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  • GEOLOGIA MDICA NO BRASIL

    EFEITOS DOS MATERIAIS E FATORES GEOLGICOSNA SADE HUMANA E MEIO AMBIENTE

    2005 WORKSHOP INTERNACIONAL DE GEOLOGIA MDICARIO DE JANEIRO, BRASIL

    EDITORES

    Cassio Roberto da Silva

    Gelogo, MSc, Chefe do

    Departamento de Gesto Territorial do

    Servio Geolgico do Brasil - CPRM/RJ

    Bernardino Ribeiro Figueiredo

    Gelogo, Professor Dr

    do Instituto de Geocincias da

    Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - SP

    Eduardo Mello De Capitani

    Mdico, Professor Dr. da Faculdade de Cincias Mdicas da

    Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - SP

    Fernanda Gonalves Cunha

    Geloga, Dra.do Departamento de Geologia do

    Servio Geolgico do Brasil - CPRM/RJ

    RIO DE JANEIRO, BRASIL

    2006

  • 550.289 Geologia mdica no Brasil: efeitos dos materiais e fatores

    geolgicos na sade humana, animal e meio ambiente /

    Cssio Roberto da Silva (Ed.)... [et al.]. Rio de Janeiro :

    CPRM - Servio Geolgico do Brasil, 2006.

    220 p. ; 28 cm

    Textos do 2005 Workshop Internacional de Geologia

    Mdica.

    1. Geologia mdica. 2. Geocincias. I. Workshop Interna-

    nacional de Geologia Mdica, 2005, Rio de Janeiro. II. Silva,

    Roberto da (Ed.). III. Ttulo.

    CDD 550.289

    CPRM Servio Geolgico do Brasil

    Rio de Janeiro

    Coordenao DEPAT/DIEDIG

    Editorao/Diagramao/Design

  • SUMRIO

    Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii

    1.Geologia Mdica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

    Selinus, O.

    2. Geologia Mdica no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

    Silva, C.R., Figueiredo, B.R., De Capitani, E.M.

    3. Epidemiologia e Geologia Mdica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    De Capitani, E.M.

    4. Vigilncia em Sade Relacionada a Qumicos no mbito do Sistema nico de Sade. . . . . . . . . . . 19

    Netto, G.F.

    5. Geoquimica Multielementar de Superficie na Delimitao de Riscos e Impactos Ambientais,

    Estado do Paran, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

    Licht, O.A.B.

    6. Geoqumica dos Solos Brasileiros: Situao Atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    Prez, D.V., Manzato, C.V., Alcntara S., Wasserman, M.A.V.

    7. Biofortificao como Ferramenta para Combate a Deficincias em Micronutrientes . . . . . . . . . . . . 43

    Nutti, M.

    8. Evaluacin de Riesgo una Herramienta para el Proceso de Gerenciamiento Socioambiental:

    Estudio de Caso Regin Norte de Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

    Hacon, S.

    9. Riscos Sade de Substncias Orgnicas Naturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    Mello, C.S.B. de

    10. Arsnio no Brasil e Exposio Humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

    Figueiredo, B.R., Borba, R.P., Anglica, R.S.

    11. O Arsnio nas guas Subterrneas de Ouro Preto (MG) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

    Gonalves, J.A.C., Pereira, M.A., Paiva, J.F., Lena, J.C. de

    12. Arsnio em Sedimentos Estuarinos do Canal de Acesso Baia de Antonina, Paran. . . . . . . . . . . 78

    S,F., Machado, E.C., ngulo, J.R.

    13. Exposio Humana ao Arsnio no Mdio Vale do Ribeira, So Paulo, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . 82

    De Capitani, E.M., Sakuma, A.M., Figueiredo, B.R., Paoliello, M.M.B., Okada, I.A., Duran, M.C., Okura, R.I.

    iii

  • 14. Chumbo e Arsnio nos Sedimentos do rio Ribeira de Iguape, SP/PR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

    Lopes Jr., I., Figueiredo, B.R., Enzweiler, J., Vendemiatto, M.A.

    15. Diagnstico Ambiental e de Sade Humana: Contaminao por Chumbo em Adrianpolis,

    no Estado do Paran, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

    Cunha, F.C., Figueiredo, B.R., Paoliello, M.M.B., De Capitani, E.M.

    16. Estudo da Composio e das Fontes Isotpicas de Pb dos Aerossis em Braslia (DF) Brasil Central

    Gioia, S.M.C.L., Pimentel, M.M., Kerr, A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

    17. Fluorose Dentria e Anomalias de Flor na gua Subterrnea no Municipio de

    So Francisco Minas Gerais, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

    Velsquez, L.N.M., Fantinel, L.M., Ferreira, E.F., Castillo, L.S., Uhlein, A., Vargas, A.M.D., Aranha, P.R.A.

    18. Geoquimica do Flor em guas e Sedimentos da Regio de Cerro Azul, Estado do Paran:

    Definio de reas de Risco para Consumo Humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

    Andreazzini, M.J., Figueiredo, B.R., Licht, O.A.B.

    19. Estudo Hidrogeoqumico do Flor nas guas Subterrneas das Bacias

    dos Rios Casserib, Macac e So Joo, Estado do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

    Panagoulias, T.I., Silva Filho, E.V.

    20. Mercrio Ocorrncias Naturais no Estado do Paran, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

    Plawiak, RR AB, Licht, O.A.B., Vasconcelos, E.M.G., Figueiredo, B.R.

    21. Contaminao por Mercrio Antrpico em Solos e Sedimentos de Corrente de

    Lavras do Sul, RS, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

    Grazia,C.A., Pestana, M.H.D.

    22. Implicaes de Radioelementos no Meio Ambiente, Agricultura e Sade Pblica em

    Lagoa Real,Bahia, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148

    Oliveira, J.E.

    23. Amianto: O que Tambm Importante Considerar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

    Scarpelli, W.

    24. Crenoterapia das guas Minerais do Estado do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

    Martins, A.M., Mansur, K.L., Pimenta, T.S., Caetano, L.C.

    25. Avaliao do Nvel de Contaminao das guas Subterrneas da Cidade de Parintins,

    Amazonas, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169

    Marmos, J.L., Aguiar, C.J.B.

    26. Caracterizao Geoqumica das guas de Sistema de Abastecimento Pblico da

    Amaznia Oriental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174

    Macambira, E.M.B., Viglio, E.P.

    27. Elementos Qumicos em guas de Abastecimento Pblico no Estado do Cear . . . . . . . . . . . . 183

    Frizzo, S.J.

    28. Avaliao da Contaminao da gua Consumida no Campus da UFRN em Relao Presena de

    Nitratos Provenientes de Fossas Spticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192

    Petta, R.A., Arajo, L.P., Lima, R.F.S., Duarte, C.R.

    iv

  • 29. Alumnio Dissovido na gua das Cavas de Extrao de Areia Um Estudo das Possveis

    Implicaes de sua Toxidade Municpio de Seropdica RJ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200

    Eduardo Duarte Marques, E.D., Silva Filho, E.V., Tubbs, D., Santelli, R.E., Sella, S.M.

    30. A Influncia da rea Superficial das Partculas na Adsoro de Elementos Trao por

    Sedimentos de Fundo: Um Estudo de Caso nas Adjacncias da Cidade de Macaba,

    Estado do Rio Grande do Norte, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204

    Lima, R.F.S., Guedes, J.A., Brando, P.R.G., Souza, L.C., Petta, R.A.

    v

  • APRESENTAO

    Este livro tem por objetivos divulgar fundamentos, metodologias e resultados de investigaes j reali-zadas dentro do conceito multidisciplinar da Geologia Mdica. O contedo composto por artigos relati-

    vos s apresentaes de pesquisadores brasileiros por ocasio da realizao, do Workshop Internacional

    de Geologia Mdica em junho de 2005, no Rio de Janeiro, nas dependncias do Servio Geolgico do Bra-

    sil CPRM. Esta iniciativa no tem a pretenso de abarcar todo o universo de pesquisadores atuantes na

    interface Geocincias e Sade, mas apresentar um panorama que reflita, de forma significativa, a situao

    atual no Brasil dessa integrao de disciplinas no enfrentamento de problemas ambientais de sade.

    So apresentadas no primeiro artigo, escrito pelo Dr. Olle Selinus (IMGA), as noes bsicas e a evo-

    luo histrica da Geologia Mdica no mbito mundial. Segue uma breve descrio do estado da arte da

    Geologia Mdica no Brasil, ressaltando-se em captulo especfico a importncia da Epidemiologia como

    base da avaliao dos agravos sade no contexto da Geologia Mdica. Tambm apresentado o pro-

    grama brasileiro de vigilncia em sade relacionadas a substncias qumicas.

    Os demais artigos apresentam os resultados de pesquisas realizadas por vrias instituies e regies

    do Brasil, abordando temas relacionados ao conceito de Geologia Mdica. Nesses trabalhos, dados produ-

    zidos pelas disciplinas ligadas Geologia so correlacionados com os dados de sade das populaes, no

    sentido de busca e definio de nexos causais, ou de levantamento de hipteses de trabalho a serem desen-

    volvidas. Finalizando, gostariamos de agradecer a todos os autores pela valiosa contribuio, em especial

    Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FAPERJ, pelo apoio financeiro, ao Servio

    Geolgico do Brasil CPRM, a Sociedade Brasileira de Geoquimica SBGq, e a International Medical Geo-

    logy Association IMGA pelo incentivo e apoio logstico, certos de que juntos estamos contribuindo para a

    divulgao e desenvolvimento da Geologia Mdica no Brasil, consequentemente, melhorar a qualidade de

    vida de nossa populao.

