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CONSTRUINDO COM TUBOS DE
PAPELO
UM ESTUDO DA TECNOLOGIA DESENVOLVIDA POR SHIGERU BAN
GERUSA DE CSSIA SALADO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Escolade Engenharia de So Carlos Universidade de SoPaulo, como parte dos requisitos para obteno dottulo de mestre.
rea de concentrao:Tecnologia do Ambiente Construdo
Orientador:Prof. Assoc. EDUVALDO PAULO SICHIERI
So Carlos2 0 0 6
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A estabilidade de uma construo nodepende da resistncia mecnica de
seu material.
Shigeru Ban
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Dedico este trabalho
Ao Prof Carlos Eduardo T. Packer (in memorian)por, nos ltimos anos de sua misso, ter me
apresentado as obras arquitetnicas de ShigeruBan com tubos de papelo e ter me despertado
o interesse por esta linha de pesquisa,
encorajando-me at o fim,
A todas as pessoas que valorizaram eincentivaram a minha pesquisa, por
acreditarem e apoiarem o seudesenvolvimento.
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GR DECIMENTOS
Agradeo,
FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo, peloapoio sem o qual no seria possvel a realizao deste trabalho;
ao meu orientador, Eduvaldo Paulo Sichieri, pela parceria, disposio e ajudaem momentos de dificuldade;
Zelepel Indstria e Comrcio de Artefatos de Papel S/A, e em especial ao seu
diretor-presidente Dr. Paulo Cavalcanti, por me receber em sua empresa tantas vezes,sempre disposto a ajudar, e por fornecer os tubos de papelo utilizados nesta pesquisa;
aos funcionrios da Zelepel Indstria e Comrcio de Artefatos de Papel S/A, Sr.Aguinaldo J ac omini, Sr. Helio Pamponet Cunha Moura, J oana e Marciel, por serem toreceptivos e atenciosos, colaborando com as informaes necessrias para odesenvolvimento deste trabalho;
aos funcionrios do Laboratrio de C onstruo C ivil da EESC-USP, Srgio Trevelin,Paulo Pratavieira e Paulo Albertini, pela dedicao e capricho na montagem eexecuo dos ensaios tcnicos realizados;
aos funcionrios do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da EESC-USP,Marcelo Celestini, Srgio Celestini, Geraldo Pereira e Paulo Ceneviva por todo o auxlioprestado;
s amigas Sandra Lima e Rafaelle Tiboni, pela fora e companheirismo em boaparte do tempo gasto no desenvolvimento deste trabalho;
aos amigos Dominique Fretin, Valter Lus Caldana J r, Ivana Bedendo e MnicaJ unqueira, que sempre me incentivaram a seguir este caminho;
minha amada famlia, minha me D. Rita, meus irmos Rigeria e Thiago, e meu
Anjinho Ricardo, pela pacincia, compreenso, incentivo e companhia em todos osmomentos.
Sem a participao de cada um de vocs, este trabalhono seria possvel.
Muito obrigada!
Gerusa Sa la d o.
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RESUMO
SALADO, G.C. Construindo com tubos de papelo: Um estudo da tecnologiadesenvolvida por Shigeru Ban. Dissertao (mestrado). So Carlos: Universidade de SoPaulo, Escola de Engenharia de So Carlos, 2006.
Diante do contexto atual de grande preocupao com apreservao do meio ambiente e, ao mesmo tempo, milhares depessoas desabrigadas devido pobreza e s catstrofesambientais, surge a necessidade de se estudar materiais deconstruo alternativos, que possam contribuir para amenizaressas questes.
Com base nisso, este trabalho enfoca o emprego de tubosde papelo na construo civil pelo arquiteto japons ShigeruBan.
Estudou-se os sistemas construtivos criados pelo referido
arquiteto e as caractersticas tcnicas dos tubos de papelo queeste utiliza em suas obras.
Foram realizados alguns ensaios tcnicos preliminares paraa caracterizao de tubos de papelo fabricados por umaindstria brasileira, e tambm para se chegar concluso se suascaractersticas tcnicas possibilitariam gerar sistemas construtivoscomo os das obras japonesas.
Este estudo, porm, apenas o incio de muitas pesquisasque devem ser feitas at que se identifique a viabilidade de
aplicao desta tecnologia no Brasil.
Palavras-chave: Materiais de construo, materiais de construoalternativos, tubos de papelo.
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BSTR CT
SALADO, G.C. Building with paper tubes: A research into the technology developed byShigeru Ban. Dissertao (mestrado). So Carlos: Universidade de So Paulo, Escola de
Engenharia de So Carlos, 2006.
According to the actual context of great concern with theenvironment preservation and, at the same time, millions ofhomeless people due poverty and environmental catastrophes,arises the nec essity of studying alternative construction materials,which can contribute to soften these issues.
Based in this, this work focuses the use of paper tubes in theconstruction by the J apanese architect Shigeru Ban.
The construction systems created by the referencedarchitect and the technical characteristics of paper tubes that heuses in his works have been studied in this research.
Preliminary technical tests have been done to characterizepaper tubes made by a Brazilian industry and to check if theirtechnical characteristics would become possible the production ofconstruction systems as the J apanese works.
This study, however, is only the beginning of severalresearches that will made until identify the viability of applicationthis technology in Brazil.
Key-words: Construction materials, alternative construction materials,paper tubes.
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SUMR O
Agradecimentos
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Resumo
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Abstract
vi
1 Introduo 01
1.1. Consideraes iniciais e definio de conceitos.......................................................... 01
1.2. Proposta e importncia do estudo................................................................................... 04
1.3. Objetivos do trabalho............................................................................................................ 05
1.4. Contedo do trabalho............................................................................................................ 05
2 O material papelo 07
2.1. Histrico....................................................................................................................................... 07
2.2. As preocupaes com o meio ambiente......................................................................... 10
2.3. A fabricao do papel kraft e dos tubos de papelo........................................... 14
2.3.1. Tipos, qualidades e aplicaes de diversos tipos de papis e seus
derivados.............................................................................................................................................
20
3 O uso do papelo na construo civil 23
3.1. As chapas de papelo abrindo caminho para o uso desse material naconstruo civil.................................................................................................................................
25
3.2. O uso de tubos de papelo na construo civil........................................................ 36
3.2.1. Formas de papelo para pilares de concreto.................................................. 36
3.2.2. Os tubos de papelo como elementos de vedao e
estrutura.............................................................................................................................................
38
4 O uso dos tubos de papelo pelo arquiteto Shigeru Ban em suas
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obras 46
4.1. Apresentao e anlise tcnica das obras de Shigeru Ban com tubos de
papelo................................................................................................................................................. 48
5 Ensaios tcnicos realizados com tubos de papelo 96
5.1. Ensaios tcnicos realizados por Shigeru Ban............................................................. 97
5.1.1. Ensaios realizados para a Biblioteca do Poeta............................................... 97
5.1.2. Ensaios realizados para a Casa de Papelo.................................................... 99
5.1.2.1. Ensaio de resistncia compresso.......................................................................................... 99
5.1.2.2. Ensaio de resistncia flexo.................................................................................................... 101
5.1.2.3. Ensaio de tenso ao cisalhamento simples............................................................................ 102
5.1.3. Ensaios realizados para o Domus de Papelo................................................. 104
5.1.3.1. Ensaio de resistncia compresso.......................................................................................... 105
5.1.3.2. Ensaio de resistncia flexo.................................................................................................... 106
5.1.3.3. Ensaio de resistncia compresso para diferentes teores de umidade................ 108
5.1.3.4. Ensaio de resistncia ao cisalhamento na ligao.............................................................. 110
5.1.3.5. Ensaio de resistncia flexo na ligao.............................................................................. 112
5.1.4. Ensaios realizados para o Pavilho Japons na Expo 2000...................... 1145.1.4.1. Ensaio de resistncia compresso.......................................................................................... 115
5.1.4.2. Ensaio de resistncia flexo.................................................................................................... 116
5.1.4.3. Simulao do ensaio de resistncia compresso, aps a montagem...................... 116
5.1.4.4. Ensaio de resistncia toro................................................................................................... 117
5.1.4.5. Teste de aplicabilidade de revestimento impermevel nos tubos................................ 118
5.1.4.6. Desempenho de proteo ao fogo da membrana de papel.............................................. 119
5.2. Ensaios tcnicos realizados por este trabalho......................................................... 1215.2.1. Ensaio de absoro de umidade............................................................................. 123
5.2.2. Ensaio de resistncia compresso................................................................... 127
5.2.3. Ensaio de flambagem.................................................................................................. 131
5.2.4. Ensaio de resistncia flexo............................................................................. 137
6 Discusso....................................................................................................................................... 144
6.1. Quanto s obras de Shigeru Ban..................................................................................... 144
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6.2. Quanto aos ensaios tcnicos realizados por Shigeru Ban.................................... 147
6.3. Quanto aos ensaios tcnicos realizados por este trabalho................................ 148
6.3.1. Quanto ao ensaio de absoro de umidade....................................................... 1496.3.2. Quanto ao ensaio de resistncia compresso............................................. 150
6.3.3. Quanto ao ensaio de flambagem........................................................................... 151
6.3.4. Quanto ao ensaio de resistncia flexo....................................................... 151
6.4. Quanto relao entre os ensaios tcnicos e as obras
arquitetnicas....................................................................................................................................
152
6.5. Quanto comparao, em termos de resistncia, entre os tubos de
papelo brasileiros e os tubos japoneses............................................................................
154
6.6. Quanto comparao entre os tubos de papelo e os materiais
convencionais usados em estruturas......................................................................................
