ELABORAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE MODELO DIDÁTICO PARA
ELUCIDAR O SISTEMA ABO NO ENSINO DE BIOLOGIA
Eldade Machado de Farias¹, Angelina Xavier da Silva, Geane Maria de Aguiar, Danilo Ramos
Cavalcanti
Resumo
Na Biologia, a genética se destaca como uma das áreas que apresenta maior dificuldade de
compreensão dos conteúdos pelos alunos, por se tratar de temas abstratos que necessitam da
visualização dos seus eventos. Cabendo ao professor o desafio em tornar o ensino mais
prazeroso e instigante a fim de levar o aluno a desenvolver o conhecimento científico. A
utilização de materiais alternativos, a exemplo, modelos didáticos, é uma estratégia interessante
na ausência de recursos na escola, visando o estímulo aos alunos em aulas teórico-práticas, que
por sua vez aprimora o processo de ensino-aprendizagem. Desta forma, o objetivo do presente
trabalho foi elaborar e construir um modelo didático, para auxiliar na abordagem da herança
dos grupos sanguíneos, fornecendo através de esquemas, as possíveis transfusões sanguíneas
envolvendo o sistema ABO. A criação do modelo visou também facilitar o entendimento do
aluno através da elucidação, proporcionando aos professores uma ferramenta metodológica de
baixo custo.
Palavras-chave: Ensino de Biologia; modelos didáticos; sistema ABO.
Abstract
In biology, genetics stands as one of the areas that has greater difficulty in understanding the
content by the students, because it is abstract topics that require visualization of your events.
Whereas the teacher the challenge of making the most pleasurable and exciting teaching to take
students to develop scientific knowledge. The use of alternative materials, such as, didactic
models, is an interesting approach in the absence of resources at school, aimed at encouraging
students in practical classes, which in turn enhances the teaching-learning process. Thus, the
objective of this study was to develop and build a teaching model to assist in addressing the
legacy of blood groups, by providing schemes, possible blood transfusions involving the ABO
system. The creation of the model was also intended to facilitate student understanding through
clarification, giving teachers a methodological tool inexpensive.
Keywords: biology teaching; educational models; ABO system.
Introdução
O sistema educacional atualmente apresenta como alvo a formação de cidadãos, não levando
apenas em conta o desenvolvimento de conceitos científicos, mas também a reflexão e as
atitudes desejáveis. Neste sentido, a realização de aulas práticas pode funcionar como um
contraponto das aulas teóricas, e como um poderoso catalisador no processo de aquisição de
novos conhecimentos, pois a vivência de certa experiência promove a fixação do conteúdo a
ela relacionado, descartando-se a ideia de que as atividades experimentais devem servir
somente para a ilustração da teoria. Ou seja, a finalidade primordial de uma aula prática ou
experimental é que o próprio aluno raciocine e realize as diversas etapas da investigação
científica é (POSSOBOM, OKADA e DINIZ, 2007).
Para tanto, o aluno desenvolve um raciocínio prático em relação ao comportamento social e
interpretativo da condição humana (RABONI, 2002). Com isso, o trabalho experimental é
reconhecido no Ensino de Ciências como recurso de inegável valor no processo de ensino-
aprendizagem, uma vez que lecionar no ensino fundamental e médio sem as estratégias corretas
como, por exemplo, aulas práticas ou experimentais, não garante uma boa aprendizagem do
educando (HODSON, 1988). No entanto, as aulas de biologia em algumas escolas tem se
tornado meramente expositivas e as experimentações deixadas de lado, ocorrendo assim, a
descaracterização da mesma, o que implica em dificuldades no aprendizado de conceitos,
atitudes e procedimentos necessários para sua compreensão (MAIA e MELO, 2010).
Em meio a este quadro no Ensino de Ciências e Biologia, a genética se destaca com um elevado
grau de dificuldade de compreensão do conteúdo pelos alunos, uma vez que determinados
conteúdos apresentam um nível elevado de complexidade e abstração. É comum a necessidade
de propor uma nova situação que desafie a explicação encontrada pelos discentes (BIZZO,
2007).
