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Copia Omaggio
ISSN 0870-8584
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2009
FuturismoMariastella Margozzi, Futurismo avanguardia italianaJosé Manuel Vasconcelos, Antitradição e maravilhoso na poéticado Futurismo italianoPedro Sargento, O novo é uma coisa muito antiga. O futurismoe os seus temposCarlo Serafini, O teatro futurista
Rita Marnoto, Futurismo e Futurismos em PortugalJeronimo Pizaro, Pessoa e “Monsieur” MarinettiManuel G. Simões, Os mitos futuristas e a "Ode triunfal" de Álvarode CamposGianluca Miraglia, “Ser italiano quer dizer dominar todas as raças”:Marinetti em LisboaPaula Costa, Futurismo, futurismos: de A confissão de Lúcio a Nomede guerraFernando J.B. Martinho, Para um estudo da posteridade doFuturismo na poesia portuguesa contemporâneaGiona Tuccini, L'uomo come esistenza che parla. L'orientamentomorale e il sentimento religioso di Giovanni da EmpoliPaulo Lopes, Um olhar português sobre a Roma de QuinhentosSílvio Castro, Leopardi e Fernando Pessoa: projecto e anteprojetodo <livro único> no Zibaldone e no Livro do desassossego
Est.Ital.Port.,n.s.,4,2009:223-242
PARAUMDICIONÁRIODETRADUTORES
É dado de factoonotávelincrementoque,nasúltimasdécadas,osEstudosdeTraduçãotêmvindoaregistar.Aace-leraçãodas comunicações, noplano internacional, e, emparticular,odinamismodasrelaçõeseuropeias,colocanaordemdodiaodomíniodaslínguasaplicadas.Nocruza-mentoentrelocaleglobal,numaalturaemqueasoperaçõescomunicativasseencontramestritamenteligadasàspráticasdemercado,afiguradooperadorcultural,queviveentresituações,culturaseformasdeexpressãoartísticadiversifi-cadas,tendeaplasmar,comcrescenteintensidade,adotra-dutorqueviveentrelínguas.
Porconsequência,sobeàribaltaopapeldotradutorespe-cializado.Acompanhandoanecessidadedessetipodefor-maçãoespecífica,tambémasUniversidadeseasAcademiasportuguesastêmvindoacriarcursosnaáreadosEstudosdeTraduçãoe,correlativamente,adesenvolverprojectosdeinvestigaçãosusceptíveisdesusteremedaremconsistênciaàsuaexpansão.
Estaquestãotemparticularimportânciaparaumhorizonteque,comooportuguês,desdetemposancestraisseencon-tramuitoligado,eatédependente,doquesefazesediznoestrangeiro.Aolongodosséculos,acirculaçãodeideiasprocessou-seporentreasmalhasdeumpolissistemaculturalcujocentroseencontraligadoeéveiculadoatravésdeoutras
224 Estudos Italianos em Portugal
línguas,quersetratassedeliteratura,pensamentofilosófico,críticadearte,discursocientífico,jornalismo,eassimpordiante.Masocontactocomessasrealidadescontinuaasermediado,ontemcomohoje,atravésdatradução.
Foinestequadroquesurgiuoprojectodeorganizarumdicionáriodetradutoresdeliteraturaparaportuguês,enquantoiniciativaconjuntaligadaatrêsUniversidades,sendosupe-riormentecoordenadopeloCentrodeEstudosAnglísticosdaUniversidadedeLisboa(Prof.DoutorJoãoAlmeidaFlor),peloCentrodeEstudosAnglo-PortuguesesdaUniversidadeNovadeLisboa(Prof.ªDoutoraMariaLeonorMachadodeSousa)epeloCentrodeLínguas,CulturaseLiteraturasdaUniversidadeCatólicaPortuguesa (Prof.ªDoutoraTeresaSeruya),econtandocomcolaboradoresparaadirecçãodecadaumadasáreaslinguísticasimplicadas.
