Ministrio da Educao
Centro de Estudos Avanados Multidisciplinares
Centro de Formao Continuada de Professores
Secretaria de Educao do Distrito Federal
Escola de Aperfeioamento de Profissionais da Educao
Curso de Especializao em Gesto Escolar
ESCOLA SERIADA X ESCOLA ORGANIZADA EM CICLOS: DESAFIOS E
POSSIBILIDADES
Helosa Rosa Davi Diniz
Professor-orientador Erisevelton Silva Lima
Professora-orientadora Mestre Sileda Maria Holanda de Sousa Almeida
Braslia (DF), Julho de 2014
Helosa Rosa Davi Diniz
ESCOLA SERIADA X ESCOLA ORGANIZADA EM CICLOS: DESAFIOS E
POSSIBILIDADES
Monografia apresentada para a banca
examinadora do Curso de Especializao em
Coordenao Pedaggica como exigncia
parcial para a obteno do grau de
Especialista em Gesto Escolar sob
orientao do Professor-orientador Dr.
Erisevelton Silva Lima e da Professora
monitora-orientadora Mestre Sileda Maria
Holanda de Sousa Almeida.
TERMO DE APROVAO
Helosa Rosa Davi Diniz
ESCOLA SERIADA X ESCOLA ORGANIZADA EM CICLOS: DESAFIOS E
POSSIBILIDADES
Monografia aprovada como requisito parcial para obteno do grau de Especialista em Gesto Escolar pela seguinte banca examinadora:
Dr. Erisevelton Silva Lima
UnB/SEEDF
(Professora-orientadora)
Mestre Sileda Maria Holanda de Sousa Almeida
UnB/SEEDF
(Monitora-orientadora)
Profa. Mestre Abigail do Carmo Levino de Oliveira UnB/SEEDF
(Examinadora externa)
Braslia, 26 de julho de 2014
Dedico esse trabalho a minha famlia:
companheiros de uma vida.
AGRADECIMENTOS
Aos meus colegas de trabalho pela
efetiva colaborao durante todo o ano de
2013.
E a todos aqueles que disponibilizam
seus trabalhos para leitura e consulta na
web.
As escolas: imensas oficinas, ferramentas de todos os tipos, capazes dos maiores milagres. Mas de nada valem para aqueles que no sabem sonhar. Os profissionais da educao pensam que o problema da educao se resolver com a melhoria das oficinas: mais verbas, mais artefatos tcnicos, mais computadores (ah! O fascnio dos computadores!). No percebem que no a que o pensamento nasce. O nascimento do pensamento igual ao nascimento de uma criana: tudo comea com um ato de amor. Uma semente h de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intrpretes de sonhos.
(ALVES, p.93, 2000)
RESUMO
Esse trabalho objetivou apresentar duas maneiras de organizao do ensino: sries
e ciclos, no intuito de apreciar as contribuies que cada uma delas tem a oferecer
para a educao, bem como as dificuldades encontradas para que cada uma delas
fosse implantada. Para mapear essas contribuies e dificuldades foram
consideradas as opinies dos professores atuantes nas salas de aula. O cenrio
escolhido foi uma escola pblica do Distrito Federal onde coexistem os dois
primeiros ciclos para as aprendizagens, no ano de 2013 por ter sido o ano da
implantao (voluntria) dos ciclos para II Bloco dos Anos Iniciais. A pesquisa seguiu
uma abordagem qualitativa para atingir os seguintes objetivos: Avaliar a contribuio
do sistema de ensino organizado em sries para a educao ao longo de sua
existncia; Analisar a proposta de organizao em ciclo de aprendizagem; Comparar
as duas formas de organizao de ensino, A observao de campo, a entrevista
semiestruturada e o questionrio foram utilizados como instrumentos de coleta de
dados. O referencial terico foi construdo luz de autores como: (SALES, 2009),
(MAINARDES, 2009), (FREITAS, 2004), (PARENTE, 2010), (AUGUSTO, 2010),
(REVELAT, 1999), (MIRANDA, 2005), (ALAVARSE, 2009), JACOMINI, 2009;
PEREIRA, 2008) e (GOMES, 2005), entre outros. Os resultados da pesquisa
revelaram que, apesar da organizao em ciclos no ser novidade, muitos
professores da escola observada ainda no conhecem sua proposta na ntegra; os
professores conhecem bem a organizao seriada e, grande parte, considera sua
aplicao benfica para a educao; Tanto professores colaboradores, quanto
estudiosos da educao pesquisados acreditam que qualquer poltica pblica para
educao deve vir acompanhada de investimentos em recursos humanos e
estruturais.
PALAVRAS CHAVE: Organizao do ensino em sries. Organizao do ensino
em ciclos. Contribuies. Desafios.
ABSTRACT
This work aimed to present two ways of organization of teaching: grades and cycles.
In order to appreciate the contributions that each has to offer for education, as well
as the difficulties encountered so that each one was deployed. To map these
contributions and difficulties were considered the opinions of scholars of education
and acting teachers in the classrooms. The scenario chosen was a public school in
the Federal District where the first two cycles to learning in the year 2013 as the year
of implementation (volunteer) of the cycles for the Block II early years, III for the
Cycle final years of elementary school and Semestralidade for the high school in D.F.
The search followed a qualitative approach to achieve the following objectives: 1)
Evaluate the contribution of the education system arranged in series to the lifelong
learning of its existence, through published documents and the experience of
teachers of the public education network of the d.f. 2) Analyze the proposed
organization in learning cycle, through documents and studies submitted by
intellectuals from the education to verify the possibility of its immediate application. 3)
Compare the two forms of educational organization, aiming to list what each has to
favors and enumerate its difficulties. Field observation, the semi-structured interview
and the questionnaire were used as data collection instruments. Some official
documents, also served as a source of information. To begin with there was a brief
historical account on the Organization of teaching and organization in serial cycles.
The theoretical framework was built in the light of such authors as: (SALES, 2009),
(MACHARIA, 2009), (FREITAS, 2004), (relative, 2010), (AUGUST, 2010),
(REVELAT, 1999), (MIRANDA, 2005), (ALAVARSE, 2009), JACOMINI, 2009;
PEREIRA, 2008) and (GARCIA, 2005), among others. The survey results revealed
that, despite the Organization in cycles is not new, many school teachers observed
do not yet know its proposal in its entirety; teachers know the serial organization and
large part, considers its application beneficial for education; Both teachers
employees, as scholars of education surveyed believe that any public policy for
education must be accompanied by investment in human and structural resources.
Keywords: organization of teaching. Organization of teaching in cycles.
Contributions. Challenges.
SUMRIO
JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................. 14
PROBLEMA .................................................................................................................................... 15
HIPTESE...................................................................................................................................... 15
OBJETIVO GERAL ....................................................................................................................... 15
OBJETIVOS ESPECFICOS ....................................................................................................... 15
I - BREVE HISTRICO DA EDUCAO .................................................................................. 16
1- Possibilidades de organizao do sistema de ensino ........................................................ 17
1.1- Organizao em sries ..................................................................................................... 17
1.2 Organizao em ciclos ........................................................................................................... 18
1.2.1- Polticas de no reprovao ............................................................................................. 20
1.2.2 Modalidades da escola organizada em ciclos ................................................................ 25
II. DIFERENAS MARCANTES ENTRE CICLOS E SRIES ............................................... 27
III - METODOLOGIA ..................................................................................................................... 29
IV- A ORGANIZAO DA ESCOLA SOB A TICA DO OBSERVADOR ........................... 30
ANLISE DOS RESULTADOS ................................................................................................... 47
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 52
INTRODUO
A cidade em que a pesquisa foi realizada surgiu a partir da modificao de
uma agrovila, que foi cedida para produtores de hortifrutigranjeiros, em rea urbana
com condomnios fechados, loteamentos e invases. H uma diviso interna na
cidade, pois claramente se percebe as diferenas socioeconmicas dentro da regio
atualmente considerada XXX Regio Administrativa do Distrito Federal. Uma parte
maior formada por condomnios fechados e grandes construes. A parte menor
caracterizada por pequenas construes, muitas reas so invadidas, cedidas ou
alugadas. H lotes em que habitam at dez famlias. Raros so aqueles que
possuem sua prpria casa demonstrando maior instabilidade.
Em consequncia desse aumento populacional surgiram novas demandas
estruturais dentre elas a necessidade de escolas. Havia apenas uma distava
aproximadamente 14 quilmetros do local menos privilegiado da regio. As crianas
dessa rea tinham que se deslocar a p at as escolas de Taguatinga. Houve ento,
uma mobilizao da populao local orientada pela Presidente da Organizao
Social, a Sra. Elisabeth Alves Medeiros. Alguns polticos foram convidados para
debates com a comunidade e, no local, tomavam cincia das necessidades vividas
pelos habitantes. Em 2009 surgiu o resultado desse esforo conjunto, comeou a
construo de uma escola em uma rea aberta onde os moradores improvisavam
um campo de futebol. No segundo semestre desse mesmo ano foi inaugurada a
Escola Classe Renascer para atender a Educao Infantil e as sries/anos iniciais
do Ensino Fundamental.
A Escola Classe Renascer conta em suas instalaes com 15 salas, das
quais 14 so utilizadas como salas de aula e uma foi destinada para laboratrio de
informtica que est equipada com 17 computadores uma impressora e dois
aparelhos de ar condicionado. Essas salas so divididas entre trs blocos, contendo
cinco salas cada. A escola conta ainda com um bloco pedaggico-administrativo
onde funciona a secretaria, o administrativo, a sala dos professores (subdividida
para uso da mecanografia), a direo e a sala de leitura (subdividida para sala de
reforo). H outro bloco com trs salas destinadas ao atendimento dos alunos que
necessitam de um apoio diferenciado para aprendizagem: SOE, SEAA e Sala de
Recursos. No h espao definido para a coordenao pedaggica, visto que todos
os espaos foram utilizados para acolher a demanda dos alunos da comunidade. A
escola possui uma cantina, um depsito de merenda, uma sala para os servidores e
dois pequenos depsitos para armazenamentos gerais.
Como opes de espao para uso coletivo, existem um parquinho, um ptio
coberto e uma quadra de esportes, coberta recentemente, um banheiro masculino e
um feminino para servidores, um banheiro para professores, um banheiro para
professoras, um banheiro com 5 boxes para alunos, um banheiro com 5 boxes para
alunas e um banheiro para portadores de necessidades especiais.
