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Fundamentos entre aprender e ensinar

Introdução

    Muitos são os questionamentos e discussões a respeito do papel da escola na educação,

porém, é preciso vê-la além de somente transmitir conhecimentos aos alunos. Sendo a escola

conhecida como “instituição do saber”, a mesma exerce uma enorme importância por toda a

sociedade. Por tamanha importância que a mesma se faz jus, necessita-se olhar além do que os

olhos podem ver e ensinar os alunos a pensarem sobre o mundo, a sociedade na qual estão

inseridos e o mundo das diferenças/descriminações para dar subsídios aos alunos ao enfrentem

essas adversidades da vida.

    A escola necessita ser pensada como “preparação” para a vida, na função de preparar

cidadãos do mundo. De acordo com Pérez Gómez (2000), a escola é um ambiente de

aprendizagem, onde há grande pluralidade cultural, mas que direciona a construção de

significados compartilhados entre o aluno e o professor. A construção desses significados

compartilhados enfatiza uma necessidade de mudança na escola, por meio da reflexão. A

mesma necessita da individualidade e da coletividade ao mesmo tempo, a qual envolve diversos

aspectos da escola, ou seja: as relações entre o ensinar e aprender com diversas trocas de

informações, a interação de indivíduos que participam da cultura escolar, além dos processos

curriculares, pedagógicos e administrativos haverá o compartilhamento de informações e

interação da cultura escolar.

    Deve-se pensar a escola como um ambiente atrativo para professores, alunos e os

profissionais nela atuantes, para que estes possam se sentir convidados a participar desta

atmosfera de conhecimento que dia após dia é construída por professores e alunos,

aproveitando o conhecimento prévio que é trazido por todos. É preciso que os docentes

reinventem e reencantem a educação, tendo como foco uma visão educacional, usufruindo do

conhecimento já construído e produzindo novas experiências no processo de ensino-

aprendizagem dos educandos (ASSMANN, 2007).

    As relações entre professor/aluno/conteúdo não são estáticas, mas dinâmicas, pois se

trata da atividade de ensino como um processo coordenado de ações docentes. Freire (1987) em

seu livro Pedagogia do Oprimido deixa-nos entender que a relação professor (opressor) e aluno

(oprimido) ou vice-versa têm a finalidade de que a relação professor-aluno nesse processo de

ensino-aprendizagem gira em torno da concepção da educação, tendo uma perspectiva de que

quando todos se unirem na essência da educação como prática de liberdade, ambos abrirão

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novos horizontes culturais de acordo com a realidade e imaginação de todos os indivíduos,

seguido das diferentes culturas de cada um.

    Porém um dos maiores problemas relacionados ao fracasso escolar pode estar ligado ao

preconceito. Com certa freqüência os professores procuram explicar a razão do não aprender do

aluno às deficiências orgânicas, psicológicas, culturais em detrimento de um estudo e

diagnostico que pudessem esclarecer a situação. Em outras palavras já fazem de antemão o

diagnostico e rotulam esse aluno. Acredita-se que a mescla de teorias que se complementem

teria um caráter mais proveitoso para professores e alunos do que a tendência de seguir um

“método”. Nada substitui o fator humano, a afetividade, a interação e o olhar atento às

diferenças reações.

Escola: Organização reflexiva ou reprodutores de conhecimento?

    O processo ensino-aprendizagem compreende ações conjuntas do professor e do aluno,

onde estarão estimulados a assimilar, consciente e ativamente os conteúdos/métodos e aplicá-

los de forma independente e criativa nas várias situações escolares e na vida prática. O ato de

ensinar e aprender não se pauta em somente o professor passar a matéria e o aluno

automaticamente reproduzir mecanicamente o que “absorveu”.

    É nessa perspectiva que a compreensão sobre o conhecimento escolar pode ser

analisada sob a ótica de no mínimo quatro visões: como produto acabado e formal (visão

tradicional); como produto acabado e formal de caráter técnico (visão tecnológica); como

produto aberto, gerado em um processo espontâneo (visão espontaneísta e ativista) e; como um

produto aberto, gerado por um processo construtivo e orientado (visão investigativa)

(BOLZAN, 2002, p18).

