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FACULDADE DOTTORI

JULIO CÉSAR PORTELA CORRÊA

“GÊNEROS JORNALÍSTICOS NA ESCOLA: O

TELEJORNAL COMO FERRAMENTA DE REFLEXÃO E

CRITICIDADE”

SÃO PAULO, SP

2013

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JULIO CÉSAR PORTELA CORRÊA

“GÊNEROS JORNALÍSTICOS NA ESCOLA: O

TELEJORNAL COMO FERRAMENTA DE REFLEXÃO E

CRITICIDADE”

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Dottori como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Pedagogia.

Orientadora: Coordenadora Theresa Cristina Jorge

São Paulo

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2013

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus que, por Sua Divina

Providência, me deu inspiração e sabedoria para cada momento de minha

vida pessoal, acadêmica e profissional.

Aos meus pais, Maria do Carmo Portela Corrêa e Carlos da

Silva Corrêa ( in memoriam) e demais familiares que, embora distantes

fisicamente, sempre me apoiaram e confiaram em mim, possibilitando-me a

concretização de mais um grande passo em direção à minha realização

profissional.

À minha noiva Lívia Garcia, que sempre esteve do meu lado,

me incentivando e me apoiando, em todos os momentos deste curso e de

minha vida.

À minha orientadora e demais professores pela

compreensão, sábios conselhos e direcionamentos.

A todos os alunos e professores envolvidos no Projeto, em

especial, aos alunos do 9º. Ano A de 2009 da EMEF Pres. Humberto de

Alencar Castelo Branco, por acreditarem na proposta do trabalho e

fazerem o seu melhor para realizá-lo com sucesso.

Enfim, a todos que de alguma maneira contribuíram para a

realização deste trabalho, os meus sinceros agradecimentos.

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“A leitura de mundo precede a leitura da

palavra”.

Paulo Freire

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem por finalidade apresentar e

analisar teoricamente um Projeto Didático de Ensino, elaborado para alunos

do 9° ano do Ensino do Ensino Fundamental e aplicado na EMEF

Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, em Campinas. O trabalho

enfoca, sob a luz da esfera jornalística, os gêneros “reportagem”,

“entrevista” e “artigo de opinião”, sob formato audiovisual de um “telejornal”.

O ensino desses gêneros justifica-se devido à importância e propagação de

informação e de conhecimento na sociedade atual. No trabalho com tais

gêneros, em especial sob o formato de um gênero maior, o telejornal,

buscou-se enfatizar suas características - linguagem formal, pesquisas

prévias, questões de ordem inferencial, interpretativa, questionadora e

dialógica, questões de ordem reflexiva, crítica e intertextual. Objetivou-se

também, demonstrar como o uso de novas tecnologias pode auxiliar na

formação crítica do educando; aproximando o aluno à realidade política,

social e econômica em que está inserido, capacitando-o a exercer sua

cidadania e favorecendo a formação de opiniões, além de melhorar sua

competência leitora e escritora, por meio da produção de textos dos gêneros

jornalísticos ora apresentados.

Palavras-chave: Esfera Jornalística; Gênero Telejornal; Gênero Reportagem; Gênero Entrevista; Gênero Artigo de Opinião; Projeto Didático; Ensino Fundamental.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................1

2. INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O PROJETO........................................5

2.1 Justificativa...........................................................................................5

2.2 Objetivos esperados.............................................................................5

2.3 Agentes envolvidos..............................................................................6

2.4 Conteúdos............................................................................................6

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................7

3.1 O trabalho com gêneros textuais no ensino de língua portuguesa.......7

3.2 A esfera comunicativa jornalística......................................................11

3.3 Os gêneros reportagem, entrevista e artigo de opinião......................11

3.4 A relação entre tecnologia, comunicação e educação.......................14

3.5 O uso do telejornal em sala de aula...................................................14

4. ANÁLISE COMENTADA DO PROJETO EXECUTADO............................18

4.1 Cronograma das atividades (do projeto inicial)..................................19

4.2 Passo a passo da realização do projeto.............................................19

4.3 Apresentação do produto final - telejornal..........................................21

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................22

REFERÊNCIAS.............................................................................................23

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1. INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso apresenta uma análise

teórico-metodológica de um projeto didático de ensino para a área de Língua

Portuguesa, realizado pelo próprio autor, no ano de 2009. De teorização e

publicação inéditas, tal trabalho, que é fundamentado sob a ótica dos gêneros

textuais, denomina-se “Gêneros jornalísticos na escola: o telejornal como ferramenta

de reflexão e criticidade” e tem por principal objetivo incentivar o uso da tecnologia

como ferramenta de auxilio na formação crítica do educando; a aproximação do

aluno à realidade política, social e econômica em que ele vive, capacitando-o a

exercer sua cidadania e favorecer a formação de opiniões, além de melhorar sua

competência leitora e escritora, por meio da produção de textos de gêneros

jornalísticos.

A escolha da esfera jornalística se deu pelo fato de o jornal (em

especial o televisivo) ser uma ferramenta de transformação da realidade e colabora

para que a sociedade reflita sobre as matérias que ali são veiculadas. Além de se

buscar no alunado uma postura crítica que promova reinterpretações e reavaliações

de determinados acontecimentos sociais.

O tema escolhido – violência – surgiu durante as próprias aulas de

língua portuguesa, diante de tantos questionamentos e reflexões a respeito das

situações de vulnerabilidade social pelos quais os cidadãos (em especial os

adolescentes) passam todos os dias. Entendemos também que a leitura e a escrita,

aliadas à utilização da tecnologia, desenvolvem habilidades e/ou competências

muito importantes para a formação integral do educando.