Para atender as demandas administrativas a escola possui dois
computadores e uma impressora na secretaria e um computador e uma impressora
na sala do administrativo. Para dar apoio ao trabalho didtico-pedaggico existem
duas multifuncionais (uma para pequena demanda e outra para grande escala), dois
computadores, duas duplicadoras e um projetor de multimdia. Esse equipamento
fica localizado na sala dos professores. Tanto os computadores e impressoras,
tanto os que servem parte administrativa quanto os que atendem ao pedaggico,
esto conectados a uma rede wi-fi. As salas de aula esto equipadas com um
aparelho de TV, um DVD e um ventilador, alm de armrios para as professoras.
A Escola Classe Renascer oferta o ensino regular nos dois primeiros ciclos
da educao bsica, assim discriminados e divididos:
I Ciclo - Educao Infantil cinco turmas 129 alunos
1 Perodo (4 anos): 2 turmas sendo uma no matutino e uma no vespertino;
2 Perodo (5 anos): 3 turmas- sendo duas no matutino e uma no vespertino;
II Ciclo I Bloco (BIA) 12 turmas 315 alunos
1 Ano: 4 turmas sendo uma no matutino e trs no vespertino;
2 Ano: 4 turmas duas no matutino e duas no vespertino;
3 Ano: 6 turmas- trs no matutino e trs no vespertino;
II Ciclo II Bloco 8 turmas 216 alunos
4 Ano: 4 turmas duas no matutino e duas no vespertino;
5 Ano: 4 turmas duas no matutino e duas no vespertino.
As seis turmas de 3 ano foram reduzidas para atender aos alunos com
necessidades especiais de aprendizagem (ANEE); Uma turma de 1 ano vespertino
foi adaptada (10 alunos e duas professoras regentes) para receber um aluno
portador de cardiopatia grave; O nmero de alunos passvel de variao
dependendo da rotatividade;
A escola conta com um quadro de profissionais misto entre efetivos,
contratados temporariamente e terceirizados.
Equipe gestora: uma diretora, uma vice-diretora, uma secretria escolar e um
supervisor administrativo.
Carreira magistrio: 27 professoras regentes 20 efetivas e 7 contratadas
temporariamente; 5 professoras readaptadas atuando na sala de leitura; um
professor readaptado atuando no laboratrio de informtica; duas professoras
readaptadas atuando como apoio de direo.
Carreira assistncia: 2 tcnicos de gesto escolar na secretaria; uma agente de
portaria; um funcionrio cedido por outro rgo para portaria.
Equipe de apoio pedaggico: trs coordenadoras; uma orientadora educacional;
uma pedagoga; uma psicloga; uma professora para a sala de recursos.
Terceirizados: 4 vigilantes; duas merendeiras; 7 auxiliares de servios gerais.
Um questionrio socioeconmico realizado pela escola revela que muitas
dessas famlias so assistidas pelo governo e/ou pelas igrejas. A vida social e o
lazer so bastante limitados restringindo-se, salvo algumas excees, s atividades
promovidas pela escola, igrejas e administrao local. Esse mesmo levantamento do
perfil socioeconmico - feito por meio de questionrio enviado para ser respondido
em casa mostra que a renda dessas famlias varia entre menos de um (01) at trs
(03) salrios mnimos em pelo menos 84% das famlias que devolveram os
questionrios (40,73%).
Tendo em vista esse resultado a escola conclui que o lazer das crianas fora
da escola est limitado s brincadeiras de rua e aos programas televisivos. Diante
dessas evidncias a escola tem buscado parcerias para promover aes sociais
possibilitando a insero da famlia na escola, alm de proporcionar momentos de
lazer e cultura.
Uma pesquisa socioeconmica em territrios de vulnerabilidade social no
Distrito Federal feita pela DIEESE em 2011 mede em 29,6% a vulnerabilidade social
na Regio Administrativa de Vicente Pires. Mas, como vimos anteriormente, essa
Regio apresenta uma diviso clara do ponto de vista socioeconmico. A Vila So
Jos, onde a escola est localizada, considerada uma rea de risco social com
altos ndices de violncia constatados pelas ocorrncias policiais, observados nos
noticirios e, a escola tem a mais lamentvel das fontes de informaes: o relato das
crianas. Entre os problemas mais corriqueiros encontramos o consumo e o trfico
de drogas ilcitas e assassinatos. Apesar dessas constataes externas, at o
momento, no h queixas de atitudes violentas ou uso de drogas dentro da escola.
As crianas so afetivas e respeitosas. Aceitam e participam de todas as atividades
propostas.
Assim como em muitas outras escolas do Distrito Federal, a Escola Renascer
encontra dificuldade de interao escola/famlia. Muitos ainda no conseguiram
entender a importncia de sua participao nas etapas de planejamento, execuo e
avaliao das aes da escola. Talvez seja esse o grande desafio dos educadores
de nossa poca: definir, ou melhor, unir os papis da famlia e da escola
proporcionando a vivncia da cidadania no espao escolar.
Os projetos
A Escola Classe Renascer sustenta sua prtica educativa em quatro pilares
bsicos: tica e Cidadania; Meio Ambiente; Diversidade Cultural e Convivncia
Fraterna em Sociedade. Esses eixos esto divididos em bimestres e todos os
projetos esto orientados por eles:
Semeando valores: Cuida de mim, Respeito s diferenas, Bullying na escola, no;
Festa regional popular (Festa Junina), Dona Terra, rvore nossa de cada dia,
Africanidades, Melhor leitor... Futuro escritor, Multiplicadores do saber, Encontro com
a famlia.
As turmas de 1 ano contam com um projeto exclusivo de alfabetizao: De
Histria em histria... Vou lendo o mundo.
Todos os dados referentes escola esto baseados no ano letivo de 2013.
14
JUSTIFICATIVA
A Secretaria de Estado de Educao do Distrito Federal lanou como
proposta de trabalho para o ano letivo de 2013 a reorganizao do sistema de
ensino em ciclos de aprendizagem. A implantao desse sistema causou polmica
logo de incio, pois contrariou o Conselho de Educao pelo seu imediatismo sem
debate junto comunidade escolar. O Ministrio Pblico foi acionado para resolver o
impasse. Diante da situao deu seu parecer favorvel necessidade de ouvir a
opinio dos pais e dos profissionais da educao antes da mudana acontecer.
Essa polmica gerada em torno da forma de organizao de ensino nos faz
refletir em algumas questes, at ento, pouco valorizadas pela maioria dos
cidados comuns que formam as comunidades escolares: os altos ndices de
reprovao, a evaso escolar e a dificuldade de aprendizagem. Esses problemas
foram considerados normais por grande parte da sociedade que, de fato acredita, ou
quer acreditar, que as causas das sucessivas reprovaes so causadas pelo
desinteresse do aluno, pela sua falta de disciplina, porque ele no tem capacidade
ou, ainda, porque a famlia no o acompanha.
A SEDF, nos ltimos meses do ano de 2013, organizou conferncias pblicas
consultivas sobre ciclos e semestralidades, nas diversas Coordenaes Regionais
de Ensino do DF, no intuito de encaminhar propostas de aes para sua
reformulao, implantao, acompanhamento e avaliao. Para subsidiar esses
debates, as escolas tiveram oportunidade de discutir, no espao destinado s
coordenaes coletivas, preencher e enviar um quadro-sntese dessa conferncia
contendo espao para o registro das impresses dos segmentos quanto aos pontos
de avano, as fragilidades, sugestes para reformulao, implantao,
acompanhamento e avaliao das diversas dimenses e aspectos que compem a
rotina escolar.
Aps vrias conversas entre representantes da educao e do Conselho de
Educao, foi publicada no DODF de 09 de dezembro de 2013 a Portaria N 285 que
regulamenta o Projeto de Organizao Escolar em Ciclos para as Aprendizagens na
Educao Infantil e Ensino Fundamental/ Anos Iniciais, aprovado em votao
unnime pelo Conselho de Educao do DF. Sua implantao dever ser gradativa
e por adeso, como no poderia deixar de ser em poca de gesto democrtica nas
escolas. Posteriormente em 17 de dezembro o Conselho aprovou, tambm por
unanimidade, o projeto para o terceiro ciclo formado pelos anos finais do ensino
fundamental.
Apesar dessa polmica gerada em torno do sistema de ciclos e
semestralidade ter ocupado a mdia por diversas vezes, no houve preocupao
quanto a esclarecer a proposta como um todo. Portanto, ainda hoje, comum
encontrar quem no compreenda o que significa esse ousado passo dado rumo
15
transformao do conceito que se tem de educao enraizado h dcadas na
cabea de todos ns. Dessa forma, esse trabalho tem como propsito aprofundar
essa reflexo, na tentativa de elucidar o que vem a ser a organizao do ensino em
sries e a organizao do ensino em ciclos de aprendizagem, fornecendo meios
para que se possa avaliar os benefcios de cada uma para a educao pblica do
DF.
PROBLEMA
Qual a melhor forma para garantir aprendizagem: ciclos ou sries?
HIPTESE
Para que qualquer iniciativa voltada para a melhoria da qualidade de ensino
tenha xito necessrio uma caminhada longa rumo preparao do profissional e
uma reestruturao na infraestrutura e recursos humanos. O trabalho realizado at o
momento quanto formao profissional no surtiu o efeito desejado em muitos dos
profissionais da educao que ainda acreditam que a classificao a melhor
maneira de garantir o sucesso da educao.
OBJETIVO GERAL
Elucidar as prticas pedaggicas empregadas na organizao do ensino em
sries e em ciclos de aprendizagens, por meio de estudo da literatura e depoimentos
colhidos da prtica docente, para favorecer o entendimento da contribuio que
ambos podem dar educao.
OBJETIVOS ESPECFICOS
Avaliar a contribuio do sistema de ensino organizado em sries para a
educao ao longo de sua existncia, por meio de documentos publicados e
da experincia de professores da rede de ensino pblico do D.F.
Analisar a proposta de organizao em ciclo de aprendizagem, por meio de
documentos e estudos apresentados por intelectuais da educao para
verificar a possibilidade de sua aplicao imediata.
Comparar as duas formas de organizao de ensino, visando listar o que
cada uma tem de favorvel e enumerar suas dificuldades.
