7/29/2019 Galo Que Hoje Canta
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Galo que hoje canta, ainda ontem era pinto: uma anlise sobre o processo de formao
religiosa no candombl e na umbanda.
Por Cntia Raymundo
http://raizafricana.wordpress.com/nossa-religiosidade/
Orelha no passa a cabea diz os antigos. As religies de matriz afrobrasileiras se caracterizam
por um complexo sistema hierrquico meritrio, temporal e, principlamente, predeterminado.
O candombl possu um sistema classificatrio de formao religiosa: abi, yaw e ebmi.
Abi o adepto na fase inicial dos ritos iniciticos. Ele aprender o que for permitido. Serintegrado a comunidade e ter tempo para se certificar de suas decises. Muitos, por
determinao do orix, continuam abi por muito anos. O yaw aquele com menos de sete
anos de iniciao, onde o nefito consagrado ao Orix. Assim definiu o etnlogo Herskovits
O iniciado agora feito, um membro jnior habilitado do grupo de candombl. Como tal, o
novo ia tem a oportunidade, no concedida a estranhos, de aprender o trabalho dos deuses e
participar do culto pblico..
Os ebmis so os iniciados que completaram a obrigao de sete anos. So consideradas
pessoas a quem deve respeito e a quem sempre devem ser ouvidas. Estruturam o que o
antroplogo Vivaldo da Costa Lima denominou princpio da senioridade. Um complexa rede
socioreligiosa construda com tempo, abnegao e merecimento. A partir da obrigao de sete
anos, o ebmi se torna apto a assumir cargos dentro do ax. O cargo de santo uma
atribuo determinada pelo odu e pelo Orix. Pr determinado, ancestral. Atribuo de
cargo por motivos pessoais sempre ocasiona, com o passar do tempo, brigas e rupturas. O
orix sempre faz valer a sua vontade.
A relao entre o candomblecista e a divindade fundamentada atravs das obrigaes,
liturgias ps iniciao que se denomina respectivamente: obrigao de 1 ano, obrigao de 3
anos e obrigao de 7 anos. Elas no necessariamente obedecem ao tempo decorrido. Uma
pessoa com vinte anos de iniciada que no completou o ciclo de obrigao de sete anos no
ser considerada ebmi.Assim como um pessoa com seis ou menos anos jamais poder passar
pela obrigao de 7 anos.Os antigos preservaram e perpetuaram essa tradio de formao
religiosa. Talvez a dinmica do trfico escravista possa somar as explicaes para este sistema
religioso. Muitos escravos poderiam ser iniciados e , posteriormente, vendidos, rompendo
alianas religiosas. Para assegurar uma continuidade e preservar saberes o sistema de
obrigaes cclicas se tornou eficiente para candombl. Permitiu criar parmetros de
legitimidade e reforar o prncipio de senioridade.
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Para os antigos,nenhuma pessoa pode se declarar babalorix ou yalorix sem passar pelo ciclo
de obrigaes e sem receber o dec, smbolo certificador que o adepto possu od e est
autorizado pelos Orixs a abrir uma casa de santo.
Na dcada de 30, o folclorista dison Carneiro analisou casos de pessoas que se tornavam
zeladores sem obedecer a uma tradio de candombl. Muitos eram candombls de caboclosonde o encantado assumia a responsabilidade sobre o preparo religioso do sacerdote. Era, na
poca,um novo segmento, que embora fosse muito questinado, existe e possu muitos
adeptos. Atualmente, muitos desses candombls adotam o sistema de obrigaes ciclcas.
O processo de formao religiosa na umbanda caracterizado pela doutrinao. Mdium e
entidade seguem a doutrina de determinada casa. H tradies de umbanda direcionada por
preto velho, com forte influncia africanista. Outras seguem a tradio dos caboclos, marcados
pela pajelana e jurema e outros seguem uma orientao esprita e/ou esotrica. A umbanda
possu rituais de senioridade: camarinhas, firmezas, batismos e amacis. Muitas obedecem ao
sistema de sete anos, com rituais ciclicos e especficos de cada tradio. Importante ressaltarque o determinante para a Umbanda so as entidades. Elas so as donas de gong,
determinam o caminho da espiritualidade do mdium e a orientao da casa religiosa. No h
sacerdcio na Umbanda sem Entidade Espiritual. O mdium a qual a entidade determina a
abertura de uma casa deve ser preparado, passar por obrigaes, saber preparar defesas,
familirizar com os cdigos de santo. Abrir uma casa de umbanda sem preparo signica lidar com
o desconhecido, ocasionando danos a vida dos sacerdotes e de terceiros.
O mais importante tanto na umbanda e no candombl saber que sacerdcio
ancestralidade, comprometimento e abnegao.O candombl chamar de od e alguns
umbandistas chamar de misso.Como diz o ditado Galo que hoje canta, ainda ontem erapinto, ou seja preciso aprender para ensinar.
Qual o significado de um Igb
Por Paulo dEsu
Na religio Yorb, Igbs (awn igb) so assentamentos de orix (r). Um assentamento
uma representao do orix (r) no espao fsico, no mundo, no ay. Sob o ponto de vista
sacro no existem representaes humanas de orix (r).
A religio Yorb no tem imagens para representar suas divindades, o que representa uma
divindade o seu Igb, ao olharmos um Igb como se estivssemos olhando para a
divindade. Secularmente existem representaes em forma de desenhos e esculturas mas que
so frutos apenas de criatividade de artistas e no tem uso sacro.
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Os orix (awn r) so adequadamente representados por smbolos e grafismos prprios de
cada um e por extenso por outros elementos como folhas, arvores, favas e contas. Mas o Igb
a sua representao mais adequada.
Vale refazer a afirmao, j explicada em outro material, de que o orix (r) no so
elementos da natureza, assim olhar o vento no significa olhar para oya, olhar uma pedra
no significa olhar para Xango (ng), olhar para o mar no significa olhar para yemoja, etc..
O mesmo sentimento que um catlico tem ao olhar para uma imagem de um santo em sua
igreja e altar, o povo de santo tem ao olhar para um igb. muito comum as pessoas, nos seus
quartos de santo, vestirem seus Igb com suas roupas de orix (r) como se fosse o
prprio orix (r). Contudo, igb so de acesso muito restrito, de uso exclusivamente sacro
e ritualstico, no tem visibilidade pblica e ficam guardados dos olhos de todos.
Dessa maneira, cada Igb representa uma divindade atravs de um continente (Vaso,
invlucro, recipiente) e seu contedo, e esse conjunto, continente e contedo especfico de
cada divindade. Esses continentes podem ser de porcelana (substituindo cabaas), barro ou
madeira e sero empregados distintamente para cada divindade que ele representa. So
usados elementos fsicos comuns, como tigelas, sopeiras, pratos, bacias e alguidares.
O iniciado no seu processo de feitura (que distinto de uma iniciao mas muitas vezes essas
expresses se confundem) poder receber um ou vrios Igb, dependendo do seu status na
religio e da prpria tradio da casa em conduzir este ritual.
Mas o igb no o orix (r) no ay. Essa religio no coloca um orix (r) dentro deuma sopeira, no uma religio animista. O igb representa apenas a ligao entre os 2
espaos, o espao fsico ay e o espao espiritual o Orun (run). uma ponte entre os 2
espaos. Sua funo no trazer o orix (r) para o ay porque os orix (r) j esto
presentes em nossa vida o tempo todo, no existe secularismo na religio. Sua funo
completamente ritualstica.
O igb , de fato, dentro de toda a religio Yorb uma dos elementos mais importantes e
significativos por traduzir a contnua relao entre o Orun (run) e o ay. Ele representa oreconhecimento da existncia do espao espiritual, o Orun (run), e a ligao perene que
existe entre os 2 espaos (run-ay) na forma de um contnuo duplamente alimentado e da
circulao, transformao e reposio de ax (). Dessa maneira o seu valor no esta
somente na sua existncia como instrumento ritualstico, como foi ressaltado no incio, mas
tambm no que ele representa.
Toda religio tem smbolos e simbolismos. Uma cruz para os catlicos representa muito
tambm: todo o significado da paixo e do sacrifcio de Jesus. Assim esse smbolo traduz em smuito mais do que somente a lembrana da crucificao de Jesus e sim um todo da sua
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doutrina, poderamos falar muito apenas olhando para uma cruz. O mesmo vale para um Igb.
Nada mais sagrado por s s pelo seu uso e nada pode traduzir tanto da doutrina que cobre a
religio Yorb como o entendimento da sua funo.
O Igb uma manifestao de F, e por isso um reconhecimento de nossa F na religio. De
acordo com a metafsica Yorb, para tudo que existe no ay existe um duplo no Orun (run).
O Igb um elemento de ligao entre essas 2 pores e um instrumento de concentrao de
energia. usado para nos ligarmos s divindades, liga o fsico dimenso espiritual, a
dimenso ay dimenso Orun (run).
O objetivo de um Igb potencializar a ligao Orun-ay (run-ay) sendo o instrumento que
no ay representa o duplo do Orun (run). O Igb esta vinculado diretamente uma pessoa
no ay mas no a representa e sim ao duplo do Orun (run). Como j foi dito ele no
armazena um orix (r), ele no uma lmpada mgica que esfregamos para dali sair um
orix (r). Ele a ponte de ligao direta entre o ay e o Orun (run) entre o iniciado no
ay e suas energias e divindades no Orun (run).
Um dos principais usos que se d a ele receber os Ebs (b), que so sacrifcios de todo o
tipo, entendendo que o sentido de sacrifcio na religio no envolve o uso de sangue em s. Um
sacrifcio por ser qualquer oferenda que vai se converter em ax (). Um Obi um sacrificio,
um Acaa um sacrifcio e pode substituir um boi.
Esse aspecto de participar ativamente de Ebs (b) uma finalidade muito importante, mas
no imprescindvel. No se precisa de uma Igb para fazer uma oferenda, mas, todo sacerdote
tem e usa os seus para isso. Isso tem todo o sentido, sendo o Igb um elemento de ligao ou
de potencializao dessa ligao como esta sendo dito realizar isso junto a eles fazer esse
instrumento funcionar.
importante lembrar que um Ebs (b), uma oferenda um parte de um processo de
transmisso e reposio de ax () e os elementos utilizados so transmutados em energia,
em ax ().
