UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
DIANA MARIA DA BELA NOVO
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre
Orientador
Prof. Doutor Arquitecto Bruno Marques
Porto, 2011
AGRADECIMENTOS
Não podia dar como concluída esta dissertação, sem manifestar os meus mais sinceros
agradecimentos a algumas pessoas.
- Aos meus pais por ter chegado até aqui, por todo o esforço que fizeram para que tudo fosse
possível.
- A quem sempre acreditou em mim e me deu apoio, especialmente à minha irmã e ao meu
companheiro Tiago Coelho.
- Ao arquitecto Bruno Marques e à arquitecta Marina Jiménez agradeço toda a paciência,
disponibilidade e transmissão de conhecimentos.
“Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la.”
Cícero
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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
I
ÍNDICE
ÍNDICE DE IMAGENS......................................................................................................... III
RESUMO ......................................................................................................................... VII
ABSTRACT ........................................................................................................................ IX
PALAVRAS-CHAVE ............................................................................................................ XI
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ................................................................................................1
1.1. A escolha do tema ............................................................................................................................ 1
1.2. Estrutura ........................................................................................................................................... 2
1.2. Estado da Arte .................................................................................................................................. 3
CAPÍTULO II – O HOMEM E O AMBIENTE ............................................................................7
2.1. Enquadramento demográfico ..................................................................................................... 8
2.2. Os problemas ambientais ......................................................................................................... 11
2.3. Arquitectura sustentável .......................................................................................................... 33
2.4. Desmistificação do conceito de sustentabilidade .................................................................... 35
CAPÍTULO III – DA MATÉRIA-PRIMA À CONSTRUÇÃO ........................................................ 39
3.1. Situação geográfica ................................................................................................................... 40
3.2. Carga energética ....................................................................................................................... 45
3.3. Indicadores de impacto ambiental ........................................................................................... 49
3.4. Selecção dos materiais ............................................................................................................. 53
CAPÍTULO IV – MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS .................................................... 59
4.1. Matéria-Prima ........................................................................................................................... 60
4.2. Produto ..................................................................................................................................... 79
CAPÍTULO V – PROPOSTA DE UM CENTRO NÁUTICO PARA VILA NOVA DE GAIA............... 103
5.1. Enquadramento geográfico .................................................................................................... 104
5.2. Implantação e linguagem arquitectónica ............................................................................... 108
5.3. Programa ................................................................................................................................ 116
5.4. Materialidades ........................................................................................................................ 127
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II
CAPÍTULO VI – CONCLUSÃO............................................................................................ 131
6.1. Ciclo de Vida dos Materiais .......................................................................................................... 132
6.1. Materiais Usados .......................................................................................................................... 134
6.2. Materiais Sugeridos ...................................................................................................................... 135
CONCLUSÃO FINAL ......................................................................................................... 139
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 141
CRÉDITOS DAS IMAGENS ................................................................................................ 143
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
III
ÍNDICE DE IMAGENS
Figura 1 – Fragmento do aglomerado populacional de Vila Nova de Gaia ............................... 8
Figura 2 – Poluição que afecta a qualidade do ar ao nível global ............................................ 12
Figura 3 – Complexo Habitat 67, Canadá ................................................................................ 20
Figura 4 – Cais de Gaia, uma das zonas turísticas mais atractivas de Vila Nova de Gaia ....... 29
Figura 5 – Vista do local de implantação do Centro Náutico, na margem esquerda entre as
duas pontes mais próximas ....................................................................................................... 30
Figura 6 – Jean Marie Tjibaou Cultural Center ........................................................................ 32
Figura 7 - Pedreira e mármore tratado da empresa do Grupo Galrão Mármores e Granitos ... 39
Figura 8 – Refinaria da Galp em Leça da Palmeira ................................................................. 46
Figura 9 – Pavilhão de Portugal – Expo 2010, revestido a cortiça .......................................... 59
Figura 10 – Canas de Bambu ................................................................................................... 61
Figura 11 – Exemplo de aplicação de Bambu numa estrutura de cobertura ............................ 62
Figura 12 – Pilhas de cortiça .................................................................................................... 63
Figura 13 – Crude ..................................................................................................................... 65
Figura 14 – Mineral Ferro ........................................................................................................ 66
Figura 15 – Minério de Ferro ................................................................................................... 67
Figura 16 – Madeira ................................................................................................................. 68
Figura 17 – Exemplo de Construção com Critoméria Japónica ............................................... 69
Figura 18 – Fardos de Palha ..................................................................................................... 71
Figura 19 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, como paredes estruturais ................... 72
Figura 20 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, aglutinados com argamassas ............. 73
Figura 21 - Mapa-mundo com indicação das zonas e elevada densidade de construção em
terra ........................................................................................................................................... 74
Figura 22 – Habitação unifamiliar em Beja, onde os arquitectos Bartolomeu Costa, João
Gomes e Mário Anselmo, utilizaram a terra como material principal do edifício ................... 74
Figura 23 – Habitação unifamiliar em Serpa (arquitecta Maria de Luz Seixas) ...................... 80
Figura 24 – Casa em Taipa ....................................................................................................... 81
Figura 25 – Perfis Tubulares de Aço ........................................................................................ 83
Figura 26 - Tadao Ando, ―Casa Koshino‖ em Kobe, Japão ..................................................... 84
Figura 27 – Exemplo de construção com sacos de areia .......................................................... 86
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IV
Figura 28 - Azulejos CZECH da autoria de Correia/Ragazzi arquitectos, que foram premiados
em São Francisco ..................................................................................................................... 87
Figura 29 – Casa feita com Tijolo Konlix ................................................................................ 89
Figura 30 – Fluxograma do Processo Konlix de Reciclagens .................................................. 89
Figura 31 – Pavilhão do Japão, Expo 2000 - Hannover ........................................................... 90
Figura 32 – Cardboard Bridge, Shigeru Ban ............................................................................ 92
Figura 33 – AffordableHouse ................................................................................................... 94
Figura 34 – Parede construída com pneus ................................................................................ 96
Figura 35 – Plástico .................................................................................................................. 97
Figura 36 – Exemplo de aplicação de garrafas de plástico, no enchimento de uma parede .... 98
Figura 37 – Vidro ................................................................................................................... 100
Figura 38 – Praia do Areinho no Verão .................................................................................. 103
Figura 39 – Planta de Localização da Proposta de Intervenção ............................................. 105
Figura 40 – Planta de Localização da praia do Areinho ......................................................... 106
Figura 41 – Fotomontagem de vista aérea da proposta de intervenção ................................. 109
Figura 42 – Vista da proposta e sua relação com o rio Douro................................................ 110
Figura 43 – Fotomontagem de vista aérea da proposta de intervenção ................................. 111
Figura 44 – Vista do aglomerado de habitação, de comércio e de serviços ........................... 113
Figura 45 – Vista dos perfis tubulares que fazem a composição dos alçados ........................ 114
Figura 46 – Zona Pública ....................................................................................................... 115
Figura 47 – Interior de uma sala de estar de um equipamento público .................................. 116
Figura 48 – Relação do espelho de água com o rio, que se envolve com a infra-estrutura ... 117
Figura 49 – Interior da cozinha e da sala da tipologia ........................................................... 118
Figura 50 – Vista aérea da tipologia ....................................................................................... 119
Figura 51 – Planta da Cave .................................................................................................... 120
Figura 52 – Planta do Piso da Tipologia T1 ........................................................................... 121
Figura 53 – Planta da Cobertura ............................................................................................. 122
Figura 54 – Corte AA’ ............................................................................................................ 123
Figura 55 – Corte BB’ ............................................................................................................ 124
Figura 56 - Alçado .................................................................................................................. 125
Figura 57 - Alçado .................................................................................................................. 126
Figura 58 – Pormenor Construtivo ......................................................................................... 128
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APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
V
Figura 59 – Pormenor Construtivo ......................................................................................... 129
Figura 60 – Pormenores Construtivos .................................................................................... 130
Gráfico 1 – Emissões de carbono a nível mundial derivadas da produção de energia (WEO,
2009) ......................................................................................................................................... 54
Gráfico 2 – Evolução da dependência energética de Portugal, segundo o Eurostat, 2007 ...... 55
Gráfico 3 - Água absorvida por diferentes materiais quando a humidade relativa sobe para os
80%. .......................................................................................................................................... 75
Gráfico 4 - Carbono incorporado em materiais para alvenarias ............................................... 75
Tabela 1 – Tabela de Berge, 2009, sobre o consumo de matérias-primas esgotáveis .............. 41
Tabela 2 – Indicação da energia incorporada dos principais materiais de construção ............. 48
Tabela 3 – Consumo de energia primária ................................................................................. 54
Organigrama 1 – Actividade da construção entre a Revolução Industrial e Pós-Industrial ..... 18
Organigrama 2 – Impacto ambiental dos edifícios ................................................................... 50
Organigrama 3 – Factores que condicionam a eficiência energética ....................................... 50
Organigrama 4 – Ciclo de vida dos materiais de construção ................................................... 55
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VI
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
VII
RESUMO
Actualmente, na prática da arquitectura sustentável, utilizam-se soluções parecidas com a
arquitectura tradicional, quando haviam poucos materiais artificiais.
Recuperando antigas técnicas ou utilizando novas, há várias razões para adoptar uma
arquitectura mais sustentável.
“Quanto mais um sistema ou modo de vida está construído sobre o verde e a fotossíntese,
mais ele é renovável e sustentável... Até que se apague o sol.”
Evaristo E. de Miranda
É necessário, no entanto, integrar adequadamente as diferentes estratégias e relacioná-las com
outros aspectos do desempenho ambiental, como a escolha dos materiais. Estes, com virtudes
de isolamento e capacidade de armazenamento, conservam a temperatura, não dando menos
importância à concepção interior dos espaços, para um bom desempenho no isolamento
térmico.
Cada construção sustentável tem em conta as possibilidades e limitações, avaliando o
ecobalanço final, que idealmente, será positivo.
Em França, por exemplo, a crise dos anos 70, levou os construtores a focarem-se na obtenção
dos melhores desempenhos energéticos ao menor custo, o que se traduziu no recurso, em larga
escala, a novos materiais de isolamento altamente eficientes e pouco dispendiosos. Passou a
valorizar-se a participação do habitat na saúde dos seus habitantes e os novos materiais de
isolamento, foram então, postos em causa, pelo impacto ambiental: desde a impossibilidade
de reciclagem dos materiais em fim de vida, à elevada taxa de emissões de carbono.
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VIII
Uma casa construída exclusivamente com base em materiais com a reputação de serem os
mais ―sãos‖, sem qualquer compromisso, corre o risco de ser um problema face ao nível de
consumo energético.
A arquitectura tem, por isso, de considerar a origem dos materiais utilizados, privilegiar os de
origem em recursos renováveis (se possível locais), a partir de ciclos curtos de produção e
pouco dispendiosos em energia, os menos poluentes, degradáveis ou passíveis de serem
reciclados.
Optar por uma casa que apresenta temperaturas, que na maior parte do ano, dispensam
equipamentos de aquecimento ou arrefecimento, em detrimento das casas que são muito
quentes no Verão e muito frias no Inverno, está associado a inúmeras vantagens, sobretudo
num clima que goza de condições que o tornam significativamente mais afável do que países
com climas mais rigorosos.
As condições existem, basta perceber como aplicar as técnicas.
“Doing the right thing” is no longer merely a matter of making ourselves feel good; it’s
a matter of survival, for ourselves and for generations to come.
Muhammad Yunus – Creating a World Without Poverty. 2007
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
IX
ABSTRACT
Currently, with the practice of sustainable architecture, we use solutions similar to traditional
architecture, back from when there were few artificial materials.
Recovering old techniques or using new ones, there are several reasons to adopt a more
sustainable style of architecture.
"The more a system or way of life is built on the green and photosynthesis, the more it is
renewable and sustainable ... Until the sun goes out. "
Evaristo E. Miranda
One must, however, properly integrate the different strategies and relate them to other aspects
of environmental performance, such as the choice of materials. These, with the virtues of
isolation and storage capacity, help to retain temperature, while not trading away the
importance of interior space design for good thermal insulation performance.
Each sustainable construction takes into account its possibilities and limitations, while
evaluating the final ecobalance, which will ideally be positive.
In France, for example, the crisis of 70’s led the builders to focus on getting the best
performance at the lowest energy cost, which resulted in large scale usage of new, highly
efficient and affordable insulation materials. A new importance was given to the role of the
habitat in its inhabitants’ health and the new insulation materials were then questioned
regarding their environmental impact: from the impossibility of their recycling at their end-of-
life, to the high carbon footprint.
A house built entirely based on materials with a reputation for being the most "healthy",
without any commitment, is likely to be a problem given the level of energy consumption.
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X
Architecture must, therefore, consider the origin of the materials, focus on those originating
from renewable resources (local, if possible), from short production cycles and with less
energy cost, with less polutants, and those biogradable or altogether recyclable.
To opt for a home that has temperatures that most of the year, does not call for heating or
cooling equipment, to the detriment of the houses that are too hot in summer and very cold in
winter, brings numerous advantages, especially in a climate that enjoys conditions that make
it significantly more affable than countries with more rigorous climates.
The conditions are gathered, all it takes is to understand how to apply the techniques.
“Doing the right thing” is no longer merely a matter of making ourselves feel good; it’s
a matter of survival, for ourselves and for generations to come.
Muhammad Yunus – Creating a World Without Poverty. 2007
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XI
PALAVRAS-CHAVE
Arquitectura
Materiais
Mochila Ecológica
Impacto Ambiental
Sustentabilidade
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APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
1
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1.1. A escolha do tema
Presentemente, devido a interacções conjuntas entre a actividade humana, o ambiente urbano
e o clima, a abundância de poluentes no ar que respiramos e as instabilidades climáticas, há
uma ameaça perante a sustentabilidade de muitas das cidades actuais. Isso traduz-se numa
qualidade de vida mais precária.
Grande parte das cidades, enfrenta hoje muitos problemas ambientais (má qualidade do ar,
trânsito congestionado, ruído, pressão urbanística e falta de espaços públicos, emissões de
gases de efeito de estufa e grande volume de resíduos) com consequências nocivas para a sua
qualidade de vida. O desenvolvimento urbano sustentável procura um modelo de mobilidade
eficiente, representa um desafio incontornável e mais urgente do que nunca.
A forma como o ser humano se organiza e como estrutura a construção das cidades, baseia-se
sempre numa falsa ideia de eternidade, considerando todos os recursos disponíveis como
ilimitados e sem olhar para as consequências arrasadoras que alguns deles impõem ao
ambiente.
A tendência no ramo da construção, tem sido criar uma harmonia entre a arquitectura e o
ambiente, de forma a proporcionar conforto ao utilizador e controlo de custos. Há uma maior
preocupação pela qualidade arquitectónica.
Por estes motivos, considerou-se um tema relevante para ser explorado. Com este trabalho,
pretende-se verificar como é possível, usando um edifício com determinados materiais em que
não se teve em conta a questão da sustentabilidade, criar uma construção mais sustentável,
não o desprovendo de conforto, estética ou qualidade arquitectónica.
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2
1.2. Estrutura
Esta dissertação é composta por quatro capítulos de desenvolvimento, que sucedem a presente
introdução e antecedem a conclusão.
Estará assim, contido no segundo capítulo, uma leitura e análise ao passado e presente, para
que mais conscientemente, sejamos capazes de prever e avaliar o futuro. Assim sendo, torna-
se importante conhecer os principais traços definidores da evolução da construção, sejam eles
originados por uma base teórica, ou pela sua concretização.
No terceiro capítulo, é feita uma análise da situação geográfica das matérias-primas e são
explicados os critérios de selecção dos materiais para a construção.
No quarto capítulo, temos um estudo sobre os materiais, no seu estado bruto de matéria-
prima, ou na forma de produto já alterado. Abordaremos os materiais que melhor respondem à
sustentabilidade ambiental ou cujas técnicas de produção têm vindo a evoluir
progressivamente nesse sentido. Poderemos ver a sua aplicação em algumas situações.
No quinto capítulo, é analisado o caso de estudo. Vai-se proceder à comparação dos materiais
usados no projecto e perceber que utilizando outros materiais mais sustentáveis, consegue-se
reduzir de uma forma significativa o seu impacto ambiental.
Fizeram-se diferentes tipos de abordagem ao tema, como uma sequência de pequenos
objectivos, cujo encadeamento de resultados, permite clarificar e responder ao objectivo
principal. Assim sendo, esperam-se alcançar os seguintes patamares:
‐ Partindo do princípio de que se aprende sempre com o passado, devem apreender‐se os
ensinamentos históricos a retirar da evolução da construção, para a estruturação do futuro em
padrões de sustentabilidade;
‐ Sabendo que existe uma linha ténue entre a idealização e a realidade, devem procurar‐se os
elementos que permitem alcançar o equilíbrio, a partir do qual se criarão esses mesmos
padrões, recorrendo‐se para tal à análise de casos de situações consideradas ideais.
- Deve existir consciência de que a cidade se faz de um conjunto de parâmetros que
individualmente e na sua interacção permitem ou não atingir o estatuto de sustentável. Por
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
3
isso, é importante saber qual a verdadeira dimensão da sustentabilidade, quando aplicada à
construção, sendo que esta deve ser entendida como algo em constante mutação.
A técnica de investigação aplicada, consiste da análise e comentários bibliográficos,
conseguido pela leitura de livros, trabalhos académicos, artigos de revistas e informação
divulgada através da internet, referenciando e complementando os casos específicos com a
observação fotográfica e o estudo de esquemas relacionados com os temas em questão.
Com esta dissertação, pretende-se apresentar as diferentes abordagens que existem no
contexto da sustentabilidade da construção e chegar a uma metodologia para a avaliação de
soluções construtivas de edifícios.
No final, a metodologia é aplicada a um caso de estudo - Centro Náutico na Praia do Areinho,
na cidade de Vila Nova de Gaia, que tem como objectivo, avaliar comparativamente a
sustentabilidade das soluções adoptadas, com as que poderiam ter sido utilizadas.
1.2. Estado da Arte
Para a prática da Arquitectura Sustentável, o objectivo é fornecer um conjunto de
conhecimentos e métodos de análise básicos, que a suportem, resultando na boa concepção e
construção dos edifícios, devido ao impacto negativo de construções sobre o meio ambiente,
materiais de construção e principalmente devido ao seu processo de produção. No entanto,
este impacto varia de país para país e de acordo com aplicações ecológicas no local nas
instalações de produção. Dependendo da taxa de sucesso destas aplicações, o impacto sobre o
meio ambiente durante a produção de materiais de construção, é reduzido.
A construção tem uma grande responsabilidade no impacto ambiental global. Qualquer
actividade humana requer a utilização de materiais para se poder desenvolver. Desde as
necessidades mais básicas (alimentação, abrigo) até às mais sofisticadas (telecomunicações,
deslocações a alta velocidade), todas elas exigem a utilização de materiais que cumpram na
sua configuração e propriedades, a satisfação dessas necessidades.
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O nosso modelo ocidental de desenvolvimento baseia-se num crescente aumento dessa
actividade, da geração e satisfação de novas e mais exigentes necessidades que trazem um
aumento correspondente do uso de materiais. Esse modelo oferece-se hoje como referência
para uma população em constante aumento e como apoio a uma economia alargada já a todo o
planeta.
Só ponderando factores como o ambiente, a economia, a sociedade e a cultura, durante a fase
de um projecto, é que uma construção pode ser considerada sustentável.
Para além de se considerarem critérios ao nível da escala do edifício, também se podem
considerar parâmetros que avaliem a interacção do edifício com o meio em que este está
inserido. Normalmente, as normas que servem de apoio à avaliação da sustentabilidade, estão
relacionadas com a redução da utilização de energia e materiais não renováveis, redução do
consumo de água, redução da produção de emissões, resíduos e outros poluentes.
Segundo os autores Luís Bragança e Ricardo Mateus1, nas diferentes metodologias de
avaliação da sustentabilidade, normalmente é possível identificar os seguintes objectivos:
optimização do potencial do local, preservação da identidade regional e cultural, minimização
do consumo de energia, protecção e conservação dos recursos de água, utilização de materiais
e produtos de baixo impacte ambiental, adequada qualidade do ambiente interior e
optimização das fases de operação e manutenção.
Actualmente, existe uma variedade de ferramentas no mercado da construção, que têm sido
utilizadas na avaliação e no apoio à concepção da construção sustentável. As mais conhecidas
são a BREEAM (desenvolvida no Reino Unido) e a LEED (desenvolvida nos Estados
Unidos)2. Existem também ferramentas baseadas nos sistemas Análise de Ciclo de Vida
(ACV) que foram especialmente desenvolvidas de modo a abranger os edifícios na sua
globalidade.
A maioria das ferramentas está desenvolvida numa soma e combinação do desempenho dos
diversos materiais e componentes do edifício que resultam em grande parte no desempenho
1 Tecnologias para a Sustentabilidade da Construção
2 Edwards & Bennett 2003
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
5
global do mesmo, apesar de se considerar o edifício no seu todo, incluindo as necessidades
energéticas (Erlandsson & Borg 2003).
Reunir dados e reportar informação que servirá de base aos processos de decisão que surgem
durante as diversas fases do ciclo de vida de um edifício, é o objectivo da avaliação da
sustentabilidade. Para se poder classificar e atribuir um perfil sustentável a um edifício, é
necessário criar um processo, no qual os factores mais importantes vão ser identificados,
analisados e avaliados.
Actualmente, podem-se identificar duas tendências, antagónicas no contexto das ferramentas
de avaliação: de um lado, a complexidade e a diversidade de indicadores desenvolvidos por
diferentes entidades e do outro, a evolução no sentido da sua efectiva implementação, através
do desenvolvimento de indicadores comuns e simplificação do processo de avaliação.
Segundo os autores Fernando Pacheco Torgal e Said Jalali, na Europa, a indústria da
construção constitui um dos maiores e mais activos sectores, representando 28,1% e 7,5% do
emprego, respectivamente na indústria e em toda a economia europeia. A nível mundial, a
indústria da construção, também consome mais matérias-primas (aproximadamente 3000
Mt/ano, quase 50% em massa), que qualquer outra actividade económica. Da mesma forma,
consome elevadas quantidades de energia e os resíduos de construção e demolição
representam a grande maioria dos resíduos produzidos em toda a Europa, sendo que grande
parte tem a vantagem de poder ser reciclada. O aumento da população mundial, (espera-se
que supere mais de 2000 milhões de pessoas até ao ano 2030) e as necessidades em termos de
construção de edifícios e outras infra-estruturas, agravarão ainda mais o consumo de matérias-
primas não renováveis, bem como a produção de resíduos. A sustentabilidade da indústria da
construção, principalmente o caso dos materiais de construção assume, desta forma, um papel
primordial que importa explorar.
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7
CAPÍTULO II – O HOMEM E O AMBIENTE
Introdução
Cada vez mais, as actividades humanas têm influência na qualidade do ambiente que nos
rodeia. A dimensão do impacto ambiental causado pelo Homem, encontra-se directamente
relacionada com o crescimento da população global, devido ao facto de cada vez mais porções
do território ficarem ocupadas pelo Homem, existir necessidade de aumentar a exploração dos
recursos naturais e consequentemente produzir resíduos prejudiciais ao ambiente.
Por estes motivos, faremos neste capítulo, um enquadramento demográfico ao nível global,
seguido de uma análise sobre os impactos ambientais mais significativos que afectam o
planeta e a tomada de consciência da humanidade para os efeitos dramáticos desses impactos.
Abordaremos ainda as medidas que a Humanidade tem tomado para inverter os impactos
ambientais que o Homem tem causado, analisando-se alguns documentos de âmbito
internacional sobre este tema e o caso específico do município de Vila Nova de Gaia, por
conter o território escolhido para a implantação da proposta académica do centro náutico. Por
fim, abordaremos ainda o conceito de arquitectura sustentável de maneira a entender qual o
contributo que a disciplina da arquitectura pode dar para a minimização dos impactos
ambientais.
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Figura 1 – Fragmento do aglomerado populacional de Vila Nova de Gaia
2.1. Enquadramento demográfico
Como se tem vindo a constatar, o aumento da poluição e a progressiva diminuição dos
recursos naturais, é propiciada pela acção do Homem, que os explora desenfreadamente num
crescendo cada vez mais acentuado, em paralelo com o aumento da população global, cujo
número de habitantes nunca atingira níveis tão elevados.
Os especialistas referem que este número tende a aumentar cada vez mais no futuro, caso não
se tomem políticas que invertam esta tendência. Desta forma, é importante referir que o
crescimento descontrolado da população é uma das grandes causas para a exploração intensa
dos recursos naturais do planeta.