    Os Editores

    vii

  • GEOLOGIA MDICA

    Olle Selinus

    Servio Geolgico da Sucia

    Traduo: Fernanda Gonalves da Cunha

    (Servio Geolgico do Brasil-CPRM/RJ)

    INTRODUO

    A Geologia Mdica definida como a cincia que

    estuda a influncia de fatores geolgicos ambientais re-

    lacionados distribuio geogrfica das doenas hu-

    manas e dos animais.

    Conseqentemente, a contribuio interdisciplinar

    essencial, requer atuao de profissionais de diferentes

    reas cientficas, como gelogos, mdicos, odontlo-

    gos, veterinrios, toxicologistas, bilogos e agrnomos,

    entre outros.

    Por que a geologia importante para nossa sade?Nosso ambiente uma rede de interaes geolgi-

    cas e biolgicas caracterizadas pelas relaes entre a

    vida e o planeta Terra. Os elementos qumicos formado-

    res das rochas e dos solos podem representar riscos

    sade dos homens, dos vegetais e dos animais. Os teo-

    res desses elementos em nosso ambiente podem estar

    correlacionados com a deficincia e toxicidade dos

    mesmos nos organismos dos seres vivos. Alguns ele-

    mentos que ocorrem naturalmente na crosta terrestre

    so essenciais para manuteno da nossa sade, po-

    rm outros so txicos.

    Antes de considerar a necessidade de limpar ou

    proteger uma rea contaminada pelo homem, pru-

    dente conhecer os nveis de background da regio para

    determinar o grau de contaminao. Elementos que

    ocorrem naturalmente no meio ambiente podem produ-

    zir efeitos adversos sade quando so ingeridos em al-

    tas concentraes. Os processos geolgicos associa-

    dos com as atividades humanas podem redistribuir os

    metais de locais onde no so prejudiciais para outros

    locais onde podem afetar, negativamente, sade dos

    homens e dos animais.

    As rochas so fonte de todos os elementos qumicos

    que ocorrem naturalmente na superfcie terrestre. Os

    metais so onipresentes na litosfera onde so distribu-

    dos heterogeneamente e ocorrem em diferentes formas

    qumicas. Os depsitos minerais representam concen-

    traes naturais que so explotados comercialmente.

    Quando tais acumulaes anmalas acontecem, so fo-

    cos de estudos de geologia econmica. Os nveis de

    background dos metais que ocorrem comumente nas

    rochas, sedimentos e solos so de grande significncia

    no total da quantidade de metais disponveis no meio

    ambiente. Todos os elementos conhecidos esto pre-

    sentes em algum nvel de concentrao no ambiente na-

    tural, nos organismos humano e animal, nos vegetais e

    nos minerais, e seus efeitos benficos ou malficos es-

    to presentes desde o incio da evoluo do planeta.

    A geologia pode alterar a sade humana. Entretan-

    to, as rochas so fontes naturais de todos os elementos

    qumicos que so encontrados na Terra. Muitos elemen-

    tos so essenciais para a sade das plantas, dos anima-

    is e do homem. A maior parte desses elementos entra no

    corpo humano via alimentao e gua e atravs do ar

    que ns respiramos. Atravs dos processos de intempe-

    rismo, as rochas se fragmentam e formam os solos, nos

    quais so cultivados produtos agrcolas e criao de ani-

    mais que constituem fonte de alimentao. As guas po-

    tveis permeiam rochas e solos fazendo parte do ciclo

    hidrolgico. Grande quantidade de poeira e gases pre-

    sentes na atmosfera resultante dos processos geolgi-

    cos. Portanto, existe um vnculo direto entre a geoqumi-

    ca e a sade devido ingesto e inalao de elementos

    qumicos pela alimentao e respirao.

    Ns precisamos entender a natureza e magnitude

    dessas fontes geolgicas para desenvolver pesquisas e

    avaliar o risco causado pelos metais no meio ambiente.

    muito importante saber distinguir entre contribuies na-

    turais e antropognicas que afetam o meio ambiente. As

    concentraes dos metais podem ter diferentes ordens

    de magnitude nas diversas rochas. Por exemplo, as con-

    centraes do nquel e do cromo so muito mais eleva-

    das em basaltos do que em granitos, enquanto que para

    o chumbo ocorre ao contrrio. O intemperismo dessas

    rochas resulta na mobilizao dos elementos no ambien-

    te. Nos sedimentos, os metais pesados tendem a se

    concentrar nas fraes mais finas e naquelas com maior

    1

    Olle Selinus

  • teor de matria orgnica. Xistos pretos, uma rocha de

    granulao fina, por exemplo, tende - a se enriquecer

    nesses elementos.

    O conhecimento dos processos geolgicos tambm

    fundamental para o entendimento de qual metal foi li-

    berado como resultado da atividade humana.

    Vulcanismo e atividades relacionadas formao

    das rochas gneas so os principais processos que tra-

    zem os elementos para a superfcie terrestre. Por exem-

    plo, o vulco Pinatubo ejetou em dois dias, em junho de

    1991, cerca de 10 bilhes de toneladas de magma e 20

    milhes de toneladas de SO2, o que resultou na influn-

    cia dos aerossis no clima global por 3 anos. Somente

    esse evento introduziu 800.000 toneladas de zinco,

    600.000 toneladas de cobre e 1.000 toneladas de cd-

    mio na superfcie terrestre. Alm isso, 30.000 toneladas

    de nquel, 550.000 toneladas de cromo e 800 toneladas

    de mercrio foram tambm adicionadas ao ambiente su-

    perficial da Terra. Erupes vulcnicas redistribuem al-

    guns elementos txicos, como o arsnio, berilo, cdmio,

    mercrio, chumbo, radnio e urnio, mas a maioria se

    torna elemento remanescente, muitos tm ainda efeitos

    biolgicos no determinados. tambm importante es-

    tar consciente que se h uma mdia de 60 vulces su-

    bareos em erupo na superfcie terrestre num determi-

    nado momento, vrios elementos so lanados no ambi-

    ente. Vulcanismo submarino at mais significante do

    que os das margens continentais e tem sido estimado

    cautelosamente que so no mnimo 3.000 chamins nas

    cadeias mesocenicas. Um fato interessante que cer-

    ca de 50% de SO2 de origem natural, principalmente

    proveniente de vulces, e somente 50% tem origem nas

    atividades humanas.

    Os elementos que ocorrem naturalmente no so

    distribudos igualmente na superfcie terrestre e os pro-

    blemas podem surgir quando as concentraes dos ele-

    mentos so muito baixas (deficincia) ou muito elevadas

    (toxicidade). A incapacidade do ambiente prover o ba-

    lano qumico dos elementos pode levar a srios proble-

    mas de sade. As interaes entre o ambiente e a sade

    so particularmente importantes para a sobrevivncia

    das populaes que so altamente dependentes do

    ambiente local para suprir sua alimentao. Aproxima-

    damente 25 dos elementos que ocorrem naturalmente

    so conhecidos por serem essenciais vida das plantas

    e dos animais, incluindo Ca, Mg, Fe, Co, Cu, Zn, P, N, S,

    Se, I e Mo. Por outro lado, o excesso desses elementos

    pode causar intoxicao. Alguns elementos como o As,

    Cd, Pb, Hg e o Al no possuem funo biolgica ou a

    possuem de forma limitada e so geralmente txicos

    para o homem.

    Muitos desses elementos so conhecidos como ele-

    mentos-trao porque eles geralmente ocorrem em pe-

    quenas concentraes (mg/kg ou ppm) em muitos solos.

    A deficincia de elementos-trao nas culturas agrcolas e

    nos animais so comuns em grandes reas em vrias re-

    gies do mundo e, por essa razo, programas de suple-

    mentao mineral so prticas aplicadas na agricultura.

    Deficincia de elementos-trao pode empobrecer o pas-

    to, dificultar o crescimento animal e causar desordens re-

    produtivas. Esses problemas freqentemente geram

    grande impacto em populaes pobres que no podem

    gastar com intervenes nutricionais para seus animais.

    Interaes, especiao e biodisponibilidadeAlm do entendimento sobre as fontes naturais e an-

    tropognicas das substncias perigosas ao ambiente,

    tambm importante considerar a exposio e a biodispo-

    nibilidade. Exposio a descrio qualitativa e/ou quan-

    titativa do total da substncia qumica que entra e assi-

    milada pelas diversas vias de exposio. Biodisponibili-

    dade a proporo da substncia qumica disponvel

    para entrar no organismo atravs de uma determinada via

    de exposio. A biodisponibilidade influencia diretamen-

    te na exposio e, portanto, o efeito e risco em relao

    sade. Grandes quantidades de substncias, potencial-

    mente prejudiciais sade podem estar presentes no

    meio ambiente, mas se no estiverem em forma qumica

    biodisponvel, o risco para a sade pode ser mnimo. A bi-

    odisponibilidade depende no somente das formas fsica

    e qumica do elemento, mas tambm de outros fatores

    ambientais, tais como pH, temperatura e condies de

    umidade. A biodisponibilidade e a mobilidade de metais

    como o zinco, chumbo e cdmio so maiores em condi-

    es cidas e tornam-se menos biodisponveis com o au-

    mento do pH. Tambm o tipo de solo, o seu contedo de

    argila e areia e suas propriedades fsicas afetam a migra-

    o dos metais atravs deles. Os organismos presentes

    nos solos tambm afetam a solubilidade, o transporte e a

    biodisponibilidade do metal.

    Alm disso, foi demonstrado no caso de estudo com

    o arsnio em Bangladesh, o perigo potencial somente se

    torna um problema se existe uma rota de exposio. O

    potencial de dano sade, relacionado aos elevados

    teores de arsnio nas guas subterrneas, existe h mil

    anos, mas somente nos anos recentes, com a necessi-

    dade de perfurar poos de gua para consumo da popu-

    lao, foi que a via de exposio ficou estabelecida e os

    efeitos na sade se manifestaram. Na ausncia de expo-

    sio, no haveria efeitos adversos.

