FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES
MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE PÚBLICA
Ana Karine de Araújo Soares
Avaliação dos monócitos entre as formas clínicas cr ônicas da doença de
Chagas antes e após estímulo in vitro com os antígenos recombinantes CRA e
FRA de Trypanosoma cruzi
RECIFE
2012
Ana Karine de Araújo Soares
Avaliação dos monócitos entre as formas clínicas cr ônicas da doença de
Chagas antes e após estímulo in vitro com os antígenos recombinantes CRA e
FRA de Trypanosoma cruzi
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Saúde Pública do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Ciências.
Orientadora: Dra. Yara de Miranda Gomes
Co-orientadora: Dra. Virginia Maria Barros de Lorena
Recife
2012
Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesqu isas Aggeu Magalhães
S237a
Soares, Ana Karine de Araújo.
Avaliação dos monócitos entre as formas clínicas crônicas da doença de Chagas antes e após estímulo in vitro com os antígenos recombinantes CRA e FRA de Trypanosoma cruzi / Ana Karine de Araújo Soares. - Recife: [s.n.], 2012.
75 p. ; ilus. tab. graf. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Saúde Pública) - Centro
de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, 2012. Orientador: Yara de Miranda Gomes. 1. Doença de Chagas - imunologia. 2. Monócitos. 3. Proteínas
Recombinantes. 4. Marcadores imunológicos. I. Gomes, Yara de Miranda. II. Título.
CDU 616.937
Ana Karine de Araújo Soares
Avaliação dos monócitos entre as formas clínicas cr ônicas da doença de
Chagas antes e após estímulo in vitro com os antígenos recombinantes CRA e
FRA de Trypanosoma cruzi
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Saúde Pública do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Ciências.
Aprovada em: ___/___/_____
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Dra. Yara de Miranda Gomes
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz)
__________________________________________
Dr. Eduardo Caetano Brandão Ferreira da Silva
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz)
__________________________________________
Dra. Vláudia Maria Assis Costa
Universidade Federal de Pernambuco (Dpto. Parasitologia/UFPE)
Dedico este trabalho a DEUS, pois sem ele nada seria.
A minha pequena grande família
Helena e Gilmário, amo vocês.
A memória de meu avô José Antônio que foi
para mim um exemplo de caráter, sabedoria e amor.
AGRADECIMENTOS
A JESUS CRISTO, o autor da minha fé, razão da minha esperança.
Só tenho a agradecer por tudo que tenho e por tudo que sou. Maravilhoso és Tu em
minha vida.
Ao meu avô José Antônio (In MEMORIAM), que me apresentou o
mundo como um universo de conhecimentos, deixando como herança a sede de
buscar sempre mais.
A minha filha Maria Helena, produto do amor, mágica da ciência e
obra do Criador. Razão da minha vida. Te amo incondicionalmente.
A meu marido Gilmário, pelo incentivo e apoio, além das críticas
construtivas que sempre me impulsionaram a buscar o melhor de mim. Te amo, meu
branco, agradeço a DEUS por tê-lo em minha vida.
A minha mãe Fátima, minha grande incentivadora, o meu
agradecimento por sempre acreditar que eu podia mais e, principalmente, por nunca
ter desistido de mim, te amo mãe.
A todos os meus familiares, em especial a aminha irmã Vitória,
pessoas que sempre estiveram presentes nos momentos bons e ruins, me dando
apoio e compreensão, amo todos vocês.
À Carlinha que não sendo somente “a prima” é a amiga. Depois de
ultrapassadas as “guerras” de infância aqui estamos.
A minha orientadora, Dra. Yara Gomes, pela oportunidade e pelo
exemplo profissional.
A minha co-orientadora, Dra. Virginia Lorena, pela dedicação,
profissionalismo, apoio, compreensão e principalmente, pela co-orientação que foi
imprescindível para conclusão deste trabalho. Valeu!
As minhas grandes amigas Camila, Fabiana, Laís, Águida, Kátia,
Zita, Janete, Narjara, Sandra, Priscila que sempre estiveram comigo, torcendo por
mim na realização de mais uma etapa de minha vida profissional.
As famílias Bulhões e Roccamora, imprescindíveis nessa jornada.
Amizades abençoadas que me trouxeram alegria e descontração ao longo do
caminho.
Aos companheiros Mineo, Adriene, Suellen e Amanda, e às grandes
amizades que fiz no CPqAM/FIOCRUZ que tanto colaboraram e torceram para a
conclusão desta etapa profissional.
A amiga Patrícia, a “pequena”, um agradecimento especial por ter
estado comigo pacientemente todos os dias com compreensão, preocupação,
dedicação e envolvimento. Obrigada menina, te desejo todo sucesso do mundo.
A Joelma Souza, que com muito profissionalismo e carinho me
auxiliou na finalização desse trabalho.
Ao Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz) por
disponibilizar a infra-instrutora necessária para o desenvolvimento do projeto.
A Mácia, bibliotecária do CPqAM/Fiocruz, que com toda dedicação e
profissionalismo me auxiliou na minha revisão literária.
Aos portadores de doença de Chagas que com toda boa vontade e
paciência, permitiram a coleta de seu sangue contribuindo com este estudo, sem os
quais essa dissertação não seria possível.
A equipe da Casa do Portador da doença de Chagas e Insuficiência
Cardíaca do Pronto Socorro Cardiológico De Pernambuco (PROCAPE), pela
colaboração na seleção dos pacientes.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe)
pelo suporte financeiro.
A todos que direta ou indiretamente auxiliaram no d esenvolvimento e
construção deste trabalho, obrigada por tudo!
“Confie no SENHOR de todo o seu coração e não se
apóie na sua própria inteligência. Lembre de DEUS em
tudo o que fizer, e ele lhe mostrará o caminho certo.”
(Provérbios 3.5-6)
SOARES, Ana Karine de Araújo. Avaliação dos monócitos entre as formas clínicas crônicas da doença de Chagas antes e após estímulo in vitro com antígenos recombinantes CRA e FRA de Trypanosoma cruzi. 2012. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Saúde Pública) – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2012.
RESUMO
As interações moleculares entre os monócitos e os linfócitos são de extrema importância para a produção de uma resposta imune eficiente. Nesse contexto nos propomos avaliar a expressão da molécula de superfície HLA-DR+ em monócitos CD14+, e das moléculas co-estimulatórias CD80+ e CD86+ e a produção das citocinas IL-10, IFN-γ, TNF-α e IL-12 por monócitos CD14+ HLA-DR+ de portadores de formas clínicas crônicas da doença de Chagas. O grupo de indivíduos acometidos cronicamente pela infecção chagásica foi composto por 10 portadores da forma cardíaca (FC) sem dilatação cardíaca (FC1), 14 portadores da forma cardíaca com dilatação cardíaca (FC2) e 7 portadores da forma indeterminada (FI). O sangue total destes indivíduos foi submetido à cultura na presença dos antígenos CRA ou FRA, específicos ao Trypanosoma cruzi. Observamos que o aumento na expressão da molécula co-estimulatória CD80+ associado à diminuição da expressão de CD86+ no grupo de indivíduos FC, quando comparamos os contextos ex vivo e após estímulo com CRA ou FRA, aponta um possível envolvimento desses antígenos nos mecanismos de fuga do sistema imune do hospedeiro pelo T. cruzi. Correlações positivas entre citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias foram observadas entre os portadores da FI e FC1, indicando um controle do parasitismo, concomitantemente a uma modulação da resposta inflamatória. No grupo de pacientes FC2 observamos uma predominância de uma correlação positiva entre as citocinas inflamatórias, bem como de correlação positiva entre citocinas Th1 e Th2, indicando que há predomínio de um perfil do tipo Th1, mas com indícios de mecanismo de regulação da resposta inflamatória exacerbada. Nossos resultados sugerem que os antígenos CRA e FRA, por estarem presentes no parasito, poderiam atuar no processo de apresentação e ativação celular durante a cronicidade da doença, sobretudo nos indivíduos portadores da FC.
Palavras chave: Doença de Chagas – imunologia, monócitos, proteínas recombinantes, marcadores imunológicos.
SOARES, Ana Karine de Araújo. Assessing of monocytes between the clinical forms of chronic Chagas’ disease before and after i n vitro stimulation with CRA and FRA recombinant antigens of Trypanosoma cruzi. 2012. Dissertation (Academic Master in Public Health) – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2012.
ABSTRACT
The molecular interactions between monocytes and lynphocytes are extremely important for the production of an efficient immune response. In this context we propose to evaluate the expression of cell surface molecule HLA-DR+ monocytes CD14+, and co-stimulatory molecules CD80+ and CD86+ and cytokines IL-10, IFN-γ, TNF-α and IL-12 production by monocytes CD14+HLA-DR+ in patients with clinical forms of chronic Chagas disease (DC). The group of individuals affected by chronic Chagas disease comprised 10 patients with the cardiac form (FC) without cardiac dilation (FC1), 14 patient’s presents with dilated heart rate (FC2) and 7 patients with the indeterminate form (FI). Whole bloods of these individuals were submitted to culture in the presence of CRA or FRA antigens, specific to Trypanosoma cruzi. We observed that the increased expression of the molecule co-stimulatory CD80+ associated with decreased expression of CD86+ in the group of individuals FC, when comparing the context ex vivo and after stimulation with CRA or FRA, indicates a possible involvement of these antigens in the mechanism of escape from host immune system by T. cruzi. Positive correlations between inflammatory cytokines and anti-inflammatory properties were observed among patients with the FI and FC1, indicating a control of parasitism, a concomitant modulation of the inflammatory response. In patients FC2 observed a predominance of a positive correlation between inflammatory cytokines, as well as positive correlation between Th1 and Th2 cytokines, indicating that there is predominance of Th1-type profile, but with evidence of regulation mechanism of an exaggerated inflammatory response. Our results suggest that the antigens CRA and FRA, being present in the parasite, could act in the process of presentation and cellular activation during chronic disease, especially in individuals with FC. Keywords: Chagas disease - immunology, monocytes, recombinant proteins, immunological markers.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Casos confirmados da DC aguda de acordo com o ano de
notificação (2000 a 2010) e forma de transmissão............................. 21
Figura 2 Mapa do território brasileiro apresentando os casos de DCA por
município, no período de 2000 a 2010, Brasil.................................... 22
Figura 3 Papel da co-estimulação na ativação das células T........................... 28
Quadro 1 Características dos anticorpos utilizados no ensaio de citometria de
fluxo..................................................................................................... 38
Figura 4 Exemplo de gráfico dot plot da aquisição de monócitos no citômetro
de fluxo................................................................................................ 41
Figura 5 Expressão ex vivo da molécula HLA-DR+ na superfície de
monócitos CD14+ (A) e das moléculas co-estimulatórias CD80+ (B)
e CD86+ (C) na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue
periférico de pacientes portadores da DC e indivíduos
NI......................................................................................................... 42
Figura 6 Expressão da molécula HLA-DR+ na superfície de monócitos
CD14+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e de
indivíduos NI, após estímulo com os Ag-Recs CRA (Cytoplasmic
Repetitive Antigen) e FRA (Flagellar Repetitive Antigen)................... 43
Figura 7 Expressão da molécula co-estimulatória CD80+ na superfície de
monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de pacientes
portadores da DC e indivíduos NI, após estímulo com os Ag-Recs
CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen) e FRA (Flagellar Repetitive
Antigen)............................................................................................... 44
Figura 8 Expressão da molécula co-estimulatória CD86+ na superfície de
monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de pacientes
portadores da DC e indivíduos NI, após estímulo com os Ag-Recs
CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen) e FRA (Flagellar Repetitive
Antigen)............................................................................................... 44
Figura 9 Comparação da expressão da molécula de superfície HLA-DR+ na
superfície de monócitos CD14+ de sangue periférico de pacientes
portadores da DC e indivíduos NI, após estímulo com o antígeno
CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen)............................................... 45
Figura 10 Comparação da expressão da molécula de superfície HLA-DR+ na
superfície de monócitos CD14+ de sangue periférico de pacientes
portadores da DC e NI, após estímulo com o antígeno FRA
(Flagellar Repetitive Antigen).............................................................. 46
Figura 11 Comparação da expressão da molécula de superfície CD80+ na
superfície de monócitos CD14+HLA-DR+de sangue periférico de
pacientes portadores da DC e NI, após estímulo com o antígeno
CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen)...............................................