16
REFERENCIAL TERICO
I - BREVE ANLISE DA EDUCAO
Antes da Antiguidade Clssica a educao era informal e servia para transmitir
os padres culturais de uma gerao outra por questes de sobrevivncia. Apenas
com o advento da Civilizao Grega a educao formal passou a ser uma
preocupao e, desde ento, um espao que privilegie a aprendizagem tornou-se
uma necessidade. Essa educao privilegiada era destinada apenas classe
dirigente ou para servir aos propsitos dessa. O instrutor era um filsofo cuja funo
era ensinar artes, poltica, aritmtica e filosofia, visto que aos dirigentes no
interessava ligar ensino profisso ou ao trabalho. (SALES, 2009). Na Idade Mdia,
a educao ficava a cargo dos religiosos que assumiram o papel de educadores na
tentativa de atrair os fiis, e para dedicar-se instruo da elite. Logo os benefcios
da leitura e da escrita comearam a atrair novos adeptos como os polticos, os
comerciantes e os grandes proprietrios rurais. Depois de algum tempo, frequentar
uma escola passou a proporcionar prestgio dentro da sociedade. (SALES, 2009).
A transio do modo de produo feudal para o capitalista trouxe consigo a
necessidade de instrumentalizar os trabalhadores para esse novo sistema de
produo. (MAINARDES, 2009). Era preciso instruir a classe operria para lidar com
as mquinas. Para esse propsito, tomaram-se por base os modelos educacionais
militares e religiosos, visto que os que detinham o poder necessitavam de um tipo
especfico de mo-de-obra: o subordinado. A escola, mais uma vez, foi uma arma na
mo dos poderosos para subjugar os trabalhadores, que aceitaram sua posio
subordinada s regras da classe dominante. (SALES, 2009; FREITAS, 2004).
Apesar dessas inovaes, somente no sculo XVIII, com a ebulio das
ideias iluministas, o ensino deu seus primeiros passos rumo universalizao e
assumiu a funo social de instruo. (MAINARDES, 2009; REVELAT, 1999). Na
Frana, coube aos filsofos iluministas organizar o sistema de educao pblica.
Essa primeira organizao defendia princpios at hoje respeitados como a
gratuidade, a laicidade e a obrigatoriedade. O ensino deveria compor-se de quatro
graus: primrio, secundrio, os institutos e os liceus; devendo todos os graus ser
gratuitos, porm admitindo-se que, a princpio, o Estado poderia universalizar
apenas o grau primrio. (MAINARDES, 2009). Outros seguiram os passos da Frana
e quando o ensino tornou-se obrigatrio na maioria dos pases, comearam a surgir
problemas como a falta de vagas, os altos ndices de reprovao, a evaso escolar
e as dificuldades de aprendizagem. Tudo isso pode ser explicado pela rapidez que
uma escola elitizada destinada a poucos teve que tornar-se um espao democrtico
sem uma preparao necessria. (REVELAT, 1999).
Assim, como na Europa, os religiosos foram os primeiros professores no
Brasil (os jesutas) atendendo aos seus prprios propsitos e disseminando a cultura
17
elitista de subordinao das massas. Somente quatro sculos depois, no incio do
sculo XX, os intelectuais brasileiros protagonizaram discusses mais profundas
sobre a educao brasileira, preconizando movimentos que criticavam a educao
tradicional e buscavam a universalizao do ensino no pas. (SALES, 2009).
1- Possibilidades de organizao do sistema de ensino
1.1- Organizao em sries
As transformaes sociais e histricas so fatores que determinam o modo de
organizao das escolas. (PARENTE, 2010; AUGUSTO, 2010). Porm, alguns
pontos esto marcadamente presentes na trajetria da educao, como o caso da
seleo, por exemplo. Na Idade Mdia ela j estava presente. No era feita por meio
de exames que comprovassem aprendizado num determinado tempo ou contedo
pr-estabelecidos. No entanto, ao aprendiz era permitido permanecer no espao
destinado ao aprendizado at que seus recursos financeiros o sustentassem,
somente os mais abastados poderiam ficar pelo tempo que quisessem ou at atingir
suas prprias expectativas. Com o passar dos anos, a escola vai caminhando rumo
organizao que conhecemos hoje. Num primeiro momento, os cursos livres foram
sendo substitudos pela graduao dos estudos em graus e classes que
funcionavam em um mesmo espao. Os grupos se reuniam em pontos diferentes da
mesma sala. Para cada classe havia um professor.
Na sequncia desse processo evolutivo, surge a delimitao dos tempos
para as aprendizagens e dos espaos para agrupamento dos alunos. . (PARENTE,
2010). No final do sculo XVI os tempos de aprendizagem j estavam definidos em
anos, dias e horas e os contedos pr-estabelecidos para serem cumpridos dentro
desse programa anual. Ao final de cada perodo, os alunos deveriam ser submetidos
a exames seletivos para demonstrar ter aproveitado esse tempo.
Vale lembrar que a organizao escolar, como a concebemos hoje, com
delimitaes de tempo: ano letivo, horrio de aulas, calendrio escolar, programas
de ensino rgidos e avaliaes seletivas so herana da modernidade e guardam em
sua estrutura muito da influncia dos jesutas, com sua Companhia (sc. XVI), e de
Comnio (sc. XVII), com sua Carta Magna. (PARENTE, 2010). De certa forma, foi
da que surgiu a organizao em sries ou seriada que se caracteriza pela definio
do tempo escolar em ano letivo, pela diviso dos contedos em sries, pela
concepo de educao pautada na aquisio de conhecimentos e formao de
habilidades, pela avaliao quantitativo-seletiva e pelo papel do professor de
transmitir conhecimento.
Nessa estrutura, os alunos so agrupados em sries anuais de acordo com o
nvel de desempenho de cada um. Os conhecimentos so divididos em contedos
18
escolares adequados a cada srie e devendo ser ministrado por um professor no
decorrer de um ano letivo. Ao final desse perodo, os alunos passam por uma
avaliao quantitativa para demonstrar o quanto aprenderam e se esto aptos a
frequentar a srie seguinte ou no. Para aqueles que no conseguiram aprovao
haver uma nova chance no ano seguinte cursando a mesma srie. Eles sero
agrupados com outro grupo de alunos que estiverem no mesmo nvel de
conhecimento que eles, desconsiderando a idade. (AUGUSTO, 2010; MIRANDA,
2005).
Essa caracterstica de segregar aqueles considerados inaptos ou incapazes
gerou no sistema educacional brasileiro problemas graves como os altos ndices de
reprovao, a evaso escolar e a distoro de idade-srie, que se arrastam h
dcadas, sem soluo. (AUGUSTO, 2010; MIRANDA, 2005; PARENTE, 2010).
Apesar disso, h uma crena de que a escola sem essa rigidez no seria capaz de
cumprir sua funo social de transmitir conhecimento.
H uma concordncia de que a culpa pelo fracasso escolar do aluno que
no se esfora o suficiente ou no capaz. Uma ferramenta poderosa nesse
processo educacional seletivo a avaliao que, apesar de, explicitamente, ser um
meio efetivo de verificao de aprendizagem, implicitamente oferece ao professor
um instrumento de controle sobre os alunos. Freitas (2004) concluiu que O poder do
professor se estabeleceu a partir do controle da avaliao do aluno.
As opinies dos autores convergem para uma nica direo: a organizao
de ensino tal qual ela existe hoje, com seu espao delimitado em salas de aula, com
carteiras enfileiradas uma atrs da outra, ptio para recreao e blocos
administrativos; tempos para as aprendizagens definidos em anos, semestres,
bimestres, dias, horas e minutos; programas institucionais rgidos e avaliao
seletiva fruto de um contexto histrico-social diferente do que vivemos hoje e
necessita urgentemente ser adequado. Poucas instituies, na histria da evoluo
humana, mantm princpios to rgidos e primitivos como a escola. Todos percebem
que uma reforma educacional de base urgente, porm, h de se cuidar para que
no seja inconsequente nem utpica, menos ainda precipitada para no se correr o
risco de apenas substituir os meios de excluso.
1.2 Organizao em ciclos
Aps a constatao realista de que o modelo educacional vigente
atualmente, na maioria das escolas brasileiras, no atende ao contexto social vivido
por ns h muito tempo, fez-se necessrio voltar os esforos em busca de uma
soluo possvel. o que os estudiosos da educao vm fazendo h dcadas. Os
caminhos apontam na direo de um sistema de ensino que promova a incluso e
ponha suas expectativas na construo da aprendizagem, garantindo, dessa forma,
a igualdade de resultados.
19
O compromisso com a igualdade de oportunidades no acarreta, nem lgica nem politicamente, compromisso com a igualdade de resultados, que deve ser o grande objetivo de uma escola que se impe como necessria socialmente. (ALAVARSE, 2009, p. 37).
A organizao em ciclos caminha em direo contrria seriao, que
privilegia um grupo de alunos (a minoria) que possuem as mesmas condies para
aprendizagem e seguem juntos em detrimento daqueles que, por diversas razes,
no conseguem acompanhar esse grupo. O objetivo dos ciclos proporcionar
oportunidade para que todos avancem juntos. Para que isso acontea, h de se
respeitar a individualidade de aprendizagem de cada um, considerando as
influncias sociais s quais esto submetidos, e conduzindo o processo pedaggico
em uma rotina de planejamento, avaliao dos resultados e redirecionamento. Os
tempos escolares tambm devem ser ampliados para que os alunos no estejam
obrigados a mostrar rendimento a cada fim de ano, tendo a possibilidade de avanar
no seu prprio ritmo dentro de um perodo maior. No decorrer desse tempo, devem
ser propostas aes interventivas no sentido de auxiliar aqueles que apresentarem
maiores dificuldades. (JACOMINI, 2009; PEREIRA, 2008).
A desconstruo dessa escola erguida sobre o alicerce da transmisso de
conhecimento para erguer outra centrada na aprendizagem no tarefa fcil e exige
muito planejamento e prudncia. Desde o incio do sculo XX as autoridades
polticas e educacionais preocupam-se com o rumo da educao no pas, pois
desde ento, os altos ndices de reprovao estavam superlotando as escolas,
prejudicando a oferta de vagas e causando prejuzos financeiros aos cofres pblicos.
Algumas medidas radicais foram tomadas na tentativa de resolver o problema.
A promoo em massa recomendada por Oscar Thompson, Diretor Geral
de Ensino em 1921, foi uma delas.; um pouco antes disso, em 1918, Sampaio Dria,
Diretor Geral da Instituio Pblica, recomendou a promoo de todos os alunos do
1 para o 2 perodo, permitindo aos atrasados a repetio do ano somente no caso
de sobrar vagas (Mainardes apud Almeida Junior, 1957, p.9).