    As vias de exposio incluem ingesto (alimentos,

    gua, ingesto acidental ou no de solo), absoro der-

    mal e inalao. Em termos de ingesto, se d muita nfa-

    se gua pela facilidade de coleta e anlise. Contudo,

    os solos e os alimentos so de grande importncia na di-

    eta porque as concentraes das substncias potencial-

    mente perigosas nos solos so mais elevadas (ppm) do

    que na gua (ppb). Se a ingesto de solo

    2

    Geologia Mdica

  • no-intencional ou se caracterizada pela ingesto deli-

    berada de solo, conhecida como geofagia, essa via de

    exposio no deve ser subestimada. Por exemplo, es-

    tudos no Knia tm mostrado que 60-90% de crianas

    entre 5 a 14 anos de idade praticam geofagia e cada cri-

    ana consome em mdia 28g de solos por dia.

    Na discusso da geologia mdica tambm neces-

    srio conhecer quais elementos so essenciais para os

    homens e animais. Os principais elementos so: clcio,

    cloro, magnsio, fsforo, potssio, sdio e enxofre. Os

    elementos-trao essenciais so: cromo, cobalto, cobre,

    flor, ferro, mangans, molibdnio, zinco e selnio. Os

    elementos que provavelmente no participam dos pro-

    cessos biolgicos so chamados elementos

    no-essenciais e, freqentemente, apresentam proprie-

    dades perigosas, por exemplo: arsnio, cdmio, merc-

    rio e chumbo. Exposio a metais pesados pode resultar

    em efeitos negativos.

    A maior parte dos metais pesados essencial em

    diferentes funes biolgicas nos organismos (por

    exemplo, o cobalto, cobre, mangans, molibdnio, zin-

    co, nquel e vandio). Eles so denominados micronutri-

    entes. Em altas concentraes, no entanto, todos esses

    metais produzem efeitos adversos nos organismos. A in-

    troduo de metais pesados, em larga escala, na socie-

    dade a tecnosfera e eventualmente na biosfera tem

    trazido tona os efeitos txicos nos animais e plantas e

    caminhos no-sustentveis. Cdmio, mercrio, chumbo,

    cobre e outros metais tm relao com vrios efeitos na

    vida dos organismos. Destes, o mercrio e o chumbo

    no participam de nenhuma funo biolgica nos orga-

    nismos vivos.

    Exemplos de geologia mdicaO arsnio inorgnico um dos elementos txicos

    mais conhecidos. Exposio crnica ao arsnio afeta

    particularmente a pele, membranas mucosas, sistema

    nervoso, medula ssea, fgado e corao. A toxicidade

    do arsnio altamente dependente de sua forma qumi-

    ca. A essencialidade do arsnio tem sido mostrada em

    estudos com animais, mas no com humanos. As emis-

    ses naturais de arsnio no mundo para a atmosfera na

    dcada de 80 foram 1,1 a 23,5 toneladas por ano, devi-

    das principalmente aos vulces, partculas de solo leva-

    das pelo vento, spray marinho e processos biognicos.

    Apenas a combusto de carvo contribui com 20% das

    emisses atmosfricas, e o arsnio das cinzas do carvo

    pode ser lixiviado para os solos e para as guas.

    Est havendo um aumento do conhecimento sobre

    a toxicidade do arsnio devido exposio a elevadas

    concentraes no ambiente geoqumico. Os efeitos na

    sade humana devidos ao arsnio so reconhecidos

    pela Organizao Mundial da Sade (OMS), que tem re-

    baixado o nvel de segurana para o arsnio em guas

    potveis de 50mg/l para 10mg/l. Entre os pases com ca-

    sos estudados e documentados de intoxicao por ars-

    nio esto Bangladesh, ndia (West Bengal), Taiwan, Chi-

    na, Mxico, Chile e Argentina. Os sintomas mais comuns

    da toxicidade crnica do arsnio so conjuntivites, mela-

    nomas, despigmentao, queratose e hiperqueratose.

    Como nos casos da ndia e Bangladesh, a relao entre

    a exposio excessiva ao arsnio e casos de cncer in-

    terno e de pele tambm ocorrem em Taiwan. A fonte do

    arsnio natural, o elemento est presente nos minerais

    formadores das rochas, incluindo os xidos de ferro e as

    argilas, mas principalmente em sulfetos, especialmente

    em pirita e arsenopirita.

    O radnio um gs radioativo que ocorre natural-mente, incolor, inodoro, e sem paladar, e somente

    pode ser detectado com equipamento especial. Ele

    produzido por decaimento radioativo do rdio, o qual,

    por sua vez, derivado por decaimento radioativo do

    urnio. O urnio encontrado em baixas concentraes

    em solos e nas rochas, variando de lugar para lugar. O

    radnio, sob forma de partculas radioativas pode entrar

    no corpo atravs da inalao, levando ao risco de cn-

    cer no trato respiratrio, especialmente nos pulmes. O

    radnio inalado no ar do interior das casa responsvel

    por cerca de 20.000 casos de morte ao ano, por cncer

    de pulmo, nos Estados Unidos, e 2.000 a 3.000 no Rei-

    no Unido. Somente o cigarro causa mais mortes por cn-

    cer de pulmo.

    A geologia o fator mais importante para controlar a

    fonte e a distribuio do radnio. Os nveis relativamente

    altos de emisso de radnio esto associados com um

    determinado tipo de rocha e depsitos inconsolidados,

    por exemplo, granitos, rochas fosfticas e xistos enrique-

    cidos em matria orgnica. A liberao do radnio das

    rochas e solos controlada largamente pelos tipos de

    minerais nos quais o urnio e o radnio ocorrem. Somen-

    te o gs radnio liberado desses minerais, sua migra-

    o para a superfcie controlada pela permeabilidade

    do leito rochoso e do solo; carreado atravs de fluidos,

    incluindo o gs dixido de carbono e a gua subterr-

    nea; e por fatores meteorolgicos tais como presso ba-

    romtrica e chuvas.

    O radnio dissolvido nas guas subterrneas pode

    migrar por longas distncias atravs de fraturas e caver-

    nas dependendo da velocidade do fluxo do fluido. O ra-

    dnio solvel em gua e pode ser transportado por dis-

    tncias maiores do que 5km em drenagens subterr-

    neas, em calcrios. Se emitido diretamente na fase ga-

    sosa, pode ocorrer em gua potvel de mesa (guas

    minerais). A presena de gs como meio de transporte,

    tal como o dixido de carbono favorece a migrao do

    radnio. Esse parece ser o caso em certas formaes

    carbonticas, onde as cavernas e fissuras subterrneas

    possibilitam a rpida transferncia da fase gasosa. O ra-

    3

    Olle Selinus

  • dnio em gua para consumo pode resultar em exposi-

    o humana por dois caminhos: por ingesto e por libe-

    rao do radnio para o ar durante o banho ou pela chu-

    va, permitindo que o radnio e seus produtos de decai-

    mento sejam inalados. A presena de radnio nos solos

    sob as casas a maior fonte de radnio no ar dentro das

    casas, e apresenta o maior risco para cncer de pulmo

    do que o radnio em gua potvel. Entretanto o radnio

    em gua potvel pode ser um problema para as crianas

    pequenas.

    A ligao entre o bcio e a deficincia de iodo umexemplo clssico de geologia mdica. A correlao en-

    tre geologia-gua-alimentao-doenas pode ser clara-

    mente mostrada para o iodo. O bcio era comum nos po-

    vos antigos da China, Grcia, Egito e entre os Incas,

    onde os solos e/ou a gua so usualmente deficientes

    em iodo, mas foi sucessivamente tratado com alga que

    contm altos teores de iodo. O iodo um componente da

    tireide no hormnio tiroxina, e muito bem conhecido

    como elemento essencial para os homens e animais ma-

    mferos. A deficincia de iodo resulta numa srie de de-

    sordens na sade, Iodine Deficiency Disorders (IDD),

    sendo a mais comum o bcio endmico. As reas com

    IDD tendem a ser geograficamente definidas. A mais se-

    vera ocorrncia do bcio endmico e o cretinismo ocor-

    rem em reas localizadas no alto de montanhas e re-

    gies centrais dos continentes.

    O bcio ocorre devido ao crescimento da glndula

    tireide como tentativa para compensar a insuficincia

    do iodo. Como exemplo, numa estimativa acerca da po-

    pulao de 17 milhes no Sri Lanka, aproximadamente

    10 milhes apresentam risco para desenvolver o bcio.

    A deficincia de iodo em mulheres grvidas pode tam-

    bm levar ao cretinismo e prejuzo da funo cerebral da

    criana. A OMS estima que 1,6 bilho de pessoas apre-

    sentam risco relacionado deficincia de iodo e que,

    hoje, a maior causa de retardamento mental no mundo.

    S a China tem 425 milhes de pessoas com risco de de-

    senvolver algum tipo de IDD.

    Outro elemento importante o flor. A geoqumicado flor em gua subterrnea e a sade dental em comu-

    nidades, particularmente aquelas que dependem da

    gua subterrnea para suprir as necessidades de gua

    potvel, um dos maiores exemplos de relao entre a

    geoqumica e a sade. Em muitos dos sistemas de supri-

    mento de gua, particularmente em pases em desenvol-

    vimento, onde a escavao de poos profundos a mai-

    or fonte de gua, a gua contm excesso de flor e como

    tal prejudicial sade dental.