É importante frisar o quão fundamental é a linguagem escrita/verbal

dos alunos para interação e socialização com os professores, colegas, familiares,

etc., em diferentes situações de comunicação, e o espaço privilegiado para

fundamentar e solidificar esta relação, sem dúvida, é a escola.

Muito mais que informar, os gêneros textuais jornalísticos estão

presentes cotidianamente na vida dos jovens como novas formas de acesso,

interação e diálogo com aparatos tecnológicos, bem como novas maneiras de

produção do conhecimento e expansão das fronteiras do olhar do leitor.

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Cabe informar também que este estudo se apresenta como um

mosaico de configurações textuais, devido à escolha dos gêneros que serão

abordados (reportagem, entrevista e artigo de opinião), apresentados no formato de

um projeto didático, realizado em 2009, com alunos do 9° ano do Ensino

Fundamental, numa atmosfera de conhecimento, crítica e de autoafirmação.

Consoante Rojo (2004, p. 6),

Ler um texto é colocá-lo em relação com outros textos já conhecidos, que estão tramados a este texto, outros textos que poderão dele resultar como réplicas ou respostas. Quando esta relação se estabelece pelos temas ou conteúdos abordados nos diversos textos, chamamos a isso intertextualidade.

Desse modo, a leitura é um ato que ocorre em situações práticas e

cotidianas em sala de aula e vai se construindo de maneira social por relacionar

professor e aluno; aluno e aluno ao interagir com os textos que, por sua vez, se co-

relacionam e dialogam com outros textos ao se unirem por uma teia que se

denomina intertextualidade.

Para oferecer ao aluno a possibilidade de ativar seus conhecimentos

sobre textos jornalísticos, o primeiro gênero a ser abordado neste projeto didático é

a reportagem. Propõe-se apresentar atividades de leitura que tenham propósitos

voltados para a observação e análise de características do gênero, o estudo dos

aspectos discursivos e aspectos notacionais da reportagem, bem como outras

atividades que possibilitem ao aluno refletir sobre o ato de escrever e produzir textos

de acordo com a norma padrão.

Depois do trabalho esmiuçado com o gênero reportagem, o avanço

para os demais (entrevista e artigo de opinião) se faz necessário, e a atividade é

desenvolver o mesmo trabalho voltado para a leitura e a escrita. Para isso, foram

realizadas diversas atividades com o objetivo de direcionar á atenção aos gêneros

em estudo e as características que os mesmos apresentam com a finalidade de

enraizar a compreensão e o posicionamento crítico dos educandos por meio da

cultura midiática.

Segundo Marcuschi (2008, p.193-4)

[...] os textos situam-se em domínios discursivos que produzem contextos e situações para as práticas sociodiscursivas características. [...] entendemos como domínio discursivo uma esfera da vida social ou institucional [...] na qual se dão práticas que organizam formas de comunicação e respectivas estratégias de compreensão. Assim, os domínios discursivos produzem

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modelos de ação comunicativa que se estabilizam e se transmitem de geração para geração com propósitos e efeitos definidos e claros.

Assim, observa-se que os gêneros textuais em estudo refletem

situações sociais de caráter comunicativo e estão repletos de valores ao direcionar

novas práticas de ensino de leitura e produção de texto bem como pelo fato de

estabilizar sentidos, estilos, contexto, domínio, função social que resulta numa

natureza dinâmica.

Considerando as palavras de Bakhtin (2003, p. 294-5),

a experiência discursiva forma-se e desenvolve-se pela interação entre enunciados em um processo de assimilação do “outro”. Todo enunciado é pleno de palavras de outros em graus diversos de alteridade, de assimilabilidade, de aperceptibilidade e de relevância. Esse “outro” empresta ao enunciado o seu tom valorativo que é assimilado e reelaborado. Assim, a expressão de um enunciado será sempre reflexo da expressão alheia.Um enunciado (...) assume diversos posicionamentos responsivos com relação a outros, podendo confirmá-los, completá-los, rejeitá-los etc.

A partir da leitura e estudo dos gêneros reportagem, entrevista e

artigos de opinião, espera-se oportunizar ao aluno construir seu texto de maneira

autoral, seja sob a natureza informativa reportagem, seja pela natureza crítica de

artigo de opinião, buscando conscientizá-los de que o diálogo entre os textos é um

fator preponderante para a sua aprendizagem. Também objetiva-se que o alunado

possa estabelecer relações, saber discernir os fundamentos, entender, concordar,

discordar, além de posicionar-se diante das leituras e produções realizadas

Como produto final das situações de aprendizagem, os alunos foram

divididos em grupo e, após momentos de pesquisa e produção de texto, gravaram

em vídeo o telejornal, que teve sua edição final feita pelo professor.

A avaliação foi realizada continuamente, revendo os objetivos e

ações propostos favorecendo a aprendizagem e a construção do conhecimento dos

alunos mediante a produção dos textos escritos por eles: seja notícia, reportagem,

charge, bem como a reescrita, ao retomar as produções realizadas e observar que

ajustes precisam ser feitos.

Com relação à organização deste trabalho de conclusão de curso,

salientamos que, além da introdução apresentada e das considerações finais,

constarão como capítulos: a fundamentação teórica e a análise comentada do

projeto realizado sobre os gêneros em estudo.3

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Por fim, com esse trabalho, visa-se buscar uma nova abertura de

horizontes, atuando diretamente na formação dos discentes e objetivando despertar

a leitura do mundo e o mundo da leitura, escrita e produção midiática.

