Do Outro Lado do Mundo
Marcos Lira
DO OUTRO LADO DO MUNDO
OBRAS DO AUTOR
Evolução – Ed. Clip (2004)
Olhos – Ed. Voxxel (2004)
De l'autre côté du monde – Ed. Voxxel (2006)
MARCOS LIRA
DO OUTRO LADO DO
MUNDO
EDITORA VOXXEL LTDA
Rua Rio Branco, 104
CEP 48.880-000
Santa Luz – BA
Fone – (75) 3265-2245
Todos os direitos reservados ao autor
Capa
Marcos Lira
Revisão
Jussara Secundino
DEDICATÓRIA
À minha mãe Loide Bastos de Lira que mesmo à
distância se faz constantemente protetora através de
suas orações.
AGRADECIMENTOS
A professora Jussara Secundino, que dispensou
um pouco de seu precioso tempo para revisar e fazer
sugestões válidas e acatadas.
APRESENTAÇÃO
Ao folhear essas páginas viajei por mundos e
sonhos distantes, embalada pelas poesias que estão
distribuídas nesses curiosos e significativos capítulos:
Vida - Amor - Luz.
Clenilda Lira
PRÓLOGO
Estes são rabiscos guardados por muito tempo e
que agora vêm à superfície para desnudar os devaneios
da alma.
Do outro lado do mundo Marcos Lira
9
Índice
Capítulo Vida
11 – O Gorila Cabeludo
12 – O Amigo Urubu
13 – O Bebê Lagartixa
14 – Dor de sentimento
15 – Era outra vez...
16 – Desencontro
17 – Soneto para um
anjinho
18 – A pedra cósmica
21 – Cara de Bicho
23 – Bicho
24 – Nos bons momentos
Capítulo Amor
26 – Apaixonite aguda
28 – Reprovada
29 – Sonho
30 – Ciúme doentio
31 – Imaginação
32 – Engano
33 – Tanque Grande
34 – Luz
37 – Vem
38 – Do hades ao nirvana
Capítulo Luz
40 – Equilíbrio
41 – Rosana
42 – Carolina dos Olhos Rasos
43 – Sonho de criança
44 – Dia de festa
45 – Sonho distante
46 – Cenas
47 – Ciclo
48 – Contraste
49 - Revelação
Do outro lado do mundo Marcos Lira
10
Capítulo Vida
Do outro lado do mundo Marcos Lira
11
O GORILA CABELUDO
O Gorila Cabeludo
Joga pedra no bichinho
O Macaco Silvaninha
Trata a todos com carinho
O Gorila Cabeludo
Sempre fala palavrão
O Macaco Silvaninha
Brinca com o seu irmão
O Gorila Cabeludo
Nas crianças joga areia
O soldado Elefante
Leva preso pra a cadeia
O Macaco Silvaninha
Vai pra escola bem cedinho
Ele brinca e estuda
Junto com seu amiguinho
O Gorila Cabeludo
Esta triste e chorando
O Macaco Silvaninha
Fica alegre e cantando
Belo Horizonte, 20 de Julho de 2004
Do outro lado do mundo Marcos Lira
12
O AMIGO URUBU
O amigo Urubu
Não gosta de trabalhar
Ele fica o tempo todo
Só brincando de voar
Só que quando vem a chuva
Não tem onde se abrigar
O macaco Silvaninha
Trabalhou o ano inteiro
E ficou muito feliz
Que ganhou muito dinheiro
Construiu a sua casa
Com a palha do coqueiro
O macaco Silvaninha
Enche a casa de comida
Depois come e vai brincar
O amigo Urubu
Sempre espera que alguém morra
Pra poder se alimentar
Santa Luz, 28 de agosto de 2004
Do outro lado do mundo Marcos Lira
13
O BEBÊ LAGARTIXA
O menino lagartixa
Inda era um bebezinho
Quando acordou na noite
Viu que estava sozinho
Não vendo a sua mãe
Chorou muito amargurado
Pois pensou que ele estava
Para sempre abandonado
Subia pelas paredes
E andava pelo chão
Chorava com muito medo
De encontrar o Bicho Papão
Quando a porta se abriu
Ele foi se esconder
Com medo que fosse o bicho
Que viria lhe prender
Só que era sua mãe
Que trazia um presente
E o bebê Lagartixa
Já ficou muito contente.