47
Figura 12 Comparação da expressão da molécula de superfície CD80+ na
superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de
pacientes portadores da DC e NI após estímulo com o antígeno
FRA (Flagellar Repetitive Antigen)...................................................... 48
Figura 13 Comparação da expressão da molécula de superfície CD86+ na
superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de
pacientes portadores da DC e NI, após estímulo com o antígeno
CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen)............................................... 49
Figura 14 Comparação da expressão da molécula de superfície CD86+ na
superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de
pacientes portadores da DC e NI, após estímulo com o antígeno
FRA (Flagellar Repetitive Antigen)...................................................... 50
Figura 15 Detecção das citocinas IL-10, IFN-γ, IL-12 e TNF-α por monócitos
CD14+HLA-DR+ de sangue periférico dos diferentes grupos
estudados após estímulo com o antígeno recombinante CRA
(Cytoplasmic Repetitive Antigen) de T. cruzi...................................... 51
Figura 16 Detecção das citocinas IL-10 (A), IFN-γ (B), IL-12 (C) e TNF-α (D)
por monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico dos diferentes
grupos estudados após estímulo com o antígeno recombinante
FRA (Flagellar Repetitive Antigen) de T. cruzi....................................
52
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Correlação entre as citocinas produzidas por células CD14+HLA-DR+ após estímulos in vitro com os antígenos recombinantes CRA e FRA de T. cruzi por pacientes portadores da forma clínica crônica FI..........................................................................................................
53
Tabela 2 Correlação entre as citocinas produzidas por células CD14+HLA-DR+ após estímulos in vitro com os antígenos recombinantes CRA e FRA de T. cruzi por pacientes portadores da forma clínica crônica FC1......................................................................................................
53
Tabela 3 Correlação entre as citocinas produzidas por células CD14+HLA-DR+ após estímulos in vitro com os antígenos recombinantes CRA e FRA de T. cruzi por pacientes portadores da forma clínica crônica FC2.....................................................................................................
54
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Ag-Recs Antígenos recombinantes
APC Allophycocyanin (Aloficocianina)
APCs Células apresentadoras de antígenos
CD Cluster of differentiation (Grupos de diferenciação)
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CO2 Dióxido de Carbono
CPqAM Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
CRA Cytoplasmic Repetitive Antigen (Antígeno Repetitivo Citoplasmático)
CRM Conselho Regional de Medicina
CTLA-4 Cytotoxic T-Lymphocyte Antigen 4 (Antígeno de linfócito T citotóxico)
DCA Doença de Chagas aguda
EDTA Ácido etilenodiaminotetracético
ELISA Enzyme Linked Immunosorbent Assay (Ensaio imunoenzimático)
FC Forma cardíaca
FC1 Forma cardíaca leve
FC2 Forma cardíaca grave
FD Forma digestiva
FI Forma indeterminada
Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz
FITC Fluorescein Isothiocyanate (Isotiocianato de fluoresceína)
FL Fluorescência
FRA Flagellar Repetitive Antigen (Antígeno Repetitivo Flagelar)
FSC Forward Scartter (Dispersão frontal)
HLA Human Leukocyte Antigen (Antígeno leucocitário humano)
HUOC Hospital Universitário Oswaldo Cruz
Ig Imunoglobulina
IFN-γ Interferon gama
IL Interleucina
MHC Major histocompatibility complex (Complexo principal de
histocompatibilidade)
NI Grupo de indivíduos não infectado
NK Células Natural Killer
NPT Núcleo de Plataformas Tecnológicas
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Pan-Americana de SAúde
PBMC Células mononucleares de sangue periférico
PBS Salina tamponada com fosfato
PDTIS Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para a Saúde
PE Phycoerythrin (Ficoeritrina)
PerCP Peridinin chlorophyll protein complex
PHA Fitohemaglutinina
Procape Pronto-socorro cardiológico de Pernambuco
RPMI Meio de cultivo Roswell Park Memorial Institute
SSC Side Scartter (Dispersão lateral)
TCR Receptor de células T
Th Linfócitos T auxiliares
TNF-α Fator de necrose tumoral alfa
UPE Universidade de Pernambuco
WHO World Health Organization (Organização Mundial de Saúde)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 20
1.1 Aspectos epidemiológicos da doença de Chagas ................................. 20
1.2 Aspectos clínicos e laboratoriais da doença de Chag as....................... 23
1.3 Aspectos imunológicos da doença de Chagas ...................................... 24
1.3.1 Os monócitos na doença de Chagas....................................................... 26
1.4 Antígenos recombinantes do T. cruzi: CRA e FRA ................................ 30
2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 32
3 HIPÓTESE................................................................................................... 33
4 OBJETIVOS ................................................................................................ 34
4.1 Objetivo geral ............................................................................................. 34
4.2 Objetivos específicos ................................................................................ 34
5 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 35
5.1 Proteínas recombinantes .......................................................................... 35
5.2 Tipo do estudo ........................................................................................... 35
5.3 População do estudo ................................................................................. 35
5.3.1 Aspectos éticos............................................................................................ 36
5.4 Coleta de sangue ....................................................................................... 37
5.5 Sorologia para infecção pelo T. cruzi...................................................... 37
5.6 Padronização das quantidades de anticorpos para o e nsaio de
citometria ....................................................................................................
37
5.7 Cultura celular ............................................................................................ 38
5.8 Caracterização dos marcadores de superfície e citoc inas
intracitoplasmáticas ..................................................................................
39
5.9 Aquisição e análise na citometria de fluxo ............................................. 40
5.9.1 Aquisição e análise dos monócitos CD14+HLA-DR+................................... 40
5.10 Análise estatística ..................................................................................... 41
6 RESULTADOS ............................................................................................ 42
6.1 Expressão ex vivo das moléculas de superfície HLA-DR + em
monócitos CD14 +, e das moléculas co-estimulatórias CD80 + e CD86+
em monócitos CD14 +HLA-DR+..................................................................
42
6.2 Expressão da molécula HLA-DR + em monócitos CD14 + de
portadores das diferentes formas clínicas e indivíd uos NI após
estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e
FRA..............................................................................................................
43
6.3 Expressão das moléculas CD80 + em monócitos CD14 +HLA-DR+ de
portadores das diferentes formas clínicas e de indi víduos NI após
estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e
FRA.............................................................................................................. 43
6.4 Expressão da molécula CD86 + em monócitos CD14 +HLA-DR+ de
portadores das diferentes formas clínicas e de indi víduos NI após
estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e
FRA..............................................................................................................
44
6.5 Comparação da expressão da molécula de superfície H LA-DR + em
monócitos CD14 + de portadores das diferentes formas clínicas e de
indivíduos NI antes e após estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e
FRA.............................................................................................................. 45
6.6 Comparação da expressão da molécula de superfície C D80+ em
monócitos CD14 +HLA-DR+ de portadores das diferentes formas
clínicas e de indivíduos NI antes e após estímulo in vitro com os
Ags-Recs CRA e FRA ................................................................................
46
6. 7 Comparação da expressão da molécula de superfície C D86+ em
monócitos CD14 +HLA-DR+ de portadores das diferentes formas
clínicas antes e após estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e
FRA.............................................................................................................. 48
6.8 Avaliação do perfil de citocinas intracitoplasmátic as por monócitos
CD14+HLA-DR+ dos diferentes grupos estudados após estimulação
in vitro com os Ags-Recs CRA e FRA de T. cruzi................................... 51
6.8.1 Produção de citocinas intracitoplasmáticas por monócitos CD14+HLA-
DR+ dos diferentes grupos estudados após estímulo com CRA................. 51
6.8.2 Produção de citocinas intracitoplasmáticas por monócitos CD14+HLA-
DR+ após estímulo com FRA....................................................................... 52
6.9 Correlações entre a produção das citocinas nos dife rentes grupos
de portadores da doença de Chagas .......................................................
53
6.9.1 Correlações observadas em pacientes portadores da FI............................ 53
6.9.2 Correlações observadas em pacientes portadores da FC1........................ 53
6.9.3 Correlações observadas em pacientes portadores da FC2........................ 54
7 DISCUSSÃO................................................................................................ 55
8 CONCLUSÕES............................................................................................ 61
REFERÊNCIAS........................................................................................... 62
Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o
Paciente………………………………………………………………………...... 71
Apêndice B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o
Voluntário Controle……………………......……………………………………. 73
Anexo A....................................................................................................... 75
Soares, A. K. A. 20
1 INTRODUÇÃO
1.1 Aspectos epidemiológicos da doença de Chagas
A doença de Chagas (DC) é uma infecção tecidual e hematológica causada
pelo protozoário hemoflagelado Trypanosoma cruzi pertencente à ordem
Kinetoplastida e família Trypanosomatidae, tendo como vetores naturais um grupo
de insetos da ordem Hemíptera, família Reduviidae, subfamília Triatominae, sendo o
Triatoma infestans, o vetor mais importante da doença. A biologia do T. cruzi, assim
como seus vetores, seus reservatórios, a clínica da doença, bem como sua
epidemiologia e patologia, foram descobertos pelo pesquisador Carlos Chagas
(1879-1934) em 1909 no estado de Minas Gerais, Brasil. Sua descoberta foi
considerada única na história da medicina, constituindo um marco importante na
história da ciência e da saúde brasileiras (RASSI JR.; RASSI; MARIN-NETO, 2010).
Apesar dos 100 anos de sua descoberta, a DC continua sendo considerada
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das mais importantes
doenças infecto-parasitárias relacionadas à pobreza na América Latina,
acarretando, assim, um importante problema de saúde pública, com uma estimativa
de indivíduos infectados no mundo em torno de 8 milhões de pessoas
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2009; SCHOFIELD et al., 2006; RASSI Jr.;
RASSI; MARIN-NETO, 2010). No Brasil, atualmente, predominam os casos crônicos
de DC decorrentes de infecções adquiridas no passado, sendo a maioria infectada
pela via vetorial, forma de transmissão intimamente relacionada às baixas condições
sócio-econômicas da população (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2009). A
estimativa de infectados no país é de aproximadamente três milhões de pessoas
(PETHERICK et al., 2010). A média de internações nacional pela doença ficou em
0,99 no período de 1995 a 2008 (BRAZ et al., 2011). No estado de Pernambuco, a
média para o mesmo período foi de 0,39, sendo maiores as taxas no interior do
estado. Com relação ao número de óbitos, Pernambuco obteve média de 1,56 entre
1980 e 2007, apresentando média inferior à brasileira que foi de 3,66 (BRAZ et al.,
2011).
Apesar do predomínio de casos crônicos, nos últimos anos, a ocorrência da
DC aguda (Figura 1) tem sido observada nos estados da Amazônia Legal, com
Soares, A. K. A. 21
ocorrência de casos isolados em outros estados (BA, CE, PI, SC, SP) (Figura 2),
com um número de casos confirmados de aproximadamente 765 casos no período
de 2000 a 2010 (Figura 1) (BRASIL, 2010).
Figura 1 - Casos confirmados da DC aguda de acordo com o ano de notificação (2000 a 2010) e forma de transmissão.
Fonte: Ministério da Saúde. (BRASIL, 2010).