Um pouco mais a frente, nas dcadas de 1950 e 1960, a progresso
automtica passou a ser vista, por alguns polticos e intelectuais, como uma soluo
possvel para os elevados nmeros da reprovao e da evaso escolar, garantindo
mais vagas e economia ao Estado. Ansio Teixeira e, o ento presidente, Juscelino
Kubitschek acreditavam nessa alternativa. Almeida Junior e Dante Moreira Leite
eram favorveis implantao, porm alertavam para a necessidade de se preparar
os professores, de se investir na melhoria da infraestrutura das escolas e da reviso
do currculo. Lus Pereira e Renato Jardim Moreira consideravam as condies
precrias de funcionamento das escolas, o despreparo dos professores e o currculo
inadequado como os verdadeiros viles da educao, dessa forma, de pouco
adiantaria a progresso automtica se esses itens no fossem revistos.
(MAINARDES, 2009).
20
Nesse ponto, existe uma unificao de ideias entre esses ltimos e os
autores contemporneos. A soluo possvel para o problema da educao
contempornea est no acompanhamento pedaggico e na adequao da escola s
necessidades dos alunos, os espaos, as metodologias e os tempos devero estar
voltados para atender s dinmicas individuais. Em resumo, os objetivos de
aprendizagem so os mesmos para todos, escola cabe buscar espaos e
estratgias para que todos os alunos atinjam esses objetivos em nove anos. Se no
houver preparao profissional e suporte estrutural e administrativo das escolas, os
objetivos do ciclo no sero alcanados. Ser apenas uma seriao com progresso
automtica. (JACOMINI, 2009).
No se pode levar uma proposta educacional ao sucesso se no houver a
adeso dos principais atores dessa pea: os professores. Essa categoria tem se
mostrado, em sua maioria, resistente a qualquer proposta que tire de suas mos o
poder de aprovar ou reprovar. importante perceber que o professor precisa ser
cativado, seduzido por essa nova forma de educar. Tambm, ele precisa ser
treinado na arte de focar seu planejamento na aprendizagem, dessa forma, aos
poucos, devagar alunos e professores passem a interagir dentro desse novo
sistema. Para que uma iniciativa revolucionria, no sentido dos princpios histricos
que regem a vida escolar, logre xito imprescindvel que se tenha a cumplicidade
de seus principais integrantes: os professores, os alunos e suas famlias. (GOMES,
2005).
1.2.1- Polticas de no reprovao
Partindo do princpio conclusivo de que a democratizao do acesso s
escolas trouxe consigo a possibilidade de um conjunto heterogneo de alunos para
dentro de seus espaos; e que essa mesma escola agrupou essa heterogenia de
vidas em classes, considerando apenas a idade cronolgica de cada um; dividiu os
contedos por srie; determinou um tempo nico para que todos aprendessem o
que estava pr-estabelecido, fazendo uso de uma mesma metodologia e sendo
avaliados pelos mesmos padres; e de que o resultado desse conjunto de medidas
foi frustrante porque os alunos no atingiram o desempenho desejado, uns
aprenderam mais e outros menos; e de que a soluo encontrada para isso foi a
reprovao (apresentada como um ato generoso de dar um tempo a mais tempo
queles que no aprenderam no tempo certo); e de que essa reprovao, algumas
vezes, transformou-se na primeira de muitas e consequentemente levou aos graves
problemas educacionais que vivemos at hoje, fica a impresso de que deve-se
impulsionar uma busca por solues que apontam para polticas de no reprovao.
(FREITAS, 2004; MAINARDES, 2009; JACOMINI, 2009)
A progresso automtica foi uma das primeiras polticas de no reprovao
e causou uma rejeio muito grande por parte da comunidade escolar,
21
principalmente dos educadores, que temiam a queda da qualidade da educao.
Entretanto, deve-se compreender que a reprovao existe a dcadas e no resolveu
o problema do baixo rendimento escolar, pois se h reteno, consequentemente h
quem no aprendeu. A diferena est no fato de que, dessa maneira, a criana no
aprendeu e ficou retida. E, para tranquilizar a conscincia de todos, ela ser
premiada com uma nova chance e facilmente ser esquecida. Ao passo que se
no houver reteno, ela avanar com essas dificuldades e ser rapidamente
notada em uma classe onde se espera maior maturidade cognitiva e poder
participar de intervenes com o objetivo de ajuda-la a superar essas dificuldades. .
(JACOMINI, 2009).
Vista por esse ngulo, a progresso automtica uma forma de evitar a
excluso por meio da reprovao, porm, a garantia de aprendizagem s se dar se
essa, ou qualquer outra, poltica de no reprovao, estiver acompanhada de um
conjunto de medidas que vo, desde a ressignificao do tempo e espao escolar,
preparao dos profissionais, medidas pedaggicas diferenciadas, estratgia de
matrculas que privilegiem um nmero menor de alunos por sala, at a possibilidade
de atendimento individualizado aos alunos com baixo rendimento. Em resumo,
adotar polticas de no reteno implica em estudo, preparao prvia e
investimentos. (Jacomini, 2009; PEREIRA, 2008; ALAVARSE, 2009).
Alguns autores vistos anteriormente, Mainardes (2009) e Freitas (2004) e
Alavarse (2009) afirmam que as polticas de no reprovao no so exclusivas do
sculo XXI, h tempo elas vm sem sendo experimentadas adotando diferentes
terminologias, evitando propositadamente o termo progresso continuada para evitar
a rejeio imediata dos professores a essa proposta pelos motivos citados
anteriormente. No Brasil, O Estado do Rio Grande do Sul foi o primeiro a
experimentar uma poltica de no reteno, a qual chamou de Reforma da Educao
Primria no ano de 1958. As classes iniciantes eram formadas baseadas na idade
cronolgica das crianas. Para a os alunos j matriculados na escola a formao
das classes considerava a idade e o rendimento. Nesse caso no havia reprovao,
a criana que no atingisse o rendimento esperado era promovida e no perodo
seguinte frequentaria uma classe de recuperao.
Mainardes (2009) fala sobre a primeira experincia de no reprovao do
Distrito Federal aconteceu em 1963 sob a dominao de Organizao do Ensino
Primrio em Fases. O primrio foi dividido em trs fases. A Primeira fase englobava
a 1 e a 2 sries, era dividida em quatro etapas de alfabetizao e a promoo para
a segunda fase acontecia apenas quando o aluno completava a alfabetizao; a
segunda fase era composta pela 3, 4 e 5 sries; e a terceira a 6 srie. Essa
poltica justificava sua implantao como tentativa de sanar o alto ndice de
reprovao nas 1s e 2s sries. Permaneceu por sete anos.
A reprovao na 1 srie do ensino fundamental continuou preocupando os
responsveis por coordenar o ensino pblico no DF que no desistiram de buscar
22
uma soluo para o problema. Em meados dos anos 80 surgiu o Ciclo Bsico de
Alfabetizao (CBA), uma nova forma de organizar o ensino primrio que
considerava os diferentes tempos e caractersticas de aprendizagem para os
diferentes alunos. O perodo de alfabetizao foi dividido em trs nveis: iniciando,
continuando e concluindo. Conforme o ritmo de aprendizagem do aluno poderia
durar de dois a quatro anos. Ao final desse perodo o aluno deveria ter consolidado
as habilidades da leitura e da escrita. Esperava-se que a grande maioria dos alunos
vencesse essa etapa ao final de dois anos, mas, contrariando essas expectativas,
um grande nmero de alunos permanecia dentro do ciclo aps os dois primeiros
anos de frequncia escolar. Isso, associado falta de orientao e formao
profissional, ausncia de debate com a comunidade escolar e insegurana dos
professores acostumados a anos de seriao pode ter sido a causa do fracasso do
CBA. (PEREIRA, 2008).
Para Pereira (2008), a Escola Candanga foi outra tentativa de exorcizar o
fantasma da reprovao. Surgiu em 1995 e foi organizada em trs fases de
formao fundamentadas no desenvolvimento humano. Os alunos eram agrupados
por idade: 6,7,8/9 anos 1 fase (infncia); 9,10,11/12 anos 2 fase (infncia para
adolescncia); 12,13,14/15 anos 3 fase (parte da adolescncia). Essa experincia
foi interrompida por motivos polticos, visto que o processo eleitoral, ocorrido em
1998, deu vitria ao PMDB e Joaquim Domingues Roriz assumiu o cargo de
governador do Distrito federal.
Os problemas vividos pelo sistema educacional atravessam governos e
governos sem soluo. Porm, no passam sem serem notados, pois, causam
inquietao aos intelectuais da educao e prejuzos ao errio pblico, assim h
sempre quem se preocupe com eles. Dessa forma, em 2005, surgiu, como proposta
de educao inclusiva e democrtica, o Bloco Inicial de Alfabetizao (BIA). A
ampliao do ensino obrigatrio de 8 para 9 anos passou a acolher os alunos de 6
anos proporcionando-lhes maior tempo de escolaridade e permanncia na escola.
Assim, a alfabetizao passa a acontecer na vida das crianas a partir dos 6 anos e
se pretende que seja concluda aos 8 anos. Essas crianas so agrupadas dentro
Bloco em trs etapas, por idade: I Etapa- 6 anos; II Etapa-7anos; III Etapa-8 anos.
S possvel a reteno dentro do Bloco nos casos em que o aluno no tenha a
frequncia mnima exigida de 75%, caso contrrio, a promoo automtica.
Os alunos, ao longo do processo de alfabetizao devero participar de aes
interventivas com vistas a ajud-los na superao das dificuldades. Ao final da III
Etapa, aqueles que no desenvolverem as competncias esperadas podero ser
retidos. importante ressaltar que essa proposta de ensino para a alfabetizao
desenvolvida at hoje nas escolas do DF.
Para que os objetivos do BIA sejam alcanados (consolidar as habilidades de
leitura e escrita), algumas medidas e princpios devem ser observados:
23
Vale observar, no entanto, que ampliar o tempo e reorganizar os espaos
da escola no garante a aprendizagem da leitura e da escrita;
fundamental que outras intervenes sejam desenvolvidas a fim de garantir
os objetivos do Bloco. (PEREIRA, 2008, p. 71)
O dilogo que vem sendo tecido pelos autores ao longo dessa reflexo
aponta para uma questo imprescindvel para o sucesso de qualquer tentativa de
melhoria no ensino: a formao dos professores. O Distrito Federal possui uma
categoria formada, em sua maioria, por profissionais que esto com suas prticas
pedaggicas consolidadas pelos muitos anos de experincia na organizao
seriada. Para que essa experincia pudesse ser posta a servio dessa proposta,
seria necessrio que esses professores fossem seduzidos por essa nova maneira de
pensar a educao, pois, se o professor no acreditar na proposta, seja ela qual for,
ele no a executar na sala de aula e dessa forma, os frutos no sero colhidos.