Santa Luz, 28 de setembro de 2004
Do outro lado do mundo Marcos Lira
14
DOR DE SENTIMENTO
Meu Papai, você não chora
Se o martelo fere o dedo,
Como eu choro se um amigo
Me toma algum brinquedo?
Essas dores eu não sinto
Tenho os pés presos ao chão
A dor que me leva ao pranto
É a que fere o coração
A saudade de um filho
O medo da rejeição
A partida inesperada
O sofrer pela paixão
Quando perco a esperança
Quando há decepção
Na angústia do desprezo
Com o horror da traição
Analisando o que sinto
Como agora você vê
Por motivos diferentes
Choro bem mais que você
Brasília, 09 de fevereiro de 2005
Do outro lado do mundo Marcos Lira
15
ERA OUTRA VEZ...
Terrível Monstro medonho
Que tocava sua lira
E inventava canções
Construiu o seu castelo
Com tijolos de mentira
No Alto das Ilusões
Nele morava uma fada
Rara beleza encantada
Das terras da Pura Dor
Que chorava amargurada
Pois fora aprisionada
E condenada ao amor
O salvador veio um dia
Do Reino da Convenção
E libertou a fadinha
Tudo que o pobre tinha
Acabando com a canção
Hoje ouço um lamento
Até me dá calafrio.
Sempre, pela madrugada,
Procurando sua amada
O Terrível Monstro vaga
Pelo pântano sombrio
Parauapebas, 16 de janeiro de 2006
Do outro lado do mundo Marcos Lira
16
DESENCONTRO
Sol que resplandece
Quando a lua desce
Sem se encontrar
Lua amadurece
Já o sol esquece
De lhe esperar
A tristeza crua
Só, o Sol flutua.
De desencantar
Novamente a Lua
Vaga pela rua
A lhe procurar
Belo Horizonte, 27 de maio de 2005
Do outro lado do mundo Marcos Lira
17
SONETO PARA UM ANJINHO
Um sorriso de afeto
Se tu olhas com firmeza
Reluz aura de franqueza
Contagia a quem s’tá perto
Estas réstias luminosas
Que contornam tuas asas
Envolvendo nossas casas
Viram plumas saborosas
Todos sabemos quem és
Por nós serás sempre amada
Ainda restam nos teus pés
Desta tua caminhada
Manchas brancas em anéis
Das nuvens de tua morada
Santa Luz, 11 de maio de 2000
Do outro lado do mundo Marcos Lira
18
A PEDRA CÓSMICA
Mais de cem milhões de anos
Quando a terra era só
Como fogo vem do céu
Caiu levantando pó
Fez no chão uma cratera
A pedra de Bendengó
Com mais de cinco mil quilos
Dois metros de comprimento
De ferro, níquel e poeira
Ficou esquecida ao vento
Os cafundós da Bahia
Saíram do esquecimento.
Ano mil e setecentos
e oitenta e quatro exato,
Domingos Mota Botelho
Era um garoto de fato
Encontrou a pedra preta
No fundo de um regato
Pensando que era ouro
Depois de um ano afinal
Trinta homens da Coroa
Vinte juntas de animal
Arrancaram aquela pedra
Pra levar pra Portugal
Do outro lado do mundo Marcos Lira
19
Mas o eixo da carroça
Pegou fogo e ela caiu
No riacho Bendengó
E o povo desistiu
De levar para Lisboa
Ficando aqui no Brasil
Ela ali permaneceu
Esquecida no infinito
Por quase cento e três anos
Até que alguém tenha dito
Que aquela pedra preta
Era um meteorito
Só então Pedro Segundo
Que pediu ao engenheiro
José Carlos de Carvalho
A organizar um cruzeiro
Pra levar o meteorito
Para o Rio de Janeiro
No ano de oitenta e sete
Do século dezenove
Sobre um carretão de ferro
Finalmente ela se move
Por cento e vinte e seis dias
Na viagem que comove
Do outro lado do mundo Marcos Lira
20
A pedra caiu seis vezes
O eixo quatro quebrou
Cento e dezoito mil metros
Quando até ao trem chegou
Da estação Jacurici
Para o Rio viajou
O maior meteorito
Não saiu do seu canteiro
Lá na África do Sul
Querem conservá-lo inteiro.
O nosso de Bendengó
É o décimo primeiro
Sua grande importância
É que ele pode por certo
Explicar como a vida
Surgiu num mundo deserto.
