Espao Amerndio, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 127-150, jan./jun. 2015.
A EXPERINCIA PRXIMA: SABER E CONHECIMENTO EM POVOS TRADICIONAIS1
DANIEL DOS SANTOS FERNANDES2
FAINTIPI
JOS GUILHERME DOS SANTOS FERNANDES3
UFPA
RESUMO: Trata-se, aqui, de relacionar os conceitos de saber e conhecimento como formas
complementares de organizao do pensamento humano, que devem ser priorizados conforme a
natureza da pesquisa ou do objeto a ser apreendido, variando o termo conforme a abordagem e
a concepo de cincia a ser priorizada. Privilegiando-se o concepto de saber, como parte
intrnseca da experincia prxima em povos tradicionais, apresentam-se caractersticas do modus operandi e da natureza do saber, alm de se vislumbrar a aplicao dessa conjuno de formas de pensamento para a construo de uma sociedade do Bom Viver. Priorizam-se as
teorias de DaMatta (2010), Lvi-Strauss (1997), Geertz (1997 e 2005), Gramsci (1931 e 1991),
Escobar (2012) e Foucault (2007) para dar suporte aos conceptos.
PALAVRAS-CHAVE: saber; conhecimento; povos tradicionais; interculturalidade;
experincia.
ABSTRACT: In this paper we connect the concepts of knowing and knowledge as complementary forms of organization of human thought, which should be prioritized according
to the nature of the research or the object to be grasped, varying the word according to the
approach and conception of science to be prioritized. Favoring the concept of knowing, as an intrinsic part of the "close experience" to traditional peoples, we show characteristics of the
modus operandi and the nature of the "knowing", envisaging the application of this combination
of thought methods for building a society of Bom Viver. Theories of Da Matta (2010), Levi-Strauss (1997), Geertz (1997; 2005)), Gramsci (1931; 1991), Escobar (2012) and Foucault
(2007) are used to support the concepts.
1 Este texto no se configura como um trabalho etnogrfico estrito. A partir das experincias em campo
dos autores, em estudos e investigaes em comunidades pesqueiras e ribeirinhas das microrregies do
Baixo Tocantins, Salgado e Bragantina, no Estado do Par (Brasil), no perodo de 2000-2014, pretende-se
o desenvolvimento de reflexes de carter mais terico acerca dos conceptos de saber e conhecimento,
sem, no entanto, deter-se em exaustivas descries e narraes etnogrficas, o que no apangio da
proposta. Vide Fernandes (2007 e 2011) e Fernandes e Silva Jnior (2015). 2 Professor e Coordenador de Pesquisa das Faculdades Ipiranga (PA), Doutor em Antropologia
(Universidade Federal do Par, 2008), Associado Efetivo da Associao Brasileira de Antropologia. E-
mail: [email protected] . 3 Professor Associado da Universidade Federal do Par (UFPA), Coordenador de Pesquisa do Campus
Universitrio de Castanhal (UFPA), Doutor em Letras (Universidade Federal da Paraba, 2004), Ps-
Doutorado na Universidad Nacional de Tres de Febrero (Argentina, 2014), Associado Colaborador da
Associao Brasileira de Antropologia. E-mail: [email protected] .
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KEYWORDS: knowing; knowledge; traditional peoples; interculturalism; experience.
Saber: ter conhecimentos especficos; estar convencido de; ter certeza de (coisas presentes e
futuras); prever, pressentir; ter habilidade de; poder explicar, compreender; guardar na memria; indagar, perguntar; julgar, considerar, ter como.
lat. sapio, ere ter sabor, ter bom paladar, ter cheiro, sentir por meio do gosto, ter inteligncia, ser sensato,
prudente, conhecer compreender (HOUAISS, 2012, n.p.).
Conhecimento: o ato ou a atividade de conhecer, realizado por meio da razo; ato ou efeito de apreender
intelectualmente, de perceber um fato ou uma verdade; fato, estado ou condio de compreender;
entendimento. lat. cognosco, cognoscere aprender a conhecer, procurar saber, tomar conhecimento de, reconhecer (HOUAISS, 2012, n.p.).
Em fins dos anos noventa, do sculo XX, registramos, por ocasio
de pesquisa de campo na cidade de Marapanim4, zona do Salgado
Paraense, a histria supostamente vivida por dois pescadores da regio
Azevedo e Saboia que relataremos sucintamente: Azevedo e Saboia
resolveram pescar e foram tapar um igarap. Quando a mar secou,
notaram um boto dentro da cerca. Azevedo tentou matar o boto, mas
foi impedido por Saboia. Saboia o alertou do perigo que era ferir um ser
mtico. Azevedo desconsiderou o alerta e desdenhou da crena,
tentando atingir o boto com duas facadas. A primeira acertou o cetceo,
mas a segunda facada resvalou e atingiu a coxa de Azevedo. Azevedo
teve paralisia imediatamente. Saboia foi buscar socorro, retornando e
levando Azevedo. Os pajs foram chamados para salv-lo. Nada deu
resultado positivo e Azevedo morreu em menos de vinte e quatro horas
depois do ocorrido.
4 Narrativa coletada no decorrer do trabalho de campo, em municpio de economia pesqueira, no litoral
amaznico paraense, sendo constituinte da dissertao de Jos Guilherme dos Santos Fernandes,
Largueza e lassido: a mitopotica do espao das guas (1998).
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Uma narrativa aparentemente banal, com teor fantstico, pois no
se sabe bem ao certo o que teria provocado a morte de Azevedo: um
descuido no manejo da faca ou uma transgresso a uma interdio local
da cultura cabocla amaznica? Se ficarmos no foco intratextual, do
estabelecimento de uma pretensa verdade axiomtica a partir da
narrativa, talvez no cheguemos a lugar nenhum, pois quase sempre
somos tentados a explicar algo mediante o conhecimento que temos
desde nossa cultura o que podemos entender como etnocentrismo
em detrimento de procurar-se entender a lgica da cultura do outro.
