FACULDADES CEARENSES
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL
MARIA JOSÉ DE OLIVEIRA
A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO NO EIXO QUE ENVOLVE A
VALORIZAÇÃO DO TRABALHADOR EM SAÚDE
FORTALEZA/CEARÁ
2014
MARIA JOSÉ DE OLIVEIRA
A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO NO EIXO QUE ENVOLVE A
VALORIZAÇÃO DO TRABALHADOR EM SAÚDE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito parcial para obtenção de grau de
Bacharel em Serviço Social pela Faculdade
Cearense – FaC.
Orientadora: Flaubênia Maria Girão Queiroz.
Fortaleza/Ceará
2014
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
O48p Oliveira, Maria José de
A política nacional de humanização no eixo que envolve a
valorização do trabalhador em saúde / Maria José de Oliveira.
Fortaleza – 2014.
87f. Orientador: Profª. Ms. Flaubênia Maria Girão de Queiroz.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.
1. Trabalho em saúde. 2. Humanização. 3. Valorização. I.
Queiroz, Flaubênia Maria Girão de. II. Título
CDU 376
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar ao Meu Senhor Deus Todo Poderoso que permite que coisas maravilhosas
aconteçam em minha vida.
As filhas amadas Deborah Noamí e Camilla de Oliveira que tão fortemente suportaram minha
distância.
Ao meu amado, parceiro e esposo Júlio Antônio de Medeiros.
A Meus pais Isabel Alves e Raimundo Dias (in memoriam) exemplos irreprováveis.
A Meus irmãos Dalva de Oliveira, Raimundo Dias Filho, Irailton José, Francisca Maria, Maria
Reis, Isa Alves, sempre presentes em minha vida.
A Flaubênia Girão, orientadora, amiga, inspiração, exemplo de solidariedade
As amigas queridas Nádia Bessa e Liziany Amora, amigas fiel para toda à vida.
A Raquel Abreu e Sabrina Vieira, filhas do coração.
A todo corpo Docente da Faculdade Cearense em especial as professoras Eliane Carvalho,
Joelma Freitas, Mário Henrique, Virsangela Sandy, Richelly Barbosa, professor Marco
Antônio e todos que juntos com a Faculdade Cearense cooperaram com esta oportunidade.
Aos amigos do laboratório Central do Hospital das Clinicas: Elizabeth Yokobatake, Liduína
Braga, Erivanda França, Glairta Costa, Júlio Torres, Ana Paula do Carmo, Janiel Florêncio, e
todos, que sempre me apoiaram e acreditaram nessa vitória.
A todos os Funcionários do Hospital São José especialmente a Iolanda Jacob, Paulo Germano,
Conceição Castelo, Dayne Belchior, Rita de Cássia Barbosa, Vânia Damasceno e a todos os
demais.
A Wandemberg Ribeiro grande amigo e cooperador.
As Assistentes Sociais Alessandra Liz e Tânia Braule, técnicas e amigas queridas.
Aos sujeitos das entrevistas, meu particular reconhecimento.
E a todos aqueles que direto ou indiretamente participaram deste projeto.
Restam outros sistemas fora
do solara colonizar,
ao acabarem todos
só resta o homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosissima viagem
de si a si mesmo:
por o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
o homem descobrindo
em suas próprias
inexploradas entranhas
a perene insuspeitada
alegria de
CONVIVER
(Carlos Drumond de Andrade)
LISTA DE SIGLAS
AIDS: Síndrome da Imunodeficiência adquirida
CAPs: Caixas de Aposentadorias e Pensões
CAPs: Centro de Atenção Psicossocial
IAPs: Instituto de Aposentadorias e pensões
EPIs: Equipamento de Proteção Individual
HIV: HumanImmunodeficiency Virus (Vírus da imunodeficiência Humana)
INPS: Instituto Nacional de Assistência Social
IPDSC: Instituto de Pesquisas do Discurso do Sujeito Coletivo
MS: Ministério da Saúde
NR 32: Norma Reguladora nº 32
PNH: Política Nacional de Humanização
PSF: Programa de Saúde da Família
PNI: Programa Nacional de Imunização
SUS: Sistema Único de Saúde
SALTE: Saúde, Alimentação, Transporte e Energia.
SESP: Serviço Especial de Saúde Pública
SUCAM: Superintendência de Campanhas da Saúde Pública
UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância
USP: Universidade de São Paulo
RESUMO
O estudo teve como objetivo identificar como se concretiza a política Nacional de
Humanização do SUS em um hospital municipal de Fortaleza, no que diz respeito ao eixo que
envolve a valorização dos profissionais da saúde. Buscou-se também determinar as políticas
de saúde que garante direito à saúde humanizada; identificar ações de fortalecimento definidas
pela Política Nacional de Humanização para promoção e valorização dos trabalhadores no
ambiente institucional; conhecer o entendimento dos profissionais da saúde na unidade sobre
humanização no exercício do trabalho em saúde; e identificar os desafios postos a efetividade
da PHN/SUS para valorização dos profissionais na instituição. O marco teórico
fundamentador foi a Política Nacional de humanização presente na totalidade do estudo.
Jairnilson Paim e Zenaide Aguiar propiciaram as principais informações na elaboração do
resgate histórico das políticas de saúde no Brasil. Trabalhou-se com Antunes, Giordani, e
Sodré com a intenção de oferecer elementos especulativos e compreensivos sobre o trabalho
e o trabalhador em saúde, a humanização em saúde e a valorização. O estudo teve uma
abordagem com característica qualitativa, exploratória, cujo delineamento constitui como
pesquisa bibliográfica e de campo. Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro de
entrevistas com perguntas semi–estruturadas realizada com oito sujeitos distribuídos em cinco
categorias de profissionais. O critério de inclusão destes profissionais é que os mesmos
pudessem estar desenvolvendo suas atividades diretamente ligadas ao público atendido no
Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira (Frotinha de Parangaba), campo deste
estudo. Os resultados foram analisados à luz do Discurso do Sujeito Coletivo. A pesquisa
revelou que na instituição há deficiência no processo de reconhecimento e valorização do
trabalho e do trabalhador em saúde, o que reclama a materialização da PNH.
Palavras - chave: Trabalho em saúde. Humanização. Valorização.
ABSTRACT
The study aimed to identify how it operates the National Humanization of SUS policy in a
municipal hospital in Fortaleza, with respect to the axis involving the valuation of health
professionals. We attempted to also determine health policy that guarantees the right to human
health; identify actions to strengthen defined by the National Humanization Policy for
promotion and exploitation of workers in the institutional environment; know the understanding
of health professionals in the unit on humanization in the exercise of health work; and identify
the challenges posed effectiveness of PHN / SUS for valuation professionals at the institution.
The theoretical framework was founding the National Policy on present throughout the study
humanization. Jairnilson Paim and Zenaide Aguiar have provided key information in preparing
the historical restoration of health policies in Brazil. We worked with Ali, Giordani, and Sodré
with the intention of offering speculative and understanding about the work elements and
worker health, humanization of health and recovery. The study took an approach with
qualitative, exploratory characteristics, whose design is as bibliographical and field research.
For data collection, a set of interviews with semi-structured questions performed with eight
subjects divided into five categories of professionals was used. The inclusion criteria for these
professionals are that they could be developing their activities directly linked to the public
served at the District Hospital Maria José Barroso Oliveira (Frotinha of Parangaba) field study.
The results were analyzed by the Collective Subject Discourse. The research revealed that there
is a deficiency in the institution in recognition and appreciation of the work and worker health,
which calls for the materialization of the HNP process.
Keywords: Health work. Humanization. Recovery.
Lista de Quadros
1. Perfil dos sujeitos da Pesquisa............................................................. 34
2. Quadro 2. Questão 1 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............36
3. Quadro 3. Questão 2 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............41
4. Quadro 4. Questão 3 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............44
5. Quadro 5. Questão 4 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............48
6. Quadro 6. Questão 5 análise do Discurso do Sujeito Coletivo.............53
Sumário
INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 11
1.0 A SAÚDE NO BRASIL: O SUS E A PNH........................................................................ 14
1.1 Breve histórico da saúde no Brasil e a construção do SUS.........................................14
1.2 Avanços e desafios do SUS........................................................................................ 23
1.3 A Política Nacional de Humanização......................................................................... 28
2.0 TRABALHO E VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL: DESAFIOS DA PNH................. 31
2.1 Trabalho e a realidade dos trabalhadores da saúde..................................................... 31
2.2 Humanização do trabalho em saúde............................................................................35
2.3 Valorização do trabalho e do trabalhador em saúde....................................................38
3.0 PERCURSO METODOLÓGICO..................................................................................... 41
3.1 Caracterização da Pesquisa......................................................................................... 42
3.2 Campo e sujeitos da Pesquisa..................................................................................... 44
3.3 Análises dos resultados...................................................................................... ........ 47
4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................71
APÊNDICES...........................................................................................................................73
ANEXOS ................................................................................................................................83
11
INTRODUÇÃO
O presente estudo é resultado de um comportamento inquietante em esquadrinhar a
realidade dos profissionais de saúde, adquirido ao longo do Bacharelado em Serviço Social da
Faculdade Cearense. Nos primeiros semestres do curso, elaborou-se um projeto de pesquisa
com orientação para a área da saúde. O projeto adquiriu consistência relevante ao longo da
graduação, incorporou novos conhecimentos advindos de estudos teóricos e da realidade vivida
pela pesquisadora em sua experiência de estágio curricular.
A aproximação com o objeto de pesquisa se deu no período de um ano e meio (de
Fevereiro de 2012 a junho de 2013) em estágio curricular no serviço social de um hospital
vinculado à rede municipal de Fortaleza e campo deste estudo. Também foi resultado da relação
profissional da pesquisadora com a área da saúde, visto que a mesma participa do processo de
produção de saúde, exercendo função na área técnica em estabelecimento de saúde vinculado à
rede pública.
A Política Nacional de Humanização no eixo que envolve a valorização do trabalhador
em saúde, tema proposto, objetiva identificar como se concretiza a Política Nacional de
Humanização em um hospital municipal de Fortaleza no que diz respeito ao eixo que envolve
a valorização do trabalhador em saúde. O empreendimento exigiu construções teóricas
estabelecidas desde o início da história do Brasil.
Para melhor compreender o tema, buscou-se o desenvolvimento das políticas de saúde
elaborado por meio de um resgate histórico daquilo que era disponibilizado para a população
antes do Sistema Único de Saúde (SUS). É um estudo que visa determinar as políticas de saúde
com referência na garantia de direito à saúde, assim também, como os novos modelos de
intervenções para a área, construídos a partir dos princípios e diretrizes do SUS com intenções
de promover saúde de qualidade com acesso irrestrito a toda a população brasileira.
Durante o percurso da pesquisa, percebeu-se que as políticas de saúde no Brasil antes
do SUS, caracterizaram-se por acompanhar as tendências econômicas e políticas de cada
momento histórico. O primeiro capítulo mostrou que a história da saúde no Brasil foi marcada
pela ausência de intervenção do poder público nas políticas de saúde. Aguiar (2011) afirma
que não havia ações de saúde preventivas no Brasil, antes do SUS, algumas medidas
12
interventivas nessa intenção visavam apenas minimizar problemas de saúde pública com
intenções claras de amenizar qualquer problema que pudesse comprometer a produção
econômica e o comercio de exportação.
A história da saúde, portanto, construiu-se em torno da salvaguarda da política
econômica em detrimento das políticas sociais, mesmo com a proclamação da República em
1989 e a organização do Estado Brasileiro Moderno, a intervenção do Governo Federal sobre
ações de saúde, ainda encontrava-se diretamente atrelada à exportação de mercadorias, e ao
comércio internacional.
O Movimento de Reforma Sanitária1 nos anos 80 foi responsável por conceber a saúde
sob a dimensão do direito. O Movimento foi responsável também pela politização do papel da
saúde e das instituições prestadoras de serviços na área. A sociedade brasileira reclamava a
ampliação da cidadania e o direito de ter a saúde na agenda política brasileira materializada na
VIII Conferencia Nacional de Saúde2. Segundo Aguiar (2011) o relatório final da VIII
Conferência Nacional de Saúde foi inspiração para o capítulo “saúde” da Constituição Federal
de 1988.
Com a aprovação do SUS como política pública incorporou para a saúde a maioria
das reivindicações da Reforma Sanitária, representando uma das maiores conquistas sociais do
povo brasileiro. Integraram na Constituição Federal proposições advindas da sociedade civil
com relativas mudanças no papel do Estado e a alteração do sistema público de saúde.
No segundo capítulo são contemplados os avanços e desafios do SUS. Os Princípios
da integralidade, universalidade e equidade são concebidos como avanços nas políticas de saúde
gestados a partir do Movimento de Reforma sanitária. Princípios que possibilitam a
compreensão do conceito ampliado de saúde, estabelecido a partir da aprovação do SUS e
reconhecidos em sua determinação social para proteção, promoção e recuperação em saúde.
Quanto aos desafios do SUS estas são novas questões relacionadas à escassez de acesso, o
1Este foi um projeto articulado ao longo dos anos 70 e 80 encaminhado pelo Movimento sanitário composto por
profissionais de saúde, lideranças populares, trabalhadores, sindicatos, parlamentares de esquerda, intelectuais,
estudantes de saúde e algumas entidades que lideravam a luta em favor da saúde. (AGUIAR, 2011)
2A VIII Conferência Nacional de Saúde foi um evento realizado em Brasília (DF) em 1986, resultado da
redemocratização do país em 1985.
13
reconhecimento sobre as necessidades dos usuários dos serviços de saúde e a implementação
de programas de humanização das práticas e processos. Desafio com propostas de atuar nas
lacunas do SUS e instituídos na Política Nacional de Humanização.
A Política Nacional de Humanização vincula se a valorização dos diferentes sujeitos
implicados no processo de produção de saúde, o tripé da humanização: usuário, trabalhador e
gestor. A política propõe atuar a partir da autonomia e o protagonismo dos sujeitos. O
trabalhador de saúde, sujeito deste estudo, é o trabalhador do sistema capitalista que vende sua
força de trabalho em troca de um salário, esse trabalhador sofre do processo de Precarização do
trabalho, no entanto, é um trabalho ora gerador de sofrimento, ora de satisfação desde que
tenham suas atividades socialmente reconhecidas.
Este estudo conduz ao entendimento da Concretização da Política Nacional de
Humanização no eixo que envolve a valorização do trabalhador, por meio da pesquisa social
qualitativa, busca entender o universo dos motivos, das aspirações, dos valores e das atitudes
inseridas num universo de representações e intencionalidades vistas num recorte da realidade
social (Minayo, 2004). O material para análise desta pesquisa foi capturado em entrevistas
semi-estruturada e interpretado à luz do Discurso do Sujeito Coletivo.
Na problemática proposta, compreendeu-se que o trabalhador sofre das consequências
de um processo de trabalho precarizado em instituições de saúde, que esse trabalhador padece
ainda dos agravos de um trabalho não reconhecido e pouco valorizado. Mostrou-se que o
trabalhador em saúde conhece a Política Nacional de Humanização e reconhece a carência de
projetos com temas sobre humanização para a Instituição, concordando, portanto, com a
necessidade da materialização da Política Nacional de Humanização para melhoria das
condições de trabalho na unidade. As ações em ambientes hospitalares voltados para a
humanização favorecem a melhoria do ambiente de trabalho por meio da autonomia e o
protagonismo dos sujeitos implicados no processo de produção de saúde.
14
1.0 A SAÚDE NO BRASIL, O SUS E A PNH
O homem não é a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem,
Do que poderia ter (SARTRE)
O presente capítulo objetiva fundamentar a construção histórica da política de saúde no
Brasil que antecedeu o Sistema Único de Saúde (SUS), uma trajetória que adquiriu ao longo de
sua evolução, características marcantes por acompanharem as tendências políticas e
econômicas de cada momento histórico. Essas características tanto se revelaram por andarem
próximas às políticas econômicas e às sociais, quanto à obediência à ótica do capitalismo
internacional. Representava um modelo de saúde que não priorizava a saúde preventiva,
merecendo atenção apenas situações de epidemias ou endemias que, a partir de seu
agravamento, geravam resultados negativos, refletidos diretamente na área econômica e social.
(AGUIAR, 2011).
O capítulo mostra que somente a partir dos anos 80, final do século XX, com o
reconhecimento do SUS como política pública estabelecida na Constituição Federal de 1988,
foi possível visualizar a saúde concebida como direito de todos e dever do Estado e com acesso
irrestrito a toda população. O SUS significou uma das maiores conquistas sociais do povo
brasileiro. Sua materialização representa a possibilidade de progredir num processo de saúde
vinculada à condição de cidadania, relacionada com a qualidade de vida. Assim, ao longo do
estudo, vê-se que o SUS caminha em parceria com outras políticas no intuito de oferecer amplas
respostas às demandas sociais da população brasileira.
1.1 Breve Histórico da Saúde no Brasil e a Construção do SUS
No Brasil, nos anos de 1500 a 1889, períodos que corresponderam ao Brasil Colônia e
Brasil Império, respectivamente, as autoridades sanitárias lidavam com inúmeras doenças
transmissíveis, trazidas num primeiro momento, pelos colonos portugueses e, posteriormente,
pelos escravos africanos, além dos diversos estrangeiros que vinham para o Brasil, com
intenções comerciais ou imigração.(AGUIAR, 2011). Muitas dessas doenças tornaram-se
endêmicas e outras provocaram epidemias de grande gravidade, a ponto de dizimar elevado
número de contingente populacional. Eram doenças infectocontagiosas, doenças relacionadas
15
à desnutrição, além dos acidentes provocados por animais venenosos. Como mostra Aguiar
(2011)
[...] Eram frequentes as doenças sexualmente transmissíveis, a lepra (hoje conhecida
como Hanseníase), a tuberculose, a febre amarela, a cólera, a malária, a varíola,
leishmaniose, além de doenças provocadas por desnutrição, acidentes provocados por
animais peçonhentos, e as decorrentes das aglomerações urbanas nas cidades e das
condições precárias de trabalho nas lavouras. (AGUIAR, 2011, p.18).
A intervenção na saúde praticada no Brasil na época era o espelho da organização
sanitária de Portugal. Os serviços de saúde disponibilizados às tropas militares brasileiras eram
subordinados ao cirurgião-mor dos Exércitos de Portugal. O físico-mor respondia pelo
saneamento e pela profilaxia das doenças epidêmicas, além de questões relacionadas ao
trabalho dos médicos, farmacêuticos, cirurgiões, boticários, curandeiros e outros. As
autoridades locais, como as câmaras municipais, respondiam pela higiene das cidades,
fiscalização dos portos, e o comércio de alimentos. (PAIM, 2009).
Os períodos Colônia e Império (1500-1889) foram marcados pela ausência de política
de saúde no Brasil, existiam apenas medidas interventivas que visavam minimizar os problemas
de saúde pública, com intenções claras de reduzir problemas que comprometessem a produção
econômica e o comércio internacional. O saneamento dos portos por onde escoavam as
mercadorias, a urbanização e infraestrutura dos centros urbanos de maior interesse econômico
(Salvador, Recife, Ouro Preto, Rio de Janeiro, Cuiabá e São Paulo) e as campanhas de combate
às endemias frequentes e prejudiciais à produção, eram medidas pontuais, abandonadas assim
que o surto das doenças era controlado. (AGUIAR, 2011).
O acesso aos serviços médicos era limitado, restrito apenas às famílias muito ricas, entre
elas os coronéis do café. Os demais (índios, negros e brancos pobres) buscavam refúgio para
suas doenças na medicina popular, nas sangrias (extração de sangue: procedimento utilizado na
época para a cura de diversas doenças) e nas Santas Casas de Misericórdia, criadas em 1543,
destinadas ao abrigo de doentes indigentes e viajantes sem assistência médica. (AGUIAR,
2011). Segundo Paim (2009), a organização sanitária de saúde no final do império era simplória,
incapaz de oferecer respostas satisfatórias aos graves problemas de saúde que havia na época.
As soluções existiam apenas para os ricos que podiam pagar por tratamentos de saúde.