155
7 Concluses 159
7.1. Prosseguimento do estudo.................................................................................................. 161
8 Bibliografia 163
8.1. Referncias bibliogrficas.................................................................................................... 163
8.2. Bibliografia complementar consultada............................................................................ 169
Lista de siglas e abreviaturas 174
Lista de quadros 176
Lista de tabelas 177
Lista de figuras 179
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1 INTRODUO
1 1 Consideraes iniciais e definio de conceitos
A sociedade atual est cada vez mais preocupada com o meio
ambiente e a sua sobrevivncia na Terra, devido ao crescimento acelerado da
explorao de recursos naturais para suprir sua demanda de consumo,
grande quantidade de resduos gerados e aos danos que isso tem causado ao
planeta.
Ao longo dos tempos, a humanidade vem adaptando os recursos
naturais, tais como pedra, madeira, barro, fibras vegetais, peles animais, etc
para satisfazer suas necessidades. A metalurgia, a produo de vidros, plsticos
e outros transformados so exemplos comuns deste processo de dominao da
natureza pelo homem. A descoberta e o desenvolvimento contnuo de
conhecimentos e tcnicas tm revelado, ao longo dos anos, novas
possibilidades de produo e utilizao de materiais.
Dentro desta perspectiva observa-se, atualmente, uma mudana na
relao estabelecida entre a humanidade e os recursos naturais. Materiais
sintticos que atendem s novas exigncias de produo e utilizao,
superando os limites relacionados disponibilidade dos recursos naturais, esto
sendo desenvolvidos. Mas, como em todas as evolues tecnolgicas ocorridas
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at hoje, as conseqncias desse progresso tm deixado marcas e questes a
serem respondidas.
Assim, uma corrente tem estado em evidncia nos ltimos anos. Esta
corrente formada por ecologistas e baseada nos princpios doDesenvolvimento Sustentvel definidos pela Agenda 211. Segundo ela, estamos
enfrentando um grande dilema mundial e o homem j percebeu que com seus
hbitos consumistas e inconseqentes est levando o planeta a uma catstrofe
ambiental.
Ao mesmo tempo, os altos nveis de pobreza tm se alastrado
intensamente. Atualmente, uma parcela considervel da populao tem baixo
poder aquisitivo e encontra grandes dificuldades em adquirir os materiais de
construo convencionais.
Como resultado dessa conjuntura, a pobreza e as catstrofes naturais
fazem o nmero de pessoas desabrigadas no mundo atingir grandezas
milionrias e ser maior a cada dia.
Por outro lado, o estudo de materiais alternativos para a construo civil,
que busquem a preservao do meio ambiente e atender as necessidades deurgncia e baixo custo da populao de classe pobre, ainda significa uma
porcentagem bem pequena das pesquisas desenvolvidas nas melhores
universidades do mundo.
Essa deficincia talvez ocorra porque os materiais de construo
convencionais so usados com tanta freqncia e de forma to automtica
em nossa arquitetura, que podemos perceber um certo preconceito,
desinteresse ou mesmo descaso por outras opes de materiais por parte dos
profissionais da rea.
1A ONU - Organizao das Naes Unidas - atravs da sua Comisso Mundial para o MeioAmbiente e Desenvolvimento, criou o conceito de Desenvolvimento Sustentvel. Atravs deste,a ONU elaborou a Agenda 21 Global e a lanou na C onferncia das Naes Unidas sobre MeioAmbiente e Desenvolvimento Humano, conhec ida como ECO-92, realizada no Rio de J aneiroem 1992. A Agenda 21 um programa de aes que busca promover, em escala planetria,
um novo padro de desenvolvimento, conciliando mtodos de proteo ambiental, justiasoc ial e eficincia econmica.
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...se supe que a tecnologia uma constante e no uma
varivel manipulvel com algum grau de liberdade. (ALVA, 1984,
p.32).
No entanto, cabe ao arquiteto e ao engenheiro perceberem isso e
utilizarem a sua criatividade para encontrarem outras alternativas de materiais,
que contribuam na soluo das questes colocadas, ao invs de se limitarem
ao que o mercado formal lhes oferece.
Em suma, pelos poucos estudos realizados, podemos perceber que os
materiais alternativos possuem, assim como os materiais convencionais, as suas
vantagens e desvantagens de uso. Assim sendo, os materiais alternativos tm o
seu potencial - que depende de material para material e da aplicao que se
pretenda - e, portanto, poderiam ser mais utilizados ou difundidos.
Para este trabalho, deve-se entender que os m a teria is d e c onstruo
convenc i ona i sso os utilizados comumente na maior parte das edificaes, e
que os m a teria is d e c o nstruo a lte rna tivo s constituem opes de materiais
para substituir o uso dos materiais convenc ionais.
Da mesma forma, c o nstrues tem po rriasdevero ser entendidas como
construes feitas para serem usadas provisoriamente, apenas por pouco
tempo ou alguns meses.
Alm disso, toda vez que o termo elem ento c onst ru t ivo for usado, este
referir-se- a um tubo de papelo, ou outra pea, isolado. Mater ia l de
c onstruo ser usado para um conjunto de elementos do mesmo tipo,
utilizados numa construo. O conjunto de procedimentos para se executar
uma construo ser tratado por tc nic a c onstrutiv a, e sistem a c on strutivoser
referncia ao conjunto de elementos construtivos dispostos e ordenados entre si
de uma determinada forma, ou seja, o produto da unio entre materiais e
tcnicas construtivos.
Por fim, dever entender-se por t ecno log iao conjunto de conhecimentos
e tcnicas que se aplicam a um determinado ramo de atividade.
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1 2 Proposta e importncia do estudo
Com base nas consideraes citadas, esta pesquisa se prope a estudar
um material alternativo para a construo civil brasileira, o qual seja tubos depapelo.
No entanto, para que os tubos de papelo sejam aplicados na
construo civil como elementos de vedao e estrutura, necessrio
conhecer as caractersticas desse material.
Estas se referem a aspectos de custo, segurana, caractersticas tcnicas,
durabilidade, implicaes ao meio ambiente, construtibilidade e mo-de-obra,
aceitao cultural, conforto ambiental, plstica, manuteno, etc2.
Baseando-se no trabalho do arquiteto japons Shigeru Ban, este trabalho
apenas um estudo inicial a respeito da viabilidade de se utilizar tubos de
papelo em construes no Brasil, pois se limita ao estudo de somente dois
aspectos: as caractersticas tcnicas do elemento construtivo e os sistemas
construtivos que podem ser gerados a partir do mesmo.
Este um material que, como todos os outros, possui as suas qualidades,
vantagens, especificidades de uso e justificativas por existir; e que pode
representar uma boa opo para alguns tipos de construes no Brasil, como
as de carter popular, emergencial e temporrio, entre outras, sem gerar danos
to irreversveis para o meio ambiente.
Este trabalho tem grande importncia, uma vez que enfoca um material
barato, de grande produo nacional e versatilidade, maior resistncia do que
se imagina, que pode ser oriundo de reciclagem e reciclado aps seu uso. E
tudo isso ainda pode gerar uma arquitetura de grande qualidade e beleza.
Certamente isso poder ser muito til principalmente num pas onde o
dficit habitacional to preocupante, como o Brasil.
A significncia desse estudo est, ainda, em contribuir para a construo
do conhecimento e sua utilidade para a prtica profissional e, mesmo, para a
2Conhecendo-se essas caractersticas e associando-as a uma determinada poca e local,pode-se determinar a viabilidade de implementao desta tecnologia.
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formao de novas polticas. Isso porque a importncia desta pesquisa est
relacionada melhor utilizao de nossos recursos (no s os naturais, mas
tambm no que se refere reciclagem e aceitao de novos materiais
existentes no mercado) sempre usados com convenincia e criatividade e
tendoseus atributos suficientemente explorados.
Face a esta exposio, torna-se clara a importncia dessa pesquisa, a
necessidade de se estudar, difundir e incentivar o uso dos materiais e tcnicas
construtivas alternativas e a urgncia que temos em investir nessas reas
temticas.
1 3 Objetivos do trabalho
O objetivo principal deste trabalho consiste em determinar se tubos de
papelo fabricados no Brasil possibilitam gerar sistemas construtivos neste pas.
Como objetivos complementares, pretende-se:
- estudar o emprego de tubos de papelo na construo c ivil, baseando-
se principalmente nas obras do arquiteto japons Shigeru Ban;
- enfocar o estudo dos sistemas construtivos utilizados por este arquiteto
em suas obras com tubos de papelo, assim como estudar as caractersticas
tcnicas desses tubos;
- realizar alguns ensaios tcnicos preliminares para a caracterizao de
tubos de papelo fabricados por uma indstria brasileira, e comparar os
resultados obtidos com os resultados dos ensaios feitos por Shigeru Ban.
1 4 Contedo do trabalho
Este trabalho est estruturado da seguinte forma:
No item 1, feita a introduo ao assunto estudado atravs de algumas
consideraes iniciais. So definidos os principais conceitos utilizados neste
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trabalho, apresentada a proposta de estudo e discutida a sua importncia,
alm de serem expostos os objetivos do mesmo.
No captulo 2 feito um estudo a respeito dos materiais papel e papelo,
apresentando um histrico, discutindo as preocupaes relacionadas suaproduo e ao meio ambiente, a fabricao do papel kraft e dos tubos de
papelo, os tipos, qualidades e aplicaes de diversos tipos de papis e seus
derivados.
No captulo 3 apresentado o uso do papelo na construo c ivil, desde
o incio, atravs de chapas e outros tipos de elementos de vedao
desenvolvidos a partir do papelo. Tambm so apresentadas algumas
aplicaes isoladas dos tubos de papelo na construo civil, tanto como
formas de pilares de concreto quanto como elementos de vedao e estrutura,
por alguns arquitetos e pesquisadores.