Mas optamos no por fazermos elucubraes de base epistemolgica
centradas numa possvel verdade que o texto instala, e considerando
unicamente o foco de que o texto instaura a Verdade universal e
atemporal; do contrrio, buscamos a compreenso considerando as
relaes intertextuais e, por que no dizer, interculturais. Assim que,
para estarmos convencidos de que a aparentemente banal narrativa
poderia nos dizer muita coisa relativa a um conhecimento especfico,
guardado na memria local, intentamos comparar, ou melhor,
estabelecer homologias entre culturas em que a prtica pesqueira
organizadora da sociabilidade imediata.
Ora, entre as populaes5 pesqueiras do litoral amaznico, por
sinal altamente piscoso, em razo da larga faixa costeira de
manguezais, notria, na observao da paisagem martima pelos
pescadores, a habilidade de reconhecer de que onde h boto h
cardumes, pois o golfinho amaznico se desloca atrs de alimento em
fartura, e, de longe, ao corrermos os olhos pela paisagem, possivel
enxerg-lo em seus movimentos sinuosos e acentuada velocidade.
Onde a pesca no dispe de alta tecnologia, como instrumentos de
localizao, a exemplo de sonares e GPS, o que vale a habilidade para
julgar o que a viso registra e a memria ratifica pelo acmulo de saber
de geraes. De modo diferente, em sociedades em que a escolarizao
para a profissionalizao mais recorrente, as atividades de captura,
manuseamento e processamento do pescado requerem conhecimentos
especializados, como o caso de Portugal, em que os conhecimentos da
pesca devem estar inscritos no Catlogo Nacional de Qualificaes,
5 Aqui, utiliza-se o termo populaes, pois queremos nos referir a um recorte generalista acerca de um pblico especfico, os indivduos que desenvolvem uma atividade de trabalho determinada, a pesca.
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como atividades de marinheiro/a6, sendo frequente no trabalho destes
pescadores a intermediao de instrumentos (GPS, sonares, telefonia
satelital, etc.) e a aplicao de conhecimentos especializados, da que no
perfil profissional haja a necessidade de conhecimentos sobre ingls
tcnico, tcnicas de planejamento e organizao do trabalho e gesto de
recursos pesqueiros, s para termos exemplos das competncias
exigidas e que so frutos de conhecimentos escolarizados. A
Classificao Brasileira de Ocupaes, do Ministrio do Trabalho e
Emprego, em sua Listagem das Profisses Regulamentadas, discrimina o
Pescador Profissional (n 50), mas extremamente concisa na descrio,
unicamente referindo-se aos diversos atores na pesca e o tipo de
pescado que capturam, alm de dizer que so responsveis por
construirem, manterem e conduzirem as embarcaes, o que torna o
documento brasileiro bem aqum do parente lusfono.
No Brasil, em especial, o trabalho da pesca tem implicado em uma
diviso para alm de discriminao de domnios de conhecimento. A Lei
11.959/2009, que dispe sobre a Poltica Nacional de Desenvolvimento
Sustentvel da Aquicultura e da Pesca, em seu artigo 8, discrimina dois
tipos de pesca: a pesca comercial e a no comercial. No entanto, este
recorte unicamente econmico tem levado a inconsistncias do ponto de
vista cultural e, consequentemente, de saberes e prticas. Ora, como
incluir em grupos distintos a pesca artesanal e a pesca de subsistncia,
conforme o artigo da lei preconiza? Unicamente porque a primeira visa o
lucro e a segunda no? Mas as duas so, reconhecidamente, atividades
familiares e que implicam tambm em consumo domstico, ou seja,
desconsidera-se a dinmica socioantropolgica das prticas e saberes
das comunidades pesqueiras tradicionais, exatamente porque a lei
construda sobre uma base estritamente economicista e de lgica
citadina, sem observar que a sazonalizade nas atividades pesqueiras
implica em ocupaes distintas do ribeirinho ou do pescador costeiro
conforme as estaes da natureza e conforme regimes de mars e
chuvas. Acreditamos que a melhor compreenso desta condio do
6 Ver mais em: . O Catlogo Nacional de Qualificaes,
de Portugal um instrumento de gesto estratgica das qualificaes nacionais de nvel no superior,
apresentando referenciais de qualificao nicos para a formao de dupla certificao (formao de
adultos e formao contnua, numa primeira fase) e para processos de reconhecimento, validao e
certificao de competncias (RVCC).
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pescador pode ser mais evidenciada tambm quando da discusso do
que seja saber e conhecimento. Alm do que, associando-se o saber
tradicional das comunidades com o conhecimento escolarizado, poder-
se-ia promover mais adequadamente o que a lei distingue como
desenvolvimento sustentvel da atividade pesqueira (artigo 7), que
implica, dentre outros fatores, em educao ambiental e capacitao da
mo de obra do setor pesqueiro. Por sinal, as questes de preservao
ambiental e sobrexplorao dos espaos de pesca so bem recorrentes
nas comunidades pesqueiras, uma vez que, com a instituio de
reservas extrativistas marinhas pelo governo federal, existe grande
temor no meio destas comunidades em relao a proibies apontadas
pelos planos de manejo. Acreditamos que se houver a interao entre os
saberes tradicionais e os conhecimentos escolarizados ocorrer melhor
compreenso da situao. Mas para tanto, necessrio minimamente
acercar-se destes conceitos.
E acercar-se dos conceitos implica em termos compreenso da
natureza do saber, que se d luz tambm pela construo da narrativa
mtica. Portanto, o que a narrativa mtica do Boto, acima, pode nos
conferir, para alm de sua verdade mtica localizada, a verdade de
que carrega um saber pragmtico e adaptado realidade que o
circunscreve: saber narrativo que se impe pela Interdio7, trazendo
em seu discurso a marca da proibio ancestral que impe o que se
deve ou no fazer naquela sociedade costeira da Amaznia; por tal
efeito, organiza-a. A proibio, assim, consiste no impedimento de os
profanos se relacionarem com seres animados, objetos ou lugares
determinados, ou mesmo, daqueles se aproximarem destes, pelo
carter sagrado dos ltimos, do contrrio os profanos podem sofrer
consequncias, os castigos divinos. No entanto, transgredir um interdito
revela a relao entre transgresso e tabu uma vez que
transgredir, longe de ser uma provocao ao sagrado, serve para reforar o poder poltico do mito. As
7 Dundes, em Morfologia e estrutura do conto folclrico (1996), lembra-nos que a interdio o leit
motive das narrativas mticas folclricas, pois exatamente servem de freio aos desejos individuais que, por
vezes, desestabilizam os valores em uma sociedade tradicional. As narrativas principiam exatamente em
razo do Desejo do indivduo provocar uma Carncia, e ao procurar-se Reparar a Carncia o sujeito faz a
Violao de uma Interdio, concorrem para a narratividade que passa a existir e que gera as vrias
narrativas mticas.