    Em um contexto onde há o estímulo às atividades diversificadas, à curiosidade, a

iniciativa e o desenvolvimento de capacidades, resultarão em um ambiente onde, tanto

professor como seus alunos, ambos estarão cientes de suas responsabilidades. Desse modo, a

escola deve conceber-se como um local, um tempo e um contexto, visando à formação que vai

além da representação física, e tornando-se uma concepção de formação com relacionamento

interpessoal. A escola pela qual se busca lutar hoje se deve ter como pressuposto principal o

desenvolvimento cultural e científico do cidadão, preparando as crianças, adolescentes e jovens

para a vida, para o trabalho e para a cidadania, através de uma educação geral, intelectual e

profissional.

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    Para Lima (2006) compreender a escola como organização educativa exige a

consideração da sua historicidade enquanto unidade social artificialmente construída, das suas

especificidades, bem como do seu processo de institucionalização ao longo do tempo. Seguindo

essa linha de pensamento, Alarcão (2001) aponta uma mudança paradigmática, uma visão e

pensamento diferente da escola, saindo de uma concepção tradicional para uma concepção

reflexiva, onde será capaz de gerar conhecimento sobre si próprio, fazendo significado a sua

própria existência.

    O ambiente escolar, assim, pode contribuir para suscitar o amor pela escola, o amor e a

dedicação aos estudos, com reflexos sensíveis no aproveitamento escolar dos alunos. Para

Durkheim (1978, p.49) “A escola não pode ser propriedade de um partido; e o mestre faltará

em seus deveres quando empregue a autoridade de que dispõe para atrair seus alunos à rotina

de seus preconceitos pessoais, por mais justificados que lhes pareçam”.

    Se a aprendizagem em sala de aula for uma experiência de sucesso, o aluno constrói

uma representação de si mesmo como alguém capaz. Do contrário, se for uma experiência de

fracasso, o ato de aprender tenderá a se transformar em uma “ameaça”. O aluno ao se

considerar fracassado, buscará os culpados pelo seu conceito negativo e culpará o professor

pela sua metodologia de ensino, e pelos conhecimentos transmitidos, os quais irão julgá-los

como sendo desnecessários e sem validade para sua vida estudantil como pessoal.

    Freire (1980, p.119) aponta de forma ampla o que se espera da escola:

    Somente uma outra maneira de agir e de pensar pode levar-nos a viver uma outra

educação que não seja mais o monopólio da instituição escolar e de seus professores, mas sim

uma atividade permanente, assumida por todos os membros de cada comunidade e associada de

todas as dimensões da vida cotidiana de seus membros.

    Portanto, o processo educativo tem que ocorrer como um fenômeno social e cultural,

onde a reflexão sobre o saber e suas relações é continuamente redimensionada em uma

“negociação” e “recriação” dos significados. Tendo o diálogo entre professor e aluno como

elemento norteador para a construção do conhecimento em uma dimensão reflexiva.

    Em vista disso, a escola como contexto de construção e apropriação de conhecimentos

deve compreender que, professor e aluno, participam desse processo essencialmente pela

interação e a mediação entre si. Contudo, a escola reflexiva vai além, no momento em que vê a

escola como uma organização que continuadamente pensa em si própria, “na sua missão social

e na sua organização, e se confronta com o desenrolar da sua atividade em um processo

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heurístico simultaneamente avaliativo e formativo”, pois “só a escola que se interroga sobre si

própria se transformará em uma instituição autônoma e responsável, autonomizante e

educadora” (ALARCÃO, 2001, p.25).

    A escola não cumprindo seu papel como organização reflexiva cairá no fracasso

escolar. Para tanto entre as diversas razões possíveis, podemos citar: dificuldades de

aprendizagem; causas orgânicas; problemas emocionais; teoria da carência cultural e distância

cultural entre a escola pública e a população que ela atende; formação dos professores; a

ineficácia dos métodos; preconceito e segregação (COLLARES, 1996; POLITY, 2002).

Aprender e ensinar reflexivamente

    O ensino é um meio fundamental do progresso intelectual dos alunos e uma

combinação adequada entre a condução do processo de ensino pelo professor e a assimilação

ativa, como atividade autônoma e independente, por meio do aluno. Pode-se sintetizar-se

dizendo que a relação entre ensino e a aprendizagem não é automática, não pode ser vista como

uma simples transmissão do professor que ensina para um aluno que aprende. Tendo como base

os conceitos de Jean Piaget a respeito da aprendizagem, os processos mentais que antecedem o

tão esperado resultado da mesma, revelam a dificuldade existente nos educandos de obterem e

aprenderem novos conceitos e conteúdos.

