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Fernanda Angélica Sala
Estudo da interação entre domínios C-terminais de septinas humanas: implicação na formação
e estabilidade do filamento
Dissertação apresentada ao Instituto de Química de São
Carlos da Universidade de São Paulo como parte dos
requisitos para a obtenção do título de mestre em ciências.
Área de concentração: Química Orgânica e Biológica
Orientador: Prof. Dr. Richard Charles Garratt
São Carlos
2015
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e à Virgem Maria por mais esta etapa concluída.
À base da minha felicidade de vida: minha mãe Josefina e minhas irmãs: Bruna e
Gabriela, pelo amor, pelas orações e apoio incondicional.
Ao meu orientador, Dr. Richard C. Garratt pela oportunidade, acolhimento e
confiança, por ser um exemplo para mim como professor e pesquisador.
Ao Prof. Dr. Júlio C. Borges pelo suporte técnico, pela atenção, disponibilidade e
ensinamentos fundamentais para a realização deste trabalho.
A todos os professores que contribuíram para a minha formação principalmente ao
Prof. Dr. Luis Gustavo Dias, meu iniciador na vida científica, um mestre e amigo.
A todos os amigos que esses dois anos de vivência em São Carlos me trouxeram e que
levarei para a vida, em especial à Carina, pelas inúmeras horas de alegria, por me ouvir e
aconselhar com sabedoria e cordialidade. Também aos meus amigos de vida que
(in)diretamente sempre estiveram presentes.
Ao Ivan Silva pelas discussões e apontamentos que permitiram melhorar os resultados
aqui apresentados. À Dr. Joci pelas orientações iniciais para execução desse trabalho. Ao Dr.
Napoleão Valadares e Dr. Ivo, ex-alunos do grupo, que iniciaram esse estudo.
Pela experiência, conversas de apoio e ótima convivência agradeço aos amigos e
colegas do LBest (Laboratório de Biologia estrutural): Ana Laura, Diego Leonardo, Érika
Chang de Azevedo, Emérita Mendonza, Ivan Silva, Larissa Romanello, Laureana
Stelmastchuck, Juliana Torini, Matheus Postigo, Michel De Groote, Natália Bernini, Nayara
Cavalcante, Paola Lanzoni, Thomás Michellena Santos e Vitor Hugo Serrão.
Ao CNPEM - LnBio (Laboratório Nacional de Biociências) e LEC (Laboratório de
Espectroscopia e calorimetria) pelo suporte experimental e a técnica Juliana pelo auxílio na
condução dos experimentos.
Aos técnicos: Susana, Umberto, Bianca, Andressa e Bel, que ofereceram suporte
fundamental para a realização deste trabalho.
Agradeço ao programa de pós-graduação em Química do IQSC (Instituto de Química
de São Carlos) pelo suporte técnico e acadêmico. Ao IFSC (Instituto de Física de São Carlos)
pela infraestrutura disponibilizada. Ao CnpQ, Capes e Fapesp pelo apoio financeiro.
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O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-
homem, uma corda sobre um abismo. Perigosa travessia,
perigoso a-caminho, perigoso olhar pra trás, perigoso
arrepiar-se e parar. O que é grande no homem, é que ele é
uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no
homem, é que ele é um passar e um sucumbir. Amo
aqueles que não sabem viver a não ser como os que
sucumbem, pois são os que atravessam. Friedrich
Nietzsche. (Assim falou Zaratrustra -1883)
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RESUMO
Septinas compreendem uma conservada família de proteínas de ligação a nucleotídeo de
guanina e formação de heterofilamentos. Em termos estruturais, elas possuem uma
organização comum: um domínio GTPase central, uma região N-terminal e um domínio C-
terminal, este último é predito para formar estruturas em coiled coil. Atualmente, o
heterocomplexo de septinas humanas (SEPT2/SEPT6/SEPT7) mais bem caracterizado revela
a importância do domínio GTPase na formação do filamento, todavia a ausência de densidade
eletrônica para os domínios C-terminais faz com que sua função permaneça obscura. Estudos
com septinas de mamíferos, e de outros organismos como C. elegans e S. cerevisea sugerem
que alguns grupos de septinas (por exemplo, II e IV em mamíferos) interagem através de seus
domínios C-terminais, e estes poderiam atuar de modo determinante para a montagem correta
do filamento. Assim, o presente projeto objetivou estudar a afinidade homo/heterotípicas para
os domínios C-terminais das septinas humanas dos grupos II (SEPT6C/8C/10C/11C) e IV
(SEPT7C), investigando se esses domínios contribuem para preferência das septinas
interagirem com proteínas de grupos distintos durante a formação do heterofilamento. Os
domínios C-terminais foram expressos em E. coli e purificados. Foram conduzidos estudos de
ultracentrifugação analítica e espectropolarimetria de dicroísmo circular, que permitiram
identificar maior afinidade e estabilidade da associação heterotípica comparada à homotípica.
Foram obtidas constantes de dissociação aparente para homodímeros em torno de baixo µM,
enquanto que para heterodímeros os dados já existentes no grupo revelaram constante de
dissociação na ordem de nM. Para entender os fatores no nível atômico responsáveis pela
significativa predileção na interação entre os domínios C-terminais dos grupos II e IV foram
realizados estudos utilizando modelagem e análise das sequências primárias. As análises
sugerem a presença de um alto número de resíduos carregados na posição a do coiled coil
como responsável pela seletividade. Consequentemente, o heterodímero seria favorecido em
virtude do menor efeito repulsivo proveniente do intercalamento dos resíduos carregados em
a. Desse modo, os resultados indicaram a atuação decisiva ou cooperativa dos domínios C-
terminais na organização preferencial das septinas durante a formação do filamento,
favorecendo a interface NC entre septinas dos grupos II e IV.
Palavras Chave: Septinas. Coiled coil. Homo e hetero-interação. AUC. CD.
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ABSTRACT
Septins comprise a conserved protein family that binds guanidine nucleotide and forms
heterofilaments. In structural terms they have a common organization: a central GTPase
domain, a N-terminal domain and a C-terminal domain, this last one is predicted to form
coiled coil structures. Currently, the human septin heterocomplex best characterized
(SEPT2/SEPT6/SEPT7) reveals the importance of the GTPase domain in filament assembly,
however the absence of electron density for the C-terminal domains makes its function still
unknown. Studies with mammals septins, and of others organisms like C. elegans and S.
cerevisea suggests that some septins groups (e.g. II e IV in mammals) interact via its C-
terminal domains and this could act in a determinative way to correct filament assembly. In
this way, this project aimed to study the homo/heterotypical affinity for the C-terminal
domains of human septins belonging to groups II (SEPT6C/8C/10C/11C) e IV (SEPT7C),
investigating whether this domain contributes with the preference of septins to interact with
proteins of different groups during assembly of the heterofilament. The C-terminal domains
were expressed in E. coli and purificated. It was carried out studies using analytical
ultracentrifugation and circular dichroism spectropolarimetry tecniques which allowed
identification of major affinity and stability in the heterotypical association compared to
homotypical. It was measured apparent dissociation constants for homodimers of low µM
range while for heterodimers our group’s data shows dissociation constants in the nM range.
To understand at atomic level the factors responsible for this significant preference in the C-
terminal domains interaction between groups II and IV was performed molecular modelling
studies and analysis of the primary sequence. These analysis suggests the presence of a high
number of charged residues in position a of the coiled coil as responsible for selectivity.
Consequently, the heterodimer would be therefore favoured because of the minor repulsive
effect coming from the staggered of charged residues in a. Thus, these results indicate the
crucial or cooperative action of C-terminal domains in preferential organization of septins
during filament assembly, favouring the NC interface between septins of groups II and IV.
Keywords: Septins. Coiled coil. Homo- and hetero-interactions. AUC. CD.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – 1a) Localização dos genes CDC no ciclo celular de Saccharomyces cereviseae. Imagens
obtidas por microscopia eletrônica de transmissão, do estágio final do processo de divisão celular em
levedura. As setas indicam a localização do anel do septo. Escala de 0,1µm (barra preta na parte
inferior da figura). 1b) Imagens obtidas por microscopia de Fluorescência. (a, b) Nos estágios finais da
divisão celular as septinas se organizam como um anel planar, (c, d) que posteriormente assume uma
forma cilíndrica/ampulheta e, (e) finalmente, no processo de citocinese separa-se em dois anéis. ....... 15
Figura 2 - Domínios estruturais das septinas. Neste esquema, é apresentada a organização típica dos
domínios estruturais de uma septina. Em verde está representado o domínio N-terminal; em cinza a
região polibásica presente na maioria das septinas; em amarelo, o domínio GTPase, incluindo os três
motivos G1, G3 e G4; e em vermelho o domínio C-terminal. .............................................................. 17
Figura 3 - Classificação das septinas de mamíferos considerando seus domínios estruturais. ............. 17
Figura 4 - Diagrama da estrutura secundária dos domínios G da Ras (à esquerda) e das septinas (à
direita), ressaltando a conservação das estruturas α-β (cinza e amarelo) e a posição das alças (P-loop,
switch I e II; vermelho) que são envolvidos no mecanismo de hidrólise do GTP. Os domínios G das
septinas possuem segmentos que não são observados em estruturas da Ras (em verde). ..................... 18
Figura 5 - Estrutura do complexo formado pelas septinas humanas SEPT2-SEPT6-SEPT7. Aqui as
interfaces de interação entre as septinas estão indicadas por NC e G. A vizinhança do hexâmero marca
os contatos longitudinais utilizando a SEPT7 (em cinza). As setas em preto indicam a orientação dos
domínios coiled coil. ............................................................................................................................ 19
Figura 6 - Representação em roda das duas hélices de um coiled coil dimérico .................................. 23
Figura 7 – Estrutura de um coiled coil paralelo da proteína vimentina humana (PDB: 1GK4) contendo
um stutter (resíduos grifados em azul), que gera um desenovelamento da super-hélice como é indicado
pelos pontilhados vermelho que ligam os Cα. ....................................................................................... 24
Figura 8 – A estrutura de Fibrina (PDB: 1AA0) exibe inserções de 4 e 12 resíduos que são
organizadas fora da alfa hélice, com mínima rupturas na continuidade. ............................................... 25
Figura 9 - Comparação dos filamentos formados pela SEPT2/6/7 (topo), SEPT2G, SEPT7G e SEPT3.
As interfaces NC e G estão indicadas. Aquelas que não estão presentes no heterofilamento são
indicadas como promíscuas. No caso da SEPT3 não está claro quais interações seriam consideradas
normais ou promíscuas. ........................................................................................................................ 26
Figura 10 - Modelos propostos para o heterocomplexo formado pelas proteínas UNC-59 e UNC-61.27
Figura 11 – Modelo para a estrutura do heterocomplexo Cdc11/Cdc12/Cdc3/Cdc10. Observa-se que
os domínios C-terminais orientam-se perpendicularmente ao eixo do filamento.................................. 28
Figura 12 – Estrutura primária da SEPT6C e SEPT7C presente no complexo 2/6/7. Os resíduos em
vermelho representam o domínio C-terminal. ...................................................................................... 31
Figura 13 - Purificação por afinidade a metal imobilizado. ................................................................. 33
7
Figura 14 - Fases de uma cromatografia de troca catiônica. a) Na fase inicial, o trocador de prótons
(partícula negativamente carregada) é balanceado com íons do tampão inicial. b) A proteína é aplicada
à resina. c) proteínas positivamente carregadas se ligam fortemente enquanto que proteínas neutras ou
negativamente carregadas eluem. d) Um tampão de alta força iônica é aplicado. e) Proteínas com carga
positiva são eluídas. ............................................................................................................................. 35
Figura 15 – Esquema ilustrativo da proteína contendo o His-tag e o sítio de reconhecimento e
clivagem da trombina. .......................................................................................................................... 36
Figura 16 - Esquema da de um equipamento de ultracentrifugação analítica. ..................................... 37
Figura 17 – Perfis de sedimentação em experimentos de SV-AUC..................................................... 40
Figura 18 - Origem do efeito de dicroísmo circular. I) os dois componentes tem a mesma amplitude e
quando combinados geram uma luz plano polarizada. II) os componentes de magnitudes diferentes
resultam em uma luz elipticamente polarizada (linhas pontilhadas). .................................................... 43
Figura 19 - Espectro associado com vários tipos de estrutura secundária. Linha sólida, α-hélice;
tracejados longos, folhas-β antiparalelas; linhas pontilhadas, volta β; linha com traços horizontais e
verticais, hélice 310; tracejados curtos, estrutura irregular. ................................................................... 44
Figura 20 – Cromatografia de troca catiônica para a SEPT7C. ........................................................... 53
Figura 21 – Cromatogramas gerados por cromatografia de exclusão. ................................................. 54
Figura 22 - Análise em géis SDS/Page (15%). A) SEPT6C: 1) Marcador de Massa Molecular. 2)
Sobrenadante após expressão. 3) Proteína não ligada a coluna de afinidade. 4) Lavagem 30mM de
Imidazol. 5) Eluição 400mM de Imidazol. 6) Eluição Superdex 75 após clivagem. B) SEPT7C: 1)
Marcador. 2) Sobrenadante após expressão. 3) Proteína não ligada a coluna de afinidade. 4)
LavagemII: 30mM de Imidazol. 5) Eluição com 150mM de Imidazol. 6) Eluição Mono S. 7) Eluição
Superdex 75 após clivagem. C) SEPT8C: 1) Marcador 2) Sobrenadante após expressão 3) Proteína
Não ligada. 4) Lavagem I: 10mM de Imidazol. 5) LavagemII: 30mM de Imidazol. 6) Eluição 300mM
de Imidazol. 7) Eluição Superdex 75 após clivagem. D) SEPT10C: 1) Marcador. 2) Sobrenadante após
expressão. 3) Proteína não ligada. 4) Lavagem I: 10mM de Imidazol. 5) Lavagem II: 30mM de
Imidazol 6) Eluição com 150mM Imidazol. 7) Eluição Superdex 75 após clivagem.E) SEPT11C: 1)
Marcador. 2) Sobrenadante após expressão. 3) Proteína não ligada. 4) Lavagem II:30mM Imidazol. 5)
Eluição com 150mM Imidazol. 6) Eluição Superdex 75 após clivagem. .............................................. 55
Figura 23 – Distribuição dos coeficientes de sedimentação, c(s), em função da variação da
concentração proteica para homo/heterodímeros. É mostrado um zoom na região de 4 a 10 S ou 2 a 10
S, dependendo do s das espécies oligoméricas presentes...................................................................... 56
Figura 24 – Coeficientes de sedimentação em função da variação na concentração total de proteínas.
............................................................................................................................................................. 59
Figura 25 – Distribuição dos coeficientes de sedimentação, c(s), em função da variação da
concentração de SEPT11C. .................................................................................................................. 61
Figura 26- Determinação da constante de dissociação aparente para o homodímero da SEPT11C com
base nos valores de s20,w em (S) função da concentração em (µM). ...................................................... 62
8
Figura 27 - Espectros de CD das proteínas SEPT6C, SEPT7C, SEPT8C, SEPT10C e SEPT11C
variando a concentração. ...................................................................................................................... 68
Figura 28 – Mudanças na elipticidade como uma função da concentração proteica. Gráficos da
elipicadade a 222 nm em função da concentração: A) SEPT6C, C) SEPT7C, E) SEPT8C, G)
SEPT10C e I) SEPT11C; Gráficos Razão da elipticidade a 222mm e 208 nm como uma função da
concentração de proteína: B) SEPT6C, D) SEPT7C, F) SEPT8C, H) SEPT10C e J) SEPT11C. ......... 70
Figura 29 – Gráficos da temperatura de desnaturação térmica como uma função da concentração
proteica e curvas de desnaturação/renaturação. a) SEPT6C; b)SEPT7C; c)SEPT8C e d) SEPT10C. ... 72
Figura 30 - Fração de monômero/dímero no intervalo de concentração estudado. .............................. 75
Figura 31 - Alinhamentos múltiplo das sequências dos domínios C-terminais de Septinas do Grupo II
e IV. As regiões em azul mostram o padrão de conservação dos resíduos nas sequências. Quanto mais
escuro, mais conservado o resíduo entre as sequências estudadas. ....................................................... 77
Figura 32 – Gráfico gerado pelo programa COILS (LUPAS; VAN DYKE;STOCK, 1991) mostrando
a probabilidade de formação de estruturas em coiled coil para o domínio C-terminal de septinas
humanas. A janela empregada foi de 28 resíduos. ................................................................................ 78
Figura 33 - Sequências de aminoácidos das regiões com predição de formação de domínios em coiled
coil para as SEPT6C e 7C. As letras a-g no topo da coluna indicam a posição na sequência
heptamérica. ......................................................................................................................................... 79
Figura 34 - Alinhamento da primeira parte das proteínas SEPT6C e 7C com a estrutura a 2FXO. Em
vermelho estão indicadas as posições de cada resíduo na repetição heptamérica do coiled coil. .......... 81
Figura 35 - Alinhamento da segunda parte das proteínas SEPT6C e 7C com a estrutura 1GK4. Em
vermelho estão indicadas as posições de cada resíduo na repetição heptamérica do coiled coil. A
região sublinhada em verde indica o stutter presente em todas as estruturas. ....................................... 81
Figura 36 – Avaliação da DOPE para os modelos gerados. A flecha em vermelho indica o modelo
com menor pontuação DOPE. a) SEPT6C primeira parte. b)SEPT7C primeira parte c) SEPT6C_7C
primeira parte d) SEPT6C segunda parte e) SEPT7C Segunda parte f) SEPT6C_7C segunda parte. ... 82
Figura 37 – Gráficos de qualidade do modelo gerado com a utilização de PROSA-web. O ponto em
preto indicado na figura refere-se ao Z-score obtido para os modelos. a) SEPT6C 1ªparte, b) SEPT7C
1ªparte, c) SEPT6C-7C 1ªparte, d)SEPT6C 2ªparte, e)SEPT7C 2ªparte e f)SEPT6C_7C 2ªparte. ........ 83
Figura 38 - Distribuição do potencial eletrostático para o modelo gerado para a SEPT6C. Em
vermelho estão os resíduos negativamente carregados e em azul os positivamente carregados. A)
Primeira parte da sequência (Resíduo 24-51) B) Segunda parte (Resíduo 52-107). ............................. 84
Figura 39 - Distribuição do potencial eletrostático para o modelo gerado para a SEPT7C. Em
vermelho estão os resíduos negativamente carregados e em azul os positivamente carregados. A)
Primeira parte da sequência (Resíduo 24-51) B) Segunda parte (Resíduo 52-108). ............................. 84
Figura 40 – Diagrama da orientação das cadeias laterais em coiled coils. A) Posições d e e B)
Posições a e g. ...................................................................................................................................... 87
9
Figura 41 – Modelo gerado para o homodímero SEPT6C. Os resíduos em sticks mostram a orientação
da cadeia lateral da lisina de número 88 na estrutura do coiled coil. Os tracejados em amarelo mostram
a distância entre os resíduos. ................................................................................................................ 88
Figura 42 – Posição dos resíduos carregados (em azul) em homo/hetero-coiled coils paralelos. ........ 89
Figura 43 – Interação entre o resíduo presente na posição a da SEPT6C (cadeia em azul) com o
resíduo presente na posição g imediatamente anterior da SEPT7C (cadeia em verde). ........................ 90
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Septinas em organismos modelos. ...................................................................................... 16
Tabela 2 – Classificação das Septinas Humanas. ................................................................................ 21
Tabela 3 – Frequência de ocupação relativa dos resíduos nas sete possíveis posições no coiled coil. . 49
Tabela 4 – Dados cristalográficos das estruturas utilizadas como modelo........................................... 50
Tabela 5 – Tabela correlacionando a proteína, a concentração e a porcentagem da espécie em solução
no pico principal. .................................................................................................................................. 58
Tabela 6 – Variação da porcentagem de espécie do pico principal em função da concentração para a
SEPT11C. ............................................................................................................................................ 58
Tabela 7 – Parâmetros hidrodinâmicos, 20,w em (S), MM em (kDa) e f/f0 obtidos a partir da análise de
dados de SV e valores teoricamente obtidos para MM do dímero em (kDa) e st20,w para monômeros e
dímeros em (S). .................................................................................................................................... 60
Tabela 8 - Fator de Perrim para monômeros e dímeros da SEPT11C. ................................................. 63
Tabela 9 – Tabela comparativa entre as curvas de desnaturação térmica de homo/heterodímeros. As
curvas em vermelho e em verde referem-se às proteínas da coluna e linha, respectivamente. As curvas
em preto correspondem à mistura equimolar das proteínas da coluna e linha. ..................................... 65
Tabela 10 - Tabela comparativa entre as temperaturas de desnaturação térmica para
homo/heterodímeros. ............................................................................................................................ 66
Tabela 11 – Variação da razão na elipticidade à 222 nm e 208 nm para homo/heterodímeros. ........... 67
Tabela 12 – Constantes de dissociação aparentes obtidas por experimentos de espectropolarimetria de
dicroísmo circular................................................................................................................................. 72
Tabela 13 - Determinação da constante de dissociação de heterodímeros por SPR. ............................ 74
Tabela 14 - Determinação da constante de dissociação de heterodímeros por SPR. ............................ 74
Tabela 15 – Interações atrativas e repulsivas envolvendo as posições e e g, a e a e d e d de
homo/heterodímeros. ............................................................................................................................ 86
Tabela 16 – Interações entre as posições g e a de homo/hetero-coiled coils. ....................................... 90
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
∆CD – variação da elipticidade
µM – Micromolar
Ả - Angstrons
AUC – Ultracentrifugação analítica, do inglês analytical ultra centrifugation
CAQI – Central de análises químicas instrumentais
CD – Dicroísmo circular, do inglês circular dichroism
CDC - do inglês, Cell Division Cycle
D – Dímero
D.O. – Densidade ótica
D – Ácido aspártico
DNA - Ácido desoxirribonucleico (do inglês, deoxyribonucleic acid)
E. coli – Escherichia coli
E – Ácido glutâmico
f/f0 – Fator de Perrim
G - Glicina
G/Glu – Ácido Glutâmico
GDP – Guanosina-5-difosfato
GTP – Guanosina-5-trifosfato
HEPES – Ácido Etanosulfônico 4-2-hidroxietil-1-piperazina
His-tag – Hexapeptídeo de histidinas
HPLC - Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (do inglês, High Performance Liquide
Chromatography)
IPTG – Isopropril-β-D-tiogalactapiranosídeo
K – Lisina
Ka – Constante de Associação
Kdapp – Constante de dissociação aparente
KH2PO4 – Fosfato de potássio monobásico
L - Leucina
LB – Meio de cultura Lucia Bertani
LEC – Laboratório de Espectroscopia e calorimetria
LNBio - Laboratório Nacional de Biociências
M – Monômero
12
MM – Massa Molecular
N/Asp – Asparagina
NaCl – Cloreto de Sódio
NaH2PO4 – Fosfato de Sódio Monobásico
nM – Nanomolar
Ɵ - Elipticidade
ƟD – Valor da elipticidade do estado final
Ɵn - Valor da elipticidade do estado inicial
Ɵobs - Valor da elipticidade observada
PDB – Banco de dados de proteínas, do inglês, Protein Data Bank
pET28a(+) – Vetor de expressão bacteriano
P-loop – Loop de interação com fosfato
P - Prolina
Q – Glutamina
R – Arginina
Rosetta(DE3) – Linhagem bacteriana para expressão plasmidial
s – Coeficiente de sedimentação experimental
S - Serina
SDS-PAGE – Sodium dodecyl sulfate polyacrilamide gel eletrophoresis
SE – Sedimentação e equilíbrio
SEC – Cromatografia de exclusão molecular, do inglês size exclusion cromatography
SEPT – Septinas
SEPTxC – Domínio C-terminal da septina x
sesf – Coeficiente de sedimentação de uma partícula esférica
SV – Velocidade de sedimentação.