No captulo 4so apresentadas as obras arquitetnicas de Shigeru Ban
com tubos de papelo. A fim de entender como so os sistemas construtivos
utilizados pelo arquiteto, feita uma anlise tcnica da maioria das obras
apresentadas.
No captulo 5 so estudados os ensaios tcnicos realizados por Shigeru
Ban e, a partir destes, so feitos ensaios tcnicos preliminares com tubos de
papelo fabricados no Brasil.
No captulo 6 so feitas discusses a respeito de cada tpico abordado
nesta pesquisa, desde o estudo feito sobre as construes feitas por Shigeru Ban
com tubos de papelo at os ensaios realizados com o material por ele e por
este trabalho. Nesta parte, os materiais brasileiro e japons so comparados e
discutida a relao existente entre os ensaios tcnicos e os projetos
arquitetnicos.
O item 7 apresenta as concluses obtidas com a realizao deste
trabalho, alm de sugestes para futuros trabalhos.
Por fim, oitem 8 expe a bibliografia utilizada para a elaborao deste
trabalho, compreendendo as referncias bibliogrficas citadas e a bibliografiacomplementar consultada.
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2 O MATERIAL
PAPELO
Oficialmente, o papel foi fabricado pela primeira vez na China, por TsAi
Lun, no ano de 105, utilizando uma mistura de fibras de amoreira, bambu, rami,
redes de pescar e roupas velhas para fazer a massa do papel, e formas de
madeira para moldar as folhas. Logo, os pergaminhos feitos de peles de
animais, at ento usados para a escrita, foram substitudos pela folha de
papel. (BRACELPA, 2005b).
No sculo VIII, a tcnica de fabrica o do papel comeou a ser passada
para outros povos, como os rabes, que contriburam para sua evoluo. Assim,
outras fibras passaram a ser empregadas, como as fibras de linho e cnhamo, e
o amido da farinha de trigo foi usado para dar liga s fibras.
A chegada do papel na Europa se deu pelas caravanas que
transportavam seda para l. A partir da Frana, Espanha e Itlia, a fabricao
de papel se espalhou por todo o continente, conforme mostra a figura 2.1.
2 1 Histrico
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Figura 2.1 Inveno do papel e disseminao da tecnologia pelo Mundo.Fonte: Ilustrao da autora.
Os livros eram escritos mo e exigiam quantidades maiores de papel,para atender a demanda do pblico. Porm, aps Gutemberg ter criado a
imprensa, em 1440, o desenvolvimento das tcnicas de fabricao dos livros e
do papel foi acelerado.
Quanto ao processo de produo do papel, aps a idia inicial de se
utilizar fibras extradas de vegetais, surgiu o uso de fibras extradas de trapos de
tecido. Este processo era demorado e levava de cinco a trinta dias, pois os
trapos tinham que ser classificados, depurados, cortados e fermentados.
Algumas evolues marcantes aconteceram no final do sculo XVIII e
incio do XIX. Em 1774, o qumico alemo Scheele descobriu o potencial do
cloro como branqueador do papel; em 1798 passou-se a fabricar papel em
mquina de folha contnua, inventada pelo francs Nicolas Louis Robert que
cedeu sua patente aos irmos Fourdrinier; e em 1806, Moritz Illig substituiu a cola
animal por resina e almem.
Em 1884, Friedrich Keller desenvolveu uma pasta de fibras de madeira,
mas por um tempo as fibras extradas de tecidos ainda foram misturadas a esta
pasta.
Segundo Bracelpa (2005b), surgiram ento diferentes formas de separar
as fibras de celulose da lignina: processo de pasta mecnica, processo com
soda, processo sulfito e processo sulfato (para papis do tipo kraft).
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SALADO,G e rusa d e Cssia ( 2006) 9
No contexto brasileiro, figura 2.2, o primeiro papel foi feito no Rio de
J aneiro, no dia 16 de novembro de 1809. A primeira fbrica brasileira, ali
sediada, comeou a operar entre 1810 e 1811.
Figura 2.2 Os Estados que marcaram o incio da produo de celulose e papel no Brasil.Fonte: Ilustrao da autora.
Em 1889 surgiu a primeira indstria de papel brasileira, tambm a primeirada Amrica Latina, situada no interior de So Paulo. Assim, a Fbrica de Papel
de Salto, de Melchert & Cia, funciona at hoje devidamente modernizada e
produz papis especiais, sendo uma das poucas no mundo a fabricar papel
para a produo de dinheiro.
No comeo, a indstria brasileira de papel utilizava papis velhos. A
produo industrial de celulose, no Brasil, iniciou-se em Monte Alegre, Paran,
apenas nos anos 40. Inicialmente, a celulose era extrada do pinheiro e os
processos utilizados eram o sulfito e o soda/enxofre. O processo kraft e a
produo em grande escala de celulose de eucalipto, a mais utilizada
atualmente, surgiram no Estado de So Paulo, em 1957. (BRACELPA, 2005e).
Todo este desenvolvimento possibilitou a produo de uma grande
variedade de tipos de papis e, posteriormente, outros produtos feitos a partir
do mesmo.
Nas ltimas dcadas, este setor passou por intenso processo de
racionalizao, aumentando consideravelmente a sua produtividade. Nos
ltimos anos, esse crescimento foi, em mdia, cerca de 6% para papel e 7%
para celulose, ao ano. Com isso, as exportaes, os rendimentos e os
investimentos crescem cada vez mais.
Segundo Bracelpa (2005f), atualmente, o Brasil considerado o stimo
produtor mundial de celulose de todos os tipos, com uma produo em torno
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de 8 milhes de toneladas, e o 11 fabricante de papel, ou 7,7 milhes de
toneladas ao ano.
No entanto, conforme Caf Bandeira (2004), os maiores fabricantes de
papel no mundo, atualmente, so os Estados Unidos, o J apo e o Canad.
Pelo exposto acima, pode-se perceber que o Brasil possui grande
potencial para a produo de celulose e papel. Alm disso, notvel que oclima brasileiro, a extenso territorial do pas e a sua disponibilidade de terras
para o cultivo de rvores favorece o desenvolvimento deste setor.
O crescimento ou a reduo desta produo, assim como dos
investimentos feitos no setor, e os lucros ou prejuzos do mesmo, so levados em
considerao para se aferir o desenvolvimento econmico do pas.
Dessa forma, o governo brasileiro tende a expandir o setor cada vez mais,
gerando facilidades para as indstrias do ramo, como reduo de alguns
impostos, e buscando atrair sempre mais investidores.
No entanto, embora no se use vegetao nativa, mas sim rvores de
plantios florestais3, a produo de celulose e papel causa uma srie de danos
sc ioambientais e, conseqentemente, gera muitas polmicas e problemas. Por
causa disso, h pases que preferem no investir neste tipo de produto.
No Brasil e no Mundo, diversas entidades e organizaes no-governamentais (ONGs) observam atentamente as indstrias de celulose e
papel e as pressionam por causa desses danos scioambientais. Entre estas
entidades, pode-se destacar a ONU (Organizao das Naes Unidas), a
Apedema (Assemblia Permanente de Entidades em Defesa do Meio
Ambiente), a Fetag (Federao dos Trabalhadores de Agricultura), a Comisso
3 Atualmente, h no Brasil 1,4 milho de hectares de florestas plantadas, distribudas em 16estados e 450 municpios, e 1,5 milho de florestas nativas preservadas e cultivadas. (BRACELPA,2005c, 2005e).
2 2 As preocupaes com o meio ambiente
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SALADO,G e rusa d e Cssia (2006) 11
Pastoral da Terra, a CUT (Central nica dos Trabalhadores), o MST (Movimento
dos Trabalhadores Sem-Terra) e a Assoc iao dos Engenheiros Agrnomos4.
Freqentemente, estas entidades realizam protestos, passeatas e at
ocupaes de terras e propriedades no Brasil, a fim de manifestarem suasreivindicaes e se demonstrarem contra as indstrias de papel e celulose aqui
instaladas.
Conforme Folha de So Paulo (2002), os motivos que levam estas
entidades a fazerem tantos protestos, so que as indstrias do setor se
apropriam das melhores terras, que serviriam para a agricultura, tomam terras
indgenas e ocupam reas de proteo permanente, substituindo mata nativa
por eucaliptos, contaminam rios e crregos. Alm disso, o eucalipto afasta as
espcies animais e absorve muita gua do solo, deixando-o exaurido, e
grandes reas de monocultura criam um deserto verde5.
O solo tambm perde seus nutrientes, ficando deteriorado, os rios da
regio secam e as fbricas de celulose contaminam o ar e a gua (FOLHA DE
SO PAULO, 2006).
Essa contaminao se d devido ao processo de recuperao dosprodutos qumicos usados no cozimento da matria-prima, que formam o
chamado licor negro6. Essa recuperao feita atravs de caldeiras que
fazem a combusto deste lquido. Assim, este processo se torna a maior fonte
emissora de materiais particulados e odores da fbrica; uma fumaa branca
com cheiro de enxofre (EXPRESSO, 1998).
Segundo Folha de So Paulo (2003a), as indstrias de papel tambm
emitem uma fumaa rica em gases no-condensveis concentrados (GNCC).
4 Em termos mundiais, a ONU faz exigncias s indstrias do setor sobre a organizao eelaborao de relatrios ambientais. No Estado de So Paulo, a CETESB (Companhia deTecnologia de Saneamento Ambiental) exige que as indstrias implantem tecnologias quereduzam os nveis de poluio (ECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO, 1992).5 O deserto verde formado por uma extensa rea de monocultura, que reduz abiodiversidade local e a possibilidade de gerao de empregos no campo.
6O licor negro um resduo txico composto por uma mistura de soda custica e sulfeto desdio, resultante do cozimento da madeira para extrao da celulose. (FOLHA DE SO PAULO,2003b).