A partir de 1975, ações organizadas de controle por inseticidas foram
instituídas com o intuito de conter a transmissão vetorial da doença. Esse controle
vetorial demonstrou uma expressiva diminuição da transmissão do T. cruzi ao
homem. Em 2006, o Brasil recebeu a certificação internacional de interrupção da
transmissão da doença pelo T. infestans, concedida pela Organização
Panamericana de Saúde (OPAS) e OMS (BRASIL, 2010). Entretanto, apesar do
expressivo controle vetorial, casos e surtos da doença na Amazônia legal e outros
estados por transmissão vetorial e oral (por ingestão de alimentos contaminados)
estão ocorrendo (BRASIL, 2010).
Soares, A. K. A. 22
Figura 2: Mapa do território brasileiro apresentando os casos de doença de Chagas aguda (DCA) por município, no período de 2000 a 2010, Brasil.
Fonte: Ministério da Saúde. (BRASIL, 2010). Legenda: Municípios com até 10 casos de DCA; municípios com número de casos de DCA de 11 a 40; municípios com número de casos de DCA de 41 ou mais casos.
A via oral de transmissão pode vir a se tornar um grande problema de saúde
pública, quando os casos não são devidamente notificados para que as precauções
necessárias sejam tomadas (LAISON et al., 1979). Os caos de DC aguda são de
notificação compulsória e imediata, devendo ocorrer em no máximo 24 horas a partir
da suspeita inicial (BRASIL, 2010). No Brasil, surtos recentes têm ocorrido através
dessa via de transmissão, sendo quase sempre observada a presença de vetores
e/ou reservatórios infectados próximos aos locais de ocorrência (SHIKANAI-
YASUDA et al., 1991; STEINDEL et al., 2008; VALENTE et al., 1999). No período de
2000 a meados de 2010, foram registrados 1093 casos de DC aguda, sendo, 71%
(776/1093) por transmissão oral e 6% por transmissão vetorial (70/1093) (BRASIL,
2010).
Além das vias já citadas, outras vias de transmissão da DC também podem
ser encontradas, tais como a via transfusional, considerada de grande importância,
já que 60% dos indivíduos infectados residem em centros urbanos e,
aproximadamente, 50% destes encontra-se na fase clínica crônica indeterminada,
constituindo um grupo de potenciais doadores de sangue, aumentando, assim, o
Soares, A. K. A. 23
risco da doença transfusional (MORAES-SOUZA, 2006); a via congênita, por
aleitamento materno, acidentes laboratoriais e transplantes de órgãos (REICHIE et
al., 1996; DIAS, 2000).
1.2 Aspectos clínicos e laboratoriais da doença de Chagas
A análise de aspectos clínicos e laboratoriais dos portadores desta
enfermidade permite classificar a infecção em duas fases: aguda e crônica. A fase
aguda compreende os fenômenos clínicos que se estabelecem nos primeiros dois a
quatro meses de infecção, além de alta parasitemia (DIAS, 1989; MAZZA; FREIRE,
1940). Manifestações sistêmicas, como febre, mal estar, astenia, edema
subcutâneo, linfoadenomegalia, esplenomegalia e hepatomegalia, podem ser
também observadas (REZENDE; RASSI, 1994). Devido à alta mortalidade em
crianças e jovens (DIAS, 1987), o tratamento etiológico nessa fase é indicado,
qualquer que tenha sido o mecanismo da infecção (BRASIL, 2005). Com relação ao
tratamento etiológico da DC, a partir de 1930, testes foram realizados para
desenvolver um medicamento adequado para o tratamento da infecção. Entretanto,
apenas o nifurtimox e benzonidazol apresentaram resultados relevantes nos países
endêmicos (NEGRETTE et al., 2008). Apesar disso, ainda observam-se grandes
dificuldades quanto às suas aplicações por não apresentarem total eficácia
(CANÇADO, 1985) sendo seus potenciais de cura parasitológica dependente do tipo
de cepa presente no hospedeiro (ANDRADE et al., 1985). Em estudos relizados no
Brasil e em outros países do continente Sul-Americano (CANÇADO et al., 1969,
1975,1976,1985; CERISOLA et al., 1972) sobre a tolerância e a eficácia desses dois
antiparasitários em pacientes nas fases aguda e crônica da doença, importantes
efeitos colaterais foram observados, sendo o índice de cura parasitológica em torno
de 60% nos pacientes que apresentam a fase aguda, mas, pouco expressivo na
fase crônica (COURA et al., 1997).
A fase crônica é caracterizada por parasitemia muito baixa, não detectável
através de métodos parasitológicos diretos (LUQUETTI, 1987). Esta fase é de
grande importância médica, e apresenta-se sob três formas clínicas principais:
indeterminada (FI), cardíaca (FC) e digestiva (FD), que comprometem órgãos vitais
do organismo. Cerca de 50-60% dos pacientes apresentam a FI da doença, 20-30%
desenvolvem a FC e 8-10% apresentam a FD (DIAS, 1989). A FI foi reconhecida, já
Soares, A. K. A. 24
em 1916, por Carlos Chagas, e por ele conceituada para designar a infecção na
“ausência de qualquer das síndromes clínicas predominantes”. Esta forma clínica
caracteriza-se por apresentar eletrocardiograma e exames radiológicos do tórax,
esôfago e cólon normais (BRASIL, 2005).
A FC é considerada a principal responsável pela elevada morbidade e
mortalidade da doença, ocorrendo na maioria dos pacientes sintomáticos da fase
crônica (DIAS, 1989). Sua expressão clínica é caracterizada pela presença de
sintomas, sinais físicos e alterações de exames laboratoriais simples,
eletrocardiograma e a radiografia torácica (DIAS, 1989). Além das formas FC e FI,
os indivíduos portadores da infecção chagásica podem ainda apresentar a FD, que
pode apresentar como principais manifestações clínicas, dilatações do esôfago
(megaesôfago) e/ou cólon (megacólon) que têm como características, infiltração
linfocítica focal e degeneração neuronal com desnervação (COURA; BORGES-
PEREIRA, 2010). Os sintomas podem variar desde disfagia, dor epigástrica ou
retroesternal, além de soluços, intensa salivação; podendo também ocorrer lesões
intestinais, e emagrecimento (REZENDE; MOREIRA, 2000). As manifestações
clínicas, dilatação do esôfago e/ou do cólon podem ocorrer em separado ou mesmo
simultaneamente. A confirmação da FD ocorre através de alterações reveladas na
radiografia de esôfago e/ou do colón, na endoscopia, no enema opaco ou na
colonoscopia (BRASIL, 2005; RASSI Jr.; RASSI; MARIN-NETO, 2010).
Acredita-se que as manifestações patológicas nas duas fases da doença
sejam conseqüentes de mecanismos multifatoriais relacionados tanto ao parasito
quanto ao homem. Dentre os fatores relacionados ao parasito, análises em
camundongos revelaram que a variabilidade das cepas do T. cruzi, o tropismo, a
antigenicidade e o tamanho do inóculo são aspectos relevantes (ANDRADE et al.,
2002). Quanto ao hospedeiro, é importante ressaltar a faixa etária, o estado
nutricional e, especialmente, as características imunológicas (DIAS, 2000).
1.3 Aspectos imunológicos da doença de Chagas
Diversos trabalhos têm relatado a importância da resposta imune do indivíduo
frente ao parasito, sugerindo sua contribuição para a evolução da doença
(BARROS-MAZON et al., 2004; GOMES et al., 2003), já que sua ativação é
Soares, A. K. A. 25
responsável pelo controle do parasita, como também, é responsável pela reação
inflamatória localizada em alguns órgãos específicos (TEIXEIRA et al., 2002).
Muitos são os mecanismos envolvidos que levam às formas graves da
doença e sua morbidade. Já a ausência de sintomatologia pode estar associada
com a capacidade individual de regular a resposta imune anti-T. cruzi. Entretanto,
devido à complexidade da resposta imunológica na DC, esse processo pode
também contribuir para os danos inflamatórios causados pela doença (BRENER;
GAZZINELLI, 1997).
Apesar da ação eficiente do sistema imune, aparentemente, o parasita
persiste no organismo do paciente em baixos níveis na fase crônica da doença.
Esse fato pode ser comprovado nos casos de pacientes imunodeprimidos ou em
estados de imunossupressão, quando se observa um aumento da carga parasitária,
caracterizando assim, uma reativação do parasitismo. O parasita persiste no
hospedeiro na forma intracelular, já que estudos mostraram que células
intensamente parasitadas por T. cruzi não são danificadas pelo infiltrado inflamatório
durante a infecção (HIGUCHI et al., 1997; VIANNA, 1911).
Devido à complexidade dos mecanismos imunopatológicos da DC e,
conseqüentemente, os poucos conhecimentos para prever a evolução para as
formas clínicas da doença, as células e os fatores solúveis secretados, como as
citocinas, poderiam ser a ligação para o estabelecimento de marcadores biológicos
que auxiliassem no prognóstico das formas graves da doença.
Neste contexto, o possível papel dos mecanismos imunes para o
desenvolvimento das formas clínicas severas da DC tem sido avaliado. Assim,
vários grupos de pesquisa têm buscado um padrão de resposta imune entre os
pacientes chagásicos portadores das diferentes formas clínicas.
Ensaios de proliferação celular, utilizando células mononucleares de sangue
periférico (PBMC), foram realizados entre os pacientes portadores da DC após
estímulo com antígenos complexos de formas epimastigotas e tripomastigotas ou
frações celulares do T. cruzi. Diferenças na intensidade da resposta proliferativa
entre a FI e as formas sintomáticas foram demonstradas, sugerindo que este padrão
de reatividade imune poderia estar relacionado a patogenia das lesões tissulares na
DC (BARROS-MAZON et al., 2004; DE TITTO et al., 1985). Entretanto, outros
estudos não encontraram diferenças nas respostas proliferativas entre os pacientes
Soares, A. K. A. 26
portadores da FI e aqueles portadores das formas sintomáticas (GAZZINELLI et al.,
1990; LORENA et al., 2008; MICHAILOWSKY et al., 2003; MORATO et al., 1986).
Estudos sobre a investigação de padrões de secreção de citocinas em PBMC
de pacientes chagásicos têm sido realizados utilizando antígenos complexos das
formas epimastigotas e tripomastigotas de T. cruzi. Esses trabalhos demonstraram
que a IL-10 é a citocina secretada por pacientes portadores da FI. Já os pacientes
portadores das formas cardíacas têm maiores níveis de IFN-γ (BAHIA-OLIVEIRA et
al., 1998; CORREA-OLIVEIRA et al., 1999; GOMES et al., 2003).
Souza et al. (2004) quando estimularam células aderentes obtidas de PBMC
com tripomastigotas vivos, observaram que monócitos de pacientes com a FI estão
relacionados com a produção de IL-10, enquanto monócitos de pacientes com a FC
expressam TNF-α. Além disso, os elevados níveis de IFN-γ estão correlacionados
com o nível de severidade do envolvimento cardíaco, sugerindo que esta citocina
poderia estar envolvida com a evolução da FC. Por outro lado, a IL-10 poderia estar
associada com a proteção do hospedeiro portador da FI contra o desenvolvimento
das formas crônicas sintomáticas (GOMES et al., 2003). Diante desses achados, os
autores sugeriram que pacientes portadores da FI, que são capazes de manter
baixos níveis de IFN-γ e altos níveis de IL-10, poderiam não desenvolver a doença
cardíaca.