Pretendiaesteprojectocorresponder,deformaorgânica,sistemáticaegradual,ànecessidadedelevantamento,reco-lhaecompilaçãodedadosqueseerigememcondiçãoessen-cialparaaafirmaçãodosfundamentosepistemológicosdeumaáreadisciplinaremfrancodesenvolvimento.Oconceitodeliteraturaeraentendidoemsentidoamplo,demodoaincluirtantoaliteraturacanonizada,comooutrasmodali-dadesquereentramnocampodachamadaparaliteratura,quersetratedelírica,narrativaoudrama,emtransmissãoimpressa.Aslínguasaprivilegiar,numaprimeirafase,seriamoalemão,oespanhol,ofrancês,oinglêseoitaliano.Aobra,repartida por vários volumes, destinava-se a professores,investigadoreseestudantesdehumanidades,bemcomoaestudiososdaculturaedaliteratura,portuguesasouestran-geiras,etambémacomparatistas.
Oprojectonãoobteveapoio,masapublicaçãodealgumasdasfichas,elaboradasparaaáreadoitaliano,poderáfacultarumaamostragemdasuaabrangência,bemcomodasques-tõesoperativasemetodológicasquecompeteaoinvestigadorprogramareenfrentar.Avariedadedelínguascomqueum
Para um dicionário de tradutores 225
mesmotradutortrabalha,orecursoaidiomasdemediação,aescassezdedadosbiográficos,quandonãoapuraimpossi-bilidadedeidentificaçãodotradutor,adispersãoeditorialdaobra,adiversidadedeconcepçõesepráticasdetranslaçãoeomodocomoseligamaoutrasformasdeescrita,nosseuscontornosepocaisouidiossincráticos,sãoalgunsdosmaisprementes interrogativos que resultamdeste conjuntodepesquisaspreliminares.Ficanohorizonte,umcampoque,nasuaimplantaçãotransversal,perspectivaumaricaáreadeinvestigação,noâmbitodosEstudosLuso-Italianos.
Rita Marnoto
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Amado, Fernando (Fernando Alberto da Silva Amado),Lisboa,15/6/1899-23/12/1968
Professoredramaturgo,licenciou-seemCiênciasHistóricaseGeográficaspelaUniversidadedeLisboa.AcompanhouomovimentodeOrpheu,relacionando-separticularmentecomAlmadaNegreiros.Datadessaalturaaprimeiradasmuitaspeçasdeteatroquecompôsaolongodasuavida.Nadécadadevinte,viajoubastantepelaEuropa,tendoestanciadoempaísesde línguafrancesa.AssistiuaosJogosOlímpicosde1924,realizadosemParis,eelaborouummétodoparaclas-sificarracionalmenteasmarcasatléticas,quefoiposterior-menteadoptadoporváriasfederaçõesnacionais.Em1946,fundouacompanhiateatralCasadaComédia,paraaqualtraduziuváriostextosdeteatro,encenadosemespectáculosporelemesmodirigidos,deentreosquaisL’annonce faite à Marie deClaudeleLe pauvre mathelotdeCocteau,apresen-tadosnoTeatrodoGinásioenoTeatrodoSalitredeGinoSaviotti.Entre1954e1967,deuaulasdeEstéticaTeatralnoConservatório.FoidirectordoTeatroUniversitáriodeLisboa(1955-1958).DirigiuespectáculosnoCentroNacio-naldeCultura.Asuaactividadedetradutordeficçãonarra-tivaincidesobreasobrasdeGiovanniPapinieestende-seentreosanosde1951ede1961.
Para um dicionário de tradutores 227
Traduções:Papini,Giovanni,Vida de Miguel-Ângelo na vida do seu
tempo,Lisboa,LivrosdoBrasil,1951[Vita di Michelangelo nella vita del suo tempo,Milano,Garzanti,1949].
Papini,Giovanni,O diabo. Apontamentos para una futura diabologia,Lisboa,LivrosdoBrasil,195?[Il diavolo, appunti per una futura diabologia,Firenze,Vallecchi,1953].
Papini,Giovanni,Um homem liquidado,Lisboa,LivrosdoBrasil,1961[Un uomo finito,Firenze,Vallecchi,1912].
Bibliografia passiva:Amado,Teresa,VítorSilvaTorres,AugustoSobral,apud
FernandoAmado,Peças de Teatro,Lisboa,INCM,1999,pp.7-9.Cruz,DuarteIvo,“FernandoAmado,homemdeteatro”,
inGil Vicente,2.s.,23,1-2,1972,pp.37-47.Cruz,DuarteIvo,O Simbolismo no teatro português (1890-
-1990),Lisboa,ICALP,1991,pp.172-180.Cruz,DuarteIvo,s.v.“FernandoAmado”inBiblos, Enci-
clopédia Verbo das literaturas de língua portuguesa, Lisboa,Verbo,1995,vol.1,cc.195-196.