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2 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O PROJETO

O projeto didático aqui apresentado consistiu na produção de um

telejornal sob responsabilidade dos próprios alunos, com a mediação e apoio dos

professores das disciplinas de Língua Portuguesa e História. O objetivo principal do

projeto foi a reflexão crítica a respeito das causas e efeitos da violência humana

(especialmente no âmbito dos adolescentes), bem como a consciência de que os

atos realizados hoje produzem consequências no futuro, além da utilização prática e

consciente dos mecanismos de textualidade na produção de enunciados em

diversos gêneros discursivos.

2.1 Justificativa

O projeto se justifica pela necessidade de constante reflexão sobre

as ações humanas e suas consequências futuras. O formato “telejornal” permite ao

aluno o contato com múltiplas linguagens, possibilitando que ele desenvolva

diversas formas de expressão, em situações de comunicação real. É uma

possibilidade de trabalhar, ao mesmo tempo, a escrita, a oralidade e a expressão

corporal, destacando a autonomia dos alunos na busca por soluções. O tema geral

(violência) também fez alusão à rememoração dos setenta anos de início da

Segunda Guerra Mundial.

2.2 Agentes envolvidos.

Alunos do 9º ano do ensino fundamental (ciclo IV), professores de

Língua Portuguesa e História da EMEF Presidente Humberto de Alencar Castelo

Branco, no ano de 2009.

2.3 Objetivos esperados

Como objetivos elencados para a execução do projeto em questão,

elencamos:

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a) refletir sobre a causa e os efeitos da violência entre seres humanos (com foco

especial na idade adolescente) desde a Segunda Grande Guerra (1939);

b) proporcionar aos alunos autonomia da construção de conhecimentos, através

de pesquisas e busca de soluções, sendo os protagonistas do processo de

ensino-aprendizagem;

c) incentivar o uso da língua materna e da tecnologia em situações reais de

leitura e escrita, possibilitando a prática das habilidades adquiridas durante o

ano a respeito dos gêneros textuais trabalhados em sala, bem como a prática

da argumentação consciente e consistente;

d) possibilitar o trabalho em grupo, valorizando a observação, a troca de ideias e

o empenho de cada componente;

e) refletir os mecanismos gramaticais e textuais da língua materna, por meio de

sua prática.

2.4 Conteúdos

a) Língua Portuguesa:

- Leitura e escrita na tipologia textual argumentativa, os gêneros da esfera

jornalística reportagem, entrevista e artigo de opinião.

- utilização dos mecanismos de coesão e coerência nos textos produzidos.

- aplicação prática de conceitos de frase, período, orações coordenadas,

subordinadas, concordância e regência nominais e verbais.

b) História:

- Segunda Guerra Mundial (1939-1945): principais causas, desenvolvimento e

consequências.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 O trabalho com gêneros textuais no ensino de língua portuguesa

O presente trabalho se teoriza a partir de uma projeto didático,

baseado em uma sequência didática (SD), que é um processo metodológico de

planejamento para o educador, podendo ser entendida como um conjunto de aulas

esquematizadas, cuja finalidade se faz em trabalhar um conteúdo, permitindo assim,

a construção do conhecimento. Essa construção pode convir como subsídio ao

professor, no desempenho das suas ações planejadas em aula.

Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 97) conceituam sequência

didática como “um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira

sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito”.

Segundo estes pesquisadores, a atividade com a sequência didática

de gêneros na escola permite o domínio do educando em relação ao gênero

estudado, devido à leitura de vários textos, produzidos em diversas condições,

porém com características regulares.

O trabalho escolar será realizado, evidentemente, sobre os gêneros

que o aluno não domina ou o faz de maneira insuficiente; sobre aqueles dificilmente

acessíveis, espontaneamente, pela maioria dos alunos; e sobre gêneros públicos e

não privados. As sequências didáticas servem, portanto, para dar acesso aos alunos

a práticas de linguagem novas ou dificilmente domináveis (DOLZ, NOVERRAZ &

SCHNEUWLY, 2004, p. 97).

Os pesquisadores propuseram um modelo de sequência didática

para o ensino de gêneros a partir de uma estrutura de base, enfatizando módulos de

atividades para que, assim, os alunos pudessem sanar suas dificuldades e aprender

gêneros.

Nesse modelo, na exposição da situação, o aluno é apresentado ao

projeto de produção que engloba questões referentes ao gênero que será abordado,

quem são os possíveis destinatários da produção, a forma adotada pela produção,

quem participa desta produção, etc.

É evidente que é preciso deixar esclarecido ao aluno a importância

do gênero trabalhado, como vai ser discutido em sala e suas características.

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Para Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 100), “A fase inicial de

apresentação da situação permite, portanto, fornecer aos alunos todas as

informações necessárias para que conheçam o projeto comunicativo visado e a

aprendizagem de linguagem a que está relacionado.”

Neste momento, o educador pode identificar os problemas

linguísticos relacionados ao gênero, para dar continuidade à sequência trabalhada e

observar se o aluno entendeu a situação comunicativa proposta.

Para o trabalho com os módulos de ensino, Dolz, Noverraz e

Schneuwly (2004, p.103) propõem que sejam realizadas questões a respeito das

dificuldades da expressão oral ou escrita; a construção do módulo para trabalhar um

problema particular; como tirar proveito e aprender efetivamente o que é adquirido

nos módulos.

Como a produção de textos é uma atividade complexa, vários níveis

de conhecimento do indivíduo são intensificados, para que os problemas específicos

de cada gênero textual possam ser resolvidos. Por isso, a sequência didática deve

abordar esses vários níveis de funcionamento.