1.3.1 Os monócitos na doença de Chagas
Os monócitos são leucócitos que se desenvolvem na medula óssea,
passando a circular na corrente sanguínea por poucos dias e finalmente deslocam-
se para os tecidos onde, passam a ser denominados macrófagos. Essas células
apresentam como funções o processamento e apresentação de antígenos, sendo
por isso chamadas de Células Apresentadoras de Antígenos (APCs). Quando
antígenos proteícos presentes no meio extracelular são fagocitados pelas APCs e
confinados em vesículas citoplasmáticas, são transformados em peptídeos que
passam a serem exibidos pelas moléculas do Complexo Principal de
Histocompatibilidade (MHC) de classe II (ABBAS; LICHTAMAN 2005; TURLEY et
al., 2000).
Soares, A. K. A. 27
O receptor de células T (TCR) consiste em uma cadeia α e outra β, que
participam do reconhecimento dos antígenos. Esse receptor, específico para
antígeno peptídico, reconhece o peptídeo exibido e ao mesmo tempo, reconhece os
resíduos da molécula do MHC localizados ao redor da fenda de ligação do peptídeo.
Cada célula restrita ao MHC que atingiu a fase madura expressa a molécula CD4 ou
a CD8, que são denominadas co-receptores porque se ligam ao MHC junto com o
TCR (ABBAS; LICHTMAN 2005).
As relações entre os monócitos e os linfócitos através das moléculas co-
estimulatórias e das citocinas, são de extrema importância para a produção de uma
resposta imune eficiente (ABBAS; LICHTMAN, 2005; SOUZA et al., 2007). As
moléculas de superfície HLA-DR, são antígenos glicoprotéicos MHC classe II,
constitutivas das APCs. Essas moléculas estimulam as respostas imunes
adaptativas através da apresentação de peptídeos a linfócitos TCD4+ (LA FLAMME
et al.,1997). Já as moléculas co-estimulatórias (CD80+, CD86+) são importantes
para promover a ativação e a diferenciação dos linfócitos T (FREEMAN, et al.,
1993a, FREEMAN, et al., 1993b). Essas moléculas co-estimulatórias, também
conhecidas como B7-1 e B7-2, CD80+ e CD86+, respectivamente, são reconhecidas
por um receptor chamado de CD28+, que é expresso em praticamente todas as
células T (ABBAS; LICHTMAN, 2005). Os sinais resultantes da ligação do CD28+
presente na superfície dos linfócitos T com as co-estimulatórias localizadas na
superfície das APCs atuam em conjunto com os sinais gerados pela ligação do TCR
e do co-receptor aos complexos peptídeo-MHC encontrados na superfície das
mesmas APCs. A sinalização mediada pelo CD28 é essencial sendo uma das mais
importantes formas de co-estimulação (WANG; CHENG, 2004). Esta interação
promove a proliferação de linfócitos além de também promover a produção de
citocinas (Figura 3) (LINSLEY; LEDBETTER, 1993).
Soares, A. K. A. 28
Figura 3: Papel da co-estimulação na ativação das células T.
Fonte: Adaptado de University of South Carolina, (2009). Legenda: TCR – Receptor de células T; B7 – Moléculas co-estimulatórias (CD80+ e/ou CD86+) ; MHC – Complexo principal de histocompatibilidade; CD28 – Ligante da molécula co-estimulatória.
Molica (2007), estudou o fenótipo de células mononucleares totais e células
não aderentes, demonstrando que células CD14+ expressam moléculas HLA-DR+,
CD80+ e CD86+ com intensidade semelhante nas culturas estimuladas ou não com
T. cruzi. Entretanto, apesar de não haver diferença estatística foi possível observar
no grupo dos pacientes portadores da FI uma expressão menor de moléculas HLA-
DR+ e CD80+ sugerindo que a ativação dos linfócitos T por essas células poderia
estar mais controlada.
Para a correta estimulação das células T, é necessária uma interação entre o
receptor de células T com a molécula de MHC, além da adequada co-estimulação
realizada pelas moléculas co-estimulatórias por parte das APCs (ABBAS;
LICHTMAN, 2005; SOUZA et al., 2004). Como mecanismo de fuga de alguns
microorganismos, observa-se a diminuição da resposta modulatória das APCs e
também da expressão de moléculas de co-estimulação (SOUZA et al., 2004).
Alguns parasitas podem estimular a produção de citocinas que induzem a uma
(Ativação)
(Célula apresentadora de antígeno)
(Ativação)
(Divisão, Diferenciação etc)
Soares, A. K. A. 29
diminuição da expressão de moléculas importantes, como as moléculas de MHC de
classe II e de moléculas co-estimulatórias (RUSSO et al., 1993).
Souza et al. (2007) demonstraram a capacidade imunomoduladora do T. cruzi
através da sua capacidade de induzir a expressão diferencial de moléculas co-
estimulatórias e citocinas por monócitos e células T entre os grupos de portadores
de diferentes formas clínicas crônicas da DC. Os resultados mostraram que a
freqüência da expressão de CD80+ por monócitos CD14+ foi significativamente
aumentada após a infecção pelo T. cruzi em todos os grupos estudados (FC e FI).
Observou-se também uma maior freqüência da expressão de CD80+ por monócitos
CD14+ dos grupos de indivíduos portadores da FI e FC quando relacionados ao
grupo de indivíduos não infectados (NI). Com relação à molécula CD86+, observou-
se uma diminuição da mesma, apenas no grupo de indivíduos portadores da FC.
Segundo Souza et al. (2007), esses dados demonstram que o T. cruzi apresenta a
capacidade de alterar a expressão de moléculas co-estimulatórias e citocinas,
sugerindo mecanismos moleculares para a evolução clínica diferencial da DC
humana.
No estudo de Souza et al. (2004), foi descrito que monócitos de pacientes
portadores da FI apresentaram baixos níveis de HLA-DR+ em comparação aos
indivíduos NI, tanto ex vivo e quanto após infecção in vitro com T. cruzi. Além disso,
a expressão de CD11b, molécula presente na superfície de monócitos envolvida na
ativação dos linfócitos T, ex vivo foi semelhante entre os grupos estudados. Porém,
na infecção in vitro ocorreu uma diminuição da expressão dessa molécula por
monócitos de pacientes com a DC, o que não foi observado com o grupo de
indivíduos NI. Os resultados deste estudo sugerem que os monócitos CD14+ de
indivíduos do grupo de portadores da FI da doença apresentam características
modulatórias relacionadas com uma baixa expressão da molécula HLA-DR+ e alta
expressão da citocina IL-10. Já os monócitos CD14+ de indivíduos portadores da FC
apresentam características voltadas para uma indução da resposta inflamatória
relacionada com altos níveis de expressão de TNF-α.
A interação entre o T. cruzi e os monócitos é certamente um evento
importante na imunorregulação da doença de Chagas humana (GOMES, et al.,
2003; SOUZA et al., 2004; SOUZA et al., 2007). Portanto, a busca por um melhor
entendimento dos mecanismos imunológicos envolvidos na imunorreguação da DC
através da caracterização do perfil fenotípico dos monócitos bem como a avaliação
Soares, A. K. A. 30
da produção de citocinas do tipo Th1 e Th2, após estímulo antígeno específico, é de
grande importância para auxiliar na compreensão da resposta imunológica na DC.
1.4 Antígenos recombinantes do T. cruzi: CRA e FRA
A maioria dos trabalhos sobre a investigação da resposta imunológica de
pacientes portadores da DC tem utilizado preparações antigênicas solúveis do
parasito. Com isso, não permitem a detecção de uma resposta imune específica, já
que apresentam uma mistura complexa de antígenos. Portanto, a utilização de
materiais definidos do parasita, torna-se um requisito não apenas para o
desenvolvimento de testes sorológicos e triagem em bancos de sangue, mas
também para a identificação de moléculas importantes na interação parasito-
hospedeiro e nos estudos para o entendimento da imunopatologia da DC (LORCA et
al., 1992).
Os antígenos CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen ou antígeno
citoplasmático repetitivo) presente nas formas epimastigotas e amastigotas e FRA
(Flagellar Repetitive Antigen ou antígeno flagelar repetitivo) presente nas formas
epimastigotas e tripomastigotas do T. cruzi (KRIEGER et al., 1992; LAFAILLE et al.,
1989), vem sendo empregados por nosso grupo de estudos de desenvolvimento de
marcadores imunológicos visando o prognóstico das formas clínicas crônicas da DC.
Verçosa et al. (2007), demonstraram níveis elevados de IgG2 anti-FRA no
soro de pacientes portadores da FC, quando comparado aos pacientes portadores
da FI e FD. Vasconcelos et al. (2010), demonstraram aumento dos níveis séricos de
IgA anti-CRA e anti-FRA em indivíduos portadores da FD quando comparado aos
níveis observados nos indivíduos portadores das FC e FI. Lorena et al. (2008),
realizaram detecção de citocinas no sobrenadante de cultura de PBMC estimuladas
com CRA e FRA, observando que o CRA foi capaz de induzir a secreção de TNF-α
e IFN-γ por indivíduos portadores da DC quando comparados aos indivíduos não
portadores, porém nenhuma diferença significativa foi observada entre as formas
clínicas da DC. No entanto, em estudo recente, níveis elevados de linfócitos T CD8+
específicos ao CRA produtoras de IFN-γ e TNF-α foram verificados em portadores
da FC que apresentavam megacárdio, quando comparado aos portadores da FC
sem dilatação da área cardíaca e aos portadores da FI. Esses resultados indicam a
participação de uma resposta citotóxica exacerbada no grupo de pacientes da FC
Soares, A. K. A. 31
grave (FC2) indicando que a lesão das fibras cardíacas possa estar relacionada a
essa forte resposta inflamatória (LORENA et al., 2010). Melo (2011), avaliou através
da detecção do RNA mensageiro, por PCR em tempo real, a expressão gênica para
as citocinas IFN-γ e IL-10, pelas células mononucleares de sangue periférico
(PBMC) estimuladas com os Ag-Recs CRA e FRA. Nesse estudo, não foram
observadas diferenças significativas na produção destas citocinas entre as formas
clínicas estudadas. No estudo de Braz (2011), os dados encontrados sugerem que
os linfócitos T CD4+CD25+ específicos ao CRA e FRA podem estar envolvidos na
prevenção da evolução clínica dos portadores crônicos desta doença, já que
estavam presentes em maiores níveis no sangue dos indivíduos portadores da FI
após o cultivo na presença dos antígenos.
Com isso, resultados relacionados ao papel do sistema imunológico na DC
utilizando Ag-Recs, demonstram ser de grande importância para o entendimento
dos mecanismos de desenvolvimento da doença por permitirem determinar a
relação entre padrões celulares e as diferentes formas clínicas apresentadas pelos
pacientes.
Soares, A. K. A. 32
2 JUSTIFICATIVA
Embora os mecanismos imunopatológicos da DC não estejam bem claros e,
conseqüentemente, pouco foi estabelecido sobre a evolução dos indivíduos
portadores das formas cardíacas (FC1 e FC2) da doença, muitos estudos têm sido
realizados para avaliar a resposta imune celular, visando à identificação de
marcadores biológicos que pudessem auxiliar no prognóstico da DC.
Sendo assim, considerando a importância da resposta imune evidenciada
pela produção de anticorpos específicos contra CRA ou FRA, por indivíduos
portadores da DC e o potencial valor prognóstico dos Ags-Recs demonstrado por
nosso grupo de pesquisa (VERÇOSA et al., 2007; LORENA et al., 2008, 2010), além
de também consideramos a importância dos achados de Lorena et al., (2010), que
avaliaram a produção de citocinas pelos monócitos CD14+ obtidos de cultura de
sangue periférico estimulada in vitro com CRA e FRA e que demonstraram que
essas células são as principais produtoras das citocinas TNF-α, IFN-γ e IL-10 em
todos os grupos de pacientes chagásicos, nos propomos avaliar a produção de
citocinas do perfil Th1 e Th2 por células CD14+, entretanto, células CD14+HLA-DR+.