    O flor um elemento essencial com recomenda-

    o de ingesto diria de 1,5 a 4,0 mg/dia. Problemas de

    sade tais como cries ou dentes manchados ou fluo-

    rose esqueltica podem ocorrer devidos ao excesso ou

    deficincia de flor. Ao contrrio de outros elementos es-

    senciais para os quais a alimentao a principal fonte, a

    principal fonte do flor a gua. O flor em guas superfi-

    ciais e subterrneas proveniente de fontes naturais: (a)

    lixiviao de rochas enriquecidas em flor; (b) dissolu-

    o de fluoretos dos gases vulcnicos por percolao

    da gua subterrnea atravs de falhas e juntas em gran-

    de profundidades e em nascentes; (c) gua de chuva,

    onde pode agregar pequena quantidade de fluoretos

    provenientes de aerossis marinhos e poeira continental

    contaminada; (d) emisses e efluentes industriais; (e) li-

    xiviao de fertilizantes fosfatados, utilizados ostensiva-

    mente em plantaes em reas agrcolas.

    Por exemplo, aps a erupo do vulco Hekla em

    Iceland em 1693, 1766 e 1845, severos incidentes de flu-

    orose foram constatados e descritos. Desde a Segunda

    Guerra Mundial, o Helka entrou em erupo em 1947,

    1970 e 1980, e anlises para flor foram executadas. O

    vulco liberou grande quantidade de flor e concentra-

    es de 4.300ppm em gramneas foram encontradas.

    No incio do sculo XX ficou conhecido que altos

    teores de flor podem causar fluorose. A concentrao

    natural de flor em gua potvel normalmente 0,1 a

    1ppm. Em muitos pases, entretanto, a concentrao

    pode ser to alta quanto 40ppm, o que pode causar fluo-

    rose severa. A situao um pouco menos complicada

    porque existe o efeito antagnico. O molibdnio e o sel-

    nio podem reduzir os efeitos das altas concentraes de

    flor. Um dos maiores benefcios do flor seu antago-

    nismo com o alumnio. Em Ontrio, no Canad, existe um

    nmero menor de casos de doena de Alzheimer onde a

    gua potvel contm mais flor.

    Um aspecto totalmente diferente na geologia mdi-

    ca a geofagia, o hbito compulsivo de ingerir solo.Em muitas sociedades rurais antigas a exposio aos

    elementos qumicos ocorria principalmente atravs do

    hbito compulsivo de ingerir solo, ou de preparaes

    medicamentosas derivadas de solo. Tal comportamento

    na medicina conhecido como pica ou mais especifica-

    mente como geofagia. Geofagia comum entre socieda-

    des tradicionais e reconhecida desde o tempo de Aris-

    tteles como meio de cura para problemas de sade.

    Hoje a geofagia conhecida como uma resposta do

    subconsciente para dietas txicas ou estresse onde se tor-

    na necessidade a ingesto de solo, podendo se desenvol-

    ver ao extremo de tornar-se obsessiva ou compulsiva. Essa

    nsia ocorre geralmente imediatamente aps a chuva. No

    Knia, a quantidade de solo ingerido pelas pessoas pode

    ser calculada em 20 gramas por dia. Isto representa 400

    vezes mais do que a quantidade de solo ingerida atravs

    da atitude de levar as mos boca (isto , 50 miligramas

    por dia). A ingesto de grande quantidade de solo aumen-

    ta a exposio aos elementos-trao nutrientes, e promove

    tambm um significativo aumento da exposio s patolo-

    gias biolgicas e potencialidade txica dos elemen-

    4

    Geologia Mdica

  • tos-trao, especialmente em reas associadas com extra-

    o mineral ou ambientes urbanos poludos.

    Poeiras ocorrem naturalmente. A exposio s po-eiras minerais pode causar vrios problemas respiratri-

    os. Os efeitos na sade exposio das poeiras minerais

    foram descritos dcadas atrs, sendo os asbestos um

    exemplo clssico. A exposio poeira pode tambm

    afetar vastas regies, tais como as poeiras levantadas por

    terremotos nas regies ridas do sudoeste dos Estados

    Unidos e nordeste do Mxico. A exposio s poeiras

    pode ter dimenses globais. As cinzas ejetadas pelas

    erupes vulcnicas podem viajar ao redor do mundo e,

    imagens de satlite recentes mostraram ventos levando

    poeira dos desertos do Saara e de Gobi a distncias que

    cobrem mais da metade do caminho ao redor do mundo.

    O maior efeito para a sade humana a inalao das par-

    tculas finas da poeira. Sob este ponto de vista, trabalho

    considervel est sendo conduzido para identificar as

    partculas das poeiras derivadas de solos, sedimentos e

    de superfcies das rochas intemperizadas.

    O futuro da Geologia MdicaNaturalmente ocorrem materiais como rochas, mi-

    nerais, poeiras, guas que podem causar efeitos profun-

    dos na sade humana, das plantas e dos animais. O en-

    tendimento do complexo relacionamento entre o ambi-

    ente natural e a sade dos animais e do homem requer

    colaborao entre mdicos, veterinrios, geocientistas e

    toxicologistas. O campo emergente da geologia mdica

    o elo entre esses campos interdisciplinares. Isto requer

    coordenao entre os pases desenvolvidos e os em de-

    senvolvimento.

    A geologia mdica uma cincia interdisciplinar

    com rpido crescimento. Devido a importncia dos fato-

    res geolgicos para a sade, a comisso

    COGEOENVIRONMENT (Comisso das Cincias Geol-

    gicas para o Planejamento Ambiental) do IUGS, criou em

    1996 o International Working Group on Medical Geology

    coordenado pelo Geological Survey of Sweden, SGU,

    com o principal objetivo de aumentar a conscincia des-

    sa questo entre os cientistas, especialistas mdicos e o

    pblico em geral. Em 2000 um novo projeto IGCP foi es-

    tabelecido pela UNESCO: IGCP#454 Medical Geology.

    O International Council of Scientific Unions (ICSU) tam-

    bm patrocinou em 2002-2003 mini cursos internaciona-

    is com esse objetivo, em cooperao com o SGU, United

    States Geological Survey e o US Armed Forces of Patho-

    logy em Washington. Esses cursos tm tido continuidade

    em todo mundo e, mais recentemente, um no Brasil, em

    junho de 2005. Em maro de 2002, o IUGS anunciou que

    o International Working Group on Medical Geology foi in-

    dicado para operar com o status de Projeto Especial,

    operando diretamente com a IUGS. Olle Selinius o dire-

    tor em atividade. Jos Centeno e Bob Finkelman so

    co-diretores. A nova associao internacional, Internati-

    onal Medical Geology Association IMGA (www.medi-

    calgeology.org), agora tambm estabelecida com um

    conselheiro no Brasil. No Ano do Planeta Terra, um dos

    principais tpicos a geologia mdica.

    Os servios geolgicos, universidades e socieda-

    des geolgicas devero dar continuidade e fornecer as

    informaes geolgicas necessrias, relacionadas

    geologia mdica e apoiar o desenvolvimento de grupos

    de trabalho locais multidisciplinares, de geologia mdi-

    ca. Se necessrio, desenvolver estudos de metodologi-

    as para estudar os fatores geolgicos na medicina ambi-

    ental e formular recomendaes para mitigao dos

    efeitos danosos naturais e induzidos pelo homem.

    5

    Olle Selinus

  • GEOLOGIA MDICA NO

    BRASIL

    Cassio Roberto da Silva, [email protected]

    Bernardino Ribeiro Figueiredo, [email protected]

    Eduardo Mello De Capitani, [email protected]

    Servio Geolgico do Brasil CPRM/RJ

    Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

    HISTRICO

    No Brasil, a integrao de conhecimentos especfi-

    cos das Cincias da Terra e Cincias da Sade tem hist-

    ria antiga e relativamente profcua quanto ao diagnstico,

    e propostas de controle, de algumas doenas endmi-

    cas. Estudos mais voltados descrio do clima, hidro-

    grafia e condies biogeogrficas, chamadas poca de

    paisagem botnica e zoogeografia, compunham os fun-

    damentos da Geografia Mdica, definida como o estudo

    da geografia das doenas ou da patologia luz dos co-

    nhecimentos geogrficos. Eram sinnimos de Geografia

    Mdica, a Patologia Geogrfica, a Geopatologia ou Medi-

    cina Geogrfica (Lacaz, 1972). A Geografia Mdica era

    considerada um ramo da Geografia, como a Biogeogra-

    fia, a Geografia humana e a Geografia fsica.

    A Geomedicina, definida por Zeiss (apud Lacaz,

    1972) como o ramo da medicina que estuda a influncia

    das condies climticas e ambientais sobre a sade,

    foi includa na Geografia Mdica, ampliando os horizon-

    tes desta ltima. No entanto, a grande maioria dos estu-

    dos de Geografia Mdica relacionava-se s doenas in-

    fecciosas-parasitrias, dentro de um marco terico dado

    pela Medicina Tropical, que sempre valorizou os aspec-

    tos geogrficos fsicos e climticos em seus estudos epi-

    demiolgicos, estudando fatores ligados ecologia de

    insetos transmissores e animais carreadores de bactri-

    as, vrus e protozorios, por exemplo. Nessas situaes

    os aspectos geolgicos e geoqumicos das regies estu-

    dadas no eram levados em conta, pois o modelo expli-

    cativo da causa das doenas no necessitava desse

    tipo de dado para funcionar. Situao atpica nesse con-

    texto da Geografia Mdica, que em geral privilegiava do-

    enas infecto-contagiosas, foram os estudos realizados

    pelo Instituto de Manguinhos (hoje FIOCRUZ) e pelo De-

    partamento Nacional de Sade, sobre prevalncia de

    bcio endmico nas diversas regies do Brasil, na dca-

    da de 50. A menor prevalncia da doena no litoral com-

    parado com reas do Centro-Oeste, onde o ndice de

    acometidos chegava a 54% da populao chamava a

    ateno para um fator causal geogrfico/geolgico

    (Sampaio, 1972).