Quando esteve no Brasil
Einstein quis vê-lo de perto
Do grande meteorito
A história aqui encerra
Quando acordaram do sonho
Aqueles que foram à guerra
E tentaram sem sucesso
Devolvê-lo a sua terra
Santa Luz, 21 de outubro de 2005
Do outro lado do mundo Marcos Lira
21
CARA DE BICHO
Saiba que é bom ser bom
É natural ser feliz
Abra essa cara amarrada
E dobre a sua cerviz
Imponha a sua vontade
Sem nunca baixar o nível
A essência é perfeita
Mas a mente, corrompível
Mesmo buscando um direito
Fique livre da arrogância
Seja firme na postura
Sem perder a elegância
Abra o rosto num sorriso
Não se tranque no seu mundo
Atenção a um errante
O resgata lá do fundo
Do outro lado do mundo Marcos Lira
22
A paz, se compartilhada
Expande-se e contagia
E o mal se semeado
Também cresce e irradia
E quando surge um problema
Use da sabedoria
Contornando o sofrimento
Voltando a ter alegria
Retribui todo carinho
Que lhe tenham dedicado
Agradece a Deus e aos homens
Pelo que já lhe foi dado
Carajás, 21 de junho de 2004
Do outro lado do mundo Marcos Lira
23
BICHO
Bicho é o que cata o lixo
Na madrugada vazia
Um preto alegre em sorriso,
Ou uma preta Maria
Quem não mandar, cata o lixo
O que é ruim, o que presta
O refugo precioso
A vida escura é uma festa
Há o que limpa e o que suja
O que na noite vigia
Outro na manhã acorda
É tudo pura alegria
Belo Horizonte, 24 de janeiro de 2002
Do outro lado do mundo Marcos Lira
24
NOS BONS MOMENTOS
Ondas se espalham
Sobre o lençol
Alvo como o semblante
Da primeira impressão
Estremecendo quem fita
É o azedo sabor da uva
Gostoso gosto do pecado
Com uma pureza angelical
Que não fere o pudor
Melancólica como a triste
Trilha da alegria
Parece que nessa calada noite
Alguém canta um acalanto
Num tempo que leva o som
E a levada viola
Levada pelo tempo
Jorra dos dez metais
A água cristalina e doce
Das correntezas dos sonhos
Alagoinhas, 10 de outubro de 1998
Do outro lado do mundo Marcos Lira
25
Capítulo Amor
Do outro lado do mundo Marcos Lira
26
APAIXONITE AGUDA
Declarava guerra ao mundo
E vivia em paz comigo
Em meu peito, lá no fundo
Tinha um coração amigo
Este andava adormecido
Sem amor e sem maldade
Quando enfim foi sacudido
Por enorme tempestade
Eu sempre ganhava a luta
Agora me sinto frágil
Estou me afogando em culpa
Em meio a esse naufrágio
Ameaças da família
Desprezada, sem amigo
Bem longe do meu amor
Sofro só, só eu comigo
O parquinho perde a graça
A pracinha, o encanto
As piadas não me alegram
Eu mergulho em meu pranto
Do outro lado do mundo Marcos Lira
27
Preciso virar a mesa
Acalmar o vendaval
Vou erguer minha cabeça
Pois sofrer não é normal
Solto os laços do pudor
Rompo amarras da amizade
Corto o fio da angústia
Vou ganhar a liberdade
Quero asas, vou voar
Planar sobre esse problema
Já sem medo, sem remorso
Quem agora me condena?
Eu escolho o meu destino
Já não quero mais sofrer
Vou criar meu próprio mundo
Finalmente vou viver
Valente, 01 de junho de 2001
Do outro lado do mundo Marcos Lira
28
REPROVADA
Nenhum e-mail ainda,
Nenhum alô, é verdade
Aquele beijo roubado
Já perdeu a validade?
Ele é que mantém aceso
O fogo dessa paixão
Que se apaga com o tempo
Se não há renovação
E aquele amor eterno
Que abafou tua vaidade
Tão ligeiro se acabou?
Só estava em minha vontade?
Logo vi, é impossível
Dois se amarem mutuamente
Teu amor é indecência
Não é puro ou inocente
Se assim é que me vês
Não sou alguém que se assuma
Vou baixar a tua nota
Ver-te como qualquer uma
Arapiraca, 05 de maio de 2001
Do outro lado do mundo Marcos Lira
29
SONHO
Sabe o que é olhar profundo
Sob o temor de sofrer
Bem no fundo de outros olhos
Sentindo o corpo tremer
Confessar uma verdade
Sem você não sei viver
Sabe o que é vencer o medo
De despir a emoção
Se entregar por inteiro
Ao risco de uma paixão
Uma alegria que envolve
Só de pensar, emoção.