Isso indica, pois, que a formao continuada dos professores da escola organizada em ciclos deve receber ateno especial, considerando que a inteno desse tipo de organizao da escolaridade, alm de uma tentativa de superao da escola tradicional, indica que os professores precisam receber formao e um acompanhamento adequado para construir aprendizagens em conformidade com o ciclo: em relao com as questes pedaggicas, por exemplo. (PEREIRA, 2008 p. 74).
A Secretaria de Educao do Distrito Federal oferece um apoio ao professor,
que pretende promover a interao entre trs nveis para formao: a Escola de
Aperfeioamento dos Profissionais da Educao (EAPE), o Centro de Referncia em
Alfabetizao (CRA) e a Coordenao Pedaggica. (Pereira, 2008). Desde a
implantao do BIA, a EAPE tem proporcionado oportunidades de formao para os
professores, como mostra o quadro abaixo:
CURSO
ANO DURAO CRE PARTICIPANTES
ALFABETIZANDO NO BIA
2005 180 h CEI 650 profs.
ALFABETIZANDO NO BIA
2006 180 h TAG 429 profs.
AVANANDO NA PRTICA PEDAGGICA
2006 120 h CEI COORDENADO - RES
FRUM DE COORDENADORES
2006 - TAG 38 COORDENADORES
A ALFABETIZAO NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS
2007 120 h BRAZ GUAR TAG SAM CEI
160 FORMADORES
+ DE 1300 ENVOLVIDOS
ALFABETIZAO E LINGUAGEM PR-LETRAMENTO
2010 120 h - -
Fonte: Pereira (2008)
O CRA foi criado para monitorar e subsidiar as aes pedaggicas relativas
proposta de alfabetizao desenvolvida no mbito das escolas. Ao coordenador
24
pedaggico foi destinada a misso de organizar o trabalho junto ao grupo de
professores.
Apesar desse esforo dispensado, houve dificuldade de aceitao da nova
proposto, pois faltou um dilogo anterior com o professorado para lhes fossem
esclarecidos os objetivos dessa iniciativa e os motivos pelos quais sua implantao
comear pela Ceilndia. Em resumo, os profissionais da ponta foram excludos de
um momento crucial da proposta: o planejamento. Tornando-os meros executores.
(Tolentino, 2007). Por esse motivo, quando surgiram os cursos de formao foram,
de imediato, rejeitados. A falta de aes democrticas dificultou a adeso voluntria
dos professores.
A enturmao dos alunos dentro do Bloco segue a critrios de idade
cronolgica sendo a I Etapa formada pelas crianas de 6 anos; a II Etapa as
crianas de 7 anos e a III Etapa as crianas de 8 anos. Os alunos progridem
livremente dentro do Bloco, sem reteno, ao final da III Etapa aqueles que no
atingirem os objetivos de aprendizagem do Bloco podero ser retidos aps avaliao
do Conselho de Classe. Vale lembrar que o aluno que no frequentar 75% das aulas
poder ser retido em qualquer etapa. (Regimento Interno, 2009)
de fundamental importncia que aes interventivas sejam pensadas e
executadas durante todo o processo de alfabetizao no intuito de auxiliar os alunos
que apresentem necessidades de aprendizagem especficas. O reagrupamento
uma dessas aes e est previsto no documento que organiza o trabalho
pedaggico do BIA Diretrizes Pedaggicas do Bloco Inicial de Alfabetizao
(DPBIA). Privilegia o trabalho em grupo o que permite ao professor maior mobilidade
no atendimento e maior interao entre os alunos. (DPBIA, 2012). Para que essa
estratgia pedaggica obtenha xito, no momento do planejamento, que deve
envolver todos os docentes e a equipe pedaggica da escola - coordenador, SEEA,
OE, diretor e vice- diretor- deve-se considerar que separar os alunos por nveis e
propor atividades especficas no suficiente, preciso criar oportunidades de
interao, ou seja, atividades que possibilitem a troca de ideias (experincias) e
proporcionem o dilogo.
Essa troca de experincias pode acontecer, inclusive, entre os alunos de
todas as turmas do Bloco (reagrupamento interclasse) envolvendo os diferentes
professores e toda equipe pedaggica. O planejamento pode acontecer nos
momentos da coordenao pedaggica, partindo da definio dos objetivos. A
pluralidade de ideias muito importante nesse momento, pois ao traar o percurso
que dever ser seguido cada professor poder associar suas habilidades
sistematizao dos trabalhos, o que aumentar as chances de se obter um bom
resultado. Lembrando que quanto maior o nmero de professores envolvidos e
espaos disponveis, menor o nmero de alunos por grupo, fator facilitador dentro do
processo de construo de conhecimento. Cada professor pode tambm promover
25
essa interao entre os alunos de sua turma (reagrupamento intraclasse)
agrupando-os de acordo com critrios definidos por ele considerando aspectos como
o nvel da psicognese da lngua escrita; dificuldades matemticas; produo de
textos; ou interao social. (DPBIA, 2012). O reagrupamento deve acontecer ao
longo do ano letivo de maneira contnua, flexvel, diversificada e dinmica.
Alguns alunos apresentam dificuldades de aprendizagem especficas que no
podem ser sanadas apenas com a participao nos reagrupamentos. Nesse caso,
deve-se pensar em uma interveno imediata e pontual para auxiliar esses alunos.
Essa estratgia definida nas Diretrizes Pedaggicas do BIA como projeto
interventivo:
a proposta de interveno complementar, de incluso pedaggica e de
atendimento individualizado. (...) deve ser permanente na sua oferta,
flexvel, dinmico e temporrio no atendimento aos estudantes.
(DIRETRIZES PEDAGGICAS DO BIA, 2012, p. 65)
A avaliao do processo de aprendizagem deve ser contnua e participativa.
Desenvolvendo-se ao longo do processo privilegiando os aspectos qualitativos, de
modo a promover a valorizao das aprendizagens, favorecendo um
acompanhamento sistemtico do educando, que consiste em perceber seus e
necessidades a fim de propor aes interventivas direcionadas.
Jacomini (2009), Mainardes (2009), Freitas (2004) e Pereira (2008) afirmam
que a observncia desses princpios somada a modificaes na escola, no que diz
respeito s condies estruturais de funcionamento tendem a aproximar a escola
pblica do ideal previsto por aqueles que almejam uma educao de qualidade, com
caractersticas de incluso social.
1.2.2 Modalidades da escola organizada em ciclos
A poltica de promover todos os alunos surgiu em 1910, sob a denominao
de progresso automtica, como forma de vencer os inconvenientes causados
pelos autos ndices de reprovao (MAINARDES, 2009). Esse termo causou, e
causa at hoje, grande rejeio comunidade escolar e, por esse motivo,
normalmente evitado. Porm, Jacomini (2009) afirma que progresso automtica,
como concebida em sua origem, significa o mesmo que progresso continuada. Que
pode ser traduzida na possibilidade de avano dos alunos nos anos de escolaridade
sem interrupo ou repetio. Freitas (2004) cita uma diferenciao de conceitos
produzida por Bertagna (2003) em que a progresso automtica apenas uma
maneira de manter a criana na escola, independente dos progressos, apenas por
norma administrativa, ao passo que progresso continuada contempla ao aspecto
pedaggico baseado na crena de que a criana progride no processo de
aprendizagem mesmo que em ritmo prprio. Um pouco mais a frente em seu
discurso, Freitas (2004, p.10) A progresso continuada no se contrape
26
seriao, como alguns creem. Ela simplesmente limitou o poder de reprovar que a
avaliao formal tinha ao final de cada srie (...).
Ciclos: inicial, intermedirio e final: Mainardes (2009) cita como exemplo
dessa experincia de ciclos a rede estadual de So Paulo no ano de 1992. Essa
modalidade de ciclos consistia em estruturar os oito anos do 1 grau em trs ciclos:
Ciclo Inicial (1, 2 e 3 sries); Ciclo Intermedirio (4, 5 e 6 sries); Ciclo Final (7
e 8 sries). A reteno s era possvel ao final de cada ciclo. A avaliao
continuada e qualitativa. Relatrios semestrais e resultados conceituais: plenamente
satisfatrio, satisfatrio e insatisfatrio.
Ciclos de formao: os autores pesquisados definem a escola organizada
em ciclos de formao como aquela que se baseia no princpio de que os seres
humanos so diferentes entre si, assim como diferente o seu desenvolvimento,
que no acontece ao mesmo tempo nem se d de maneira programada. Dessa
forma, os tempos e espaos escolares devem ser organizados de maneira a
adequar-se as fases do desenvolvimento humano respeitando as caractersticas
biolgicas e culturais das crianas. (DAVID, 2006; FREITAS, 2004; ALAVARSE,
2009).
David (2006) completa essa definio dizendo que esse tipo de organizao
foca a formao humana com nfase na cidadania. Acreditando que, por meio dessa
formao integral, o sujeito ser capaz de trilhar seu prprio caminho em busca da
realizao pessoal. Freitas (2004) e Alavarse (2009) falam sobre a adequao do
currculo formal as fases do desenvolvimento humano, o que faz com que as
crianas sejam agrupadas por sua faixa etria em funo dos ciclos da vida: infncia
(6 a 9 anos); pr-adolescncia (9 a 12 anos) e adolescncia (12 a 14 anos).
Ciclo de aprendizagem: nessa experincia, acredita-se que a incluso social
se d por meio do aprendizado de competncias que instrumentalizam o sujeito para
a vida. (DAVID, 2006). As modificaes no currculo, na avaliao e na organizao
da escola so mais brandas. A durao do ciclo de dois ou trs anos, admitindo a
possibilidade de reteno ao final de cada ciclo. considerada uma alternativa para
vencer o fracasso escolar por direcionar seu foco para a aprendizagem. (STRUMEL,
2012; ALAVARSE, 2009). Os esforos so voltados para que os alunos progridam
por meio da aprendizagem construda dentro do perodo definido para o ciclo. Para
que isso acontea como previsto, algumas mudanas tm que acontecer na
estrutura e na gesto da escola; os objetivos de aprendizagem para cada ciclo tem
que ser claros para os professores e para os alunos; tem-se que investir na prtica
de uma pedagogia diferenciada e numa avaliao formativa e contnua, e em um
trabalho coletivo. Os professores precisam ser lembrados como agentes importantes
nesse processo e ser contemplados com uma formao continuada pronta a
estabelecer um elo entre a teoria e a prtica.