Cruz, Duarte Ivo, História do teatro português, Lisboa,Verbo,2001,pp.224-227.
Enciclopédia Verbo luso-brasileira de cultura. Ed. Século XXI,Lisboa,Verbo,1998,vol.1,s.v.
GrandeEnciclopédia Portuguesa e Brasileira,Lisboa,RiodeJaneiro,Ed.EnciclopédiaLim.,vol.38(Apêndice),1958,s.v.;vol.1,1981,Actualização.
Lisboa,Eugénio(coord.),Dicionário cronológico de autores portugueses,MemMartins,Europa-América,s.v.
Tavares,VítorSilva,apudFernandoAmado,À boca de cena,Lisboa,&etc,1999.
Alberto Sismondini
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Braga, Manuel Marques Ferreira, Braga, 8/05/1877--Parede,29/06/1964
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra,exerceadocêncianoLiceudeÉvora(1902),noLiceuCen-tral de Lisboa, bem comonoLiceuPedroNunes, ondepermaneceráatéaoiníciodosanos30.Entre1931e1940,integraocorpodocentedoLiceuPassosManuel.
Ointeressepelasquestõespedagógicasseráumaconstanteaolongodoseupercurso.DaíquetomepartenadiscussãodareformadoensinolicealeescrevaartigosquerparaoBoletim da Direcção Geral da Instrução Pública eparaoBoletim da Associação do Magistério Secundário Oficial,querparaaRevista de Educação.
Para alémdoEnsaio sobre a psicologia do povo português,publicaaindaA obra de Teófilo Braga e as tradições portuguesas. Instigadopelaimportânciadelerosautoresconsagradosapartirdostextosoriginais,dedica-seàediçãocríticadasobrasdeBernardimRibeiro, deGilVicente, deCamões e deDiogoBernardes,editandoaindaosPoemas lusitanosdeAntó-nioFerreiraeaCrónica do Imperador ClarimundodeJoãodeBarros.Note-sequetodasestasediçõesserãobemacolhidasnoespaçopeninsularenoBrasil.Dasuaactividadeenquantohistoriadorliterário,destaca-seacolaboraçãonaHistória da literatura portuguesa ilustradadeAlbinoForjazdeSampaio.
Para um dicionário de tradutores 229
DepoisdeterfeitoaadaptaçãoemprosadeAdivina comé-dia paraasEdiçõesSádaCosta,em1955começaatraduzirdoitalianoestaobra,emtrêsvolumes,tarefaqueoocuparáaté1958.Apesardeserestaaúnicaexperiênciacomotra-dutor,asuaediçãodaobradeDanteconheceráváriasree-diçõesatéaosanos90.
Traduções:A divina comédia,adaptaçãoemprosadeMarquesBraga,
ilustraçõesdeAlbertoSousa,Lisboa,SádaCosta,1943,1958,1968,1985,1996.
A divina comédia,trad.,anotaçõeseprefáciodeMarquesBraga,Lisboa,SádaCosta,1955-1958,1988,3vols.
A divina comédia,Lisboa,EdiçãoAmigosdoLivro,1977,2vols.
Bibliografia passiva:Lisboa,Eugénio(coord.),Dicionário cronológico de autores
portugueses, MemMartins,Europa-América,s.v.Manuppella, Giacinto, Dantesca luso-brasileira. Subsídios
para uma bibliografia da obra e do pensamento de Dante Alighieri,Coimbra,FaculdadedeLetras,1966,p.24.
Nóvoa,António(dir.),Dicionário de educadores portugueses,Porto,Asa,2003,s.v.
Rossi,GiuseppeCarlo,A literatura italiana e as literaturas de língua portuguesa, trad.deGiuseppeMea,Porto,Telos,1973,p.192.