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narrativas tm o compromisso de lembrar ao seu usurio esse poder: balizando os limites do permitido e
do proibido, os desejos podem ser policiados (FERNANDES, 1998, p. 103).
Por isso, o saber narrativo talvez a principal forma de
objetividade de saberes locais.
Sendo relativo a uma localidade, de outro modo nada impede que
este saber possa e deva estar em dilogo com o conhecimento mais
universal e cientfico: algumas vezes estruturando homologias, em
possveis tradues; outras vezes sendo unicamente aplicvel
realidade que o produz, pois nem sempre possvel traduzir-se, j que
existem limites para a traduo entre culturas e a interculturalidade
requer que saibamos que h elemento intracultural em cada saber
isolado e posto em contato, que parte da estrutura do pensamento do
grupo social, e isso, muitas vezes, intraduzvel para outro grupo
social.
A narrativa de Azevedo e Saboia nos ajuda a refletir sobre saber e
conhecimento, em perspectiva intercultural e dilogo profcuo entre
cincias distintas, mas no intangveis: uma cincia da tradio, de
inscrio mais mtica e local, e uma cincia do moderno, de inscrio
mais abstrata e universal. Mas o que poderia ser uma complementao
entre estas formas do saber acaba por marcar distines e, por vezes,
desigualdades, refletidas em discursos valorativos, em que a
universalidade da cincia pretere qualquer outra forma de
conhecimento localizado. Para Mato,
podemos observar que las prcticas y discursos de una
gran cantidad de investigadores, instituciones de investigacin y formacin acadmica, y organismos de formulacin de polticas de ciencia se asientan cuando menos implcitamente en la idea de que la ciencia (como modo de produccin de conocimientos) y el
conocimiento cientfico (como acumulacin de conocimientos producidos cientficamente) tendran validez universal. Es decir, resultaran verdaderos y aplicables en cualquier tiempo y lugar () En el marco de esa visin del mundo, la otra clase abarcara a una
amplia variedad de tipos de saber, de modos de produccin de conocimiento y sus resultados, a los cuales, en contraposicin con el saber universal de la ciencia, suele caracterizarse segn los casos como
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tnicos o locales, siempre como saberes particulares y por lo tanto no universales (MATO, 2008, p. 102).
No se pode negar a necessidade de aplicao de epistemologias
comuns no mundo contemporneo, em razo de que todas as
sociedades, em maior ou menor grau, partilham de interesses comuns
em relao a segmentos da vida, que devem estar minimamente
equalizados para que no haja discriminao e marginalizao sociais;
interesses tais como cuidados mdicos bsicos, condies de
habitabilidade, acesso informao e comunicao, sustentabilidade
dos ecossistemas, direitos individuais, tolerncia e incluso, dentre
outros. De outro lado, o atendimento a esses interesses comuns pode
variar de sociedade para sociedade, gerando formas de saber distintas,
pois
de distintas formas, todos los conocimientos, el
cientfico, lo mismo que cualquier otro, estn marcados por los contextos sociales e institucionales en que son
producidos. Por eso, la valoracin y evaluacin de los resultados de cualquier forma de produccin de conocimiento debe hacerse tomando en cuenta esas
condiciones de produccin (MATO, 2008, p. 106).
Ilustrativos desse tensionamento e complementao entre grupos
tnicos e sociais, os conceitos de saber e de conhecimento implicam
vises e prticas distintas na relao sujeito e objeto de apreenso.
notvel que a palavra conhecimento implica em distanciamento maior
entre sujeito e objeto, relao esta que tambm no considera, mais
precisamente, o contexto de uso e habilidade especfica de aplicao do
saber/conhecimento. Saber, de outro modo, exige maior participao
do sujeito na apreenso do objeto, da envolver propriamente o corpo e
seus sentidos: sabor, paladar, cheiro, gosto. Conhecimento est mais
ligado capacidade de cognio (pensamento e reflexo abstrata),
enquanto o saber envolve, alm desta capacidade, o afeto e a volio:
em particular, esta capacidade implica em escolher e decidir, em
conduta consciente, por certa orientao e prtica (ou pragmatismo?).
Evidentemente, ao se tratar de escolha consciente, queremos atentar
no para uma conscincia positivista (estritamente cognoscente), mas
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sim escolha por aquilo que se considera senso comum em dada
realidade, ou comunidade. Ou, como diria Gramsci (1931),
espontaneidade e direo consciente, isto , sentimentos formados
mediante a experincia cotidiana de sentido comum, sem o carter de
atividade educadora sistemtica, por um grupo dirigente e de
intelectuais especializados, no entanto sem ser mero instinto, pois
espontaneidade e direo consciente so aquisies histricas, mesmo
que elementares.
Devemos entender, entretanto, que as distintas percepes e
prticas entre estes atos do aprendizado no devem ter carter
valorativo, como se um fosse superior ou excludente em relao ao
outro. Antes de tudo, devemos compreender que so formas de
apreenso e construo de realidades em perspectivas distintas e, por
isso, tm diferentes situaes de aplicabilidade. Nessa perspectiva, h
de se considerar que o conhecimento est mais vinculado ao concepto
de cincia natural:
A matria-prima da cincia natural, portanto, todo o conjunto de fatos que se repetem e tm uma
constncia verdadeiramente sistmica, j que podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos dentro de condies de controle razoveis, num laboratrio
(DAMATTA, 2010, p. 19).