27
O ciclo de aprendizagem a modalidade proposta para as escolas do DF. O
Caderno de Perguntas e Respostas elaborado pela Secretaria de Estado de
Educao (2013, p.2) assim o apresenta:
O Ciclo de Aprendizagem uma organizao do tempo e espao escolar que visa o atendimento aos diferentes nveis de aprendizagem dos estudantes considerando a logica do processo. (...) Organizar o Ciclo de Aprendizagem nas Unidades Escolares, do 1 ao 5 ano, remete tambm a e pensar no trabalho pedaggico, sustentado na ao coletiva, com finalidade de que todos aprendam.
II.DIFERENAS MARCANTES ENTRE CICLOS E SRIES
Fica, claramente, definido no tpico anterior que, na viso dos estudiosos da
educao, o sistema de ensino seriado diferencia-se basicamente do sistema de
ciclo por sua caracterstica seletiva e excludente que se contrape s intenes
democrticas da organizao da escola em ciclos. Porm, algumas dessas
diferenas merecem mais destaque e sero relacionadas no quadro a seguir:
CICLOS SRIES
CONCEPO DE EDUCAO
Focada na aprendizagem. Pautada na transmisso e recepo de conhecimentos que esto fragmentados em disciplinas estanques e descontextualizados.
TEMPO ESCOLAR Organizado de modo a privilegiar os diferentes ritmos de aprendizagem.
Mesmo tempo de aprendizagem para todos os alunos. Delimitado em um ano letivo.
AVALIAO Contnua e formativa. Pensada para acompanhar a aprendizagem do aluno.
Aprendizagem medida por meio de provas, testes e exerccios. Qualitativa, cumulativa, seletiva e excludente.
PAPEL DO EDUCADOR Mediador no processo de construo do conhecimento.
Transmissor de conhecimento.
Adaptado de (MAINARDES, 2009), (PARENTE, 2010), (AUGUSTO, 2010), (MIRANDA, 2005), (JACOMINI, 2009).
Augusto (2010) descreve a organizao de ensino seriada como sendo
aquela que valoriza excessivamente a transmisso e recepo de contedos que
so apresentados de forma fragmentada em disciplinas estanques e
descontextualizadas. Miranda (2005) diz que a escola seriada orientada sobre o
princpio de que o processo de ensino-aprendizagem se d pela aquisio de
conhecimentos que so transmitidos pelo professor e aprendidos (ou no) pelos
alunos. Em contrapartida, quando o ensino organizado dentro de perspectivas no
excludentes que sejam favorveis ao desenvolvimento humano deve considerar a
aprendizagem como principal objetivo desse processo (JACOMINI, 2009). Nesse
caso, o professor deixa de ser o detentor absoluto do conhecimento e passa a
desempenhar a funo de fomentar a curiosidade, de despertar o interesse e causar
28
dvidas para que os alunos possam construir, paulatinamente, o conhecimento;
realizar suas prprias descobertas e relacion-las ao mundo. De maneira que o
tempo de aprendizagem de cada um seja respeitado e interpretado dentro dessa
organizao do ensino em ciclos como o tempo adequado a cada um (MAINARDES,
2009), sem a limitao temporal existente na seriao.
A avaliao fator importante quando se trata de diferenas entre as duas
organizaes de ensino citadas acima. A seriao privilegia a avaliao
classificatria que usa instrumentos como a prova, trabalhos e exerccios que devem
totalizar um acumulado de pontos definidos previamente (AUGUSTO, 2010). Para
Freitas (2002) a finalidade dessa avaliao excludente dar ao professor o poder
sobre os alunos. Ao passo que, a organizao em ciclos pressupe uma avaliao
contnua e formativa voltada para as aprendizagens de modo a atender aos
diferentes nveis de aprendizagem (MAINARDES, 2009). Para que isso seja possvel
necessrio que os alunos sejam acompanhados sistematicamente nas dificuldades
que por ventura apresentarem ao longo de etapa dos ciclos propostos (ALVARSE,
2009).
29
III - METODOLOGIA
A inteno desse trabalho compreender o que vem a ser a poltica de
organizao do ensino em sries e em ciclos, para que se possa ter uma ideia das
contribuies que cada uma dessas propostas tem a dar para o ensino pblico.
Dessa forma, importante saber o que pensam os especialistas no assunto e
conhecer os mais recentes estudos feitos. Mas no menos importante considerar a
opinio daqueles que trabalham a educao todos os dias onde ela acontece: nas
escolas. Portanto, por se tratar de um tema to recente e to arraigado prtica
docente a melhor maneira de investig-lo lanar mo de tcnicas que possam ser
desenvolvidas no ambiente onde se fomentam as discusses e onde se concretizam
ou no as polticas educacionais. Onde esto os agentes da educao.
Para realizar este estudo monogrfico, utilizarei a pesquisa qualitativa que
segundo Ludke e Andr (2012, p, 11-13) aquela que se realiza em ambiente real,
onde as coisas acontecem, os dados so colhidos diretamente da fonte e analisados
com base em um processo indutivo, sem nenhuma espcie de manipulao
intencional do pesquisador. Pereira (2008) apud Haguete (2001) descreve a
pesquisa qualitativa como sendo aquela que investiga um fenmeno em sua origem
e ainda, aquela que possui carter dialgico e construtivo baseado nos significados
e caractersticas das situaes pesquisadas levando em considerao os valores,
crenas, opinies e atitudes das pessoas envolvidas.
Para consolidar essa pesquisa a investigao deve amparar a construo de
conceitos que elucidem o objeto de estudo de modo a levar o leitor a compreender
os dois modos de organizao do ensino: sries e ciclos e entender porque foram
causadores de polmica no ano de 2013.
Para Ludke e Andr (2005) esse tipo de pesquisa deve primar por retratar
a realidade por meio da interpretao do contexto e da pluralidade de ideias,
possibilitando vrias fontes de informao. Essas caractersticas configuram uma
investigao por meio de um estudo de caso. Alves Magazote e Gewandsznajder
(2004, p.161) citados por Pereira (2008) complementam dizendo que no estudo de
caso a coleta de dados tem a funo de ligar o que o pesquisador quer saber
realidade por meio de uma grande variedade de procedimentos e instrumentos tais
como: anlise de documentos, observao participante e entrevistas
semiestruturadas entre outros.
Portanto, aps considerar todos esses aspectos citados acima se optou
por realizar uma pesquisa qualitativa associada ao estudo de caso, lanando mo do
questionrio, da entrevista e da observao como instrumentos para a tessitura de
argumentos que estabeleam relao com os objetivos especficos da pesquisa. A
entrevista pode servir como um elo entre a crena do professor, sua prtica
pedaggica e a proposta de organizao de ensino. O dilogo estabelecido entre a
pesquisadora e as colaboradoras em torno do objeto de estudo dessa pesquisa
30
poder estimular novas reflexes sobre o tema. Dessa forma os dados coletados por
meio dos instrumentos at aqui mencionados devero ser analisados de forma
global de modo a jogar luz sobre o debate travado em torno da organizao do
ensino em ciclos ou em sries.
A relevncia da pesquisa ser realizada no cenrio principal onde se
desenrola uma verdadeira dicotomia entre os defensores do sistema de organizao
do ensino em sries e os defensores da organizao do sistema de ensino em ciclos
me levou a escolher como palco de investigao a escola onde trabalho que aqui
chamarei de Renascer, por se tratar de uma escola que atende da Educao Infantil
ao 5 ano do Ensino Fundamental as ideias fervilham como em um turbilho. Por
esse motivo, faz-se necessrio que o planejamento de aes da e na escola sejam
feitos no coletivo para evitar que uns se sintam mais e outros menos privilegiados. E,
foi dessa forma, por meio da manifestao de ideias e argumentaes favorveis e
contrrias implantao dos Ciclos de Aprendizagem, que no incio do ano letivo de
2013, decidiu-se em uma votao expressiva em que, aproximadamente, 70% dos
presentes deram seu sim implantao dos Ciclos de Aprendizagem e acreditaram
na proposta da SEEDF. Assim, a Escola Renascer passou a contemplar o I Ciclo
correspondente Educao Infantil; e o II Ciclo que se subdivide em: I Bloco- Bloco
Inicial de Alfabetizao e II Bloco o 4 e 5 anos. nesse ambiente interessante que
foi realizada a pesquisa.
IV- A ORGANIZAO DA ESCOLA SOB A TICA DO OBSERVADOR
A referida escola est localizada em uma das cidades satlites do D.F.
Conta com a colaborao de 77 funcionrios entre os quais esto profissionais da
carreira magistrio concursados e contratados temporariamente, tcnicos de Gesto
Educacional, um funcionrio cedido por outro rgo do GDF, uma agente de portaria
e treze funcionrios terceirizados, sendo quatro vigilantes, duas merendeiras e sete
auxiliares de servios gerais.
A equipe gestora formada por uma diretora, uma vice-diretora, um
supervisor (administrativo) e uma chefe de secretaria. A equipe pedaggica da
escola formada pela diretora, vice-diretora, uma coordenadora para a Educao
Infantil, uma coordenadora para o BIA, uma pedagoga, uma psicloga, uma
professora da sala de recurso e uma orientadora educacional. O motivo da diretora e
vice terem optado por um supervisor administrativo alto grau de envolvimento das
duas com as questes pedaggicas. Toda essa equipe de trabalho para atender a
aproximadamente 630 crianas (existe uma grande rotatividade da clientela)
distribudas conforme o quadro abaixo:
31
BLOCO/SALA TURMA Matutino-vespertino
N DE ALUNOS Matutino-vespertino
ESPEFICIDADE Matutino-vespertino
C1 - 1C - 27 - CC
C2 5B 5D 26 32 CCI CC
C3 5A 5C 26 26 CCI CCI
C4 4A 4D 30 26 CC CCI
B1 2A 2D 26 28 CCI CC
B2 3A 3D 18 22 CII CCI
B3 3B 3F 22 18 CCI CII
B4 3C 3E 22 22 CCI CCI
B5 4A 4C 26 26 CCI CCI
A1 1PEA 1PEB 24 24 CC CC
A2 2PEB 1B 28 09 CC CII
A3 2PEA 2PEC 28 28 CC CC
A4 1A 1D 28 28 CC CC
A5 2A 2C 28 28 CC CC LEGENDA: CC- CLASSE COMUM; CCI- CLASSE COMUM INCLUSIVA; CII- CLASSE DE INTEGRAO INVERSA.