No entanto, a realidade geo-demográfica europeia, é diferente da tendência global. Neste
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
9
continente, os níveis de crescimento da população parecem estabilizados e a Europa depara-se
com um outro problema que é o envelhecimento da sua população. A pirâmide demográfica
encontra-se cada vez mais invertida, existindo já menos jovens que idosos, sendo estes
últimos a faixa etária dominante.
Desta forma, um dos grandes desafios que se colocam aos países da comunidade europeia, é
precisamente o de saber como enfrentar esta realidade e tentar equilibrar novamente a
pirâmide etária. Para se obter uma percepção mais detalhada sobre o estado actual da Europa
ao nível demográfico e como poderá estar no futuro, tomaremos como referência o X
Colóquio Ibérico de Geografia3.
Ao manterem-se as actuais tendências demográficas e sem contar com os fluxos migratórios,
observar-se-á na Europa 15 uma redução populacional elevada, contrariando assim, como já
se referiu, a tendência global. Esta previsão de redução da população é de tal ordem que o
conjunto dos 15 países perderá um quinto da população, fazendo com que em 2050 o número
de população da Europa 15, seja igual ao número observado em 1960. Verifica-se assim que a
pirâmide etária equilibrada que se encontrava em 1960 ficará completamente invertida4 em
2050, a faixa etária com mais de 65 anos ocupará cerca de um quarto da população total.
Mesmo tendo em conta os fluxos migratórios, a Europa perderá população, no entanto, com
uma redução menos intensa. O efeito dos fluxos migratórios reduzirá também, ainda que de
uma forma ligeira, o envelhecimento da pirâmide etária5.
Fazendo-se uma breve comparação com os valores de emigração actuais e os necessários para
2050 para manter o número de população activa necessária à sustentabilidade do modelo
3 AVV. A Geografia Ibérica no Contexto Europeu. 2005
4 A Europa a 15 terá a sua população reduzida em mais de 80 milhões de habitantes (um quinto da população). Os 10 novos países do
alargamento perderão cerca de 20 milhões (um quarto da população). De verificar que no ano 2000, a população envelhecida ocupava já
16,3% da Europa a 15 e em 2050 atingirá os 27%. Ao nível de cada Estado, Luxemburgo e Reino Unido terão uma redução da população
inferior a 10% e a Letónia, Bulgária, Estónia Hungria, Eslovénia, Itália República Checa e Alemanha terão uma redução da população
superior a 30%. Regionalmente a diminuição da população será mais intensa no leste da Alemanha, no Báltico, nas regiões entre a Bulgária e
a Roménia, no norte da Itália e de Espanha, e no centro e sul de Portugal
5 Por apresentarem saldos migratórios negativos o envelhecimento será mais acelerado na Letónia e Estónia, ao contrário da Irlanda, Malta e
Luxemburgo, cuja estrutura etária é mais jovem vê reforçada a população jovem pelos forte imigração que se incide nos seus países. A
estrutura etária é rejuvenescida através dos fluxos migratórios nos países como Portugal, Itália e Grécia
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social europeu, verifica-se que no extremo, atingirão dez vezes mais os valores actuais6.
De notar, que estes estudos não têm como objectivo prever o futuro, mas têm a vantagem de
nos elucidar sobre os limites da evolução demográfica e prever as tensões territoriais que se
aproximam. A demografia actual é uma consequência em grande medida daquilo que se
desenhou acerca de quatro décadas atrás e qualquer medida no sentido de inverter estas
tendências só terá efeitos daqui a duas ou três décadas.
Analisando-se as projecções demográficas das Nações Unidas, pode-se notar que os países de
leste europeu não constituem uma alternativa ao preenchimento das vagas existentes para
ocupação do quadro de população activa do ocidente europeu. Pelo contrário, a África, a
América Latina e a Ásia, são potenciais continentes de recrutamento de mão-de-obra
imigrante, não só pela taxa elevada de população que possuem como também pela
qualificação necessária que detêm.
Para a manutenção ou melhoramento da demografia actual, é necessário encontrar as políticas
adequadas de emprego, educação e desenvolvimento tecnológico, a par da urgente
necessidade de fomentar o índice de fecundidade, através de medidas de apoio e incentivo à
maternidade.
Nas políticas de emprego devem ser tomadas medidas como o aumento do número de pessoas
activas, através do alargamento da taxa de mulheres no trabalho, e o prolongamento da idade
activa. Ao nível tecnológico deve-se continuar a aumentar a produtividade, sendo para isso
indispensável a qualificação da população.
De notar que estas medidas que têm sido tomadas pelos diversos governos europeus contêm
uma contradição paradoxal: o facto de se incentivar o sector feminino da sociedade a
trabalhar, faz com que naturalmente se reduza a possibilidade dos casais sentirem necessidade
de ter um maior número de filhos, uma vez que o ritmo de vida não o permite.
Assim, verificamos que ao contrário da tendência global no continente europeu, o número da
população começa a dar sinais progressivos de estabilização e até diminuição. Este facto pode
6 Sendo necessários actualmente 93 milhões de imigrantes para o conjunto dos países a 15 da União Europeia
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
11
ser um ponto a favor da redução do impacto ambiental do Homem no continente, uma vez que
além de se começar a poder planear e ordenar o território para um número de habitantes
controlado, o facto de a população não aumentar, implica que não haja necessidade de
explorar mais áreas do território e não se produzam mais resíduos do que aqueles que já são
produzidos.
2.2. Os problemas ambientais
“Nós, presidentes de municípios da Europa e regiões vizinhas, reconhecemos que apesar de
todos os esforços para melhorar o ambiente, a maioria das tendências ambientais, globais e
europeias, levantam preocupações sérias: enquanto as alterações climáticas, a
desertificação, a diminuição dos recursos aquáticos e a perda de biodiversidade têm e
continuarão a ter um impacte global, muitas das causas desta degradação têm origem na
poluição atmosférica, poluição sonora e tráfego excessivo que são provocados e afectam os
habitantes das cidades no seu dia-a-dia.”
Declaração de Hannover (2000)
Como é do conhecimento geral, decorrente das notícias da televisão e jornais, das inúmeras
campanhas de sensibilização e das vozes mais sonantes da ciência mundial, o meio ambiente
tem sofrido grandes modificações devido não só à taxa galopante de ocupação do território
pelo Homem, decorrente do aumento acelerado da população mundial (como vimos no
subcapítulo anterior), mas também devido à exploração desenfreada dos recursos naturais, à
poluição proveniente dos equipamentos industriais, dos meios de transporte e produção de
energia não renovável como também da acumulação de resíduos sem tratamento.
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Figura 2 – Poluição que afecta a qualidade do ar ao nível global
Toda esta actividade humana, tem reflexos prejudiciais cada vez mais evidentes, como são
exemplo as alterações climáticas que se fazem sentir por todo o planeta, onde muitos
especialistas referem que o clima se encontra descontrolado, propiciando tempestades intensas
em algumas regiões ou em oposto secas demasiadamente longas para o normal.
Os recursos naturais que têm vindo a ser explorados de forma cada vez mais intensa pelo
Homem ao longo dos dois últimos séculos, têm prejudicado o ambiente e provocado um
desequilíbrio cada vez mais acentuado do ecossistema planetário, culminando cada vez mais
frequentemente no seu desaparecimento.
Tomando como referência as teorias de Ulrich Beck, pode-se afirmar que a crise ambiental
que a maioria dos especialistas vaticina, representa o expoente máximo de uma sociedade de
risco e que só após a tomada de consciência global para este problema, é que viraremos a
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
13
página deste drama rumo a um desenvolvimento sustentável, transitando-se da modernidade
clássica para a modernidade reflexiva7.
Para isso, é então necessário o surgimento de um movimento ambiental que critique
duramente a forma antropocêntrica com que o Homem se situa no planeta, uma vez que a
exploração propiciada pela estrutura técnico-científica desta sociedade capitalista, tem levado
à devastação e escassez de vários recursos naturais.
Assim, haveria uma contra-resposta às actividades humanas que severamente prejudicam o
ambiente e por conseguinte as populações, nomeadamente aquelas que se encontram nas
zonas sujeitas a períodos de seca extrema, tempestades violentas ou ainda, sem ter a ver
exactamente com o clima, a degradação dos solos e dos recursos hídricos e, na pior das
circunstâncias, radiações nucleares como as verificadas actualmente (2011) no Japão, cujo
descontrolo de reactores nucleares, após uma avaria provocada por um sismo, prejudicará o
ambiente envolvente durante uma série de anos, tornando-o num espaço impróprio para a
habitação humana e outros ecossistemas.
Como os causadores da poluição, mesmo que distantes de nós, nos afectam directa ou
indirectamente nem que seja através do ar, o surgimento de um movimento ambiental teria de
ter um carácter global.
As raízes para o surgimento de um movimento ambiental global tiveram início, ao contrário
do que comummente se pensa, não em meados do século XX, mas sim no final do século
XIX, com as oposições aos efeitos dramáticos propiciados pela revolução industrial, como são
exemplo disso as críticas que John Ruskin fazia ao progresso emergente da indústria e aos
efeitos nocivos que implicava na vida dos aglomerados populacionais.
No entanto, só realmente em 1960 é que se começou a traçar verdadeiramente o surgimento
de um movimento ambiental global que tem vindo a crescer de forma exponencial até aos dias
de hoje. Para esta breve análise seguiremos o pensamento de John McCormick exposta numa
7 AUTOR. ANO. p. 49. (Capítulo IV – O movimento ambiental e a ética ambiental como factores de consciencialização face aos problemas
do ambiente. Os primeiros ecos da Modernidade Reflexiva)
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das suas exposições históricas8.
A partir da década de 1960 a Humanidade começou a tomar consciência de que o
desenvolvimento acentuado da civilização através da expansão da sociedade industrial e dos
transportes em paralelo com a energia nuclear começava a dar grandes sinais de prejudicar
gravemente os habitats naturais, fazendo-os desaparecerem se não houver uma atenção
especial dedicada ao facto.
Este movimento ambiental, surge primeiramente constituído por pessoas e grupos dispersos e
heterogéneos que defendiam uma reforma política e social, no sentido de inverter a
degradação ambiental que se verificava, o que acabou por dar os primeiros sinais de oposição
ao progresso da sociedade técnico-científica e lançar as bases para o aparecimento de novos e
cada vez mais influentes defensores desta causa9.
Uma das primeiras e mais influentes defensoras destas ideias, foi a bióloga Rachel Carson,
uma cientista americana que criticou duramente a forma como a ciência e a indústria
encaravam os problemas ambientais. Tendo publicado um livro denominado de Silent
Spring10
, no qual referia o quão nefastos eram os pesticidas11
utilizados nos ambientes
naturais e na saúde das populações, este livro foi considerado um best-seller e despertou a
consciência de inúmeros cidadãos americanos para o facto das actividades humanas estarem a
prejudicar severamente o ambiente12
.
De entre outros nomes importantes, são de destacar ainda Paul Erlich, Lynn White, DeKeneth
Boulding e Garrett Hardin, que nos anos 60 em paralelo com Rachel Carson apelaram à
reflexão de todos para a emergência dos danos ambientais.
DeKenneth Boulding13
e Garrett Hardin14
, reflectiam essencialmente sobre a capacidade
8 Exposição histórica de John McCormic descrita em The Global Environmental Movement
9 MCCORMIC. 1991. p. 57
10
Silent Spring, publicado no verão de 1962, que fez com que Rachel Carson seja hoje considerada uma das pessoas mais referenciadas no
âmbito do movimento ambiental 11 Dos pesticidas destacava-se o DDT que era o mais utilizado na agricultura para combater os insectos devido aos reduzidos custos
envolvidos na sua produção 12 MCCORMIC. 1991. p. 60 13 BOULDING.1996
14 HARDIN. 1968
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
15
limitada de regeneração dos recursos naturais do planeta; Lynn White15
referiu questões
religiosas para os danos ambientais e Paul Erlich16
referiu que as consequências do
crescimento desenfreado da população global, se não for controlado, contribuirá para o
esgotamento e impedimento da renovação dos recursos naturais. Em consonância com estas
vozes influentes, e principalmente com Elrich, o MIT17
organizou um estudo onde se
verificava que o crescimento da população global era a maior causa para dos problemas
ambientais.
Neste documento, publicado no início da década de 1970, já se prenunciava aquilo que hoje se
confirma, embora, felizmente, de forma não tão dramática, onde nos finais do século XX
assistir-se-iam a catástrofes naturais, devido à devastação dos recursos naturais e poluição do
ar. Concluiu-se assim, que era urgente alterar a forma como a sociedade global se
desenvolvia18
.
Todas estas vozes sonantes e estudos, contribuíram para que em 1972 se organizasse pela
primeira vez uma cimeira de carácter internacional, organizada pelas Nações Unidas, para
debater o ambiente humano19
. Assim, pela primeira vez, os problemas ambientais foram
olhados de forma intergovernamental, onde os representantes dos diversos Estados se
reuniram para encontrar e tomar as medidas necessárias para reduzir o impacto da acção do
Homem sobre o planeta.
Da realização deste evento surgiu a United Nations Environmental Programme20
, que tem
como intuito a formulação de padrões de conduta ambientais de âmbito global. No entanto, a
implementação das suas directivas encontra-se bloqueada, em grande medida pelo poder
político dos países mais desenvolvidos, uma vez que lhes é difícil conseguir conciliar as
15 WHITE. 1967
16 EHRLICH. 1968
17 Este estudo foi pedido pelo Clube de Roma e foi publicado no documento Limits to Growth em 1972, e os especialistas intervenientes
foram Donnela Meadows, Dennis Meadows, Jorgen Randers e William Bherens III. O clube de Roma consiste numa associação de cientistas,
industriais, professores universitários, economistas, constituída para estudar os problemas da humanidade
18 MCCORMICK, 1991. p.93
19 Em Estocolmo em 1972 organizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano
20 Programa Ambiental das Nações Unidas
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políticas ambientais com o desenvolvimento económico que pretendem que seja forte e
competitivo. Ainda assim, apesar da forte resistência dos dirigentes políticos e industriais, é
de louvar o debate público que esta organização propiciou e notar que foi dado o primeiro
grande passo ao nível internacional para a resolução conjunta dos problemas ambientais21
.
É ainda de destacar o engenheiro florestal americano Aldo Leopold (1887-1948) que teorizou
o conceito de ética ambiental, que implica a atribuição de um valor moral não apenas entre os
homens mas também entre o Homem e o meio ambiente. Desta forma, o Homem deixaria de
ter uma visão antropocêntrica em relação ao ambiente, uma vez que o mesmo é indispensável
para a coexistência da Humanidade. Assim, a Natureza deixaria de ser vista apenas como um
mero recurso subordinado às necessidades humanas.
Este conceito de ética ambiental, encontra-se publicado pela primeira vez, em The Land Ethic
de Aldo Leopold22
, tendo sido este documento que inspirou muitos dos especialistas atentos
aos problemas ambientais a reflectirem sobre o direito próprio que o ambiente tem na sua
relação com o Homem.
Segundo Leopold, a relação que os humanos estabeleciam com a Natureza eram puramente
económicos, não existindo preocupações com os danos que lhe causavam. No entanto,
paradoxalmente, esta forma de mal tratar o ambiente, culminaria futuramente num género de
―vingança‖ propiciada pela Natureza, uma vez que sem um ambiente são, o Homem não
consegue obter qualidade de vida.
Desta feita, deve existir uma ética ambiental, que no fundo engloba colectivamente todos os
actores do planeta Terra: o solo, a água, a fauna, a flora e o Homem. Sendo uma forte
oposição ao antropocentrismo, a Humanidade deve ter a obrigação ética de encontrar um
equilíbrio harmonioso entre aquilo que a terra produz e as necessidades humanas23
.
Estas ideias de Aldo Leopold, abriram caminho à proposta de Hans Jonas para o conceito de
responsabilidade do Homem em relação às acções que pratica no meio ambiente e a
21 MCCORMICK. 1991. p. 107
22 LEOPOLD. 1970
23 LEOPOLD. 1970. pp. 238-240
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
17
sustentabilidade dessas acções para o presente e para as gerações vindouras.
Segundo Hans Jonas, a civilização humana tem evoluído a um ritmo vertiginoso devido ao
grande avanço da ciência e das técnicas contemporâneas, não havendo dúvidas de que esta
evolução se acentuará cada vez mais no futuro, e consequentemente a mão do Homem no
planeta far-se-á sentir com cada vez mais intensidade no planeta.
Assim, se o Homem mantiver os padrões de desenvolvimento actuais, decorrentes da sua
visão antropocêntrica para com o planeta, este mesmo grande avanço tecnológico e científico,
pode implicar o fim da Humanidade, devido a uma grave crise de auto regeneração do
planeta, que vê os seus recursos a serem todos consumidos num ritmo de tal modo acentuado
que lhe é impossível recuperar.
Desta forma, Hans Jonas refere também a importância de reavaliar os princípios éticos com
que o Homem encara a sua forma de actuação da Natureza e responsabilizar-se pelos seus
actos, acrescentando ainda que estas preocupações não têm apenas a ver com a possível
extinção humana, decorrente das suas políticas de desenvolvimento, mas têm ainda mais a ver
com a integridade da essência humana, ou seja o conceito que possuímos do destino do
Homem24
.
Desde a revolução industrial, que a sociedade se desenvolveu a um ritmo sem precedentes,
devido aos avanços científicos e técnicos; no entanto é de se notar que ao nível ético, o
Homem nunca tinha contemplado a sua relação com o meio ambiente que o envolve. O que
propicia um acentuado desequilíbrio entre o desenvolvimento económico, técnico e científico
que é claramente superior ao fraco ou inexistente progresso ético que existia em meados do
século XX neste campo.
De notar que também cada vez mais o Homem é um refém do seu próprio desenvolvimento,
sendo dominado pelos mecanismos que ele próprio criou. Está de tal forma dependente da sua
evolução, que os problemas mais urgentes que tem para resolver são aqueles que ele próprio
cria.
24 JONAS. 1995. p. 16
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18
Organigrama 1 – Actividade da construção entre a Revolução Industrial e Pós-Industrial
Esta falta de ética, compromete indubitavelmente as gerações vindouras. Por estes motivos,
Jonas refere que no futuro deveria haver um mundo apto a que o Homem o habite por uma
Humanidade digna desse nome, por isso a acção humana não deve basear-se apenas no
presente mas actuar de forma racional de modo a que o futuro das gerações seguintes não
fique comprometido25
.
Com a análise destes vários protagonistas do movimento ambiental, verificamos que a
consciencialização ambiental da humanidade é fundamental para a resolução destes
problemas. Todos os habitantes devem ser responsabilizados pelos seus actos e todos podem
contribuir para o regresso a uma qualidade ambiental digna.
Esta consciencialização propicia uma progressiva alteração de comportamentos no meio
25 JONAS. 1995. p. 38
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
19
ambiente, de onde se destaca aquilo que tem maior interesse na presente dissertação, como
seja a diminuição da produção de resíduos, que é conseguida fundamentalmente através da
desmaterialização. A partir desta nova forma de actuação, nota-se até aos nossos dias, a
existência de estratégias cada vez mais eficientes no âmbito da separação e recolha selectiva
de resíduos, atribuindo-lhes um novo ciclo de vida, ou seja a sua reciclagem.
Assim, neste contexto, actualmente verifica-se que os governos, poderes regionais ou locais,
manifestam um interesse crescente, ainda que não suficiente, na diminuição do impacto
ambiental que os resíduos propiciam. Em Portugal, um dos planos mais referenciados é o
Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos26
, que tem como objectivo sensibilizar todos os
intervenientes a aplicarem mudanças de actuação nos resíduos, como sejam a sua selecção e
separação; aplicar políticas educativas que sensibilizem os cidadãos a atribuir importância à
sustentabilidade ambiental e sua respectiva responsabilização pelas acções que prejudiquem o
meio ambiente.
2.2.1. Agenda Habitat II
―Promover métodos de construção e tecnologias disponíveis, apropriadas, a custos
acessíveis, seguros, eficientes e ambientalmente correctos, em todos os países, especialmente
nos em desenvolvimento, em níveis local, nacional, regional e sub-regional, que enfatizem a
optimização do uso dos recursos humanos locais e estimulem métodos de economia de
energia e que protejam a saúde humana.”
Agenda Habitat II, Istambul, 1996
A tomada de consciência global que se intensificou a partir de meados do século XX e que
analisamos no subcapítulo anterior, propiciou as condições necessárias para que a partir da
década de 70, começassem a surgir conferências internacionais para debater assuntos
relacionados com a minimização dos impactos ambientais causados pelo Homem.
26 PERSU II: Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos
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20
Figura 3 – Complexo Habitat 67, Canadá
Uma das conferências de maior destaque para esta dissertação é a Agenda Habitat II (1996),
decorrente da Declaração de Istambul, assinada por 171 países na Conferência Global para os
Assentamentos Humanos. Foi elaborada com o intuito de definir estratégias para as entidades
administrativas locais, como os municípios no caso de Portugal, sobre como tornar o território
mais sustentável ao nível do seu ordenamento e edifícios que sobre ele se implantam.
Como é descrito nesta agenda, ao nível da sustentabilidade, a evolução dos assentamentos
humanos por todo o mundo não correspondeu àquilo que se encontrava previsto pela
comunidade internacional, aquando da conferência das Nações Unidas sobre este tema
realizada em 1976 em Vancouver (Agenda Habitat I).
Tendo-se constatado que a habitação digna, serviços básicos e infra-estruturas para todos se
encontrava em fraco desenvolvimento em diversos países, na Agenda Habitat ficou traçado
como principal objectivo, a concepção de habitações de qualidade para todos e o
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
21
desenvolvimento dos espaços ocupados pelo Homem de forma sustentável, de maneira a
combater os desequilíbrios sociais, económicos e ambientais que propiciam má qualidade de
vida a grande parte da população mundial27
.
Assim, nesta agenda, todos os governos comprometeram-se com o objectivo de garantir: a
coordenação das políticas macroeconómicas e de habitação como uma prioridade social; o
acesso igual à terra a todos os cidadãos; o acesso a todas as pessoas à água potável, o
saneamento básico, áreas de lazer; e conceber padrões que garantam a acessibilidade para
todos, incluindo pessoas com deficiências; e de maior interesse na presente dissertação
encontra-se a promoção de métodos de construção e tecnologias a custos acessíveis e
eficientes, que sejam os mais correctos possíveis ambientalmente28
.
2.2.2 A Agenda 21 Local e a Europa
Paralelamente à Agenda Habitat, outro documento de âmbito internacional de destaque, é a
Agenda 21 Local que resultou da conferência Eco-92, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992.A
Agenda 21 foi elaborada com o com o intuito de servir de base de orientação aos governantes
de cada país no sentido de reflectirem, não apenas global mas também localmente, sobre a
forma pela qual governos e representantes de outras entidades públicas ou privadas,
governamentais ou não governamentais, possam colaborar na definição da estratégia a seguir
para a redução dos problemas ambientais que o Homem tem criado.
A Agenda 21 Local, como o próprio nome indica, é uma agenda que deve ser elaborada pelas
administrações locais, sendo no caso português os municípios. Tem como objectivo definir
princípios orientadores que contribuam para a progressiva modificação da sociedade
industrial, para uma sociedade que detenha um novo conceito de progresso, baseado numa
maior qualidade e harmonia entre as actividades económicas poluentes e o meio ambiente. Há
assim uma preocupação a favor da qualidade, em detrimento da quantidade de produção.
27 AVV. 2003. Agenda Habitat para Municípios. Rio de Janeiro. pp. 17-22
28 AVV. 2003. Agenda Habitat para Municípios. Rio de Janeiro. pp. 33-35
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22
Esta conferência reforçou o caminho rumo à alteração da forma como o Homem planeia a
ocupação do território e desempenho das suas actividades, através de uma política de acção ao
nível local, de forma progressiva e controlada. Promovendo-se o planeamento dos sistemas de
produção e consumo contra a cultura do desperdício, onde por exemplo no sector da
construção se verifica existir a produção de inúmeros resíduos que podem ser atenuados se
existir uma melhor selecção e gestão dos materiais de construção como veremos nos próximos
capítulos.
Em 1994 foi realizada em Aalborg a primeira Conferência Europeia das Cidades e Vilas
Sustentáveis, na qual participaram representantes de 80 municípios e outras autoridades locais
e regionais europeias que aprovaram o documento denominado ―Carta de Aalborg‖. Esta
campanha teve como objectivo incentivar a reflexão sobre a sustentabilidade do ambiente
urbano, a troca de experiências e a difusão das melhores práticas ao nível local para elaborar
recomendações que visem influenciar as políticas de ordenamento do território.
