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GEOLOGIA E MINERALOGIA

Prof. Dr. Fabio Olivieri de Nobile

Elaborada por: Prof. Dr. José Marques Junior

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Conteúdo CAPÍTULO 1 - O SOLO E O ECOSSISTEMA ..................................................................... 1

1.1. Introdução ................................................................................................................. 1 1.2. Os Solos nos Ecossistemas ..................................................................................... 4

CAPÍTULO 2 - ESPÉCIE MINERAL .................................................................................... 8 2.1. Introdução ................................................................................................................. 8 2.2. Noções de cristalografia ........................................................................................... 8

2.2.1. Cristalinidade e Cela Unitária ............................................................................ 8 2.2.2. Sistemas Cristalinos ........................................................................................ 11

2.3. Princípio da coordenação ....................................................................................... 14 2.4. Substituição Iônica .................................................................................................. 18 2.5. Espécie Mineral ...................................................................................................... 20 2.6. Classificação das espécies minerais ...................................................................... 21 2.7. Minerais das rochas e dos solos ............................................................................ 26

CAPÍTULO 3 - GRUPO DOS ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS .................................................. 27 3.1. Generalidades ........................................................................................................ 27 3.2. Óxidos e Hidróxidos de Ferro ................................................................................. 28 3.3. Óxidos e Hidróxidos de Alumínio ............................................................................ 31 3.3.1. Propriedades Químicas e Físicas ........................................................................ 32

CAPíTULO 4 - GRUPO DOS SILlCATOS ......................................................................... 33 4.1. Generalidades ........................................................................................................ 33 4.2. Classificação ........................................................................................................... 35

4.2.1. NESOSSILICATOS ......................................................................................... 40 4.2.2. SOROSSILICATO ........................................................................................... 41 4.2.3. CICLOSSILlCATOS ......................................................................................... 41 4.2.4. INOSSILlCATO ................................................................................................ 42 4.2.5. FILOSSILlCATO .............................................................................................. 44 4.2.6. TECTOSSILlCATOS ........................................................................................ 54

CAPÍTULO 5 - INTEMPERISMO ....................................................................................... 58 5.1. Considerações Gerais ............................................................................................ 58

5.1.1. Trabalho de Goldich (1938) ............................................................................. 59 5.1.2. Trabalho de Chesworth (1973) ........................................................................ 64

5.2. Mecanismos e Processos de Intemperismo ........................................................... 66 5.2.1. Intemperismo Físico......................................................................................... 67 5.2.2. Intemperismo Químico ..................................................................................... 69

5.3. Intemperismo Químico de Minerais e Rochas ........................................................ 78 5.3.1. Alguns exemplos.............................................................................................. 78

CAPÍTULO 6 - ROCHAS MAGMÁTICAS .......................................................................... 81 6.1. Introdução ............................................................................................................... 81 6.2 Origens e tipos fundamentais de magmas .............................................................. 82 6.3. Composição e classificação das Rochas Magmáticas ........................................... 86 6.4. Resfriamento do Magma ........................................................................................ 88

6.4.1. Estágios de Resfriamento ................................................................................ 89 6.4.1.1. Estágio Pneumatolítico (ou Pegmatítico) ...................................................... 89 6.4.1.2. Estágio Hidrotermal ...................................................................................... 89 6.4.2.Textura das rochas magmáticas ....................................................................... 89

6.5. Seqüência de Cristalização .................................................................................... 91 6.6. Principais Rochas Magmáticas ............................................................................... 93

6.6.1. Família Granito - Riólito ................................................................................... 93 6.6.2. Família Diorito - Andesito................................................................................. 94 6.6.3. Família Gabro-Basalto ..................................................................................... 94

CAPÍTULO 7 - ROCHAS SEDIMENTARES ...................................................................... 96

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7.1. Introdução ............................................................................................................... 96 7.2. Ciclo Sedimentar .................................................................................................... 98 7.3. Composição .......................................................................................................... 103 7.4. Estrutura e Textura das Rochas Sedimentares .................................................... 105 7.5. Ambientes Deposicionais e Formação da Paisagem ........................................... 106

7.5.1. Ambientes Deposicionais............................................................................... 106 7.5.2. Formação da Paisagem ................................................................................. 108

7.6. Classificação ......................................................................................................... 109 7.6.1. Rochas Clásticas ........................................................................................... 110 7.6.2. Rochas sedimentares químicas e orgânicas ................................................. 115 7.6.2.1. Rochas Sedimentares de Origem Química ................................................ 116 7.6.2.2. Rochas sedimentares orgânicas ................................................................. 117

CAPÍTULO 8 - ROCHAS METAMÓRFICAS ................................................................... 119 8.1. Introdução ............................................................................................................. 119 8.2. Tipos de Metamorfismo ........................................................................................ 121

8.2.1. Metamorfismo de Contato.............................................................................. 121 8.2.2. Metamorfismo Regional ................................................................................. 122

8.3. Foliação ................................................................................................................ 123 8.4. Classificação das Rochas Metamórficas .............................................................. 123

8.4.1. Ardósias ......................................................................................................... 125 8.4.2. Filitos ............................................................................................................. 125 8.4.3. Xistos ............................................................................................................. 126 8.4.4. Gnaisses ........................................................................................................ 126 8.4.5. Metaconglomerados ...................................................................................... 127 8.4.6. Quartzito ........................................................................................................ 127 8.4.7. Mármore ........................................................................................................ 128 8.4.8 Anfibólios ........................................................................................................ 128 8.4.9. Itabiritos ......................................................................................................... 129

CAPÍTULO 9 - MINERALOGIA DE SOLOS .................................................................... 131 9.1. Introdução ............................................................................................................. 131 9.2. Minerais do Solo ................................................................................................... 133

9.2.1. Cascalho e Areia............................................................................................ 135 9.2.2. Silte ................................................................................................................ 136 9.2.3. Argila .............................................................................................................. 137

9.3. Relembrando outros capítulos... ........................................................................... 137 9.4. Algumas relações entre "Dessilicatização" e a Mineralogia de Solos .................. 138

9.4.1. Conceito de Dessilicatização ......................................................................... 138 9.4.1.1. Lixiviação .................................................................................................... 138 9.4.2. Conceito de Neossíntese de Minerais do Solo .............................................. 139 9.4.3. Valor Ki; uma maneira de se avaliar o estágio de intemperismo do solo ...... 143

9.5. Colóides do Solo ................................................................................................... 146 9.5.1. Alguns conceitos e definições ........................................................................ 146 9.5.2. Origem de Cargas nos Constituintes do Solo ................................................ 148 9.5.3. Os colóides do solo e os processos de troca iônica ...................................... 152

9.8. OS SISTEMAS MINERALÓGICOS DOS SOLOS ................................................ 158 9.8.1. Sistema Silicatado ......................................................................................... 158 9.8.2. Sistema Oxídico ............................................................................................. 158 9.8.3. ∆pH e Ponto de Carga Zero........................................................................... 158 9.8.4. Sistema silicatado recoberto por óxidos ........................................................ 160 9.8.5. Manejo da Capacidade de Troca Catiônica ................................................... 161

9.9. De que outras Formas os Minerais Coloidais influenciam o Solo? ...................... 161 9.9.1. Óxidos de Fe e sua influência no solo ........................................................... 162 9.9.2. Óxido de Fe e AI e a estrutura do solo .......................................................... 163 9.9.3.Óxidos de Fe e AI e adsorção de fosfatos ...................................................... 163 9.9.4. Filossilicatos do solo e algumas de suas propriedades ................................. 163

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9.5. Considerações Finais ........................................................................................... 164 CAPÍTULO 10 - MODELO DE EVOLUÇÃO DOS SOLOS .............................................. 166

10.1. Seqüência Cronológica ....................................................................................... 166 10.2. Sequência Litológica ........................................................................................... 168 10.3. Modelo de Evolução dos Solos .......................................................................... 171

CAPÍTULO 11 - NOÇÕES SOBRE GEOLOGIA HISTÓRICA E GEOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ............................................................................................................. 177

11.1. O Tempo Geológico ............................................................................................ 177 11.2. Esboço Geológico do Brasil ................................................................................ 184 11.3. Bacias Sedimentares .......................................................................................... 185

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CAPÍTULO 1 - O SOLO E O ECOSSISTEMA 1.1. Introdução

A agricultura é a exploração da energia solar possível pelo suprimento

adequado de água e nutrientes para manter o crescimento das plantas

(MONTEITH, 1958).

O comportamento das plantas quer sejam pertencente à vegetação natural

ou as referentes aos ecossistemas agrícolas, depende de uma série de fatores

diretos ou qualidades do ambiente (Tabela 1). Estas qualidades, por sua vez,

dependem de fatores indiretos.

Tabela 1- Qualidades ecológicas do ambiente agrícola e seus fatores

determinantes (Resende, 1988).

Qualidade do ambiente quanto a fatores diretos

Fatores determinantes destas qualidades (indiretos)

Abióticos

R - Radiação solar

Latitude, altitude, exposição, cobertura vegetal, nebulosidade, unidade atmosférica, poluição atmosférica

A - Água Precipitação, evapotranspiração, solo, planta

T - Temperatura Latitude, altitude, exposição e constituição do solo

O - Oxigênio Drenagem e permeabilidade do solo

G – Gás Carbônico Organismos, latitude, altitude, exposição e atividade industrial

V - Vento Exposição, latitude, altitude, relevo, continentabilidade

N - Nutrientes Solo, organismos, clima

Agrícolas

E - Suscetibilidade á erosão Precipitação, solo (inclui relevo), cobertura

M - Impedimento à mecanização Relevo, textura, pedregosidade, drenagem, tipo de arqila

Bióticos

P - Pragas

D - Doenças H - Homem

As qualidades se interdependem fortemente. Os nutrientes constituem uma

destas qualidades. As inter - relações de dependência entre os nutrientes (N) e os

fatores indiretos (solo, organismos, clima) e ainda as inter - relações entre

nutrientes e outros fatores diretos, tais como radiação solar (R), água (A),

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temperatura (T), oxigênio (O) e erosão (E), mostram a rede de relações existente

(a) (b)

Figura 1- Esquema mostrando nutrientes como dependendo (a) genericamente do solo, clima e

organismos, (b) das interações com outras qualidades do ambiente, como radiação (R), água (A), temperatura (T), oxigênio (O) e erosão (E) (Resende, 1988)

O homem diante de seus problemas ambientais tem assumido duas

atitudes: ou os enfrente tentando reduzi-los (práticas de redução), ou busca

conviver com os mesmos (práticas de convivência). A adubação e a irrigação são

práticas de redução dos problemas de deficiência de nutrientes e água,

respectivamente. O uso de variedades tolerantes mostra o uso de práticas de

convivência.

ORGANISMOS

NUTRIENTES

SOLO CLIMA

R A

T O

E

NUTRIENTES

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Tabela 2. Classificação das práticas agrícolas, em práticas de redução e de convivência. Estão excluídos os deltas biológicos (pragas, doenças, etc), geográficos (localização, transporte etc.) e socioeconômicos.

Deltas Práticas de redução Práticas de Convivência

Nutrientes, ∆F Adubação, calagem, aplicação de

gesso, adubação verde etc.

Espécies e variedades selecionadas;

agricultura nômade com pousio e

queima

Água, ∆A Irrigação, "mulch", terraços, sulcos Espécies e variedades selecionadas;

coso lavoura seca; plantas de ciclo

curto e época de plantio; culturas em

faixas; "mulch".

Oxigênio, ∆O Drenagem, enleiramento. Espécies (arroz) e variedades

selecionadas;

Erosão, ∆E Terraceamento, cordões em

contorno, terraços em patamar,

banco ou escada; banquetas

individuais; cultivos alternados;

enleiramentos permanentes;

valetamento; coveamento e

encordoamento do mato.

Semeadura em curvas de nível;

cultura em faixas; cobertura do

terraço; cultivos alternados; renques

de vegetação cerrada; agricultura

nômade, pequenos talhões;

consorciação de culturas

Mecanização, ∆M Pouco usadas: nivelamento de

terreno; preparo de terraços;

retirada de pedras.

Ajustes dos implementos cada vez

mais levem até a tração animal e

mesmo implementos manuais,

conforme o agravametno do desvio.

Ajuste do implemento (tamanho das

rodas, pro exemplo).

Tempeartura, ∆T Mulch", sombreamento, combate à

geada, estufa, estufim (fermen-

tação de material orgânico e co-

bertura plástica).

Espécies e variedades selecionadas;

época de plantio; profundidade de

plantio.

Luminosidade, ∆L Estufas, sombreamento, pintar

branco.

Espécies e variedades selecionadas;

época de plantio; sombreamento.

Gás carbônico,∆C Direcionamento, decomposição

biológica.

Espécies, variedades e espaçamento

Vento, ∆V Quebra-vento, alinhamento Espécies e variedades selecionadas;

trato conforme hora do dia.

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Poder-se-ia, por exemplo, representar esses problemas em forma de um

tetraedro, onde o homem estaria no topo, e os organismos, clima, solos seriam a

base.

Figura 2. Inter-relações representadas pelo tetraedro (Resende, 1982)

1.2. Os Solos nos Ecossistemas

A posição do solo como divisor de ambientes é justificada pela sua posição

peculiar - Pedosfera.

Figura 3. O solo (pedosfera) como “interface” entre litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera.

(Resende, 1988)

Ecossistema é um sistema dinâmico e não há como compreender as

relações solo-planta sem esta atenção para o funcionamento global deste

sistema. A ecotessela (fitossela + pedotessela) engloba todo o ecossistema e

Organismos

Solo Clima

Influência dos aspectos

sócioeconómicos

Pedosfera

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permite, por exemplo, o entendimento da ocorrência de um solo pobre e

vegetação rica numa região pluviosa (Floresta Amazônica) e solo pobre numa

região com deficiência de água (Cerrado).

Figura 4. Esquema mostrando o ecossistema (tessela) formado de fitotessela e pedotessela. A

ecotessela pode ser rica em nutrientes, estando estes praticamente só na fitotessela

(floresta amazônica) ou na pedotessela (caatinga) (Resende, 1988).

Os solos mais profundos permitem a existência de um ecossistema mais

estável (Figura 5).

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Figura 5. Esquema simplificado da sucessão de ambientes. As espécies adaptadas às condições adversas (à esquerda) apresentam grande capacidade de dispersão e usam a maior parte de seu suprimento energético na reprodução. À direita, onde a estabilidade é regra, predominam espécies capazes de vencer a competição por espaço, usando maior quantidade de energia na especialização de funções. (Modificado de PASCHOAL, 1987)

Além disso, uma variação relativamente pequena no relevo pela ação das

forças bioclimáticas que transformam a rocha em solo, determina grandes

variações no solo.

Figura 6. Fatores de formação do solo e pedogênese.

Quando as forças bioclimáticas são pouco intensas, como numa região

mais seca, ou a rocha for muito resistente, os solos mais velhos - como os

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Latossolos - tendem a não existir e os imediatamente mais novos ocupam as suas

posições.

A heterogeneidade de ambientes é, portanto, menor nos solos mais velhos

(Chapadões do Planalto Central) e maiores nos solos mais jovens. No Agreste

Pernambucano, por exemplo, numa mesma propriedade existem solos que se

prestam a pastagem (capim-raiz), enquanto a mandioca, muito importante na

fabricação da farinha, só pode ser plantada nos solos mais profundos.

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CAPÍTULO 2 - ESPÉCIE MINERAL

2.1. Introdução

Espécie mineral é qualquer fase cristalina de natureza inorgânica. Essa

definição impõe de imediato, as 3 condições necessárias e suficientes para definir

espécie mineral: a - caráter inorgânico; b - ocorrência natural; c - estrutura

cristalina. Qualquer parte do universo que preencha essas 3 condições é

espécie mineral.

As rochas e os solos são formados, na sua quase totalidade, de minerais

de diferentes espécies. Todos os minerais têm em comum o fato de possuírem

estrutura cristalina. As propriedades de cada mineral decorrem da sua

composição química e da natureza cristalina, ou seja, da sua condição de cristal.

Então, o conhecimento do estado cristalino é fundamental para o estudo de

mineralogia e, portanto, dos solos.

2.2. Noções de cristalografia

A cristalografia é uma ciência que estuda o estado cristalino e foi

desenvolvido inicialmente como um ramo da mineralogia que estuda a estrutura

interna, a forma externa e as leis que governam o crescimento de cristais.

Todos os minerais têm uma determinada estrutura cristalina, isto é, seus

íons constituem um espaço cristalino próprio e privativo da espécie. Isto equivale

a dizer que cada espécie mineral pertence a um determinado sistema e possui

uma cela unitária específica.

2.2.1. Cristalinidade e Cela Unitária

A característica fundamental do estado cristalino é o arranjo regular dos

átomos, moléculas ou íons nas três direções do espaço. À distância, a partir da

origem comum, a cada um dos átomos situados nos eixos cristalográficos X, Y e

Z definem os parâmetros ao, bo e co da cela unitária (Figura 7). Os eixos cristalo-

gráficos definem os ângulos a, β e γ, que combinados com os parâmetros

caracterizam as substâncias cristalinas.

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Figura 7 - Eixos cristalográficos X, Y e Z, parâmetros e cela unitária.

Alguns conceitos devem ser entendidos de maneira bastante clara:

- Estrutura cristalina: minerais de arranjo atômicos (e moleculares)

regulares de grande extensão em três dimensões.

- Estrutura não cristalina: não há o padrão anterior e o ordenamento dos

átomos é apenas local ou de pequena extensão. Ex.: Alofana.

- Estrutura para-cristalina: minerais tem ordenamento atômico em pelo

menos uma direção cristalográfica. Ex.: lwojolita.

Cela unitária: o arranjo espacial dos átomos de um determinado cristal

pode ser descrito pelo tamanho e forma de uma unidade estrutural tridimensional,

denominada cela unitária, e pelo padrão dos átomos contidos na mesma. A forma

e o tamanho da cela unitária são especificados pelo comprimento de suas arestas

e os ângulos entre as mesmas (Figura 8).

Figura 8 - Representação da cela unitária em cristal de goethita.

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- Distância interplanar: é a distância entre dois planos paralelos do retículo

cristalino, os quais contêm átomos, moléculas ou íons e podem ser traçados

arbitrariamente (Figura 9). À distância interplanar é representada pela letra d e

medida em angstrom, que é igual a 10-8 cm.

Figura 9 - Representação do retículo cristalino, assinalando-se algumas famílias de planos

possíveis, com as distâncias interplanares d correspondentes.

- Espaçamento basal: é um certo d que separa planos do retículo perpendicular

ao eixo cristalográfico Z, e que nos argilominerais é um plano de fraqueza pelo

qual o mineral se quebra facilmente ao longo de superfícies planas. Esta última

propriedade denomina-se clivagem (Figura 10).

Figura 10 - Planos de clivagem da mica.

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- Cristais onisotrópicos - características podem variar nas diferentes direções

cristalográficas.

- Desordem estrutural: a repetição infinita do padrão de átomos representa o

cristal ideal teórico. De fato, o cristal real apresenta desvios em relação ao ideal,

que se esboçam como defeitos estruturais, os quais são muito comuns em

minerais dos solos. Algumas causas: (a) variação na composição atômica de uma

cela para outra; (b) deslocamentos direcionais de camadas que produzem

diferentes arranjos no seu empilhamento; (c) empilhamento de diferentes tipos de

camadas formando estruturas mistas, etc.

2.2.2. Sistemas Cristalinos

Sistema Cristalino: dividindo-se o espaço com três planos, podemos

produzir celas unitárias de vários tipos, dependendo como arranjamos esses

planos. Por exemplo, se os planos nas três direções estão espaçados de igual

distância e mutuamente perpendiculares, a cela unitária será cúbica. Neste caso,

as dimensões a, b e c são iguais e os ângulos entre eles são retos, ou a=b=c; e

a=p=y=90o. Atribuindo valores especiais ao comprimento dos eixos e ângulos,

podem-se produzir celas unitárias de vários tipos e conseqüentemente vários

tipos de redes, desde que os pontos das redes estejam localizados nas arestas

das celas. Utilizando critérios básicos de simetria, pode-se provar que apenas

sete tipos diferentes de celas são necessários para abranger todas as redes

possíveis. Estas redes correspondem aos sete sistemas cristalinos, pelos quais

todos os cristais podem ser classificados.

Algumas das 32 classes de cristais possuem características de simetria em

comum com outras, o que permite sua transferência para grupos maiores

denominados sistemas cristalinos. Os seis sistemas cristalinos estão relacionados

abaixo com os eixos cristalográficos e a simetria característica de cada um.

Simetria isométrico - todos os cristais deste sistema possuem quatro

eixos ternários de simetria e são referidos aos três eixos perpendiculares entre si,

de comprimentos iguais (Figura 11).

Sistema hexagonal - todos os cristais deste sistema têm um eixo de

simetria único ternário ou senário. Eles são referidos a quatro eixos

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cristalográficos, três eixos horizontais, iguais, cortam-se em ângulos de 120°, o

quarto é de comprimento diferente e perpendicular ao plano dos outros três

(Figura 11).

Sistema tetragonal - um único eixo de simetria quaternário caracteriza os

cristais deste sistema. Os cristais são referidos a três eixos mutuamente

perpendiculares; os dois eixos horizontais são de comprimento igual, mas o eixo

vertical é mais curto, ou mais longo, do que os outros dois (Figura 11).

Sistema ortorrômbico - este sistema apresenta três elementos de

simetria binária, isto é, planos de simetria ou eixos de simetria binários. São

referidos aos três eixos perpendiculares entre si, todos de comprimento diferente

(Figura 12).

Sistema monoclínico - estes cristais são caracterizados por um eixo de

simetria único, binário, ou por um plano de simetria único, ou pela combinação de

um eixo binário e um plano de simetria. Os cristais são referidos aos três eixos

desiguais, dois dos quais estão inclinados entre si formando um ângulo oblíquo,

sendo o terceiro perpendicular ao plano dos outros dois (Figura 12).

Sistema triclínico - possui um eixo de simetria unitário como sua única

simetria. Este pode ser um eixo simples rotatório, ou um eixo unitário de inversão

rotatória (Figura 12).

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Figura 11 - Proporção dos comprimentos de eixos e ângulos formados nos sistemas: (A) cúbico ou

isométrico, (B) tetragonal, (C) hexagonal. (a), (b) e (c) correspondem aos comprimentos dos

ângulos. a, 13 e y correspondem aos ângulos formados entre os eixos. À direita estão

representadas as figuras geométricas correspondentes e a forma mais comum de um mineral

que se cristaliza segundo o sistema (Popp,1988).

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Os cristais são referidos aos três eixos desiguais, que se cortam formando

ângulos oblíquos (Figura 12).

Figura 12 - Comprimentos dos eixos e ângulos formados nos sistemas: (O) ortorrômbico,

clínico, (F) triclínico (Popp, 1988).

2.3. Princípio da coordenação

A formação dos minerais não é casual, obedece a certas regras e teorias,

das quais o princípio de coordenação é uma das mais importantes.

Qualquer que seja o processo de gênese (solução, fusão, sublimação, etc.)

ao ser edificada a estrutura cristalina de um mineral, os íons iguais adquirem

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vizinhanças iguais, que se repetem ordenadamente. A esse grupamento dá-se o

nome de coordenação - cátions e ânions tendem a grupar ao seu redor o maior

número possível de íons de carga contrária, ligando-se de modo igual a todos

eles.

Número de coordenação (NC) é o número de íons de carga contrária ao

redor do íon coordenador, isto é, é o número de vértices do poliedro de

coordenação.

Na caulinita, por exemplo, o NC de Si4+ em relação a O2- é 4 e o NC de Al3+

em relação à OH- é 6. (Figura 13).

Figura 13. Estrutura espacial da caulinita.

O número de coordenação de um íon em relação ao outro é função dos

tamanhos relativos dos íons coordenadores e coordenados. Trata-se, em

essência de se determinar quantas esferas de um dado raio cabem ao redor de

outra, de raio diferente.

Na fluorita, por exemplo, cada íon cálcio está rodeado por 8 íons flúor

(coordenação 8) enquanto que cada íon flúor tem como vizinhos apenas 4 íons

cálcio (coordenação 4). Fica então evidente que essa estrutura possui o dobro e

íons flúor em relação aos íons cálcio, o que está de acordo com a fórmula CaF2

com as valências usuais do Ca e do F.

No estudo de coordenação, não importa o diâmetro das esferas em valor

absoluto, mas sim o tamanho relativo do íon coordenador e dos íons coordenado

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se expressa pela relação de raios, RC/RA, onde RC é o raio do cátion e RA o raio

do ânion, em unidades "angstrom". Entretanto, se o íon coordenador for Si+4 e os

íons coordenados forem O2-, a relação de raios será RSi4+/RO2- = 0,42 Å/1,40 Å =

0,3. Sempre que tiver esfera cujos raios estejam nessa relação, é possível a sua

participação na configuração tetraédrica.

Em resumo, são os seguintes tipos mais freqüentes de coordenação nos

minerais e seus respectivos limites de estabilidade.

NC TIPO DE COORDENAÇÃO RELAÇÃO DE RAIOS

12 cúbica compactada 1

8 cúbica 1 a 0,73

6 octaédrica 0,73 a 0,41

4 tetraédrica 0,41 a 0,22

3 triangular 0,22 a 0,15

2 linear < 0,15

Na Figura 14 aparecem esquematizados os seis tipos principais de

coordenação.

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Figura 14 - Esquema dos principais tipos de coordenação

A Tabela 3 mostra os valores de NC calculados, observados na estrutura

dos principais minerais, dos cátions mais comuns em relação a O2- (RO2- = 1,40

Å).

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Tabela 3. Número de coordenação dos prinicpais cátions em relação ao O2-

(RO2-

= 1,40 Å).

2.4. Substituição Iônica

Na natureza, as espécies minerais formam-se a partir de sistemas de

composição química muito complexa, de maneira que existe sempre a

possibilidade de um íon ser substituído por outro, durante a formação de uma

determinada espécie mineral. Ocorrem variações em suas composições químicas,

podendo atingir grandes proporções. A análise química de olivinas (Mg, Fe)2.SiO4,

mostra, nos diferentes exemplares, grande variação nos teores de Fe e Mg.

Conhecem-se olivinas de composições variando desde Mg2SiO4 até Fe2SiO4, com

todos os teores intermediários de Mg e Fe. Aparentemente estranhos à

composição química do mineral, não são considerados como impurezas

localizadas em interstícios da grade cristalina, mas fazem parte da estrutura do

mineral, ocupando o lugar de outro cátion. Na olivina, Mg e Fe ocupam posições

equivalentes nos centros de octaedros de coordenação. Na magnetita, Mn, Mg,

Zn e Ni ocupam posições iguais às de Fe.

O fenômeno é chamado substituição iônica. Ao contrário do que a palavra

substituição sugere não se trata da saída de um íon do retículo cristalino e da

entrada de outro no seu lugar. O fenômeno ocorre no momento da formação do

mineral: ao se reunirem cátions e ânions para formar as vizinhanças, cuja

Page 23: Geologia e mineralogia

19

repetição ordenada formará o mineral, um determinado sítio da estrutura pode ser

ocupado por qualquer íon que preencha as condições de tamanho e carga

requeridas pelo edifício cristalino e que esteja disponível no ambiente de

formação.

Embora a substituição iônica seja mais freqüente entre os cátions, também

é comum entre ânions. Na apatita Ca5 (F, CI, OH) (PO4)3, os ânions F, OH- e Cl-

substituem-se mutuamente em todas as proporções. A predominância de um

ânion sobre os demais caracterizará um fluorapatita, cloroapatita ou

hidroxiapatita. Ainda nos fosfatos, é comum a substituição de (PO4)3- por (AsO4)3-

ou VO3)3- em qualquer proporção.

A substituição iônica em minerais leva à formação de soluções sólidas, que

são verdadeiras soluções de um sólido em outro. O cristal é perfeitamente

homogêneo e nele não se reconhecem partes de um sólido ou de outro. É,

portanto, a formação de soluções sólidas e é função principalmente do tamanho

dos íons envolvidos. A presença de um íon na estrutura está condicionada a uma

exigência de espaço, que deve ser suficiente para comportar o seu tamanho.

A substituição iônica entre íons de tamanho diferente é afetada pela

temperatura e é facilitada quando os íons envolvidos têm a mesma carga elétrica

(valência). Esse fator, entretanto, não é limitante quando a diferença de carga for

igual a 1.

Substituições entre íons de cargas diferentes ocorrem paralelamente a

outras substituições compensatórias.

Geralmente, diferenças de cargas superiores a 1 dificultam ou impedem

substituições, possivelmente por dificuldades no restabelecimento do equilíbrio de

cargas, mesmo quando o tamanho não é fator limitante.

As substituições iônicas de cátions de maior valência por cátions de menor

valência nem sempre são compensadas na estrutura de alguns minerais,

principalmente nos minerais de argila, resultando, como conseqüência um

excesso de cargas negativas.

A quantidade de cargas negativas existentes no solo é medida pela

Capacidade de Troca de Cátions - CTC. É expressa em equivalentes miligramas

por 100 gramas de material (meq/100 g) e quando originada devido à substituição

iônica é chamada de CTC permanente.

Page 24: Geologia e mineralogia

20

Na Tabela 4 encontram-se valores da CTC permanente de alguns minerais

comuns do solo.

Tabela 4 - Capacidade de Troca de Cátions - CTC - permanente de alguns minerais comuns do solo.

Mineral CTC permanente (meq/100 g)

MONTMORILONITA (ESMECITA) 112

VERMICULlTA 85

ILITA 11

CAOLlNITA 1

GIBBSITA 0

GOETHITA 0

A quantidade e o tipo de carga existente no solo são de extrema

importância, pois se relaciona com inúmeras propriedades químicas e físico-

químicas dos solos, principalmente relacionadas à sua fertilidade.

2.5. Espécie Mineral

Espécie mineral é qualquer fase cristalina da natureza inorgânica. As

condições desta definição admitem as seguintes considerações:

a) caráter inorgânico. Estão excluídas da definição todas as substâncias

orgânicas.

b) ocorrência natural. Excluem-se da definição todas as substâncias

elaboradas pelo homem. Toda espécie mineral ocorre espontaneamente na

natureza inorgânica.

c) composição química. Toda espécie mineral tem composição química e

definida, comum a todos os cristais da espécie.

d) estrutura cristalina. Todos os minerais têm uma determinada estrutura

cristalina, isto é, seus íons constituem um espaço cristalino próprio e privativo da

espécie. Isto equivale a dizer que cada espécie mineral pertence a um

determinado o sistema e possui uma cela unitária específica.

Page 25: Geologia e mineralogia

21

PROPRIEDADES ESSENCIAIS

A composição química e a natureza da estrutura cristalina são as

propriedades essenciais de uma espécie mineral, uma vez que é da interação que

resulta o conjunto de propriedades da espécie.

Decorrem, então, os princípios básicos da Mineralogia:

1) Cada espécie mineral possui um conjunto de propriedades que a

distingue das demais.

2) Cada cristal de uma mesma espécie mineral exibe o mesmo conjunto de

"propriedades, onde quer que se encontre e independentemente do seu tamanho.

2.6. Classificação das espécies minerais

O critério de classificação consiste em pelo menos um atributo comum

entre um dos elementos de uma mesma classe.

O critério utilizado pode obedecer ao objetivo a que se destina a

classificação;

a) Características cristalográficas. Os minerais podem ser classificados

dentro dos 6 sistemas já descritos: minerais isométricos, tetragonais, hexagonais,

ortorrômbicos, monoclínicos e triclínicos .

b) Propriedades físicas. Qualquer propriedade física pode ser usada como

critério de classificação: densidade, cor, dureza, brilho, etc.

c) Elementos presentes. Reúnem-se em uma mesma classe, minerais

contendo o mesmo elemento.

d) Processo genético. Agrupam seus minerais de acordo com o seu

processo de gênese: magmático, metamórfico, sedimentar, pneumotolítico,

hidroternal, etc.

e) Composição química. As espécies são classificadas de acordo com a

natureza do grupo aniônico, o que confere à classificação uma precisão e

coerência que outros critérios não possuem.

Na tabela 5 estão representadas as principais classes de classificação dos

minerais, segundo o critério de composição química.

Page 26: Geologia e mineralogia

22

Tabela 5 - Classificação dos principais minerais baseados na composição química (Popp, 1988).