Dando-se por sacrifício
Às loucuras desse bem
E obter por resposta
A todo amor que se tem
Em apenas um sussurro
Eu te amo assim também
Marabá, 05 de setembro de 2002
Do outro lado do mundo Marcos Lira
30
CIÚME DOENTIO
Dor na madrugada, medo
A negra cor da paisagem
A angústia do segredo
No horror dessa viagem
Tenho tudo, quero mais
Quero o que não é direito
Devaneios irreais
Quanta falta de respeito
Entro na intimidade
Vasculhando agenda e lixo
Fujo da realidade
Com a fúria de um bicho
O encanto desencanta
O amor já se complica
O ciúme alto canta
O terror que se pratica
A decepção domina
Apagando a ilusão
O ódio se dissemina
Chega a separação
Porto de Sauipe, 16 de janeiro de 2005
Do outro lado do mundo Marcos Lira
31
IMAGINAÇÃO
Uma vez imaginando
Sonho lindo de se ver
Eu me vi todo feliz
Encontrando com você
Subimos uma colina
Nossos corpos bem de perto
Soltos ao frescor da brisa
E ao silêncio do deserto
Ali nós nos entregamos
Entre as flores e o céu
O universo conspirava
Nos lambuzamos de mel
Assim o cansaço vence
Nos jogamos sobre o solo
Eu entregue ao prazer
Adormeci no teu colo
Volto agora à realidade
Que me tirou deste gosto
Acordei com as carícias
Dos teus dedos no meu rosto
Tua voz doce falou
Acorda, vamos descer
É distante esta colina
E começa a escurecer
Belo Horizonte, 11 de julho de 2002
Do outro lado do mundo Marcos Lira
32
ENGANO
Enganei-me totalmente
Quando disse que te amava
De todo meu coração
Hoje a espada do ciúme
Jorrou sangue do meu peito
Encharcou até o chão
Todo meu corpo estremece.
Vi que nenhum sentimento
Mora junto a tanta dor.
Mesmo trôpego, arrasado
Fui procurar em teus olhos
Pra onde foi esse amor
E vi que inabalável
Mora num lugar eterno
Envolto em toda calma.
Não era como eu pensava,
Eu descobri que eu te amo
Do fundo da minha alma
Santa Luz, 21 de julho de 2001
Do outro lado do mundo Marcos Lira
33
TANQUE GRANDE
Aqui que tudo acontece
Graças a todo sossego
O que eu gosto o que nem ligo
E o que eu morro de medo
Lembro que tinha um marco
Que emergia da água
E sucumbiu para sempre
Como tudo ele se acaba
Fruto de longa conquista
Solto às carícias do vento
Na madrugada sombria
Entrega-se o monumento
E a queda sangra em ondas
Num suspiro realizado
Proclamando aos quatro cantos
Está tudo consumado.
Santa Luz, 18 de novembro de 2001
Do outro lado do mundo Marcos Lira
34
LUZ
Amo você porque amo
Isso não pode mudar
É um sentimento puro
Que nunca vai acabar
Porém, se você me fita
Olhar brando e penetrante
A boquinha entreaberta
Num encanto radiante
Ou quando você não faz
O que lhe era normal
Só porque sem minha presença
Já não é mais tão “legal”
Ou ainda se você
Só por me considerar
Já mede cada palavra
Temendo me machucar
Do outro lado do mundo Marcos Lira
35
E se em silêncio e só
Sente o peso deste amor
Suporta adversidade
E não perde o fervor
Mas principalmente quando
Você diz que me adora
E até diz que me ama
Que é o ápice da glória
Nasce em mim um sentimento
Que é maior que o amor
Mais forte que a paixão
Perfeito, livre da dor
Pois tudo isso que sinto
Quando chega até você
Encontra seu sentimento
E só faz fortalecer
É um misto de amor
Felicidade, paixão
De respeito e compromisso
Da mais pura gratidão
Do outro lado do mundo Marcos Lira
36
É de um poder sem fim
