas superficiais têm origem nas precipitações que caem sobre a superfície da terra e

constituem a principal fonte de alimentação dos cursos de água, sejam eles temporários ou permanentes.

Numa primeira fase, essas águas escorrem de forma desordenada ao longo das vertentes, mas, devido à acção da gravidade e às características do relevo existente, rapidamente começam a organizar-se, formando pequenos riachos, ribeiros, rios maiores, que levarão a água até aos oceanos. Fica assim organizada uma rede hidrográfica.

A rede hidrográfica no território continental é dominada pelos rios luso-espanhóis: Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana. Contudo, existem outros exclusivamente portugueses, também com grande importância. É o caso do Vouga, Mondego e Sado.

A grande maioria dos rios nacionais tem uma orientação geral nordeste-sudoeste (NE-SW), seguindo a inclinação geral do relevo no nosso território e a orientação das principais falhas tectónicas. Contudo, há rios em que assim não acontece e escoam as suas águas noutras direcções. É o caso, por exemplo, dos rios Sado e Guadiana, que correm de Sul para Norte e de Norte para Sul, respectivamente.

Mas o relevo não influencia apenas a orientação dos rios, é também responsável, juntamente com o clima, pelas diferenças na densidade da rede hidrográfica do território nacional.

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No Norte, onde o relevo é mais acidentado e o clima mais pluvioso, a rede hidrográfica é mais densa e está melhor hierarquizada.

Os rios escoam por vales mais ou menos apertados e profundos, regra geral, com perfis transversais em "V" fechado ou em forma de "V" aberto ou normal, com grande declive e consideráveis irregularidades ao longo do seu percurso.

No Sul e Centro litoral a situação é bem diferente. Aqui desenvolvem-se vastas planícies aluviais e o clima regista maior secura, pelo que a rede hidrográfica é menos densa. Nesta região os cursos de água têm percursos com menor declive e leitos muito mais regulares, ao mesmo tempo que escoam em vales mais abertos, frequentemente designados por "caleira aluvial” fig. 4 e 5.

Principiais Bacias Hidrográficas

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Em Portugal continental, destacam-se quinze bacias hidrográficas, cinco das quais dizem respeito aos rios luso-espanhóis - Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana (fig. 6).

As bacias hidrográficas luso-espanholas ocupam uma superfície correspondente a cerca de 64% do território português e a 42% do espanhol, o que é um factor extremamente importante para as disponibilidades hídricas dos dois países e atesta bem a nossa dependência, em termos de recursos hídricos, face ao país vizinho.

De entre as várias bacias hidrográficas (nacionais e internacionais) a do Douro é a que ocupa maior superfície (superior à de Portugal Continental). A do Tejo, por seu lado, é a que abrange maior área em território exclusivamente nacional.

As bacias hidrográficas inteiramente portuguesas são pouco extensas, e delas destacam-se as dos rios Sado, Mondego e Vouga.

Nas bacias hidrográficas as disponibilidades hídricas são fortemente condicionadas pela

irregularidade da precipitação e pela forma como se processa o escoamento (figuras 7,8 e 9).

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Variação do caudal dos rios Caudal – Volume total de água que passa numa dada secção de um curso de

água por unidade de tempo (m3/s).

O caudal dos rios é particularmente condicionado pela variação anual e espacial da

precipitação, mas também pelas características do relevo (forma e declive das vertentes), da natureza dos terrenos (tipo de rocha que os constitui e grau de permeabilidade), da cobertura vegetal e pela própria acção do homem, uma vez que também ele tem influência no modo como se processa o escoamento.

Clima Em consequência das condições climáticas (temperatura e precipitação) ao longo do ano,

os cursos de água portugueses apresentam um regime irregular, com carácter torrencial, ou seja, têm caudais muito reduzidos ou mesmo nulos durante a estiagem (caudal de estiagem) e elevados nas épocas de maior precipitação (Dezembro a Março) fig.10.

Este facto prende-se com a saturação dos solos e dos reservatórios subterrâneos.

A irregularidade verificada aumenta de norte para sul e do litoral para o interior

acompanhando a irregularidade da precipitação.

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Natureza dos terrenos A natureza dos solos é igualmente importante.

Nas áreas onde predominam as rochas impermeáveis ou pouco permeáveis, como os granitos e os xistos, a infiltração é fraca. Neste caso, a escorrência aumenta, alimentando os cursos de água - rios e ribeiras. Em solos mais porosos, logo mais permeáveis, como, por exemplo, as areias e o grés, grande parte da água das chuvas infiltra-se, pelo que os caudais são mais fracos devido à menor escorrência.

A cobertura vegetal Em relação à vegetação, verifica-se uma

situação análoga à anteriormente descrita sobre a natureza das rochas. Ou seja, se o solo está coberto de vegetação a infiltração é maior, logo a escorrência é fraca. Pelo contrário, se o solo está desprovido de cobertura vegetal, a infiltração diminui, aumentando significativamente a escorrência.

Acção do Homem A acção humana também influencia o regime dos rios. Por um lado, contribui para regularizar os caudais, construindo barragens que: • Na época de maior precipitação, retêm a água nas albufeiras, evitando muitas cheias; • Na época estival, impedem que os rios sequem completamente, pois a água armazenada permite manter um escoamento mínimo, fig. 13. Por outro lado, a ocupação humana das bacias hidrográficas agrava o efeito das cheias, pois: • A obstrução de linhas de água, pela construção urbana, dificulta o escoamento; • A impermeabilização dos solos, devido à pavimentação das ruas e à construção de aterros, impede que as águas se infiltrem, aumentando a escorrência superficial; • A destruição da cobertura vegetal, pelos incêndios, pelo pastoreio intensivo e pela desflorestação, aumenta o escoamento superficial e a quantidade de materiais arrastados pela água.

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LAGOS, LAGOAS E ALBUFEIRAS

Os lagos e lagoas (a designação depende da dimensão - os lagos são maiores e as lagoas menores) constituem também importantes reservatórios de água doce, embora, em alguns casos, a água seja salobra. Por exemplo, nos Açores, grande parte da água para consumo é captada em lagoas.

Em Portugal Continental, tendo em conta o processo de formação, podemos

considerar três tipos de lagoas: Nos Açores, existem numerosas lagoas de origem vulcânica. As mais conhecidas são as

maiores de S. Miguel (Sete Cidades, Furnas e Fogo), mas também se encontram lagoas nas Flores e no Corvo.

As albufeiras são reservatórios construídos para a acumulação de água que se destinam ao abastecimento da população e das actividades económicas, mesmo em épocas de seca.

Em Portugal Continental, a distribuição geográfica do relevo e as características da rede hidrográfica explicam a existência de maior número de barragens nas regiões Norte e Centro que, além da função de armazenamento de água, dispõem, na sua grande maioria, de centrais de produção de electricidade.

No Sul, as albufeiras têm contribuído sobretudo para melhorar a gestão da água, nomeadamente no que se refere às reservas para usos doméstico e agrícola, embora também existam importantes centrais de produção de electricidade, como é o caso da barragem do Alqueva. No Algarve, com uma rede hidrográfica pouco extensa e constituída sobretudo por ribeiras, as albufeiras têm apenas a função de armazenamento de água para a agricultura e para o abastecimento das populações.

Dada a necessidade de aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis, está previsto a construção de 10 novas grandes barragens. No Douro serão construídas seis, uma no Vouga, outra no Mondego e duas no Tejo.