Marisa das neves Henriques
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Coelho,JoséRamos,Lisboa,7/2/1832-13/9/1914
Tradutordeobraspoéticasprovenientesdediferenteslín-guaseliteraturas,comooitaliano,ofrancês,oinglêseolatim,distinguiu-senocontextoculturaldoseutempoigual-mentecomopoeta,críticoliterárioehistoriador.Aolongodasuavida,desempenhoufunçõesnaBibliotecaNacional,chegandoaexercerocargodeconservador.Em1867,passaparaoArquivoNacionaldaTorredoTombo,ondeper-maneceaté1897,comidênticasfunções.Apardarestanteobraquepublica,atraduçãoocupaumespaçoimportantenasuaprodução,masasuaconsagraçãodeve-seàJerusalém libertada,deTorquatoTasso(1864),emoitavarima,vertidadirectamentedooriginalitaliano,quetevesucessivasedições(1905,1906,1910),tendosidoaindarecentementereeditadanoBrasil,em1998.
Asuaactividade,enquantotradutor,circunscreve-senoâmbitodasuacriaçãopoética,eoinícioprováveldessaacti-vidadepodeserdatadocomapublicaçãode“Adespedida.Fragmento de uma tradução doChilde Harold”, deLordByron,naRevista Peninsular(1,1855).Algumasdastradu-çõesresultam,assim,dasuacolaboraçãoempublicaçõesdaépoca,sendoposteriormenteincluídasnoslivrosdepoemasdesuaautoria.Nessesvolumes,nãoraramente,incluiem
Para um dicionário de tradutores 231
apêndicealgumasnotas,porvezesextensas,ondetececon-sideraçõessobreotipodetraduçãoemcausa–maisfiéisoumais livres e libérrimas, de acordocomuma teoriamuitopessoaldaartedetraduzir–,ourefereascircunstânciasrela-cionadascomaversãoemcausaeos locaisdeanteriorespublicações,sendoocaso.Consequentemente,asuaacti-vidadedetradutorvaiprolongar-seatéaofimdavida,apardeumaintensaactividadeintelectual.
ComorefereMendesdosRemédios,“soubetraduzirnomaispurovernáculoalgumasgemasdepoetasestrangeiros”.Dolatim,traslada“CantoSecular”,deHorácio,emversãopelopoetaconsideradalibérrima,eas“Tristezas”,deOvídio,alémdeumfragmentodaElegia1.3.Doespanhol,apenastraduziuopoema“ÀPátria”,deEspronceda,edocatalão,“OseuOlhar”,deRubióyOrs.Entretanto,dalínguafran-cesa,traduziu“Lidé”,deAndréChénier;o“PrimeiroSus-piro”,deVictorHugo;“Vemtomal-a”,deSarrand’Allard;“A glória. A um poeta desterrado” e “A Soledade”, deLamartine;“OcahirdasFolhas”e“OPoetaMoribundo”,deMillevoye;e“OAvarento”,emversãolivre,deLaFon-taine.Dalínguainglesa,contam-se,alémde“AdespedidadeChildeHarold”edos“Fragmentosdo1ºCantodeChildeHaroldrelativosaCintra”,deLordByron,o“HymnodoTransvaal”,deDuToit.
Semdúvida,alínguaquemaiscaptouassuassimpatiasfoioitaliano.Dessaliteratura,verteu“DoCanto1.ºdoInferno”e“FrancescadaRimini.FragmentodoCantoVdoInferno”,deDanteAlighieri;“ACamões”/“AVascodaGama”e“OlindoeSofrónia”,deTorquatoTasso,bemcomoaJeru-salém libertada,consideradaaobrademaiorfôlegoeexigên-cia, em termosde rigor formal e estético; “ÀEstátuadaNoite”,deGiovanniBattistaStrozzieMiguelÂngelo;eo“CincodeMaio”,deAlessandroManzoni.
Compõeainda“ASantarém”,pretensatraduçãodeumoriginalárabedeIbn-Abdum,poetaárabenaturaldeÉvora,
232 Estudos Italianos em Portugal
mas,paraaqual,oautordeclarater-seservidodeumversãoportuguesa anteriorqueviramanuscrita.Em simultâneo,comoreferimos,publicou5volumesdepoesia–Prelúdiospoéticos(1857),Novas poesias(1866),Lampejos(1896),Cam-biantes(1897)eReflexos(1898)–onderecolheosoriginaiseastraduçõesatrásenumeradas,depoisdeosterpublicado,emgrandeparte,emfolhetosouperiódicosdaépoca.Essaprodução,detomultra-romântico,mereceuoaplausodopúblico,apontodenumerosascomposiçõesteremsidotra-duzidasparadiferentesidiomaseuropeus,levandooautor,nãosóainseriressasversõesnosvolumesindicados,comoapublicaroutrointituladoPoesias vertidas em italiano, hespa-nhol, sueco, allemão e francez (1907).Aalgunspequenosfolhe-tos de poesia (O Bussaco, 1886;Veneza, 1889;À Ilha da Madeira,1898;À Polónia,1898;Aos meus traductores,1904),juntam-seoutrosmais,compoemasdeocasião,compostosemmomentosfestivos,comoÀ nação portugueza, tributo de saudade pela morte do príncipe de seus poetas(1854),Homenagem a Camões(1890)eA Christovam Colombo(1893).