ELEMENTOS

Metais nativos Semi metais nativos

Ouro Au Arsênio As

Prata Ag Bismuto Bi

Cobre Cu Não metais nativos

Platina Pt Enxofre S

Ferro Fe Diamante C

Grafita C

SULFETOS

Argentita Ag2S Covelina CuS

Calcocita Cu2S Cinábrio HgS

Borita CuSFeS4 Estibina Sb2S3

Galena PbS Pirita FeS2

Blenda ZnS Marcasita FeS2

Calcopirita CuFeS2 Arsenopirita FeAsS

Pirotita Fe1_XS Molibdenita MoS2

Niquelita NiAs

SULFOSSAIS

Polibasita (Ag, Cu)16Sb2S11

ÓXIDOS HIDRÓXIDOS

Óxidos anídricos Óxidos hidratados

Cuprita Cu2O Diásporio AIO(OH)

Gelo H2O Goethita FeO(OH)

Zincita ZnO Manganita MnO(OH)

Corimon AI2O3 Limonita FeO(OH)+nH2O

Hematita Fe2O3 Bauxita AI(OH)3

Ilmenita FeTiO3 Psilomelano (Ba,H20)4 Mn10 020

Espinélio MgAI2O3

Magnetita Fe3O4

Franclinita (Fe, Zn, Mn) (Fe,Mg)O3

Cromita FeCr2O4

Crisoberilo BeAI2O4

Cassiterira SnO2

Rutilo TiO2

Pirolusita MnO2

Columbita (Fe, Mn) (Cb, Ta)2O6

Uraninita UO2

Page 27: Geologia e mineralogia

23

SAIS HALÓGENOS

São compostos dos halógenos f1úor, cloro, bromo e iodo com metais

Halita NaCI

Silvita KCI

Fluorita CaF2

CARBONATOS

Grupo da Calcita Grupo da argonita

Calcita CaCO3 Aragonita CaCO3

Dolomita CaMg (CO3)2 Witherita BaCO3

Magnesita MgCO3 Estrontianita SrCO3

Siderita FeCO3 Cerussita PbCO3

Rodocrosita MnCO3

Smithsonita ZnCO3 Carbonatos básicos de cobre

Malaquita CU2CO3 (OH)2

Azurita CU3(CO3)2 (OH)2

NITRATOS

Nitrato de sódio NaNO3

Nitro KNO3

BORATOS

Boracita Mg3B7O13Cl

Bórax Na2B4O7.10H2O

SULFATOS E CROMATOS

Sulfatos anídricos Sulfatos básicos e hidratados

Glauberita Na2Ca (SO4)2 Gipsita CaSO4 . 2H2O

Barita BaSO4 Jarosita KFe(SO4)2(OH)6

Celestita SrSO4

Anglesita PbSO4

Anidrita CaSO4

Crocoíta PbCrSO4

FOSFATOS, ARSENIATOS E

VANADATOS

TUNGSTATOS E MOLlBDATOS

Monazita (Ce, La, Y, Th) PO4 Wolframita (Fe, Mn) WO4

Apatita Ca (F, CI, OH) (PO4)3 Seheelita CaWO4

Piromorfita Pbs (PO4, AsO4)3 CI Wulfenita PbMoO4

Turquesa CuAI6 (PO4)4 (OH)8 . 2H2O

Vanadinita Pbs (VO4)3 CI

Mimetita Pbs (AsO4, PO4)3 CI

Page 28: Geologia e mineralogia

24

(Tectossilicatos)

Grupo do quartzo

Quartzo SiO2

Tridimita SiO2

Cristobalita SiO2

Opala SiO2 . nH2O

Grupo dos Feldspatos

Ortoclásio KAISisOa

Microclínio KAISisO8

Albita * NaAlSisO8

Oligoglásio * (Na, Ca) (AI, Si)4O8

Andesina * (Na, Ca) (AI, Si)4O8

Labrodorita * (Ca, Na) (AI, Si)4O8

Bytownita * (Ca, Na) (AI, Si)4O8

Anortita * CaAI2Si2O8

Grupo dos feldspatóides

Leucita KAISi2OS

Nefelina (Na, K) (AI,Si)2 O4

Sodalita Na4(AISiO4)3CI

Família das zeolitas

Heulandita (Ca,Na,K)s (AI,Si) Si29 O80 . 25 H2O

Estibita (Ca,Nah Ais (AI ,Si) Si'4O4O. 15

H2O

Natrolita Na2 (AI2SisO10) . 2 H2O

Analcima Na (AISi2O6) . H2O

Filossilicatos

Caulinita AI2Si2OS (OH)4

Talco MgsSi4OlO (OH)2

Serpentina MgsSi2OS (OH)4

Clorita ** (Mg,Fe,AI)8 (Si,AI)4O10 . (OH)8

Moscovita ** KAls Si3O10 (OH)2

Biotita ** K (Mg, Fe)3 AISi3O10 (OH)2

Lepidolita ** K2Li3AI4 Si7O21 (OH, F)3

Inossilicatos

Anfibólios

Tremolita Ca2Mg5Si8O22 (OH)2

Actinolita Ca2 (Mg, Fe)5Si8O22 (OH)2

Hornblenda CaNa (Mg, Fe)4 (AI, Fe, Ti)3 Si6O22 (O, OH)2

Piroxênios

Page 29: Geologia e mineralogia

25

Diopsídio (Ca, Mg) Si2O6

Augita Ca,Na) (Mg, Fe,AI) (Si, Al)2O6

Enstatita MgSiO3

Hiperstenio (Mg, Fe)SiO3

CICLOSSILICATOS

Berílio Be3AI2 (SiSO18)

Turmalin (Na, Ca) (AI, Fe, Li, Mg)sAI6 (BO3)3 (Si6O16) (OH)4

Sorossilicatos

Epidoto Ca2 (AI, Fe)Al2O (SiO4) (Si2O7) (OH)

Vesuvianita Ca1O Mg2 Al4 (SiO4)5 (Si2O7)2 (OH)4

Hemimorfita Zn4 (OH)2 Si2O7

Neossilicatos

Grupo da olivina (Mg, Fe)2 (SiO4)

Grupo da granada (Mg, Fe, Mn, Ca)3 (Al, Fe, Cr)2 (SiO4)3

Zircão ZrSiO4

* série dos plagiocásios

** micas

Page 30: Geologia e mineralogia

26

2.7. Minerais das rochas e dos solos

Existem dois grupos de minerais que possuem grande importância no

contexto agronômico como constituintes de rochas e de solos: grupos dos

silicatos e grupo dos óxidos e hidróxidos.

Os principais minerais constituintes de rochas e, portanto, significativos

como material de origem de solos, pertencem ao grupo dos silicatos, Rochas

comuns, extremamente abundantes e disseminadas, como granitos, diabásios,

basaltos, arenitos, quartzitos, gnaisses e outras são quase inteiramente

constituídos de silicatos, conforme se verifica nos exemplos (Figura 15) de

composições mineralógicas, em que os minerais do grupo dos silicatos estão

assinalados com (*).

Figura 15 - Esquema de tetraedros (SiO4)

Visando ao conhecimento de solo, é essencial uma atenção às classes dos

silicatos, como já foi dito, e dos óxidos e hidróxidos de ferro e de alumínio,

estando estes associados aos silicatos e também se apresentam comumente em

áreas significativas do território brasileiro.

Exercícios

1. Defina com suas palavras a Capacidade de Troca Catiônica (CTC). Em

que medida ela é expressa?

2. Citar (apenas citar) os seis sistemas cristalinos.

3. O que você entende por substituição iônica? Quais os fatores que

condicionam substituição iônica?

-4

O-2

Si+4

Page 31: Geologia e mineralogia

27

CAPÍTULO 3 - GRUPO DOS ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS

3.1. Generalidades

Os óxidos e hidróxidos constituem uma extensa classe de minerais em que

os cátions de um ou mais metais estão combinados com O2- ou OH-, sendo que

um dos cátions pode ser H+.

A maior parte dos óxidos e hidróxidos está localizada na parte superior da

litosfera, em contato com a atmosfera e, portanto, com oxigênio livre. Decorre daí

sua importância, porque é precisamente este o cenário em que se formam os

solos.

Os óxidos e hidróxidos são classificados de acordo com o número de íons

O2- ou agrupamentos OH- e quanto ao(s) cátion(s) acompanhante(s).

Sendo A e B cátions, a classificação dos principais óxidos e hidróxidos é

apresentada na Tabela 6 assinalando-se com maiúsculas os de maior interesse

para solos.

Tabela 6. Classificação dos óxidos e hidróxidos

ÓXIDOS EXEMPLOS

1 - Tipo A2O H2O gelo Cu2O cuprita

2 - Tipo AO ZnO zincita CuO tenorita MgO periclasita SnO2 cassiterita

3 - Tipo AO2 TiO2 rutilo MnO2 manganita UO2 uraninita ThO2 thorianita

4 - Tipo A2O3

Al2O3 coríndon Fe2O3 HEMATITA

5 - Tipo ABO3

CaTiO3 perowskita FeTiO3 ILMENITA

6 - Tipo ABO2 HAIO2 diásporo H FeO2 GOETITA

7 - Tipo AOOH AIOOH boemita FeOOH LEPIDOCROCITA

8 - Tipo AB2O4 MgAI2O4 espinélio FeCr2O4 cromita BeAI2O4 crisoberilo FeFe2O4 MAGNETITA

HIDRÓXIDOS

A (OH)n Mg(OH)2 BRUCITA AI(OH)3 GIBBSITA

Page 32: Geologia e mineralogia

28

A maioria dos óxidos de Al, Fe, Mn é uma parte dos Si e Ti, são

NEOFORMAÇÕES TÍPICAS DA PEDOGÊNESE. Sua extensão de formação

depende das condições de intemperismo - Iixiviação:

- Dessilicatização lenta = predomina formação de argilominerais

acompanhada de óxidos;

- Dessilicatização rápida = concentram-se principalmente os óxidos de AI e

Fe.

Estes minerais ocorrem na forma de cristais muito pequenos, unidos em

microagregados ou depositados na superfície de outros minerais, e assim

disseminados no solo; ou em acumulações localizadas (mosqueados, nódulos,

concreções, ferricretes, lateritas, placas, etc.) o que se destacam no solo ou na

paisagem.

PROPRIEDADES DOS ÓXIDOS

O desenvolvimento de carga variável nos óxidos origina-se de grupos OH

periféricos. As cargas desenvolvem nas superfícies hidroxiladas por dissociação

adsorção de prótons.

O pH no qual, em ausência de adsorção específica, a superfície não tem a

carga é denominado ponto isoelétrico (PIE);

pH onde carga superficial líquida é zero - PCZ;

pH do PCZ do quartzo < 2; anatásio 6-7

A matéria orgânica, óxido Si, fosfato e argila minerais diminuem PCZ dos

óxidos;

A. Quando o pH é mais ácido que o PCZ, a superfície do óxido gera carga (+),

atraindo ânions (Si e P).

B. Quando o pH é mais alcalino que o PCZ, a superfície do óxido gera carga (-),

atraindo cátions.

3.2. Óxidos e Hidróxidos de Ferro

Ferro é um dos principais constituintes da litosfera (5,1%). Nas rochas

magmáticas e metamórficas ocorrem, principalmente nos silicatos ferro-

Page 33: Geologia e mineralogia

29

magnesianos, na forma Fe2+. Nos solos, o teor médio de ferro é da ordem de 4%,

podendo chegar até 35% em solos derivados de basaltos e diabásios.

As duas formas de oxidação do Fe (Fe2- e Fe3-) e as condições ambientais

influem na formação, transformação e características dos diferentes minerais de

ferro.

PRINCIPAIS ÓXIDOS DE FERRO SISTEMA CRISTALINO

Goethita Ortorrômbico

Lepidocrocita Ortorrômbico

Ferridrita Hexagonal

Hematita Hexagonal

Maghemita Cúbico

Magnetita Cúbico

=> Goethita (α-FeOOH) - isoestrutural do diásporo α-AIOOH, ortorrômbico.

Planos de átomos de oxigênio em empacotamento hexagonal denso. Os Fe3+

ocupam posições octaedrais. Ocorre em quase todos os tipos de solos e de

regiões climáticas. Pode ocorrer associada à hematita.

=> Lepidocrocita (γ-FeOOH) - é um polimorfo da goethita e isoestrutural

com a boehmita y-AIOOH, consistindo em uma modificação cúbica do FeOOH,

ortorrômbico. Os átomos Fe+3 ocupam posições octaedrais e arranjados em fitas

duplas de octaedros como na goethita. A lepidocrocita é menos freqüente nos

solos do que a goethita e hematita. As condições hidromórficas, nas quais a falta

de oxigênio favorece a formação e precipitação de formas de ferro bivalente, são

aquelas onde sua presença é mais marcante.

=> Ferrihidrita (Fe2O3-9H2O) - óxido de Fe3+ com elevado grau de

desordem estrutural, hexagonal. É uma hematita semelhante à ferrugem, rico em

água adsorvida e muitas vezes associado à matéria orgânica. Sua ocorrência em

canais de drenagem ou junto a fontes de água é muito freqüente.

=> Hematita (α Fe2O3) - é isoestrutural do corindon α-Al2O3. O Fe3+ ocupa

2/3 das posições octaedrais, hexagonal. Cada Fe3+ é rodeado por 6 oxigênios

sendo que cada oxigênio é compartilhado por 4 íons Fe3+. É um mineral

característico de climas quentes e úmidos, estando ausente em solos de clima

Page 34: Geologia e mineralogia

30

temperado. Sua capacidade de pigmentação (cor vermelha) é maior que a

goethita, cujo efeito mascara, particularmente nas formas finamente dispersas.

=> Maghemita (γ Fe2O3) - quimicamente igual à hematita e estrutura

similar a magnetita, cúbica. Sua origem está associada, em ambientes mal

drenados, à presença de hidróxidos de Fe2+ e Fe3+ que, por oxidação e

desidratação, dariam origem a maghemita, tendo magnetita como mineral

intermediário. É um mineral especialmente comum em solos altamente

intemperizados de climas tropicais, embora ocorra também em regiões

temperadas.

=> Magnetita (Fe3O4) - litogênica de rochas ígneas, metamórficas e

sedimentares. Pode ser formada na solução durante oxidação do Fe2+, cúbica.

Pode estar - o areia dos solos. É óxido Ferroso - Férrico, mas vários elementos

(Co, Zn, Cu, Mn e Cr) podem substituir o Fe (1%) na estrutura. Sua presença é

facilmente detectada por imã, devido ao seu caráter fortemente magnético.

Um resumo das principais propriedades dos óxidos de ferro de ocorrência

comum nos solos é apresentado na tabela 7.

Tabela 7 – propriedades dos óxidos de ferro de ocorrência comum nos solos

Propriedade Nome do mineral

Hematita Maghematita Magnetita Goethita Lepidocrocita Ferrihidróxido

Fórmula α = Fe2O3 y = Fe2O3 FeFe2O4 α FeO2 y - FeOOH Fe5HOs 4H2O Fe5 (O4. H3)

Sistema cristalino

Hexagonal Isométrico ou

Isométrico Ortorrõmbico Ortorrõmbico Hexagonal Tetranonal

Dimensão da cela

a = 5,04 c = 13,77

a=8,34 a=8,39 a=4,65 a=3,88

a=5,08 b=9,49

b=10,02 b=12,54 c=3,04 c=3,07

Densidade 5,26 4,87 5,18 4,37 4,09 3,96

∆AGº kcal/mol

-177,7 163,6 -243,1 -117,0 -114,0 -166,5

Cor (Munsell)

Vermelho Bruno Preto

Bruno Vermelho

Bruno escuro Avermelhado Avermelhado Avermelhado

Forma dos cristais

(comum)

Hexagonal Cubos Cubos Acicular

Folhas Alongadas

Esférico chato

Os óxidos de ferro são responsáveis, junto com a matéria orgânica pela cor

do solo, participam de uma série de reações químicas importantes relacionadas à

fertilidade do solo.

Page 35: Geologia e mineralogia

31

3.3. Óxidos e Hidróxidos de Alumínio

Alumínio é um dos mais abundantes elementos da litosfera (8,1%) e dos

solos (média de 7%). Constitui, com oxigênio e silício, 82,5% da crosta (93% em

volume), formando o arcabouço dos silicatos, o mais importante grupo de

minerais.

Os principais óxidos e hidróxidos de alumínio estão agrupados na tabela 8.

Tabela 8 - Principais óxidos e hidróxidos de alumínio

NOME FÓRMULA

Diásporo α - AIOOH Boehmita у - AIOOH Bayerita α - AI (OH)3 Gibbsita у - AI (OH)3 Nordstrandita AI (OH)3 Coríndon α - AI2O3

Os mais comuns em solos brasileiros são Gibbsita e Boehmita.

Gibbsita, Bayerita e Norstrandita são constituídos pela mesma estrutura

fundamental: dois planos de íons OH em empacotamento hexagonal denso C/AI3+

entre e eles.

Page 36: Geologia e mineralogia

32

O óxido de alumínio (coríndon - A203) é isoestrutural com a hematita; é um

mineral primário formado em altas temperaturas (> 450°C) achado em rochas

ígneas e metamórficas e é pouco comum em solos.

Gibbsita é a mais comum das modificações polimórficas de AI(OH)3. É um

mineral comum em muitos solos, e também, em depósitos bauxíticos.

Experimentos de síntese mostram que em temperatura ambiente a

Gibbsita forma-se em soluções ácidas (pH < 6), onde a hidrólise é mais lenta.

O diásporo é encontrado em bauxitas lateríticas, e em condições de

síntese em condições ambiente.

3.3.1. Propriedades Químicas e Físicas

Óxidos de AI possuem baixa CTC e alta capacidade de adsorção P e Si,

sulfato de nitrato.

Alta capacidade de agregação, até maior que óxidos de Fe, com aumento

dos teores de óxidos de Fe e Al nos latossolos, a estrutura revela-se maior e mais

arredondada (microestrutura granular); aumento da taxa de infiltração de água e

porosidade, e diminuição nos valores de densidade do solo.

Page 37: Geologia e mineralogia

33

CAPíTULO 4 - GRUPO DOS SILlCATOS

4.1. Generalidades

Os minerais podem ser divididos e agrupados de diversas formas, sendo

uma das mais empregadas, didaticamente, aquela que o faz em dois grandes

grupos: os minerais silicatados e os não-silicatados. Os minerais silicatados,

como seu próprio nome diz, são aqueles em cuja estrutura é fundamental o

elemento silício, que está presente em 93% dos minerais que constituem as

rochas da ta terrestre. Os minerais não silicatados não têm o silício como seu

constituinte, representam aproximadamente, 7% dos minerais da crosta terrestre,

uma presença bastante reduzida. Pode-se concluir, dessa maneira, a relevância

do grupo dos silicatos na constituição das rochas.

A interpretação dos silicatos ficou definitivamente elucidada através do

conhecimento da sua estrutura. O principal fator influente na composição da

estrutura é o raio iônico dos elementos que constituem essa estrutura, isto é, a

relação dos raios iônicos (raio do cátion/raio do ânion) é que determina a

configuração dos diferentes poliedros de coordenação (tetraedros, triângulo,

octaedros, cubo, etc). Essa configuração é fundamentada no número de

coordenação (2, 4, 6, 8, etc.), que é definido pelo número de ânions que

circundam o cátion central. Os ânions, com raio maior distribuem-se em torno do

cátion, sendo que certo cátion se combinará com certo arranjo de ânions se o seu

raio iônico não for superior ao espaço livre deixado por eles. Sendo RSi = 0,42 e

RO =1,40, tem-se RSi / RO = 0,30, e indica que o número de coordenação do

silício em relação é 4, ou seja, o silício está igualmente ligado à quatro oxigênios,

em coordenação tetraédrica. Esse tetraedro pode ser considerado a peça

fundamental das estruturas dos silicatos (Figura 17).

Page 38: Geologia e mineralogia

34

Figura 17 - Um tetraedro isolado

Através de cargas livres, o oxigênio pode estabelecer ligações com outros

cátions, inclusive o próprio silício, de outro tetraedro, resultando na formação de

grupos de tetraedros (SiO4)4-, que compartilham entre si um ânion O2-. Este

compartilhamento pode ocorrer com até os quatro oxigênios de um tetraedro

(Figura 18).

Figura 18 - Dois tetraedros compartilhando um oxigênio

O termo polimerização é empregado para indicar essa capacidade de

compartilhar oxigênios, que os tetraedros (SiO4)4- apresentam.

Nesse tetraedro fundamental pode ocorrer a substituição do silício pelo

alumínio, o que é chamado de substituição isomórfica, que é a substituição de um

íon por outro na estrutura do mineral. É um fenômeno que ocorre na natureza,

porque esses íons ocupam as mesmas posições e não há, portanto, modificação

na estrutura. Esse fenômeno é controlado peio raio iônico dos elementos

envolvidos e pela neutralidade elétrica que deve ser mantida. Na ocorrência da

6-

Page 39: Geologia e mineralogia

35

substituição Si pelo AI haverá necessidade da presença de íons metálicos

adicionais para manter a neutralidade elétrica do sistema.

4.2. Classificação

A polimerização resulta em cadeias estruturais com diferentes tipos de

grupamento. A classificação dos silicatos baseia-se no tipo de cadeia e, portanto,

no grau de polimerização. Essa classificação é a seguinte:

a) Estrutura com tetraedros independentes

a.1.) Nesossilicato:

Na estrutura dos minerais pertencentes a esse grupo, os tetraedros

ocorrem isolados, sem nenhum contato direto uns com os outros. As ligações

tetraedro/tetraedro se fazem através de metais, fazendo com que os tetraedros

pareçam estar ilhados entre metais. O radical ou a fórmula básica característica

do grupo é o (SiO4)4- (Figura 19).

Figura 19. Estrutura dos nesossilicatos.

b) Estruturas com grupos finitos de tetraedros

b.1.) Sorossilicato:

Nesse grupo, os minerais têm as unidades tetraédricas ligadas aos pares

entre si. Esses pares se ligam a outros através de metais. Cada tetraedro

compartilha um oxigênio com outro tetraedro, mostrando grupamentos (Si2O7)6-

(Figura 20).

Page 40: Geologia e mineralogia

36

Figura 20. Estrutura dos sorossilicatos

b.2.) Ciclossilicato:

Nesse grupo, os minerais têm suas unidades tetraédricas arranjadas em

forma de anéis ou cadeias fechadas, sendo que cada tetraedro compartilha dois

oxigênios com os tetraedros vizinhos (dois oxigênios comuns aos tetraedros

adjacentes). Os anéis ou cadeias fechadas podem ser formados por 3, 4 ou 6

unidades tetraédricas, geralmente. Os anéis que constituem as cadeias podem

ser:

b.2.1.) Triangulares: grupamentos (Si3O9)6- (Figura 21).

Exemplo: Benitoita Ba TiSi3O9

Figura 21. Estrutura dos ciclossilicatos com anéis triangulares.

b.2.2) Quadrado: grupamentos (Si4O12)8- (Figura 22)

Exemplo: Axinita (Mg,Mn,Fe)3 Al2 BO3 Si4O12 OH

Figura 22 - Estrutura dos ciclossilicatos com anéis quadrados

Page 41: Geologia e mineralogia

37

b.2.3.)Hexagonais: grupamentos (Si6O18)12- (Figura 23)

Exemplo: berilo – Al2Be3Si6O18

Figura 23 - Estrutura dos ciclossilicatos com anéis hexagonais

c) Estruturas com grupos infinitos de tetraedros

c.1) Inossilicatos:

Estrutura em fios, com grupos de cadeias abertas que podem ser de

dois tipos.

c.1.1.) Cadeia simples: dois oxigênios de cada tetraedro são

compartilhados, cosntituindo uma corrente simples; grupamento (SiO3)2- (Figura

24).

Exemplo: diopsidio - CaMg (SiO3)2

Figura 24 - Estrutura dos inossilicatos de cadeia simples

Page 42: Geologia e mineralogia

38

c.1.2.) Cadeia Dupla: os tetraedros compartilham, alternadamente, 2 e 3

oxigênios, formando grupamentos (Si4O11)6- (Figura 25).

Todos os minerais do grupo dos anfibólios possuem esse tipo de estrutura.

Exemplo: Tremolita - Ca2Mg5 (OH)2 (Si4O11)2

Figura 25 - Estrutura dos inossilicatos de cadeia dupla

c.2.) Filossilicato:

Na estrutura desses minerais, os tetraedros formam verdadeiras lâminas,

com a característica de que cada tetraedro compartilhe 3 oxigênios com os

tetraedros vizinhos, formando grupamentos (Si2O5)2- (Figura 26).

Exemplo: caulinita - AI2(OH)4 Si2O5

Os minerais desse grupo sofrem c1ivagem em folhas finas.

Page 43: Geologia e mineralogia

39

Figura 26 - Estrutura dos Filossilicatos

c.3.) Tectossilicato:

Nesses minerais, a estrutura se caracteriza por algo semelhante a um

engradamento de tetraedros. Os quatros oxigênios de um tetraedro são

compartilhados pelos tetraedros adjacentes, formando um verdadeiro retículo

tridimensional, formando grupamentos (SiO2)0

Figura 27. Estrutura dos tectossilicatos.

Page 44: Geologia e mineralogia

40

A ocorrência de substituições iônicas de Si4+ por Al3+ gera cargas

negativas, que permitem a entrada de outros cátions (Figura 27).

Exemplo: Ortoclásio KAlSi3O8

EXEMPLOS E IMPORTÂNCIA

Serão relacionados alguns minerais de importância sob vários pontos de

vista: minerais de importância no estudo dos solos, tanto sob o ponto de vista da

gênese quanto do seu emprego como fertilizantes e corretivos; minerais

importantes industrialmente e até mesmo os que servem caracterizar alguns

grupos de minerais silicatados.

4.2.1. NESOSSILICATOS

São constituídos por unidades isoladas, isto é, os íons de oxigênio não se

ligam a nenhum outro silício; toda a carga da unidade é balanceada por cátions

independentes.

Os principais minerais são:

OLIVINA - (Mg, Fe)2 SiO4

É um dos representantes típicos dos minerais máficos ou

ferromagnesianos. É componente de algumas rochas básicas e ultrabásicas de

importância na formação dos solos. E um mineral de fácil decomposição pelo

intemperismo, liberando elementos nutrientes para o solo.

Page 45: Geologia e mineralogia

41

ZIRCONITA - ZrSiO4

Importante minério de zircônio é mineral de rochas magmáticas ricas em sílica.

Devido a sua alta resistência à decomposição, sua ocorrência na fração areia dos

solos é extremamente comum.

EUSTAUROLlTA - FeAI4O2 (OH)2 (SiO4)2

Mineral de rochas metamórficas é também de ocorrência comum na fração areia

dos solos.

Outros exemplos: granada, (Ca, Mg, Fe2+, Mn)3(AI, Fe3+)2(SiO4)3, topázio,

Al2(F, OH)2SiO4, cianita, silimanita e andaluzita, formas polimórficas de

composição AI(AIO)SiO4.

4.2.2. SOROSSILICATO

As estruturas mostram grupos independentes de dois tetraedros ligados

por um oxigênio comum. O grupamento é (Si2O7)6-. São poucos os minerais

pertencentes a este grupo, merecendo menção apenas a hemimorfita (ou

calamina), Zn4(OH)2Si2O7, importante minério de zinco.

Figura 29. Dois tetraedros ligados por um oxigênio comum.

4.2.3. CICLOSSILlCATOS

Nesse caso, três, quatro ou seis tetraedros se ligam através de oxigênios

para formar anéis triangulares, quadrados ou hexagonais. Restam, portanto, em

cada grupo (SiO4)4- apenas duas cargas elétricas, que são neutralizadas por

cátions independentes. Os ciclossilicatos de maior importância possuem

grupamento (Si6O18)12- e o mineral mais importante é a turmalina, (Na, Ca) (AI, Fe,

Li, Mg)3Al6(BO3)3(OH)4 Si6O18. É freqüente em rochas metamórficas que contém

Page 46: Geologia e mineralogia

42

boro, e bastante resistente ao intemperismo, sendo por isso comum em

sedimentos detríticos ou na fração areia dos solos. É, também, uma fonte natural

de boro, nutriente essencial às plantas e de grande importância para algumas

culturas.

4.2.4. INOSSILlCATO

Os tetraedros fundamentais ligam-se, através de oxigênios comuns, dando

formação a longas cadeias. Distinguem-se dois casos:

a) Cadeia simples

Possuem grupos (SiO4)4- ligados através de oxigênios comuns. Todos os

minerais do grupo dos piroxênios possuem esse tipo de estrutura (Figura 30).

Figura 30. Cadeia simples de tetraedros ligados

GRUPO DOS PIROXÊNIOS

Enstatita Mg2(SiO3)2

Hiperstenita (Fe, Mg)2 (SiO3)2

Diopsídio CaMg (SiO3)2

Hedenbergita Ca Fe(SiO3)2

Espodumênio LiAl(SiO3)2

Augita (Ca,Na) (Mg, Fe2+, Fe3+, Al) (Si,Al)2O6

A augita é o piroxênio de maior ocorrência, pelo fato de ser mineral

constituinte essencial de rochas de grande importância, como basaltos e

diabásios, aonde chegam a constituir até 40% da rocha

Page 47: Geologia e mineralogia

43

b Cadeia dupla

A estrutura básica desses silicatos pode ser interpretada como resultado

da associação de duas cadeias simples, unidas através de pontes de oxigênio.

Desse tipo mais complexo de cadeia resulta o radical (Si4O11)6-. Todos os

minerais do grupo dos anfibólios possuem esse tipo de estrutura.

Figura 31. Cadeia dupla de tetraedros ligados

GRUPO DOS ANFIBÓLlOS

Antofilita (Mg, Fe)7 (Si4O11)2 (OH,F)2

Tremolita Ca2Mg5 (Si4O11)2 (OH)2

Actinolita (Ca, Na)2 (Mg, Fe)5 (Si,AI)8 O22

Glaucofânio Na2 (Mg, Fe)3 AI2 (Si2O6)

Hornblenda Ca2 Na (Mg, Fe)4 (AI, Fe,Ti) AISi8 AIO22 (OH,O)2

O anfibólio de maior importância é a hornblenda, mineral comum em

rochas magmáticas e metamórficas de grande ocorrência.

Os anfibólios e os piroxênios podem ser enquadrados no grupo dos

minerais de fácil intemperização e são ricos em elementos essenciais às plantas,

principalmente Ca e Mg, que aparecem na sua composição. De modo geral, são

classificados como minerais máficos e estão presentes em rochas ígneas básicas,

que são importantes na formação de solos utilizados com maior intensidade na

agricultura.

Por terem íons metálicos ligando suas cadeias longitudinais, eles sofrem

clivagem relativamente fácil no sentido de cadeia e são, muitas vezes, fibrosos. A

actinolita e a tremolita são utilizados industrialmente como tecidos à prova de

Page 48: Geologia e mineralogia

44

fogo, telhas para construção, isoladores de calor e eletricidade, etc. O nome

vulgar (mais conhecido) da tremolita é amianto.

4.2.5. FILOSSILlCATO

O nome filossilicato (do grego phyllon = folha) indica o tipo de estrutura que

os minerais desse grupo apresentam, ou seja, estrutura em folhas superpostas.

As folhas fundamentais, presentes em todos os filossilicatos, é a folha de

siloxana, constituída de tetraedros (SiO4)4-, onde cada tetraedro reparte com os

tetraedros vizinhos, três de seus oxigênios, deixando um oxigênio apical, com

uma valência livre (estrutura em folhas onde cada tetraedro compartilha 3

oxigênios, dando grupamentos (Si2O5)2- (Figura 26). Como os oxigênios apicais

estão voltados para um mesmo lado, a camada de tetraedros está disposta em

forma de uma lâmina ou folha, com todos os tetraedros em um mesmo plano

(Figura 33).

Page 49: Geologia e mineralogia

45

A folha de siloxana não é eletricamente neutra, não constituindo, por si só,

mineral. Liga-se a dois outros tipos de folhas, que são:

a) Folha de brucita: é constituída de Mg2+ e (OH)- ligados em

coordenação 6, de modo que o magnésio ocupa o centro de um octaedro, nos

vértices dos ais encontram-se as hidroxilas (Figura 34). Estas folhas em que Mg2+

ocupa o centro dos octaedros formam a estrutura Mg3(OH)6 da brucita e, ainda,

dessa ocupação da Mg no centro de todos os octaedros originará folhas

trioctaédricas, pelo fato de ter cada (OH)- ligado a Mg2+ de 3 octaedros (Figura

35).

Figura 34 - Folha de brucita e gibbsita mostrando distribuição de octaedros

Figura 35 - Estruturas de folha trioctaédrica de brucita

Page 50: Geologia e mineralogia

46

b) Folha de gibbsita: semelhante à folha de brucita, da qual se diferencia

por ter Al3+ no lugar de Mg2+. Como o AI3+, possui valência maior, apenas 2/3 das

posições octaédricas são ocupadas pelo cátion, resultando na existência de 1/3

de octaedros vazios, isto é, sem Al3+ na posição central (Figura 36). Quando o

Al3+ ocupa o centro dos octaedros formam a estrutura AI2(OH)6 da gibbsita. É

também chamada folha dioctaédrica, por ter cada (OH)- ligado a Al3+ de 2

octaedros.

Das combinações de folhas de siloxana com folhas de brucita ou de

gibbsita resultam as estruturas dos minerais desse grupo.

Talco - Mg3 (OH)2 Si4O10

Na agricultura, pode ser usado como veículo para inseticidas, dentre os

quais o DDT, o BHC, etc.

Industrialmente é utilizado na indústria têxtil, na fabricação de giz, etc.

I) Grupos das Micas

A substituição de cerca de ¼ dos silícios, através de substituição iônica,

provoca o aparecimento de carga suficiente para admitir a presença de cátions

monovalentes de tamanho grande e que vão se alojar entre as camadas. O cátion

de ocorrência mais comum é o K+, seguido pelo Na+ e as estruturas podem ser

assim deduzidas:

Page 51: Geologia e mineralogia

47

Si2O5 + Al2(OH)6 + AISiO5 + K+ - 4(OH)- → KAI2 (OH)2 AISi3O10 (muscovita)

Si2O5 + Mg3(OH)6 + AISiO5 + K+ - 4(OH)- → KMg3 (OH)2 AISi3O10 (flogopita)

Si2O5 + Al2(OH)6 + AISiO5 + Na+ - 4(OH)- → NaAI2 (OH)2 AISi3O10 (paragonita).

Os cátions K+ e Na+ prendem mais fortemente que as ligações de Van der

Walls. Conseqüentemente, a estrutura torna-se mais rígida, desaparece o

deslizamento das camadas perdendo a untuosidade, fazendo com que aumente a

dureza do mineral.

Existem as micas quebradiças, sendo as representantes principais a

margarita (Ca2Al4 (AI4Si4O20)(OH)4) e xantofilita (CaMg3 (OH)2 AI2Si2O10).

As micas estão entre os minerais mais disseminados da natureza, estão

presentes em, praticamente, todos os grupos de rochas mais importantes.

Muscovita - KAI2 (AISi3O10) (OH)2

É a mica mais comum, a mais empregada comercialmente e é chamada

mica branca ou malacacheta. Quando presente na rocha de origem é comum a

sua presença na fração areia do solo formado, devido a sua grande dificuldade de

decomposição pelo intemperismo.