Além disso, avaliamos também, a presença das moléculas co-estimulatórias CD80+
e CD86+ na superfície dessas células em indivíduos portadores da DC frente à CRA
e FRA, relacionando assim, com a gravidade das formas clínicas cardíacas crônicas
da doença.
Um estudo longitudinal com seguimento dos grupos de indivíduos das formas
cardíacas se faria necessário se estes perfis diferenciados fossem devidamente
confirmados. Desta forma, mecanismos capazes de bloquear ou amenizar o
desenvolvimento das formas graves da doença, como por exemplo, estratégias de
tratamento durante a fase crônica, poderiam melhorar a qualidade de vida dos
indivíduos. Estratégias terapêuticas visando a regulação da resposta imune celular e
da modulação de componentes inflamatórios, associado à droga antiparasitária,
possuem favoráveis expectativas para terapia dos indivíduos portadores da doença.
Soares, A. K. A. 33
3 HIPÓTESE
Existe uma diferenciação no perfil de expressão das moléculas co-estimulatórias
de superfície CD80+ e CD86+ e na produção de citocinas pelos monócitos
CD14+HLA-DR+ de indivíduos portadores de formas clínicas crônicas da doença de
Chagas antes e após estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e FRA de T. cruzi.
Soares, A. K. A. 34
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo geral
Avaliar os monócitos CD14+ de indivíduos portadores de formas clínicas
crônicas da doença de Chagas antes e após estímulo in vitro com os antígenos
recombinantes CRA e FRA de T. cruzi.
4.2 Objetivos específicos
a) Avaliar a expressão de moléculas CD80+ e CD86+ na superfície de monócitos
CD14+HLA-DR+ no sangue periférico de indivíduos portadores de formas
clínicas crônicas da DC, antes e após estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA
e FRA;
b) Avaliar a produção das citocinas IL-12, IL-10, TNF-α e IFN-γ pelos monócitos
CD14+HLA-DR+ após estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e FRA entre os
indivíduos portadores de formas clínicas crônicas da DC;
c) Correlacionar o perfil de citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias ente as
formas clínicas crônicas estudadas.
Soares, A. K. A. 35
5 MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 Proteínas recombinantes
Os Ags-Recs CRA e FRA, obtidos como descrito por Krieger et al., (1992),
foram preparados no Departamento de Reativos para Diagnóstico de Bio-
Manguinhos e enviados para o Laboratório de Imunoparasitologia do
CPqAM/Fiocruz onde foram analisados através de eletroforese em gel de
poliacrilamida na presença de dodecil sulfato de sódio (LAEMMILI, 1970) e corados
pelo corante Comassie Blue. Além disso, contaminação por proteínas e carboidratos
bacterianos também foram analisadas através da coloração pela prata
(MORRISSEY, 1981) e pelo ácido periódico de Schiff (JANN et al., 1975),
respectivamente. Todos os lotes utilizados dos Ags-Recs CRA e FRA foram
analisados, apresentando-se bem conservados e não contaminados por proteínas e
carboidratos derivados da Escherichia coli, vetor onde os Ags-Recs foram
produzidos.
5.2 Tipo do estudo
O estudo foi do tipo experimental ou ensaio clínico não-randomizado. A
população de estudo foi escolhida através de critérios de disponibilidade ou
conveniência (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003).
5.3 População do estudo
A população de estudo foi composta por 31 pacientes portadores de formas
clínicas crônicas da DC selecionados na Casa do Portador da doença de Chagas e
Insuficiência Cardíaca do Pronto Socorro Cardiológico De Pernambuco
(PROCAPE), Recife-PE. Os indivíduos portadores da DC foram selecionados para
inclusão no estudo através de 5 critérios:
1) Sorologia positiva para a infecção chagásica (dois testes com princípios
metodológicos ou preparações antigênicas diferentes);
2) Exames clínicos para a devida caracterização das formas clínicas;
3) Não ter sido submetido ao tratamento etiológico;
Soares, A. K. A. 36
4) Não apresentar queixas digestivas tais como disfagia e constipação;
5) Não ter apresentado alteração leucocitária no hemograma.
Todos os pacientes foram atendidos e examinados por médicos que fazem
parte do ambulatório, Dra. Glória Cavalcanti Melo (CRM 7942), Dra. Mariza Melo
(CRM 7760) e Dra. Cristina Tavares (CRM 6061), médicas colaboradoras deste
estudo. Para a adequada caracterização das formas clínicas foram realizadas
análises clínicas e laboratoriais: exame físico, sorologia para a infecção pelo T.
cruzi, eletrocardiograma, ecocardiograma, raios-X de tórax e de esôfago e enema
opaco (quando necessários).
Dos indivíduos selecionados, 7 são portadores da FI, 10 da FC1 e 14
indivíduos portadores da FC2. Os pacientes portadores da FC foram selecionados
por apresentarem alterações eletrocardiográficas, ecocardiográficas e/ou alterações
no raio-X de tórax. Esses indivíduos apresentavam sorologia reagente para infecção
pelo T. cruzi, mas, não apresentavam dilatação do esôfago e do cólon (megas), bem
como não apresentavam queixas digestivas. Para caracterizarmos como FC1, o
paciente não apresentava dilatação da área cardíaca, além de apresentar fração de
ejeção >55% no ecocardiograma. Na avaliação clínica da FC2, o paciente
apresentava dilatação da área cardíaca, com fração de ejeção no ecocardiograma
<30% e/ou aumento da área ventricular esquerda.
Caracterizamos os pacientes da FI quando não apresentaram quaisquer
alterações cardíacas e digestivas, mas com sorologia reagente para infecção pelo T.
cruzi. Como grupo controle, 7 indivíduos voluntários, não infectados (NI) pelo T.
cruzi, foram selecionados de acordo com os seguintes critérios:
1) Não ter habitado em área endêmica para a DC;
2) Nunca ter recebido transfusão de sangue;
3) Ter apresentado teste sorológico não reagente para a DC;
4) Não apresentar alteração leucocitária no hemograma.
5.3.1 Aspectos éticos
As abordagens utilizadas no presente estudo foram aprovadas pelo Comitê
de Ética do CPqAM/Fiocruz (Anexo A). Todos os indivíduos que participaram do
estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por escrito
Soares, A. K. A. 37
(Apêndice A e B). Além disso, um formulário de pesquisa foi aplicado para os
indivíduos portadores da DC e para os indivíduos NI.
5.4 Coleta de sangue
Dez mililitros de sangue foram coletados por punção venosa em tubos
contendo heparina sódica para utilização nos ensaios de cultura celular. Para
confirmação da sorologia para a infecção pelo T. cruzi, foram coletados 5 mL de
sangue em tubo sem anticoagulante para obtenção de soro e posterior análise. As
alíquotas de soro foram devidamente identificadas e armazenadas a -20°C. Além
disso, foram coletados 5 mL de sangue em tubos contendo EDTA para a realização
do hemograma no Laboratório do Hospital Universitário Oswaldo Cruz/UPE
(HUOC/UPE), com o objetivo de avaliar a contagem de leucócitos.
5.5 Sorologia para infecção pelo T. cruzi
Foram utilizados dois testes imunoenzimáticos com preparações antigênicas
diferentes para a confirmação da infecção chagásica: o primeiro é constituído de
uma mistura de extratos totais do T. cruzi adsorvidos à placa de microtitulação
(Chagas test ELISA III) proveniente de Bioschile Ingenieria Genetica S.A™ e o
segundo utiliza Ag-Recs adsorvidos à placa (Imuno-ELISA Chagas) proveniente de
Wama Diagnóstica™. Foram considerados reagentes os resultados reativos nos
dois testes utilizados e não-reagentes os resultados que apresentaram não-
reatividade nos dois testes. Todos os pacientes provenientes do HUOC/UPE
apresentaram sorologias reagentes, sendo confirmada também, a sorologia não-
reagente dos indivíduos NI.
5.6 Padronização das quantidades de anticorpos para o ensaio de citometria
Foram coletados 10mL de sangue por punção venosa, em tubos contendo
heparina de dois indivíduos controles para posterior realização da cultura. O sangue
foi adicionado em tubos de cultura e estimulando apenas com Fitohemaglutinina
(PHA) (10µg/mL) durante 24h. A quantidade dos anticorpos anti-CD14, anti-HLA-
DR, anti-CD80 (B7/BB1) e anti-CD86(B7-2/B70) foi escolhida a partir de duas
Soares, A. K. A. 38
quantidades utilizadas (2,5 e 5µL) seguindo a orientação do fabricante. Para a
titulação de anticorpos anti-citocinas foram realizadas duas diluições (1:30 e 1:50).
Com relação a IL-12 utilizamos três quantidades (5, 10 e 20µL) baseadas nas
orientações do fabricante. A escolha das concentrações de anticorpos foi
determinada levando em consideração o desempenho da marcação e a diminuição
dos custos. As características dos anticorpos utilizados neste estudo estão
demonstradas no Quadro 1.
Quadro 1: Características dos anticorpos utilizados no ensaio de citometria de fluxo.
Anticorpo Clone Isotipo Fluorocromo
CD14 TüK4 Mouse IgG2a FITC
HLA-DR Tü36 Mouse IgG2b PerCP
CD80 MEM-233 Mouse IgG1 PE
CD86 BU63 Mouse IgG1 APC
IL-10 JES3-19F1 Rat IgG2a PE
IL-12 C11.5 Mouse IgG1 PE
IFN-γ B27 Mouse IgG1 APC
TNF-α Mab11 Mouse IgG1 APC
Fonte: Elaborado pela autora. Nota: CD: Cluster of differentiation; HLA-DR: Antígeno leucocitário humano; APC: Aloficocianina; FITC: Isotiocianato de fluoresceína; PE: Ficoeritrina; PerCP: Peridinin chlorophyll protein complex.
5.7 Cultura celular
Para cada amostra de sangue periférico foram realizadas culturas celulares
em tubos de polipropileno de 14mL (BD Systems™) contendo o meio de cultura
RPMI 1640 com glutamina (2mM) suplementado (Com solução de Penicilina/
Estreptomicina a 1% (Sigma™) e soro bovino fetal a 10% (Sigma™), tendo volume
final de 2mL (1mL de meio + 1mL de sangue). As amostras foram estimuladas
separadamente com Fitohemaglutinina (PHA) (GIBCO TM/ Invitrogen Corporation)
(5µg/mL) como controle positivo, CRA e FRA (2µg/mL), além de uma cultura sem
estímulo (SE). Os tubos foram incubados em estufa de CO2 com 5% de umidade a
37ºC por 24h.