Testar as teorias indefinidamente requer que haja o
distanciamento necessrio entre sujeito e objeto, mesmo porque a
repetitividade garante que o teste seja realizado por dois ou mais
sujeitos, em contextos diversos e perspectivas opostas. Do mesmo
modo, isso no ocorre com a natureza do saber, mais ligado s cincias
humanas e sociais, uma vez que estas requerem a compreenso da
(inter)subjetividade do participante, em circunstncias de causalidade e
determinao especficas:
A matria-prima das cincias sociais, assim, so eventos com determinaes complicadas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados tendo, por causa
disso, a possibilidade de mudar seu significado de acordo com o ator, as relaes existentes num dado
momento e, ainda, com sua posio numa cadeia de eventos anteriores e posteriores (DAMATTA, 2010, p.
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20-21).
Portanto, o termo saber est mais afinado com as prticas das
cincias humanas e sociais, marcadamente em contexto de pesquisas
etnogrficas e socioambientais, enquanto que conhecimento se
adequa mais ao conhecimento dito das cincias naturais,
particularmente na perspectiva laboratorial. Ademais, o primeiro termo
envolve mais amplamente a palavra conhecimento:
algumas lnguas, tais como, portugus, espanhol, francs e alemo, a mesma ser utilizada num sentido
muito mais amplo que a palavra conhecimento. A palavra conhecimento refere-se a situaes objetivas e
tericas que, sistematizadas, do lugar cincia, o que de certa forma, nos confunde, porque cincia procede do verbo scire que significa saber. Enquanto que a
palavra saber pode referir-se a situaes tanto objetivas como subjetivas, tanto tericas quanto
prticas. como se a palavra conhecimento coubesse dentro da palavra saber e no o contrrio (MOTA,
PRADO e PINA, 2008, p. 112-113).
O certo que o uso de um termo ou de outro tem a ver
visceralmente com a natureza da pesquisa ou do objeto a ser
apreendido, variando o termo conforme a abordagem e a concepo de
cincia a ser priorizada. Em nosso particular, estas notas tm a ver mais
precisamente com pesquisas de campo viabilizadas junto aos povos
tradicionais, a ser visto no prximo tpico.
1. Povos tradicionais e saberes
O termo populaes tradicionais notabilizou o saber de grupos
at ento no reconhecidos como portadores de acmulo de
informaes especializadas, e transmitidas mediante a experincia
ancestral. Diegues, em 1994, frente do Ncleo de Apoio Pesquisa
sobre Populaes Humanas e reas midas do Brasil (NUPAUB), foi um
dos primeiros investigadores que caracterizou, no pas, as populaes
tradicionais, em seu livro O mito moderno da natureza intocada (2002),
sendo as caractersticas referenciadas, inclusive, pelo Instituto Brasileiro
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do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (Ibama) em sua
pgina acerca de reservas extrativistas
(http://www.ibama.gov.br/resex/pop.htm), que ainda se mantinha em
2009. Naquele momento, dentre as caractersticas elencadas pelo
pesquisador para as culturas tradicionais, cabe destacar a referncia ao
que poderemos indiciar como saber: conhecimento aprofundado da
natureza e de seus ciclos que se reflete na elaborao de estratgias de
uso e de manejo dos recursos naturais. Esse conhecimento transferido
de gerao em gerao por via oral (DIEGUES, 2002, p. 89). Mas desde
o Decreto 6.040/2007, que institui a Poltica Nacional de
Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais
(PNPCT), o termo que passou a se firmar foi povos e comunidades
tradicionais, ao invs de populaes tradicionais. Assim o Decreto os
discrimina, em seu artigo 3, inciso I:
Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas prprias de organizao
social, que ocupam e usam territrios e recursos naturais como condio para sua reproduo cultural,
social, religiosa, ancestral e econmica, utilizando conhecimentos, inovaes e prticas gerados e transmitidos pela tradio.
Para alm de uma escolha legal, optamos pelo termo povos e
comunidades tradicionais pelo seguinte:
a) o termo populao tem um recorte de teor mais
socioeconmico, pois se aplica em situaes de relevncia numrica (o
quantitativo da populao de um pas). Por essa natureza mais genrica,
o termo utilizado com mais adequao ao conjunto de indivduos de
uma mesma espcie que ocupa uma rea especfica, o que denota a
no qualificao da espcie ou mesmo a desconsiderao da diversidade
que possa haver nesse grupo. Por ter um apelo mais estatstico,
populao se vincula mais a uma ordem jurdica, por isso mais utilizado
em investigao sociolgica e na cincia poltica. Alm de tudo, o termo
tem origem mais recente, proveniente do latim medieval (populato,nis
'populao, povo', de poplus,i 'povo'), quando se inicia a preocupao
com a organizao do Estado moderno, ou seja, advm do termo povo;
b) o termo povo tem origem mais remota, do lat. poplus,i
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'povo, multido, conjunto de indivduos que ocupa uma rea territorial',
o que denota o vnculo de coletivo a uma certa territorialidade, marcada
por lngua, histria, costumes, interesses e tradies comuns, em uma
palavra, uma identificao mais localizada, caracterizao esta mais
adequada ao conceito de povo tradicional. No demais dizer que o
termo povo mais adequado para o uso antropolgico, visto seu teor de
grupo tnico ou cultural, por mais que se deva ter o cuidado de
distinguir camponeses (mestios de toda ordem do campo e
trabalhadores rurais) de indgenas, pelo fato de os primeiros manterem
maior dependncia com as cidades para sua reproduo social,
econmica e cultural. Mas h de se perguntar: alm de indgenas no
contatados, como evitar um total isolamento em mundo globalizado? E
ser esta a grande questo? Essa questo tem apresentado nuanas
variadas, mas para este trabalho optamos em reconhecer que os povos
tradicionais incluem tambm os indgenas e afrodescendentes, pois para
efeito de nosso estudo no utilizamos parmetros de conservao
ambiental e sim de construes epistemolgicas de saberes. Em relao
ao termo comunidade, consideraremos que a unidade no conjunto
maior que povo, ou seja, comunidade ser considerada como a
organizao social adstrita a um determinado territrio (vila, aldeia, ou
seja, ambientes antrpicos) em que o coletivo de indivduos se relaciona
por parentesco ou compadrio, respondendo pela forma mais
embrionria na escala social mais complexa. Mantm certa
homogeneidade nas atividades econmicas e nos estados de
pensamento (senso comum), e ao mesmo tempo apresenta relativa
autossuficincia de amplo lastro para suas necessidades, alm de
conscincia distintiva, que lhe garante uma identidade em grande parte
coesa (RAPPORT e OVERING, 2000).