Desta carta, destacam-se os seguintes objectivos gerais de desenvolvimento sustentável:
participação da comunidade local e obtenção de consensos; economia urbana na conservação
da área natural; equidade social; correcto ordenamento do território; mobilidade urbana; clima
mundial; e conservação da Natureza.
A primeira fase desta Campanha duraria dois anos, até à realização da segunda Conferência
Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis em Lisboa (1996), na qual participaram 250
autoridades municipais e regionais. Esta conferência realizou-se com o intuito de sensibilizar
os presentes em relação aos progressos que ocorreram desde a primeira conferência realizada
em Aalborg. Permitiu a troca de ideias e experiências das práticas locais e a definição de
projectos conjuntos entre diversas entidades europeias. Para isso, identificou-se em primeiro
lugar, as carências das câmaras municipais envolvidas no plano da Agenda 21 e de seguida
procuraram-se soluções que beneficiem o plano de acção29
.
Os participantes desta conferência aprovaram o documento intitulado ―Da Carta à Acção‖,
29 Conferência realizada entre os dias 6 e 8 de Outubro, que contou com a participação de 1.000 representantes de autoridades locais e
regionais de toda a Europa. Nesta conferência procurou-se obter consensos quanto à aplicação da Agenda 21 (Rio de Janeiro, 1992) e da
Agenda Habitat (Istambul, 1996)
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
23
que se baseia em experiências locais, debatidas nos 26 workshops realizados na conferência,
continuando a ter em conta os princípios defendidos na Carta de Aalborg30
.
Neste plano de acção de Lisboa, da Carta à Acção31
, os signatários referem a Carta de
Aalborg32
como um dos melhores pontos de partida para a realização do plano de Agenda
Local 21. Na qual, em paralelo devem ser utilizadas ideias da Agenda 21, do V Programa de
Acção Ambiental da União Europeia ou da Conferência Habitat II, entre outros que se
considerem seguir os mesmos princípios orientadores abaixo referenciados:
- A realização da Agenda Local 21 deve ser elaborada com base num programa de trabalho
calendarizado, onde se encontrem clarificados os objectivos da agenda. As autoridades locais,
como por exemplo os municípios, devem ser os principais impulsionadores da estratégia a
seguir. Para isso, é necessário que toda a estrutura de poder local se encontre envolvida,
independentemente da dimensão do aglomerado populacional.
- Assim, os municípios devem adoptar uma postura que não se baseie apenas na soberana ou
administrativa, disponibilizando os recursos humanos e monetários necessários para levar a
cabo os planos definidos na Agenda Local 21, devendo liderar assim o processo de execução
do plano com o cuidado, no entanto, de não o dominar em exclusivo, funcionando antes como
mediador profissional entre os diferentes intervenientes;
- Devido à sustentabilidade local contemplar componentes sociais, económicas e ambientais é
necessária uma abordagem intersectorial, onde coexista uma rede interna que envolva o
município, a administração e os funcionários dos departamentos de maior responsabilidade,
devendo todos ser sensibilizados para as ideias de sustentabilidade;
- Para obter uma melhor percepção dos problemas locais, devem ser realizados processos de
consulta aos vários sectores da comunidade e promover parcerias e negociações com as
mesmas, no sentido de haverem cooperações estratégicas com vista atingir o mesmo fim. Para
30 Em paralelo com as recomendações do relatório sobre as cidades europeias sustentáveis ―Step by Step Guide‖ da comissão de gestão das
administrações locais do Reino Unido, do grupo de peritos em ambiente urbano da Comissão Europeia, e do guia de planeamento da agenda
local 21 do conselho internacional para as iniciativas locais de ambiente
31 Aprovado pelos participantes da 2ª Conferência Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis em Lisboa no dia 8 de Outubro de 1996
32 Carta das Cidades e Vilas Europeias em Direcção à Sustentabilidade
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24
isso, é necessário encontrar consensos sobre o plano adoptado para a Agenda Local 21 entre
os diferentes sectores da sociedade;
- As comunidades devem assim evitar que a resolução dos problemas ambientais presentes
seja efectuada pelas gerações futuras e evitar também a exportação desses problemas para
locais alheios à comunidade. Por isso eticamente é necessário que hajam negociações com os
representantes de outras comunidades, de modo a fomentar um equilíbrio entre procura e
oferta locais e reduzir a exportação de problemas;
- Para isso, deverão ser realizadas auditorias ao nível ecológico, social e ambiental, devendo
os resultados ser do conhecimento público de maneira a consciencializar os cidadãos para os
problemas que o seu ambiente incorpora;
- Sendo caracterizada por uma aplicação gradual das medidas delineadas no plano da Agenda
Local 21, em primeiro lugar o Fórum da Agenda Local 21, deve acordar com o município o
plano a utilizar, com os problemas devidamente identificados, procurando-se saber quais as
causas e efeitos, para depois adoptar os objectivos escalonadamente definidos, de maneira a
resolver antes de mais os que se considerem prioritários;
- Através da utilização das melhores ferramentas para a gestão da sustentabilidade, melhorar-
se-á o desenvolvimento ambiental social e económico e respectiva qualidade de vida da
comunidade, uma dessas ferramentas poderá ser o programa de sensibilização dos cidadãos e
representantes de entidades administrativas educacionais e políticas, assim será possível
ganhar força e formar parcerias entre as diferentes autoridades, associações e redes de
campanha;
- A estabilidade social deve basear-se numa economia que promova a qualidade ambiental. O
planeamento da sustentabilidade ambiental inclui os aspectos socio-económicos integrados no
meio ambiente, para isso é necessário que existam planos de gestão ambiental e de auditoria
em paralelo com a utilização de procedimentos de avaliação do impacto da sustentabilidade
na aprovação de novos empreendimentos;
- Para que exista um vasto conhecimento da relação interdependente entre os componentes
sociais, económicos e ambientais, uma das maiores ferramentas de que dispomos, consiste na
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
25
sensibilização e educação da população. É necessário incumbir os funcionários com a devida
formação profissional de modo a estarem aptos a exercerem as melhores opções de acção,
boas práticas e métodos. Devem também ser criados programas de educação nas
universidades, escolas e jardins-de-infância de modo a sensibilizar os mais novos para a
problemática da degradação do ambiente de maneira a que actualmente e no futuro estejam
preparados para responder às necessidades de melhoria da qualidade ambiental.
- De maneira a atenuar os desequilíbrios entre os municípios da mesma região, é necessário
formar alianças, parcerias e estratégias entre os mesmos, para isso, é necessária a atenção aos
impactos globais que a utilização dos recursos locais propicia. Assim, a responsabilidade dos
impactos negativos causados ao ambiente pelas acções do Homem, deve ser assumida pela
entidade que os propicia e deve ser compensada através de uma cooperação descentralizada.
- Devem ainda ser estabelecidas parcerias, acordos internacionais ou planos de assistência
bilateral para uma acção conjunta de planos de protecção do clima, dos recursos hídricos, do
solo e da biodiversidade.
Assim, a Campanha das Cidades e Vilas Sustentáveis passou da Carta à Acção, onde, para a
concretização da Agenda Local 21 deve existir uma concertação entre os diferentes
representantes locais europeus, de maneira a formar uma rede europeia de autoridades locais
que propiciem ajuda prática e orientações de formação.
Esta declaração acabou por reforçar a importância dos municípios no impulsionamento do
desenvolvimento sustentável33
,tendo-se verificado que desde a assinatura da Carta de
Aalborg, têm havido crescentes progressos que conduziram a muitas modificações positivas
nas cidades, encorajadores para a realização de diversas outras acções que se encontram por
fazer face aos desafios que ainda se enfrentam.
33 AVV. 2000. Ponto A. Nesta altura já se tinham comprometido com a sustentabilidade local cerca de 650 autoridades locais e regionais de
32 países europeus, tendo todos assinado a Carta de Aalborg. Desta forma o número de cidadãos europeus abrangidos por estes planos
ultrapassava os 130 milhões. “A campanha tem sido coordenada em conjunto pelo Concelho de Municípios e Regiões Europeias (CEMR), a
Rede EC-Eurocidades, a Rede de Cidades Saudáveis da Organização Mundial de Saúde, o Concelho Internacional para as Iniciativas
Ambientais Locais (ICLEI) e pela Organização das Cidades Unidas (UTO), em cooperação com a Comissão Europeia e o seu Grupo de
Peritos em Ambiente Urbano.”
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26
2.2.3. Carta de Hannover (2000)
Por fim, a terceira conferência europeia das cidades sustentáveis, ocorreu em Hannover e
reuniu 250 presidentes de câmaras municipais de 36 países, com o objectivo de fazer o ponto
da situação daquilo que tem sido feito nas cidades, para as tornar mais sustentáveis e para
acordar novos rumos para o século XXI34
.
Acabou por reforçar a importância dos municípios no impulsionamento do desenvolvimento
sustentável35
. Verificou-se que desde a assinatura da Carta de Aalborg, têm havido crescentes
progressos que conduziram a muitas modificações positivas nas cidades, encorajadores para a
realização de diversas outras acções que se encontram por fazer face aos desafios que ainda se
enfrentam.
Esta declaração encontra-se dividida em três pontos principais: o primeiro sobre os princípios
e valores para a acção a nível local rumo à sustentabilidade, seguido pela liderança da cidade
e, por último, um apelo dos participantes na declaração.
Quanto ao primeiro, existe a preocupação de vincar a unidade dos signatários pela
responsabilidade de zelar pelo futuro das gerações presentes e futuras, ao nível da ―justiça e
equidade social, redução da pobreza e exclusão social e melhorar a saúde e o ambiente em
geral‖; nas actividades que transformam os recursos naturais em bens e serviços que
satisfazem as necessidades da modernidade devem ser ecologicamente eficientes; aceitando-
se para isso a partilha de responsabilidades para conseguir o desenvolvimento sustentável,
envolvendo os governos, presidentes locais e organizações não-governamentais.
No segundo ponto, referente à liderança da cidade, é referido o apoio à integração europeia e
adesão às suas normas sociais e ambientais. Referindo-se a vários desafios a combater como:
as condições de habitação e de trabalho inadequadas, a poluição atmosférica e sonora, o
34 Realizada nos dias 9 a 12 de Fevereiro de 2000
35 AVV. 2000. ponto A. Nesta altura já se tinham comprometido com a sustentabilidade local cerca de 650 autoridades locais e regionais de
32 países europeus, tendo todos assinado a Carta de Aalborg. Desta forma o número de cidadãos europeus abrangidos por estes planos
ultrapassava os 130 milhões. “A campanha tem sido coordenada em conjunto pelo Concelho de Municípios e Regiões Europeias (CEMR), a
Rede EC-Eurocidades, a Rede de Cidades Saudáveis da Organização Mundial de Saúde, o Concelho Internacional para as Iniciativas
Ambientais Locais (ICLEI) e pela Organização das Cidades Unidas (UTO), em cooperação com a Comissão Europeia e o seu Grupo de
Peritos em Ambiente Urbano.”
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
27
tráfego automóvel, a degradação dos solos e dos habitats naturais e o esgotamento dos
recursos hídricos.
Face a estes desafios, é necessário utilizar políticas locais que diminuam a ―pegada ecológica‖
da comunidade, não se desejando assim que o padrão de vida local dependa da exploração dos
recursos humanos e naturais longínquos.
No âmbito da gestão urbana, para esta ser sustentável, é necessário melhorar ―o planeamento
e gestão integrada do tecido urbano, o desenvolvimento compacto da cidade, a regeneração de
áreas urbanas degradadas e a redução do ritmo de consumo de solo e dos recursos naturais‖.
As novas tecnologias devem ser utilizadas para aumentar a sustentabilidade das cidades.
Devem ser introduzidos indicadores de sustentabilidade local de maneira a poderem ser
comparados entre as diferentes cidades europeias como forma de comparar o progresso que se
tem alcançado.
No último ponto, o apelo dos signatários aos municípios tem como destaque o pedido para
que propiciem as condições essenciais de habitabilidade no meio ambiente, a qualidade da
água e a recolha e o tratamento de resíduos.
Indo de encontro aos objectivos presentes nos documentos acima analisados nesta dissertação,
analisaremos no sexto capítulo, a proposta académica de um centro náutico, de maneira a
percebermos os impactos ambientais que a sua construção causaria e estudar alternativas ao
nível da selecção e gestão dos materiais que permitam a minimização do seu impacto
ambiental.
Nesta selecção de materiais, não deixarão de ser tidas em conta, todos os componentes que
propiciam a qualidade de vida indispensável à sociedade contemporânea, para que este
projecto seja sustentável não apenas ao nível ambiental, como também ao nível social,
cultural e económico.
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28
2.2.4. Agenda 21 Local de Vila Nova de Gaia
“A Agenda 21 Local de Vila Nova de Gaia encontra-se inserida num projecto dinamizado
pela Associação transfronteiriça “Eixo Atlântico do Noroeste peninsular”, envolvendo 9
Câmaras Municipais do Norte de Portugal e 9 Ajuntamentos da Galiza.”36
Agenda 21 da Câmara Municipal de Gaia
Como podemos observar, segundo as informações disponibilizadas pela Câmara Municipal de
Gaia, no seu site oficial, constatamos que também no local para onde se projectou o Centro
Náutico no V capítulo da presente dissertação, se encontra abrangida pela Agenda Local 21,
numa parceria internacional entre o Norte de Portugal e da Galiza37
, denominado
“Implantação de Agendas 21 Locais e Cálculo de Indicadores UrbanAudit”, que foi
finalizado no ano de 2004.
Este processo, gerido por uma empresa independente, do Instituto Sondaxe, SL, foi feito de
forma ordenada, gerindo um plano previamente estabelecido e envolvendo a participação dos
cidadãos que foi organizado nas seguintes fases: diagnóstico integral municipal; participação
social; plano de acção; implementação e acompanhamento.
A fase de diagnóstico, teve como objectivo, definir a situação em que o município se
encontrava em termos ambientais, económicos e sociais, tendo sido elaborados indicadores
específicos para as áreas socioeconómicas, envolvimento cívico, formação e educação,
ambientais e culturais e recreativos.
36<http://www.cm-
gaia.pt/gaia/portal/user/anon/page/_CMG_0000.psml?categoryOID=C68B808080B680GC&contentid=BC86808980CO&nl=pt>,
13/04/2011, 20:45 37 O documento fundador do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular denomina-se por Declaração do Porto e data de 1 de Abril de 1992, de
onde se destaca o seguinte parágrafo: “Começamos desde hoje mesmo a trabalhar para que a Galiza e o Norte de Portugal sejam
participantes das novas centralidades europeias, para que as nossas cidades sejam centros da periferia e deixemos de ser a periferia do
centro”. Neste ano as cidades fundadoras foram, do lado português, Porto, Braga, Bragança, Chaves, Viana do Castelo e Vila Real e, do lado
galego, Ourense, Ferrol, A Coruña, Santiago e Pontevedra. Ainda nesta mesma década aderiram Vila Nova de Gaia, Guimarães, Peso da
Régua, Vilagarcía de Arousa e Monforte de Lemos, as duas últimas xuntas galegas. No novo milénio aderiram Barcelos, Mirandela,
Famalicão, Vila do Conde, Matosinhos, Lamego, Penafiel e Macedo de Cavaleiros do lado Português, e, do lado espanhol, Vivieiro, O Barco
de Valdeorras, Lalín, Verín e Carballo, Ribeira, Sarria e O Carballiño.
< http://www.eixoatlantico.com/_eixo_2009/contenido.php?idpag=2006&idcon=pag20101027171149> 14/04/2011, 11:30
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
29
Figura 4 – Cais de Gaia, uma das zonas turísticas mais atractivas de Vila Nova de Gaia
O plano de acção conteve vários programas que tinham como objectivo solucionar os
problemas identificados durante a fase de diagnóstico. Para isso, houve a participação pública
onde os cidadãos se faziam representar pelos sectores económicos, sociais, grupos de
interesse e comunidade escolar38
.
Gaia é um município onde se constata a existência de investimentos no sentido de o tornarem
cada vez mais sustentável, de onde se destacam por exemplo, o primeiro Centro de Educação
Ambiental permanente em Portugal, situado no Parque Biológico de Gaia, que abrange uma
área agro-florestal onde se encontra uma vasta fauna e flora em estado selvagem, construções
38<http://www.cm-
gaia.pt/gaia/portal/user/anon/page/_CMG_0000.psml?categoryOID=C68B808080B680GC&contentid=BC86808980CO&nl=pt>,
13/04/2011, 20:45
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30
rurais, recursos hidrográficos e costumes antigos39
.
Figura 5 – Vista do local de implantação do Centro Náutico, na margem esquerda entre as duas pontes mais próximas
A longa faixa litoral com 19 km de praias que o concelho possui, detém grande qualidade e é
dotada de inúmeras infra-estruturas para os veraneantes, que nos últimos anos têm vindo a ser
ampliadas e melhoradas, como são exemplo os inúmeros bares de apoio, passadiços pedonais
sobre as dunas ligando toda a faixa litoral do concelho, tratamentos de água, todo este esforço
de relação harmoniosa do Homem com o meio natural do litoral de Gaia fez com que o
concelho ostente o título de Município com o mais vasto número de bandeiras azuis de
Portugal.
39<http://www.eixoatlantico.com/_eixo_2009/contenido.php?idpag=3&mostrar=ciudades&idcon=cid20080108175116>, 14/04/2011, 11:00
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
31
Neste município, encontra-se ainda uma Estação Litoral na região da Aguda e que engloba um
museu de pesca, um aquário com fauna e flora marinha locais e um departamento de
investigação de ecologia marinha, aquacultura e pesca40
.
Na marginal do Douro, a zona de maior interesse na presente dissertação, foi implantado
recentemente um empreendimento de lazer, o denominado Cais de Gaia, que se tornou num
dos pólos de maior atracção do município, conseguindo competir em larga medida com a
cidade do Porto que lhe faz frente, daqui partem vários cruzeiros pelo Douro e encontram-se
ancorados inúmeros barcos rabelo, aqueles que noutros tempos transportavam o vinho do
Porto desde Trás-os-Montes até às caves de Gaia.
Verificando-se o crescente aumento do turismo fluvial no rio Douro e a necessidade de
ancorar os transportes fluviais que cada vez são mais frequentes na região, é proposta nesta
Dissertação e Trabalho de Projecto, a implantação de um Centro Náutico na marginal de Gaia
que, além de servir de complemento às infra-estruturas já existentes na proximidade,
contribuiria para desenvolver social, económica e culturalmente uma região que se encontra
praticamente desértica mas que nem por isso deixa de ter um vasto potencial que merece ser
aproveitado.
40 <http://www.eixoatlantico.com/_eixo_2009/contenido.php?idpag=3&mostrar=ciudades&idcon=cid20080108175116>, 14/04/2011, 11:00
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32
Figura 6 – Jean Marie Tjibaou Cultural Center
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
33
2.3. Arquitectura sustentável
Embora a construção de um Centro Náutico possa ser uma mais-valia para o desenvolvimento
económico, social e cultural do território onde se implanta, é necessário ter em consideração
que a sua escala implicará um impacto ambiental elevado, não apenas no local onde se
implanta, como também nos territórios onde a matéria-prima é extraída e transformada em
material de construção, existindo ainda gastos energéticos no seu transporte até à obra.
Por estes motivos, é importante abordarmos o conceito de arquitectura sustentável de forma a
desmistificar o que realmente significa e, perceber qual o caminho a seguir num projecto que
se pretende que seja sustentável.
O conceito de sustentabilidade, começou a ser falado no âmbito da arquitectura, no final da
década de 1980, incorporando novos paradigmas que influenciaram a arquitectura e o
urbanismo nas décadas seguintes, num processo evolutivo até à actualidade, sendo
actualmente um termo imprescindível no conceito de desenvolvimento.
A designação de arquitectura sustentável é atribuída às construções que suprimem as
necessidades de qualidade de vida humanas, sem comprometer as gerações futuras.
Encontrando-se ligado ao meio ambiente e à energia; deve ainda ser justa ao nível social,
viável ao nível económico e permitir a preservação do meio ambiente.
Nas construções de arquitectura sustentável, destaca-se a valorização da paisagem natural, o
planeamento territorial, o reaproveitamento de edifícios existentes, a sua eficiência energética
e a escolha dos materiais adequados. Sendo a arquitectura uma disciplina que intervém
directamente no solo, tem potencialidade para influenciar a mudança social rumo à
sustentabilidade.
Por consumirem mais de metade da energia gasta nos países desenvolvidos, os edifícios têm
vindo a ser considerados os que provocam maior impacto negativo no meio ambiente,
produzindo grande quantidade de gases que modificam o clima.
Os projectos de arquitectura ou planeamento territoriais, englobam o aproveitamento de
factores naturais, como a exposição à luz solar, espaços ventilados naturalmente e
consideração pela direcção natural dos ventos. Deve-se também antever todo o ciclo de vida
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34
das construções ao nível das funções que irá contemplar, a sua manutenção e possível
reciclagem ou demolição.
No entanto, como refere o arquitecto KenYeang41
, os projectistas têm que ter em mente que
nenhuma solução encontrada será perfeita, mas apenas uma tentativa de dirigir o projecto até
uma arquitectura o mais sustentável possível, devendo por isso os arquitectos e engenheiros
estar atentos à evolução tecnológica, uma vez que surgirão sempre novas soluções cada vez
mais eficientes.
Os princípios básicos que devem ser tidos em conta num projecto arquitectónico são: a
avaliação do impacto sobre o meio ambiente, nomeadamente o ar, a água, o solo, a flora, a
fauna e o ecossistema; preferência pelos materiais que sejam reutilizáveis, recicláveis ou não
tóxicos; redução dos resíduos, optimização do uso funcional das construções; obtenção de
eficiência energética através, essencialmente, de fontes alternativas; diminuição do consumo
de água; qualidade ambiental interna e uso de arquitectura bioclimática. Sem esquecer que um
projecto sustentável não tem apenas preocupações ao nível ambiental mas também social,
cultural e económico.
A arquitectura sustentável é assim uma disciplina que se desenvolve a um ritmo galopante,
sendo cada vez mais um requisito de qualidade de vida exigido pelo mercado.
Para sabermos os níveis de sustentabilidade ou impacto ambiental de determinado material a
usar num projecto de arquitectura, é necessário averiguar: se a matéria-prima é virgem ou
reciclada; como é a sua forma de extracção; se é proveniente de um recurso renovável; qual o
seu processo produtivo; a quantidade de energia e de água que consome; se este processo é
poluente; se a instalação e manutenção geram resíduos; como é a sua logística de distribuição;
qual a quantidade de energia consumida; qual o potencial de reciclagem ou reuso da
embalagem; e qual o tipo de certificação que possui ou selo.
Assim verificamos que a arquitectura, recorrendo a todos estes princípios aqui enumerados,
poderá ser valorizada e propiciar o desenvolvimento sustentável cada vez mais ambicionado
pela sociedade, fazendo-se projectos adaptados ao meio urbano e às suas disponibilidades
41 AUTOR. Ano. Página.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
35
materiais e de mão-de-obra. Verifica-se assim também que não se trata necessariamente de
alta tecnologia cara podendo, e se calhar devendo, ser utilizados primeiramente soluções
técnicas simples e que têm como objectivo a valorização dos conceitos de ecologia urbana e
planeamento ambiental, propiciando assim a qualidade de vida e maior harmonia com a
Natureza.
2.4. Desmistificação do conceito de sustentabilidade
Numa sociedade consumista como a que vivemos, onde as palavras têm um peso importante
na promoção dos produtos que se pretendem vender, surgem com grande frequência imagens
ou descrições promocionais que induzem as pessoas em erro e fazem-nas comprar produtos
que não correspondem exactamente às expectativas dos consumidores.
Este panorama encontra-se fortemente presente em grande parte dos produtos ditos ―amigos
do ambiente‖, uma vez que cada vez mais a sociedade tende a optar pelos produtos que
tenham o menor impacto ambiental possível, existindo assim uma crescente ―procura alienada
pelo verde‖. Cada vez mais a associação de um produto comercial a um componente
designado de ―verde‖ ou ―sustentável‖ é motivo de cativação de clientes para a compra desse
mesmo produto42
.
Desta forma, cada vez mais, é difícil identificar o que é verdadeiramente um produto
sustentável, caindo-se numa ambiguidade, onde os produtos que são sustentáveis por
excelência, vêm as suas qualidades assim diminuídas pela concorrência desleal feita através
do uso manipulativo dos termos, uma vez que cada vez mais as empresas sabem que se forem
associadas aos termos ―verde‖, ―sustentável‖ ou ―ecológico‖ a sua marca sai valorizada e
obtém assim maior potencial de venda.