Nesse sentido, durante as aulas de genética surgem diversos questionamentos sobre os
conteúdos, e mesmo com todo empenho do professor em explanar o tema, os alunos ainda
continuam com incertezas. Para isto, as aulas experimentais são grande aliadas do processo de
ensino por mostrar a intenção de tornar os assuntos mais evidentes (HODSON, 1994). Dessa
maneira, o docente precisa estar sempre avaliando sua prática durante as aulas, de modo que
sejam proporcionadas ocasiões para o estudante interagir, com os colegas, o professor, e com
metodologias que os instiguem a desenvolver uma aprendizagem ativa (SOUSA, SPÓSITO,
MARISCO, 2013).
Nas aulas de Biologia os modelos didáticos são bastante usados para visualizar objetos
tridimensionais, que muitas vezes são abstratos para o aluno levando-o a limitação e
simplificação do elemento de estudo. Para tanto, nas produções de modelos que envolvam os
alunos podem melhorar sua aprendizagem, pois este irá preocupar-se primordialmente com sua
compreensão, e depois a construção, e por fim com a apresentação. Assim, para facilitar os
conhecimentos científicos, o campo da biologia tem avançado a fim de amenizar as
necessidades presentes em sala de aula durante o processo de ensino (KRASILCHIK, 2004;
SETÚVAL e BEJARANO, 2009).
Sobre essa situação, é assegurado considerar o que afirma Giacóia (2006) que, em vista da
importância da genética para a aprendizagem dos estudantes, fica evidente e indiscutível, a
melhoria das técnicas de ensino de genética. Todavia, diante das dificuldades e escassez de
aulas prática no ensino da genética, percebemos que o grande desafio do educador de Ciências
está em tornar o ensino de Biologia mais interessante a fim de estimular o aluno a desenvolver
o seu conhecimento científico de forma que possa aplicar em seu cotidiano (NASCIMENTO et
al., 2014).
Pensando nisso, objetivou-se elaborar e construir um modelo didático para auxiliar na
abordagem da herança dos grupos sanguíneos, visando esquematizar as possíveis transfusões
sanguíneas envolvendo o sistema ABO. A criação do modelo visou também facilitar o
entendimento do aluno através da elucidação, bem como facilitar o processo ensino-
aprendizagem, proporcionando aos professores mais uma ferramenta metodológica.
Referencial teórico
Sistema ABO no Ensino de Biologia
Por meio, de transfusões realizadas entre cães e tendo êxito com estas, Richard Lower verificou
que, transfusões realizadas com animais de espécies distintas levavam a óbito (SCHWARZ e
DORNER, 2003). Finalmente no século XX, Karl Landsteiner descobriu o Sistema Sanguíneo
ABO, o qual atualmente de grande relevância para realização de transfusões (BATISSOCO e
NOVARETTI, 2003). Este sistema é determinado por um gene localizado num cromossomo
homólogo que apresenta três versões, Iᴬ, Iᴮ e i, no qual acarretará em mais quatro grupos: A, B,
AB e O (SILVA, 2013).
No sistema ABO aponta presença de antígeno nos glóbulos vermelhos é originada da
variabilidade genética, que possui proteínas, glicoproteínas ou glicolípideos (ARRUDA,
ARRUDA ORTIZ, OLIVEIRA, 2014). Sendo que, este sistema expõem dois tipos de antígenos
A e B. As pessoas que apresentam antígeno A tem sangue do tipo A, as que possuem antígeno
B têm sangue tipo B, as que têm antígeno A e B têm sangue do tipo AB e as que não possuem
antígeno são do tipo O. E no plasma sanguíneo exprime a presença de anticorpos ou aglutininas
que reagem com os antígenos, sendo estas anti-A e anti-B (TORTORA e DERRICKSON,
2012). Após o conhecimento sobre os antígenos e anticorpos pode-se compreender o
mecanismo de transfusões de sangue e perceber quem pode doar e quem pode receber com a
complementação do Sistema Rh (FIGURA 01).
Figura 01. Tipos sanguíneos preferencias e permissíveis para transfusões. Fonte: APPLEGATE, Edith.
Anatomia e Fisiologia. Elsevier Brasil, 2012.