T – Temperatura
Tm – Temperatura de desnaturação térmica (do inglês, Melting temperature)
TRIS – [Tris(hidroximetil)aminoetano)]
V - Valina
Vbar – Volume parcial específico da proteína
η – Viscosidade
λ – comprimento de onda
ρ – Densidade
13
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 15
1.1 Septinas ...................................................................................................................... 15
1.2 Septinas humanas ....................................................................................................... 17
1.3 Complexo de septinas humanas .................................................................................. 19
1.4 Septinas: funções e disfunções ................................................................................... 20
1.5 Coiled coil .................................................................................................................. 22
2 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................... 26
3 OBJETIVO................................................................................................................................... 30
4 METODOLOGIA ........................................................................................................................ 31
4.1 Definição dos domínios C-terminais das septinas dos grupos II e IV ......................... 31
4.2 Expressão ................................................................................................................... 31
4.3 Purificação .................................................................................................................. 32
4.3.1 Purificação por cromatografia de afinidade .................................................................. 32
4.3.2 Cromatografia de troca iônica ....................................................................................... 34
4.3.3 Diálise e clivagem do His-tag ....................................................................................... 35
4.3.4 Purificação por Cromatografia de Exclusão Molecular ................................................ 36
4.4 Ultracentrifugação analítica ........................................................................................ 37
4.5 Espectropolarimetria de dicroísmo circular ................................................................ 42
4.5.1 Estudos de Homo/Heterodímeros ................................................................................. 45
4.5.2 Caracterização biofísica e estudo da interação homodimérica ...................................... 46
4.6 Equilíbrio monômero/dímero ..................................................................................... 47
4.7 Técnicas de bioinformática ......................................................................................... 48
4.7.1 Determinação da região em coiled coil da sequência .................................................... 48
4.7.2 Modelagem por homologia ........................................................................................... 49
4.7.3 Análise das sequencias e possíveis interações .............................................................. 51
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................. 53
5.1 Expressão e Purificação .............................................................................................. 53
5.2 Estudos de homo/heterodímeros por ultracentrifugação analítica ............................... 55
5.3 Caracterização biofísica e cálculo da constante de interação para homodímeros utilizando
CD 63
5.3.1 Estudo da interação homo/heterodimérica por CD ....................................................... 64
5.3.2 Estudo da interação de homo-coiled coil por espectropolarimetria de dicroísmo circular.
67
5.4 O equilíbrio químico de homodímeros ....................................................................... 74
5.5 Técnicas de bioinformática para estudo estrutural das sequências .............................. 76
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 92
14
7 PERSPECTIVAS ......................................................................................................................... 94
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 95
15
1. INTRODUÇÃO
1.1 Septinas
Septinas foram inicialmente identificadas por Hartwell (HARTWELL, 1971) em
Saccharomyces cerevisae. Nesse estudo, observou-se que alguns mutantes apresentavam
deficiência em completar o ciclo celular devido à ausência dos genes CDC (do inglês, Cell
Division Cycle). Os genes CDC3, CDC10, CDC11 ou CDC12 foram caracterizados como
responsáveis pelas estruturas filamentosas localizadas no septo que separa a célula mãe e a
célula-filha (Fig. 1) (GLADFELTER; PRINGLE; LEW, 2001; HIGHLY et al., 1976).
Figura 1 – 1a) Localização dos genes CDC no ciclo celular de Saccharomyces cereviseae. Imagens
obtidas por microscopia eletrônica de transmissão, do estágio final do processo de divisão celular em
levedura. As setas indicam a localização do anel do septo. Escala de 0,1µm (barra preta na parte
inferior da figura). 1b) Imagens obtidas por microscopia de Fluorescência. (a, b) Nos estágios finais da
divisão celular as septinas se organizam como um anel planar, (c, d) que posteriormente assume uma
forma cilíndrica/ampulheta e, (e) finalmente, no processo de citocinese separa-se em dois anéis.
Fonte: 1a) Adaptada de BYERS;GOETSCH, 1976. 1b) Adaptada de GLADFELTER, PRINGLE e
LEW (2001).
1b)
16
Essa classe de proteínas formadoras do septo passou a ser denominadas septinas.
Entretanto, septinas também desempenham outras funções importantes tais como, migração
celular, ciliogênese, ramificação neuronal e outras funções celulares básicas (NGUYEN et al.,
2000).
O primeiro relato de septina em metazoário foi realizado por Neufeld e Rubin (1994),
eles observaram que a proteína Pnut, em Drosophila, localizava-se no sulco de clivagem
durante o processo de divisão celular e que mutações nesse gene bloqueavam a citocinese.
Atualmente sabe-se que múltiplos genes de septinas podem ser encontrados em fungos e
animais (Tab. 1) (WEIRICH; ERZBERGER; BARRAL, 2008).
Tabela 1 - Septinas em organismos modelos.
Organismo Nome
Chlamydomonas
reinhardtii
SEP1
Saccharomyces cereviseae Cdc10; Cdc3; Cdc11; Cdc12; Shs1; Spr3; Spr28
Schitzosaccharomyces
pombe
Spn1; Spn2; Spn3; Spn4; Spn5; Spn6; Spn7
Candida albicans Cdc3; Cdc10; Cdc11; Cdc12; Sep7; Spr3; Spr28
Eremothectum gossypii Hyp1; Hyp2; Hyp3; Hyp4; Hyp5; Hyp6; Hyp7
Aspergillus nidulans AspA; AspB; AspC; AspD; AspE
Neurospara crassa Hyp1; Hyp2; Hyp3; Hyp4; Hyp5; Hyp6
Caenorhabditis elegans UNC-61; UNC-59
Drosophila melanogaster SEP1; SEP2; SEP4; SEP5; Pnut
Xenopulaevis HYP1; SEPT2
Mamíferos SEPT1; SEPT2; SEPT3; SEPT4; SEPT5; SEPT6; SEPT7; SEPT8;
SEPT9; SEPT10; SEPT11; SEPT12; SEPT14
Fonte: Adaptada de WEIRICH, ERZBERGER e BARRAL (2008).
O número de septinas varia de acordo com o organismo: em C. reinhardtii há apenas
uma única septina enquanto em humanos foram identificadas treze cópias parálogas, e esse
número pode aumentar devido as diferentes variações geradas por splicing alternativo,
criando ampla diversidade para essas proteínas (IHARA et al., 2003; HALL; RUSSELL,
2004). O motivo pelo qual alguns organismos eucarióticos têm conservado e amplificado seus
genes de septinas, embora outros tenham provavelmente perdido é incerto, mas talvez reflita
os mecanismos de citocinese utilizados (BEISE; TRIMBLE, 2011).
17
1.2 Septinas humanas
Em termos estruturais, as septinas possuem uma organização comum dos domínios:
um domínio G, uma região N-terminal de tamanho e sequências variáveis e um domínio C-
terminal também variável (Fig. 2).
Figura 2 - Domínios estruturais das septinas. Neste esquema, é apresentada a organização típica dos
domínios estruturais de uma septina. Em verde está representado o domínio N-terminal; em cinza a
região polibásica presente na maioria das septinas; em amarelo, o domínio GTPase, incluindo os três
motivos G1, G3 e G4; e em vermelho o domínio C-terminal.
Fonte: Autoria própria
As treze septinas humanas podem ser divididas em quatro grupos, baseado na
similaridade da estrutura primária (Fig. 3):
Figura 3 - Classificação das septinas de mamíferos considerando seus domínios estruturais.
Fonte: Figura adaptada de MARTÍNEZ e colaboradores, 2006.
18
Dentro do mesmo grupo, o domínio de ligação a GTP é o mais conservado com um
mínimo de 75% de similaridade. Nesse domínio encontram-se três motivos sequenciais de
ligação ao GTP, conhecidos como G1, G3 e G4. O motivo G1, definido como GxxxGK[ST],
forma um loop flexível (o p-loop) que interage com o grupo fosfato do nucleotídeo. O motivo
G3 contém vários resíduos hidrofóbicos seguidos por DxxG. Esta região liga Mg2+
e pode
interagir com o fosfato β e γ do GTP. O motivo G4, NKxD, é importante para a especificidade
da ligação ao GTP) (WALKER et al., 1982).
Na região de conexão do domínio GTPase ao N-terminal há uma região polibásica que
diferencia-se entre as septinas quanto a basicidade. Essa região tem sido apontada como
responsável pela ligação de fosfolipídeos de membranas (ZHANG et al., 1999). A região N-
terminal é bastante variável podendo conter poucos resíduos de aminoácidos. O domínio C-
terminal também varia de tamanho, abrangendo cerca de 50-100 resíduos de aminoácidos, e é
predito a formar estruturas em coiled coil que podem estar envolvidas na interação proteína-
proteína como é observado para outras famílias de proteínas contendo a mesma estrutura
(LUPAS; GRUBER, 2005).
Devido as características estruturais e funcionais do domínio GTPase, as septinas são
classificadas como membros da superfamília das P-loop GTPases, que incluem, dentre outras,
as proteínas tipo Ras. Estruturalmente essa superfamília de proteínas é caracterizada pela
conservação da estrutura α-β-α e do motivo de interação ao GTP (Fig. 4) (WEIRICH;
ERZBERGER; BARRAL, 2008).
Figura 4 - Diagrama da estrutura secundária dos domínios G da Ras (à esquerda) e das septinas (à
direita), ressaltando a conservação das estruturas α-β (cinza e amarelo) e a posição das alças (P-loop,
switch I e II; vermelho) que são envolvidos no mecanismo de hidrólise do GTP. Os domínios G das
septinas possuem segmentos que não são observados em estruturas da Ras (em verde).
Folhas-β α-hélice Segmentos adicionais
RAS SEPTINA
S
19
Fonte: Adaptado de WEIRICH, ERZBERGER e BARRAL (2008).
Sabe-se que as proteínas do tipo RAS são responsáveis pela hidrólise e troca de
nucleotídeo de guanina a taxas moderadas resultando em dois estados relativamente estáveis
em vivo: um estado ligado-GTP e um estado ligado a GDP. Elas são reguladas por fatores de
troca de GTP (GEFs) e de ativação GTPase (GAPs). Septinas também atuam na ligação e
hidrólise de nucleotídeos, todavia ainda é incerto como esse mecanismo é regulado e como
essas propriedades enzimáticas podem variar entre os vários subgrupos de septinas
(WEIRICH; ERZBERGER; BARRAL, 2008).
1.3 Complexo de septinas humanas
Septinas possuem a característica de se polimerizarem para formar hetero-filamentos
altamente organizados que funcionalmente depende das propriedades dos monômeros
constituintes e do tipo de célula que ele é expresso (BEISE; TRIMBLE, 2011). Atualmente, o
complexo de septinas humanas mais bem caracterizado é formado por SEPT2, SEPT6 e
SEPT7, isolado de células NIH3T3 pela interação com Borg3 (SHEFFIELD et al., 2003). Em
2007, Sirajuddin e colaboradores cristalizaram o complexo que foi resolvido a 4 Å de
resolução. O complexo formado é baseado em unidades hexaméricas apresentando a seguinte
disposição: SEPT7-SEPT6-SEPT2-SEPT2-SEPT6-SEPT7 (Fig. 5).
Figura 5 - Estrutura do complexo formado pelas septinas humanas SEPT2-SEPT6-SEPT7. Aqui as
interfaces de interação entre as septinas estão indicadas por NC e G. A vizinhança do hexâmero marca
os contatos longitudinais utilizando a SEPT7 (em cinza). As setas em preto indicam a orientação dos
domínios coiled coil.
Fonte: Figura adaptada de SIRAJUDDIN e colaboradores (2007).
20
A estrutura revela que a formação dos filamentos de septinas envolve basicamente
dois tipos de interface que se alternam ao longo do filamento, mantendo sua continuidade. A
interface G, aquela em que se encontra o sítio de ligação do nucleotídeo, e a interface NC
formada por contados envolvendo as regiões N- e C- terminais do domínio GTPase. Observa-
se ainda que a interação entre os monômeros adjacentes da SEPT2 e entre SEPT6 e SEPT7
são do tipo NC, enquanto que entre SEPT2 e SEPT6 ou entre os dois monômeros da SEPT7
são do tipo G. Esses são os contatos denominados nativos para a formação do filamento.
Kinoshita (2003) indicou que são viáveis outras combinações de septinas na formação
de um heterofilamento desde que cada uma das três proteínas distintas seja ocupada por outras
septinas do mesmo grupo (Regra de Kinoshita). Assim espera-se que a SEPT6, por exemplo,
possa ser substituída por SEPT8, SEPT10, SEPT11 ou SEPT14 (Fig. 3).
De modo geral, as septinas podem se associar para formar complexos entre diferentes
membros da família, criando diferentes funções celulares. A diversidade e complexidade faz
com que a função dessas estruturas não seja ainda bem compreendida, todavia é sabido que
em muitos processos essas estruturas desempenham papel crucial (KINOSHITA, 2003).
1.4 Septinas: funções e disfunções
Funcionalmente, as septinas em mamíferos atuam similarmente as de outros
organismos, podendo formar heterofilamentos que interagem diretamente com a membrana,
hidrolisam GTP e produzem células multinucleadas quando mutadas (KARTMANN; ROTH,
2001). No mais, elas também estão associadas com outros processos celulares distintos
incluindo tráfego de vesículas, determinação da polaridade celular, dinâmica do citoesqueleto,
recepção e transmissão de sinais em membrana e formação de barreira de difusão.
(PETERSON; PETTY, 2010).
Além do seu papel fisiológico, várias septinas estão relacionadas a situações
patológicas. Elas são proteínas tipicamente presentes em doenças como Parkinson e
Alzheimer (BEISE; TRIMBLE, 2011; IHARA et al., 2003). Ademais, também estão ligadas a
desordens neurológicas que causa HNA (do inglês, Hereditary Neuralgic Amyotrophy)
(HANNIBAL et al., 2009). Por estarem envolvidas em processos de citocinese, alterações na
estrutura e/ou função têm sido constantemente associadas ao câncer (HALL; RUSSELL,
2004). A tabela 2 detalha especificamente as septinas, seu local de expressão, sua função e a
desordem associada.
21
Tabela 2 – Classificação das Septinas Humanas.
continua
Septina Expressão Função Doença Associada
SEPT1 Linfócitos e
células do sistema
nervoso central
ND Alzheimer, câncer (colo,
oral, leucemia, linfoma).
SEPT2 Onipresente Dinâmica da actina, autofagia
bacteriana, segregação dos
cromossomos, formação de cílios,
citocinese, reparação do DNA,
tráfego de membrana, regulação do
microtúbulo,
Alzheimer, câncer (cérebro,
fígado, renal, leucemia,
linfoma), infecção
(bacteriana, viral), síndrome
de Von Hippel-Lindau.
SEPT3 Células do sistema
nervoso central.
ND Alzheimer, câncer (cérebro),
síndrome de Down.
SEPT4 Linfócitos e
células do sistema
nervoso central,
olhos e testículos.
Apoptose, função mitocondrial,
neurotoxicidade, age como barreira
de difusão em espermatozoides.
Alzheimer, câncer (colo,
pele, uretra, leucemia),
infecção (viral), infertilidade
masculina, Parkinson,
esquizofrenia.
SEPT5 Onipresente Biologia de plaquetas
(secreção, liberação ATP) e
exocitose.
Transtorno bipolar, câncer
(pâncreas, leucemia,
linfoma), Parkinson,
esquizofrenia.
SEPT6 Onipresente Dinâmica da actina, divisão celular,
regulação dos microtúbulos
Transtorno Bipolar, câncer
(pele, leucemia, linfoma),
síndrome de Down, infecção
(bacteriana, viral),
esquizofrenia.