Verifica-se assim, existir uma corrida para efectuar estas associações, principalmente através
da publicidade, a ferramenta mais capaz de promover a venda dos produtos comerciais, de
maneira a que estes sejam percebidos pela população como amigos do ambiente. Mesmo para
42 Segundo uma pesquisa da Terra Choice, em 2006, a percentagem de produtos ditos verde na América do Norte situava-se nos 2% e em
2008 já ultrapassava os 10%. The seven sins of greenwashing, TerraChoice, 2009
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36
a imprensa e para os críticos, é cada vez mais difícil saberem identificar um produto
genuinamente sustentável de um outro que não é. Desta forma, o ambiente e a saúde humana
acabam por sair prejudicados, uma vez que o mercado acolhe inúmeros produtos prejudiciais
ao ambiente mas que se encontram disfarçados por uma publicidade verde43
.
Esta publicidade enganosa, também apelidada de ―maquilhagem verde‖ ou ―greenwash‖44
,
propicia a distorção da avaliação do produto por parte do consumidor, que se melhor
informado, não os adquiriria45
. Verifiquemos os erros mais frequentes deste tipo de
publicidade:
- Indução de que um produto é ecológico por lhe ser inerente um complemento positivo, mas
não referindo os atributos essenciais negativos;
- Indução de que o produto contempla determinados atributos positivos que não têm
comprovação credível;
- Indução de produto ecológico por via de imprecisões na informação;
- Informação de que um produto contém atributos irrelevantes para a ecologia como
suplementos que contribuíssem para torná-lo verde.
- Elucidação sobre atributos irrelevantes de um produto como se fossem ecológicos;
- Prestação de informações falsas ou inconsistentes.
43 Em 2009 nos Estados Unidos da América e Canada cerca de 98% dos produtos que continham atributos ambientais encontravam-se com
problemas de comunicação correcta. Terra Choice Environmental Marketing
44 Greenwash que traduzido para português significa ―lavagem verde‖ surgiu da junção de ―Green‖ com ―whitewash‖, que é uma género de
tinta branca barata (cal) que se aplicava na fachada das casas. Esta expressão refere-se assim à propaganda que mascara o desempenho
ambiental fraco de um de determinado produto
45 Por vezes tudo aquilo que a publicidade divulga sobre um determinado produto até é verdade, no entanto acontecem omissões de dados
essenciais que denegririam a venda do produto
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
37
Conclusão
Neste capítulo, verificamos que apesar da demografia ao nível global subir a um ritmo
galopante, no continente europeu, o facto dos níveis da população se encontrarem já
estabilizados, implica existir uma facilidade acrescida na resolução dos problemas ambientais.
Os problemas ambientais têm vindo a ser debatidos desde meados do século XX, notando-se
que cada vez mais a Humanidade se preocupa em resolvê-los, existindo um aumento
progressivo do espírito de cooperação ao nível internacional, sendo que a sustentabilidade é
cada vez mais um conceito valorizado pela sociedade.
No sector da construção, a escolha dos materiais a utilizar é fundamental para reduzir os
impactos ambientais propiciados por esta actividade. De forma a obter um real projecto de
arquitectura sustentável ao nível dos materiais de construção, deve-se ter em conta não só a
sua eficiência no projecto a construir, como também o impacto ambiental que a sua matéria-
prima causa no território de onde é extraída e a energia gasta na sua manufacturação e
transporte.
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38
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
39
CAPÍTULO III – DA MATÉRIA-PRIMA À CONSTRUÇÃO
Introdução
Encontrando-nos na sequência do capítulo anterior, abordaremos de seguida, a concepção dos
materiais, desde a extracção da sua matéria-prima, passando pela sua manufacturação,
colocação em obra tempo de vida útil e consequentes produções de resíduos e gastos
energéticos.
Para isso, faremos em primeiro lugar, um enquadramento geográfico da situação dos materiais
no planeta, qual a sua carga energética e faremos uma análise dos impactos ambientais que
causam, terminando com uma análise sobre os princípios a seguir aquando da selecção dos
materiais a colocar em obra, em projectos de arquitectura que se pretendam sustentáveis.
Figura 7 - Pedreira e mármore tratado da empresa do Grupo Galrão Mármores e Granitos
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40
3.1. Situação geográfica
“O sector da construção pauta a sua actividade por elevados impactos ambientais ao nível
da extracção de elevadas quantidades de matérias-primas não renováveis, de elevados
consumos energéticos e das consequentes e elevadas emissões de gases responsáveis por
efeito de estufa.”46
Fernando Pacheco Torgal e SaidJalali , 2010.
Como se constata a partir de uma breve análise sobre a acção do Homem no planeta, desde
que iniciou o processo de transformação e modelação do território que ocupa, em função das
suas necessidades, até há dois séculos atrás, nunca a Humanidade tinha-se deparado com a
possibilidade de sofrer com a falta de matéria-prima para o desenvolvimento das suas
actividades.
Até ao século XVIII, antes do período da revolução industrial, a matéria-prima predominante
no sector da construção, era a madeira. Sendo o recurso natural que abunda nas florestas, a
necessidade do abate de árvores para a recolha e tratamento da madeira era feita a um ritmo
tal, que facilmente a floresta se auto-regenerava, fazendo desta, uma matéria-prima que não
escasseava e respondia facilmente às solicitações dos povos.
Paralelamente, também os tecidos de fibras vegetais e animais eram outros recursos naturais
maioritariamente utilizados para a confecção dos mais diversos objectos, desde roupas,
mantas, cestas e cordas, entre um sem fim número de outros exemplos.
46 TORGAL e JALALI. 2010. p. (PREFÁCIO)
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
41
Tabela 1 – Tabela de Berge, 2009, sobre o consumo de matérias-primas esgotáveis
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42
Actualmente, os materiais mais consumidos para o sector da construção, são a água e o betão.
No entanto, este último, constitui apenas cerca de 1,5% do conteúdo total das construções47
.
Assim, verificamos que à semelhança do que o Homem começa a tentar fazer agora ao
reciclar os materiais ou a dar-lhes um novo uso, já a Natureza, num curto espaço de tempo,
transformava os resíduos que o Homem produzia, noutras matérias-primas não prejudiciais ao
ambiente.
A partir da revolução industrial, a extracção e purificação dos minerais, passou a ser feita a
um ritmo e qualidade sem precedentes, devido à potência dos combustíveis fósseis que
passaram a ser utilizados. Esta quantidade de energia despendida, era de tal ordem, que para
produzir a mesma quantidade de energia com recurso aos meios tradicionais biosféricos
vegetais, rapidamente o planeta ficaria sem os mesmos.
Este acesso aos minerais, propiciou um mundo onde os recursos naturais do planeta pareciam
ilimitados, no entanto foi a partir deste momento que se começaram a gerar resíduos que a
biosfera não conseguia absorver e, que ainda por cima, a danificam cada vez mais, devido às
elevadas substâncias nocivas que comportam.
Os produtos industriais seguiram normalmente apenas o modelo linear de produção que se
caracteriza sintetisadamente como: extracção do minério, fabrico do produto e produção de
resíduos. Estes resíduos, produzidos numa escala cada vez maior, prejudicam severamente a
capacidade regenerativa do planeta.
Verificando-se que o modelo linear de produção começa a prejudicar o ambiente e
consequentemente a própria qualidade de vida humana, o Homem progressivamente depara-se
com a necessidade de ser o próprio a dar uma solução aos resíduos que produz.
Para isso, é necessário encerrar os ciclos de materiais não renováveis, transformando os
resíduos em recursos, a utilizar para novos fins. Transforma-se a indústria num sistema linear
cíclico e fechado, onde os resíduos produzidos se reconvertem em novos materiais, obtendo-
se sempre que necessário, a colaboração da biosfera para a utilização de energias renováveis.
47 TORGAL e JALALI. 2010. p. 34
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
43
No século XXI, os esforços para tornarem a indústria produtora de materiais num sector cada
vez mais sustentável, fizeram surgir um novo conceito de produção cíclico: reciclagem do que
já não se usa, fabrico de novos produtos e nova reciclagem no seu fim de vida. Caminha-se
assim para fechar definitivamente o ciclo dos materiais.
É ainda de referir que a exploração da matéria-prima para o sector da construção, começa a
ser cada vez mais insustentável para o planeta e para a própria actividade de construção. Tal
facto, deve-se fundamentalmente à forma como se procede à extracção da matéria-prima
necessária à produção dos materiais construtivos, onde vários especialistas, alertam para a
possibilidade das matérias-primas não renováveis se esgotarem no futuro48
.
No entanto, o maior problema ambiental, não é a possibilidade de escassez das matérias-
primas ditas não renováveis, mas antes a destruição dos ecossistemas e ambientes naturais
propiciados pelos impactos negativos da sua extracção49
, nomeadamente os resíduos
produzidos durante este processo, os eventuais acidentes que aconteçam e a poluição de
reservas de água potável.
Tomemos como exemplo a actividade de extracção de matéria-prima ao nível global no ano
2000, no qual se extraiu cerca de 900 milhões de toneladas de matéria-prima e se produziu ao
mesmo tempo cerca de 6000 milhões de toneladas de resíduos provenientes das minas50
.
Ao nível dos eventuais acidentes e poluição de água potável, destaca-se um exemplo em
1998, na Mina de Aznalcóllar (Espanha), onde rebentou um aterro de contenção que acolhia
lamas tóxicas, tendo sido lançadas 5 milhões de toneladas destas mesmas lamas para o rio
Agrio, um dos afluentes do rio português Guadiana51
.
Perante estes factos, surge a necessidade de repensar a forma como se exploram as matérias-
primas e reduzir a extracção tanto quanto possível daquela que não é renovável. Em paralelo,
48 TORGAL e JALALI. 2010. p. 29. Outros autores referem que não existem matérias-primas inesgotáveis, tendo todas um limite de
existência
49 MEADOWS. 2004
50 WHITMORE. 2006. pp. 309-314
51 TORGAL e JALALI. 2010. p. 29. Desde a década de 70 até à actualidade, entre os inúmeros acidentes ambientais que aconteceram nas
minas, destacam-se 30 acidentes muito grandes, cinco deles na Europa
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44
a escolha da matéria-prima a explorar, deve ser feita, tendo-se em consideração o ciclo de
vida dos materiais, privilegiando aqueles que provenham de fontes com capacidade de
regeneração, não sejam tóxicos, sejam recicláveis, necessitem de baixos níveis de energia,
sejam susceptíveis de serem reaproveitados, emitam níveis baixos de GEE e sejam duráveis52
.
Os resíduos originados pelo sector da construção, desde a extracção da matéria-prima,
passando pelas construções até à fase final, representada pela demolição contêm, segundo
vários especialistas cerca de 35% do total de resíduos produzidos no planeta53
.
As operações de demolição dos edifícios que perdiam a sua utilidade prática, eram feitas de
forma a minimizar o custo e tempo despendido durante o processo, fazendo com que os
Resíduos de Construção e Demolição (RCD), acabassem por se encontrar misturados num
aterro. No entanto, a necessidade cada vez mais vincada de reciclar estes resíduos, fez com
que surgisse o princípio da demolição selectiva54
.
A demolição selectiva, tem como característica principal, a desmontagem da construção no
sentido invertido à utilizada na sua construção; no entanto esta forma de demolição só é
utilizada se se encontrar mecanismos que permitam obter benefícios financeiros decorrentes
destas operações55
.
Tem-se verificado que realmente cada vez mais, existe um esforço por parte do Homem em
fazer projectos que estejam de acordo com os princípios de desconstrução, esses motivos
devem-se essencialmente pela certificação ambiental dos edifícios, cuja qualidade aumenta
em função da minimização dos gastos energéticos no transporte dos materiais, da sua maior
durabilidade, da possibilidade de se efectuar a sua reciclagem e reduzida produção de
resíduos.
Para obter melhor eficiência na demolição selectiva, é necessário que durante a execução do
projecto de construção, sejam tidos em conta alguns princípios básicos: ao nível dos materiais
52 TORGAL e JALALI. 2010. p. 34
53 SOLIS-GUZMAN. 2009. pp. 2542-2548
54 TORGAL e JALALI. 2010. p. 108
55 LOURENÇO, C. 2007
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
45
a sua escolha deve ser baseada na minimização do número de materiais distintos, preferência
pelos materiais reciclados e recicláveis, desuso dos materiais tóxicos, perigosos, compósitos
(produtos que não possam ser separados) e uso de materiais leves.
Na união dos materiais, deve-se privilegiar as ligações mecânicas sobre as químicas, separar
os revestimentos da estrutura, usar o menor número possível de rebites e outros conectores,
estando estes projectados de forma a repetir operações de construção e desconstrução e uso de
estruturas standard.
3.2. Carga energética
“Por definição, a energia incorporada nos materiais de construção (embodiedenergy),
abrange a energia consumida durante a sua vida útil (Hammond, 2008). Existem no entanto
diferentes abordagens para a referida definição, a saber: do início da extracção das
matérias-primas até à porta da fábrica (cradle to gate); do início até à obra (cradle to site),
ou do início até à fase de demolição e de deposição (cradle to grave).”56
Torgal e Said Jalali, 2010
Como é exemplo a citação acima, não existe ainda um consenso universal em relação à
apresentação de um conceito que pode ser útil para avaliar os materiais desde o ponto de vista
da sustentabilidade e forma de medir a sua carga energética.
Para o primeiro caso, há autores que consideram que a carga energética do material, é aquela
que é gasta desde a extracção da matéria-prima até à sua manufacturação na fábrica,
representando até aqui cerca de 85 a 95% do total de energia gasta, ficando os restantes 5 a
15% de energia consumidos nos processos de transporte do material até à obra, construção,
manutenção e demolição do edifício na fase final de vida.57
56 TORGAL e JALALI. 2010. p. 72
57 BERGE. 2009
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Figura 8 – Refinaria da Galp em Leça da Palmeira
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
47
Seja qual for a forma de avaliar a carga energética dos materiais, os gastos de energia
dependem das especificidades dos mesmos e variam de país para país, das distâncias que têm
de percorrer, dos meios de transportes utilizados para o efeito, como sejam por vias
marítimas, aéreas, rodoviárias ou ferroviárias e das técnicas de extracção e produção.
Para o caso português, em 1997 a Direcção Geral de Energia58
, publicou alguns valores
relativos aos gastos energéticos necessários para a produção de diversos produtos, onde se
concluía que no transporte de materiais se despendiam grandes quantidades de energia, o que
alerta para a necessidade de se optar cada vez mais pelos materiais locais por forma a obter
uma redução imediata de gastos energéticos.
Tomando como referência os exemplos do livro de Sustentabilidade dos Materiais de
Construção59
Morel et al (2001) refere a redução de energia em 215% em várias casas
construídas em França com recurso a materiais locais; Goverse et al (2001) frisam que a
utilização da madeira na construção de habitações na Holanda reduziria 50% das suas
emissões de carbono; Reddy & Jagadish (2010) salienta que as argamassas que não sejam de
cimento despendem menor energia que as de cimento, referindo também que na utilização de
tijolos cerâmicos gasta-se mais energia que utilizando-se outros materiais.
Verificamos assim, que a escolha adequada dos materiais de construção poderá significar
ganhos energéticos importantes, não apenas na produção dos materiais, como também durante
a sua vida útil60
.
Enquanto que até recentemente os maiores gastos energéticos no sector da construção se
verificavam durante a utilização dos edifícios, onde de facto os menos eficientes tinham taxas
de consumo energético bastante elevadas, a energia incorporada dos materiais ocupava assim
apenas 10 a 15% dos gastos totais de energia num edifício.
58 AVV. 1997. Direcção Geral de Energia: Valores publicados no âmbito do regulamento de gestão do consumo de energia (RGCE)
59 TORGAL e JALALI. 2010. p. 75
60 GONZALEZ e NAVARRO. 2006. pp. 902-909. Estes autores referem que a escolha dos materiais tendo em conta a sustentabilidade
ambiental reduz cerca de 30% da quantidade de emissões de CO²
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48
Tabela 2 – Indicação da energia incorporada dos principais materiais de construção
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
49
No entanto, cada vez mais os esforços no sentido de reduzir a energia gasta durante o tempo
de vida útil dos edifícios, como sejam a manutenção, reparação ou substituição dos materiais
que o constituem e a eficiência térmica que propiciam no sentido de diminuir a utilização de
equipamentos de aquecimento, arrefecimento ou ventilação, fazem com que a percentagem de
energia gasta referente àquela que se encontra incorporada nos materiais, se assuma de uma
forma cada vez mais dominante. Como é exemplo disso, o estudo de Thormark (2002), que ao
analisar um dos edifícios suecos de melhor eficiência energética, verificou que a energia
incorporada dos materiais, representa 45% do total de energia que o edifício consumirá
durante uma vida útil de 50 anos61
.
A manter-se esta tendência, num futuro próximo, os gastos energéticos dos materiais de
construção, poderão vir a exceder a energia gasta na operacionalidade dos edifícios, o que
realça cada vez mais a importância da revisão da sua forma de produção e transporte.
3.3. Indicadores de impacto ambiental
Devido ao facto de, como vimos anteriormente, existir cada vez mais necessidade de se
percepcionar exactamente quais as implicações que o nosso sistema produtivo, nomeadamente
o do sector da construção, têm no ambiente, existem vários indicadores de impacto ambiental,
que surgem a partir da relação entre os recursos utilizados na construção, como sendo
materiais, energia, água e os resíduos gerados ao nível do ar, da água e do solo. Estes
indicadores englobam ainda a eficiência funcional que a organização dos espaços propicia, de
modo a verificar-se se a área de ocupação do território é rentável.
61 TORGAL e JALALI. 2010. p. 78
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50
Organigrama 2 – Impacto ambiental dos edifícios
Organigrama 3 – Factores que condicionam a eficiência energética
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
51
Os indicadores de impacto ambiental medem assim a relação entre a quantidade de energia,
materiais e água gastos, a quantidade de resíduos e emissões produzidos. A energia é medida
em mj/m² e encontra-se associada à quantidade de energia despendida durante todo o processo
de vida útil do edifício; a água é medida em l/estância e engloba o consumo sanitário, a
limpeza e rega; os materiais são medidos em kg/m² e contemplam o material consumido para
a reabilitação e manutenção da construção.
Ao nível de resíduos e emissões, temos os resíduos de construção, medidos em kg/m²
provenientes da reabilitação e manutenção do edifício e os resíduos sólidos urbanos, medidos
em kg/estância, que se encontram associados ao uso do edifício. As emissões que contribuem
para o efeito de estufa são medidas em kg/CO2/m² e contemplam a energia gasta durante a
vida útil do edifício.
Quanto ao processo e metodologia para a formulação de indicadores ambientais, tomemos
como referência um país experiente nesta actividade - a Turquia, que produz uma quantidade
de materiais de construção acima da média global e em consequência disso está mais
habituada a analisar o impacto ambiental do seu sector da construção.
Num dos vários estudos efectuados neste país sobre a relação do impacto ambiental dos
materiais de construção, verificou-se que a eficiência dos recursos se encontrava
comprometida pela utilização pouco frequente de recursos renováveis; a eficiência energética
nos processos de produção era positiva, devido ao facto da quantidade de energia despendida
no transporte dos materiais ser baixa; a quantidade de água consumida por material era baixa
devido ao facto da maioria das instalações de produção terem tratamento integrado de água;
verificou-se também existir boa eficiência por parte dos resíduos produzidos em materiais de
construção devido a serem utilizados normalmente como matéria-prima para concepção de
novos materiais ou queimados para produzir energia. Verificou-se ainda, que os processos de
produção deste país, não tinham grandes implicações na saúde da população.
Assim concluímos, que seguindo e melhorando, tanto quanto possível, a metodologia
adoptada pelo exemplo turco acima descrito, é possível reduzir substancialmente os impactos
ambientais que o sector da construção propicia.
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52
De forma sintética, podemos dizer que no sector da construção, para baixarmos os níveis de
impacto ambiental, existem cinco estratégias a seguir: utilização de recursos locais,
minimização da procura de materiais, aumento da sua eficiência, reciclá-los sempre que
possível e por fim a correcção do impacto que causaram.
Para se reduzir o impacto ambiental do sector da construção no ambiente, a actividade de
reabilitação poderá ser um dos caminhos mais eficientes a seguir, com resultados rapidamente
visíveis. Para isso, devem-se tomar como referência, os níveis de impacto ambiental actuais
da construção a reabilitar e definir a estratégia a aplicar na reabilitação do mesmo edifício, de
modo a que, durante o processo de reabilitação e uso útil do edifício, se encontre reduzido em
50% do seu impacto ambiental.
Na prática, para este processo, começa-se por recolher toda a informação relativa ao edifício a
reabilitar, como documentos escritos e desenhados, nomeadamente sobre os sistemas
construtivos e instalações técnicas, os consumos existentes, o mapa de funcionalidades e
articulação funcional dos espaços, a influência do clima e outros que se considerem
convenientes.
Após a recolha e estudo desta informação, deve-se conceber um perfil com a informação dos
impactos ambientais do edifício e no final elaborar um plano com as acções a realizar no
equipamento para a minimização do seu impacto ambiental e melhor eficiência energética,
tendo em conta os componentes técnicos e económicos, de maneira a que a poupança na
reabilitação e uso representem uma redução de mais de 50 % num ciclo de vida de 50 anos.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
53
3.4. Selecção dos materiais
Como veremos neste capítulo, a selecção cuidada dos materiais, é da maior importância para
se obter um bom projecto de arquitectura sustentável. Um dos factores mais importantes a ter
em conta é a durabilidade do material, uma vez que quanto maior for o seu tempo de
utilidade, menor será o impacto ambiental que propicia.
Vejamos alguns exemplos sobre o ciclo de vida e impacto energético de vários materiais.
A madeira, por exemplo, é um material que é usado em bruto apenas uma vez, sendo que a
partir da sua reciclagem deixa de ser usada como material puro e passa a ser usada a partir da
junção dos fragmentos triturados e colados de maneira a formar o aglomerado de madeira,
sendo um processo similar ao do betão.
Ao contrário destes dois materiais, os que são da família dos metais são normalmente
eternamente recicláveis, como é exemplo o alumínio, cuja reciclagem obedece a processos
similares ao da sua manufacturação a partir da matéria-prima.
Vejamos novamente o exemplo do betão que tem uma durabilidade média de 50 anos, se se
conseguisse fazer com que a sua durabilidade média chegasse aos 500 anos o seu impacto
ambiental seria 10 vezes menor.
Também a energia gasta no transporte dos materiais de construção deve ser tida em conta, de
maneira que se devem privilegiar os materiais locais. A terra é dos materiais mais abundantes
em qualquer sítio, por isso é um material bastante recomendado devido não apenas à
poupança energética do seu transporte mas também devido ao seu baixo custo e capacidades
isolantes termicamente.
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54
Gráfico 1 – Emissões de carbono a nível mundial derivadas da produção de energia (WEO, 2009)
Tabela 3 – Consumo de energia primária
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
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55
Gráfico 2 – Evolução da dependência energética de Portugal, segundo o Eurostat, 2007
Organigrama 4 – Ciclo de vida dos materiais de construção
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56
Sem uma análise global dos diferentes materiais a utilizar num projecto de arquitectura
sustentável, podem-se cometer vários equívocos. Vejamos uma breve comparação entre o
betão e o aço onde não é possível saber-se à partida qual dos dois materiais terá maior
impacto ambiental. Imaginemos que o betão até é feito a partir de materiais locais, mas a sua
manufacturação feita com recurso a resíduos industriais; tal propiciará uma elevada produção
de dióxido de carbono. Já o caso do aço, embora a sua reciclagem seja inesgotável, necessita
de muita energia para ser produzido, reciclado e ainda se degrada por corrosão.
A avaliação dos impactos ambientais dos materiais de construção ao longo do seu ciclo de
vida62
contém várias categorias de avaliação medidas em unidades mensuráveis,
nomeadamente: o potencial de aquecimento global, acidificação, eutrofização, formação de
smog, degradação da camada do ozono; a qualidade do ar, o consumo de combustíveis fósseis
e água; a toxicidade ecológica; a alteração do habitat e a saúde pública.
Entretanto começaram a surgir softwares para avaliar o impacto ambiental dos materiais como
é exemplo o Building for Environmental and Economic Sustainability (BEES)63
.
Em Portugal, a Universidade do Minho concebeu o programa EcoBuild que permite a efectuar
a avaliação dos impactos ambientais causados pela construção de edifícios de estrutura em
betão armado ou perfis metálicos, procedendo-se à comparação do impacto ambiental entre os
dois tipos de estrutura. A partir da introdução dos dados no programa são disponibilizados
gráficos sobre o impacto ambiental que a construção da estrutura do edifício causará.
No entanto, apesar destas inovações que avaliam o impacto ambiental das construções, não
deixam de existir inúmeras incertezas uma vez que os processos analíticos sobre o ciclo de
vida dos materiais continuam a não ser claramente objectivos.
