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ano IV n. 7 novembro 2010

ISSN 1982-2766

Domnios da ImagemRevista do Laboratrio de Estudos dos Domnios da Imagem na Histria (LEDI) do Departamento de Histria e vinculada ao Programa de Ps-graduao em Histria Social da Universidade Estadual de Londrina

Domnios Da imagem, LonDrina, ano iV, n. 7,

noVembro

2010

Universidade Estadual de LondrinaREItoRa: Ndina aparecida Moreno VIcE-REItoRa: Berenice Quinzani Jordo DIREtoRa Do cENtRo DE LEtRaS E cINcIaS HUMaNaS: Mirian Donat cHEFE Do DEPaRtaMENto DE HIStRIa: Edmia Ribeiro cooRDENaDoR Do MEStRaDo EM HIStRIa SocIaL: Silvia cristina Martins de Souza EDITOR RESPONSVEL: Alberto Gawryszewski UEL Edmia Ribeiro UEL cooRDENaDoR Do LEDI: alberto Gawryszewski UEL

coNSELHo coNSULtIVo Clia dos Reis Camargo UNESP Daniel Russo Universit de Borgnone Daro Acevedo Carmona Universidad Nacional de Colombia Eddy Stols Katholieke Universiteit Leuven Blgica Francisco Alambert USP Mauro Guilherme Pinheiro Koury UFPB Patrice Olsen Illinois State University Renato Lemos UFRJ Rodrigo Patto S Motta UFMG Stella Maris Scatena Franco UNIFESP Terezinha Oliveira UEM

coNSELHo EDItoRIaL E cIENtFIco Ailton Jos Morelli UEM Ana Cristina Teodoro da Silva UEM Ana Maria Mauad UFF Annateresa Fabris USP Annie Duprat Universit de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines ureo Busetto Unesp Cludia Musa Fay PUC / RS Luciene Lemkhul UFU Luis Felipe Viel Moreira UEM Luiz Guilherme Sodr Teixeira Fundao Casa de Rui Barbosa / RJ Manoel Dourado Bastos UDESC Maria Cristina Pereira USP Maria Paula Costa UNICENTRO Miriam Nogueira Seraphim Unicamp Miriam Paula Manini UnB Rejane Barreto Jardim UFPEL Renata Senna Garraffone UFPR Solange Lima Ferraz Museu Paulista Vnia Carneiro Carvalho Museu Paulista PRoJEto GRFIco E EDItoRao: Edies HumanidadesIMAGEM DA CAPA: Maurcio Pestana

TIRAGEM: 500 exemplares Dados Internacionais de catalogao-na-Publicao (cIP) Domnios da imagem / Universidade Estadual de Londrina. centro de Letras e cincias Humanas. Departamento de Histria. Laboratrio de Estudos dos Domnios da Imagem na Histria. Programa de Ps-Graduao em Histria Social. Londrina, PR. ano I n. 1 nov. 2007 Semestral ISSN 1982-2766 1. Imagem Estudos Peridicos. 2. Imagem Histria Peridicos. I. Universidade Estadual de Londrina. II. centro de Letras e cincias Humanas. III. Programa de Ps-Graduao em Histria Social. cDU 2 todos os artigos assinados so de inteira responsabilidade de seus autores, no cabendo qualquer responsabilidade legal sobre seu contedo revista. Pede-se permuta Pdese canje On demande change We wask for exchange Si richiedle lo scambio

Sumrio

Imagens da Infncia e do Trabalho Infantil na Imprensa Manauara (1890-1920) ............... 7alba Barbosa Pessoa

La Exposicin Agricola e Industrial del Centenario Colombiano y la Idea de Progreso en 1910 .............................................................................................................................................. 21Alexander Cano Vargas

Os Caminhos da Perfeio Franciscana na Franceschina (1474) ..........................................33angelita Marques Visalli

a Vivncia do Morto: a preservao de monumentos histrico-culturais em runas ..........45anna Maria de Lira Pontes

A Fotografia nas Revistas culturais Latino-americanas: as experincias das revistas S. Paulo (Brasil, 1936) e Rotofoto (Mxico, 1938)....................................................53carlos alberto Sampaio Barbosa

Fotografia: arte ou cincia? .......................................................................................................63Fabiane Muzardo

Imagens das Mulheres na Imprensa Comunista Brasileira (1945/1957) .............................77Juliana Dela torres

coraes na curva do Rio: a imagem do inimigo no western ...............................................97Lcio Reis Filho

Beleza de Moa: nao e publicidade de cosmticos .......................................................... 109Mara Rbia Santanna

Memria e Poltica: o confronto simblico sobre as representaes da Guerra do Paraguai (1865-1870)........................................................................................... 121Maria da conceio Francisca Pires

RESENHa

PARANHOS, K.; LEHMKUHL. L.; PARANHOS, A. (Org.). Histria e Imagens................... 135por Terezinha Oliveira

Imagem da capa

A charge que ilustra a capa da Domnios da Imagem 7, denuncia a condio de parte das pessoas de descendncia africana, 500 anos aps o encontro entre portugueses e habitantes deste espao, hoje denominado Brasil. Esta imagem foi feita por ocasio das comemoraes do Descobrimento do Brasil, em 2000. Trata-se de uma das inmeras charges produzidas por Maurcio Pestana, cartunista brasileiro natural de Santo Andr/SP. Ele iniciou seu trabalho nos anos de 1980 no jornal O Pasquim como assistente de Henfil que o motivou a direcionar seu trabalho para a rea dos Direitos Humanos. Pestana reconhecido como o primeiro e mais importante cartunista negro do Brasil; boa parte de seus trabalhos esto voltados produo de materiais educativos que tratam da discriminao racial e, atualmente, preside o Conselho Editorial da Revista Raa Brasil onde tambm publica suas charges. Sobre a funo e o sentido da sua produo, nada melhor do que o prprio artista para apresent-la:Optei por uma linha polmica provocando risos em situaes em que no se deve rir. Concebi ao meu trabalho uma careta indignada e singularssima da sociedade brasileira. Defini um indiscutvel trao de uma contraposio esttica e poltica ao radiografar a intolerncia, a ao perversa da introjeo da misria, a violncia policial acasalada, a impunidade, o preconceito institucionalizado, a cidadania incompleta, o peso do desemprego e a ausncia dos iguais direitos de opes. Neste contexto, meus cartuns ou tiras e ilustraes passaram a ser, s vezes, palco, outras vezes, palanques e at plpitos profanos. [...] o processo evolutivo do meu trabalho no poderia ser diferente da minha arte, na medida em que a condio poltico existencial torna inseparveis a forma e o contedo, criatura e o criador, a arte e a vida (PEStaNa, 30 anos de arte pela igualdade, 2010).

Edilaine Aparecida de Arajo Edmia Ribeiro

Apresentao

com prazer que apresentamos mais um nmero da revista Domnios da Imagem, publicao esta que se tornou um veculo importante para aqueles que pesquisam, estudam e lem sobre a utilizao das imagens na produo acadmica. Este nmero traz trabalhos com temticas e fontes imagticas diversas de pesquisadores do Brasil e na Colmbia. Encontraremos nas prximas pginas, trabalhos que utilizaram como fonte ilustraes publicadas em peridicos. Entre eles, est o artigo de alba Barbosa Pessoa que problematizou as imagens da infncia no final do sculo XIX e incio do XX, registradas na imprensa de Manaus, assim como o de Juliana Della Torres, que analisou as temticas femininas apresentadas na arte visual de jornais comunistas. Diferente, mas ainda na seara dos veculos impressos de comunicao, esto os trabalhos de Carlos Alberto Sampaio Barbosa, que analisou fotografias de duas revistas culturais da dcada de 1930, a mexicana Rotofoto e a brasileira S. Paulo, tecendo uma comparao entre elas e seu respectivo uso para estruturar formas de comunicao. Em outro artigo, produzido por Mara Rbia SantAnna, encontraremos uma reflexo sobre um anncio de batom publicado na revista O Globo, e os meios utilizados pela publicidade para agenciar modelos de beleza e juventude num contexto de promoo de sentimento de identidade nacional. Seguindo por este mesmo caminho, mas tendo a Revista como meio e a caricatura como objeto, Maria da Conceio Francisca Pires examina em seu trabalho as representaes humorsticas sobre a Guerra do Paraguai produzidas pelo caricaturista italiano ngelo agostini e publicadas nas revistas Diabo Coxo e Cabrio, evidenciando as disputas simblicas e ideolgicas que se efetivaram por meio de suas estampas. Tocar os imaginrios sociais atravs de produes grandiosas o ponto que aproxima os trabalhos Alexander Cano Vargas, Lcio Reis Filho e Angelita Marques Visalli. O primeiro, em seu artigo, analisa os meios utilizados para forjar sentimento de pertencimento nacional e ideia de progresso, perceptveis nos preparativos e eventos realizados durante a celebrao do primeiro centenrio da independncia da Colmbia. O segundo escreve sobre a representao do ndio americano no gnero western, tomando como fonte de pesquisa obras de quatro cineastas norte-americanos, que, com suas produes filmogrficas, contriburam com o fortalecimento do mito americano, qual seja, dos ndios cruis e impiedosos. J Visalli, passando pelos sculos XIII, XIV e XV, desenvolve em seu artigo uma anlise sobre as imagens/ iluminuras que acompanham o texto da Franceschina, uma obra composta no sculo XV por Giacomo oddi, na qual so apresentadas as vitae de Francisco de Assis e outras figuras ilustres da Ordem dos Frades Menores. Reflete sobre a simplicidade das formas e da tcnica destas iluminuras que registram e divulgam experincias, mas tambm buscam despertar uma sensibilidade.

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Tambm encontraremos neste nmero da Revista Domnios, trabalhos que foram ancorados em reflexes de cunho terico e conceitual. Anna Maria de Lira Pontes buscou compreender as runas enquanto um patrimnio histrico-cultural e o debate a partir do pensamento de alguns autores acerca da sua preservao e, Fabiane Muzardo, pautou-se em produes que teorizaram sobre a fotografia para mostrar-nos algumas discusses geradas sobre ela desde seu surgimento no sculo XIX, e a forma como aparecem no discurso historiogrfico. Na sesso de resenhas, Terezinha Oliveira apresenta-nos sua leitura de Histria e Imagens: Textos Visuais e Leituras, obra organizada por Luciene Lehmkuhl e Ktia e Adalberto Paranhos, obra esta que conta com grande nmero de colaboradores(as), todos(as) estudiosos(as) da imagem. Por fim, conclumos esta apresentao, com o desejo de que todos(as) apreciem este stimo nmero da nossa Domnios da Imagem.