SEPT7 Onipresente Dinâmica da actina, divisão celular,
segregação cromossômica, citocinese,
formação de dendritos, reparação do
DNA, tráfego de membranas e
regulação do microtúbulo.
Alzheimer, câncer (sistema
nervoso), síndrome de
Down, infertilidade
masculina.
SEPT8 Linfócitos e
células do sistema
nervoso central,
Tráfego de neurotransmissores. Degeneração da Retina.
22
olhos, intestino e
placenta.
SEPT9 Onipresente Dinâmica da actina, angiogênese
autofagia bacteriana, mobilidade
celular, proliferação celular, formato
da célula, citocinese, regulação dos
microtúbulos, segmentação de
vesícula e exocitose.
Cancer (cérebro, colo,
cabeça, ovário, pescoço,
leucemia, linfoma).
Síndrome de Down,
amiotrofia neurálgica
hereditária, infecção
bacteriana.
SEPT10 Onipresente ND ND
SEPT11 Onipresente Dinâmica da actina, divisão celular,
citocinese, formação de dendritos,
rigidez da membrana, tráfego na
membrana, atividade sináptica.
Desordens Bipolares, câncer
(real, leucemia, linfoma),
esquizofrenia.
SEPT12 Linfócitos e
células dos
testículos.
Estabilidade mecânica do anel. Infertilidade masculina.
SEPT14 Células do SNC e
testículos.
ND Câncer nos testículos
Fonte: MOSTOWY; COSSART, 2012
1.5 Coiled coil
Os domínios C-terminais das septinas são preditos para formar estruturas em coiled
coil, que são feixes de α-hélice que geram uma estrutura supersecundária denominada super-
hélices. Normalmente eles consistem de duas ou três hélices enovelando-se na mesma direção
(paralelo) ou em direções opostas (antiparalelo). Essas estruturas apresentam-se como
oligômeros de mesma (homo) ou de diferentes cadeias (hetero) (LUPAS, 1996).
Em 1952, Crick propôs como principal característica desse tipo de estrutura o
empacotamento diferenciado da cadeia lateral dos aminoácidos no interior da super-hélice.
Ele sugeriu que cada resíduo na interface de contato entre as hélices (knob) encaixaria-se no
espaço formado por quatro resíduos da hélice oposta (hole). Esse empacotamento ficou
conhecido como knobs-into-holes.
A principal característica das estruturas em coiled coil é a repetição heptamérica da
natureza química da cadeia lateral. Esquematicamente, as sete posições são chamadas a, b, c,
conclusão
23
d, e, f e g, com a e d apresentando pequenos resíduos hidrofóbicos (por exemplo, V, L, I) que
se inserem nos holes (Fig. 6). Por exemplo, o resíduo na posição d de uma hélice encaixa-se
no hole formado pelos resíduos a, a’, d e e da outra, sendo a e a’ posições a de repetições
consecutivas. As α-hélices em um coiled coil são levemente distorcidas em comparação com
uma α-hélice convencional, com 3,5 resíduos por volta invés de 3,6 sendo assim, a repetição
heptamérica correspondente a duas voltas da α-hélice. Os coiled coil apresentam quiralidade
de mão esquerda (LUPAS;GRUBER, 2005).
Figura 6 - Representação em roda das duas hélices de um coiled coil dimérico.
Fonte: Figura adaptada de MASON;ARNDT, 2004.
A região de contato entre as α-hélices é composta por interações hidrofóbicas.
Aminoácidos carregados nas posições e e g são ocorrentes e apontados como responsáveis
pelo estabelecimento de interações eletrostáticas entre as cadeias que auxiliam na montagem e
estabilidade do coiled coil (LUPAS; GRUBER, 2005; MASON; ARNDT, 2004; PARRY;
FRASER; SQUIRE, 2008).
Embora sejam estruturas muito regulares, somente poucos podem ser encontrados sem
nenhuma descontinuidade. As falhas podem ser representadas como inserções de um ou mais
resíduos na repetição heptamérica. Inserções de um resíduo são chamadas skips, inserções de
três resíduos stammers, e inserção de quatro resíduos stutters. Outras inserções podem
acontecer, mas não são frequentes o suficiente para serem nomeadas. Essas alterações na
24
repetição podem ser acomodadas estruturalmente por perturbações na continuidade da cadeia
principal, ou no empacotamento das cadeias laterais (LUPAS; GRUBER, 2005). No caso do
stutter, para os quatro aminoácidos adicionais serem acomodados, há uma redução no grau do
supercoil a fim de manter os contatos hidrofóbicos (Fig. 7).
Figura 7 – Estrutura de um coiled coil paralelo da proteína vimentina humana (PDB: 1GK4) contendo
um stutter (resíduos grifados em azul), que gera um desenovelamento da super-hélice como é indicado
pelos pontilhados vermelho que ligam os Cα.
Fonte: Figura adaptada de (BURKHARD; STETEFELD; STRELKOV, 2001).
Em contraste, no stammer há um aumento no grau de enovelamento da super-hélice.
Todavia é sabido que stammers são mais raramente encontrados que stutters, o que é razoável
considerando que para causar um superenovelamento do coiled coil é necessário um
encurtamento das ligações de hidrogênio, acarretando maior pressão sob a integridade da
cadeia principal da α-hélice. Apesar disso, tais distorções são geralmente confinadas a duas
voltas em ambos os lados da deleção, depois disso a estrutura retorna ao padrão regular
(LUPAS;GRUBER, 2005; BROWN; COHENL; PARRY, 1996).
Outros tipos de inserções são menos prováveis de serem acomodadas sem alterações
locais na estrutura da hélice. Quando presentes na sequência, a proteína, a fim de manter o
padrão das ligações de hidrogênio e o empacotamento knobs-into-holes da hélice, rearranja os
resíduos em loops extras (Fig. 8) (LUPAS;GRUBER, 2005).
25
Figura 8 – A estrutura de Fibrina (PDB: 1AA0) exibe inserções de 4 e 12 resíduos que são
organizadas fora da alfa hélice, com mínima rupturas na continuidade.
Fonte: Figura adaptada de LUPAS e GRUBER, 2005.
Por apresentarem um padrão regular de interação, coiled coils são apontados como
mediadores ideais de oligomerização para um grande número de proteínas tais como, fatores
de transcrição (zíperes de leucina), proteínas motoras (miosina e cinesina), receptores
(receptores de quimiocinas) e moléculas sinalizadoras (Proteínas G βγ) (LUPAS;GRUBER,
2005).
26
2 JUSTIFICATIVA
O complexo cristalizado por Sirajundin e colaboradores (2007), Fig. 5, causou uma
revolução na compreensão do heterocomplexo de septinas. Posteriormente, estruturas
cristalográficas das proteínas: SEPT2 (SIRAJUDDIN et al., 2007), SEPT3(MACEDO et al.,
2013), SEPT7(SERRÃO et al., 2011) expressas isoladamente, revelaram a formação de
filamentos similares aqueles descritos para a SEPT2/6/7 utilizando inclusive as mesmas
interfaces (Fig. 9).
Figura 9 - Comparação dos filamentos formados pela SEPT2/6/7 (topo), SEPT2G, SEPT7G e SEPT3.
As interfaces NC e G estão indicadas. Aquelas que não estão presentes no heterofilamento são
indicadas como promíscuas. No caso da SEPT3 não está claro quais interações seriam consideradas
normais ou promíscuas.
Fonte: Autoria Própria
Essa observação leva-nos ao conceito de associações promíscuas (não nativas) entre
septinas, em que a interação com ela mesma ocorre na ausência de um parceiro fisiológico
mais adequado. Também levanta a questão de como cada septina encontra espontaneamente
seu devido lugar em um heterofilamento quando estão sendo simultaneamente expressas em
27
condições fisiológicas. Devido à baixa resolução do heterotrímero (SEPT2/SEPT6/SEPT7)
(4Å) não se observou densidade eletrônica para a maior parte das cadeias laterais e seis loops.
Com isso, estudos em nível atômico das interações entre subunidades e os fatores que
controlam a montagem correta do heterofilamento é ainda algo a ser realizado.
Muitas são as lacunas existentes quando se trata de estruturas de septinas. A estrutura
do heterocomplexo SEPT2/6/7 (Fig. 9) embora tenha sido expresso com os domínios C-
terminais, os dados cristalográficos não apresentam densidade eletrônica para esse domínio,
provavelmente decorrente de uma região flexível de contato com o restante da proteína
(JOHN et al., 2007).
Sirajuddin e colaboradores (2007) sugeriram o C-terminal como dispensável para a
formação do heterofilamento. A ausência de informações estruturais faz com que sua função
permaneça obscura. Todavia, alguns estudos realizados com os coiled coils em outros
organismos e em humanos, comprova sua importância na interação entre alguns grupos de
septinas durante a formação do filamento.
Em 2007, John e colaboradores concluíram que as septinas de Caenorhabiditis elegans
UNC-59 e UNC-61, homólogas as SEPT6 e SEPT7 humanas, respectivamente, formam um
dímero que, por sua vez, se complexa como heterotetrâmero. A formação do heterodímero
requere a interação entre coiled coils paralelos da UNC-59 e UNC-61. Estes, saem
lateralmente numa direção aproximadamente perpendicular ao eixo longitudinal do complexo
(Fig. 10).
Figura 10 - Modelos propostos para o heterocomplexo formado pelas proteínas UNC-59 e UNC-61.
Fonte: Figura adapatada de JOHN et al., 2007.
Em concordância, o trabalho de Versele e colaboradores (2004) também sugere a
interação dos domínios C-terminais das proteínas Cdc3 e Cdc12 em S. cerevisea, homólogas a
UNC-59/UNC-61 e SEPT6/SEPT7, respectivamente, como importantes para a associação. No
28
complexo formado Cdc11- Cdc12- Cdc3- Cdc10- Cdc10- Cdc3- Cdc12- Cdc11 (BERTIN et
al., 2008), confirma-se que Cdc12 e Cdc3 associam-se por meio do seu C-terminal enquanto
que Cdc11 e Cdc12 associam-se independente desse domínio (Fig. 11).
Figura 11 – Modelo para a estrutura do heterocomplexo Cdc11/Cdc12/Cdc3/Cdc10. Observa-se que
os domínios C-terminais orientam-se perpendicularmente ao eixo do filamento.
Fonte: (BERTIN et al., 2008).
Ainda nesse sentido, Nagata e colaboradores (2004) mostraram que em mamíferos
SEPT6 e SEPT7 interagem entre si por meio da região em C-terminal. Apesar da ausência de
estrutura, as orientações das hélices finais do domínio GTPase sugerem que os domínios C-
terminais orientam-se lateralmente por um ângulo de cerca de noventa graus do
heterofilamento formando um coiled coil-heterodimérico paralelo, o que está em
conformidade com o tamanho da região predita a formar o coiled coil nos dois grupos.
Marques e colaboradores (2012) realizaram experimentos com os domínios C-
terminais da SEPT6 e SEPT7 no LBest (Laboratório de Biologia Estrutural) – IFSC (Instituto
de Física de São Carlos). Nesse trabalho, homodímeros (SEPT6C/SEPT6C;
SEPT7C/SEPT7C) e heterodímeros (SEPT6C/SEPT7C) foram estudados. Estudos de
desnaturação térmica por dicroísmo circular revelaram uma temperatura de desnaturação
térmica, Tm (do inglês, Melting temperature), significativamente maior para o heterodímero
comparado aos homodímeros, evidenciando sua maior estabilidade.
Experimentos de ressonância plasmônica de superfície (SPR) foram conduzidos pelo
pós-doutorando Dr. Napoleão Fonseca Valadares com o intuito de medir a afinidade entre os
domínios C-terminal da SEPT7C (grupo IV) e as septinas do grupo II (SEPT6C, SEPT8C,
SEPT10C e SEPT11C). Medidas foram realizadas com septinas de um mesmo grupo (por
29
exemplo: SEPT6C/SEPT8C) e entre grupos diferentes (por exemplo: SEPT6C/SEPT7C).
Esses dados não estão publicados, mas em concordância com as propostas de John e
colaboradores (2004), Nagata e colaboradores (2004) e Versele e Thorner (2004), sugerem
que os domínios C-terminais atuam estabelecendo interações que auxiliam na estabilização
e/ou determinação preferencial dos grupos na montagem dos filamentos de septinas.
Entretanto, os experimentos de SPR realizados depararam-se com a limitação técnica em
medir a constante de dissociação para homodímeros. Desse modo, fez-se necessária a
complementação das informações já previamente existentes buscando, principalmente,
quantificar a afinidade entre domínios C-terminais homotípicos das septinas do grupo II e IV.
30
3 OBJETIVO
O objetivo central deste projeto foi estudar a afinidade entre os domínios C-terminais
das septinas humanas dos grupos II e IV, analisando interações homo e heterotípicas para
avaliar a importância desse domínio na formação e estabilização do filamento.
Especificamente procurou-se avaliar o papel deste domínio na determinação da seletividade
da interface NC encontrada entre estes dois grupos de septinas no filamento fisiológico.
Objetivos específicos
Expressão e purificação das proteínas SEPT6C, SEPT7C, SEPT8C, SEPT10C e
SEPT11C.
Estudo da estrutura secundária e da estabilidade térmica de homo-heterodímeros por
espectropolarimetria de dicroísmo circular (CD).
Determinação do estado oligomérico das proteínas por ultracentrifugação analítica.
Medição das constantes de dissociação por espectropolarimetria de dicroísmo circular
e ultracentrifugação analítica.
Racionalizar os resultados, na medida do possível, à partir da análise das sequências
de aminoácidos dos coiled-coils envolvidos nas interações homo e heterotípicas
31
4 METODOLOGIA
4.1 Definição dos domínios C-terminais das septinas dos grupos II e IV
Os domínios C-terminais foram previamente definidos por Marques (2010) como as
regiões finais das septinas que não apresentam densidade eletrônica na estrutura do
heterotrímero (Fig. 5). A figura 12, apresenta a sequência primária para a SEPT6 e SEPT7, a
região sublinhada em vermelho (do resíduo 309 ao 429, Massa molecular = 15043 Da e 320-
439, Massa Molecular = 14973,1 Da, respectivamente) representa os resíduos pertencentes
aos domínios C-terminais deste trabalho.
Figura 12 – Estrutura primária da SEPT6C e SEPT7C presente no complexo 2/6/7. Os resíduos em
vermelho representam o domínio C-terminal.
SEPT6C
MAATDIARQVGEGCRTVPLAGHVGFDSLPDQLVNKSVSQGFCFNILCVGETGLGKSTLMDTL
FNTKFEGEPATHTQPGVQLQSNTYDLQESNVRLKLTIVSTVGFGDQINKEDSYKPIVEFIDAQF
EAYLQEELKIRRVLHTYHDSRIHVCLYFIAPTGHSLKSLDLVTMKKLDSKVNIIPIIAKADAISK
SELTKFKIKITSELVSNGVQIYQFPTDDESVAEINGTMNAHLPFAVIGSTEELKIGNKMMRARQ
YPWGTVQVENEAHCDFVKLREMLIRVNMEDLREQTHTRHYELYRRCKLEEMGFKDTDPDSK
PFSLQETYEAKRNEFLGELQKKEEEMRQMFVQRVKEKEAELKEAEKELHEKFDRLKKLHQD
EKKKLEDKKKSLDDEVNAFKQRK TAAELLQSQGSQAGGSQTLK RDKEKKN
SEPT7C
MSVSARSAAA EERSVNSSTM VAQQKNLEGYVGFANLPNQVYRKSVKRGFEFTLMVVGESG
LGKSTLINSLFLTDLYSPEYPGPSHRIKKTVQVEQSKVLIKEGGVQLLLTIVDTPGFGDAVDNS
NCWQPVIDYIDSKFEDYLNAESRVNRRQMPDNRVQCCLYFIAPSGHGLKPLDIEFMKRLHEK
VNII PLIAKADTLTPEECQQFKKQ IMKEIQEHKI KIYEFPETDDEEENKLVKKIKDRLPLAVVG
SNTIIEVNGK RVRGRQYPWG VAEVENGEHC DFTILRNMLI RTHMQDLKDVTNNVHYENYR
SRKLAAVTYNGVDNNKNKGQLTKSPLAQMEEERREHVAKMKKMEMEMEQVFEMKVKEKV
Q KLKDSEAELQRRHEQMKKNLEAQHKELEEKRRQFEDEKANWEAQQRILEQQNSSRTLEKN
KKKGKIF
Com base na sequência da SEPT6, foram definidos os resíduos correspondentes ao
domínio C-terminal para as demais proteínas do grupo II. O domínio C-terminal corresponde
aos resíduos: 311-431 para a SEPT8C (Massa molecular = 15256,1 Da), 333-456 para a
SEPT10C (Massa molecular = 15486,6 Da) e 308-431 para a SEPT11C (Massa molecular =
15450,4 Da). Devido aos trabalhos já previamente realizados com tais domínios no grupo,
todos eles estavam clonados em pET28a(+), plasmídeos disponíveis no banco do laboratório.
4.2 Expressão
32
Para as expressões e purificações dos domínios C-terminais das SEPT6 e SEPT7
(SEPT6-C e SEPT7-C) seguiu-se o protocolo estabelecido por Marques e colaboradores
(2012). As células de E. coli Rosetta (DE3) competentes foram transformadas com o vetor
pET28a(+) contendo o DNA de interesse. Alíquotas das amostras foram pré-inoculadas em 10
mL de meio LB seletivo contendo Canamicina (50 µg.mL-1
) e Cloranfenicol (34 µg.mL-1
),
por 16 horas à 37 °C. O pré-inóculo foi transferido para 1000mL de LB seletivo contendo os
antibióticos e incubado a 37 °C sob agitação até atingir DO600 = 0,7. Neste momento, a
temperatura do agitador foi reduzida para 20 °C e, após 20 minutos, o indutor IPTG foi
adicionado em concentração final de 200 µM. A incubação prosseguiu por 16 horas.
Para os domínios SEPT8C, SEPT10C e SEPT11C havia um protocolo de purificação
pré estabelecido pela técnica do laboratório, Susana Andréa Sculaccio. No decorrer das
purificações algumas modificações foram realizadas no protocolo inicial. Os domínios foram
também transformados em E. coli Rosetta (DE3) e inoculados seguindo o mesmo
procedimento descrito acima. Após o período de incubação, todas as amostras foram
centrifugadas por 40 minutos à 6000 g e 4°C. Em seguida, os pellets foram ressuspendidos em
20 mL do tampão que, para a SEPT6C e SEPT8C foi o tampão A (10mM de Hepes, 300mM
de NaCl e pH 7,5), SEPT7C o tampão B (Tris 20mM, NaCl 200mM e pH 7,5 ), SEPT10C
Tampão C (20mM KH2PO4, NaCl 1M e pH 7,5) e SEPT11C Tampão D (20mM Hepes, NaCl
150mM e pH 7,5).
O processo de lise se deu com pulsos de ultrassom (sonicação) para romper as células.
Essa etapa foi realizada em gelo com 16 ciclos de 30 segundos e intervalos de 59 segundos
entre os pulsos, potência de 40%. Após o processo de lise, a fração insolúvel foi então
separada da fração solúvel por centrifugação durante 30 minutos à 13000 rpm e 4 °C. A
fração solúvel foi armazenada para a próxima etapa da purificação.
4.3 Purificação
4.3.1 Purificação por cromatografia de afinidade
A técnica de cromatografia de afinidade baseia-se na afinidade de íons metálicos
imobilizados em uma matriz sólida por certos grupamentos expostos na superfície de uma
molécula ou em solução. A adsorção da proteína ao metal baseia-se no princípio de ácidos e
bases duros e moles HSAB (do inglês, Hard and Soft Acids and Bases) (TADEU et al., 2009).