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12 SALADO,G e rusa d e Cssia ( 2006)
Este, inclusive, um ponto que compromete o cumprimento das exigncias do
Protocolo de Kyoto7.
Uma outra questo, muito enfatizada pelo MST e CUT, que a produo
de eucalipto gera pouco emprego, necessitando apenas de um funcionrio a
cada 15 ou 20 hec tares (FOLHA DE SO PAULO, 2005).
Por outro lado, as indstrias se defendem dizendo que reflorestam suas
reas sob a prtica do manejo florestal8, o que possibilita a conservao do
solo e dos recursos hdricos, alm de auxiliar na preservao de espcies
vegetais e animais ameaadas de extino. (KLABIN, 1998).
Alm disso, segundo Lima9a p u d Folha de So Paulo (2006), uma rvore
de eucalipto plantada no padro tradicional de reflorestamento (uma para
cada seis metros quadrados) consome no mximo 15 litros de gua por dia, e
apenas em algumas pocas do seu crescimento e certas pocas do ano. Lima
ressalta que algumas rvores nativas brasileiras possuem consumo semelhante,
dependendo tambm das circunstncias. Contudo, o eucalipto tem a grande
vantagem de ser imune a pragas.
Com relao ao eucalipto afetar a biodiversidade, Lima diz que qualquer
plantao agrcola, seja de soja, feijo, caf, etc, um ataque variedade
natural de espcies vegetais que existiam numa determinada rea.
Lima ainda defende o uso do eucalipto, accia e pinus para a produo
de celulose e papel, pois estas espcies evitam que as matas nativas sejam
usadas, e lembra que as florestas industriais tambm contribuem para a
qualidade do ar.
7O Protocolo de Kyoto um documento que foi assinado entre diversos pases em 1997 (emKyoto, J apo), no qual estes se comprometem a reduzir a emisso de gases, a fim dedesacelerar a destruio da camada de oznio e, conseqentemente, as mudanasclimticas ocorridas no planeta nas ltimas dcadas.8Manejo florestal um conjunto de tcnicas empregadas para colher cuidadosamente partedas rvores grandes de tal maneira que as menores, a serem colhidas futuramente, sejamprotegidas. Oplano de manejo inclui especificao de tcnicas de extrao para diminuir osdanos floresta, estimativas do volume a ser explorado, tratamentos silviculturais e mtodos demonitoramento do desenvolvimento da floresta aps a sua explorao. (MANEJ O FLORESTAL,2006).
9 Walter de Paula Lima especialista em hidrologia florestal, professor e pesquisador doDepartamento de Silvicultura da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz daUniversidade de So Paulo), em Pirac icaba.
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SALADO,G e rusa d e Cssia (2006) 13
Quanto ao consumo energtico, 50% da eletricidade consumida
autogerada pelo prprio setor, no processo de produo da celulose.
Uma vez gerado o embate entre os danos ambientais ou mitos sobre a
produo de papel e celulose, Aguiar10 (2006), diz acreditar que influnciasestrangeiras estejam ligadas aos ataques feitos s indstrias brasileiras. Segundo
Aguiar, estas pretendem desestabilizar o setor de celulose no Brasil, para que
tenham vantagens no mercado internacional.
Referindo-se questo dos papis descartados e da reciclagem, pode-
se afirmar que a atividade de reciclagem de papel no Brasil comeou
praticamente junto c om a fabrica o do prprio papel.
Como no havia produo nacional de celulose quando o papel
comeou a ser produzido no Brasil11, suas necessidades eram supridas por
fornecedores do exterior. Paralelamente importao de matria-prima, em
especial da celulose de fibras longas, as primeiras fbricas eram obrigadas a
utilizar papis descartados na produo de papis novos, para atender
demanda existente.
Objetivando a preservao do meio ambiente e a reduo dos lixosurbanos, a reciclagem de papel tem demonstrado, at hoje, uma forte
tendncia ao crescimento. Atualmente, so recicladas 3 milhes de toneladas
de papel por ano, no Brasil; o correspondente a 41,4% do consumo aparente
nacional12.
Segundo Bracelpa (2005a), os estados brasileiros que mais consomem
aparas so: So Paulo (37,12%), Santa Catarina (17,37%) e Minas Gerais
(12,81%).
10Carlos Aguiar o atual presidente da indstria Aracruz Celulose.11 Apenas no incio da dcada de 70, a produo brasileira de celulose passou a sersignificativa e a indstria de papel passou a utiliz-la juntamente com a de origem estrangeira.Portanto, a fabrica o de papel foi ampliada no pas e estimulou um aumento considervel noseu consumo. Isso gerou maior quantidade de material disponvel reciclagem e fortaleceu
esta atividade. (BRACELPA, 2005b).12 Pode-se entender consumo aparente como o consumo da produo nacional somadadas importaes, subtraindo-se as exportaes.
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14 SALADO,G e rusa d e Cssia ( 2006)
Do total, 80% das aparas so destinadas fabricao de embalagens,
18% fabricao de papis sanitrios e 8% produo de papis para
impresso e escrita. (PROJ ETO..., 2004).
Todo papel constitudo de matrias-primas fibrosas e no-fibrosas.
Conforme Ino (1984), as matrias-primas fibrosas podem ser de origem vegetal,
animal, mineral ou artificial. No entanto, as madeiras representam quase 100%
das matrias-primas fibrosas utilizadas no Brasil para a obteno da pasta
celulsica.
Por conseguinte, as matrias-primas no-fibrosas so aglutinantes,
estabilizantes, aditivos e outras substncias que tm a finalidade de melhorar as
caractersticas do produto final, alm de gua.
As etapas principais da fabricao do papel continuam as mesmas
desde a poca da sua inveno, quando ainda era manual, at os dias de
hoje, nos processos industrializados. Estas so, basicamente, o preparo da
massa, a formao da folha e a secagem da mesma.
O papel Kraft utilizado para a fabricao dos tubos de papelo,
geralmente, um papel reciclado e, portanto, utiliza celulose de materiais
descartados. Seu processo de fabricao ilustrado na figura 2.3.
Primeiramente, as aparas de papel so lanadas juntamente com gua13
em hidrapu lpers14que as desagregam e trituram.
13 A celulose dissolvida em gua, formando uma soluo de 95% de gua para 5% decelulose. Essa gua usada mantida num sistema fechado e re-aproveitada por vrias vezes.No decorrer do processo, a proporo de gua na pasta vai sendo diminuda at que, quandoo papel est pronto, tem-se cerca de apenas 7% de gua para 93% de celulose. (PINHEIRO,
2004).14Hidrapulpersso equipamentos semelhantes a liquidificadores gigantes, que contm grandeshlices internamente e servem para hidratar os papis a serem rec iclados.
2 3 A fabricao do papel Kraft e dos tubos de
papelo
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SALADO, Gerusa de Cssia (2006) 15
Figura 2.3 - Esquema da produ o de p apel kraft Fonte: So CarlosS/A
Const ruindo c om tubo s de pape lo: Um estudo da tecn ologia de senvolvida por Shigeru Ban__________________________________________________________________________________________________________________________
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SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 16
A polpa produzida bombeada para um tanque e em seguida para
c line rs15, que lhe retira os rejeitos pesados. A partir disso, a polpa fica
armazenada num segundo tanque. (SO CARLOS S/A, 2006).
Continuando, a polpa passa por engrossadores e chega a refinadores.
Depois de refinada, a polpa est pronta16 e fica armazenada em outros
tanques, at seguir para a mesa plana, onde se inicia a formao da folha.
A mesa plana possui micro-perfuraes por onde escoa parte da gua
da massa. A seguir, a folha pr-formada prensada em cilindros, a fim de se
retirar mais gua.
Por fim, a folha passa por cilindros secadores (aquecidos) e obtm-se oproduto final. Este estocado em bobinas, que so preparadas nas
rebobinadeiras.
Conforme So Carlos S/A (2006), aps todo esse processo, o papel pode
ser cortado no formato e tamanho desejados.
Para a fabricao dos tubos de papelo, ainda na fbrica de papis, o
papel kraft cortado em faixas e enrolado em bobinas, que so enviadas para
as indstrias de tubos de papelo (figura 2.4).
Figura 2.4 Bobinas de papel armazenadas na indstria de tubos de papelo.Fonte: Foto da autora.
15Clinersso separadores centrfugos que retiram da massa os rejeitos pesados, tais comopedriscos, metais, plsticos, etc.
16Durante a prepara o da massa, se adiciona breu ou colas especiais e aditivos para semelhorar a qualidade do papel. Neste momento, tambm ocorre a correo do pH, comadio de sulfato de alumnio, que ainda ajuda na colagem.
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17 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)
Conforme as figuras 2.5 e 2.6, na indstria de tubos e tubetes, vrias
bobinas de papel kraft so dispostas numa mesma mquina.
Figuras 2.5 e 2.6 Bobinas de papel Kraft dispostas na mquina que produz os tubos depapelo. Fonte: Fotos da autora.
De acordo com Lacerda (2006), as faixas de papel kraft que formam as
camadas internas da parede do tubo so banhadas em uma cola lquida
base de silicato de sdio, e as duas faixas que formam as camadas de
revestimento interno e externo do tubo so banhadas em outra cola lquida,
base de acetato de polivinila, mais conhecido como PVA17(figuras 2.7 e 2.8).
Figuras 2.7 e 2.8 Faixas de papel Kraft passando pelos tanques de colas.Fonte: Fotos da autora.
17A cola base de silicato de sdio no usada nos papis de revestimento do tubo porquelhe daria um acabamento spero, uma vez que esta cristaliza aps a secagem. No entanto,
utilizada nos papis da estrutura do tubo, ou seja, os papis que formam as camadas internasda parede do mesmo, pois lhe propicia maior resistncia flexo e compresso diametral.(LAC ERDA, 2006).