Edmia Ribeiro

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Imagens da Infncia e do Trabalho Infantil na Imprensa Manauara (1890-1920)

alba Barbosa PessoaMestre em Histria, pesquisadora do Laboratrio de Histria da Imprensa no amazonas, ligado ao departamento de Histria da Universidade Federal do amazonas.

Resumo

A cidade de Manaus durante o seu primeiro processo de urbanizao passou por transformaes que modificaram sua arquitetura e suas relaes sociais. O comrcio de exportao da borracha lhe propiciou intenso contato com as novas ideias trazidas pela modernidade, impondo mudanas no s arquitetnicas da cidade, bem como nos costumes e hbitos da populao. imprensa coube o importante papel na funo de propagar esse novo modelo de sociedade que se desejava. criana foi dedicada ateno especial nessas redefinies de papis sociais que estava a se estabelecer. Entendendo imagem no apenas como registro fotogrfico, mas tambm como a forma de representar algo, este artigo procura demonstrar as imagens da infncia Manauara no perodo entre 1890 a 1920. Palavras-chave: Infncia; trabalho; imprensa.

AbstRAct

The first period of urbanization in Manaus city has brought change both in architecture and social relations. The business of rubber export brought an intense contact with new ideas of modernity, imposing changes not only architectural but also in customs and habits of people. The press has acted decisively as propagator of this new model of society desired. There was special attention to children in the process of redefinition of social roles that was developing and the press contributed by propagating the desired new model of childhood. Understanding image not only like picture register, but a representation form too. This article research images of childhood manauara between 1890 a 1920. Keywords: Childhood; work; press.

Recebido em: 05/10/2010

aprovado em: 01/11/2010

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Nas ltimas dcadas do sculo XIX, Manaus estava passando pelo seu primeiro processo de urbanizao. o crescente comrcio da borracha possibilitou que esta viesse a se tornar o centro exportador do ltex. Frente a esse novo papel diante do mercado internacional, fazia-se necessrio tornar Manaus uma cidade apta a instalar os novos empreendimentos atrados pelo Capital. Desta forma, a camada dirigente iria colocar em prtica seu projeto de construo de uma nova cidade, onde avenidas largas e prdios suntuosos a deixariam com feies semelhantes s cidades europeias. Contudo, no era somente a arquitetura que deveria ser substituda; os costumes da populao, como assar peixe nas ruas, tomar banho nos igaraps e tantos outros considerados atrasados, deveriam ser extirpados e substitudos de acordo com o modelo burgus. Portanto, o projeto de construo de uma nova cidade implicava um projeto de uma nova sociedade. Para tanto, novas posturas e novos costumes foram impostos, ocasionando um longo processo de excluso da grande maioria da populao, principalmente para os que ficaram margem desse perodo fauststico (DIAS, 1999; PINHEIRO, 1999). a imprensa assume importante papel na funo de propagar esse novo modelo

de sociedade que se desejava. As pginas dos peridicos desse perodo so ricas em informaes, nelas podemos perceber no s a fala da populao excluda, mas principalmente a fala da camada dirigente que orquestrava tal processo. as reportagens, que aparentemente apenas informavam ao leitor sobre as ltimas notcias, camuflavam um discurso muitas vezes imbudo de preconceitos que, preconizados pela elite local, reverberavam em diversos setores da sociedade. Aos jornais desse perodo, uns com mais veemncia e outros com bem menos, atribuiu-se a tarefa de levar populao os valores da civilizao. caberia a eles, a funo de iluminar os caminhos do homem em direo ao progresso. Eles se afirmavam como porta-vozes do processo civilizador que se tentava implantar na cidade de Manaus, propagando a necessidade de a populao adquirir novas formas de viver.2 Esse o caso do jornal intitulado A Voz de Loriga, publicado em Manaus pela Colnia Loriguense, que afirmava ter como programa a regenerao da moralidade, esperando um porvir moral, intelectual e material.3 De forma semelhante, o peridico O Combate propagava em seu edital, intitulado a LUZ, ser papel da Imprensa ensinar o caminho a

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Parte de minha dissertao de Mestrado em Histria intitulada Infncia e Trabalho: dimenses do trabalho infantil na cidade de Manaus (1890-1920). 2010. (Dissertao de Mestrado) UFaM-Manaus, 2010. As prticas tradicionais da populao como cozinhar, estender roupas, brincar e gritar nas ruas, tomar banho nos igaraps, entre outros costumes, passaram a ser vistos como sinnimo de atraso, sendo denunciados constantemente pelos peridicos locais. A frequncia de tais denncias revela a resistncia por parte da populao em adquirir os novos hbitos impostos. A Voz de Loriga: rgo da Colnia Loriguense em Manaus. Manaus, 1 de agosto de 1909. p. 1.

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ser trilhado pelo homem civilizado em direo ao progresso.4 No entanto, a adeso da imprensa a esse projeto no foi homognea, no foi unvoca,diversas folhas locais colocaram-se criticamente frente s mudanas, principalmente denunciando os limites estreitos e os comprometimentos dessa modernidade manauara (PINHEIRo, 2001, p.94).

Dentre os vrios jornais que tomaram para si a misso de livrar a populao menos culta dos costumes primitivos e vcios degradantes, destacamos o Jornal do Commercio. Sua atuao foi emblemtica na divulgao de novos valores, talvez por pertencer a uma classe conservadora e fazer parte da elite que propunha um novo modelo de cidade, tenha se empenhado de forma mais categrica numa campanha higienizadora da cidade. No ano de sua fundao,5 o Jornal do Commercio j comea a pregar novas posturas a favor da moral, cobrando da polcia aes contra o aumento de casas de tolerncia na cidade. Da mesma forma, vir a ser alvo de denncias desse jornal a presena de inmeros cachorros pela cidade que durante a noite, quando a populao se deita para descansar das atividades dirias, tinha o sono perturbado pelo ladrar irritante das matilhas vagabundas. um barulho infernal, em todos os trechos da cidade, em todos os recantos da urbs [...] tudo gane, tudo uiva e ladra, num choro diablico ensurdecedor;6 as buzinas persistentes dos carros que insistiam em acion-las, mesmo sem necessidade; a limpeza do lixo que deveria ser feita durante a noite e no durante o dia, pois4 5 6 7 8

atraia inmeros urubus, incomodando os moradores; a presena de vendedores nas ruas da cidade que, ao exporem suas mercadorias, atrapalham o trnsito se distanciando em muito dos povos de bons costumes;7 contra a presena de portadores de doenas contagiosas, como a lepra, que trabalhavam em alguns comrcios retalhistas, ou andavam nos bondes e frequentavam os botequins junto s pessoas ss. Neste artigo, o autor reconhece que o local existente para confinamento desses doentes no dos mais adequados, mas que ainda assim sejam tomadas providncias para que eles sejam internados, pois era constrangedor tanto para eles, portadores da doena, quanto para o resto da populao.8 Enfim, esses e muitos outros temas foram alvos de campanhas por parte deste jornal, uns com menos frequncia, outros quase que diariamente. Percebe-se que embora se proclamasse paladino das causas populares, defensor da moral e dos bons costumes, tais discursos mascaravam toda uma carga de tenso e preconceito existente na cidade. Seus discursos nos possibilitam entrever a excluso dos segmentos que no se adequavam ao novo modelo de sociedade o qual a modernidade estava a exigir (PINHEIRO, 1999, p.50). Era necessrio sanear a cidade da prostituio, ou pelo menos que ela no ficasse to visvel; tirar os vendedores com suas mercadorias das ruas ficando apenas as casas comerciais; no mostrar, luz do dia, o lixo produzido pela cidade; confinar os doentes de lepra e outras doenas contagiosas. Mais que se mostrar preocupado com a sade dos doentes ou da populao s, o jornal revelava o quanto incomodava a

O Combate, n1. Manaus, 25 de julho 1915. p. 1. Para estudos sobre a trajetria do Jornal do Commercio consultar: ALVES, 2009; SOUZA, 2005. Jornal do Commercio, n 4405. Manaus, 30 de julho de 1916. p. 1 Jornal do Commercio, n4464. Manaus, 29 de setembro de 1916. p. 1 Jornal do Commercio, n4423. Manaus, 19 de agosto de 1916. p. 1.

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presena dessas pessoas nas ruas do centro da cidade, no sendo este um carto de visita adequado a uma cidade que havia se tornado cosmopolita e estava a receber milhares de visitantes. Era uma paisagem que causava mais repugnncia que caridade. Sendo assim, ser nessa imprensa que tentaremos captar as imagens retratadas das crianas na cidade de Manaus (cHaRtIER, 2002). 9 Uma imprensa que embora se afirmasse defensora das causas populares teve papel fundamental no processo de excluso dessa classe. Da mesma forma como na estrutura fsica da cidade, que estava a ser construda, havia lugares distintos para as famlias pobres e para as famlias ricas, os jornais desse perodo, em suas pginas, tambm reservavam lugares distintos para elas. Em Manaus, a exemplo de outras cidades brasileiras, a representao feita da criana ter como pilar o grupo econmico a qual esta faz parte, (PEREIRA, 2006; MOURA, 2003)10, retratando duas imagens distintas: a criana rica e a criana pobre. as crianas ricas passeiam pelas primeiras pginas do jornal. So encontradas nas colunas sociais, sendo motivo de felicitaes pelo seu batizado, pelo seu aniversrio e outras datas festivas. A elas so dirigidos adjetivos carinhosos e todo um tratamento diferenciado, que de imediato nos faz perceber se tratar de filho (a) de algum cidado de

destaque na sociedade local. Isso pode ser ilustrado pela notcia publicada no jornal Dirio de Manos informando que batizouse anteontem a interessante menina..., dileta filha do ilustre sr. capito....11 ou ainda as felicitaes pelo aniversrio do pequeno William, um encanto a florir, uma formosa inteligncia que se abre no lar amantssimo do capito..., estimado escriturrio do Banco do Brasil... conta, hoje, o terceiro aniversario de seu natal.12 Esse tratamento diferenciado tambm pode ser percebido nas notas fnebres, nas quais os filhos das famlias ricas tambm recebem tratamento distinto. A notcia vem sob o ttulo os mortos, sendo composta de adjetivos elogiando as qualidades do morto, bem como evidencia o pesar e a consternao causada pelo falecimento. A elas se fazia referncias tais como o enterro da inocente... ou a pequenita extinta... 13. A fim de propagandear o perfil de criana que se queria para a cidade que estava sendo construda, o Jornal do Commercio passa a publicar em suas pginas domingueiras um lbum infantil destinado a divulgar fotos de crianas menores de sete anos de idade14. Em todos os domingos, a primeira pgina deste jornal estampa cerca de doze a dezenove fotos de crianas nas mais diversas poses. Sentadas em cadeiras, deitadas em almofadas, em p ao lado dos mveis pousam