Biotita - K(Mg, Fe)3 (OH), F)2 Si3AIO10

É chamada de mica preta ou mica ferromagnesiana. Apresenta grande

importância na formação dos solos, pois, devido à presença de Fe, facilmente

oxidável na sua estrutura, ela se decompõe facilmente, liberando seus

constituintes. Assim, os solos que se originam de rochas ricas em biotita,

raramente são deficientes em potássio.

Pode ser utilizada industrialmente na fabricação de lubrificantes.

Flogopita - KMg3 (OH, F)2 SiAIO10

É chamada de mica magnesiana e sob ação do intemperismo dá origem a

vermiculita.

Page 52: Geologia e mineralogia

48

I.i) Minerais de Argila

O termo argila é empregado em dois sentidos:

- granulometricamente: fração mais fina dos sedimentos (diâmetro inferior a 2 µ);

- mineralogicamente: grupo de minerais que são silicatos hidratados de alumínio.

São minerais secundários, resultantes de decomposição de outros silicatos

principalmente feldspatos e feldspatóides.

Apresentam hábito terroso, cor branca, mas usualmente coloridas por

impurezas, principalmente, óxidos de ferro, que são infusíveis e insolúveis.

Como todos os filossilicatos, os argilominerais apresentam estruturas

semelhantes, laminares, constituídas por associações de camadas tetraédricas de

silício com camadas octaédricas de alumínio ou magnésio.

Esses minerais são da mais alta importância no estudo da Pedologia por

serem componentes da fração argilas, que afeta todo comportamento

físicoquímico do solo. Embora na fração argila dos solos estejam presentes todos

os minerais que possuem dimensão inferior a 0,002 mm de diâmetro, o número

daqueles que são chamados minerais argilosos ou argilominerais se restringe

apenas aos minerais silicatados como caulinita, montmorilonita, etc.

Segue-se uma classificação dos principais argilominerais.

I.i.1.) Grupo das Caulinitas

Os minerais deste grupo têm estrutura 1:1, cada camada constituída de

uma folha de siloxona ligada a uma de gibbsita (Figura 37).

A estrutura é rígida e o espaçamento entre as camadas (7,2 Å) é

suficientemente pequeno para impedir a entrada de água, que fica apenas

adsorvida à superfície externa das partículas.

Pertencem a este grupo os seguintes argilominerais:

Page 53: Geologia e mineralogia

49

Figura 37 - Estruturas da caulinita.

- Caulinita: principal representante do grupo e de ocorrência geral nos

solos brasileiros. Al2Si2O5(OH)4

- Dickita: mesma composição química da caulinita, apenas com diferenças

estruturais. Pode apresentar tamanho de partícula acima do limite da fração

argila.

- Nacrita: mesma composição química das anteriores, das quais difere as

estruturalmente.

- Anauxita: apresenta maior teor de sílica, que ocorre como camadas

extras de SiO2, entre as camadas 1:1, do mineral.

- Haloisita: mesma composição química da caulinita, apenas com

diferenças estruturais; Al2Si2O5(OH)4 2H2O (mais hidratada)

I.i.1.) Grupo das Esmectitas

Os minerais deste grupo possuem estrutura 2:1, onde 2 folhas de

siloxana intercaladas por 1 folha de gibbsita (esmectitas dioctaédricas)

ou 1 folha de brucita (esmectitas trioctaédricas). (Figura 38).

7.2 Å

Page 54: Geologia e mineralogia

50

Esses argilominerais apresentam propriedade de expansão quando úmidos

e de contração quando secos, provocando movimentação do solo, facilmente

observável em solos ricos desses minerais.

Apresentam como característica importante, grande quantidade de

substituições iônicas, tanto nas folhas de siloxana como nas folhas octaédricas.

Os principais minerais do grupo são:

- Montmorilonita: é o principal representante do grupo. A substituição de

Al3+ por Mg2+ permite distinguir as montmorilonitas dioctaédricas, onde predomina

o Al3+, das montmorilonitas trioctaédricas, cuja predominância é de Mg2+. Possui

partículas de menor tamanho, o que Ihe dá uma grande superfície de adsorção.

Figura 38 - Estruturas de montmorilonita

Page 55: Geologia e mineralogia

51

- Beidilita: é o argilomineral mais aluminoso do grupo, em conseqüência a

grande quantidade de Si4+ substituído por AI3+. Sua capacidade de expansão é

menor que das demais esmectitas.

- Nontronita: ocorre substituição parcial de Al3+ por Fe3+ nas folhas

octaédricas. De acordo com a extensão dessa substituição, pode-se distinguir as

nontronitas comuns das aluminosas.

- Saponita: é a representante magnesiana do grupo, contendo folhas de

brucita em lugar das de gibbsita.

- Sauconita: contém Zn2+ substituindo Mg2+, em quantidades variáveis, nas

folhas octaédricas.

- Hectorita: contém Li+ substituindo Mg2+. Pode conter, também, F-

substituindo o (OH)-

I.i.3) Grupo das Hidromicas

Os minerais deste grupo situam-se estruturalmente entre as micas e as

esmectitas. A substituição do Si4+ por Al3+ nas folhas de siloxana é menor que nas

micas, acarretando a entrada de menor quantidade de K+ entre as camadas.

A estrutura é do tipo 2:1, com camada intermediária de K+, semelhante a

muscovita (Figura 38). A presença de K+ entre as camadas impede a entrada de

água nesses espaços tornando a estrutura não expansiva.

O único mineral de importância no grupo é a ilita, de ocorrência comum em

alguns solos, embora raramente seja o argilomineral predominante.

Figura 39 - Estrutura da ilita

Page 56: Geologia e mineralogia

52

I.i.4) Vermiculita

Apresenta estrutura 2:1, tendo as camadas separadas por lâminas

bimoleculares de água (Figura 40). A folha octaédrica é de brucita, ocorrendo

substituição de Mg2+ por Fe2+, em proporções variadas.

A vermiculita é incluída no grupo dos argilominerais quando ocorre em

solos, no tamanho de fração argila. Esta vermiculita é derivada de alteração

intempérica de outros filossilicatos, como micas e cloritas. Existe a

macrovermiculita, proveniente da alteração metassomática de minerais

ferromagnesianos, que ocorre em jazidas ao conceito de argilomineral.

É característica, nesse mineral, a expansão de sua estrutura, quando

aquecido a temperaturas entre 300 e 900°C.

Figura 40. Estrutura da vermiculita

I.i.5.) Clorita

Sua estrutura é semelhante à da vermiculita, contendo uma camada de

brucita entre as das 2:1, em lugar da camada de água que ocorre na vermiculita.

Essa estrutura é também considerada como 2:2 ou 2: 1: 1 (Figura 41).

Semelhante a vermiculita é considerada argilomineral quando ocorre em

solos e sedimentos, resultante de alteração intempérica. Quando resulta da

alteração metassomática, seu tamanho é maior que o dos argilominerais.

Page 57: Geologia e mineralogia

53

Figura 41 - Estrutura da clorita.

I.i.6.) Minerais Interestratificados

O termo, geralmente, se aplica a todos os minerais que apresentam num

único cristal, celas unitárias ou camadas de dois ou mais tipos. A

interestratificação mais comum em solos é a interação de camadas 2:1 com

camadas 2:1:1 (cloritas). Dessa maneira pode-se distinguir os intraestratificados

mica-clorita, vermiculita-clorita, montmorilonita-clorita ou ainda mica-

montmorilonita-clorita.

A ocorrência desses minerais em solos, principalmente em solos tropicais,

e bastante comum. As características desses minerais dependem sobremaneira

do tipo e da intensidade de interestratificação (Figura 42).

Figura 42 -Esquema da estrutura da vermiculita, clorita e o mineral interestratificada intermediário.

Page 58: Geologia e mineralogia

54

4.2.6. TECTOSSILlCATOS

Reúnem as espécies minerais mais abundantes na litosfera da qual

constituem cerca de 75%. Ocorrem em praticamente todas as rochas e em todos

os solos. São constituintes essenciais da fração areia dos sedimentos, aonde

chegam a constituir a sua quase totalidade. Representa o mais elevado grau de

polimerização. Os tetraedros (SiO4)4- ligam-se tridimensionalmente, onde cada

tetraedro tem seus íons oxigênio compartilhados com os adjacentes. Portanto, a

estrutura tem uma relação Si:O de 1:2 e conseqüentemente pertencem ao grupo

da sílica.

Os minerais desse grupo são classificados de acordo com a intensidade de

substituição de Si por AI e de acordo com o cátion existente para o equilíbrio do

excesso de carga negativa.

Desta forma distinguem-se o quartzo e seus polimorfos, os feldspatos,

feldspatóides e as zeólitas.

I) Quartzo e Formas Polimorfas

O quartzo (SiO2) é a variedade cristalina da sílica. A sílica pode cristalizar-

se em várias formas polimórficas (mesma substância química que existe sob duas

ou mais formas fisicamente distintas): quartzo, tridimita e cristobalita, incluindo

cada uma das modificações a de baixa temperatura e β de alta temperatura.

O quartzo é um dos minerais mais abundantes da crosta terrestre, sendo

constituinte principal de muitas rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares.

Sua importância agrícola não se deve a sua qualidade como fornecedor de

nutriente ás plantas e sim como constituinte dos solos. A estrutura espacial do

quartzo pode ser vista na Figura 43.

Page 59: Geologia e mineralogia

55

Figura 43 - Estrutura espacial do quartzo 13 (SiO2).

O quartzo é muito resistente ao intemperismo ou alterações nas condições

normais dos solos. Devido a isso é encontrado principalmente nas frações mais

grosseiras dos solos (cascalho, areia e silte). Seus cristais individualmente são

prismáticos, sua dureza é elevada e sua densidade é de 2,65.

I.i.) Feldspatos

Os feldspatos são tectossilicatos que aparecem devido à substituição

isomórfica do Si pelo Al nos retículos dos tetraedros. Sendo assim, eles são, por

definição, aluminossilicatos que apresentam metais alcalinos ou alcalino terrosos

como Na, K e Ca, que aparecem para manter a neutralidade elétrica do sistema

após a substituição isomórfica. Nos feldspatos potássicos e sódicos,

aproximadamente 25 % do silício é substituído pelo alumínio; nos feldspatos

cálcicos, a substituição chega a 50% (Figura 44).

Page 60: Geologia e mineralogia

56

Figura 44. Esquema da estrutura de um feldspato

Quimicamente os feldspatos se dividem em três grupos: "feldspatos

potássios, feldspatos calcossódicos (plagioclásios) e feldspatos báricos que são

de ocorrência restrita nos solos (Tabela 9).

Tabela 9 - Classificação química dos feldspatos

POTÁSSICOS

Ortoclásio

Microclina KAISi3O8

FELDSPATOS CALCOSSÓDICOS

(PLAGIOCLÁSIOS)

Albita NaAISi3O8

Oligoclásio

Andesina

Labradorita

Bytownita

Anortita CaAI2Si2O8

BÁRICOS

Celsiana BaAI2Si2O8

Hialofana (K, Na, Ba)AI2Si2O8

Os feldspatos potássicos e os plagioclásios são muito comuns em rochas

magmáticas, sendo também freqüente em rochas sedimentares e metamórficas.

São fonte primária de K e Ca para plantas e organismos do solo, devendo-

se sempre considerar a sua presença ao avaliar a fertilidade natural dos solos.

Page 61: Geologia e mineralogia

57

I.i.i.) Feldspatóides

Os feldspatóides possuem teor de silício mais baixo que o dos feldspatos

30 a 40 % conseqüentemente a substituição de Si por AI é maior. Forma-se em

ambientes pobres em silício e ricos em íons alcalinos.

A nefelina é mais comum nesse grupo, caracterizada pela composição (Na,

K)AISiO4. Está associada normalmente às rochas alcalinas, sendo comum em

fonolitos, sienitos e alguns basaltos. A leucita (KAISi2O6) é um feldspatóide rico

em potássio. A sodalita (Na4(AISiO4)3CI) é rica em sódio e cloro. Geralmente, este

grupo é pouco estável e muito sujeito à alteração por intemperismo.

I.v.) Zeólitas

De ocorrência restrita nos solos, as zeólitas formam-se na fase hidrotermal

de resfriamento magmático, sendo comumente encontrada preenchendo fendas,

cavidades ou fissuras de rochas magmáticas básicas. Possuem grande

capacidade de adsorção de água e capacidade de troca catiônica (CTC). São

tectossilicatos de estrutura aberta e sua origem é, normalmente, secundária.

Ex. Natrolita - Na2AI2Si3O10 . 2H2O (Comum em cavidades de rochas basálticas).

Analcima - AISi2O6Na . H2O (comum em rochas ígneas intermediárias a básicas).

Page 62: Geologia e mineralogia

58

CAPÍTULO 5 - INTEMPERISMO

5.1. Considerações Gerais

Intemperismo é o processo geológico mais importante e próximo da vida do

homem. Todos os dias o homem necessita comer para viver, se o alimento que

ele ingere se cria ou no solo agrícola, ou nas águas de superfície da terra, ambos

dos quais, obtém seu conteúdo de nutrientes inorgânicos por meio do processo

de intemperismo. Por isto, a vida do homem e sua energia biológica são

possíveis, somente por causa do intemperismo das rochas e minerais.

Mas a energia biológica que o homem obtém do alimento criado sobre os

produtos do intemperismo é excessivamente pequena quando comparada a

outras energias, que ele também usa, e que devem sua origem ao intemperismo

como um estágio intermediário. Assim é o caso da produção de carvão, petróleo,

gás natural, minerais radioativos, etc.

Neste capítulo abordaremos um dos aspectos mais importantes

relacionados a mineralogia e formação dos solos.

Por intemperismo entende-se, segundo BESOAIN (1985), a alteração,

tanto em composição como em tamanho dos minerais e rochas da superfície

terrestre que se encontram em contato com agentes da atmosfera, hidrosfera e

biosfera.

MILOVSKI e KANONOV (1985) definem intemperismo acrescentando o

conceito de estabilidade: "O intemperismo é a soma de todos os processos, que

atuam na destruição mecânica e decomposição química de rochas e minerais,

que não são estáveis em condições superficiais."

Sempre que falamos em estabilidade ou instabilidade estamos nos

referindo, na realidade, com condições de equilíbrio ou não equilíbrio.

Tomando essas duas definições como ponto de partida e lançando mão da

idéia de equilíbrio poderíamos entender intemperismo da seguinte maneira:

- O intemperismo é resultante da interação de rochas, minerais, biosfera,

hidrosfera, etc. Cada um desses componentes será designado de fase: fase água,

fase mineral, fase ar, etc. O conjunto de todas as fases recebe o nome de

sistema.

Page 63: Geologia e mineralogia

59

- Quando existe desequilíbrio entre as fases do sistema, estas se

modificam através de reações que ocorrem entre elas. As reações ocorrem

seguindo certos procedimentos ou processos.

- O meio ambiente típico do intemperismo se localiza próximo à superfície,

apresenta temperatura e pressão baixa (próximo a 25° C e 1 atm). Conta com

presença de soluções aquosas e gases atmosféricos e, invariavelmente, está

associada à menor ou maior atividade biótica.

- As reações de intemperismo são termodinamicamente espontâneas

(catalisadas ou não), se processam num sistema aberto e necessariamente

envolvem perda de energia livre.

O estudo do intemperismo é sempre muito complexo, pois envolve grande

número de fases do sistema e exige um determinado tempo cronológico.

Para se avaliar resultados de pesquisas sobre intemperismo, deve-se

antes de tudo, considerar a metodologia utilizada e depois fazer afirmações

acerca deste. A análise à esmo e a não observância de procedência e limite de

validade levam à generalizações indevidas, errôneas e, perigosas, que são muito

comuns quando se fala em intemperismo.

A seguir serão apresentados dois trabalhos realizados em diferentes

épocas por diferentes autores sobre o intemperismo. O primeiro é o clássico

trabalho de Goldich, publicado em 1938.

5.1.1. Trabalho de Goldich (1938)

O autor define seu trabalho como uma tentativa de analisar as

modificações químicas e mineralógicas que ocorrem durante o intemperismo de

certas rochas de alguns locais diferentes que foram selecionados devido à

facilidade de acesso pelo autor ou pela disponibilidade de amostras.

GOLDICH analisou amostra de algumas rochas (granito-gnaisse, diabásio

e anfibólio) química e mineralogicamente e seus respectivos produtos de

alteração. Para a época, as análises foram muito completas e detalhadas e

lançando mão das mais avançadas técnicas. Através de artifícios matemáticos

simples e considerando o teor de AI2O3 constante durante o intemperismo,

GOLDICH determinou as mudanças químicas que ocorrem durante o

intemperismo (Figura 45 e Figura 46).

Page 64: Geologia e mineralogia

60

Figura 45 – Ganhos e perdas de um granito/gnaisse durante o intemperismo (compoição

mineralógica inicial: ortoclásio, microlina, quartzo, biotita e hornblenda). (Goldich,

1938)

Figura 46 - Ganhos e perdas de um diabásio durante o intemperismo (composição mineralógica

inicial: plagioclásio, augita, magnetita, biotita, apatita e homblenda). (Goldich, 1938).

Page 65: Geologia e mineralogia

61

Pelos gráficos percebe-s que durante o intemperismo há perda de certos

elementos e o ganho de outros. E geral, o número e a quantidade de elementos

perdidos, isto é, elementos que saíram das estruturas cristalinas dos minerais e

foram removidos do sistema é bastante elevada. As bases Ca, Mg, K, Na e Mn

são removidas em grande quantidade. Outros como o S e o P também

diminuíram no granito-gnaisse. Para o aumento acentuado de P205 (Figura 37)

não houve explicações. O Fe das rochas magmáticas se encontra principalmente

na forma Fe+2. Durante o intemperismo essa forma se oxida a Fe+3, explicando-

se dessa maneira o aumento de Fe2O3. A quantidade de água e CO2 também

aumentou durante o intemperismo de forma bastante acentuada. As perdas em

ordem decrescente para o granito-gnaisse foram: Na > Ca > Mg > K > P > Si > S >

Fe2+ > Mn.

No caso do diabásio, as perdas em ordem decrescente foram: Fe2+ > K >

Mn > Mg > Ca > Si > Na.

Observa-se que a ordem não é a mesma, mas que há tendências em

comum entre as duas rochas.

Fato semelhante observou-se em relação ao anfibolito.

Figura 47. Ganhos e perdas durante o intemperismo de algumas rocha básicas de GOLDICH (1938)

Além da composição química, Goldich estudou e quantificou

mineralogicamente as rochas e seus produtos de alteração (Tabela 10).

Page 66: Geologia e mineralogia

62

Tabela 10 - Composição mineralógica do granito-gnaisse e seu produto de alteração. Adaptada da

Tabela 6 de GOLDICH (1938).

Espécie Rocha Fresca Rocha Intemperizada Variação*

(%) (%) (%)

Quartzo 30 34 0

Feldspato - K 19 12 -34

Plagioclásio 40 1 -98

Biotita 7,0 0,9 -88

Hornblenda 1,0 0,02 -98

Óxidos de Fe 1,5 4,3 +155

Apatita 0,2 0,0 -100

Caulinita 0,0 44 -

* Variação % normalizada pelo quartzo

Considerando o teor de quartzo constante, percebe-se que todos os

minerais primários encontrados na rocha - feldspato-K, plagioclásio, biotita,

hornblenda e apatita - apresentaram apreciável diminuição, formando-se em seu

lugar minerais secundários, de tamanho muito pequeno (fração argila) como a

caulinita, que não existia no material original, e os óxidos de Fe.

Outra maneira de representar esses dados é através de diagramas de

variação (Figura 48).

Page 67: Geologia e mineralogia

63

Figura 48 - Diagrama de variação da alteração do granito-gnaisse (Goldich, 1938).

Baseado nesses dados, na literatura existente na época e em observações

e experiências profissionais, GOLDICH sugeriu uma série de estabilidade dos

minerais mais comuns formadores de rochas magmáticas (Figura 49).

Figura 49 - Série de estabilidade dos minerais em relação ao intemperismo (Goldich, 1938)

O autor tece os seguintes comentários com relação á série de estabilidade:

Page 68: Geologia e mineralogia

64

“ O arranjamento dos minerais nessa série de estabilidade é o mesmo da série de

cristalização magmática apresentada por BOWEN1. Essa série, no entanto, não

deve ser interpretada como uma série de reações. Não deve ser inferido que a

olivina se intemperiza a piroxênio, mas que, numa rocha magmática normal

contendo olivina e piroxênio, a taxa de decomposição da olivina deve ser maior

do que a do piroxênio. Analogicamente, permanecendo todas as condições

iguais, a e decomposição do gabro é maior do que a do granito.

A Série de Bowen* reflete a estabilidade dos minerais sob condições de

equilíbrio (composição, pressão e temperatura) de seu ambiente de formação.

Estas condições são drasticamente diferentes das condições da superfície, onde

ocorrem as reações de intemperismo. É por essa razão que os minerais se

intemperizam. Talvez a diferença entre as condições de equilíbrio na hora da

formação dos minerais e as existentes na superfície governe a seqüência de

estabilidade.

O princípio da série de estabilidade apresentada é uma generalização de

informações acumuladas.

A Série de Goldich é claramente empírica, no sentido de ter sido elaborada

a partir de dados experimentais, não existindo base o explicação científica acerca

dos princípios envolvidos.

Não é possível, a partir da série de Goldich, compreender porque o quartzo

é mais estável do que o plagioclásio - Ca ou a olivina, sabe-se apenas que tal

comportamento é esperado nas condições normais de intemperismo.

Ambos os autores referem-se à Série de Goldich como a série de

estabilidade dos minerais da fração areia e silte, talvez pelo fato desses minerais

serem normalmente encontrados na fração areia ou silte.

5.1.2. Trabalho de Chesworth (1973)

CHESWORTH (1973) utilizou como dados básicos para seu trabalho a

composição média do granito de uma certa região e a composição das águas

subterrâneas onde predomina esse granito.

1 BOWEN (1922) apresentou uma série de cristalização ou solidificação das rochas magmáticas, a

partir do magma no estado fluído, em ordem decrescente de temperatura. Essa série é a mesma

encontrada por Goldich. Na Série de Bowen a olivina se solidifica nas temperaturas mais elevadas e o quartzo nas temperaturas mais baixas

Page 69: Geologia e mineralogia

65

Foi assumido que as águas subterrâneas continham os componentes

provenientes do intemperismo das rochas e dos solos dessa região. Essa água

atuaria com um meio de mobilização ou remoção desses componentes do

sistema.

Tabela 11 - Média de análise parcial de granito e águas subterrâneas de regiões graníticas (% peso)

GRANITO ÁGUA MÉDIA SUBTERRÂNEAS NORMALIZADO*

SiO2 70,2 27,6 65,7 Al2O3 14,5 0,4 1,0 Fe(total) Fe2O3 2,6 0,6 1,4 MgO 1,1 9,2 21,0 CaO 1,1 24,3 65,1 Na2O 3,3 13,0 31,0 K2O 4,0 4,8 11,4

* Normalizado com relação ao Al2O3. os valores expressos são relativos a uma taxa de lixiviação do Al2O3 = 1,0

Um simples diagrama de subtração pode ser calculado, utilizando-se os

valores normalizados como indicadores do coeficiente angular das retas, para

demonstrar que vão permanecer após um período prolongado de intemperismo I

lixiviação são SiO2, Al2O3 e Fe2O3 (Figura 50).

Figura 50 - Perda de componentes de um granito em função do tempo.

Page 70: Geologia e mineralogia

66

O SiO2, apesar de apresentar uma taxa de perda muito elevada aparece

como produto final do intemperismo, devido a grande quantidade encontrada no

material de origem (granito).

Se a tendência do intemperismo é a perda total das bases (Ca, Mg, Na e

K) resultando um sistema composto unicamente por Si, AI e Fe - chamado pelo

autor de sistema residual de intemperismo - os minerais encontrados nesse

sistema vão poder apresentar apenas Si, AI e Fe como cátions. Os minerais mais

comuns que apresentam tal composição química seriam:

- quartzo (SiO2) e as variações opala e calcedônea;

- gibsita (AI (OH)3); - boemita (AI (OH));

- goethita (FeO (OH)); - hematita (Fe2O3)

- caulinita (Al4/Si4O10/(OH)) - haloisita (Al4Si4 (OH)8 O10 . 8H2O) e mais alguns

outros de menor ocorrência.

Anteriormente à perda de todas as bases, minerais diferentes dos que se

enquadram no sistema residual podem ser formados apesar de terem existência

apenas transitória (esse termo refere-se ao tempo geológico e não cronológico!).

O esquema que o autor apresenta é bem geral não podendo ser utilizado para

explicar casos específicos, mas a abordagem é interessante e possibilita um bom

entendimento do processo geral de intemperismo.

5.2. Mecanismos e Processos de Intemperismo

O intemperismo é dividido normalmente em intemperismo físico e químico.

No intemperismo físico a rocha original desintegra-se em material de

granulometria menor, sem que ocorram, contudo mudanças químicas ou

mineralógicas significativas. No intemperismo químico há, além das alterações

granulométricas, alterações químicas ou mineralógicas. Alguns consideram ainda

o intemperismo biológico, o qual atua pela ação de organismos vivos e de

produtor orgânicos sobre rochas e minerais. Como estas ações se dão através de

processos físicos e de reações químicas, muitos autores o incluem nos 2

primeiros.

Na natureza, o intemperismo físico e químico ocorrem associados e é

quase sempre difícil isolar o efeito de um ou de outro.

Page 71: Geologia e mineralogia

67

5.2.1. Intemperismo Físico

O mecanismo comum a todos os processos de intemperismo físico é o

surgimento de tensões internas nas rochas suficientemente fortes para fraturá-las.

Tais mecanismos visam reduzir o tamanho dos minerais, não interferindo na

composição química.

Os processos mais comuns do intemperismo físico são:

a) Alívio de pressão devido à erosão

Com a erosão do material depositado acima da rocha há um alívio de

pressão fazendo com que a rocha possa se expandir (Figura 51).

Esse tipo de expansão causa normalmente fraturamento em ângulos retos

e relação ao sentido do alívio de pressão, desenvolvendo em fendilhamento -

paralelo à superfície.

Figura 51 - Alívio de pressão e fraturamento de uma rocha

b) Expansão de água ou sais

A água ao se converter em gelo tem seu efeito expansivo ao redor de 10

%. O máximo de pressão em que a água não consegue mais se congelar é de

2.130 atm a -22°C e 678 atm a -10°C.

Quando a pressão for acima desses valores, há transformação da água em

gelo e conseqüentemente ocorre à expansão de 10 % (Figura 52).

Para que haja ruptura de fraturamento de rochas devido à esse

mecanismo, as temperaturas mais eficazes variam entre -15 e -22°C.

A eficiência do efeito do congelamento vai depender do ambiente, onde a

temperatura ambiente flutue nos 0°C.

Page 72: Geologia e mineralogia

68

O mesmo efeito ocorre quando há cristalização de sais a partir de soluções

supersaturadas em fendas ou outros espaços vazios da rocha.

Os sais normalmente apresentam um coeficiente de expansão térmico

maior do que o das rochas comuns. O fraturamento devido a maior expansão dos

sais é um processo importante de desintegração física em deserto, onde a

oscilação térmica é acentuada.

Figura 52 - Fendilhamento provocado pelo gelo

c) Variações Térmicas

Cada mineral possui um coeficiente de dilatação térmica diferente. Tome-

mos como exemplo o quartzo e o feldspato que sob mesma temperatura tem

diferença no aumento de volume. Em grandes amplitudes térmicas muito

repetitivas, pode ocorrer devido às dilatações diferenciadas, um enfraquecimento

dos pontos de união na periferia dos cristais isolados. Com isso, haverá o

desprendimento desses cristais.

Tal mecanismo atua na parte mais externa das rochas, principalmente em

partes angulosas, levando a um arredondamento das mesmas.

Um exemplo desse tipo de ação do intemperismo seriam os matacões de

esfoliações da era Pré-Cambriana no Estado de São Paulo, que são grandes

rochas graníticas arredondadas de ocorrência comum (Figura 53).

Em locais, onde a queima de vegetação é constante, a ação do fogo pode

acelerar sobremaneira a esfoliação das rochas.

Page 73: Geologia e mineralogia

69

Figura 53 - Formação de um matacão de esfoliação.

d) Ação mecânica das raízes e outros organismos vivos

As ações de expansão radicular dentro de fendas ou poros da rocha

podem levá-las a um acentuado fraturamento. Em muitos solos rasos é notável o

desenvolvimento de raízes em camadas mais profundas onde praticamente só

encontramos rochas. A ação presente de formigas térmitas (cupins) e outros

seres vivos maiores pode, em alguns casos, também exercer certa ação

mecânica sobre as rochas.

Como vimos, os processos físicos de intemperismo tendem a diminuir o

tamanho das partículas. Diminuindo-se o tamanho, aumenta-se a superfície

específica das partículas, acelerando e facilitando dessa maneira as reações

químicas do intemperismo (quanto menor o tamanho, maior é a reatividade de

uma substancia sólida).

5.2.2. Intemperismo Químico

O intemperismo químico consiste na modificação da composição química e

mineralógica do material. Os produtos são novos minerais ou acumulações

residuais de alguns minerais primários pouco solúveis.

O intemperismo químico ocorre porque rochas e minerais raramente estão

em equilíbrio (físico químico) com a composição da água, temperatura e pressão

da superfície da terra. Os produtos que se formam a partir desse intemperismo

são mais estáveis no meio ambiente da superfície. Se o meio ambiente do solo

Page 74: Geologia e mineralogia

70

sofre novas ou contínuas alterações, assim também o farão os produtos iniciais

do intemperismo. Existem vários processos pelos quais as rochas minerais

comuns se intemperizam quimicamente.

5.2.2.1. Processos de Intemperismo Químico

a) Hidrólise

A hidrólise é o processo de intemperismo mais importante para a maioria

dos silicatos.

No caso de minerais, a hidrólise se refere especificamente à reação entre

íons H+ e OH- da água e elementos ou íons do mineral de rocha. A água, ou

melhor, a solução do solo, contém sempre além do H+ e OH- da dissociação da

água, grande quantidade de outros íons que podem também, participar das

reações. A hidrólise ocorre pela substituição dos íons da superfície dos minerais

por íons H+ ou OH-. Com isso, há a liberação desses íons para a fase líquida e um

aumento do pH da solução. Para os feldspatos, pode-se representar

esquematicamente a seguinte reação:

KAI Si O4 + 4 H2O → AI SiO4 (OH)4 + KOH

Feldspato + água Feldspato + hidróxido de potássio

Para um aluminosilicato a equação geral seria:

Aluminosilicato + H2O + H2CO3 → mineral + cátions + OH- + HCO-3 + H4SiO4

de argila

O ácido mostrado aqui é o H2CO3, mas outros ácidos, tais como os ácidos

originados da decomposição da matéria orgânica, são também importantes fontes

de H.

Equações mais detalhadas sobre hidrólise são apresentadas a seguir:

2 KAlSi3O8 + 2H+ + 9H2O → H4Al2SiO4 + 4H4Si04 + 2K+

(ortoclásio) (caulinita)

2 KAlSi3O8 + 2H+ + 12H2O → KAl3Si3O10(OH)2 + 6H4SiO4 + 2K+

(ortoclásio) (ilita)

Page 75: Geologia e mineralogia

71

2NaAlSi3O + 2H+ + 9H2O → H4Al2SiO4 + 4H4SiO4 + 2Na +

(albita) (caulinita)

2NaAlSi3O + 6H+ + 28H2O → 3Na0,66Al2,66Si3,33O10(OH)2+ 14H4SiO4 + 6Na+

(albita) (montmorilonita)

Os cátions podem permanecer no solo como integrante da grade cristalina

do mineral de argila ou como íon adsorvido na superfície dos colóides do solo.

Alguns cátions podem ser absorvidos pelo vegetal e retornar ao solo por um

processo cíclico. Por outro lado alguns cátions podem ser removidos do sistema

solo-planta juntamente com o HCO-3 através da água de percolação (Figura 54).

Figura 54 – Destinos dos cátions liberados pelo intemperismo

Fato interessante a ser observado é o seguinte: os íons OH- juntamente

com os com os cátions metálicos se concentram no oceano, que tem reação

alcalina. Os íons H+ por sua vez, se combinam com silicato, dando origem entre

outros aos minerais de argila, os quais são pouco solúveis e somente se

Page 76: Geologia e mineralogia

72

dissociam ligeiramente em ácidos fracos. Na terra, portanto fica a reação ácida

enquanto que no mar a reação alcalina.

FATORES QUE INFLUEM NA HIDRÓLlSE

Para se ter uma razoável noção da intensidade da formação dos solos é

interessante saber algo a respeito dos fatores que favorecem ou não a reação de

hidrólise.

a) Natureza da água

Experimentos afirmam que uma rocha em presença de água tende a se

intemperizar. Se a água saturada com sais não for removida e substituída por a

com concentração de sais menor, a hidrólise tende a paralisar. Nestas condições

o solo não se desenvolve. (Figura 55).

Figura 55 - Esquema ilustrando a influência da remoção da água de hidrólise no desenvolvimento

do solo. (A) Devido à remoção de água + produtos de hidrólise, o intemperismo é

maior, conseqüentemente o solo é mais profundo. A remoção da água no solo é

devido a sua boa drenagem; (B) Nesta posição do relevo a drenagem do solo é

impedida, conseqüentemente vai haver concentração dos produtos da hidrólise e o

desenvolvimento do solo é bem menor.