Porque, em estudo e investigao que se queiram vinculados com
os povos e saberes tradicionais, nada mais vivel do que a utilizao do
termo saberes na consecuo da prtica e da reflexo acerca do agir e
pensar destes povos, algo prximo ao que Lvi-Strauss considerou
como a cincia do concreto, relativa aos mitos e ritos:
Longe de serem, como muitas vezes se pretendeu, obra
de uma funo fabuladora que volta as costas realidade, os mitos e os ritos oferecem como valor
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principal a ser preservado at hoje, de forma residual, modos de observao e de reflexo que foram (e sem
dvida permanecem) exatamente adaptados a descobertas de tipo determinado: as que a natureza autorizava, a partir da organizao e da explorao
especulativa do mundo sensvel em termos de sensvel. Essa cincia do concreto devia ser, por essncia,
limitada a outros resultados alm dos prometidos s cincias exatas e naturais, mas ela no foi menos cientfica, e seus resultados no foram menos reais
(LVI-STRAUS, 1997, p. 31).
Uma das caractersticas marcantes do que podemos compreender
como povos tradicionais a importncia de mitos e rituais associados
caa, pesca e a atividades extrativistas (vide a narrativa de Azevedo e
Saboia, que abre este texto), ou mesmo atividades estritamente
agrcolas, ou seja, s condies materiais de existncia e sobrevivncia
de dado grupo social, sem se descuidar do entendimento de
dependncia e simbiose com a natureza, com os ciclos naturais e os
recursos naturais renovveis a partir do qual se constri um "modo de
vida". Este caracterizado pelo saber aprofundado da natureza e de
seus ciclos, o que se reflete na elaborao de estratgias de uso e de
manejo dos recursos naturais (DIEGUES, 2002), o que caracterizaria uma
experincia prxima:
experincia prxima , mais ou menos, o que algum um paciente, um sujeito, em nosso caso um informante usaria naturalmente e sem esforo para definir aquilo que seus semelhantes veem, sentem,
pensam, imaginam etc. e ele prprio entenderia facilmente, se os outros utilizassem da mesma maneira
(GEERTZ, 1997, p. 87).
esta experincia prxima que fornece o amlgama de um saber,
que transferido de gerao a gerao privilegiadamente por via oral, a
partir da construo imaginria de cartografia (espacialidade das
experincias adquiridas), que fortalece a noo de territrio ou espao
onde o grupo se reproduz econmica e socialmente, alm de ocupar
esse territrio por vrias geraes, ainda que alguns membros
individuais possam ter se deslocado para os centros urbanos e voltado
para a terra dos seus antepassados.
A experincia prxima obriga, na prtica investigativa do saber,
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a uma aproximao entre o intelectual-pesquisador e o praticante-
usurio, em dada cultura, uma vez que, para considerarmos o saber
enquanto envolvimento sujeito e objeto, h de se ter em conta que o
investigador tambm parte de seu prprio objeto de pesquisa,
mediante a construo de uma dialtica intelectuais-massa. Por isso a
instituio, na etnografia moderna, do concepto de observao
participante, em que, por mais que se queira a ocluso do pesquisador,
a presena do Outro, reciprocamente reconhecida na interatividade
pesquisador-nativo, impossvel de ser obscurecida. Assim que o
prprio constructo de pesquisa etnografia, monografia, histria oral,
documentrios, etc. se vale da considerao de que um texto da
intersubjetividade e da interculturalidade: entre sujeitos em campo;
entre espaos e imaginrios distintos. Vale lembrar Clifford, quando
afirma que a autoridade experiencial est baseada numa sensibilidade
para o contexto estrangeiro, uma espcie de conhecimento tcito
acumulado, e um sentido agudo em relao ao estilo de um povo ou de
um lugar (CLIFFORD, 2011, p. 33).
2. Modus operandi do saber em povos tradicionais
Por tudo isso, no se pode entender que o saber desses povos
seja moldado pelo distanciamento entre sujeito e objeto, mas antes uma
conformao que os aproxime. Em nossas observaes participantes em
trabalhos de campo, pudemos perceber algumas caractersticas da
natureza do saber, que foram indiciadas a partir da observao do
modus operandi em comunidades praticantes de saberes de povos
tradicionais:
a) fuso entre sujeito e objeto;
b) uso de captaes sensoriais: qualidades sensveis e propriedades dos
objetos;
c) base instrumental no corpo, na performance e na oralidade;
d) vnculo com o local, o territrio e a paisagem, com observao
exaustiva e construo de inventrio sistmico;
e) organizao mimtica do mundo, ou seja, a narrativa, que funciona
como base do pensamento, estabelecendo propriedades comuns entre
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seres e coisas (homologia de formas, matrias e funes), em princpio
de nomeao metafrico;
f) uso pragmtico e espao-temporal especfico, ou seja, dado sistema
de problematizao especfico de uma realidade e de determinado
cotidiano;
g) conhecimento compartilhado, com coeso social e solidariedade,
alm de propriedade e memria coletivas;
h) carter ritual/cclico do saber, no sendo este especializado e
profissionalizado, formulado mediante o processo de construo do
mito (cotidianorito) em conformidade com os ciclos naturais e as
manifestaes da expresso humana (visualidade/plasticidade, msica,
dana, adereos/adornos, pinturas, comidas, etc.); tambm, parte-se do
princpio conjuntivo do saber, pois se estabelece relao orgnica entre
dois grupos de elementos dissociados em princpio, e relativos a dada
realidade que se quer apreender.
A partir das caractersticas acima, que circunscrevem o saber,
possvel observar a reiterao do ver e agir, reforando-se a consecuo
corpo/ao, sentir/agir, operao em que a memria determinante
para a efetivao de habilidades por parte dos usurios da cultura,
memria que traz em si a espontaneidade, o pressentimento e a
previsibilidade, caractersticas estas ativadas pela experincia prxima,
entre sujeito e objeto, e que implicam em conceituaes subliminares e
do senso comum:
As pessoas usam conceitos de experincia prxima espontaneamente, naturalmente, por assim dizer, coloquialmente; no reconhecem, a no ser de forma
passageira e ocasional, que o que disserem envolve conceitos... (GEERTZ, 1997, p. 89).