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Para alm do registro fotogrfico, entendemos por imagem a forma de retratar ou representar algo. E por representao, comungamos com o conceito de Chartier para quem as representaes so apresentaes de uma dada realidade social, no sendo neutras ou estticas, visto atenderem interesses de grupos sociais, tendo sido, portanto, criadas a partir da percepo, da viso de mundo dos grupos que as representam. (cHaRtIER, 2002). Para trabalhos abordando as representaes das crianas na cidade de Florianpolis e em Pernambuco, respectivamente: PEREIRA, 2006; MOURA, 2003. Para Moura, as crianas de Pernambuco eram representadas a partir de vrios signos e normatizaes dependendo da categoria social a qual pertenciam (MoURa, 2003, p. 26). Dirio de Manaus. Manaus, 26 de agosto de 1892. p.1 Jornal do Commercio, n4000. Manaus, 15 de junho de 1915. p.1. Tal tratamento foi encontrado em todo o perodo pesquisado. Quando se tratava da morte de uma pessoa pobre, esta era noticiada sob o ttulo de obiturio e constava apenas do nome do morto, sua origem e a causa da morte. frequente encontrarmos em uma mesma pgina de jornal os dois tipos de notas fnebres. Tal distino foi encontrada em todo o perodo pesquisado. Em nossa pesquisa encontramos o lbum a partir do n 3991 publicado no ms de maio de 1915 at o n 4095 de 19 de setembro de1915.

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graciosamente para a mquina fotogrfica. Os trajes so os mais variados, desde bebs usando apenas meias e sapatinhos, at crianas usando ricos vestidos ornados com bordados, babados, laos e rendas. tais vestimentas so acompanhadas de chapus e sapatos adequados. Os pequerruchos vestidos de marinheiros e fantasiados de palhacinhos, ricamente trajados, tambm

se fazem presentes. A grande maioria das fotos enviadas era de crianas nascidas no estado. Caso fosse suprimida a legenda que identifica o nome dos pais dos referidos menores, ainda assim as aparncias de crianas saudveis, nutridas e bem cuidadas evidenciariam tratar-se de filhos da elite manauara.

lbum Infantil publicado no Jornal do Commercio.

Podemos inferir que estes lbuns retratavam a imagem da criana que se queria, devendo, portanto, ser propagada. Tais crianas de bons costumes e hbitos saudveis que se tornariam bons cidados

do amanh. Entendemos que essa evidncia se concretiza nas notas que antecedem o encerramento da publicao do lbum infantil, nas quais o Jornal do Commercio afirma que o referido lbum11

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aLba barbosa pessoa um meio de se mostrar l por fora, em outros meios, que o amazonas tambm, nas geraes que vo surgindo, possui perfeitas criaes, cheias de todos os traos exigidos pela beleza15.

Tal observao deixa evidente que o lbum tinha como finalidade propagar a imagem da criana moderna, sem os traos da descendncia indgena da regio. E que nesse perodo, uma parte da populao j poderia ser apontada como moderna, dentro dos moldes que a modernidade estava a impor. Imagens de crianas sadias, cheias de graas e encantos no eram divulgadas somente nos jornais, elas tambm se faziam presentes nos lbuns de fotografias da cidade bem como nas revistas de variedades 16. tais lbuns, encomendados pela administrao pblica, tinham como finalidade atrair investimentos do capital nacional e internacional, para tanto, em alguns anos, eles apresentaram

em suas pginas, alm do idioma portugus, os idiomas francs e ingls. Alm de conter o histrico da cidade e o crescimento econmico da regio, suas pginas estavam repletas de imagens mostrando o quo a cidade vinha mudando de feies, com a construo de prdios luxuosos, com a pavimentao do aglomerado urbano, construo de praas e implantaes de lojas comerciais que operavam com produtos importados diretamente da Europa. tais representaes demonstravam que a cidade estava apta aos investimentos estrangeiros e s atraes tursticas. Nas pginas dos referidos lbuns, podemos identificar vrios segmentos sociais. alguns desses segmentos aparecem apenas como transeuntes annimos, outros como coadjuvantes de um plano maior da fotografia. Outros segmentos, no entanto, aparecem como enfoque principal da imagem, dentro destes encontramos as crianas filhas da elite.

nnuario de Manos (1913-1914)

Revista C e L, n 8. (1917)

Revista C e L, n 6. (1917)

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Jornal do Commercio, n 4055. Manaus, 10 de agosto de 1915. p.1. Para a presente pesquisa, utilizamos os seguintes lbuns: lbum da Cidade de Manaus (1848-1948), lbum do Amazonas (19011902), Indicador Ilustrado do Estado do Amazonas (1910), lbum Municipal de Manaus (1929), Annuario de Manaus (1913-1914), Manaus 310 Anos.

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So crianas que portam roupas de seda, rendas, cambraias e cetins. Tais figurinos, pertencentes aos requintes da moda parisiense, demonstram que tais pequenos pertencem a famlias de destaque na sociedade local. Ainda que desconsiderssemos a moblia que compe a foto, visto esta ser, possivelmente, produzida em um estdio fotogrfico, e as legendas que identificam estes menores, pelos seus trajes, no seria difcil inferir a que extrato social pertenciam. Nas revistas de variedades eram retratadas comemorando aniversrio, participando de concursos de robustez ou simplesmente pelo fato de serem filhos de personalidades da cidade. 17 Sempre acompanhadas de tratamentos afetuosos, suas imagens desfilavam pelas pginas das revistas, distribuindo graa e beleza. a anlise de tais imagens de crianas na cidade de Manaus nos leva a acreditar que tais representaes no eram feitas ao acaso, elas visavam preencher uma ausncia. Assim, a divulgao de fotos de crianas limpas, saudveis e bem cuidadas, muito provavelmente poderia ter a inteno de ocultar outro tipo de infncia vivenciada em Manaus, a infncia a qual estava sujeita a criana pobre. Em outras palavras, a representao da criana rica teria o papel de ocultar a imagem da criana pobre, devendo este espao vir a ser ocupado pelas imagens das crianas mais favorecidas. Seria a ausncia da criana que se queria, sendo preenchido por uma minoria de crianas que viviam em condies consideradas ideais. Os espaos reservados pelos jornais s crianas pobres, na cidade de Manaus, difere dos espaos destinados s crianas ricas. ao

contrrio destas, aquelas no so encontradas em colunas sociais, em felicitaes de aniversrios nem em batizados. a elas so legadas as notas policiais, as colunas de queixas e as colunas de chamada para emprego. Em todo o perodo pesquisado, as crianas pobres so notcias em reportagens sobre espancamentos, acidentes de trabalho, furtos e fugas, o que nos leva a afirmar que a imagem da criana pobre retratada na imprensa manauara estava relacionada ao trabalho infantil, ao vcio, aos pequenos delitos, a ociosidade e vadiagem. a vadiagem, nas ltimas dcadas da passagem do sculo XIX para o sculo XX, em todo o Brasil passou a ser motivo de srias preocupaes por parte do Estado. Uma intensa campanha foi deflagrada no sentido de incutir o valor do trabalho na populao brasileira. Esta, saindo do contexto de um sistema escravista, via o trabalho como algo degradante e sem valor (KOWARICK, 1982, p.10). Foi necessrio todo um processo coercitivo, a fim de atrair as camadas populares para o trabalho regular, para o trabalho disciplinado. A ociosidade passou a ser vista como desvio de conduta, sendo imperativo introjetar o amor pelo trabalho. Leis e Cdigos de Posturas passam a combater a vadiagem exigindo uma ocupao produtiva. O trabalho passa a ser visto como a regenerao do homem, passando a ser associado moral e ao carter do cidado. Pautado nesse novo valor de trabalho, na cidade de Manaus, o comrcio da borracha, nas ltimas dcadas do sculo XIX, possibilitou o contato da elite local com

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No caso, trabalhamos especificamente com a Revista C e L de n 6 e n8 do ano de 1917. Tal revista, destinada aos segmentos privilegiados da sociedade local, tratava de assuntos variados tais como notas sociais, humor, poemas e fatos polticos envolvendo personalidades.

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um modelo de vida europeu, que se impunha no s em seus traados arquitetnicos e traados urbanos, mas em toda uma viso de mundo. Eram os ventos da modernidade soprando sobre Manaus, que iria exigir todo um reordenamento dos seus espaos, que iria normatizar a postura de seus cidados, de seus costumes e suas tradies. E no bojo dessas transformaes, a imprensa desempenhou papel fundamental como propagadora dos ideais do novo modelo de sociedade que se estava a aspirar. cdigos de posturas sero criados na tentativa de extirpar a vadiagem, aes policiais tentam colocar tais leis em prtica, porm ser a imprensa que ter o papel mais eficaz nessa empreitada. ela que ir difundir, conforme os seus interesses polticos e econmicos, projetos de interveno social que solidificaro os valores econmicos do grupo dominante (PINHEIRO, 2001, p.17). Assim como em outras cidades do pas, a presena de crianas nas ruas de Manaus passou a ser motivo de preocupao por parte das camadas dirigentes e por parte da imprensa que vo retrat-las como vadias e ociosas e com grandes possibilidades de se tornarem delinquentes. uma pena ver-se algumas pobres creanas que andam por ahi pelas ruas vagabundeando, habituando-se ao vcio, esquecidas do trabalho, sem um officio, sem um meio certo de subsistncia. Muitas vezes formam grupos nos logares de mais movimento da cidade e de ver-se ento o desbragamento da linguagem, o palavreado garoto, a gyria a que j esto acostumando. Um bom correctivo para esses candidatos do vicio certo que seria uma obra digna e merecedora de applausos... avanamos mais: sero alguns criminosos de menos em dias futuro.1818 19 20

o peridico retrata a imagem da criana pobre, sem ocupao e ofcio como criminosos em potencial, necessitando de corretivos por parte da polcia, pois, na sociedade moderna, o trabalho passou a ser visto como regenerao de todos os males da humanidade. No trabalhar era estar exposto a todos os vcios. Essa preocupao dos jornais em sanear as ruas de um segmento social que teimava em no se enquadrar no modelo de sociedade que se queria, corroborava com a postura das autoridades locais. Isso pode ser observado no Cdigo Municipal de 1893, em que ficava proibido correr, dar gritos, chamar palavras que atentassem contra a moralidade nas ruas, praas estradas de Manaus sob pena de multa ou recluso.19 Essa postura pode ser observada no jornal Gazeta da tarde, por meio da notcia que ir comparar as crianas pobres que perambulavam pelas ruas a ces sem donos, que ficavam at altas horas da noite a fazerem barulhos com latas, chamando obscenidades e riscando com giz e carvo as portas e caladas dos moradores. Como soluo, o jornal indica o recurso polcia.20 tal imagem tambm pode ser percebida no Jornal do Commercio.Chegou a vez dos garotos, dos viciados em miniaturas, dos que no recuam pratica da mais torpe aco. Juntam-se, como os ces, e vo pelas praas e pelas ruas cata de uma festa, ou de uma reunio qualquer [...] O molecrio, nessas excurses arrasta em sua companhia innumeras creanas que pelo contacto, vo assimilando e desenvolvendo tais immundices. para isso que os particulares e as autoridades devem olhar energicamente, para que as creanas educadas pela religio do lar, no fiquem pervertida com a leitura, que