[...] Ao final do Império, era rudimentar e centralizada a organização sanitária brasileira,
incapaz de responder às epidemias e de assegurar a assistência aos doentes sem
16
discriminação. As pessoas que dispunham de recursos eram cuidadas por médicos
particulares, enquanto os indigentes eram atendidos pelas casas de misericórdia, pela
caridade, e pela filantropia. (PAIM, 2009 p. 27).
A reforma dos serviços sanitários efetuada, durante o Império (1822-1889), com a
criação da Inspetoria Geral de Higiene, a Inspetoria Geral de Saúde dos Portos e o Conselho
Superior de Saúde Pública, possibilitou, pela primeira vez no Brasil, realizar medidas voltadas
para a higiene escolar e para a proteção de crianças e adolescentes que trabalhavam em fábricas.
No entanto, essas medidas ainda eram ineficazes para o sistema sanitário brasileiro para
responder às demandas de saúde da população. (PAIM, 2009).
A proclamação da República do Brasil em1889 marca a organização do Estado
Brasileiro Moderno. Implantou-se no país um novo modelo de gestão de saúde em que a
responsabilidade das ações passava a ser atribuída aos estados. O Governo Federal atuaria
apenas onde não cabia a intervenção dos governos estaduais, ou seja, nos serviços de saúde
terrestres, marítimos e na Diretoria Geral de Saúde Pública, pois o governo tinha a finalidade
de atuar na vigilância sanitária dos portos.
Segundo Aguiar (2011), no final do século XIX e início do século XX, tiveram início
ao processo de industrialização no Brasil. Algumas iniciativas no campo da saúde pública
surgiram como a vigilância no exercício profissional e as campanhas limitadas, essas medidas
foram resultado direto das transformações econômicas e políticas específica da época.
No início do século XX, a saúde desponta como questão social3no interior da economia
capitalista exportadora cafeeira (BRAGA E PAULO, 1986 apud BRAVO, 2009) refletindo um
avanço da divisão do trabalho, ou seja, a formação de um proletariado com trabalho assalariado,
resultado do intenso processo de industrialização e urbanização. A organização da saúde nesse
período tornou-se bastante complicada. Paim (2009) retrata a saúde inserida numa completa
omissão do poder público, fato que fez emergir uma espécie de “não-sistema de saúde”, um
modo no qual a intervenção estatal só interferiria em situações quando os indivíduos sozinhos
ou a iniciativa privada não fosse capaz de responder pela demanda. Esse “não sistema” formou-
3A questão social e seu aparecimento no Brasil referem-se à generalização do trabalho livre numa sociedade
marcada pelo escravismo. Indica, ainda, a respeito de seu desdobramento como resultado da formação da classe
operária, sua participação no cenário político e a urgência em ser reconhecido pelo Estado em comporpolíticas
publicas capazes de responder às reivindicações dos trabalhadores, Iamamoto, (2009).
17
se ao longo do século XX, marcado principalmente pela separação entre as ações de saúde
pública e a assistência médico-hospitalar.
Dessa forma, no século XX, ainda persiste o predomínio de doenças pestilentas como:
cólera, febre amarela, malária, tuberculose, tifo, varíola, gripe espanhola e outras. (AGUIAR,
2011). As epidemias comprometiam a economia agroexportadora, impondo ao poder público a
adotar medidas sanitárias nas cidades, principalmente em áreas fundamentais para a economia
agrária exportadora. Algumas medidas sanitárias de combate às doenças foram implementadas,
entre elas, o combate a vetores transmissores de doenças e a vacinação obrigatória. Foi uma
época marcada pela realização de campanhas sanitárias e reforma de órgãos Federais. (PAIM,
2009).
Nos primeiros anos do século XX as campanhas sanitárias de combate as doenças, foram
lideradas pelos médicos Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Emílio Ribas, Belisário Penna, Barros
Barreto, e outros. Segundo Paim (2009), a partir das campanhas de vacinação foram criados os
Códigos Sanitários e a implantação de instituições científicas para pesquisa biomédica,
influenciando, assim, a formação de uma comunidade científica e o estabelecimento de políticas
de saúde. No entanto, a história se repete e revela as ações de proteção à saúde no Brasil em
ações episódicas, direcionadas às doenças específicas, além de se constituírem em ações
repressoras e autoritárias, tratadas como questão de polícia, inspirada no que se denominava
polícia Sanitária.
[...] Naquela época não existia um Ministério da Saúde. A saúde era tratada mais como
caso de polícia do que como questão social. E o órgão cuidava da saúde púbica
vinculava-se ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. A realização de
campanhas lembrava uma operação militar, e muitas das ações realizadas inspiravam-
se no que se denomina polícia sanitária. (PAIM, 2009, p.29).
Em 1920, Carlos Chagas assumiu o comando do Departamento Nacional de saúde,
inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz, e elabora para o período um programa de
propaganda sobre educação sanitária para a população como forma de prevenção das doenças.
Na ocasião, foram criados alguns órgãos para controle da tuberculose, da lepra, e das doenças
sexualmente transmissíveis. Foi o nascimento da saúde pública no país, cujo modelo de
intervenção baseava-se no sanitarismo campanhista. Nessa época, surge a Previdência Social
incorporando a assistência médica dos trabalhadores como uma de suas atribuições comas
Caixas de Aposentadorias e Pensões. (CAPs) (AGUIAR, 2011).
18
As CAPs, segundo Aguiar (2011), foram juridicamente regulamentadas pela Lei Elói
Chaves de 1923. O financiamento era proveniente da União, das empresas empregadoras e do
Estado. Previa assistência médica curativa, fornecimento de medicamentos, aposentadorias,
(por tempo de serviço, por velhice, ou invalidez), pensões para dependentes, além de auxílio
funeral. (BRAVO, 2009).
Os anos de 1930 a 1937 foram marcados por uma ampla e significativa reforma do Estado,
promovida pelo então Presidente Getúlio Vargas, reforma que culminou com a Constituição de
1934 e o governo constitucional que durou até 1937. De 1937 a 1945, Vargas estabeleceu a
ditadura do Estado Novo caracterizada por forte centralização política e intervenção do Estado
nas políticas públicas. Nesse período houve a criação do Ministério do Trabalho, da Indústria e
Comércio e o Ministério da Educação e Saúde. (AGUIAR, 2011).
O Governo de Vargas foi marcado por uma relação contratual entre o capital e o trabalho,
ações que garantiram alguns direitos trabalhistas e sociais. No campo da saúde, fatores como
as precárias condições de moradia e saneamento urbano colaboraram para o agravamento das
condições de saúde da população, somado a um elevado número de acidentes de trabalho dentro
das fábricas, resultado das condições insalubres às quais os operários eram submetidos, além
de outras doenças provocadas pelo processo de exploração fabril, como mostra. (AGUIAR,
2011).
[...] Dessa forma, aos problemas antigos de saúde da população (doenças endêmicas
e epidêmicas) foram acrescidos outros decorrentes da inserção no processo produtivo
industrial e das condições precárias no modo de viver, tais como: acidentes de
trabalho, doenças profissionais, estresse, desnutrição, verminoses, entre outros.
(AGUIAR, 2011, p.24).
As medidas adotadas para o enfrentamento de tal quadro foi no sentido de manter a força
de trabalho em condições de produção. Para tanto, foi usada como estratégia a vinculação da
assistência médica à Previdência Social, transformando as CAPs em Institutos de
Aposentadorias e Pensões (IAPs) 4, no ano de 1933. Os IAPs não priorizavam a saúde. Sua
4Os IAPs (Instituto de Aposentadorias e pensões) foram criados pelo Governo Getúlio Vargas em 1933 vinculado
ao Ministério do Trabalho. A gestão das IAPs passou gradativamente para o controle do Estado, seu presidente era
nomeado pelo Presidente da República. Os representantes dos trabalhadores e patrões eram indicados pelos
sindicatos atrelados ao poder executivo. O financiamento dos IAPs era dividido em uma parte dos empregados,
outra dos empregadores e do Estado, este, centralizava todos os recursos financeiros. (Ver Aguiar, 2011, p.24)
19
prioridade era a contenção de gastos na saúde, tendo em vista a acumulação de capital para
investimento em outras áreas de interesse do governo.
O retrato da saúde no Brasil, a partir dos anos 30, assemelha-se ao do império, quando
a população de maior poder aquisitivo utilizava os serviços privados de saúde integrantes da
medicina liberal. Os IAPs ofereciam serviços limitados aos trabalhadores em exercício
funcional, a população sem vínculos previdenciários contava com os escassos serviços públicos
de saúde, os benefícios de institutos de caridade, além das práticas populares de tratamento.
(AGUIAR, 2011).
Com a deposição de Vargas em outubro de 1945, teve início no país o período de
redemocratização. Por meio de eleições populares, em 1946, Eurico Gaspar Dutra assume a
Presidência da República. Dutra lança em 1948 o plano SALTE (Saúde, Alimentação,
Transporte e Energia) aprovado em 1950. O plano SALTE destacava a saúde como prioridade,
contudo, esse plano não foi consolidado na prática. (AGUIAR, 2011).
A Política Nacional de Saúde que foi desenhada a partir de 1930, porém, consolidou-se
no período de 1945-1950. (BRAVO, 2009). Esta consolidação se realizou com a criação do
Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) no Brasil, durante a segunda Guerra Mundial, em
convênio com órgãos do governo Americano. A atuação do SESP possibilitou reduzir os casos
de tuberculose, malária e outras doenças. (AGUIAR, 2011).
O Ministério da Saúde criado em 1953 transformou muitas das campanhas sanitárias em
órgãos e serviços responsáveis pela prevenção e cuidado da febre amarela, tuberculose, lepra,
a saúde da criança e fiscalização sanitária, (PAIM, 2009), foram ações pouco significativas para
as condições de saúde da população na época. Segundo Bravo (2011), o período de 1945-1964,
mesmo havendo alguns investimentos em melhoria das condições sanitária do país, o que
campeava era a incapacidade das autoridades sanitárias em conseguir eliminar o quadro de
doenças infecciosas e parasitárias, as elevadas taxas de mortalidade infantil, a morbidade
moderna5, e a mortalidade geral.
5 Morbidade moderna é classificada como doenças do coração, neoplasias, acidentes e violência. (Paim, (2009).
20
Nos anos de 1945 a 1964, os acontecimentos políticos do governo desenvolvimentista
de Juscelino Kubitschek se destacam pela promoção de grandes transformações econômicas no
país com o apoio do capital estrangeiro. Seu governo foi marcado pelo Plano de Metas. A
construção de Brasília numa região estratégica foi o marco de seu governo, além disso, JK
promoveu um complexo desenvolvimento da indústria, e consequentemente o fortalecimento
da burguesia industrial. Em contrapartida houve o agravamento da crise econômica no país e o
crescimento da inflação e da dívida externa. (AGUIAR, 2011).
As políticas sociais do governo JK, segundo Bravo (2009), tinham caráter paliativo. No
campo da saúde, enquanto os IAPs, em seu modelo de assistência médica curativa, fortaleciam-
se, resultado do desenvolvimento acelerado da indústria, maior quantidade de trabalhadores
empregados e maior número de contribuintes. Por outro lado, aqueles empregados que
possuíam poder financeiro, cuja categoria profissional tinha influência de exercer maior pressão
no Estado, construíam hospitais próprios para o atendimento de seus segurados. As empresas,
de grande porte e de significativa relevância, insatisfeitas com a assistência dos IAPs
contratavam médicos particulares. Essa relação favoreceu a ampliação do modelo médico-
assistencial privatista, tornando-se hegemônico dos anos 60 aos anos 80. (AGUIAR, 2011).
Para Bravo (2009), esse modelo de atendimento hospitalar de natureza privada, com fins
lucrativos, montada desde os anos 50, apontava na direção da formação de corporações
médicas, ligada aos interesses capitalistas do setor. Esses interesses defendiam claramente a
privatização da saúde.
O dia 31 de março de 1964 marca a instauração do Regime Militar no Brasil. Um regime
de característica totalitária e repressora. O Regime Militarfoi resultado de articulações entre os
militares, a burguesia industrial e a elite nacional. (AGUIAR, 2011). Para Bravo (2009),
significou para a sociedade brasileira a afirmação de uma tendência de desenvolvimento
econômico-social e político que alterou os problemas estruturais do país, elevando-os a uma
dimensão de complexidade ampla e dramática.
As políticas de assistência durante o Regime Militar assumiram um caráter ampliado,
burocratizado e regularizado pelo Estado. Nesse sentido, a saúde assume características
capitalistas, isto é, implantou-se na saúde um modo gradual e intenso do predomínio financeiro
das instituições previdenciárias. Para tanto, em 1966, criou-se o Instituto Nacional de
21
Assistência Social (INPS), órgão subordinado ao Ministério do Trabalho. O INPS foi
responsável pela unificação dos antigos IAPs. Desde sua criação, o INPS assumiu a
responsabilidade pelos benefícios previdenciários e pela assistência médica de todos seus
segurados e familiares e sua gestão era do ponto de vista administrativo centralizada.
(AGUIAR, 2011).
Os serviços médicos oferecidos pelo INPS eram em grande parte comprados dos
serviços privados de saúde. Esse modelo possibilitou ainda mais o fortalecimento do setor
privado, estimulando um padrão de prática médica com ênfase no lucro. Houve ainda a
expansão da medicina de grupo, com a qual as empresas contratavam serviços médicos para a
assistência de seus empregados, e assim não contribuíam com o INPS. Era, portanto, mais um
modelo de saúde com orientação para o comércio da saúde, visando ao lucro. (AGUIAR, 2011).
As características da saúde nessa época foram do privilegiamento pelo governo do setor
privado e a medicalização da saúde. (CAVALCANTE/ZUCCO, 2009). Os serviços de saúde
durante o regime eram compostos pelo modelo clínico individual, curativo e especializado, em
detrimento às ações de saúde pública coletiva, acentuando ainda mais a lógica privatista e a
exclusão nos serviços de saúde.
[...] O privilegiamento do modelo clinico de caráter individual, curativo e especializado
em detrimento das ações coletivas e de saúde pública; a expansão do complexo médico-
assistencial privado composto pelo hospital, pela indústria farmacêutica e de
equipamentos médico-hospitalares e pela medicina de grupo; a lógica lucrativa do setor
saúde; a desigualdade de acesso e diferenciação no atendimento de acordo com a
clientela, além da exclusão de parcela importante da população do atendimento à saúde.
(AGUIAR, 2011 p. 21).
Com os recursos limitados para a saúde, o Ministério da Saúde torna-se ineficiente no
enfrentamento aos problemas de saúde pública e seu agravamento, consequência das condições
precárias de vida, em que se encontravam a maioria da população brasileira. As ações de saúde
pública reduziram-se ao controle e erradicação de algumas doenças endêmicas, agora sob a
responsabilidade da Superintendência de Campanhas da Saúde Pública - (SUCAM). (AGUIAR,
2011).
As causas da ineficiência do sistema de saúde brasileiro, em oferecer repostas
satisfatórias às demandas da saúde da população durante o Regime, são características de um
sistema de saúde ineficiente e excludente, como mostra Cavalcante e Zucco (2009).
22
A generalização da demanda social por consultas médicas em decorrência das graves
condições de saúde da população, a progressiva predominância de um sistema de
atenção médica de massa, a desvinculação do ensino médico da realidade sanitária e a
consolidação da relação autoritária, mercantilizada e tecnificada entre serviços de saúde
e usuários contribuíram para a ineficiência do sistema de saúde brasileiro em responder
ao quadro epidemiológico da época, e mantiveram uma política de saúde excludente.
(CAVALCANTE/ ZUCCO, 2009 p.69).
Diante de tantos problemas sociais e de saúde da população, no final dos anos 70, é
grande a insatisfação da sociedade. Essa situação propicia um solo fértil para o surgimento de
movimentos sociais organizados por setores progressistas, os quais reclamavam por reformas
no setor da saúde, apresentando propostas políticas alternativas compreendendo a saúde a partir
de sua determinação social. (CAVALCANTE/ZUCCO, 2009).
Os últimos anos do Regime Militar foram marcados pelo agravamento da crise
econômica caracterizada pela alta da inflação e forte recessão econômica. Por outro lado,
aumentava a participação da população nos movimentos sociais, o fortalecimento dos
sindicatos, e a oposição política, culminando em 1984 no Movimento das “Diretas Já” seguido,
pela emenda Dante de Oliveira que garantia eleições diretas para presidente da República.
(AGUIAR, 2011).
O Movimento de Reforma Sanitária foi o mais significativo movimento em defesa da
saúde. Este foi um projeto articulado ao longo dos anos 70 e 80 encaminhado pelo Movimento
sanitário composto por profissionais de saúde, lideranças populares, trabalhadores, sindicatos,
parlamentares de esquerda, intelectuais, estudantes de saúde e algumas entidades que lideravam
a luta em favor da saúde numa perspectiva de direito social e dever do Estado. (AGUIAR,
2011).
Para Paim (2009) pode ser reputado ao Movimento Sanitário a responsabilidade da
politização da função da saúde e das instituições médicas, como ainda o conceito de saúde
ampliado a partir da Conferência Nacional de Saúde.
A VIII Conferência Nacional de Saúde6foi resultado da redemocratização do País em
1985. A Conferência instalou um clima de mobilização da sociedade em prol da ampliação da
6A VIII CONFERENCIA NACIONAL DE SAÚDE realizada em 1986 em Brasília (DF) contou com a participação
de cerca de 5.000 pessoas, representantes dos diversos movimentos sociais, movimentos populares de saúde,
trabalhadores, usuários, estudantes e intelectuais da saúde, parlamentares, sindicatos, entre outros. Foram
23
cidadania, favorável em colocar a saúde na agenda política, além de difundir as propostas da
Reforma Sanitária. Criou-se, portanto, um espaço importante para debater os problemas do
sistema de saúde com propostas de reorientação da assistência médica e da saúde pública.
(AGUIAR, 2011). O relatório final da VIII Conferência Nacional de Saúde foi inspiração para
o capítulo “Saúde” da Constituição Federal de 1988, o que se desdobrou posteriormente, nas
Leis Orgânicas da saúde, a saber, Lei (8.080/90 e 8.142/90), que permitiram a implantação do
Sistema Único de Saúde. (PAIM, 2009).
Em 1988, é promulgada a nova Constituição Federal, assim também como a aprovação
do SUS como política social pública. A aprovação do SUS incorporou a maioria das propostas
do movimento de Reforma Sanitária. O SUS representa uma conquista do povo brasileiro, pois,
conseguiu incorporar na Constituição Federal proposições advindas da sociedade civil
organizada, que estabelecem mudanças no papel do Estado e alteraram o sistema público de
saúde brasileiro em seu arcabouço jurídico- institucional. (AGUIAR 2011).
1.2 Avanços e Desafios do SUS
A história da saúde no Brasil é contada sem registro do trabalho daqueles que lidaram
com as doenças e as situações de adoecimento. Importa lembrar que a trajetória da Reforma
Sanitária foi constituída muito fortemente pelos profissionais da saúde em condições de
trabalho insipientes, assim como a própria saúde da população. O SUS encontra-se estabelecido
na Constituição Federal de 1988 como um sistema de saúde pautado por um conjunto de
princípios e diretrizes válidos em todo o território nacional e que contempla a preocupação com
os profissionais de saúde, elaborando instrumentos claros de cuidado orientado para esse
público, estabelecendo na Política Nacional de Humanização seu mais claro exemplo.
A proposta de um sistema de saúde público e universal originada na VIII Conferência
Nacional de Saúde possui o diferencial de introduzir a sociedade nas discussões sobre saúde.
Confere com os princípios da PNH de fomentar a autonomia e o protagonismo dos sujeitos
(AGUIAR 2011). Uma prerrogativa que, de acordo com Bravo (2009), instituí a saúde enquanto
debatidos os princípios e diretrizes da Reforma sanitária destacando o conceito ampliado de saúde e o
reconhecimento da saúde como direitos de todos e dever do Estado (AGUIAR, 2009 p.37).
24
direito social. Os princípios filosóficos e organizativos da VIII Conferência foram gestados no
movimento social, também denominado de Reforma Sanitária. (AGUIAR, 2011).
Com a Constituição de 1988, garantiu-se juridicamente e, com a aprovação do SUS, grande
parte das reivindicações do movimento de Reforma Sanitária, instituindo a saúde como um
direito universal e dever do Estado (BRAVO, 2009). O SUS, como foi exposto em linhas
anteriores, é uma das maiores conquistas sociais do povo brasileiro, estabelecido na
Constituição Federal. Seus princípios fazem referências à democratização nas ações e nos
serviços de saúde considerados de relevância pública. (BRASIL, 2000).