Vejamos o exemplo do alumínio, que se encontra disponível no planeta com grande
abundância e distribuição equilibrada, cuja durabilidade, leveza e maleabilidade fazem dele
62 Este tipo de avaliação do impacto ambiental dos materiais ao longo do seu ciclo de vida foi utilizado em 1990 nos EUA através de um
método designado de Life Cycle Assesment (LCA) ou Análise do Ciclo de Vida (ACV). Um dos estudos precursores tinha sido realizado já
em 1969 pelo Midwest Research Institute para a Coca-Cola num método que pretendia quantificar os recursos necessários, as emissões e os
resíduos que as diferentes embalagens de bebidas produziam
63 Construção para a Sustentabilidade Ambiental e Económica, produzido pela U.S. Environmental Protection Agency
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
57
um produto muito requisitado no sector da construção, no entanto não deixa de ser um dos
materiais que mais prejudica o ambiente. Para a sua produção, são necessárias grandes
quantidades de energia eléctrica e produzem-se ainda grandes quantidades de resíduos, alguns
deles com elevadas características contaminantes.
Não sabemos ainda se é pior poluir a água ou o ar; ou se uma tonelada de dióxido de enxofre
é menos poluente que três toneladas de dióxido de carbono; e entre as electricidades
produzidas por centrais termoeléctricas ou nucleares não se sabe quais são as mais poluentes.
Por estes motivos e também pelo facto de cada país possuir diferentes enquadramentos
tecnológicos e económicos, não é possível aplicar de forma não ambígua a generalização das
análises dos ciclos de vida dos materiais de construção64
.
Referem os especialistas que por metro quadrado de construção, se consome cerca de 2500 kg
de materiais directos e, se se tiver em conta os recursos necessários para a sua produção,
nomeadamente as rochas e terra para extrair a matéria-prima e o petróleo ou outros recursos
para obtenção de energia, mais a água gasta e os resíduos resultantes da sua manufactura e da
construção, entre outros, verificaríamos que teríamos de multiplicar por três para obter a
totalidade de quilogramas de recursos que foram necessários gastar para a construção de cada
metro quadrado de construção.
64 Segundo dados do WorldWatchInstitute . Cerca de 45 a 60% da matéria-prima extraída da litosfera é usada no sector da construção. O
peso dos materiais empregue na construção ocupa cerca de 2500 kg por metro quadrado do edifício
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58
Conclusão
De maneira a obter um tipo de arquitectura cada vez mais sustentável, o ciclo linear dos
materiais, tende a fechar-se cada vez mais no sentido de que os materiais após perderem a sua
utilidade prática, em vez de se transformarem em resíduos, serem reaproveitados ou
transformados em novos materiais. Para isso, deve-se dar preferência aos materiais
provenientes de matérias-primas renováveis e menos poluentes.
Apesar de não existir um consenso universal sobre a forma de avaliar a carga energética de
cada material, é de notar que devido à crescente eficiência energética e durabilidade dos
materiais de construção, a carga energética dos mesmos, tende a ser maior desde o processo
de extracção da matéria-prima até à colocação do material na obra, do que propriamente
durante o seu tempo de vida útil no edifício.
Verifica-se também que existem grandes gastos de energia no transporte dos materiais, de
maneira que deve-se por isso, dar preferência aos materiais locais cuja carga energética
despendida no transporte é menor.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
59
CAPÍTULO IV – MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS
Figura 9 – Pavilhão de Portugal – Expo 2010, revestido a cortiça
Introdução
A indústria da construção tem produzido inúmeras novidades de materiais, como são exemplo
“as lajes deslizantes, que permitem aumentar a superfície útil das habitações em função das
necessidades dos utilizadores, a calha universal que serve para fixar objectos e transportar
redes (águo3a, gás, etc.), ou a casa de banho flexível, cuja posição no interior da habitação
não é fixa.”65
Um exemplo de um projecto que se aproxima destes princípios é o Pavilhão de Macau da
Expo 98, que foi desconstruído após o término da exposição mundial para ser edificado em
Loures, onde, embora tenha sido reutilizado apenas uma pequena parte do equipamento,
65 TORGAL e JALALI. 2010. pp. 109-110
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60
permitiu a poupança de 40% da energia que seria gasta se o edifício fosse construído de raiz66
.
Neste capítulo, abordaremos em primeiro lugar, os materiais que melhor respondem à
sustentabilidade ambiental ou cujas técnicas de produção têm vindo a evoluir
progressivamente nesse sentido, como são exemplo a cortiça, a madeira, os vernizes e
pinturas naturais, a cerâmica, o aço, o vidro, o plástico, o betão, entre outros.
De seguida analisaremos alguns sistemas construtivos, em que se percebe como é possível
construir com materiais sustentáveis e veremos alguns exemplos de aplicação de sistemas
construtivos como as estruturas de cartão de Shigeru Ban e as Affordable Houses.
4.1. Matéria-Prima
4.1.1. Bambu
Uma matéria-prima que se destaca por melhor responder a questões sobre a sustentabilidade é
o bambu, este material possui uma força de tracção paralela às fibras similar ao aço, sendo
mais leve que a madeira, é assim um material que propicia grandes vantagens nos locais de
difícil acesso, para vencer grandes vãos e consolas. Possui ainda uma forte resistência de
compressão transversal às fibras sem que se perca a sua plasticidade natural.
A sua flexibilidade é óptima para construções orgânicas, podendo ser usado estruturalmente
como pilar ou viga, caibro ou ripa, para telha, dreno para escoamento de águas, piso e
revestimentos. A sua durabilidade é semelhante à da madeira, quando tratado devidamente.
O bambu existe em todo o mundo ao longo da faixa equatorial, que por coincidência é a zona
mais afecta pela carência de habitações. É um material de baixo custo, que se pode recolher
com critério nas florestas tropicais em grande quantidade e anualmente sem colocar em perigo
as matas de bambu. O trabalho para obter material apto para a construção de edifícios é muito
simples e acessível a qualquer comunidade, através de ferramentas básicas. Este material
66 SANTOS e BRITO. 2007
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
61
oferece óptimas qualidades de resistência a sismos, presentes em muitos destes países. A
massa das habitações multiplicada pelos movimentos horizontais da terra resulta em muita
destruição, pelo que, sendo um material leve, este fenómeno é atenuado; a sua resistência é
maior em relação ao seu peso. Outro ponto importante, é ser uma construção segura, no
conceito que quando cai não acarreta o peso de uma estrutura de betão.
O bambu, na sua generalidade, está subvalorizado na maioria dos países, inclusive em muitos
que têm este recurso como nativo e disponível. Considerando a crise mundial de recursos,
economias em negativo e, sabendo que a população mundial nos próximos 30 anos irá crescer
em 1 bilhão de pessoas, temos de mudar os nossos horizontes. Ser um pouco mais práticos e
focados em problemas reais, ou, melhor dizendo, em soluções reais.
O bambu surge neste panorama com uma alternativa viável a mudanças de pensamento e
projectuais, devido à sua capacidade de crescimento rápido e anual permitir um
aproveitamento de solos e de material muito melhor que a madeira.
Segundo alguns autores, o bambu é um material para o futuro. Um produto excepcional que
tem sido explorado experimentalmente de forma tradicional e nativa nos continentes Africano
e Asiático, hoje já mais industrializado e moderno, atingindo o lirismo arquitectónico em
países como o Japão e a Colômbia. Nomes de referência passam por: Frey Otto, Renzo Piano,
Shoei Yoh, Oscar Hidalgo e Simon Velez.
Figura 10 – Canas de Bambu
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62
Figura 11 – Exemplo de aplicação de Bambu numa estrutura de cobertura
4.1.2. Cortiça
A cortiça é um material produzido principalmente na Península Ibérica, sendo Portugal o
maior exportador mundial desta matéria-prima, englobando cerca de 52% do total da quota do
mercado.
A árvore do sobreiro, após ser plantada e formar a primeira casca ―cortiça virgem‖, leva cerca
de 20 a 25 anos. O processo de extracção da cortiça começa 9 a 11 anos depois e este processo
repete-se a cada 9 anos, com recurso a métodos exclusivamente tradicionais, sem necessidade
de rega artificial, pesticidas ou fertilizantes, uma vez que é o tipo de árvore que melhor se
adapta ao território português.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
63
Figura 12 – Pilhas de cortiça
A cortiça no sector da construção é utilizada para o fabrico de placas de isolamento térmico e
acústico, pavimentos e revestimentos. A sua reciclagem é feita da mesma forma com que o
material é manufacturado após ser extraído dos sobreiros: sendo triturado e de seguida
aglomerado sob pressão a baixas temperaturas, sendo colado através das suas próprias resinas
que funcionam como adesivo.
Assim graças a todas estas características a energia despendida para o seu fabrico é bastante
baixa67
.
As notáveis propriedades da cortiça como isolante térmico, acústico e antivibrático são
fundamentalmente o resultado da estrutura do tecido celular e da composição química das
paredes. Além disso, é um material 100% natural, pelo que se encontra numa posição clara de
vantagem face aos standards ecológicos a que hoje se aspira.
67 <http://www.minerva.uevora.pt/publicar/cortica/Osobreiro.htm>. 18/04/2011. 16:45
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64
4.1.3. Crude
O crude é um combustível fóssil e trata-se de uma fonte de energia não renovável. Os
combustíveis fósseis são o resultado de um processo muito lento de decomposição da matéria
orgânica (plantas e animais). Este processo de transformação durou milhões de anos. É devido
ao longo período de tempo necessário à sua formação que dizemos que os combustíveis
fósseis não são renováveis: uma vez gastos, a humanidade não disporá deles tão cedo.
A designação de crude, provém de petróleo em bruto, antes de ser refinado. É denominado de
crude húmido o petróleo que contém uma percentagem de água.68
A transformação do crude consiste na modificação na composição química do petróleo depois
da extracção da rocha-mãe. Estas transformações podem verificar-se através de processos
físicos, térmicos e ou bacterianos.
O impacto dos combustíveis fósseis no ambiente é prejudicial. A sua queima origina produtos
de combustão, que poluem o ar a nível local e regional, entre os quais o dióxido de carbono,
que contribui para o efeito de estufa a nível global, o qual está na origem das alterações
climáticas. A sua prospecção e transporte têm também impactes negativos no ambiente.
Por se tratar de um produto com alto risco de contaminação, o petróleo provoca graves danos
ao meio ambiente quando entra em contacto com as águas de oceanos e mares ou com a
superfície do solo. Já aconteceram vários acidentes ambientais. Quando ocorre no oceano, as
consequências ambientais são drásticas, pois afecta os ecossistemas, provocando uma grande
quantidade de mortes entre peixes e outros animais marítimos. Nem sempre as medidas de
limpeza conseguem minimizar o problema. 69
Há que considerar que apenas uma pequena percentagem é utilizada para combustíveis, sendo
a sua maioria, aplicado ao desenvolvimento de polímeros.
Estima-se que, com o actual ritmo de consumo, as reservas planetárias de petróleo se esgotem
nos próximos 30 ou 40 anos.
68 crude. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012
69 http://www.suapesquisa.com/geografia/petroleo/
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
65
Figura 13 – Crude
4.1.4. Ferro
O ferro é o quarto elemento mais abundante da crosta terrestre (aproximadamente 5%) e, entre
os metais, somente o alumínio o supera em quantidade.
À temperatura ambiente, encontra-se no estado sólido; a sua extracção é feita da Natureza sob
a forma de minério de ferro que, depois através de vários processos de transformação, é usado
na forma de lingotes. Fazendo a adição de carbono, dá-se origem a várias formas de aço.
O núcleo do nosso planeta é formado principalmente por ferro e níquel. Este ferro está numa
temperatura muito acima da temperatura de Curie do ferro, dessa forma, o núcleo da Terra não
é ferromagnético.70
70 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferro
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66
Actualmente, o ferro é utilizado extensivamente para a produção de aço, liga metálica para a
produção de ferramentas, máquinas, veículos de transporte, como elemento estrutural de
pontes, edifícios, e uma imensidão de outras aplicações.
O ferro é o metal mais usado, com 95% em peso da produção mundial de metal. É
indispensável devido ao seu baixo preço e dureza, especialmente empregue em automóveis,
barcos e componentes estruturais de edifícios.
O aço é a liga metálica de ferro mais conhecida, sendo este o seu uso mais frequente. Os aços
são ligas metálicas de ferro com outros elementos, tanto metálicos quanto não metálicos, que
conferem propriedades distintas ao material. É considerada aço uma liga metálica de ferro que
contém menos de 2% de carbono; se a percentagem é maior recebe a denominação de ferro
fundido.
Figura 14 – Mineral Ferro
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
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67
Figura 15 – Minério de Ferro
As ligas férreas apresentam uma grande variedade de propriedades mecânicas dependendo da
sua composição e do tratamento que se tem aplicado.
Os aços são ligas metálicas de ferro e carbono com concentrações máximas de 2,2% em peso
de carbono, aproximadamente. O carbono é o elemento de ligação principal, porém os aços
contêm outros elementos.
Um dos inconvenientes do ferro é que se oxida com facilidade. Existem uma série de aços aos
quais se adicionam outros elementos ligantes, principalmente o crómio, para que se tornem
mais resistentes à corrosão. São os chamados aços inoxidáveis.
Quando o conteúdo de carbono da liga é superior a 2,1% em peso, a liga metálica é
denominada ferro fundido. Estas ligas apresentam, em geral, entre 3% e 4,5% de carbono em
peso. Existem diversos tipos de ferros fundidos: cinzento, esferoidal, branco e maleável.
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68
Dependendo do tipo apresenta aplicações diferentes: em motores, válvulas, engrenagens e
outras. Por outro lado, os óxidos de ferro apresentam variadas aplicações: em pinturas,
obtenção de ferro, e outras.71
4.1.5. Madeira
É o recurso natural que o Homem desde os primórdios explora e tem como grande vantagem
inesgotável renovação na Natureza, desde que extraído de forma controlada.
Figura 16 – Madeira
Verifica-se que a desflorestação das florestas tropicais não certificadas, avança a um ritmo que
não permite a sua regeneração, consumindo-se por ano cerca de um 1% das espécies arbóreas
de forma ilegal. Ao contrário deste panorama verifica-se que nas florestas controladas os
71 http://www.geocities.ws/afonsobejr/condutores.html
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
69
recursos naturais estão em crescimento72
, para isso muito tem contribuído a adopção de vários
sistemas que garantem a produção sustentável.
Nas florestas controladas existem métodos de avaliação das práticas florestais, verificando-se
se as mesmas cumprem as metas a atingir ao nível não apenas ambiental, como também social
e económico, de forma a preservar o seu ecossistema.
Figura 17 – Exemplo de Construção com Critoméria Japónica73
72 As associações importadoras de madeira da Península Ibérica, em conjunto com os certificados florestais independentes como os
provenientes de organismos como o FSC ForestStewardShip, a SFI, SustainableForestryIniciative e o PEFC Sistema Voluntário de
Certificação Florestal, na década de 90 a área florestal das regiões não tropicais cresceu cerca de 29 milhões de hectares e o volume de
recurso natural que pode converter-se em madeira aumentou 21 milhões de m3
73 Conífera de folha persistente, família das Taxodiaceas, não resinosa
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70
Esta madeira é certificada para que possa ser identificada como proveniente de locais onde os
recursos naturais são administrados segundo as convenções internacionais, desta forma a
selecção cuidada das madeiras a utilizar, utilizando-se preferencialmente as que se encontram
certificadas contribui para a preservação e aumento do coberto arbóreo do planeta.
Em Portugal, existem 9.238.900 hectares de parque florestal, dos quais 3,4 (37%) são
ocupados com pinho bravo e eucalipto. Esta situação não é benéfica para o planeta, uma vez
que seca os níveis freáticos.
Segundo o arquitecto Jorge Lira, à excepção da madeira da Criptoméria Japónica (produzida
nos Açores), a nível nacional não há madeira que seja adequada à construção. Há que
reformular o parque florestal, no sentido de beneficiar o planeta.
No decorrer das II Jornadas Quercus de Arquitectura Sustentável, 2010, o mesmo arquitecto
explicou que a utilização sustentável da madeira para construção, faz crescer a área da floresta
e promove a floresta de qualidade em ciclos de 30 anos.
É uma actividade sustentável e de crescimento económico garantido, com impactos positivos
no ambiente, balanço hídrico favorável e garantia de condições óptimas para uma melhor e
maior biodiversidade. Além disso, em 30 anos, cada uma das árvores da floresta produz e
liberta cerca de 10.000kg de matéria orgânica sobre o solo e por compostagem o fertiliza (ao
contrário de um eucalipto).
Tem balanço hídrico (água absorvida x água libertada) com saldo positivo de 40.000 litros
libertados para a atmosfera (ao contrário de um eucalipto).
Liberta para a atmosfera cerca de 8.000m3 de oxigénio – aproximadamente a mesma
quantidade que um ser humano consome durante a sua vida inteira num período de 80 anos de
esperança de vida.
Absorve da atmosfera cerca de 25.000m3 de CO2, que transforma em oxigénio e fixa na
forma de matéria orgânica lenhosa.
Retira da atmosfera, por filtragem na superfície das suas folhas, cerca de 50kg de poeiras por
ano, ou seja, retira da atmosfera 1,5ton de poeiras em 30 anos.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
71
O balanço diferencial positivo entre construir em madeira ou em cimento, ou aço, é de cerca
de 3,5ton de CO2/m2 de construção.
Por todos estes motivos que foram enumerados, privilegia-se a madeira como material de eco-
construção.
4.1.6. Blocos de Palha
Figura 18 – Fardos de Palha
Nas mesmas jornadas de arquitectura sustentável74
o arquitecto Vítor Varão apresentou um
sistema construtivo ainda pouco divulgado, a utilização de fardos de palha como principal
material de construção de um edifício.
74 QUERCUS, 2010. II Jornadas Quercus Arquitectura Sustentável, 23/10/2010, Arquitecto Vítor Varão
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72
Os fardos de palha consistem em resíduos de sementeiras e colheita de cereais, como o arroz,
o trigo, o centeio, a cevada e a aveia, que são compactados. Podem ser utilizados como um
bloco em substituição do tijolo convencional.
Estas estruturas são fáceis de montar, não carecendo por isso de mão-de-obra qualificada,
podendo ser autoportantes ou, para construções de maior escala, podem ser reforçadas com
madeira, betão ou outros materiais, sendo posteriormente revestidas em argila ou cal.
As vantagens da utilização da palha como principal material de construção são, antes de mais,
o facto de serem de baixo custo; serem bons isolantes térmicos e acústicos; são resistentes ao
fogo desde que bem executadas, possuindo um desempenho melhor que o betão, tal deve-se
ao facto de para haver ser necessário existir oxigénio, no entanto um fardo de palha, por ser
bem compactado, praticamente não tem oxigénio no seu interior, o que dificulta assim
combustão; terem boa durabilidade, cerca de 70 anos, tal como o betão75
.
Figura 19 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, como paredes estruturais
75 <http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com/2010/11/casas-em-palha.html>
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
73
Figura 20 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, aglutinados com argamassas
Com os fardos de palha é fácil ampliar uma construção, abrir ou fechar janelas e portas e
construir ou remover paredes, sendo assim barato e prático fazer alterações num edifício já
construído. As reparações deste sistema construtivo são simples, sendo apenas necessário
remover a palha degradada e substituí-la por palha nova, rebocando-se posteriormente a
parede.
4.1.7. Terra
Como já foi referido anteriormente, a terra é um dos materiais mais abundantes no planeta e a
sua utilização no sector de construção existe desde há mais de 9 mil anos, como se pode
verificar pelos inúmeros vestígios de construções em terra erguidas por várias civilizações
ancestrais76
.
Existem várias cidades, cujos edifícios são ainda hoje maioritariamente construídos em terra,
como é exemplo a cidade de Shibam, localizada no Iémen, onde grande parte dos seus
edifícios, foram erguidos em adobe. Estes datam do século XVI, possuem cerca de 5 a 11
76 MINK. 2009. No Turquemenistão descobriram-se edificações erguidas com tijolos de terra (adobe) do período compreendido entre 8.000 a
6.000 anos a.C. MINK 2009. BERGE. 2009, Refere que na bacia do rio Tigre existem também inúmeros vestígios de construções em adobe
datadas de 7.500 anos a.C
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74
pisos e as suas paredes exteriores são em adobe, verificando-se que conforme se sobe de piso
a espessura das paredes vai-se estreitando de maneira a aliviar o seu peso e garantir
estabilidade77
.
Figura 21 - Mapa-mundo com indicação das zonas e elevada densidade de construção em terra
Figura 22 – Habitação unifamiliar em Beja, onde os arquitectos Bartolomeu Costa, João Gomes e Mário Anselmo,
utilizaram a terra como material principal do edifício
77 HELFRITZ. 1937
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
75
Gráfico 3 - Água absorvida por diferentes materiais quando a humidade relativa sobe para os 80%.
Gráfico 4 - Carbono incorporado em materiais para alvenarias
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76
Actualmente cerca de metade da população mundial habita construções em terra78,
verificando-se ainda que a densidade de construção em terra não se encontra condicionada
pelos factores climáticos, nomeadamente a temperatura ou a precipitação, uma vez que se
encontra este tipo de construção em regiões frias, como o norte europeu ou em regiões
quentes, como as que se localizam no eixo equatorial. E mesmo em regiões de elevada
precipitação, como é exemplo a Inglaterra, não deixamos de encontrar uma vasta presença de
construções em terra.
Ao contrário das extracções da matéria-prima para a produção de cimento, tijolos cerâmicos e
metais, que produzem grandes depósitos de escórias e lamas, a matéria-prima para a
construção em terra, por se localizar imediatamente abaixo do solo vegetal, não produz
resíduos. E se a obra for construída com o próprio solo que a envolve, não se provoca
poluição nem gastos de energia associados ao seu transporte.
Os desperdícios deste material, quando não foram modificados por outros materiais, podem
ser repostos no local de onde foram extraídos sem qualquer problema para o meio ambiente, e
mesmo quando a terra já se encontra tratada com cal ou cimento pode voltar a ser reutilizada
na construção79
.
A construção em terra é também benéfica para a saúde, uma vez que não contém efeitos
nocivos para o ar provenientes dos compostos orgânicos voláteis que se encontram em
inúmeros outros materiais convencionais. A qualidade do ar mede-se também pelos níveis de
humidade que existem no interior das habitações, e aqui verificamos que os blocos de terra
absorvem 10 vezes mais humidade do ar que os tijolos cerâmicos convencionais80
.
A humidade relativa excessiva no interior das habitações, acima dos 70%, cria as condições
necessárias ao aparecimento de bolores que são os responsáveis pelo desencadeamento de
alergias, ácaros e doenças asmáticas81
. A título de utilização da terra como forma de controlar
a humidade do ar, na Áustria o Hospital de Feldkirch, contém uma galeria de 180m de
78 EIRES e JALALI. 2008
79 TORGAL e JALALI. 2010. pp. 288-290
80 MINKE. 2010
81 ARUNDEL. 2006
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
77
comprimento revestida a taipa, que foi construída com o intuito estabilizar os níveis de
humidade do ar sem utilização de recursos mecânicos.
No caso de Portugal, a construção em taipa foi amplamente propagada pela presença islâmica
no território, como é exemplo o Castelo de Silves, que perdura até aos dias de hoje onde a
taipa foi revestida com pedra vermelha grés82.
Esta forma de construção perdurou no território nacional até aos nossos dias com três métodos
construtivos principais: a taipa, o adobe e o tabique: a primeira encontra-se principalmente
entre o rio Tejo e o Algarve e consiste no levantamento de paredes autoportantes in situ; as
construções em adobe encontram-se principalmente na faixa ocidental do território nacional,
desde Aveiro até Setúbal, e neste sistema as paredes erguidas através da justaposição de
blocos de terra previamente fabricados; por último, o tabique, que consiste na construção de
paredes através de estruturas de grades de madeira preenchidas por terra, encontra-se em
abundância em Trás-os-Montes e nas Beiras Alta e Baixa83
.
Nas últimas décadas, alguns dos países mais desenvolvidos da Europa, como são exemplo a
França, a Alemanha e o Reino Unido, começaram a adoptar a terra como um material
substituto da pedra ou do tijolo convencional84
.
Em Portugal, tem-se também assistido a um crescente interesse pela construção em terra, no
entanto, este interesse é ainda reduzido tendo em consideração as condições climatéricas
favoráveis que detém e a antiga tradição de construção em terra que entretanto nas últimas
décadas quase deixou de ser utilizada. Contrariando esta tendência, actualmente, a Costa
Vicentina é a região do país onde a construção em terra se efectua com maior proeminência85
.