Commercio do Amazonas, n 404. Manaus, 24 de fevereiro de 1899, p.1. cdigo Municipal de 1893. Ofensas a moral pblica. Artigo 109, captulo VII, de 23 de maio de 1893. Gazeta da Tarde, n 832. Manaus, 9 de junho de 1916. p. 2.

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imagens Da infncia e Do TrabaLho infanTiL na imprensa manauara (1890-1920) da cartilha do desrespeito, da zombaria e da immoralidade. 21

A reportagem demonstra que h total intolerncia por parte dos dois peridicos em relao s crianas pobres que teimam em transitar pelas ruas de Manaus. os adjetivos depreciativos que os jornais utilizam demonstram a ameaa com que eram vistas. Tal notcia no as acusa de furto ou algo semelhante, mas deixam evidente a repulsa que causam. O fato de no seguirem as normas estabelecidas, de no trabalharem, no seguirem as regras consideradas de acordo com a moral alm de no estarem no domnio familiar as tornava seres execrveis, alvos da contnua preocupao em corrigir defeitos e extirpar vcios.22 Para o jornal, a criana que estivesse sob o domnio familiar poderia seguir as normas de boa conduta para com a famlia e sociedade. Em outras palavras, haveria a maior possibilidade de vir a tornar-se um cidado de bem voltado para os valores do trabalho. Enquanto que as crianas vivendo a perambular pelas ruas, no iriam adquirir os preceitos da moral, estando assim sujeitas aos vcios que a rua oferecia. No era levado em considerao o fato de que essas crianas tinham, assim como a maior parte da populao pobre, uma relao particular com a rua. a rua para eles estava para alm de uma via de trnsito, sendo o lugar onde criavam laos mais slidos na busca pela sobrevivncia. O ficar na rua tambm pode ser visto como uma forma de estas crianas negarem regras que lhes estavam sendo impostas, uma no aceitao do enquadramento social.

Essa imagem relacionando a criana com a vadiagem tambm foi frequente em outras cidades do pas. Em Florianpolis, segundo Juliana Sard (2005), diariamente os peridicos noticiavam com muita frequncia a presena de crianas e jovens que se reuniam nas ruas (SaRD, 2005, p.93). Em importante estudo sobre a vadiagem na Bahia, Walter Fraga Filho afirma que um jornal local denunciava os meninos que frequentemente estavam porta da igreja fazendo deboches com os transeuntes (FILHo, 1989, p.114). Na cidade de So Paulo, as autoridades policiais tambm estavam preocupadas com as crianas nas ruas. Heloisa de Faria cruz aponta que, desde a virada do sculo XIX para o sculo XX, o elevado ndice de crianas maltrapilhas mendigando pela cidade era motivo de reunies entre as autoridades policiais (cRUZ, 1991, p.66). E ainda para So Paulo, a pesquisa de Gislane campos de azevedo destaca que at mesmo o ajuntamento de crianas ou brincadeiras de rua eram tidos como perigosos (aZEVEDo, 1995, p.62). Na cidade de Manaus, destoando dos grandes jornais que quase sempre representavam as vozes do poder, os pequenos jornais como O Papagaio demonstravam um olhar diferenciado em relao s crianas como podemos observar pelo poema.Nunca vistes pellas ruas das sonoras capitaes, enguedelhados, e aos ais, pequeninos de ps nus... as carnes transidas nuas, Nunca vistes os passarinhos, que choram longe da luz? o Homens do mundo novo, So elles filhos do povo.23

21 22 23

Jornal do Commercio, n4415. Manaus, 10 de agosto de 1916. p. 1. Jornal do Commercio, n441. Manaus, 07 de agosto de 1916, p.1 e n4419 de 15 de agosto de 1916, p.1. O Papagaio, n 2. Manaus, 13 de agosto de 1899. Parte da poesia sem autoria, Baladas dos Filhos do Povo.

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Sob esta tica, os menores vivem a vagar pelas ruas, descalos e maltrapilhos no por vadiagem, mas sim por serem levados pela pobreza. Deixadas ao abandono pelo Estado, eles levam uma vida sofrida. Os homens com suas ideias de modernidade, portadores de projetos de cidade e sociedade, referenciados pelo poema como homens do mundo novo, no percebem que os filhos das famlias pobres esto sendo excludos em tal processo. Entretanto, no apenas nos jornais que as imagens de crianas pobres podem ser encontradas. Elas tambm esto presentes em revistas de variedades e nos lbuns de fotografias da cidade. Diferente do observado nas imagens dos filhos das famlias mais favorecidas, a criana pobre no o foco principal da fotografia. Ela aparece como coadjuvante ou parte do cenrio que compe a fotografia. Da mesma forma, nos lbuns da cidade, as crianas pobres no so fotografadas em estdios, elas aparecem como transeuntes ou trabalhadores annimos cujos rostos no eram o alvo principal das mquinas fotogrficas. Tais impressos nos revelam a sua presena nos mais variados

cantos da cidade. Caminhando pelas ruas da cidade a carregar doces, jornais ou outra mercadoria. Muitas vezes descalos, o que pode ter relao com o estado de pobreza em que viviam, como tambm, a um antigo hbito da populao mais humilde.24 Seus trajes aparentam ser de material grosseiro e sem aprimoramento na sua confeco. Alguns com a perna da cala comprida rasgada, outros com camisas por dentro das calas, usando suspensrios, parecendo um pequeno adulto. tambm podem ser vistos ora encostados aos muros das lojas de confeces, ora pousando junto ao corpo de funcionrios a frente ou dentro dos estabelecimentos comerciais; trabalhando em hotis, grficas ou servindo bebidas em bares e cafs, ou ainda com vassoura nas mos. Em frente a moinhos, alfaiatarias, docerias e outros estabelecimentos. Seus tamanhos so variados, muitos com as feies de crianas entre seis a oito anos. Tais imagens no eram exclusivas da cidade de Manaus. No municpio de Itacoatiara, os menores tambm eram retratados nas fotografias de forma semelhante.25

Indicador Ilustrado do Estado do amazonas 191024

25

andar descalo era um costume que a populao pobre manteve por muito tempo, sendo que a partir dos processos de urbanizao esse hbito passou a ser visto como primitivo pelos segmentos sociais que passaram a adotar o estilo de vida burgus. Hoje no raro encontrar nos bairros mais afastados moradores que saem descalos s ruas. Indicador Illustrado do Estado do Amazonas - 1910.

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imagens Da infncia e Do TrabaLho infanTiL na imprensa manauara (1890-1920)

A foto anterior tinha como finalidade divulgar o estabelecimento comercial que trabalhava com confeces de palets. A presena de crianas na fotografia deve-se ao fato dessas provavelmente trabalharem no estabelecimento ou serem vendedores de rua. No canto esquerdo da foto, uma criana bem pequena que provavelmente aguarda para fazer algum mandado. As imagens da criana pobre no perodo pesquisado no apresentam mudanas

muito significativas. Enquanto percebemos que, com o passar dos anos, a cidade vai mudando de feies com a construo de avenidas e prdios elegantes, as imagens das crianas pobres retratadas so muito semelhantes entre si, o que evidencia um descompasso entre o crescimento econmico da cidade e as condies de vida da maior parte da populao, como pode ser observado nas imagens abaixo referente aos anos de 1893 e1910.

Estabelecimentos comerciais prximos a Praa dos Remdios (1893). lbum de Manaus- 1848/1948.

Crianas entre os adultos no trabalho avulso. Indicador Ilustrado do Estado do amazonas 1910

como podemos observar na imagem esquerda, a criana provavelmente aguarda sentada a chegada de novos fregueses para atender, no muito diferente da imagem ao lado, em que percebemos crianas com menos idade ainda a trabalhar no caf, enquanto outras possivelmente exeram outras atividades nas ruas. comparando as duas fotos, embora se trate de lugares diferentes, podemos perceber a transformao pela qual a estrutura fsica da cidade est passando, o que, contudo, parece no refletir nas condies de vida desses menores.

as crianas pobres tambm esto presentes nas revistas, contudo esses menores podem ser percebidos apenas nas pginas destinadas a propagandas comerciais. 26 assim como nos lbuns, eles so personagens annimos aparecendo prximos fbrica de gelo, tabacarias e outras lojas. Geralmente esto entre adultos parecendo compor o quadro de funcionrios dos referidos estabelecimentos. Chama ateno, a quase ausncia de meninas pobres nessas imagens. S as encontramos em ambiente familiar, em

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Revista C e L n8, de 12 de maio de 1917 e n9, de 26 de maio de 1917.