Naqualidadedeeditordeobrasdeautoresconsagrados,aelesedeveumaediçãocríticadeOHissope,deAntónioDinisdaCruzeSilva,de1879,comumextensoprefácioinformativo,assimcomoapreparaçãodaediçãodosCinco livros da década XII,deDiogodoCouto.Entreosestudosdecríticaliterária,contam-seCamões e Macedo. Análise do “Discurso preliminar”, com que este prefaciou o seu poema “O Oriente” (1919)eA mãe de Camões, a propósito da opinião do sr. Wilhelm Storck(1892).
RamosCoelhomereceaindaumabreve referêncianocampodahistoriografia,pelomodocomoelaborouestudosdediferentenatureza,destacando-sesobremaneiraaHistória do Infante D. Duarte, irmão de El-Rei D. João IV(em3vols.,1889,1890,1920),baseando-senaabundantedocumenta-çãodequedispunhaenquantoconservadordaBibliotecaNacionaledaTorredoTombo,assimcomoemarquivosnacionaiseestrangeiros.Nessaobra,atingemesmotrêsdos
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objectivosquenortearamasuainvestigação:alémdeelabo-rarahistóriadaRestauração,reconstituiaintensaactividadediplomáticadesseperíodoecompõeumaobraquejustificaaconsolidaçãodaindependência,nasequênciadaintensaproduçãopolíticadaépoca,etudoisso,àvoltadabiografiadodesventuradopríncipedaCasadeBragança.Aindanesteâmbito,háareferirAlguns apontamentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo acerca das navegações e conquistas portuguesas(1892)e Visitas de D. João V à Inquisição de Évora(1902).Afins sãoosestudosdecarácterbiográfico,comoosquededicaaAntónioJosédaSilva,publicadonaIllustração Luso--Brasileira(1856);aThomaz Blanc(1893),aManuel Fernandes Villa Real e o seu processo da Inquisição de Lisboa(1894),Àcerca do primeiro Marquês de Niza(1897)eaO primeiro Marquês de Niza(1903).Intensafoiigualmenteasuacolaboraçãoempublicaçõesdeoutrosautoreseperiódicosdoseutempo,comoa Revista Universal Lisbonense,oArquivo Pitoresco,oujornais,comoA Opinião.
Traduções: Alighieri,Dante,“FrancescadaRimini.Fragmentodo
CantoVdoInferno”,JoséRamosCoelho,Vespertinas;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,Lisboa,TypographiaCastroIrmão,1910,pp.382-384.
Alighieri,Dante,“Inferno”,JoséRamosCoelho,Reflexos,Lisboa,TypographiaCastroIrmão,1898,pp.141-143;“DoCanto1.ºdoInferno”,JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.329-330.
Chénier,André,“Lidé”,JoséRamosCoelho,Novas poe-sias;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.121-122.
D’Allard,Sarran,“Vemtomal-a”,JoséRamosCoelho,Reflexos,pp.177-178;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,p.344.
DuToit,StephanusJacobus,“HymnodoTransvaal”,JoséRamosCoelho,Cambiantes. Poesias,Lisboa,Typographia
234 Estudos Italianos em Portugal
CastroIrmão,1897,pp.79-81;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,p.246.
Espronceda, “ÀPatria”, JoséRamosCoelho,Prelúdios poéticos,Lisboa,Typ.doProgresso,1857,pp.253-256.
Horácio,“CantoSecular(Versãolibérrima)”,inO Insti-tuto,2.s.,35,Julhode1887-Junhode1888,pp.488-491;JoséRamosCoelho,Reflexos,pp.83-88;JoséRamosCoe-lho,Obras poéticas,pp.312-314.