Para os autores Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p.103), os níveis

para a produção de texto são: representação da situação de comunicação (o aluno

deve saber o destinatário do texto, a intenção do texto, a sua posição como autor ou

locutor); a elaboração dos conteúdos (técnicas para pesquisar e criar conteúdos); o

momento de planejamento do texto (usar a estrutura mais ou menos convencional

do texto); e o momento de realização do texto (escolha da linguagem e do

vocabulário adequado, organizadores textuais e argumentos).

Ao final da produção escrita, sua correção e reescrita são de grande

importância para aprendizagem do alunado e construção do conhecimento. No caso

do presente trabalho, a produção final foi além do texto escrito, mas configurou-se

como gênero intermidiático, já que se propôs a produção de um telejornal.

Segundo os autores genebrinos Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004,

p.105), também é necessário que se variem as atividades e exercícios nos módulos,

é importante propor atividades as mais diferenciadas possíveis, dando a cada aluno,

a possibilidade de ter acesso, por diferentes vias, às noções e aos instrumentos,

aumentando, desse modo, suas chances de aprendizagem significativa.

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Ao observar a importância da sequência didática e o trabalho com

gêneros textuais, nota-se que esta mudança nas práticas educativas de ensino e

aprendizagem na sala de aula se deve à globalização que mudou a vida das

pessoas em relação ao acesso à informação e às novas tecnologias. Como efetivou

a diminuição da distância no mundo e como se desconstruiu identidades se tornando

cada dia mais importante o multiculturalismo e o plurilinguismo, trazendo para o ato

da leitura não só o texto escrito, mas imagens, movimentos, sons, músicas. O aluno

que pratica o internetês no mundo virtual e que se apropria desta nova linguagem se

adéqua a esta nova forma de comunicação nesta esfera de socialização à luz da

globalização. (ROJO, 2009, p.108).

Desta forma, pode-se dizer que a responsabilidade e o compromisso

em se formar alunos-cidadãos éticos, críticos e democráticos - tornou-se bem maior

nos dias atuais, pois os jovens estão em contato crescente com uma variedade de

informações e tecnologias. Cabe aos educadores norteá-los de forma correta e

responsiva para fazer o uso devido das informações recebidas.

No trabalho de leitura e escrita, deve-se valorizar e trabalhar com as

leituras e letramentos múltiplos, os letramentos multissemióticos, a leitura na vida,

na escola, os conceitos de gêneros discursivos e suas esferas de circulação,

abordar produtos culturais tanto da cultura escolar quanto da dominante, como das

diferentes culturas locais e populares, cujos alunos e professores estão inseridos.

(ROJO, 2009, p.102).

Os gêneros textuais e as diversas mídias e culturas devem ser

abordadas de tal forma que desvelem suas finalidades, intenções e ideologias de

forma discursiva localizando o texto em seu momento histórico-ideológico e de forma

dialógica.

Os gêneros textuais são formas culturais e cognitivas de ação social,

são totalmente flexíveis e sensíveis às mudanças, situações sociais e cotidianas, e

espera-se que haja uma reflexão sobre os temas dos gêneros trabalhados na escola

quanto às marcas linguísticas (estilo) e a forma de composição, na busca de efeitos

de sentido. Eles mudam, fundem-se, misturam-se para manter sua identidade

funcional com inovação organizacional. (MARCUSCHI, 2008, p.155)

Viver em sociedade hoje demanda uma multiplicidade de práticas de

letramento sobre linguagens, suportes, mídias e esferas extremamente variadas e

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complexas que enquanto formadores de opinião, o trabalho com os alunos deve ser

voltado a convocá-los às competências e habilidades de compreensão, produção e

análise diferenciadas, de forma que os educandos sejam protagonistas de suas

próprias vidas e aprendizagens.

Assim, os gêneros textuais são objetos extremamente flexíveis e

heterogêneos, podendo se apresentar em diferentes domínios sociais de

comunicação. O domínio da produção da linguagem se dá através dos mesmos que

são importantes instrumentos nas ações de textualização tais como

nomear/referenciar objetos, fenômenos e são organizados em uma progressão

específica.

Ao trabalhar com agrupamentos de gêneros nas aulas de Língua

Portuguesa é importante o educador evidenciar formas de apresentar aos

educandos como estes gêneros estão razoavelmente organizados bem como o

interior de diferentes gêneros são produzidos. Apresentar as marcas textuais

semelhantes e diferentes entre os gêneros. Mostrar as diferentes sequências

textuais que compõe a recepção e a produção dos gêneros textuais.

Ao pensar em uma abordagem de gêneros textuais que colocasse

em grupos ou agrupamentos determinados por um conjunto amplo e criterioso, os

autores genebrinos Schneuwly e Dolz (2004) assim responderam a uma solicitação

da Rede Pública Estadual de Genebra:

É preciso que os agrupamentos:

1. correspondam às grandes finalidades sociais legadas ao

ensino, respondendo às necessidades de linguagem em

expressão escrita e oral, em domínios essenciais da

comunicação em nossa sociedade ( inclusive a escola);

2. retomem, de modo flexível, certas distinções tipológicas que

já figuram em numerosos manuais e guias curriculares;

3. sejam relativamente homogêneos quanto às capacidades de

linguagem dominantes implicadas na mestria dos gêneros

agrupados.

Os agrupamentos assim definidos não são estanques uns com

relação aos outros; não é possível classificar cada gênero de

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maneira absoluta em um dos agrupamentos propostos. (2004,

p.58)

Desta forma observa-se que os agrupamentos correspondem às

grandes finalidades sociais relacionadas à educação que se devem construir ao

longo dos anos de ensino.

O importante é que cada educador trabalhe com a construção e

diversidade de gêneros até mesmo de forma interdisciplinar, pois desta maneira a

competência leitora e escritora bem como a produção oral podem ser construídas

evolutivamente ao passo que cada vez mais complexa e até mesmo numa

construção em espiral, a diversidade de aprendizagem terá seu lugar e os discentes

vão construindo e adquirindo conhecimentos paulatinamente.