Desta maneira, os conteúdos referentes à genética geralmente são abordados em sala mediante
há aulas expositiva com uso apenas de livros didáticos, porquanto o aluno mostra certa
dificuldade em compreender conceitos que normalmente não possui um elo com a sua realidade
(UTSUNOMIA, 2010). Logo, o professor a fim de eliminar esses entraves para aprendizagem,
pode fazer algo diferenciando mesmo que a escola não disponha de uma diversidade de meios,
porém cabe ao docente usar sua competência e criatividade, para isto Krasilchik (2004) afirma
que:
O professor tem como responsabilidade criar situações que auxiliem a aprendizagem,
a qual transcorre de forma autônoma, respeitando-se as características individuais e
os estilos próprios de cada um. Exige do docente um conhecimento amplo da
disciplina e também da capacidade de criar situações que demandem uma atitude de
investigação (p.43).
Portanto, quando aluno se depara com situações viáveis ao uso do seu conhecimento prévio
com os adquiridos referentes ao grupo sanguíneo, este poderá associar com as novas
informações expostas durante a aula. Percebe-se que o Sistema ABO é de grande significância,
visto que abrange outros assuntos que são conectados entre si, por exemplo, sistema imune,
tecido sanguíneo, e através da resolução de um problema ou de uma situação deixar de ser um
conteúdo individualizado para fazer parte de um todo.
Ensino de genética conforme os Parâmetros Curriculares do Ensino Médio
Com o novo Ensino Médio organizado em três áreas, cujo intuito atualmente é articular cada
área num conjunto de áreas. Portanto, ao aprender Biologia na escola básica o estudante permite
ampliar, compreender as especificidades em que o ser humano se relaciona com a natureza e as
suas transformações. Com isso, é favorecido o ato de pensar, agir situando os indivíduos no
mundo que dele participa (BRASIL, 2002). Logo, em Biologia as temáticas são apresentadas
como desafio as serem resolvidos, como, por exemplo, os que envolvem interações entre os
seres vivos, incluindo o homem e os outros constituintes do ambiente (BRASIL, 2000).
No âmbito escolar, o estudo de genética geralmente apresenta seus próprios termos, seus
métodos experimentais, contudo não passa desta abordagem. Em sua maioria, os assuntos são
fragmentados sem qualquer correlação entre si. Pois, nem sempre existe uma preocupação com
os aspectos econômicos, preconceitos raciais, posicionamento frente aos questionamentos
polêmicos, ao comprometimento com a manipulação genética para saúde, na identificação de
uso de códigos a fim de representar peculiaridades, por exemplo, a paternidade, ou de indivíduo,
no caso de investigações criminais. E para o aluno desenvolver de posturas de valores
pertinentes às relações entre os seres humanos, entre eles e o meio, entre eles e o conhecimento,
contribui para uma educação que formará sujeitos sensíveis e solidários, cidadãos conscientes
dos processos e regularidades de mundo e da vida, capazes apreciar ou tomar decisões frente às
situações problematizadas (BRASIL, 2000).
Construção de modelos didáticos
Os modelos didáticos são construções teóricas que permite uma visão aproximada do objeto de
estudo a fim de promover o entendimento (GUIMARÃES, 2006). Logo, os modelos devem
simbolizar um conjunto de fatos os quais podem ser confrontados com a realidade (MATOS et
al., 2009). Ainda pode-se definir que modelo é construção de uma imagem analógica a qual
permite materializar uma ideia ou conceito (GIORDAN e VICCHI, 1996). E, quando estes são
explicativos ou representacionais trazem uma carga de reconhecimento, de utilização e de
interpretação (BRASIL, 2002).
É significante lembrar que apesar dos modelos envolverem a capacidade criativa do aluno, ele
representa a edificação do conhecimento que faz referência a fenômenos ou problemas
encontrados. Portanto, numa aula teórico-prática esses objetos estimula o aluno no processo de
sua aprendizagem (GIORDAN e VICCHI, 1996; MATOS et al., 2009). Desta forma que por
meio de uso destes, são deixados de lado os recursos tradicionais como, quadro, piloto e livro.