    O processo da aprendizagem tem início através das abstrações empíricas feitas pelo

aluno e pela reflexão a respeito desta abstração. Depois de assimilar um novo conceito que lhe

é apresentado, o aluno depara-se com o novo, na tentativa de não entrar em conflito dentro de si

mesmo, procurando acomodar as informações a ele transmitidas, fazendo a modificação mental

entre os conhecimentos prévios e os adquiridos. Entende-se que a aprendizagem então, é a

assimilação ativa do conhecimento e de operações mentais, para compreendê-los e aplicá-los de

forma consciente e autônoma.

    Segundo Chalita (2001, p.12) “A educação não pode ser vista como um depósito de

informações. Há muitas maneiras de transmitir o conhecimento, mas o ato de educar só pode

ser feito com afeto, esta ação só pode se concretiza com amor.” Percebe-se que há uma grande

diferença entre transmitir o conhecimento e educar. A diferença de educar seres humanos que

se encontram nas primeiras etapas da vida é uma tarefa para os docentes que se preocupam na

formação global do educando e não apenas na formação parcial, obtida em sala de aula. As

demonstrações de carinho, bem como a afetividade nas palavras ditas pelo professor, resultarão

no auxílio e conforto para o aluno, quando este necessitar acomodar as informações recebidas,

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sem que haja repulsão ou aversão ao conteúdo apresentado, ou até mesmo ao próprio ato de

aprender algo novo.

    O processo de construção do conhecimento, que considere tanto as experiências dos

alunos como as dos professores inseridos, se faz necessária uma abordagem dos conteúdos, e

para Anastasiou (2003) isso se dá através de um método dialético, a partir da reflexão e

discussão conjunta, uma nova concepção ou forma de ação. Situações como processos de

ensino que constituem mais um desafio para uma ação docente inovadora e comprometida,

precisam buscar uma prática social complexa, que seja efetivada entre os sujeitos, professores e

alunos, buscando o engloba mento tanto da ação de ensinar como de aprender.

    Rodrigues (1997, p.64) afirma:

    Assim, a escola tem por função preparar e elevar o indivíduo ao domínio de

instrumentos culturais, intelectuais, profissionais e políticos. Isso torna sua responsabilidade

pesada e importante. Assim dimensionada a tarefa da escola, evidencia-se a expectativa que

sobre ela recai no contexto da sociedade.

    A esse respeito Werneck (1996, p.61) elucida que:

    Educar é difícil, trabalhoso, exige dedicação, sobretudo aos que mais necessitam.

Transferir problemas é fugir da verdadeira educação, é uma espécie de médico que transfere o

doente de hospital, lava as suas mãos e não se sente comprometido com o caso quando da

morte do paciente, porque aconteceu em outro hospital e em outras mãos.

    Educar é proporcionar ao aluno conhecer a si próprio, leva-lo à consciência de poder

ser mais, reconhecendo que é chamado a encontrar-se no mundo com o outro e não mais

solitário em seu “mundo”. Portanto, o professor como mediador para ensinar o aluno a ser

reflexivo precisa estar atento a todos os elementos necessários para que o aluno aprenda e se

desenvolva integralmente.

    A sala de aula é um espaço de “luta” extremamente importante, desde que se

compreenda e acolha o educando, independente do quão diferente ele seja. A educação situa-se

como possibilidade de ser um instrumento de mudança social e de transformação da realidade.

    Educar é possibilitar a conscientização e humanização, mediatizando aos alunos as

condições para que se desenvolvam em todas as suas potencialidades. Assim o educando

aparece como primeiro agente do processo educativo, em cooperação com os demais, sendo

ativo, participante, reflexivo e crítico.

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    Portanto Zabala (1998, p. 34) aponta que:

    O fato de que não exista uma única corrente psicológica, nem consenso entre as

diversas correntes existentes, não pode nos fazer perder de vista que há uma série de princípios

nos quais as diferentes correntes estão de acordo: as aprendizagens dependem das

características singulares de cada um dos aprendizes, correspondem, em grande parte, às

experiências que cada um viveu desde o nascimento; a forma como se aprende e o ritmo da

aprendizagem variam segundo as capacidades, motivações e interesses de cada um dos meninos

e meninas, enfim, a maneira e a forma como se produzem as aprendizagens são o resultados de

processos que sempre são singulares e pessoais.