A legalização do SUS estabelece avanços nos serviços públicos integrados a uma rede
hierarquizada7 e regionalizada8. O sistema está organizado de acordo com as diretrizes de
descentralização; atendimento integral com prioridade das ações preventivas, sem prejuízos dos
serviços assistenciais; e sob o controle social. Além disso, o setor privado participa de modo
complementar ao sistema. (BRASIL, 1988).
O SUS está vinculado à ideia que todos têm direito à saúde, ou seja, ligado à condição
de cidadania. Norteado pelos princípios da universalidade9, equidade10 e integralidade11 da
7O princípio de hierarquização diz que o sistema de saúde deve organizar-se por níveis de atenção e de
complexidade crescente com fluxos assistenciais estabelecidos entre os serviços de modo a garantir assistência
integral e resolutiva a população. (AGUIAR, 2011 p. 54).
8A regionalização refere-se a forma de organização do sistema de saúde com base territorial e populacional[...].
Visa uma adequada distribuição de serviços para a promoção da equidade de acesso, otimização dos recursos e
racionalidade dos gastos. (AGUIAR, 2011 P. 54)
9O princípio da universalidade é a garantia constitucional de acesso de toda a população aos serviços de saúde, em
todos os níveis de assistência sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. [...] Uma referência ao conjunto
de políticas públicas que visam à melhoria de condições de vida da população [...] ações articuladas a um conjunto
de políticas sociais amplas relativas ao emprego, salário, previdência, educação, alimentação, ambiente, lazer e
outros (AGUIAR, 2011 p.50).
10A equidade significa assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade que o caso
requeira [...]. Este princípio assegura que a disponibilidade dos serviços de saúde considere as diferenças entre os
grupos populacionais e indivíduos de modo a priorizar aqueles que apresentam maior necessidade em função da
situação de risco e das condições de vida e saúde. Significa, portanto, um principia com base na justiça social que
busca corrigir iniquidades sociais na área da saúde. (AGUIAR, 2011 p.50)
11O princípio da integralidade no SUS pode ser compreendido a partir da lei 8.080 como um conjunto articulado e
continuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido para cada caso. [...] para que
este princípio se materialize é preciso que haja uma articulação entre a prevenção, a promoção e a recuperação no
25
atenção à saúde, propõe acesso universal e igualitário para todos, por meio de ações de
promoção, proteção e recuperação da saúde, aponta, portanto, para uma concepção de saúde
que não se reduz a ausência de doença, mas a uma vida com qualidade. (PAIM, 2009).
Um dos componentes dos avanços democráticos estabelecidos na saúde por meio do
SUS pode ser representado pela descentralização dos serviços e ações em saúde: o município,
instância federada mais próxima da realidade da população, adquire representatividade,
reconhecimento, portanto maior repasse de recurso para a saúde. Essa é parte de uma política
que reconhece o município “por excelência, o melhor dos entes federados para tratar da saúde
dada a sua maior proximidade, [...] e maior reconhecimento da ordem de prioridades e das
demandas da população local”. (BRASIL, 2000).
O SUS desde sua institucionalização tem enfrentado avanços e desafios constantes na
busca da efetivação de um projeto de saúde consistente. Projeto que não se efetiva sozinho,
vincula-se a outras políticas, unindo formas no intuito de proporcionar respostas satisfatórias
às demandas sociais da população brasileira no que diz respeito aos problemas que afeta
diretamente o campo da saúde.
O Conceito ampliado de saúde estabelecida no SUS e o reconhecimento da sua
determinação social, vigilância e promoção da saúde, acolhimento, enfoque da redução de
danos, ação sobre o território, entre outros, constituem inovações muito importantes de avanço
no processo de saúde. Atividades que se operacionalizam na perspectiva do diálogo e
articulação com outros setores do governo e da sociedade para melhor promover e proteger a
saúde da população. (PAIM, 2009).
O SUS apreendido sob essa perspectiva, não alcança a visão da totalidade de brasileiros.
Constitui desafios para o SUS saber que o público, de modo geral, possui visões distintas a
respeito do sistema de saúde no Brasil e na maioria das vezes são visões distorcidas sobre o que
é, e como funciona este sistema. Assim, segundo Paim (2009), existem diferentes concepções
do SUS: o SUS para os pobres; o SUS real; o SUS formal e o SUS democrático. Para a maioria
cuidado prestado a cada usuário dos serviços de saúde do SUS, além de ações intersetoriais para alcançar melhores
níveis de saúde individual e coletiva. (AGUIAR, 2011 p.55)
26
prevalece a ideia do SUS para os pobres, refletindo a ausência de conhecimento de uma política
pública relevante e essencial para a sociedade.
Segundo pesquisa realizada em 2003, apenas 35% do povo brasileiro é capaz de citar
espontaneamente e com precisão o significado do SUS. Se na atualidade fosse feita uma
entrevista com pessoas comuns, que passam pelas ruas, sobre o que é o SUS, algumas diria que
o SUS representa as filas em hospitais e postos de saúde. Outras diriam que são os doentes em
macas de corredores dos prontos socorros, esperando ser atendidas. Além de afirmarem que é
o atendimento de saúde para os pobres. Para os profissionais e trabalhadores de saúde que atuam
diretamente no cuidado em saúde, esses diriam que se submetem constantemente a tensões
provenientes, dentre outras fontes, das péssimas condições de trabalho e remuneração. São
condições que favorecem a culpabilidade do SUS, por parte desses trabalhadores. (PAIM,
2009).
Não se questiona tais números ao tratar da forma referente ao acesso e a qualidade das
ações e dos serviços de saúde dispensados à população. Segundo Paim (2009), essas
dificuldades referenciam problemas de distribuição desigual, da falta de infraestrutura do
sistema dos serviços de saúde, da escassez no número de estabelecimentos e de trabalhadores.
São problemas originados no financiamento, organização e gestão do SUS. Uma situação que
“revela toda a crueza com que o poder público, de um modo geral, e a iniciativa privada, em
particular, trata os cidadãos e consumidores de serviços”. (PAIM, 2011 p.89).
No entanto, o SUS apreendido a partir de seus princípios e diretrizes é a solução aos
problemas de saúde. Os aspectos do SUS dos quais poucos têm conhecimento, realiza-se nos
resultados da imensidão de procedimentos dispensados à população. O SUS realiza anualmente
bilhões de internações hospitalares, milhões de consultas, partos, cirurgias, cirurgias cardíacas,
terapias renais substitutivas (responsável por 97% pelos procedimentos de hemodiálise), mais
de um milhão de tomografias, 12mil transplantes de órgãos (95% dos transplantes feitos no
Brasil), 150 milhões de imunizações, quase meio milhão de exames de análises clínicas. Faz
atendimentos significativos de fisioterapia, odontologia, ultrassonografias, órteses e próteses.
Milhões de ações de vigilância sanitária. De modo que, essa imensidão de “Sistema” de saúde
público (considerado um dos maiores do mundo) alcança toda a população brasileira. (PAIM,
2009).
27
O SUS desenvolve ainda, ações e programas nas áreas de saúde da Família (PSF), o
Programa Nacional de Imunização (PNI). A Política Nacional de Medicamentos garante
assistência farmacêutica para medicamentos essenciais, por meio da produção de medicamentos
genéricos, farmácia popular, e garantia de terapia medicamentosa de alto custo. O SUS
proporciona assistência médica, terapêutica, e internamentos hospitalares para os quase 600
mil12portadores do vírus HIV/AIDS.
Na saúde mental, o SUS disponibiliza para todo o Brasil centros de atenção psicossocial
(CAPs), destinados ao atendimento de pessoas portadoras de transtornos mentais. Esses
programas e ações são apenas uma parte daquilo que o SUS dispõe ao atendimento integral da
população. Ao lado deles, caminham várias outras ações e projetos como a Política Nacional
de Humanização do SUS (PNH), idealizada como proposta de melhoria de atendimento aos
usuários trabalhadores e gestores do SUS. (PAIM, 2009).
Portanto, ao longo do desenvolvimento do SUS, têm-se conquistado avanços e
enfrentado desafios significativamente relevantes para a promoção da saúde. São expressões
das contradições próprias de um país onde as políticas públicas são permeadas pelas
desigualdades econômicas e sociais. Se por um lado há extensa cobertura de ações realizadas
pelo SUS a partir de uma política de integralidade, universalidade e equidade com a
incorporação de novas tecnologias e especialização dos saberes, que têm avançado no processo
de prevenir, proteger, tratar, recuperar, promover, e produzir saúde vinculada à dimensão de
uma vida com qualidade. Por outro lado surgem novas questões das quais demandam novas
respostas para o processo de produção de saúde. São questões referentes à escassez de acesos
aos serviços de saúde, a responsabilização do acompanhamento das necessidades dos usuários
dos serviços de saúde, a humanização das práticas de saúde, processos estabelecido na Política
Nacional de Humanização - PNH e diretamente relacionados com a valorização do trabalho e
do trabalhador em saúde. (BRASIL, 2004).
1.3 A Política Nacional de Humanização
12O Ministério da Saúde registrou no Brasil até junho de 2010 a presença de 592.914 casos de pessoas vivendo
como vírus do HIV/AIDS ( disponível em www.orbis.org.br acesso em 20/05/2014).
28
Em 2004 a Secretaria Executiva do Ministério da Saúde elaborou a Política Nacional de
Humanização do SUS (PNH), também conhecida como Humaniza SUS, em substituição às
ações insipientes já existentes, relacionadas à humanização na área da saúde. Um esforço para
melhorar as práticas de atendimento e humanização da atenção em saúde, tendo como referência
o acolhimento nas unidades de saúde. (PAIM, 2009). Trata-se de uma política transversal do
SUS que contempla diferentes ações e instâncias gestoras. Visa ao fortalecimento dos princípios
do SUS: integralidade, universalidade e equidade.
A idealização da PNH só foi possível em virtude da evolução do processo histórico da saúde
brasileira desencadeado pela redemocratização do Brasil, nos anos 80. Um processo que fez
surgir novas discussões a respeito das políticas de saúde no país, deixando de ser de interesse
exclusivo de técnicos em saúde e assumindo uma dimensão política, vinculada ao processo
democrático. (BRAVO, 2009).
A PNH conta com um núcleo técnico com sede em Brasília (DF), e um quadro de
consultores espalhados pelo Brasil, apoiando e desenvolvendo projetos e inovações nos
modelos de atenção e gestão do SUS nos estados, municípios e instituições de saúde. Oferece
aos gestores tecnologias e modelos de implementação de humanização, desenvolve ofertas de
cursos, oficinas, e seminários científicos, divulga experiências bem sucedidas sobre
humanização do SUS, produz material educativo e de divulgação para a implantação de
dispositivos de humanização. (PAIM, 2009).
O HUMANIZA SUS foi elaborado para atuar nas lacunas do SUS, compondo
mecanismos de enfrentamento à fragmentação do processo de trabalho e às relações entre os
diferentes profissionais e da rede assistencial. Atua sobre a precária interação e despreparo das
equipes sobre a verticalização e burocratização do sistema de saúde nos baixos investimentos e
a falta de qualificação dos trabalhadores. (BRASIL, 2004).
O entendimento sobre humanização na PNH vincula-se à valorização dos diferentes
sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Busca
a promoção, a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, estabelecendo corresponsabilidade
entre eles, vínculos solidários e participação coletiva no processo de gestão. Identifica as
29
necessidades sociais da saúde, as mudanças dos modelos de atenção, gestão e processos de
trabalho, o compromisso com a ambiência com foco na melhoria das condições de trabalho e
de atendimento. Objetiva a institucionalização, difusão de estratégias e a apropriação de
resultados pela sociedade. Ações que se operacionalizam com a troca e construção de saberes.
(BRASIL, 2004).
Constitui princípios norteadores da humanização na PNH: a valorização da dimensão
subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso
com os direitos dos usuários, destacando o respeito às questões de gênero, à etnia, à raça, à
orientação sexual, e às populações específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados,
entre outros); o fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a
transversalidade e a grupalidade; apoio a construção de redes cooperativas, solidárias e
comprometidas, com a produção de saúde dos sujeitos; a autonomia e o protagonismo dos
sujeitos implicados no processo de produção de saúde e a corresponsabilidade entre eles;
fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do
SUS; compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos
profissionais de saúde estimulando processos de educação permanente. (BRASIL, 2004).
No eixo que envolve a valorização do trabalhador, tema deste trabalho, a PNH propõe
ações de promoção que asseguram a participação dos trabalhadores nos processos de discussão
e decisão, valorizando os trabalhadores, motivando-os, promovendo o autodesenvolvimento e
crescimento profissional.
A PNH propõe ampliar o diálogo entre os profissionais, entre profissionais e população,
entre profissionais e administração, ou seja, com ações para promover uma gestão participativa
ao: fortalecer Grupos de Trabalho de Humanização com plano de trabalho definido; viabilizar
a participação dos trabalhadores nas unidades de saúde por meio de colegiados gestores;
implementar sistemas de comunicação e informação, promover o autodesenvolvimento à
ampliação do compromisso social dos trabalhadores de saúde, como também, ações de
incentivo e valorização da jornada integral ao SUS. Enfim, ao trabalho em equipe, a
participação dos trabalhadores nos processos de educação permanente capaz de qualificar as
ações e inserção na rede SUS; por conseguinte, a PHN propõe um plano de educação
permanente para trabalhadores com temas sobre humanização. (BRASIL, 2004).
30
2.0 TRABALHO E VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL: DESAFIOS DA PNH
“Se os trabalhadores, porém, pudessem viver do ar, não seria possível
comprá-los por nenhum preço”. (Karl Marx).
Neste capítulo será feito uma introdução teórica sobre a categoria trabalho, referenciada
em alguns autores. Parte-se de uma rápida abordagem das relações de trabalho dentro da
sociedade capitalista e como esta relação afeta os trabalhadores, em especial os trabalhadores
da saúde. Contudo, o capítulo se detém no tema trabalhador da saúde e nos aspectos
relacionados à sua valorização, discutida com base na Política Nacional de Humanização do
SUS.
2.1. Trabalho e a realidade dos trabalhadores da saúde
O ponto de partida é compreender o trabalho13 como a atividade pela qual o homem
transforma a natureza e ao transformá-la, transforma-se a si mesmo e a outros homens. Avia
pela qual o homem satisfaz suas necessidades como também se reproduz enquanto ser prático
social. Um movimento que consubstancia a sociabilidade humana e condição natural para
sobrevivência de sua espécie. (GUERRA, 2010).Hegel apreende o trabalho como a mola que
impulsiona o desenvolvimento humano e o núcleo capaz de explicar as formas complicadas da
atividade criadora do sujeito. (KONDER, 1991).
Com essas premissas é possível reconhecer a centralidade do trabalho para o
desenvolvimento das sociedades, acrescentado ao trabalho como atividade que possibilita ao
homem ir além da pura natureza, antecipando em sua cabeça os resultados de suas ações, ou
seja, a natureza teleológica14 do trabalho. Esta estabelece finalidades advindas das necessidades
gestadas em meio à realidade, condição que propicia ao homem a realização de sua vida
material e desenvolve seu caráter crítico transformador. (GUERRA, 2010).
13Trabalho é a atividade vital do operário [...] (Marx, 1987 p. 25)
14O trabalho é, portanto resultado de um pôr teleológico, que (previamente) o ser social tem ideado em sua
consciência, fenômeno este que não está essencialmente presente no ser biológico dos animais. É bastante
conhecida distinção marxiana entre a abelha e o arquiteto. Pela capacidade de prévia ideação, o arquiteto pode
imprimir ao objeto a forma que melhor lhe aprouver, algo que é teologicamente concebido e que é uma
impossibilidade para a abelha (Antunes, 2000 p. 136).
31
A categoria trabalho permite a compreensão da vida humana e do mundo expressa
como valores. Concepção que se manifesta em todos os momentos da história da humanidade
idealizada como a atividade vital para o homem. O trabalho é uma necessidade convertida em
atividade imposta. Na idade média o trabalho foi apontado como instrumento de tortura, aquilo
que se contrapõe ao ócio, na concepção cristã se expressa na contradição de instrumento de
martírio e ao mesmo tempo de salvação. Eis algumas dualidades e ao mesmo tempo contradição
pertinente ao mundo do trabalho: aquilo que produz e subordina; humaniza e degenera; liberta
e escraviza; emancipa e aliena. O desafio presente diante de tais contradições é dar sentido ao
trabalho e suas novas formas de ser, como este pode agir favorável na construção de sentido à
vida humana. (ANTUNES, 2005).
O trabalhador da saúde como tantos outros, fazendo parte do mundo do trabalho, é a
classe-que-vive-do-trabalho, categorizada por Antunes (2000). São aqueles trabalhadores
inseridos na totalidade dos que vendem sua força de trabalho em troca de um salário.
Trabalhadores que não se inserem (na interpretação de Marx) 15, no trabalho manual direto,
porém “incorpora a totalidade do trabalho social, a totalidade do trabalho coletivo assalariado.”
(ANTUNES, 2000 p. 102).
A “A classe-que-vive-do-trabalho” são trabalhadores produtores de serviços, seja para
uso público ou para o capitalista. São trabalhadores cujo trabalho é consumido como valor de
uso e não como trabalho que cria valor de troca, visto como trabalho improdutivo. Compreende
uma imensidão de trabalhadores “inseridos no setor de serviços, bancos, comércio, turismo,
serviços públicos, etc.”. (ANTUNES, 2000 p.102).
Essa é a força de trabalho do sistema capitalista compreendida sob o ponto de vista
social, definida como a classe trabalhadora que está fora do processo direto de produção e,
portanto, segundo Marx (1985), apenas um acessório do capital.
Do ponto de vista social, a classe trabalhadora é, portanto, mesmo fora do processo direto de trabalho, um acessório do capital, do mesmo modo que o instrumento morto de trabalho. Mesmo seu consumo individual dentro de certos limites, é apenas um momento do processo de reprodução do capital. (MARX, 1985 p.206).
15A interpretação dada por Marx sobre o trabalhador produtivo faz referência aquele trabalhador que produz
diretamente a mais-valia e participa diretamente do processo de valorização do capital [...], encontrado no
proletariado industrial o seu núcleo principal. (ANTUNES, 2000 p.102).
32
O trabalhador da saúde é também aquele trabalhador livre, que vende sua força de
trabalho em troca de sua subsistência. Trabalhador que, no processo de produção capitalista sua
força de trabalho é sua mercadoria vendida por um equivalente em dinheiro necessário à sua
reprodução e de sua família. (IAMAMOTO, 2011). Para Queiroz (2010), o trabalho em saúde
é um trabalho que se identifica dentro do processo de produção capitalista por atender a lógica
do mercado na saúde, como também, por apresentar frágeis vínculos trabalhistas e negação ou
omissão de direitos constituídos dos profissionais, reafirmando, portanto, o processo de
produção neoliberal e de exploração do trabalhador.
O trabalhador da saúde no Brasil, principalmente o trabalhador do SUS, tem sido
percebido sob dois aspectos: primeiro como parte das causas dos problemas relacionados com
o setor de saúde, resultado de uma formação reducionista (biológica e positivista), sem preparo
para atuar dentro de uma realidade que prescinde considerar todas as dimensões do ser humano;
o despreparo para lidar com os aspectos subjetivo e social do usuário do sistema de saúde; além
do estabelecimento de uma relação de classe com os usuários do SUS. (MELO, 2008).
O segundo aspecto diz respeito ao próprio trabalhador, este, como trabalhador de um
sistema público de saúde, sente-se prejudicado devido ao recebimento de baixos salários e falta
de planos de cargos e carreiras; a ausência de uma preocupação dos órgãos formadores e
organização de trabalho em prepará-lo para atuar de modo integral junto ao usuário; a
sobrecarga de trabalho marcado por uma extensa carga horária, rodízio de turnos e diferentes
locais de atuação dentro de uma mesma instituição, divisão do trabalho por tarefas e a
necessidade de mais de um emprego para que possa suprir suas necessidades, garantindo, assim,
sua subsistência; o desgaste psicológico enfrentado diariamente no seu local de trabalho, frente
ao sofrimento, à dor, à morte e à miséria advinda da população usuária, como também, à
ausência de oportunidade de usufruir de momentos de descontração e lazer elaborados como
mecanismos compensatórios ao desgaste físico e emocional. (MELO 2008).