33
Em princípio, qualquer íon metálico que apresente capacidade de interagir com
proteínas pode ser utilizado, todavia íons metálicos de transição (Cu2+
, Zn2+
,Ni2+
e Co2+
) são
os mais utilizados devido a sua classificação como ácidos intermediários. Esses íons se
coordenam com bases intermediárias, principalmente, átomos de nitrogênio aromático em
virtude da afinidade do íon metálico quelatado com certos grupos químicos presentes em
aminoácidos tais como imidazol da histidina, tiol da cisteína e indol do triptofano, os quais
doam elétrons para o íon metálico (TADEU et al., 2009).
A histidina é o aminoácido mais frequentemente utilizado para esse tipo de
cromatografia, devido ao seu caráter ligeiramente hidrofóbico, poucas são as proteínas que
naturalmente apresentam resíduos de histidina na superfície. Sendo assim, as proteínas são
geneticamente modificadas para conter caudas (tags), uma sequência de seis histidinas que
confere à proteína a possibilidade de interação multipontos com a resina e facilita a primeira
etapa de purificação por cromatografia de afinidade a um íon de metálico imobilizado. Os
resíduos de histidina da cadeia polipeptídica interagem reversivelmente com o íon metálico,
por exemplo, Co2+
imobilizado na coluna (Fig. 13) (BD BIOSCIENCES. 2003. Disponível em: <
http://wolfson.huji.ac.il/purification/PDF/Tag_Protein_Purification/Ni-
NTA/CLONTECH_TalonUserManual.pdf.>).
Figura 13 - Purificação por afinidade a metal imobilizado.
Fonte: Figura adaptada de BD Biosciences. 2003. Disponível em: <
http://wolfson.huji.ac.il/purification/PDF/Tag_Protein_Purification/Ni-
NTA/CLONTECH_TalonUserManual.pdf.>.
A eluição das proteínas ocorre com a adição de um agente competidor na fase móvel,
o imidazol. Ele atua competitivamente as histidinas no sítio de ligação e permanece adsorvido
na matriz enquanto a biomolécula é dessorvida para o meio (TADEU et al., 2009).
Todas as proteínas deste trabalho, após expressão apresentam na região amino
terminal uma sequência de seis histidinas. Para todas as purificações, a coluna foi empacotada
Proteína
34
com 3 mL de resina de cobalto (TALON® Metal Affinity Resin), em seguida lavada com água
milli-Q e equilibrada com o tampão adequado da purificação. O sobrenadante proveniente da
centrifugação do lisado descrito no item 4.1 foi então aplicado à coluna. As lavagens e
eluições com a utilização de imidazol foram efetuadas de acordo com a necessidade:
SEPT6C: a primeira lavagem (L1) foi realizada utilizando 30mL de tampão A e 10mM
de Imidazol. O complexo proteico foi eluído (E) em 30 mL de tampão A contendo
400mM de Imidazol. Neste caso não houve a necessidade de uma segunda lavagem.
SEPT7C: L1) 40mL de tampão B e 20mM de Imidazol; L2) 30 mL tampão A e 30mM
Imidazol; E) 40 mL de tampão B contendo 150mM de Imidazol.
SEPT8C: L1) 50mL de tampão A e 10mM de Imidazol; L2) 30 mL de tampão A e
30mM de Imidazol; E) 30mL de tampão A e 300mM de Imidazol.
SEPT10C: L1) 30mL de tampão C e 10mM de Imidazol; L2) 20 mL de tampão C e
30mM de Imidazol; E) 30 mL de tampão A e 150mM de Imidazol.
SEPT11C: L1) 30 mL de tampão D e 10mM de Imidazol; L2) 40 mL de tampão D e
30mM de Imidazol; E) 30 mL de tampão D e 150mM de Imidazol.
4.3.2 Cromatografia de troca iônica
Neste tipo de cromatografia, a separação baseia-se na interação das cargas superficiais
da proteína e dos trocadores iônicos da resina. Proteínas movem-se pela coluna em uma
velocidade determinada pela carga líquida no pH utilizado. A fase estacionária é o trocador
iônico constituído de partículas esféricas com grupos iônicos que são negativamente (troca
catiônica) ou positivamente (troca aniônica) carregados. Essa matriz é usualmente porosa para
gerar uma grande superfície de contato (NELSON;COX, 2002)
Primeiramente, a coluna é equilibrada com um tampão de baixa força iônica. A
amostra é então aplicada à coluna e proteínas de cargas opostas (determinada pelo seu pI e o
pH utilizado) se ligam à coluna enquanto que proteínas neutras ou com mesma carga eluem.
Com o aumento na força iônica do tampão (gradiente) as proteínas mais fortemente ligadas
também eluem (Fig. 14).
35
Figura 14 - Fases de uma cromatografia de troca catiônica. a) Na fase inicial, o trocador de prótons
(partícula negativamente carregada) é balanceado com íons do tampão inicial. b) A proteína é aplicada
à resina. c) proteínas positivamente carregadas se ligam fortemente enquanto que proteínas neutras ou
negativamente carregadas eluem. d) Um tampão de alta força iônica é aplicado. e) Proteínas com carga
positiva são eluídas.
Fonte: Autoria própria.
Para a SEPT7C, devido à presença de um contaminante após a etapa de cromatografia
por afinidade, utilizou-se a cromatografia de troca iônica (troca catiônica), realizada em um
sistema AKTA HPLC, em coluna Mono S HT (GE Healthcare). O tampão de equilíbrio para a
coluna de troca catiônica foi o mesmo utilizado na eluição da proteína, tampão B. O volume
de amostra aplicado na coluna foi de 10 mL, com fluxo de corrida de 2 mL/min. O tampão
utilizado para fazer a eluição foi 20 mM Tris e 1M de NaCl, pH 7,5.
4.3.3 Diálise e clivagem do His-tag
As proteínas deste estudo carregam na região amino-terminal um sítio de
reconhecimento para a trombina e uma cauda de seis histidinas. Juntos eles correspondem a
um acréscimo de 2,0 kDa na massa da proteína. A cauda pode ser removida pela digestão com
trombina. Ela atua reconhecendo a sequência L-V-P-R-G-S e realiza a clivagem da ligação
peptídica entre R-G (Fig. 15).
36
Figura 15 – Esquema ilustrativo da proteína contendo o His-tag e o sítio de reconhecimento e
clivagem da trombina.
Fonte: Autoria própria
Para as construções: SEPT6C, SEPT8C, SEPT10C e SEPT11C as amostras foram
dialisadas contra o tampão de lise para retirada do imidazol e adicionou-se trombina
(Amersham Biosciences, 27-0846-01) para a clivagem do His-tag. Foi utilizada uma
concentração de uma unidade de trombina por 160 µg de proteína. Como a SEPT7C troca o
tampão durante a cromatografia de troca catiônica, foi adicionada apenas a trombina para
clivagem da cauda. Para a clivagem e diálise (quando necessário) as amostras foram
incubadas por aproximadamente 16 horas. Em seguida, as amostras foram aplicadas em
coluna de afinidade ao cobalto novamente, para eliminar o His-tag.
Para a remoção da trombina, a amostra foi em seguida aplicada em coluna de
benzamidina sefarose (GE Healthcare). A benzamidina sefarose é uma matriz constituída por
uma p-aminobenzamidina (PAB) ligada covalentemente a Sefarose 6B. Trombina bovina liga-
se a essa resina e pode ser removida da solução facilmente.
4.3.4 Purificação por Cromatografia de Exclusão Molecular
A cromatografia por exclusão molecular, SEC (do inglês, Size Exclusion
Chromatography), baseia-se na separação de proteínas de acordo com sua forma e peso
molecular. A matriz da coluna é constituída por “beads” (partículas esféricas) de um polímero
que apresenta poros e cavidades de tamanho específico. Proteínas com massas moleculares
maiores migram mais rapidamente pela coluna, pois não conseguem penetrar nos poros dos
beads e passam na fase móvel entre eles, enquanto que moléculas com menores massas
moleculares entram nas cavidades e por isso tendem a eluir mais vagarosamente
(NELSON;COX, 2002).
Todas as proteínas foram submetidas à SEC como etapa final da purificação. As
amostras livres de imidazol e sem cauda de histidinas, foram aplicadas na coluna Superdex
37
75HR 10/300 (GE) acoplada ao sistema de cromatografia AKTA Explorer10 (GE)
previamente equilibrado com tampão 20 mM fosfato de sódio e 50 mM de NaCl. A
concentração de aplicação foi de aproximadamente 5,0 mg/mL em loop de 100 µL.
4.4 Ultracentrifugação analítica
Ultracentrifugação analítica (AUC) é uma técnica biofísica utilizada para estudos do
estado de oligomerização, parâmetros hidrodinâmicos e propriedades termodinâmicas de
proteínas. O equipamento consiste em uma centrifuga equipada com sistema óptico que
permite a observação da redistribuição das partículas em solução em tempo real (Fig. 16).
Figura 16 - Esquema da de um equipamento de ultracentrifugação analítica.
Fonte: Adaptado de Scott, Harding e Rowe (2005).
A técnica utiliza-se de dois métodos: Velocidade de Sedimentação (SV) que mede o
coeficiente de sedimentação, coeficiente de difusão, estado de agregação, forma e assimetria
da partícula e Sedimentação e Equilíbrio (SE) que gera informações de massa, densidade e
constante de associação (CANTOR;SCHIMMEL, 1980).
O processo de sedimentação acontece, pois ao submeter uma partícula à centrifugação
em velocidade angular constante, ω, ela tende a ir para o fundo do tubo com uma velocidade
υ:
Vbarρf)] / f
38
(1)
onde, Vbar é o volume parcial específico da partícula, ρf a densidade do solvente, r o raio, m a
massa da partícula e (f) o coeficiente de fricção que relaciona-se com o tamanho e forma da
partícula (BORGES;RAMOS, 2011).
Definindo m como uma razão da massa molar pelo número de Avogrado (M/Nav) e
rearranjando a equação 1 como uma função de υ, e r temos a equação de Svedberg:
(2)
O coeficiente de sedimentação, s, é a velocidade da partícula por unidade de
aceleração gravitacional e é dada em Svedberg (S). Portanto, s aumenta como uma função da
massa molecular, M, e é inversamente proporcional a f. Em outras palavras, um alto M
aumenta s embora um formato assimétrico diminua s (BORGES;RAMOS, 2011).
O processo de sedimentação é governado pela densidade e fricção da partícula. O
coeficiente de difusão (D), entretanto, está relacionado com a velocidade da partícula em
solução expressa como área versus tempo e depende do tamanho da partícula e das
propriedades friccionais. De acordo com Einstein, D está relacionado com a temperatura (T),
à constante dos gases (R), à constante de Boltzmann (kB) e é inversamente proporcional a f e
Nav, pela seguinte equação:
(3)
O coeficiente friccional, f, está relacionado com a viscosidade do solvente e o raio
hidrodinâmico, (tamanho da partícula com a camada de solvatação):
(4)
O raio hidrodinâmico, por sua vez está relacionado ao tamanho da partícula e seu
formato:
(5)
39
onde é o fator de Perrim, associado a simetria da molécula e R0 é o raio hidrodinâmico
considerando uma partícula esférica:
(6)
Desta forma, nota-se pela equação de Einstein (3), que partículas alongadas,
apresentam maior resistência a sedimentação devido a uma maior força de atrito na solução e
por isso apresentam um menor valor de D que partículas esféricas ou compactas (SHUCK,
2000).
A massa molecular da partícula pode ser estimada diretamente das medidas
experimentais de s e D pela combinação das equações de (2) e (3), gerando a equação de
Svedberg- Einstein:
(7)
Os processos que ocorrem durante um experimento de ultracentrifugação analítica
podem ser descritos pela equação de Lamm:
(8)
Esta equação descreve a evolução da distribuição de concentração, c(r,t), das espécies
com o coeficiente de sedimentação e de difusão D sob velocidade de rotação constante
(BORGES;RAMOS, 2011).
Os experimentos de AUC realizados neste trabalho, foram de velocidade e
sedimentação, que se baseia na medida em que a concentração de proteína varia em função
da distância radial em intervalos de tempos regulares (Fig. 17).
40
Figura 17 – Perfis de sedimentação em experimentos de SV-AUC
Fonte: Figura adaptada de Coriolis Pharma, 2015. Disponível em:<http://www.coriolis-
pharma.com/contract-analytical-services/analytical-ultracentrifugation-(sv-auc)/>.
O estudo da migração da partícula é realizado comparando com uma cela de referência
na qual se encontra somente o tampão. Com o auxílio de programas computacionais, como
SEDFIT (SCHUCK, 2000), ajustam-se os dados experimentais a equação de Lamm (equação
9) e é possível determinar o coeficiente de sedimentação, um importante parâmetro para
caracterização de mudanças no tamanho e formato de macromoléculas. Entretanto, s deve ser
corrigido à condição padrão, que são é em água à 20°C (s20,w) para evitar interferências da
viscosidade e densidade do solvente (BORGES; RAMOS, 2011).
Os experimentos foram realizados no LEC/LNBio, em colaboração com o Prof. Dr.
Júlio, utilizou-se uma ultracentrífuga analítica Optima XL-A (Beckman-Coulter, Palo Alto,
CA), equipada com sistema de detecção de absorbância no UV-visível. Para SEPT6C,
SEPT7C, SEPT8C, SEPT10C, SEPT6C/7C, SEPT8C/7C, SEPT10C/7C e SEPT11C/7C
analisaram-se as concentrações no intervalo de ~3,2-13,0 µM, sob velocidade de rotação de
40000 rpm à 20 °C e, para a SEPT11C foi analisado o intervalo de 3,2-19,6 µM, à 4 °C e
velocidade de rotação de 40000 rpm. Devido às baixas concentrações em análise, as amostras
foram monitoradas em comprimento de onda de 222 a 230 nm. O tampão utilizado em todos
os experimentos foi 20 mM de fosfato de sódio, 50 mM de NaCl e pH 7,5.
41
O volume parcial específico da proteína, a densidade e a viscosidade do solvente
foram calculados pelo programa SEDNTERP (LEBOWITZ; LEWIS; SCHUCK, 2002). Os
dados de velocidade de sedimentação foram tratados usando o programa SEDFIT (SCHUCK,
2000). Os coeficientes de sedimentação foram obtidos pelo modelo “Continuous c(S)
Distribution model” que calcula a distribuição do coeficiente de sedimentação das espécies
levando em conta seu coeficiente de difusão. Os dados tratados resultaram em curvas
gaussianas nas quais o ponto máximo definiu os valores de s (SCOTT; HARDING; ROWE,
2005).
Para a obtenção das curvas, a razão friccional (f/f0) ficou livre, ou seja, como
parâmetro de regularização do ajuste, e fixou-se o valor do volume parcial específico ( ),
característico de cada proteína. O grau de confiança utilizado nas análises foi de 0,90. Pela
análise foi determinado o coeficiente de sedimentação (s) e a massa molecular da proteína
(MM). A correção de s foi feita diretamente no SEDFIT (SCHUCK, 2000), onde o valor de s
foi transformado em s20,w. A geração dos gráficos c(s) foi feita com a utilização do programa
GUSSI. Com base nos gráficos foi possível determinar a porcentagem da área do pico
principal e seu aumento/diminuição com a variação na concentração. Posteriormente, s20,w
correspondente ao estado oligomérico predominante em solução foi plotado versus a
concentração proteica a fim de observar se na faixa de concentração analisada houve algum
evento associativo.
Para a determinação do estado oligomérico, os valores de s20,w e MM obtidos
experimentalmente foram comparados aos valores teóricos. O st20,w (coeficiente de
sedimentação teórico) para monômeros e dímeros foi calculado com a utilização das equações
(2), (4), (5) e (6) e dos parâmetros: η (determinados independentemente via
SEDNTERP (LEBOWITZ; LEWIS; SCHUCK, 2002) e f/f0 (obtido das análises das curvas
pelo programa SEDFIT (SCHUCK, 2000). Os dados experimentais (s20,w e MM) analisados
foram referentes às concentrações máximas em que a solução apresenta homogeneidade das
espécies em estudo: 1) 6,7 µM para os homodímeros: SEPT6C, SEPT7C, SEPT8C e
SEPT10C. 2) 16,2 µM para o homodímero da SEPT11C, devido ao seu comportamento
diferenciado analisou-se também a concentração mínima, 3,3 µM. 3) Para os heterodímeros:
SEPT6C/7C, SEPT8C/7C, SEPT10C/7C, e SEPT11C/7C pela ausência do dado a 6,7 µM
utilizou-se a concentração de 3,3 µM.
Para a SEPT11C, a presença de coeficientes de sedimentação característicos de
monômeros e dímeros permitiram a determinação da constante de dissociação aparente
42
(KdApp). Para o ajuste dos dados experimentais ao modelo, várias funções foram testadas,
entretanto, a que melhor se ajustou aos resultados foi a equação sigmoidal de Boltzmann (Eq.
9). A análise da curva foi feita assumindo que a proteína forma um homodímero e que a
associação/dissociação ocorre em um processo reversível entre dois estados, monômero (M) e
dímero (D) e ainda, que todas as alterações em s20,w se devem a variação no equilíbrio
monômero/dímero (LEBOWITZ; LEWIS; SCHUCK, 2002; SONTAG; STAFFORD;
CORREIA, 2004).
(9)
Em virtude do equilíbrio entre duas espécies em solução, o fator de Perrim, para
monômero e dímero é dificilmente detectável diretamente da análise. Como os experimentos
de SV para SEPT11C identificou s20,w característico das duas formas oligoméricas, foi
possível determinar f/f0 para elas utilizando a relação:
(10)
Sabendo-se que o valor de sesfera foi obtido pelo programa SEDNTERP (LEBOWITZ;
LEWIS; SCHUCK, 2002) para a proteína no estado monomérico e dimérico, e os valores s20,w
foram determinados experimentalmente. A razão deles gerou o f/f0 para as duas espécies em
estudo.
4.5 Espectropolarimetria de dicroísmo circular
A espectropolarimetria de dicroísmo circular, CD (do inglês, Circular Dichroism) é
uma técnica que se baseia na interação diferenciada de moléculas assimétricas com feixes de
luz circularmente polarizada. Na biologia estrutural é frequentemente utilizada para estimar o
conteúdo de estrutura secundária de proteínas em solução (CANTOR;SCHIMMEL,1980).
A luz plano polarizada pode ser vista como sendo constituída por dois componentes
plano polarizados de igual magnitude, para a esquerda (L) e para a direita (R) (Fig. 18 (I)). Ao
passar por uma solução, se uma das componentes é mais absorvida devido à presença de um
43
ou mais componente quirais, as duas componentes não mais apresentarão a mesma
intensidade resultando em um feixe de luz elipticamente polarizado (Fig. 18 (II)) (KELLY;
JESS; PRICE, 2005).
Figura 18 - Origem do efeito de dicroísmo circular. I) os dois componentes tem a mesma amplitude e
quando combinados geram uma luz plano polarizada. II) os componentes de magnitudes diferentes
resultam em uma luz elipticamente polarizada (linhas pontilhadas).
Fonte: KELLY; JESS; PRICE, 2005, 120
Os dados de CD são apresentados em termos de elipticidade molar por resíduo
[Ɵ]mrw, (deg.cm2.dmol
-1). Para realizar esse cálculo para proteínas considerou-se que a
unidade repetitiva é a ligação peptídica, que irá interagir principalmente com a luz polarizada.
O peso médio do resíduo (MRW) é calculado do MRW=M/(N-1), onde M é a massa
molecular da cadeia polipeptídica (Da), N é o número de aminoácidos na cadeia e o número
de ligações peptídicas é N-1 (KELLY;JESS;PRICE, 2005).
A elipticidade residual em um determinado comprimento de onda é dado por:
(11)
onde é a elipticidade (graus) no comprimento de onda , d é o comprimento da cela (cm) e
c a concentração da proteína (g.mL-1
).