Utilizando como referência o Livro da Sustentabilidade dos Materiais de Construção de
Fernando Torgal e Said Jalali (2010) podemos dividir as técnicas construtivas em terra em três
82 TORGAL e JALALI. 2010. p. 268
83 TORGAL e JALALI. 2010. p. 268-269
84 TORGAL e JALALI. 2010. p. 270
85 TORGAL e JALALI. 2010. pp. 270-271
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78
sistemas principais: a) monolítico; b) alvenaria; e c) enchimento e revestimento86
.
a) O sistema construtivo monolítico em terra caracteriza-se por formar uma parede compacta
feita totalmente no sítio, para isso pode ser construída através da taipa, da terra vazada, da
terra armada com aço e da terra empilhada:
- Na taipa efectua-se a colocação da terra húmida em cofragens de madeira, procedendo-se
posteriormente à sua compactação;
- Na terra vazada encontra-se a terra num estado mais plástico e coloca-se também em
cofragens de madeira para ser posteriormente compactada, originando uma textura mais
rugosa que a taipa;
- Na terra armada com aço, à semelhança do betão, coloca-se no interior da estrutura de aço
painéis de madeira de maneira a poder-se projectar sobre eles a terra até fechar toda a
estrutura de aço, efectuando-se de seguida a regularização da parede;
- No caso da terra empilhada, mistura-se terra com palha e regulariza-se a parede. Aqui a
palha funciona como um material ligante e permite a concepção de paredes de carácter
escultórico87
.
b) No sistema construtivo em terra por alvenaria, utilizam-se vários tipos de unidades
previamente moldadas, das quais podemos destacar o adobe e o bloco de terra compactado
(BTC):
- No adobe a terra em estado plástico é moldada de forma manual ou mecânica;
- No BTC é manufacturado a partir compactação da terra em estado húmido, por métodos
mecânicos ou hidráulicos88
.
c) Por último, no sistema construtivo em terra por enchimento e revestimento, encontramos o
86 TORGAL e JALALI. 2010. p. 271
87 TORGAL e JALALI. 2010. p. 271-273
88 TORGAL e JALALI. 2010. p. 273
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
79
tabique (taipa à galega ou taipa de mão) que consiste na utilização de terra em estado plástico
com ou sem cal sobre uma estrutura ou então de cana ou vime. Esta técnica pode também ser
utilizada para encher paredes duplas de alvenaria de tijolo ou pedra, e ainda para revestir
outras paredes e coberturas89
.
4.2. Produto
4.2.1. Adobe
Para o fabrico do Adobe90
recorre-se a moldes de madeira, dos quais existem diversas
dimensões e formatos, para acolher a terra e prensá-la. Posteriormente a terra é desmoldada
em estado húmido e secada à temperatura ambiente. Os formatos dos blocos de adobe podem
ser de formas platónicas ou com encaixe.
O solo mais adequado à produção dos blocos de adobe é plástico argiloso, os blocos
demasiado argilosos quando secam, apresentam fissuras; para as evitar recorre-se à mistura da
terra com palha ou outros elementos vegetais.
A alvenaria de adobe é similar à do tijolo convencional e para a melhor conexão entre os
diversos blocos a argamassa de assentamento é feita à base de terra, mantendo-se assim os
mesmos comportamentos de compressão e dilatação que variam conforme as condições
climáticas.
A alvenaria de adobe pode ficar à vista ou então ser rebocada com argamassa feita à base de
terra. Os blocos de adobe podem também ser feitos com recurso a máquinas que permitem a
sua manufacturação mais rápida91
.
89 TORGAL e JALALI. 2010. p. 271-273
90 ROGERS E SMALLEY.1995. Referem que a palavra adobe advém do árabe e significa tijolo seco ao sol
91 TORGAL e JALALI. 2010. p. 277-279
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80
Evoluído a partir do adobe, surge a técnica de bloco de terra compactado que consiste na
prensa da terra num molde que permite obter blocos de terra mais resistentes e duradouros que
o adobe, embora mais pesados. Estes podem ser maciços ou perfurados e aparecer em placas
de revestimento. A terra utilizada deve ser húmida como a da taipa.
Em Portugal as alvenarias de BTC têm vindo a aumentar devido à sustentabilidade que lhe é
inerente, a diminuição de resíduos e a facilidade de montagem92
.
Os blocos prensados manualmente, embora necessitem de mais tempo de fabrico e maior
quantidade de mão-de-obra, apresentam vantagens que justificam a sua utilização,
nomeadamente a poupança energética, a facilidade de transporte e o facto de os blocos
poderem ser fabricados com a terra do local onde a obra se vai realizar93
.
Figura 23 – Habitação unifamiliar em Serpa (arquitecta Maria de Luz Seixas)
92 TORGAL e JALALI. 2010. p. 279-280
93 TORGAL e JALALI. 2010. p. 280
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
81
4.2.2. Taipa
A taipa era o sistema construtivo mais utilizado em Portugal até aos anos 50 entre o rio Tejo e
o Algarve e as suas espessas paredes contêm um melhor comportamento térmico que o tijolo
convencional agora utilizado94
.
Sendo uma construção monolítica, a taipa é feita a partir da compactação de terra húmida,
mas ainda assim requer pouca quantidade de água, por este motivo encontra-se com maior
proeminência nas regiões onde a água escasseia. Quando a terra não tem consistência
suficiente para a construção das paredes, mistura-se a terra com pedras, cortiça ou
argamassas.
Figura 24 – Casa em Taipa
94 CORREIA. 2000
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82
Em Portugal a taipa é executada através da colocação da terra em taipais com 0,5m de altura
por 0,40 a 0,70m de largura e 2m de comprimento, esta é colocada em camadas de 10cm de
altura de cada vez, sendo sempre compactada95
antes da colocação da nova camada. Após o
taipal ficar preenchido, este é retirado para as camadas seguintes.
Recentemente, o avanço da tecnologia propicia a concepção da taipa mecanizada, cujo
processo é similar ao tradicional. No entanto, as cofragens são agora de metal ou de
contraplacado de madeira e o processo de compactação é feito através de um compactador
pneumático.
A taipa assenta em fundações de betão armado ou alvenaria de pedra de maneira a evitar a
subida da humidade pelas paredes de taipa por efeito de capilaridade96
.
4.2.3. Aço
Tal como inúmeros outros metais, este material, demora dezenas de anos a ser absorvido pela
Natureza, no entanto a sua reciclagem comporta mais vantagens que a sua produção a partir
da matéria-prima.
Nos processos de demolição, todo o aço utilizado, quando devidamente separado, dos
restantes materiais, é todo ele aproveitado e valorizado, comportando processos de fusão
ilimitados sem que a sua qualidade seja posta em causa97
.
A reciclagem do aço lança para a atmosfera menos 74% de CO2 que a produção do aço a
partir da matéria-prima original, devido ao facto de já não ser necessário utilizar carvão nem
pedra calcária, como o utilizado para a sua produção a partir da matéria-prima.
95 O processo de compactação das camadas de terra é feito através dos designados pilões, peças de madeira maciça. Tendo a compactação de
ser feita com rapidez de maneira a que a terra não perca a humidade que dará a estabilidade desejada à parede
96 TORGAL e JALALI. 2010. p. 273-276
97 Segundo a Corus Construction Centre, a produção de aço reciclado no seu quarto ciclo de fusão necessita de uma energia de
manufacturação cerca de 30% menor que a utilizada a partir da matéria-prima do ferro, carvão, pedra calcária e sucata
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
83
Figura 25 – Perfis Tubulares de Aço
4.2.4. Betão armado (com ferro)
O betão descende da aglutinação de inertes que derivam da natureza. As matérias-primas mais
significativas são o calcário, a marga e a argila, extraídos de pedreiras onde a ―lavra‖ –
processo de extracção, é desenvolvida a céu aberto, através do desmonte de rocha por
explosivo. Um edifício cuja estrutura seja em betão armado comporta em 60% do seu peso
fragmentos de pedra naturais extraídas de pedreiras que se encontram misturados no betão.
No fim da sua utilidade, o betão usado pode ser reciclado, separando-o do aço e outros
materiais colados é triturado e pode substituir grande parte dos granulados de pedra natural
que são utilizados para produzir o betão98
.
98 A percentagem de betão reciclado que é tolerável incorporar varia conforme as normas para as diferentes solicitações, de uma forma geral
é sempre possível substituir pelo menos 10% dos agregados de pedra natural, existindo já em casos experimentais a substituição de 100% dos
grãos grosso e 20% dos grãos finos (areia)
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84
Esta prática evita assim não só o desgaste das pedreiras e o impacto ambiental que isso
acarreta, como também a acumulação de resíduos de betão e a energia gasta e poluidora no
transporte do material.
Figura 26 - Tadao Ando, “Casa Koshino” em Kobe, Japão
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
85
4.2.5. Sacos de Areia
Os sacos de areia podem também ser usados para a construção de edifícios, como são
exemplo as casas de campo ou de praia e até edifícios citadinos como hotéis, edifícios
culturais, lojas e outros que se encontram erguidos no Japão.
Os sacos são enchidos com areia ou se possível com a própria terra local e posteriormente
dispostos em torno de plantas circulares, em sucessivas camadas até formar um género de
iglô, cuja distribuição das cargas é similar às cúpulas.
Por isso, este sistema construtivo, só é possível para edifícios de pequena escala, no entanto
pode-se anexar vários iglôs de dimensões variadas para formar edifícios com programas mais
complexos, onde os vários iglôs acabam por reflectir exteriormente a articulação interna dos
espaços.
O revestimento exterior pode ser feito com reboco de diferentes texturas, sendo
posteriormente pintado.
A areia e a terra são boas isolantes térmicas e têm ainda a vantagem de propiciar um excelente
controlo dos níveis de humidade do interior dos compartimentos.
Outro sistema construtivo similar ao dos sacos de areia é feito com recurso a placas de
isolamento térmico isopor, que têm sido também construídas no Japão.
Sendo um material bastante leve, a construção destas casas pode ser feita num tempo mínimo
de quatro dias, normalmente este tipo de construções contêm uma área aproximada de 45m² e
tal como as construções em sacos de areia, é possível obter edifícios mais complexos através
da anexação de vários módulos, propiciando também um bom isolamento térmico. No entanto
esta última tem a vantagem acrescida de resistir facilmente a tremores de terra e
tempestades99
.
99 <http://www.amazoninterart.com/?p=855>
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86
Figura 27 – Exemplo de construção com sacos de areia
4.2.6. Cerâmica
A grande maioria destes materiais produzidos para o sector da construção, nomeadamente
azulejos ou mosaicos para o revestimento de pavimentos e paredes, contém uma eficiência
superior à necessária ao nível de impermeabilização, resistência à compressão e tracção,
dureza e resposta à abrasão. Isso faz com que no acto da sua manufacturação sejam gastos
excessivas quantidades de energia e matéria-prima.
Além disso, apesar da grande capacidade de durabilidade do material, este é não raras vezes,
substituído muito antes de ter algum tipo de problema técnico pelas mudanças de moda da
sociedade.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
87
De modo a melhorar a eficiência energética na produção deste material começou a surgir no
mercado um novo tipo de materiais cerâmicos cujas características técnicas se adequam às
necessidades da maioria das construções e não implicam os vastos desperdícios das anteriores
no processo de manufacturação100
. Estas peças são produzidas através da solidificação
hidrotérmica101
, a baixa temperatura e são comercializadas com o nome Ecocarat. Assim, ao
nível das peças cerâmicas, é necessário ter em consideração a forma real da sua utilização
para revestimentos e pavimentos, uma vez que a sua utilização, antes de serem renovados, não
é muito superior a uma década, mesmo que estejam ainda com as suas qualidades técnicas
garantidas. Desta forma, a opção pela utilização de um tipo de cerâmica produzido de acordo
com as necessidades reais de utilização é um forte contributo para a sustentabilidade
ambiental.
Figura 28 - Azulejos CZECH da autoria de Correia/Ragazzi arquitectos, que foram premiados em São Francisco
100 Produto desenvolvido por Emile Ishida, INAX Corporation, Japão
101 Endurecimento por humidade e calor controlados
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88
4.2.7. Tijolo Konlix
O processo de reciclagem pelo qual se fabrica tijolo a partir de lixo orgânico e cimento,
encontra-se designado por Konlix, segundo o autor do processo Luiz Fernando Carvalho.
As motivações para a criação deste tipo de material foram, segundo o autor, a redução do
impacto ambiental que o lixo causa, nomeadamente o que se encontra em aterros que se não
for tratado, sofre modificações físicas e químicas que originam a matéria nociva chorume que
facilmente atinge os fluxos de água envolventes. Além disso, a colecção selectiva do lixo e
seu posterior tratamento e produção de tijolos permite a criação de novos postos de trabalho.
Os resíduos diários seleccionados com maior abundância são os orgânicos, precisamente por
serem os que representam maior volume de produção e quando juntos em aterros
descontrolados são uma das maiores fontes que emitem gases que contribuem para o aumento
do efeito de estufa, contaminam solos e recursos hídricas.
A utilização deste material no sector da construção, além da contribuir para a redução do
impacto ambiental do sector, propicia um custo 30% mais baixo que o recurso a tijolos feitos
em argila, cimento e areia.
Estes tijolos, encaixáveis, dispensam o uso de argamassas e economizam por isso também
tempo durante a execução da obra. Por exemplo uma casa de 60m² construída com tijolos
konlix demora metade do tempo que levaria se fosse construída através de tijolos
convencionais.
O lixo orgânico é também um bom isolante térmico, impedindo a penetração de calor nas
paredes de um edifício num dia quente e evita também a penetração do frio nos dias frios. O
tratamento do lixo para dar origem a novos materiais construtivos é feito quimicamente até
ficar estável e com o tamanho das suas partículas suficiente para poder originar novos
materiais como blocos, tijolos de parede de vedação e placas de isolamento térmico.
O processo é desenvolvido em seis etapas principais: separação e selecção; trituração;
tratamento químico com recurso a cal virgem e outros ingredientes; repouso da massa;
confecção das peças; e descanso para cura do cimento. Passadas 72 horas as peças estão
prontas a ser usadas na construção.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
89
Figura 29 – Casa feita com Tijolo Konlix
Figura 30 – Fluxograma do Processo Konlix de Reciclagens
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90
4.2.8. Estruturas de Cartão
As construções do arquitecto japonês Shigeru Ban têm a particularidade de serem executadas
em tubos de cartão muito resistentes, que apresentam inúmeras vantagens, não só para a
construção, devido à sua versatilidade como também para o ambiente, uma vez que são feitos
a partir de reciclagem e mesmo após o seu uso na construção podem voltar novamente a ser
reciclados sem gerar desperdício102
.
As vantagens de utilização dos tubos de cartão são, além da sua reciclagem, o seu baixo custo
e facilidade de substituição quando danificados. Estes continuam a possuir as características
simples de tubo de cartão, mantêm-se ocos e levam um tratamento que os protege do fogo, da
humidade e aumenta a sua capacidade de resistência de maneira a ter comportamentos
estruturais viáveis.
Figura 31 – Pavilhão do Japão, Expo 2000 - Hannover
102 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 2-3
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
91
Esta resistência é de tal ordem que é possível construir grandiosos edifícios de funções
diversas, demonstrando a grande capacidade de resistência que o cartão pode possuir.
“Uma das melhores formas para revelar a beleza desses tubos é colocá-los em curvas.”
(FROMONOT; EGO, 1996, p. 43).
Numa das suas primeiras obras, o arquitecto utilizou estes tubos para construir painéis
divisórios internos, como é exemplo a Mostra de Alvar Aalto construída em Tóquio em
1986103
.
Em 1990, novamente no Japão, utilizou estes tubos como paredes exteriores resistentes à
chuva e ao vento do Salão de comemoração do aniversário da cidade de Odawara, sendo o
edifício ainda suportado por uma estrutura metálica104
. Vejamos exemplos de obras cuja
estrutura é feita com recurso a estes tubos de cartão105
: a casa de campo pessoal, no aterro de
Lake Yamanaka (Japão, 1995) foi a primeira que obteve aprovação oficial do governo para
conter uma estrutura de tubos de cartão, protegendo os tubos da chuva e da neve colocaram-se
vidros móveis à sua volta106
.
Demonstrando as capacidades estruturais destes tubos, Shigeru Ban projectou treliças e arcos
neste material para a Biblioteca do Poeta (Japão, 1991), esta obra, de carácter permanente, foi
envolvida por uma pele de vidro107
.
Outra obra de estrutura de cartão de destaque é o galpão permanente com um vão de 28m,
concebido para uma empresa de casas de madeira, este projecto é aberto e a mão-de-obra
utilizada foram os próprios carpinteiros da empresa, sendo uma demonstração da facilidade de
103 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 4 104 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 6 105 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 7. Primeiramente o sistema estrutural de tubos de cartão projectado por Shigeru Ban consistiu num painel portante de um caramanchão (1989), seis meses depois desmontou-se a estrutura e verificou-se que os tubos, expostos à chuva, ventos e sol
obtinham agora uma resistência à compressão superior à que continham inicialmente, tal facto deveu-se ao endurecimento da cola durante a
vida útil da estrutura 106 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 9 107 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 10
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construção deste tipo de sistema construtivo.
De todas as estruturas de cartão, a mais complexa foi a do Pavilhão Japonês da Expo 2000
(Hannover)108
. Este equipamento temporário ocupou uma área de 3100m²e a sua estrutura era
constituída por uma casca orgânica executada a partir de uma teia de tubos de cartão.
O princípio utilizado na escolha dos materiais que compõem o pavilhão foi o de utilizar
materiais reciclados e evitar desperdícios. Assim, os materiais utilizados foram
manufacturados a partir de papel reciclado colectado no país organizador do evento. A tela
impermeabilizante foi desenvolvida com o mesmo princípio, evitando-se assim o pvc presente
nas telas convencionais que não é reciclado e liberta gases nocivos quando queimado. Após a
desmontagem do edifício, os materiais utilizados continuam a ser maioritariamente
reutilizáveis ou recicláveis109
.
Figura 32 – Cardboard Bridge, Shigeru Ban
108 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 13. O tema da Expo 2000 foi o desenvolvimento sustentável e para o seu projecto Shigeru Ban contou
com a colaboração de Frei Otto
109 SALADO e SICHIERI. 2006. pp. 14-15
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
93
Verificamos assim que o sistema construtivo efectuado com tubos de cartão, é bastante similar
a vários outros materiais convencionais, nomeadamente os sistemas de tubos de aço ou
madeira, para vencer grandes vãos e obter formas curvas e orgânicas; e as alvenarias
estruturais, como são exemplo paredes curvas obtidas a partir da junção de vários tubos de
forma orgânica.
Os tubos de cartão apresentam assim características de mobilidade, não necessitam de
acabamentos, formam uma estrutura leve, dispensando por isso fundações complexas, não
necessita de mão-de-obra especializada110
.
4.2.9. Estruturas Metálicas
Decorrente do desafio lançado pela Arcelor Mittal à rede científica internacional de estruturas
metálicas, a equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra,
estudou e projectou uma vivenda T3 cuja arquitectura, além de moderna, é de baixo custo,
versátil e sustentável.
Os princípios orientadores para as Affordable Houses, tiveram como base a forma como as
famílias se desenvolvem e vivem os espaços, tornando-os por isso versáteis, de maneira a
adaptarem-se às solicitações das variações de utilização do mesmo espaço pela família, para
isso utilizou-se aço leve de maneira a aumentar a área útil dos compartimentos. Foi uma
alternativa às construções tradicionais, uma vez que se conseguiu fazer com que satisfizesse
os critérios mínimos de qualidade arquitectónica, conforto, segurança e eficiência.
Para este projecto, teve-se em conta o ciclo de vida dos materiais, sendo todos passíveis de
serem reciclados e onde a grande maioria é já proveniente de materiais usados.
Para o custo da construção ser baixo, a equipa de investigadores concebeu espaços em
módulos de fácil desmontagem e adaptação a outras formas, de maneira a evitar o transtorno
que causam as obras de adaptação das construções tradicionais. Permitiu assim, não só a
110 SALADO e SICHIERI. 2006. p. 15
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redução dos custos como, também, a inexistência de espaços não utilizáveis por serem já
dispensáveis da sua função inicialmente prevista.
Figura 33 – AffordableHouse
Ao nível da segurança, estas construções encontram-se projectadas de acordo com os critérios
europeus. Mesmo na segurança contra sismos, fizeram-se testes que demonstram a sua
resistência à actividade sísmica mais forte a que Portugal está sujeito.
Quanto à eficiência térmica e acústica, estas casas possuem uma performance de níveis
claramente superiores à média das construções convencionais. Verificou-se por exemplo, que
durante a época quente do ano não necessitam de gastar praticamente nenhuma energia no seu
arrefecimento e na época fria a energia gasta no aquecimento é bastante inferior à média de
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
95
energia gasta pelas edificações convencionais111
.
4.2.10. Pneus
As origens ―Casas Earthship‖
O Earthship (em Eng. ―Land‖ barco ―navio da terra‖), é um modelo arquitectónico de
habitação autodesenvolvido há mais de 30 anos, após a obra original do arquitecto americano
Michael Reynolds.
A casa Earthship é construída usando uma grande quantidade de materiais considerados
resíduos de pneus, ou seja, garrafas e latas.
A riqueza de informação disponível online, sugere que, nessa altura, a extensão e refinamento
do conceito tem muitas faces: a partir da criação de diversas comunidades de Earthships e
diversas empresas envolvidas na construção e difusão do conceito (venda de equipamentos,
seminários, instalações, trabalho, etc.).
O conceito deste tipo de reciclagem, parte de um espírito de reciclagem combinada com a
utilização de energias renováveis, o objectivo, sendo competitiva em custos de materiais de
construção, dar a casa respeita a natureza autónoma de redes (electricidade, água, resíduos),
bem como a sua integração no meio ambiente mais limpo.
O conceito original do Earthship é baseado em três elementos:
1 – A orientação da casa permitindo a captura de ideal de calor e luz solar.
Esta opção tem de estar em consonância com o local de intervenção.
2– A utilização de tecnologias limpas, de energia solar, eólica, para consumo interno (ou
melhor, ausência de tecnologias). Estes, além de serem rentáveis a longo prazo, permitir a
111 <http://www.construir.pt/2010/03/08/investigadores-da-fctuc-projectam-casa-low-cost/>, 19/04/2011, 19:05
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construção do Earthship, lugar para a independência das redes de abastecimento
convencionais.
3 – Instalação de captação e armazenamento de água, bem como tratamento de águas
residuais, permitindo a reutilização através de um sistema de filtros e drenos, e minimizar o
consumo, melhorando-o.
Figura 34 – Parede construída com pneus
4.2.11.Plástico
É um dos materiais mais recentes e que desde o seu processo de fabrico até à sua inutilização,
é um dos materiais que polui em maior quantidade o planeta. A sua produção consome muita
energia, mais que a grande maioria dos materiais e é feita a partir do petróleo que é uma
matéria-prima com um limite de existência reduzido112
.
112 Consumo de 100 mega joules por quilograma
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
97
Figura 35 – Plástico
Durante o seu fabrico, são emitidas variadas substâncias tóxicas para a atmosfera,
nomeadamente o monóxido e dióxido de carbono, o óxido de nitrogénio e os compostos de
cloro, de fenol e formaldeído. Após o fim da sua utilização são ainda, normalmente
convertidos em resíduos, necessitando de centenas de anos para que o planeta consiga
absorvê-los na sua totalidade.
A sua reciclagem é um processo complexo113
, devido essencialmente à fraca pureza do
recurso e ao facto de ser necessário dispor de quantidade suficiente de cada componente para
tornar economicamente possível a sua reciclagem.
Um bom exemplo de eficiência na reciclagem dos resíduos plásticos, é a produção de placas
113 Sinteticamente pode-se dizer que para a acção de reciclagem existem dois tipos de plástico: os termo-estáveis, que, por não admitirem
mudanças de forma, têm de ser triturados para se aglomerarem de seguida; e os termo-plásticos, que se fundem e moldam-se com através do
calor
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98
acústicas compostas a partir da junção de espuma de poliuretano triturado ou os tabuleiros
fabricados a partir da trituração e prensa de todo o tipo de plásticos sem recurso a colas e
adesivos e, que no fim, ainda possuem uma boa eficiência em relação à humidade.
Segundo o arquitecto Vitor Varão, nas II Jornadas da Quercos, em 2010, as garrafas de
plástico, podem ser usadas no enchimento ou aligeiramento de lajes, ou na construção de
paredes. Não são uma opção para paredes estruturais, mas sim como preenchimento entre
vigas e pilares. Para proporcionar alguma resistência, podem encher-se com areia. Para um
metro quadrado de parede, usando garrafas de um litro e meio, são necessárias entre 80 e 100
garrafas. Uma vez feita a parede de garrafas de plástico, atam-se com corda sisal ou arame,
revestindo a parede com qualquer um dos materiais de revestimento.