Relação Professor-Aluno no processo ensino-aprendizagem

    É importante considerar a relação entre professor/aluno junto ao clima estabelecido

pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir,

discutir o nível de compreensão dos mesmos e da criação das pontes entre o seu conhecimento

e o deles. Sendo assim, a participação dos alunos nas aulas é de suma importância, pois estará

expressando seus conhecimentos, preocupações, interesses, desejos e vivências de movimento

podendo assim, participar de forma ativa e crítica na construção e reconstrução de sua cultura

de movimento e do grupo em que vive. (GÓMEZ, 2000).

    Abreu & Masseto (1990, p.115), afirmam que:

    É o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de

personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa

determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da

sociedade.

    Nesse contexto, entende-se que a qualidade de atuação da escola não pode

exclusivamente depender somente da vontade de um ou outro professor. É necessária a

participação efetiva e conjunta da escola, junto da família, do aluno e profissionais ligados à

educação, de forma que o professor também entenda que o aluno não é um sujeito somente

receptor dos conhecimentos “depositados”.

    De acordo com Pérez Gomes (2000) a função do professor é ser o facilitador, buscando

a compreensão comum no processo de construção do conhecimento compartilhado, que se dá

somente pela interação. A aula deve se transformar e provocar a reflexão sobre as próprias

ações, suas conseqüências para o conhecimento e para a ação educativa. Nesse mesmo

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raciocínio é que Rey (1995) defende a idéia de que a relação professor-aluno é afetada pelas

idéias que um tem do outro e até mesmo as representações mútuas entre os mesmos. A

interação professor-aluno não pode ser reduzida ao processo cognitivo de construção de

conhecimento, pois se envolve também nas dimensões afetivas e motivacionais.

    Freire (1996, p. 96) aponta que:

    O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do

movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus

alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento,

surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.

    Logo, o professor deixará de ser o “dono do saber” e passará a ser um orientador,

alguém que acompanha e participa do processo de construção e das novas aprendizagens do

aluno em seu processo de formação. Sendo assim, pode-se dizer que os métodos de ensino são

as ações do professor pelas quais se organizam atividades de ensino e dos alunos para atingir

objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo especifico. Eles regulam as formas de

interação entre ensino e aprendizagem, ente o professor e os alunos, cujo resultado é a

assimilação consciente dos conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas

e operativas dos alunos.

     Pode-se dizer então, que os métodos de ensino são as ações do professor pelas quais se

organizam atividades de ensino e dos alunos para atingir objetivos do trabalho docente em

relação a um conteúdo especifico. Esses métodos fazem à mediação nas formas de interação

entre ensino e aprendizagem, entre o professor e os alunos, tendo como resultado a assimilação

consciente dos conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognitivas e operacionais

dos alunos.

    Ressaltando Freire (1980, p.23), “o diálogo é um encontro no qual a reflexão e a ação,

inseparáveis daqueles que dialogam, orienta-se para o mundo que é preciso transformar e

humanizar”. A ação pedagógica do professor em sala de aula é imprescindível, desde que o

mesmo assuma seu papel como mediador e não como condutor. Grossi (1994, p.02) entende

que a relação professor-aluno deve pautar-se como “uma busca do aqui e agora e que nós não

precisamos nos comparar com outras gerações, mas, sobretudo temos que ser fiéis aos nossos

sonhos”.

    Loyola (2004) refere-se ao “professor autoritário”, o qual não deve impor o respeito,

mas conquistar de seus alunos. O professor autoritário busca com suas atitudes fazer com que

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os alunos venham se calar, reprimindo suas expressões e até mesmo sentir medo. Assim, essa

relação professor-aluno não tem uma ação dialógica de construção e reconstrução de idéias.