Efetivar a construção do ensino baseado no estudo de diversos

gêneros textuais é uma possibilidade de edificar e confrontar diferentes gêneros e

tipos na comparação de textos a serviço da aprendizagem e das competências

leitora, escritora e verbal dos alunos bem como na reflexão sobre a relação do

homem/sociedade/mundo.

3.2 A esfera comunicativa jornalística

Da maneira pela qual os gêneros correspondem às grandes

finalidades sociais relacionadas ao ensino, respondendo às necessidades de

linguagem em expressão escrita e oral em domínio sociocomunicativo, a esfera a

ser abordada na presente pesquisa é a esfera jornalística.

Conforme Bakhtin (1997, p. 279), “todas as esferas da atividade

humana (...) estão sempre relacionadas com a utilização da língua, a riqueza e a

variedade dos gêneros”. E uma vez constituídos, os gêneros exercem coerções

sociais em relação às interações verbais.

O conceito de esferas está, ainda, relacionado à divisão, proposta por

Bakhtin (1997), entre gêneros primários e secundários, cujo critério de classificação

seria a noção de espontâneo/natural.

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Na ação didática dos gêneros discursivos, encontra-se também o

conceito de esferas de atividade humana. Para alguns teóricos, contudo, o conceito

foi ampliado como domínio social de comunicação, da Escola de Genebra (2004), e

domínio discursivo, de Marcuschi (2005; 2008).

Para Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) o domínio social de

comunicação corresponde ao fator social herdado ao ensino, respondendo à

precisão de linguagem em expressão escrita e oral, em domínios essenciais da

comunicação e em nossa sociedade e na escola.

Para Marcuschi (2005; 2008) encontra-se a referência domínio

discursivo: são “as grandes esferas da atividade humana em que os textos circulam”

(2005 p. 24-25). O autor (2008, p. 155) afirma que o domínio discursivo “constitui

muito mais uma ’esfera da atividade humana’”.

O funcionamento desta esfera em estudo que agora se solidifica

mediante este trabalho é bem conhecido. Devido à sociedade controladora, tal

esfera colabora para que a sociedade possa, pelo domínio da informação, garantir

pleno exercício da cidadania mediante a reflexão, o diálogo e o valor da diversidade.

O jornal, seja ele impresso ou televisivo, é um veículo de

comunicação de informações que além de estimular uma leitura crítica do contexto

social e político, promove redimensionamentos, reavaliações e reinterpretações dos

fatos.

As condições pelas quais os textos desta esfera são produzidas são

muitas, contudo em especial as que tangem o conhecimento, a crítica, a

possibilidade de posicionamento, de informação, de aprendizagem dos fenômenos

do mundo com novos olhares, novas formas de produção do conhecimento sob a

natureza tecnológica.

São produzidos pelos jornalistas, repórteres, cronistas, chargistas,

redatores, enfim, com a intenção de que a sociedade leia, interaja com os assuntos

que movem e mobilizam a sociedade e o mundo com o intuito de informar e de levar

a sociedade -em sua grande maioria- a um posicionamento crítico diante dos

acontecimentos vivenciados nela.

Circula nas mídias eletrônicas, impressas, televisivas nas

modalidades oral (televisão e rádio), escrita (impressa e eletrônica) e multimodal

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(internet), com a finalidade de informar, nortear a uma reflexão e um posicionamento

crítico.

3.3 Os gêneros textuais jornalísticos: reportagem, entrevista e artigo de

opinião.

Diante da explanação sobre SD apresentada pelos estudiosos

genebrinos, o foco do trabalho da leitura e produção de textos aos alunos do 9° ano

do Ensino Fundamental se dá com textos da ordem do relatar/noticiar/argumentar,

envolvendo a capacidade de linguagem de representação pelo discurso das

experiências vividas, situadas no tempo, de modo a documentar ou preservar a

memória das ações humanas

Os gêneros escolhidos como produtos finais (a serem apresentados

em vídeo, já que se trata de um telejornal), foram trabalhados em sala com cada

grupo de alunos separadamente. Assim, foram apresentados exemplares dos

gêneros, a fim de serem analisados e estudados pelos grupos, sob orientação do

professor. Esboços de produção foram realizados, corrigidos e devolvidos aos

alunos, assim como houve a necessidade de diversas refacções.

Para a elaboração da reportagem, cujo subtema escolhido foi a

Segunda Guerra, houve a colaboração da professora de história e intensa pesquisa

na Internet, ficando a cargo do grupo a produção do texto final (a ser lido frente às

câmeras e em “off”), além da pesquisa de imagens que ilustrariam a apresentação

do texto.

Já na realização das entrevistas, os alunos tiveram muitas

dificuldades em escolher e “colocar no papel” perguntas que fossem, ao mesmo

tempo, interessantes e que suscitassem respostas complexas, além do simples “sim

ou não”. Também não faltaram dificuldades em gravar, posteriormente as

entrevistas, tarefa que acabou sendo realizada, em duas situações, pelo próprio

professor, em razão da falta de disponibilidade dos alunos em permanecer na escola

após o horário.

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Quanto à produção do artigo de opinião, não houve grandes

problemas. A princípio, os alunos compreenderam bem o gênero e realizaram uma

interessante pesquisa para foratalecer seus argumentos. A exposição do artigo

(apresentação frente à câmera) e a ilustração por imagens (quando o texto foi lido

em “off”) também transcorreu de forma mais tranquila.