    A partir da dcada de 80, pesquisadores da Universi-

    dade Federal da Bahia, estabeleceram uma base de es-

    tudos de avaliao de contaminao de crianas e adul-

    tos por chumbo e cdmio em Santo Amaro da Purificao

    (BA), onde os rejeitos da metalurgia de minrio de chum-

    bo contaminaram o solo e o lenol fretico do municpio,

    sendo pioneiros na abordagem desse tipo de problema

    no Brasil (Carvalho et al. 1984; Carvalho et al. 1985).

    Mais recentemente, Licht (200l), a partir de levanta-

    mento geoqumico de baixa densidade, com amostra-

    gens de sedimento, gua e solos em todo o estado do

    Paran, identificou fluorose dentria em crianas na re-

    gio de Itambarac PR, associada a guas subterr-

    neas e, brometo e cloreto em solos, possivelmente rela-

    cionados s doenas cancerigenas que ocorrem na re-

    gio norte do referido estado.

    Pesquisadores da Universidade de Campinas

    UNICAMP, Fundao Estadual de Meio Ambiente de Mi-

    nas Gerais FEAM e outras instituies do estado de Mi-

    nas Gerais, em colaborao com a Universidade de Frei-

    berg da Alemanha (Matschullat, et al. 2000), identifica-

    ram elevados teores de As em urina de crianas, resi-

    dentes na proximidade de antigas mineraes de Au do

    Quadriltero Ferrfero. No Amap, Santos et al. (2003)

    do Instituto Evandro Chagas, pesquisaram exposio ao

    As em populao residente prximo ao rejeito da meta-

    lurgia de mangans (Minerao ICOMI), analisando

    amostras de cabelo e sangue, sem no entanto identificar

    risco significativo para as pessoas.

    No perodo de 1998 a 2003, pesquisadores da

    UNICAMP em parceria com instituies da rea de sa-

    de identificaram contaminao de chumbo em sangue

    6

    Geologia Mdica no Brasil

  • de crianas e adultos, residentes na proximidade da

    metalurgia da Plumbum S.A. em Adrianpolis, Paran

    (Paoliello, 2002; Cunha, 2003; Figueiredo, 2005). Na

    mesma regio, em Iporanga, Estado de So Paulo, em-

    bora tenham sido identificadas concentraes anmalas

    de arsnio em solo e sedimentos, os nveis de exposio

    humana revelaram-se baixos, no representando risco

    sade da populao (Sakuma, 2004).

    Diversos trabalhos de avaliao de risco humano

    assimilao de mercrio em garimpos, principalmente

    da regio amaznica, tm sido realizados por pesquisa-

    dores do CETEM, FIOCRUZ, Instituto Evandro Chagas,

    UFPA, INPA, UFAM e UFRO. Nos sites dessas institui-

    es pode-se encontrar inmeros trabalhos sobre o refe-

    rido assunto.

    A partir de 2002, aps o Congresso Brasileiro de

    Geologia, ocorrido em Joo Pessoa, Paraba, um grupo

    de pesquisadores de mais de uma dezena de universida-

    des e instituies, decidiram criar um grupo de discus-

    so, denominado Rede de Pesquisa em Geoquimica

    Ambiental e Geologia Mdica REGAGEM (rega-

    [email protected]), atualmente com 345 membros. O

    objetivo desse grupo foi o de conceber e propor o Pro-

    grama Nacional de Pesquisa em Geoqumica Ambiental e

    Geologia Mdica PGAGEM e disponibilizar informaes

    deste programa, links e demais dados relacionados

    geologia mdica no site www.cprm.gov.br/pgagem.

    O primeiro evento de geologia mdica ocorrido no

    Brasil, o International Workshop on Medical Geology, foi

    realizado na UNICAMP, em outubro de 2003, com o mi-

    nicurso ministrado pelos pesquisadores Olle Selinus,

    Robert Finkelman e Jos Centeno do IGCP 454 da

    IUGS-UNESCO, contando com a participao de 110

    brasileiros, principalmente das reas de geocincias,

    sade e qumica. Um resultado interessante dessa ativi-

    dade na comunidade foi que j no Simpsio de Geologia

    Mdica do 32 Congresso Internacional de Geologia,

    ocorrido em Florena-Itlia, em setembro de 2004, do to-

    tal de 33 apresentaes 4 foram de pesquisadores bra-

    sileiros.

    O segundo workshop ocorreu em junho de 2005 no

    Rio de Janeiro, nas dependncias do Servio Geolgico

    do Brasil, tendo o minicurso, atualizado, com os mesmos

    pesquisadores internacionais mencionados acima. Nes-

    se evento foram feitas apresentaes de pesquisas bra-

    sileiras que alcanaram a marca surpreendente de 56

    trabalhos (12 palestras e 44 painis). Contou com a parti-

    cipao de 210 profissionais das reas das geocincias

    (48%), sade (16%), qumica (4%), outras profisses

    (11%) incluindo estudantes de graduao e

    ps-graduao em geologia (21%). Os participantes

    eram oriundos de vrios estados brasileiros (Rio Grande

    do Sul, Santa Catarina, Paran, So Paulo, Rio de Janei-

    ro, Minas gerais, Gois, Distrito Federal, Bahia, Pernam-

    buco, Cear, Rio Grande do Norte, Par, Amazonas e

    Rondnia).

    Graas qualidade e quantidade dos trabalhos

    apresentados pelos pesquisadores brasileiros no Work-

    shop Internacional de Geologia Mdica no Rio de Janei-

    ro foi possvel editar o presente livro, abordando temas

    relativos a As, Hg, F, Pb, amianto, substncias orgnicas

    e qualidade de guas para abastecimento pblico.

    GEOLOGIA MDICA

    No Brasil, pesquisadores da rea de Geologia M-

    dica tm recorrido principalmente aos livros e artigos de

    Selinus et al., (2005), Skinner & Berger (2003), Cortecci

    (2002), Singh (2000), Licht (2001) e Figueiredo (2005b).

    Assim, com base nesses autores, a Geologia Mdica

    pode ser definida como o estudo das relaes entre os

    fatores geolgicos naturais e a sade, visando o

    bem-estar dos seres humanos e outros organismos vi-

    vos. Outro entendimento mais conciso de ser o estudo

    do impacto dos materiais e processos geolgicos na sa-

    de pblica. De acordo com esta viso, a geologia mdi-

    ca inclui a identificao e caracterizao das fontes na-

    turais e antrpicas de materiais nocivos no ambiente, bus-

    cando prever o movimento e alterao dos agentes qumi-

    cos, infecciosos e outros causadores de doenas ao

    longo do tempo e espao, bem como compreender como

    as pessoas esto expostas a tais materiais e o que pode

    ser feito para minimizar ou evitar tal exposio.

    A unio proporcionada pela Geologia Mdica entre

    gelogos e outros cientistas como mdicos, odontlo-

    gos, veterinrios e bilogos, num esforo para resolver

    local e globalmente as questes de sade, objetiva forta-

    lecer e integrar pesquisas que possam reduzir as amea-

    as ambientais para a sade e bem-estar dos humanos

    e animais.

    As questes associadas sade geralmente se re-

    ferem a seres humanos e outras criaturas vivas, ao passo

    que o foco da geologia sobre o inanimado e o passado

    distante. Assim, embora possam estar em reas distintas

    do conhecimento ou requeiram diferentes abordagens

    de investigao, as relaes diretas entre estas duas

    disciplinas no podem ser ignoradas. A vida desenvol-

    ve-se numa matriz de materiais da terra rochas, mine-

    rais, solos, gua, ar cuja disponibilidade exerce um

    profundo controle sobre o que todas as criaturas vivas

    ingerem e como elas se desenvolvem biolgica e cultu-

    ralmente, assim, somos o que comemos e bebemos .

    O ar que respiramos, a gua que bebemos e os nu-

    trientes que consumimos dependem do ambiente geol-

    gico, que podemos controlar somente de forma parcial.

    Como lutamos para nos adequar a um mundo de 10 bi-

    lhes de pessoas, um melhor entendimento acerca dos

    processos pelos quais o ambiente natural influencia a

    7

    Cassio Roberto da Silva

  • nossa sade dever permitir decises mais apropriadas

    no futuro. consenso geral que as mudanas globais

    esto relacionadas aos poderosos impactos produzidos

    pelo homem na sua vizinhana. justamente os efeitos

    nocivos ou benficos que por vezes os materiais e pro-

    cessos geolgicos provocam sobre os seres humanos

    constituem o tema central da Geologia Mdica.

    A combinao dos conhecimentos oriundos das

    cincias da terra com aqueles provenientes da medicina

    e das cincias da vida oferece a oportunidade de inme-

    ras aplicaes e possibilidades para a soluo de ques-

    tes concernentes sade. Essa integrao de esfor-

    os pode melhorar a definio do problema, auxiliar nas

    estratgias de abordagem, definir e localizar fontes de

    gua potvel, e desenvolver solues econmicas base-

    adas em princpios geolgicos que podem ajudar a mi-

    norar, mas principalmente prevenir sofrimento e doena.

    H a expectativa de que os geocientistas, juntamen-

    te com os profissionais da sade, contribuam significati-

    vamente para a melhoria da qualidade da sade pbli-

    ca. Segundo geocientistas europeus, os estudos efetua-

    dos nos ltimos 15 anos so apenas a ponta de um ice-

    berg, uma pequena mostra do espectro da pesquisa que

    agora se inicia e que transitar no extenso espao entre

    a geologia e a medicina.

    A Geologia Mdica uma cincia de equipe, exi-

    gindo bom entrosamento e entendimento com outras

    cincias. Em detalhe, estuda variaes regionais ou lo-

    cais na distribuio dos elementos, principalmente os

    metlicos e metalides, seu comportamento geolgi-

    co-geoqumico, as contaminaes naturais e artificiais e

    os danos sade humana, animal e vegetal, por exces-

    sos ou deficincias.