Dessa maneira ao se fazer isso atravs de um Igb esta se fazendo chegar ao duplo do Orun
(run) referenciado por aquele Igb a transmutao da energia dos elementos afins a ele que
foram usados no sacrifcio.
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O ponto que esta sendo ressaltado que o Igb em um Eb (b) o instrumento que
direciona, potencializa e agiliza a este ase chegar ao Orun (run). O Igb no um instrumento
para alimentar o iniciado no ay.
O Igb pode ser coletivo ou individual. Quando coletiva chama-se Ajob (ajb) e liga uma
comunidade a sua comunidade espiritual, ao coletivo que ela representa e a divindade que a
protege. Quando individual liga a pessoa ao seu reflexo no Orun (run).
Do que feito um Igb?
O Igb feito usando materiais que esto ligados divindade que ele representa. Assim omaterial e o seu contedo ajudam a estabelecer a relao, devendo ser utilizados sempre
elementos completamente afins com a divindade e que traduzem a matria original do Orun
(run). Conhecer essas relaes e afinidades parte do aprendizado de um iniciado durante
sua vida e somente aqueles que as conhecem tero verdadeiro sucesso no seu trabalho
ritualstico.
O principal elemento dentro de um Igb a pedra, o okuta. Acima de todos os demais
componentes ela receber todo o trabalho ritual de preparao e por essa razo muitos dizem
que a nica coisa importante, todo o demais apenas decorativo. O pedra para os Yorb
significa a longevidade a existncia perene. Os demais elementos fazem parte do enredo do
orix (r) de maneira que no so apenas decorativos. Entretanto muitos itens que so
colocados em um igb pode ser meramente decorativos.
Os demais elementos em um Igb variam entre metais, favas, folhas e outros materiais que
remetem ao orix (r) original. O elemento escolhido para o continente do Igb tambm
ter relao direta com ele. Tudo dentro de um Igb feito para traduzir a matria original do
Orun (run) que foi materializada no ay atravs do iniciado ou da comunidade que o Igbrepresentar.
A escolha de cada elemento depende de para quem ser feita a ligao. Cada orix (r) tem
os seus elementos correspondentes no ay. Adornos e enfeites exteriores que apenas
agradam ao ego de quem faz no ajudam nisso. O importante so as folhas, as favas, os metais
e outros elementos genricos como os bzios. Entendo que moedas, muito presentes,
deveriam ser representadas apenas pelos bzios, que eram dinheiro, mas muita gente coloca
mais como um desejo de prosperidade do que um elemento de ligao de fato.
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O material do recipiente externo escolhido entre algumas opes. A cabaa substituda
pela porcelana branca para os orix (r) fun fun, o barro e excepecionalmente a madeira
para um orix (r) especfico. As cores desses materiais e elementos decorativos vo
compor esse conjunto de forma harmoniosa. Para os caso das cores existe muita criativade. OsYorb reconhecem apenas 3 cores, o branco, o vermelho e o preto. Todas as demais cores
so elementos de uma dessas 2 famlias e as representam da mesma maneira. Assim o verde e
o azul so elementos da cor preta. O amarelo do vermelho e por assim vai.
Todo Igb individualizado composto de um recipiente com tampa (continente) contendo a
pedra, okuta, o ncleo do Igb e os demais elementos com gua, leos e outros elementos
lquidos. O igb sem tampa so usados em assentos coletivos, no individualizados,
eventualmente casas e ax () podem fazer variaes disso.
O vnculo run-ay
Uma questo importante quando falamos de Igb o que ele traduz de fato e a questo de a
quem pertence e o que ele traduz . Como explicado, j extensivamente, um elemento de
ligao e pode ser coletivo ou individualizado, mas, como explicado nunca o orix (r) no
ay.
Os aspecto coletivo-indivduo tambm uma das caractersticas marcantes da ritualstica da
religio. Estamos todo o tempo lidando com essas 2 faces do divino que coletivo como todo
o divino, mas, para os iniciados, os sacerdotes totalmente individualizado em sua
manifestao.
O exemplo mais individualizado possvel do divino o do Igb ori. Nada mais prprio, pessoae individualizado do que um Igb Ori. Seguindo o que repetimos a exausto, o Igb a
representao no ay do duplo no Orun (run), o ori no Orun (run) a divindade pessoal, que
esta no Orun (run) e nos protege, guia nossos passos, abre e fecha nossos caminhos e esta
acima de qualquer orix (r) em nossa vida. No representa o Ori que est no ay uma vez
que esta resida na prpria pessoa. Usamos o Igb ori para chegar ao Ori no Orun (run) o
duplo por excelncia. No processo que chamamos de Bori a oferenda ao Ori, o processo de
reposio de ax (), duas entidades sero alimentadas com ax () o duplo do Orun
(run) e o Ori que esta no ay.
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O Igb Ori nesse processo e durante o processo, criado e por excelncia o elemento
fundamental na execuo de um Bori mas pode no mais existir aps a sua execuo. Uma vez
realizado o Bori ele pode ser desfeito, despachado junto com os demais elementos utilizados e
oferecidos. Contudo nada impede, como provavelmente na maior parte das vezes, ele ser
preservado tornando mais perene e forte o vnculo Orun-ay (run-ay) .
claro que esse vnculo no se perde quando despachamos o Igb, da mesma forma que
nenhum vnculo de desfaz quando despachamos um Igb ou no o temos. O Igb um
instrumento de intensificao disso a ser criado e usado por que sabe o que esta fazendo.
Na tradio do Candombl onde o culto ao Ori se manteve sempre presente e importante no
se faz um Bori sem que seja criada a representao no ay do Ori. No me interessa tratar
aqui da forma como outras tradies religiosas da mesma base fazem isso porque muitas delas
no o faziam e adotaram tardiamente copiando o que viam ou ouviam falar e muito menos o
que tradies africanas que perderam a sua origem no processo de cristianizao e islamizao
tendo que buscar em literatura suas origens. No Candombl sempre foi feito assim.
Dessa maneira o Igb Ori um exemplo vivo, conhecido e forte do que foi dito aqui sobre o
que um Igb, sua finalidade, seu uso e aplicao prtica.
Voltando ao ponto do coletivo individual, no caso dos orix (r), na feitura de um olorix o
processo de ritual todo voltado para a individualizao. Assim, se inicia com o genrico que
o orix (r) e se faz a individualizao deste atravs da ligao Orun-ay (run-ay) para a
pessoa, e isso realizado no momento em que se cria a ligao Orun-ay (run-ay) atravs
do Igb. Os animais que sero usados, os elementos colocados e dispostos, a ritualstica de
elaborao. Uma determinada qualidade ser feita com o okuta indo ao fogo, etc A
individualizao nascer nesse momento e o Igb por excelncia a marcao desse caminho,
distinguindo assim um assento coletivo de um assento individual atravs da ligao Ori-okuta.
O processo de individualizao passar pela ritualstica e tambm por materiais, metais, favase folhas, especficos daquele orix (r) para aquela pessoa.
J o orix (r) genrico ser ligado atravs do Igb genrico aquele que no passar pelo
processo de individualizao.
Dito isso voltamos ao ponto de que um Igb r criado dentro do processo de feitura no
um Igb genrico ou coletivo, ele foi individualizado atravs da ligao Ori-okuta e sempreestar ligado aquele Ori.
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Dentro da ritualstica devemos lembrar que a pessoa preparada para ser ele prprio o
receptculo do orix (r), o seu Igb vivo. Um yaw um Igb vivo do seu orix (r). O
Igb fsico complementa isso ligando no mais o orix (r) genrico mas sim o orix (r)
individualizado no yaw ao orix (r) origem no Orun (run) atravs de uma ligaoindividualizada, do Igb individualizado.
Esse aparato fsico ritualizado na iniciao deixa de ser matria ordinria, barro, metal, ou fava
e passa a constituir o caminho metafsico para o orix (r). Mas tambm no mais uma
ponte para o ax () genrico do orix (r) e sim a sua fisicalizao individualida naquele
yaw. Assim temos 2 caminhos, o caminho coletivo e genrico e o caminho individualizado.
Os Igb so os instrumentos de amplificao dessa relao entre os 2 espaos e o acesso ao
ase de cada orix (r). Todo o processo de equilbrio e restituio de ax () passara poreles para ir ao duplo no Orun (run) e retornar no ay para quem necessita.
Uma pessoa no ser dependente de seus Igb. Acima de tudo a relao desses espaos
sempre existir e jamais estamos no assistidos. Podemos no ter o instrumento de
amplificao mas sempre teremos nosso ori e todos os orix (r).
A quem pertence um Igb?
Um Igb ori to pessoal que jamais deveria ser mantido no Ile, longe de seu dono. Esse Igb
completamente individualizado uma vez que no encontraremos no Orun (run) um Ori
coletivo mas sempre individual de forma que ele e s tem sentido e utilidade pelo seu prprio
dono. Deveria assim estar junto da pessoa na sua casa. Nos casos em que essa pessoa no tem
condies de mant-lo em casa o Il Ax (Il ) o lugar natural.
O problema sempre surge em relao aos Igb de orix (r) que despertam grandes paixes.
Esta uma religio praticada em torno dos orix (r) e seu culto assume demais
importncia. Deveria ser um culto ao Ori, a famlia e a ancestralidade mas o culto ao orix
(r) assume propores muito grandes.
Uma pessoa durante o seu processo de iniciao poder receber um ou muitos Igbs, tudo
depende da tradio da casa. Eu entendo que o mnimo que uma pessoa deve ter aps sua
iniciao seria, o seu igb ori (que j deveria existir bem antes, muito antes da pessoa se
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iniciar), o Igb do seu orix (r) e o Igb ou assentamento do Exu bara ( bara) do seu
orix (r). Esta conjunto Igb orix + Exu bara bsico e imprescindvel.