As crianas tm acesso escola por um porto de pedestres que fica ao lado
do porto de carros. Elas aguardam pelo sinal em uma rea de convivncia em
frente secretaria guardadas pelo vigilante e o auxiliar de portaria. Cinco minutos
antes do horrio estipulado para a entrada (matutino: 07h30min vespertino:
13h00min) o auxiliar de portaria organiza duas filas para que eles se dirijam
ordenadamente s salas de aula para onde o professor se dirige ao toque no sinal.
Os pais podem acompanha-los at o espao de convivncia na entrada e peg-los
na sala de aula no final do turno. Essa medida tomada para evitar o atropelo na
entrada que prejudica o incio das atividades pedaggicas planejadas para o dia. Os
professores esto disposio para atender os pais as teras e quintas no turno
contrrio. Essa rotina alterada s sextas-feiras quando realizada a Hora Cvica,
com apresentaes e execuo do Hino Nacional.
O recreio um perodo de muita agitao e correria. Os alunos maiores e os
menores dividem o mesmo espao e todos correm ao mesmo tempo causando
vrios acidentes de pouca gravidade. No existem projetos de monitoria durante o
recreio que observado pela equipe gestora e apoio de direo. Algumas
alternativas, como a compra de brinquedos e jogos pedaggicos, foram tentadas
com a inteno de que eles ficassem mais concentrados e diminussem o corre-
corre. A orientadora preparou os alunos maiores para que, sob sua superviso,
coordenassem a entrega desses brinquedos, porm, em pouco tempo de
experincia, ela precisou se ausentar da escola e o Projeto Recreio Seguro no teve
continuidade. A quadra de esportes que seria uma alternativa para atender essas
crianas durante o recreio est em obras desde dezembro de 2012, quando a
NOVACAP iniciou uma cobertura e ainda no concluiu, inutilizando aquele espao.
32
O recreio.
Para continuar relatando essa observao do dia a dia da escola, falando
agora mais intimamente do trabalho pedaggico ouamos Paulo Freire quando diz
que a escola um lugar feita de gente, de eu e de ns. um lugar de encontros e
desencontros, de chegadas e partidas, de instruo. Almeida (2002) continua essa
definio dizendo que a escola o lugar onde as subjetividades se encontram. Os
conflitos internos de um entram em contato com os dos outros. E o gestor a figura
que deve mediar toda essa efervescncia. Estar inserida nesse espao proporciona
boa oportunidade para a observao. Ter acesso ao Projeto Poltico-Pedaggico da
escola, ao planejamento coletivo mensal, ao Projeto Interventivo, ao planejamento
dos reagrupamentos e de todas as intervenes pedaggicas do ano permite uma
viso macro de como se d o processo de aprendizagem: planejamento, execuo,
avaliao e redirecionamento. Observar a sala de aula possibilita constatar a prtica
pedaggica de cada professor, que direcionamento ele d para o que foi planejado
coletivamente. Para atingir o fim a que se prope, a observao foi realizada nos
diversos espaos-tempos da escola: nas coordenaes coletiva e individual, na sala
de aula, nos Conselhos de Classe, nas reunies de pais, nos atendimentos da sala
de recurso e equipe psicopedaggica e nas Avaliaes Institucionais previstas no
Calendrio Escolar.
O quadro de observao mensal pode ser assim representado:
2 feira 3 feira 4 feira 5 feira 6 feira
Atendimento da Equipe Psicopedaggica
Coordenao individual BIA
Curso Coordenao individual 4 e 5 anos
Equipe Pedaggica
50 minutos 3 horas 3 horas 3 horas 2 horas
Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula
50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos
2 feira 3 feira 4 feira 5 feira 6 feira
Atendimento da Sala de Recurso
Coordenao individual BIA
Estudo do Currculo
Coordenao individual Ed. Infantil
Equipe Pedaggica
Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula
50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos
2 feira 3 feira 4 feira 5 feira 6 feira
33
Atendimento da Equipe Psicopedaggica
Coordenao individual BIA
Curso Coordenao individual 4 e 5 anos
Equipe Pedaggica
Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula
50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos 50 minutos
2 feira 3 feira 4 feira 5 feira 6 feira
Atendimento da Sala de Recurso
Coordenao individual Ed. Infantil
Planejamento de Aes da Escola
Coordenao individual 4 e 5 anos
Equipe Pedaggica
Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula
A Coordenao Coletiva um espao conquistado pelos professores desde
o ano de 2000 para realizar estudos. No ano de 2013 esse estudo foi direcionado
pela Escola de Aperfeioamento dos Profissionais da Educao (EAPE) como parte
do Projeto EAPE na Escola por meio do curso: Currculo em Movimento:
Reorganizao do Trabalho Pedaggico nos Ciclos e Semestralidade, com carga
horria quinzena. A outra quinzena foi subdividida entre o estudo do Currculo para
preenchimento do Quadro Sntese ( avaliao do que deu certo e o que poderia ser
modificado) e o planejamento das aes da escola. As quintas feiras foram
destinadas formao do PNAIC (PROGRAMA NACIONAL DE ALFABETIZAO
NA IDADE CERTA), para os professores do BIA e para a coordenao setorizada
para os demais professores. As teras-feiras foram utilizadas para o planejamento e
avaliao das aes coletivas da escola e das estratgias de interveno:
reagrupamento e intervenes pontuais.
Estudos na coordenao: Oficina de matemtica.
O Conselho de Classe da Escola Renascer se rene a cada final de
bimestre com a finalidade de avaliar o processo de aprendizagem dos alunos de
cada turma. Verificar quais intervenes pedaggicas foram feitas e como eles
responderam a elas. Sugerir novas estratgias quando for o caso. No Conselho do
4 bimestre feita uma avaliao global para a aprendizagem dos alunos com vistas
s primeiras intervenes do ano seguinte.
Para Santos (2006, p. 34), as funes do Conselho de Classe se assemelham
muito forma como vem acontecendo na escola observada. Conselho de Classe
34
se prope a avaliar a ao pedaggica e a aprendizagem, para que o trabalho do
professor e do aluno seja reorganizado, a fim de detectar necessidades e buscar
novos caminhos.
Porm, esse mesmo Conselho, praticado na Escola Renascer adota outras
caractersticas que se afastam do foco principal defendido por Dalben (1995, p.16):
O Conselho de Classe guarda em si a possibilidade de articular os diversos segmentos da escola e tem por objeto de estudo o processo de ensino, que eixo central em torno do qual desenvolve-se o processo do trabalho escolar.
Apesar do texto de Dalben no ter sido escrito recentemente bastante atual
e pertinente na sua anlise. O fator que faz com que o grupo de trabalho da escola
em questo se afaste desse propsito manter a prtica de discutir os aspectos
comportamentais do aluno e as caractersticas peculiares de suas famlias como
decisivos para seu xito na aprendizagem, afastando-se, de certa forma, do objetivo
principal que o processo de ensino.
Gostaria de registrar que o Conselho de Classe caminha na direo correta,
pois, consegue reunir um bom nmero de profissionais: equipe gestora, SEAA, Sala
de Recurso, Orientao Educacional e professoras da mesma etapa de ensino; e
consegue analisar o trabalho desenvolvido e buscar alternativas de apoio
aprendizagem. Falta caminhar no sentido de conquistar participao de outros
seguimentos da comunidade escolar e fixar o olhar nas aprendizagens do aluno em
suas conquistas e necessidades. Da forma como feito, o Conselho torna-se
cansativo e pouco produtivo. Porm, como foi observado, a maioria das professoras
concorda com essa metodologia, pois segundo elas, o nico momento que elas
tm para compartilhar suas angustias.
O cronograma dos Conselhos de Classe est representado no quadro abaixo.
Anos I BIMESTRE II BIMESTRE III BIMESTRE IV BIMESTRE
Ed. Infantil 16/04 25/06 24/09 03/12
1 ano 17/04 26/06 25/09 04/12
2 ano 18/04 27/06 26/09 05/12
3 ano 23/04 02/07 01/10 10/12
4 ano 24/04 03/07 02/10 12/12
5 ano 25/04 04/07 03/10 13/12
As Avaliaes Institucionais foram realizadas conforme previstas no
Calendrio Escolar: 20/03, 12/06 e 13/11. A comunidade escolar participou por meio
de questionrios que foram tabulados e registrados e slides para serem
apresentados em forma de devolutiva nos dias indicados acima. Os alunos tambm
deram sua opinio por meio de entrevista, questionrio e desenhos.
35
Educao Infantil
BIA (I Etapa)
BIA (II Etapa)
4s e 5s anos
36
O II Bloco do II Ciclo construiu um grfico com os resultados da turma.
Alguns dados desses resultados merecem destaque como mostramos no quadro
abaixo:
SEGUIMENTO AVALIADO COMENTRIO SUGESTO
DIREO ORGANIZAR OS HORARIOS DE TRABALHO
NO ULTRAPAAR 8 HS DE TRABALHO DIRIO
COORDENADORAS COMPETENTES, CRIATIVAS E ATUANTES.
NO SUBSTITUIR PROFESSORES AUSENTES.
ORIENTAO EDUCACIONAL
EXCELENTE MAIS UMA ORIENTADORA
SALA DE LEITURA ATENDER MELHOR AOS ALUNOS, TER MAIS TOLERNCIA E ORIENT-LOS.
TORNAR O ESPAO AGRADVEL PARA OS ALUNOS.
SECRETARIA MAIOR RECEPTIVIDADE COM OS PAIS E PROFESSORES
ORGANIZAR OS HORRIOS PARA ATENDER MELHOR.
AUXILIARES - LIMPEZA ESCOLA LIMPA SEM PICHAES
MELHOR A LIMPEZA DAS SALAS NO ENTRE TURNO.
FONTE: SLIDES AVALIAO INSTITUCIONAL DA ESCOLA RENANCER.
Esses comentrios e sugestes chamam ateno pela singeleza. Tudo
parece ter soluo fcil e necessria, porm na prtica sabemos que dificilmente
uma direo conseguir trabalhar oito horas por dia, ou um coordenador deixar de
substituir ausncias, a limpeza das salas na troca dos turnos tem apenas meia hora
para ser efetuada e os funcionrios correm muito para fazer o melhor possvel, eles
dependem muito da organizao do professor que ocupa a sala no primeiro turno. E
por fim, fazer com que colegas melhorem o trato humano tambm no tarefa fcil.