Page 77: Geologia e mineralogia

73

A remoção dos sais pode ser feita por precipitação intensa com uma

grande lixiviação. Nestas condições o intemperismo tende a aumentar

consideravelmente.

b) Efeito do pH sobre as solubilidades do Al2O3, SiO2 e Fe2O3

Quando da hidrólise de minerais silicatados, o pH de suas suspensões é

geralmente 7 ou maior que 7. O quartzo pulverizado, em água hidroliza-se para

um pH de 6 e 7, mas os feldspatos hidrolizam-se para produzir pH 8 e 10, os

piroxênios 8 a 11 e os anfibólios e feldspatos 10 e 11. Esta variação de pH é

muitíssimo importante, devido aos seus efeitos sobre a solubilidade relativa do

SiO2 e Al2O3, os quais são também produtos de reação de hidrólise.

O efeito do pH sobre a solubilidade do Al2O3, SiO2 e Fe2O3 é apresentado

na Figura 56.

Figura 56 - Solubilidade da sílica, alumina e óxido de ferro em função do pH. A um pH 5 vai haver

no sistema presença de SiOz e Al2O3 (este em maior quantidade). Dependente do tipo

de cátion existente no meio (H+ neste caso) haverá formação de caulinita.

Quando o pH é 10 - Tanto o Al2O3 como o SiO2, são relativamente solúveis

Page 78: Geologia e mineralogia

74

e portanto, as pequenas quantidades deles que são liberados durante a hidrólise

são arrastados em soluções, podendo formar depósitos de bauxita e calcedônea.

Em pH 8 - A solubilidade do AI2O3 é reduzida praticamente a zero, mas a

do SiO2 é reduzida apenas para ¼ daquela que era a pH 10. Espera-se portanto,

que em pH 8 o AI2O3 hidratado irá precipitar-se, provavelmente, na forma de

gibsita, enquanto que a maior parte do SiO2 será removida.

Grave bem ! - Suponha que uma rocha que está sofrendo hidrólise seja

banhada em água com pH 5 a 6 (valor comum de pH para água subterrânea). A

solubilidade, tanto do AI2O3 como o SiO2, derivados da rocha, será então

relativamente baixa, uma condição que pode conduzir a combinação deles para a

formação da caulinita.

Geralmente a sílica é relativamente solúvel na faixa normal de pH de solos

e está quase sempre presente no material de origem em elevado teor, suficiente

ara tomar parte na maioria dos minerais de argila. Parte da sílica é removida em

solução. O alumínio não é muito solúvel nesta mesma faixa de pH, portanto

permanece próximo a área de intemperismo, tomando parte na formação de

minerais de argila ou gibsita. O ferro também permanece próximo à área de

intemperismo para a maioria dos solos dando a estes ou ao material

intemperizado a cor característica.

A um pH 8 e aliado a uma precipitação escassa e a uma evaporação anual

- excede a precipitação, os íons de SiO2, AI2O3 e M (alcali e alcalinos terrosos)

permanecem em solução os quais se combinam para formarem minerais de

grande atividade, por exemplo, montmorilonita.

c) Ação das plantas

As plantas vivas fornecem íons H+ para a argila em contato com suas

raízes, e tendem, portanto, a criar condições de argila ácida, a qual, por sua vez,

intemperizam as rochas e minerais presentes.

Diversos autores demonstraram que as radicelas das plantas conduzem

cargas negativas sobre sua superfície e são rodeadas, no solo, por uma

atmosfera iônica a qual é composta principalmente de íons H+. O pH das raízes

Page 79: Geologia e mineralogia

75

das plantas, tais como milho, algodão, amendoim varia de 2,0 a 3,85 e a CTC

dessas raízes está em torno de 14 emg/100 g (Figura 57).

Figura 57 - Esquema ilustrando a ação das raízes na hidrólise. A raiz no caso fornece íons H+ ao

mineral de argila (troca com o I< ou outro íon) e este H+ entra na hidrólise atacando

um mineral rico em I< (feldspato) ou outro mineral qualquer.

d) Oxidação e Redução

A oxidação é o processo pelo qual o elemento perde elétrons. Essa perda

resulta num aumento da valência positiva. O ferro é o elemento que mais sofre

esse tipo de processo nos ambientes de intemperismo.

Nos minerais formadores de rochas o ferro se encontra

predominantemente na forma reduzida Fe2-. Quando esse ferro se oxida o Fe3+

dentro da estrutura cristalina dos minerais há distúrbios na neutralidade

eletrostática do mineral. Esse distúrbio leva normalmente à saída de outros

cátions da estrutura a fim de compensar o aumento de carga positiva. Surgem

dessa maneira falhas na rede cristalina que podem levar a um colapso total da

estrutura anterior ou deixar o mineral mais susceptível a outros processos

químicos como a hidrólise. A alteração de biotita para vermiculita é um exemplo

desse conjunto de processos.

Sempre que uma substância se oxida (perde elétrons) outra reduz (recebe

os elétrons perdidos). O receptor de elétrons no solo normalmente é o O2 gasoso.

A reação pode ser simplificada conforme equação abaixo:

2FeO + H2O2 → FeO3

Fe++ → Fe+++ + e

A direção e a intensidade dessa reação dependem do potencial de oxi-

redução do meio.

Page 80: Geologia e mineralogia

76

Para que a reação ocorra da esquerda para a direita, isto é, oxidação do

ferro e conseqüente redução do O2, é necessário uma boa aeração do solo. Solos

bem drenados e porosos facilitam as reações de oxidação, ocorrendo redução

apenas as em solos freqüentemente encharcados.

As micas, biotita e muscovita, apresentam estrutura cristalina muito

semelhante, porém diferem no comportamento ante o intemperismo. A biotita

apresenta Fe2+, que tende a oxidar e desestabilizar a estrutura desta, o que não

ocorre com a muscovita, que por não possuir Fe2+ é mais resistente ao

intemperismo.

Outros elementos que também sofrem mudanças de valência são Cr, Ti,

Cu, Mo, Mn e outros. Esses elementos ocorrem em menor quantidade nos

minerais formadores de rochas, portanto, de menor importância.

Qualquer mudança de valência de um elemento que faz parte da estrutura

cristalina de um mineral vai desequilibrá-Ia e conseqüentemente destruí-Ia ou

torná-la mais suscetível a outros processos de alteração química .

e) Hidratação e Desidratação

Hidratação e desidratação são os processos pelos quais moléculas de

água são adicionadas ou removidas do mineral. O resultado é a formação de um

novo mineral de estrutura bastante semelhante ao anterior. Esses processos não

são muito importantes no intemperismo químico uma vez que apenas alguns

poucos minerais são afetados por esses processos.

A reação mais comum é a que envolve óxido e hidróxido de ferro.

Fe2O3 + H2O ↔ 2 FeOH

Hematita Goethita

Essa reação pode se processar nas duas direções, mas em solos, bem

drenados a tendência é a estabilização da hematita. Em muitos casos a

hidratação precede as reações de hidrólise.

f) Quelação

Estudos têm demonstrado que agentes quelantes são responsáveis por

uma considerável quantidade de material intemperizado, e que algumas situações

Page 81: Geologia e mineralogia

77

pode exceder a própria hidrólise. Agentes quelantes são formados por processos

biológicos normalmente excretados por líquens que crescem nas superfícies das

rochas. A estrutura do agente quelante é variada e complexa. O EDTA (Ácido

Cetilenordiaminotetracetico) é um dos agentes quelantes mais conhecidos e sua

estrutura pode ser esquematizada da seguinte forma:

Figura 58 – Molécula de EDTA (Ácido Cetilenordiaminotetracetico)

A maioria dos íons metálicos pode ligar-se ao EDTA formando compostos

bastante estáveis, ficando o íon metálico aprisionado na estrutura cíclica.

A flora microbiana do solo bem como as raízes das plantas é capaz de

produzir e exudar substâncias quelantes. O húmus do solo é composto de grande

quantidade desses agentes. Há fortes evidências que alguns quelantes podem ter

expressiva ação sobre o quartzo, que é muito resistente a outros processos de

intemperismo químico. Quelatos estáveis, também são formados a partir de

outros cátions polivalentes como o AI, Fe e Ti. A perda de ferro devido a

quelatização já foi observada para o epídoto, goethita, hematita, magnetita, augita

e biotita.

g) Capacidade de troca de íons

O intemperismo de um mineral pode ocorrer através da troca de íons entre

a solução e o mineral. Durante a troca, a estrutura básica do mineral não é

Page 82: Geologia e mineralogia

78

alterada, mas o espaçamento entre as camadas pode variar de acordo com

cátions específicos. A transformação da biotita em vermiculita é em parte

atribuída à troca do K+ da biotita por íons de Ca2+ e Mg2+ da solução.

5.3. Intemperismo Químico de Minerais e Rochas

O material liberado pelo intemperismo ou é removido do sistema por

percolação profunda ou permanece no sistema formando através de diferentes

reações uma série de produtos cristalinos ou amorfos.

Os minerais de argila, considerados por muitos como produtos finais do

intemperismo, na realidade apenas fazem parte de um sistema em equilíbrio

dinâmico. As argilas também se degradam originando resíduos óxidos e

hidróxidos que pedologicamente são considerados mais estáveis.

5.3.1. Alguns exemplos

a) Olivina (Mg, Fe)2 SiO4

A estrutura cristalina da olivina consiste de tetraedros isolados unidos por

Fe2+, Ca2+ e principalmente Mg2+. A olivina é o silicato mais suscetível à erosão.

Em condições de drenagem moderada, com pequena lixiviação de cátions, a

olivina se transforma principalmente em montmorilonita, graças à elevada ação de

Mg. Em ambientes de drenagem forte, onde a remoção de bases é maior, a

olivina se altera, formando principalmente, a caulinita.

Olivinas mais ricas em ferro podem também formar nontronita.

b) Piroxênios e Anfibólios

A formação de minerais de argila a partir de piroxênios e anfibólios

depende das condições de drenagem e da precipitação. Como tendência geral há

formação de esmectitas ou cloritas nas primeiras fases do intemperismo. O ferro

se oxida formando goethita ou hematita e o titânio origina anatase. Com o

aumento da intensidade de intemperismo formam-se minerais cauliníticos e o

meio se enriquece de ácidos de ferro e titânio.

c) Micas

Page 83: Geologia e mineralogia

79

Há uma grande diferença de resistência ao intemperismo entre as micas

muscovitas (KAl3Si3O10(OH)2) e a biotita (K(Mg, Fe2+)AISi3O10(OH)2). A diferença

é explicada pela tendência do ferro ferroso (Fe2+) da biotita oxidar-se a ferro

férrico (Fe3+) nos ambientes de intemperismo desequilibrando-a eletricamente. Os

produtos finais do intemperismo são semelhantes, porém a muscovita altera-se

mais lentamente que a biotita. Na etapa inicial as micas perdem potássio e

durante a pedogênese podem entrar em seu lugar íons Mg e AI, determinando a

formação de filossilicatos, particularmente a vermiculita, clorita, ilita,

montmorilonita e vários interestratificados. As condições ambientais é que

determinarão o tipo específico de mineral a ser formado.

d) Quartzo

A estrutura do quartzo não favorece as reações de hidrólise ou oxidação,

sendo seu intemperismo provocado por dissolução, um processo mais lento,

fazendo do quartzo um mineral resistente ao intemperismo. O quartzo não se

altera diretamente em outras fases cristalinas. Ele entra lentamente em solução, e

pela combinação com outros produtos origina novos silicatos. A energia de

ativação para romper as ligações Si-0-Si é bastante elevada. Dessa forma

catalisadores orgânicos como o ácido algínico e alguns aminoácidos têm papel

decisivo na solubilização do quartzo.

e) Feldspatos

Seu intemperismo é quantitativamente mais importante, pois há predomínio

dos feldspatos entre os minerais das rochas na litosfera.

O intemperismo do feldspato ocorre em 2 etapas: uma lenta e outra rápida.

Etapa rápida: há uma perda muito grande de potássio em relação a Si e AI.

Etapa lenta: as perdas de K, AI e Si tendem a se igualar.

A velocidade e o tipo de alteração são afetados sensivelmente pelas

condições do meio e pelo tamanho do mineral.

Os produtos de alteração dos feldspatos são argilas residuais e óxidos de

alumínio hidratados.

Em condições normais, os feldspatos gerarão a caulinita, mas pode ocorrer

a formação de minerais 2:1 ou micas como a sericita.

Page 84: Geologia e mineralogia

80

Os feldspatóides, componentes de rochas básicas e ultrabásicas têm

menor resistência ao intemperismo do que os feldspatos.

Page 85: Geologia e mineralogia

81

CAPÍTULO 6 - ROCHAS MAGMÁTICAS

6.1. Introdução

As rochas magmáticas ou ígneas são aquelas formadas a partir do

resfriamento do magma e conseqüente consolidação do magma, no interior ou na

superfície da crosta terrestre. O magma é um fluido natural muito quente

predominantemente constituído por uma fusão de silicatos e mostrando

proporções variadas de água, elementos voláteis ou de cristais em processo de

crescimento. A composição do magma pode ser obtida pelo estudo das lavas, ou

seja, magma que extravasa pelos vulcões, embora se considere que uma grande

perda de elementos voláteis ocorra neste caso, pois no seu caminho até o local

de resfriamento, funde ou dissolve materiais pelo qual vai passando incorporando-

os à sua composição original e chegando ao seu destino com composição

distinta.

Do ponto de vista físico-químico, os componentes essenciais do magma

são:

a) fase líquida: mantida em fusão pela temperatura elevada, constituída

essencialmente por uma solução mútua e altamente complexa de um grande

número de componentes, a maior parte dos quais de natureza silicática;

b) fase gasosa: mantida em solução por pressão, constituída

predominantemente por H2O e quantidades menores de CO2, HCI, HF, SO2, etc.;

c) fase sólida: formada por cristais de decomposição essencialmente silicática,

em fase de crescimento ou de natureza residual, assim como de fragmentos de

rochas.

A composição química essencial dos magmas é, em termos de óxidos,

algo situado dentro das proporções da tabela a seguir:

SiO2....................................................... 30-80 Al2O3...................................................... 3-25 FeO-Fe2O3............................................ 0-13 MgO...................................................... 0-25 CaO....................................................... 0-16 Na2O...................................................... 0-11 K2O........................................................ 0-10

Page 86: Geologia e mineralogia

82

6.2 Origens e tipos fundamentais de magmas

De modo geral, considera-se que existem apenas dois tipos fundamentais

de magmas primários, ou seja, de magmas a partir dos quais se podem formar

outros tipos, por diferenciação:

(a) os magmas graníticos;

(b) os magmas basálticos.

Os primeiros formam 95% das rochas intrusivas, plutônicas, e os segundos

constituem 98% das rochas vulcânicas, efusivas. A origem destes magmas e das

rochas correspondentes constitui ponto de controvérsia.

Figura 59. O granito observado ao microscópio. Os minerais claros são quartzos, os pretos

representam a biotita, e os intermediários são feldspatos (Extraído de Popp, 1998).

Pode-se dizer, entretanto, que o magma granítico está sempre relacionado

com áreas em que houve formação de extensas cadeias de montanhas, como por

exemplo os Andes e os Alpes, zonas em que a crosta sofreu fenômenos de

compressão, dobramento e afundamento, com evidências de que esse magma é

produzido por fusão parcial de rochas preexistentes (anatéxis) a profundidades da

ordem de 7 a 75 km.

Nessas regiões, as rochas originadas ocorrem sob a forma de corpos

intrusivos muito grandes, intimamente relacionados com as cadeias de

montanhas, e, em muitos casos, a sua formação parece não ter exigido a refusão

total, associando-se a fenômenos complexos.

Já o magma basáltico parece originar-se em profundidades maiores-90 a

100 km, ou seja, na porção superior do manto - tal como evidenciado pelos

Page 87: Geologia e mineralogia

83

sismos associados a derrames basálticos cujas origens geralmente estão 45 a 60

km abaixo da superfície, onde o magma basáltico seria originado pela fusão de

rochas básicas preexistentes, através de quedas bruscas de pressão, em regiões

onde a crosta parece afetada por movimentos de afastamento e onde o manto

parece foco de correntes convectivas ascendentes.

Os magmas graníticos caracterizam-se, entre outros fatores, por uma

composição mais rica em SiO2 (da ordem de 70%), e os basálticos, por uma

proporção menor de SiO2 inferior a 50%.

Viscosidade. Os magmas graníticos são mais viscosos do que os

basálticos, já que a viscosidade parece aumentar com e teor de SiO2. Isto se

reflete caracteristicamente na maneira pela qual ocorrem os fenômenos de

vulcanismo associados a essas rochas.

Além disso, a viscosidade depende da temperatura e da pressão,

diminuindo com o aumento destes fatores.

O magma pode se resfriar em profundidade, isto é, nas profundezas da

crosta, abaixo de grande quantidade de rochas. Ele se solidifica vagarosamente

porque a perda de calor é lenta. Além disso, esse resfriamento se dá sob a

presença de substâncias voláteis aprisionadas, o que leva a uma cristalização

mais perfeita dos minerais. Tem-se dessa forma, o aparecimento de cristais

maiores, formando-se dessa maneira as rochas holocristalinas de estrutura

granular. Quando o magma se resfria na superfície da crosta através do

extravazamento, a temperatura e a pressão caem rapidamente, não são

aprisionados voláteis e não existem então condições favoráveis à cristalização

total dos minerais e formação de cristais grandes. Assim, originam-se as rochas

de granulação muito pequena.

De acordo com o local em que se dá a consolidação há dois tipos básicos

de atividade ígnea:

a) Plutonismo: a consolidação ocorre no interior da crosta, originando as

rochas plutônicas ou intrusivas.

b) Vulcanismo: o magma irrompe e derrama-se à superfície para formar

rochas vulcânicas ou extrusivas.

Page 88: Geologia e mineralogia

84

Figura 60 - Diagrama esquemático mostrando as formas de ocorrência de rochas magmáticas

(derrame, sill, dique, batólito, stock, neck vulcânico, diques radiais e lacólito). (Teixeira

et aI., 2000)

BATÓLITO grande corpo magmático contínuo, formado em profundidade

STOCK semelhante ao batólito, só que menor.

LACÓLITO intrusão magmática em forma de domo

DIQUE corpos magmáticos, tabulares mais ou menos verticais, semelhante

a paredes

SILL intrusões devido à penetração do magma em estratos pré-

existentes sem quebrá-los

XENÓLITO fragmento de rocha pré-existente, incluso uma rocha magmática

Formas concordantes. Neste caso, a intrusão magmática intromete-se

entre os planos de estratificação da rocha encaixante em concordãncia com eles.

Entre as formas concordantes temos:

(a) Sil. São corpos extensos, pouco espessos e de forma tabular quando

vistos em corte. O magma deve ser pouco viscoso para poder intrometer-se entre

os planos de estratificação da rocha encaixante (Figura 60). Na bacia do

Maranhão há grande ocorrência de sils de diabásio.

(b) Lacólito. O magma, neste caso, é mais viscoso, formando massas

intrusivas de forma lenticular, plano-convexas. A rocha situada acima do corpo

intrusivo (capa) é dobrada, e as rochas situadas na parte inferior (lapa) não são

Page 89: Geologia e mineralogia

85

afetadas. Um lacólito (Figura 60) pode ter 300 m de espessura e 5 km de

comprimento.

Formas discordantes. Esses corpos intrusivos independem da

estratificação da rocha encaixaste, pois a cortam discordantemente. São mais

freqüentes perto da superfície da Terra, onde as pressões a serem vencidas são

menores.

Entre as formas discordantes temos:

(a) Dique. É uma massa magmática que preenche uma fenda em rocha

preexistente (Figura 61). Os diques podem ser classificados em radiais, em anel

(ring dikes) ou circulares, conforme se apresente em conjunto na superfície após

a erosão. Muitas vezes os diques se formam a partir de um corpo intrusivo maior.

Nas bacias do Maranhão e do Paraná há grande incidência de diques de

diabásico.

(A) (B)

Figura 61. Diques. (A) Massa magmática que preenche fendas ou falhas cortando discordantemente os estratos. (8) Pequenos diques de diabásio cortando migmatitos.

(b) Veios. São massas produzidas pela injeção de magma em fraturas

menores e menos regulares do que diques.

(c) Neck. São corpos discordantes, cilíndricos, verticais, que cortam as

rochas preexistentes. Pelo estudo da litologia formadora dos necks, vê-se que

eles são condutos de antigos vulcões cuja parte superior foi erodida.

(d) Batólitos e stocks. Os batólitos são massas enormes de material

magmático (granítico) que afloram numa extensão de, pelo menos, 100 km2 na

superfície terrestre. Se o afloramento tiver menos de 100 km2, temos o stock. Os

batólitos não têm, aparentemente, delimitação em profundidade, passando

Page 90: Geologia e mineralogia

86

gradualmente à zona das rochas fundidas. Os batólitos formam grande parte dos

escudos ditos Escudo Nordestino e Escudo Brasileiro, entre outros.

Eles são, normalmente, de composição granítica, e sua origem é ainda

bastante discutível.

Deve-se notar, com respeito aos corpos acima referidos, sejam eles

concordantes ou discordantes, o seguinte:

(1) a classificação adotada diz respeito somente à forma geométrica do corpo, e

não à litologia formadora;

(2) normalmente, os corpos intrusivos são mais resistentes à erosão do que a

rocha encaixante, donde o fato de estes corpos sobressaírem-se na topografia

com respeito à rocha encaixante.

6.3. Composição e classificação das Rochas Magmáticas

Aproximadamente 99% da massa das rochas magmáticas são formadas

por oito elementos: oxigênio, silício, alumínio, ferro, cálcio, sódio, potássio e

magnésio. Sendo a maioria, parte da estrutura cristalina dos silicatos formadores

das rochas corno feldspatos, olivinas, piroxênios, anfibólios, quartzo e micas.

Estes seis minerais constituem 95 % do volume de todas as rochas magmáticas

comuns.

Magmas, chamados de máficos, são ricos em ferro, magnésio e cálcio e

produzem grande quantidade de olivina, piroxênio, anfibólio e plagioclásio cálcico.

Possuem coloração escura.

Magmas, chamados de siálicos, são ricos em silício e alumínio e

produzem grande quantidade quartzo, feldspatos, potássico e plagioclásio sódico.

Possuem coloração clara.

Algumas características macroscópicas para identificação das rochas

ígneas:

1. São em geral duras

2. Os cristais se dispões por justa posição

3. Não apresentam estruturas segundo faixas ou camadas.

4. São maciças, quebram-se de forma irregular.

5. Apresentam uma textura cristalina, vítrea ou vesicular.

6. Não apresentam fósseis.

Page 91: Geologia e mineralogia

87

7. Apresentam alto teor em feldspatos.

Os principais critérios de classificação são os seguintes:

A) Modo de ocorrência

B) Texturas

C) Estruturas

D) Composição Mineralógica e Química

A – O modo de ocorrência é um critério de campo, ou seja, uma vez

formado, o magma pode apresentar grande mobilidade, tendendo a ascender ao

longo de fissuras da crosta, deslocando ou englobando rochas vizinhas, podendo,

eventualmente, extravasar à superfície ou então se solidificar no interior da crosta.

B – A textura refere-se a fenômenos de escala extremamente

pequena e, em geral, seu estudo é feito com auxilio de lupa e microscópio (ver

item 6.3).

C – As estruturas são aspectos megascópicos que podem ser

observados em amostras grandes ou no campo. As mais comuns são as que

seguem:

a) Estruturas vesiculares e amigdalóides - apresentam pequenas

cavidades esféricas. Pode se apresentar vazias (vesículas) ou preenchidas por

minerais secundários (amígdalas) (Figura 62).

Figura 62 - Basalto com estrutura amigdalóide caracterizado pelo preenchimento de minerais.

Page 92: Geologia e mineralogia

88

b) Estruturas em bioco (biock lava) e brechas de fluxo (floro breccias) -

apresenta-se com a forma de biocos envoltos por lava ou por materiais

secundário (arenito, calcita, etc.). Rochas com tais estruturas geralmente são

chamadas brechas basálticas. Lavas muito fluidas se solidificam formando

superfícies e crostas mais lisas, ou então com rugas e sinais de fluxo iguais aos

que se pode observar em pixe derretido derramado chamados estrutura cordadas

(Figura 58).

c) Estruturas fluidas - são estruturas bandeadas, originadas de diversas

maneiras em lavas viscosas.

d) Estruturas de fraturação primária - fraturas que se originam quando da

solidificação de rochas ígneas.

D - O principal parâmetro químico é o relacionado com a quantidade total

de sílica da rocha. Podem ser de acordo com a Tabela 12:

Tabela 12 - Acidez de uma rocha magmática

Teor de SiO2 (%)

Exemplo Intrusiva

Exemplo Extrusiva

Teor médio em SiO2 (%)

Ácida > 65 Granito Riolito 70 Intermediária 65 – 52 Diorito Tinguaito 60 Básica 52 – 45 Gabro Basalto 50 Ultrabásica < 45 Peridotito Picrito 40

Na composição mineralógica, os minerais mais importantes para este fim

são o quartzo, os feldspatos (alcalinos e plagioclásios); minerais claros (félsicos)

e os minerais ferro-magnesianos anfibólios, piroxênios e a biotita; minerais

escuros (máficos).

6.4. Resfriamento do Magma

A cristalização de minerais, a partir do magma, ocorre entre 1200 e 600°C.

No resfriamento do magma distinguem-se dois estágios sucessivos.

Page 93: Geologia e mineralogia

89

6.4.1. Estágios de Resfriamento

Cristalizam-se os minerais que formam a massa rochosa propriamente dita.

Cristalizam-se a maior parte dos silicatos, obedecendo ao grau crescente de

polimerização (primeiro os nesossilicatos e por último os tectossilicatos).

Nesta fase, os constituintes voláteis praticamente não interferem a não ser

para manter a fluidez do magma.

6.4.1.1. Estágio Pneumatolítico (ou Pegmatítico)

Nesta fase, os gases aumentam em proporção e devido às altas

temperaturas e pressões em que se encontram, têm sua ação dissolvente

aumentada, provocando percolação através das rochas, acarretando a formação

de novos minerais como a turmalina e o topázio, além de modificações estruturais

nas rochas já formadas.

6.4.1.2. Estágio Hidrotermal

Com resfriamento já avançado, restam no magma soluções residuais

contendo água, sílica e grandes números de elementos metálicos, que vão se

depositando ou reagindo com as rochas presentes, dando origem às jazidas

minerais de cobre, ouro, zinco, chumbo e outros elementos metálicos.

6.4.2.Textura das rochas magmáticas

A textura refere-se ao tamanho, forma e arranjamento dos minerais dentro

das rochas. A textura das rochas magmáticas relaciona-se principalmente com a

composição e velocidade de resfriamento do magma.

A textura e definida por, pelo menos, três parâmetros principais:

a) Grau de cristalinidade

a) rochas holocristalinas ou cristalinas: constituídas exclusivamente por

material cristalino. Ex: granitos, diabásio;

Page 94: Geologia e mineralogia

90

b) rochas holovítreas ou vítreas: exclusivamente por material vítreo. Ex:

Obsidiana;

c) rochas hipocristalinas ou hipovitreas: mesma rocha encontra-se material

cristalino e vítreo. Ex. basalto

b) Grau de visibilidade

a) fanerítica, quando os minerais constituintes podem ser percebidos a olho

nu;

b) afanítica, quando os minerais formam partículas tão pequenas que não

podem ser percebidos a olho nu. Neste caso, a rocha apresenta um aspecto

maciço.

c) Forma dos cristais

a) minerais euhedrais - minerais delimitados por faces externas cristalinas.

Ex. olivinas, piroxênios, feldspatos.

b) minerais subhedrais - parcialmente delimitados por faces cristalinas.

Ex: anfibólios, micas, plagioclásios.

c) minerais anhedrais - desprovidos de faces cristalinas.

Ex. quartzo, feldspatos K, fesldpatóides.

d) Distribuição da dimensão dos cristais

a) Granular - grânulos de minerais bem evidentes de dimensões aproximadas.

Ex: Granito

b) Compacta - constituintes muito pequenos não permitindo sua determinação

macroscópica. Ex: basalto

c) Porfirítica - caracterizado pela presença de cristais maiores em relação aos

outros. Ex: Dacito

e) Índice de Coloração

É a porcentagem conjunta em volume de minerais fêmicos, opacos e acessórios

presentes em uma rocha magmática.

a) Leucocrática - (5 a 35 %) coloração claros com predominância de minerais

incolores e claros (predomina quartzo, feldspatos e muscovita). Ex: Granito,

Riolito

Page 95: Geologia e mineralogia

91

b) Mesocrática - (35 a 65 %) coloração intermediária. Ex: Andesito, Diorito

c) Melanocrática - (65 a 90 %) rochas escuras onde predominam os minerais

ferromagnesianos (predomina piroxênio, hornblenda e biotita). Ex: Basalto, Gabro

6.5. Seqüência de Cristalização

A série de cristalização de BOWEN é bastante genérica, não sendo

possível através dela prever ou analisar todos os casos, existindo várias exceções

a ela. Entretanto a composição das rochas mais comuns pode ser entendida ou

inferida através dela. A série de BOWEN é válida para a fase ortomagmática de

resfriamento, e pode ser ilustrada por meio de um diagrama.

Os minerais máficos (olivinas, piroxênio, hornblenda e biotita), formam na

terminologia de BOWEN uma série de reações descontínuas. Isto significa que

cada substância mineral reage com o fundente formando um mineral subseqüente

e a relação se dá à temperatura determinada ou num intervalo estreito de

temperaturas. Tem-se, portanto, a formação da olivina que, conforme a

temperatura abaixa, com o magma ainda fundido, reagiria formando um piroxênio.

Este por sua vez, passaria da mesma forma em hornblenda, e a hornblenda em

biotita.

Page 96: Geologia e mineralogia

92

Em contraste, os feldspatos plagioclásicos da série contínua de reações,

reagem continuamente com o líquido até a completa solidificação. A cristalização

de ambas as séries ocorre simultaneamente e pode se iniciar numa série ou na

outra, mas ocorrendo formação simultânea de dois tipos de cristais.

Os minerais ortoclásio, muscovita e quartzo, não se relacionam como os

demais. Forma-se preferencialmente do fundente residual, o chamado líquido

residual do magma. Outra maneira de apresentar essa seqüência de cristalização

aparece na Figura 63.

Page 97: Geologia e mineralogia

93

Figura 63 - Seqüência de cristalização e as principais rochas magmáticas

6.6. Principais Rochas Magmáticas

As rochas magmáticas são classificadas normalmente tomando-se como

critério distintivo à composição mineralógica e a textura (item 6.2.).

6.6.1. Família Granito - Riólito

A família granito - riólito é caracterizada pela seguinte composição mineralógica:

Quartzo 10 – 40 %

Feldspato K 30 – 60 %

Plagioclásio 0 – 30 %

Biotita e Anfibólio 10 – 30 %

A cor clara dos granitos e dos riólitos deve-se a sua composição, ou seja,

são formados a partir de magmas ricos em potássio, silício e sódio e pobres em

ferro, magnésio e cálcio.

Riólito – formado na ou próximo à superfície, possui coloração típica

branca cinza ou rósea e normalmente apresenta alguns fenocristais de quartzo ou

Page 98: Geologia e mineralogia

94

e feldspatos. Os magmas dos quais os riólitos se originam são mais viscosos e de

movimentação bastante lento. Textura afanítica.

Granito - mais comum dentre as rochas magmáticas, apresenta textura

fanerítica e possuem coloração cinza, mas quando predomina o feldspato K e

podem ter cores róseas ou avermelhadas .

6.6.2. Família Diorito - Andesito

A família diorito - andesito tem composição intermediária entre a família

granito - riólito e gabro - basalto. Pode ser caracterizada pela seguinte composi-

ção:

Plagioclásio 55-70%

Anfibólio e Biotita 25-40%

O plagioclásio é normalmente, 50% cálcio e 50% sódio e possui em

pequenas quantidades feldspato potássico e quartzo.

Andesito - a variedade mais comum é o andesito pórfiro (fenocristais

formam mais de 10 % do volume da rocha) e, em geral, possuem coloração cinza,

esverdeada ou avermelhada. Os fenocristais são compostos de plagioclásio,

anfibólio ou biotita, inseridos numa matriz afanítica de plagioclásios e algum vidro.

Diorito - de textura igual ao granito, diferem apenas na composição, ou

seja, o diorito é composto por plagioclásio Ca-Na e minerais ferro-magnesianos.

Muitas vezes, o diorito aparece associado a granitos.

6.6.3. Família Gabro-Basalto

A composição dessa família é a seguinte:

Plaglioclásio (maioria Ca) 45-70%

Minerais ferro-magnesianos (olivina, piroxênios e anfibólio) 25-60%

Com coloração preta ou verde escura, essas rochas cristalizam-se a partir

de magmas ricos em ferro, magnésio e cálcio e pobres em sílica.

Basalto - é a variedade extrusiva do diabásio e recobre extensas áreas da

Região Sul do Brasil, onde representa a rocha ígnea mais importante. Apresenta

cristalização fina a afanítica e cores escuras que podem variar do vermelho-

escuro ao preto, os cristais individuais só podem ser vistos através do

Page 99: Geologia e mineralogia

95

microscópio. Apresentam vesículas, e amígdalas preenchidas, onde, os que

apresentam grande quantidade destas ultimas chama-se basalto amigdaloidal. As

variedades de basalto pórfiro são comuns, sendo os fenocristais formados por

piroxênios e olivinas, normalmente.

Muitas ilhas marítimas e regiões costeiras são formadas por basaltos, bem

como extensas áreas continentais.

Gabro – equivalentes intrusivos do basalto, os gabros possuem granulação

de média a grosseira. Não possui quartzo. Sendo formada predominantemente

por plagioclásio Ca e piroxênio. O diabásio é uma rocha intermediária entre o

basalto e o gabro.

A chave para a classificação das principais rochas magmáticas estão na

Figura 64.