Seguindo essa linha de pensamento, Freire (1996, p. 73) refere-se ao professor autoritário

como:

    "O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o

professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor

mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum

deles passa pelos alunos sem deixar sua marca." (FREIRE, 1996, p.73)

    A relação estabelecida entre professores e alunos constitui o ápice do processo

pedagógico. Não há como segregar a realidade escolar da realidade de mundo vivenciada pelos

discentes, e sendo essa relação uma “via de mão dupla”, tanto professor como aluno pode

ensinar e aprender através de suas experiências. Para tanto, Gadotti (1999, p.2) refere-se a essa

relação como:

    "Para por em prática o diálogo, o educador não pode colocar-se na posição ingênua de

quem se pretende detentor de todo o saber; deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem

sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é um homem "perdido", fora da

realidade, mas alguém que tem toda a experiência de vida e por isso também é portador de um

saber".

    Cabe ao professor aprender que para exercer sua real função necessita-se combinar

autoridade, respeito e afetividade; isto é, ainda que o docente necessite atender um aluno em

particular, a ação estará direcionada para a atividade de todos os alunos em torno dos mesmos

objetivos e do conteúdo da aula. Ressalta-se a atuação de alguns professores não como modelo

inquestionável de docência, mas como fonte de inspiração para buscar um novo e melhor

caminho para alcançar os alunos. Para isso faz-se necessário o diálogo, conforme Libâneo

(1994, p.250) diz:

    “O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também

ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor

opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões

dos alunos mostram como eles estão reagindo à atuação do professor (...)”.

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Considerações finais

    Se o interesse dos profissionais da educação for de fato com o foco nas reais

necessidades, como expectativas da educação na formação de indivíduos críticos-reflexivos,

são necessárias haver mudanças não apenas nas palavras, mas nas atitudes. É preciso estar

comprometido com o aluno, a escola, a sociedade e professores com uma educação de

qualidade, vendo o aluno como indivíduo ativo do processo ensino-aprendizagem. Só assim os

docentes estarão cumprindo o papel de orientador realizando mais que o simples papéis de

ensinar.

    Faz-se necessário ao longo da trajetória formativa, seja ela recém-formada ou com

anos de formação, refletir sobre o quanto os professores são capazes de reconstruir os próprios

caminhos. Isso lhes dará experiências enquanto alunos que foram, e eternamente serão, e

quanto a professores atuantes no espaço escolar hoje e amanhã.

    O professor em muitos casos é visto como força estimuladora para despertar nos alunos

uma disposição motivadora para determinado assunto. Essa relação de “ídolo” do aluno para

com o professor estimula sentimentos, instiga a curiosidade, relata de forma sugestiva um

acontecimento, faz uma leitura expressiva de um texto, e assim sucessivamente, ocorre o

crescimento desta cumplicidade entre professores e alunos.

    Os docentes devem levar em consideração, enquanto profissionais da educação ou

acadêmicos que almejam iniciar a carreira docente, que não são melhores que ninguém, mas

que devem sempre aprender seja com outros professores ou até mesmo com os alunos, pois até

o mais analfabeto pode ensinar de uma maneira diferente: com o exemplo da própria vida. E

nesse sentido que a produção conjunta do conhecimento é uma forma de interação ativa entre o

professor e os alunos, pois abre horizontes para novos conhecimentos, habilidades, atitudes e

convicções, bem como a fixação e consolidação de conhecimentos e convicções adquiridas

anteriormente.

    Assim sendo, entende-se que a proposta de ensino de qualidade, que se volta para a

formação cultural e científica do aluno que o possibilite em sua ampliação da participação

efetiva nas várias instâncias de decisão da sociedade, defronta-se com problemas de fora e

dentro da escola. Sendo a escola pública gratuita, com direito essencial para se constituírem

como indivíduo-cidadão, faz-se necessário pensar sobre uma “nova didática” voltada para os

interesses populares de transformação da sociedade.

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    Faz-se cada vez mais evidente pensarmos sobre as necessidades de se construir uma

prática educativa inovadora, pautada na construção e reflexão do conhecimento compartilhado,

que possibilite agir, transformar e refletir na prática educativa dos docentes. É preciso pouco a

pouco através dos desafios do contexto em que se vive olhar e perceber os obstáculos como

possibilidades de construção do novo.

    Para que essas mudanças aconteçam e escola consiga exercer seu papel, é necessário

que todos caminhem juntos, tendo a perspectiva praticada nas escolas de nossa sociedade,

educando para um mundo mais igual e cumprindo assim o seu papel mais importante na

educação: formar seres que possam pensar a respeito de tudo o que fazem.

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