Em proteínas, os cromóforos de interesse incluem ligação peptídica (absorção abaixo
de 240 nm), aminoácidos com cadeia lateral aromática (absorção entre 260 e 320 nm) e a
ligação dissulfeto (fraca banda de absorção em 260 nm).
O rearranjo espacial das ligações peptídicas gera a estrutura secundária (α-hélice,
folhas-β, voltas) que pode ser medida por CD pelo monitoramento da absorção abaixo de 240
44
nm. Duas bandas são particularmente características: a primeira corresponde à transição n→π*
centrada em 220 nm e a segunda à transição π →π* centrada em 190 nm. Os sinais de CD
aumentam (assumem valores mais negativos) onde ocorre absorção da radiação e, portanto a
banda espectral é facilmente atribuída a características estruturais distintas da molécula
(KELLY;JESS;PRICE, 2005). A Fig. 19 apresenta os espectros representativos para as
principais classes de estrutura secundária.
Figura 19 - Espectro associado com vários tipos de estrutura secundária. Linha sólida, α-hélice;
tracejados longos, folhas-β antiparalelas; linhas pontilhadas, volta β; linha com traços horizontais e
verticais, hélice 310; tracejados curtos, estrutura irregular.
Fonte: KELLY;JESS;PRICE, 2005
Em colaboração com o Prof. Dr. Júlio César Borges, as medidas de CD foram
realizadas em um espectropolarímetro J-815 (Jasco, Gross-Umstadt, Alemanha) instalado na
Central de Análises Químicas Instrumentais (CAQI) do Instituto de Química de São Carlos. O
tampão utilizado nas análises foi 20 mM de fosfato de sódio, 50 mM de NaCl e pH 7,5.
Foram utilizadas cubetas de quartzo (Hellma, Mulleheim, Alemanha) com passos óticos de
0,1-1,00 cm. Todos os experimentos foram feitos em triplicata. As amostras estudadas foram
dialisadas por 24 horas contra o tampão de análise, neste período foram feitas três trocas a
cada oito horas, sendo que a última fração de tampão foi reservada para ser utilizada como
referência nos experimentos.
45
4.5.1 Estudos de Homo/Heterodímeros
Para estudos de estabilidade entre homo e heterodímeros foram realizados
experimentos de desnaturação térmica, monitorando o comprimento de onda de 222 nm
(característico de estruturas em α-hélices). Sabe-se que as proteínas apresentam uma estrutura
tridimensional que depende das contribuições entálpicas e entrópicas tanto da cadeia
polipeptídica quando do solvente. Sua desnaturação implica na reorganização de sua estrutura
secundária, terciária e quaternária e a perturbação das forças envolvidas com a formação
dessas estruturas (VOET, 2006). Assim, o objetivo foi monitorar a termoestabilidade do
coiled coil pela medida da temperatura de desnaturação térmica, correspondente à metade da
transição, Tm (do inglês, Melting Temperature), para verificar possíveis interações
preferenciais.
Para tal, as amostras foram aquecidas de 4 a 80 °C, à taxa constante de 1 °C/min.
Nesse experimento, utilizaram-se concentrações que apresentassem alto grau de pureza e
estivessem no estado dimérico. Os valores foram selecionados a partir do tratamento dos
dados de AUC. Com exceção dos homo e heterodímeros envolvendo a SEPT11C que utilizou
a concentração de 13,4 µM (máxima permitida para a técnica), para as demais combinações
homo/heterotípicas a concentração foi de 6,7 µM. Foram estudados homo-coiled coil, hetero-
coiled coil canônicos (formados entre proteínas do Grupo II e IV, por exemplo: SEPT6C/7C)
e não canônicos (formados entre proteínas do grupo II, por exemplo: SEPT6C/8C). Todos os
heterodímeros foram produzidos a partir da mistura equimolar das proteínas constituintes.
Para determinar a Tm, foi plotada a variação do sinal de CD (ΔCD) à 222 nm no eixo
das ordenadas, e a variação de temperatura no eixo das abcissas, as curvas foram ajustadas à
equação sigmoidal de Boltzmann (descrita no item 4.4).
O calculo da ΔCD foi feito do seguinte modo:
Δ
(12)
onde, é a elipticidade observada a uma dada temperatura, ã as elipticidades da
amostra no estado inicial (nativo) e final (desnaturado).
Além da Tm, foi estuda a [Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm. É sabido que a redução na
intensidade da banda à 208 nm quando comparada a banda à 222 nm, é um fator indicativo de
formação de coiled coil. Razões de 1.0 ou mais são atribuídas a estruturas em coiled-coil
46
totalmente enovelados e razões de 0.85 como de estruturas simples de α-hélice, buscou-se
identificar se nas concentrações mínimas e máximas haveria alteração do equilíbrio α-hélice
coiled coil e, portanto variação na razão da elipticidade à 222 nm e à 208 nm (ZHOU;
KAY; HODGESS, 1992; COOPER;WOODY, 1990).
Para isso, a foi monitorada no comprimento de onda (λ) de 208 nm e 222 nm,
ambos foram analisados por 15 minutos, com tempo de resposta 2s, largura da banda espectral
1 nm e temperatura de 4 °C para o homodímero da SEPT11C (devido a sua instabilidade
térmica (Tm=22,8 °C)), e 20 °C para as demais proteínas. As concentrações máximas
estudadas foram as mesmas do experimento anterior e as mínimas foram de 0,6 µM,
determinadas pelo sinal mínimo obtido em CD para as proteínas.
4.5.2 Caracterização biofísica e estudo da interação homodimérica
Experimentos de desnaturação e posterior renaturação térmica foram conduzidos para
as proteínas SEPT6C, 7C, 8C, 10C em concentração de 6,6 µM e para a SEPT11C à 13,4 µM.
Variou-se a temperatura de 4-80 °C, sob velocidade de 1 °C/min e data pitch de 2,0 °C.
Para a análise da estrutura secundária varreu-se a região espectral entre 200-260 nm
para as concentrações de 0,6 e 6,7 µM, à velocidade de 50 nm/min, tempo de resposta 32 s,
largura espectral de 1 nm e temperatura de 20 °C para todas as proteínas, com exceção da
SEPT11C que foi usada temperatura de 4 °C e concentração de 0,6 e 13,4 µM. Em todas as
medidas, foram feitas 32 cumulativas.
A fim de determinar a constante de dissociação relacionada ao equilíbrio
monômero/dímero foram conduzidos três experimentos, cada um deles observou um
parâmetro específico relacionado ao processo de monomerização/dimerização. No primeiro
experimento, foi monitorada a elipticidade à 222 nm como fator indicativo da associação
entre α-hélices, que ocorre pelo aumento no teor helicoidal da estrutura supersecundária. O
segundo experimento monitorou tanto a elipticidade à 222 nm quanto à 208 nm para estudar a
variação em [Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm. Nos dois casos, os λ foram analisados por 15 minutos,
com tempo de resposta 2s, largura espectral 1 nm e as mesmas condições de temperatura do
experimento anterior. As concentrações estudadas foram o intervalo 0,61-6,7 µM para
SEPT6C/7C/8C e 10C e 0,6-13,4 µM para SEPT11C. O terceiro experimento teve como
intuito verificar como a Tm poderia ser alterada tendo em vista que, de modo geral, o
1 Algumas proteínas (SEPT6C, SEPT7C) apresentaram sinal de CD em concentrações inferiores, SEPT6C: 0,32
µM e SEPT7C: 0,20 µM, e estas foram utilizadas para essas duas análises.
47
processo de dimerização envolve a formação de interações entre as subunidades, além das
previamente existentes no monômero, contribuindo energeticamente para uma maior
estabilidade térmica do dímero. Para tal, as amostras foram aquecidas de 4 a 80 °C, à taxa
constante de 1 °C/mim, no intervalo de concentração: SEPT6C/7C/8C e 10C: 0,6-6,7 µM e
SEPT11C: 0,6-13,4 µM
Gráficos de [c]versus[Ɵ]mrw,222 nm, [c]versus[Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm, [c]versusTm,
foram construídos para a determinação da constante aparente de dissociação (Kdapp) de
homodímeros. O ajuste foi realizado pela equação de Boltzmann como descrito no item 4.4.
4.6 Equilíbrio monômero/dímero
Uma das características de reações de associação/dissociação é a dependência da
posição de equilíbrio na concentração total de subunidades envolvidas. Considerando um
equilíbrio monômero/dímero:
2M↔D
(13)
Em condições de equilíbrio:
(14)
onde KA é a constante de associação, M e D são as concentrações de monômero e dímero
(mol/L). Se M0 é concentração molar total das subunidades no sistema (independentemente se
estão presentes como monômeros ou dímeros), tem-se que:
M0= [M] + 2[D]
(15)
Substituindo a eq. (15) em (14) obtém-se a equação como uma estimativa da fração
livre de monômero (VAN HOLDE; JOHNSON; HO, 2006):
(16)
48
Considerando as constantes de dissociação obtidas experimentalmente para
homodímeros, utilizou-se a eq. (16) para calcular a fração de monômeros e dímeros em
solução. Foi construído um gráfico desses valores em função das concentrações estudadas.
4.7 Técnicas de bioinformática
4.7.1 Determinação da região em coiled coil da sequência
As sequências dos domínios C-terminal das proteínas foram analisadas utilizando o
programa COILS (LUPAS; VAN DYKE;STOCK, 1991), que utiliza uma matriz de
frequências de ocorrência dos 20 aminoácidos nas sete posições (a, b, c, d, e, f e g) do coiled
coil para calcular a probabilidade de uma determinada sequência adotar uma conformação em
coiled coil (LUPAS; VAN DYKE; STOCK, 1991). As análises foram feitas com janelas
deslizantes de 28 aminoácidos.
A identificação da fase e eventuais falhas como stammers, stutters e skips foram
também realizadas com a utilização do programa, todavia, é sabido que programas de
predição de fase de coiled coils tendem a maximizar a ocorrência de resíduos apolares nas
posições a e d, colocando resíduos inapropriados em outras posições, por isso utilizou-se de
inspeção visual para determinação da fase e das falhas encontradas nas sequências (BROWN;
COHEN;PARRY, 1996). Para isso, foi utilizada a tabela de frequência de ocorrência de cada
aminoácido nas sete possíveis posições desenvolvida por Lupas, Dyke e Stock (1991),
baseado nas sequências de domínios coiled coil de tropomiosinas, miosinas, e queratinas
depositadas no GenBank (Tab. 3).
49
Tabela 3 – Frequência de ocupação relativa dos resíduos nas sete possíveis posições no coiled coil.
Resíduo Frenquência
no Genbank
(%)
a b c d e f g
Leu 9.33 3.167 0.297 0.398 3.902 0.585 0.501 0.483
Ile 5.35 2.597 0.098 0.345 0.894 0.514 0.471 0.431
Val 6.42 1.665 0.403 0.386 0.949 0.211 0.342 0.360
Met 2.34 2.240 0.370 0.480 1.409 0.541 0.772 0.663
Phe 3.88 0.531 0.076 0.403 0.662 0.189 0.106 0.013
Tyr 3.16 1.417 0.090 0.122 1.659 0.190 0.130 0.155
Gly 7.10 0.045 0.275 0.578 0.216 0.211 0.426 0.156
Ala 7.59 1.297 1.551 1.084 2.612 0.377 1.248 0.877
Lys 5.72 1.375 2.639 1.763 0.191 1.815 1.961 2.795
Arg 5.39 0.659 1.163 1.210 0.031 1.358 1.937 1.798
His 2.25 0.347 0.275 0.679 0.395 0.294 0.579 0.213
Glu 6.10 0.262 3.496 3.108 0.998 5.685 2.494 3.048
Asp 5.03 0.030 2.352 2.268 0.237 0.663 1.620 1.448
Gln 4.27 0.179 2.114 1.778 0.631 2.550 1.578 2.526
Asn 4.25 0.835 1.475 1.534 0.039 1.722 2.456 2.280
Ser 7.28 0.382 0.583 1.052 0.419 0.525 0.916 0.628
Thr 5.97 0.169 0.702 0.955 0.654 0.791 0.843 0.647
Cys 1.86 0.824 0.022 0.308 0.152 0.180 0.156 0.044
Trp 1.41 0.240 0 0 0.456 0.019 0 0
Pro 5.28 0 0.008 0 0.013 0 0 0
Fonte: LUPAS;DYKE; STOCKE, 1991.
4.7.2 Modelagem por homologia
Estudos de estruturas de proteínas em nível atômico molecular se mostram cada vez
mais relevantes. A elucidação da estrutura permite uma melhor compreensão do seu
funcionamento. Para a resolução tridimensional de estruturas proteicas, técnicas de
cristalografia de proteínas e ressonância magnética nuclear são amplamente empregadas,
porém limitações técnicas, como alta concentração proteica e dificuldade na obtenção de
cristais, limitam esse tipo de análise. Nesse contexto, métodos computacionais têm sido
desenvolvidos para a predição da estrutura.
50
Evolutivamente proteínas homólogas, que partem de um ancestral comum, são
estruturalmente conservadas pela necessidade de desempenho de uma função específica.
Assim, a similaridade estrutural é, normalmente, mais preservada que a similaridade
sequencial (HÖLTJE et al., 2003), sabe-se que nos últimos anos menos de 15% das estruturas
depositadas no Protein Data Bank (PDB) apresentaram um enovelamento inédito
(KACZANOWSKI; ZIELENKIEWICZ, 2010). Assim, uma estratégia para determinação de
proteínas é comparar a similaridade das sequências primárias com as de proteínas
homólogas/similares que possuem estruturas resolvidas e depositadas no PDB, essa técnica é
conhecida como modelagem por homologia estrutural. A qualidade de modelos gerados
dependerá do grau de similaridade da proteína com estrutura resolvida e da proteína que se
deseja modelar. O mínimo aceitável para valores de identidade entre sequências de
aminoácidos para essa análise é por volta de 30% (VITKUP et al., 2001; SALI, 1998)
A seleção das estruturas moldes foi feita utilizando o PDB. Inspecionou-se
visualmente as estruturas proteicas depositadas de coiled coils paralelos, observou-se o
número de resíduos, identidade de resíduos e a presença de falhas similares às encontradas nas
sequências em estudo. Devido à dificuldade na predição das falhas e da continuidade do
coiled coil, as proteínas foram dividas em dois pedaços para modelagem. O primeiro, do
resíduo 24 ao 51, teve como modelo a estrutura tridimensional da miosina II, depositada no
PDB com o código 2FXO e o segundo, do resíduo 52 ao 108 utilizou como modelo a estrutura
da vimentina humana (1GK4) que contém, assim como as sequências analisadas, um stutter.
As características das estruturas cristalográficas estão contidas na tabela 4.
Tabela 4 – Dados cristalográficos das estruturas utilizadas como modelo.
PDB Resolução (Å) R-value R-free
1Gk4 2,30 0,242 0,262
2FXO 2,50 0,277 0,349
As modelagens foram conduzidas para uma representante do grupo II - a SEPT6C, por
ser mais amplamente caracterizada e estudada, e para a SEPT7C, única representante do
grupo IV. Foram modelados tanto os homodímeros quanto o heterodímero.
Os alinhamentos sequenciais foram obtidos com o programa ClustalX (LARKIN et al.,
2007). Para a modelagem, foram introduzidos “GAPs” nas regiões a fim de respeitar a fase do
coiled coil nas sequências. Utilizando as coordenadas das estruturas encontradas no PDB
51
empregou-se a versão 9.14 do programa Modeller (SALI; BLUNDELL, 1993). Foram
gerados 100 modelos das estruturas tridimensionais. Os modelos foram selecionados com
base nos menores valores de Energia Proteica Otimizada Discreta (DOPE, do inglês, Discret
Optmized Protein Energy), um parâmetro quantitativo que indica o potencial estatístico da
energia de cada modelo gerado (SHEN; SALI, 2006). A validação dos modelos construídos
foi realizada pelos servidores Procheck (LAKOWSKI; MACATHUR; THORTON, 1993) e
ProSa (WIEDERSTEIN; SIPPL, 2007). A carga líquida da proteína foi realizada com a
utilização do Propka que prediz os pKa dos grupos ionizáveis baseado na estrutura
tridimensional da proteína (LI; ROBERTSON; JENSEN, 2005). As estruturas exibindo o
potencial eletrostático foram obtidas com a utilização do aplicativo ABPS (do inglês,
Adaptive Poisson-Boltzmann Solver).
4.7.3 Análise das sequencias e possíveis interações
A análise das sequências primárias dos coiled coils buscou identificar possíveis
interações responsáveis pela predileção na associação heterodimérica. A literatura foi varrida
a fim de encontrar quais posições (a, b, c, d, e, f e g) poderiam contribuir para a especificidade
na associação. As posições e e g foram estudadas por serem convencionalmente
caracterizadas como responsáveis pela estabilidade e preferência de interação entre
sequências para a formação de coiled coils (LAVIGNE et al., 1995). As posições a foram
investigadas em virtude do grande número de resíduos carregados observados durante a
análise da sequência primária, o que é inusitado, visto que essa posição é tipicamente ocupada
por resíduos hidrofóbicos. A posição d também foi estudada para observar a presença de
resíduos carregados.
Foi construída uma tabela quantificando os contatos entre os resíduos e e g, a e a e
também d e d em homo e heterodímeros com o propósito de investigar uma possível
predileção. Foram considerados para a análise somente resíduos carregados (D, E, K e R),
designou-se como interação favorável as formadas entre aminoácidos de cargas opostas e
como interação desfavorável a formada entre aminoácidos de mesma carga.
Outra interação estudada foi a da posição a de uma cadeia com g imediatamente
anterior da outra. Para essa análise considerou-se, além dos resíduos carregados K, R, D e E,
os resíduos polares Q, N. Assim como descrito anteriormente, foi construída uma tabela para
identificar as possíveis predileções. Aqui, foram definidos quatro tipos de interações: 1)
52
Muito favoráveis: contatos eletrostáticos (pontes salinas), formada entre resíduos carregados
de cargas opostas. 2) Favoráveis: Ligações de hidrogênio com/entre resíduos polares. 3)
Neutras: com/entre resíduos hidrofóbicos. 4) Desfavoráveis: entre resíduos com mesma carga.
53
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Expressão e Purificação
Os clones pET28-SEPT6C, pET28-SEPT7C, pET28-SEPT8C, pET28-SEPT10C e
pET28-SEPT11C foram transformados em células competentes de E. coli Rosetta (DE3), a
fim de expressar as proteínas recombinantes. A expressão foi realizada a 20 °C por
aproximadamente 16 horas após adição de IPTG. Posteriormente, as células foram
centrifugadas, ressuspendidas em seu respectivo tampão, lisadas e centrifugadas novamente,
como descrito na seção 4.2. O sobrenadante, contendo as proteínas recombinantes obtidas, foi
aplicado em coluna de afinidade contendo cobalto imobilizado para a primeira etapa de
purificação, já que as proteínas foram produzidas contendo um hexapeptídeo de histidina na
porção N-terminal. As lavagens e eluições das proteínas ocorreram com a adição de imidazol
em quantidade específicas para cada proteína (Descrito na seção 4.3.1).
Como previamente descrito (seção 4.3.2) foi realizada cromatografia de troca catiônica
para a SEPT7C seguindo o protocolo estabelecido por Marques (2012) (Fig. 20).
Figura 20 – Cromatografia de troca catiônica para a SEPT7C.
Com exceção da SEPT7C, que trocou o tampão durante a cromatografia de troca
catiônica, as demais proteínas foram dialisadas contra o tampão de lise (para a retirada do
imidazol). Em todas as proteínas adicionou-se trombina (Amersham Biosciences, 27-0846-
54
01) para a clivagem da cauda. Posteriormente, as amostras foram aplicadas na coluna de
afinidade de cobalto, seguida por aplicação em coluna de benzamidina sefarose (GE
Healthcare) para eliminar o His-tag e a trombina, respectivamente.