Figura 64 - Classificação das rochas magmáticas ou ígneas

TONALIDADE ESCURECE

Ca, Fe, Mg

K, Na, Si

Page 100: Geologia e mineralogia

96

CAPÍTULO 7 - ROCHAS SEDIMENTARES

7.1. Introdução

As rochas sedimentares são originadas a partir dos detritos de outras

rochas e acumulam-se na superfície da terra em condições normais de

temperatura e pressão. Sua formação tem origem no momento em que

fragmentos dessas rochas primitivas são desalojados por algum processo de

desagregação, passando pelas seguintes fases: intemperismo - erosão -

transporte - deposição – diagênese (consolidação). Estas fases formam um

processo denominado ciclo sedimentar e a sucessão de eventos é contínua e

interdependente.

Figura 65 - A formação de rochas sedimentares (Popp, 1988).

O intemperismo consiste da transformação das rochas em materias mais

estáveis em condições físico-químicas diferentes daquelas em que se originara.

Esta transformação ou alteração pode ser física (desgaste e/ou desagregação da

rocha) ou química (decomposição química da rocha). Durante o intemperismo, os

Page 101: Geologia e mineralogia

97

minerais sofrem transformações químicas importantes: (a) parte de seus

constituintes é dissolvida e carregada pelas águas de infiltração (Ca, Mg, K, Na e

Fe, principalmente), de modo que esses minerais só vão reprecipitar-se sob a

forma de sedimentos químicos; (b) parte dos minerais, como os feldspatos,

anfibólios, micas etc. é transformada em argilo-minerais, ou seja, minerais moles,

terrosos, formados por cristais ínfimos; (c) o quartzo e uns poucos minerais, colilo

a ilmenita, granada e monazita, não se alteram e permanecem nos solos sob a

forma de grânulos duros e areia; (d) quando o intemperismo é incompleto, restam

ainda no solo fragmentos mais resistentes de rocha. Assim, o intemperismo

transforma as rochas em solos residuais formados por uma mistura de argila,

areia e fragmentos de rocha. Ao longo dos processos de transportes e deposição

há uma expressiva seleção física e química de materiais. Sendo que, materiais de

tamanho semelhante acumulam-se em ambientes de deposição específicos e os

materiais mais solúveis tendem a se perder na solução.

Os materiais transportados pelas chuvas, rios, ventos etc., são

redepositados formando depósitos denominados sedimentos clásticos ou

detriticos.

Durante o transporte esses materiais são separados uns dos outros pelos

agentes de transporte em função do tamanho e da dureza das partículas, onde os

sedimentos formados são constituídos (mais ou menos separadamente) por

argila, areia ou cascalho.

Dessa forma, os dois tipos principais de sedimentos que resultam do ciclo

exógeno são os sedimentos químicos e os sedimentos clásticos.

Uma terceira categoria de sedimentos pode ser adicionada às duas

primeiras: os sedimentos orgânicos, os quais, em princípio, também são

sedimentos químicos ou clásticos, mas apresentam a particularidade de terem

sido originados da intervenção ou da acumulação de restos de esqueletos e

carcaças de seres vivos.

O fato das rochas sedimentares serem formadas por agentes da superfície

da terra (água, vento, gelo) e em condições de temperatura e pressões baixas,

confere-lhes um estado de equilíbrio físico-químico-mineralógico maior em

relação ao meio ambiente da superfície da terra quando comparadas às rochas

magmáticas ou metamórficas que, em seu processo de formação, sofrem a

influência de elevadas pressões e temperaturas. Uma distinção deve ser feita

Page 102: Geologia e mineralogia

98

entre rocha sedimentar e sedimento. Sedimento é considerado um depósito de

material sólido na superfície da terra, formado por algum meio natural (água,

vento, geleira), sob condições normais de temperatura e pressão. Rocha

sedimentar é por sua vez, o sedimento consolidado, endurecido por processos

físicos (compactação) e/ou químicos (cimentação).

Segundo POPP (1998) os principais processos de litificação ou diagênese

são os seguintes:

Compactação: Redução volumétrica causada principalmente pelo peso das

camadas superpostas e relacionada com a diminuição dos vazios, expulsão de

líquidos e aumento da densidade da rocha. É o fenômeno típico dos sedimentos

finos, argilosos.

Cimentação. Deposição de minerais nos interstícios do sedimento,

produzindo a colagem das partículas constituintes. É o processo de agregação

mais comum nos sedimentos grosseiros e arenosos.

Recristalização. Mudanças na textura por interferência de fenômenos de

crescimento dos cristais menores ou fragmentos de minerais até a formação de

um agregado de cristais maiores. E um fenômeno mais comum nos sedimentos

químicos.

Os sedimentos argilosos, por exemplo, litificam-se por compactação, ou

seja, as partículas de argila que no início da sedimentação se dispõem segundo

uma estrutura cheia de vazios, sob a ação do peso das camadas superiores, são

compactadas umas contra as outras, de modo a formarem uma rocha dura como

o tijolo prensado. Já a areia de praia endurece principalmente pela introdução de

substâncias cimentantes: carbonato de cálcio, óxidos de ferro, sílica etc.

Os sedimentos químicos, por sua vez, ao precipitarem, sofrem fenômenos

de cristalização que dão origem a rochas muito duras.

7.2. Ciclo Sedimentar

O processo de formação das rochas sedimentares, ciclo sedimentar, pode

ser esquematizado conforme a Figura 66.

Page 103: Geologia e mineralogia

99

Figura 66 - Esquema simplificado do ciclo sedimentar

O intemperismo resulta de um conjunto de processos que, agindo sobre

minerais de rochas da superfície terrestre, ocasionam sua degradação graças à

ação de agentes atmosféricos e biológicos. É, pois, o fenômeno pelo qual a rocha

se desagrega sob a ação de agentes físicos, químicos e biológicos, fornecendo

material para o sedimento. Em resumo, o intemperismo causa a troca de um

estado maciço por um estado elástico, com a conseqüente formação do

sedimento.

É importante observar que a desintegração física e a decomposição

química não são processos isolados, ao contrário, ocorre sempre conjuntamente,

um complementando a ação do outro.

A erosão refere-se à remoção de detritos que serão transportados do local

e posteriormente depositados numa bacia sedimentar. É causada por quatro

agentes principais: gravidade, ação glacial, água corrente e vento.

A gravidade envolve tanto o lento e gradual rastejo de partículas

sedimentares e fragmentos de rochas pelas encostas montanhosas, como as

avalanches. A erosão glacial ocorre onde geleiras causam abrasão na superfície

terrestre. A água corrente é um poderoso agente de erosão em várias situações

geomorfológicas (geomorfologia é a ciência que se ocupa com o estudo das

formas do relevo e paisagem). A ação erosiva do vento é muito pequena, mas

Page 104: Geologia e mineralogia

100

quando o vento carrega partículas como acontece em regiões desérticas, torna-se

um poderoso agente erosivo.

Os produtos do intemperismo removido pela erosão são constituídos de

solutos e resíduos sólidos. Os solutos são a fração solúvel em água e por este

meio são carregados. O resíduo insolúvel tem dimensões que vão desde

matacões (Ø 250 mm) a partículas coloidais (< 0,002 mm). Serão transportados e

segregados pelos diferentes meios de transporte de acordo com a competência

ou seletividade desses meios.

A competência se refere ao tamanho de partículas que um determinado

meio de transporte consegue transportar, isto é, um meio de transporte qualquer

pode ser capaz de transportar apenas partículas muito pequenas, outro já pode

ser competente para transportar desde partículas muito grandes até muito

pequenas.

A seletividade indica a maneira com que é feito o transporte. Por exemplo,

um meio de transporte competente pode transportar partículas grandes e

pequenas, fazendo de maneira seletiva, transportando, ou só as pequenas ou só

as grandes.

A gravidade e o gelo são meios de transporte muito competentes, podem

transportar desde partículas da fração argila (< 0,002 mm) até seixos e matacões

de vários metros de diâmetro. Sua seletividade é pequena e o depósito por eles

formados tem partículas de composição e tamanho bastante variados.

A competência da água corrente é bem menor em relação aos dos

anteriores, porém transporta desde partículas em suspensão ou solução até

partículas e alguns centímetros de diâmetro. A seletividade é bastante elevada.

Os depósitos formados teriam granulometria variável de pequenos seixos até

partículas coloidais, mas de grande uniformidade de tamanho.

O vento é o mais seletivo e menos competente meio de transporte e sua

ação marcante sempre está associada a climas mais áridos.

Tanto a água corrente como o vento, levam as partículas maiores a um

crescente arredondamento durante o transporte.

Page 105: Geologia e mineralogia

101

Figura 67. Grau crescente de arredondamento durante o transporte

Com o aumento da esfericidade há também, em ambos os casos, um

polimento maior das superfícies.

O material intemperizado, transportado ou não por qualquer dos meios

mencionados é depositado em algum local, que recebe o nome genérico de bacia

de sedimentação, dos quais o oceano é a principal, recebendo cerca de 90% do

material. Estes depósitos são marcados pelos meios de transporte e apresentam

características próprias de cada um, objetos de estudo da geomorfologia.

A diagênese ou litificação refere-se ás mudanças que ocorrem no material

após ter sido depositado. Normalmente a diagênese implica numa maior

organização dos materiais levando-os a uma maior estabilidade no novo meio.

Os depósitos sedimentares recentes são constituídos de minerais e

fragmentos de rochas que, sob ação continua de agentes geológicos, tendem a

sofrer consolidação, transformando-se em rochas sedimentares, como por

exemplo, a consolidação das areias formando arenitos, de argilas formando

folhelhos.

O endurecimento e a aglutinação desses minerais e fragmentos podem ser

devidos a vários fatores, tendo maior destaque a ação de agentes cimentantes,

depositados durante ou posteriormente a formação do sedimento. Estes agentes

adquirem particular importância nos sedimentos detríticos, sendo freqüentemente

de natureza diversa do material intemperizado. Nos sedimentos resultantes de

precipitação química ou orgânica o cimento é geralmente de mesma natureza dos

minerais formados, como por exemplo, nos calcários, onde os minerais (calcita,

dolomita, etc.) são cimentados pelo próprio carbonato.

Algumas características das rochas sedimentares, como dureza, cor, são

conseqüências do cimento presente, que pode ser de diversos tipos. Os mais

freqüentes são:

Page 106: Geologia e mineralogia

102

a) Sílica - confere cor branca e alta dureza à rocha; geralmente é colorido

por óxidos de ferro.

b) Carbonato - calcítico ou dolomítico, de cor branca, é facilmente

reconhecido pela reação com ácidos, provocando efervescência.

c) Óxidos de ferro - freqüentemente atuam como cimento, conferindo cor

vermelha ou amarela à rocha, conforme seu grau de hidratação.

d) Matéria orgânica - de cor escura (cinza a preto), é facilmente destruída

por água oxigenada.

Além destes mais comuns, outros também são freqüentes, como cimento

cloritoso, micaceo, piritoso, feldspático, etc.

É importante observar que a diagênese é um processo superficial de

endurecimento dos sedimentos, realizado em condições normais de temperatura

e pressão.

Figura 68 – Ciclo das Rochas ou ciclo petrogênico

O levantamento que pode ou não fazer parte do ciclo, é a exposição à

superfície do material litificado ficando assim novamente sujeito ao intemperismo,

erosão, transporte, fechando assim o ciclo sedimentar. O levantamento é

suprimido caso a rocha sedimentar esteja se formando diretamente sobre a

superfície.

Page 107: Geologia e mineralogia

103

Deve-se lembrar que o ciclo sedimentar é um processo ativo e contínuo,

estando suas diferentes fases interligadas e podendo estar ocorrendo

concomitantemente.

7.3. Composição

Sendo as rochas sedimentares são derivadas de um material preexistente,

poderíamos esperar que sua composição fosse extremamente variável e

complexa. Isso de fato ocorre quando o sedimento é depositado próximo à área

de origem, mas quando o intemperismo e a erosão são prolongados. A

diferenciação sedimentar vai concentrar materiais semelhantes em tamanho,

forma e composição em depósitos distintos (Figura 69).

Figura 69 - Seleção de material durante o transporte

A maioria das rochas sedimentares é composta de materiais que são

abundantes em outras rochas ou seus respectivos produtos de intemperismo, e

que são estáveis sob condições de pressão de temperatura da superfície. A

grande parte das rochas sedimentares é na sua maior parte composta de apenas

de apenas quatro constituintes: quartzo, calcita, argila e fragmentos de rochas.

Quartzo (SiO2) - o quartzo é o mineral clástico2 mais abundante em rochas

sedimentares. A razão para isso é a grande abundância do quartzo na maioria na

2 O material clástico é aquele herdado de uma rocha pré-existente sem que tenha sofrido significativa alteração.

Um sedimento clástico é formado por fragmento ou detritos de uma rocha pré existente.

Page 108: Geologia e mineralogia

104

maioria das rochas e sua elevada dureza, resistência ao intemperismo e

estabilidade química nos mais diversos ambientes. Os processos do ciclo

sedimentar tendem a desintegrar, e decompor, os minerais menos estáveis

concentrando o quartzo nos depósitos de areia. A sílica amorfa em solução ou do

tamanho coloidal também é um produto de intemperismo de várias rochas

magmáticas e pode se precipitar em depósitos de granulação mais grosseira.

Calcita (CaCO3) - a calcita é constituinte principal das rochas calcárias e é

o agente cimentante mais freqüente de depósitos arenosos ou argilosos. O cálcio

é originado a partir do intemperismo de rochas magmáticas que contêm minerais

como os plagioclásios cálcicos. O carbonato é derivado da água e do ar

atmosférico. O cálcio é precipitado diretamente na forma de CaCO3 (calcita) ou

extraído da água do mar por organismos e concentrado em conchas. Quando

esses organismos morrem, as conchas e seus fragmentos acumulam-se como

material clástico, formando assim a maioria das rochas calcárias.

Argilas - os minerais de argila se originam do intemperismo dos silicatos,

principalmente dos feldspatos. A granulometria desses minerais é muito pequena

e eles se concentram em argilitos e folhelhos. A abundância dos feldspatos na

crosta terrestre, associado ao fato de que eles se decompõem com facilidade sob

condições atmosféricas, explicam a ocorrência generalizada desses minerais nos

sedimentos.

Fragmentos de Rocha - fragmentos de rocha, nos quais os constituintes

minerais não estão decompostos ou desagregados são de ocorrência comum nas

rochas clásticas de granulação mais grosseira. Os fragmentos de rocha também

podem ser parte predominante de rochas arenosas.

OUTROS MINERAIS

Depósitos de quartzo, calcita e argila isolados ou em várias combinações

representam o maior volume de rochas sedimentares, outros minerais, no

entanto, muitas vezes aparece em quantidade suficiente para formar estratos

isolados. A dolomita, CaMg (CO3)2 pode substituir a calcita nos calcários. O

feldspa o e a mica podem aparecer em grande quantidade em rochas arenosas

se o intemperismo químico for pouco intenso. A halita e o gipso precipitaram-se

por evaporação de águas marinhas e podem acumular grossas camadas em

certos ambientes. Os óxidos de ferro podem se precipitar de soluções formando

Page 109: Geologia e mineralogia

105

depósitos ou cimentando materiais elásticos mais grosseiros. A matéria orgânica

geralmente de pequena ocorrência em rochas sedimentares, mas seu acúmulo,

na forma de material vegetal, pode em alguns casos originar grandes depósitos.

7.4. Estrutura e Textura das Rochas Sedimentares

Existem estruturas que são típicas das rochas sedimentares e são feições

importantes na sua identificação.

A mais importante é a estratificação, que é o desenvolvimento de camadas

que ocorre nas rochas sedimentares produzido por mudanças físico-químicas

durante o transporte e deposição do ciclo sedimentar que os origina. A espessura

dessas camadas varia de alguns milímetros a vários metros, por ter desenvolvido

horizontalmente ou inclinado e é um forte indicativo do tipo de ambiente de

sedimentação e da direção do transporte.

A textura das rochas sedimentares relaciona-se de maneira muito estreita

com a distância e o tipo de transporte das partículas e com o ambiente de

deposição.

Temos basicamente dois grandes grupos de sedimentos: os detríticos

(fragmentos) e os químicos (compostos químicos solúveis), que originam dois

tipos básicos de textura: textura c1ástica constituída de fragmentos e detritos de

rochas e a textura cristalina composta de cristais que cresceram a partir de

soluções. A textura clástica origina as rochas sedimentares elásticas

(fragmentárias ou detríticas) enquanto que a textura cristalina origina rochas

sedimentares químicas e orgânicas.

Textura clástica - o critério básico para classificar texturas clásticas é o

tamanho das partículas. As duas escalas mais seguidas estão representadas na

Tabela 13.

As classes de tamanho podem posteriormente ser subdivididas de acordo

com arredondamento e esfericidade (Figura 71) e tipo de cimentação. As

partículas transportadas menos arredondadas do que as transportadas por água

corrente ou vento.

O grau de seleção do material é também um critério importante. Materiais

bem selecionados tem pouca variação granulométrica e homogeneidade

mineralógica.

Page 110: Geologia e mineralogia

106

Tabela 13 – Escalas de tamanho de partículas.

WENTWORTH ATTERBERG

DIÂMETRO (mm)

Argila < 1/256 < 0,002

Silte 1/256 – 1/16 0,002 – 0,02

Areia fina 1/16 – 1/14 0,02 – 0,2

Areia grossa 1/14 – 2 0,2 – 2

Cascalho fino 2 – 64 2 – 20

Cascalho grosso 64 – 256 20 – 200

Matacão > 256 > 200

Textura cristalina - Os minerais precipitados a partir de águas marinhas

ou lagos desenvolvem uma textura semelhante a uma rede emaranhada de

cristais. Essa textura é semelhante à de algumas rochas magmáticas, mas

geralmente é composto por um único mineral dominante. Os cristais individuais

têm aproximadamente o mesmo tamanho e formam um denso empacotamento.

7.5. Ambientes Deposicionais e Formação da Paisagem

Em regiões tropicais, o melhor ambiente de deposição de sedimentos é o

fluvial. Os ambientes desértico, lacustre e glacial também são ou foram

importantes em nossas condições.

7.5.1. Ambientes Deposicionais

I. Ambiente Fluvial

Em áreas continentais, os rios são os principais meios de transporte de

sedimentos formados pelo intemperismo. Os materiais sólidos transportados

pelos rios podem ser divididos em 2 grupos: carga do fundo, que é o material que

se move ao longo do leito por processos de saltação e rolamentos, e a carga de

suspensão.

Além disso, os rios carregam grande quantidade de materiais inorgânicos e

orgânicos dissolvidos.

Page 111: Geologia e mineralogia

107

Figura 70. Depósitos formados pela ação fluvial

Os depósitos de canal constituem o maior volume depositado pelos rios.

Os depósitos marginais são originados nas margens dos canais durante as

enchentes e compreendem os depósitos de diques marginais ou diques naturais e

de rompimento de diques. Os depósitos de planície de inundação são constituídos

essencialmente por sedimentos finos depositados durante grandes enchentes,

quando as águas ultrapassam os diques naturais e inundam as planícies. Muitas

vezes esses depósitos são responsáveis pela alta fertilidade de algumas várzeas.

O depósito residual de canal, formado por seixos grandes que o rio teve

pouca competência para carregar, constitui forte evidência do tipo de transporte

sofrido pelos sedimentos.

Os depósitos formados por ação fluvial geralmente são bem relacionados e

boa estratificação.

II Ambiente Desértico

Deserto é uma área onde a taxa de evaporação potencial excede a taxa de

precipitação pluviométrica e o vento é o agente geológico mais importante nos

processos de erosão e sedimentação. Nos ambientes desérticos predominam o

intemperismo físico das rochas envolvendo processos de fraturamento e

esfoliação.

Os arenitos da Formação Botucatu na Bacia do Paraná foram originados

de um ambiente com depósitos grosseiros de areia ou arenitos com estratificação

Page 112: Geologia e mineralogia

108

cruzada bem desenvolvida e fortes ângulos de mergulho apresentando

localmente camadas horizontais. Isso há 135 milhões de anos aproximadamente.

III. Ambiente Lacustre

Refere-se à deposição em lagos, que são corpos de água parada, em geral

água doce. Seus sedimentos têm normalmente um aumento de granulometria

rumo ao topo, sendo os sedimentos mais profundos argilosos.

São também características do ambiente as estratificações perfeitamente

paralelas e de espessura muito pequena.

IV. Ambiente Glacial

Estão praticamente limitado ao pólo norte e sul e às altas montanhas. As

geleiras são os agentes principais nos processos geológicos que atuam nesse

ambiente. Os depósitos não estratificados ou tilitos, originados pela atividade das

geleiras, possuem materiais de granulometria bastante variável, contendo siltes,

argilas, seixos e matacões de diversos materiais encontrados no caminho

percorrido pela geleira. No Brasil, o Grupo Tubarão contém fortes evidências de

períodos glaciais.

7.5.2. Formação da Paisagem

A ciência que se ocupa da formação de paisagens é a geomorfologia. A

formação da paisagem está fortemente relacionada com o material geológico

superficial e com os agentes erosivos e transporte que atuam em determinada

região. Portanto, feições de paisagem onde predomina uma intensa atividade

glacial serão totalmente diferentes daquela devido à ação fluvial. Os mesmos

agentes formarão paisagens diferentes dependendo das rochas ou material

geológico encontrado.

As formas e formação da paisagem tem por isso estreita ligação com a

geologia e com os processos dinâmicos que atuam num local, consequentemente

tem excelente correlação com o tipo de solo formado nas diferentes feições ou

posições da paisagem.

A paisagem é o retrato ou reflexo de todas as características e processos

dinâmicos que atuam durante o tempo numa área e deve sempre ser estudada ou

analisada quando interferências ou observações da geologia de superfície ou

Page 113: Geologia e mineralogia

109

referentes aos solos (pedológicas) forem feitos.

Na Figura 71 vemos a evolução da paisagem considerando agentes e

materiais geológicos distintos.

Figura 71 – Evolução da paisagem

7.6. Classificação

As rochas sedimentares clásticas resultam de processos completamente

diferentes daquelas formadas por precipitação química ou sedimentação de

compostos orgânicos. Por isso, as rochas sedimentares são divididas em 2

grupos: rochas clásticas e de origem químico-orgânica. A subdivisão de cada um

dos grupos é feita com base na textura, composição ou outra característica

relevante. Cerca de 90 % das rochas sedimentares podem ser classificadas como

variedade de argilito, siltito ou arenito.

As rochas clásticas são classificadas de acordo com o tamanho das

partículas com posterior subdivisão por composição.

Page 114: Geologia e mineralogia

110

As rochas de origem química são primeiramente subdivididas de acordo

com sua composição.

Tabela 14. Classificação das rochas clásticas, químicas e orgânicas

CLÁSTICAS

Residuais Psefitos Psamitos Epiclasticas Pelitos Piroglasticas Brecha Vulcânica

Tufo Vulcânico

QUÍMICAS Evaporitos de atividade bioquímica

ORGÂNICAS

Caustobiolitos Carbonatadas Acaustobiólitos Silicosas Fosfatadas

7.6.1. Rochas Clásticas

As rochas clásticas são compostas principalmente de fragmentos ou

detritos de outros materiais rochosos. Tais depósitos são denominados de

cascalhos, areias ou argilas, quando não estão consolidados e conglomerados,

arenitos ou argilitos quando consolidados e endurecidos. A maior parte do

material é selecionado, estratificado e mostra sinais de abrasão. A classificação

das rochas clásticas é baseada na textura e composição (Tabela 15).

Page 115: Geologia e mineralogia

111

Tabela 15. Classificação das rochas elásticas (Popp,1998).

Grupos Principais Granulometria (Wentworth)

(mm)

Nomes dos sedimentos ou rochas sedi-

mentares Outras características

Sedimentos não consolidados

Rochas sedimentares correspondentes

SEDIMENTOS DE GRANULA- ÇÃO GROSSEI- RA OU PSEFI-

TOS

256 MATACÕES

CONGLOMERADOS E BRECHA

São geralmente forma- dos por fragmentos de

rocha ou matriz arenosa ou síltica. As

varieda-des com partículas

arredondadas são os CONGLOMERADOS. Quando as partículas

são irregulares, tem-se a brecha.

Blocos ou CAS- CALHO GROS-

SO 64-256

Seixos ou CAS- CALHO FINO

4-64

2-4 GRÂNULOS

SEDIMENTOS DE GRANULA- ÇÃOMÉDIAOU

PSAMITOS

As areias são predomi- nantemente formadas

por quartzo. Por cimen- tação, formam os areni- tos. Arenitos com 25% ou mais de feldspato

denominam-se arcósios.

AREIA GROS- SA

ARENITOS GROS-

1/4-2 SEIROS

ARENITOS FINOS 1/16-1/4 AREIA FINA

SEDIMENTOS DE GRANULA- ÇÃOFINAOU

PELITOS

1/256-1/16

SIL TITOS E FOLHE- LHOS

Os siltes são formados por minerais finalmente moídos (pode de rocha) e a compactação forma

os siltitos.

SILTE

1/256 ARGILA ARGILITOS E FO-

LHELHOS

As argilas são predomi- nantemente composta por argilo minerais e

são plásticas. Os argili- tos são mais maciços e

os folhelhos apresentam

foliação

Page 116: Geologia e mineralogia

112

I. Conglomerado

Consistem de fragmentos de rochas grandes (> 2 mm), os chamados

clastos. Quando os clastos são angulosos, a rocha denomina-se brecha, podendo

indicar pouco ou nenhum transporte. Quando os c1astos sofrem arredondamento,

em geral estão associados a uma matriz arenosa, e o depósito constitui um

ortoconglomerado.

Os fragmentos que formam o conglomerado são unidos por matriz

arenosa, argilosa e agentes cimentantes (sílica, óxidos de ferro, carbonatos). Os

seixos individuais são bem selecionados e arredondados. Os seixos do

conglomerado podem ser de qualquer mineral ou rocha, sendo mais comum

serem constituídos de materiais resistentes como o quartzo ou fragmentos de

quartzito. Fragmentos de calcários ou granitos podem predominar em alguns

casos.

Águas correntes muito fortes, gelo ou a gravidade são os únicos agentes

competentes para o transporte de seixos grandes. Os ambientes comuns de

ocorrência de conglomerados são terraços aluvionares, canais de rios ou praias.

FOTO – CONGLOEMRADO EM MATRIZ DE ARENITO GROSSO

II. Brecha

Brechas são rochas elásticas de granulação grosseira nas quais os

fragmentos são angulares e apresentam poucas evidências de abrasão. O

material normalmente é pouco selecionado e apresenta matriz fina. As brechas

mais comuns se originam da atividade glacial ou outros fenômenos de movimento

de massas.

Page 117: Geologia e mineralogia

113

FOTO – BRECHA

III. Arcósio

São rochas clásticas que contém no mínimo 25 % de feldspatos. O quartzo

é o outro constituinte principal. A rocha tem geralmente coloração rósea e lembra

muito o granito. Normalmente tem granulação grosseira, pouco arredondamento e

seleção- moderada .

Page 118: Geologia e mineralogia

114

IV. Arenitos

Sedimentos clásticos nos quais a maioria das partículas tem diâmetro entre

1/6 a 2 mm. Os grãos individuais são geralmente arredondados e mostram

claramente os efeitos da abrasão. O quartzo normalmente é o mineral dominante,

mas, feldspatos, granadas, micas e outros minerais podem estar presentes em

quantidades variáveis.

Arenitos pouco selecionados e com grande quantidade de argila associada

(mais que 20%) são chamados de grauvacas.

Os agentes cimentantes comuns são carbonatos, sílica e óxidos de ferro.

Os arenitos normalmente são estratificados e de coloração variável dependendo

do cimentante. A sua distribuição é generalizada, sendo encontrados nos mais

diversos ambientes.

V. Siltitos

Os siltitos são rochas clásticas de granulação fina com mais da metade de

Page 119: Geologia e mineralogia

115

suas partículas com diâmetro entre 1/16 a 1/256 mm. A estratificação é bem

evidente e sua composição mineralógica comum é o quartzo associado em menor

quantidade com micas e minerais de argila.

Aparecem nos deltas ou planícies de inundação dos rios. Dificilmente

formam depósitos espessos, ocorrendo normalmente estratos intercalando

argilitos ou arenitos.

VI. Argilitos

FOTO – Amostra de Argilito, aspecto untuoso e coloração escura

Rochas clásticas de granulação fina cujas partículas são menores que

1/256 mm. Apresentam estratificação muito fina recebendo a denominação de

folhelho.

Os minerais de argila, micas e algumas vezes o quartzo constituem a

maioria d as rochas. A calcita pode estar presente atuando como cimentante.

7.6.2. Rochas sedimentares químicas e orgânicas

As rochas sedimentares são formadas a partir de minerais percipitados,

como a calcita e dolomita, a sílica, a halita e silvita, já as rocgas sedimentares

orgânicas são originadas pela precipitação e/ou acúmulo de materiais orgânicos

animais e vegetais, como esqueleto (diatomito), conchas, carapaças (recifes de

corais), restos vegetais (carvão).

Page 120: Geologia e mineralogia

116

7.6.2.1. Rochas Sedimentares de Origem Química

I. Calcários

São rochas sedimentares que contém mais de 50 % de carbonato de

cálcio. Podem aparecer algumas impurezas tais como argilas, quartzo, óxidos de

ferro e fragmentos de rocha. A calcita e o CaCO3 podem ter origem de

precipitação química, orgânica ou ser formados por detritos. São classificadas

com base em sua textura ou outra propriedade relevante. Todos os calcários são

semelhantes em composição e apresentam efervescência em HCI a frio. A calcita

pode aparecer associadas à dolomita CaMg(CO3)2 .

II. Laterita

A laterita é formada pelo acúmulo secundário de óxidos de ferro como a

hematita e a goetita. Apresenta coloração vermelha ou bruna intensa, dureza

elevada e alta densidade. Forma-se normalmente na região de oscilação do

lençol freático próximo à superfície. A fase pouco endurecida da laterita é

chamada de plintita, que ora secando, ora umedecendo, sofre endurecimento

irreversível e transforma-se em laterita.

III. Evaporitos

Page 121: Geologia e mineralogia

117

São depósitos de cloreto de sódio, potássio, sulfatos, carbonatos, boratos e

outros sais comumente relacionados com a evaporação exagerada do solvente.

Formam-se em braços de mar, mares interiores, lagos salgados etc. É exemplo o

sal em Cotiguiba, Sergipe e Nova Olinda, Amazonas.

7.6.2.2. Rochas sedimentares orgânicas

De acordo com POPP (1998), são sedimentos formados pela acumulação

bioquímica de carbonatos, sílica e outras substâncias, ou então pela deposição e

transformação da própria matéria orgânica. O acúmulo de carbonato ou

sedimentos acaustobiolitos, ou seja, não-combustíveis, merecem destaque os

calcários formados pela acumulação de conchas, corais etc. ou originados pela

intervenção de certas algas, assim como sedimentos formados pela acumulação

de estruturas silicosas de foraminíferos e diatomáceos (diatomitos). A sílica e

outras substâncias são denominadas caustobiolitos, ou seja, biolitos

combustíveis, e se formam pela acumulação de maior ou menor quantidade de

matéria orgânica juntamente com uma certa porção dos sedimentos argilosos ou

calcários.

O tipo de material acumulado é predominantemente formado por restos

orgânicos com um dado teor de carbono. Esses sedimentos (acumulo de restos

vegetais, por exemplo) se formam em um ambiente redutor (anaeróbico) com

maior ou menor teor de argila. O sedimento assim formado chama-se turfa. Com

a evolução diagenética (incrementação de carbono), a turfa passa a outras formas

cada vez mais ricas em carbono chamadas linhito, hulha e antracito.

Quando a matéria orgânica que se acumula é predominantemente

constituída por seres aquáticos como algas, plâncton, e a deposição ocorre em

lagunas costeiras ou mares rasos semifechados como o Mar Negro, por exemplo,

os sedimentos que se formam são denomina sapropélicos, e de sua diagênese e

evolução se formam os folhelhos betuminosos, os folhelhos orgânicos e o

petróleo.

I. Fosforitos

São rochas de origem orgânica resultante do acúmulo de detritos de

peixes, répteis e mamíferos. Também são conhecidos por fosfatos de rocha. Sua

constituição principal é fosfato e carbonato de cálcio. O aspecto e textura dessas

Page 122: Geologia e mineralogia

118

rochas são muito variáveis.

Page 123: Geologia e mineralogia

119

CAPÍTULO 8 - ROCHAS METAMÓRFICAS

8.1. Introdução

As rochas sedimentares são formadas, de modo geral, pela desintegração

e/ou decomposição de rochas pré-existentes, com posterior transporte dos

detritos ou fragmentos, culminando o processo com a deposição ou sedimentação

dos produtos da erosão, perto ou longe da área fonte que forneceu o material.

Desse modo, as condições de pressão e temperatura em que se formam

as rochas sedimentares conseqüentemente aproximam-se ou são idênticas às da

superfície terrestre.

Por outro lado, as rochas ígneas derivam-se da solidificação de um magma

e se cristalizam a temperaturas no geral desde 1100º C até 600º C, sob condições

de pressão variando desde atmosféricas (caso das lavas) até alguns milhares de

bárias (condições de profundidades de até 20 km; caso das rochas plutônicas).

Figura 72. Metamorfismo regional em área da crosta instável sujeita a fortes compressões. A

intensidade do metamorfismo decresce nas rochas no sentido de (C) para (A);

(Extraído de Popp, 1998).

