Expressão Plástica: na companhia de fadas ou de duendes, cavaleiros, princesas e dragões, modelámos o barro, pintámos com aguarelas, trabalhámos a lã, procurámos tesouros, construímos geoplanos em madeira, restaurámos a Casa do Lenhador e construímos o futuro galinheiro. Fizemos fantoches e marionetas.
Expressão Dramática: desenvolvemos actividades de expressão corporal, trabalhando a construção de personagens através do jogo dramático: Jogo das Cores e Sentires; Jogo dos Animais e seus Mundos; Jogos de Expressão de Emoções e Afectos; Representação e Dramatização com Fantoches e Marionetas.
Expressão Musical: através de actividades ao ar livre, procurámos despertar o interesse e a curiosidade pelos fenómenos do som, do silêncio e da música, experimentando instrumentos de ritmo, escutando os sons da natureza e improvisando para desenvolver a criatividade musical. Aprendemos novas canções, utilizando a guitarra clássica como principal instrumento musical.
A Expressão e Educação Musical e Dramática no 1.º ciclo do Ensino Básico.
Introdução
É com o corpo que as crianças exploram, aprendem e reagem aos
estímulos do meio envolvente. São os sentidos que recolhem o material
com o qual se constróem as imagens mentais – não só visuais mas também
tácteis, auditivas, ... – necessárias à construção dos conceitos.
A educação do corpo, do gesto, da audição, da voz e da visão
desenvolve nas crianças o campo das possibilidades de interpretar o
mundo, de exprimir o pensamento, de criar.
Este trabalho, embora contenha algumas limitações, procurará dar
uma imagem da importância que a Expressão e Educação Musical e
Dramática tem no desenvolvimento afectivo, social e intelectual das
crianças, na medida em que lhes dá a possibilidade de interpretar o mundo,
de estruturar e exprimir o seu pensamento, de criar, de desenvolver o seu
equilíbrio emocional, de formar o seu carácter e de afirmar a sua própria
identidade.
A Expressão e Educação Musical
O gosto pela música é natural nas crianças. Elas gostam de cantar e
de ouvir música, como gostam de ouvir o ruído da água que corre da
nascente ou o canto de uma ave. A música é uma linguagem universal,
completa, porque puramente intuitiva, e talvez o modo de expressão por
excelência da expontaneidade. I. Stravinsky afirmava: “Considero a
música, pela sua essência, impotente para exprimir o que quer que seja: um
sentimento, uma atitude, um estado psicológico, um fenómeno natural.”
“Expressão de coisa nenhuma, sem dúvida, se não de uma emoção estética
que é tudo, e que o criador transmite e partilha com o auditor. Que a
mensagem seja desprovida de conteúdo preciso, o que conta é a
transmissão de uma experiência vivida, de uma realidade inefável, a
comunhão espiritual que daí resulta e o florescimento pessoal que ela
favorece.” (Gloton & Clero, 1976, p.177).
De acordo com a opinião dos autores, acima referidos, o que
realmente é importante é que a música transmite “uma experiência vivida,
uma realidade inefável, a comunhão espiritual que daí resulta e o
florescimento pessoal que ela favorece”.
Não podemos ignorar a importância da música na formação do
homem, porque ela faz parte da essência do ser humano. Goethe escreveu:
“quem não ama a música, não merece o nome de homem, quem gosta dela
é metade de homem, quem a pratica é um homem completo...” . Apesar de
considerarmos que há algum exagero nas afirmações de Goethe, as suas
palavras mostram claramente a importância que a música tinha para ele. O
que nós podemos afirmar é que o homem, através da música, pode exprimir
os seus sentimentos e libertar muitas vezes emoções que o oprimem
adquirindo uma estabilidade que é importante para a afirmação da sua
própria identidade, na sociedade em que está inserido.
A educação musical deve começar na família e tem que ter
continuidade no jardim escola, no 1.º ciclo e nos restantes ciclos. A escola
deve ensinar as crianças a cantarem bem, a amarem o canto e dar-lhes a
possibilidade de distinguirem a boa música da má. A música é como uma
segunda língua que permite exprimir os sentimentos, na medida em que há
canções tristes e alegres.