Que transpõe toda barreira
Que nos leva ao encontro
De dimensão sem fronteira
Como uma nuvem suave
Flutua silenciosa
Sobrepõe a outra nuvem
Em carícia vagarosa
O encontro dos opostos,
Alegria de viver
Destinados a união
Fundidos em um só ser
Todos ouvem o trovão
Na explosão que se encerra
Que é vista como luz
Em toda a face da terra
Arapiraca, 08 de julho de 2001
Do outro lado do mundo Marcos Lira
37
VEM
Venha aqui, oh Luana
Você diz que me engana
Eu me deixo enganar
De andar quase nua
Já não saio na rua
Com medo de te encontrar
Acabou a paixão
Você sem compaixão
Suspendeu o carinho
Tô aqui, sem afeto
Vivendo no deserto
Sem saber qual o caminho
Vem me livrar da dor
Venha mesmo sem amor
Vem me dar só um beijinho
Não esqueço você
Não quero te perder
Me alegra um pouquinho
Vem me livrar da dor
Venha mesmo sem amor
Vem me dar só um pouquinho
Já sei quem é você
Não tem nada a perder
Vem, me cobre de beijinho
Carajás, 9 de dezembro de 2001
Do outro lado do mundo Marcos Lira
38
DO HADES AO NIRVANA
Eu tinha os pés no chão
Onde vi o amor nascer
Flutuamos em paixão,
Alegria a florescer
Mas o mel tornou-se amargo
O veneno destilava
Até se tornou um fardo
E assim nos separava
Tudo aos pés desmoronou
Mágoas e ressentimento
O vôo desgovernou
Culpa e arrependimento
Você me estendeu a mão
Num pedido de socorro
Pesava-lhe a solidão
Nos encontramos de novo
Nossos braços viram asas
Vivemos então pra amar
Estamos dentro de um sonho
E não quero acordar
Santa Luz, 23 de maio de 2001
Do outro lado do mundo Marcos Lira
39
Capítulo Luz
Do outro lado do mundo Marcos Lira
40
EQUILÍBRIO
Envolve-me com a alegria
Desta tua juventude
E te mostro que o pranto
Nos melhora em atitude
É poder absoluto
Se estás em evidência
Só que não escandaliza
O que vive com decência
É bonito quando danças
Ao som alto da canção
Recolhe-te no silêncio,
Depois em meditação
Tua vida é tão intensa,
Sempre com esse fervor
E te tornas mais bonita
Se tu andas com pudor
É bela tua energia
É grande tua beleza
Bebe da moderação
Alimenta a pureza
Arapiraca, 26 de Julho de 2001
Do outro lado do mundo Marcos Lira
41
ROSANA
Acorrentada, abandonada, iludida
Amarga o dia sem o que seria amor
E humilhada, abatida por maus-tratos
Resolve agora se ver livre do terror
Silenciosa, cruza a porta, liberdade
Sai insegura dessa sua decisão
Senta na praça chora um pranto copioso
Enquanto a noite pesa sua escuridão
Um homem chega e discreto diz baixinho
“Chora tranqüila, velarei teu sentimento”
E permanece em silêncio a companhia
Vem o soluço, a madrugada, o sofrimento
Raiou o dia e com ele a esperança
Afastaria a injustiça e a dor
A nau a leva rumo à felicidade
Não desampara quem se faz merecedor
Volta-se ao banco grata pela companhia
Quer ela agora agradecer ao guardião
Resta uma réstia luminosa como um raio
Que se desloca ao infinito desde o chão
Belo Horizonte, 21 de junho de 2003
Do outro lado do mundo Marcos Lira
42
CAROLINA DOS OLHOS RASOS
O meu mundo é assim,
Eu que traço meu caminho.
Nessa minha vida atéia,
No zumbido da colméia
Ou se me falta carinho,
Algum deus vela por mim.
Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2005
Do outro lado do mundo Marcos Lira
43
SONHO DE CRIANÇA
A noite negra despenca dura na terra
Apaga as cores, as flores, a borboleta.