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imagens que podem indicar estar a trabalhar em casa de famlias ricas, o que era frequente nesse perodo. O que, no entanto, no significa que o espao domstico fosse o nico espao social ocupado por elas. Os jornais desse perodo revelam sua presena nas fbricas e no comrcio, exercendo atividades diversas tais como empacotadora de cigarros, manuseio de mquinas registradoras, atendente em botequins e outras mais (PESSoa, 2010). Para finalizar, apresentamos a imagem que uma criana rica possivelmente fazia sobre a criana pobre. Trata-se de uma historinha publicada no jornal Pontos nos ii, em uma seo que premiava as historietas enviadas por crianas com at quatorze anos de idade. Ao anunciar a referida seo, o jornal publica uma pequena histria produzida por um menino de oito anos de idade, filho de um conhecido comerciante local. Nas breves linhas, essa criana expe a sua percepo sobre a criana pobre.Era uma vez um menino que todo santo dia sahia com sua irmanzinha que tanto amava. Ella levava uma cestinha com flores para o mercado, e elle um balainho com passarinhos que caava, e quando vendiam tudo iam para a casa levar o dinheiro a sua mi, e que coitada estava, sempre doente. [...] seus dois filhinhos se esforavam para o seu sustento e de sua mi, tarde sahiam cada um para o seu lado; o menino ia caar alguns pssaros, e a menina com seu terado capinava um roado que havia prximo e como recompensa de seu trabalho lhe davam umas moedinhas e depois apanhava umas flores que havia na mata e ia vender cidade no dia seguinte, e l iam todos os dias levar ao mercado suas mercadorias [...].27

Essa era a vida diria dessas duas personagens, que segundo nosso pequeno autor viveram felizes para sempre. a imagem da criana pobre retratada nessa pequena e inocente histria de menores contribuindo para o sustento da famlia. Para tanto, eles utilizavam os mais variados recursos como venda em mercados e outros expedientes. Tal percepo parece ter se formado a partir de algo que parecia comum aos seus olhos, ou seja, famlias pobres que precisavam recorrer ajuda dos filhos pequenos para garantir o sustento. crianas que passavam o dia nas ruas a fim de conseguir uns trocados para a sua sobrevivncia. Enquanto esse pequeno escritor podia se dedicar produo de histria para enviar as sees infantis dos jornais, o que s seria possvel se possusse o conhecimento da leitura e da escrita, o que muito provvel, visto ser filho de comerciante de destaque, as crianas pobres passavam o dia a criar estratgias de sobrevivncia a fim de garantir o sustento da famlia. A anlise das diversas fontes relacionadas s imagens de criana por ns, encontradas na imprensa da cidade de Manaus, leva-nos a inferir que a excluso a que as famlias pobres estavam submetidas estava para alm dos espaos geogrficos, chegando a atingir todo o seu modo de viver. Sendo assim, a Manaus que estava sendo construda reservava s crianas dessas famlias um espao diferenciado do espao destinado aos filhos da elite. Enquanto a estes ltimos estavam reservados os espaos privilegiados da cidade, s crianas pobres estavam destinados os espaos dos mundos do trabalho.

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Pontos nos ii, n5. Manaus, 11 de agosto de 1906, p.3

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imagens Da infncia e Do TrabaLho infanTiL na imprensa manauara (1890-1920)

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La Exposicin Agricola e Industrial del Centenario Colombiano y la Idea de Progreso en 1910Alexander Cano VargasGraduado en Historia por la Universidad Nacional de Colombia (2003), magster en Historia de la Universidad Nacional de colombia (2007), candidato a doctor em Historia de la Universidad Nacional de colombia (2009). Desde 2008 se ha desempeado como profesor de Historia de Colombia V y actualmente dicta el curso Siglo XX colombiano en la Universidad Nacional de Colombia, sede Medelln.Tiene experincia como ponente y conferencista especializado en la historia poltica y econmica colombiana de la primera mitad del siglo XX. Ha publicado artculos en varias revistas nacionales e internacionales como Historias, Semana y actualmente en Dominios da imagem.

Resumen

El 20 de julio de 1910, Colombia celebr su primer siglo como pas soberano. El Estado, la Iglesia, la prensa, los partidos y organizaciones e instituciones gubernamentales y privadas se dieron a la tarea de hacer de esta fecha uno de los das ms memorables en la historia del pas. Un sinnmero de actos conmemorativos, donde sobresali la exposicin Agrcola e Industrial del Centenario, fueron realizados a lo largo y ancho del territorio colombiano. Comisiones organizadoras de carcter nacional, regional y local se encargaron de preparar hasta el ms mnimo detalle. Con este artculo, se busca analizar los preparativos y eventos realizados durante la celebracin del primer centenario de la independencia nacional, para mostrar las lgicas subyacentes en ella, su significacin, sus contenidos simblicos orientados a recrear una idea de progreso y de forjar una pertenencia nacional. Palabras clave: Colombia; celebracin; Centenario; Independencia; comisiones; exposicin; simblicos; forjar; progreso; pertenencia; nacional.

AbstRAct

On July 20, 1910, Colombia held their first century as a sovereign country. The State, the Catholic Church, the press, the political parties and organizations and governmental and private institutions were given the task of making this date one of the most memorable days in the history of the country. A number of commemorative events, where he excelled the Agricultural exhibition and Industrial of the Centenary, were made to the length and breadth of the Colombian territory. Organizing committees of national character, regional and local were commissioned to prepare to the smallest detail. This article is intended to discuss preparations and events during the celebration of the Centenary of national Independence, to show the underlying logic in it, its significance, its symbolic content designed to recreate an idea of progress and forging a national affiliation. Keywords: Colombia; celebration; Centenary; Independence; commissions; exposure; symbolic; forge; progress; membership; national.

Recebido em: 10/06/2010

aprovado em: 05/07/2010

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aLexanDer cano Vargas

La Exposicin Agricola e Industrial del Centenario Colombiano y la Idea de Progreso en 1910

La celebracin del 20 de Julio como el da de la Independencia nacional en colombia, tuvo origen en 1811 durante un acto pblico de agradecimiento realizado a la patrona catlica de los liberados, Santa Librada, cuya imagen y advocacin religiosa exista en Bogot, la capital de colombia, desde el perodo de la Colonia, cuando el territorio colombiano haca parte de los dominios de la corona espaola. La conmemoracin de la Independencia nacional el 20 de julio de cada ao se consolid en Bogot durante las dcadas siguientes. Sin embargo, dicha fecha se pondra en tela de juicio y vera debilitada su tradicin durante el siglo XIX, dado que varias ciudades provinciales reclamaron otras fechas conmemorativas. Por ejemplo, Pamplona reclam el 4 de julio y Cartagena el 11 de noviembre. Para contrarrestar este conflicto por el reconocimiento de la fundacin de la repblica, el Estado colombiano cre la ley del 8 de mayo de 1873, sancionada por el presidente Manuel Murillo toro, quien declar el 20 de julio como da de fiesta patritica para toda la repblica. Desde entonces, se impuso la celebracin del 20 de julio en todos los poblados del pas. Dicha fiesta patritica, cumplir un papel destacado en la formacin del sentimiento de identidad y de pertenencia nacional entre los colombianos.

El 20 de julio de 1910,1 siguiendo con la tradicin del siglo XIX, Colombia celebr su primer siglo como pas soberano. En esta ocasin el Estado, la Iglesia, la prensa, los partidos y muchas organizaciones e instituciones gubernamentales y privadas se dieron a la tarea de hacer de esta fecha uno de los das ms memorables en la historia del pas. Un sinnmero de actos conmemorativos fueron organizados a lo largo y ancho del territorio nacional. A diferencia de las celebraciones realizadas durante el siglo XIX, se establecieron comisiones organizadoras de carcter nacional, regional y local las cuales se encargaran de preparar, con mucha antelacin, hasta el ms mnimo detalle. De esta manera, en los centros urbanos y en las zonas rurales, no se ahorr esfuerzo alguno para conmemorar el centenario de la emancipacin colombiana. En el marco de los festejos del Centenario nacional, se realizaron diferentes actos conmemorativos como la inauguracin de estatuas, bustos y placas a los prceres de la Independencia colombiana, entre los cuales se destacan Simn Bolvar y Francisco de Paula Santander como precursores de la libertad y padres de la patria. Dentro de los actos de celebracin tambin sobresale la exposicin Agrcola e Industrial del Centenario, la cual se

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Es bueno anotar que si bien la conmemoracin centenaria de 1910 se realiz durante el gobierno de Ramn Gonzlez Valencia, fue en la presidencia de Rafael Reyes que se decret la Ley 39 de 1907 la cual orden celebrar solemnemente en toda la repblica el centenario de la independencia, vase Primer centenario de la independencia de Colombia 1810-1910, Bogot, Escuela Tipogrfica Salesiana, 1911, p.I. En adelante Centenario

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La exposicin agricoLa e inDusTriaL DeL cenTenario coLombiano y La iDea De progreso en 1910

convirti en un acontecimiento excepcional por su convocatoria nacional. a continuacin, plantearemos una mirada a dicho evento ferial para mostrar su importancia dentro de la fiesta de identidad nacional referida.

La exposicin agricola e industrial del centenarioA principios del siglo XX la idea progreso, que estaba acompaada de avances tcnicos y de infraestructura, determinaba el horizonte de Colombia como pas latinoamericano que deseaba superar su condicin marginal. Para mostrar estos avances el Estado, a travs de la comisin Nacional del centenario, construy en Bogot el parque de la Independencia, lugar que sirvi de escenario para la Exposicin Agrcola e Industrial de 1910. En dicho parque, fueron construidos los pabellones de Bellas Artes, de la Msica, Agrcola, de la Industria, de las Mquinas, Egipcio y Japons, adems del kiosco de la Luz, el Bolvar ecuestre de Frmiet y el monumento a los Hroes Annimos o Ignotos. Los diferentes pabellones de la Exposicin reunieron una muestra de animales, mquinas, objetos artesanales, industriales y artsticos que pretenda representar las capacidades industriales y culturales del pas. Los integrantes de la comisin del Centenario tenan en comn su origen social ya que hacan parte de las familias ms adineradas e influyentes de la capital de Colombia. Muchos haban estudiado en el exterior y trabajaban en puestos pblicos importantes, adems hacan parte de la elite poltica gobernante del pas. Los miembros de dicha Comisin, siguiendo modelos forneos, idealizaron la forma como se representara lo nacional durante las dos semanas que dur2 3

la conmemoracin. Sin embargo, a pesar de lo elitista que result la seleccin de sus integrantes, se encomend a esta comisin Nacional del Centenario la coordinacin de la exposicin Agrcola e Industrial que tuvo lugar en terrenos del recin inaugurado parque de la Independencia. De esta manera, el sbado 23 de julio de 1910 en Bogot, el presidente de la repblica Ramn Gonzlez Valencia y su comitiva ocuparon la parte alta del Pabelln de la Industria para disponerse a inaugurar la exposicin Agrcola e Industrial del Centenario, junto a l, Carlos Michelsen, presidente de la Junta organizadora de dicho evento ferial, pronunci un discurso de apertura, en el que denunci al elemento de la vida social que, en su opinin, siempre se haba opuesto al progreso material de la nacin colombiana:[...] Para realizar completo progreso necesitamos nicamente un elemento que, durante el siglo de independencia, no nos ha sido posible adquirir, y cuya privacin es causa de atraso y miseria, me refiero a la falta de seguridad, proveniente de constantes luchas polticas.2

Este discurso se caracteriz por su vehemente reclamo contra la inseguridad pblica permanente, la cual era producto de la constante confrontacin verbal bipartidista por la disputa sobre el control estatal del pas. En un discurso de respuesta aceptando la crtica formulada, Ramn Gonzles Valencia, presidente de la repblica en ese entonces, expres lo siguiente:[...] encierra un reproche por haber malgastado tantos y tan preciosos elementos, una amonestacin severa para que cambiemos de rumbo. Hemos visto impasibles rodar al abismo de lo que fue, cien aos de vida.3

Centenario..., p. 210. Centenario..., p. 211.