Savoir-faire uma boa palavra francesa que retoma esse
complexo que o saber, significando a habilidade para resolver os
problemas prticos; a competncia e a experincia no exerccio de uma
atividade artstica ou intelectual (LE ROBERT, 1998, p. 1210). Saber-
fazer mais que um binmio; a natureza do trabalho do homem ativo
das massas8, que atua praticamente, mas no tem uma clara
8 Na compreenso deste trabalho, consideramos que o que Gramsci intitula homem ativo das massas correlativo ao praticante da cultura popular em comunidades tradicionais, entendendo-se o conceito de
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conscincia terica desta sua ao, que, no obstante, um
conhecimento do mundo na medida em que o transforma (GRAMSCI,
1991, p. 20). Por mais que esse homem ativo no pense teoricamente,
envolvendo conceitos, antes de executar o trabalho, pode-se, sim, dizer
que h sistematizao no saber-fazer dos povos tradicionais, mas que
se constri em uma conscincia prtica, implcita na sua ao, e que
realmente o une a todos os seus colaboradores na transformao
prtica da realidade (GRAMSCI, 1991, p. 20). Isto implica na fuso do
pensar no agir, e no no recorrente exerccio do pensamento antes do
fazer, em trabalho cognitivo.
Exemplo de que existe uma sistematizao implcita no saber-
fazer do praticante do saber tradicional a tendncia que este
apresenta de construir textos explicativos, de sua realidade e
expectativas, mediante o uso de gneros narrativos, tais como os
relatos de experincia, os contos e causos e os mitos, que conferem
relao mimtica e verossmil entre o sujeito-narrador e a realidade
focada. No demais dizer que a etimologia da palavra narrativa -
gno-, elemento de composio que significa conhecer, contar, expor
narrando, narrar, dar a saber. A narrativa confere maior aproximao
entre sujeito e objeto, pois que mesmo sendo um narrador distanciado
(heterodiegtico) no deixa de se impor como partcipe do evento
narrado, uma vez que ativa a memria na narrao, e a memria
faculdade do lembrar, do recordar: re-cordis, ou seja, trazer de volta ao
corao, ao corpo, ao sentimento.
Tambm no se pode dizer que exista indistino entre narrar o
efetivamente j transcorrido (pica) ou narrar em media res, quando os
acontecimentos ainda esto em curso (drama), pois so diferentes os
sentidos e sentimentos entre sujeito e objeto quando o conflito est
distante no tempo ou quando o conflito se avizinha na narrao. Diz
Lukcs que a localizao da ao pica no passado (...) permite
escolher o que essencial no grande oceano da vida e representar o
popular relativo ao pblico no plenamente escolarizado, detentor de uma formao no especializada
para o trabalho, situado nas camadas subalternas da populao de um pas, e que apresenta prticas e
concepo de mundo arraigadas em uma tradio localizada em determinado espao e tempo histrico,
concepo esta por vezes interativa com o mundo tecnologizado da modernidade ocidental, mas possuidora de um senso comum prprio e parcialmente em conflito com a urbanidade e a cidadania
modernas.
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essencial de modo a suscitar a iluso de que a integralidade da vida
esteja representada em toda a sua extenso (LUKCS, 2010, p. 165). E
essa escolha tem a ver diretamente com a natureza da narrativa, se
acentuadamente uma narrao ou uma descrio: a narrao
distingue e ordena. A descrio nivela todas as coisas (LUKCS, 2010,
p. 165). O que nos leva a compreender que o narrador, ao escolher por
narrar ou descrever, implicitamente est construindo seu texto em
conformidade com sua atitude no momento: participar ou observar.
Quando de posse do primeiro ato narrativo, relata a experincia humana
ou srie de experincias humanas, retrospectivamente segundo seu foco
narrativo e seletivo, disposio hierarquizada de sujeitos, espaos e
aes; quando prioritariamente descreve, detm a narratividade e o
narrador vislumbra todos os elementos em um mesmo tempo
duradouro e equivalente.
Ao observarmos a natureza privilegiada da narrativa como modus
operandi de repasse do saber, pode-se concluir que o uso da linguagem
entre os povos tradicionais, alm de sistmica, contm elementos da
concepo de mundo destas na mesma proporo que nos diz muito
acerca da complexidade dessa concepo.
Por fim, devemos reconhecer que a condio de maior
proximidade entre seres e coisas e entre os prprios seres no
garantia de harmonia plena de convivncia e de conscincia ambiental.
Muitas vezes, o nativo de determinado povo tradicional, ademais tenha
uma histria de baixo impacto ambiental, pretende manter o territrio
unicamente como garantia familiar e parental, sem ter uma conscincia
de coletivo. Nossas experincias com populaes tradicionais, na regio
insular do Par, mais especificamente Ilha de Mosqueiro e na
microrregio do Salgado Paraense, So Caetano de Odivelas,
demonstraram que a modificao do comportamento cultural dos
residentes tambm resultado da falta de capacitao necessria para
discusses, envolvendo representatividade e coletividade, o que
oportuniza a manipulao por grupos de interesse no autctones, sem
sintonia com as demandas populares locais. Com essa vulnerabilidade,
as prticas locais entram em choque com pensamentos exgenos,
possibilitando uma cooptao, pela fragilidade local, entre o residente e
o "estrangeiro" em funo de um bem-estar ilusrio. Assim, as
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populaes tradicionais ficam sujeitas presso de grupos polticos
partidrios e econmicos, que utilizam seus territrios como curral
eleitoral e para empreendimentos imobilirios que levam a uma espcie
de desequilbrio socioambiental, podendo causar a destruio de seus
espaos, componentes de alimentao, renda e outros traos da cultura
local, provocando inclusive incoerncia do pensamento local como, Um bom exemplo do resultado deste confronto o
contraste entre a opinio que um jovem recm-casado revela ter sobre a diviso conjugal do trabalho domstico (a de que tudo feito de maneira equnime
por ambos os membros do casal) e as informaes concretas que ele prprio fornece sobre quem faz o que
na relao: quem dirige, quem leva o carro para o conserto, quem cozinha, quem arruma a casa, quem vai ao supermercado, etc. (FERNANDES e SOUZA,
2011, p. 89).