Trata-se de uma utilização criativa de materiais recicláveis e o acesso à habitação de pessoas
com baixos rendimentos.
Figura 36 – Exemplo de aplicação de garrafas de plástico, no enchimento de uma parede
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
99
4.2.12. Vernizes e Pinturas
Até recentemente, para os poder fabricar era necessário gastar grandes quantidades de energia
e matérias-primas provenientes do petróleo, metais pesados para fazer os pigmentos e emissão
de substâncias tóxicas para a atmosfera durante a sua produção e aplicação, o que propiciava
uma avaliação ambiental sempre negativa.
No entanto, tem surgido no mercado, uma nova gama de vernizes e pinturas que são feitos a
partir de materiais renováveis e não contêm os efeitos tóxicos dos anteriores. Fabricados a
partir de azeites e resinas vegetais como a madeira, a linhaça, o tung e a colofónia,
dispensando-se assim os derivados do petróleo que eram anteriormente os seus dissolventes
orgânicos, os pigmentos são feitos a partir de óxidos de metais e minerais.
Estes vernizes e pinturas naturais têm bons efeitos em diversos tipos de materiais, sejam eles
o betão, a madeira, a cortiça e a cerâmica e a sua qualidade de acabamento e duração é similar
à dos produtos sintéticos. Mesmo os diluentes que se utilizam com estes produtos surgem
também feitos a partir de substâncias de origem natural como extractos de cascas de frutos
cítricos destilados e azeites balsâmicos.
A sua utilização reduz assim o impacto ambiental, uma vez que no seu fabrico utilizam-se
quantidades energéticas mínimas, todos os seus resíduos são biodegradáveis e a libertação de
gases tóxicos para o ar é muito menor que os produtos sintéticos.
4.2.13.Vidro
É um material feito a partir de areia, soda, pedra calcária e outras substâncias e a fusão destes
materiais lança para a atmosfera inúmeras quantidades de CO².
Este material, quando recolhido separadamente em relação a outros materiais é facilmente
reciclado114
, no entanto no sector da construção a sua reciclagem é condicionada pela
dificuldade que existe em separa-lo dos outros materiais, fazendo com que o vidro se
114 Por cada quilograma de vidro reciclado poupa-se 1,2 quilogramas de matéria-prima do planeta
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100
transforme imediatamente num resíduo. Só no continente europeu cada ano é gerado cerca de
1,2 milhões de toneladas de resíduo vidro provenientes do sector da construção, mais
precisamente na demolição e reabilitação de edifícios.
Assim, no processo de escolha dos vidros a utilizar no sector da construção deve-se ter em
conta a sua facilidade de separação em relação aos outros materiais para assim permitir a sua
fácil reciclagem e sobretudo evitar a acumulação de resíduos de vidro.
Figura 37 – Vidro
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
101
Conclusão
Neste capítulo, percebemos que existem já inúmeros materiais no mercado, que respondem de
forma satisfatória aos princípios de sustentabilidade na construção de edifícios.
No território português, o melhor exemplo talvez seja a cortiça, uma vez que além de ser um
material local, permite fabricar vários tipos de material como por exemplo placas de
isolamento térmico, pavimentos e revestimentos. Tem ainda a possibilidade de ser
completamente reciclado da mesma forma que é manufacturado após a sua extracção da
árvore que o produz, permitindo assim uma poupança energética elevada.
De notar também que existem outros materiais que, apesar de poderem ser reciclados
totalmente, os gastos energéticos para a sua concepção ou reciclagem são muito elevados,
como é exemplo o aço.
Recuperando e melhorando técnicas de construção antigas em terra como são exemplo o
adobe ou a taipa, podemos obter construções feitas com a terra do próprio terreno onde o
edifício se implanta. Estes sistemas construtivos apresentam boas capacidades de resistência
quando submetidos a forças de compressão e permitem a obtenção de uma boa eficiência
térmica do edifício, a par de um melhor controlo dos níveis de humidade, acabando assim
também por ser benéficos à própria saúde humana.
Uma pesquisa realizada no New Jersey Institute of Technology (NJIT), dos Estados Unidos,
contou com a participação do professor Luiz Henrique Catalani, do Instituto de Química (IQ)
da USP, e dos pesquisadores do NJIT, Michael Jaffe, Antony East e Yi Zhang, para uma
pesquisa sobre a produção de polímeros epóxi de fontes renováveis, como a glicose.
Este estudo poderá contribuir para a criação de produtos que possam, no futuro, substituir os
derivados de petróleo.
Numa outra pesquisa realizada por Leonardo Gondim de Andrade e Silva, do Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Waldir Ferro, da mesma instituição, e Hélio
Wiebeck, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, foram comparadas as
propriedades mecânicas e térmicas de poliamidas, conhecidas popularmente como náilon,
com carga de 30% de cinza de casca de arroz e com 30% de talco.
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102
As cinzas da casca do arroz mostraram em testes ter potencial para substituir o talco, um tipo
de silicato extraído de jazidas, na produção de polímeros, uma alternativa que pode diminuir o
impacto ambiental do descarte da queima do resíduo agrícola.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Polímeros e mostram comportamento
semelhante entre os dois produtos utilizados, com potencial para a substituição do talco pela
cinza da casca de arroz, alternativa viável em processos industriais.
Esta alternativa, para já tem apenas como limitante a cor, havendo só a possibilidade de o
produto final ser usado na fabricação de produtos com a cor preta.
Na Natureza, os polímeros naturais já são escassos, como é exemplo a borracha (extraída da
seringueira), celulose, proteínas, polissacarídeos, entre outros. Há que continuar a apostar na
investigação de alternativas, pois cada vez mais, estamos rodeados de artigos feitos com
polímeros.
"O Reino dos Combustíveis Fósseis já não é mais útil, e torna-se hoje um perigo sério para
as nossas vidas e capacidade de vivermos neste planeta."
Robert Alan
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
103
CAPÍTULO V – PROPOSTA DE UM CENTRO NÁUTICO PARA
VILA NOVA DE GAIA
Introdução
A proposta de um Centro Náutico para Vila Nova de Gaia, foi elaborada na disciplina de
Projecto III e mais tarde desenvolvida e levada ao concurso do Prémio Secil (2009) no qual o
júri atribuiu uma menção honrosa.
A realização deste projecto teve como base o tema do ano lançado aos alunos do 5º ano do
curso de arquitectura (2008/2009), que consistia em analisar as marginais durienses das
cidades do Porto e Gaia, desde a ponte do Freixo até à foz, para posteriormente propor um
projecto arquitectónico que beneficiasse a região.
Figura 38 – Praia do Areinho no Verão
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104
5.1. Enquadramento geográfico
Após o levantamento exaustivo do ordenamento deste território, tendo-se analisado não
apenas os seus aspectos urbanísticos, mas também os seus aspectos sociais, culturais e
económicos, verificou-se que este era um território com um carácter de tal modo vincado, que
o torna único no seu enquadramento nacional e até mesmo global.
Exemplo disso é a estreita relação económica, social e cultural que se estabelece entre as
cidades do Porto e Gaia desde tempos históricos, sendo o rio Douro o seu elo de ligação.
Este rio tem sido também ao longo dos tempos, um canal importante de ligação do Porto e de
Gaia à região de Trás-os-Montes, onde é produzido o famoso vinho do Porto, que em tempos
era transportado pelos barcos Rabelo até às caves de Gaia, cidade escolhida para armazenar o
vinho do Porto devido ao facto das suas encostas se encontrarem voltadas para Norte,
permitindo que as caves se mantenham húmidas e frias.
Já a cidade do Porto detinha os comerciantes e a actividade administrativa com poder para
negociar a exportação do vinho, pelo que o Porto contribuiu com o seu nome para a formação
e divulgação deste produto de referência internacional, sendo o produto que mais dá a
conhecer a região duriense ao mundo.
Com este breve exemplo, verificamos existir uma relação interdependente ancestral entre as
duas cidades e as regiões a montante do Douro, formando um todo harmonioso com
potencialidade turística e cultural que é cada vez mais explorado para o desenvolvimento
económico da região.
Verifica-se agora no século XIX a intensificação das actividades fluviais pela bacia
hidrográfica do Douro, como o crescente aumento de praticantes de desportos como a vela, a
canoagem, etc. e os percursos turísticos em barcos Rabelo ou outros barcos de maior porte,
que fazem a ligação entre Trás-os-Montes e o Douro litoral.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
105
Figura 39 – Planta de Localização da Proposta de Intervenção
LEGENDA:
1 – PATAMARES DE ACESSO À PRAIA FLUVIAL 12 – HABITAÇÃO
2 – COMÉRCIO LOCAL 13 – AGÊNCIA DE VIAGENS DO DOURO / ALFÂNDEGA / POLÍCIA MARÍTIMA / BUSCA-SALVAMENTO MARÍTIMO / POSTO-
SOCORRO / POSTO BANCÁRIO
3 – HABITAÇÃO 14 – ESPELHO DE ÁGUA COM CASCATA
4 – RESTAURANTE / ESPLANADA DA PRAIA FLUVIAL 15 – CLUBE DE VELA
5 – COMÉRCIO LOCAL 16 – ACESSOS VERTICAIS AO ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO
6 – HABITAÇÃO 17 – COMÉRCIO DE ARTIGOS DE ACTIVIDADES NÁUTICAS
7 – CENTRO DE CONTROLO METEOROLÓGICO E DAS MARÉS 18 – ACESSOS VERTICAIS AO ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO
8 – COMÉRCIO LOCAL 19 – CAFÉ / ESPLANADA
9 – HABITAÇÃO 20 – EQUIPAMENTO DE MANUTENÇÃO DA MARINA
10 – ESCOLA NÁUTICA 21 – MIRANTE / FAROL / SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS / RESTAURANTE DO RIO
11 – COMÉRCIO LOCAL
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
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106
Figura 40 – Planta de Localização da praia do Areinho
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107
Devido ao aumento progressivo das actividades fluviais no Douro, tem sido necessário
investir na construção de infra-estruturas que permitam a atracagem e manutenção dos barcos
que aqui navegam. Os locais onde estes barcos atracam, têm ainda necessidade de ser dotados
de equipamentos para acolher os turistas e navegadores, como acontece por exemplo no Cais
de Gaia, recentemente construído e, que em paralelo com a ribeira do Porto, fazem deste, um
dos pontos de ócio preferidos dos turistas e dos próprios habitantes da região. Apesar destes
investimentos, há ainda muito a explorar no rio, de forma a valorizá-lo e a tirar maior proveito
das suas potencialidades turísticas e culturais.
Verificou-se que na marginal de Vila Nova de Gaia, a praia fluvial do Areinho era detentora
de grande potencialidade para ser alvo de um projecto de requalificação que valorizasse não
só esta parte do rio, como também permitisse a atracagem de novos barcos.
A praia do Areinho situa-se na margem esquerda do rio Douro entre a Ponte do Freixo e a
Ponte de São João, ambas dos anos 90, sendo que a primeira é rodoviária e faz parte da Via de
Cintura Interna do Porto e de Gaia, já a segunda é apenas ferroviária e permite a ligação dos
comboios entre Porto e Lisboa.
Quem percorre estas pontes ou quem se encontra entre elas na marginal portuense,
percepciona que a zona da praia do Areinho carece de uma intervenção de valorização, uma
vez que possui um aspecto de abandono. No entanto, é também de notar que, apesar de se
encontrar do lado de Gaia, devido ao leve declive do terreno, é uma zona privilegiada em
termos de exposição solar, atraindo inúmeros veraneantes na estação quente. Por estes
motivos e por se verificar a carência de infra-estruturas que tornem esta uma zona bastante
mais atractiva, é proposto um projecto para a sua requalificação, dotando-a de um centro
náutico que contenha uma marina que permita a atracagem dos grandes barcos de recreio que
percorrem o rio Douro e que nesta região não contêm ainda os locais mais apropriados para o
efeito, sendo que a sua atracagem se encontra improvisada em vários pontos da marginal do
Douro.
Uma vez que a marginal se encontra relativamente descaracterizada, optou-se por redesenhá-
la com uma forma mais serpenteada, de forma a proporcionar-lhe alguma elegância.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
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108
Consegue-se assim implantar o equipamento de uma forma pouco agressiva. Consegue-se
desta forma também aumentar um pouco a área da praia.
5.2. Implantação e linguagem arquitectónica
Após a definição do local para projectar o centro náutico, as ideias gerais de implantação
deste equipamento tiveram em consideração os aspectos do território envolvente.
Destacam-se as seguintes contingências geográficas:
- Em primeiro lugar, a sinuosidade do rio Douro nesta zona e o respectivo areal da praia do
Areinho que devia ser mantido e até expandido se possível;
- A grande escala das pontes que ligam as duas margens do rio Douro, uma vez que com esta
infra-estrutura se pretende fazer aqui a principal marina do rio a sua escala será também
grande, sendo por isso importante ter em conta que relação poderá existir entre esta nova
infra-estrutura e as pontes já existentes;
- A ligação da via marginal que deste lado da marginal de Gaia se encontra interrompida e a
respectiva articulação com a Rua do Areinho que confluiria com esta;
- A disposição orgânica e dispersa do edificado preexistente, sendo necessário estudar uma
forma de implantação que consiga agarrar este edificado, para que o novo equipamento se
adapte e valorize o território sem que se imponha sobre o mesmo;
- O programa do centro náutico, a escala dos cais de atracagem para os barcos que se pretende
acolher e os bares e outros equipamentos de apoio;
- A valorização da praia, de maneira a fazer desta, uma zona potencialmente atractiva ao nível
turístico.
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Figura 41 – Fotomontagem de vista aérea da proposta de intervenção
Assim, por forma a valorizar o principal elemento turístico atractivo actual da região a
implantação do equipamento foi projectada uns metros a jusante do areal, permitindo a sua
expansão até sob o clube náutico.
A implantação deste projecto divide-se assim em duas partes principais: a montante do rio
encontram-se os volumes que vão acolher o clube náutico e o respectivo programa de apoio e
a jusante encontra-se a marina. Para proporcionar um melhor enquadramento da proposta
houve a necessidade de intervir no lado Sul da rua marginal de maneira a que o clube náutico
e a marina não se encontrem desgarrados do território em terra que imediatamente os envolve,
fazendo-se aqui uma área habitacional.
Optou-se por um programa multifacetado, de forma a poder oferecer usufruto aos utilizadores
da praia e não destinar-se apenas aos praticantes das actividades náuticas.
Esta infra-estrutura é ainda dotada de locais de ócio público, como bares, restaurantes e lojas
para apoiar não só a actividade turística duriense, como também dinamizar o local e servir de
apoio aos frequentadores da praia do Areinho.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
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110
Em toda a proposta trabalhou-se o espaço público, criando espaços verdes e contemplativos.
Por baixo da plataforma principal, encontra-se o estacionamento de apoio ao centro náutico.
Os acessos a esse estacionamento fazem-se em 2 momentos: a poente e a nascente.
Para se conseguir criar mais relações com a pré-existência, expandiu-se a intervenção em
direcção a sul, com a criação de edifícios de habitação intercalados com edifícios de comércio
de apoio às habitações. Desta forma, com a criação de comércio tradicional, evita-se que as
pessoas se desloquem da zona para grandes superfícies, a fim de efectuar as compras do dia-a-
dia.
Criaram-se alguns equipamentos que geram economia e postos de emprego, de forma a ser
uma infra-estrutura um pouco auto-suficiente.
Figura 42 – Vista da proposta e sua relação com o rio Douro
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Figura 43 – Fotomontagem de vista aérea da proposta de intervenção
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112
Tendo em conta o ritmo das águas do rio, o clube náutico é composto por sete volumes
platónicos paralelos e com iguais distâncias entre si. Estes encontram-se precisamente entre a
terra e o rio, assinalando um gesto forte nesta parte do rio Douro.
Estes volumes encontram-se penetrados por um percurso ciclo-viário, feito através de uma
ponte que começa junto à praia e termina no topo da marina, a jusante do rio, sendo aqui
rematado por um edifício vertical que funcionará como farol, mirante, restaurante, bar e
serviços administrativos.
A escala deste percurso pedonal tem em conta não apenas o porte dos barcos que pretende
atracar, como também a escala das pontes que aqui se encontram, sendo um gesto forte que
sem receio altera e redesenha a paisagem desta parte do rio Douro.
Desta forma, apesar da grande escala do equipamento, o mesmo integra-se na paisagem e não
se impõe, complementando-a e valorizando-a, funcionando como um elemento de charneira
entre os elementos naturais que são o rio, o areal e a marginal.
Uma vez que o projecto do centro náutico não pretende apenas servir de apoio às actividades
fluviais, o programa do equipamento é multifacetado por forma a acolher os turistas da praia
do Areinho no Verão e dinamizar turística e culturalmente a região durante a restante época do
ano, valorizando assim as actividades sazonais para as quais a zona tem potencial.
O estudo do percurso da marginal é um ponto fundamental para a integração deste projecto na
região. Este percurso, naturalmente de forte relação com o rio Douro e a paisagem que se
obtém sobre a cidade do Porto, é formado por: passeio, estacionamento, via automóvel de dois
sentidos, passeio e ciclo-via, esta última contígua ao rio.
De maneira a não quebrar este ritmo e para que quem percorra este percurso não perca a
relação com o rio devido à implantação deste equipamento efectuou-se o prolongamento do
percurso pedonal e ciclo-viário contíguo ao rio pelo interior do próprio clube náutico, desta
forma quem percorre a marginal nesta zona passa directamente pelo interior dos vários
volumes do clube náutico, dando a conhecer novos ambientes e actividades que podem ser
efectuadas durante o percurso pedonal.
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113
A área habitacional que se encontra implantada apenas na parte de terra do outro lado da rua
em relação ao clube náutico, é formada por volumes também platónicos de escala similar à
dos volumes do clube náutico, no entanto são mais altos e dispõe-se de forma intercalada com
os volumes do clube náutico.
Para criar maiores relações com as preexistências, os edifícios habitacionais encontram-se
ainda intercalados com edifícios de comércio, mais pequenos, valorizando e atraindo para
aqui o comércio tradicional que prolifera nas marginais durienses, e são muito utilizados pelas
populações locais a fim de evitar o deslocamento às grandes superfícies para efectuar as
compras do dia-a-dia.
O espaço público foi trabalhado de modo a incorporar áreas verdes e contemplativas e a ter
área suficiente para o ajuntamento de uma vasta quantidade de pessoas como turistas,
veraneantes, desportistas entre outras.
Figura 44 – Vista do aglomerado de habitação, de comércio e de serviços
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
114
As áreas verdes foram desenhadas como sendo o negativo dos volumes habitacionais
projectados para a parte Sul e sob a plataforma principal do espaço público encontra-se o
estacionamento do centro náutico ao qual se acede pelos topos poente e nascente.
A imagem arquitectónica é o resultado da relação entre duas contingências diferentes: o rio e a
terra. Verificando-se que o espaço público e os volumes encontram-se relacionados de forma
entrelaçada, transmitindo a ideia de deslocação dos volumes para o rio, no entanto a
colocação dos volumes habitacionais na parte Sul reforça a ideia dos volumes se encontrarem
ligados em primeiro lugar à terra, apesar dos grandes vãos suspensos sobre o Douro.
Os alçados contêm também uma linguagem entrelaçada, numa alternância de volumes de
forma rítmica que acabam por proporcionar um novo dinamismo à região, destacando-a não
apenas pelo programa náutico e apoio à praia do Areinho como também pela linguagem da
nova infra-estrutura.
Figura 45 – Vista dos perfis tubulares que fazem a composição dos alçados
A linguagem arquitectónica utilizada, caracteriza-se pela forte relação que a proposta tem com
o lugar, tirando partido da paisagem e fazendo com que esta se valorize devido a esta
intervenção. Para isso, os volumes abrem-se ao exterior, sendo cada um deles como que uma
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115
caixa formada por dois planos horizontais: pavimento e cobertura e pontualmente planos
verticais que suportam os horizontais, obtendo-se grandes vãos envidraçados laje a laje,
ligados por estruturas metálicas tubulares de secção circular, umas verticais e outras
inclinadas, dispostas através de um padrão repetitivo.
Esta estrutura tubular, permite obter ambiências internas particulares, derivadas da métrica
orgânica e rítmica utilizada, que em conjunto com a paisagem envolvente propicia um
ambiente de características atractivas e acolhedoras, uma vez que apesar dos grandes
envidraçados que expõe no exterior os acontecimentos internos as canas atenuam e dificultam
essa visualização directa.
Os espaços tornam-se mais sensuais para quem se encontra no interior que vê para fora e para
quem de fora vê para dentro, que não tem a percepção nítida de tudo. Estes tubos preenchem
ainda os alçados da pala que penetra todos os volumes do clube náutico, servindo de estrutura
e de acompanhamento do percurso que contém momentos onde a cana deixa de existir por
forma a permitir a entrada ou saída de pessoas.
Para suportar os grandes balanços dos volumes e o percurso ciclo-viário sobre o rio poder-se-
ia utilizar uma estrutura similar, fazendo deste o elemento estrutural principal do projecto,
conferindo-lhe uma linguagem invulgar na região.
Figura 46 – Zona Pública
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
116
5.3. Programa
Analisando a parte do clube náutico de montante para jusante do rio, encontramos em
primeiro lugar os patamares que ligam a praia do Areinho ao percurso ciclo-viário. Seguindo
por este percurso, acedemos ao primeiro dos sete volumes suspensos.
Este volume, por ser o mais perto do areal, encontrando-se sobre o mesmo, destina-se a ser
usado pelos banhistas, contendo assim um balneário público e um local para nadadores
salvadores.
O volume seguinte contém um centro de controlo meteorológico e das marés. A seguir, o
terceiro volume acolhe uma escola náutica, que tem como objectivo dar formação aos
utilizadores do rio e do mar, em especial na arte de velejar como também no uso e
manutenção dos equipamentos referentes a esta actividade.
Figura 47 – Interior de uma sala de estar de um equipamento público
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117
O volume seguinte encontra-se no fim do areal, fazendo assim a transição entre a areia e o rio
e a sua dimensão permite acolher uma agência de viagens do Douro, uma alfândega, a polícia
marítima, busca e salvamento marítimo, um posto de socorro e um posto bancário/ câmbio.
Contendo um carácter privado sob este volume encontra-se o acesso a um pequeno cais que
serve para uso exclusivo da agência e atracagem de barcos que fazem os cruzeiros durienses.
Continuando pelo percurso ciclo-viário vemos um espelho de água entre a marginal e o rio e
encontramos o quinto volume que acolhe o clube de vela, que poderá incluir ainda actividades
de canoagem e optimists.
O penúltimo volume acolhe várias lojas que poderão vender artigos relacionados com as
actividades náuticas, havendo para isso espaços amplos por forma a poder-se manipular os
utensílios em espaços com as condições apropriadas.
Por fim, o sétimo volume acolhe um café com esplanada, encontrando-se aqui a confluência
entre o percurso ciclo-viário, a rua e o acesso ao cais principal da marina.
Figura 48 – Relação do espelho de água com o rio, que se envolve com a infra-estrutura
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
118
Seguindo pelo percurso que nos conduz à marina, deparamo-nos com um desnível no
percurso que baixa até aos níveis da água do rio.
Percorrendo este percurso, encontramos primeiro um local para a manutenção da marina e de
seguida o cais de atracagem dos barcos de menor porte devidamente protegidos das marés por
um paredão extenso que é rematado por um volume vertical que contém um restaurante com
vistas privilegiadas sobre o rio, um mirante e farol e os serviços administrativos.
Os edifícios habitacionais contêm 3 pisos, o rés-do-chão contém a garagem e os seguintes, as
habitações. A articulação interna dos espaços habitacionais é condicionada pela métrica rígida
dos alçados que é formada por uma alternância entre varandas protegidas por tubos de secção
circular e por envidraçados laje a laje, não se notando planos que preencham as paredes
exteriores.
Para a unidade de habitação padrão, os alçados longitudinais subdividem-se em duas varandas
e dois envidraçados que se intercalam, encontrando-se no topo exterior a sala de estar.
A sala de jantar encontra-se imediatamente no módulo a seguir, que se subdivide a meio para
acolher também a cozinha. A seguir, no terceiro módulo encontram-se as instalações sanitárias
e por fim no outro topo encontra-se um quarto.
Figura 49 – Interior da cozinha e da sala da tipologia
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119
Figura 50 – Vista aérea da tipologia
A separar as habitações existem os acessos verticais, compostos por elevadores e escadas que
se ligam às garagens. O espaço exterior é semiprivado, encontrando-se a uma cota superior à
rua por forma a atribuir maior privacidade aos habitantes destes edifícios.