Hugo,Victor,“PrimeiroSuspiro”,JoséRamosCoelho,Prelúdios poéticos,pp.213-215;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.66-67.
Ibn-Abdum,“ASantarém”,JoséRamosCoelho,Vesper-tinas;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,p.410.
LaFontaine,“OAvarento…(Versãolivre)”,JoséRamosCoelho,Cambiantes. Poesias,pp.127-133;JoséRamosCoe-lho,Obras poéticas,pp.258-259.
Lamartine,“Aglória.Aumpoetadesterrado”,JoséRamosCoelho,Novas poesias,Porto,CruzCoutinhoEditor,1866,pp.61-63;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.115-116.
Lamartine,“ASoledade”,JoséRamosCoelho,Prelúdios poéticos, pp. 53-55; José Ramos Coelho, Obras poéticas,pp.19-21.
LordByron,“Adespedida.FragmentodeumatraduçãodoChilde Harold“,inRevista Peninsular,1,1855,pp.474--475;“AdespedidadeChildeHarold”,JoséRamosCoelho,Prelúdios poéticos,pp.157-160;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.46-48.
LordByron,“Fragmentosdo1ºCantodeChildeHaroldrelativos a Cintra”, José Ramos Coelho, Novas poesias,pp.126-143;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.148-157.
Manzoni,Alessandro,“OdeaNapoleão”,inArchivoPito-resco,6,1863,pp.310-311;“ÀMortedeNapoleão”,Sal-vadorCostanzo,Musica terrenal,Madrid,1868;C.A.Mes-chia, Ventisette traduzioni in varie lingue del Cinque Maggio di Alessandro Manzoni,Foligno,1883;inOccidente,8,1885,
Para um dicionário de tradutores 235
p.271;Ode heroica de Alexandre Manzoni e três versões em portuguez,RiodeJaneiro,1885;Cinco de Maio (uma folha),Lisboa,TypographiaElzeviriana,1885;“CincodeMaio”,in O Instituto, 2. s., 34, Julho de 1886-Junho de 1887,pp.145-150,e39,Julhode1891-Junhode1892,pp.654--655;JoséRamosCoelho,Novas poesias,pp.110-117;JoséRamos Coelho, Lampejos, Lisboa, Typographia CastroIrmão,1896,pp.93-98;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.142-143.
Millevoye,“OcahirdasFolhas”, JoséRamosCoelho,Novas poesias,pp.15-17;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,p.96.
Millevoye,“OPoetaMoribundo”,JoséRamosCoelho,Prelúdios poéticos,pp.267-269;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.78-79.
Ovídio, “Tristezas”, José Ramos Coelho, Cambiantes. Poesias,1897,pp.25-31;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.238-239.
Rubió y Ors, “O seu Olhar”, José Ramos Coelho, Reflexos, pp. 97-99; José Ramos Coelho, Obras poéticas,pp.316-317.
Strozzi,GiovanniBattistaeMiguelÂngelo,“ÀEstátuadaNoite”,JoséRamosCoelho,Lampejos,pp.35-36;JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.179-180.
Tasso, Torquato, “A Camões”, José Ramos Coelho,Novas poesias,p.33;“AD.VascodaGama”,JoséRamosCoelho, Cambiantes. Poesias, pp. 145-148; “A Vasco daGama”,JoséRamosCoelho,Obras poéticas,p.140.
Tasso, Torquato, Jerusalem libertada, vertido em oitavarima, do original italiano, Lisboa, Typ. Universal, 1864;Lisboa, Livraria de Viúva Tavares Cardoso, 1905, 1906;ed.revistaemelhorada,JoséRamosCoelho,Obras poéticas,pp.443-765;Jerusalem libertada,organização,introduçãoenotasdeMarcoLucchesi,fixaçãodotextoeensaiosdeAle-xeiBuenoePedroLyra,RiodeJaneiro,Topbooks,1998.
236 Estudos Italianos em Portugal
Tasso,Torquato,“OlindoeSofrónia”,inRevista Con-temporânea de Portugal e Brasil,2,Abrilde1870,pp.317-320;3,Abril1861,pp.107-109e151-155.