A este conjunto bsico outros elementos podem ser adicionados como o Igb do seu junt que o seu segundo orix (r), e os Igb do seu enredo de orix (r). Deve se entender por
enredo o conjunto de orix (r) que formam sua energia no ay e isto esta diretamente
ligado ao processo de individualizao. Assim a quantidade e qualidade dos Igb que uma
pessoa ter como parte do seu enredo depende da sua qualidade de orix (r) e de seu
prprio caminho na religio, coisa que s determinado durante o processo de feitura e
consultas ao Orculo.
Algumas casas fazem todos esses Igb durante o processo de iniciao, outras vo adicionando
isso ao longo das obrigaes de 1, 3 e 7 anos. Se a pessoa ter Oye de babalorix (babalr)
ou dependendo o oye que essa pessoa venha a ter, o conjunto de Igbs (awn igb) ser
distinto de pessoas que no tero oye cargo sacerdotal. Observe que nem todo mundo que
iniciado nessa religio ser um babalorix (babalr) ou iyalorix (yalr). A maior parte
sera formada de egbons, mais velhos.
Um iniciado em uma casa ter ento uma quantidade significativa de Igbs. Mas, a quem
pertence isso, a quem pertencem esses Igbs? Digo isso porque todos devem ter
conhecimento do problema envolvido na posse de Igb orix. Muitas casas no permitem que
nunca a pessoa retire os Igb de dentro dela, nem mesmo quando seria natural que quando
a pessoa completa seus 7 anos.
O mais comum que aps desavenas durante o seu perodo de yaw a pessoa quera deixar o
Il Ax (Il ) e naturalmente queira levar consigo os seus Igbs. Muitos as vezes nem
conseguem mais entrar e ficam preocupados tendo deixado para trs seus Igbs devido a eles
representarem um ponto de vulnerabilidade.
De fato, todos tem razo. Um Igb sempre ser um ponto de vulnerabilidade, principalmente o
igb ori. Esse jamais deveria estar em um Il Ax (Il ). Mas a primeira coisa que tenho a
dizer tome cuidado com o que faz da sua vida. Nunca entre em nada sem avaliar tudo antes.
Tem que conhecer primeiro a casa, o dirigente e as pessoas que frequentam a casa. As pessoas
se do mal porque se precipitam, colocam a vaidade na frente. Assim se a deciso de iniciao
for mais consciente os problema sero menores. Segundo no se sai de um Il Ax (Il ) por
qualquer motivo ftil. Se foi seu orix (r) que escolheu aquela casa (essa a tradio, o
orix (r) que escolhe onde quer ser iniciado e no a pessoa) ento se submeta aos
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caprichos de outros. Mantenha o seu respeito e sua individualidade mas vaidade por vaidade a
sua deve ser a menor.
Durante uma feitura no existe apenas um processo de individualizao existe tambm umprocesso de ligao com o ax () da casa e do iniciador. Um yaw est fortemente ligado a
casa e a pessoa que o iniciou. O processo ritualstico leva componentes que criam essa ligao,
assim o iniciador considera que aqueles igb no so independentes, eles adicionaram ax
casa e receberam ax da casa. Foram parte de um conjunto. entendido que seu sentido de
existir dentro daquela casa.
Se a pessoa sair, que faa seus Igb na sua prxima casa. De maneira que no estamos
discutindo a propriedade de louas e barro e sim de as. Isso verdade. Se voc deixa para
trs os seus Igbs, no se preocupe, faa outros no prximo lugar que vai, o orix (r) vai
com voc.
Eu entendo que o ningum segura ou fixa um orix (r) na sua casa mantendo o Igb de um
iniciado que se foi. O Igb uma individualizao e s tem sentido, s tem funo junto ao
prprio iniciado. Se quiser manter um orix (r) em casa que trate melhor as pessoas.
O Igb e a morte
Com a morte do iniciado o Igb deixa de ter sentido. A ligao no mais existe e se voc no
quer conviver com um egun atrs de voc recomendado que despache tudo junto. Existem
pessoas que entendem que se deve consultar o Orculo para saber se o orix (r) quer ir
embora ou no, ou seja, se o Igb vai ou no no carrego e em vitude dessa consulta muitos
Igb ficam no Il Ax (Il ). Entendo que um forma de ver isso. Acho mais natural que
tudo se v, no h motivo para se manter um vnculo Orun-ay (run-ay) com um ori que
no mais existe no ay isso vai contra o fundamento do axexe (aee), mas, cada um siga suaconscincia e o que aprendeu.
As
Paulo D`s
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O processo de formao do Candombl e a construo de suas tradies
Por Cntia Raymundo (Cntia dOxum)
Os mitos caminham sempre junto com a histria e com ela se transformam. Assim Regina
Celestino conclui em seu trabalho Metamorfoses Indgenas que abordava questes de
identidades entre grupos indgenas no Rio de Janeiro. O mito transcrito acima pertence,
exclusivamente, ao conjunto de mitos dos candombls iorubs no Brasil e relata o processo
mtico de inveno do candombl. Candombl uma palavra de origem banto que significa
culto, louvor, reza [1]. Esse termo denomina complexos sistemas de cultos religiosos de matriz
africana institudos no Brasil: os cultos aos Orixs, Voduns e Inquices. Conhecidas como
religies afro-brasileiras estes cultos se caracterizam pela heterogeneidade ritual, tnica e
social. Possuem em comum a ritualstica da possesso e a adoo de rigorosos ritos de
passagem e de hierarquia meritria.
Compreender o processo mtico de inveno do candombl implica em atentar para as
singularidades histricas que promoveram novas formas de interao do homem iorub com a
natureza, produzindo novas simbologias litrgicas. Assim como Claude Lvi-Strauss afirma:
() o que nos observamos e devemos descrever so antes as tentativas para realizar uma
espcie de compromisso entre, por um lado, certas orientaes histricas e certas
propriedades do meio ambiente e, por um outro lado, as exigncias mentais que, em cada
poca, prolongam as que tm a mesma natureza daquelas que as precederam no tempo. Ao
ajustar-se uma outra, estas duas ordens de realidades fundem-se e constituem ento um
conjunto significante. [2]
O candombl possui vrias tipologias de cultos. As principais so o candombl ketu, o
candombl jeje e o candombl de angola. Nos ltimos anos do sculo XVII e na primeirametade do sculo XIX, chegam ao Brasil, principalmente s regies Norte e Nordeste, um
grande contingente de negros oriundos da frica Ocidental (nags/yorubas, jejes). Grande
parte destes negros serviram de mo de obra escrava nas plantaes de fumo e algodo na
Bahia[3]. Segundo alguns autores, a chegada tardia a Bahia dos yorubanos e jejes em relao
aos negros bantos contriburam para uma suposta pureza de culto e , por esta razo, jejes e
yorubs tendem a ser visto como um grupo que resistiu a mestiagem preservando
organizaes slidas de cooperao. Esta caracterstica teria contribudo para uma maior
organizao de cultos de matriz africanas no Brasil[4]. Os bantos tiveram seu fluxo migratrio
bastante diminudo no sculo XIX, porm seus inmeros contatos com crioulos e caboclos
permitiram novas possibilidades de formas simblicas como os candombls de caboclo. Os
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candombls jejes-nags compreendem os modelos de candombls nags/yorubanos (ketu,
ijex, ijebu, xangs, egb) e jejes (daomeanos, mahi, ewe e fons). Os candombls bantos
compreendem os cultos de candombls angola, congo, muxicongo, benguela, cambinda e
caboclo. A estas divises se convencionou denominar de naes de candombl.
Os primeiros candombls organizados e registrados so de origem nag. Entre eles est o
candombl da Barroquinha conhecido como Casa Branca do Engelho Velho da Federao e
chamado oficialmente de Il Ax Iy Nass Ok em homenagem a uma das suas fundadoras,
Ya Nass[5] . O candombl da Barroquinha, segundo tradies orais, foi fundado em um
terreno localizado atrs da capela de Nossa Senhora da Barroquinha, em Salvador no ano de
1789. Segundo relatos, os fundadores deste terreiro eram provenientes de uma irmandade de
negros pertencentes a capela da Barroquinha [6]. O grande ineditismo do Ax da Casa Branca
foi introduzir um modelo de culto organizado em sociedade, em yorub egb. O pioneirismo
da Casa Branca do Engenho Velho um dos principais elementos de defesa de um modelohierrquico de cultos. Assim, pureza africana e pureza nag se tornaram indissociveis nos
discursos sobre os cultos afro-brasileiros.
O candombl possui um complexo de significados que so transmitidos historicamente atravs
da oralidade.Estes significados so dinamicamente reelaborados produzindo diferentes formas
simblicas que so perpetuadas pelos adeptos dos cultos.
A cosmoviso iorub considera que Homem e Natureza no constituem elementos
complementares. Os iorubs consideram que o Homem Natureza e suas aes podem ser
lidas nos usos dos espaos ambientais. na tradio do uso dos recursos naturais que nasce o
culto aos Orixs. Esses so ancestrais divinizados, representados miticamente como deuses
manipuladores de determinada fora da natureza[7]. Essa est divida por quatro elementos
principais: aff (ar, vento), omi (gua), inn (fogo) e il (terra). Conforme descreve Ruy
Pvoas, dentre o povo de santo
() se cr na estruturao do universo humano com base nos quatro elementos: Terra, gua,
Fogo e Ar. As pessoas ento, se consideram, se reconhecem e se comportam como se fossem
o prprio elemento. E qualquer prtica de cura, tratamento, reposio ou troca passa
necessariamente por tal entendimento. Num terreiro de candombl, jamais se atribuir a uma
pessoa cabea de Oxum a tarefa de remover o corpo morto de um animal em decomposio
ou qualquer outra atividade que implique lidar com cheiros nauseabundos ou que promovam
rejeio.Oxum moa rica, rainha do brilho, do perfume e assim so tambm seus filhos.