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SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 18
Aps passarem pelos tanques de colas, as faixas de papel kraft so
enroladas em espiral num cilindro metlico giratrio (figuras 2.9 e 2.10);
deixando-se um pequeno espaamento entre as mesmas, de no mximo
2 mm18.
Figuras 2.9 e 2.10 Produo do tubo de papelo.Fonte: Fotos da autora.
De acordo com as figuras 2.11 e 2.12, ao atingir o comprimento desejado,
uma serra corta automaticamente o tubo.
Figuras 2.11 e 2.12 Tubo de papelo sendo cortado aps atingir o comprimento desejado.Fonte: Fotos da autora.
Segundo Lacerda (2006), os tubos com espessura de at 8 mm contm
cerca de 12% de umidade imediatamente aps a sua fabricao e secam
naturalmente. Assim, passado um perodo de 8 a 10 horas, estes estabilizam
com aproximadamente 10% de umidade.
18A espessura da parede do tubo proveniente do nmero de camadas de papel kraft. O seudimetro e comprimento podem variar muito e ficam escolha do c liente.
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19 SALADO,Ge rusa d e C ssia ( 2006)
Porm, os tubos com espessura superior aos citados anteriormente saem
do processo de fabricao com cerca de 14% de umidade. Por terem uma
parede muito espessa, estes precisam secar em estufa at atingirem 10% de
umidade (figura 2.13); o que costuma ocorrer aps um tempo de 30 minutos a
duas horas.
Figura 2.13 Tubos de papelo secando na estufa.Fonte: Foto da autora.
Finalmente, os tubos seguem para o estoque da indstria, como mostrado nas figuras 2.14 e 2.15.
Figuras 2.14 e 2.15 Tubos de papelo armazenados no estoque da indstria.Fonte: Fotos da autora.
Conforme Lacerda (2006), os grandes tubos fabricados no Brasil, incluindo
os compreendidos nesta pesquisa, utilizam faixas de papel kraft que variam de
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54 a 240 mm de largura. A espessura de sua parede pode variar entre 1,5 e 20
mm e o seu dimetro interno pode ter de 24,8 a 505,5 mm19.
2.3.1. Tipos qualidades e aplicaes de diversos tipos de
papis e seus derivados
Para atender a ampla variedade de aplicaes, os papis possuem
propriedades que variam consideravelmente de um tipo para outro, como
dureza, resistncia, durabilidade e caractersticas pticas.
Assim, a qualidade do material interfibrilar, a estrutura e a formao das
suas lminas, a classe e o comprimento da fibra interferem nas propriedades do
papel. A resistncia e a durabilidade esto assoc iadas dureza e tambm so
altamente variveis. E quanto s propriedades pticas, o brilho depende do
acetinado, a cor dada pelos tratamentos qumicos e a opacidade varia
conforme o processo de fabricao. (CAF BANDEIRA, 2004).
A classificao dos tipos de papel feita atravs de critrios relacionados
a sua aplicao. Alguns exemplos, entre outros, so:
papis para impresso em mquina: apresentam superfcie spera e so
imprprios para a escrita manual, sendo usados na produo de jornais e
livros;
papis acetinados: estes papis se tornam lisos e brilhantes por serem
submetidos previamente operao de calandragem ou passagem por
cilindros. So empregados para a escrita;
papis cartolina: so mais espessos e podem ser usados tanto na escrita
quanto para embrulhos especiais;
19 Estas dimenses variam conforme o fabricante e estes tubos so empregados comoembalagens cilndricas ou grandes bobinas (destinadas a indstrias de grande porte, comosiderrgicas) e tambm como formas para pilares cilndricos de concreto (na construo civil).Os tubos de pequeno dimetro, ou tubetes, so destinados produo de cnulas de papel,
canudos para diplomas, bobinas e pequenas embalagens cilndricas. Estes pequenos tubos tmseu emprego nas indstrias txtil (linhas e tecidos), de papis de todosos tipos, de fogos deartifcio, alimentcia, farmacutica, de fumo, etc.
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papel-moeda: feito de fibras txteis, destinado produo de dinheiro;
papel carbono: utilizado para cpias diretas por pressionamento da
folha;
papel pintado: mais conhecido como papel de parede, utilizado em
decora o de ambientes;
papel-filtro: um tipo de papel muito poroso, usado para filtrar lquidos e
na fabricao de coadores de papel;
papel crepom: usado na confeco de arranjos e enfeites, possui um
aspec to enrugado;
papel fotogrfico: uma de suas faces revestida com material
fotossensvel;
papel vegetal: papel transparente usado para desenhos e projetos
arquitetnicos;
papel-bblia: muito fino, geralmente usado em publicaes de luxo e
grandes volumes;
papel kraft: um papel pardo, utilizado na produo de papel onduladoe papelo;
papel semikraft: papel kraft de qualidade inferior, oriundo de reciclagem;
papelo: como um papel carto de alta gramatura e resistncia, na
maioria dos casos fabricado a partir de aparas, material este que d a
sua colorao. Existe o papelo madeira, ou Paran, o papelo cinza e o
papelo laminado.
Cada tipo de papel ainda dividido numa srie de categorias, ou seja,
papis do mesmo tipo com qualidades finais diferentes, superiores ou inferiores.
Alm disso, h papis que diferem na sua cor, podendo ser brancos, coloridos
ou estampados, na sua espessura e gramatura.
De todos, o papel kraft, ou semikraft, o mais importante para o
desenvolvimento deste trabalho, pois a matria-prima para tubetes e tubos
de papelo.
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No entanto, uma grande porcentagem de todo o papel kraft produzido
no mundo destinado produo de chapas de papelo e,
conseqentemente, produo de caixas ou embalagens para indstrias de
diversos segmentos.
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3 O USO DO
PAPELO NA
CONSTRUO CIVIL
Os materiais e tcnicas de construo alternativos20, geralmente, so
adotados quando se objetiva suprir determinadas necessidades numa obra,
que podem ser reduo do tempo de execuo, reduo da mo-de-obra,
aumento de produtividade, racionalizao no uso de materiais, reduo do
impacto ambiental, uso de materiais locais, entre outros.
Neste contexto, alguns materiais ou tcnicas construtivos podem ser
citados, como por exemplo, o uso da madeira, da pedra, da terra, do ao, ou
at do solo-cimento.
A madeira e a pedra so materiais usados desde tempos remotos, na
construo de moradas (tocas, cabanas,...), em associao com outros
materiais, como a terra e a palha.
No Brasil, antes da chegada dos colonizadores portugueses, estes
materiais j eram utilizados pelos ndios. Porm, aps a colonizao, houve uma
mistura entre as tcnicas construtivas dos dois povos, sendo que as construes
20Entre os materiais e tcnicas de construo alternativos, pode-se considerar os materiais etcnicas de construo vernaculares.
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passaram a ter formas europias, mas ao mesmo tempo eram construdas sob
as tcnicas indgenas em madeira (AKZONOBEL, 2006).
A partir da, reconheceu-se o emprego potencial da madeira como
elemento estrutural ou de vedao, e at os dias atuais esta tem sido utilizadacomo um material alternativo nas construes brasileiras21.
As tcnicas construtivas que utilizam terra tambm foram trazidas para o
Brasil pelos portugueses durante o perodo colonial, mas segundo ABCTerra
(2006), estas j eram utilizadas em vrios outros pases, como Frana, EUA,
Marrocos, China e J apo.
Existem diversas tcnicas de construo com terra, como taipa de pilo,
pau-a-pique e terra-palha. No Brasil, muitos casares, mosteiros e igrejas
construdos com essas tcnicas continuam em p h mais de 250 anos.
No sculo XVIII iniciou-se a utilizao do ao na construo civil. Assim,
desde as primeiras obras, como a Ponte I ronbridgena Inglaterra, em 1779, at
os edifcios atuais, as estruturas metlicas tm gerado construes arrojadas,
inovadoras e de alta qualidade nas grandes cidades. (COSIPA, 2006).
Quanto ao solo-cimento, conforme Habitar (2006), este comeou a ser
empregado no Brasil em 1948, com a construo das casas do Vale Florido, em
Petrpolis (RJ ).
A partir da, o produto da mistura, compactao e cura de solo, cimento
e gua teve seu uso consideravelmente ampliado, devido s boas qualidades
que apresentou.
Da mesma forma como ocorreu para os exemplos anteriores, a procurapor materiais de construo alternativos levou a testar-se o uso do papelo.
Assim, desde a segunda metade do sculo XIX, tenta-se empreg-lo na
construo de casas, abrigos e outras edificaes. Estudantes, pesquisadores e
profissionais passaram a buscar neste material algumas vantagens e a
possibilidade de uma construo rpida, leve, barata e que atendesse s
necessidades de c ada ocasio.
21 Em termos mundiais, a Noruega e os pa ses do Oriente, em espec ial o J apo, utilizamtradicionalmente este material nas suas construes.
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Como resultado, embora este no seja um material dos mais utilizados na
construo civil, o papelo pde ser empregado na forma de chapas, painis
tipo colmia e, finalmente, elementos tubulares.
Essas diferentes formas de aplicaes do papelo na construo civilsero expostas com mais detalhes nos prximos itens.
Segundo Minke (1980), os primeiros projetos a utilizarem o papelo em
construes o fizeram na forma de chapas, no sculo retrasado. Na maioria dos
casos, estes eram pequenos prottipos de casas ou abrigos desenvolvidos para
estudos ou construes temporrias.
Com o passar do tempo, a indstria da construo civil desenvolveu uma
srie de produtos compostos de papelo destinados a serem usados,
principalmente, em sub-sistemas de vedao.