O poder educativo da música traduz-se pelo apuramento do gosto
musical, o que implica uma afinação rigorosa, uma boa pronúncia e um
ritmo certo. No entanto a criança para interiorizar estes conhecimentos
deve ter no seu professor um modelo a imitar e para que isso aconteça ele
deve ter os conhecimentos necessários, na área da Expressão e Educação
Musical.
As canções populares características do nosso folclore dão à criança
a noção de que existiu um passado, o nosso passado que não podemos
ignorar, porque ele contribui para a nossa própria identidade. Conhecendo
outras melodias igualmente populares e tradicionais de outros países, a
criança apercebe-se de que existem outras culturas diferentes da nossa que
é importante conhecer e esse conhecimento despertará nela a simpatia por
seres humanos que não conhece e provavelmente nunca virá a conhecer, o
que não impede de ter por eles simpatia e solidariedade.
A existência de um gravador na escola permite ao professor escolher
boas músicas, porque não só desenvolve o gosto musical das crianças como
permite criar um ambiente propício à boa disposição dos alunos, quando
realizam os seus trabalhos.
As rodas, a dança, a ginástica rítmica, fazem parte da Educação
Musical e são importantes, porque desenvolvem sentimentos colectivos e o
autocontrôle, disciplinam movimentos do corpo, os gestos e as atitudes e
contribuem para uma harmonia corporal e afectiva.
O professor tem que atender à singularidade musical de cada criança,
dando-lhe, oportunidade de desenvolver, à sua maneira, as suas propostas e
os seus projectos, sem contudo esquecer que é professor e como tal deve ter
propostas e projectos para os seus alunos de modo que a música contribua
para a sua formação afectiva, social e intelectual.
Voz, corpo e instrumentos formam um todo, sendo a criança
solicitada a utilizá-los de forma integrada, harmoniosa e criativa.
O professor deve criar nas crianças o gosto pela música, através das
suas canções preferidas e da dramatização das suas histórias preferidas.
A Expressão e Educação Dramática
Ao referirmo-nos à Expressão e Educação Dramática, temos que
afirmar que esta área de expressão não se pode confundir com o teatro, na
medida em que o jogo dramático não se baseia num texto prévio que
embaraça muitas vezes a criança ou nalguns casos a paralisa. O jogo
dramático é um exercício da criança para a própria criança e esse mesmo
jogo esgota-se ao ser realizado.
Para confirmarmos o que referimos, vamos transcrever algumas
palavras de Marie Dienesch, citada no livro, A Criança e a Expressão
Dramática, (1974, p.24): “Partindo de uma acção e não de um texto, a
criança não corre o risco de cair nesta confusão fundamental: as palavras já
não tomam para ela o lugar da acção, pois esta é apreendida antes da
utilização de qualquer forma verbal. Além disso, levada a criar o seu
próprio texto, quando se chega ao momento em que as palavras satisfazem
uma necessidade interior, e só então, ela experimenta a verdadeira natureza
da linguagem dramática, em que tudo o que possa ser indicado por um
meio diferente da palavra não deve ser dito, e em que a palavra assume o
seu valor insubstituível e soberano a fim de ser o ponto final de uma
evolução interior, já contida na vida física do autor.”
Actualmente, o jogo dramático foi banido de algumas escolas, onde a
festa de fim de ano é substituída por um passeio, por uma exposição de
trabalhos dos alunos. No entanto, este tem que tomar o seu verdadeiro lugar
na educação da criança.
A dramatização livre e espontânea dos contos de fadas e dos contos
tradicionais desenvolvem na criança a criatividade e tornam-na mais
comunicativa desenvolvendo, assim, a sua socialização. É, através do
imaginário, do maravilhoso que a criança cresce afectivamente,
ultrapassando, muitas vezes traumatismos que uma educação repressiva
ajudou a criar.
Freud afirmava que os processos de transformação do trabalho
subjacente ao conto, são análogos aos do trabalho do sonho: dramatização,
deslocamento, dissociação e representação por símbolos.
Também Carl Jung referia que os contos são um material discreto
para as projecções necessárias a uma individualização correcta. Igualmente
Gaston Bachelard considerou o maravilhoso como a matéria prima da
imaginação: “é como a grelha mais rigorosa para a análise do real ao
aperceber-se que a razão científica recorta as sua verdades na ordem dos
sonhos e da consciência poética.”