As rochas sedimentares bem como as magmáticas, quando soterradas a

Page 124: Geologia e mineralogia

120

profundidades de 3 a 20 km em determinados ambientes geológicos onde atuam

altas pressões (dos tipos hidrostáticos e cisalhantes) e temperaturas (que oscilam

desde 100 até 600º C), tornam-se instáveis, transformando-se e constituindo

assim uma rocha metamórfica. Tais transformações são mineralógicas e/ou

texturais, de modo que a rocha passa a ter uma nova composição mineralógica e

novas texturas e estruturas.

A classificação das rochas metamórficas não obedece a critérios

determinados como nos casos anteriores, dada a sua grande variabilidade. Os

mais diversos tipos de rochas são passíveis de se metamorfizarem, de modo que

não existem parâmetros distintivos de aplicação ampla.

As rochas metamórficas são aquelas que sofreram fundamentais

modificações devido à ação do calor, pressão e ação química de fluídos e gases.

Essas novas rochas, consequentemente, chamadas de metamórficas formaram-

se a partir do fenômeno metamorfismo, ou seja, transformação.

As fontes de calor durante os processos metamórficos são corpos

magmáticos em resfriamento, desintegração radioativa de elementos e devido ao

gradiente geotérmico. Os fluídos e gases podem vir da porção volátil do magma

ou da atmosfera e hidrosfera superficiais.

Os principais efeitos do metamorfismo são:

1- recombinação química e crescimento de novos minerais com ou sem a adição

de elementos de fluídos ou gases percolantes;

2- deformação e rotação dos grãos minerais constituintes;

3- recristalização de minerais em grãos maiores.

O resultado final é uma rocha de maior cristalinidade e dureza, adquirindo

novas feições estruturais como dobras ou outras expressões de deformação

(Tabela 16).

Tabela 16 – exemplos de rochas metamórficas de acordo com as classes químicas

MATERIAL DE ORIGEM CLASSES QUÍMICAS

Granitos, Arenitos, quartizitos etc Rochas Quartzo-feldspáticas Argilitos, Folhelhos Rochas Aluminosas Calcários e Dolomitos Rochas Carbonatadas Rochas de Magma Gábrico, Dioritos Rochas Básicas Peridotios e Serpentinitos Rochas Magnesianas Sedimentos Ferruginosos Rochas Ferruginosas

Page 125: Geologia e mineralogia

121

Cada uma destas classes químicas mencionadas anteriormente possui

exemplos característicos como:

CLASSES QUÍMICAS EXEMPLOS

Rochas Quartzo-feldspáticas Gnaisses e Quartzito

Rochas Aluminosas Ardósia, Filito e Micaxisto

Rochas Carbonatadas Mármore e Escarmito

Rochas Básicas Anfibolitos e Metabasitos

Rochas Magnesianas Talcoxisto e Talcito

Rochas Ferruginosas Itabiritos

8.2. Tipos de Metamorfismo

8.2.1. Metamorfismo de Contato

Desenvolve-se ao redor de corpos ígneos intrusivos (como batólitos), que

cedem parte de sua energia térmica às rochas vizinhas encaixantes (Figura 73 e

74). Em conseqüência, as rochas assim metamorfisadas apresentam-se em

auréolas envolvendo o corpo ígneo. Essas auréolas possuem no máximo algumas

centenas de metros de espessura. O fator dominante na sua formação é a

temperatura e as soluções gasosas que emanam do corpo ígneo, enquanto a

pressão tem um papel secundário.

Figura 73. Metamorfismo de contato provocado pela intrusão de um batólito. As rochas sofrem

diferentes graus de metamorfismo, sendo muito alto em (C), médio em (B) e baixo em

(A).

Page 126: Geologia e mineralogia

122

Figura 74 - Metamorfismo de contato provocado pela intrusão de um batólito. As rochas

sofrem diferentes graus de metamorfismo, sendo muito alto em (C), médio em (B) e

baixo em (A).

8.2.2. Metamorfismo Regional

Desenvolve-se em regiões que sofrem tectonismo intensivo, isto é,

compressões e dobramentos de extensas áreas da crosta com atuação de

pressões orientadas e temperaturas muito elevadas (Figura 75). Em geral, as

rochas que sofrem este tipo de metamorfismo ocorrem em áreas onde existem ou

existiram grandes cadeias montanhosas, fazendo parte dos chamados escudos

cristalinos.

Figura 75. Metamorfismo regional em área da costa instável, sujeita a fortes compressões.

Page 127: Geologia e mineralogia

123

8.3. Foliação

Foliação - habilidade da rocha de se separar ao longo de superfícies

aproximadamente paralelas, devido à distribuição paralela das camadas ou linhas

de uma ou vários minerais na rocha. Pode ser expressa por: fratura paralela de

pequena espessura (ardósias), arranjamento paralelo de minerais alongados

(xistosidade) ou por camadas alternadas de composição mineralógica distinta

(gnaisse).

A foliação desenvolve-se durante o metamorfismo por stress orientado e,

característica fundamental das rochas metamórficas, serve como critério de

classificação.

Rochas metamórficas que não apresentam foliação são, aparentemente,

desprovidas de estrutura e constituídas de apenas um mineral.

8.4. Classificação das Rochas Metamórficas

A identificação das rochas metamórficas é muito complexa e é difícil

formular um sistema de classificação satisfatório na sua composição mineralógica

ou modo de origem. O modo mais conveniente de classificar as rochas

metamórficas é agrupa-Ias de acordo com suas feições estruturais com posterior

subdivisão, de acordo com sua composição. Dessa forma, dividem-se as rochas

naquelas que apresentarem foliação e naquelas que não apresentam foliação. As

que apresentam foliação são posteriormente agrupadas de acordo com o tipo de

foliação. Os tipos mais importantes são os da relação que segue na Tabela 17.

Page 128: Geologia e mineralogia

124

Tabela 17 - Classificação das rochas metamórficas

Page 129: Geologia e mineralogia

125

8.4.1. Ardósias

São rochas de granulação muito fina de minerais praticamente

imperceptíveis a olho nu e apresentam foliação na forma de fraturas paralelas de

pequena espessura e excelente xistosidade. As ardósias são densas, de

coloração escura, cinza, vermelha, verde ou preta. Rochas de baixo grau

metamórfico (incipiente, derivadas de rochas do tio argilito/siltito.

8.4.2. Filitos

São rochas xistosas, de granulação fina, apresentam um brilho sedoso

típico devido à presença de pequenos cristais de serecita. As cores são variadas,

sendo comuns os tons castanhos claro, esverdeado, cinza, esbranquiçado, etc.

são rochas com boa xistosidade e os planos de xistosidade metamórficos (fraco)

originados de argilito/siltito.

Page 130: Geologia e mineralogia

126

8.4.3. Xistos

São rochas de xistosidade bastante acentuada onde os cristais

constituintes são bem visíveis e apresenta-se em folhas ou placas delgadas. A

composição predominante é de biotita, moscovita, clorita, quartzo, etc. (Figura 62)

Figura 80 - Xistosidade vista ao microscópio

8.4.4. Gnaisses

Os gnaisses apresentam granulação mais grosseira e foliação resultando

camadas de constituição mineralógica distinta (minerais agrupam formando as ou

faixas alternadas em tons claros e escuros).(Figura 76)

Figura 76 - Camadas mineralogicamente distintas do gnaisse.

Page 131: Geologia e mineralogia

127

Essa rocha origina-se do metamorfismo intenso de rochas da família dos

granitos - riólitos ou a partir de rochas sedimentares arenosas ou metamórficas de

pequena intensidade. São rochas constituídas por micas, anfibólios, quartzo e

feldspato.

8.4.5. Metaconglomerados

O metaconglomerado é um conglomerado que foi alterado pelo calor e

pressão de uma forma que os seixos estão deformados, quebrados e fundidos

uns aos outros. Os seixos podem apresentar certa orientação dentro da rocha.

São rochas normalmente muito endurecidas. A matriz areno-siltosa também

apresenta deformações estruturais.

8.4.6. Quartzito

Os quartzitos puros são originados de arenitos quartzíferos, os menos

puros normalmente apresentam micas associadas, compostas por mais de 80 %

de quartzo. Possuem em geral coloração clara, dureza muito elevada e aspecto

maciço. Não apresentam foliação.

Page 132: Geologia e mineralogia

128

8.4.7. Mármore

Rocha metamórfica sem foliação, o mármore é constituído principalmente

de calcita e dolomita. As cores variam do branco, róseo ao cinza, marrom e preto.

Apresentam dureza baixa, alta compacidade e efervescência com ácido clorídrico

a frio.

8.4.8 Anfibólios

Rochas compostas de anfibólios e feldspatos (plagioglásios). Apresentam

orientação de minerais e provem de rochas ígneas básicas.

Page 133: Geologia e mineralogia

129

8.4.9. Itabiritos

É um tipo essencial de quartizito, provavelmente de rocha sedimentar

química, que se caracteriza por uma alternância de bandas de quartzo e bandas

de hematita (geralemente especularita).

Page 134: Geologia e mineralogia

130

Tabela 18 – Identificação das rochas metamórficas

Page 135: Geologia e mineralogia

131

CAPÍTULO 9 - MINERALOGIA DE SOLOS

9.1. Introdução

As rochas são o substrato do qual se originam praticamente todos os solos.

É a partir da desagregação destas, que o clima, relevo, organismos e tempo

(fatores de formação) exercem sua influência no processo de evolução dos solos.

As características das rochas, principalmente a composição química e

mineralógica, sua resistência mecânica e a sua textura vão influir sobre o teor de

elementos químicos colocados em disponibilidade para as plantas, sobre as

reservas minerais do solo, sobre a coloração que o solo pode apresentar, sobre a

textura e também sobre a profundidade do perfil do solo.

Como as rochas são formadas de minerais, é indispensável o

conhecimento das propriedades dos minerais que entram na composição das

principais rochas. Na análise desses minerais obtêm-se muitas informações como

a capacidade potencial do solo de fornecer nutrientes às plantas, no entanto, a

simples presença do nutriente na composição do mineral não é indicativo da sua

presença no solo. Isso dependerá da maior ou menor facilidade com que esse

nutriente será liberado para o solo, o que é função da sua maior ou menor

susceptibilidade à decomposição química provocada pelo intemperismo.

Muitos minerais têm sua composição química definida. Outros têm uma

série de compostos onde elemento metálico pode ser total ou parcialmente

substituído por outro. Assim têm-se dois minerais muito similares quimicamente e

em muitas de suas propriedades físicas, mas diferem na cor e em outras

propriedades físicas. Raramente, uma propriedade física ou química identifica um

mineral, em geral necessita-se de muitas características como clivagem, fratura,

cor, etc.

Com essas observações conclui-se que é relevante o conhecimento básico

dos minerais dentro do estudo da origem e formação dos solos. Entretanto, o solo

não é apenas função do seu material de origem. Sendo assim, a análise da

influência dos fatores de formação do solo não poderá ser feita de maneira

isolada, mas de forma conjunta.

Page 136: Geologia e mineralogia

132

TEMPO

Figura 76 - Formação do solo a partir de uma rocha

COMPOSIÇÃO DO SOLO

Os solos minerais contêm 4 componentes principais:

1) substâncias minerais;

2) matéria orgânica;

3) água;

4) ar.

Estes se encontram geralmente em estado adiantado de subdivisão e

muito bem misturados, sendo difícil de serem separados. A Figura 77 representa

a composição em volume de um solo.

Neste capitulo, será abordado a porção inorgânica da fase sólida do solo.

Page 137: Geologia e mineralogia

133

Figura 77. Composição volumétrica de um solo, quando apresenta boas condições para o

crescimento vegetal. O aumento de água no solo é extremamente variável e suas

proporções determinam em grau elevado sua adequabilidade para o crescimento

vegetal.

9.2. Minerais do Solo

A parcela inorgânica da fase sólida do solo é variável em tamanho e

composição, sendo composta geralmente de pequenos fragmentos de rocha e de

minerais de várias espécies.

Os fragmentos de rocha são remanescentes de rochas maciças, da qual se

formam por intemperismo, no regolito (manto de alteração) e por sua vez, no solo

apresentando geralmente granulação grosseira (Tabela 19). Os minerais, pelo

contrário, são extremamente variáveis em tamanho. Alguns são tão grandes como

os fragmentos menores de rochas; outros, como as partículas coloidais da argila,

são tão pequenos que só podem ser vistos com o auxílio de um microscópio

eletrônico.

GRAVE BEM !

Minerais primários - são aqueles herdados de rochas metamórficas ou

magmáticas e que não sofreram alteração em sua estrutura e composição. Ex.:

quartzo. Geralmente os minerais primários dominam as frações maiores do solo,

especialmente nas areias.

Page 138: Geologia e mineralogia

134

Minerais secundários - são aqueles formados pela desintegração de

minerais menos resistentes, à medida que se desenvolve a alteração da rocha

(regolito) e progrediu a formação do solo. Ex.: argilas silicatadas (filossilicatos) e

os óxidos de ferro e alumínio.

Geralmente os minerais primários dominam as frações maiores do solo,

especialemnte areias.

Tabela 19 - Quadro classes de tamanhos principais de partículas inorgânicas.

Tamanho da Diâmetro das Nome

Meios de Composição

Fração partículas (mm) Observação dominante

Muito Grosso > 2,0 Seixos e

Olho nu Fragmentos de

Cascalho rocha

Grosso 0,02 a 2,0 Areia Olho nu Minerais

primários

Fino 0,002 a 0,02 Silte Microscópico

Minerais

primários e

secundários

Muito Fino < 0,002 Argila Microscópico Minerais

Eletrônico secundários

As partículas mais grossas de areia são com freqüência, fragmentos de

rocha e minerais. Concreções e nódulos são de ocorrência comum nas frações

grosseiras de solos tropicais.

Há geralmente, predominância de quartzo nas granulações mais finas de

areia, como também nas frações granulométricas de silte (Figura 78).

Page 139: Geologia e mineralogia

135

Figura 78 - Relações gerais entre o tamanho da partícula e os tipos de minerais presentes.

Quartzo predomina sobre frações grosseiras. Silicatos primários, como feldspatos, hornblenda e

micas, acham-se presentes nas areias, porém tendem a desaparecer à medida que se caminha

para as frações mais finas. Silicatos secundários predominam na fração argila. Outros minerais

secundários como óxidos e ferro e de alumínio predominam nas frações silte fino e argila grossa

9.2.1. Cascalho e Areia

Os fatores formadores do solo determinam ações físicas, químicas e

biológicas que transformam a rocha original. As primeiras desintegram o material,

dando origem às frações grosseiras do solo chamadas cascalho e areia. Tais

partículas possuem tamanho maior que 0,05 mm de diâmetro e mantém as

características da rocha mãe.

A areia grossa é constituída por fragmentos de rochas nos quais persistem

uma boa parte dos minerais originais. A areia fina, por sofrer ação mais intensa do

intemperismo, apresenta os constituintes separados ou individualizados da rocha

mãe.

Com o prosseguimento da ação do intemperismo físico e químico, surgem

partículas cada vez menores como o silte e a argila (Figura 79).

Page 140: Geologia e mineralogia

136

Figura 79 - Ação do intemperismo físico e químico

9.2.2. Silte

Na mineralogia, a fração silte é a menos definida que a areia e a argila,

pois se constitui de produto proveniente da desintegração física e da alteração

química. Encontra-se então no silte minerais primários, medianos a altamente

resistentes ao intemperismo e uma quantidade significativa de minerais

secundários, porém em menor proporção. Também encontramos freqüentemente

produtos intermediários de alteração dos minerais primários originais.

O fato de existir minerais primários, produtos intermediários e minerais

secundários na fração silte, demonstra a instabilidade destas partículas no solo e

seu caráter dinâmico no que tange à alteração dos minerais do solo.

Façamos uma analogia entre a fração silte e as prateleiras de um

supermercado. A fração silte seria o depósito do supermercado, de onde são

retirados os produtos para serem expostos na prateleira, sendo desenfardados e

individualizados. A retirada dos produtos nas prateleiras é responsabilidade do

intemperismo, e a parte dos produtos do intemperismo serão formados os

minerais da fração argila e serão liberados elementos nutrientes essenciais ao

desenvolvimento da vida vegetal, assim como outros elementos que em níveis

elevados na solução do solo, podem ser tóxicos às plantas como o AI e o Mn.

Page 141: Geologia e mineralogia

137

Mineralogicamente, areia e silte representam a reserva mineral de um solo

se neles existirem minerais facilmente decomponíveis. O intemperismo, através

de reações de hidrólise principalmente, será capaz de liberar elementos que

poderão servir de nutrientes para as plantas, poderão se recombinar com outros

componentes de meio, dando origem a minerais secundários na fração argila do

solo, e também poderão ser perdidos por lixiviação.

9.2.3. Argila

Na fração argila há um predomínio absoluto de minerais secundários

enquanto que nas frações mais grosseiros encontramos minerais primários

dominando. As partículas mais grossas da fração argila (2,0 a 0,2 mm.)

comumente apresentaram alguns minerais primários.

Alguns minerais contidos na fração argila poderão ser herdados

diretamente da rocha, como é o caso de solos desenvolvidos de rochas

sedimentares, havendo pequenas alterações apenas.

As partículas de argila têm alta "atividade" nas propriedades químicas,

físicas e também biológicas do solo. A areia e o silte possuem muito pouca

atividade de superfície e pouco contribuem no balanço total das propriedades do

solo. Havendo uma redução no tamanho das partículas, maior é a superfície

específica provocando na expressão das propriedades. A argila é muito mais ativa

que a areia e silte.

9.3. Relembrando outros capítulos...

Até agora você já aprendeu os o que são minerais e sua classificação, o

que é uma rocha e os critérios para caracterizá-lo como Magmáticas,

Metamórficas e Sedimentares e Intemperismo.

Veremos agora como relacionar material de origem (rocha) com a

composição mineralógica das frações areia e silte, onde encontramos os minerais

primários.

Relembrem os capítulos das Rochas Magmáticas, Metamórficas e

Sedimentares.

Page 142: Geologia e mineralogia

138

9.4. Algumas relações entre "Dessilicatização" e a Mineralogia de Solos

No capítulo de intemperismo, alguns processos foram apresentados, tais

como a hidrólise, a oxidação-redução e a lixiviação.

Outro processo importante é a dessilicalização, que seria a remoção de

silício do meio. O grau de dessilicatização é responsável pela estabilidade dos

minerais de argila presentes.

9.4.1. Conceito de Dessilicatização

Chama-se dessilicatização a remoção do silício durante o intemperismo

das rochas. Para se compreender melhor esta remoção do silício se faz

necessário fazer uma abordagem sobre lixiviação.

9.4.1.1. Lixiviação

POLYNOV (1937), em seu trabalho clássico sobre o ciclo do intemperismo,

determinou a mobilidade dos elementos. Suas conclusões se basearam no estudo

das águas de um rio em relação à composição das rochas de sua bacia

hidrográfica. O autor dividiu os elementos, em quatro fases, de acordo com sua

mobilidade relativa, tendo como base de referência o cloro (Cl-), o mais móvel e

que recebeu o índice 100.

Cl- 100

Fase I

SO4- 57

Ca++

3,00

Na

+ 2,40

Mobilidade

Fase II relativa dos

Mg

++ 1,30 elementos

K+ 1,25

Fase III SiO2 0,20

Fe2O3 0,04

Fase IV

AI2O3 0,02

Page 143: Geologia e mineralogia

139

Outros estudos foram relatados por CHESWORTH (1973) estabelecendo

seqüências de mobilidade dos elementos, mostrando variações na ordem

estabelecida por POLYNOV, porém apresentam mesmas tendências.

Observa-se que na primeira fase ocorre a remoção intensa dos ânions Cl- e

SO4-. Na fase II, são movidos elementos alcalinos terrosos. Esta fase pode ser

subdividida em 2 estágios; correspondendo a maior mobilidade de íons cálcio e

sódio em relação aos íons magnésio e potássio. Na terceira fase ocorre a

remoção de sílica dos silicatos de alumínio e finalmente na quarta fase, uma

pequena remoção do produto residual do intemperismo, os sesquióxidos de ferro

e alumínio.

Dado o início da fase III, que vem a ser a remoção de sílica, inicia-se a

decomposição dos silicatos de alumínio do solo. Isto pode ser assim

representado:

Remoção de SiO2 Remoção de SiO2

Esquema simplificado da dessilicatização nos solos e seus produtos.

Fica claro que a dessilicatização ocorre num estágio onde já ocorreu

Iixiviação das bases (Ca2+, Mg2+, K+, Na+) e quanto mais intensa essa remoção de

bases, maior será a perda de sílica.

9.4.2. Conceito de Neossíntese de Minerais do Solo

o que é neossíntese?

Neo = nova sítese = fusão, composição

Trata-se da formação de um mineral secundário do solo a partir da fusão

ou composição de elementos (Ca, Mg, Fe, Si) e compostos mais simples, como

SiO2, Al2O3 amorfos.

Estes elementos e compostos simples podem originar-se da alteração de

minerais primários e mesmo da hidrólise de minerais secundários. Portanto, nem

todo mineral secundário é, unicamente formado a partir da destruição de um

mineral primário. As condições do meio em que se encontram é o que "comanda"

a formação dos minerais.

2:1 1:1 Sesquióxidos de alumínio

Page 144: Geologia e mineralogia

140

Um resumo dos principais minerais presentes na fração argila, e as

condições gerais do meio de formação estão no quadro a seguir. ,

GRUPO DE MINERAIS CONDiÇÕES DO MEIO (SOLO)

2:1 Meio alcalino e levemente ácido

Alta concentração de sílica e bases

1:1 Meio ácido

Baixa concentração de sílica e bases

GIBSITA Meio muito ácido

Baixíssima concentração de sílica e

bases

Se numa paisagem, há um fluxo convergente de soluções (contendo sílica

e bases entre outros), haverá acúmulo, sendo provável a reorganização do

conteúdo, originando um mineral secundário (Figura 80). Assim, argilas

silicatadas 1:1 e 2:1 principalmente, podem se formar a partir de um acúmulo de

produtos de alteração de outros minerais secundários.

Figura 80 - Mostra como pode acontecer remoção de bases e sílica de um sistema de

drenagem livre onde a lixiviação é fornecida e o posterior acúmulo num

sistema “fechado” de drenagem.

Visto os conceitos de dessilicatização, condições de estabilidade dos

minerais da fração argila e neossíntese, tem-se, portanto, os modelos básicos que

Page 145: Geologia e mineralogia

141

ajudam a compreensão da composição mineralógica do solo em diferentes

condições de intemperismo.

Os modelos levam em consideração fundamentalmente o grau de

dessilicatização do material tendo em vista a intensidade do processo e o tempo

em que o material de origem do solo é submetido a dessilicatização. Considere o

material de origem igual para os três casos: basalto (Figura 82).

Para as condições tropicais e subtropicais em que o Brasil se encontra, os

modelos de Jackson se aplicam em muitos casos:

Dessilicatização tênue solos com mineralogia 2:1 e presença de

minerais interestratificados 2:2 e minerais primários.

Dessilicatização moderada solos com mineralogia 1:1 e presença de

interestratificados 2:2 e eventualmente minerais primários alterando para 2:1 nos

horizontes próximos à rocha matriz.

Dessilicatização intensa solos com mineralogia oxídica e presença de

caulinita e eventualmente interestratificados 2:2.

Observação: FATORES QUE AFETAM A FORMAÇÃO DE UM SOLO:

- Material de origem; clima; relevo; organismos (ação biológica) e tempo.

Ao analisar o grau de intemperismo e dessilicatização do solo, tem-se a

interação dos cinco fatores que dará origem a uma enorme variedade de solos e

isto será mais bem estudado na disciplina de PEDOLOGIA. Este curso trata-se,

especificamente, do material de origem dos solos.

Page 146: Geologia e mineralogia

142

a) Dessilicatização tênue, baixo grau de intemperismo (intensidade x tempo)

b) Dessilicatilização moderada, grau intermediário de intemperismo (intensidade x tempo).

c) Dessilicatilização intensa, intemperismo acentuado (intensidade x tempo).

Figura 81 - Graus de lixiviação de Si (dessilicatização), e a formação dos principais grupos de

argila no solo. Adaptado de JACKSON (1964)

+++ minerais 2:1

++ minerais 2:2 e minerais primários

Embaciamento

Minerais 2: 1

+++ minerais 2: 1

++ minerais 2:2 e outro minerais primários

+ óxidos de Fe e Al

Embaciamento

Minerais 2:1

LEGENDA

+ presente

++ menos bundante

+++ abundante

Intensidade de dessilicatização

+++ sesquióxidos Fe e AI

++ minerais 1:1

+ minerais 2:2 eventualmente

Embaciamento

Minerais 2: 1 e 1: 1

Page 147: Geologia e mineralogia

143

9.4.3. Valor Ki; uma maneira de se avaliar o estágio de intemperismo do solo

Para analisar a composição mineralógica de um solo, existem vários

métodos, entre eles, difratometria de raio “X" ou ATD (análise térmica diferencial).

Porém, são métodos caros e requerem especialização no uso. Por isso, foram

desenvolvidos métodos de química que apresentam como resultado os teores de

componentes totais do solo, uma vez que é feito um ataque ácido para dissolver

os minerais.

A partir deste ataque ácido são obtidos as porcentagens de silício, alumínio

e ferro (%SiO2; %Al2O3 e % Fe2O3).

Sendo os minerais da fração argila, predominantemente, filossilicatos

secundários e óxidos de ferro e alumínio, poder-se-ia avaliar a composição

mineralógica de um solo a partir da análise química total?

Veja a composição química destes minerais:

Tabela 21 - Composição química de alguns minerais da fração argila

MINERAIS SiO2 % Al2O3 %

Gibsita AI(OH)3 0 65,40

Caulinita (1:1) 45,80 39,55

Vermiculita (2:1) 34,04 14,37

Montmorilonita (2:1) 51,14 19,76

llita (2:1) 56,91 18,55

Estabelecendo-se uma relação molecular entre SiO2 e Al2O3, obtém-se um

número chamado de "razão Ki", e que serve como índice de intemperismo do

solo, pois é possível avaliar indiretamente a composição mineralógica da fração

argila do solo.

Veja como é:

Ki = mol SiO2 = 60 = 1,7 x SiO2 % ---------------- -------- ----------- mol Al2O3 Al2O3 Al2O3 % ---------- 102 A Tabela 22 mostra o teor de sílica e de alumínio e o índice Ki de alguns

minerais de argila.

Page 148: Geologia e mineralogia

144

Observa-se que a caulinita possui Ki = 2, enquanto que nos minerais de

argila 2:1 Ki = 4 a 5. Com base nesses dados é que se faz a interpretação do Ki

da fração argila do solo, ou seja:

Valor Ki MINERALOGIA DA FRAÇÃO ARGILA DO SOLO

Ki = 2 há predominância de caulinita cujo Ki é 2

Ki < 2 indica que junto à caulinita há presença de gibbsita

(hidróxidos de alumínio), que faz baixar o valor do

Ki tanto mais quanto maior for sua quantidade na

mistura; a condição extrema seria Ki = O, o que

indicaria total ausência de minerais silicatos, como

minerais de argila e presença exclusiva de gibbsita.

Ki entre 2 e 4 indica que junto à caulinita há presença de minerais

de argila do tipo 2:1, que fazem elevar o valor de Ki

tanto mais quanto maior for sua participação na

mistura.

Ki > 4 há predominância de argila do tipo 2:1.

Portanto, o índice Ki revela as quantidades relativas de caulinita, gibbsita e

minerais de argila do tipo 2:1 na fração argila do solo, porém não informa

presença de hematita e goetita. Esses óxidos de ferro, encontrados em solos

tropicais, é dado pelo próprio teor de Fe2O3 provenientes do mesmo ataque

sulfúrico mencionado.

Tabela 22 - Composição química e índice Ki de alguns minerais da fração argila

MINERAIS SiO2 % AI2O3 % Ki

Gibsita AI (OH)2 0 65,40 0

Caulinita (1:1) 45,80 39,55 1,97 = 2

Vermiculita (2:1) 34,04 14,37 3,78 = 4

Montmorilonita (2:1) 51,14 19,76 4,41

lIita (2:1) 56,91 18,55 5,24_

Page 149: Geologia e mineralogia

145

Tabela 23 - índice Ki de alguns solos do Brasil

Solo Ki Mineralogia da fração argila

Podzólico Vermelho Amarelo (DF) 2,0 Predomina caulinita

Latossolo Vermelho Escuro (DF) 1,3 Caulinita + sequióxidos de AI e Fe

Latossolo Vermelho Amarelo (DF) 0,3 Gibsítico

Latossolo Roxo (SP) 0,7 Gibsita + :1

Latossolo Roxo (SP) 1,4 1:1 + óxidos de Fe e AI

Latossolo Amarelo (PA) 1,6 1:1 + óxidos de Fe e AI

Terra Roxa Estruturada (PR 1,9 1:1 + óxidos de Fe e AI

Podzólico Vermelho Amarelo (SP) 1,9 1:1 + óxidos de Fe e AI

Cambissolo Substrato Basalto (SP 2,7 1:1+2:1

Litossolo Substrato Basalto (SP 3,0 1:1+2:1

Brunizem Avermelhado (PR) 3,2 2:1+1:1

Vertissolo (PE) 4,0 2:1

Para simplificar a interpretação dos índices Ki é apresentado a seguinte tabela.

Tabela 24 - Interpretação dos valores de índice Ki para mineralogia da fração argila

Ki Interpretação

0 Gibsita

< 0,8 Predomina gibsita sobre caulinita (1:1)

0,8 – 1,9 Predomina caulinita sobre gibsita

2 Caulinita

2,1 – 3,0 Predomina caulinita sobre minerais 2:1

3,1 – 4,0 Predominam 2:1 sobre caulinita

> 4,1 Minerais 2: 1

Sabendo quais os possíveis constituintes das diferentes frações

granulométricas do solo, silte e argila, isto é, como os minerais primários e

secundários se distribuem no solo, será discutida um pouco mais detalhada a

fração argila, ainda não abordada.

Page 150: Geologia e mineralogia

146

9.5. Colóides do Solo

9.5.1. Alguns conceitos e definições

“Fração coloidal do solo" ou, simplesmente "colóides do solo" referem-se a

maior parte das partículas de argila e a porção orgânica do solo altamente

decomposta chamada "húmus". Ambos existem em estado coloidal, com

partículas extremamente pequenas, alta superfície específica e presença de

cargas elétricas na superfície específica que atraem íons e moléculas polares

como água.

As partículas coloidais são formadas de um complexo radical negativo ou

“micela" e de uma mistura de íons e moléculas de água adsorvidas.

- Ca++

- Mg++

- H+ M = Na+, K+, NH4+

- Al+++

- M

Os colóides agem, portanto, como centro de atividade em cujo redor

ocorrem reações químicas e trocas de elementos nutrientes essenciais à vida das

plantas.

Muitas propriedades dos solos são governadas pelo tipo e quantidade de

material coloidal.

MICELA

HÚMUS, ARGILA)

Page 151: Geologia e mineralogia

147

Figura 82. Esquema da molécula de água

Figura 83. Representação em forma de diagrama de um cristal de argila silicatada. Suas

inumeráveis cargas negativas e seu "enxame" de cátions adsorvidos.

Um esquema ampliado da borda do cristal mostra a superfície interna

carregada negativamente, desta partícula específica, a qual são atraídos cátions e

água.

Page 152: Geologia e mineralogia

148

Figura 84. Adsorção de cátions pelos colóides húmicos.

9.5.2. Origem de Cargas nos Constituintes do Solo

Veja o conceito de CTC ou capacidade de troca catiônica (cap. 2)

CTC - a quantidade de carga negativa de um colóide pode ser geralmente

representada pela capacidade de troca catiônica (CTC ou T), e a maioria dos

cátions adsorvidos na superfície do colóide são trocáveis, isto é, estão fracamente

retidos. CTC é expressa em equivalente miligrama (e.mg) por unidade de peso

seco de material.

Na Tabela 25 observa-se os valores de CTC para os principais

constituintes da fração argila do solo.

Tabela 25 - CTC dos principais componentes do solo

Componente CTC(1) e.mg/100 g

Gibsita 1 a 2

Goethita 1 a 2

Hematita 1 a 2

Caulinita 3 a 15

IlIita 10 a 40

Montmorilonita 80 a 120

Vermiculita 100 a 150

Húmus 200 a 400

(1) Determinada a pH 7,0

Page 153: Geologia e mineralogia

149

Observa-se que a CTC da caulinita e dos óxidos de hidróxidos de ferro e

alumínio (goethita, hematita e gibsita) é baixa não atingindo 10 e.mg/100 g, é por

essa razão que a CTC dos solos cauliníticos com altos teores de óxidos e com

baixo teor de colóides orgânicos, como são muitos dos solos do Brasil,

dificilmente atingem 10 e.mg/100 g de argila. Estes colóides orgânicos são

responsáveis por até 80 % da capacidade de troca da camada superficial,

principalmente em solos cauliniticos e com elevados teores de óxidos de Fe e AI.

Os solos com mineralogia mais ativa, isto é, com presença de minerais 2:1

(montmorilonita, vermiculita, illita), terão valores de CTC bem mais elevados e não

são dependentes da presença de matéria orgânica.

As origens das cargas elétricas negativas de um colóide são as mais

variadas sendo que as substituições no interior da estrutura, a quebra na

estrutura, e a dissociação de radicais OH em arestas não quebradas e expostas

são as mais comuns.

Veja isto com detalhe:

I. Quebra na Estrutura

A quebra no redor das arestas da unidade sílica-alumina normalmente

paralela ao eixo c poderá originar cargas elétricas que deverão ser satisfeitas por

cátions adsorvidos. O número de arestas quebradas aumentará à medida que

diminui o tamanho das partículas. As distorções na estrutura cristalina, também, e

tenderão a aumentar o número de arestas quebradas e, portanto, a CTC tende a

aumentar à medida que o grau de cristalinidade diminui.