Soares, A. K. A. 39
5.8 Caracterização dos marcadores de superfície e c itocinas
intracitoplasmáticas
Quatro horas antes do término do cultivo foram adicionadas em cada cultura
20µL de Brefeldina A (Sigma™) (10µg/mL). Sua utilização promove a retenção da
citocina no interior celular, uma vez que interfere no trânsito de secreção de
proteínas, mantendo-as no interior do Complexo de Golgi (HUDSON; GRILLO,
1991). Ao final do período de incubação in vitro, foram adicionados 220µL de EDTA
20mM (Sigma™) às culturas por 10 minutos à temperatura ambiente (TA). Em
seguida, adicionamos cerca de 8 ml de PBS-Wash (PBS contendo albumina sérica
bovina a 0,5% -Sigma™ e azida sódica a 1% - Sigma™) para então, centrifugá-los a
400 x g por um tempo de 10 minutos à TA. Com o auxílio de uma bomba a vácuo, o
sobrenadante foi retirado e descartado, até o volume final de 1ml. Foram então
retirados 100µl da suspensão celular e depositados em tubos de poliestireno (5mL)
(BD Systems™) devidamente identificados, contendo os anticorpos monoclonais de
superfície anti-CD14 (5µl), anti-HLA-DR (2,5µl), anti-CD80 (2,5µl) e anti-CD86
(2,5µl) previamente titulados, por 30” a TA. Após a incubação, os eritrócitos foram
lisados através da adição da solução de lise (2ml) (2,85% de citrato de sódio –
VETEC Química fina, 30% de dietilenoglicol – VETEC Química fina, 54% de
formaldeído 37% - VETEC Química fina, 0,04% de heparina 100.000 USP -
Hepamax-S®, Blausiegel®) diluída 1:10 em água destilada, no vórtex e incubados
por 5 minutos ao abrigo da luz. Para bloqueio da reação, adicionamos 1mL de PBS-
Wash seguida de centrifugação (300 x g por 5 minutos à TA). Logo após a
centrifugação, o sobrenadante foi descartado e os leucócitos lavados através da
adição de 2mL de PBS-Wash. A permeabilização foi realizada através da adição de
2mL da solução de PBS-P (PBS-Wash contendo saponina a 0,2% - Sigma™) por
um tempo de 5 minutos ao abrigo da luz e a TA. Após a incubação, uma
centrifugação (300 x g por 5 minutos a TA) foi realizada e o sobrenadante
descartado. Foram depositados aos tubos 20µL dos anticorpos anti-IL10, anti-IFNγ,
anti-TNFα diluídos de 1:30 e anti-IL12, adicionada sem diluição, por um período de
incubação de 30 minutos à TA ao abrigo da luz. Após a marcação
intracitoplasmática, as células foram lavadas por duas vezes com 1mL de PBS-P e
1mL de PBS-Wash, respectivamente, sendo fixadas com 200µL de BD Cytofix™ (BD
Soares, A. K. A. 40
Biosciences®). Os tubos foram estocados a 4°C até o momento da leitura no
citômetro de fluxo.
5.9 Aquisição e análise na citometria de fluxo
A aquisição e análise das amostras foram realizadas na Plataforma
Tecnológica de Citometria de Fluxo, localizada no Núcleo de Plataformas
Tecnológicas (NPT)/CPqAM/Fiocruz. O NPT dispõe do citômetro de fluxo
FACScalibur (Becton Dickson Immunocytometry Systems™), onde podemos avaliar
parâmetros como tamanho (FSC) e granulosidade das células (SSC), além de
analisar também, as fluorescência emitidas. Estas características são detectadas
utilizando-se um sistema óptico-eletrônico que avalia a dispersão do raio laser
incidente sobre uma célula e a sua emissão de fluorescência que ocorre através de
sua conjugação aos diferentes fluorocromos que emitem diferentes comprimentos
de onda. A análise dos dados adquiridos foi realizada através do software
CellQuestPro®.
5.9.1 Aquisição e análise dos monócitos CD14+HLA-DR+
A população de monócitos foi selecionada através de dot plot SSC versus
FL1, sendo adquiridos 1.000 eventos dentro da janela R1. Após a seleção da janela
de interesse (R1), os monócitos CD14+HLA-DR+, bem como as outras marcações de
superfície anti-CD86 e anti-CD80 e as citocinas foram analisadas pela obtenção de
gráficos bidimensionais de distribuição pontual de fluorescência. Para realizar a
análise da expressão das citocinas e das moléculas de superfície pelos monócitos
CD14+HLA-DR+ foi selecionada a janela de interesse (R2) no gráfico FL1 versus
FL3, obtendo gráficos bidimensionais representativos das células triplamente
marcadas (Figura 4).
Soares, A. K. A. 41
Figura 4: Exemplo de gráfico dot plot da aquisição de monócitos no citômetro de fluxo.
Fonte: Becton Dickson Immunocytometry Systems ™, (2011). Legenda: (A) SSC versus FL1, demonstrando a marcação para monócitos; (B) FL1 versus FL3, demonstrando a marcação de CD14+ versus HLA-DR+, sendo a partir desse gráfico, selecionadas as células duplo marcadas (R2), para posterior análise com as citocinas e moléculas co-estimulatórias; (C) FL1 versus FL2, exemplificando a tripla marcação entre CD14+ HLA-DR+ versus IL-10 (FL2).
5.10 Análise estatística
A análise estatística dos dados de perfil celular e de produção de citocinas foi
realizada através do software PRISM 5.0 Windows® (E.U.A.). Para confirmação do
pressuposto de homogeneidade utilizamos o teste de Bartlet. Desta forma, para
amostras homogêneas com curva de distribuição normal, a análise de variância
(ANOVA), seguido do teste de Tukey foram realizados para comparação das médias
de expressão de moléculas de superfície e de produção de citocinas entre os
grupos. Quando diante da heterogeneidade das amostras, teste de Kruskal-Wallis
seguido do teste de Dunns, foram realizados. Para comparar os valores de
expressões das moléculas de superfície nos contextos ex vivo e in vitro, teste de
Wilcoxon para amostras pareadas foi utilizado. A avaliação das correlações entre as
produções de citocinas foi realizada através do teste de correlação de Pearson.
Todas as conclusões foram tomadas ao nível de significância de 5%.
Soares, A. K. A. 42
6 RESULTADOS
6.1 Expressão ex vivo das moléculas de superfície HLA-DR+ em monócitos CD14+,
e das moléculas co-estimulatórias CD80+ e CD86+ em monócitos CD14+HLA-
DR+
Ao avaliarmos a expressão ex vivo da molécula de MHC de classe II, HLA-
DR+, na superfície de monócitos CD14+, não detectamos diferenças estatisticamente
significantes entre os portadores das diferentes formas clínicas estudadas e dos
indivíduos NI. Com relação à expressão das moléculas co-estimulatórias CD80+ e
CD86+ na superfície de monócitos ativados, CD14+HLA-DR+, também não
observamos diferenças estatísticas significantes (Figura 5).
Figura 5: Expressão ex vivo da molécula HLA-DR+ na superfície de monócitos CD14+ (A) e das moléculas co-estimulatórias CD80+ (B) e CD86+ (C) na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e indivíduos NI.
Legenda: Pacientes portadores das formas clínicas indeterminada (FI) (N=7), forma cardíaca sem dilatação (FC1) (N=10), forma cardíaca com dilatação (FC2) (N=14) e indivíduos não infectados (NI) (N=7). As barras horizontais representam as médias aritméticas.
Soares, A. K. A. 43
6.2 Expressão da molécula HLA-DR+ em monócitos CD14+ de portadores das
diferentes formas clínicas e indivíduos NI após estímulo in vitro com os Ags-
Recs CRA e FRA
Com relação à expressão da molécula HLA-DR+, na superfície de monócitos
CD14+, após estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e FRA, não detectamos
diferenças estatisticamente significantes entre os grupos estudados (Figura 6).
Figura 6: Expressão da molécula HLA-DR+ na superfície de monócitos CD14+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e de indivíduos NI, após estímulo com os Ag-Recs CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen) e FRA (Flagellar Repetitive Antigen).
Legenda: Grupos FI (N=7), FC1(N=10), FC2 (N=14) e NI (N=7) CRA (A), grupos FI (N=7), FC1(N=10), FC2 (N=14) e NI (N=7) FRA (B). As barras horizontais representam as médias aritméticas.
6.3 Expressão das moléculas CD80+ em monócitos CD14+HLA-DR+ de portadores
das diferentes formas clínicas e de indivíduos NI após estímulo in vitro com os
Ags-Recs CRA e FRA
Ao avaliarmos a expressão da molécula de superfície CD80+, após estímulo
com ambos os Ags-Recs, não detectamos diferenças estatísticas significativas entre
as populações estudadas (Figura 7).
Soares, A. K. A. 44
Figura 7: Expressão da molécula co-estimulatória CD80+ na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e indivíduos NI, após estímulo com os Ag-Recs CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen) e FRA (Flagellar Repetitive Antigen).
Legenda: Grupos FI (N=7), FC1(N=10), FC2 (N=14) e NI (N=7) CRA (A), grupos FI (N=7), FC1(N=10), FC2 (N=14) e NI (N=7) FRA (B). As barras horizontais representam as médias aritméticas.
6.4 Expressão da molécula CD86+ em monócitos CD14+HLA-DR+ de portadores das
diferentes formas clínicas e de indivíduos NI após estímulo in vitro com os Ags-
Recs CRA e FRA
Ao avaliarmos a expressão da molécula CD86+, na superfície de monócitos
CD14+HLA-DR+, quando estimulados com ambos os antígenos, não detectamos
diferenças estatisticamente significativas entre os grupos estudados (Figura 8).
Figura 8: Expressão da molécula co-estimulatória CD86+ na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e indivíduos NI, após estímulo com os Ag-Recs CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen) e FRA (Flagellar Repetitive Antigen).
Legenda: Grupos FI (N=7), FC1(N=10), FC2 (N=14) e NI (N=7) CRA (A), grupos FI (N=7), FC1(N=10), FC2 (N=14) e NI (N=7) FRA (B). As barras horizontais representam as médias aritméticas.
Soares, A. K. A. 45
6.5 Comparação da expressão da molécula de superfície HLA-DR+ em monócitos
CD14+ de portadores das diferentes formas clínicas e de indivíduos NI antes e
após estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e FRA
Ao compararmos as expressões da molécula de superfície HLA-DR+ em
monócitos CD14+ no contexto ex vivo e após estímulo com o antígeno CRA não
detectamos nenhuma diferença estatisticamente significante (Figura 9)
Figura 9: Comparação da expressão da molécula de superfície HLA-DR+ na superfície de monócitos CD14+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e indivíduos NI, após estímulo com o antígeno CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen).
Legenda: Pacientes FI (N = 7) (A), FC1 (N = 10) (B), FC2 (N = 14) (C) e NI (N = 7) (D) estimulados com o antígeno CRA.
Ao compararmos as expressões da molécula de superfície HLA-DR+ em
monócitos CD14+ no contexto ex vivo com a expressão da mesma após estímulo in
vitro, verificamos que indivíduos portadores da forma FC2 apresentaram aumento
significativamente estatístico de HLA-DR após estímulo com o antígeno FRA (Figura
10).
Soares, A. K. A. 46
Figura 10: Comparação da expressão da molécula de superfície HLA-DR+ na superfície de monócitos CD14+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e NI, após estímulo com o antígeno FRA (Flagellar Repetitive Antigen).
Legenda: Pacientes FI (N = 7) (A), FC1 (N = 10) (B), FC2 (N = 14) (C) e NI (N = 7) (D) estimulados com o antígeno FRA. O valor de p≤0,05 está indicado quando os resultados foram estatisticamente significativos.
6.6 Comparação da expressão da molécula de superfície CD80+ em monócitos
CD14+HLA-DR+ de portadores das diferentes formas clínicas e de indivíduos
NI antes e após estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e FRA
Ao compararmos a expressão da molécula co-estimulatória CD80+ em
monócitos CD14+HLA-DR+ antes e após estimulação antigênica detectamos que,
após estímulo com CRA, o nível de expressão desta molécula aumentou
significativamente em todos os grupos de indivíduos estudados, quando comparada
à avaliação ex vivo (Figura 11).
Soares, A. K. A. 47
Figura 11: Comparação da expressão da molécula de superfície CD80+ na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+de sangue periférico de pacientes portadores da DC e NI, após estímulo com o antígeno CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen).
Legenda: Pacientes FI (N = 7) (A), FC1 (N = 10) (B), FC2 (N = 14) (C) e NI (N = 7) (D) estimulados com o antígeno CRA. Valores estatisticamente diferentes foram indicados com valor de p≤0,05.
Ao compararmos a expressão ex vivo e in vitro, após estímulo com o antígeno
FRA, obtivemos resultados semelhantes ao encontrado quando o estímulo foi CRA,
com exceção do grupo FI, onde nenhuma diferença estatística foi encontrada
(Figura 12).