Tasso,Torquato,“RetratodeArmida.FragmentodeumatraduçãoinéditadaJerusalem libertada”,inO Futuro,11-12,1859.
Lírica:Prelúdios poéticos,Lisboa,Typ.doProgresso,1857;Novas
poesias,Porto,CruzCoutinhoEditor,1866;Lampejos,Lis-boa,TypographiaCastroIrmão,1896;Cambiantes. Poesias,Lisboa,TypographiaCastroIrmão,1897;Reflexos,Lisboa,Typographia Castro Irmão, 1898; Poesias vertidas em ita-liano, hespanhol, sueco, allemão e francez,Lisboa,TypographiadeFranciscoLuizGonçalves,1907;Obras poéticas,Lisboa,TypographiaCastroIrmão,1910;O Bussaco,Coimbra,Typ.daUniversidade,1886;Veneza,Lisboa,AdolphoModesto&C.ª,1889;À Ilha da Madeira,Lisboa,TypdeA.E.Barata,1898;À Polónia,Lisboa,Typ.deA.E.Barata,1898;Aos meus traductores,Lisboa,EmpresadoOccidente,1904;À nação portugueza, tributo de saudade pela morte do príncipe de seus poe-tas,Lisboa,Typ.doProgresso,1854;Homenagem a Camões,Lisboa,Typ.daAcademiaRealdasSciencias,1890;A Chris-tovam Colombo,Lisboa,AdolphoModesto&C.ª,1893.
Crítica literária:Camões e Macedo. Análise do “Discurso Preliminar”, com que este
prefaciou o seu poema “O Oriente”,Lisboa,AcademiadasCiên-ciasdePortugal,1911;A mãe de Camões, a propósito da opinião do sr. Wilhelm Storck,Lisboa,AdolphoModesto&C.ª,1892;AntónioDinisdaCruzeSilva,O Hissope,Lisboa,EdiçãodaEmpresadoArchivoPittoresco,Typ.CastroeIrmão,1879.
Historiografia:História do Infante D. Duarte, irmão de El-Rei D. João IV,
Lisboa,Typ.daAcademiaRealdasSciencias,1889,1890,
Para um dicionário de tradutores 237
1920, 3 vols.;Alguns apontamentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo acerca das navegações e conquistas portuguesas,Lisboa, Imprensa Nacional, 1892; Visitas de D. João V à Inquisição de Évora, Lisboa, 1902; Thomaz Blanc, Lisboa,AdolphoModesto&C.ª,1893;Manuel Fernandes Villa Real e o seu processo da Inquisição de Lisboa, Lisboa, AdolphoModesto&C.ª,1894;Àcerca do primeiro Marquês de Niza, Lisboa,Typ.deA.E.Barata,1897;O primeiro Marquês de Niza,Lisboa,Typ.CalçadadoCabra,1903.
Bibliografia passiva: Coelho, JacintodoPrado (dir.),Dicionário de literatura:
portuguesa, brasileira, galega e estilística literária,Porto,Figuei-rinhas,41990,vol.5,passim.
Figueiredo,Albano,s.v.“Coelho,JoséRamos”,in Biblos. Dicionário Verbo das literaturas de expressão portuguesa,Lisboa,Verbo,vol.1,1995,cc.1191-1192.
Pereira,Esteves/GuilhermeRodrigues,Portugal. Diccio-nario histórico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico, e artistico,Lisboa,JoãoRomanoTorres&C.ª-Editores,1912,s.v.
Remédios,Mendesdos,História da literatura portuguesa. Desde as origens até à actualidade,Coimbra,Atlântida,61930,p.513.
Rodrigues,A.A.Gonçalves,A tradução em Portugal,vol.3,1851/1870;vol.4,1871/1900;vol.5,1901/1930,Lisboa,ISLA,CentrodeEstudosdeLiteraturaGeraleComparada,1993,1994,1999,passim.
Serrão, Joaquim Veríssimo, História breve da bibliografia portuguesa,Lisboa,Verbo,1962,p.266.
Silva,InocêncioFranciscoda/BritoAranhaetal.,Dicio-nário bibliográfico português,s.v.,vols.5,7,13,18.
Manuel Ferro
238 Estudos Italianos em Portugal
Guimarães,Matos,18??