Em sntese, o saber que detm, em vez de ser marca identitria de
seu povo e comunidade, servir para ter em troca as inovaes da
cidade, implicando, consequentemente, na paulatina transformao de
seu grupo social. No que haja um grave problema na assimilao do
Outro, mas acreditamos que o modo de assimilao que determina
uma valorao social em que este Outro considerado superior ao
Local. E poderamos apontar uma meia-dzia de exemplos, mas basta-
nos dizer que no Brasil existem cerca de 200 lnguas indgenas faladas,
e, claro, culturas locais praticadas, mas pela Constituio Federal a
lngua portuguesa a nica oficial no territrio brasileiro, o que vai na
contramo, inclusive, de outros pases sul-americanos, herdeiros do
colonialismo, mas que superaram esta condio, pelo menos em parte.
O Peru bom exemplo, visto que o artigo 2, inciso 19, da constituio
do pas reconhece a pluralidade tnica e cultural da nao, inclusive
garantindo como oficial as lnguas quchua, aimara e outras aborgenes
nos territrios em que predominem (artigo 48). Acreditamos que,
minimamente, essa a garantia de, se no a manuteno, pelo menos a
convivncia, mesmo que conflitiva, de lnguas e, consequentemente,
culturas, que vislumbrem o saber local.
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3. De como saber e conhecimento so complementares
Foucault, em Arqueologia do saber, lembra-nos que o saber
uma prtica discursiva, ou seja, o domnio constitudo pelos diferentes
objetos que iro adquirir ou no um status cientfico (FOUCAULT, 2007,
p. 204). Porque, para o pensador francs, inexiste a histria de um
ponto de vista totalizante, como progresso de perodos longos e
independentes da vontade humana; entendendo, assim, que na histria
das ideias, do pensamento e da cincia existe a descontinuidade, e o
historiador deve estabelecer relao entre as sries em um sistema de
relaes homogneas em espao de descontinuidades ininterruptas,
pois
a histria contnua o correlato indispensvel funo
fundadora do sujeito: a garantia de que tudo que lhe escapou poder ser devolvido; a certeza de que o tempo nada dispersar sem reconstitu-lo em uma
unidade recomposta; a promessa de que o sujeito poder, um dia sob a forma de conscincia histrica se apropriar, novamente, de todas essas coisas mantida a distncia pela diferena, restaurar seu domnio sobre elas e encontrar o que se pode chamar
sua morada (FOUCAULT, 2007, p. 14).
Observa-se, assim, que o saber um espao construdo pelo
sujeito, face ao seu objeto, em que aquele toma certa posio para falar
deste, estabelecendo campo de coordenao e subordinao de
enunciados (linguagem), que definem as possibilidades de utilizao e
apropriao oferecidas pelo discurso. Dessa feita, no podemos
acreditar na imparcialidade do saber; talvez enquanto metodologia para
alcanar certo efeito isso seja possvel. Mas desde a abordagem de um
problema, inevitvel a formulao de perguntas de pesquisa e
perspectivas de anlise, em que se vislumbra a relao entre pessoas e
objetos, o que nos leva a crer na eleio de pontos de vista mediante as
escolhas do pesquisador, o que pode ser desvelado a partir das
seguintes perguntas: qual o lugar a partir do qual se investiga? Para que
e para quem se realiza a investigao? O que se pretende fazer com os
resultados? Da que sejam observados com mais aprofundamento, na
pesquisa em Humanidades, a construo de linguagens e discursos por
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ocasio do contato entre pesquisador e nativo, pois a representao
do saber desenhada pelo primeiro deve considerar as idiossincrasias de
cada sujeito envolvido, assim como a mtua compreenso que possa
exisitr, decorrente do contato interlingustico e intercultural, uma vez
que a sistematizao do saber feita em conjunto, provocada pela
organicidade decorrente da relao oral-escrito, pesquisador-
pesquisado.
Levando em considerao que os povos tradicionais entendem,
mas nem sempre compreendem, e da mesma forma os pesquisadores
compreendem, mas nem sempre entendem, inicia-se um descompasso
que leva a situaes de desrespeito diversidade e do estado de bom
viver, o que dificulta uma adeso orgnica necessria s relaes entre
pesquisadores e comunidades tradicionais, o que impossibilita uma
espcie de sentimento-paixo (GRAMSCI, 1991). No entanto, se a
compreenso caminhar em direo ao entendimento e o entendimento
em direo compreenso, poder-se-ia diminuir cada vez mais o
distanciamento entre sujeito e objeto, em certa convergncia de
intelectualidades orgnicas reciprocamente vivenciais, em prtica
cultural de convergncia. Para lembrar mais uma vez o filsofo italiano,
A organicidade de pensamento e a solidez cultural s poderiam ocorrer se entre os intelectuais e os
simplrios se verificasse a mesma unidade que deve existir entre teoria e prtica, isto , se os intelectuais fossem, organicamente, os intelectuais daquela massa,
se tivessem elaborado e tornado coerentes os princpios e os problemas que aquelas massas colocavam com a
sua atividade prtica, constituindo assim um bloco cultural e social (GRAMSCI, 1991, p.18).
Por isso que perquirir o saber e o conhecimento estar frente a
uma questo de traduo, face a culturas e sujeitos postos em contato,
o que, segundo Escobar,
Es el proceso mediante el cual experiencias histrico-
culturales diferentes, y a menudo contrastantes, se hacen mutuamente inteligibles y conmensurables; esto ha sucedido en la historia reciente a travs de la
imposicin de los cdigos culturales de la modernidad capitalista en una escala cada vez ms global
(ESCOBAR, 2012, p. 26).
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O que se infere que traduzir um apangio do mundo moderno
e globalizante, mesmo a despeito de que nesse processo se privilegie
uma nica lngua de recepo, em autntica traduo etnocntrica: a
lngua da cincia universalizante. Para que se evite o etnocentrismo,
nesse processo, devemos considerar as relaes interculturais.