O conto é um espaço de mediação entre o consciente e o
inconsciente, entre o eu e o mundo.
A afirmação de L. Pereira é igualmente elucidativa: “o conto
maravilhoso... respeita a interacção entre o homem e o cósmico para a
formação de imagens, tendo em conta a homologia do psíquico, do
cósmico, do social e do biológico, organizadas numa significação
integrada. O conto ajuda o docente a encontrar o núcleo gerador da
interdisciplinariedade. A sua compreensão leva-o à descoberta dos segredos
da pedagogia: à motivação do espaço interdisciplinar.”
“O conto é um universalismo que denota a persistência de qualquer
coisa de primordial, de irrefreado e de comum à totalidade dos homens.”
(José Gomes Ferreira). Muito antes, já Teófilo Braga fazia a apologia do
conto, no entanto as pretensões pedagógicas desnaturaram-no e ele perdeu
a sua poesia espontânea, a sua singeleza popular e a sua beleza tradicional.
A função ancestral do conto é por o vulgo a sonhar. A civilização destruiu
muita dessa função.
A mensagem do conto de fadas é determinante na educação das
crianças, mas também dos jovens. Essa mensagem, porventura a mais
importante, é a de que a luta contra as dificuldades da vida é inevitável,
mas se o homem se empenhar, com coragem e determinação, acabará por
sair vencedor de todos os obstáculos. Desta maneira a mensagem não é
moral, mas somente a de encarar a vida com confiança, com possibilidade
de vencer de vencer as dificuldades que a todos se colocam. “A nossa
herança cultural encontra expressão nos contos de fadas e através deles é
comunicado às crianças.” (Bruno Betteheim).
A Expressão e Educação Musical e Dramática
O professor pode associar a Expressão Dramática à Expressão
Musical, porque as duas áreas se completam e como são muito importantes
na educação das crianças, o professor deve desenvolver as mais variadas
competências, nas áreas referidas:
. Compreender gestos, sons, ritmos e escrita musical.
. Conhecer músicas e diferentes instrumentos.
. Ser capaz de produzir e / ou criar sons.
. Compreender jogos de comunicação verbal e não verbal.
. Ser capaz de produzir e / ou criar personagens, histórias ou jogos de
imaginação.
. Dominar progressivamente a expressividade do corpo e da voz.
Vamos exemplificar, seguidamente como é que a Expressão e a
Educação Musical e Dramática podem e devem ser dadas em conjunto,
formando um todo imprescindível à formação da criança.
1. Movimento:
a) As crianças estão sentadas em círculo. O professor chama um
aluno e diz-lhe que imite um animal só com mímica. Os
restantes tentam adivinhar que animal é.
Conversar sobre a imitação feita.
b) Falar em outros animais que poderiam ser imitados. Cada
criança vai imitar o animal que desejar (só com mímica).
c) Em círculo vão transformar-se lentamente em diferentes
animais segundo indicações do professor. Por exemplo: girafa,
elefante, galinha, leão, borboleta, burro, etc.
d) Jogo: o professor distribui por cada aluno um pequeno papel
dobrado onde registou, previamente, o nome de um animal. O
nome de cada animal foi escrito em 2 (3) papeis diferentes.
Assim haverá: 2 (3) macacos; 2 (3) elefantes; 2 (3) caracóis; 2
(3) galinhas; 2 (3) girafas; 2 (3) gatinhos; 2 (3) ratinhos e 2 (3)
burrinhos.
Desenvolvimento: Num primeiro momento procuram
transformar-se corporalmente no animal mencionado no papel,
não podendo emitir quaisquer sons. Depois relacionam-se uns
com os outros, tentando organizar-se em pares de animais iguais.
Quando todos os pares estiverem organizados já é permitida a
utilização de sons dos vários animais relacionando-se uns com os
outros aos pares. (o professor vai sugerindo situações para
motivar o relacionamento entre os diferentes pares).
2. Canção:
a) Mímica: Mostrar quatro dedos;
gesto de fugir com as mãos, bater palmas.
Movimento com o corpo, mãos nas ancas.
requebrando, seguindo o ritmo da música.
b) Dramatização:
c)
d) Siricoté
e)
1. Eram quatro pretinhos
Todos quatro da Guiné Deitaram a fugir Cantando o Siricoté.