    A vida na terra se desenvolveu na presena de todos

    os 97 elementos que ocorrem naturalmente, incluindo os

    que chamamos de essenciais, no essenciais, txicos e

    os possivelmente txicos (Garret, 2005). O corpo humano

    necessita de 25 elementos reconhecidos at o momento

    como essenciais ao seu funcionamento adequado. Den-

    tre os elementos que so considerados essenciais o prin-

    cipal deles o carbono (C), sem o qual no haveria qual-

    quer forma de vida como conhecida hoje. Cadeias mo-

    leculares de carbono so a base estrutural de milhares de

    diferentes compostos constituintes das clulas, como as

    protenas e o DNA. Como mais de 60% da massa corporal

    constituda de gua (H2O), o oxignio e o hidrognio

    tm uma participao significativa como elementos es-

    senciais. O oxignio supera qualquer outro elemento em

    quantidade no corpo humano (61% da massa corprea)

    por sua participao tambm na estrutura ssea na forma

    de fosfato de clcio. Da mesma forma, o nitrognio (N) faz

    parte desse grupo seleto dos 4 mais importantes elemen-

    tos essenciais (junto com o O, H, e C), pois participa prati-

    camente de todas as protenas e do DNA. Os outros 21

    elementos essenciais costumam ser divididos em macro-

    nutrientes (que necessitam ser absorvidos atravs da die-

    ta em grande quantidade) participando da massa corpo-

    ral em concentraes maiores que 0,1% (Ca, Cl, P, K, Na,

    S) e micronutrientes, com concentraes corpreas abai-

    xo de 0,1% (Mg, Si, Fe, F, Zn, Cu, Mn, Sn, I, Se, Ni, Mo, V,

    Cr, Co). Tabela 1.

    Apesar de no essenciais, muitos elementos so re-

    gularmente absorvidos atravs da dieta (alimentos e

    gua) e inalados junto com o ar respirado. Dessa forma,

    podem ocorrer quantidades variveis desses elementos

    que se depositam no corpo humano de acordo com suas

    afinidades qumicas por determinados tecidos, como

    por exemplo: alumnio (Al), brio (Ba), cdmio (Cd),

    chumbo (Pb), arsnio (As), mercrio (Hg), estrncio (Sr),

    urnio (U), prata (Ag) e ouro (Au) (Emsley, 2001).

    Os elementos constituintes das rochas ao serem li-

    berados pelo intemperismo podem ser disponibilizados

    no solo para em seguida serem levados para as guas

    dos rios e subterrneas. No solo, podem ser assimilados

    pelas razes de plantas, entrando na cadeia alimentar.

    Tambm entram na cadeia alimentar quando carreados

    em soluo pela drenagem e assimilados por seres

    aquticos. Mas, alm da dieta, as substncias qumicas

    podem ainda ser tambm assimiladas pelos seres vivos

    por inalao ou pela pele.

    De modo geral, o solo, as guas correntes e as plan-

    tas refletem a composio das rochas do substrato, essa

    relao muito usada em explorao mineral para a

    descoberta de depsitos minerais. Ao alimentar-se da

    vegetao, os animais silvestres tambm refletem o qui-

    mismo da regio onde vivem. Essa relao observada

    tambm com huma-

    nos, havendo casos

    clssicos de doen-

    as acompanhando

    faixas geolgicas

    que exibem anomali-

    as litolgicas ou geo-

    qumicas (Figuras 1 e

    2). Anomalias so re-

    lacionadas a efeitos

    de poluio, porm

    no podem ser igno-

    radas contaminaes

    naturais como, por

    exemplo, as provo-

    cadas pela deposi-

    o de cinzas ejeta-

    das em erupes

    vulcnicas e pelas

    nuvens de p gera-

    das em reas desr-

    ticas.

    8

    Geologia Mdica no Brasil

    Figura 1 Doena de Kaschin-Beck,

    China distrbio de formao ssea

    afetando o crescimento e produzindo

    deformidades, causados por deficincia

    de selnio na gua e solos.

  • 9

    Cassio Roberto da Silva

    Tabela 1 Funo de elementos qumicos no corpo humano

    FUNO DOS ELEMENTOS CONSIDERADOS ESSENCIAIS AOS HUMANOS

    O, H, N

    e C

    Ver discusso sobre estes elementos no texto acima.

    Ca o metal mais abundante no corpo humano na forma de fosfato de clcio nos ossos e dentes. essencial na

    regulao da atividade de membranas celulares, especialmente na contrao muscular e na conduo dos

    estmulos nervosos. Participa da coagulao sangunea, diviso celular e liberao de hormnios (Qtdd total

    mdia no corpo = 1.200 g).

    Cl Manuteno do equilbrio hdroeletroltico e secrees do corpo; digesto dos alimentos como cido clordrico

    no estmago (Qtdd total no corpo =95 g).

    K Manuteno do equilbrio dos fluidos em nvel intracelular (concentra-se dentro das clulas), participando da

    contrao muscular e conduo nervosa (Qtdd total no corpo =110-140 g).

    Mg Atua na manuteno da estrutura dos ossos; regula a passagem de substncias atravs das membranas

    celulares; participa como co-fator de mais de 100 enzimas e na fabricao de protenas, sendo

    importantssimo no processo de crescimento e desenvolvimento normal (Qtdd total no corpo =25 g).

    Na Manuteno do equilbrio hdroeletroltico permanecendo sempre fora das clulas, participando da contrao

    muscular e conduo nervosa (Qtdd total no corpo = 100 g).

    P Constituinte dos ossos e dentes na forma de fosfato de clcio. essencial o processo de produo qumica

    de energia atravs de molculas orgnicas do tipo ATP (trifosfato de adenosina), alm de fazer parte da

    molcula de DNA (Qtdd total no corpo = 780 g).

    S Faz parte da estrutura da queratina, principal constituinte dos cabelos, unhas e camada externa da pele. Faz

    parte de vrias enzimas essenciais ao metabolismo normal e da vitamina B1 (Qtdd total no corpo = 140 g).

    Co Constituinte da vitamina B12 envolvida na manuteno da integridade do sistema nervoso e na produo de

    glbulos vermelhos.

    Cr Essencial para o metabolismo da glicose. Apesar de sua provvel relao com desenvolvimento de diabetes

    no adulto, casos clnicos de deficincia humana desse elemento no foram ainda descritos.

    Cu Constituinte de uma dezena de enzimas importantes no metabolismo humano como a superoxi-dismutase,

    envolvida no controle de radicais livres.

    F Essencial manuteno da estrutura sadia de dentes (esmalte) e ossos em doses mnimas.

    Fe Componente da hemoglobina responsvel pelo transporte de oxignio no sangue e reserva desse elemento

    nos msculos.

    I Essencial ao funcionamento normal da tireide, pois constituinte dos hormnios tireoidianos, tiroxina e

    triiodotironina. A deficincia nutricional de hormnio bastante conhecida como produtora de dficit de

    crescimento normal e srios distrbios mentais cognitivos.

    Ni Considerado essencial e ligado ao controle do crescimento, mas pouco conhecido quanto aos seus

    mecanismos de ao no metabolismo normal.

    Mn Apesar de ser considerado essencial, suas funes especficas so pouco conhecidas; ainda participa de

    reaes enzimticas e da atividade da vitamina B1 em quantidades mnimas.

    Mo constituinte de vrias enzimas importantes, entre elas a xantina-oxidase, envolvida no metabolismo de

    protenas e a aldedo-oxidase, envolvida na biotransformao do lcool etlico.

    Se A definio de essencialidade do selnio recente, de 1975, quando se descobriu que era constituinte da

    molcula da enzima glutationa peroxidase, importantssima no controle de formao de radicais livres no

    metabolismo humano. Em 1991 descobriu-se que tamnbm faz parte da molcula da deiodinase, que

    participa da produo dos hormnios tireoidianos.

    Si A partir de 1972 foi definido que o silcio essencial e ligado ao processo de crescimento sseo.

    Sn Ainda controverso com relao sua real essencialidade em humanos. No so conhecidos efeitos de sua

    deficincia. Foi considerado essencial anteriormente por sua suposta participao no hormnio gastrina.

    V Est relacionado com a regulao de enzimas envolvidas no equilbrio do sdio-potssio no sistema nervoso.

    Menos de 0,5% do Vandio ingerido absorvido na dieta.

    Zn Ocorre em todos os tecidos, principalmente em ossos, msculos e pele; atua no sistema imunolgico; regula

    crescimento corpreo, proteo ao fgado. Deficincia reduz crescimento corpreo.

  • PROGRAMA NACIONAL DE GEOQUMICAAMBIENTAL E GEOLOGIA MDICA

    O Programa Nacional de Pesquisa em Geoqumica

    Ambiental e Geologia Mdica PGAGEM, sob a coorde-

    nao do Servio Geolgico do Brasil CPRM, caracte-

    riza-se por ser multiinstitucional, interdisciplinar e com

    resultados para multiusos. Foi concebido e elaborado

    por pesquisadores do Servio Geolgico do Brasil

    CPRM, Universidade de Campinas UNICAMP, Minerais

    do Paran MINEROPAR, Universidade do Estado de

    So Paulo USP, Universidade Federal do Estado do

    Par UFPA, Universidade Estadual de Londrina UEL,

    Instituto Evandro Chagas, Instituto Adolfo Lutz, Escola

    Nacional de Sade Pblica ENSP (FIOCRUZ) e Empre-

    sa Brasileira de Agropecuria EMBRAPA (Solos).