3.4 A relação entre tecnologia, comunicação e educação

O mundo tem passado por grandes transformações tecnológicas,

que aliadas à ideia de globalização possibilitaram o surgimento da era em que tudo

gira em torno da comunicação e da informação. Acredita-se que essas

transformações ocorridas têm sido rápidas, intensas e profundas, que as pessoas

não têm parado para refletir sobre os reflexos causados pela enxurrada de

potencialidades que elas oferecem. Nesse contexto, as Tecnologias da Informação e

da Comunicação, conhecidas como TIC, assumem cada vez mais um papel

destacado na sociedade atual.

Todos os dias, a indústria da informação oferece uma gama de

novidades, que atraem crianças, adolescentes, jovens, adultos e até os idosos.

Cada vez mais, os produtos, que na maioria integra som e imagem, fazem parte do

cotidiano das pessoas. A disponibilidade de recursos das novas tecnologias aliada à

necessidade da educação em utilizar esses recursos garante a aproximação cada

vez mais estreita entre a educação e comunicação.

Fonseca (2004) afirma que existe uma relação entre os paradigmas

transmissivos entre das áreas da Comunicação e Educação, principalmente no

sentido de serem linear, unidirecional e orientado para obtenção de efeitos. Na

tabela 1, Fonseca (2004, p.40) apresenta a correlação entre os paradigmas entre as

duas áreas citadas.

3.5 O uso do telejornal em sala de aula

Questiona-se aqui o papel da escola em desenvolver dentro de suas

ações pedagógicas ou, pelo menos de forma paralela, ações em sala de aula que

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Page 22: “GÊNEROS JORNALÍSTICOS NA ESCOLA: O TELEJORNAL COMO FERRAMENTA DE REFLEXÃO E CRITICIDADE

visem às linguagens não institucionais escolar, como por exemplo, a utilização dos

meios de comunicação. Citelli et. al. (2002) critica a falta de discussão sobre os

meios de comunicação nas instituições escolares, apesar da forte presença na

sociedade. O autor afirma ainda que o primeiro obstáculo vem da própria instituição

escolar que não vê o campo da comunicação de massa como objeto de reflexão no

universo da escola, mesmo que este campo esteja presente no cotidiano dos alunos

e professores.

Ele defende uma abordagem pedagógica dos veículos de massa,

como objetos de estudo na escola, no sentido em que os educadores mostrem como

a mídia opera as linguagens visual e verbal.

A participação dos programas infantis na formação do pré-

adolescente ou adolescente não é reconhecida pela escola, visto que pouco ou nada

se discute na sala de aula sobre eles. No entanto, uma leitura dialogada poderia

indicar o modo como o aluno se posiciona diante da produção televisiva, isto é,

como ele opera as mensagens do ponto de vista da construção do imaginário e da

sua relação com o mundo que o cerca. (CITELLI et. al, 2002, p. 50).

Os telejornais também são objetos de estudo importantes para o uso

em sala de aula. Já que, os noticiários televisivos ocupam um espaço considerável

na vida dos telespectadores brasileiros. Os assuntos em pauta muitas vezes fazem

parte das conversas no dia a dia das pessoas. Abordando assuntos de política,

economia, esportes, cultura, entre outros, os telejornais geralmente são transmitidos

em horários de grande audiência e abrangem não só o público adulto, como também

osmais jovens.

Acredita-se que o telejornal apresente fragmentos da realidade para

os telespectadores, e por esta razão, é necessária a reflexão sobre vários aspectos,

entre eles, citados por Citelli el.al. (2002), causa, conseqüência e até mesmo o grau

de veracidade do acontecimento.

Dessa forma, destaca-se que as instituições escolares devem ajudar

os educandos a decifrar os conteúdos dos noticiários televisivos, ou seja, o aluno

deve ser estimulado a realizar uma leitura crítica dos telejornais, buscando formas

de reflexão sobre as causas, consequências e veracidade da realidade fragmentada,

apresentada na telinha. Para Citelli el.al. (2002), o educador deve ensinar que por

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trás do fascínio e encantamento exercido pela TV, está o mito da credibilidade,

competência e eficiência do mundo da televisão.

Ao analisar o processo de produção do telejornal e descobrir a

quantidade de pessoas, dinheiro e tecnologia envolvidos, o professor começa a

entender o êxito que os telejornais, com apenas alguns minutos diários, têm junto

aos seus alunos. Ao perceber o quanto são manipulados pelas manhas e

artimanhas da telinha, a tendência é negá-la. Assim, a escola vem fazendo ao longo

dos anos, e tentando manter suas portas fechadas para este tipo de discurso,

resistindo em vão, pois o telejornal é assistido por grande parte dos alunos. (Citelli

el. al., 2002, p.71).

Apesar de considerar um processo de grande importância no

contexto educacional, Citelli et. al. (2002) afirma que o uso o telejornal na educação

não é tarefa fácil, e sim complexa. Por isso defende que os educadores devem estar

preparados para estimular a percepção do aluno no sentido de desenvolver o

interesse pelas notícias, para que o educando faça críticas e tire suas conclusões.

Para Citelli (2002), o mais interessante seria o professor gravar e

passar o telejornal para o grupo de alunos. Mas, no caso da possibilidade não dar

certo, a turma pode assistir em casa no dia anterior à aula de discussão.

Com capacidade de apontar falhas e meios que as solucionem, o

aluno estará criticamente pronto para receber o telejornal como um recurso didático

dos mais acessíveis. Neste momento, o professor poderá usar e abusar da

cotidianidade, da receptividade, da fácil assimilação, da contextualização através da

pesquisa, exemplificando, ilustrando, debatendo, analisando e principalmente

apostando no desenvolvimento global do aluno. (CITELLI et. al., 2002, p.77).