Os aspectos acima citados se reproduzem cotidianamente na vida do trabalhador e se
transformam em consequências desastrosas, resultando naquilo que afirma Pitta (1991 p.18),
“o trabalho adoece”. De fato o trabalho em saúde, principalmente em instituições hospitalares,
torna evidente sintomas e sinais orgânicos e psíquicos inespecíficos. São sintomas
determinantes de sofrimentos que agem eficientemente e dinamicamente entre si e com outros,
33
encontrados no próprio objeto de trabalho, ou seja, no ato assistencial hospitalar, e em suas
formas de organização. (PITTA, 1991). Esse trabalho “exaurido” pode produzir no trabalhador,
além dos aspectos de adoecimento, já citados, sentimentos contrários como satisfação e prazer,
desde que esses trabalhadores sejam portadores de condições de valorização do trabalho, como
expõe Pitta (1991):
Este mesmo objeto de trabalho, paradoxalmente, é capaz de produzir satisfação e prazer
através de mecanismos defensivos de natureza sublimatória quando condições
facilitadoras permitem aos trabalhadores terem suas tarefas socialmente valorizadas.
(PITTA, 1991 p. 19).
Em 2005, o Ministério do Trabalho e Emprego elaborou a Norma Reguladora Nº 32
(NR 32), considerada um mecanismo de proteção à vida e à saúde dos trabalhadores que
desempenham atividades relacionadas à promoção e à assistência em saúde. A norma reconhece
que os trabalhadores da saúde expõem-se constantemente a riscos biológicos, químicos, riscos
de radiação, a riscos de acidentes ou a de contrair doenças provocadas pelo eventual contato
com os diferentes resíduos produzidos nas organizações de saúde. Para tanto, a NR 32 propõe
que os empregadores mantenham condições de conforto para as refeições, climatização
adequada nos diferentes ambientes de trabalho e equipamentos de proteção individual (EPIs).
Propõe ainda, capacitação no trabalho para alguns grupos específicos de trabalhadores. (MELO
2008).
A mesma norma é utilizada pelo Ministério da Saúde (MS) com o objetivo de investir
em proteção, capacitação e desenvolvimento de algumas categorias de trabalhadores em
instituições de saúde. Em contrapartida, não existe uma preocupação em melhorar os salários,
carreiras, ou investir realmente na saúde e qualidade de vida do trabalhador. (MELO 2008).
O trabalho dos profissionais em instituições de saúde é caracterizado por desenvolver
práticas compartimentalizada, negando aos mesmos a participação no processo e gerenciamento
do trabalho. As diversas categorias de profissionais não trabalham com planejamento e
organização, percebe-se em algumas equipes de profissionais a falta de planejamento e
organização e ausência de uma integração interdisciplinar, essas características impõem ao
trabalhador a fragmentação e alienação do processo de trabalho, demonstrado por Pires (1999):
Na amplíssima maioria das instituições assistenciais em saúde não existe coordenação
da assistência prestada pelos diversos grupos e profissionais de saúde. Não existem
instâncias de planejamento [...]. Também não existem espaços conjuntos de avaliação
34
da assistência e nem de avaliação dos resultados. O trabalho é compartimentalizado,
cada grupo de profissionais se organiza e presta parte da assistência em saúde separado
dos demais. (PIRES, 1999 p. 35)
O processo de fragmentação e desfiguração do homem que trabalha em múltiplas
atividades, segundo Leopardi (1999), reclama por um processo inverso de interseção entre a
reconstrução do indivíduo concreto e sua desalienação. Essa ação é consolidada pela ética
cotidiana, pela estética e liberdade, estabelecida na Política Nacional de Humanização como
proposta de atuação incentivando o protagonismo dos sujeitos e a ampliação e atenção integral
à saúde, promovendo a intersetorialidade.
2.2 Humanização do trabalho em saúde
Para falar em humanização da saúde é necessário recorrer a uma reflexão filosófica
humanística. Corrente que “centraliza seu interesse no tema da natureza ou condição humana e
coloca o homem e seus valores acima de todas as outras coisas.” (MELO 2008 p.15). Essa
reflexão exige uma abordagem que enfoca circunstância e necessidades superáveis do aspecto
biológico do ser. Abrangem circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas como partes
dos relacionamentos humanos e diretamente ligados à atenção em saúde. (FORTE 2004).
A humanização da saúde tem seu fundamento na Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948, adquirindo reforços na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários
de Saúde, evento que aconteceu em Alma-Ata, capital do Kazaquistão Soviético em 1978,
organizado e co-patrocinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das
Nações unidas para a Infância UNICEF. No evento, reafirmou-se a concepção de saúde não
como a ausência de doenças, mas como um completo estado de bem estar físico, mental e social,
apreendido como direito humano fundamental. (FORTE 2004).
No Brasil, a humanização da saúde adquire notoriedade a partir do final da década de
1980 com o estabelecimento do SUS, quando o termo passa a ser empregado para nomear
diversas iniciativas na área da saúde de melhoria no atendimento. A humanização na saúde se
caracteriza, segundo Oliveira (2007), como processo de transformação cultural, institucional de
reconhecimento e valorização dos aspectos subjetivos, histórico e sociocultural de usuários e
profissionais, como também das instâncias gestoras de serviços de saúde, estas, com
responsabilidade de promover boas condições de trabalho e de qualidade no atendimento.
35
Outros autores Giordani (2008), Forte (2004), Sodré (2010) apresentam concepções
diferentes sobre a humanização do trabalho em saúde. Para Giordani (2008), a humanização do
trabalho em saúde está relacionada com a ética, a moral e com o uso do bom senso no intuito
de resgatar valores humanitários. A autora defende a ideia de humanização a partir da
valorização do diálogo, a garantia da palavra como instrumento de dignidade ética. Nesses
conceitos estão inclusos a orientação prévia sobre a necessidade de conduta a ser realizada por
meio de uma linguagem verbal e corporal. O uso da linguagem no processo de humanização
gera a possibilidade de perceber o sentimento do outro em suas expressões. Para Giordani
(2008), sem comunicação não há humanização, pois a humanização depende do falar e do ouvir,
o seja, a humanização depende do diálogo com o semelhante.
Forte (2004), por sua vez, apreende a humanização em saúde a partir da singularidade
de cada pessoa, percebendo cada um em sua necessidade específica. O que possibilita a criação
de condições para o exercício da autonomia como forma de promover sujeitos autônomos,
levando em conta seus valores e vivências, dentro de suas singularidades, sem discriminação,
enfim, significa preservar a dignidade do ser humano.
Uma concepção mais ampliada sobre a humanização da saúde faz referênciasàs
possibilidades de transformação cultural e dos processos desenvolvidos nas instituições.
Concepção que considera a postura humanizada em saúde realizada a partir de uma posição
ética de respeito ao outro, de albergar o desconhecido, concebendo-o como um cidadão de
direito e não como um simples consumidor de serviços de saúde. (FORTE 2004).
O aspecto da humanização conduzido de maneira crítica, com um raciocínio mais
criterioso manifesta-se nas elaborações de Sodré (2010), ao apreender a humanização da saúde
inserida no processo de reestruturação capitalista, pontuando, assim, o processo de gestão do
trabalho em saúde em diferentes momentos históricos, a saber, “o fordismo e a acumulação
flexível em suas determinações na saúde.” (Sodré, 2010 p. 454). Sob esse panorama, assinala-
se o fordismo como o momento de afirmação da industrialização no Brasil, o advento da
modernidade e o vasto processo de urbanização.
Na saúde o próprio paradigma administrativo brasileiro (centralizado), propiciou o
surgimento de um modelo de saúde denominado saúde-fábrica. Este modelo foi resultado da
lógica intervencionista estatal e o modelo de políticas fordista para a área da saúde. A passagem
36
do fordismo-taylorismo e o modelo de Acumulação Flexível, em meados dos anos de 1990,
desvelam um mercado capitalista vislumbrando novos formatos de obtenção de maiores lucros.
Esse foi o contexto propício a tornar natural a “mercantilização da vida no capitalismo
avançado” (Sodré, 2010 p. 461), o mesmo contexto onde apolítica neoliberal estabelece os
espaços dos indivíduos dentro da sociedade. (SODRÉ, 2010).
Essa pequena introdução sobre os modelos de gestão do trabalho é apenas para apontar
a influência do modelo fordista e flexível na esfera da saúde. Serve também para o entendimento
da autora a respeito da humanização do processo de trabalho em saúde.
Para Sodré (2010), a humanização na saúde é pontuada como um discurso, ou seja, a
humanização é parte de um amontoado de ações que “dizem tornar humano aquilo que não
possui formas ou atitudes humanas” (Sodré, 2010 p. 465). Ações planejadas nas mesmas formas
flexíveis de acumulação, estas, ao mesmo tempo em que asseguram vínculos abertos com os
usuários da saúde, pode tornar o trabalho alienante.
Tem-se por pré-sabido que o discurso da humanização propõe as mesmas ações
planejadas pelas formas flexíveis de acumulação: atenção, acolhimento, cuidado, criar
vínculos - afetividade posta em um processo de trabalho que se dá em ato. Esse processo
de trabalho humanizador, ao mesmo tempo em que proporciona relações mais abertas
com o usuário, também abre precedentes para trabalhos mais alienantes do ponto de
vista de sua execução. (SODRÉ, 2010 p. 465).
A humanização da saúde, se por um lado estimula a usar menos a máquina, com menos
produção em série, ou seja, menos fordismo na saúde, por outro lado, conduz o trabalhador a
atividades profundamente alienantes, o que ocasiona, assim, uma dúbia relação no discurso da
humanização. (SODRÉ, 2010).
Ao trabalhador em saúde no modelo flexível recomenda-se desenvolver comportamento
participativo, dócil, compreensivo em suas ações e sensíveis em atitudes ou palavras. Atitudes
que reclamam uma mudança em seu espírito. Também são comportamentos cobrados dos
profissionais de saúde independentemente de suas condições de trabalho ou de exploração.
[...] Um modelo de trabalhador pressuposto pela acumulação flexível como
participativo; aquele que além do trabalho feito com as mãos, tão caro ao âmbito
hospitalar, é também requerido em seu espírito – sempre compreensivo e atento ao
outro, independentemente de suas condições de trabalho. Ou seja, uma evidência que
os níveis de exploração sobre o trabalhador da saúde atual chegaram ao extremo em
suas formas de exploração (SODRÉ, 2010 p. 465)
37
Este entendimento sobre humanização constitui numa contradição àquilo que propõe a
Política Nacional de Humanização (2004). A PNH determina a humanização se realizando na
valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo da produção de saúde. Reclama
programas e projetos em todas as instâncias do SUS comprometidos com a humanização sob a
perspectiva de valorização dos sujeitos, e transformando a humanização do SUS em desafio
que perpassa a ideia de um programa de humanização, mas, apreendida, agora, como uma
política que atravessa diferentes ações e instâncias gestoras do SUS. (BRASIL, 2004).
Portanto, a humanização na PHN, assim como já foi citada no capitulo anterior, propõe
valorizar o tripé usuários, trabalhadores e gestores do SUS, estimulando sua autonomia e
protagonismo, aumentando o grau de corresponsabilidade, não apenas na produção de saúde,
como também na reprodução dos sujeitos. Assegura a participação coletiva e solidária no
processo de gestão e identifica as necessidades sociais de saúde. Propõe mudanças nos modelos
de atenção e gestão dos processos de trabalho com foco na ambiência, melhoria das condições
de trabalho e de atendimento na rede SUS, ações que se operacionalizam com a troca e
construções de saberes. (BRASIL, 2004).
2.3 Valorização do trabalho e do trabalhador em saúde
Valorizar16 é aumentar o valor, a importância ou a qualidade de alguém. No trabalho em
saúde o termo valorizar adquire notoriedade por assumir uma dimensão estratégica e ampliada
da condição de direito e de cidadania. Valorizar o trabalho e o trabalhador em saúde é encarar
o desafio de dar sentido ao trabalho e suas novas formas de ser, favorecendo, assim o sentido
da vida humana (ANTUNES, 2005). A valorização do trabalho é o instrumento de intercessão
entre a relação de trabalho produtor de sentido e o trabalho produtor de sofrimento e desgaste.
[...] Nos serviços de saúde, o trabalho é potencialmente produtor de sentido, quando é inventivo e
participativo; e pode ser também produtor de sofrimento e desgaste, quando é burocratizado, fragmentado, e
centralizado. (BRASIL, 2008 p. 6).
A valorização do profissional de saúde importa a todos que fazem parte do processo de
produção em saúde, pressupondo uma nova organização das condições de trabalho e as relações
16O significado de valorizar está disponível na pagina eletrônica: www.duvidas. dicio.com.br/valorar-ou-valorizar/
acesso em 10.06.2014.
38
inerentes às mesmas. As ações de valorização refletem em resultados positivos na vida de quem
cuida e de quem é cuidado. É o que afirma Giordani (2008).
Na verdade, a valorização do profissional importa a todas as pessoas e às próprias
instituições, as quais deveriam ser acolhedoras, desde a entrada até a saída, de clientes
internos e externos. Todos têm uma parcela de contribuição a dar à medida que
benefícios são gerados tanto para a empresa quanto para as pessoas e o ambiente de
trabalho, refletindo na satisfação de quem cuida e de quem é cuidado. (GIORDANI,
2008 p.168)
Há uma corrente de autores que defende que a valorização no trabalho em algumas
instituições de saúde se dar a partir do reconhecimento e agradecimento da clientela atendida.
Corrente que, segundo os idealizadores concorre para o bom desempenho de todos os
profissionais que atuam em diferentes níveis de atenção à saúde, e que alcança nos serviços
públicos seu espaço máximo de atuação. (GIORDANI, 2008).
Esse é um pensamento que vai de encontro a Política Nacional de Humanização, que
apreende a valorização inserida num processo de humanização com dimensões amplas,
dimensões estabelecidas nos princípios e diretrizes do SUS.
A Política Nacional de Humanização do SUS (2004) no eixo que envolve a valorização
do trabalhador reconhece a desvalorização dos trabalhadores de saúde, traduzida nas precárias
relações de trabalho, nos baixos investimentos, nos processos de educação permanente dos
trabalhadores, na pouca participação na gestão, nos frágeis vínculos com os usuários, além da
privação do trabalhador do seu próprio processo de trabalho. (BRASIL, 2004). Reconhecer
essas questões é um passo relevante para o processo de valorização do trabalhador em saúde,
uma vez que reconhecido pelo trabalho, o profissional tende a desenvolver melhor suas
atividades.
Assim, um profissional que seja valorizado e reconhecido tem a autoestima alavancada
e tende a desenvolver uma visão mais integralizada daquele a quem assiste, melhorando
sua abordagem e cuidados dispensados ao indivíduo e à comunidade. (GIORDANI,
2008 p.168).
Diante do reconhecimento do processo de desvalorização do trabalhador do SUS, a PNH
propõe exercitar o eixo da gestão do trabalho promovendo ações que assegurem a participação
dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão, fortalecendo e valorizando os
39
trabalhadores, sua motivação, autodesenvolvimento e o crescimento profissional. (BRASIL,
2004).
Quanto à participação dos trabalhadores do SUS nos processos de discussão e decisão
na gestão do trabalho foi estabelecida nos Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Gestão
do Trabalho no SUS (NOB/RH-SUS)-(2005). A indicação de uma participação nos processos
de trabalho de modo bilateral e paritária, com processo de gestão democrática, através de
organização de “colegiados gestores” entre os trabalhadores das instituições e a gestão.
A participação dos trabalhadores nas unidades de saúde através de colegiados gestores
é uma das questões integrantes das diretrizes para implementação da PHN. Constitui uma
temática acompanhada de outras temáticas de igual relevância para o processo de valorização
do trabalhador instituído na PNH. Os temas mais relevantes, portanto, são: ampliação do
diálogo entre os profissionais e população, entre profissionais e administração; implementação
de sistemas de comunicação e informação promovendo o autodesenvolvimento, ampliação e
compromisso social dos trabalhadores de saúde; promoção de ações de incentivo e valorização
da jornada integral ao SUS, do trabalho em equipes, e a participação nos processos de educação
permanente de qualificação de ações e inserção dos trabalhadores da rede SUS. (BRASIL,
2004).
A Política Nacional de Humanização, no eixo que envolve a valorização do trabalhador,
exterioriza propostas concretas de valorização e pode ser considerado um documento oficial da
sociedade brasileira, em defesa do SUS, cujo acesso é disponível a todos aqueles envolvidos no
processo de produção de saúde.
40
3.0 PERCURSO METODOLÓGICO
O pesquisar é ver o que outros viram, e pensar o que nenhum outro pensou.
(Albert Szent-Gyorgyi)
A procura pelo conhecimento do mundo que o rodeia faz com que o homem desenvolva
técnicas de conhecimento da natureza das coisas como também de seu próprio comportamento.
Para tal o mesmo desenvolveu historicamente técnicas que lhe fosse possível garantir maior
grau de segurança optando por uma forma de conhecimento objetivo, racional, sistemático,
geral, verificável e falível denominado ciência. (GIL, 1999).
Foi pela procura do conhecimento permeado por um posicionamento crítico e
inquietante que a pesquisadora se propôs a estudar “a humanização”. Um princípio do
atendimento em saúde que por muito tempo despertou-lhe interesse. A justificativa pessoal da
pesquisadora sobre o tema é resultado do seu cotidiano no trabalho em uma instituição de saúde.
A pesquisadora relata que entrar diariamente no seu trabalho e ler a placa exposta na entrada da
instituição, que sua missão é à humanização, fez com que a mesma procurasse estudar como se
materializa o processo de humanização nos serviços de saúde.
O esforço fundamental foi compreender que a humanização em saúde se realiza a partir
do processo de valorização do trabalhador. (Giordani 2008). Não foi difícil perceber logo no
princípio, que a proposta de humanização em saúde é de interesse para poucos, comprovada a
partir da escassez de publicações sobre o tema.
A eleição da unidade referenciada para a realização da pesquisa foi resultado de um ano
e meio de estágio curricular na unidade, e por perceber durante este percurso que as relações de
gestão do trabalho em saúde deixavam lacunas, que propiciou oportunidade de pesquisar todas
as questões levantadas neste estudo. Outro motivo da escolha da unidade se justifica no fato de
inserção da pesquisadora como trabalhadora no corpo de profissionais que compõem a rede
SUS, embora exerça esta função em outra unidade de saúde.
Na intenção de desvendar essa realidade, a pesquisadora lançou mão da pesquisa,
apreendida como “a atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade.”
Minayo (2004 p.23). A pesquisa, ora apresentada, é uma elaboração das ciências sociais por
atender alguns aspectos inerentes à mesma. O primeiro deles é o reconhecimento que nas
41
ciências sociais é imprescindível entender que o objeto de apreensão é histórico, isto é, cada
objeto apresenta sua forma particular de ser, apenas apresentam características em comum uns
com os outros, dependendo cada um do seu momento histórico.
Outro aspecto das ciências sociais é a consciência histórica de seu objeto, diretamente
relacionada ao nível de consciência histórica das ciências sociais. Esta se explica pela
capacidade intelectual de todos os seres humanos darem significado as suas ações e
construções; explicar intenções, atos, projetos e planejamento futuro atendendo a um nível de
racionalidade presentes nas ações humanas.
O terceiro aspecto é a identidade indissociável entre sujeito e objeto, o que cria uma
relação imbricada, solidária e comprometida. Já o quarto aspecto diz respeito à relação
estabelecida definitivamente entre o investigador social e a visão de mundo do investigador,
presente desde a concepção do objeto, até o resultado do trabalho do pesquisador. Finalmente
o objeto das ciências sociais é essencialmente qualitativo. São, portanto, constituintes das
ciências sociais que utiliza de instrumentos e técnicas para a construção de conhecimentos em
recortes da realidade. (MINAYO, 2004).