Como exemplos, podem ser citados o papelo alcatroado22 e alguns
tipos de painis de veda o, como o d ry w a ll e os painis-sanduche23.
A seguir foi montado um panorama, em ordem cronolgica, desse
desenvolvimento.
22 O papelo alcatroado um produto comercialmente vendido, feito de papel kraft
betumado. Atualmente, em poucos casos, usado para impermeabilizar coberturas e,antigamente, era usado para impermeabilizar vigas-baldrame e evitar o fenmeno chamadoumidade ascendente. Este fenmeno ocorre devido s paredes trreas da construotenderem a absorver a umidade retida no solo, gerando estragos em argamassas e pinturas.Hoje em dia, para impermeabilizar vigas-baldrame tem-se usado emulses asflticas ousintticas e outras pelculas selantes. (NOGUEIRA, 2006).23 Alguns painis, chamados de d ry wa ll e muito utilizados para se fazer paredes divisriasinternas, so compostos pela combinao de placas de gesso com chapas de papelo.Existem os painis cujo miolo feito de gesso e o revestimento externo formado por placas depapelo nas faces interna e externa, e os painis nos quais a chapa de papelo a estruturainterna e o gesso a reveste externamente. Alm disso, h ainda os painis-sanduche cujo miolo feito de uma estrutura em formato de colmia, produzido com papel Kraft reforado. Esse
tipo de painel, de uso muito comum atualmente em divisrias de espaos internos, pode teracabamento das faces externas em chapa de fibra de madeira, chapa de alumnio, laminadomelamnico, etc.
3.1. As chapas de papelo abrindo caminho para o
uso desse material na construo civil
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1869 - ADT, Pont--Mousson, Frana
A empresa ADT exps casas pr-fabricadas feitas de chapas de papelo
na Exposio Internacional de Paris.
Trs modelos diferentes foram expostos pela ADT: um deles era uma
pequena habitao medindo 6,00 x 8,00 m (figura 3.1), um outro era um abrigo
de apenas 5,00 x 3,00 m (figura 3.2) e o terceiro era uma casa feita
especialmente para locais de clima quente, com dimenses de 20,00 x 5,00 m
(figura 3.3).
Figura 3.1 Casa pr-fabricada de chapas de papelo, desenvolvida pela empresa ADT Modelo 01. Fonte: Minke, 1980, p.51.
Figura 3.2 Casa pr-fabricada de chapas de papelo, desenvolvida pela empresa ADT Modelo 02. Fonte: Minke, 1980, p.51.
O terceiro modelo fez uso de painis de papelo ondulado medindo de
0,60 a 0,80 m de largura e 3,00 m de altura, fixados uns aos outros com grampos.
A parede era dupla, com um vazio de 10 cm entre as chapas de 4 mm de
espessura.
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Para se ter idia da leveza dessas estruturas, um metro linear de fac hada
deste modelo pesava apenas 92 kg. (MINKE, 1980).
Figura 3.3 Casa pr-fabricada de chapas de papelo, desenvolvida pela empresa ADT Modelo 03. Fonte: Minke, 1980, p.51.
1944 - Instituto de Qumica do Papel dos Estados Unidos, EUA
O Instituto de Qumica do Papel dos Estados Unidos recebeu um pedido
do governo para que desenvolvesse uma casa porttil de papel.
O Mundo vivia o fim da Segunda Guerra Mundial e era necessrio
amparar os desabrigados pelas catstrofes da guerra. Para isso, a casa deveria
ser barata e ter capacidade para ser produzida e montada rapidamente e em
srie.
Como uma das conseqncias da crise mundial, as fibras de celulose
virgens estavam em falta. Ento as placas de papelo ondulado, de 2,5 cm de
espessura, tiveram que ser fabricadas a partir de aparas de papis descartados
e, com isso, ficaram muito porosas.
De acordo com Sheppard (1974), para solucionar o problema,
impregnaram-se as chapas com enxofre, o que aumentou sua qualidade e astornou rgidas, contribuindo com os processos de serragem e fixao das peas
com pregos.
Assim, projetou-se um abrigo de 2,40 x 4,80 m (figura 3.4), que pudesse ser
eventualmente aumentado e que pesava, no total, 500 kg.
Pode-se dizer que as qualidades obtidas no produto final superaram
todas as expectativas; alm de poder ser montado por apenas uma pessoa em
uma hora de trabalho, o abrigo que foi elaborado tendo-se em mente algo
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SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 28
provisrio, para durar cerca de um ano, ainda se mantinha erguido 25 anos
aps ter sido construdo.
Figura 3.4 Abrigo desenvolvido pelo Instituto de Qumica do Papel dos Estados Unidos.Fonte: Minke, 1980, p.52.
1954 - Container Corporation of America, EUA, e Richard
Buckminster Fuller, Itlia
A figura 3.5 mostra um abrigo emergencial de planta circular que foi
desenvolvido com painis plastificados de papelo. A Co nta iner Co rp ora t ion o f
Amer i ca, sediada em Chicago, utilizou 24 painis grampeados uns aos outros.
(MINKE, 1980).
Figura 3.5 Abrigo emergencial desenvolvido pela Con ta ine r C orp ora tion o f Amrica.Fonte: Minke, 1980, p.52.
No mesmo ano, na Feira Trienal de Milo, Richard Buckminster Fuller
ganhou um prmio com uma cpula geodsica feita de chapas de papelo
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ondulado. Esta construo teve seu custo estimado, na poc a, em US$ 500,00 e
possua uma rea de 93 m2. (INO, 1984).
1957 - Richard Buckminster Fuller, Canad
Richard Buckminster Fuller deu seqncia aos seus estudos e orientou
alunos da Universidade de McGill, em Montreal, a construir uma estrutura
geodsica de 9,5 m de dimetro, com chapas de papelo em formato de
losangos, conforme mostra a figura 3.6. (MINKE, 1980).
Figura 3.6 Estrutura geodsica de chapas de papelo elaborada por Richard BuckminsterFuller. Fonte: Minke, 1980, p.52.
1962 - Universidade de Michigan, EUA
No Laboratrio de Pesquisas Arquitetnicas da Universidade de Michigan,
iniciaram-se estudos sobre a aplicao da espuma de poliuretano em conjunto
com o papelo, para aplicao estrutural. Os resultados foram satisfatrios.
(MINKE, 1980).
1966 - Sanford Hirshen e Sym van der Ryn, EUA
Na Califrnia, Sanford Hirshen e Sym van der Ryn projetaram abrigos
temporrios de papelo para agricultores imigrantes figura 3.7. As placas de
papelo, impermeabilizadas com filme de polietileno, formavam painis
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SALADO,G e rusa d e C ssia (2006) 30
sanduche com miolo de espuma de poliuretano de 10 mm de espessura.
(MINKE, 1980).
Figura 3.7 Abrigos temporrios de placas de papelo na Califrnia.Fonte: Minke, 1980, p.54.
1968 - Hatch Mill Foundation School, Inglaterra
Conforme Minke (1980), estudantes da Ha tc h M ill Fou nd a t ion Sc ho ol,
Inglaterra, fizeram um novo experimento sob a coordenao de Keith
Critchlow. Eles fizeram uma cpula polidrica de 142 m2, toda em papelo.
1969 - Universal Paper-tech Corp. e City Investing Co., EUA
Duas empresas norte-americanas, a Unive rsa l Pa p e r-tec h C o rp. e a City
Inve sting C o., desenvolveram uma casa com papelo quimicamente tratado.
A casa, destinada popula o de classe mdia, custava cerca de
US$ 800,00. Era feita com chapas de papelo de espessura equivalente a 8,0
mm, com um revestimento superficial de fibra de vidro. (ENGINEERING NEWS
RECORD, 1969).
1972 - Hbner, Huster e Hasermacher, Alemanha
Nas Olimpadas de Munique, Hbner, Huster e Hasermacher projetaram
instalaes temporrias com placas de papelo ondulado, como mostra a
figura 3.8. (MINKE, 1980).
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Figura 3.8 Instalaes de papelo para a Olimpada de Munique.Fonte: Minke, 1980, p.57.
1974 - Polytechnic of Central London, Inglaterra
Um outro modelo de abrigos emergenciais, figura 3.9, tambm originados
na Inglaterra, foi desenvolvido por John Gibson, Hong Lee e J ohn Zerning, na
Polytec hnic of C ent ra l Lon d on. (MINKE, 1980).
Figura 3.9 Abrigos emergenciais de papelo na Inglaterra.Fonte: Minke, 1980, p.53.
1975 - Universidade de Surrey, Inglaterra
Vinzenz Sedlak desenvolveu em sua dissertao de mestrado, na
Universidade de Surrey, Inglaterra, estudos sobre construes de papelo,
dando maior nfase s questes estruturais. Como produto final, construiu um
prottipo com papelo dobrado em vrios planos, figura 3.10, e submeteu-o a
testes de cargas. O resultado constatou uma grande estabilidade. (MINKE,
1980).
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Co nst ru indo c om tubo s d e p ap elo: Um estud o d a te cn olog ia d esenvo lv ida po r Shige ru Ban
SALADO , Gerusa d e Cssia (2006) 32
Figura 3.10 Prottipo de papelo desenvolvido por Vinzenz Sedlak em sua dissertao demestrado, Inglaterra. Fonte: Minke, 1980, p.54.
1977 - California Polytechnic State University, EUA, e prottipos em
Kassel, Alemanha
Na Califrnia, foram desenvolvidos dois outros prottipos de abrigos
provisrios, por estudantes da Ca lifo rnia Polytec hn ic Sta te University figuras
3.11 e 3.12.
O papelo usado foi oriundo de caixas de verduras, frutas e plantas, foi
impregnado com cera a 160 C e usado para formar painis duplos. (MINKE,
1980).