As proteínas após diálise e clivagem da cauda de histidinas, foram aplicadas em
coluna Superdex 75HR 10/300 (GE) para cromatografia de exclusão por tamanho (descrito na
seção 4.3.4). Essa etapa foi realizada para garantir a pureza da amostra para as próximas
análises. Os cromatogramas são mostrados na Fig. 21. Nota-se um pico evidente em um
volume de aproximadamente 10 mL, que foi coletado para as análises posteriores.
Figura 21 – Cromatogramas gerados por cromatografia de exclusão.
O géis de SDS-PAGE 18% (Fig. 22) mostram as etapas da purificação de cada uma
das cinco proteínas, sua análise revela que as proteínas foram obtidas com alto grau de pureza
e massa molecular próxima a esperada, aproximadamente 15 kDa para todas as proteínas.
Para a SEPT6C/8C/10C/11C o rendimento foi de 10-15 mg de proteína por litro de cultura, já
para a SEPT7C, o rendimento foi inferior, cerca de 0,5-1,0 mg por litro de cultura.
55
Figura 22 - Análise em géis SDS/Page (15%). A) SEPT6C: 1) Marcador de Massa Molecular. 2)
Sobrenadante após expressão. 3) Proteína não ligada a coluna de afinidade. 4) Lavagem 30mM de
Imidazol. 5) Eluição 400mM de Imidazol. 6) Eluição Superdex 75 após clivagem. B) SEPT7C: 1)
Marcador. 2) Sobrenadante após expressão. 3) Proteína não ligada a coluna de afinidade. 4)
LavagemII: 30mM de Imidazol. 5) Eluição com 150mM de Imidazol. 6) Eluição Mono S. 7) Eluição
Superdex 75 após clivagem. C) SEPT8C: 1) Marcador 2) Sobrenadante após expressão 3) Proteína
Não ligada. 4) Lavagem I: 10mM de Imidazol. 5) LavagemII: 30mM de Imidazol. 6) Eluição 300mM
de Imidazol. 7) Eluição Superdex 75 após clivagem. D) SEPT10C: 1) Marcador. 2) Sobrenadante após
expressão. 3) Proteína não ligada. 4) Lavagem I: 10mM de Imidazol. 5) Lavagem II: 30mM de
Imidazol 6) Eluição com 150mM Imidazol. 7) Eluição Superdex 75 após clivagem.E) SEPT11C: 1)
Marcador. 2) Sobrenadante após expressão. 3) Proteína não ligada. 4) Lavagem II:30mM Imidazol. 5)
Eluição com 150mM Imidazol. 6) Eluição Superdex 75 após clivagem.
5.2 Estudos de homo/heterodímeros por ultracentrifugação analítica
56
Para análise do estado oligomérico das proteínas em solução, realizaram-se
experimentos de AUC como descrito na seção 4.4. Os dados de velocidade de sedimentação
foram analisados usando os modelos de distribuição do coeficiente de sedimentação, c(s),
contido no programa SEDFIT (SCHUCK, 2000). Foram obtidos os coeficientes de
sedimentação (s) para as diferentes concentrações de proteínas (Fig. 23).
Figura 23 – Distribuição dos coeficientes de sedimentação, c(s), em função da variação da
concentração proteica para homo/heterodímeros. É mostrado um zoom na região de 4 a 10 S ou 2 a 10
S, dependendo do s das espécies oligoméricas presentes.
continua
57
Os gráficos da figura 23 mostram a presença de um único pico pronunciado para cada
concentração analisada, evidenciando a predominância de uma única espécie em solução. É
possível notar no inserto dado nas análises que existem picos característicos de oligômeros de
alta massa molecular. Pela análise gerada pelo programa SEDFIT (SCHUCK, 2000) foi
conclusão
58
possível determinar a área (em %) correspondente à fração de proteínas existente no pico
principal e como ela varia em função da concentração proteica (tabela 5 e 6).
Tabela 5 – Tabela correlacionando a proteína, a concentração e a porcentagem da espécie em solução
no pico principal.
Proteína Concentrações
3,3 µM 6,7 µM 10,0 µM 13,4 µM
SEPT6C 91,0% 93,4% 85,6% 69,9%
SEPT7C 95,6% 93,7% 92,0% 83,5%
SEPT8C 90,0% 91,2% 75,0% 53,7%
SEPT10C 95,8% 95,3% 87,2% 78,5%
SEPT6C/7C 93,5% - 83,4% 76,3%
SEPT8C/7C 90,3% - 80,0% 79,8%
SEPT10C/7C 95,5% - 93,8% 84,2%
SEPT11C/7C 97,3% - 95,1% 89,0%
Tabela 6 – Variação da porcentagem de espécie do pico principal em função da concentração para a
SEPT11C.
Concentração (µM) Espécies no pico principal (%)
3,2 97,9
4,8 95,5
6,5 97,1
8,1 95,0
9,7 95,9
12,9 93,8
16,2 91,4
19,4 88,5
Tendo por base as análises e tabelas 5 e 6, nota-se que em concentrações mais
elevadas (acima de 6,7 µM) as proteínas tendem a diminuir a porcentagem referente à espécie
principal, havendo formação de oligômeros de alta massa molecular. Para a SEPT11C a
solução apresenta grau de pureza superior a 90 % até a concentração de aproximadamente
16,2 µM. Com bases nesses dados, definiu-se para as análises posteriores a concentração de
6,7 µM e 16,2 µM (para a SEPT11C) como a máxima concentração de trabalho.
59
Considerando-se que nos limites máximos aqui definidos há basicamente uma única
espécie em solução, relacionada ao pico principal, tomou-se essa espécie para análise de seu
estado oligomérico. Primeiramente, os valores do coeficiente de sedimentação foram
corrigidos (s20,w) para solvente água à temperatura de 20°C, pelo programa SEDFIT
(SCHUCK, 2000), em seguida s20,w foi analisado em função das concentrações totais de cada
proteína (Fig. 24).
Figura 24 – Coeficientes de sedimentação em função da variação na concentração total de proteínas.
É possível notar que para SEPT6C, SEPT7C, SEPT8C, SEPT10C, SEPT6C/7C,
SEPT8C/7C, SEPT10C/7C e SEPT11C/7C, as curvas apresentam leve inclinação positiva
sugerindo a existência de um processo associativo com formação de espécies que apresentam
maior valor de s20,w (BORGES; RAMOS, 2011). Já para a SEPT11C, houve um significativo
incremento, que sugere a existência de um equilíbrio entre duas espécies oligoméricas, uma
com maior e outra com menor valor de coeficiente de sedimentação.
Além de s e s20,w, obteve-se a partir do tratamento dos dados a MM da proteína. Para
fins de comparação e julgamento do estado oligomérico da espécie, foi determinada a MM
teórica para o dímero e o st20,w para monômeros e dímeros, como descrito no item 4.4. Na
tabela 7, pode-se observar para todas as proteínas estudadas por SV-AUC os valores obtidos
de MM, s20,w e f/f0. Para essa análise considerou-se os valores experimentalmente obtidos para
a concentração de 6,7 µM, definida como a concentração máxima de trabalho em que a
solução encontra-se com baixa concentração de outras espécies. Devido à ausência desses
valores para os heterodímeros (SEPT6C/7C; SEPT7C/8C; SEPT7C/10C e SEPT7C/11C)
60
analisou-se os valores correspondentes à concentração de 3,3 µM. Para a SEPT11C, em
virtude da grande variação no coeficiente de sedimentação analisou-se os valores
experimentais para 3,4 µM e 16,2 µM.
Tabela 7 – Parâmetros hidrodinâmicos, 20,w em (S), MM em (kDa) e f/f0 obtidos a partir da análise de
dados de SV e valores teoricamente obtidos para MM do dímero em (kDa) e st20,w para monômeros e
dímeros em (S).
Proteína f/f0I
MM (D)II MM
III st20,w (M)
IV st20,w (D)
IV 20,w
V
SEPT6Ca 1,7 30,08 28 1,3 2,0 1,9
SEPT7Ca 1,8 29,92 27 1,2 1,9 1,7
SEPT8Ca 1,8 30,50 26 1,3 2,0 1,8
SEPT10Ca 1,8 30,96 27 1,2 1,9 1,8
SEPT11Cb 1,8 30,88 25 1,3 2,0 1,7
SEPT11Cc 1,7 30,88 17 1,2 1,9 1,4
SEPT6C/7Cc 1,8 30,00 26 1,2 1,9 1,8
SEPT8C/7Cc 1,9 30,20 31 1,2 1,9 1,8
SEPT10C/7Cc 1,8 30,44 30 1,2 1,9 1,9
SEPT11C/7Cc 1,7 30,40 26 1,3 2,0 1,9
ª Concentração de 6,7 µM; b Concentração de 16,2 µM;
c Concentração de 3,3 µM;
If/f0: Coeficiente de Perrim calculado por SEDIFT.
IIMM (D): Massa molecular teórica do dímero calculada por SEDNTERP (LEBOWITZ; LEWIS;
SCHUCK, 2002), em kDa.
III MM: Massa molecular calculadas por SEDFIT (SCHUCK, 2000), em kDa.
IVst20,w (M); st20,w (D) : Coeficiente de sedimentação do monômero/dímero calculados teoricamente
como descrito na seção 4.4, em (S)
V 20,w: Coeficiente de sedimentação experimentalmente determinado na concentração em estudo, em
(S).
A comparação dos valores teóricos com os obtidos experimentalmente para s20,w e
MM indicam que nas concentrações estudadas, com exceção da SEPT11C, as soluções
apresentam proteínas predominantemente diméricas. Os valores dos coeficientes de Perrim
obtidos, aproximadamente 1,8, mostra a existência de proteínas alongadas, o que é razoável
para estruturas em coiled coils.
61
A análise da SEPT11C mostra que em concentração de 3,3 µM e 16,2 µM os valores
obtidos experimentalmente são condizentes com a presença de monômero (15441,45Da;
St20,w=1,2) e dímero (30882,9 Da; St20,w=2,0), respectivamente. Pelos dados experimentais,
para a SEPT11C s20,w variou de 1,4 a 1,7, um zoom na análise do c(s) mostra claramente a
presença de duas populações distintas, uma de maior e outra de menor massa molecular (Fig.
25).
Figura 25 – Distribuição dos coeficientes de sedimentação, c(s), em função da variação da
concentração de SEPT11C.
A presença dessas duas espécies mostra que o intervalo de concentração analisado
corresponde à região de equilíbrio monômero/dímero. É interessante observar que, embora
haja duas formas oligoméricas distintas em solução, nota-se a presença de um único pico; isso
acontece em função da existência de equilíbrio dinâmico e rápido entre as espécies comparado
ao tempo da medida, que origina um coeficiente de sedimentação médio, proveniente dos
valores de s20,w para as duas formas oligoméricas. (HOWLETT; MINTON; RIVAS, 2006).
Visto a existência de um sistema autossociativo, uma estratégia para sua análise foi a
determinação do coeficiente de sedimentação como uma função da concentração. Aplicou-se
uma velocidade angular elevada no experimento de SV-AUC, fazendo com que s20,w se
tornasse uma função da composição química e os dados pudessem ser analisados pelo ajuste
62
por meio da equação de Boltzmann (LEBOWITZ; LEWIS; SCHUCK, 2002; SONTAG;
STAFFORD; CORREIA, 2004), como descrito no item 4.4 (Fig. 26).
Figura 26- Determinação da constante de dissociação aparente para o homodímero da SEPT11C com
base nos valores de s20,w em (S) função da concentração em (µM).
A constante de dissociação encontrada para a transição M↔D da SEPT11C foi de
7,2 0,8 µM. Observa-se pelo gráfico que embora a variação no coeficiente de sedimentação
em função da concentração exiba uma curva com perfil de transição entre dois estados, s20,w
assume valores próximos tanto para monômeros quanto para dímeros, apesar de haver,
teoricamente, um incremento de duas vezes na massa molecular. Essa observação pode ser
entendida visto que o aumento na concentração das proteínas em solução impõe uma restrição
física ao processo de sedimentação, esse efeito não é corrigido pela análise, e causa redução
nos valores de s20,w para as concentrações mais elevadas (LAPANJE; TANFORD, 1967).
Além disso, monômeros e dímeros apresentam um fator de Perrim diferente que são
dificilmente detectados diretamente da análise devido ao equilíbrio entre as duas espécies em
solução. Como os experimentos de SV para SEPT11C varreu um intervalo de concentração
correspondente ao equilíbrio monômero/dímero, foi possível determinar f/f0 para as duas
formas oligoméricas como descrito na seção 4.4 (tabela 8).
63
Tabela 8 - Fator de Perrim para monômeros e dímeros da SEPT11C.
Parâmetro Monômero Dímero
sesfera (S) 2,30 3,64
(S) 1,43 1,67
f/f0 1,61 2,17
Observa-se que f/f0 é menor para o monômero o que é plausível visto que essa espécie
pode ser mais flexível e sua conformação pode alterar, gerando estruturas mais globulares e,
portanto com valores de f/f0 mais próximo de 1, aumentando o s. Por outro lado, o aumento
nos valores de f/f0 do dímero reduz os valores do coeficiente de sedimentação, um efeito
conhecido como “paraquedas” em AUC. Apesar dessas variáveis que tendem a reduzir o
coeficiente de sedimentação, estes aumentam gradativamente demonstrando claramente um
fenômeno de oligomerização com o aumento da concentração proteica no intervalo de
concentração analisado.
Desse modo, os experimentos de AUC permitiram identificar aspectos relevantes que
conduziram as análises posteriores. Primeiramente, a existência de aglomeração proteica a
partir de concentrações muito baixas (6,7 µM e 16,2 µM (para SEPT11C)) inviabilizou a
condução de experimentos para determinação do Kd de homo/heterodímeros por técnicas
sofisticadas de análise, como sedimentação e equilíbrio-AUC e calorimetria de titulação
isotérmica (dados não mostrados).
Para a SEPT11C, os valores de s20,w apontam a existência de um equilíbrio dinâmico
entre monômeros e dímeros em solução. Para as demais proteínas estudas, apesar de s20,w
apresentar ligeira inclinação positiva em função da concentração, notou-se que as proteínas
apresentam MM e s20,w característicos de espécies diméricas. Sabendo-se que todas as
proteínas eram predominantemente dímeros nas concentrações máximas, foram conduzidas
análises que pudessem quantificar as interações homo/heterodiméricas ou evidenciar possíveis
preferências de interação.
5.3 Caracterização biofísica e cálculo da constante de interação para homodímeros
utilizando CD
64
5.3.1 Estudo da interação homo/heterodimérica por CD
Com o propósito de investigar uma possível preferência para associação heterotípica
entre membros do Grupo II com a SEPT7C (único membro do grupo IV), estudou-se a
estabilidade térmica de homo e heterodímeros testando todas as possíveis combinações, como
descrito na seção 4.5.1. Foram realizados experimentos utilizando concentrações proteicas
que apresentassem homogeneidade das proteínas em estudo e espécies predominantemente
diméricas, esses valores foram obtidos pelos experimentos de SV-AUC (seção 5.2). A
concentração utilizada para hetero/homodímeros envolvendo a SEPT11C foi 13,4 µM
(máxima permitida em CD) enquanto que para os demais foi 6,7 µM. A Tabela 9 apresenta o
comparativo entre as curvas de desnaturação.
65
Tabela 9 – Tabela comparativa entre as curvas de desnaturação térmica de homo/heterodímeros. As curvas em vermelho e em verde referem-se às proteínas
da coluna e linha, respectivamente. As curvas em preto correspondem à mistura equimolar das proteínas da coluna e linha.
SEPT6C (Grupo II) SEPT7C (Grupo IV) SEPT8C (Grupo II) SEPT10C (Grupo II)
SEPT7C (Grupo IV)
SEPT8C (Grupo II)
SEPT10C (Grupo II)
SEPT11C (Grupo II)
66
Na tabela 10, encontram-se os valores para as Tm em cada caso:
Tabela 10 - Tabela comparativa entre as temperaturas de desnaturação térmica para
homo/heterodímeros.
SEPT6C SEPT7C SEPT8C SEPT10C SEPT11C
SEPT6C
SEPT7
(27,5 0,2) °C - - - -
(39,6 0,2) °C (33,6 0,2) °C - - -
SEPT8C (29,6 0,2) °C (41,9 0,2) °C (33,4 0,2) °C - -
SEPT10C (34,7 0,1) °C (41,9 0,2) °C (39,2 0,1) °C (46,0 0,3) °C -
SEPT11C (26,4 0,2) °C (38,5 0,2) °C (27,5 0,2) °C (37,1 ) °C (22,8 0,1) °C
*O Erro apresentado se referente ao ajuste da curva.
É importante notar que com exceção da amostra SEPT7C-SEPT10C, a interação entre
os grupos II e IV (representados na tabela 10 em azul e amarelo, respectivamente) apresentou
maior estabilidade térmica comparada a dos domínios individualmente, o que indica maior
termoestabilidade do heterodímero comparado com os dois homodímeros in vitro. No caso de
interação entre duas proteínas diferentes do mesmo grupo (grupo II), os complexos
apresentaram Tm intermediária entre as duas proteínas constituintes.
As análises para o estudo da [Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm em função da concentração para
homo/heterodímeros foi feita como descrito na seção 4.5.1. Os dados são mostrados na tabela
11:
67
Tabela 11 – Variação da razão na elipticidade à 222 nm e 208 nm para homo/heterodímeros.
Proteína [Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm
0,6 µM 6,7 µM
SEPT6C 0,85 0,01 0,91 0,01
SEPT7C 0,98 0,01 1,02 0,02
SEPT8C 0,89 0,01 0,93 0,01
SEPT10C 0,89 0,01 0,93 0,01
SEPT11C 0,89 0,01 0,95 0,01*
SEPT6C-7C 1,04 0,01 1,04 0,01
SEPT7C-8C 1,01 0,01 1,01 0,01
SEPT7C-10C 1,01 0,01 1,02 0,01
SEPT7C-11C 1,03 0,01 1,03 0,01
*Concentração de 13,4 µM
De modo geral, nota-se que heterodímeros formados entre proteínas do grupo II e do
grupo IV apresentam valor de [Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm constante, igual ou superior a 1,0 no
intervalo analisado, o que indica que as concentrações estudadas estão acima da constante de
dissociação do sistema, e as estruturas estão predominantemente em sua forma dimérica,
mesmo nas concentrações mais baixas. Destes dados pode-se inferir que a constante de
associação para os heterodímeros é maior do que para os homodímeros.
Vale ressaltar que embora o experimento de desnaturação térmica para o homodímero
da SEPT10C tenha apresentado Tm superior ao do heterodímero SEPT7C/SEPT10C, o
segundo experimento, de monitoramento da razão da elipticidade à 222 nm e à 208 nm,
mostra que enquanto homodímeros apresentam variação na formação de estruturas em coiled
coil na faixa de concentração analisada, o valor para o heterodímero permanece constante e
por volta de 1, indicando maior tendência do heterodímero formar estruturas em coiled coil,
embora o homodímero seja mais estável termicamente.
5.3.2 Estudo da interação de homo-coiled coil por espectropolarimetria de dicroísmo
circular.
Dado a diferença nos valores de [Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm para homo e hetero-coiled
coils, discutido acima (seção 5.3.1, Tab. 11), os primeiros foram estudados com mais detalhes
68
em função da variação da concentração de proteínas a fim de identificar parâmetros que
evidenciassem o equilíbrio M↔D e possibilitassem a determinação da constante de
dissociação entre as espécies. Todos os experimentos mostrados nesse tópico foram realizados
em tampão 20 mM Fosfato de Potássio, 50 mM NaCl e pH 7,5. Os detalhes de cada
experimento realizado podem ser conferidos na seção 4.5.2.