Elaborar a pesquisa social solicita o uso de metodologia científica para obtenção de
novos conhecimentos e apreensão da realidade social, pois, segundo Minayo (2004, p.22), a
metodologia “é o caminho e o instrumental próprios de abordagem da realidade”. A
metodologia caminha junto com a ciência ocupando lugar de centralidade no interior das teorias
sociais. Essa encaminha à prática a apreensão do objeto de estudo criado na abstração.
3.1 Caracterização da pesquisa
A pesquisa Humanização do SUS: Uma análise da Política Nacional de Humanização
do SUS no eixo que envolve a valorização do trabalhador é uma pesquisa de abordagem
qualitativa na área da saúde. Uma pesquisa das ciências sociais, em que o objeto de apreensão
é essencialmente de natureza qualitativo. Portanto, busca entender o universo dos motivos, das
aspirações dos valores e atitudes inseridos num universo de representações e intencionalidades,
pesquisadas num recorte da realidade social. (MINAYO, 2004).
42
Quanto ao delineamento, uma pesquisa de campo realizada no Hospital Distrital Maria
José Barroso de Oliveira, conhecido como Frotinha de Parangaba. Realizada com trabalhadores
da saúde por acessibilidade, uma forma de amostragem que consiste em escolher o entrevistado
segundo sua disponibilidade de tempo e interesse pela pesquisa. (GIL, 1995). Essa pesquisa
constitui como primeiro critério a inclusão dos sujeitos na pesquisa, outro critério de inclusão
utilizado, para a escolha dos sujeitos da pesquisa, foi que os sujeitos fossem profissionais que
estão exercendo atividades na unidade de saúde com vínculo empregatício diretamente ligado
ao SUS (pessoas trabalhadoras da saúde, ingresso na unidade por meio de concurso público).
O terceiro critério é que o profissional estivesse há mais de dois anos na instituição,
pois, entende-se, como pesquisadora e como profissional da saúde, que esse tempo confere ao
profissional uma regular propriedade sobre suas atividades na instituição. Um ultima critério
de inclusão é que o profissional exerça suas atividades com acesso direto ao público atendido,
razão justificada na PHN e no processo de valorização que inclui usuário, trabalhador e gestor
do sistema de saúde. Esse critério abre precedente para o critério de exclusão, que retira desta
pesquisa trabalhadores da unidade que estão exercendo atividades em serviços burocráticos.
As entrevistas foram realizadas entre os meses de maio e junho de 2014. A obtenção
dos dados se deu por entrevista semi-estruturada, método de coleta de informação sobre
determinado assunto científico que consiste numa combinação de perguntas abertas. A
entrevista semi-estruturada oferece a possibilidade do entrevistado “discorrer o tema proposto,
sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador.” (Minayo, 2004 p.108).
A entrevista é uma técnica de investigação em que o pesquisador apresenta perguntas
formuladas ao investigado com o intuito de obter dados de seu interesse. A entrevista viabiliza
o acesso referente a todos os aspectos da vida social. Permite ao investigador obter dados em
profundidade acerca do comportamento humano. (GIL, 1995).
Esta é uma pesquisa bibliográfica (uso de livros e artigos científicos), pois foi feita uma
análise da Política Nacional de Humanização do SUS, um documento Oficial da República
Federativa do Brasil, além do uso de outros documentos oficiais.
Antes de iniciar as entrevistas, os sujeitos foram informados acerca do objeto de estudo,
sobre os aspectos éticos que envolvem a pesquisa na área da saúde, como também, sobre as
43
razões pelas quais estavam participando da pesquisa e do caráter confidencial de sua
participação. Essas informações estão disponibilizadas no do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido – TCLE, contemplado pela Resolução 466/2012.
As entrevistas foram concedidas durante quatro visitas à unidade de saúde (Frotinha de
Parangaba), outra em uma visita domiciliar e a última foi preciso visitar a participante em outra
unidade de saúde. Enquanto se realizava as entrevistas, a pesquisadora em algumas situações
percebeu naqueles entrevistados sentimentos próximos aos seus, também percebia nas respostas
dos sujeitos muita insatisfação no ambiente de trabalho. Em alguns momentos, foi preciso parar
por algum tempo, para depois retomá-la. Essas são questões que se justificam segundo Minayo
(2004), no caráter da identidade entre o sujeito e o objeto da investigação.
Quanto à classificação por finalidade ou objetivo, o estudo se caracterizou como
exploratório. Procurou-se desenvolver e esclarecer conceitos e ideias, proporcionando uma
visão geral do tipo aproximado dos trabalhadores da saúde e seu processo de valorização
contido na PNH. O resultado foi uma problemática mais esclarecida para estudos posteriores.
(GIL, 1995).
Para analisar e interpretar os dados obtidos durante a pesquisa foi utilizado o Discurso
do Sujeito Coletivo, técnica de análise e interpretação de dados das pesquisas qualitativas que
consiste na elaboração de um discurso síntese elaborado com pedaços de discurso de sentido
semelhante, reunidos num só discurso. (Lefèvre e Lefèvre, 2005).
3.2 Campo e sujeitos do estudo
O campo da pesquisa foi o Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira17 (Frotinha
de Parangaba), cuja missão é prestar atendimento humanizado ao usuário. Uma unidade de
saúde vinculada a Prefeitura Municipal de Fortaleza. O hospital inaugurado em 1977 é
referência no atendimento de urgência e emergência para traumas de média complexidade. A
unidade dispõe de 55 leitos de internamentos, UTU (Unidade de Tratamento Urgente), Centro
cirúrgico, sala de parada, laboratório de análises clínicas, farmácia, serviço social 24horas,
17 As informações a respeito da Instituição foram adquiridas em documento elaborado pela equipe que compõem
o Serviço Social do Hospital.
44
serviço de ouvidoria, além de outros. É uma unidade de saúde pública que atende diariamente
pacientes em todas as mediações clínicas.
Os sujeitos da pesquisa são constituídos por trabalhadores da saúde que exercem suas
atividades na rede. Para esta pesquisa foi eleito um universo de oito profissionais em variadas
categorias respeitando o critério de inclusão. Os sujeitos foram distribuídos em cinco categorias
de profissionais, a saber: duas técnicas de enfermagem, um técnico de hemoterapia, duas
enfermeiras, duas assistentes sociais e um médico, totalizando em oito profissionais da área da
saúde. O foco na categoria profissional se dá por compreender que, numa unidade de saúde
existem olhares e posicionamentos diferenciados sobre o processo de trabalho, entende-se ainda
que tais posicionamentos dependam, algumas vezes, do local de atuação e da função exercida
dentro da unidade.
A escolha dos sujeitos foi de modo aleatório, usando apenas o critério de inclusão dos
sujeitos na pesquisa. Os mesmos foram identificados com nomes fictícios, nomes estes
escolhidos entre nomes da massa de trabalhadores comuns, e com os quais convivemos
constantemente. A ocultação da real identidade desses sujeitos é para preservá-los de qualquer
entendimento errôneo de sua participação.
O quadro a seguir mostra o perfil dos sujeitos da pesquisa, com base em informações
adquiridas durante o processo da pesquisa de campo. Expressa dados pessoais e profissionais
da realidade dos sujeitos com significativa relevância para a compreensão das análises que se
seguem.
QUADRO 1- PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA
CRITÉRIOS QUANTIDADE %
SEXO:
Masculino
Feminino
02
06
25.0
75.0
IDADE:
De 25 a 35 anos
01
12.5
45
De 36 a 45 anos
De 46 a 55 anos
03
04
37.5
50.0
Função na Unidade:
Técnico de enfermagem
Técnico de hemoterapia
Enfermeira
Assistente Social
Médico
02
01
02
02
01
25.0
12.5
25.0
25.0
12.5
Tempo de trabalho na Instituição:
De 02 a 10 anos
Mais de 10 anos
05
03
62.5
37.5
Trabalha em outra Instituição:
Sim
Não
07
01
87.5
12.5
Conhece a PNH:
Sim
Não
06
02
75.0
25.0
Fonte:Elaboração da pesquisadora
O quadro 1 mostra que os trabalhadores pesquisados na instituição em sua maioria são
mulheres (75%), do total de trabalhadores (50%) estão acima dos 45 anos, e todos trabalham a
mais de dois anos na instituição. (37,2%) trabalham a mais de dez anos na mesma função na
unidade. (87,5%) dos entrevistados possui emprego em instituições diferentes, e (75%)
46
revelaram ter conhecimento da Política Nacional de Humanização. Os dados aqui expostos
foram resultados das entrevistas realizadas com os sujeitos, que tiveram duração de 04 a 16
minutos, transcrita literalmente e analisadas no Discurso do Sujeito Coletivo.
3.3 Análises dos resultados
A análise de dados tem o potencial de organizar os dados pesquisados e oferecer
respostas ao problema proposto na investigação. A interpretação de dados, por sua vez, serve
para dar sentido mais amplo às respostas encontradas durante o processo. (GIL, 1995). Para
esta pesquisa foi utilizado o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), método de análise de dado
que consiste numa proposta de organizar e tabular dados qualitativos de natureza verbal,
adquirido durante o processo de pesquisa. O DSC tem como fundamento a teoria da
representação social e os pressupostos sociológicos que fornecem às análises do material verbal
coletado, extraindo dos depoimentos e suas semelhanças nos discursos para compor os vários
discursos sínteses que são os DSC.
Tendo como fundamento a teoria da Representação Social e seus pressupostos
sociológicos, a proposta consiste basicamente em analisar o material verbal coletado
extraindo-se de cada um dos depoimentos. O Discurso do Sujeito Coletivo é uma
modalidade de apresentação de resultados de pesquisas qualitativas que tem
depoimentos como matéria prima sob a forma de um ou vários discursos sínteses na
primeira pessoa do singular, expediente que visa expressar o pensamento de uma
coletividade, como se esta coletividade fosse o emissor de um discurso. (LEFÈVRE,
CRESTANA E CORNETA, 2003 p. 70).
A técnica do DSC é realizada por meio de um recurso de informática, (QualiQuantisoft),
um softwere desenvolvido pelos autores da USP (Universidade de São Paulo) em uma parceria
com a Sales & Paschoal informática. A técnica objetiva a realização de pesquisas
quantiqualitativas. Foi idealizada com o objetivo de servir de instrumento para que os
pesquisadores desenvolvam suas análises em um nível maior de segurança, eficiência além de
possibilitar ao pesquisador alcançar pesquisas qualitativas que comportem um conteúdo maior
de depoimentos (IPDSC).
O QualiQuantisoft é um recurso facilitador de análise de material de pesquisa, isso
significa dizer que o software em nenhum momento substitui o papel do pesquisador. Ele
representa uma ajuda importante ao pesquisador, ao permitir, que o mesmo se concentre nas
tarefas mais nobres da pesquisa, cooperando, portanto com o pesquisador em economia de
tempo e aumento da eficácia da atividade investigativa (IPDSC).
47
QUADRO 2 – Questão 01 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo
1- COMO VOCÊ PERCEBE O TRABALHO E OS TRABALHADORES NA
INSTITUIÇÃO QUE VOCÊ TRABALHA?
IDEIA CENTRAL SUJEITOS
A: CONDIÇÕES DE TRABALHO
PRECÁRIO
FERNANDA, IRENE, TIAGO,
EDUARDO.
B: EU GOSTO DO QUE EU FAÇO
ANITA
C: TRABALHO ESTRESSANTE
CRISTINA, ALINE,
JULIANA.
Fonte: Elaboração da pesquisadora
A: CONDIÇÕES DE TRABALHO PRECÁRIO
DSCSUJEITOS: FERNANDA, IRENE, TIAGO, EDUARDO.
“Eu percebo muita falha no serviço público, grande parte dos trabalhadores não tem
compromisso com o trabalho; nosso trabalho aqui é desvalorizado por parte da
população usuária. O trabalho é precarizado, falta material, faltam insumos, a estrutura
é precária. Um trabalho que rola frouxo, a demanda é muito grande, a maioria precisa
assumir uma postura de compromisso e responsabilidade; eu percebo um trabalho
cansativo, sem uma organização de gestão, o trabalhador se sente explorado pelas
condições que o trabalho oferece, há uma sobrecarga de trabalho excessiva, poucos
recursos, falta segurança, o trabalhador se sente angustiado porque o mesmo tem uma
missão de responsabilidade a ser feita e não dispõe de recursos políticos que possa vê-
lo como deve ser visto. Olha o trabalho aqui, no Frotinha é muito desarticulado,
desgastante, é muito solto, é muita cobrança e nenhum reconhecimento. Eu já trabalho
aqui há 22 anos e nunca alguém da direção, da gestão, chegou para mim, e falou sobre
a importância do meu trabalho. Nunca houve qualquer espécie de reconhecimento; As
necessidades da população, eu diria, quadruplicou, tanto na necessidade, quanto no
modelo de atendimento. Poucos profissionais, sem concurso público, falta médicos,
enfermeiras, as poucas que estão trabalhando, trabalham sobrecarregadas, técnicos
sobrecarregados. Tudo isto torna o trabalho desgastante. Você não vê a instituição
melhorar, agente representa a instituição mas a instituição também tem que te dar um
nome, oferecendo boas condições de trabalho, condições para você progredir em sua
profissão, condições para você prestar um melhor atendimento, e não aumentar o
numero de pacientes com apenas dois médicos numa emergência. Uma grande
carência.Em relação aos “trabalhadores eu percebo uma grande insatisfação,
principalmente nas condições de trabalho, na sobrecarga de pacientes e na remuneração.
Realmente a remuneração é muito ruim. Uma remuneração muito ruim para um trabalho
48
desgastante; o trabalho na instituição é um trabalho desgastante pelo perfil de pacientes
que lidamos diariamente, pessoas vítimas de violência urbana: facadas, tiros, acidentes.
Então, a partir desta demanda já provoca um desgaste natural nos profissionais. Por
outro lado, nem sempre as equipes estão afinadas para desenvolver este trabalho.
Trabalhando juntas, trocando experiências”.
DISCUSSÃO
O DSC acena para o elemento mediador introduzido entre a esfera da necessidade e a
da realização da mesma. (Antunes, 2000). No sistema capitalista o trabalhador vende sua força
de trabalho em troca de um salário a fim de satisfazer suas necessidades e de sua família, o
trabalho é a mercadoria do trabalhador, vendido em troca de certa quantidade de dinheiro. Essa
relação entre trabalho e necessidade de se reproduzir socialmente adquire a dimensão de
dualidades e ao mesmo tempo de contradição; o trabalho pode ser o elemento que produz e
subordina; como também pode ser humanizador e ao mesmo tempo degenerador o que liberta
o homem ou o escraviza; aquilo que o emancipa e o aliena. (ANTUNES, 2005). Essa relação
provoca nos sujeitos trabalhadores em saúde sofrimento, ou pode causar satisfação e prazer,
desde que os mesmos realizem seu trabalho com condições facilitadoras, e possam ter suas
atividades socialmente reconhecidas e valorizadas. (PITTA, 1991).
O DSC revela um processo de trabalho desorganizado, sem investimento, em condições
de trabalho, subdividido desvalorizado, não reconhecido e insatisfeito. O DSC na fala dos
sujeitos - os trabalhadores sentem-se prejudicados pelo sistema de saúde como afirma Melo
(2008), ao mencionar as precárias estruturas da instituição, da falta de material de trabalho, da
pouca remuneração, e das situações de violência na qual os trabalhadores estão expostos em
seu local de trabalho. Um trabalhador que recebe baixos salários demais de um emprego para
que venham atender suas necessidades sociais. O DSC mostra ainda, que as equipes de trabalho
pouco se articulam no intuito de oferecer um atendimento integral ao usuário do serviço. Um
reconhecimento contemplado na PNH.
[...] A esse quadro, acrescenta-se a desvalorização dos trabalhadores de saúde,
expressiva precarização das relações de trabalho, baixo investimento num processo de
educação permanente desses trabalhadores, pouca participação na gestão dos serviços e
frágil vinculo com os usuários. (BRASIL, 2004).
49
A PNH propõe como processo de enfrentamento à problemática, a implementação de
mudança. Mudança no modelo de atenção que necessita imprescindivelmente de mudanças nos
modelos de gestão dos quais venham ao trabalhador em saúde espaços de criação e promoção,
ou seja, a autonomia e o protagonismo dos sujeitos implicados no processo de produção de
saúde. (BRASIL, 2004).
B: EU GOSTO DO QUE EU FAÇO
DSC SUJEITOS: ANITA
“O trabalho na instituição, na enfermagem todo mundo conhece, tiro por mim,
eu tenho compromisso, eu gosto do que eu faço, eu não acho cansativo, e... Até
agora eu nuca tive nenhum transtorno que eu possa falar no momento, eu
trabalho aonde as pessoas já chegam muito estressadas, com aquela dor, a gente
procura fazer com que o paciente mantenha a calma, nós procuramos manter a
calma diante do paciente para poder passar aquela segurança para eles que já
vem muito sofrido. Pra mim agente trabalhar com amor a profissão ajuda muito
a passar isso para o paciente, a tranquilizá-lo. Então o trabalho para mim em
saúde não é um trabalho cansativo”.
DISCUSSÃO
O DSC em parte ratifica o que Antunes (2000) revela que a satisfação no trabalho é
antes de tudo uma satisfação pessoal que se forma a partir do planejamento e dos resultados
concretos o melhor possível. Possibilita a auto realização individual e coletiva.
[...] A busca de uma vida cheia de sentido dotada de autenticidade encontra no trabalho
seu locus primeiro de realização. A própria busca de uma vida de sentido é socialmente
empreendida pelos seres sociais para sua auto realização individual e coletiva. É uma
categoria genuinamente humana que não se apresenta na natureza. (ANTUNES, 2000
p, 143).
O DSC mostra o trabalhador num momento de autorrealização no trabalho. No
depoimento, pode-se perceber que mesmo enfrentando as adversidades inerentes do processo
de trabalho em saúde, própria de instituição hospitalar, seu trabalho significa um momento de
satisfação e realização de vida e sua reprodução social. A autorrealização no trabalho pode ser
uma tarefa ora solidária ora solitária.
50
A qualidade de vida no trabalho em saúde implica superar os quatro desafios específicos
e reflexivos para a atuação na área da saúde. O primeiro deles está condicionado ao trabalhador
trazer a vida para o trabalho, ou seja, o trabalhador deve perseguir e descobrir objetivos íntimos,
contudo, não se pode esquecer-se de preencher a vida com atos significativos para si e para os
outros; segundo, o trabalhador deve viver a possibilidade da solidariedade, isso significa dizer
que a solidariedade ainda pode ser um valor a ser cultivado como afirmação de superioridade
nas relações; terceiro, o trabalhador deve viver seu presente construindo o futuro. O trabalhador
deve pensar no trabalho de modo que o mesmo não seja constrangimento para sua vida, isso
significa dizer que o trabalhador deve conhecer seus limites e pensar em soluções coletivas para
o problema de todos; por fim, um quarto e último desafio é ter equilíbrio pessoal e profissional,
evitar o esgotamento no trabalho, reservar um tempo para restaurar a força interna e fortalecer
a identidade entre o profissional e pessoal. (LEOPARDI, 1999).
C: TRABALHO ESTRESSANTE
DSC SUJEITOS: CRISTINA, ALINE, JULIANA.
“O trabalho em si é estressante ....os trabalhadores uns cooperativos, outros
não... Alguns trabalhadores conseguem trabalhar direito, outros têm muita
dificuldade. Nosso trabalho aqui é com a comunidade em aberto, então, nós
fazemos todo tipo de atendimento: clinico, cirúrgico e traumatológico, com isso
lidamos com vários tipos de violência como tiros, facadas, acidentes. Quando
eles (pacientes) chegam à unidade nós ainda corremos o risco de vida, isso torna
nosso serviço mais estressante. Primeiro pela sobrecarga de trabalho mais as
ameaças de receber à vitima de violência e durante atendimento se tornar alvo
daqueles que tentam matá-lo”.
DISCUSSÃO
O discurso do DSC revela o trabalhador de saúde sofrendo de estresse provocado pelas
situações do ambiente de trabalho em instituições hospitalares. Pitta (1991) descreve esse
ambiente como produtor de doenças e sofrimento em função de sua própria natureza e
organização. O estresse no trabalho se evidencia em sintomas e sinais orgânicos e psíquicos
inespecíficos. A autora revela que tais determinantes de sofrimento são inerentes ao próprio
objeto de trabalho, ou seja, a dor, o sofrimento, a morte do outro, e neste caso acrescenta-se a
situação de exposição do trabalhador à violência urbana.