Figura 3.11 Prottipo de papelo desenvolvido por estudantes da Ca liforn ia Polytec hnic Sta te
University Modelo 01. Fonte: Minke, 1980, p.53.
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Figura 3.12 Prottipo de papelo desenvolvido por estudantes da Ca liforn ia Polytec hnic Sta teUniversity Modelo 02. Fonte: Minke, 1980, p.53.
O desenvolvimento deste material gerou outros frutos. O primeiro foi um
abrigo em forma de arco, construdo em Kassel - figura 3.13. Com rea de 52
m2, a estrutura foi toda feita em madeira e a vedao utilizou os painis duplos
com chapas de papelo impregnados de cera. (MINKE, 1980).
Figura 3.13 Abrigo em arco, construdo em Kassel com papelo.Fonte: Minke, 1980, p.58.
A figura 3.14 mostra uma outra aplicao, uma construo de 79 m2, na
qual os mesmos tipos de painis foram usados para vedao. Contudo, para
preencher o espao entre as suas duas faces, usou-se garrafas plsticas e latas
coladas com betume. (MINKE, 1980).
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Figura 3.14 Construo experimental de plac as de papelo e garrafas plsticas em Kassel.Fonte: Minke, 1980, p.59.
1984 - Escola de Engenharia de So Carlos, Brasil
A pesquisa de mestrado da Engenheira Civil Akemi Ino, realizada na
Escola de Engenharia de So Carlos, da Universidade de So Paulo (EESC-USP),
resultou em mais um modelo, o qual mostrado na figura 3.15.
O estudo, cujo objetivo principal foi avaliar a viabilidade do uso do
papelo ondulado pintado em casas provisrias, foi concludo com a
construo de uma pequena casa, de apenas um cmodo e 7,60 m2. Pode-se
dizer que dois anos e meio aps sua construo, o prottipo ainda mantinha
boas condies de uso. (INO, 1984).
Figura 3.15 Prottipo de casa provisria desenvolvido por Akemi Ino com chapas de papeloondulado. Fonte: Ino, 1984, p.168.
1999 - Museu de Arte das Crianas Nemunoki, Japo
O Museu de Arte das Crianas Nemunoki (figura 3.16) um espao de
300 m2que foi projetado pelo arquiteto japons Shigeru Ban e construdo para
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uma escola de crianas especiais, servindo para estas exporem os seus
trabalhos de arte.
A cobertura, em formato triangular, feita de painis de papelo
suportados por quinze pilares metlicos. Cada painel produzido com ummiolo tipo colmia e folhas de papel coladas nas duas faces, formando uma
unidade.
Algumas dessas placas medem 0,60 m x 1,00 m, outras medem 0,60 m x
3,00 m. De trs em trs, elas formam tringulos com lados de 3,00 m ou 1,00 m, e
altura de 0,60 m. No encontro dos tringulos de 3,00 m de lado so colocados
os pilares e, dentro destes grandes tringulos, so inseridos os menores figura
3.17. As juntas, desenvolvidas especialmente para este projeto, so de alumnio.
(McQUAID, 2003).
A figura 3.18 mostra que essa composio forma uma estrutura muito
forte e coberta por uma membrana translcida de PVC e fibra de vidro
reforada e corrugada, permitindo a entrada de luz natural, pois a nica
fonte de iluminao da galeria. (THE J APAN ARCHITECTURE, winter 1999).
Figura 3.16 Vista interna do Museu de Arte das Crianas Nemunoki.Fonte: McQuaid, 2003, p.59.
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Figura 3.17 Estrutura da cobertura do Figura 3.18 Perspectiva explodida doMuseu de Arte das Crianas Nemunoki Museu de Arte das Crianas NemunokiFonte: McQuaid, 2003, p.57. Fonte: McQuaid, 2003, p.56.
3.2.1. Formas de papelo para pilares de concreto
Tubos de papelo j so fabricados no Brasil h muitos anos e
empregados como formas para pilares de concreto cilndricos ou de outros
formatos, como retangulares ou hexagonais, conforme as figuras 3.19 e 3.20.
Estes tubos so feitos de papel kraft ou semi-kraft, de diversas gramaturas,
enrolado no sistema espiral.
Figuras 3.19 e 3.20 Formas e tubos de papelo empregados na construo civil.Fonte: Dimibu, 2004, p.02.
3.2. O uso de tubos de papelo na construo civil
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Segundo Dimibu (2004), as maiores vantagens desse tipo de forma so a
sua leveza, a possibilidade de rpida colocao e fcil desforma com uma
mo-de-obra reduzida figura 3.21.
Figura 3.21 Tubo de papelo sendo usado para a moldagem de um pilar.Fonte: Dimibu, 2004, p.03.
Alm disso, os tubos possuem revestimento interno impermeabilizado e
no aderente ao concreto, no absorvem a gua do concreto nem deixam
vazar a sua nata e no requerem escoramento. Podem ser feitos de diversos
dimetros, comprimentos e espessuras, vide tabela 3.1, para terem a resistncianecessria e suportarem a presso da concretagem. Apresentam grande
rigidez e no reagem com nenhum componente do concreto.
Tabela 3.1 Peso por metro linear dos tubos de papelo. Fonte: Dimibu, 2004, p.03.
Dimetro interno (mm) Peso por metro linear (kg)100 1,000
150 1,400
200 1,850
250 2,400
300 3,200350 3,800
400 4,400
450 4,950
500 6,500
550 7,150
600 8,350
650 9,200
700 10,700
750 11,500
800 13,000
850 13,800
900 14,600
950 15,4001.000 18,000
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Tambm podem ser aplicados na construo de tetos abobadados,
estacas, lajes, peas pr-moldadas e como forma perdida para tabuleiros de
pontes ou lajes figuras 3.22 e 3.23.
Figuras 3.22 e 3.23 Tubos de papelo sendo usados para caixo perdido.Fonte: Dimibu, 2004, p.05.
3.2.2. Os tubos de papelo como elementos de vedao e
estrutura
A atratividade em se utilizar tubos de papelo na construo civil se d
por estes serem baratos, facilmente relocados e substitudos quando
danificados, de baixa tecnologia, manterem sua cor natural e no gerarem
desperdcio. Alm disso, podem ser reciclados ou reutilizados, caso estejam em
perfeitas condies de uso. (McQUAID, 2003).
Pensando nisso, alguns engenheiros, arquitetos e pesquisadores
desenvolveram experimentos de aplicao deste material. O primeiro deles
surgiu em 1970, nos EUA, mas foi apenas na dcada de 80 que o arquiteto
japons Shigeru Ban passou a estudar, desenvolver e disseminar de fato esta
tecnologia; projetando e construindo diversas obras em vrios lugares do
mundo at os dias atuais.
Na seqncia sero mostrados, em ordem cronolgica, os projetos que
utilizaram tubos de papelo. Inicialmente, sero expostos os projetos feitos por
outros arquitetos e, no prximo captulo, o trabalho de Shigeru Ban.
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a) Ponte de tubos de papelo, EUA
O engenheiro estrutural norte-americano Lev Zetlin, no ano de 1970,
construiu uma ponte com tubos de papelo para a Internat ional Paper
C om p a n y .
A ponte possua um tabuleiro de 9,60 m de comprimento por 3,00 m de
largura e vigas de 1,20 m de altura. O tabuleiro era formado por tubos de
papelo dispostos transversalmente, em meio a duas camadas de chapas
espessas e macias de papelo (figuras 3.24 e 3.25).
O dimensionamento da ponte foi feito para que esta suportasse uma
carga de 8,0 toneladas. Com uma sobrecarga de 5,0 toneladas, a ponteapresentou uma flecha de 12 mm. (MINKE, 1980).
Figuras 3.24 e 3.25 - Ponte de tubos de papelo, EUA.Fonte: Minke, 1980, p.52.
b) Experimento de Martin Pawley
No Rensse la e r Po lyte c hn ic Institut e, Nova Iorque, Martin Pawley fez um
experimento, em 1976. A construo tinha 60 m2e apoios de tubos de papelo
de dimetro de 10 cm, preenchidos internamente com latas e garrafas figura
3.26.
Figura 3.26 Experimento de Martin Pawley com tubos de papelo, EUA.Fonte: Minke, 1980, p.56.
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c) Shared Ground, Reino Unido
No ano de 2000, o Reino Unido construiu um gigantesco domus, cerca de
80.000 m2, para abrigar diversas zonas temticas e expor construes.
O Dom us M ille niumteve a funo de expor ao longo de um ano produtos
de construo e tcnicas inovadoras a profissionais da rea, como
administradores, projetistas, tcnicos, engenheiros e arquitetos.
Uma das zonas temticas, a Sha red G rou nd, foi projetada por Philip
Gumuchdjian e Stephen Spence, com o intuito de mostrar s pessoas que
possvel fazer uma arquitetura de boa qualidade com materiais no refinados.
(HART, 2000).
Assim, os arquitetos solicitaram a consultoria de Shigeru Ban e Buro
Happold e construram um edifcio de 1500 m2, feito quase que inteiramente de
papelo reciclado.
O espao, figuras 3.27 e 3.28, consiste de 100 colunas feitas de tubos de
papelo, com alturas variando entre 9,0 e 18,0 m, 35 cm de dimetro e 15 mm
de espessura. Esses tubos foram reforados internamente com diafragmas de
madeira, para aumentar a sua resistncia.
Alm disso, cada tubo foi composto por 32 camadas de papel kraft,
especialmente fabricado com uma massa de pedaos de jornal e papis
descartados, na qual o fabricante adicionou fibras longas para melhorar a sua
resistncia.
Figuras 3.27 e 3.28 Construo da Sha red G roun d.Fonte: Hart, 2000, p.44-5.