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Esta autocrtica hecha por el primer mandatario del pas, lder del partido conservador, es una muestra del impacto poltico que trajo a Colombia tanto la guerra civil de los Mil Das como la separacin de Panam. No obstante, como presidente de la repblica, Ramn Gonzlez Valencia agreg palabras de optimismo para el porvenir de Colombia que segn l inexorablemente lo conduciran hacia el progreso. Los pabellones de la industria y de las mquinas eran una prueba de la confianza que renaca en el progreso material que sacara al pas del atraso en que se encontraba. La idea de progreso se ve representada en esta fotografa (vese imagen 1) que da cuenta de la majestuosidad del pabelln de las Mquinas, en el cual se expuso lo mejor

de la produccin fabril nacional . Dicho edificio, heredero arquitectnico de los pabellones colombianos en las exposiciones universales de Pars en 1889 y de Chicago en 1893, contaba con una nave central y dos laterales aparentemente construidas en hierro pero donde la madera fue el material predominante. La madera como tal era de fcil adquisicin y ensamblaje lo cual permiti una construccin rpida de dicha edificacin. Sin embargo, a pesar de la corta durabilidad de los materiales utilizados en su ensamblaje, el pabelln de las Mquinas contaba con dos pisos donde un par de relojes para catedral ubicados en la parte anterior de sus naves laterales le daban un toque de sofisticacin. todo esto, gener admiracin en los visitantes locales y forneos.

Imagen 1. Tomado de Coleccin particular. Pabelln de las Mquinas. Vista frontal. Ca. 1910. Fotografa sobre papel

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La exposicin agricoLa e inDusTriaL DeL cenTenario coLombiano y La iDea De progreso en 1910

De esta manera, tanto el pabelln de la Industria como el de las Mquinas eran toda una revelacin de productos y de riquezas nacionales; unas riquezas que demostraban que el frtil territorio colombiano nada tena que envidiarle a cualquier otro pas. todo estaba dispuesto y organizado en cada una de las galeras. Dentro de los objetos artesanales e industriales ms representativos del pabelln de las Mquinas estaban: relojes de Antioquia, despulpadoras de caf, alambiques, mquinas para hacer fideos, estufas, herraduras, una mquina piladora y pulidora de caf, otra para aserrar madera, motores de vapor, relojes elctricos, un arado para sacar papas, balanzas, columnas, pilares de hierro y alcohol, las aguas gaseosas de Posada y Tobn de Medelln. Mientras que en el pabelln de la Industria se destacaban: los tejidos producidos por las fbricas de Samac y Medelln, paos, driles, tapices, telas, productos de cabuya, maderas, zapatos, velas, sombreros de Medelln, los baldosines Smper de Bogot, fsforos, molinos de trigo, loceras de Bogot (Etruria y Faenza) y antioquia (Corona), petrleo del seor Virgilio Barco, gasolina, bencina, lmparas, agua de quina para el pelo, yodo incoloro, botiquines de Medelln, jarabes, sal de frutas, cosmticos, muestras de caf, abonos artificiales, muebles estilo Luis XV, mazorcas de cacao, peras, ciruelas, harinas, pastas y galletas de los molinos nacionales, minerales, vidrios, fotografas y cigarros de Bucaramanga. Lo expuesto ante el pblico en estos pabellones llenaba de satisfaccin al presidente Gonzlez Valencia. Poda as, al declarar abierta la Exposicin Agrcola e Industrial del centenario, mencionar dos consideraciones que llenaban de jbilo su espritu:

La primera emana de la magnitud del xito alcanzado: si se tiene en cuenta la postracin econmica del pas, resulta digno de todo encomio y profundamente alentador el esfuerzo que se ha hecho, que casi puede calificarse de gigantesco. La segunda nace de la confianza ntima que tengo en el impulso que de hoy en adelante va a darse en el pas a todo lo que signifique progreso y bienestar.4

El ideal de progreso que se hizo presente en los innumerables discursos se vio reflejado en la adecuacin y construccin de los pabellones en el parque de la Independencia. stos constituan la prueba por excelencia del avance industrial y arquitectnico que estaba alcanzando la joven nacin colombiana. Enrique Olaya Herrera, destacado poltico liberal y opositor del gobierno, asombrado con el parque, anot lo siguiente:La obra ms digna de aplauso, realizada para el centenario en el breve trmino de cuatro meses, ha sido el arreglo del parque de la Independencia y la construccin all de cuatro slidos y artsticos edificios destinados para la Exposicin Industrial y la de Bellas Artes. Estos pabellones por su elegancia arquitectnica, por su magnitud, por su apropiacin al objeto a que se le destina, dan idea muy ventajosa de los adelantos que en materia de construccin hemos alcanzado. Sin hiprbole puede decirse que el parque presenta un aspecto europeo.5

La apertura de la Exposicin fue cerrada por la intervencin de uno de los principales actores de la organizacin del centenario, Lorenzo Marroqun, el alma de la Comisin Nacional. Su alocucin hizo referencia al progreso nacional que se esperaba para el segundo siglo de vida republicana:La Exposicin de 1910 est probando que la raza colombiana, la raza nueva, la raza neolatina es capaz de usar el hierro en ambas formas: es apta para el combate y apta para

4 5

Centenario..., p. 211. Centenario..., p. 27.

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aLexanDer cano Vargas la industria, capaz de conquistar la libertad por la espada y la naturaleza por el arado. Esta ostentacin de fuerza creadora es una revelacin: la revelacin de la intensidad de la vida nacional, de la direccin que deben tomar nuestras energas, el faro que anuncia el puerto del bienestar y del reposo.6

Con el optimismo de dicha alocucin, se cerr el primer da del evento ferial que tuvo lugar en el parque de la Independencia. Sitio donde fue expuesto lo mejor de la produccin artesanal e industrial del pas. Dentro de esta solemne conmemoracin, el parque de la Independencia tambin sirvi de escenario para la inauguracin de varios monumentos destinados a perpetuar la memoria de los hroes de la emancipacin nacional. Monumentos del Centenario en el parque de la Independencia La inauguracin de cada monumento conmemorativo del centenario en el parque de lndependencia estuvo acompaada de una gran fiesta cvica y patritica, donde se utilizaron smbolos e conos referentes a la identidad colombiana y a la consolidacin de su imagen como nacin bolivariana. Fue as como el escudo y la bandera nacional, entre otros, con sus alegoras7 a la libertad, el orden, la tenacidad y la riqueza del pas, sumados al culto rendido al Libertador8 y a todos los hroes de la independencia, se convirtieron en un referente de lo nacional. Adems, otros actos de ndole religiosa, como es el caso de las misas fueron la constante dentro de los actos pblicos conmemorativos del centenario.

La implementacin de toda esta simbologa, me refiero a la bandera y a todas las placas y lugares que fueron bautizados con el nombre de prceres o de batallas de la independencia, pretenda crear un sentimiento de propiedad y, por ende, de adhesin y de reconocimiento en los nacionales de este pas. Parafraseando al historiador Eric Hobsbawm diramos que Colombia, en especial la capital de la repblica, experimentaron una especie de estatuomana 9 o produccin masiva de monumentos pblicos, entre los que sobresalen, la inauguracin en Bogot del parque de la Independencia con la exposicin Agrcola e Industrial del Centenario. Obras similares, aunque en menor escala, se inauguraron a lo largo y ancho del territorio nacional. La inauguracin de estos monumentos pretenda honrar y preservar la memoria de algunos hroes de la Independencia que hasta entonces estaban condenados al olvido unas veces por desidia gubernamental y otras veces por sectarismo poltico como es el caso de los generales Antonio Nario, Francisco Jos de caldas y antonio Jos de Sucre, ya que su imagen fue reconfigurada al pasar de simples promotores de la Independencia a verdaderos hroes de la gesta libertadora, merecedores incluso de aparecer como tales en el manual de Historia colombiana de Henao y Arrubla con el cual fueron educadas varias generaciones de colombianos. con la expansin de los centros urbanos, dichas construcciones conmemorativas fueron trasladadas de su lugar original lo cual gener deterioro no slo en su estructura sino tambin en la apropiacin y representacin

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Centenario..., p. 214. Las alegoras pueden ser definidas como combinaciones de personificaciones o smbolos, o ambas cosas a la vez, tomado de Panofsky Erwin, Estudios sobre iconologa, Madrid, alianza, 1980, p.16. La imagen de Simn Bolvar en cualquier estandarte, se constitua en la representacin de un ser emancipado y libertario. Hobsbawm Eric and terence Ranger, The invention of tradition, cambridge, cambridge University Press, 1983, p.78.