Desrespeitar o humano tambm desrespeitar o orix, pois essas coisas no se separam. [8]
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Todos os quatros elementos correspondem a uma relao de Orixs. No Brasil, os iorubs
cultuam 16 orixs principais. Relacionados ao fogo temos Exu, Xang e Ians. Ligados ao
elemento ar tem Oxaluf e Oxagui (duas formas do orix Oxal). A gua domnio das
denominadas yabs (mes/divindades femininas) entre elas Yemonj e Oxum. A terra est
relacionada aos orixs guerreiros e caadores como Oxossi, Logum-ed, Obaluaye, Ogum,
Oxumar, Ossaim e Oba. Interessante notar que, comumente, h orixs que pertencem a mais
de um elemento como o caso de Ians (fogo e ar), Ogum (terra e fogo) e Logumed (gua e
terra). a individualizao da relao de Ancestralidade/Orix/Natureza que d surgimento as
chamadas qualidades de santo. Resumidamente, a qualidade de santo uma demarcao
especfica do lao de ancestralidade que traz informaes sobre a origem do culto do Orix
pessoal de cada um. Exemplificando: Oxum a divindade da gua doce, cultuada no rio Oxum
localizado no Bosque sagrado de Oshogbo (Nigria). Na regio onde o rio apresenta inmeros
troncos de rvores saindo de suas guas, ocasionando inmeras quedas de raios a divindade
Oxum chamada de Opar e seus encantamentos (ofs) tm relao com Ians (divindade dos
raios). Quando o rio Oxum se torna mais fundo e turvo comea os cultos das denominadasOxum mais velhas como Oxum Ijimun(nome de outra localidade por onde passa o rio).
A relao de ancestralidade visvel atravs de sistemas oraculares iorubs como o jogo de If
e o jogo de meridilogum, o popular jogo de bzios. Estes se baseiam no sistema de Odu
(destino), um sistema binrio compostos por versos denominados itans. Dividos em 16 odus
principais, o orculo possibilita 256 combinaes de resposta. A relao de ancestralidade
materialmente dramatizada atravs dos ritos de possesso onde o adepto possudo por um
Orix pessoal, ou seja, um ancestral pessoal. No rito de possesso encenada a relao do
homem com as foras da natureza. Tomando por exemplo um adepto de Ogum, orix ligado
ao fogo, ao ferro e guerra. O adepto desta divindade, ao ser possudo, encenar lutas,
atividades de forja de ferro e manipulao do fogo para objetivos coletivos como alimentao
de uma tribo. H ainda divindades anteriores a pr-histria como Nan Buruku, deusa
feminina do panteo jeje. O culto de Nn anterior a descoberta do ferro[9]. Por isso um
Orix relacionada a gua e a terra, aos elementos reguladores da agricultura como as chuvas e
o barro. Nan encenada como uma velha senhora, ranzinza e austera. Relaciona-se com a
passagem entre o cu (orum) e a terra (ay) e com Iku ( a morte) devido sua ligao com o
barro, elemento que, segundo a mitologia iorub, principia e encerra a vida. Eis uma
significativa descrio de Nan:
Nan, anci dos Orixs, assume o comando da lama para que, separada da gua, surja a terra,
slida e firme para ser habitada. A lama o elemento primordial de nossa criao. Tudo vir
dela, e tudo a ela ser devolvido depois de cumprida a misso que for destinada a cada ser e a
cada coisa.
Ser, portanto, encarregada desta funo: devolver lama o que dela provm. Como smbolodesta outorga, deves construir, com tuas prprias mos, um cetro de fibras de dedezeiro,
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enfeixadas e atadas com tiras de couro ornadas de bzios. A ponta superior dever ser
dobrada para baixo e presa ao corpo do cetro, formando o smbolo do poder ancestral
feminino do qual sers tu, Nan, a representante entre os humanos.[10]
O sistema scio-religioso iorub estruturado pela crena em dois espaos: o orun e o aiy.
Orun o espao sagrado, morada dos Orixs. O aiy o espao fsico, morada dos vivos. Esses
dois espaos no so distantes um do outro. No h ruptura entre o orun e o aiy. H
continuidades. Assim como a lenda citada no incio do texto, os Orixs podem visitar o aiy
atravs do rito de possesso. Para tal preciso que o mundo humano se afaste do profano,
sacralizando-se. A purificao do Homem para o contato com o sagrado viabilizada pelo
processo de iniciao denominado feitura de santo, perodo de recluso que dura entre 16 a
21 dias. Alm disso, h ritualsticas de limpezas como ebs e prticas litrgicas fitoterpicas
como agbo (gua dos orixs) e omiero (gua de calma).
A senioridade e a hierarquia so questes fundamentais para os iorubs. A estratificao dos
candombls iorubs estruturada por tempo de santo, ou seja, tempo de iniciao
ritualstica. Pessoas ainda para ser iniciadas so denominadas abi (aquele que ainda vai
nascer), aquelas com menos de sete anos de santo so denominadas yawo (esposa). Ao
completar sete anos de santo, o adepto se torna egbomi (irmo mais velho). a partir dos sete
anos de santo que os predestinados a serem sacerdotes podem abrir seu prpria casa
religiosa. A maior autoridade no candombl o babalorix (pai de santo) ou a yalorix (me de
santo), chefes dos terreiros e principais responsveis pelos rituais litrgicos. Aps, aosbabalorixs e yalorixs, temos os babakekere (pai pequeno) ou yakekere (me- pequena),
estas pessoas respondem pela organizao civil e ritual na ausncia dos chefes principais. H
ainda os ogs e ajois. Og, termo jeje que significa senhor, so pessoas fundamentais no
terreiro. H trs tipos de ogs: o alab, o que entoa as cantigas sagradas (orin) e dirige os
toques de atabaques nas liturgias; o pegig, responsvel por zelar e resguardar o peji (altar
sagrado) e o axogun, responsvel pelas matanas rituais, so aqueles que o povo de santo se
refere como pessoas com mo de ob (faca). Os cargos de og so exclusivamente
masculinos e para pessoas que no entram em transe. Ajoi ou ekedi um cargo
exclusivamente feminino. As ajois tambm no entram em transe e tem como funo zelar
pelos orixs e responder pelo bom funcionamento do il nas obrigaes pblicas eprivadas.Todas estas pessoas so tratadas como me ou pai e so muitos respeitadas pelo
adeptos do culto.
Toda a prtica ritual do candombl visa um objetivo central: a manuteno do ax. O ax
fora vital manipulvel, energia que emana de todos e seres e elementos naturais.Maupoil
(1943) definiu ax como fora invisvel, mgico-sagrada de toda divindade, de todo ser e de
toda coisa.[11] O ax tem a capacidade de ligar deidades e pessoas atravs do tempo e espao.
Por esta razo, a localidade dos cultos so chamadas de casa de santo, terreiro, barraco ousimplesmente il ax.
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Considerando o conceito de Hobsbawn e Ranger (1984) que tradies se opem s convenes
ou rotinas pragmticas, sendo inventadas quando ocorrem mudanas amplas e/ou rpidas no
ambiente social comportando tambm adaptaes no intuito de conservar alguns costumes ou
complexos simblicos em condies novas, Maria Lina Teixeira reafirma que as tradies docandombl foram inventadas como um conjunto de prticas atualizadas em funo de uma
continuidade do passado[12]. Neste processo de reinveno de tradio, a natureza tem papel
fundamental. A dinmica migratria de escravos acarretou em inmeros processos de
reesignificao simblica da natureza dos Orixs para os iorubs.
O trfico de negros no perodo escravocrata possibilitou, no Brasil, uma convivncia de
indivduos originrios das mais diversas culturas africanas. Unies e cruzamentos impensveis
no continente africano terminaram por acontecer no solo brasileiro*13+
A escravido fez com que o povo iorub de dispersasse por todo o Novo mundo, e sua
herana religiosa seguiu com ele. Em meio violncia, ao sofrimento, ao seqestro do negro
iorub, quando de sua chegada ao Brasil, Orixs e Egunguns vieram junto, e aqui se
instalaram..
Inmeras outras tribos e etnias tambm foram trazidas ao Brasil durante o perodo daescravido, trazendo consigo seus deuses e suas crenas. Em todos esses quatrocentos anos
de convivncia forada, os inmeros deuses africanos fundiram-se em uma grande religio,
chamada candombl*14+
A natureza objeto significativo para entender o processo de reinvenes de tradies nos
candombls iorubs. A dinmica escravista transatlntica deslocava pessoas e culturas. Em
frica, os negros trazidos para o Brasil cultuavam seus deuses em consonncia com naturezas
especficas. Xang era cultuado como rei do outrora prspero Reino de Oy. Oxagui estava
realacionado as terras de Ejigbo. A vinda forada para o Brasil direcionou o negro novas
culturas naturais e foi preciso criar estratgias para preservao e perpetuao dos cultos dos
orixs alm frica. Por esta razo, este trabalho objetiva analisar como as rvores e os bosques
sagrados africanos foram readaptados no Brasil, investigar como foi a resimbolizao das
guas nos cultos, uma vez que, muitas divindades surgiram de cultos de rios especficos como
o caso de Oxum no Rio Oxum e Yemonj no rio Ogun e tambm analisar as mudanas
significativas nas comidas ofertivas, na fitolatria e na dendrolatria nos cultos iorubs no Brasil.
Pretende-se, assim, desenvolver o que Donald Worster denomina de terceiro nvel de anliseda Histria ambiental
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() um terceiro nvel de anlise para o historiador, vem aquele tipo de interao mais
intangvel e exclusivamente intelectual, no qual percepes, valores ticos leis, mitos e outras
estruturas de significao se tornam parte do dilogo de um individuo ou de um grupo com a
natureza.[15]
No primeiro captulo apresento uma discusso bibliogrfica sobre o tema, atentando para os
diferentes discursos na literatura sobre cultos afro-brasileiros.Esses discursos so ferramentas
importantes para entender o processo de formao do candombl. Constituem interpretaes
do sagrado que nos permite conhecer os diversos tipos de agncias envolvidas nas reinvenes
de tradies no candombl.