FoioprimeirotradutordeI promessi sposi,deAlessandroManzoni,emlínguaportuguesa.Parcossãoosdadosrefe-rentesàsuapessoaebiografiaquechegaramàactualidade.Deresto,tambémnãoseconhecequalqueroutraobradesuaresponsabilidade.Noentanto,ascircunstânciasdapubli-caçãodoromance,bemcomoadedicatórianeleinserida,dirigidaaD.TeresaRosadeLimaeSilva,cujoscírculosdeveterfrequentado,emtestemunhodaamizadequelhededicava,poderãoserindíciosquepermitemconcluirqueasuavidadeveterdecorridonacidadedoPorto,emmea-dosdo séculoXIX, sendoatéprovávelque fossenaturaldaquelaregião.
Pararealizarestatradução,procedeudeformamediati-zada, uma vez que não recorreu a qualquer edição doromanceemlínguaitaliana,servindo-seantesdeumaversãoemlínguafrancesa,queotradutorexplicitaterusado:a23.ªediçãoqueolivroteveemFrança,que,pelonúmerodeediçõesapontado, se tornariaumagarantiado sucessodaempresaaexecutar.Sejaderegistarodelicadoprocessodemontagemqueotradutorlevouacabonaorganizaçãodoscapítulos,umavezque,apesardeaprimeiraredacçãoita-lianado romance (Fermo e Lucia, 1823)os subdividir em
Para um dicionário de tradutores 239
quatro livros (divisãoestaquedesaparececoma segundaversãodooriginal,de1827),surgemagorareorganizadosporMatosGuimarães,resultandodaíumaediçãoemcincovolumes,deextensãosensivelmenteigual.ForaminseridosnaColecçãoda“BibliotecaPopular”,publicadaporinicia-tivadoperiódicoO Ecco Artístico,em1863e1864.Talvezaoportunidadeeointeressepeladivulgaçãodaobraseexpli-queigualmentepelocontextohistórico,marcadopelocasa-mentodojovemmonarca,D.Luís,comumaprincesadeorigemitaliana,D.MariaPiadeSabóia.
Tambémo título adoptado, longe de corresponder aooriginal (Os noivos),poderá ainda ter sido inspiradonummodeloaqueopróprioManzoni,eventualmente,poderáterrecorrido:umromancedeWalterScottintitulado,emtraduçãoportuguesa,Os desposados: novela tirada da história das Cruzadas.
Outroaspectoquemarcaaversãoportuguesadoromancerefere-seàprofundaalteraçãoocorridanodesenlace,queMatosGuimarãesrefazpormotivosquetantopoderãoserdeordemeditorial,paraencurtaraobra,antecipandoofinalemrelaçãoaooriginal,comoporrazõesestéticas,porqueumfinalfeliznãocorresponderiatantoaogostodeumroman-tismo exacerbado, dominante na época. Quando RenzoregressaaMilãoeencontraacidadeempestada,dirige-seaolazaretoembuscadeLucia,reencontraD.Rodrigo,per-doa-lheomalpassadoeassisteaosseusúltimosmomentos,comonotextodepartida.Noentanto,emvezdesedepararcomanoiva,emborafraca,emfrancarecuperação,comonotextoitaliano,surpreende-amoribunda,nãolherestandooutraalternativasenãoacompanhá-lanosderradeirosinstan-tesdevidaetratar,depois,dovelório.Quando,namanhãseguinte,aindaprocuraFreiCristóvão,Renzotomatam-bémconhecimentodoseusúbitofalecimento.Aconclu-sãodaversãoportuguesadaobraocorre,assim,sobosignodamorte,sobrevivendoapenasoprotagonistaàsrestantes
240 Estudos Italianos em Portugal
personagens.Pelofacto,constituiaprimeiratraduçãopor-tuguesadoromancedeManzoniumflagrantetestemunhodogostoliteráriodominantenaépoca,preocupando-seotradutoremadaptá-loàscoordenadasestéticasdarealidadesocialdopaís.
Traduções:[Alessandro]Manzoni,Os desposados ou a peste e a fome no
século XVII,Porto,TypographiadeA.J.PereiraLeite,1863--1864,5vols.
Bibliografia passiva:Rodrigues,A.A.Gonçalves,A tradução em Portugal,vol.3,
1851/1870,Lisboa,ISLA,CentrodeEstudosdeLiteraturaGeraleComparada,1993,p.318
Manuel Ferro
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