Soares, A. K. A. 48
Figura 12: Comparação da expressão da molécula de superfície CD80+ na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e NI após estímulo com o antígeno FRA (Flagellar Repetitive Antigen).
Legenda: Pacientes FI (N = 7) (A), FC1 (N = 10) (B), FC2 (N = 14) (C) e NI (N = 7) (D) estimulados com o antígeno FRA. Valores estatisticamente diferentes foram indicados com valor de p≤0,05.
6.7 Comparação da expressão da molécula de superfície CD86+ em monócitos
CD14+HLA-DR+ de portadores das diferentes formas clínicas antes e após
estímulo in vitro com os Ags-Recs CRA e FRA
Ao compararmos a expressão da molécula co-estimulatória CD86+ na
superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ entre o contexto ex vivo e in vitro,
verificamos que os indivíduos portadores da FC da doença de Chagas, ou seja, FC1
e FC2 apresentaram diminuição significativa na expressão da molécula CD86+ após
estímulo com o antígeno CRA quando comparado à avaliação dessa molécula antes
do estímulo. No entanto, nenhuma diferença estatística foi observada no grupo dos
indivíduos portadores da FI e NI (Figura 13).
Soares, A. K. A. 49
Figura 13: Comparação da expressão da molécula de superfície CD86+ na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e NI após estímulo com o antígeno CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen).
Legenda: Pacientes FI (N = 7) (A), FC1 (N = 10) (B), FC2 (N = 14) (C) e NI (N = 7) (D) estimulados com o antígeno CRA. O valor de p≤0,05 está indicado quando os resultados foram estatisticamente significativos.
Quando o estímulo foi o FRA, verificamos que apenas o grupo de indivíduos
FC1 apresentou diminuição estatisticamente significante quando comparado ao
contexto ex vivo (Figura 14).
Soares, A. K. A. 50
Figura 14: Comparação da expressão da molécula de superfície CD86+ na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico de pacientes portadores da DC e NI, após estímulo com o antígeno FRA (Flagellar Repetitive Antigen).
Legenda: Pacientes FI (N = 7) (A), FC1 (N = 10) (B), FC2 (N = 14) (C) e NI (N = 7) (D) estimulados com o antígeno FRA. O valor de p≤0,05 está indicado quando os resultados foram estatisticamente significativos.
Soares, A. K. A. 51
6.8 Avaliação do perfil de citocinas intracitoplasm áticas por monócitos
CD14+HLA-DR+ dos diferentes grupos estudados após estimulação in vitro
com os Ags-Recs CRA e FRA de T. cruzi
6.8.1 Produção de citocinas intracitoplasmáticas por monócitos CD14+HLA-DR+ dos
diferentes grupos estudados após estímulo com CRA
Ao analisarmos a produção das citocinas IL-10, IFN-γ, IL-12 e TNF-α por
monócitos CD14+HLA-DR+, após estímulo com o antígeno CRA, não verificamos
nenhuma diferença estatisticamente significante (Figura 15).
Figura 15: Detecção das citocinas IL-10 (A), IFN-γ (B), IL-12 (C) e TNF-α (D) por monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico dos diferentes grupos estudados após estímulo com o antígeno recombinante CRA (Cytoplasmic Repetitive Antigen) de T. cruzi.
Legenda: Pacientes portadores das formas clínicas indeterminada (FI) (N=7), forma cardíaca sem dilatação (FC1) (N=10), forma cardíaca com dilatação (FC2) (N=14) e indivíduos não infectados (NI) (N=7). As barras horizontais representam a média aritmética.
Soares, A. K. A. 52
6.8.2 Produção de citocinas intracitoplasmáticas por monócitos CD14+HLA-DR+
após estímulo com FRA
Ao analisarmos a produção das citocinas IL-10, IFN-γ, IL-12 e TNF-α por monócitos
CD14+HLA-DR+, após estímulo com o antígeno FRA, não detectamos nenhuma
diferença estatística significante entre os grupos estudados (Figura 16).
Figura 16: Detecção das citocinas IL-10 (A), IFN-γ (B), IL-12 (C) e TNF-α (D) por monócitos CD14+HLA-DR+ de sangue periférico dos diferentes grupos estudados após estímulo com o antígeno recombinante FRA (Flagellar Repetitive Antigen) de T. cruzi.
Legenda: Pacientes portadores das formas clínicas indeterminada (FI) (N=7), forma cardíaca sem dilatação (FC1) (N=10), forma cardíaca com dilatação (FC2) (N=14) e indivíduos não infectados (NI) (N=7). As barras horizontais representam a média aritmética.
Soares, A. K. A. 53
6.9 Correlações entre a produção das citocinas nos diferentes grupos de
portadores da doença de Chagas
6.9.1 Correlações observadas em pacientes portadores da FI
A Tabela 1 expressa às correlações entre as citocinas produzidas por
monócitos CD14+HLA-DR+ obtidas a partir do estímulo in vitro com CRA e FRA de
T. cruzi. Observamos uma correlação positiva significativa de 0,84, entre as
citocinas IL-10 e IFN-γ após estímulo com CRA.
Tabela 1: Correlação entre as citocinas produzidas por células CD14+HLA-DR+ após estímulos in vitro com os antígenos recombinantes CRA e FRA de T. cruzi por pacientes portadores da forma clínica crônica FI.
Cytoplasmatic Repetitive Antigen (CRA), Flagellar Repetitive Antigen (FRA), forma clínica crônica indeterminada (FI). O * representa a diferença estatística com valor de p≤0,05.
6.9.2 Correlações observadas em pacientes portadores da FC1
Na análise de correlação para os portadores do FC1, observamos uma
correlação positiva significativa de 0,71 entre as citocinas IL-10 e IFN-γ quando
estimuladas com CRA (Tabela 2).
Tabela 2: Correlação entre as citocinas produzidas por células CD14+HLA-DR+ após estímulos in vitro com os antígenos recombinantes CRA e FRA de T. cruzi por pacientes portadores da forma clínica crônica FC1.
Cytoplasmatic Repetitive Antigen (CRA), Flagellar Repetitive Antigen (FRA), forma clínica crônica cardíaca sem dilatação (FC1). O * representa a diferença estatística com valor de p≤0,05.
Coeficiente de correlação CD14+
HLA-DR + IL10 x IFNγ IFNγ x TNFα IL10 x TNFα IFNγ x IL12 IL10 x IL12 TNFα x IL12
CRA 0,84* -0,16 -0,50 0,05 -0.03 0,05
FRA -0,46 0,30 -0,26 0,23 0,58 0,13
Coeficiente de correlação CD14+
HLA-DR + IL10 x IFNγ IFNγ x TNFα IL10 x TNFα IFNγ x IL12 IL10 x IL12 TNFα x IL12
CRA 0,71* 0,56 0,57 0,28 0,06 -0.04
FRA 0,04 0,30 -0,22 0,23 -0.07 -0,35
Soares, A. K. A. 54
6.9.3 Correlações observadas em pacientes portadores da FC2
Observamos correlação positiva significativa de 0,55 entre as citocinas
inflamatórias IFN-γ e TNF-α quando estimuladas com CRA, sugerindo uma forte
resposta do tipo Th1. Observamos também correlações positivas significativas de
0,58 entre as citocinas IL-10 e IL-12 e também entre as citocinas TNF-α e IL-12,
quando estimuladas com FRA (Tabela 3).
Tabela 3: Correlação entre as citocinas produzidas por células CD14+HLA-DR+ após estímulos in vitro com os antígenos recombinantes CRA e FRA de T. cruzi por pacientes portadores da forma clínica crônica FC2.
Cytoplasmatic Repetitive Antigen (CRA), Flagellar Repetitive Antigen (FRA), forma clínica crônica cardíaca com dilatação (FC2). O * representa a diferença estatística com valor de p≤0,05.
Coeficiente de correlação CD14+
HLA-DR + IL10 x IFNγ IFNγ x TNFα IL10 x TNFα IFNγ x IL12 IL10 x IL12 TNFα x IL12
CRA 0,36 0,55* 0,04 0,27 0,48 0,50
FRA 0,24 0,36 0,44 0,41 0,58* 0,58*
Soares, A. K. A. 55
7 DISCUSSÃO
A indução de uma resposta imune eficiente é diretamente dependente da
ativação apropriada de APCs, uma vez que o estímulo de células T requer uma
interação entre seus receptores e o complexo MHC peptídeo. Neste contexto, o
estudo funcional de monócitos tem sido alvo de investigações tanto na resposta
imune através da produção de citocinas como também da expressão de moléculas
co-estimulatórias, envolvidas nos processos imunopatológicos da DC (CAMPOS et
al., 2001; CAMPOS; GAZZINELLI, 2004; GOMES et al., 2003; KURODA; KITO;
YAMASHITA, 2002; MUZIO et al., 2000; SOUZA et al., 2004; SOUZA et al., 2007;
TAKAHASHI et al., 2005).
No presente trabalho, a capacidade de apresentação de antígenos por
monócitos CD14+ (obtidos de sangue periférico de pacientes infectados
cronicamente com T. cruzi) através da expressão de moléculas HLA-DR+, CD80+ e
CD86+, bem como a produção de citocinas dos perfis Th1 e Th2, por essas células
ativadas, foi investigada antes e após o estímulo in vitro com os antígenos CRA ou
FRA. Com relação à expressão da molécula HLA-DR+, na superfície dos monócitos
CD14+, verificamos que apenas o grupo de portadores da FC2 apresentou aumento
desta molécula após estímulo in vitro com o Ag-Rec FRA, quando comparado a
avaliação antes do estímulo antigênico. Corroborando com o nosso estudo, Molica,
(2007), também não observou diferenças estatísticas significantes, na expressão
dessa molécula na superfície de macrófagos de portadores da forma FI, após
estímulo antigênico. Entretanto, também, não observou diferenças nos grupos FC e
NI. Nossos resultados indicam que os portadores da FC2 podem apresentar
monócitos CD14+ com uma capacidade de estimulação linfocitária aumentada após
o estímulo com o Ag-Rec FRA. Isso também nos leva a crer que pode está existindo
um predomínio de uma resposta imune inflamatória neste grupo de indivíduos
relacionada com a lesão cardíaca tecidual.
As interações que ocorrem entre os monócitos e os linfócitos T, através das
moléculas co-estimulatórias e das citocinas, são cruciais para a elaboração de uma
resposta imune eficiente (ABBAS e LICHTMAN, 2005; SOUZA et al., 2007). Durante
o processamento e apresentação de antígenos as APCs necessitam de estímulos
para a expressão de moléculas co-estimulatórias, como CD80+ e CD86+,
Soares, A. K. A. 56
importantes para promover ativação e diferenciação dos linfócitos T (FREEMAN, et
al.,1993a, FREEMAN, et al., 1993b). A molécula CD86+ por ser constitutiva,
apresenta uma expressão mais abundante na superfície dos monócitos, já a
molécula CD80+ só é expressa na célula após estímulo (HATHCOCK et al., 1993;
LENSCHOW et al., 1994; SOUZA et al., 2007).
Sendo assim, ao avaliarmos a expressão das moléculas co-estimulatórias
CD80+ e CD86+ na superfície de monócitos CD14+HLA-DR+, verificamos que em
todos os grupos de indivíduos estudados houve aumento da expressão da molécula
CD80+ (com exceção do grupo de indivíduos FI quando o estímulo foi FRA), quando
comparamos a avaliação realizada ex vivo versus in vitro após estímulo com ambos
os Ag-Recs. Nossos resultados corroboram com o estudo de Souza et al., (2007),
que também observaram um aumento na expressão da molécula CD80+ na
superfície de monócitos após a infecção de células aderentes pelo T. cruzi. Nossos
resultados demonstram que, após estímulo com ambos os Ag-Recs, observou-se
um aumento expressivo na porcentagem de expressão da molécula CD80+ em
monócitos ativados, no grupo de portadores da FC. Esse achado sugere que o
aumento da expressão dessa molécula co-estimulatória, atrelado a outros fatores
ligados a apresentação de antígeno, como é o caso da correta expressão da
molécula HLA-DR+, favorece um aumento da estimulação das células T, levando a
um possível direcionamento para um perfil do tipo Th1 (GREENFIELD et al., 1998;
PLANELLES et al., 2003).