Para caracterização da estrutura secundária das proteínas foram realizadas análises das
proteínas SEPT6C/7C/8C/10C em concentrações mínimas (imposta pelo limite de detecção
do equipamento de CD) e máximas, 0,6 e 6,7 µM, à 20 °C. Para SEPT11C as concentrações
estudadas foram de 0,6 e 13,4 µM em temperatura de 4 °C. Os dados podem ser apreciados na
figura 27.
Figura 27 - Espectros de CD das proteínas SEPT6C, SEPT7C, SEPT8C, SEPT10C e SEPT11C
variando a concentração.
continua
69
conclusão
Notou-se que os espectros caracterizaram-se por dois mínimos, à 208 nm e 222 nm
característicos das transições ππ* e nπ
*, respectivamente. Este tipo de espectro evidencia a
presença de estruturas com predominância de α-hélice. O aumento na elipticidade à 222 nm
em função da concentração proteica indica um processo associativo, provavelmente resultante
do equilíbrio monômero↔dímero (como mostrado pelos dados de SV-AUC para a SEPT11C,
item 5.2). Para verificar esse fato foram realizados dois experimentos: 1) Medição da
elipticidade molar residual à 222 nm (comprimento de onda característico de α-hélice) em
diferentes concentrações proteicas. 2) Medição da variação na [Ɵ] mrw,222/[Ɵ]mrw,208 em função
da concentração. Plotou-se no eixo das ordenadas [Ɵ]mrw,222 (deg.cm2.dmol
-1) ou [Ɵ]
mrw,222/[Ɵ]mrw,208 e no eixo das abscissas a função logarítmica da concentração (µM) (Fig. 28).
Para determinação da constante de dissociação aparente os dados foram ajustados como
descrito na seção 4.4 (Tabela 12).
70
Figura 28 – Mudanças na elipticidade como uma função da concentração proteica. Gráficos da
elipicadade a 222 nm em função da concentração: A) SEPT6C, C) SEPT7C, E) SEPT8C, G)
SEPT10C e I) SEPT11C; Gráficos Razão da elipticidade a 222mm e 208 nm como uma função da
concentração de proteína: B) SEPT6C, D) SEPT7C, F) SEPT8C, H) SEPT10C e J) SEPT11C.
continua
A B
C D
E F
71
conclusão
É possível notar em ambos os parâmetros analisados, variação das elipticidades à
222nm e da [Ɵ] mrw,222/[Ɵ]mrw,208 em função da concentração, os valores e o perfil da curva
sugerem uma transição entre duas espécies.
Para corroborar com esses dados, foi monitorada a variação na temperatura de
desnaturação térmica em função da concentração. Nesse experimento, a Tm foi assumida
como uma sonda da variação no estado oligomérico da proteína. Os estudos foram conduzidos
para SEPT6C, SEPT7C, SEPT8C e SEPT10C. A SEPT11C, não apresentou significativa
variação na Tm. A reversibilidade térmica foi constatada pela sobreposição das curvas de
desnaturação e renaturação térmica (inserto Fig. 29). Os dados foram ajustados no mesmo
modelo matemático descrito na seção 4.4 (Fig. 29). Os valores do Kdapp constam na tabela 12.
G H
I J
72
Figura 29 – Gráficos da temperatura de desnaturação térmica como uma função da concentração
proteica e curvas de desnaturação/renaturação. a) SEPT6C; b)SEPT7C; c)SEPT8C e d) SEPT10C.
Tabela 12 – Constantes de dissociação aparentes obtidas por experimentos de espectropolarimetria de
dicroísmo circular.
Proteína Kdapp[Ɵ]mrw,222 Kdapp[Ɵ]mrw,222/[Ɵ]mrw,208 KdappTm
SEPT6C (1,3 0,1) µM (1,0 0,1) µM (2,3 0,1) µM
SEPT7C (1,2 0,1) µM (0,8 0,1) µM (1,8 0,1) µM
SEPT8C (2,1 0,1) µM (1,4 0,1) µM (2,0 0,1) µM
SEPT10C (1,9 0,1) µM (0,9 0,1) µM (1,7 0,1) µM
SEPT11C (6,7 0,1) µM (4,2 0,1) µM -
*O erro vêm do desvio no ajuste dos dados experimentais ao modelo.
a) b)
c) d)
73
Em todas as análises as curvas exibiram um comportamento sigmoidal com único
ponto de inflexão, que sugere a ausência de intermediários detectáveis por
espectropolarimetria de dicroísmo circular no intervalo de concentrações analisados. Para a
determinação da constante de dissociação aparente para homodímeros monitorou-se três
parâmetros diferentes: [Ɵ] mrw,222 , [Ɵ] mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm e Tm. Em todos os casos o
aumento da concentração proteica acarretou aumento deles, um indicativo de um processo
associativo. Apesar de cada parâmetro medir uma variável diferente que se refere ao evento
de dimerização, os valores das constantes de dissociação aparente foram próximos, na ordem
de grandeza de baixo micromolar. É possível notar também que entre os homodímeros
analisados há pouca variação no Kdapp, somente a SEPT11C apresenta um valor um pouco
mais elevado que as demais.
Sabe-se que nas concentrações superiores as espécies estão predominantemente em
sua forma dimérica (dados de SV-AUC, seção 5.2) e os gráficos apresentam um perfil
sigmoidal que sugere uma transição entre dois estados M↔D, todavia nenhum parâmetro
analisado em CD foi contundente para inferir tal informação. A confirmação de que a
transição observada se refere ao equilíbrio monômero/dímero veio dos experimentos de SV-
AUC para SEPT11C (seção 5.2). O coeficiente de sedimentação permitiu identificar que em
amostras de baixa concentração têm-se predominantemente monômeros enquanto que em
altas concentrações as espécies predominantes são dímeros. Para a SEPT11C o Kdapp obtido
por SV-AUC foi 7,2 0,8 µM, mostrando-se coerente aos obtidos por CD: 6,7 0,1 µM e
4,2 0,1 µM. Considerando que a faixa de concentração analisada em ambos experimentos foi
próxima, é possível afirmar que a variação nos parâmetros de elipticidade à 222 nm, razão à
222 nm e 208 nm e Tm se devem a transição monômero/dímero. Embora impossível conduzir
as mesmas análises para as demais proteínas, pois o limite inferior de análise é muito baixo e
foge dos limites detectáveis em AUC, devido à semelhança comportamental de todas as
análises (Fig. 28 e 29) é possível estender o entendimento para as demais proteínas, validando
às transições observadas como referentes ao equilíbrio M↔D.
Para os heterodímeros em virtude dos limites mínimos de concentração para obter
sinal em CD e AUC não foi possível medir as constantes de interação por essas técnicas já
que as espécies não apresentaram variação de sinal que pudessem indicar variação no estado
oligomérico. Por outro lado, os experimentos de ressonância plasmônica de superfície (SPR)
74
realizados pelo Dr. Napoleão Valadares foram bem sucedidos para a determinação das
constantes de dissociação heterodiméricas2. Os valores são mostrados nas tabelas 13 e 14:
Tabela 13 - Determinação da constante de dissociação de heterodímeros por SPR.
Proteína em Solução Proteínas Imobilizadas no chip
SEPT6C SEPT8C SEPT10C SEPT11C
SEPT7C 15,8 nM 10,0 nM ~10-100 nM 9,7 nM
Tabela 14 - Determinação da constante de dissociação de heterodímeros por SPR.
Proteína Imobilizada no chip Proteínas em solução
SEPT6C SEPT8C SEPT10C SEPT11C
SEPT7C 15,8 nM 19,5 nM - 15,22 nM
Nota-se que os valores das constantes de dissociação para heterodímeros é da ordem
de nM. Entretanto, não foi possível quantificar por SPR os eventos de autoassociação, pelo
fato de que em concentrações próximas do Kd, parte das proteínas imobilizadas no chip e na
solução estariam no estado dimérico.
Muitas tentativas foram realizadas para encontrar uma única técnica que determinasse
a constante de dissociação para homo/heterodímeros. Todavia deparou-se em constantes
limitações como a existência de aglomeração proteica a partir de concentrações muito baixas,
6,7 µM3, ou mesmo a pouca alteração no formato das espécies monoméricas e diméricas que
comprometeram a obtenção de sinal utilizando-se anisotropia de fluorescência. Apesar disso,
os dados obtidos revelam constantes de dissociação em torno de baixo µM para espécies
homodiméricas e em torno de nM para espécies heterodiméricas, evidenciando claramente um
efeito de predileção para a associação heterotípica.
5.4 O equilíbrio químico de homodímeros
Nos experimentos para determinação das constantes de dissociação aparente para
homodímeros não foi possível variar a concentração em um intervalo muito grande, devido às
limitações das técnicas (AUC: absorbância entre 0,2 e 0,8; CD: 0,010 a 0,3 mg/mL de
proteína) e a formação de agregados proteicos que comprometeriam as análises (Tab. 5 e 6,
2 Dados fornecidos por Napoleão Valadares, 2015.
3 Concentrações de 16,2 µM para SEPT11C
75
seção 5.2). Desse modo, com base no Kdapp experimentalmente obtido pela variação na
elipticidade molar à 222 nm, calculou-se como descrito na seção 4.5 a variação da fração de
monômeros e dímeros em solução. Os dados podem ser conferidos na Fig. 30.
Figura 30 - Fração de monômero/dímero no intervalo de concentração estudado.
76
De modo geral, varreu-se 20-80% de monômeros/dímeros em solução, acarretando
erro nas medidas, em função da existência de uma mistura de estados oligoméricos nas
concentrações extremas. Os valores das constantes de dissociação encontrados para interação
homodimérica são concentração dependente, denominados Kdapp.
Com base nesse dado é possível entender dois fenômenos observados nos
experimentos anteriores. O primeiro são os valores de s20,w para SEPT11C inferior aos demais
(Seção 5.2, Fig. 24). O Kdapp para SEPT11C é cerca de três vezes superior ao dos demais
homodímeros, isso faz com que mesmo nas concentrações mais elevadas ainda exista um
equilíbrio mais favorável à formação de monômero que nas outras espécies (Fig. 30). Assim,
embora s20,w para SEPT11C seja um valor próximo de espécies diméricas, não atinge o valor
exato. Associado a isso, a redução no valor de s20,w para dímeros vêm, como já discutido na
seção 5.2, da barreira física gerada ao processo de sedimentação devido ao aumento na
concentração de proteínas no meio.
O segundo fenômeno a ser ressaltado é que para homodímeros (com exceção da
SEPT7C), mesmo em concentrações mais elevadas (6,7 µM e 13,4 µM) embora os
experimentos de SV-AUC mostrem a existência de espécies diméricas a variação em
[Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm apresentou valores inferiores a 1,0 (seção 5.3.1, tabela 11). Uma
possível explicação é que valores de [Ɵ]mrw,222 nm/[Ɵ]mrw,208 nm > 1 são característicos de coiled
coils estáveis tais como tropomiosina, que apresentam constantes de dissociação na mesma
ordem de grandeza dos heterodímeros e cerca de duas ou três ordens de grandeza inferior ao
dos homodímeros aqui estudados. Coiled coils tais como Myc-LZ e Max-LZ (Kd
aproximadamente 10-5
M) mesmo em condições diméricas também não exibem bandas mais
negativas à 208 nm. Isso pode ser explicado devido à presença de equilíbrio químico entre
M↔D que mesmo nas concentrações superiores ainda exibem fração significativa de espécies
monoméricas, que comprometem os valores da razão à 222 e 208 nm para estruturas
diméricas (MUHLE-GOLL; NILGES; PASTORE, 1995).
5.5 Técnicas de bioinformática para estudo estrutural das sequências
Tendo como base as evidências experimentais sobre a predileção na formação de um
coiled coil heterotípico, investigou-se em nível atômico os possíveis fatores responsáveis por
tais preferências. Para isso conduziu-se estudos de modelagem e investigação das sequências
de aminoácidos dos domínios C-terminais. O alinhamento das sequências dos domínios C-
77
terminais das Septinas do Grupo II e IV mostrou uma identidade de 51% entre as sequências,
figura 31.
Figura 31 - Alinhamentos múltiplo das sequências dos domínios C-terminais de Septinas do Grupo II
e IV. As regiões em azul mostram o padrão de conservação dos resíduos nas sequências. Quanto mais
escuro, mais conservado o resíduo entre as sequências estudadas.
Sabe-se que o domínio C-terminal é predito para formar estruturas em coiled coil. Para
identificar a região mais favorável para formação desse tipo de estrutura, as sequências
mostradas na figura 31 foram analisadas pelo programa COILS (LUPAS; VAN DYKE;
STOCK, 1991), foi empregada uma janela de 28 resíduos (Fig. 32).
78
Figura 32 – Gráfico gerado pelo programa COILS (LUPAS; VAN DYKE;STOCK, 1991)
mostrando a probabilidade de formação de estruturas em coiled coil para o domínio C-
terminal de septinas humanas. A janela empregada foi de 28 resíduos.
Esta predição ocorre pela identificação das repetições heptaméricas na estrutura e
mostra uma elevada probabilidade (>0.8) de formação de coiled coils para a região
intermediária, aproximadamente do resíduo 24 ao 108. Esta região, por sua vez, é composta
de 11 repetições heptaméricas completas que tem um padrão característico de coiled coil.
Porém, para a construção de um modelo tridimensional, era necessário estabelecer
também a fase do coiled coil, que foi feito baseado no padrão de repetição heptamérica dada
pelo programa COILS (LUPAS; VAN DYKE;STOCK, 1991) e pela inspeção visual com o
auxílio da tabela de frequência desenvolvida por LUPAS e colaboradores (1991) procurando
um consenso entre os resultados obtidos para as diversas sequências. Os resultados podem ser
observados na figura 33. Os resíduos indicados nas posições a e d geralmente apresentam
características hidrofóbicas (colunas em cinza), enquanto que os resíduos nas posições e e g
apresentam predominantemente resíduos polares ou carregados (colunas em amarelo). As
posições b, c, e f não são caracterizadas tão especificamente.
79
Figura 33 - Sequências de aminoácidos das regiões com predição de formação de domínios
em coiled coil para as SEPT6C e 7C. As letras a-g no topo da coluna indicam a posição na
sequência heptamérica.
continua
SEPT6C SEPT7C
a b c d e f g a b c d e f g
E24 T25 Y26 E27 A28 K29 A24 Q25 M26 E27 E28 E29
R30 N31 E32 F33 L34 G35 E36 R30 R31 E32 H33 V34 A35 K36
L37 Q38 K39 K40 E41 E42 E43 M37 K38 K39 M40 E41 M42 E43
M44 R45 Q46 M47 F48 V49 Q50 M44 E45 Q46 V47 F48 E49 M50
R51 K51
V52 K53 E54 K55 V52 K53 E54 K55
E56 A57 E58 L59 K60 E61 A62 V56 Q57 K58 L59 K60 D61 S62
E63 K64 E65 L66 H67 E68 K69 E63 A64 E65 L66 Q67 R68 R69
F70 D71 R72 L73 H70 E71 Q72 M73
K74 K75 L76 H77 Q78 D78 E80 K74 K75 N76 L77 E78 A79 Q80
K81 K82 K83 L84 E85 D86 K87 H81 K82 E83 L84 E85 E86 K87
K88 K89 S90 L91 D92 D93 E94 R88 R89 Q90 F91 E92 D93 E94
V95 N96 A97 F98 K99 Q100 R101 K95 A96 N97 W98 E99 A100 Q101
K102 T103 A104 A105 E106 L107 Q102 R103 I104 L105 E106 Q107 Q108
SEPT8C SEPT10C
A b c d e f g a b c d e f g
E24 T25 Y26 E27 A28 K29 E24 T25 Y26 E27 A28 K29
R30 K31 E32 F33 L34 S35 E36 R30 H31 E32 F33 H34 G35 E36
L37 Q38 R39 K40 E41 E42 E43 R37 Q38 R39 K40 E41 E42 E43
M44 R45 Q46 M47 F48 V49 N50 M44 K45 Q46 M47 F48 V49 Q50
K51 R51
V52 K53 E54 T55 V52 K53 E54 K55
E56 L57 E58 L59 K60 E61 K62 E56 A57 I58 L59 K60 E61 A62
conclusão
80
E63 R64 E65 L66 H67 E68 K69 E63 R64 E65 L66 Q67 A68 K69
F70 E71 H72 L73 F70 E71 H72 L73
K74 R75 V76 H77 Q78 E78 E80 K74 R75 L76 H77 Q78 E78 E80
K81 R82 K83 V84 E85 E86 K87 R81 M82 K83 L84 E85 E86 K87
R88 R89 E90 L91 E92 E93 E94 R88 R89 L90 L91 E92 E93 E94
T95 N96 A97 F98 N99 R100 R101 I95 I96 A97 F98 S99 K100 K101
K102 A103 A104 V105 E106 A107 K102 A103 T104 S105 E106 I107
SEPT11C SEPT14C
A b c d e f g a b c d e f g
E24 T25 Y26 E27 A28 K29 E24 I25 F26 E27 A28 K29
R30 N31 E32 F33 L34 G35 E36 R30 Q31 E32 F33 Y34 D35 Q36
L37 Q38 K39 K40 E41 E42 E43 C37 Q38 R39 E40 E41 E42 E43
M44 R45 Q46 M47 F48 V49 M50 L44 K45 Q46 R47 F48 M49 Q50
R51 R51
V52 K53 E54 K55 V52 K53 E54 K55
E56 A57 E58 L59 K60 E61 A62 E56 A57 T58 F59 K60 E61 A62
E63 K64 E65 L66 H67 E68 K69 E63 K64 E65 L66 Q67 D68 K69
F70 D71 L72 L73 F70 E71 H72 L73
K74 R75 T76 H77 Q78 E78 E80 K74 M75 I76 Q77 Q78 E78 E80
K81 K82 K83 V84 E85 D86 K87 I81 R82 K83 L84 E85 E86 E87
K88 K89 E90 L91 E92 E93 E94 K88 Q89 L90 E91 G92 E93 I94
V95 N96 N97 F98 Q99 K100 K101 I95 D96 F97 Y98 K99 M100 K101
K102 A103 A104 A105 Q106 L107 A102 A103 S104 E105 A106 L107
Nas sequências, apesar de grande esforço, não se pode afirmar o que ocorre no padrão
de repetição entre os resíduos 51 e 52 onde, segundo a previsão, faltam resíduos nas posições
b e c. A presença de duas falhas consecutivas, por exemplo, um Stutter e um Skip ou o
inverso, é pouco provável. Embora qualquer descontinuidade teoricamente possa ser
acomodada com uma deformação apropriada da α-hélice na prática isso não ocorre. Grandes
desestabilizações da super-hélice, seja por superenovelamento ou desenovelamento, são
evitadas, sendo preferível uma acomodação dos resíduos adicionais fora da hélice, como uma
81
alça (BROWN; COHENL; PARRY, 1996). Entre os resíduos 73 e 74 é clara a presença de
uma falha, um Stutter (perda de 3 resíduos nas posições e, f e g). Por essa razão o coiled coil
foi modelado em duas regiões (24-51) e (52-108).
Para a construção do modelo as sequências da SEPT6C e 7C foram alinhadas com
2FXO (primeira região) e 1GK4 (segunda região) com ClustalX (THOMPSON et al., 1997)
com o cuidado de garantir a preservação da fase do coiled coil (Fig. 34 e 35). Para a
modelagem foram introduzidos “GAPs” no início das regiões a fim de respeitar a fase do
coiled coil entre as sequências e alinhar o stutter presente na estrutura da Vimentina ao
encontrado nas sequência das septinas.
Figura 34 - Alinhamento da primeira parte das proteínas SEPT6C e 7C com a estrutura a 2FXO. Em
vermelho estão indicadas as posições de cada resíduo na repetição heptamérica do coiled coil.