As reunies de pais e mestres foram realizadas ao final de cada bimestre e
constam com a seguinte dinmica: Uma parte comum a todos com a equipe
pedaggica da escola onde so apresentadas as atividades realizadas naquele
espao de tempo, normalmente os alunos apresentam de forma artstica aos pais o
aprendizado que construram. Nessa ocasio a equipe gestora aproveita para avaliar
com todos os presentes os encaminhamentos dados s questes administrativas,
financeiras e pedaggicas.
Aps essa introduo, os pais se dirigem s salas de aula para conversarem
com os professores sobre as questes individuais de seus filhos. Esse um dia
37
destinado para atividades pedaggico-culturais nos dois turnos. A presena dos pais
pequena em mdia quarenta a cinquenta pais comparecem no primeiro momento.
A maioria vem apenas para conversar com os professores, ignorando a parte
coletiva da reunio.
Para relatar o trabalho dirio em sala de aula, vou dividi-lo em trs grandes
grupos: a Educao Infantil, o BIA e 4s e 5s anos.
Na Educao Infantil as professoras coordenam junto com a coordenadora e
desenvolvem um trabalho voltado para os eixos prprios da fase, a autonomia, as
linguagens e a psicomotricidade. Apesar de que cada professora adotar sua prpria
metodologia, o trabalho segue uma mesma direo, a exceo da professora do 2
perodo B que teve que se ausentar para cuidar da sade e foi substituda por duas
outras, o que, de certa forma, fragmentou o trabalho.
O BIA engloba o maior nmero de turmas da escola e a coordenadora
trabalha muito para acompanhar as demandas. A Primeira Etapa tem um projeto de
alfabetizao exclusivo De Histria em Histria... Vou Lendo o Mundo cujo trabalho
se apoia em sequncias didticas que partem de livros literrios. A Segunda e a
Terceira Etapas planejam juntas e seguem uma mesma linha de trabalho. Porm, na
sala de aula cada professora segue sua metodologia e, nesse caso, faz uma grande
diferena porque algumas so extremamente tradicionais e outras bem abertas e
tolerantes com relao construo das aprendizagens. As primeiras no acreditam
na avaliao formativa e as outras consideram benfica qualquer conquista da
criana comparando-a apenas consigo mesma. O carisma da coordenadora
influenciou muito no planejamento das aes interventivas e foi decisivo para a
execuo dos reagrupamentos.
Ainda falando do BIA, havia registros do ano anterior que apontavam para
uma sria deficincia no letramento matemtico detectados pelos professores dos
4s anos. Essa constatao levou a diretora a propor oficinas de matemtica para os
alunos da 3 Etapa. A coordenadora realizou o jogo do tapetinho com os alunos nas
salas para que as professoras dessem sequncia atividade tornando-a rotineira.
No entanto, no houve continuao.
As professoras dos 4s e 5s anos do turno matutino so companheiras de
trabalho h muitos anos e trabalham de modo integrado, planejam juntas, executam
juntas o planejamento e o avaliam juntas. Sempre assistidas pela coordenadora que
comunga com elas o gosto pela leitura. O trabalho delas segue a princpios bem
atuais como a contextualizao, a interdisciplinaridade e a integralidade. Est
organizado de modo sempre iniciar a semana com um livro literrio e a partir dele
explorar todas as reas do conhecimento sem forar uma relao que no exista. A
coordenadora e as professoras desses anos esto sempre com material preparado
duas semanas antes do dia marcado para a aplicao do planejamento. De forma
que se alguma delas precisar se ausentar qualquer um pode dar continuidade ao
trabalho.
38
A equipe gestora se programou para substituir as ausncias de professores
de modo que as coordenadoras pudessem desenvolver seu trabalho mais
tranquilamente. A coordenadora da Educao Infantil, por ter menos turmas sob
seus cuidados, apenas cinco, prontificou-se a ajudar no rodzio das substituies.
As equipes especializadas fazem um trabalho integrado de modo a atender
o maior nmero possvel de casos encaminhados. A orientadora recebe as fichas,
faz os primeiros contatos, assume aqueles que apresentam apenas problemas
comportamentais e passa para observao do SEAA aqueles com dificuldades de
aprendizagem. A psicloga e a pedagoga realizam os testes padronizados para
investigar se a criana apresenta apenas uma dificuldade de aprendizagem ou se
tem algum dficit intelectual (DI), ou ainda algum tipo de transtorno. As famlias dos
alunos com suspeitas de transtornos so chamadas e aconselhadas a realizar
exames clnicos para os quais j levam encaminhamento. A pedagoga auxilia
aqueles que apresentam laudo mdico. Os demais so atendidos nas aes
interventivas pontuais promovidas pela equipe pedaggica e no reforo escolar,
oportunidade tambm oferecida a todos os ANEEs. Quando diagnosticado dficit
intelectual, o aluno em encaminhado para a Sala de Recurso onde participa de
intervenes especficas. A professora da sala de Recurso oferece apoio aos
professores regentes desses alunos a fim de auxiliar no planejamento delas e na
adequao curricular.
O questionrio e a entrevista foram realizados de modo a tecer argumentos
que estabeleam relao com os objetivos especficos da pesquisa.
Para que se possa ter uma maior diversidade de opinies, as professoras
colaboradoras foram escolhidas dos diferentes Blocos do II Ciclo. Para preservar a
identidade das professoras os nomes usados so fictcios. Duas professoras do BIA,
a professora Cintia que no acredita nos ciclos, mas trabalha com um 2 ano e a
professora Anita que partidria dessa proposta e trabalha com um 1 ano. A
professora Marlia do 4 ano e a professora Rita trabalha com um 5 ano e no
concordam com a no reprovao (essa a opinio de todas as professoras que
trabalham com o II Bloco). Tambm contriburam para a pesquisa a professora
Elimara, coordenadora do BIA, a professora Rose, coordenadora dos 4s e 5s anos,
e a professora Alice, da sala de recursos.
A professora Cintia est dentro da faixa etria que compreende os 46 aos 55
anos, possui 30 anos de magistrio, possui formao em Pedagogia e Letras e ps-
graduao em Psicopedagogia e Administrao Escolar.
A professora Marlia tem idade entre 36 e 45 anos, 24 anos de magistrio,
formada em Pedagogia, ps-graduada em Administrao Escolar.
A professora Rita tem idade entre 36 e 45 anos, 24 anos de magistrio,
graduada em Pedagogia e ps-graduada em Educao Infantil e sries Iniciais.
39
A professora Alice (sala de recurso) tem idade entre 36 e 45 anos, 24 anos
de magistrio, graduada em Pedagogia, ps-graduada em Psicopedagogia e em
Educao Inclusiva.
A professora Anita tem idade entre 36 e 45 anos, 23 anos de magistrio,
graduada em Pedagogia e no cursou especializao.
A coordenadora do BIA, professora Elimara, est na faixa etria que
representa dos 36 a 45 anos, 20 anos na carreira magistrio, possui Licenciatura
Plena em Educao Artstica, ps-graduada em Arte terapia na sade e educao.
A professora Rose, coordenadora dos 4s e 5s anos tem entre 36 e 45 anos,
25 anos de magistrio, graduada em Pedagogia e ps-graduada em Ludicidade na
Educao.
O quadro abaixo tem a finalidade de facilitar a interpretao da situao das
professoras colaboradoras:
NOME FUNO FAIXA ETRIA
TEMPO DE MAGISTRIO
GRADUAO PS-GRADUAO
Cntia Professora 46 a 55 30 anos Pedagogia/Letras Psicopedagogia e Adm. Escolar
Anita Professora 36 a 45 23 anos Pedagogia -
Marlia Professora 36 a 45 24 anos Pedagogia Adm. Escolar
Rita Professora 36 a 45 24 anos Pedagogia Ed. Infantil e Sries Iniciais
Elimara Coordenadora 36 a 45 20 anos Ed. Artstica Arte terapia
Rose Coordenadora 36 a 45 25 anos Pedagogia Ludicidade na Educao
Alice Sala de Recurso 36 a 45 24 anos Pedagogia Psicopedagogia e Ed. Inclusiva
Fonte: Questionrio
A observao da prtica docente, da gesto e da rotina diria garante
legitimidade interpretao dos dados coletados e facilita sua anlise.
As informaes sobre a situao profissional das participantes da pesquisa
no apontam caminhos rumo compreenso da diviso de opinies no tocante
forma de organizar o ensino. Visto que todas so profissionais experientes com 20
anos ou mais de carreira, todas so graduadas e ps-graduadas. A percepo
dessa diferena de opinies veio logo no incio da observao quando em fevereiro,
dia 19 para ser mais exata a equipe gestora reuniu todo grupo pedaggico da escola
- os demais funcionrios foram convidados e os pais foram convidados, porm
poucos compareceram - para decidir sobre a adeso ou no ao sistema de ciclos
para os 4s e 5s anos.
A diretora iniciou a reunio explicando o motivo pelo qual todos estavam ali
reunidos e prosseguiu falando que a escola j trabalhava com a organizao em
ciclos nos trs primeiros anos do Ensino Fundamental Anos Iniciais com o Bloco
40
Inicial de Alfabetizao e na Educao Infantil. Em seguida falou de maneira
resumida que os 4s e 5s anos tinham a funo de sistematizar as aprendizagens
consolidadas no BIA e que aderir ao sistema de ciclos para esses anos nada mais
era que estender o trabalho realizado nesse bloco.
[...] A diretora falou ainda sobre as aprendizagens significativas para o BIA e para os 4s e 5s anos e concluiu dizendo que nada havia de novo para a prtica pedaggica da escola e que as retenes no quarto e quinto ano foram mnimas no ano anterior. A vice-diretora apresentou os nmeros para comprovar essa fala. (Transcrito da Ata de Reunies da Escola Renascer).
RENDIMENTO ESCOLAR DE 2012 3 ao 5 ANO
ANO APROVADOS RETIDOS
3 ANO 91 20
4 ANO 84 09
5 ANO 68 08 Fonte: Ata de Conselho de Classe Final.
QUADRO DE DESENVOLVIMENTO PSICOGENDTICO
ANO PS2 S A ALFABETIZADOS
1 03 11 26 55
2 02 04 12 68
3 01 05 10 93 Fonte: Ata do Conselho de Classe Final.
Top Related