O segundo captulo aborda a readaptao de rvores e dos bosques sagrados no Brasil. Ele
busca entender a reestruturao do espao sagrado e sua articulao com novas formas
simblicas praticadas pelos adeptos. Investigo aspectos como a dendrolatria (cultos das
rvores) e os diferentes usos da floresta para fins religioso.
O terceiro captulo aborda o uso litrgico das ervas nos candombls no Brasil e sua articulao
com o culto da divindade Ossaim, demonstrando, atravs da seleo de ervas importantes do
culto que ocorreu uma articulao entre frica e Novo Mundo pela tica da etnobotnica.
O captulo seguinte intitulado Como o Brasil alimenta os deuses africanos: apropriaes da
Mata Atlntica na culinria ritual dos candombls iorubas, investiga como a mudana de
continente e , conseqentemente, de espao ambiental influenciou as comidas votivas aos
deuses africanos. Atento para os diferentes usos da vegetao da Mata Atlntica em
substituio de espcies africanas na culinria ritual nos cultos aos Orixs no Brasil.
O ltimo captulo aborda as ressimbolizaes dos cultos das guas. Identifico as diferenas
entre os cultos dos orixs Oxum e Yemonj na frica e no Brasil, analisando as principais
reinvenes realizadas pelos iorubas nos cultos destas duas divindades no Brasil.
As questes selecionadas para serem discutidas nessa monografia representam o anseio de
realizar um trabalho de histria ambiental dos candombls iorubas. A farta e prestigiada
literatura sobre os cultos afro-brasileiros, comumente, relega a natureza um papel figurante,
secundrio. Esse trabalho busca inserir a natureza em um dos processo mais polmicos e
debatidos sobre a temtica das religio afro-brasileiras: o processo de inveno do candombl.
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Entre o povo do santo acredita-se que para adentrar em qualquer local sagrado se deve pedir
ag (permisso). Em homenagem a esta crena comeo este trabalho realizando uma
restropectiva e uma anlise dos escritos dos mais velhos. a forma particular de se pedir ag
lonan (permisso para os caminhos ou para caminhar) aos pioneiros desses estudos.
*1+O termo Candombl, averbado em todos os dicionrios portugueses para designar
genericamente os chamados cultos afro-brasileiros na Bahia() vem do timo banto Ka-n-
dm-d ou mais freqentemente ka-n-dmb-l-, ao de rezar , de orar(..) Logo, Candombl
igual a culto, louvor, reza, invocao, ou local de culto(CASTRO, Yedda Pessoa de, 1981,60).
[2] LviStrauss, Claude. O Olhar Distanciado, 1983.
[3] Reis ,Joo Jos. Domingos Sodr, um sacerdote africano: escravido, liberdade e
candombl na Bahia do sculo XIX So Paulo: Companhia das Letras, 2008
[4] BASTIDE, Roger. As religies africanas no Brasil. So Paulo, Pioneira, 1975.
*5+ Ya Nass no um nome prprio, antes um ttulo, um oi (cargo), que se atribui s
pessoas para determinar ou modificar o seu status na estratificao social do grupo a que
pertencem .No caso, Ya Nass um ttulo altamente hono rfico , privativo da corte do Alafim
de Oi, isto , do rei de todos os iorubs. O ttulo corresponde a funes religiosas especficas
e da maior significao na cultura dos iorubs. Y Nass quem, em Oyo, a capital da nao
poltica dos iorubs, encarrega-se do culto de Xang, a principal divindade dos iorubs e o
orix pessoal do rei.Cabe a Ya Nass cuidar do santurio privado do Alafim ;relaizar todas as
cerimnias proporciatrias do culto, os sacrifcios, as oferendas, zelar,enfim, pelo santo do
rei. (Costa Lima, 1977, p.32)
*6+ Silveira, Renato.O Candombl da Barroquinha, 2007.
*7+ Os orixs so ancestrais divinizados, intermedirios entre humanos e foras da natureza e
diretamente relacionados aos elementos da vida cotidiana (Conduru,2004,p.11)
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[8] PVOAS, Ruy do Carmo .Dentro do Quarto In: Faces da Tradio Afro-Brasileira:
religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanizao, prticas teraputicas,
etnobotnica e comida. Carlos Caroso, Jeferson Bacelar [organizadores]. Rio de Janeiro : Pallas;
Salvador, BA: CEAO, 1999,pg. 215.
*9+ O ferro imprime, tambm, uma caracterstica especial s religies afro-
brasileiras.Determina a diviso do panteo afro-brasileiro entre famlias de orixs anteriores
Idade do Ferro e posteriores ao conhecimento desse metal o que imprime importante
questo sobre antiguidade, a procedncia e pertencimento de cada famlia de orix a uma
regio, civilizao e forma de culto especfica.(Conduru,2004,pg.14)
[10] OGBEBARA, Awof (Adilson de Oxal). Igbadu: a cabaa da existncia: mitos nags
revelados. Rio de Janei-ro: Pallas, 1998, p. 47).
*11+ Maupoil, Bernard.La gemancie lancienne cte ds esclaves, Paris: Institut d
thnologie,1943, p.334.
[12] TEIXEIRA, Maria Lina .Candombl e a [re] Inveno de Tradies IN: Faces da Tradio afro
-brasileira.Caroso & Serra (org.)Rio de Janeiro: Pallas; Salvador, BA: CEAO,1999.pg.131.
[13] PVOAS, Ruy do Carmo .Dentro do Quarto In: Faces da Tradio Afro-Brasileira:
religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanizao, prticas teraputicas,
etnobotnica e comida. Carlos Caroso, Jeferson Bacelar [organizadores]. Rio de Janeiro : Pallas;
Salvador, BA: CEAO, 1999,pg. 213.
[14] EPEGA,Sandra Medeiros.A Volta frica- Na contramo do Orix .In: Faces da Tradio
Afro-Brasileira: religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanizao, prticas
teraputicas, etnobotnica e comida. Carlos Caroso, Jeferson Bacelar [organizadores]. Rio de
Janeiro : Pallas; Salvador, BA: CEAO, 1999,pg. 159.
[15] WORSTER, Donald. Para fazer Histria Ambiental. Estudos Histricos. Rio de Janeiro, vol.4,
n.8,1991,pg.202.
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Do Igbo ao Il: As rvores e os Bosques Sagrados no Brasil
Por Cntia Raymundo (Cintia dOxum)
Obanla o rin neru ojikutu seru. Ob nille Ifon alabalase oba patapata nille iranje. O yo
kelekele o ta mi lore. O gba a giri lowo osika. O fi lemi asoto lowo. Oba igbo oluwaiye re e o
ke bi owu la. O yi ala. Osun lala o fi koko ala rumo. Ob igbo.
Rei das roupas brancas que nunca teme a aproximao da morte. Pai do Paraso eterno
dirigente das geraes. Gentilmente alivia o fardo de meus amigos. D-me o poder de
manifestar a abundncia. Revela o mistrio da abundncia. Pai do bosque sagrado, dono de
todas as benes que aumentam minha sabedoria. Eu me fao como as Roupas Brancas.
Protetor das roupas brancas eu o sado. Pai do Bosque Sagrado
Oriki de Oxal[1]
Igbo em iorub quer dizer Floresta/bosque. Para os iorubs, rvores, plantas, animais, rios, e
montanhas representam foras sagradas. Paisagens contendo bosques, rios so consideradas
manifestaes dos deuses e consagradas para sua adorao. Il, casa religiosa, a
denominao do espao religioso no Brasil. Fatores histricos como o sistema escravista e a
represso policial aos cultos afro-brasileiros, fizeram que muitos ils fossem construdos em
lugares afastados dos centros urbanos. Porm a geografia do il teve que se adaptar a uma
lgica transatlntica: a lgica dos bosques sagrados.
As referncias aos Bosques Sagrados so antigas. Santurios ao ar livre foram os primeiros
templos dos deuses. Um lugar sagrado demarcado para uma deidade era chamado de
temenos em grego e templum em latim (Chandran, Gadgil, 2005). A palavra que os celtas
usavam para designar santurio possui razes prximas com a palavra nemus que em latim
significa bosque; existe uma floresta sagrada dedicada deusa da caa Diana que se chama
Nemi (nome que se refere nemus), este bosque fica pouco distante de Roma (Frazer, 1982).
Na antiga lngua germnica (teutnico) a palavra templo tambm era estreitamente ligada
semntica de floresta. A UNESCO (Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e
a Cultura) reconhece a existncia de florestas sagradas em regies mundiais como: ndia,Qunia, Australia. Um dos mais conhecidos Bosques Sagrados(sacred grove) o de
Oshogbo(Nigria); neles encontra-se o magnfico Santurio da divindade do panteo iorub
Oxum. O bosque sagrado de Oxum- Oshogbo foi reconhecido como sacred grove pela Unesco
em 2005.
A palavra il como sinnimo de terreiro uma prtica brasileira. O il um espao estruturado
conforme os desgnios dos Orixs, que objetiva estreitar os laos de parentesco de santo
atravs de rotinas regulares de preceitos litrgicos. No il , comumente, encontra-se uma salo
principal, quartos sagrados dos orixs, rvores sagradas, peji (altar sagrado),cozinha de santo,
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quarto de jogo e um quarto especial denominado ronc, onde acontece o processo inicitico
de feitura de santo. Os orixs tm sua preferncias e seus interditos. O orix Oxal no gosta
de barulho e de dend. Esse orix normalmente possui uma quarto e uma cozinha especial
para seus rituais. Os orixs caadores (odes) que na frica possuam moradas nos bosques
tambm tm seus correspondentes locais nos ils. Moram no lado de fora da casa principal,
assentados em ps de rvores.
Essa caracterstica se remete atividade de caa, primordial para o povo iorub. Assim Oxossi,
Ogum. Obaluaiye tero suas moradas no bosque sagrado dos terreiros. Oxssi o Orix
caador, rei da nao Ketu e patrono de todas as casas de Ketu. A morada de Oxossi nas
matas, tem domnio sobre os animais de grande porte assim como os pssaros noturnos.