Consideraremos o sentido de interculturalidade conforme o que dispe
o Centro Virtual Cervantes, em seu dicionrio:
La interculturalidad es un tipo de relacin que se establece intencionalmente entre culturas y que
propugna el dilogo y el encuentro entre ellas a partir del reconocimiento mutuo de sus respectivos valores y formas de vida. No se propone fundir las identidades de
las culturas involucradas en una identidad nica sino que pretende reforzarlas y enriquecerlas creativa y
solidariamente. El concepto incluye tambin las relaciones que se establecen entre personas pertenecientes a diferentes grupos tnicos, sociales,
profesionales, de gnero, etc. dentro de las fronteras de una misma comunidad (CENTRO VIRTUAL
CERVANTES, n.d., n.p.).
Por isso que a traduo/transio, no caso das Humanidades, no
pode ser estabelecida por uma teoria geral, como professa a cincia
positivista. A traduo sempre se refere a complexos processos
epistemolgicos, em que as disposies interculturais e interepistmicas
so necessrias para que haja ontologias mltiplas, e a garantia da
transio de uma compreenso moderna do mundo compreenso do
mundo como um pluriverso e no um universo. O que refora que,
Talvez a objeo mais vigorosa, no entanto,
proveniente de toda parte e, a rigor, bastante generalizada na vida intelectual dos ltimos tempos, seja a de que concentrar nosso olhar nas maneiras
como so enunciadas as afirmaes de um saber (grifo nosso) solapa nossa capacidade de levar a srio
qualquer dessas afirmaes (GEERTZ, 2005, p. 12).
Poderemos ser inclusivos se dirigirmos nossos olhares para as
maneiras como so enunciadas as afirmaes de um determinado saber.
oportuno lembrar que o decreto 6.040/2007, da Presidncia da
Repblica do Brasil, institui a Poltica Nacional de Desenvolvimento
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Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais, assegurando a
estes, no artigo 3, incisos V e XV, a garantia e valorizao de formas
tradicionais de educao, alm do reconhecimento, proteo e
promoo dos direitos dos povos e comunidades tradicionais sobre seus
conhecimentos, prticas e usos tradicionais. Isto implica na convivncia
e reconhecimento mtuo dos saberes e conhecimentos, com seus
valores e formas de vida para que haja a tolerncia necessria na
interculturalidade. Talvez um termo adequado para sintetizar essa
prtica e produo seja Etnossaberes. Compreende-se como tanto a
epistemologia hbrida que est calcada na relao entre seres
humanos, natureza e sociedade, mediante a construo de narrativas
que projetam as percepes sensoriais espao-temporais dos sujeitos
nos objetos objectus, ao de por diante, interposio, obstculo, o
que se apresenta aos olhos, tudo aquilo que se antepe diante do
sujeito. Essa atitude de apreenso do objeto pelo sujeito distinta da
epistemologia tradicional, que estabelece a polaridade entre sujeito e
objeto, considerando o primeiro como o polo indagativo e reflexivo e o
segundo como o polo inerte e passivo. Evidentemente que o sujeito
agente, mas no devemos considerar que exista uma ontologia dos
agentes (sujeitos) e dos pacientes (objetos): estes o so moventes e so
relativos a cada saber localizado, por isso entender os etnossaberes
deslindar a histria sociocultural dos objetos e de suas percepes e
representaes em cada cultura, e entre as culturas postas em contato.
Deve-se entender que cada episteme um paradigma de saber
estruturado conforme a poca e o grupo social, mesmo a despeito de
haver caractersticas (formas e matrias) universais nos objetos. Desde
esta compreenso poderemos observar que existem o ponto de vista
dos nativos e o ponto de vista dos estrangeiros, da toda categoria do
saber ser dependente do contexto cultural, evitando-se, assim, os
universais que deslegitimam o nativo e sua forma de saber, mediante a
imposio tecnolgica e o desenvolvimentismo, uma vez que na
concepo de etnossaberes qualquer modernizao, que impacte a
tradio, controlada desde o nativo, pois o novo examinado em
relao s prticas e representaes simblicas relativas aos
ecossistemas socioeconmicos e culturais em que ocorre. Por isso
evitamos os conceitos de etnocincia e etnodesenvolvimento, que
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vislumbram o outro a partir de conceptos amplamente instalados desde
o modelo de sociedade capitalista e consumista, em uma traduo de
via de mo nica. Talvez para minimizar o impacto dessa desigualdade
tenhamos que estabelecer parmetros para uma etnotraduo.
Enquanto no temos objetivamente estes parmetros,
necessrio que miremos pelo menos nossa utopia, que da construo
do Bom Viver; pois a possvel construo da sociedade do Bom Viver
poder possibilitar:
una tica del desarrollo que subordina los objetivos econmicos a criterios ecolgicos, a la dignidad humana y a la justicia social. El desarrollo como Buen Vivir
busca articular la economa, el medio ambiente, la sociedad y la cultura en nuevas formas, llamando a las
economas sociales y solidarias mixtas; introduce temas de justicia social e intergeneracional en los espacios de los principios de desarrollo; reconoce las diferencias
culturales y de gnero, posicionando la interculturalidad como principio rector; y permite los nuevos nfasis
poltico-econmicos (ESCOBAR, 2012, p. 35).
Acreditamos que essa sociedade do Bom Viver, em que saberes e
conhecimentos possam interatuar indefinidamente, s ser efetivada
plenamente, inclusive pela academia, quando houver o reconhecimento
de que a desigualdade e a excluso prprias do colonialismo, europeu
ou no, foram partcipes da construo da sociedade moderna. E gora
devemos destacar e assumir a condio do saber dos nativos como
gentipo da cultura do colonizador, assim como a beleza de castelos e
igrejas, e as contas em bancos suos, mais reluz pelo ouro arrancado
das minas distantes das Amricas. Talvez assim possamos iniciar uma
nova hegemonia, a das diferenas, que opere transformaes no
apenas na estrutura econmica e poltica, mas tambm sobre o modo
de pensar, sobre as orientaes ideolgicas e inclusive sobre o modo de
conhecer (GRUPPI, 1978, p. 3).
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