    Atualmente conta com parcerias internacionais do

    U.S. Geological Survey (USGS), U.S. Armed Forces Insti-

    tute of Pathologiy (AFIP), Geological Survey of Sweden

    (SGU), International Union of Geological Sciences

    (IUGS), International Medical Geology Association

    (IMGA) e Universidade de Freiberg-Alemanha.

    Esse programa foi concebido a partir de 2003 com

    os seguintes objetivos especficos:

    executar estudos geoqumicos, preferencialmen-

    te em parcerias, para identificar e avaliar poss-

    veis fontes de contaminaes naturais e antropo-

    gnicas, integrado-os com as informaes de sa-

    de pblica, visando apontar quais reas e co-

    munidades esto expostas aos efeitos adversos

    relacionados aos elementos e substncias txi-

    cas;

    disponibilizar os resultados analticos para fins de

    prospeco mineral;

    subsidiar estudos com informaes geoambientais,

    em parceria com rgos governamentais, universi-

    dades e institutos de pesquisa, nas reas de toxico-

    logia e epidemiologia;

    indicar estratgias e tecnologias na rea de geo-

    qumica ambiental para estudos de remediao

    ambiental;

    contribuir para o diagnstico de solos com

    deficincias em micro e macronutrientes

    para agricultura;

    desenvolver, na sua rea de responsabili-

    dade e em conjunto com rgos de sade

    pblica, trabalho de educao ambiental

    para as populaes afetadas.

    Adicionalmente, o PGAGEM contempla outros

    desdobramentos como, por exemplo:

    estabelecer padres e mtodos de amos-

    tragem de campo, bem como de padronizao e

    certificao laboratorial qumica no desenvolvi-

    mento de metodologias analticas para materiais

    geolgicos em estudos ambientais;

    contribuir para o desenvolvimento da Rede Nacio-

    nal de Pesquisa em Geoqumica Ambiental e Geo-

    logia Mdica REGAGEM, estabelecendo parce-

    rias com instituies federais, estaduais e munici-

    pais do setor de sade pblica e meio ambiente,

    usando as possveis correlaes entre os dados

    geoqumicos reunidos e os dados de mortalidade

    ou de incidncia de doenas em humanos e ani-

    mais, eventualmente disponveis no territrio bra-

    sileiro;

    incentivar e subsidiar trabalhos de integrao de

    dados utilizando pesquisas nas reas de geoqu-

    mica ambiental, epidemiologia e ecotoxicologia

    geradas na rede de pesquisa utilizando equipes

    multidisciplinares;

    capacitar recursos humanos de nvel superior e

    mdio para servios de campo, de laboratrio e

    de tratamento e interpretao de dados geoqumi-

    cos e geolgicos com fins multidisciplinares rela-

    cionados ao meio ambiente e sade pblica, alm

    da pesquisa mineral;

    apoiar o fortalecimento da infra-estrutura de labo-

    ratrios analticos nas reas de geoqumica e toxi-

    cologia atuantes no Brasil, incentivando o trabalho

    em rede em projetos especficos, testes de profi-

    cincia e certificao interlaboratorial;

    constituir um banco de dados referencial de todo

    o territrio nacional, com as informaes de cam-

    po e laboratrio, geradas pela CPRM e entidades

    participantes; e, criar uma coleo de materiais

    geolgicos (alquotas de sedimentos, solos e ro-

    chas) relacionados a estudos ambientais.

    Espera-se com esses objetivos que o programa seja

    til s instituies e aos programas multidisciplinares

    correlatos das entidades participantes, tais como:

    planejamento de polticas localizadas de sade

    pblica em reas onde forem identificados riscos

    Geologia Mdica no Brasil

    10

    Figura 2 Mais de 100 milhes de pessoas no mundo sofrem de fluorose, no

    Brasil ocorrem, principalmente em crianas, nas regies de So Francisco

    MG e Itambarac - PR.

  • de contaminao da populao por elementos

    qumicos;

    planejamento de atividades, na rea de estudos

    ambientais, do Ministrio da Sade, do Ministrio do

    Meio Ambiente e de outros rgos ambientais, esta-

    duais e municipais, da Agncia Nacional de guas

    ANA, e dos comits de bacias hidrogrficas;

    identificao de focos superficiais de contamina-

    o natural ou antropognica em reas urbanas

    ou rurais;

    caracterizao geoqumico-ambiental das zonas

    de recargas de aqferos;

    determinao da extenso da pluma de contami-

    nao nas guas superficiais e subterrneas, no-

    tadamente aquelas prximas a lixes e aterros;

    elaborao de mapas de vulnerabilidade de solos

    e de guas subterrneas e mapas de riscos;

    gerao de informaes de geoqumica de solo

    para estudos pedolgicos de fertilidade e uso

    agrcola e pastoril.

    Os procedimentos metodolgicos assumidos pelo

    PGAGEM foram, na medida do possvel, adequados aos

    padres geoqumicos estabelecidos pelo projeto IGCP-

    259 da UNESCO IUGS e pelo Working Group on Global

    Geochemical Baselines do IUGS IAGC, para permitir

    comparaes com estudos similares em outros pases.

    Exemplos com xito de mapeamento geoqumico de bai-

    xa densidade com a elaborao de mapas de multiuso

    so o Environmental Geochemical Atlas of the Central

    Barents Region- Kola Project (600 estaes em 188.000

    km ), o Barents Ecogeochemistry (1.373 estaes em

    1.500.000 km ), o Atlas Geoquimico do Estado do Para-

    n (697 estaes em 166.000 km ) e os efetuados pelo

    Servio Geolgico do Brasil no estado do Rio de Janeiro

    (200 estaes em 44.000 km), nas bacias dos rios Mogi

    Guau e Pardo (99 estaes em 21.000 km), e Vale do

    Rio Ribeira (187 estaes em 28.000 km).

    O PGAGEM abrange todo o territrio brasileiro, fo-

    calizando inicialmente regies e bacias hidrogrficas

    onde existem problemas de sade que podem estar re-

    lacionados com o meio ambiente. Sero tambm estuda-

    das, prioritariamente, as reas com indcios de altera-

    es na qualidade dos corpos dgua e do solo que po-

    dem causar efeitos adversos sade dos seres vivos.

    A amostragem geoqumica compreende a coleta

    de amostras de gua superficial (onde houver) e de se-

    dimentos ativos de corrente nas drenagens das bacias

    hidrogrficas da regio estudada com adensamento di-

    ferenciado. Na regio amaznica, devido ao problema

    de acesso, sero amostradas bacias com reas de

    captao em torno de 2.000 km (1.000 3.000 km2).

    Nas demais regies as bacias selecionadas tm entre

    100 e 200 km2.

    So previstas tambm a coleta de amostras de gua

    de consumo domstico nos municpios onde no haja

    estao de tratamento de gua ou este seja deficiente, e

    de solos superficiais (0-25 cm), na quantidade de trs

    amostras por municpio, em reas cultivadas.

    A figura 3 apresenta a programao de amostra-

    gens por regies, com cerca de 29.700 estaes, com a

    coleta de sedimento e gua (onde houver), que soma-

    das apontam cerca de 59.400 amostras. Estima-se ainda

    a coleta de mais 5.000 amostras de guas para abaste-

    cimento e 10.000 amostras de solos, que totalizariam

    74.400 amostras para todo o programa.

    Mais detalhes sobre os procedimentos metodolgi-

    cos adotados pelo PGAGEM podem ser obtidos na pgi-

    na www.cprm.gov.br/pgagem, Lins (2002).

    Resultados ParciaisNo mbito do PGAGEM j foram executados vrios

    trabalhos no perodo de apenas dois anos de 2003 a

    2005.

    Sob a responsabilidade da CPRM e instituies con-

    veniadas foram coletadas cerca de 4.041 amostras de

    gua, sedimento de corrente e solos e, destas, cerca de

    2.960 amostras foram analisadas e os resultados de al-

    gumas reas como, Parintins no Amazonas, NE (parte

    oriental) do Estado do Par, Lagoa Real na Bahia, Vale

    do Ribeira-SP/PR, Estado do Cear e Lavras no Rio

    11

    Cassio Roberto da Silva

    Total8.514.000 km29.700 estaes

    2

    Norte3.800.000 km8.250 estaes

    2

    Centro Oeste1.614.000 km6.200 estaes

    2

    Nordeste1.600.000 km7.750 estaes

    2

    Sul580.000 km2.900 estaes

    2

    Sudeste920.000 km4.600 estaes

    2

    Figura 3 Distribuio regional das estaes de amostragens de

    sedimento de corrente (fundo e gua de drenagem.

  • Grande do Sul, encontram-se neste livro. Os demais re-

    sultados das outras regies (Rondnia,Estado de Gois,

    Teresina e Itinga-MG) devero ser divulgados no ano de

    2006.

    A ilha de Parintins, localizada na margem direita do

    Rio Amazonas, cerca de 350 km a jusante de Manaus,

    hoje um destacado plo turstico da regio, pela tradicio-

    nal festa do Boi-Bumb, vinha apresentando problemas

    com a sade da populao, provavelmente associados

    m qualidade das guas de abastecimento pblico,

    em vista do grande aumento populacional, principal-

    mente na poca de festas. As atividades desenvolvidas

    na ilha, por Marmos & Aguiar (2006), incluram a anlise

    de 6 amostras de gua corrente e 33 de poos tubulares.

    As primeiras mostraram-se normais, enquanto entre as

    amostras de gua subterrnea, cerca de 63% apresen-

    taram elevados teores de NO3 (11-49 mg/L), Al (0,3 2,0

    mg/L) e amnia (2,9 mg/L) que foram atribudos conta-

    minao antrpica, pois somente os poos com profun-

    didades menores que 65 metros apresentaram esses te-

    ores elevados.