Oxssi um orix ode, caador, no suporta ficar preso. Assim como seus filhos arredio,
independente e amante da liberdade. Diz um trecho de um dos seus orikis (rezas):
Oxossi, rs que vive tanto em casa de barro, como em casa de folhas.*2+
essa imagem arquetipica de Oxssi e isso reflete na escolha de seus assentamentos nos
bosques sagrados. Ogum, irmo mais velho de Oxossi, o guerreiro, o desbravador de
estradas, o que abre caminhos. Ogum no gosta de nada que incomode a sua caminhada.Ogum tambm caador e sentinela por isso est sempre assentado no lado de fora da casa
principal. Ainda, segundo os iorubs, Ogum irmo de Exu e com este ronda, vigia e pune os
malfeitores. Ressalta-se tambm o orix Obaluaye, orix cujo culto oriundo do Antigo
Daom, dos denominados povo jeje. Obaluaye tem funo de caador na frica. No Brasil,
caracterizou-se como orix das molstias e por esta razo, muitas vezes, explicado a razo de
seu assentamento ser fora das casa principal. H uma conhecida lenda que conta e explica a
ausncia dos objetos sagrados de Obaluaye da casa principal:
Um dia, Nan foi conquistar o reino de oxal e se apaixonou por ele.
Mas este no queria se envolver com outra orix que no
fosse sua amada esposa yemanj. Por isso, explicou tudo a nan,
mas ela no se fez de rogada.
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Sabendo que oxal adorava vinho de palma, embriagou-o.
Ele ficou to bbado que se deixou seduzir por nan,
que acabou ficando grvida. Mas por ter transgredido
uma lei da natureza, deu a luz a um menino horrvel,
no suportando v-lo, lano-o no rio.
A criatura foi mordida por caranguejos, ficando toda deformada.
Por sua terrvel aparncia, passou a viver longe dos outros orixs.
De tempos em tempos os orixs se reuniam para uma festa.
Todos danavam, menos obaluaiy, que ficava espreitando da porta,
com vergonha de sua feiura. Ogum percebeu o que acontecia e,
com pena, resolveu ajud-lo,
tranando uma roupa de mariwo uma espcie de fibra de palmeira -
que lhe cobriu todo o corpo.
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Com este traje ele voltou a festa e despertou a curiosidade de todos,
que queriam saber quem era o orix misterioso.
Yans, a mais curiosa de todas, aproximou-se, e neste momento,
formou-se um turbilho e o vento levantou a palha,
revelando um rapaz muito bonito.
Desde ento os dois orixs vivem juntos,
e os dois passaram a reinar sobre os mortos*3+
A floresta tem papel central nos cultos iorubs tanto na frica, quanto no Brasil. Na frica os
santurios, os templos, a morada dos deuses dentro das matas, aos ps de rvores sagradas.Na frica, os ritos iniciticos so realizados na floresta. Roger Bastide e Pierre Verger, ao
pesquisarem o rito de Xang na frica e no Brasil constataram que as yas ficavam encerradas
na floresta para rituais de iniciao. No Brasil, os roncs so cobertos de folhagens e muitos
ainda utilizam cho batidos de terra para resgatar uma equivalncia simblica das
florestas/santurios africanos.
A floresta alm de servir de morada para os Orixs, tambm o local do sombrio, das foras
que precisam ser controladas. na Floresta que moram os mortos.
Os mortos so denominados Eguns (espritos de mortos) ou Egungum (espritos de mortos que
foram sacerdotes do culto aos Orixs). O culto de exclusividade masculina. Para que a morte
volte terra em forma espiritual e visvel aos olhos dos vivos preciso de ritos especficos
executados pelas mos dos Oj (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatrio, um
basto chamado san[4], que quando tocado na terra por trs vezes e acompanhado de
palavras e gestos rituais, faz com que a morte se torne vida. No Brasil a casas mais antigas de
culto a Egungun Il Agboul, em Itaparica, Bahia.[5]
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A ancestralidade feminina recebe o nome de Y mi Agb (minha me anci). Sua energia como
ancestral aglutinada de forma coletiva e representada por Y mi Oxorong (minha me
feiticeira), chamada tambm de Y Nl, a grande me. As sociedades (egbs) que representa
este poder de ancestralidade coletiva feminina so denominadas Sociedades Geled,
compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detm e manipulam este temvel
poder. O medo da ira de Y mi nas comunidades africanas tamanha que, nos festivais anuais
na Nigria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam
mscaras com caractersticas femininas, danam para acalmar a ira e manter, entre outras
coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino. A morada das Ya mi Oxorong so as
grandes rvores dos bosques sagrados. Tambm conhecida como eleiye (a proprietria do
pssaro), Y mi Oxorong assume a forma de um grande pssaro que habita as noites das
florestas. As aves de hbito noturno, como a coruja, pertencem a Y mi Oxorong. Pierre
Verger ao estudar o culto ancestral feminino na frica encontrou a seguinte lenda:
O poder de ymi serve para o bem e para o mal
Ogb S sobe na rvore
Ogb S sobe no teto
If consultado para todas as eleye,
quando elas vieram do alm para a Terra.
quando elas chegaram sobre na Terra,
Elas dizem que elas queriam ter uma residncia.
Elas dizem, sete residncias so os sete pilares da Terra.
Elas dizem, estes sete so os lugares onde faro suas residncias.
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Elas dizem que elas tero uma primeira residncia.
Elas dizem, elas ficaro sobre a rvore iw que ns chamamos orgb.
Elas dizem, quando elas partirem de cima do orgb,
Elas dizem, elas ficaro sobre a rvore arre.
Elas dizem, quando elas tiverem tido uma reunio sobre a arre,
Elas dizem, elas ficaro sobre a rvore de os .
Elas dizem, quando elas deixarem os,
Elas dizem,elas ficaro sobre a rvore rk.
Elas dizem, quando elas elas deixarem rk
Elas dizem, elas iro sobre a rvore iy
Elas dizem, quando elas deixarem a iy,
Elas dizem, elas ficaro sobre a rvore srn,
Elas dizem, uando elas deixarem a srn,
Elas dizem, elas ficaro sobre a rvore bb,
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que o chefe das rvores dos campos[6]
Verger identifica seis dessas rvores. O orgb rvore de orob (Garcinia livingstoni T.
Anders.), semente sagrada do Orix Xang. O arer identificada como Triplochiton
nigericum. Os(Adonsonia digitata L.,Bombacaceae) conhecida no Brasil como baob e
rvore dos mil anos. A rvore de rk (Fcus doliaria M.) a mais sagrada rvore dos cultos
afros. A rvore iy identificada como Daniellia oliveri. srn classificada como
Erythrophelum guineense. A stima rvore, bb, no identificada pelo autor.
Na frica, o culto ao poder ancestral feminino est relacionado a essas sete rvores. No Brasil,
o culto a Ya mi Oxorong muito restrito e as sociedades geledes so praticamenteinexistente. Isso, possivelmente, resultante do temor e da restrio que sacerdotisas antigas
tinham em passar certos conhecimento rituais. No candombl, o culto a Ya mi Oxorong
reservado a assentamento em rvores especficas como cajazeira (Spondias ltea L.)ou
jaqueira(Artocarpus integrifolia L.f.).
A Jaqueira conhecida entre o povo iorub como Apk ( opa = cajado + Oka= serpente
africana) uma rvore de origem indiana, disseminada por diversas reas tropicais e
subtropicais, inclusive frica e Brasil. Apk uma divindade fitomrfica, considerada me doorix caador Oxossi. Embora a dendrolatria da jaqueira ainda seja forte no Brasil, o culto do
Orix Apk praticamente esquecido. Grande parte dos mitos j desconsideram a
maternidade de Apk, concebendo como me de Oxossi a divindade Yemonj.
Entre as rvores de origem africanas relacionadas ao culto de Ya mi Oxorong esto a cajazeira
conhecida em ioruba pelos nomes de ig yey e okinkn, tambm denominada no Brasil
como tapereb. Esta planta est disseminada por vrias regies do Brasil. esta rvore
atribuda fortes valores msticos, sendo uma planta de muito fundamento nos cultos afro-
brasileiros. Por ser um relacionada ao poder ancestral feminino, muitas casas religiosas
probem o consumo dos seus frutos pelos candomblecistas.
Outra forma de dendrolatria o culto a Iroko, o orix que habita a gamaleira branca (Fcus
doliaria M.). A Gameleira uma rvore de grande porte. Suas razes se espalham, formando
uma base caracterstica da espcie. tambm conhecida como figueira ou mata pau, pois se
origina como uma parasita, sufocando o hospedeiro com o tempo para se tornar uma rvore
autnoma. Tambm conhecida como Figueira-grande, figueira-branca, guapo, figueira
brava, guapor. O leite do seu tronco usado na medicina caseira para para expulsar vermes ecombater a hidropsia. No Brasil, a gameleira substitui o verdadeiro Iroko Africano
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(Chlorophora excelsa), uma morcea conhecida na frica como ero iroko.Tem conotao
sagrada na Africa e muito cultuada no candombl. Dizem que nunca se retira um p de
gameleira, esteja onde estiver e que no se retira suas folhas depois do meio dia, pois ela
passa a pertencer ao Orix Exu se tornando muito quente. Tambm se fala que a gameleira a
rvore primordial que foi dada aos homens, e existe desde sempre.