Siricoté, siricoté
Eram quatro pretinhos da
Guiné.
2. Logo, logo encontraram
O amigo Chimpanzé
A ele ensinaram
A canção siricoté.
Siricoté, siricoté
Eram quatro pretinhos da
Guine
3. Depois veio a girafa
Toda airosa a dançar
Tocava numa garrafa
Pois não sabia cantar.
Siricoté, siricoté
Eram quatro pretinhos da
Guine
4. Pouco a pouco a bicharada
Foi chegando à clareira
E com toda a sua graça
Entrando na brincadeira
Siricoté, siricoté
Eram quatro pretinhos da
Guine
Foi assim que na floresta
Todo o bicho bateu pé
Foram os quatro pretinhos
A cantar Siricoté
Siricoté, siricoté
Eram quatro pretinhos da Guine
Estas actividades de Expressão e Educação Musical e Dramática
destinam-se ao 3.º ano do 1.º ciclo do ensino básico.
A interdisciplinariedade
Seguidamente, vamos exemplificar como pode haver
interdisciplinariedade entre a Expressão e Educação Musical e Dramática e
as outras áreas curriculares:
Estudo do Meio – trabalho de pesquisa sobre os animais quanto à:
. alimentação
. respiração
. reprodução
Este trabalho será feito em grupo e terá como fontes de consulta:
vídeos, visitas de estudo, livros e enciclopédias.
O professor deve orientar o trabalho, motivando a criança para a
recolha de dados.
Língua Portuguesa – Escrita de relatórios sobre o trabalho
realizado, sua leitura e explicação por um dos elementos do grupo.
Escrita de textos sobre os animais preferidos de cada criança.
Os diferentes tipos de frase.
Matemática – situações problemáticas elaboradas e resolvidas por
cada grupo.
Consolidação do algoritmo das quatro operações.
Todas estas actividades terão como base os animais.
Expressão e Educação Físico-Motora – Exercícios de lateralização,
equilíbrio e coordenação.
Realização de um jogo: “A toca e os coelhos”
Expressão e Educação Visual – Recorte, colagem e pintura de
alguns animais.
Desenho livre sobre os animais que existem na comunidade, onde
está inserida a escola.
Educação Cívica – Interiorizar o respeito que merecem os animais e
os outros seres vivos que existem na Natureza.
Preservação da Natureza e do património histórico existente na
localidade, onde residem.
Respeito pelas diferenças.
Conclusão
A Expressão e Educação Musical e Dramática, assim como as outras
áreas de expressão têm sido frequentemente tratadas como secundárias na
formação da criança ou apenas como momentos de diversão. No entanto, a
prática das actividades expressivas contribui declaradamente para a
expressão da personalidade, para a estruturação do pensamento e para a
formação do carácter.
A Expressão e Educação Musical e Dramática desenvolve o domínio
das capacidades corporais, na criança, e a sua utilização como instrumentos
expressivos. Pretende-se alargar de experiência das crianças, de forma a
que possam desenvolver a sua sensibilidade, imaginação e sentido estético.
O prazer e o gosto que as crianças manifestam ao realizar estas
actividades levarão, progressivamente, o professor a proporcionar
momentos em que se verbalizem experiências, se combinem e organizem
outras situações de aprendizagem, contribuindo para uma maior
interligação das áreas curriculares.
O professor deverá estar atento ao percurso de cada criança,
encorajando novas possibilidades e dando sempre espaço para que as
crianças, individualmente ou em grupo, encontrem a sua forma de
expressão e, progressivamente, a consigam utilizar para comunicar.
Bibliografia:
Leenhardt Pierre (1974). A Criança e a Expressão Dramática.
Editorial Estampa.
Fontes Vítor, Botelho L. M. & Sacramento M. A Criança e o
Livro. Livros Horizonte.
Chateau Jean (1975). A Criança e o Jogo. Coimbra: Atlântida
Editora.
Gloton Robert, Clero C. (1976). A Actividade Criadora na
Criança. Editorial Estampa.
Lei de Bases do Sistema Educativo. Lisboa: Ministério da
Educação.
Dottrens Robert (1974). Educar e Instruir III. Editorial
Estampa.
Programa do 1.º Ciclo do Ensino Básico (1990). Lisboa:
Ministério da Educação
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