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que de ellas se tena por parte de los ciudadanos. Dentro de los monumentos inaugurados en el parque que el Estado colombiano abri en Bogot con motivo del primer centenario de la Independencia sobresalen, entre otros, la estatua ecuestre de Bolvar 10. Fue as como el 15 de julio de 1910, en el acto de inauguracin, el general Ramn Gonzlez Valencia, quien ejerca entonces la presidencia de la repblica, pronunci un extenso discurso con motivo de dicho evento. La estatua, obra del escultor Frmiet, reposa sobre un pedestal de piedra, en cuyo frente se ve una corona de laurel en bronce y al pie la ms sencilla de las inscripciones, que en dos palabras resumen la vida del hroe: Fiat Patria! (Hgase la patria!) en seguida se lee: Bolvar libertador 1783-1830. En las fotografas tomadas durante dicho acto inaugural, las personas de origen humilde son fcilmente diferenciables, no slo por el lugar que ocupan en la celebracin

sino tambin por caractersticas como su vestuario. Por ejemplo, en dos fotografas que se tomaron el mismo da de la inauguracin de la estatua ecuestre del Libertador es evidente un gran contraste social. En la primera de ellas, tomada desde la parte central del parque es posible ver (vese imagen 2) a las elites sociales vestidas con finos sombreros de copa y trajes de pao quienes se encuentran cerca del presidente de la Repblica, encargado del discurso, dicha imagen fue publicada en las memorias oficiales del Centenario que aqu reproducimos. Mientras que en la segunda fotografa (vese imagen 3), tomada desde un ngulo lateral pueden distinguirse las clases populares, quienes rodeaban a la elite social y cuyos vestuarios eran muy distintos: los hombres con ruanas de lana y sombreros de fique y las mujeres con poncho y faldones grandes. As, en pleno evento ferial, durante la inauguracin de la estatua ecuestre de Bolvar, se mostr una idea amaada de lo que se quera hacer ver como lo nacional lo cual esta representado en estas dos fotografas.11

Imagen 2. Tomado de Coleccin particular. Inauguracin de la estatua ecuestre de Bolvar. Vista frontal. Ca. 1910. Fotografa sobre papel10

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La Comisin Nacional del Centenario contrat al escultor francs Emmanuel Frmiet para fabricar la estatua en bronce del Bolvar ecuestre, tomado de Archivo General de la Nacin (AGN), Bogot-Colombia, Seccin Ministerio de Gobierno, Fondo 1 (Negocios Generales) Festejos Patrios, Archivo de la Comisin Nacional del Centenario de la Independencia de 1910, Caja 001, Carpeta 001, f. 18. Centenario, p. 293.

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Imagen 3. Tomado de Coleccin particular. Inauguracin de la estatua ecuestre de Bolvar. Vista lateral. Ca. 1910. Fotografa sobre papel

Del monumento como tal, incluso ms que la imagen de Bolvar, sobresale la figura del caballo ya que hasta entonces el francs Emmanuel Frmiet se haba destacado artsticamente como experto escultor de figuras de animales. De esta manera, la estatua Ecuestre de Bolvar recrea al Libertador colombiano en el campo de batalla esgrimiendo su espada al infinito como smbolo del coraje libertario encima de su valiente equino. Dicho binomio, jinete y caballo, descansan sobre un pedestal de mrmol importado desde Europa al igual que el resto de la escultura. Esta primera estatua Ecuestre de Bolvar en Bogot, luego sera tomada como referente en muchas ciudades provinciales de colombia al punto que actualmente varios parques del pas cuentan con una replica de dicho monumento. Incluso, dichos parques se convirtieron en lugares de congregacin social y cultural para las clases populares. actualmente la estatua Ecuestre fundida por Frmiet se encuentra en el monumento

a Los Hroes al norte de Bogot, y fue trasladada de su lugar original en el parque de la Independencia por motivos de la ampliacin vial de la carrera sptima y la construccin de los puentes de la calle 26. otro de los monumentos inaugurados en el parque de la Independencia con motivo del Centenario fue el denominado kiosco de a Luz inaugurado el 28 de julio de 1910. El evento estuvo presidido por alberto Smper, representante y copropietario de la Compaa de Energa, el cual, al momento de la inauguracin, afirm lo siguiente:No tiene otro merito que de haber sido edificado con los productos de esa fbrica y de ser la primera construccin que en cemento armado se hace entre nosotros.12

Smper tambin era copropietario de la compaa de cementos Smper Hermanos la cual don dicha obra a Bogot. De esta manera, el pequeo kiosco de la Luz, se convirti en uno de los principales referentes de la exposicin Agrcola e Industrial

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Centenario, p.341.

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del centenario ya que representaba dos de los principales avances industriales de la poca en el pas, por un lado, la aparicin de la energa elctrica como fuente de luz y generadora de potencia para la incipiente industria nacional y, por el otro, el cemento como elemento dinamizador de la construccin en colombia. Esta fotografa (vase imagen 4) nos muestra el buen estado arquitectnico en que se encuentra actualmente el kiosco de la Luz en Bogot, cuya edificacin posee un estilo neoclsico basado en las construcciones ornamentales de la Roma clsica. Por ende, es una construccin inspirada en lo europeo que

para la poca se constitua en una muestra de civilizacin y cultura lo suficientemente atractiva para llevarse la atencin de propios y extraos. Cuando se inaugur el kiosco de la Luz, se dijo que era una copia de un kiosco del palacio de Versalles a raz de su forma octogonal, con ornamentos similares como las figuras en alto relieve de las cuatro estaciones. Es as como podemos afirmar que el uso del kiosco en la Exposicin Agrcola e Industrial del centenario, fue el de servir de smbolo de la modernizacin urbanstica que ofreca el concreto. 13

Imagen 4. Tomado de Coleccin particular. Kiosco de la Luz. Vista frontal. Ca. 2008. Fotografa sobre papel

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tomado de Zambrano Pantoja, Fabio, El Kiosco de la luz y el discurso de la modernidad, Bogot, Alcalda local de Santa F - Instituto Distrital de Cultura y Turismo: Alcalda Mayor de Bogot D.C., 2005.p.22.

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Esta novedosa construccin, sobrevivi a las intervenciones viales por su reducido tamao y ubicacin lateral en el intercambio vial de la calle 26. El kiosco de la Luz, en el parque de la Independencia es, sin duda, uno de lo ltimos testimonios de la celebracin del centenario de la emancipacin nacional colombiana en Bogot. El parque de la Independencia fue reducido a una tercera parte de su tamao original. En el actual parque, a un costado de la calle 26, slo queda el kiosco en mencin. Dicha intervencin que redujo la extensin de este lugar responde a una nueva visin de progreso, de lo moderno, que cambi las nociones de progreso de dcadas anteriores. As, el parque de la Independencia, que en su momento fue lo ms cercano al imaginario de progreso europeizante, cedi ante el empuje modernizador de mediados del siglo XX, especialmente con la construccin, desde el ao 1954, de los puentes de la calle 26. La necesidad de ampliar vas y construir puentes para mejorar la movilidad en la capital de Colombia, acab con el referente de recreacin y esparcimiento ms importante que tenan los bogotanos de la primera mitad del siglo pasado. De esta manera, la celebracin del Centenario gener una reflexin sobre el desenvolvimiento histrico de Colombia en sus cien aos de vida nacional independiente para, con ello, buscar el camino de la renovacin y el despertar hacia la modernizacin, para llevar al pas a una verdadera era del progreso econmico y material. Los hombres de la generacin del Centenario, que posteriormente fueron14 15

estadistas y presidentes de la repblica, entre ellos: carlos Eugenio Restrepo, Pedro Nel Ospina, Enrique Olaya Herrera y Rafael Uribe Uribe, se volvieron tributarios de este pensamiento. Dicho imaginario se gener a partir del ambiente intelectual de inconformismo y erudicin en el cual vivieron dichos personajes, recordemos que a ellos les correspondi actuar en el ms sangriento conflicto blico colombiano a fines del siglo XIX y comienzos del XX causado por el sectarismo poltico entre los partidos Liberal y conservador denominado como guerra civil de los Mil Das, adems, padecieron el intervencionismo estadounidense que deriv en la separacin de Panam, en un pas pobre y rural que reclamaba fuerzas de renovacin. Por ello, su principal problema fue modernizar a Colombia y transformarla de un mundo rural a un mundo urbano; as mismo, tecnificarla para llegar a la era del progreso y el desarrollo econmico. A modo de conclusin La construccin del parque de la Independencia en Bogot, lugar que sirvi de escenario para la exposicin Agrcola e Industrial y para la inauguracin de monumentos alegricos al primer siglo de la emancipacin nacional, sumados a la idea de progreso materializados en el desarrollo de la industria y la agricultura, en el marco de la fiesta patritica del 20 de julio durante la celebracin del Centenario de la Independencia de colombia en 1910, jug un papel destacado en la edificacin de un sentimiento nacional14 adscrito al nation building o forjar patria15, que empez en la

Peridico El Centenario, Bogot, julio 22 de 1910, p.1. Citando a Benedict Anderson, Alan Knight expresa lo siguiente: forjar patria quiere decir inculcar lealtades nacionales y asegurar que la comunidad imaginada (que es la nacin) penetre la imaginacin no slo de las lites, de los intelectuales, de los que saben leer y escribir, sino tambin del populacho, de los analfabetas, de los campesinos e indgenas(...) tomado de Knight Alan, Pueblo, poltica y nacin, siglos XIX y XX, en: Uribe Urn Vctor Manuel y Ortz Mesa Lus Javier, Naciones, gentes y territorios: ensayos de historia e historiografa comparada de Amrica Latina y el Caribe, Medelln, Facultad de Ciencias Humanas y Econmicas de la Universidad Nacional de Colombia, Sede Medelln, U. de A., Coleccin Clo, 2000, p.373.

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capital de Colombia y luego se extendi al resto del pas. Como ya se dijo, la celebracin del Centenario colombiano sirvi para reafirmar la creencia en un proyecto de construccin de una nacin y una nacionalidad; representaciones del pasado y de la memoria colectiva, conducentes a consolidar una mitologa fundacional hispanista, centralista y catlico-conservadora, basada en la glorificacin de los hroes de la emancipacin nacional y en un imaginario poltico repblicano. Bibliografa general Fuentes documentales

BURKE, Peter. Visto y no visto: el uso de la imagen como documento histrico, Barcelona, Crtica, 2001. coRtZaR, Roberto. Monumentos, estatuas, bustos, medallones y placas existentes en Bogot en 1938, Bogot, Selecta, 1938. EScoVaR WILSoN-WHItE, alberto. Atlas histrico de Bogot: 1528-1910, Bogot, Planeta, 2004. HoBSBaWM, Eric; tERENcE, Ranger. The invention of tradition, cambridge, cambridge University Press, 1983. KNIGHT, alan. Pueblo, poltica y nacin, siglos XIX y XX, en: Uribe Urn Vctor Manuel y Ortz Mesa Lus Javier, Naciones, gentes y territorios: ensayos de historia e historiografa comparada de Amrica Latina y el Caribe, Medelln, Facultad de Ciencias Humanas y Econmicas de la Universidad Nacional de Colombia, Sede Medelln, U. de A., Coleccin Clo, 2000, p.373. MEDINa DE PacHEco, Mercedes. Las estatuas de Bogot Hablan, Bogot, Prolabo, 2002. MEJa, Pavony; GERMN, Rodrigo. Los aos del cambio: Historia urbana de Bogot 1820-1910, Bogot, instituto de cultura hispnica, 1999. PANOFSKY, Erwin. Estudios sobre iconologa, Madrid, alianza, 1980. SNcHEZ, Gonzalo. Memorias de un pas en guerra: Los Mil Das 1899-1902, Bogot, editorial Planeta, 2001. ZaMBRaNo PaNtoJa, Fabio. El Kiosco de la luz y el discurso de la modernidad, Bogot, Alcalda local de Santa F Instituto Distrital de cultura y Turismo: Alcalda Mayor de Bogot D.C., 2005.