No comeo dos tempos, a primeira rvore plantada foi Iroco. Iroco foi a primeira de todas as
rvores, mais antiga que o mogno, o p de obi e o algodoeiro. Na mais velha das rvores de
Iroco, morava seu esprito. E o esprito de Iroco era capaz de muitas mgicas e magias. Iroco
assombrava todo mundo, assim se divertia. noite saa com uma tocha na mo, assustando os
caadores. Quando no tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de
seu tronco. Fazia muitas mgicas, para o bem e para o mal*7+
Em vrios terreiros da Brasil encontramos grandes e imponentes rvores Iroko plantadas no
espao sagrado. Deve-se observar que a rvore em si no a divindade. Para tal preciso
cumprir rituais para que o deus se sacralize na rvore. Aps as oferendas e sacrifcios, a rvore
deixa de ser um simples vegetal e passa a ser a morada-templo do deus Iroko. Como um local
santo, passa a ser paramentado como tal: com laos de panos brancos amarrados em seus
galhos e troncos. Junto a suas razes expostas, so colocadas oferendas: alimentos, quartinhas
(recipientes com gua) e sacrifcios votivos so regularmente realizados. Roger Bastide em
duas obras distintas Imagens do Nordeste Mstico em Branco e Preto e em Candombl da
Bahia faz uma importante aluso ao interdito de tocar em uma rvore Irk consagrada. Umdos mitos relata uma terrvel punio sofrida por uma mulher que teria tocado o Irk sem ter
cumprido o perodo de abstinncia sexual antes de fazer as oferendas ao deus (foi engolida
pelo tronco da rvore).
Alguns terreiros possuem igualmente uma rvore sagrada que vestida, enfeitada de fitas,
coberta de tecidos, rodeada por um crculo mgicoa gameleira que os nags chamam de
Iroko e os gges de Loko; se cortasse um ramo dessa rvore brotaria sangue*8+
Pierre Verger exps no seu memorial livro Notas sobre o Culto aos Orixs e Voduns, 1999) uma
srie de textos sobre a divindade Iroko ou Loko, entre os jejes. Entre estes textos se destaca o
de Nina Rodrigus e de Melville Herskovits.
Diz Rodrigues que:
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A fitolatria africana na Bahia parece ter duplo sentido. A rvore pode ser um verdadeiro
fetiche animado ou, ao contrrio, mal representa a morada ou altar de um santo. A gameleira
branca (Chlorofora excelsa), rvore abundante neste Estado, o tipo da planta deus. Com o
nome de Iroco objeto de um culto fervoroso. Mais de uma me de terreiro exortou-me a
jamais permitir que se abatesse uma gameleira em um terreiro de minha propriedade, pois tal
sacrilgio foi causa de grandes infortnios para muita gente.[9]
Herskovits afirma sobre Loko, orix da gameleira entre os jejes:
este deus importante para a compreenso da religio daomeana, na medida em que
oferece uma viso das inter-relaes dos diversos cultos no Daom. Entre as divindades do
cu, Loko encarregado de cuidar das rvores que se encontram na terra e suas funes so
de tal modo significativas que ele tem como assistente seu jovem irmo, Medje. As rvores
tm alma e so associadas aos espritos denominados Aziza, que, por um lado, do a magia aos
homens, por outro, so associados ao culto dos antepassados. Que Loko seja o deus das
rvores e que as rvores tenham uma alma explica a importncia do emprego das folhas na
prtica medicinal e religiosa no Daom e estabelece a declarao de um informante,
sacerdote: Se algum souber o nome e a histria de todas as folhas da mata, saber tudo o
que existe para saber a respeito da religio daomeana.*10+
Outras rvores sagradas para os iorubs so as de obi (Cola acuminata), orob (Garcinialivingstoni T. Anders.,) e arid (Tetrepleura tetrptera). So trs espcies originrias da frica
e trazidas por escravos ao Brasil e muito usadas nas liturgias dos candombls.
O obi tambm conhecido como noz-de-cola (Cola acuminata) uma esterculicea relacionada
as divindades Ossaim e Orumil. A rvore da noz de cola pertence a Ossaim, mas a semente de
seu fruto (obi) utilizado em oferendas para diversos orixs. Existe diversas espcies de obi: o
obi funfun (obi branco), o obi pupa (obi vermelho) oferecido, preferencialmente, ao orix Exu.
Os obis tambm se diferenciam de acordo com a quantidade de gomos: obi gbanja (obi de doisgomos) e obi abata (obi de trs gomos). Utilizados largamente para confeco dos rosrio de
opeleIf necessrios prtica oracular do jogo de if, o obi elemento sagrado para os
iorubs relacionado-se com o deus da adivinhao Orunmil. Diz o pesquisador e og Jos
Beniste sobre o obi:
Fruto usado tanto para a prtica religiosa como para alimentao, pelo seu alto valor nutritivo
.Com apenas alguns gramas reduzidos a p, permite empreender longas caminhadas e realizar
trabalhos pesados sem se sentir fome ou cansao, tendo sido utilizado com freqncia pelos
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escravos. J foi usado como moeda corrente e representa a melhor garantia de um juramento
feito ou de um compromisso assumido.[11]
O obi um interdito do Orix Xang pois, segundo a tradio oral, o deus do trovo teria seenforcado aos ps de uma rvore de obi. A Xang se oferece o fruto do orob.
O orob apresenta duas espcies principais: a livingstoni e a Garcinia Kola, conhecida na frica
como iw. A primeira considerada mais apropriada pelos especialistas, contudo a ltima
encontrada com mais facilidade. O orob o fruto dos orix Xang e pertence ao elemento
fogo. utilizada em jogos divinatrios, em oferendas. Segundo a crena iorub, quando ralado
e misturado a determinados banhos de ervas tem a capacidade de trazer prosperidade e
proteo.
Fruto em formato de pssego e cuja semente em formato liso e ovalado indispensvel nas
oferendas a Sng. Orgb n ob bb mi/O orgb o obi de meu pai. Ao contrrio do ob
, no abre em gomos, sendo, portanto, necessrio um tipo de corte especial para ser oferecido
como oferenda e modalidade de jogo.[12]
O arid uma rvore de origem africana cultivada no Brasil graas ao seu uso litrgico nos
candombls. Os frutos do arid so favas que segundo os iorubs so importantssimas para
combater feitios inclusive os das temidas Ya mi oxorong (as mes feiticeiras). Pertence ao
Orix Ossaim e est ligado ao elemento Terra.
Por fim, interessante ressaltar o trabalho do antroplogo Raul Lody que listou as doze
rvores sagradas para os cultos afro-brasileiros. So elas:
Gameleira branca_______Orix Iroko
Mangueira_____________Orix Oxum
Pitangueira____________Orix Ossaim e Oxum
Cajazeira______________Orix Ogum
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Dendezeiro_____________Orunmil- If
Coqueiro-da-bahia________Caboclo
Bambu_________________ Orix Oya
Pinho Branco___________ Orixs Ogum, Oxossi , Oya
Jaqueira_________________Orix Apaoka, Xang e Exu
Cactus__________________Vodum Aziz- culto jeje
Peregum________________Orix Ossaim
Ginjeira________________Tobossi- culto Casa de Minas/MA
A lista varivel conforme a modalidade e a localidade de culto, porm atesta a variedade e a
enorme contribuio do cultos afro-brasileiras que, atravs da dendrolatria, ajudou a preservar
diversas espcies de rvores.
Embora o uso de plantas nativas do Brasil seja corriqueiro nos candombls yorubs, as plantasimportadas da frica so as que possuem maior valor simblico como a Gamaleira. Talvez por
estas plantas estarem ligadas s trocas comerciais transatlnticas e remeterem ao sempre
nostlgico retorno a Terra Me. No candombl nada se faz sem obi e orob. Eles representam
a fala dos orixs, eles determinam o sim ou o no da aceitao das oferendas. Representa a
licena sagrada para o culto. Do obi depende a iniciao do adepto candomblecista. Ele
premissa para o culto Ori, a cabea. Pois na tradio oral do povo de santo em Ori buruku
(cabea ruim) no se faz orix.
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A natureza tambm cria tradies nas dinmicas do espao-tempo e na readaptao e
transmutao das agncias dos atores sociais.
Os terreiros reelaboraram a noo de famlia e o sentimento de pertencimento comunitrio,social e etnocultural, dando me (de santo), irmos (de santo), casa (de santo) e famlia (de
santo) aos que nada tinham. A partir da relao de f proporcionada pelo advento religioso
consolidaram a representao do continente negro africano no Brasil, reproduzindo, por meio
de pequenas casinholas ou quartos destinados a divindades especficas, as regies de culto aos
orixs do que hoje, representa a frica Negra. Construram, assim, a frica nos quintais
brasileiros, por meio de recordaes ou mesmos da inveno de prticas oriundas das terras
africanas em composio com a realidade brasileira*13+.
Nestas constantes mudanas, parafraseando o povo de santo, cada um puxa a sua folha para
seu lado.
[1] http://aps18.sites.uol.com.br/oriki_osala.html
[2] http://www.lendas.orixas.nom.br
[3] http://www.orixas.com.br
*4+ Vara feita de um galho de rvore denominada tri ( Glyphaea Lteriflora) ou feita das
nervuras da folha do Igi pe ( Elais Guineensis), entre ns conhecida como dendezeiro.Tem
1,60 de altura e, quando no utilizada, deve permanecer de p.So os oj que se utilizam do
san para invocar e conduzir os espritos Egngn, alm de impedir que as pessoas toquem em
seus tecidos. (BENISTE,2006).
[5] http://www.ceao.phl.ufba.br/phl8/popups/snt_r2.pdf
*6+ Verger,Pierre Fatumbi. Esplendor e Decadncia do culto de ymi srng Minha me
Feiticeira- entre os iorubas.in:Artigos/Pierre Verger.Editora Corrupio,So Paulo,1992.
[7] PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixs. So Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 164.
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*8+ BASTIDE, Roger. Imagens do Nordeste Mstico em Branco e Preto. RJ: Emp.Grfica O
Cruzeiro1945. p. 73.
[9] VERGER, Pierre. Notas sobre o Culto aos Orixs e Voduns. So Paulo: EDUSP. 1999,pg.519.
[10]IBDEM (25).
[11] BENISTE,Jos.Mitos Yorubs: o outro lado do desconhecido .Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil,2006.p119.
[12]Ibdem,2006.p103.
[13] Conduru,Roberto.won olod: os senhores da caa.Rio de
Janeiro:IPHAN,CNFCP,2004,pg.12.