Quando avaliamos a expressão da molécula co-estimulatória CD86+, na
superfície dos monócitos CD14+HLA-DR+, detectamos uma diminuição na
expressão desta molécula no grupo de portadores das formas clínicas cardíacas
(FC1 e FC2), após estímulo com o Ag-Rec CRA. Quando o estímulo foi o Ag-Rec
FRA, verificamos que esta diminuição de expressão ocorreu apenas no grupo de
portadores da forma clínica FC1, apesar de verificarmos que o grupo de portadores
da FC2 também apresentou este comportamento. Esses achados corroboram com
os resultados encontrados por Souza et al., (2004), e Molica, (2007), onde a
diminuição na expressão da molécula CD86+ foi observada nos monócitos de
pacientes portadores da forma cardíaca. O mesmo fenômeno foi observado por
Planelles et al., (2003), que detectaram uma diminuição na expressão desta
molécula também em macrófagos de camundongos infectados pelo T. cruzi. Nossos
dados, em conjunto com outros achados, sugerem que, a alteração da expressão
Soares, A. K. A. 57
das moléculas co-estimulatórias, é um passo importante na evolução da resposta
imune celular frente ao T. cruzi, que, provavelmente, pode está liberando fatores
solúveis imunossupressores, desequilibrando o sistema imunitário e desenvolvendo
assim, um mecanismo de fuga do sistema imunológico. Se assim for, esta inibição
pode ser adicionada a uma lista de outros mecanismos de escape utilizados por
alguns microorganismos para reduzir a eficácia da resposta imune do hospedeiro
podendo explicar também a persistência dos parasitas e lesão tecidual (GOTO;
LINDOSO 2004; KAYE et al., 1994; LA FLAMME et al., 1997; PLANELLES et al.,
2003; REINER, 1994; RUSSO et al., 1993; SAHA et al., 1995; VAN OVERTVELT et
al., 1999). Desta forma, a avaliação de moléculas co-estimulatórias, bem como
inibitórias da ativação dos linfócitos T deveria ser melhor estudada, para uma
elucidação dos principais mecanismos de fuga desenvolvidos pelo T. cruzi.
Com o objetivo de esclarecer melhor o papel imunorregulatório dos monócitos
na DC, avaliamos também os níveis de citocinas produzidas por essas células.
Estudos em modelos experimentais e em humanos têm relatado o importante papel
de citocinas na regulação da resposta imunológica na DC (ABRAHAMSOHN;
COFFMAN 1996; LORENA et al., 2010; FERREIRA et al., 2003) Apesar dessa
importância, os aspectos protetores e lesivos no paradigma Th1 x Th2 nunca
chegaram a serem estabelecidos na DC humana (DUTRA; GOLLOB, 2008).
Entretanto, não restam dúvidas de que as citocinas estejam desempenhando
importante função na regulação da resposta imune além de estarem também
envolvidas nos mecanismos relacionados com a imunopatologia da doença. O perfil
de citocinas foi relatado como de grande importância para definição dos
mecanismos imunopatológicos envolvidos na miocardiopatia chagásica crônica
(D’ÀVILA et al., 2009). Acredita-se que a resposta imunológica é crucial para a
proteção contra DC, principalmente na fase inicial da doença, no entanto, o
desequilíbrio da resposta imune pode ocasionar as lesões encontradas em
portadores das formas clínicas crônicas sintomáticas (D’ÁVILA et al., 2009).
O processo de fagocitose mediado por macrófagos é capaz de ativar a
produção de uma série de citocinas inflamatórias, tais como IL-12 e TNF-α, que
contribuem para produção de IFN-γ (SILVA et al.,1992). Na DC experimental, a
citocina IFN-γ tem sido identificada como um fator de resistência por apresentar uma
importante função de contenção da parasitemia em camundongos infectados com T.
cruzi (MINOPRIO et al., 1986; REED, 1988; TORRICO et al., 1991). Na DC humana,
Soares, A. K. A. 58
níveis elevados dessa citocina têm sido associados com a severidade da doença
cardíaca em pacientes portadores da fase crônica (BARROS-MAZON et al., 2004;
DUTRA et al., 1997; GOMES et al., 2003; LORENA et al., 2010), provavelmente por
um aumento da resposta imune inflamatória, particularmente nas fibras cardíacas,
promovendo a destruição dessas células. Além do IFN-γ, a IL-12, também está
envolvida no controle da infecção pelo T. cruzi (ALIBERTI et al., 1996). Essa citocina
promove a estimulação e a síntese de outras citocinas pelas células Natural killers e
linfócitos T auxiliares, além de induzir a ativação e expansão destas subpopulações
de linfócitos (TRINCHIERI et al., 1995).
A IL-10 é identificada por sua capacidade de inibir a produção da citocina
IFN-γ por células TCD4+ (MOORE et al., 1990; MOORE et al., 1993). Além disso, a
IL-10 também apresenta a capacidade de inibir a expressão de moléculas de MHC
de classe I e II, bem como a expressão de moléculas co-estimulatórias pelos
monócitos (KUBIN et al., 1994), antagonizando os mecanismos efetores
antimicrobianos dos macrófagos (GAZZINELLI et al., 1992).
Apesar de não detectarmos diferenças estatisticamente significantes ao
avaliarmos a produção dessas citocinas entre os grupos estudados, verificamos
correlações existentes entre as produções de citocinas por monócitos CD14+HLA-
DR+. Nossos resultados demonstraram a existência de uma forte correlação positiva
entre as citocinas IL-10 e IFN-γ, em pacientes da FI, após estímulo in vitro com o
Ag-Rec CRA. Alguns trabalhos têm demonstrado um perfil misto de produção de
citocinas do tipo Th1 e Th2 por pacientes portadores da FI (D’ÁVILA et al., 2009;
LAUCELLA et al., 2004; VITELLI-AVELAR et al., 2008) sugerindo que esses
pacientes poderiam estar apresentando um controle do parasitismo, demonstrado
pela produção da citocina IFN-γ, concomitantemente a uma modulação da resposta
imunológica com a produção da IL-10, evitando assim, o dano tecidual. Entretanto, o
fato dos pacientes portadores da FI também produzirem IFN-γ, após estimulação
antigênica específica, poderia estar relacionado com a ausência de precisão quanto
ao período de infecção do paciente, ou seja, torna-se difícil determinar o tempo de
desenvolvimento da doença (CORRÊA-OLIVEIRA 1999; GOMES et al., 2003). É
sugerido que IFN-γ é um fator solúvel importante no desenvolvimento da
miocardiopatia grave, sendo então razoável acreditar que os pacientes da FI, que
apresentam elevada produção de IFN-γ, podem vir a desenvolver a cardiomiopatia
Soares, A. K. A. 59
chagásica durante sua evolução clínica (CORRÊA-OLIVEIRA 1999; DUTRA e
GOLLOB, 2008; GOMES et al., 2003).
Com relação a FC1, também observamos uma correlação positiva entre
citocinas IL-10 e IFN-γ, quando as células sanguíneas foram estimuladas com o Ag-
Rec CRA. Nossos resultados corroboram com os de Lorena et al., (2010), que
também verificaram correlações positivas entre citocinas inflamatórias e anti-
inflamatórias nos grupos de pacientes portadores da cardiomiopatia chagásica.
Acreditamos que apesar desses pacientes portadores da FC1, apresentarem uma
resposta inflamatória mais acentuada, ainda tenham a capacidade de manter alguns
mecanismos de regulação.
Nos portadores da FC2, observamos uma correlação positiva entre as
citocinas IFN-γ e TNF-α, após estímulo in vitro com CRA, e das citocinas TNF-α e
IL-12, após estímulo in vitro com FRA. Esses dados sugerem uma forte resposta do
tipo Th1 nos pacientes com a cardiomiopatia chagásica grave, corroborando com os
achados de Gomes et al, (2003) que também demonstraram a presença de uma
forte resposta do tipo Th1 em pacientes cardiomiopatas. Entretanto, também
encontramos uma correlação positiva entre as citocinas IL-10 e IL-12, sugerindo,
mais uma vez, a persistência de uma resposta modulatória nesses pacientes, como
também foi observado por Lorena et al., (2010) e contrariamente a Gomes et al.,
(2003), que sugerem que pacientes com as formas graves da doença, tenham
perdido a capacidade imunomodulatória pela secreção de citocinas anti-
inflamatórias.
Em síntese, o presente estudo demonstrou que no curso da DC crônica, uma
importante diferenciação no perfil de expressão das moléculas de superfície,
relacionadas à capacidade de apresentação de antígenos, além de uma influência
no padrão de produção de citocinas pelos monócitos ativados, após estimulação
antigênica específica, está ocorrendo. Os Ag-Recs CRA e FRA poderiam estar
relacionados com o desenvolvimento de mecanismos de evasão da resposta
imunológica do hospedeiro pelo T. cruzi. A alteração observada na expressão das
moléculas co-estimulatórias, apontam possíveis mecanismos de inibição
desenvolvidos pelo T. cruzi, que diminuam a expressão de moléculas essencias
para a estimulação/ativação de linfócitos T (RUSSO et al., 1993). Sendo assim,
estudos prospectivos que associem a expressão de moléculas estimulatórias e
inibitórias expressas nas células T, tais como, CD28+ e CTLA-4, respectivamente,
Soares, A. K. A. 60
com a expressão das moléculas co-estimulatórias CD80+ e CD86+, são importantes
para avaliar a evolução da imunopatologia da DC. A continuação dos estudos
clínicos associados à investigação imunológica da reatividade celular dos pacientes
traria maior entendimento dos mecanismos responsáveis pelo aparecimento das
manifestações clínicas na fase crônica da DC.
.
Soares, A. K. A. 61
8 CONCLUSÕES
a) Não verificarmos diferenças estatisticamente significativas com relação à
expressão das moléculas co-estimulatórias na superfície de células CD14+,
entre os grupos estudados. No entanto, o aumento na expressão da molécula
co-estimulatória CD80+ associado à diminuição da expressão da molécula
CD86+ no grupo de portadores FC, quando comparados os contextos ex vivo
e após estímulo com os Ag-Recs CRA e FRA de T. cruzi, pode apontar um
possível envolvimento desses antígenos com os mecanismos de fuga da
resposta imune do hospedeiro, utilizados pelo T. cruzi.
b) Correlações positivas ente IL-10 e IFN-γ foram verificadas entre os grupos de
portadores da FI e FC1, indicando um controle do parasitismo,
concomitantemente a uma modulação da resposta imunológica evitando
assim, o dano tecidual. A predominância de uma correlação positiva entre as
citocinas inflamatórias no grupo FC2 indica um predomínio de um perfil do
tipo Th1, relacionado com a severidade do dano cardíaco. Apesar disso,
esses indivíduos, também apresentaram correlações positivas entre as
citocinas IL-12 e IL-10, indicando que possuem mecanismos de regulação,
como a secreção de IL-10, na tentativa de evitar danos teciduais causados
principalmente por IFN-γ.
Soares, A. K. A. 62
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Soares, A. K. A. 71
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARESCIDO PARA O
PACIENTE
Soares, A. K. A. 72
Soares, A. K. A. 73
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA O
VOLUNTÁRIO CONTROLE
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ANEXO A - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa/CPqAM
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