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Dona Ana: Exemplo de luta e convivência com o semiárido

no município de Assú.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1915

Agosto/2014

Assú

Uma prática bem presente nos dias atuais ainda é a troca de mudas e sementes quando

as famílias de agricultores e agricultoras se visitam. Essa prática é fundamental para a garantia

de segurança e soberania alimentar dos povos, além de garantir a diversidade e contribuir com

a biodiversidade dentro dos sistemas de produção.

Nesse contexto, uma figura de importância fundamental é o guardião e as guardiãs de

sementes que armazenam em seus quintais uma diversidade genética local, colaborando com

a sobrevivência da agricultura familiar. E, uma dessas guardiãs é Dona Ana Maria da Silva

Gomes, 46 anos, residente do Projeto de Assentamento Professor Mauricio de Oliveira,

localizado no município de Assú que ao longo de sua trajetória de vida, vêm guardando

sementes nativas, conservando-as e selecionando-as.

Dona Ana, uniu a vontade de trabalhar com a agricultura familiar e a oportunidade de

morar em um local que pudesse desenvolver suas atividades e entrou na luta para conquistar

seu espaço e sua terra. Após conseguir seu lote através de cadastro junto ao Instituto Nacional

Colonização Reforma Agrária-INCRA, juntou seus pertences, e foi morar no assentamento,

juntamente com sua família.

“Hoje eu desenvolvo agricultura familiar, tenho um banco de

sementes, faço artesanato, tenho meus animais de criação e

ainda por cima sou cisterneira. No meio da agricultura a

gente tem que aprender de tudo”

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

A agricultora, tem em sua propriedade um banco de

sementes que formou através de suas coletas na mata e nos

encontros que participou. Conseguiu, com o passar dos anos,

juntar considerável variedade de sementes entre elas: O

Mufumbo, Catanduba, Imburana, Sabia, Angico, Mucuna, Lírio

Branco, Feijão, Milho, Gergelim preto, Gergelim branco, Fava,

Jerimum, Melão, Pimentão, Pimentinha e Tento-carolina.

“Resolvi fazer meu banco de sementes, pra quando

chegar o inverno eu não me preocupar em comprar elas

envenenadas. Eu já tenho as minhas guardadas. Isso é

maravilhoso!.”

Essa prática é uma condição fundamental em uma

região onde aprender a conviver com o clima é uma peça

fundamental para sobrevivência. No semiárido, as sementes

acabam representando um patrimônio da agricultura local.

A forma como descreve o seu quintal, demonstra que

Dona Ana com muita disposição, amor pelo que faz e

esperança, consegue romper as barreiras e realizar todos seus

os sonhos. Um dos citados pela agricultora, foi conseguir seu

viveiro de mudas.

Além de guardiã de sementes, dona Ana fez curso de

cisterneira e logo após com ajuda de seu esposo, Damião

Francisco Gomes, fez questão de construir sua própria cisterna

calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da

Articulação do Semiárido, executado pela COOPERVIDA.

“Todo mundo duvidava que eu não era capaz, e eu disse vamos

fazer e não vai haver nenhum vazamento, e foi dito e feito, estou

muito satisfeita, pois hoje posso dizer que colaborei para

continuar com o meu quintal vivo, minhas plantas estavam

quase morrendo, eu quase perdia tudo, na minha casa não tem

mais problema de falta da água.” - Relata a agricultora

São histórias que nem essas que nos fazem acreditar que o semiárido já está deixando a

muito tempo de ser sinônimo de terra improdutiva por falta de água, hoje o que podemos ver é

experiências iguais a essas de Dona Ana, que conseguem fazer da dificuldade um impulso para

a sobrevivência, aproveitando todas as oportunidades, resistindo à seca e fortalecendo

agricultura familiar de todas as formas, desde a estocagem de sementes até a construção de

cisternas.

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