O coração endurecido se desterra
A esperança, abandonada na sarjeta
A ambição, inveja, ódio e o tormento
Condensam nuvens de pesar sobre cidade
O egoísmo, pai do descontentamento
Vem, desintegra os laços de fraternidade
As mãos suaves estendem-se em um apelo
A resgatar a alma que está perdida
E mergulhada em um denso pesadelo
Não acredita ainda possa haver saída
Mas esboçando um sorriso, a criatura
Conta seus sonhos de amor e alegria
Irradiando a aura d’uma alma pura
Convida a vida a viver um novo dia
Acreditando em idéias de nobreza
Que somos livres e os nossos sentimentos
Espargem pétalas de paz na natureza
Um novo mundo criado nos pensamentos
Aquele homem fica agora a contemplar
A inocente alvura de um coração
E passa de desiludido a acreditar
Que para o mundo há ainda salvação
Carajás, 04 de novembro de 2004
Do outro lado do mundo Marcos Lira
44
DIA DE FESTA
E novamente a cidade está em festa
A euforia é que comanda a multidão
Hoje não quero fazer parte da alegria
Aqui estamos eu, você e a solidão
Trago-te flores para ornar tua morada
Agradecido por momentos de beleza
Que os teus pés quando bailavam nas calçadas
A mim mostravam como é rica a natureza
Hoje não danças como antes nestas festas
Fostes embora sem me dar explicação
Eu deposito as rosas, com dor e tristeza
Aqui na lápide cruel que enfeita o chão
Feira de Santana, 26 de junho de 2005
Do outro lado do mundo Marcos Lira
45
SONHO DISTANTE
Nas lembranças de um sonho
Flutuo por sobre mares
Atravessando desertos
E planando pelos ares
Do outro lado do mundo
O sorriso é alegria
Existe um abraço amigo
Um toque que arrepia
Uma Babel aos avessos
A linguagem universal
O amor, dança, tambores
O homem, o animal
A natureza intocada
Floresce, uma homenagem
O Sol que desperta o leito
Sorri abrindo passagem
A saudade aperta o peito
Que pranto, tanto chorou
Quando os olhos denunciam
O sonho não acabou
Com um beijo carinhoso
De sentimento profundo
Vem, me mostra. Existe vida
Do outro lado do mundo?
Franceville, 13 de novembro de 2005
Do outro lado do mundo Marcos Lira
46
CENAS
Atuando neste palco
Rindo com a alma em pranto
Chorando pela alegria
E espalhando o meu canto
Já fui bom, já fui eu
Já fui tudo, já fui mau
Recebendo dessa gente
Os aplausos do final
Pedindo a compreensão
Enquanto o ator aqui fala
O mundo gira ao contrário
E a platéia se cala
A poucos metros do pano
Que encobre a realidade
Onde os problemas da vida
Sufocam a vaidade
Pojuca, 29 de Janeiro de 1983
Do outro lado do mundo Marcos Lira
47
CICLO
O sol brilha para a caridade
E arde sobre a tirania.
A noite embala o sono dos piedosos,
Oculta os fantasmas dos carrascos
E conduz à reflexão os arrependidos.
A aurora traz a satisfação de servir,
A oportunidade da redenção
Ou o prazer sádico da intolerância.
O dia constrói os sonhos.
...ou os pesadelos.
Belo Horizonte, 17 de novembro de 2004
Do outro lado do mundo Marcos Lira
48
CONTRASTE
Cai a noite sobre o mar
Acende a luz na cidade
A jangada sobre a areia
Guarda os livros, liberdade
Passos leves, pés desnudos
Sobre o mármore polido
Pés descalços sobre a areia
Passo firme e decidido
Veste o que tem de mais simples
No horizonte observar
A casa do jangadeiro
Na penumbra à beira do mar
A melhor roupa da mala
Sai do mundo marginal
Na cidade é encanto
O palácio de cristal
Que beleza a união
Não lhes falta o carinho
Não lhes faltam luxo e pão
Tudo é fácil em seu caminho
Como é bom ter a riqueza
Ter paz é necessidade
Viver é a abundância
Que feliz simplicidade
Paragominas,22 de agosto de 2004
Do outro lado do mundo Marcos Lira
49
REVELAÇÃO
Minha louca e insana insensatez
Asa Mágica da imaginação
Mãe bondosa, dona da sabedoria
És rainha de progresso e emoção
Este reino de poder e equilíbrio
Em seu teto pai, eu sinto proteção
O amor se incerto é inquietante
Mas na estrada volto à realização
O clamor por justiça na disputa
É o retorno de quem foi pra solidão
A fortuna fatalmente bate à porta
É a força natural da sedução
Destrói-se o que trai, ele é traído
Sua morte traz a regeneração
Em um tempo que tempera a paciência
O diabo vem com a dominação
Todo o sonho do castelo é destruído
Esperança na luz da imensidão
Quando negra é a noite de perigo
Raia o sol com a glorificação
Quando julgo tudo ter se revelado
Em um mundo só de realização
Minha louca e insana insensatez
Abre as asas, voa na imensidão
Paragominas, 20 de fevereiro de 2005
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