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Oni Ew: o culto de Ossaim e o uso litrgico das plantas nos candombls iorubs no Brasil
Por Cintia Raymundo (Cintia dOxum)
Ork fn snyn
ba snyn
ba oni w
k si arun
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K si akoba
se
Ork para snyn
Elogio para o esprito do medicamento das folhas
Eu elogio o dono do medicamento das folhas
Me livre de adoecer
Me livre da coisa negativa
Eu dou graas ao dono do medicamento
Ax[1]
A fitolatria uma caracterstica central dos candombls iorubs. As folhas so consideradas
sagradas e sua utilizao um dos principais aw (segredo) dos sacerdotes. O uso litrgico das
folhas um dos mais complexos rituais e requer sacerdotes especializados denominadosbabalossaim.
As folhas ou ervas sagradas pertencem ao Orix Ossaim, o Oni Ew (dono das folhas). Um dos
mais conhecidos mitos iorubs justifica esse pertencimento:
Ossaim era o filho caula de Iemanj e Oxal e, desde pequeno, vivia no mato. Tinha uma
habilidade especial para tratar qualquer doena, por isso viajava pelo mundo inteiro, sendosempre recebido com carinho pelo rei de cada tribo. Ele recebeu de Olodumar o segredo das
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folhas; assim sabia qual delas curava doenas, trazia vigor ou deixava as pessoas mais calmas.
Os outros orixs invejavam Ossaim por isso. Em troca dos suas curas ,Ossaim aceitava fumo,
mel e cachaa. Xang, que era temperamental, no admitia depender dos servios de Ossaim,
e por isso pediu sua esposa Ians, orix que domina os ventos, para que as folhas voassem em
direo a todos os Orixs para que cada um desses tivesse suas folhas particulares. Assim Ians
fez. Soprou forte seu affe (vento), espalhando todas as folhas se Ossaim. Em meio a
ventania , Ossaim exclamava ew sa (minhas folhas). Esse tipo de reza permitiu que Ossaim
reservasse para si o segredo das folhas. Embora cada orix possua suas folhas, somente
Ossaim sabe os encantamentos (of) delas. Dessa forma, Ossaim considerado o senhor do
Igbo, da floresta e o patrono do curandeirismo e da medicina.[2]
Ossaim o orix masculino do ar livre, governa a floresta, juntamente com Oxossi. Senhor do
ax (fora ) existentes nas folhas e nas ervas, ele no se aventura nos lugares onde o homem
modifica os espaos, construindo edificaes . bastante cultuado no Brasil sendo o Orix dacor verde, do contato mais ntimo e misterioso com a natureza. Seu domnio estende-se ao
reino vegetal, s plantas, mais especificamente s folhas, onde corre o sumo. Por tradio, no
so consideradas adequadas ao Orix Ossaim, as folhas cultivadas em jardins ou estufas, mas
as plantas selvagens, que crescem livremente sem a interveno do homem. As reas
consagradas a Ossaim nos candombls iorubs so os pequenos recantos e as passagens mais
isoladas das florestas, onde s determinados sacerdotes (babalossaim) podem entrar. A
cerimnia onde as folhas de ossaim so colhidas e encantadas so denominadas sassayim. O
emblema de Ossaim uma haste central de ferro rodeada de outras seis, com um pssaro de
ferro na extremidade da haste central representando seu poder de feitiaria. Ossaim uma
divindade de extrema significao, pois praticamente todos os rituais importantes utilizam, de
uma maneira ou de outra, o sangue escuro que vem dos vegetais, seja em forma de folhas,
infuses para uso externo ou de bebida ritualstica.
As folhas no sistema litrgico iorub pode ser classificadas de acordo com os quatro elementos
da natureza: ar, terra, fogo e gua. Assim, existe as folhas do ar (ew aff), as folhas do fogo
(ew in), as folhas da gua (ew omi) e as folhas da terra (ew il ou ew igbo). Dessa diviso,
as folhas so reclassificadas quanto a sua propriedade de ser quente ou fria, ou seja, sua
capacidade de agitar ou acalmar uma pessoa. Quando a folha fria denominada de ewerro, quando quente se denomina ew gun. As folhas frias esto relacionadas aos orixs do
elemento ar e do elemento gua como Oxal, Oxum, Yemonj. Essas folhas so as
recomendadas para os chamados banhos da cabea aos ps. As folhas quentes so
relacionadas aos orixs da terra e do fogo e seus banhos devem ser, exceto em casos especiais,
do pescoo aos ps.
As folhas tambm se classificam quanto s suas caractersticas masculino/feminino,
negativo/positivo, esquerda/direita, fecundantes/ fecundveis. As folhas masculinas soconsideradas folhas positivas e da direita (ew apa tn) e as folhas femininas so
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compreendidas como folhas negativas e de esquerda (ew apa s). As ew in e as ew aff
so consideradas folhas fecundantes e as ew il e ew omi so consideradas folhas
fecundveis.
O agb sagrado, mistura de sangue vegetal fundamental em vrios aspectos da liturgia dos
candombls iourubs, compreendido de 16 folhas, sendo 8 folhas gerais (fixas) e 8 folhas
variveis conforme o carrego de santo[3] de cada pessoa. As oito folhas gerais, segundo a
classificao de Pessoa de Barros, [4] so: prgun, toto, rnrn, ew w, ttregun,
awrepp, ew ogb, gbr ayaba.
Essas folhas juntamente com elementos com ossum, wagi e efum constituem elementos
primordiais e sua ocorrncia no Brasil dependeu, principalmente, da utilizao nas seitas
religiosas.
Dentre as plantas oriundas do continente americano ou nativas do Brasil esto:
A folha de prgun (dracena fragans (l.) Ker Gawl) popularmente conhecida como dracena,
nativo, pau-dgua e coqueiro-de-vnus. Pertencente ao orix Ogum e ao elemento
terra/masculino, uma planta de origem africana e largamente difundida no Brasil. O peregun
possui grande importncia na liturgia dos candombls iorubas. uma folha protetora dos
espaos, demarcando ambientes sagrados. Constitui ainda uma folha para decorao dos salo
pblicos, pejis e assentamentos de Orixs, alm de entrar na indumentria de muitos Orixs
como Ossaim.
O ttregun (Costus spicatus Swartz), planta nativa do Brasil conhecida como cana -do -brejo,
considerada a folha da vida e da morte, entrando nas liturgias de iniciao. uma folha
representativa dos ritos de passagem e inserida nos cultos aos Orixs no Brasil.
A planta awrepp (Spilanthes acmella) nativa da Amrica do Sul e encontrada em todo
Brasil. Nesse recebe os nomes de agrio-do-par, jambu e treme-treme. Pertence aos orixs
Oxal e Oxum. uma das plantas que entra nas misturas vegetais para abrir a fala dos orixs.
Muito utilizada na culinria do norte do pas, constitui de outra readaptao vegetal na liturgia
iorub.
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O gbr ayaba (Ipomoeapes-caprae), conhecida como salsa-da-praia no Brasil, uma planta
originria da Amria tropical. Pertence ao Orix Yemonj e ao elemento gua. Yemonj est
relacionada ao culto de or(cabea). Ya Or (me das cabeas) um dos ttulos desse Orix.
As plantas de origem asiticas compreendem:
O ew w (Gossypium barbadense), folha conhecida no Brasil como algodoeiro, pertence aos
Orix Oxal e Orumil sendo representante do elemento ar. Planta originria da China, o
algodo tem ampla utilidade nas liturgias dos candombls. O algodo uma planta
pertencente ao odu Os, signo feminino do sistema oracular de If, responsvel pelo fluxo
menstrual e pelo tero. Os o principal signo das Ya mi oxorong, as grandes feiticeiras
africanas. Na fitoterapia, o algodo indicado para combater disfunes do ciclo menstrual e
dores no tero.
O tt (Apinia zerumbet) conhecida no Brasil como a folha de colnia. Pertence aos Orixs
Oxum, Yemonj e Oxal. Planta originria da sia e, largamente, cultivada no Brasil devido sua
adaptao ao clima tropical. Planta de fundamental importncia nos candombls iorubas,
recomendada para acalmar as pessoas e no combate histeria.
Dentre as de origem africanas esto:
A folha de rnrn (Peperomia pellucia), conhecida no Brasil como alfavaquinha de cobra e/ou
oriri de Oxum, uma planta de origem africana que se proliferou por todo o Brasil. Pertence
ao Orix Oxum , estando articulada ao elemento gua.Essa planta est articulada com os olhos
pois Oxum a nica divindade feminina relacionada ao culto de If.Oxum aptebi (ttulo
honorfico no culto de If) do culto do deus da advinhao, por isso as prticas oraculares
recorrem freqentemente a essa planta. No Brasil, o oriri de Oxum alm de ser uma planta
voltada para vidncia de jogo de bzios, tambm uma planta utilizada em trabalhos para finsamorosos. Isso, possivelmente, se deve ao fato do Orix Oxum ser considerada o orix do
amor.
A folha de ew ogb (Periploca nigrescens), pertence aos orixs Oxossi e Ossaim. Originria da
frica tropical, trazida pelos iorubas para o Brasil, esta planta est aclimatada no pas . uma
das plantas utilizadas para alterar o estado de conscincia dos filhos de santo. O ew ogb
popularmente conhecido no Brasil como rama-de-leite, cip-de-leite ou orelha de macaco.
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Efum, wagi e ossum so trs elementos africanos largamente utilizados no Brasil. Esses
elementos simbolizam a iniciao sagrada nos candombls nags. Representam as trs cores
da iniciao: o branco, o azul e o vermelho. Na festa pblica, onde o ya trazido ao salo
pblico, o rito compreende trs sadas, ou seja, trs aparies pblicas do ya. Esse triplo
momento relaciona-se diretamente com o efum, uagi e ossum. O efum um p mineral
branco, conhecido no Brasil como pemba africana. substitudo no Brasil pelo pemba
brasileira(giz).O wagi o p vegetal azul e seu uso largamente usado no Brasil, sendo
freqentemente importado da Nigria. O ossum um p vermelho de origem vegetal.No
Brasil seu sucedneo o urucum, elemento muito utilizado na culinria brasileira.
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