enoturismo
Os ventos de mudança continuam, nas tradicionais caves de Gaia. Uma das últimas tendências é a abertura do universo do vinho aos mais novos, a pensar em futuros consumidores. Ensinando-lhes a virtude da moderação. Sem complexos, mas com jogos interactivos.
TEXTO Samuel Alemão * FOTOS Ricardo Palma Veiga
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CENTRO PEDAGÓGICO DO VINHO DO PORTO
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Quebrar tabus é um dos fétiches maiores dos dias correntes. Com
o acelerar dos tempos, empurrados pelo fl uxo incessante de in-
formação, tal surge quase como uma inevitabilidade. Sempre as-
sim foi, dirão muitos, em jeito de ressalva. Verdade, reconheça-se
- até porque a condição humana, mais do que feita de dobras, é em
si mesma contraditória. Nada de novo, portanto. Um pouco mais
de atenção sobre as múltiplas facetas do quotidiano, porém, levar-
nos-á a notar como são muitos os exemplos de mudanças de re-
levo em áreas onde tal difi cilmente se vislumbraria. Veja-se o caso
do Vinho do Porto, expoente maior de uma certa atitude conser-
vadora e, em si mesmo, a metáfora perfeita da imutabilidade, ao
longo dos séculos. Nos últimos anos, já aqui o salientámos, assis-
tiu-se a uma quase revolução na forma como as empresas do sec-
tor comunicam. E as caves e os centros de visita de Vila Nova de
Gaia têm desempenhado um papel determinante, em muita des-
sa mudança. Sobretudo de há dois anos para cá, uma lufada de ar
fresco varreu a margem esquerda da foz do Douro.
Entre a abertura de novos locais preparados para receber um cres-
cente número de turistas e a remodelação de casas com nome con-
solidado - no negócio e no acolhimento daqueles que desejam
saber mais -, muitas coisas de interesse têm sucedido na zona. E
outras continuam a acontecer. Podemos considerar que o sedutor
centro de visitas que a Porto Cruz inaugurou, no início do verão
passado, funciona como símbolo inequívoco dessa renovação - e
daí a justeza da atribuição do prémio de Enoturismo do Ano 2012
pela Revista de Vinhos. Ali, para além das diversas facetas respon-
sáveis pelo seu cunho inovador, como a arquitectura do edifício, o
design dos interiores ou as soluções multimédia encontradas para
contar a história do vinho e da marca, duas coisas se destacam.
Uma delas é a ausência de uma única barrica de vinho para mos-
trar aos visitantes, quebrando assim um tabu – lá está! – dos cen-
tros de visitas de Gaia. E a outra é o, também inédito, programa de
acolhimento e pedagogia dedicado às crianças.
ESPAÇO AOS NOVOSPela primeira vez, uma casa de vinhos ousou ir além daquelas brin-
cadeiras com caixinhas de cheiros para identifi car os aromas. Pro-
duziu conteúdos pedagógicos multimédia para os miúdos e pô-los
a realizar provas de sumos de fruta, emulando as feitas com vinho
– no caso, os pais podem acompanhar os fi lhos. O objectivo é edu-
car-lhes o gosto e prepará-los para o futuro consumo informado
e moderado do vinho. A ideia tem sido muito bem acolhida. E tem
seguidores. Agora, ao Espaço Porto Cruz junta-se o Centro Pedgó-
gico da Associação das Empresas do Vinho do Porto (AEVP). Este
“vinho de senhores”, por muita gente ainda encarado como um
produto algo sisudo, abre-se ao mundo infanto-juvenil. Para a
maioria, será mesmo o primeiro contacto com o universo da pro-
dução vinhateira. No novo centro, resultante das obras de recupe-
ração de uns antigos armazéns situados junto à sede da associação,
os jovens em idade escolar são informados sobre a história, o pro-
cesso produtivo dos vinhos e as diferentes categorias dos Portos.
Faz-se também a defesa da parcimónia na ingestão de bebidas al-
coólicas.
O espaço, que tem uma área de mais de 700 metros quadrados,
funciona igualmente como um museu, ali se expondo diversas pe-
ças relacionadas com a actividade. A ideia é utilizar este acervo,
durante as visitas guiadas, como parte importante das lições aos
mais novos. “Com a abertura deste espaço, pretende-se levar aos
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Como uma escola: recuperação dos antigos armazéns resultou no centro pedagógico
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jovens toda a informação sobre o Vinho do Porto, dando-lhes a
conhecer a bebida e o processo de feitura da mesma, do princípio
ao fi m, mas sem lhes servir um cálice. Era algo que não existia nos
centros de visitas das caves”, afi rma Isabel Marrana, directora-
executiva da AEVP, salientando o facto de o novo espaço estar es-
pecialmente vocacionado para os jovens, com todo o material ex-
positivo a ser adaptado a esse escalão etário. Se isso é constatável
nos jogos multimédia ali existentes, não se pode dizer que o res-
tante conteúdo da exposição seja, em exclusivo, direccionado a
crianças, aos adolescentes ou aos pós-adolescentes universitários.