5 10 15 20 25 30 35
Posição coiled coil b c d e f g a b c d e f g a b b c d e f g a b c d e f g a b c d e f g a
SEPT6C/ 24-51 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - E T Y E A K E
SEPT7C/24-51 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - A Q M E E E R
2FXO/1-73 G S S P L L K S A E R E K E M A S M K E E F T R L K E A L E K S E A R R
40 45 50 55
Posição coiled coil b c d e f g a b c d e f g a b c d e f g a b c d e f g a b c d e f g a b
SEPT6C/ 24-51 R N E F L G E L Q K K E E E M R Q M F V Q - - - - - - - - - - - - - - -
SEPT7C/24-51 R E H V A K M K K M E M E M E Q V F E M K - - - - - - - - - - - - - - -
2FXO/1-73 K E L E E K M V S L L Q E K N D L Q L Q V Q A E Q D N L A D A E E R C D
Figura 35 - Alinhamento da segunda parte das proteínas SEPT6C e 7C com a estrutura 1GK4. Em
vermelho estão indicadas as posições de cada resíduo na repetição heptamérica do coiled coil. A
região sublinhada em verde indica o stutter presente em todas as estruturas.
5 10 15 20 25 30 35
Posição coiled coil d e f g a d e f g a b c d e f g a b c d e f g a b c d a b c d e f g a b
SEPT6C/52-107 - - - - - V K E K E A E L K E A E K E L H E K F D R L K K L H Q D E K K
SEPT7C/52-108 - - - - - V K E K V Q K L K D S E A E L Q R R H E Q M K K N L E A Q H K
1GK4/1-73 C E V D A L K G T N E S L E R Q M R E M E E N F A V E A A N Y Q D T I G
40 45 46 50 55
Posição coiled coil c d e f g a b c d e f g a b c d e f g a b c d e f g a b c d e f g a b c
SEPT6C/52-107 K L E D K K K S L D D E V N A F K Q R T A A E L - - - - - - - - - - - -
SEPT7C/52-108 E L E E K R R Q F E D E K A N W E A Q Q R I L E Q - - - - - - - - - - -
1GK4/1-73 R L Q D E I Q N M K E E M A R H L R E Y Q D L L N V K M A L D I E I A T
Os modelos finais foram selecionados com base nos menores valores obtidos nas
funções objetivas do programa, DOPE (Fig. 36).
82
Figura 36 – Avaliação da DOPE para os modelos gerados. A flecha em vermelho indica o modelo
com menor pontuação DOPE. a) SEPT6C primeira parte. b)SEPT7C primeira parte c) SEPT6C_7C
primeira parte d) SEPT6C segunda parte e) SEPT7C Segunda parte f) SEPT6C_7C segunda parte.
Para os modelos selecionados, a verificação dos parâmetros estereoquímicos foi feita
com a utilização do software Procheck (LAKOWSKI; MACATHUR; THORNTON, 1993).
Foi analisado o fator G que se refere à qualidade estereoquímica média, relativa aos principais
ângulos torciona da cadeia (Ф e ψ), ângulos torcionais das cadeias laterais (γ), maus contatos
(ou impedimentos estéricos), energias das ligações de hidrogênico, planaridade das ligações
peptídicas e outros. Os cálculos para o fator G são sempre baseados na comparação com um
a) b)
c) d)
e) f)
83
banco de dados de proteínas que contém estruturas em diferentes níveis de resolução. Nas
estruturas modeladas o fator G ficou entre 0,27 e 0,36, mostrando-se acima da média para
estruturas cristalográficas com uma resolução de 1 Å. Os modelos foram posteriormente
validados com o servidor ProSa. A figura 37 mostra os resultados:
Figura 37 – Gráficos de qualidade do modelo gerado com a utilização de PROSA-web. O ponto em
preto indicado na figura refere-se ao Z-score obtido para os modelos. a) SEPT6C 1ªparte, b) SEPT7C
1ªparte, c) SEPT6C-7C 1ªparte, d)SEPT6C 2ªparte, e)SEPT7C 2ªparte e f)SEPT6C_7C 2ªparte.
Nota-se de modo geral, que os modelos gerados apresentam z-score dentro do limite
esperado para proteínas cuja estrutura é conhecida e que tem o mesmo número de resíduos, o
que aponta confiabilidade as estruturas aqui geradas segundo este critério.
Com base na sequência modelada, chama a atenção o alto conteúdo de aminoácidos
carregados na estrutura do coiled coil. Considerando que, para a sequência modelada da
SEPT6C, dos 83 resíduos há 22 resíduos carregados negativamente (considerados apenas D e
E) e 22 carregados positivamente (K e R) e que para a SEPT7C dos 84 resíduos, 22 são
a) b) c)
d) e) f)
84
carregados negativamente e 19 positivamente nota-se que as proteínas apresentam mais da
metade do total dos seus resíduos carregados. As imagens do potencial eletrostático para as
estruturas podem ser apreciadas na Fig. 38 e 39:
Figura 38 - Distribuição do potencial eletrostático para o modelo gerado para a SEPT6C. Em
vermelho estão os resíduos negativamente carregados e em azul os positivamente carregados. A)
Primeira parte da sequência (Resíduo 24-51) B) Segunda parte (Resíduo 52-107).
Figura 39 - Distribuição do potencial eletrostático para o modelo gerado para a SEPT7C. Em
vermelho estão os resíduos negativamente carregados e em azul os positivamente carregados. A)
Primeira parte da sequência (Resíduo 24-51) B) Segunda parte (Resíduo 52-108).
A B
A B
85
Pelas figuras acima fica evidente a presença de uma estrutura altamente carregada.
Resíduos carregados são esperados nas posições e e g por serem responsáveis pela montagem
e estabilidade das estruturas (BURKHARD et al., 2001), todavia, inusitadamente, resíduos
carregados também ocupam as posições a e d, geralmente hidrofóbicas (Fig. 33). Supondo
que as interações eletrostáticas possam atuar como uma possível fonte de seletividade,
procederam-se as análises subsequentes.
Ressaltando que os resultados experimentais apontam que a interação heterodimérica é
preferida em relação à homodimérica, foi calculada a carga líquida das proteínas em pH = 7,0,
utilizou-se os modelos gerados e o programa Propka (LI; ROBERTSON; JENSEN, 2005). A
SEPT6C apresentou carga líquida de -2,2 para a primeira parte e 2,51 para a segunda,
totalizando 0,31, enquanto que a SEPT7C apresentou carga líquida de -3,44 e -0,41, para a
primeira e segunda parte, respectivamente, totalizando uma carga líquida de -3,85, sugerindo
uma ligeira preferência eletrostática para a interação heterotípica. Porém, examinando
visualmente a distribuição de cargas nos modelos não foi possível identificar nenhuma
explicação da preferência de formar hetero- ao invés de homodímeros.
Diante dos dados pouco contundentes, partiu-se para uma análise das sequências de
aminoácidos da região em coiled coil, com o auxílio da figura 33, com o propósito de
investigar as possíveis interações eletrostáticas favoráveis e desfavoráveis para homo e
heterodímeros. As posições estudas foram as: a, d, e e g, como descrito na seção 4.7.3. Os
dados podem ser observados na tabela 15:
86
Tabela 15 – Interações atrativas e repulsivas envolvendo as posições e e g, a e a e d e d de
homo/heterodímeros.
Proteína Interações
atrativas e e g
Interações
repulsivas e e g
A Interações
repulsivas a e a
Interações
repulsivas d e d
SEPT6C/SEPT6C 6 6 0 8 1
SEPT7C/SEPT7C 4 4 0 6 0
SEPT6C/SEPT7C 5 5 0 5 0
SEPT8C/SEPT8C 4 4 0 8 1
SEPT7C/SEPT8C 4 4 0 5 0
SEPT10C/SEPT10C 4 6 -2 9 1
SEPT7C/SEPT10C 4 4 0 5 0
SEPT11C/SEPT11C 2 6 -4 8 1
SEPT7C/SEPT11C 4 5 -1 5 0
SEPT14C/SEPT14C 0 4 -4 6 1
SEPT7C/SEPT14C 3 4 -1 6 4
A: (Interações atrativas e e g) – (Interações repulsivas e e g)
As posições e e g, são largamente apontadas como responsável pela preferência na
associação das sequências para a formação de coiled coils. Quando resíduos e de uma
sequencia e o g da repetição anterior da outra possuem cargas opostas, eles frequentemente
estabelecem pontes salinas, que adicionam estabilidade a estrutura dimérica (LAVIGNE et al.,
1995). Na literatura esse tipo de interação contribui para a especificidade de
heterodimerização dos coiled coils formados entre: Fos e Jun (em comparação ao
homodímero Jun-Jun); LZs e o sintético LZS; cMyc - Max (LAVIGNE et al., 1998; MOLL et
al., 2001; SHEA; RUTKOWSKI; KIM, 1992). Analisando os contatos eletrostáticos entre as
posições e e g, com base na tabela 15, nota-se que para os domínios C-terminais das septinas
do grupo II e IV em alguns casos (SEPT10C, SEPT11C e SEPT14), a formação
homodimérica aumenta o número de contatos repulsivos entre as posições e e g favorecendo
possivelmente interações heterotípicas.
Outro aspecto interessante de ressaltar da tabela 15 é a presença de resíduos
carregados nas posições a e d. Sabe-se que em coiled coils paralelos os resíduos nas posições
a e d encontram-se na mesma altura ao longo da estrutura, a presença de resíduos carregados
nessas posições é incomum (particularmente na posição d), já que implicaria colocar duas
cargas iguais próximas. Para as posições d, foi possível observar pelo menos um contato
87
repulsivo entre os homodímeros do grupo II. O resíduo 40 é o responsável por tal repulsão
(Fig. 32). Na formação dos heterodímeros esse contato repulsivo desaparece, pois a sequência
da SEPT7C não apresenta nenhum aminoácido carregado na posição d. Apesar de um único
contato sugerir o favorecimento da formação de hetero-coiled coils comparado a homo-coiled
coils, vale lembrar que a acomodação de um resíduo carregado em d é dificultada em virtude
da direção dos vetores que orientam as cadeias laterais nesta posição na estrutura em coiled
coil (Fig 40).
Figura 40 – Diagrama da orientação das cadeias laterais em coiled coils. A) Posições d e e B)
Posições a e g.
Ainda com base na tabela 15, diferentemente da situação em d, chama a atenção o
número de resíduos carregados encontrados na posição a: 6 resíduos para a SEPT14C e
SEPT7C, 8 para a SEPT6C, SEPT8C e SEPT11C e 9 para a SEPT10C. Mesmo desfavorável
essa situação é mais facilmente tolerada devido à orientação dos vetores na posição a que é
diferente da encontrada na posição d (Fig. 40). A figura 41 mostra a orientação das cadeias
laterais das Lisinas que ocupam a posição a do modelo gerado para o homodímero da
SEPT6C, é possível notar que os resíduos carregados em a são acomodados orientando as
cadeias laterais para fora do coiled coil, distanciando os grupos aminos das lisinas (distância
de 10,7 Å), em decorrência do efeito repulsivo entre as cargas e da existência de um ambiente
hidrofóbico no interior da hélice. Todavia, sua presença não deixa de ser um fator que
desestabiliza o coiled coil uma vez que há um limite à distância que as cargas conseguem se
afastar.
88
Figura 41 – Modelo gerado para o homodímero SEPT6C. Os resíduos em sticks mostram a orientação
da cadeia lateral da lisina de número 88 na estrutura do coiled coil. Os tracejados em amarelo mostram
a distância entre os resíduos.
Algumas observações da literatura vão ao encontro desta ideia. Em estudo conduzido
por Asha, Rishi e Vinson (2006) foi constatado que a variação nos resíduos da posição a
podem afetar a preferência por homo/heteroassociação. As análises de estabilidade térmica
para as interações a - a em coiled coils mostrou que a presença de resíduos carregados nessa
posição (interações estudadas: E-E, K-K, R-R) afetam negativamente a energia livre
relacionada à homodimerização.
Corroborando essa ideia, para o hetero-coiled coil Fos/Jun, a presença de resíduos
carregados positivamente (duas lisinas) na posição a da cadeia peptídica de Fos é um fator
contribuinte para a prevenção da formação do homodímero Fos-Fos. Foi mostrado que a
inserção de resíduos com características hidrofóbicas nessa posição acarreta um aumento de
16% na formação do homocomplexo (SCHUERMANN et al., 1991). Desta forma, a presença
de resíduos de lisina na posição a em Fos é dito como sendo um dos fatores principais que
desfavorece a formação do homodímero (Fos-Fos) e favorece a presença do heterodímero
Fos-Jun.
Desse modo, pela análise dos possíveis contatos a-a em homo/heterodímeros (Tab. 15)
infere-se que o número de contatos eletrostáticos repulsivos para os heterodímeros é inferior
ao dos homodímeros. Se existem contatos repulsivos para ambos os homodímeros (por
89
exemplo, SEPT6C/SEPT6C e SEPT7C/SEPT7C) é interessante entender como tais repulsões
podem ser evitadas no caso de um heterodímero. Isso ocorre possivelmente pela intercalação
dos resíduos carregados na posição a no processo de heteroassociação que, por sua vez, é
consequência de apenas algumas posições a apresentarem resíduos carregados (Fig. 42). Ao
evitar o contato direto é razoável esperar um aumento na estabilidade energética da estrutura.
Assim sendo, a natureza físico-química do resíduo ocorrente na posição a surge como um
possível fator auxiliar associado à predileção heterotípica. Entre todas as observações feitas
nesse trabalho, esta parece ser a predominante.
Figura 42 – Posição dos resíduos carregados (em azul) em homo/hetero-coiled coils paralelos.
Além desse papel, resíduos carregados na posição a são apontados como capazes de
interagir com a posição g imediatamente anterior da outra cadeia (GLOVER; HARRISON,
1995). Pela modelagem da primeira parte da estrutura do hetero-coiled coil formado entre
SEPT6C e SEPT7C, foi possível verificar uma interação desse tipo ocorrendo entre R
(posição a, resíduo 30) da SEPT6C e o E (posição g, resíduo 29) da SEPT7C (Fig. 43).
90
Figura 43 – Interação entre o resíduo presente na posição a da SEPT6C (cadeia em azul) com o
resíduo presente na posição g imediatamente anterior da SEPT7C (cadeia em verde).
Esse tipo de interação foi descrito na literatura por contribuir para a preferência de
interação heterodimérica observada nas estruturas de coiled coils da Tropomiosina e Fos-Jun
(GLOVER; HARRISON, 1995; MCLACHLAN; MURRAY, 1989). A tabela 16 aponta os
possíveis contatos entre as posições a e g para os domínios C-terminais das septinas, como
descrito na seção 4.7.3.
Tabela 16 – Interações entre as posições g e a de homo/hetero-coiled coils.
Proteína Interação muito
favorável
Interação favorável Neutro Desfavorável
SEPT6C/SEPT6C 4 2 10 6
SEPT7C/SEPT7C 4 2 14 2
SEPT6C/SEPT7C 3 4 12 3
SEPT8C/SEPT8C 4 2 10 6
SEPT7C/SEPT8C 4 4 11 3
SEPT10C/SEPT10C 6 2 8 6
SEPT7C/SEPT10C 3 4 10 5
SEPT11C/SEPT11C 4 0 12 6
SEPT7C/SEPT11C 3 3 13 3
SEPT14C/SEPT14C 4 2 14 2
SEPT7C/SEPT14C 3 2 15 2
91
Nota-se pelos dados que todos os heterodímeros (com exceção de SEPT14C/7C),
apresentam número geral de interações favoráveis4 a-g igual ou superior a de homodímeros
sugerindo também, uma contribuição dessa interação para a preferência heterodimérica.
Em virtude das análises aqui realizadas, é sugestivo que o fator predominante para a
seletividade seja o alto número de resíduos carregados na posição a, que causa aumento do
efeito repulsivo na posição a gerado pela presença de resíduos de mesma carga em
homodímeros. Embora esse seja um possível indicativo da predileção, é importante ressaltar
que provavelmente a afinidade dos heterodímeros não é advinda apenas de um único evento,
mas resultante de uma somatória de fatores, incluindo os aqui descritos.
4 O número geral de interações favoráveis foram calculadas do seguinte modo: (Interações muito favoráveis) +
(Interações favoráveis) – (Interações Desfavoráveis).
92
6 CONCLUSÃO
O presente projeto, por meio da utilização de técnicas biofísicas e de bioinformática,
providenciou um melhor entendimento da função dos domínios C-terminas de septinas
humanas na montagem dos filamentos. Os resultados sugerem que o domínio C-terminal é um
fator que atua decisivamente ou cooperativamente nesse processo, favorecendo a interface NC
de associação entre septinas do grupo II e IV.
Baseado nos dados experimentais disponíveis no grupo e obtidos neste projeto, as
interações heterotípicas mostraram-se favorecidas por uma série de resultados: 1) Incremento
na temperatura de desnaturação térmica. 2) Razões de elipticidade à 222 nm e 208 nm
constantes e superiores ao dos homodímeros nos intervalos de concentração analisados. 3)
Constantes de dissociação obtidas três ordens de grandeza inferiores a de homodímeros.
Desse modo, é possível sugerir que assim como acontece para os domínios GTPase, na
ausência de um parceiro mais específico os domínios C-terminais interagem entre si de modo
promíscuo, formando homo-coiled coils pouco estáveis.
Estudos em nível atômico foram conduzidos a fim de entender os fatores responsáveis
por essa predileção na interação heterotípica. Embora, vários parâmetros tenham sido
levantados para explicar a maior estabilidade heterodimérica o fator que chamou mais atenção
foi a presença de resíduos carregados em posições tipicamente hidrofóbicas, a e d, sendo a
primeira posição mais destacada em virtude do alto número de resíduos carregados (em torno
de 7 dos 12 resíduos presentes, Fig. 33) isso inevitavelmente, causa repulsão eletrostática
desfavorecendo os contatos homodiméricos. Essa hipótese é fundamentada em estudos que
apontam a presença de resíduos carregados na posição a como fator responsável pelo
favorecimento de uma hetero- em detrimento de uma homo-associação. Esse fenômeno é
relatado a alguns coiled coil, por exemplo, Fos/Jun.
É importante frisar que durante a formação do heterofilamento não se pode eliminar
uma contribuição do domínio G para a organização e estabilidade do mesmo. Apesar disso, o
favorecimento de hetero interações através dos domínios C-terminais podem representar um
mecanismo importante para embutir especificidade nas interfaces entre septinas ao longo do
filamento. Especificamente a interação entre C-terminais do grupo II com IV pode ser
fundamental para garantir a formação da interface NC entre os membros desse grupo durante
a formação do filamento, como visto no caso do complexo 2/6/7.
93
Finalmente, o comportamento muito parecido observado na interação da SEPT7
(grupo IV) com qualquer uma das proteínas do grupo II (SEPT6C/8C/10C e 11C) sugere que
o C-terminal pode ser pelo menos parcialmente responsável pela possibilidade de substituir
membros do grupo II entre si e ainda manter um filamento viável, a chamada regra de
Kinoshita.
94
7 PERSPECTIVAS
Os modelos gerados por homologia serão submetidos a cálculos mais sofisticados,
utilizando dinâmica molecular, a fim de observar se os resíduos carregados,
principalmente os da posição a, são realmente responsáveis por ditar as preferências
de interação. Também serão quantificadas por meio de cálculos a energia livre de
ligação e a constante de dissociação associada às interações homo/heterotípicas.
Serão elaboradas sequências mutantes para os domínios C-terminais das SEPT6 e
SEPT7, substituindo as lisinas por resíduos hidrofóbicos e reavaliando a estabilidade
do dímero. Algumas mutações foram pensadas, para a SEPT6C: K102Q, K81H e para
a SEPT7C K95V.
Realizar ensaios de cristalização ou experimentos de RMN para homo e hetero-coiled
coils como tentativa de mapear as interações diretamente.
95
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