Acredita-se que existem outras formas de convergência entre o

telejornal e a prática pedagógica. Além da análise do conteúdo, os alunos também

podem ter contato com a produção do telejornal, ou, como apresentado neste

projeto, eles mesmos produzirem materiais televisivos. Não se fala aqui em

transformar os alunos em jornalistas, muito menos a escola em redação de TV, mas

oportunizar a elaboração de notícias e uma aproximação de crianças e adolescentes

com o mundo da televisão.

O trabalho com estes gêneros jornalísticos é uma forma de interagir com a

pluralidade e a diversidade de informações concebidas como configurações

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diferenciadas de produção de conhecimento, de crítica e de possibilidade de

posicionamento. É uma maneira de aprendizagem dos feitos do mundo em

diferentes ângulos, um incentivo à ousadia e à criatividade no que se refere à

produção do saber.

Estes gêneros textuais jornalísticos permitem aos alunos entrarem

em contato com diferentes formas de conhecimento ao observarem que os

acontecimentos cotidianos, experienciados constantemente aproximam-se deles

“editado”. Desta maneira, os objetos do mundo produzem sentidos a eles, fazendo-

os refletir que os signos da cultura e seus desafios resumem-se numa busca

inesgotável de sentidos através dos textos.

Assim, a experiência com estes gêneros jornalísticos permite a cada

aluno desenvolver competências, conhecimentos e capacidades inferenciais dos

elementos da narrativa bem como elementos referentes à escrita.

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Page 25: “GÊNEROS JORNALÍSTICOS NA ESCOLA: O TELEJORNAL COMO FERRAMENTA DE REFLEXÃO E CRITICIDADE

4 ANÁLISE COMENTADA DO PROJETO EXECUTADO

Para o planejamento, os alunos foram divididos em grupo para a

participação e trabalhos efetivos. A presente organização foi formulada pelos dois

professores participantes, em conjunto com os alunos:

Grupo 1 - apresentação do telejornal e auxílio dos demais grupos: 04 alunos

Grupo 2 - tema: histórico da violência – 2ª guerra / gênero reportagem: 06

alunos

Grupo 3 - tema: violência no esporte / gênero entrevista: 04 alunos

Grupo 4 - tema: violência na escola / gênero reportagem: 06 alunos

Grupo 5 - tema: violência entre casais / artigo de opinião: 05 alunos

Os alunos do grupo 2 e 4, sob orientação dos professores,

desenvolveram um planejamento prévio sobre o formato da reportagem, bem como

pesquisa em fontes pré-existentes para sua produção com os temas escolhidos e

filmá-las para a posterior edição. Nessas reportagens, poderiam ser utilizados outros

subgêneros como breves entrevistas e relatos pessoais, além do uso adequado de

efeitos visuais e sonoros.

Já os alunos do grupo 3 deveriam escolher uma ou mais pessoas a

serem entrevistadas que bem representem e ilustrem o grave problema da violência

no esporte (o tema anteriormente selecionado “violência doméstica” fora retificado, a

pedido dos alunos), escolheriam o local e formulariam os questionários da entrevista

previamente. Ao realizarem as entrevistas, devem ter cuidado especial com o(s)

entrevistado(s), principalmente em relação a situações de constrangimento.

Os alunos do grupo 4, por sua vez, deveriam realizar uma ampla

pesquisa sobre o assunto, comparando opiniões, fatos e estatísticas para então

redigirem o artigo de opinião que, de preferência não seja somente lido frente à

câmera, mas sim, interpretado.

Por fim, os alunos do grupo 1 seriam os principais responsáveis pela

organização do telejornal, produzindo os textos que realizem as conexões entre as

matérias, além de preocuparem-se com os demais aspectos de sua apresentação e

gravação.

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Além da apresentação do produto final: o telejornal, foram

observados e avaliados, durante a realização do projeto, os seguintes itens:

respeito, solidariedade e preocupação com o meio-ambiente; organização,

participação e interesse; utilização de linguagem e informações adequadas;

criatividade e senso crítico.

4.1 Cronograma das atividades (do projeto inicial)

O projeto inicial esperava utilizar 40 h/aula para ser concretizado,

conforme distribuídas abaixo, no entanto, acabou durando um pouco mais (vide item

4.2 Execução, passo a passo).

05 h/aula: leitura, pesquisa e socialização dos conhecimentos adquiridos e

descobertas;

20 h/aula: discussão e produção de roteiros e materiais para a realização das

gravações;

10 h/aula: gravações das matérias

05 h/aula: edição dos materiais, acabamento, avaliação e autoavaliação;

O planejamento inicial imaginava um período de 40 dias, em média, para a

execução. No entanto, o período se estendeu de realização de 28 de setembro a 23

de novembro de 2009.

4.2 Passo a passo da realização do projeto

Abaixo relacionamos passo a passo, como se deu a realização do

projeto telejornal, com os alunos:

28/09 – (02 h/a) O professor de Língua Portuguesa apresentou aos alunos o

projeto, dividiu os grupos, pediu a colaboração e o compromisso de todos, o

que nesse momento foi aceito por unanimidade.

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29/09 – (02 h/a) No segundo dia, o professor levou os alunos para a sala de

informática para assistirem a um vídeo (curta metragem) sobre a produção do

Jornal Nacional (disponível na página de Internet YouTube). Esse vídeo

apresenta alguns conceitos e técnicas da linguagem telejornalística. Ainda

nesse dia, os alunos ficaram com a tarefa de pensar no formato de sua

matéria e fazer esse registro por escrito.