Entre os edifícios habitacionais encontram-se pequenos volumes cuja altura resulta do
prolongamento da cota alta do espaço exterior semiprivado. Estes edifícios encontram-se
projectados para acolher comércio tradicional.
120
Figura 51 – Planta da Cave
121
Figura 52 – Planta do Piso da Tipologia T1
122
Figura 53 – Planta da Cobertura
123
Figura 54 – Corte AA’
124
Figura 55 – Corte BB’
125
Figura 56 - Alçado
126
Figura 57 - Alçado
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
127
5.4. Materialidades
Ao nível dos materiais, mostraremos primeiro as escolhas efectuadas para o projecto, para a
partir daí fazermos uma análise do impacto ambiental que a escolha destes materiais
propiciaria.
De seguida, utilizaremos outros materiais para que esta intervenção tivesse um impacto
ambiental, o mais reduzido possível, sem que se perca a linguagem arquitectónica que se
pretende transmitir, assim como o respectivo programa.
Como vimos anteriormente, o material de maior destaque utilizado, são as canas que
preenchem grande parte dos alçados.
Resumidamente, os volumes que integram esta proposta, compõe-se por laje para o
pavimento, tubos metálicos para os alçados e novamente laje para a cobertura ou, como no
caso dos edifícios habitacionais, laje de tecto e pavimento do piso superior.
As lajes do rés-do-chão encontram-se projectadas de forma convencional, contendo um
acabamento final que normalmente é o parquet flutuante assente sobre uma camada de
geotêxtil.
O estrato resistente onde assenta, é em betonilha afagada sobre uma camada de betão armado.
Nas lajes entre pisos, como acontece nos edifícios habitacionais, o estrato resistente é em
betão armado, sobre o qual se colocou aglomerado de cortiça expandida na qual assenta o
acabamento final, que na maioria dos compartimentos é novamente o parquet flutuante.
Quando a laje faz de varanda, colocou-se betão aparente sobre o aglomerado de cortiça
expandida. Sob o estrato resistente, encontra-se o gesso cartonado ou o reboco sintético
armado quando a laje é exterior.
Ao nível dos alçados, as paredes exteriores contêm um estrato resistente em betão armado,
sendo revestidas exteriormente a placas de isolamento térmico em poliestireno expandido com
acabamento final em reboco sintético armado.
O interior é em gesso cartonado.
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128
Grande parte dos alçados contêm grandes vãos envidraçados de altura laje a laje, a caixilharia
é em alumínio e suporta vidros duplos. No exterior, encontram-se os tubos de aço de secção
circular que são também estruturais.
A cobertura consiste também num plano, cujo estrato resistente é em betão armado, contendo
no interior gesso cartonado e no exterior acabamento final em zinco sobre placas de
isolamento térmico em poliestireno expandido, tela de barreira ao vapor e camada de forma,
encontrando-se de seguida o estrato resistente em betão armado.
Figura 58 – Pormenor Construtivo
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
129
Figura 59 – Pormenor Construtivo
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130
Figura 60 – Pormenores Construtivos
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
131
CAPÍTULO VI – CONCLUSÃO
Introdução
Neste capítulo, foi feita uma síntese dos materiais estudados e o seu ciclo de vida.
Estabeleceu-se um critério para determinar quais seriam as matérias-primas ou produtos mais
sustentáveis e menos sustentáveis.
De acordo com a pesquisa que foi efectuada no capítulo IV, fez-se uma distinção entre o que
seria considerado matéria-prima e produto.
Desta forma, conseguimos ter maior rigor na análise dos materiais.
Em primeiro lugar, pressupôs-se que os materiais seriam extraídos da mesma zona. Depois,
estipulou-se que os que tivessem três ou mais ciclos de vida, seriam mais sustentáveis.
Posteriormente, para se poder criar uma hierarquia e para ir reduzindo o grau de
sustentabilidade, definiram-se os que tinham menor energia incorporada.
Continuando a dar uma melhor definição nos critérios, depois escolheram-se os que gastam
mais energia e finalmente os que têm um menor ciclo de vida.
Desta forma, atribuiu-se uma cor para definir um grau de sustentabilidade, sendo o verde um
bom nível de sustentabilidade e o amarelo um médio nível de sustentabilidade.
Seguidamente, foi feita uma comparação entre os materiais utilizados no caso prático e os que
poderiam ter sido utilizados como alternativa, para se tornar uma proposta mais sustentável.
Para isso, foram utilizados modelos tridimensionais e tabelas que nos ajudam a comparar de
uma forma expedita os materiais.
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
132
6.1. Ciclo de Vida dos Materiais
CICLOS DE VIDA DA MATÉRIA-PRIMA
MATÉRIA-PRIMA
VID
A Ú
TIL
(AN
OS)
1.º CICLO DE VIDA 2.º CICLO DE VIDA
3.º OU MAIS CICLOS DE VIDA
GR
AU
DE
SUST
ENTA
BIL
IDA
DE
EXTRACÇÃO/ PRODUÇÃO
ENERGIA INCORPORADA (MJ/KG)
RECICLAGEM
ENERGIA
(MJ/KG)
EMISSÃO DE CO2
(KGCO2/KG)
ENERGIA
(MJ/KG)
EMISSÃO DE CO2
(KGCO2/KG) TIPO DE USO
ADOBE /TAIPA /
TERRA 60
0.43 (85% DA ENERGIA
INCORPORADA) 0 0.5 (1)
0.43 (85% DA ENERGIA INCORPORADA)
0 NOVA CONSTRUÇÃO OU DEVOLVIDO À TERRA INFINITAMENTE
AREIA 60 1 (1) 0.05 (1) 1.15 (1) 5 (1) 0.10 (1) AGREGADOS FIM DE CICLO
BAMBU 30 0.10 (85% DA
ENERGIA INCORPORADA)
0 (8) 0.12 (7) 0 0 DECORAÇÃO, ESTRUTURAS FIM DE CICLO
CORTIÇA 30 3.00 (1) 0.18 (1) 4.00 (2) 3.00 (1) 0.18 (1) AGLOMERADO DE CORTIÇA INFINITAMENTE
FARDOS DE PALHA 60 0.20 (85% DA
ENERGIA INCORPORADA)
0.01 (5) 0.24 (4) N/A N/A FERTILIZANTE, DEVOLVIDO À TERRA FIM DE CICLO
MADEIRA 30 21.00 (1) 0.21 (1) 8.50 (2) 15.00 (2) 0.81 (2) CONTRAPLACADO COMBUSTÍVEL PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA
(1) BERGE (2) HAMMOND E JONES (3) REDDY E JAGADISH (4) WELLINGTON (5) ALCORN (6) REDDY E JAGADISH (7) http://abari.org/bamboohousing
(8) http://bambus.rwth-aachen.de/eng/reports/zeri/englisch/referat-eng.html
BOM NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE MÉDIO NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
133
CICLOS DE VIDA DOS PRODUTOS
PRODUTO
VID
A Ú
TIL
(AN
OS)
1.º CICLO DE VIDA 2.º CICLO DE VIDA
3.º OU MAIS CICLOS DE VIDA
GR
AU
DE
SUST
ENTA
BIL
IDA
DE
EXTRACÇÃO/ PRODUÇÃO
ENERGIA INCORPORADA (MJ/KG)
RECICLAGEM
ENERGIA
(MJ/KG)
EMISSÃO DE CO2
(KGCO2/KG)
ENERGIA
(MJ/KG)
EMISSÃO DE CO2
(KGCO2/KG) TIPO DE USO
AÇO 30 25.00 (1) 0.66 (1) 35.30 (2) 9.00 (1) 0.30 (1) AÇO, LATAS INFINITAMENTE
ALUMÍNIO 30 185.30 (85% DA
ENERGIA INCORPORADA)
24.48 (85% DA ENERGIA
INCORPORADA) 218.00 (2) 28.8 (2) 1.69 (2) ALUMÍNIO INFINITAMENTE
BETÃO (MISTURA DE AREIA, ETC.)
90 1.50 (1) 0.50 (1) 0.95 (2) 5 (1) 0.10 (1) AGREGADOS DE BETÃO FIM DE CICLO
CERÂMICA 30 8.00 (1) 0.17 (1) 10.0 (2) 8.00 (1) 0.17 (1) CERÂMICA INFINITAMENTE
GESSO 60 1.8 (2) 0.12 (2) 4.5 (4) 6.75 (2) 0.38 (2) PLACAS DE GESSO INFINITAMENTE
PNEUS 15 86.45 (85% DA
ENERGIA INCORPORADA)
3.18 (2) 101.70 (2) 0 0 MUROS DE SUPORTE INFINITAMENTE
POLÍMEROS 15 44.9 (2) 2.41 (2) 80.50 (2) 35.6 (2) 1.12 (2) PLÁSTICO, PETRÓLEO, ENERGIA DEPENDENDO DO TIPO DE PLÁSTICO PODE SER
RECICLADO PARA O MESMO FIM OU ENTÃO INCINERADO PARA PRODUZIR ENERGIA
VERNIZES E PINTURAS
15 57.80 (85% DA
ENERGIA INCORPORADA)
3.56 (2) 68.0 (2) N/A N/A N/A N/A
VIDRO 15 12.00 (1) 0.21 (1) 15.00 (2) 12.00 (1) 0.21 (1) VIDRO INFINITAMENTE
(1) BERGE (2) HAMMOND E JONES (3) REDDY E JAGADISH (4) WELLINGTON (5) ALCORN (6) REDDY E JAGADISH (7) http://abari.org/bamboohousing
(8) http://bambus.rwth-aachen.de/eng/reports/zeri/englisch/referat-eng.html
BOM NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE MÉDIO NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
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134
6.1. Materiais Usados
PAREDES INTERIORES:
TIJOLO FURADO CERÂMICO / GESSO CARTONADO
LAJES:
BETÃO ARMADO
TUBOS:
PERFIS TUBULARES EM AÇO
CAIXILHARIAS:
ALUMÍNIO
COBERTURA:
BETÃO ARMADO
PILARES E VIGAS:
BETÃO ARMADO
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
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135
6.2. Materiais Sugeridos
PAREDES INTERIORES:
TAIPA DE FASQUIO
LAJES:
MADEIRA COM CAMADA DE ADOBE
TUBOS:
CANAS DE BAMBU
CAIXILHARIAS:
MADEIRA COM VIDRO RECICLADO
COBERTURA:
COBERTURA PLANA EM MADEIRA, COM REVESTIMENTO EM ADOBE
PILARES E VIGAS:
MADEIRA
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MATERIAL UTILIZADO
-
MATERIAL SUGERIDO V
IDA
ÚTI
L (A
NO
S)
1.º CICLO DE VIDA
EXTRACÇÃO/ PRODUÇÃO
ENERGIA INCORPORADA (MJ/KG) ENERGIA
(MJ/KG)
EMISSÃO DE CO2
(KGCO2/KG) TIPO DE USO
AÇO 30 25.00 0.66 PERFIS TUBULARES NOS ALÇADOS
35.30
BAMBU 30 0.10 0 0.12
ALUMÍNIO 30 185.30 (85% DA ENERGIA
INCORPORADA) 24.48 (85% DA ENERGIA
INCORPORADA) CAIXILHARIAS
PILARES E VIGAS
218.00
MADEIRA 30 21.00 (1) 0.21 (1) 8.50
GESSO 60 1.8 (2) 0.12 (2) PAREDES INTERIORES
LAJES
COBERTURA
4.5
BETÃO 90 1.50 (1) 0.95 (2) 0.50
ADOBE / TAIPA 60 0.43 (85% DA ENERGIA INCORPORADA) 0 0.5
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137
Conclusão
Após ter-se feito uma recolha de informação, no que diz respeito às características dos
materiais, desde a sua vida útil, a quantidade de ciclos de vida que têm, a energia, a emissão
de CO2 e ter-se atribuído um grau de sustentabilidade, chegou-se à conclusão que uma
possibilidade de tornar o edifício mais sustentável, seria aplicar outro tipo de materiais.
Nas paredes interiores optou-se por trocar o gesso cartonado por taipa de fasquio.
Nas caixilharias, optou-se por trocar o alumínio pela madeira com vidro reciclado.
Em vez de utilizar lajes em betão, escolheu-se utilizar madeira com camada de adobe.
A cobertura pode ser plana em madeira, com revestimento em adobe, em vez de ser em betão
armado.
Nos perfis que fazem a composição dos alçados, optou-se por substituir os perfis de aço, por
canas de bambu.
A nível de canalizações e infra-estruturas, verificou-se uma lacuna no actual mercado. É uma
área que é importante vir a estudar, para que os edifícios também se tornem mais sustentáveis.
De uma forma expedita, consegue-se facilmente alterar a composição de um edifício, sem o
desprover de qualidades arquitectónicas a nível de imagem e conforto.
Isso possibilita um grande contributo para o nosso meio ambiente.
Vale a pena apostar na investigação e qualificação de profissionais para poderem utilizar de
uma forma correcta, estes materiais e saberem aplicar as técnicas na construção.
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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
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CONCLUSÃO FINAL
O nosso planeta sempre primou pela diversidade e por nos surpreender com as soluções mais
inimagináveis.
A Arquitectura Sustentável, pelo facto de propor uma construção com soluções específicas a
cada situação, é um desafio à criatividade de toda a comunidade.
Com o crescimento da população e aumento das suas exigências a nível de conforto, a
implantação de soluções sustentáveis é premente e inevitável.
O desafio principal ao avanço desta área é nitidamente cultural e organizacional, associado à
consciência ambiental da sociedade e não meramente a questões tecnológicas como muitas
pessoas crêem.
Diversas tecnologias ambientais já atingiram um nível de maturidade que as tornam
economicamente viáveis, visto que apesar de representarem um investimento inicial mais
elevado, têm a contrapartida de um custo operacional praticamente nulo.
Um esquentador será certamente mais barato do que um painel solar, mas o gás consumido
pelo primeiro será um custo para o consumidor durante toda a vida útil do mesmo, enquanto o
sol utilizado pelo painel é uma energia absolutamente gratuita e disponível sem preocupações
para a humanidade durante os próximos milhões de anos.
Tem-se consciência que já é possível substituir materiais não sustentáveis por outros
entendidos como sustentáveis, não obstante ainda não existir investigação e testes para
conseguir desenvolver materiais sustentáveis com as mesmas características mecânicas de
forma a formarem-se verdadeiras alternativas aos materiais de construção utilizados.
Outros factores de relevo impeditivos de um maior crescimento da área da arquitectura
sustentável, prendem-se com a falta de pessoal qualificado e mecanismos de suporte
financeiro à inovação.
Não só existe falta de qualificação, como o percurso a seguir pelas pessoas qualificadas que
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pretendem promover esta área é bastante dificultado pela inexistência de mecanismos
adequados.
Não há materiais bons ou maus, materiais sustentáveis ou insustentáveis. Existem formas
insustentáveis de os utilizar (como a maioria dos casos na actualidade) e formas de os usar de
forma sustentável, que são as do futuro.
Existem categorias de encerramento do ciclo que devem aproveitar as oportunidades que cada
material oferece e elaborar os produtos utilizando essas estratégias.
O encerramento dos ciclos materiais, a reconversão dos resíduos de novo em recursos, é uma
necessidade do nosso sistema técnico para enfrentar o desafio da sustentabilidade.
Para o fazer, podemos usar materiais renováveis e gerir o encerramento de ciclos através da
biosfera, ou utilizar materiais não renováveis e mudá-los dentro do ciclo técnico.
Em ambos os casos, as estratégias de futuro passam por encontrar quais são as opções mais
adequadas neste caso.
Na realidade, apenas depende de nós deixar de estar no centro do problema para passar a fazer
parte da solução.
“Devemos voltar a pensar a Sociedade não contra a Natureza, mas com ela; e a Natureza
como sendo - ela mesma - um sujeito dotado de Humanidade”
Antropólogo Roberto DaMatta
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
141
BIBLIOGRAFIA
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O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
143
CRÉDITOS DAS IMAGENS
Figura 1 – Fragmento do aglomerado populacional de Vila Nova de Gaia
<http://static.panoramio.com/photos/original/22311193.jpg>, 13/06/2011, 13:50h
Figura 2 – Poluição que afecta a qualidade do ar ao nível global
<http://www.ma.gov.br/maranhaoemalerta/images/stories/poluio.jpg >, 13/06/2011, 13:55h
Figura 3 – Complexo Habitat 67, Canadá
<http://2.bp.blogspot.com/_KBJUgVyVbTg/TKP4c3-
JyhI/AAAAAAAAAYQ/NWyZhKxycyU/s1600/DSC_9689-montreal-habitat-67.jpg>,
13/06/2011, 13:50h
Figura 4 – Cais de Gaia, uma das zonas turísticas mais atractivas de Vila Nova de
Gaia
<http://2.bp.blogspot.com/_h434dWKta6I/TBfm_7xhnvI/AAAAAAAABJU/RNOwDxZrKdg
/s1600/IMG_0661_2.JPG>, 13/06/2011, 13:50h
Figura 5 – Vista do local de implantação do Centro Náutico, na margem esquerda
entre as duas pontes mais próximas
<http://v5.cache2.c.bigcache.googleapis.com/static.panoramio.com/photos/original/21231828.
jpg?redirect_counter=2%3E>, 14/04/2011, 11:55
Figura 6 – Jean Marie Tjibaou Cultural Center
<http://atlasobscura.com/place/jean-marie-tjibaou-cultural-center>, 13/04/2011, 18:40
Figura 7 - Pedreira e mármore tratado da empresa do Grupo Galrão Mármores e
Granitos
<http://www.galrao.com>, 13/04/2011, 14h50.
Figura 8 – Refinaria da Galp em Leça da Palmeira
<http://1.bp.blogspot.com/-
d4MieJKKYKA/TfollU1bQCI/AAAAAAAAADY/zVzEsdGDwIo/s1600/DSC_0091p.jpg >,
13/04/2011, 18:40
Figura 9 – Pavilhão de Portugal – Expo 2010, revestido a cortiça
<http://2.bp.blogspot.com/_ILf-e7qt3Ow/TNF4ANcY-zI/AAAAAAAAASo/3YJaS-hxh-
k/s1600/DSC_0194.JPG>,13/04/2011, 18:40
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144
Figura 10 – Canas de Bambu
<http://download.ultradownloads.com.br/wallpaper/56321_Papel-de-Parede-
Bambu_1400x1050.jpg
Figura 11 – Exemplo de aplicação de Bambu numa estrutura de cobertura
<João Caeiro – Construção em Bambu>
Figura 12 – Pilhas de cortiça
<http://omelhordeportugalestaaqui.files.wordpress.com/2011/06/montado-
corti25c325a7a.jpg>,13/04/2011, 18:40
Figura 13 – Crude
<http://www.crudeoiltrade.com/classified_img/DP11_18.jpg>
Figura 14 – Mineral Ferro
<http://ayaestudos.blogspot.com/>
Figura 15 – Minério de Ferro
<http://economiabaiana.com.br/wp-content/uploads/2011/04/2007111920070823Ferro-
gusa_Acailandia.jpg>
Figura 16 – Madeira
<http://www.moillusions.com/wp-
content/uploads/i207.photobucket.com/albums/bb234/vurdlak8/illusions/alastair-heseltine-
tree-cut-wood-sc.jpg>,13/04/2011, 18:40
Figura 17 – Exemplo de Construção com Critoméria Japónica
<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e
Técnicas Construtivas, Jorge Lira>
Figura 18 – Fardos de Palha
<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e
Técnicas Construtivas, Vítor Varão>
Figura 19 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, como paredes estruturais
<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e
Técnicas Construtivas, Vítor Varão>
Figura 20 – Exemplo de aplicação de fardos de palha, aglutinados com argamassas73
<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e
Técnicas Construtivas, Vítor Varão>
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
145
Figura 21 - Mapa-mundo com indicação das zonas e elevada densidade de construção
em terra
<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p. 269. >
Figura 22 – Habitação unifamiliar em Beja, onde os arquitectos Bartolomeu Costa,
João Gomes e Mário Anselmo, utilizaram a terra como material principal do edifício
<http://www.betaoetaipa.pt/imgs/obras/Beja/11.jpg>, 19/04/2011, 16:50.
Figura 23 – Habitação unifamiliar em Serpa (arquitecta Maria de Luz Seixas)
<http://www.betaoetaipa.pt/imgs/obras/cantar_do_grilo/4.jpg>, 19/04/2011, 20:14.
Figura 24 – Casa em Taipa
<http://3.bp.blogspot.com/-
lhjURywT904/TZy9XrLh4bI/AAAAAAAAAAk/hktxxjIS_Rg/s1600/Casa+de+taipa.jpg>
Figura 25 – Perfis Tubulares de Aço
<http://www.sammysfarmsupply.mfbiz.com/communities/1/004/007/334/001/images/452930
2188.jpg>,13/04/2011, 18:40
Figura 26 - Tadao Ando, “Casa Koshino” em Kobe, Japão
<http://www.ignezferraz.com.br/img/dicas/arq-exp_tadao-externa.jpg>
Figura 27 – Exemplo de construção com sacos de areia
<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e
Técnicas Construtivas, Vítor Varão>
Figura 28 - Azulejos CZECH da autoria de Correia/Ragazzi arquitectos, que foram
premiados em São Francisco
<http://www.por.ulusiada.pt/Upload/Noticias/4ef09e299983a.jpg>
Figura 29 – Casa feita com Tijolo Konlix
<http://2.bp.blogspot.com/_RsfMkJDx1Ug/SUbsIqov0tI/AAAAAAAAAG8/cYtZ5WTU6vA/
s1600-h/CIMG2965.JPG>
Figura 30 – Fluxograma do Processo Konlix de Reciclagens
<http://inverde.files.wordpress.com/2009/11/processo-konlix.jpg?w=630>
Figura 31 – Pavilhão do Japão, Expo 2000 - Hannover
<http://theurbanearth.files.wordpress.com/2008/05/pavillion_int1.jpg>
Figura 32 – Cardboard Bridge, Shigeru Ban 92
<http://www.inhabitat.com/wp-content/uploads/shigerubanbridge1.jpg>
UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO
FACULDADE DE ARQUITECTURA E ARTES
146
Figura 33 – AffordableHouse
< http://www.tortoiseshellhome.com/images/Bodega6.jpg>,13/04/2011, 18:40
Figura 34 – Parede construída com pneus
<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e
Técnicas Construtivas, Vítor Varão>
Figura 35 – Plástico
<http://borrowedearth.files.wordpress.com/2008/04/plasticbottlescollected.jpg>,13/04/2011,
18:40
Figura 36 – Exemplo de aplicação de garrafas de plástico, no enchimento de uma
parede
<II JORNADAS QUERCUS ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL, 2010, Materiais e
Técnicas Construtivas, Vítor Varão>
Figura 37 – Vidro
< http://www.bridgat.com/files/toughed_glass.jpg>,13/04/2011, 18:40
Gráfico 1 – Emissões de carbono a nível mundial derivadas da produção de
energia (WEO, 2009)
<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p. 68. >
Gráfico 2 – Evolução da dependência energética de Portugal, segundo o Eurostat,
2007
<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p. 69. >
Gráfico 3 - Água absorvida por diferentes materiais quando a humidade relativa
sobe para os 80%.
<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p. 293. >
Gráfico 4 - Carbono incorporado em materiais para alvenarias
<MORTON. 2005.>
O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO
APLICAÇÃO A UM CASO DE ESTUDO
147
Tabela 1 – Tabela de Berge, 2009, sobre o consumo de matérias-primas esgotáveis
<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, Prefácio, p.30>
Tabela 2 – Indicação da energia incorporada dos principais materiais de construção
<TORGAL, JALALI, A Sustentabilidade dos Materiais de Construção, p.74. >
Tabela 3 – Consumo de energia primária
<CONCRETA, 2009, Como Reduzir para Metade o Impacto Ambiental dos
Edifícios, Paulo Mendonça, p. 3. >
Organigrama 1 – Actividade da construção entre a Revolução Industrial e Pós-
Industrial
<CONCRETA, 2009, Como Reduzir para Metade o Impacto Ambiental dos
Edifícios, Paulo Mendonça, p. 6.>
Organigrama 2 – Impacto ambiental dos edifícios
<14. CONCRETA, 2009, Como Reduzir para Metade o Impacto Ambiental dos
Edifícios, Paulo Mendonça, p. 29 >
Organigrama 3 – Factores que condicionam a eficiência energética
<14. CONCRETA, 2009, Como Reduzir para Metade o Impacto Ambiental dos
Edifícios, Paulo Mendonça, p. 29.>
Organigrama 4 – Ciclo de vida dos materiais de construção
<19. BERGE. 1999 >
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