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Essa estrutura foi aparafusada em painis de papelo de 1,20 x 1,80m.
Esses painis foram constitudos de duas chapas exteriores de papelo,
aderidas a um miolo de papelo corrugado e uma espuma de isolamento.
Cabos de ao fizeram a amarrao do conjunto e peas de madeira foram
usadas para conec tar os tubos.
Segundo Hart (2000), duas questes muito importantes preocuparam com
relao s carac tersticas do material: a sua capacidade de absorver umidade
do ar e a sua combustibilidade.
Assim, para evitar a absoro de umidade, a terceira camada a partir do
exterior do tubo foi composta de um polmero que funcionou como uma
barreira ao vapor.
Quanto ao do fogo, alguns tubos foram envernizados com tinta
intumescente, que expande como uma espuma resistente ao fogo quando
exposta a temperaturas muito elevadas. Esses tubos foram testados e, como
resultado, queimaram em processo de combusto lento e sem chama num
pequeno pedao, mas no pegaram fogo.
A capacidade de carregamento da coluna foi determinada como paraa madeira, por Buro Happold. (HART, 2000).
d) Clube de msica ps-aula Anexo escolar, Inglaterra
Construdo por Cottrell e Vermeulen em 2002, esse c lube ps-aula a
primeira construo permanente da Europa que possui componentes de
papelo na estrutura e vedao.
Conforme Slessor (2002), os alunos da escola coletaram papis
descartados para serem rec iclados e darem origem aos tubos de papelo. A
opo por este material foi seu carter essencialmente ecolgico e seu baixo
custo, alm da rapidez e facilidade de construo.
O espao um pavilho musical de apenas um pavimento, cercado por
paredes e teto em forma de sanfona figuras 3.29 e 3.30. A estrutura
constituda de 22 tubos de papelo de 18 cm de dimetro, que suportam uma
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trelia de madeira e o telhado. Os tubos foram revestidos com uma camada
de verniz.
Figuras 3.29 e 3.30 Clube de msica ps-aula c onstrudo com tubos de papelo, Inglaterra.Fonte: Slessor, 2002, p.57.
A vedao feita com painis. Sua estrutura feita em madeira e omiolo de papelo do tipo colmia. A face externa coberta com uma placa
de fibrocimento e a interna uma placa de papel rec iclado. (SLESSOR, 2002).
Os painis tambm contm uma camada de barreira ao vapor e a
massa do papelo foi quimicamente tratada para reduzir sua capacidade de
absoro.
O projeto foi elaborado para durar 20 anos e ser 90% reciclado.
e) Ecovila de papel em Campinas, Brasil
No ano de 2003, Anita de Domenico, Mirian Vaccari e Mnica
Marcondes, alunas do ltimo ano do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de So Paulo (USP), desenvolveram uma proposta de interveno
para a Vila dos Ferrovirios, em Campinas.
O projeto, que no foi construdo, seguiu as proposies da Agenda 21
Comunidades sustentveis ambiental, econmica e socialmentee utilizou
tubos de papelo.
Elementos de papelo so propostos na estrutura, cobertura e vedao
das casas, com o intuito de demonstrar que o papelo pode ser usado em
carter permanente e durvel. (VACCARI, 2003).
As residncias, de dois pavimentos, tm sua estrutura em tubos depapelo, formando pilares, vigas de alma cheia e vigas-vages. Estas ltimas
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foram propostas com tubos de menor dimetro, geralmente fabricados para a
indstria txtil, e possibilitariam vencer vos maiores figuras 3.31 e 3.32.
Figuras 3.31 e 3.32 Foto da maquete do sistema estrutural e elevao da casa projetada porestudantes da FAU-USP. Fonte: Vaccari, 2003, p.70.
A vedao proposta atravs de painis-sanduche formados por placasexternas de papelo ondulado e miolo de colmia de papel. Os mesmos
painis so propostos na cobertura, sob embalagens longa-vida re-utilizadas.
A alvenaria convencional apenas proposta no mdulo hidrulico,
contribuindo para o contraventamento da unidade.
De acordo com Vaccari (2003), como soluo para impermeabilizar o
material e torn-lo resistente a altas temperaturas, o grupo de estudantes
sugere que, durante o processo de fabricao, sejam usadas colas especiais
resistentes umidade e ao calor.
As casas, de sistema estrutural modular, so elevadas do solo para evitar
contato com umidade.
f) Centro Cultural Zona Norte, Brasil
Gerusa Salado, ao concluir seu curso de graduao na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, apresentou
como Trabalho Final de Graduao o projeto de um centro cultural no bairro
de Santana, regio Norte da capital paulista.
Fruto de uma pesquisa abrangente sobre materiais e tcnicas construtivas
alternativas, o projeto arquitetnico um exerccio projetual baseado em todo
o estudo, tido como o seu produto final. Nele, alguns dos materiais levantados e
estudados so aplicados, em sistemas de estrutura, vedao e cobertura. Entre
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eles, os mais importantes so o concreto reciclado, a terra-palha, os tubos de
papelo e a madeira.
O projeto, com rea de 23.000 m2e capacidade para atender a 18.000
pessoas por dia, possui um programa amplo, compreendendo bibliotecas, salasde leitura, auditrios, espaos para exposies e apresentaes artsticas,
restaurante, etc figura 3.33.
Figura 3.33 C entro Cultural Zona Norte.Fonte: Salado, 2003, p.142.
Segundo Salado (2003), por se tratar de uma edificao muito grande e
conter vrios andares, os tubos de papelo foram empregados somente como
vedao.
Assim, dependendo do ambiente a ser vedado, os tubos foram dispostos
com espaamentos diferentes entre si e intercalados com panos de vidro, e em
algumas situaes foram unidos uns aos outros com espuma de poliuretano.
Todos os tubos de papelo, 30 cm de dimetro, 6,0 mm de espessura e
4,0 m de altura, foram propostos sobre bases de madeira, nas quais seriam
parafusados, para evitar o contato com superfcies molhadas.
Com esse material ainda se fizeram os reservados, nos sanitrios feminino
e masculino. Tubos com dimetro de 1,20 m e espessura de 6 mm possuem um
corte frontal, possibilitando o encaixe da porta, ventilao e iluminao. Foi
proposto banh-los em amnia e uretano para ficarem impermeveis e
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protegidos da sujeira e do mau cheiro. Tambm devem ser pintados
internamente de branco para aumentar a claridade. (SALADO, 2003).
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SALADO , Gerusa d e Cssia (2006) 46
4 O USO DOS
TUBOS DE PAPELO
PELO ARQUITETO
SHIGERU BAN EM
SUAS OBRAS
O arquiteto japons Shigeru Ban desde o princpio buscou se destacar em
sua carreira. Estudou na Unio Cooper, em Nova Iorque, sob a orientao do
renomado arquiteto americano J ohn Hejduk, um dos integrantes do New Yo rk
Five24no fim dos anos 60, e se formou em 1984, junto com a obteno de um
prmio.
Nesse perodo de estudos, o Racionalismo lhe propiciou uma rica
apreciao do Modernismo ocidental e uma verso racionalizada do espao
japons tradicional. Ban tambm conheceu o voluntariado, e se surpreendeu
com a disposio de estudantes americanos para distribuir sopas aos pobres.
24O New York Fiveera um grupo formado por cinco arquitetos atuantes em Nova Iorque, sendoPeter Eisenman o lder e Michael Graves, Charles Gwathmey, J ohn Hejduk e Richard Meier osoutros integrantes. No fim da dcada de 60 e incio de 70, a partir dos princpios da arquitetura
moderna e da obra de Le Corbusier, estes arquitetos buscaram desenvolver uma nova baseterica, to ideolgica e rigorosa quanto a conseguida pela vanguarda europia do pr-guerra, rompendo com o Modernismo. (FRAMPTON, 1997).
7/23/2019 Dissertacao Definitivo
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Co nst ru ind o c om tubo s de pa pe lo: Um estudo d a te c nolog ia d esenvo lv ida p or Shige ru Ba n
47 SALADO , Ge rusa d e Cssia (2006)
Ao retornar para o J apo, ele trabalhou um ano para Arata Isozaki, em
Tquio, antes de abrir o seu escritrio.
O uso do papel na arquitetura tradicional japonesa, em biombos,
vedaes de janelas, papis de parede, etc, o levou a experimentar asqualidades do papelo em tubos25.
Ban no gosta de desperdcio e defende e promove a reciclagem como
uma soluo ps-tecnolgica e ps-industrial. (BERET; PENWARDEN, 2000).
E alm de ser especialmente preocupado em usar os materiais com
sensibilidade ecolgica, ele gosta de faz-lo para atender aos ricos e aos
pobres.
O arquiteto investe em fundamentos de pesquisa e nos clientes mais ricos
para subsidiar os projetos que ele faz para os mais pobres; e incentiva os
estudantes de arquitetura a serem voluntrios de suas construes. Alm disso,
para suas obras sociais, Ban sempre tenta conseguir tubos de papelo e outros
materiais doados.
Shigeru Ban defende uma idia muito importante dizendo que a
arquitetura faz, atualmente, pouca coisa para servir aos necessitados. O
arquiteto pensa que enquanto muitos chamam as pessoas pobres de minoria,
em termos globais esse grupo muito grande e representa um desafio para
todos os arquitetos. (BUNTROCK, 1996).
O trabalho de Ban mantm as caractersticas simples do tubo de papelo
e aumenta as suas qualidades bsicas para gerar um material estrutural slido.
Com isso, ele transforma simples tubos em construes grandiosas e dediversos tipos, fazendo-se repensar as idias de fraqueza, durabilidade e
natureza efmera do papelo.
Aps as primeiras experinc ias, Ban l
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