51
O enfrentamento da situação requer a construção de novos modelos interdisciplinares
de investigação que envolve questões de múltipla natureza, revelados por Pitta (1991).
Entre os estudiosos existe unanimidade sobre a influência e, ao mesmo tempo, acerca
da complexidade das relações entre saúde e trabalho, a requerer a construção de modelos
novos e necessariamente interdisciplinares de investigação. Esta pluralidade não
implica tão-somente lidar com questões técnicas e cientificas, mas também outras de
natureza filosófica, moral, política, econômica e social (PITTA, 1991 p. 19).
O que se percebe no DSC é que todas as questões verbalizadas pelos sujeitos geradores
de sofrimento, identificadas pelos sujeitos como estresse, à maioria se encontra na organização
do trabalho, gênese do sofrimento psíquico. São identificadas sem alguns fundamentos da
organização do trabalho como as longas jornadas de trabalho, a execução de tarefas pré-
determinadas por um limite de tempo, a pressão psicológica sofrida por gestões hierárquicas,
rígida e vertical, o não controle do trabalhador sobre a execução do seu trabalho, a alienação do
trabalho e do trabalhador, a subdivisão de tarefas e a desqualificação do trabalho realizado e
também de quem o realiza, são, portanto, elementos identificados por Pitta (1991) como fontes
de insatisfação resultando em agressão à saúde psíquica do trabalhador.
QUADRO 3– Questão 02 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo
2- COMO VOCÊ VÊ A HUMANIZAÇÃO NO EXERCÍCIO DO
TRABALHO EM SAÚDE.
IDEIA CENTRAL SUJEITOS
A: NÃO HÁ HUMANIZAÇÃO
EDUARDO E TIAGO
B: HÁ FALHAS NA HUMANIZAÇÃO
IRENE, CRISTINA
C: A HUMANIZAÇÃO É A
PARTICIPAÇÃO DE TODOS
ALINE, JULIANA, ANITA
Fonte: Elaboração da pesquisadora
A: NÃO HÁ HUMANIZAÇÃO
DSC SUJEITOS: EDUARDO, TIAGO.
52
“É o que acabei de dizer....aqui não se fala em humanização. O que eu conheço
sobre humanização é o que eu vejo no meu outro trabalho. Aqui eu nunca ouvi
falar sobre humanização. É sempre a mesma coisa, você vem trabalhar, realiza
suas tarefas, e vai embora, e depois é a mesma coisa, e depois, e depois...Para
que eu possa atender alguém de modo humanizado eu preciso estar humanizado,
eu preciso estar em condições favoráveis, quer dizer, eu preciso estar bem
comigo, com minha remuneração, com a quantidade de pacientes que eu tenho
que atender, eu tenho que ter uma instituição que ofereça suporte para o
atendimento, isso gera consequentemente um atendimento humanizado. A
medicina tem andado na contramão deste processo, tem-se investido na
instituição, em tijolo e parede e tem deixado de investir nas pessoas. A
enfermeira que ganha bem, o médico que ganha bem e tem uma estrutura de
trabalho boa, um repouso digno, uma alimentação boa, condições de
atendimento favorável, automaticamente ele vai prestar um atendimento de
melhor qualidade. Agora, você ter que tratar alguém com fidalguia, você sendo
maltratado, com seu salário atrasado...A humanização no Frotinha, é
difícil....não tem nenhum projeto, nenhum meio que eu possa perceber como
esta humanização acontece aqui. Porque a humanização se articula não só com
os profissionais, mas com os usuários e principalmente com a gestão. Eu já
trabalho aqui há 09 anos e nunca participei de uma reunião com a direção. Essa
nova gestão então.... eu só os conheço de ouvir falar.. Nunca vi... mas já ouve,
já aconteceu de diretor sair de casa e vir no Frotinha final de semana, à noite
para resolver problemas, principalmente quando não tem médico”.
DISCUSSÃO
O DSC revela a ausência de humanização na instituição pesquisada. Os próprios sujeitos
não encontram em seu ambiente de trabalho a humanização, que faz uso da ética, da moral e do
bom senso com intenções de resgatar valores humanitários. A humanização é apreendida como
uma forma de perceber cada pessoa em sua necessidade específica. Os trabalhadores da
instituição estão privados de boas condições de trabalho, de alimentação de repouso adequado
para plantonista e de boa remuneração. O que se percebe é a busca de um trabalho humanizado,
do direito ao exercício da autonomia em seu ambiente de trabalho, levando em conta sua
singularidade, valores e vivencias. Constata-se que a negação de tais direitos revela a ausência
de uma política de humanização e de respeito ético com o trabalhador de saúde na instituição,
uma vez que, humanizar em saúde exige postura ética de respeito ao outro. (GIORDANI, 2008).
A Política Nacional de Humanização propõe como política transversal da rede SUS a
valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuário,
trabalhador e gestor. Humanizar na PNH é promover a autonomia e o protagonismo desses
sujeitos, aumentando o grau de corresponsabilidade entre eles, com finalidade de produzir
saúde. A Política propõe ainda como enfrentamento ao cenário de descontentamento acima
53
descrito mudanças nos modelos de atenção e gestão dos processos e trabalho, focando as
necessidades do cidadão e a produção de saúde estimulando a humanização da rede hospitalar,
o compromisso com a ambiência, a melhoria das condições de trabalho e de atendimento.
B: HÁ FALHAS NA HUMANIZAÇÃO
DSC SUJEITOS: IRENE, CRISTINA, FERNANDA, ALINE
“Nas instituições há falhas diferentes. O que torna diferente o trabalho
de uma instituição para a outra é a interação entre as equipes. No meu trabalho,
aqui não há esta interação na pratica dos vários profissionais de saúde. Isso não
significa dizer que de modo geral existe uma ausência de humanização no
trabalho realizado pelas equipes, há uma grande falha nas várias instâncias de
poder e categorias profissionais em relação a humanização. A humanização é
linda, o SUS possui toda uma política de humanização, aqui no hospital
inclusive, há cinco anos foi feito todo um projeto de acolhimento para que se
estivesse este serviço de humanização, mas, só que tudo é muito lindo, no papel,
porque para que a humanização venha a acontecer é preciso que haja um
trabalho em equipe, mas uma equipe completa. O que acontece aqui é um
trabalho direcionado para dois ou três profissionais. Tudo no papel é muito
lindo, seria melhor se de fato fosse executado. Eu percebo aqui a humanização
deficiente, muito deficiente. Apesar de muita gente falar sobre a humanização,
outros não tem conhecimento do processo de humanização, não saber e não
querer se aprofundar sobre o assunto, dificulta ainda mais nosso trabalho. Deixa
a parte humana e da humanização bem longe do profissional, tornando o
trabalho mais estressante, e isto acontece com toda a equipe: médicos,
enfermeiros técnicos, a equipe toda... algumas vezes o próprio profissional
esquece que é humano. Quem é humano não trata o outro com desumanidade”
DISCUSSÃO
O DSC traz o fato de que há quem fale em humanização e há quem desconheça. Aponta
para a falta de interdisciplinaridade como sendo o principal marco da ausência de humanização
das práticas em saúde.
Segundo Oliveira (2007), a humanização na saúde é reconhecida como processo de
transformação de cultura institucional, como visto no ambiente hospitalar o que mais se
questiona é a ausência do trabalho em equipe, reclamação comprovada a partir das falasdos
DSC. A proposta da PNH a essa problemática é atuar, traduzindo os princípios do SUS de modo
a operar os diferentes equipamentos e sujeitos da rede de saúde com equipes multiprofissionais,
54
construindo trocas solidárias comprometidas com a dupla tarefa de produção de saúde e de
sujeitos. Assim, os princípios que norteiam a PNH abrigam o fortalecimento do trabalho em
equipe multiprofissional, estimulando a transversalidade e a grupalidade; o compromisso em
apoiar a construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a
corresponsabilidade nos processos de atenção e gestão, isto é, toda a equipe multiprofissional
tem o compromisso de gerenciar tais processos de modo comprometido e democrático.
C: A HUMANIZAÇÃO É PARTICIPAÇÃO DE TODOS
DSC SUJEITOS: JULIANA, ANITA
“A humanização se realiza de forma participativa, promovendo o bem para
todos, inclusive dos usuários. Eu percebo a humanização na participação do
médico no dia a dia com o paciente, aqui os pacientes são muito bem atendidos.
Eu vejo a humanização no compromisso dos médicos com o paciente
juntamente com toda a equipe”.
DISCUSSÃO
O DSC aponta para um prisma da humanização a partir da maneira como os sujeitos se
relacionam. Segundo Giordani (2008), há uma urgente necessidade de se refletir sobre a geração
e prática de uma cultura de humanização no exercício cotidiano daqueles que trabalham na área
da saúde. Existe uma dificuldade envolvendo as relações interpessoais, da falta de capacitação
permanente, da ausência de melhorias de condições necessárias à realização do trabalho. Essas
dificuldades alteram a organização dos processos de trabalho, como também, a dinâmica de
interação entre as equipes e os mecanismos de planejamento, decisão, avaliação, e participação.
O DSC mostra o entendimento de trabalhadores sobre humanização que estão inclusos
na PNH como desafios que devem ser respondidos. A PNH se desenvolve a partir dos princípios
norteadores do SUS que tem enfrentado um processo de fragmentação do trabalho e das
relações entre os diferentes profissionais, a deficiente interação entre as equipes e a
fragmentação da rede assistencial, o que dificulta a complementaridade entre a rede básica e o
sistema de referência. No DSC, apesar de se reconhecer que a humanização se realiza a partir
55
da participação de todos, os sujeitos reconhecem, por meio de suas falas, no médico um detentor
legal da gerência do ato assistencial. (PIRES, 1999).
QUADRO 4 – Questão 03 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo
3- PARTINDO DA PRÁTICA DO SEU TRABALHO, QUAL SEU
ENTENDIMENTO SOBRE A VALORIZAÇÃO DO TRABALHO EM
SAÚDE.
IDEIA CENTRAL SUJEITOS
A: TRABALHO NÃO VALORIZADO
FERNANDA, ANITA,
TIAGO, ALINE.
B: TRABALHOREFLETIDO/
APROFUNDADO
IRENE, EDUARDO
C: A VALORIZAÇÃO DO
TRABALHO EM EQUIPE.
CRISTINA, JULIANA
Fonte: Elaboração da pesquisadora
A: TRABALHO NÃO VALORIZADO
DSC SUJEITOS: FERNANDA, ANITA, TIAGO, ALINE
“O pessoal que trabalha no setor público não é valorizado, nem por parte das
gestões, nem por parte do usuário. Faltam incentivos promocionais, como por
exemplo, cursos de qualificação, incentivo financeiro, e outros. A valorização
do nosso trabalho aqui não existe. Eu já trabalhei em alguns hospitais
particulares, onde participei de processos de valorização, com empenho da
direção em cursos de qualificação com auxiliares, funcionário padrão do mês,
eu recebi até a plaquinha. Mas aqui é rara, alguma coisa que acontece aqui, neste
sentido, são da parte dos enfermeiros imediatos, aqui, ou acolá, tem umas
festinhas, umas faixas, e só. A valorização na saúde é inexistente, eu não
consigo visualizar nada que eu possa conceituar como atitude de valorização. É
aquela coisa... a gestão exige você trabalha... às vezes até um trabalho
sobrecarregado, mas a contrapartida de reconhecer o trabalho e valorizar é bem
difícil...bem difícil. Cada profissional tem seu valor, como categoria
profissional, como participante desse processo de promoção de saúde, as
gestões custam em reconhecer este valor, tanto no sentido de reconhecimento
daquele trabalho realizado , quanto, quanto no sentido financeiro.
56
DISCUSSÃO
Valorizar em saúde é assumir uma posição de direito e de cidadania em relação aos
sujeitos produtores de saúde, ou seja, é agregar valor, seja financeiro, moral, ético e intelectual.
No trabalho em saúde a valorização dessa atividade diuturna é dispositivo estratégico de dar
sentido ao trabalho e suas novas formas de ser. O trabalho valorizado é o mecanismo que
concebe ao trabalhador dar sentido ao seu trabalho. (ANTUNES, 2005). Nesse caso,
verbalizado pelos sujeitos nos DSC, aponta para o entendimento dos profissionais da saúde na
instituição pesquisada não perceber seu trabalho valorizado, gerando grande dificuldade na
melhoria do atendimento ao usuário. A instituição não percebe que um profissional reconhecido
e valorizado importa a todas as pessoas e às próprias instituições. (GIORDANI, 2008).
A análise sobre a valorização do trabalho na instituição pesquisada solicita o
posicionamento da PNH, ou seja, aquilo que o documento propõe como mecanismo de
enfrentamento à problemática. A Política parte da premissa que a valorização se insere numa
intrínseca relação com a humanização e propõe a valorização dos diferentes sujeitos implicados
no processo de produção de saúde promovendo sua autonomia e o protagonismo no processo
da gestão em saúde. Uma valorização que se realiza a partir da participação coletiva e paritária
nos processos de gestão.
No eixo da gestão do trabalho propõe-se a promoção de ações que assegurem a
participação dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão, fortalecendo e
valorizando os trabalhadores, sua motivação, autodesenvolvimento e o crescimento
profissional. (BRASIL, 2004).
B: TRABALHO REFLETIDO/APROFUNDADO
DSC SUJEITOS: IRENE, EDUARDO
“O meu trabalho como de toda equipe de saúde, é um trabalho sofrido, o
Assistente Social é uma pontinha mais sofrida ainda, porque por mais que ele
esteja há muitos anos no serviço de saúde ele é ainda muito questionado, por se
mostrar um trabalho pouco mensurável quantitativamente. É um trabalho, onde
os profissionais estão o tempo todo tendo que explicar o que é seu trabalho,
falar, mostrar o que é. Nosso trabalho precisa ser mais refletido, aprofundado e
com mais ações concretas. Meu trabalho, como quase todas as pessoas, eu acho
o mais importante do mundo, assim como todos os outros profissionais deve
perceber seu trabalho, o mais importante do mundo. Meu trabalho é aquilo que
57
me dar prazer, aquilo que faz com que eu possa me reproduzir socialmente, é
quem possibilita o sustento de minha família”.
DISCUSSÃO
O DSC revela que o reconhecimento sobre a valorização do trabalho na instituição
se realiza a partir da reflexão do significado do trabalho como centralidade para reprodução
das sociedades. Segundo Leopardi (1999), a vida do homem está inextricavelmente ligada
ao trabalho e ao sofrimento dele decorrente. Essa realidade pode ter duplo sentido, ou seja,
não só pode produzir sofrimento, mas também satisfação (BRASIL, 2008). O processo de
valorização do trabalho que pode produzir satisfação está inscrito na PNH, ao convocar o
trabalhador para o debate com finalidade de produzir a partir do debate políticas públicas
de saúde em todas as instâncias que envolvem o trabalho e o trabalhador em saúde. A prática
reflexiva sobre trabalho em saúde convoca a presença da PNH, pois é nela que está
paramentada a ampliação do diálogo, ou seja, a gestão participativa, viabilizada pela
participação dos trabalhadores no debate sobre saúde.
C: VALORIZAÇÃO DO TRABALHO EM EQUIPE.
DSC SUJEITOS: CRISTINA, JULIANA
“Para que meu trabalho possa ser valorizado eu percebo que é só a partir de um
trabalho em grupo, tratando com os pacientes e com outros profissionais,
resolvendo, as situações do momento me dedicando e trabalhando porque gosto
do meu trabalho. Quando você gosta do que faz e percebe a pessoa humana
como parte do seu trabalho, tudo é mais diferenciado, o serviço anda melhor, a
equipe se organiza melhor. A valorização no trabalho compreende um trabalho
em equipe evitando desagregação prejudicial ao trabalho”.
DISCUSSÃO
A assistência em saúde foi desenvolvida historicamente considerando o saber
especializado, ou seja, cada profissional de saúde desenvolve atividades diferenciadas,
intencionando a ação terapêutica. Este trabalho pode se desenvolver numa relação direta
profissional de saúde-cliente ou de maneira coletiva. Atualmente, em face da complexidade
58
diversa das doenças, o trabalho em instituições públicas ou privadas é majoritariamente um
trabalho em equipe. Como revela Pires, (1999).
A complexidade dos problemas em saúde exige conhecimentos profundos em cada área,
possibilitando que atividades ou campos do conhecimento organizem-se em novas
profissões de saúde. Mas o entendimento da totalidade só é possível com um inter-
relacionamento entre essas áreas de profissões. (PIRES, 1999 p. 32).
Apesar de o trabalho multiprofissional acontecer de modo amplo em toda a rede
assistencial, é inegável a pouca articulação entre as equipes, a ausência de coordenação nos
trabalhos desenvolvidos pelos profissionais, a falta de metodologias de trabalho e, por fim, não
existência de um espaço de avaliação dos resultados dos serviços prestados pelas equipes.
Na [...] maioria das Instituições assistências em saúde não existe coordenação da
assistência prestada pelos diversos grupos de profissionais de saúde. Não existe
instancias de planejamento [...]; que profissionais são necessários para a realização para
a realização de um trabalho adequado; que papel cada um deve desempenhar; como as
diversas atividades podem integrar-se. Também não existem espaços conjuntos de
avaliação da assistência prestada e nem de avaliação dos resultados. (PIRES, 1999).
No DSC percebe-se o sujeito concebendo a valorização no trabalho realizada a partir da
articulação das várias categorias de profissionais, de modo dinâmico. A PNH propõe a
humanização com a construção de trocas solidárias. Os princípios que norteiam a PNH
comportam o fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional, fomento da
transversalidade e a grupalidade, a corresponsabilidades entre os sujeitos envolvidos no
processo de produção de saúde na rede SUS, além do compromisso democrático das relações
de trabalho e da valorização dos profissionais de saúde.
QUADRO 5 – Questão 04 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo
4- QUE AÇÕES REALIZADAS NO SEU TRABALHO VOCÊ IDENTIFICA
COMO ATIVIDADE DE VALORIZAÇÃO E HUMANIZAÇÃO
IDEIA CENTRAL SUJEITOS
A: INCENTIVO À QUALIFICAÇÃO
FERNANDA
B: O PROFISSIONAL DA
HUMANIZAÇÃO
IRENE, JULIANA, ALINE
59
C: TRABALHO VALORIZADO POR
PACIENTES
JULIANA, ANITA,
FERNANDA.
D: NÃO EXISTE AÇÃO DE
VALORIZAÇÃO
EDUARDO, ALINE
Fonte: Elaboração da pesquisadora
A: INCENTIVO À QUALIFICAÇÃO
DSC SUJEITO - FERNANDA
“Eu percebo uma ação muito boa no meu trabalho de valorização do profissional
que é o aproveitamento do profissional de nível médio que conclui uma
educação de nível superior. Como também um incentivo e apoio psicológico
por parte de toda a equipe de trabalho”.
A análise do DSC solicita uma avaliação de propostas contidas na PNH como dispositivos
de valorização do trabalhador de saúde. Não obstante, sabe-se que para qualquer trabalhador de
saúde exige de si uma qualificação prévia para ingressar no trabalho. A instituição pesquisada
que é um hospital da rede pública de Fortaleza, o ingresso para o quadro funcional se realiza
por meio de concurso ou seleção pública. No caso específico, os sujeitos pesquisados
reconhecem que a ascensão funcional, realizada na instituição a partir de novas qualificações,
constitui instrumento de valorização. Pitta (1991) reconhece que a qualificação em instituições
de saúde deve refletir o status do trabalhador na organização. A PNH propõe a participação dos
trabalhadores em processos de educação permanente que qualifique as ações e inserção do
trabalhador na rede SUS.
B: O PROFISSIONAL DA HUMANIZAÇÃO.
DSC SUJEITOS: ALINE, IRENE, JULIANA
60
“O serviço social, no meu entender, dentro de uma equipe multiprofissional de
saúde, ainda é o cantinho da humanização, é o profissional da escuta, o
profissional do acolhimento, ainda, dentre todos ao demais que fazem o serviço
da saúde. Eu até brinco que aqui parece uma delegacia, porque tudo vem pra cá.