Os modelos podem ser utilizados em momentos variados, no início da aula, durante, no final
ou apenas para revisão de conteúdo. Pois, ao aliar a aula a recurso didático-pedagógico deixa-
a a mais motivadora e menos cansativa, ao comparar com as aulas expositivas tradicionais
realizadas usualmente em salas de aula do Ensino Fundamental, Médio e até Superior
(CASTOLDI e POLINARSKI, 2009). Neste contexto, os métodos de tracionais de ensino usam
apenas uma parte da capacidade humana, uma vez que, o aluno age como recebedor de
informações e realizando repetições destas, ao invés de atuar no seu processo de aprendizagem.
De posse desses conhecimentos, o modelo didático vem auxiliar na assimilação de certos
assuntos que geralmente é bastante abstrato, e quando não são expostos corretamente pode
promover o aparecimento lacunas que o Ensino convencional geralmente deixa, e com isso, é
necessário apresentar o conteúdo de maneira distinta, a fim de facilitar na compreensão do
objeto estudado (CASTOLDI e POLINARSKI, 2009).
Metodologia
Visando auxiliar e contribuir com o processo de ensino-aprendizagem do conteúdo da Genética,
foi elaborado e confeccionado um modelo didático tridimensional que ilustra o sistema ABO,
para serem utilizados durante as aulas de Biologia.
Para garantir a qualidade do modelo didático elaborado, na primeira etapa foram realizadas
pesquisas bibliográficas para embasamento teórico. A segunda etapa foi escolher materiais de
fácil acesso e custo-benefício, para posterior confecção do modelo. Houve também a
preocupação de construir um modelo de fácil construção, para que possa ser reproduzido pelos
professores de Biologia que tenha acesso a esta informação. Os materiais escolhidos para
confecção do modelo foi: uma folha de isopor, copos descartáveis de 80 milímetros, cola para
isopor, estilete, pincéis nas cores azul, vermelho e preto e, tintas nas cores azul, amarelo e
branco. Os procedimentos para construção do modelo didáticos foram feitos em duas etapas a
primeira antes da aula e a segunda durante a ministração da aula.
Na primeira etapa, com o auxílio do estilete, a folha de isopor foi cortada ao meio, em uma
parte da folha foi desenhado o fundo do copo descartáveis como representado na Figura 02 (A)
e, em seguida, cortados os desenhos na folha de isopor (Figura 02 B), as duas partes da folha
de isopor foram coladas, foram introduzidos os copos descartáveis nos recortes produzidos no
isopor e foi desenhado ao lado dos copos as letras A, B, AB e O como (Figura 02 C).
Figura 02: (A) desenho do fundo do copo, (B) recorte do desenho, (C) primeira parte finalizada.
Na segunda etapa, ocorreu a simulação de transfusões sanguíneas com o material construído na
primeira etapa. Inicialmente, nos copos identificados com a letra O foi adicionada tinta branca;
nos de identificação A, tinta amarela; nos de identificação B, tinta azul; e nos de identificação
AB, tinta verde (mistura ente as tintas amarela e azul) Figura 03 (A). Posteriormente, todos os
tipos de transfusões envolvendo o sistema ABO possíveis foram simulados, e cada simulação
foi identificada através de uma seta na folha de isopor. As setas de cor azul indica a ocorrência
de transfusões e as setas em vermelho, as transfusões que não podem ocorrer. Quando não havia
alterações das cores primárias nas simulações as transfusões poderiam acontecer. Quando havia
alteração de cores, não poderiam ocorrer as transfusões (Figura 03 B). Durante a construção do
modelo o professor deve instigou o aluno com a relação entre a aglutinina e aglutinogênio.
Figura 03: (A) os copos identificados com as letras A, B, O e AB preenchidos com tintas nas cores
predeterminadas, (B) modelo didáticos finalizado.
Considerações Finais
O modelo didático desenvolvido neste trabalho visou proporcionar aos professores de biologia
mais uma ferramenta metodológica para reprodução, a ser usado durante as aulas de genética
na parte em que aborda a herança dos grupos sanguíneos, evidenciando as possíveis transfusões
sanguíneas envolvendo o sistema ABO. Para isso houve a preocupação de se utilizar matérias
de fácil aquisição e de baixo custo, além de ser de fácil construção para aplicação. Portanto,
este modelo didático apresenta inúmeras vantagens, principalmente por elucidar o tema para
facilitar o processo de ensino-aprendizagem.
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