Qualquer pessoa aprende muito, no fi m da visita.
JOGOS E VÍDEOA começar pelo vídeo mostrado, logo no início, no auditório com
capacidade para meia-centena de pessoas. O fi lme dá a ver as sem-
pre impressionantes paisagens durienses, mesclando de forma
eloquente e prática os principais blocos de conhecimento asso-
ciados ao Vinho do Porto: a história, a produção e as categorias em
que ele se divide. Quer isto, quer o trajecto montado tendo como
linha condutora os painéis informativos, pode ser apreendido em
todas as idades, claro está. O Centro Pedagógico da AEVP – enti-
dade que representa as fi rmas responsáveis por cerca de 90% da
exportação do generoso, nela agregando a generalidade das gran-
des casas do sector – está, porém, determinado em promover,
junto dos primeiros escalões etários, o licoroso da mais antiga re-
gião demarcada do mundo. Por isso, nesta fase, está apenas dis-
Passado e presente: velhos instrumentos e mesas interactivas ajudam na lição.
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ponível para ser visitado por esses grupos, e por mar-
cação. “Estamos atentos às novas gerações, que é onde
se encontram os futuros consumidores. É um vinho
de tradição, mas atento à inovação”, garante Isabel
Marrana, que deseja captar visitas dos muitos univer-
sitários estrangeiros a estudar no Porto, ao abrigo do
programa Erasmus.
A responsável diz que uma das mais-valias do centro
é ele facultar aos professores materiais didáticos ex-
clusivos sobre o tema. Isso será notado, sobretudo,
nos jogos interactivos concebidos para o espaço. O
primeiro consiste numa mesa multimédia sensível
ao toque, através da qual dois jogadores ou duas equi-
pas se defrontam num “quiz” sobre o Vinho do Porto.
São uma dúzia de questões para cada lado, através das
quais se avaliam os conhecimentos apreendidos no
percurso feito imediatamente antes. Com três níveis
de difi culdade (iniciados, intermédios e especialis-
tas), é ganho, como é óbvio, por quem responder
acertadamente ao maior número de respostas. O se-
gundo e o terceiro jogos baseiam-se na interacção
entre o movimento do corpo dos jogadores e as ima-
gens projectadas na parede. Se naquele se simula a
condução de um automóvel sob o efeito do álcool –
em contraste com a que é realizada de forma “limpa”
-, no último brinca-se com diversas etapas da pro-
dução (apanha das uvas, pisa, loteamento e engarra-
famento).
O ESSENCIALOs jogos são divertidos, em especial o último, e com
facilidade conduzem à boa disposição de quem neles
participa ou assiste. São o culminar de um périplo por
uma ampla sala, onde se concentra o essencial do que
há a saber por quem ainda é neófi to no assunto. Nos
painéis informativos, através de texto e imagens, en-
contramos referência a aspectos tão importantes como
o clima, a geografi a, os socalcos, as castas, a região
demarcada, a vindima, a vinifi cação, a aguardentação
ou benefício e o envelhecimento – embora revelando
uma apresentação que nos parece algo datada, falam
do que importa. Também o núcleo museológico mos-
tra peças outrora essenciais, tanto à viticultura como
ao trabalho na adega, lá se encontrando o semeador,
a charrua, a canga dos bois, o cesto da vindima, a pren-
sa de madeira, a máquina de destilação ou uma bom-
ba de trasfega. Destaque ainda para a colectânea de
cartazes publicitários das diversas marcas e para uma
garrafeira com todos os vintages declarados desde
2000.
CLASSIFICAÇÃO:Originalidade (máx. 4): 3Atendimento (máx. 4): 3Arquitectura (máx. 4): 3Ligação à cultura (máx. 4): 4Ambiente/ Paisagem (máx. 4): 4Classifi cação: 16
CENTRO PEDAGÓGICO AEVPRua Dr. António Granjo, 2074400-124 Vila Nova de GaiaTel: 223 745 520Fax: 223 705 400 website: www.aevp.pte-mail: [email protected]: 41o 8’ 10’’ N / 8o 37’ 18’’ OO Centro Pedagógico da AEVP destina-se, nesta fase, apenas a grupos de crianças e jovens. Entre eles, os universitários. As visitas têm, por isso, que ser marcadas.
Elegância interior: numa única ala, um concentrado de saber sobre o Vinho do Porto
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