Então, dentre todos os demais profissionais que fazem o serviço de saúde, é o
serviço social o mais conscientes, o mais orientado para o aspecto da
humanização. Se não fosse o serviço social para acolher este usuário, pergunto:
o que seria destas pessoas? O assistente social é um profissional sensível que
tenta dentro das dificuldades do trabalho fazer do pouco para que se venha a
fazer um trabalho humanizado, acolhedor, um trabalho de escuta....., porque às
vezes a pessoa não quer nada, só quer a escuta, e de modo geral a equipe de
saúde não quer escutar. Só nos profissionais eu consigo mensurar alguma forma
de valorização, mas cada um valorizando seu trabalho individual. No serviço
social há um esforço constante no sentido de promover um trabalho
humanizado”
DISCUSSÃO
No DSC, os sujeitos reconhecem na categoria de trabalhadores do Serviço Social condições
propicias para atuar no projeto de humanização da instituição. Nos Parâmetros para Atuação
dos Assistentes Sociais na Política de Saúde (2009), o Serviço Social se propõe ao desafio de
articular com os demais profissionais de saúde e movimentos sociais à defesa e à luta por
transformações estruturais nas políticas sociais, em particular na saúde.
É requisitado ao assistente social no trabalho em saúde articular e sintonizar ao movimento
de trabalhadores e de usuários pela real efetivação do SUS, conhecer as condições de vida e
trabalho dos usuários e seus determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença,
facilitar o acesso a todos os usuários aos serviços de saúde. Devem atuar em estimulando a
interdisciplinaridade, tendo em vista a atenção em saúde, propor e construir/efetivar
conjuntamente com outros trabalhadores de saúde espaços facilitadores de participação popular
e de trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas, elaborar e participar de projetos de
educação permanente, assessorar movimentos sociais. Essa atuação dos assistentes sociais na
saúde concebe ao profissional propriedade sob o tema humanização e o reconhecimento de que
é o serviço social o profissional mais habilitado para desenvolver o trabalho da humanização.
Ainda nos Parâmetros (2009), está posto a atuação do serviço social na saúde do trabalhador
como tema de significativa atuação para o assistente social. Esse tema, afeta diretamente o eixo
de valorização do trabalhador contido na PNH, tema desta pesquisa. Na saúde do trabalhador o
61
assistente Social atua no atendimento aos trabalhadores individual ou em grupo, na pesquisa,
no assessoramento e na mobilização dos trabalhadores, e também como componente de equipes
multiprofissionais.
C: TRABALHO VALORIZADO POR PACIENTES
DSC SUJEITOS: ALINE, JULIANA, ANITA, CRISTINA
“A valorização e reconhecimento eu recebo no meu trabalho são apenas por
parte dos pacientes que nos elogia, este reconhecimento e mais fácil vir dos
pacientes e com isto eu me sinto gratificada. As ações de valorização que posso
perceber no meu trabalho são quando um acompanhante ou paciente diz “muito
obrigado”, isto é raro, mas às vezes acontece... porque eles são acostumados a
nos chamar de rapariga, baitola, prostituta, vagabunda....Quando um paciente
ou acompanhante sai e diz muito obrigado, Deus lhe abençoe, ai é muito
gratificante, eu me sinto valorizado. A única coisa em que eu posso perceber
como atitudes de valorização no meu trabalho são as atitudes dos usuários,
quando eles conseguem reconhecer que nosso trabalho foi satisfatório. Ai eles
agradecem e se sentem satisfeitos pela assistência dispensada. Eu percebo ai
alguma forma de reconhecimento e valorização”.
DISCUSSÃO
No DSC, o relato do trabalhador faz referência ao agradecimento dos usuários, visto por
eles como forma de valorização do trabalho. De fato, é uma forma de reconhecer um trabalho
satisfatório para a população usuária, pois, no processo de humanização / valorização, todos
têm sua parcela de contribuição no intuito de gerar resultados positivos para um atendimento
humanizado na área da saúde. A questão presente no DSC faz referência ao atendimento em
saúde, o profissional por se sentir desvalorizado pelas condições de insalubridade do ambiente
de trabalho apropria-se de uma natural insatisfação provocada em sua maioria pelo desgaste
físico, emocional e psicológico de equipes de trabalho.
Segundo Giordani (2008), isso gera um desastre em cadeia, ou seja, funcionários
insatisfeitos atendem mal aos clientes, os clientes por sua vez se sentem maltratados devido à
má qualidade dos serviços prestados em saúde. Esse movimento é facilmente percebido pelo
usuário de saúde. O atendimento humanizado gera relação humanizada. É pelo reconhecimento
do valor do trabalho de cada profissional de saúde que se pode estimulá-lo a amenizar as
consequências das precarizações do trabalho próprias do ambiente hospitalar. O atendimento
62
humanizado é carregado de expressões de agradecimento por parte dos usuários o que gera
condições de valorização.
Muitos autores defendem a ideia de que a valorização que as instituições de saúde em
geral podem dar aos seus funcionários é o reconhecimento da clientela, concorrem ao
bom desempenho de todos os profissionais que atuam em diferentes níveis de atenção
em saúde principalmente no serviço público em que muitos princípios e práticas deixam
a desejar. (GIODANI, 2008).
A PHN esclarece, portanto, que a valorização do trabalhador em saúde não são
exclusivamente os elementos acima citados e, sim, a própria humanização que se estabelece, a
partir da valorização do tripé da humanização usuário, trabalhador e gestor. Norteado pela
autonomia e o protagonismo desses sujeitos, no que se conclui, a partir do DSC, que na unidade
de saúde há um esboço deficiente do processo de humanização que não contempla as ações
concretas estabelecidas na PNH.
D: NÃO EXISTE AÇÃO DE VALORIZAÇÃO
DSC SUJEITOS - EDUARDO
“Nenhuma....Porque eu não vejo investimento no indivíduo, não é servida uma
boa comida no almoço, não vejo um bom consultório, uma organização no
atendimento. O que eu vejo é uma sobrecarga de trabalho. É sempre mais,
sempre mais, sempre tem que atender mais. O que eu percebo é uma via de mão
única. Não vejo nada de positivo. É preciso que haja um incentivo, financeiro,
de conforto, de organização de controle de pacientes”.
DISCUSSÃO
Segundo Melo (2008), o trabalhador em saúde se sente prejudicado pelo sistema de saúde
devido às más condições de trabalho no qual este é submetido, as extensas jornadas de trabalho,
más condições estrutural para atendimento do usuário, e péssimas condições de alimentação.
Em contrapartida, NR-32 garante a todo trabalhador boas condições de alimentação,
climatização adequada no ambiente de trabalho, além de oferecer treinamento específico para
algumas categorias de trabalhadores. São elementos que colaboram com o processo de
valorização em unidades de saúde. No DSC, a verbalização dos sujeitos coopera para a
63
compreensão que na unidade de saúde não existe um processo de valorização do trabalhador,
justificado no próprio relato dos sujeitos.
QUADRO 6 – Questão 05 da Análise do Discurso do Sujeito Coletivo
5- QUE AÇÕES DE VALORIZAÇÃO VOCÊ SUGERE PARA
IMPLANTAÇÃO NO SEU TRABALHO
IDEIA CENTRAL SUJEITOS
A: MUDANÇA NA GESTÃO
ALINE, FERNANDA,
EDUARDO
B: ORGANIZAÇÃO DE EQUIPE
IRENE
C: CRIAR MECANISMO DE
VALORIZAÇÃO
CRISTINA, JULIANA,
ANITA, TIAGO
Fonte: Elaboração da pesquisadora
A: MUDANÇA A PARTIR DA GESTÃO
DSC SUJEITOS: ALINE, FERNANDA, EDUARDO
“Eu sugiro uma mudança a partir da gestão no processo de administrar. Sugiro
também o uso adequado e socializado dos recursos financeiros dispensados à
instituição. Uma gestão com participação dos trabalhadores dos usuários, um
trabalho articulado entre as várias categorias para proporcionar melhor
resultado nos atendimentos dispensados à população. Melhorar a remuneração,
limitar o numero de atendimentos, direcionarem os pacientes de cada unidade
para sua unidade específica, ou seja, aquele que é de atendimento primário que
seja encaminhado para o atendimento primário, o que for secundário do mesmo
jeito e ai por diante. Dar liberdade a gestão para utilizar os recursos financeiros.
Não mais se admite que para comprar um balde de lixo é preciso uma novela de
uma licitação que dura uns três meses”.
DISCUSSÃO
No eixo da gestão, a PNH estabelece a promoção de ações que assegure a
participação dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão. Esse processo fortalece e
valoriza os trabalhadores – na sua motivação, no autodesenvolvimento e no crescimento
profissional. No perfil dos sujeitos, 75% dos trabalhadores se declararam ter conhecimento da
Política Nacional de Humanização. Conclui-se, pelo DSC, que a reivindicação dos
64
trabalhadores existe apenas pela materialização na PNH na instituição como instrumento de
valorização do trabalhador. As reivindicações expostas no DSC poderiam se materializar na
unidade, se a mesma fosse portadora de instrumentos de cogestão, valorização e inclusão dos
gestores, trabalhadores e usuários nos processos de discussão e produção de saúde solicitada
pela PNH.
B: ORGANIZAÇÃO DE EQUIPE
DSC SUJEITOS: IRENE
“Eu sugiro um trabalho de organização de equipe, de forma hierárquica, não no
sentido de poder, mas no sentido de seguir um fluxograma. Porem trata-se de
uma equipe sensibilizada para o aspecto que diz respeito à humanização, que
parte de uma postura de gestão. Seria uma organização no sentido, como por
exemplo, o usuário a chegar aqui, ele passaria pela portaria, para daí em diante
ter acesso aos demais serviços da instituição. Eu reclamo por uma hierarquia,
repito que não diz respeito a uma relação de poder, essa hierarquia que eu me
refiro é para que venha a funcionar aquilo que tem que funcionar, uma condição
de postura transversal que todo mundo tem seu valor, mas que deve assumir
uma postura de respeito uns os outros. Pra mim o único instrumento de
humanização na unidade eu só consigo, perceber no serviço social com a escuta
e o acolhimento. Aqui é uma situação muito difícil. A equipe não é sensível e
nós do serviço social ficamos trabalhando igual uma formiguinha”.
DISCUSSÃO
A questão do trabalho em equipe já foi discutida em alguns momentos em questões
anteriores. Questionou-se o fato do serviço de saúde se desenvolver em sua ampla maioria em
equipe, porém, a relevância da discussão foi o modo como essas equipes se organizam para
oferecer um trabalho de fato satisfatório para si e para a população. Nos serviços de saúde,
segundo Pires (1999), as equipes de saúde estão compartimentalizadas, ou seja, as equipes
desenvolvem um trabalho separadamente, cada grupo de profissionais presta parte da
assistência de saúde separado dos demais. A proposta da PNH, nesse sentido, é de atuar nas
precárias interações e despreparo das equipes, fortalecendo esse trabalho e fomentando a
transversalidade e a grupalidade, isto reduziria consideravelmente o processo de fragmentação
do trabalho e das relações entre as equipes de diferentes profissionais. No DSC, os sujeitos
reclamam pela materialização desse processo descrito pela PHN, o que se leva a concluir que
65
na instituição pesquisada, também é negado o processo de organização de equipes com base na
PNH.
C: CRIAR MECANISMO DE VALORIZAÇÃO
DSC SUJEITOS: ANITA, CRISTINA, TIAGO, JULIANA
“Eu não falo no sentido de parabenizar, eu falo no sentido de criar meios de
crescimento do profissional de enfermagem, algo que pudesse aprimorar o
profissional para que ele não fique só naquilo dali que ele faz. Algo que lhe
traga uma progressão, tipo mais reciclagem. Há algum tempo houve um curso
bem interessante de relações interpessoais, a Prefeitura disponibilizou, e nós
fomos até uma faculdade e realizamos o curso, mas o que seria interessante seria
um auditório aqui mesmo, assim seria mais fácil a participação dos colegas. A
implantação de uma triagem para mostrar o que é humanização. Eu indicaria
cursos de atualização em humanização, mostrar a realidade como o trabalho
acontece com certeza muita gente iria se conscientizar e com certeza o trabalho
melhoraria. Olha, eu só penso em humanização quando eu imagino o
HEMOCE...é a implantação de cursos, retorno financeiro adequado,
reconhecimento de seu trabalho por parte da gestão e maior interação entre os
trabalhadores. A implantação de cursos, uma compreensão por parte das
equipes, participação, consciência sobre a qualidade do trabalho dispensado à
população”.
DISCUSSÃO
O DSC mostra claramente a gritante necessidade da materialização da PNH na
instituição para a implementação do processo de humanização e valorização do trabalho e do
trabalhador em saúde. O que é solicitado pelos sujeitos no DSC é que o trabalho, executado
pelo trabalhador, e o seu profissionalismo em saúde tenham o reconhecimento quanto aos
direitos atribuídos á classe profissional. O direito a participar do processo de valorização e
humanização prescrito na PNH a partir da autonomia e protagonismo desses sujeitos. Os
sujeitos do DSC reivindicam a posse sobre seu processo de trabalho suprimido por gestões
centralizadas e verticalizadas.
O fato de 75% dos trabalhadores pesquisados terem conhecimentos da PNH,confere-
lhes propriedade para reivindicar a autonomia e o protagonismo dos mesmos nos processos de
trabalho, a qualificação com programas de educação permanente indicando composição de
conteúdos profissionalizante na graduação, pós graduação, e extensão em saúde, vinculado aos
pólos de educação permanente e às instituições de formação. O programa de educação prescrito
66
na PNH propõe a realização de cursos com temas sobre humanização. Por conseguinte, os
trabalhadores da instituição conhecem seus direitos prescritos na PNH, e reconhecem que são
direitos que necessitam se materializar, no entanto, a instituição não disponibiliza propostas
nem ações facilitadoras à concepção das propostas de valorização e humanização para o
trabalhador no que tange aos programas de educação permanente prescritos na PNH.
67
4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta deste estudo foi analisar como se concretiza a Política Nacional de
Humanização do SUS no eixo que envolve a valorização do trabalhador em um hospital
municipal de Fortaleza, tendo como referência a Política Nacional de Humanização (PNH) os
posicionamentos dos trabalhadores da instituição adquiridos por meio da pesquisa empírica
qualitativa. Os dados foram analisados e interpretados à luz do Discurso do Sujeito Coletivo –
DSC. (Lefèvre e Lefèvre, 2005)
O estudo bibliográfico proporcionou o conhecimento da construção das políticas de
saúde no Brasil com proposta de atualizar o leitor sobre a importância da materialização do
SUS, para o processo de construção da saúde como um dos mais importantes direitos sociais
conquistados pelo povo brasileiro, proposta concebida na dimensão de direito social e dever do
Estado. Apesar do SUS estabelecer-se como política pública atrelada à condição de cidadania,
percebeu-se que a gestão em saúde enfrenta grandes desafios/lacunas na implementação de suas
propostas. Estes desafios/lacunas exigiu do Ministério da Saúde a elaboração de sujeitos
protagonistas do processo de produção de saúde, ou seja, o tripé da política de humanização: os
usuários, trabalhadores e gestores.
Com base nos estudos desenvolvidos pela pesquisadora, verificou-se uma intrínseca
relação das categorias aqui trabalhadas: o trabalho e o trabalhador em saúde, a humanização em
saúde e a valorização. Essa relação exigiu uma análise mais criteriosa estabelecida na gênese e
no desenvolvimento do trabalho. O desenvolvimento do trabalho é o próprio momento da
reprodução social do qual o homem participa de todo o processo. Essa premissa é descrita por
Antunes (2000), como o trabalho, quer em seu ir-sendo, ou em seu vir a ser, contempla sua
intenção ontológica de ir ao encontro da humanização do homem.
Não se quis aqui afirmar que o homem pode vir a ser humanizado. O homem é humano
por natureza; o que se pode apreender desta relação humanização, trabalho e valorização é que
a partir do processo de valorização do homem que a humanização das relações sociais no
trabalho é instituída. Este é um pressuposto da Política Nacional de Humanização, o
entendimento de que a humanização é a valorização dos diferentes sujeitos implicados no
processo de produção de saúde a partir da autonomia e o protagonismo desses sujeitos, usuários,
trabalhadores e gestores.
68
Nos resultados das análises desta pesquisa pode se constatar que os trabalhadores da
instituição pesquisada, quase sua totalidade (75%), conhecem a Política Nacional de
Humanização. A metade dos trabalhadores pesquisados (50%) percebe o trabalho e os
trabalhadores da instituição não reconhecidos; relatam a precarização dos serviços; a ausência
de material para desenvolver suas tarefas; a falta de uma interação entre trabalhador e gestão.
Enfim, aparece como fruto do estudo a caracterização de um trabalho desgastante e
desorganizado.
A investigação mostrou ainda que da totalidade dos sujeitos pesquisados, apenas 12.5%
se sentem realizados no trabalho que desenvolvem na instituição. Esse trabalhador como todos
os outros, faz parte das mesmas relações de trabalho no qual os demais estão submetido. O que
pode fazer a diferença nessa relação seria o trabalhador buscar sentido ao seu trabalho. Afinal,
a busca de uma vida cheia de sentido dotada de autenticidade encontra no trabalho seu locus
primeiro de realização. (ANTUNES, 2000).
Outra categoria de trabalhador na saúde percebe o trabalho como estressante (37.5%).
Os sujeitos revelam que o trabalho em saúde na instituição causa sofrimento psíquico, fruto das
próprias condições de trabalho às quais sãos submetidos. Os sujeitos relatam o desrespeito dos
usuários, poucos profissionais para uma grande demanda etc. Outra forma precária de condições
de trabalho revelada no DSC foi à submissão e exposição dos trabalhadores à violência urbana.
Sobre a questão da humanização os trabalhadores relatam nos DSC, que na instituição
não há humanização. Outros dizem que há pequenos atos que podem ser considerados como
programas de humanização, no entanto são programas portadores de falhas em sua
implementação, que não contemplam aquilo que propõe a Política Nacional de Humanização.
A valorização do trabalhador na instituição é percebida pelos sujeitos, como trabalho
não valorizado, as precárias condições de trabalho, a pouca interação entre as equipes torna o
trabalho em saúde pouco valorizado, os mecanismos de valorização instituídos na PNH são
ignorados pela gestão, negando um dos princípios da PNH que é a participação do trabalhador
nos processos de discussão e gestão.
Portanto, a instituição de saúde é portadora de grandes dificuldades geradoras de
sofrimento e angústia para o trabalhador, o que exige intervenções urgentes para que a realidade
69
que emergiu da investigação seja alterada de alguma forma. Os próprios trabalhadores,
conhecendo a PNH, propõem mudanças a partir da gestão do trabalho na unidade, propõem
também ações de valorização, motivação, trabalho em equipe e o reconhecimento dos
trabalhadores a partir da promoção de sua autonomia e protagonismo.
Sobre os resultados da investigação, mesmo sendo produto de uma situação de
aprendizagem em pesquisa acadêmica, espera-se que esses resultados sejam considerados e
possam ser utilizados para a implementação de ações que mudem a realidade apontada pelos
sujeitos que a evidenciam.
70
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72
APÊDNICE A – Entrevistas
Entrevista: 1
“Eu percebo muita falha no serviço público, grande parte dos trabalhadores não tem
compromisso com o trabalho. Nosso trabalho aqui é desvalorizado por parte da população
usuária. O trabalho é precarizado, falta material, falta insumo.... a estrutura é precária, falta
pessoa para trabalhar. Um trabalho que rola frouxo. A demanda é muito grande, a maioria dos
trabalhadores precisa assumir uma postura de compromisso e responsabilidade”.
2- “Nas instituições existem falhas diferentes. O que torna diferente o trabalho de uma
instituição para a outra é a interação entre as equipes. No meu trabalho aqui não há esta
interação na prática dos vários profissionais de saúde. Isso não significa dizer que de modo
geral existe uma ausência de humanização no trabalho realizado pelas equipes, há uma grande
falha nas várias instâncias de poder e categorias profissionais em relação à humanização”.
3- “O profissional que trabalha no setor público não é reconhecido, nem por parte das
gestões nem por parte do usuário. Falta incentiva promocional como, por exemplo: cursos de
qualificação, incentivo financeiro e outros...”