06/10 – (02 h/a) No terceiro dia de projeto, o professor trouxe à escola um

estudante de Pedagogia da Unicamp, participante de um curso de extensão

sobre audiovisual e que trabalha com produção de vídeos para ministrar uma

palestra sobre a produção audiovisual. Nesta palestra, Felipe apresentou as

etapas, funções, cuidados e técnicas de apresentação e montagem de um

vídeo.

13/10 – (02 h/a) No quarto dia, os alunos ficaram sob orientação do professor

Júlio, para pesquisarem sobre os temas e começarem a produzir os esboços

dos textos que seriam seguidos na gravação.

20/10 – (02 h/a) No quinto dia, os alunos começaram a trazer os resultados:

textos-base, estatísticas e os esboços das idéias que pretendiam fazer na

filmagem e sob orientação do professor, começaram a escrever seus textos.

27/10 – (02 h/a) No sexto dia, o professor Júlio começou a cobrar maior

comprometimento dos grupos no trabalho, visto que, até o momento apenas

as perguntas do grupo 3 já estavam prontas e, continuaram a trabalhar nos

textos, sendo acompanhados de perto pelo professor.

03/11 - (02 h/a) No sétimo dia, os alunos do grupo 2 trouxeram imagens e

músicas que seriam usadas em sua reportagem, apresentaram esse material

em vídeo para a turma e foram orientadas pelo professor para, a partir de

agora, se concentrarem nas produções dos textos. Também nesse dia,

começaram a ser apresentados os textos iniciais dos grupos 1 e 5, sendo

revisados pelo professor.

10/11 - (02 h/a) No oitavo dia, o grupo 3 apresentou, já em vídeo, uma

entrevista completa com um participante da torcida organizada “Jovem” da

Ponte Preta, embora não tenha sido esse o combinado (essa entrevista não

foi adicionada ao material final por conter imagens inadequadas e formato de

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vídeo incompatível). No restante do tempo, os grupos continuaram

trabalhando nos textos, sendo auxiliados pelo professor.

16/11 - (02 h/a) No penúltimo encontro o professor deu um ultimato nos

grupos em razão da falta de comprometimento e advertiu-os que, se não

recebesse os textos prontos e digitados no último encontro, desistiria das

gravações e da execução do projeto. A partir dessa “conversa”, os alunos

pediram mais atenção do professor na correção e orientação de seus

trabalhos e este os auxiliou no que foi necessário.

23/11 - (02 h/a) No último encontro, (visto que a data limite seria 28/11), os

textos estavam prontos e após passarem por uma rápida revisão do professor

Júlio, iniciamos as gravações do grupo 04 e 05, os demais grupos foram

convocados em horários extra-classe para a gravação dos trabalhos. Essas

últimas gravações acabaram ocorrendo na última semana, nos horários pós-

aula (depois das 17h) e de manhã, depois das aulas de Educação Física. As

demais horas do projeto foram utilizadas nas pesquisas dos alunos em casa,

nas gravações da última semana e na edição do vídeo, após o material bruto

ser captado.

4.4 Apresentação do produto final - Telejornal

A primeira versão do vídeo finalizado e editado foi apresentada

durante a “Mostra Cultural e Científica” da EMEF Pres. Humberto de Alencar Castelo

Branco, em 29/11/2009. O trabalho foi bastante elogiado pelos participantes da

Mostra.

O vídeo do telejornal executado encontra-se também disponível na

Internet, no site Youtube, hiperlink <http://youtu.be/ny0L-wM331U>.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como percebemos, o trabalho não transcorreu exatamente como

planejado, visto a oscilação do interesse e comprometimento por parte dos alunos

no projeto e algumas dificuldades técnicas. Os parceiros ajudaram muito, em

especial, a professora Cristiane Myiasaka, não obstante suas limitações

profissionais, participou ativamente na construção do projeto inicial e, em suas

aulas, discutindo os conteúdos de sua disciplina.

Algumas dificuldades aconteceram, ora por falha de comunicação,

ora por falta de recursos. Como exemplo curioso, cito o ocorrido um dia com os

alunos do grupo 3. Eles haviam convidado (sem autorização) integrantes da torcida

organizada “Fúria Independente” para entrevistarem, mas não haviam avisado o

professor antes. Resultado: a polícia militar desconfiou dos jovens “uniformizados” e

acabou revistando-os na frente da escola. Felizmente, esse episódio foi esclarecido

e resolvido com a intervenção do professor e da diretora da unidade.

Outro problema recorrente foi a sala de informática ficar sem acesso

à Internet durante todo o projeto. Os alunos utilizaram os computadores apenas para

digitação. Para subsidiar as pesquisas, havia apenas o Notebook da escola, que

funcionava via rede sem fio. Por fim, o resultado final não ficou mais bem acabado,

por conta dos equipamentos utilizados: câmera fotográfica digital (7,2 m/pixels) e

programa para edição caseira “Windows Movie Maker”.

Durante a execução do projeto, dificuldades não faltaram: falta de

recursos, escassez do tempo (em virtude da realização do projeto, paralelamente às

aulas tradicionais para o ensino dos conteúdos planejados durante o ano), falta de

apoio e desconfiança de colegas etc. No entanto, após verificar o trabalho finalizado,

podemos perceber que este cumpriu os objetivos propostos, especialmente no que

tange à produção autônoma de conhecimentos e na utilização prática dos conteúdos

aprendidos, Mesmo com algumas falhas pontuais, os textos produzidos foram muito

bem feitos e a desenvoltura frente às câmeras também nos surpreendeu

positivamente.

Assim, considero que, mesmo com todos os percalços do caminho,

o trabalho atingiu seus objetivos e a experiência adquirida poderá servir de base

para outros trabalhos futuros.

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