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Fuentes bibliogrficas

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Os Caminhos da Perfeio Franciscana na Franceschina (1474)

angelita Marques VisalliPossui graduao em Histria pela Universidade Federal de Santa catarina (1988), mestrado em Histria antiga e Medieval na Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995) e doutorado em Histria Social pela Universidade de So Paulo (2004). Professora no Departamento de Histria da Universidade Estadual de Londrina, na rea de Histria antiga e Medieval, tem sua atuao de docncia e pesquisa voltada para o estudo da Idade Mdia, particularmente para a religiosidade. atualmente dirige o Museu Histrico de Londrina.

Resumo

Pretendemos nesse estudo lanar nosso olhar sobre as imagens, iluminuras, que acompanham o texto da Franceschina, obra composta no sculo XV por Giacomo Oddi, na qual so apresentadas as vitae de Francisco de Assis e outras figuras ilustres da Ordem dos Frades Menores entre os sculos XIII e XV. O texto em dialeto umbro possui uma linguagem simples e cotidiana, assim como um carter dramtico e herico, remetendo-se especialmente recusa do mundo, dedicao s prticas caritativas e religiosas e ao martrio dos frades. Apesar da simplicidade das formas e da tcnica, estas iluminuras registram e divulgam experincias, mas buscam despertar uma sensibilidade. Neste caso esta provocada, por um lado, por uma representao mstica e, por outro, pela exacerbao da violncia sofrida pelos frades, apresentando o caminho do martrio como a principal expresso de exaltao dos menores aps a morte de Francisco, em contraste com o franciscanismo dos primrdios. Palavras-chave: Iconografia franciscana; Franceschina; iluminura

AbstRAct

In this study we intend to pay close attention to the images, illuminations that appear in the text Franceschina, a work from the fifteenth century written by Giacomo Oddi, in which the vitae of Francis of Assisi and other renowned people of the Order of Friars Minor between the thirteenth and fifteenth centuries, are presented. The text in the Umbrian dialect has a simple, everyday language, as well as a dramatic and heroic character, referring in particular to the refusal of the world, the dedication to charitable and religious practices and the martyrdom of the brothers. Despite the simplicity of form and technique, these illuminations record and disseminate experiences, but seek to awaken a sensibility. In this case it is caused firstly, by a mystic representation and, secondly, by the exacerbation of violence suffered by the friars, showing the path of martyrdom as the main expression of exaltation of the minors after Francis death, in contrast to the early years of Franciscanism. Keywords: Franciscan iconography; Franceschina; illumination.Recebido em: 20/07/2010 aprovado em: 15/08/2010

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Os Caminhos da Perfeio Franciscana na Franceschina (1474)1

Os estudos de imagens entre historiadores tm provocado certa agitao no meio historiogrfico. Apesar do reconhecimento do valor da imagem como documento, a reticncia, o receio, e mesmo a inabilidade tm sido alvos de crticas, por vezes ferozes. No queremos remontar aos usos e desusos das imagens como referncia histrica, mas gostaramos de apresentar algumas questes que envolvem o uso das imagens na pesquisa histrica. Elegemos as observaes do historiador Ulpiano Bezerra de Meneses para matizar essas discusses que so, contudo, as mais correntes nos estudos sobre a questo. (MENESES, 2003, p. 11-36) A ironia do autor frente ao diminuto espao do estudo da imagem entre os novos objetos e abordagens da Nova Histria, revela uma relao ainda pouco resolvida. Ns historiadores no estamos acostumados a utilizar as imagens como documento, apesar dos consensos. Um problema quanto ao seu uso est no fato de que ainda se constitui como a testemunha muda de conhecimento produzido por outras fontes, mero repositrio especular de informao emprica. (MENESES, 2003, p. 20) Tendemos a procurar nas imagens a comprovao de idias j constitudas, fundadas na tradio escrita, na historiografia.

as solues apresentadas tanto se fundamentam em territrio novo que exatamente a inexatido que nos demarca o incio do trabalho. Um pr-requisito que adotamos, contudo, e que nos possibilita um exame sobre as imagens que elegemos o de que estas so, antes de tudo, objetos, coisas que se prestam a vrios usos e, inclusive, como documento. Uma imagem se torna documento na medida em que fornece informao a um observador, no assim antes disso. Sua funcionalidade mltipla: alm de fonte de informao, pode assumir vrios papis, produzindo diversos efeitos, inclusive sendo reciclada. Assim, de fato ilusria a idia de que basta nomear o que ela representa, decodific-la para esclarecer sua representao. Sua funo menos representar uma realidade exterior do que construir o real (uma imagem de algo) de um modo prprio, to particular que no se encaixa em nossas classificaes como as caractersticas dos estilos e modelos artsticos. No caso dos estudos medievais, os ltimos anos tm sido prdigos de trabalhos que nos fizeram avanar teoricamente. Os estudos de Jean-Claude Schmitt so referncia fundamental. O pesquisador evidenciou um conceito mais abrangente para o Medievo, muito alm do lugar comum da

1

Este estudo um desdobramento de um projeto de pesquisa que est sendo desenvolvido h alguns anos na Universidade Estadual de Londrina, com apoio, atualmente, da Fundao araucria, intitulado a Devoo Mariana e a morte na Idade Mdia: estudo sobre a religiosidade laica atravs das laudas. Inicialmente nos debruamos sobre alguns captulos especficos da Franceschina, particularmente sobre os referentes ao compositor de laudas Jacopone da Todi. Esse texto foi, em parte, apresentado do II ENEIMaGEM.

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os caminhos Da perfeio franciscana na Franceschina (1474)

funcionalidade didtica e religiosa inspirada na correspondncia de Gregrio Magno, que reverbera, ainda, nos manuais de estudo das imagens do perodo: essas seriam para os iletrados (laicos) o que a escrita seria para os clrigos, um meio de instruo (ScHMItt, 2007, p. 60). a evidncia da cultura medieval frente ao interdito bblico veterotestamentrio quanto ao uso das imagens, pelo contrrio, possibilitou o reconhecimento de uma questo mais complexa e uma compreenso mais profunda sobre a verdadeira revoluo visual que no ocidente cristo implicou na proliferao das imagens. a dissipao do medo do paganismo, no perodo central da Idade Mdia, possibilitou maior liberdade quanto ao uso das imagens, inclusive tridimensionais. Sociedade fundada na visualidade, a sociedade moderna observa o desenvolvimento da idia da imagem como representao e fixa seu olhar sobre o milagre eucarstico nos sculos XIII e XIV, a partir do qual se desenvolve uma vitria extraordinria da abstrao, segundo carlo Ginzburg: na medida em que negava os dados sensveis em nome de uma realidade profunda e invisvel (GINZBUG, 2001, p. 102). a pluralidade de usos e variao dos suportes na apresentao das imagens so fundadas num princpio de liberao que precisa ser valorizada, ainda que se considere tantos elementos redutores e limitadores da liberdade de criao, tal como concebemos em nossa concepo hodierna de produo artstica. Pretendemos nesse estudo lanar nosso olhar sobre imagens, iluminuras, que acompanham o texto da Franceschina, obra composta no sculo XV por Giacomo Oddi, na qual so apresentadas as biografias de Francisco de Assis e outras figuras ilustres da ordem dos Frades Menores entre os sculos XIII e XV. Trata-se de um texto de

elegia aos franciscanos, tendo So Francisco como protagonista, sendo bem demarcado o tom de epopia, na medida em que os frades so apresentados como verdadeiros heris, seja pela superao pela penitncia, seja pelo martrio. O carter religioso e de disseminao de modelos patente, mas podemos desenvolver sobre ele um exerccio de olhar que ultrapasse a inteno primeira de seu autor. a observao de suas imagens, na verdade, pode nos apresentar elementos outros de reflexo. Na medida em que entre essas imagens possumos referncias ao perodo identificvel comunidade primitiva franciscana (durante o perodo de vida de seu fundador) e ao perodo posterior, podemos apresentar aqui um estudo introdutrio sobre os modelos de vida franciscana a partir dessas miniaturas. Afinal, o que ser iluminado? Consideramolas primeiramente destacadas do objeto que as abriga, o livro. Seu conjunto, por um lado, pode nos apontar para uma lgica prpria. Na anlise das miniaturas, faz-se sempre necessrio o exame de seu conjunto, considerando-se toda a srie, pois estas no podem ser examinadas isoladamente. O isolamento sempre arbitrrio e incorreto (ScHMItt, 2007, p. 41). No perdemos de vista, contudo, o exame de suas interaes particulares com o texto: a correspondncia ou no de cada uma com os temas tratados por escrito, as possveis contradies ou discrepncias quanto ao contedo e, enfim, as escolhas, pois as imagens apresentam cenas recortadas num universo bem maior de possibilidades. A vasta obra apresenta treze captulos que trazem dados biogrficos dos primeiros irmos e daqueles que teriam se sobressado devido a determinadas virtudes que, inclusive, intitulam os captulos: a obedincia, a pobreza, a castidade (trip da ordem dos frades35

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menores), a recusa do mundo, a caridade, humildade, orao, pacincia, penitncia, a virtude em geral, assim como um captulo voltado para a anulao de si mesmo, outro para a danao aos que no respeitam a regra e ainda outro sobre o prmio para os que a seguem. Esta organizao apresenta um carter didtico, pois a obra voltada para os prprios discpulos de Francisco, apresentando-lhes modelos de conduta. Alguns frades menores tm para si dedicadas vrias pginas, e os acontecimentos so descritos em forma de episdios; outros podem ser citados anonimamente, como nas vrias narrativas sobre os martrios sofridos. O prprio ttulo j denuncia sua finalidade. originalmente a obra se denominava Specchio de lOrdine Minore. Este espelho passou a ser conhecido como Franceschina a partir da edio de 1931, por Nicolla Cavanna (OFM), mudana justificada pelo editor para diferenci-la mais facilmente de outros espelhos e porque representaria melhor uma v