A origem das cargas elétricas devido a quebra da estrutura se deve as

ligações não satisfeitas nas faces do mineral, entre Si-O ou AIOH ou então devido

a dissociação do radical OH de acordo com a equação abaixo:

À medida que o pH da solução aumenta, aumenta dissociação do radical

OH e aumenta CTC, onde denomina-se CTC dependente de pH. Portanto, grande

parte da CTC da caulinita é dependente de pH. Figura 86.

Page 154: Geologia e mineralogia

150

Figura 86 - Diagrama da borda quebrada de um cristal de caulinita, mostrando o oxigênio como

fonte de carga negativa. Com valores elevados de pH, os íons hidrogênio tendem a

ficar frouxamente retidos, podendo ser permutados por outros cátions.

II. Dissociação de Radical OH- em arestas não quebradas e expostas

Por dissociação de OH, como já foi visto, ocorre a formação de cargas

elétricas que podem ser satisfeitas por cátions os quais podem ser trocados

posteriormente.

A ocorrência de cargas elétricas negativas no material amorfo (alofana) e

no húmus é devida principalmente a dissociação de radicais OH.

No material amorfo a reação pode ser representada:

+ H2O + H3O+

No caso dos colóides orgânicos os seguintes casos de dissociação são

exemplos típicos de formação de cargas elétricas:

SiOH SiO-

Page 155: Geologia e mineralogia

151

A matéria orgânica no solo forma complexos com, por exemplo, o alumínio

e o ferro, sendo que da precipitação deste alumínio, motivada pelo aumento de

pH gera também cargas negativas como ilustrado acima.

Em todos os exemplos vistos o aparecimento de cargas negativas por

dissociação do radical OH ou por precipitação do alumínio dos complexos

orgânicos gera cargas dependentes de pH.

III. Substituição no interior da estrutura (Substituição iônica ou isomórfica)

Desde que o Si4+ e Al3+ possam ser substituídos por muitos outros íons,

pode-se esperar um grande número de substituições iônicas na estrutura do

mineral de argila. Uma das mais comuns é a do Al3+ pelo Si4+ na folha do

tetraedro e a de íons de baixa valência na folha dos octaedros, resultando cargas

elétricas insatisfeitas em alguns minerais de argila. Essa insatisfação pode ser

compensada por diversos meios, como a substituição de O- pelo OH- pela

introdução de cátions na camada de octaedros ou ainda, por adsorção de cátions

na superfície das camadas.

A substituição iônica gera cargas elétricas negativas que independem do

pH do meio, ou seja, em qualquer pH o número de cargas elétricas originadas por

substituição iônica permanece a mesma (CTC independente do pH).

Na montmorilonita e vermiculita, por exemplo, a substituição iônica é

responsável por 80 % do total da CTC.

Page 156: Geologia e mineralogia

152

A Figura 88 mostra a CTC dependente e independente de pH para a

montmorilonita.

Figura 88. Ilustração da CTC dependente e independente de pH para a montmorilonita.

9.5.3. Os colóides do solo e os processos de troca iônica

A CTC permanente diz respeito a cargas originadas por substituição iônica.

Já existem materiais no solo com cargas que mudam de acordo com o pH, a CTC

de solos com estes materiais também será variável.

No ambiente tropical, a maioria das cargas é dependente de pH e é por

isso que a CTC desses solos variam com o pH. Portanto, a capacidade de troca

catiônica não é uma propriedade imutável do solo e sim, uma característica

sujeita a variação como mostra o seguinte exemplo:

Page 157: Geologia e mineralogia

153

Para comparar solos diferentes deve-se avaliar a CTC sempre a um

mesmo valor de pH. No Brasil, a CTC é determinada a pH 7,0 (CTC7) e seu valor

pode ser estabelecido diretamente em laboratório ou da seguinte forma:

CTC7 = S + Al + H

onde S é a soma de bases, AI o teor de alumínio trocável e H a quantidade de

íons de hidrogênio dissociados do colóide pela elevação do pH até 7,0 (supondo

solo ácido). Em solos neutros, o último termo da equação desaparece.

A desvantagem de determinar a CTC a pH 7,0 é de superestimar a CTC de

solos ácidos e solos alcalinos. Neste caso, tem-se a CTC efetiva que é a CTC do

solo ao seu valor original de pH. É obtida somando-se o teor de bases trocáveis

(soma de bases) ao teor de alumínio trocável.

CTCe = S + Al

Nota-se que a CTCe difere da CTC7 somente quanto aos íons de

hidrogênio que se dissociam devido à mudança de pH. Portanto, solos neutros

possuem CTCe igual a CTC7 Por outro lado, dois solos com a mesma CTCe com

valores diferentes de pH, terão diferentes valores de CTC7 Os exemplos a seguir

ilustram esses dois casos:

Solo pH CTCe CTC7

1 7,0 13,0 13,0

2 5,0 4,0 9,0

3 6,0 4,0 6,0

OS CÁTIONS TROCÁVEIS

Os principais cátions em colóides do solo, sob a forma trocável, são Ca+2,

Mg+2 , K+, Na+ (bases) e AI+3 . O hidrogênio trocável (H+) ocorre em solos ácidos

sendo necessária a presença de minerais de argila 2:1 por serem os principais

colóides do solo dotados de cargas permanentes. Por formar ligação covalente, o

Page 158: Geologia e mineralogia

154

hidrogênio dissocia-se somente com a elevação do pH do solo pois não possui

carga livre (HO).

A Figura 96 mostra o esquema onde um colóide associa-se aos principais

cátions do solo através de cargas permanentes e variáveis, hidrogênio trocável

está associado às cargas permanentes e o não trocável às variáveis. A Figura 89

também mostra a participação dos cátions na CTCe e na CTC7, ou seja, a parte

que se dissocia até o pH 7,0; os hidrogênios restantes seriam dissociados

somente com a elevação ainda maior do pH.

Figura 89. Representação esquemática das ligações dos cátions ao colóide e da participação dos

mesmos na CTC efetiva (CTCe) e na CTC a pH 7,0 (CTC7).

PONTO DE CARGA ZERO

Conforme foi mencionado, as cargas podem aumentar ou diminuir em

função do pH. Deve-se acrescentar, entretanto, dois fatos:

a) Um mesmo colóide pode ter cargas positivas quando o pH do meio é

baixo, e cargas negativas quando os valores de pH são mais altos;

b) Sob um mesmo valor de pH, um colóide poderá apresentar cargas

positivas e negativas ao mesmo tempo.

No entanto, deve existir um valor intermediário de pH onde a carga é nula -

a esse valor dá-se o nome de Ponto de Carga Zero (PCZ). Diferentes colóides

possuem diferentes valores de PCZ. O esquema a seguir mostra que, com o

aumento do pH ocorre desprotonação na superfície do colóide (carga de +2 para -

2) e no ponto central, a carga zero, portanto se diz que “o colóide esta no PCZ”.

Page 159: Geologia e mineralogia

155

Enquanto o PCZ de um colóide pode se definido como pH no qual a carga

elétrica do colóide é nula, o PCZ de um solo que representa uma mistura de

colóides, deverá ser definido como pH no qual o número de cargas positivas é

igual ao de cargas negativas, dando uma carga líquida igual a zero; isso não

significa, portanto, que o PCZ não apresente cargas.

Tabela 26 - Ponto de carga zero de alguns componentes do solo e de alguns grandes

grupos de solos.

Material Ponto de carga Zero

Goethita 6,7

Hematita 5,4

Gibsita 5,0

Caulinita < 4,0

Húmus < 3,0

Solos Horizonte A Horizonte B

Argissolo Vermelho-Amarelo 1,6 4,0

Nitossolo Vermelho 1,9 2,7

Latossolo Vermelho 3,3 5,5

Latossolo Amarelo 3,1 6,3

Latossolo Vermelho

Distroférrico

3,5 6,0

Page 160: Geologia e mineralogia

156

* IMPORTANTE Quanto maior o PCZ:

=> Maior teor de minerais de cargas variáveis; => Mais velho é o solo;

=> Maior o pH necessário para desenvolver carga negativa.

Na Tabela 26, encontram-se valores de PCZ de alguns componentes do

solo e de alguns grupos de solos brasileiros. Observa-se que a goethita apresenta

elevado PCZ (6,7), onde abaixo deste, há formação de cargas positivas. A

caulinita e o húmus não apresentam cargas positivas (só em pH muito baixo). Os

solos que possuem óxido de ferro e alumínio tendem apresentar maior PCZ.

ADSORÇÃO DE ANIONS E TROCA ANIONICA: A influencia dos óxidos e

hidróxidos de alumínio e ferro

Os colóides responsáveis pela adsorção aniônica são os minerais de arigla

e os óxidos de ferro e alumínio (gibsita, hematita e goethita) e podem ser

identificados dois processos de adsorção aniônica no solo:

a) Adsorção não específica

Ocorre através da atração dos ânions pelas cargas positivas existentes na

superfície dos colóides. Neste tipo de adsorção as forças envolvidas são

eletrostáticas e relativamente fracas, permitindo que ocorram trocas aniônicas

entre as fases sólidas e líquidas do solo, à semelhança do que se verifica com os

cátions:

Colóide . Cl- + NO3- colóide NO3

- + Cl-

Em uma adsorção não específica os solos podem apresentar CTA e, como

esta depende da presença de cargas positivas, seu valor é influenciado pelo pH,

portanto as cargas aumentam com a diminuição do pH, ou seja, com a

acidificação do meio. A Figura 90 ilustra a variação da CTC e da CTA em função

do pH do solo, observando-se que o valor de pH onde se dá o cruzamento das

curvas corresponde ao ponto de carga zero do solo.

Page 161: Geologia e mineralogia

157

Figura 90 - Variação da CTC e da CTA de um solo em função do pH.

b) Adsorção específica

Ocorre através de reação química entre certos ânions do solo e elementos

na superfície dos colóides. Este processo envolve apenas alguns ânions (H2PO4- -

fosfato, SO4-2 - sulfato, MoO4

-2 - molibdato e H2BO-3 - borato), ou seja, há

especificidade de ânions.

As forças envolvidas, "neste tipo de adsorção, são muito superiores, sendo

comparáveis às que conduzem à formação de compostos químicos, portanto os

ânions são dificilmente deslocados concluindo-se que a adsorção específica é

praticamente irreversível.

Os colóides que mais respondem por esse fenômeno são os óxidos e

hidróxidos e ferro e alumínio. A reação de adsorção de fosfato por uma dessas

partículas pode ser assim representada.

O fosfato é o ânion mais fortemente retido aos colóides e devido à pouca

reversibilidade da adsorção é necessária a constante adubação, pois deixa de ser

disponível às plantas. Essa perda de disponibilidade é também conhecida por

fixação de fósforo.

Page 162: Geologia e mineralogia

158

9.8. OS SISTEMAS MINERALÓGICOS DOS SOLOS

Os solos tropicais podem ser agrupados em três sistemas mineralógicos:

- Sistema silicatado;

- Sistema oxídico;

- Sistema silicatado recoberto por óxidos.

9.8.1. Sistema Silicatado

Ocorre nos solos com pouca quantidade de óxidos de ferro e alumínio e de

alofana e predominância de minerais 2:1. Possui CTC permanente e pequena

quantidade de cargas variáveis devido à matéria orgânica e quebra de arestas da

caulinita.

9.8.2. Sistema Oxídico

Ocorre na predominância de óxidos de ferro e alumínio ou alofana na

fração argila (ou ainda minerais silicatados de argila recobertos por tais óxidos).

Neste sistema as cargas são dependentes de pH e os solos podem possuir

balanço final de cargas negativas (CTC), positivas (CTA) ou neutro e são

considerados os solos mais intemperizados do mundo.

9.8.3. ∆pH e Ponto de Carga Zero

No sistema oxídico, o balanço de cargas pode ser determinado através da

medição de seu pH em água e em solução neutra, tal como KCI 1 N. A diferença

entre o pH em KCI e em água define o ∆pH. Se for negativo, o balanço de cargas

será negativo (CTC).

Page 163: Geologia e mineralogia

159

No sistema silicatado o ∆pH é sempre negativo. A reação simplificada

abaixo ilustra este caso:

- -

- H+ + H2O - H+ + H2O

- -

Mineral de argila

- -

- H+ + KCl - K+ + Cl- + H+

- -

Portanto o pH em água é mais elevado do que o pH em KCI.

Se o sistema oxídico tem balanço positivo de carga, a seguinte reação ocorre

quando o pH é medido:

+ -

+ OH- + H2O - OH- + H2O

+ -

Óxido (Fe, Al)

+ +

+ OH- + KCl + Cl+ + K+ OH-

+ +

Estas relações podem ser ilustradas graficamente desde que o total de

cargas do solo seja determinado em uma faixa grande de pH. A Figura 91 mostra

este aspecto.

Page 164: Geologia e mineralogia

160

Figura 91 - Balanço de cargas na superfície do colóide dos horizontes A e B de dois solos com

elevado teor de óxidos. (Obs: círculo (o) = pH de campo atual destes solos).

Um ∆pH negativo não significa total ausência de cargas positivas, ou seja,

há um pequeno número de cargas positivas ocorrendo mesmo nestas condições.

9.8.4. Sistema silicatado recoberto por óxidos

Existem sistemas que representam realmente os solos vermelhos tropicais,

ou seja, solos com predominância de material caulinítico, haloisítico ou

mineralogia mista.

As camadas de silicatos são parcialmente cobertas por uma fina camada

de óxidos de ferro e alumínio; sua CTC é considerada baixa, pois algumas cargas

negativas são balanceadas com cargas positivas dos óxidos.

Em alguns minerais 2:1 o recobrimento de óxidos altera drasticamente as

propriedades físicas de certos solos, pois não favorece a expansão e contração

destes minerais.

O esquema abaixo ilustra a recobrimento da camada de silicatos pelos

óxidos:

Page 165: Geologia e mineralogia

161

Embora a camada de silicato apresente balanço negativo de cargas, o

recobrimento de óxido apresenta um balanço positivo de cargas com pH ácido.

Portanto, a pH igual a 4 o balanço atinge o ponto zero, maior que 4, balanço.

negativo e menor que 4, balanço positivo.

9.8.5. Manejo da Capacidade de Troca Catiônica

Uma CTC efetiva de no mínimo 3 emg/100g é necessário para reter a

maioria dos cátions contra a lixiviação. O aumento da CTC é importante,

principalmente, nos solos tropicais onde há um alto grau de intemperismo dos

minerais. Este aumento da CTC pode ser feito por dois processos: calagem e

adição de matéria orgânica.

O nível mais indicado para a calagem ser efetuada é a pH 5,5 ou 6,0,

valores superiores (como a pH 7) podem ser prejudiciais os efeitos desta.

A matéria orgânica contribui quase totalmente, para o aumento da CTC,

em solos com sistema oxídico, isto é, a manutenção da matéria orgânica é

praticamente sinônima da manutenção de CTC .

9.9. De que outras Formas os Minerais Coloidais influenciam o Solo?

Existem outras propriedades e características do solo que são

influenciadas pela mineralogia da fração argila, como a cor, estrutura,

consistência, capacidade de reter água e superfície específica.

Recobrimento

de óxido

pH 4

Balanço zero

pH 8

Balanço negativo

pH 2

Balanço positivo

Page 166: Geologia e mineralogia

162

9.9.1. Óxidos de Fe e sua influência no solo

Ocorrem nos solos os minerais:

- Hematita ( Fe203)

- Goethita ( FeOOH)

- Lepidocrocita ( FeOOH)

- Ferridrita [Fe(OH)3 nH20]

- Maghemita ( Fe203)

- Magnetita (Fe304)

Hematita e goethita são os minerais mais comuns em nossos solos e são

estes que imprimem cores características aos solos. Hematita livre de goethita

solos de cores vermelhas intensas. Goethita livre de hematita - solos com

coloração bruno-amarelada. Hematita associada a goethita - predomina a cor

vermelha da primeira.

Devem-se considerar outros agentes corantes do solo como matéria

orgânica, óxidos de manganês e formas reduzidas dos óxidos de Fe. A cor

originará a partir da combinação dos diversos componentes presentes no solo.

Mesmo assim, é possível estimar o tipo de óxido de Fe dominante. Seguindo as

relações com a cor do solo:

COR DOS ÓXIDOS DE FERRO (seguindo a Tabela de Cores de MUNSELL)

Sintético Natural

Cor

Hematita 10 R 5,0 R (vermelho)

Goethita 7,5 YR 7,5 YR (amarelado)

SOLOS Cor

Solos com hematita 2,5 YR (vermelho)

Solos com hematita e goethita

2,5 YR a 10 YR (vermelho-amarelado

Solos com goethita 10 YR (amarelado)

Em condições de excesso de água no solo o ambiente é de redução

(Fe+++ Fe++) e a coloração tende a ser cinza, que pode misturar-se com ocre

Page 167: Geologia e mineralogia

163

(ferridrita - lepidocrodita), vermelho (hematita) ou amarela (goethita), Esta mistura

de cores forma um "mosaico", normalmente, chamado de "mosqueamento".

9.9.2. Óxido de Fe e AI e a estrutura do solo

As partículas do solo (argila, silte e areia) encontram-se agrupadas

formando agregados, os quais dão "estrutura" ao solo. Os óxidos de Fe e AI

funcionam como agentes "cimentantes". Portanto, solos com teores significativos

de óxidos de Fe apresentam estrutura (arranjo dos agregados) do tipo granular

pequena, muito estável. A estabilidade de um agregado refere-se a resistência à

sua destruição quando submetido à agitação em água. Assim, agregado pouco

estável, desfaz-se facilmente, o que não ocorre com os pequenos agregados do

solo cimentados por óxidos de Fe e AI, Latossolos Roxos são excelentes

exemplos deste tipo de estrutura.

9.9.3.Óxidos de Fe e AI e adsorção de fosfatos

Os Latossolos, solos tropicais ricos em óxidos de Fe e AI fixam bastante o

fósforo. É polêmica a questão de qual tipo de óxido de ferro fixa mais P, porém

autores consideram que os solos goethíticos tenham maior poder de fixação,

devido ao menor tamanho e conseqüente maior superfície específica.

9.9.4. Filossilicatos do solo e algumas de suas propriedades

A seguir, um resumo sobre as principais propriedades dos minerais de

argiIa silicatadas (filossilicatos) encontrados no solo e que afetam o

comportamento deste (Tabela 27).

Tabela 27. Principais propriedades dos filossilicatos do solo

Page 168: Geologia e mineralogia

164

Procure responder às questões feitas para outras situações mineralógicas,

associando sempre as características dos minerais da fração argila com o

comportamento do solo.

9.5. Considerações Finais

Considerando-se que os solos brasileiros podem ter mineralogia 2:1, 1:1,

óxidica e os graus intermediários entre estas, e observando a Tabela 27 concluiu-

se que:

a) As características físicas e químicas de um solo são regidas pelo tipo de

mineral de argila predominante.

b) A dinâmica da água do solo é altamente afetada pelo tipo de mineral de

argila predominante.

c) Solos com mineralogia 2:1 deverão ser manejados de forma totalmente

distinta quando ao seu preparo de solo e fertilização em relação a solos

cauliníticos de mineralogia menos "ativa".

d) O aluno deverá estar sempre atento a importância da mineralogia dos

solos, procurando sempre correlacionar os novos conceitos que serão

Page 169: Geologia e mineralogia

165

apresentados em disciplinas posteriores (solos, fertilidade, pedologia, etc.) à base

aqui apresentada.

Figura 92. Interação da composição mineralógica dos solo

Física de Solos

Mineralogia de Solos

Química de Solos

Morfologia de Solos Manejo do solo

Classificação de Solos

Biologia de Solos

Page 170: Geologia e mineralogia

166

CAPÍTULO 10 - MODELO DE EVOLUÇÃO DOS SOLOS

10.1. Seqüência Cronológica

A seqüência básica de solos de idade (cronosseqüência). Por exemplo:

(Figura 93):

Litossolos - Cambissolos - Solos com B textural – Latossolos

Figura 93 - Ocorrência de solos de diferentes idades, de acordo com o relevo. As setas

indicam o aumento da erosão e da pedogênese.

Os solos são mais novos (menos intemperizados) em (a) e mais velhos

(mais intemperizados) em (d).

Se atividade bioclimática (ação dos organismos e do clima) for menos

intensa, desde que a topografia seja a mesma, o solo será mais novo em cada

umas das posições a, b, c, d, conforme a Tabela 28. O quadro exemplifica as

tendências de ocorrência dos solos nos vários segmentos de paisagem, conforme

a intensidade maior ou menor (em relação ao nível de referência) dos agentes

bioclimáticos.

No Nordeste brasileiro, por exemplo, onde a condição bioclimática é menos

Page 171: Geologia e mineralogia

167

ativa, pode inexistir o Latossolo mesmo que, topograficamente, a paisagem seja

suave, favorecendo, neste aspecto, um envelhecimento maior do solo. O grau de

intemperismo ai não é pronunciado em razão da baixa intensidade dos fatores

bioclimáticos, em relação ao intenso processo erosivo.

Da mesma forma que a intensidade da atividade bioclimática pode

modificar a idade relativa ou o grau de intemperismo de um solo, os outros fatores

de formação do solo, como material de origem e tempo, também agem da mesma

forma.

Tabela 28 - Influência da variação da atividade bioclimática na idade relativa do solo

Bioclima Segmentos da Paisagem

a b c d

Bioclima de Litossolos Cambissolos

Solos com B Latossolos

referência textural

Bioclima Afloramento de Litossolos Cambissolos

Solos com B

menos ativo rochas textural

Bioclima Cambissolos

Solos com B Latossolo I Latossolo II

mais ativo textural

A erosão no sub-árido brasileiro é intensa, e há solos mesmo em áreas

bastante declivosas, não há outra conclusão: a pedogênese, mesmo no sub-árido,

pode ser muito acentuada nos solos rasos; caso contrário, a rocha estaria toda

exposta.

WHITESIDE (1953), por exemplo, distingue três parâmetros relativos à

rocha de origem que interessam a intemperização. São eles:

a) composição química ou mineralógica;

b) estrutura ou fábrica;

c) granulometria.

As rochas ricas em minerais máficos são, em princípio, mais facilmente

intemperizáveis do que as ricas em minerais félsicos, mas, mesmo ai, a estrutura

ou fábrica pode inverter esta ordem.

Page 172: Geologia e mineralogia

168

Minerais máficos são os minerais mais comuns nas rochas escuras como

basalto, diabásio etc., tais como: olivinas, anfibólios, piroxênios e biotita. Estes

minerais têm altos teores de Fe, Mg e elementos traços.

Assim, no Planalto de Viçosa e em outras regiões do Brasil, os solos

originados de intrusões máficas (anfibolitos e diabásios) são mais novos (Terra

Roxa Estruturada), apresentando até blocos de rocha, enquanto o gnaisse

encaixante apresenta um profundo manto de intemperismo com material

latossólico. A estrutura gnáissica aparentemente favorece a maior intemperização

do gnaisse, apesar de os teores de minerais máficos serem maiores nas rochas

máficas.

Outro exemplo, talvez, mais interessante, é o que envolve o basalto e

tufito. Ambas são rochas ricas em minerais máficos, mas o tufito (originado da

consolidação de cinzas vulcânicas) não apresenta o aspecto massivo do basalto.

O tufito intemperiza-se mais rapidamente. Para a mesma pedoforma, os solos de

tufito são mais intemperizados que os originados de basalto.

10.2. Sequência Litológica

A seqüência cronológica é fundamental, é a que explica, por exemplo, as

diferenças mais gerais entre os solos dos vários continentes. A seqüência

litológica vem em seguida, em escala de importância. Em escala local ou regional

a seqüência litológica assume, freqüentemente, importância capital. Os arenitos,

os basaltos (como no sul do país, estendendo-se até ao sul do Planalto Central),

as ardósias, filitos e micaxistos (como nas áreas de Brasília e da Serra da

Canastra), os quartizitos (como em muitos trechos do Espinhaço e da Chapada

Diamantina), os calcários (como Irecê-BA, Bodoquena-MS, Apodi-RN, Arcos e

Pains-MG etc.) imprimem características marcantes nos solos que originam.

Para fins pedológicos, podem-se agrupar as rochas, segundo a Tabela 32.

Como quase sempre ocorre na natureza, há transições de uma classe para outra.

Assim, as rochas pelíticas (rochas de granulometria muito fina) com maior teor de

calcário, como nas margas, confundem-se pedologicamente com o calcário.

Page 173: Geologia e mineralogia

169

Tabela 29 - Rochas agrupadas para fins pedológicos gerais, assim como uma idéia de sua composição química (Resende et aI., 1995)

Rochas Minerais principais

Fe P K Ca Mg Co Cu Zn B Mn Fonte

Granítica Fp Qz, Bt 2,2 0,08 3,36 1,5 0,6 4 20 50 9 1,2 (a)(2)

Máfica Ca-Fp, Py,

8,7 0,11 0,83 7,6 4,6 48 87 105 5 1,5 (a) Mt

Pelílica Ms, Fp, Qz 4,4 0,07 2,66 2,2 1,5 19 45 95 100 2,6 (a)

Psamitica Qz+cimento 1,0 0,02 1,07 1 ,1 0,7 0,3 X(3)

16 35 0,2 (a)

Ferruginosa Hm, Mt 49 0,05 0,01 299 24 24 (b)

Calcária Cc, Dm, Ms, Fp, Qz

0,4 0,04 0,27 30,2 4,7 0,1 4 20 20 0,4 (a)

Gnássica Fp, Qz, Mi, Hb

2,7 0,09 2,45 2,3 1,2 (c)

(1) Símbolos: Fp - feldspato (K); Qz - quartzo (SiO2); Bt - biotita (K, Mg, Fe); Ca-Fp - feldspato

calcosódico (Ca, Na); Py - piroxênio (Ca, Mg); Mt - magnetita (Fe3+

Fe2+

O4); Ms - muscovita, mica branca ou malacacheta (K); o cimento das rochas psamiticas pode ser calcário; óxidos de Fe ou argila; Hm - hematita (Fe2O3); Cc - calcita (CaCO3); Dm-dolomita (Mg, CaCO3); Mi - micas, incluindo biotita e muscovita; Hb - hornblenda. (2)

(a) TUREKIAN & WEDEPOHL (1962); (b) Concreções de solos originados de ltabirito, do Quadrilátero Ferrifero (SOARES, 1980; FONTES et aI., 1985; (c) dados compilados por HUANG (1962). (3)

X = ordem de magnitude de 1 digito antes da virgula

A Tabela 29, associada aos conhecimentos gerais de pedologia, indica

alguns fenômenos muito interessantes:

1) os elementos químicos existentes nas rochas podem ser removidos com

facilidade, como Ca, Mg e K, ou podem ser até concentrados residualmente,

como Fe, P e elementos traços. Assim, os solos originados de rochas máficas

tendem a ser mais ricos em Fe, P, Co, Cu, e Zn; por outro lado, tendem a ser

mais pobre em B e Mo;

2) os teores de B tendem a ser maiores nos solos de rochas pelíticas. O B

é mais concentrado nos sedimentos de origem marinha;

3) os solos originados de rochas psamíticas e graníticas tendem a ser os

mais arenosos. Estas são as rochas mais ricas em quartzo (Qz);

4) a associação entre classe de solo e rocha de origem pode servir de

elemento valioso para se predizer, no campo, ainda que de uma forma mais geral,

os teores (ou níveis gerais) dos elementos que tendem a se concentrar

residualmente. Isto, na prática, tem sido verificado, por exemplo, com Latossolo

Page 174: Geologia e mineralogia

170

Roxo, originado de rochas máficas, e facilmente identificável no campo, por ser

seu material atraído por um magneto. Mesmo quando sob cerrado e com

baixíssimos teores de elementos disponíveis, responde muito bem a adubação

relativamente simples. Tal não é o caso, por exemplo, com o Latossolo Vermelho-

Escuro: desenvolvido de rochas pelítícas;

5) as rochas pelíticas, em relação aos macronutrientes de maior interesse,

são ricas apenas em K, sendo pobres em Ca, Mg e P.

Os baixos teores de bases (exceção do K) e a presença de muito AI na

estrutura da muscovita (Ms) e do feldspato (Fp) fazem com que os solos jovens

de rochas pelíticas tenham altos teores de AI trocável.

Nos solos mais velhos de rochas pelíticas, os teores de AI na solução

tendem a ser menores, pois há a formação de gibbsita e a vegetação natural

reflete essas diferenças.

Na área de Brasília, por exemplo, os solos dos topos das chapas são ricos

em gibbsita e, apesar de a vegetação ser cerrado ela é mais desenvolvida do que

os campos cerrados e campos sujos dos solos mais acidentados.

6) dependendo do cimento, os arenitos (rochas psamíticas) podem dar

origem a solos muito ricos. O arenito Bauru, com cimento calcário, no estado de

São Paulo, origina um de seus melhores solos. No entanto, no Brasil existem

áreas gigantescas de solos muito pobres originados de arenito. O estado do

Piauí, por exemplo, associam, em seu território, grandes áreas de material

psamítico, alternado com material pelítico. Os chamados GERAIS, dos Estados

de Minas e da Bahia, são outro exemplo.

Observações:

Pedoforma - o aplainamento pode horizontalizar a paisagem,

independentemente da rocha.

Cor - O horizonte A é escuro, com grau de desenvolvimento e espessura

variáveis. O excesso de água (falta de oxigênio) tende a favorecer a redução e

retirada do Fe do sistema. Menores teores de Fe e clima mais úmido (mesmo sem

deficiência de oxigênio) favorecem a formação de goethita, dando cor amarela

(hematita ausente).

Textura - solos mais novos são mais siltosos que os solos mais velhos.

Page 175: Geologia e mineralogia

171

Nutrientes - solo de praticamente qualquer rocha pode ser

pobre ou rico. Os mais velhos, tendendo aos Latossolos, são mais pobres.

É importante observar que estas generalizações referem-se mais aos

elementos que se concentram residualmente. Os elementos mais móveis, como

Ca, Mg e K e as formas disponíveis dos que se concentram, são inferidos a partir

das condições relativas a cronosseqüência, isto é, o basalto pode originar um solo

pobre em Ca, no Planalto Central, enquanto no sertão do Seridó (RN), o granito,

muito mais pobre em Ca, pode originar um solo bastante rico em Ca. O mesmo

basalto, como ocorre no Planalto Central, pode originar Latossolo Roxo sob

cerrado (muito pobre em nutrientes) e, próximo, pode-se ter o Latossolo Roxo sob

floresta (eutrófico, rico em nutrientes) ou mesmo a Terra Roxa Estruturada

Eutrófica (relevo mais acidentado), um dos melhores solos do Brasil.

10.3. Modelo de Evolução dos Solos

Parece que os solos, como todas as coisas, modificam-se tendendo a um

equilíbrio mais estável. Um solo novo, à semelhança de uma sucessão vegetal

jovem (ecossistema imaturo), tem uma alta taxa de modificação por unidade de

tempo. Os solos mais velhos modificam-se mais vagarosamente até atingirem

talvez um estado de quase equilíbrio.

Tendência à homogeneidade

O solo é originado da rocha que sofreu modificações quando colocada sob

novas condições energéticas - diferentes das presentes quando da sua formação.

Isto é, intemperismo ou pedogênese.

Os minerais que compõem as rochas têm resistência diferente às

modificações. Na série de cristalização de Bowen - que representa também uma

seqüência de resistência ao intemperismo temos:

Olivina

Page 176: Geologia e mineralogia

172

Este sistema está sendo dividido arbitrariamente em três regiões a, b e c,

representando cada qual um conjunto de minerais com resistência muito

semelhante entre si, para facilitar o entendimento do modelo.

Os minerais do conjunto a são facilmente intemperizáveis. O do b têm

resistência intermediária e os de c são muito resistentes.

A taxa de modificação/tempo ou pedogênese por unidade de tempo, isto é

∆P/∆t vai ser variável conforme o conjunto de minerais (a, b ou c) envolvidos. Se

for assumido que cada conjunto se modifica de uma só vez, isto é, os minerais de

um conjunto só começam a se intemperizar quando os minerais do conjunto

anterior menos resistente já desapareceram, observa-se:

I- ROCHAS MAGMÁTlCAS

a) Rochas: Diorito, riolito e granito.

t1, t2 e t3 - solos em 3 tempos de evolução diferentes

a, b, e c - são os três conjuntos de minerais com resistência diferentes ao

intemperismo.

tx, ty e tz - três observadores em tempos diferentes.

Plagioclásio Ca

Quartzo

c

Page 177: Geologia e mineralogia

173

O observador tx observa dois solos: t1 e t2.

O solo t1 sofreu maior pedogênese que o solo t2, pois já foi intemperizado

todos os minerais do grupo a, metade do grupo b intemperizados e o grupo c

ainda está na rocha.

No solo t2, 1/3 do grupo a está intemperizado, os grupos b e c estão na

rocha.

O observador ty observa três solos - t1, t2 e t3.

Nesta observação os solos:

t1 - os grupos a e b totalmente intemperizados, o grupo c início do

intemperismo;

t2 - o grupo a totalmente intemperizado, 1/2 do grupo b intemperizado e o

grupo c na rocha;

t3 - 1/3 do grupo a intemperizado, os grupos b e c na rocha.

O observador tz observa três solos - t1, t2 e t3.

Nesta observação os solos:

t1 - todos os grupos totalmente intemperizados;

t2 - os grupos a e b totalmente intemperizados e 1/2 do grupo c

intemperizado;

t3 - O grupo a totalmente intemperizados, 1/2 do grupo b intemperizado e o

grupo c na rocha.

Page 178: Geologia e mineralogia

174

b) Comparações entre Basalto e Granito:

1) Infiltração de água:

O granito é uma rocha que possui cristais grandes que permitem facilmente

que a água infiltre e atue como agente do intemperismo.

O basalto possui cristais muito finos, tornando a rocha compacta e de difícil

infiltração de água, prejudicando o intemperismo físico.