4- “Eu percebo uma ação muito boa no meu trabalho de valorização do profissional que
é o aproveitamento do profissional de nível médio que conclui uma educação de nível superior
Como também um incentivo e apoio psicológico por parte de toda a equipe de trabalho”.
5- “Eu sugiro uma mudança a partir da gestão no processo de administrar. Sugiro
também o uso adequado e socializado dos recursos financeiros dispensados à instituição”.
Entrevista 2
1- “Eu percebo o trabalho cansativo sem uma organização de gestão, o trabalhador se
sente explorado, pelas condições que o trabalho oferece, uma sobrecarga de trabalho, excessivo,
pouco recurso, falta segurança, falta um entendimento da gestão quanto a importância do
trabalhador. O nosso trabalhador se sente angustiado, porque o mesmo tem uma missão de
responsabilidade a ser feita e não dispõe de recursos políticos que possa velo-o como deve ser
visto”.
73
2- “A humanização é linda, o SUS possui toda uma política de humanização, aqui no
hospital, inclusive, há cinco anos foi feito todo um projeto de acolhimento para que se efetivasse
este serviço de humanização, mas só que é tudo muito lindo, no papel, porque para que a
humanização venha a acontecer é preciso que haja um trabalho em equipe, mas uma equipe
completa. O que acontece aqui é um trabalho direcionado para dois ou três profissionais na
tentativa de se fazer humanização, mas ele esbarra, porque não há uma adesão de toda equipe
de profissionais. Tudo no papel é muito lindo seria melhor se de fato fosse executado”.
3- “O meu trabalho como de toda equipe de saúde é um trabalho sofrido, o assistente
social é uma pontinha mais sofrida ainda, porque, por mais que ele esteja há muitos anos no
serviço de saúde, ele ainda é muito questionado, por se mostrar um trabalho pouco mensurável
quantitativamente, é um trabalho em que os profissionais estão o tempo todo tendo que explicar
o que é seu trabalho, falar, mostrar o que é nosso trabalho, mesmo assim há equipes que não
consegue visualizar, então nosso trabalho como trabalhador de saúde ainda precisa mais
refletido, aprofundado, e com mais ações concretas”.
4- “O serviço social, no meu entender, dentro de uma equipe multiprofissional de saúde,
ainda é o cantinho da humanização, é o profissional da escuta, o profissional do acolhimento,
ainda, dentre todos ao demais que fazem o serviço da saúde. Eu até brinco que aqui parece uma
delegacia, porque tudo vem pra cá. Então, dentre todos os demais profissionais que fazem o
serviço de saúde, é o serviço social o mais conscientes, o mais orientado para o aspecto da
humanização. Se não fosse o serviço social para acolher este usuário, pergunto: que seria destas
pessoas? O assistente social é um profissional sensível que tenta dentro das dificuldades do
trabalho fazer do pouco para que se venha afazer um trabalho humanizado, acolhedor, um
trabalho de escuta..., porque às vezes a pessoa não quer nada, só quer a escuta, e de modo geral
a equipe de saúde não quer escutar”.
5- “Eu sugiro um trabalho de organização de equipe, de forma hierárquica, não no
sentido de poder, mas no sentido de seguir um fluxograma. Porém trata-se de uma equipe
sensibilizada para o aspecto que diz respeito à humanização, que parte de uma postura de
gestão. Seria uma organização no sentido, como por exemplo, o usuário a chegar aqui, ele
passaria pela portaria, para daí em diante ter acesso aos demais serviços da instituição.”
74
“Eu reclamo por uma hierarquia, repito que não diz respeito a uma relação de poder,
essa hierarquia que eu me refiro é para que venha a funcionar aquilo que tem que funcionar,
uma condição de postura transversal que todo mundo tem seu valor, mas que deve assumir uma
postura de respeito uns os outros”.
“Pra mim o único instrumento de humanização na unidade eu só consigo, perceber no
serviço social com a escuta e o acolhimento.”
Aqui é uma situação muito difícil. A “equipe não é sensível e, nós do serviço social
ficamos trabalhando igual uma formiguinha...”.
Entrevista 3
1- “O trabalho na instituição, na enfermagem todo mundo conhece, tiro por mim, eu tenho
compromisso, eu gosto do que eu faço, eu não acho cansativo e.…até agora eu nunca tive
nenhum transtorno que eu possa falar no memento, eu trabalho aonde as pessoas já chegam
muito estressados, com aquela dor, a gente procura fazer com que os paciente mantenha a
calma, nós procuramos manter a calma diante do paciente para poder passar aquela segurança
pra eles, que já vem muito sofrido. Pra mim a gente trabalhar com amor a profissão ajuda muito
a passar isso para o paciente, a tranquilizá-lo. Então, o trabalho pra mim em saúde não é um
trabalho cansativo”.
2- “A humanização, eu percebo muito na participação do médico no dia a dia do
paciente, tanto dos médicos veteranos, quanto dos novatos, aqui os paciente são muito bem
atendidos, eu vejo no compromisso dos médicos com o paciente, junto com nossa participação
a humanização”.
3- “A valorização do nosso trabalho aqui não existe. Eu já trabalhei em alguns hospitais
particulares, onde já participei de processos de valorização, como o empenho da direção em
cursos de reciclagem com auxiliares, funcionário padrão do mês, eu recebi até a plaquinha.
Mas, aqui é raro. Alguma coisa que acontece aqui é da parte dos enfermeiros de imediato, aqui
ou acolá tem umas festinhas, umas faixas”.
75
4- “A valorização e reconhecimento que recebo no meu trabalho são apenas por parte
dos pacientes que nos elogia, este reconhecimento é mais fácil vir dos pacientes, e com isto eu
me sinto gratificada”.
5- “Eu não falo num sentido de parabenizar, eu falo num sentido de criar meios de
crescimento do profissional de enfermagem, algo que pudesse aprimorar o profissional, para
que ele não fique só naquilo dali que ele faz. Algo que lhe traga uma progressão, tipo mais
reciclagem. Há algum tempo houve um curso bem interessante de relações pessoais, a prefeitura
disponibilizou e nós fomos até uma faculdade e realizamos o curso, mas o que seria interessante
seria um auditório aqui mesmo, assim seria mais fácil a participação dos colegas”.
“Compromisso pra mim no meu trabalho é tudo”
Entrevista4
1.“O trabalho em si é estressante.....”
“Os trabalhadores uns cooperativos, outros não....
Alguns trabalhadores conseguem trabalhar direito, outros...tem muita dificuldade.”
“Nosso trabalho aqui é com a com a comunidade em aberto, então, nós fazemos todo tipo
de atendimento: clinico, cirúrgico, e traumatológico, com isso lidamos com vários tipos de
violência como tiros, facadas, acidentes...”
“Quando eles (pacientes) chegam na unidade, nós ainda corremos risco de vida. Isso
torna nosso serviço mais estressante. Primeiro, pela sobrecarga de trabalho, mais as ameaças de
receber a vítima de violência e em atendimento se tornar alvo daqueles que tentam matar”.
2. “Eu percebo aqui a humanização deficiente, muito deficiente. Apesar de muita gente
falar sobre humanização e outros não tem o conhecimento do processo de humanização, não
saber, e nem querer se aprofundar sobre o assunto, dificulta ainda mais nosso trabalho. Deixa a
parte humana e da humanização bem longe do profissional, tornando o trabalho mais
estressante. E isto é por toda a equipe: médicos, enfermeiros, técnicos, a equipe toda...algumas
76
vezes o próprio profissional esquece que é humano. Quem é humano não trata o outro com
desumanidade”.
3. “Para que meu trabalho possa ser valorizado, eu percebo que é só a partir de um
trabalho em grupo, tratando os pacientes e os outros profissionais, resolvendo as situações do
momento, me dedicando e trabalhando, porque gosto do meu trabalho. Quando você gosta do
que faz e percebe a pessoa humana como parte do seu trabalho tudo é mais diferenciado, o
serviço anda melhor, a equipe se organiza melhor.”
“O trabalho do enfermeiro diante de muitas situações e intercorrência ela é a cabeça,
o médico, avalia e medica. Quem faz todo cuidado e atendimento é a equipe de enfermagem,
então se você não tiver ajuda e o apoio da equipe, independente de qual seja a equipe, aquela
assistência pode se tornar uma assistência a desejar”.
4. “As ações de valorização que posso perceber no meu trabalho são quando um
acompanhante ou paciente diz: “muito obrigado”. Isto é raro, mas as vezes acontece...porque
eles são acostumados a nos chamar de rapariga, baitola, prostituta, vagabunda... Quando um
paciente ou acompanhante sai, e diz muito obrigado, Deus lhe abençoe, aíé muito gratificante
eu me sinto valorizada”.
5 – “Implantação de uma triagem, para mostrar o que é humanização. Eu indicaria cursos
de atualização em humanização, mostrar a realidade, como o trabalho acontece. Com certeza
muita gente iria se conscientizar e com certeza o trabalho melhoraria”.
Entrevista 5
1 –“Olha o trabalho aqui no Frotinha é muito desarticulado, desgastante, sem reconhecimento,
é muito solto. É muita cobrança e nenhum reconhecimento. Eu já trabalho aqui há 22 anos e
nunca alguém da direção, da gestão chegou pra mim e falou sobre a importância do meu
trabalho. Nunca houve qualquer espécie de reconhecimento.
O trabalhador com todo esse abandono, com certeza vai se tornar um trabalhador
insatisfeito, desestimulado. Aqui, a grande maioria dos trabalhadores só trabalha porque gosta
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daquilo que faz. Porque nunca houve estimulo de nenhuma espécie. No meu outro emprego,
que é no Estado. Tem cursos, têm elogios, várias formas de reconhecimento, eu me sinto feliz
em trabalhar num lugar assim. Aqui convivemos com toda espécie de pacientes, vítima das
ruas, vítimas de violência, do abandono, então nosso estimulo é apenas o de oferecer o melhor
que podemos dar para estas pessoas”.
2- “É o que eu acabei de dizer.... aqui não se fala em humanização. O que eu conheço
sobre humanização e o que eu vejo no meu outro trabalho. Aqui eu nunca ouvi falar sobre
humanização. É sempre a mesma coisa, você vem trabalhar, realiza seu trabalho, e vai embora,
e depois é a mesma coisa... e depois... e depois...”.
3 – “A valorização na saúde é inexistente. eu não consigo visualizar nada que eu
possa conceituar como atitude de valorização. É aquela coisa... a gestão cobra você trabalha...as
vezes até um trabalho sobrecarregado, mas a contrapartida de reconhecer o trabalhador e
valorizar e bem difícil... bem difícil...”.
4- “A única coisa em que eu posso perceber como atitude de valorização no meu
trabalho são a s atitudes dos usuários, quando eles conseguem reconhecer que nosso trabalho
foi satisfatório, aí eles agradecem e se sentem satisfeitos pela assistência dispensada. Eu
percebo aí alguma forma de reconhecimento e valorização”.
5- “Olha eu só penso em humanização quando eu imagino o HEMOCE…é a
implantação de cursos, retorno financeiro adequado, reconhecimento de seu trabalho por parte
da gestão e maior interação entre os trabalhadores”.
Entrevista 6
1- “Os trabalhadores aqui são dedicados, contudo, a falta de capacitação e as cobranças
excessivas distancia a assistência e compromete o trabalho”.
2- “A humanização se realiza de uma forma participativa, promovendo o bem para
todos, inclusive o usuário”.
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3- “A valorização no trabalho compreende um trabalho em equipe, evitando
desagregação prejudicial ao trabalho”.
4- “Um trabalho participativo.”
5- “Cursos, compreensão por parte da equipe, participação, consciência sobre a
qualidade do trabalho dispensado à população”
Entrevista 7
1- “O trabalho na saúde tem se deteriorado muito. Com o decorrer dos anos esse
trabalho (de médico) se tornou uma atividade muito valorizada, muito respeitada, e realmente
houve uma mudança em relação a qualidade dos serviços em relação a satisfação dos
trabalhadores, de pacientes, no valor da remuneração...”
“Apesar da ciência e da medicina ter evoluído, por outro lado a população aumentou
muito. Há vinte anos você tinha um número x de usuário, hoje essa população é
significativamente maior, e o padrão de atendimento das emergências continua a mesma com
dois, ou três médicos, a quantidade de enfermeiras é a mesma, estrutura física é a mesma. No
Frotinha da Parangaba hoje, a estrutura é a mesma de 20 ou 30 anos atrás. A mesma estrutura,
a mesma coisa, pouca coisa realmente mudou as necessidades da população, eu diria,
quadruplicou, tanto na necessidade quanto no modelo de atendimento. A complexidade dos
pacientes, que hoje frequentam o hospital, é de pacientes bem mais complexos, pacientes
vítimas de acidentes de trânsito, cirúrgicos graves”.
“Hoje você tem o perfil de um hospital que antigamente era um hospital de periferia
que atendia coisa do cotidiano, hoje é um hospital que recebe uma demanda especializada.
Então realmente isto mudou. Por outro lado a estrutura é a mesma. Poucos profissionais, sem
concurso público, falta médicos, enfermeiras, as poucas que estão trabalhando, trabalham
sobrecarregadas, técnicos sobrecarregados. Então tudo isto torna o trabalho desgastante. Você
não vê a instituição melhorar. A gente representa a instituição, mas a instituição também tem
que lhe dar um nome, oferecendo boas condições de trabalho, condições para você progredir
em sua profissão, condições para você prestar um melhor atendimento, e não aumentar o
número de pacientes com apenas dois médicos numa emergência, uma grande carência”.
79
“Em relação aos trabalhadores eu percebo uma grande insatisfação, principalmente nas
condições de trabalho, na sobrecarga de pacientes e na remuneração. Realmente a remuneração
é muito ruim. Uma remuneração muito ruim para um trabalho desgastante, você ...veja o pessoal
da limpeza, fica o tempo todo limpando fezes, vomito, limpando cama, maca hospitalar, em
condições insalubre. Essas pessoas precisam ter uma remuneração digna, condições de trabalho
digno”.
2- “Para que eu possa atender alguém de modo humanizado, eu preciso estar
humanizado, para que eu possa estar humanizado eu preciso estar com condições favoráveis,
quer dizer eu preciso estar bem comigo, com minha remuneração, com a quantidade de
pacientes que eu tenho que atendo, eu tenho que ter uma instituição que ofereça suporte para o
atendimento, isso gera consequentemente um atendimento humanizado.”
“A medicina tem andado na contramão, tem se investido muito na instituição cientifica,
em tijolo e parede e tem deixado de investir nas pessoas. A enfermeira que ganha bem, o médico
que ganha bem e tem uma estrutura de trabalho bom, um repouso digno, uma alimentação boa,
condições de atendimento favorável, automaticamente ele vai prestar um atendimento de
melhor qualidade. Agora você ter que tratar alguém com fidalguia, você sendo maltratado, com
seu salário atrasado ai.....nem o Papa Francisco”.
3- “Meu trabalho, como quase todas as pessoas eu acho o mais importante do mundo,
assim como todos os outros profissionais deve perceber seu trabalho o mais importante do
mundo. Meu trabalho é aquilo que me dar prazer, aquilo que faz com que eu possa me
reproduzir socialmente, é quem possibilita o sustento de minha família”
5- “Nenhuma.... Porque eu não vejo investimento no indivíduo, não é servido uma boa
comida no almoço, não vejo um bom consultório, uma organização no atendimento. O
que eu vejo é uma sobrecarga de trabalho. É sempre mais, sempre mais, sempre tem que
atender mais.”
“O que eu percebo é uma via de mão única. Não vejo nada de positivo. É preciso
que haja um incentivo, financeiro, de conforto, de organização de controle de pacientes”.
80
5- “Melhorar a remuneração, limitar o número de atendimentos, direcionar os
pacientes de cada unidade para sua unidade especifica. (Aquele que é de atendimento primário
que seja encaminhado para o atendimento primário, o que for secundário do mesmo jeito e aí
por diante.) dar liberdade a gestão para utilizar os recursos financeiros. Não mais se admite que
para se comprar um balde lixo é preciso uma novela de uma licitação que dura uns três meses”.
Entrevista 8
1- “O trabalho na instituição é um trabalho desgastante pelo perfil de pacientes que
lidamos diariamente, pessoas vítimas de violência urbana: facadas, tiros, acidentes. Então a
partir dessa demanda já provoca um estresse natural nos profissionais.Por outro lado nem
sempre as equipes estão afinadas para desenvolver este trabalho, trabalhando juntos, trocando
experiências…”
“O trabalhador do Frotinha, pelo menos no serviço social, eu percebo como pessoas
comprometida com o seu trabalho, com sua categoria no sentido de realizar um trabalho de
qualidade, mas cada um realiza ali aquela tarefa de modo individual. Eu vejo profissionais com
grande capacidade e trabalhando com muito prazer na unidade”.
2- “A humanização se realiza a partir de uma interação entre os sujeitos, a
humanização seria aquilo que provocaria essa articulação entre as várias equipes de
profissionais. No Frotinha é difícil...não tem nenhum projeto, nenhum meio que eu possa
perceber como essa humanização acontece. Porque a humanização se articula não só com os
profissionais, mas com o usuário e principalmente com a gestão. Eu já trabalho aqui há 09 anos
e nunca participei de uma reunião com a direção. Essa nova gestão então, eu só conheço de
ouvir falar.NUNCAVI...mas já houve, já aconteceu de diretor sair de casa e vir no Frortinha
final de semana, à noite para resolver problemas, principalmente quando não tem médico”.
3- “Cada profissional têm seu valor, como categoria profissional, como participante
desse processo de promoção de saúde. As gestões custam em reconhecer este valor, tanto no
sentido do reconhecimento, daquele trabalho realizado, quanto no sentido financeiro”.
4- “Da parte da gestão nada acontece, os profissionais buscam soluções para as situações
ali, na hora,não há um planejamento. Só nós profissionais, eu consigo mensurar alguma forma
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de valorização, mas cada um valorizando seu trabalho individual. No serviço social há um
esforço constante no sentido de promover um trabalho humanizado.”
5- “Uma gestão com participação dos trabalhadores, dos usuários, um trabalho
articulado entra as várias categorias para proporcionar melhor resultado nos atendimentos
dispensados a população”.
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ANEXOS
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
Convidamos o Senhor (a) para participar da Pesquisa A Política Nacional de
Humanização no eixo que envolve a valorização do trabalhador em saúde, sob execução dos
(as) pesquisador(as) Maria José de oliveira (participante) e Flaubênia Maria Girão de Queiroz
(responsável), a qual pretende analisar a Política Nacional de Humanização do SUS em um
hospital municipal de Fortaleza, no eixo que envolve os profissionais de saúde.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista semi-estruturada, que
consiste em respostas a perguntas apresentadas ao Senhor (a) pelo pesquisador. A entrevista
será realizada no Hospital Frotinha de Parangaba, com duração aproximada de 20 minutos, no
dia previamente marcado, de acordo com a sua disponibilidade. Os depoimentos desta
entrevista serão gravados com autorização.
Não há riscos decorrentes da sua participação e o (a) Sr (a) possui a liberdade de retirar
sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do
motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e nem ao seu trabalho na Instituição. Se o(a) Senhor
(a) aceitar participar, estará contribuindo com o entendimento da Política nacional de
Humanização no eixo que envolve a valorização do trabalhador em saúde em um hospital
municipal de Fortaleza.
Ressaltamos que tem o direito de ser mantido (a) atualizado (a) sobre os resultados
parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, será comunicado dos resultados
finais. Não há despesas pessoais para o (a) participante em qualquer fase do estudo. Também
não haverá compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa
adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa.
Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados somente para esta
pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será
divulgada, sendo guardada em sigilo. Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os
pesquisadores para o esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização
dos dados coletados com a entrevista: Flaubênia Maria Girão de Queiroz, fone: (85) 88573188
e Maria José de Oliveira, pelo fone: Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética
da pesquisa também pode entrar em contato com: Hospital São José, Site
http//www.hsj.ce.gov.br e E-mail: hsj.ce.gov.br.
.
83
Consentimento Pós–Informação
Eu, ___________________________________________________________, fui informado sobre
o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu
concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este
documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via
com cada um de nós.
________________________________________ Data: ___/ ____/ ____
Assinatura do Participante
__________________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável
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