2) Tx= ∆P/∆T:

O basalto forma solos mais rapidamente do que o granito, pois é uma

rocha composta de minerais facilmente intemperizáveis e, portanto se intemperiza

mais rapidamente.

3) Tx= ∆E/∆T:

O granito, por ser uma rocha, com minerais mais resistentes ao

intemperismo, tem menor pedogênese e relevo mais acidentado, tendo mais

problemas com erosão.

4) Tx=∆P/∆E:

O basalto possui uma maior pedogênese porque é constituído por um

conjunto de minerais que são facilmente intemperizáveis.

O granito é uma rocha que possui menor pedogênese em comparação à

erosão, pois é uma rocha constituída por um conjunto de minerais que são

bastante resistentes ao intemperismo, e sofre intemperismo lentamente.

5) Quanto à declividade o granito é sujeito a uma maior declividade do que

o basalto.

O basalto possui uma maior profundidade do solo do que o granito, porque

os minerais que o constituem são mais facilmente intemperizáveis (rocha

extrusiva).

O granito por sofrer intemperismo lentamente, perde menos nutriente que o

basalto, conferindo uma maior quantidade de biomassa na floresta.

Page 179: Geologia e mineralogia

175

II - ROCHAS SEDIMENTARES E METAMÓRFICAS

a) Rochas: Filito, Migmatito e Arenito.

t1, t2 e t3 - solos em 3 tempos de evolução diferentes

a, b, e c - são os três conjuntos de minerais com resistência diferentes ao

intemperismo. Os minerais a, b e c são respectivaemtne: plagioclásio, biotita e

quartzo.

tx, ty e tz - três observadores em tempos diferentes.

O solo t1 sofreu maior pedogênese que o solo t2, pois já foi intemperizado

todos os minerais do grupo a, metade do grupo b intemperizados e o grupo c

ainda está na rocha.

No solo t2, 1/3 do grupo a está intemperizado, os grupos b e c estão na

rocha.

O observador ty observa três solos - t1, t2 e t3.

Nesta observação os solos:

t1 - os grupos a e b totalmente intemperizados, o grupo c início do

intemperismo;

t2 - o grupo a totalmente intemperizado, 1/2 do grupo b intemperizado e o

grupo c na rocha;

t3 - 1/3 do grupo a intemperizado, os grupos b e c na rocha.

O observador tz observa três solos - t1, t2 e t3.

Nesta observação os solos:

t1 e t2- todos os grupos totalmente intemperizados;

Page 180: Geologia e mineralogia

176

t3 - o grupo a totalmente intemperizados, 1/2 do grupo b intemperizado e o

grupo c na rocha.

b) Comparações entre Arenito e Quartzito:

1) Infiltração de água:

O arenito possui uma maior infiltração de água que o quartzito, pois é uma

rocha psamítica de fragmentos maiores e são facilmente intemperizáveis.

2) Tx= ∆P/∆T:

O arenito possui uma maior pedogênese em função do tempo do que o

quartzito, pois possui agentes cimentantes que são facilmente intemperizáveis

(exceção sílica).

3) Tx= ∆E/∆T:

O quartzito tem maior tendência à erosão do que o arenito, porque possui

menor infiltração de água.

4) Tx= ∆P/∆E:

O arenito possui maior pedogênese e é mais fácilmente intemperizado.

O quartzito possui maior erosão e é uma rocha de difícil intemperismo,

forma solos rasos e arenosos.

5) Quanto à declividade: o quartzito é sujeito a uma maior declividade do

que o arenito, devido a sua menor infiltração. O arenito possui uma maior

profundidade do solo, pois tem menor tendência à erosão e maior quantidade de

pastagem nativa (presença de mais nutrientes).

Page 181: Geologia e mineralogia

177

CAPÍTULO 11 - NOÇÕES SOBRE GEOLOGIA HISTÓRICA E GEOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

11.1. O Tempo Geológico

O nosso planeta é incrivelmente velho para os padrões de tempo humanos,

tem cerca de quatro mil e seiscentos milhões de anos. Para a maioria de nós, a

paisagem natural não se altera, é estática. Exceto quando ocorrem calamidades

como erupções vulcânicas ou grandes tremores de terra, a paisagem geológica

não muda de forma perceptível durante o tempo de várias gerações humanas.

Mas a Terra, durante o seu tempo de "vida" é altamente dinâmica, tendo

testemunhado transformações extraordinárias. "Viu" formarem-se e

desaparecerem oceanos e cadeias montanhosas, "observou" a ascensão e a

queda de inúmeras espécies de seres vivos. O registo destes eventos está nas

rochas.

A evolução biológica há mais de 3.000 milhões de anos que nos vem

apresentando uma sucessão ordenada de organismos que nos permite, através

de estudos laboratoriais, simulações matemáticas dos processos geológicos e

especulações inteligentes, fazer a reconstituição de uma história diretamente

ligada à passagem do tempo geológico.

Estabeleceu-se uma escala baseada na existência de sucessivas faunas e

floras fósseis. Graças à evolução, a história da vida fornece-nos um "cronômetro"

que permite situar acontecimentos inter-relacionados no eixo dos tempos, isto é,

construir uma cronologia relativa, a biocronologia.

A Estratigrafia é a parte da Geologia que estuda os estratos (um estrato é

uma camada rochosa delimitada por duas superfícies ou planos de estratificação,

que o separam dos estratos superiores e inferiores), isto é, as camadas de rochas

sedimentares formadas na superfície terrestre. Em conjunto com a Paleontologia,

constitui a base da Geologia Histórica. Através das características e conteúdos

dos estratos podem-se reconstituir as condições em que aqueles se formaram e

situá-los no tempo, conseguindo-se assim reconstruir a história da Terra ao longo

de grandes períodos geológicos.

O aparecimento e o desaparecimento de determinadas formas vivas

(espécies, gêneros, famílias, ...), a sucessão e a diversificação das mesmas são

Page 182: Geologia e mineralogia

178

pontos de referência que servem para definir e limitar as unidades

biocronológicas, cujo conjunto constitui uma escala biostratigráfica.

Historicamente, foram as grandes unidades biostratigráficas que primeiro se

definiram e delimitaram. Só mais tarde, graças ao permanente progresso da

paleontologia, estratigrafia e sedimentologia, foram subdivididos em unidades

bioestratigráficas cada vez mais precisas.

Figura 94 - Fósseis característicos ou estratigráficos, os quais permitiram a edificação de uma

escala (biostratigráfica) de tempo relativo (as duas colunas da esquerda - Era e Período). Os

fósseis característicos ou estratigráficos são espécies do passado, animais ou vegetais, que

existiram durante períodos limitados de tempo geológico tendo-se expandido por grandes áreas

geográficas, e que são usados como guias da idade das rochas que os contêm preservados.

As grandes unidades biostratigráficas (andares, séries=épocas e

sistemas=períodos) assentam quase sempre em mudanças mais ou menos

rápidas no seio das populações fósseis. São materializadas por crises evolutivas,

Page 183: Geologia e mineralogia

179

freqüentemente em ligação com fenômenos físicos (movimentos dos continentes -

Tectónica de Placas-, avanço (transgressão) ou recuo (regressão) dos mares,

glaciações ...). Estas descontinuidades na história da vida serviram de base a

Alcide d'Orbigny para estabelecer, em meados do século passado, a divisão do

tempo relativo em 27 andares (1849-1852). Embora tenha perdido os

fundamentos catastróficos introduzidos por D'Orbigny, o andar continua a ser uma

unidade tempo-estratigráfica fundamental, com uma referência marcadamente

paleontológica, uma vez que se baseia num dado conteúdo orgânico. Um andar é

uma unidade tempo-estratigráfica e baseia-se numa sucessão de zonas

biostratigráficas.

Figura 95 - A antiguidade, a perenidade e a importância dos artrópodes (que têm pés articulados)

sobressaem nitidamente tanto nos tempos passados como na época atual. Os principais grupos

existem desde o Câmbrico (-530 milhões de anos), e os mais tardios aparecem no Devônico, entre

-400 e -360 milhões de anos, bem como no Carbônico (-300 milhões de anos). Poucos grupos se

extinguem, à exceção dos trilobitóides, no Câmbrico, e das trilobites e artropleurides, no fim do

Primário ou Paleozóico. A largura dos ramos da árvore genealógica é proporcional à abundância

de representantes de cada grupo e mostra a importância e o lugar de cada um nas várias eras

geológicas até à atualidade.

A história da terra é subdividida em eons, que são subdivididos nas eras, que

são subdivididas em períodos ou sistemas, etc. As subdivisões sucedem-se até

Page 184: Geologia e mineralogia

180

ao horizonte, de acordo com o desenvolvimento dos conhecimentos

paleontológicos e estratigráficos. Os nomes de subdivisões, como paleozóico ou

cenozóico, podem causar estranheza, mas se decompusermos os termos já se

tornam compreensivos. Por exemplo, zóico diz respeito à vida animal, e o paleo

significa antigo, o meso significa o meio, e ceno significa mais recente. Assim a

ordem relativa das três eras no sentido das mais antigas para as mais recentes

recebe os nomes com terminação zóico de Paleozóico, Mesozóico e Cenozóico,

conforme visto na coluna estratigráfica (Figura 103). Os nomes da maioria dos

eons terminam em zóico, porque estes intervalos de tempo são reconhecidos,

freqüentemente, com base na vida animal. As rochas formadas durante o Eon

Proterozóico contêm fósseis de organismos muito simples, tais como bactérias,

algas, e de animais vermiformes. As rochas formadas durante o Eon Fanerozóico

apresentam fósseis de organismos complexos de animais e de plantas tais como

os répteis, mamíferos e árvores.

O andar é designado por um nome, muitas vezes o de uma localidade ou

região geográfica onde pela primeira vez foi estudado e definido, acrescido do

sufixo “iano” por exemplo, Oxfordiano para Oxford, em Inglaterra, e Albiano no

caso de Albe, em França. O estratótipo é o padrão que serviu para definir o andar;

corresponde a uma dada sucessão de camadas geológicas num afloramento e

lugares precisos: por exemplo as bancadas de calcários azuis com moluscos em

Semuren-Auxois, no caso do andar Sinemuriano.

Vários andares sucessivos constituem uma série ou um sistema=período

cujo nome é decalcado a partir de uma região natural (Jurássico, por ter sido

estudado e definido pela primeira vez nos montes do Jura, localizados entre a

França e a Suiça) ou a partir das características da época que representa

(Carbônico em virtude do grande desenvolvimento de camadas de carvão, ou

Cretácico pela abundância de camadas de cré - calcário branco poroso, formado

por conchas de forminíferos). Muitas vezes, um acontecimento biológico

importante e global delimita um sistema: início do Câmbrico - aparecimento dos

orgãos esqueléticos; fim do Cretácico - desaparecimento dos dinossauros, das

amonites, das belemnites e dos rudistas.

Page 185: Geologia e mineralogia

181

Figura 96 - Este quadro mostra, de uma forma simplificada. a origem dos nomes (designações) dos Períodos=Sistemas, pertencentes às respectivas Eras, e à Escala de tempo bioestratigráfica. que está construída por ordem cronológica do mais antigo na base para o mais recente no topo.

Os sistemas=períodos são agrupados em eras, cujos limites estão igualmente

relacionados com a história da vida: fim do Primário ou Paleozóico - desaparecimento

das trilobites. As eras, tal como já referimos, podem ser agrupadas em eons.

Page 186: Geologia e mineralogia

182

Figura 97 - Quadro apresentando as divisões bioestratigráficas maiores - Eon -, da mais antiga na

base para a mais recente no topo e. de uma forma breve, os grandes acontecimentos

relacionados com as principais formas de vida, encontradas no registro fóssil e que conduziram às

grandes divisões bioestratigráficas.

Os métodos de datação podem ser de dois tipos: relativos e radiométricos

(absolutos). Os métodos relativos, já foram descritos, e fixam os acontecimentos

numa escala de "antes e depois", de tal maneira que os possamos ordenar.

Contudo, não permitem estabelecer a duração desses acontecimentos. Através

do método radiométrico calcula-se o número real de unidades de tempo (anos)

decorridas desde a ocorrência de um acontecimento. De uma maneira geral, esse

cálculo é feito por métodos radioativos.

Os métodos de datação radiométrica, radioisotópica ou isotópica permitem-

nos datar as formações rochosas com uma margem de erro pequena, à escala do

tempo geológico, e devem o seu progresso ao estudo da química isotópica, que,

com a espectrografia de massa, consegue a valoração quantitativa dos isótopos

de uma determinada substância em função da sua massa atômica. Em 1896,

Becquerel observou que o urânio contido nos minerais era capaz de impressionar

as películas fotográficas. Associou este fenômeno com as propriedades dos raios

X. Mais tarde demonstrou-se que o urânio se desintegra espontaneamente e

emite energia na forma de partículas e radioatividade. As partículas emitidas são

núcleos de hélio (raios alfa) e elétrons (raios beta). A radiação magnética realiza-

se sob a forma de raios gama. Em 1905, o físico inglês Rutherford, após ter

definido a estrutura do átomo, fez a primeira sugestão para usar a radioatividade

como uma ferramenta para medir diretamente o tempo geológico; logo depois

disso, em 1907, o professor B. B. Boltwood, radioquímico da Universidade de

Page 187: Geologia e mineralogia

183

Yale, publicou uma lista das idades geológicas baseadas na radioatividade.

Embora as idades de Boltwood tivessem sido corrigidas, mostraram corretamente

que a Du ração do tempo geológico deveria ser medida nos valores da ordem das

centenas de milhares de milhões de anos.

Os 40 anos seguintes foram um período da pesquisa sobre a natureza e o

comportamento dos átomos, conduzindo ao desenvolvimento da fissão e da fusão

nuclear como fontes de energia. Um dos resultados desta pesquisa atômica foi o

desenvolvimento e o refinamento continuado dos vários métodos e técnicas

usados para medir a idade dos materiais da terra. A datação radiométrica com

grau de precisão aceitável (2 a 5% da idade real) foi realizada a partir de 1950,

quando o espectrômetro de massa foi desenvolvido.

A ciência que faz a datação radiométrica das rochas denomina-se

Geocronologia. Um elemento químico consiste em átomos com um número

específico de protões nos seus núcleos mas com pesos atómicos diferentes

devido às variações do número de neutrões. Os átomos do mesmo elemento

químico com pesos atómicos diferentes são chamados isótopos. A desintegração

(decaimento) radioativa é um processo espontâneo em que um isótopo de um

elemento (pai) perde partículas de seu núcleo para dar origem a um isótopo de

um elemento novo (filho). A taxa de decaimento é expressa em termos de meia-

vida (semivida) de um isótopo, isto é, o tempo necessário para que a

radioatividade de uma determinada quantidade de um radionúcleo decaia para

metade do séu valor inicial. A diferença de 32 unidades de massa atômica entre o

urânio 238 e o chumbo 206 representa 8 átomos de hélio (constituídos por 2

protões e 2 neutrões) ou partículas, que foram emitidos por sucessivos

decaimentos. A maioria dos isótopos radioativos têm taxas rápidas de decaimento

(isto é, meias-vidas curtas) e perdem a sua radioatividade dentro de alguns dias

ou anos. Alguns isótopos, entretanto, decaem lentamente, e alguns destes são

usados na datação radiométrica das rochas. Os isótopos pai e os filhos estáveis

correspondentes, mais usados para determinar as idades das rochas antigas são

listados no quadro abaixo:

Page 188: Geologia e mineralogia

184

Isótopo Pai Isótopo Filho Estável Valores atualmente aceitos da meia vida

Urânio – 238 Chumbo - 206 4,5 (giga –ano = Ga) bilhões de ano

Urânio – 235 Chumbo – 207 704 milhoes de ano

Tório – 232 Chumbo – 208 14 (Ga) bilhões de ano

Rubídio – 87 Estrôncio – 87 48 (Ga) bilhões de ano

Potássio – 40 Argônio - 40 1,25 (Ga) bilhões de ano

Samário – 147 Neodímio - 143 106 (Ga) bilhões de ano

Um outro método radioisotópico importante, usado com determinadas

finalidades, é baseado no decaimento radiativo do isótopo carbono-14, que tem

uma meia-vida de 5.730 anos. Este método do radiocarbono transformou-se

numa ferramenta extremamente útil e eficiente para datar os episódios

importantes da Pré-história e História do Homem. Por causa da meia-vida

relativamente curta do carbono-14, o método só pode ser usado para datar os

eventos que ocorreram dentro dos últimos 50.000 anos passados. O decaimento

radioativo do isótopo do carbono-14, apresenta uma meia-vida de 5.730 anos.

Outras importantes informações sobre esse assunto podem ser encontradas no

site <hffp:/domingo.home.sapo.pt/temp _geol_1.html>

11.2. Esboço Geológico do Brasil

Geralmente, reconhecem-se três tipos principais de estruturas geológicas

no globo terrestre:

Escudos cristalinos ou maciçoos antigos: são compostos por rochas

cristalinas (ígneas ou magmáticas e metamórficas), constituindo estruturas

bastante resistentes e rígidas. De idades geológicas bem antigas, da era Pré-

Cambriana (Arqueozóico e Proterozóico) e da Paleozóica, dão origem a relevos

planálticos.

Bacias Sedimentares: são mais recentes que os escudos, datando das

eras Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica. Constituídas por detritos que aí se

acumularam, compondo-se, assim, de rochas sedimentares, dão origem a

planícies ou planaltos sedimentares. Exemplo: Bacia Sedimentar do Paraná.

Dobramentos modernos: são áreas que no período Terciário (era

Cenozóica) sofreram grandes dobramentos (elevações do terreno, em

conseqüência de pressões vindas do interior do planeta). Dão origem a relevo

Page 189: Geologia e mineralogia

185

montanhoso, constituindo as grandes cadeias de montanhas jovens ou terciárias

do globo: os Alpes, os Andes, o Himalaia, as Rochosas, etc.

No Brasil, como não existem os dobramentos modernos, a estrutura

geológica é constituída por escudos cristalinos, que abrangem cerca de 1/3 ou

36% do território nacional, e por bacias sedimentares, que ocupam cerca de 2/3

ou 64% do total do país.

11.3. Bacias Sedimentares

Origem das bacias: o embasamento consolidado, de estrutura siálica,

começou sua lenta declinação em fins de Ordoviciano, após o ciclo tectônico-

orogênico-taconiano.

É muito provável que no Ordoviciano Superior, o mar procedente da porção

andina tenha invadido a plataforma, propiciando depósitos sedimentares com as

mesmas características daqueles existentes na Bolívia e Paraguai. Tais depósitos

constituem a Formação Trombetas na Bacia Amazônica. Na Bacia do Maranhão,

o Siluriano é representado por arenitos cauliníticos continentais e folhelhos

esparsos da Formação Serra Grande e, na Bacia do Paraná, está representado

pela Formação Vila Maria, constituída de pelitos e arenitos marinhos, contendo

pelecipodas, gasterópodos e branquiópodos entre outros fósseis.

No Devoniano, as três bacias (Amazonas, Paraná e Parnaíba) foram

invadidas pelo mar, depositando partículas de areia (arenitos) e de argila e silte

(folhelhos, siltitos) com fauna marinha características.

Na Bacia do Paraná, a Formação Furnas, com espessura entre 200 e 300

m é formada de arenitos esbranquiçados médios a grosseiros, quartzo com matriz

caulinítica. No Estado de Goiás, a Formação Vila Maria, passa transicionalmente

para os arenitos da Formação Furnas, enquanto, no restante da Bacia, este

assenta diretamente sobre o embasamento a partir de um conglomerado basal. É

recoberta, na maior parte da bacia, pela Formação Ponta Grossa, que consiste

num folhelho síltico, cinza-escura, micáceo, com eventuais intercalações

arenosas. Enquanto a Formação Furnas é afossilífera, a Formação Ponta Grossa

é rica em branquiópodos, moluscos equinodermes, trilobitas, e outros

invertebrados marinhos.

Page 190: Geologia e mineralogia

186

Na Bacia do Amazonas, o Devoniano está representado pelos folhelhos,

siltitos e arenitos fluviais deltaicos da Formação Maecuru e pelos pelitos cinza

esverdeados marinhos de Formação Ererê. A Formação Aruá está representada

por arenitos, folhelhos e diamictitos. A Formação Ererê apresenta uma fauna bem

diversificada de tribolitas, branquiópodos, erinóides, gasterópodos, microfósseis e

restos vegetais. Os ambientes deposicionais são considerados planícies de marés

e deltaicos.

A Formação Arurá, com tilitos de textura heterogênea, expressa a

glaciação paleozóica naquela área. Os arenitos são de ambientes fluvial e

marinho pós-glaciais.

Na Bacia do Maranhão, ocorrem três Formações: Cabeça, Longá e Poti,

representadas por folhelhos, arenitos e siltitos marinhos litorãneos, passando no

topo para deltaicos e, finalmente, para continentais.

Período Carbonífero

Na Bacia do Paraná, o Carbonifero é representado pelo Grupo Tubarão,

cujos principais componentes litológicos são os arenitos, siltitos, folhelhos

argilosos e síltico-arenoso-argilosos, ritmitos, diamietitos e tilitos. A parte inferior

deste grupo é abrangida pelo Subgrupo Itararé que é, em grande parte, de origem

glacial e periglacial.

Nas áreas do Baixo e Médio Amazonas depositaram-se durante o

Carbonífero Inferior os arenitos da Formação Faro. No final do Carbonifero

originaram-se dolomitos e anidritos intercalados por folhelhos e arenitos da

Formação Itaituba e arenitos cinza-esverdeados da Formação Monte Alegre.

Na Bacia do Maranhão, a Formação Poti, com arenitos conglomeráticos,

anidrita e folhelhos marinhos, é sobreposta discordantemente por arenitos

vermelhos da Formação Piauí.

Período Permiano

A sedimentação permiana tem caráter predominantemente pelítico com

sittitos, folhelhos e calcários tectonicamente calma. No final do período

Page 191: Geologia e mineralogia

187

começaram a se depositar camadas vermelhas de origem continental no Sul e

evaporitos nas bacias do norte.

A sedimentação do Subgrupo Itararé na Bacia do Paraná prossegue e

compõe-se de arenitos amarelos siltitos e folhelhos intercalados por diamietitos e

representa a parte média e superior da unidade.

Depositou-se na Bacia do Amazonas, durante o Permiano, uma sucessão

de folhelhos, siltitos e calcários intercalados com halita, anidrita e gipsita. O

Permiano Superior compreende siltitos, folhelhos e arenitos intercalados com

calcários e sílex predominantemente vermelho.

Já na Bacia do Maranhão, o Permiano é caracterizado por siltitos, folhelhos

cinza-esverdeados com finos níveis de sílex, além de camadas vermelhas e

evaporitos.

Mezosóico - Cenozóico

Desde os primórdios do Mezosóico iniciaram-se as atividades ígneas na

Bacia do Amazonas que, descontinuamente, prosseguiram até o fim do Cretáceo,

quando recomeça a deposição clástica.

Na Bacia do Maranhão, depositam-se inicialmente arenitos avermelhados e

brancos, friáveis, com estratificação cruzada. Sobre esta seqüência, ao sul,

segue-se uma fase de atividade ígnea básica com intrusões denominada

Formação Mosquito. Esse derrame de lavas foi coberto por arenitos cinza-

esverdeados com argilitos, folhelhos e calcários.

A deposição Mezosóica na Bacia do Paraná é iniciada com sedimentação

de natureza lacustre fluvial no sul - Formação Rosário do Sul, a qual consiste de

lamitos e arenitos vermelhos. Na porção central e norte da Bacia seguem-se

arenitos fluviais da Formação Pirambóia superpostos pela Formação Botucatu,

esta última já em ambiente eólico. No inícío do Jurássico toda a bacia é um

imenso deserto, propiciando deposição de arenitos eólicos e outros depósitos

típicos. Já no Jurássico iniciam-se as atividades ígneas básicas da Formação

Serra Geral, com espessos derrames basálticos, perdurando até o final do

Cretáceo. Localmente, sobrepostos aos derrames de basaltos, ocorrem depósitos

arenosos e sílticos-arenosos do Grupo Bauru.

Page 192: Geologia e mineralogia

188

São geralmente depósitos subaquáticos e parcialmente eólicos,

distribuídos no noroeste do Paraná, sudoeste de São Paulo e Rio Grande do Sul.

Durante o Cretáceo Inferior, com o desenvolvimento dos processos tectônicos

que resultariam na separação entre África e Brasil, foram definidas outras bacias

de pequeno porte como Marajó, Potiguar, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Espírito

Santo, Rio de Janeiro e outras.

11.4. Geologia do Estado de São Paulo

No entendimento geral da sucessão estratigráfica da geologia do Estado

de São Paulo, sempre foi utilizada uma divisão geral em Embasamento Cristalino

Pré-Cambriano (Proterozóico) e os sedimentos Fanerozóicos da Bacia

Sedimentar do Paraná. A essa sucessão estratigráfica aflorante de leste para

oeste, relacionam-se os grandes traços geomorfológicos do Estado, derivados,

primordialmente, por erosão diferencial, onde as principais divisões representam

rochas agrupadas em determinados intervalos do tempo geológico (Tabela 34).

Dessa maneira, verifica-se que o Planalto Atlântico está na área das rochas

cristalinas no Proterozóico, a Depressão Periférica nas rochas sedimentares do

Paleozóico (Carbonifero-Permiano), e ínicio do Mesozóico (Triássico) a Cuesta

Basáltica, nos sedimentos e vulcânicas do Triássico-Cretáceo inferior e o Planalto

Ocidental sobre os sedimentos do Cretáceo superior-Terciário (Figura 107).

Aproximadamente 80% (aproximadamente) do Estado de São Paulo está

inserido dentro da Bacia Sedimentar do Paraná, uma bacia cratônica, que se

encontra preenchida por rochas sedimentares e vulcânicas, perfazendo uma

espessura máxima conhecida de 6.000 metros (na região de Cuiabá Paulista, SP,

no Pontal do Paranapanema), cujas idades variam do Paleozóico Inferior até o

Cenozóico. Sua área total no Brasil e paises vizinhos do cone sul abrange

1.700.000 km2. O Estado de São Paulo ocupa posição vizinha à sua margem

nordeste perfazendo mais da metade da área total do Estado e todo interior do

mesmo (Figura 98).

A área da Bacia do Paraná no Estado pertence a três das cinco divisões

geomorfológicas, a saber: Depressão Periférica, Cuestas Basálticas e Planalto

Ocidental (Figura 99).

Page 193: Geologia e mineralogia

189

Esta área envolve os Grupos Tubarão (Formação Itararé), Grupo Passa

Dois (Formação Iratí e Corumbataí), Grupo São Bento (Formação Serra Geral) e

o Grupo Bauru (Formação Adamantina e Marília).

Figura 98 - Distribuição das unidades litoestratigráficas no Estado de São Paulo (Adaptado de

IPT, 1981 a).

Figura 99 - Divisão Geomorfológica do Estado de São Paulo (Adaptado de IPT, 1981b).

Page 194: Geologia e mineralogia

190

Figura 100 – Perfil Geológico-Geomorfológico de E-W do Estado de São Paulo (Modificado do IPT, 1981 b)

Page 195: Geologia e mineralogia

191

Figura 101 - Coluna Estratigráfica da Bacia do Paraná no estado de São Paulo

Page 196: Geologia e mineralogia

192

Grupo Tubarão

As rochas dessa unidade assentam-se em discordância erosiva tanto sobre

os sedimentos da Formação Furnas como sobre as rochas cristalinas do

embasamento, atravessando o Estado em forma de arco com concavidade

voltada para E-SE. Sua sedimentação é predominantemente marinha ou glácio-

marinha, tem início no Carbonífero Superior e estende-se até o Permiano. No

Estado de São Paulo, a classificação litoestratigráfica mais prática para o

reconhecimento de campo, admite a divisão deste grupo em três formações, da

base para o topo: Aquidauana, Tatuí e Itararé. A Formação Itararé apresenta

litologias predominantemente psamíticas como: arenitos mal selecionados,

freqüentemente arcosianos, conglomerados e arenitos conglomeráticos. Siltitos

arenosos, siltitos e até argilitos e folhelhos com níveis de vários metros de

espessura podem aparecer nas camadas tipicamente marinhas. Os diamictitos,

de conotações genética glacial, são os termos mais característico desta formação.

Compõem-se de clastos em matriz arenosa a síltico-argilosa de diversas litologias

e apresentam espessuras variadas, de cor primária cinza. A litologia de clastos é

variada representando predominantemente, tipos de rochas do embasamento

cristalino e secundariamente, arenitos e siltitos. Os produtos de alteração destas

rochas originam predominantemente classes de: Latossolos e Argissolos, que

herdam muitas propriedades destas formações rochosas.

Grupo Passa Dois

Os sedimentos desse grupo sucedem as rochas do pós-glacial do Grupo

Tubarão transicionalmente sem discordância significativa exceto hiatos

localizados. O grupo é constituído, no Estado, pelas Formações Iratí e

Corumbataí. A Formação Irati é adotada como limite basal do grupo. É

predominantemente constituída por folhelhos pirobetuminosos, ou não, e

calcários, freqüentemente, dolomitizados. Os calcários, seu banco basal,

constituem a marca registrada dessa formação no centro do Estado de São

Paulo, onde é explorado comercialmente para produção de corretivo da acidez do

solo. Subordinamente ocorrem siltitos, folhelhos e arenitos finos. Sua

característica mais distinta é a presença de concreções de sílex, popularmente

denominada de "bonecas", que permitem o seu reconhecimento. Estes materiais

deram origem aos solos Nitossolos Vermelhos, Argissolos Verrmelhos,

Page 197: Geologia e mineralogia

193

Chernossolos Argilúvicos e Neossolos Litólicos. A Formação Corumbataí aflora

continuamente no Estado justapondo-se à faixa de afloramentos do Grupo

Tubarão e é freqüentemente interrompido por diques e extensos sills de díabásio,

como na região de Limeira-Piracicaba e Laranjal Paulista. Sua litologia é

representada por siltitos, argilitos e folhelhos todos com conteúdo significativo de

micas secundárias. Tem como característica marcante à cor fortemente variegada

onde predomina o vermelho-arroxeado. Níveis de siltitos e de arenítos

carbonátícos, calcários e níveis oolíticos são freqüentes na seqüência. Os solos

originados destes materiais são Argissolos Vermelhos Amarelos, Alissolos,

Cambissolos Háplicos e Neossolos Litólicos.

Grupo São Bento

É constituído pelas formações Pirambóia, Botucatu e Serra Geral. As

formações Pirambóia e Botucatu ocorrem interdigitadas. Composto por um pacote

de sedimentos arenosos, vermelhos, recobertos pelas eruptivas da Serra Geral. A

Formação Serra Geral compreende um conjunto de derrames de basaltos,

reconhecido atualmente, como uma cobertura basáltica de natureza variada de

termos ácidos e básicos. Afloram essas vulcânicas na parte superior da Cuesta

Basáltica, em sua crista e em seu reverso. Nos morros testemunhos existentes na

Depressão Periférica, em frente à Cuesta, nem sempre a cobertura vulcânica é

constituída por basaltos como amplamente aceito, mas por intrusivas a eles

associados. No Planalto Ocidental afloram, em alguns pontos, junto aos vales dos

grandes rios como o Grande, Mogi-Guaçu, Tietê, Paranapanema e Paraná. A

espessura máxima desses derrames é de 1528 metros. A composição

mineralógica dos basaltos é piroxênios e plagioclásios (Iabradorita) como minerais

essenciais, olivina, magnetita como minerais assessórios. Os basaltos

amigdaloidais ocorrem nas zonas de topos dos derrames, apresentam uma

estrutura amígdaloidal, com preenchimento total ou parcial das bolhas gasosas

por material secundário, tal como zeólitas, cloritas, calcita, quartzo, calcedônia,

etc. Os solos oriundos destes são os Latossolos; Nitossolos e Neossolos.

Grupo Bauru

Os sedimentos desse grupo, de idade Cretáceo Superior assentam-se em

visível discordância erosiva sobre as rochas do Grupo São Bento. Ocupam todo o

Page 198: Geologia e mineralogia

194

Planalto Ocidental Paulista onde se assentam sobre os basaltos da Formação

Serra Geral. A seqüência estratigráfica desta unidade está subdividida nas

Formações Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e Marília. Posteriomente foi

adicionado a Formação Itaqueri. Os sedimentos da Formação Marília ocorrem no

reverso da cuesta arenitico-basáltica, formando espigões na região entre os rios

Tietê e Paranapanema no Planalto Ocidental e em áreas isoladas, como em

Monte Alto a nordeste do Estado. É constituída por arenitos grosseiros e

conglomeráticos, mal selecionados, pobre em matriz e estruturas sedimentares.

Camadas de lamitos (pelítica), com intensa bioturbação, separam os bancos de

arenitos. Em certas áreas apresentam forte cimentação carbonática podendo

essa matriz representar até 40% da rocha. Sua característica é a presença de

abundantes nódulos carbonáticos, às vezes concentrados em determinados

níveis. Estas rochas deram origem à única classe de solos arenosos com

excelentes qualidades químicas. São eles Latossolos, Argissolos e Neossolos.

A Formação Adamantina é a unidade de maior importância geográfica do

grupo, ocorrendo em grandes áreas no Planalto Ocidental Paulista. Seu contato

basal demonstra grande transgressividade estratigráfica, transicional com o Santo

Anastácio, discordante sobre os basaltos da Formação Serra Geral. A unidade é

caracterizada por bancos de arenitos de granulação fina, coloração rósea a

creme, com estratificação cruzada ocasional e cimentação carbonática localizada,

com intercalações de lamitos, siltitos e arenitos lamíticos de cores avermelhadas

a cinza esverdeadas. Os principais solos originados dessas rochas são os

Latossolos e Argissolos.

Page 199: Geologia e mineralogia

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