    No nordeste do Par, segundo Macambira & Viglio

    (2006), os resultados da anlise de 77 amostras de gua

    de abastecimento pblico, abrangendo cerca de 80%

    da rea estudada, revelaram-se excessivos para Al e Pb,

    respectivamente, 18 e 145 vezes o valor mximo permiti-

    do pelo CONAMA e OMS, seguidos pelos teores de B,

    Cd, Fe, Cu, K, Mn, Zn e P. Estes dados de qualidade de

    gua esto sendo analisados sob o ponto de vista da

    sua correlao ou no com alta prevalncia na regio de

    doenas endmicas como verminoses, doenas no apa-

    relho digestivo (cncer), cries dentrias, anemia e he-

    patite.

    Frizzo (2006) apresenta resultados analticos obti-

    dos em 234 amostras de gua de abastecimento pblico

    provenientes de poos tubulares e amazonas, audes e

    lagos, fontes e rios, no estado do Cear, numa rea de

    146.000 km. Concentraes acima do permitido pelo

    CONAMA foram detectadas em 43% das amostras, para

    os elementos considerados txicos: Al (0,11 0,80

    mg/L), As (0,02 mg/L), B (0,63 mg/L), Cd (0,001 0,02

    mg/L) e Pb (0,01 0,46 mg/L) e, para aqueles considera-

    dos txicos e essenciais: Ba (0,71 5,59 mg/L), Fe (0,31

    12,1 mg/L), Mn (0,11 1,21 mg/L), Ni (0,26 mg/L) e Zn

    (0,18 0,76 mg/L). Estas informaes foram repassadas

    para o rgo responsvel pelo saneamento do estado, o

    qual vem procedendo reamostragem da gua para ter

    uma melhor definio das medidas mitigadoras a serem

    tomadas.

    Em Lagoa Real na Bahia, Oliveira (2006) efetuou

    amostragem em gua subterrnea (n=32), solos (n=32)

    e sedimento de corrente (n=42), numa rea de 1.126

    km, onde recomenda especial ateno para o consumo

    de gua na regio, em vista dos resultados analticos

    que acusaram concentraes de urnio no intervalo de

    0,041 a 0,566 mg/L excedendo o teor mximo admitido

    de 0,02 mg/L de U em 8 poos tubulares. Destaca ainda,

    o excesso de captao de gua subterrnea, prevendo

    em curto prazo escassez desse bem mineral.

    O Projeto Paisagens Geoqumicas e Ambientais do

    Vale do Ribeira Avaliao e Preveno de Risco para o

    Meio Fsico e Sade Humana Relacionados Exposio

    ao Arsnio e Metais Pesados, executado em parceria

    por gelogos, qumicos, mdicos e toxicologistas da

    UNICAMP, Universidade Estadual de Londrina, Instituto

    Adolfo Lutz e Servio Geolgico do Brasil CPRM, se-

    gundo Figueiredo (2005b), contemplou a elaborao do

    Atlas Geoambiental (Alto e Mdio Vale do Ribeira), do

    Atlas Geoqumico de Sedimento do Vale do Ribeira e ge-

    rao de dados inditos sobre a exposio de Pb e As

    em ecossistemas e agrupamentos humanos no Alto e

    Mdio Vale do Ribeira- SP/PR. Grande parte dos resulta-

    dos obtidos nesse projeto consta de outros artigos deste

    livro e no site www.ige.unicamp.br/geomed.

    No sul do Brasil, Grazia & Pestana (2006) estudaram

    o distrito aurfero de Lavras do Sul RS, em vista do pas-

    sivo ambiental deixado pelas mineraes e garimpos

    desde o final do sculo XIX. Foram analisadas 43 amos-

    tras de sedimento de corrente e 11 de solos. Os solos

    apresentaram contaminao, principalmente nas reas

    prximas s instalaes de beneficiamento das minera-

    doras, em nveis superiores aos de interveno da

    CETESB (2005) de 5 ppm para Hg. As concentraes

    mais elevadas foram encontradas para Hg (10,3 a 18,5

    ppm), para As (24,5 163 ppm), Cu (124 1.469 ppm) e

    Pb (719 1.465 ppm). Os autores recomendam a reme-

    diao do solo no entorno das instalaes de beneficia-

    mento da CRM, Chiapetta e Cerro Rico, as quais podem

    constituir fator de risco sade humana.

    Os exemplos dados acima revelam que as ativida-

    des que vm se desenvolvendo no mbito do PGAGEM

    tendem a atingir um nvel significativo embora ainda res-

    te muito a ser feito. Normalmente, aps a identificao e

    constatao de valores anmalos de elementos txicos

    que possam causar efeitos adversos sade das popu-

    laes, espera-se que profissionais/instituies da sa-

    de possam viabilizar a aplicao de tcnicas de anlise

    dos riscos aos quais as populaes esto sujeitas.Os re-

    sultados tanto relativos geoqumica quanto da parte

    mdica devam impreterivelmente ser dados ao conheci-

    mento dos rgos responsveis pela sade pblica, vi-

    sando aes coordenadas para que no ocorram alar-

    des desnecessrios.

    tambm aconselhvel que, de acordo com a rea

    estudada e o tipo de contaminao, sejam desenvolvi-

    dos em parceria com os rgos de sade, programas de

    comunicao de risco e de educao ambiental com a

    populao afetada.

    12

    Geologia Mdica no Brasil

  • O PGAGEM pode servir de incentivo aos pesquisa-

    dores que compem a REGAGEM para, atravs de suas

    instituies, estabelecerem parcerias com o SGB-CPRM

    ou com outras entidades, com a finalidade de pleitear re-

    cursos ante rgos financiadores de pesquisas (CNPq,

    FINEP, Fundos de Pesquisa e Setoriais) visando a exe-

    cuo de novos projetos. Muitos outros projetos em re-

    as especficas e que exigem maior detalhamento podem

    ser propostos para regies metropolitanas, bacias hidro-

    grficas, em distritos mineiros e em zonas agrcolas es-

    peciais. Estes projetos podem ter a participao ativa de

    entidades de pesquisas federais, estaduais e municipais

    e universidades.

    Convm destacar neste programa de geoqumica a

    importncia da homogeneizao nos procedimentos de

    coleta e anlise das amostras, pelas instituies e pes-

    quisadores, de forma a alimentar o banco de dados de

    todo o Brasil, disponvel e acessvel na internet para toda

    a comunidade cientfica e pblico em geral.

    CONSIDERAES FINAIS

    Em paralelo execuo do PGAGEM e consideran-

    do que a Geologia Mdica ainda uma atividade inova-

    dora e desconhecida no Brasil, os participantes da

    REGAGEM tm realizado inmeras atividades de divul-

    gao, incluindo a distribuio de impressos, em portu-

    gus e ingls, realizao de palestras, cursos e partici-

    pao em mesas-redondas em congressos e simpsios,

    relacionados a geologia, recursos hdricos, meio ambi-

    ente e da rea mdica, assim como em semanas de geo-

    logia promovidas por graduandos do curso de geologia

    em diversas universidades do pas.

    A Universidade Estadual de Campinas UNICAMP

    e a Pontifcia Universidade Catlica de Gois PUC/GO,

    j incluram em seus programas de ps-graduao al-

    guns contedos de Geologia Mdica. Vislumbra-se para

    o futuro uma insero crescente da nova disciplina nos

    cursos de graduao e ps-graduao de geologia e de

    medicina, contando-se para isso com a difuso do livro

    texto Essentials of Medical Geology recm-publicado.

    Recentemente, foram adquiridos exemplares desse livro

    e distribudos entre os profissionais do Servio Geolgi-

    co do Brasil CPRM e pesquisadores de diversas institui-

    es e regies do pas.

    Os dados e fatos relatados acima denotam que a

    Geologia Mdica no Brasil vem tendo um acentuado

    crescimento a partir de 2003, devido principalmente

    criao da rede de discusso REGAGEM, execuo

    do programa nacional de pesquisa PGAGEM e manuten-

    o de website prprio. Partindo de menos de uma de-

    zena de pesquisadores em 2000, estima-se que, atual-

    mente, devam estar atuando na rea de Geologia Mdi-

    ca aproximadamente 80 pesquisadores no Brasil. Para o

    contnuo fortalecimento dessa rea, continuaro a ser

    importantes os encontros cientficos peridicos e a reali-

    zao de minicursos que doravante devero contar com

    o apoio da Associao Internacional de Geologia Mdi-

    ca IMGA.

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    14

    Geologia Mdica no Brasil

  • EPIDEMIOLOGIA E

    GEOLOGIA MDICA

    Eduardo Mello De Capitani

    Departamento de Clnica Mdica

    Centro de Controle de Intoxicaes

    Faculdade de Cincias Mdicas

    Universidade Estadual de Campinas

    INTRODUO

    A geologia mdica definida por Selinus (2005)

    como a cincia que lida com as relaes entre fatores

    geolgicos naturais e sade humana e animal. Segundo

    esse autor, tambm ... a cincia que visa entender a in-

    fluncia de fatores ambientais ordinrios na distribuio

    geogrfica de tais problemas de sade. A palavra fator

    e a expresso problemas de sade nessa definio nos

    levam ao conceito de causa e efeito, que por sua vez, na

    rea de sade, leva ao conceito de epidemiologia.

    A epidemiologia a disciplina que estuda como as

    doenas, ou eventos relacionados ao binmio sa-

    de-doena, se distribuem nas populaes e quais os fato-

    res que determinam essa distribuio (Gordis, 1996).

    Assim, a epidemiologia tem por base estudar todos os fa-

    tores possveis envolvidos no complexo sade-doena,

    tais como, genticos, infecciosos, relacionados a hbitos

    de vida (incluindo tipo de alimentao, tabagismo, consu-

    mo de lcool, padro de prtica de exerccios fsicos,

    etc.), ocupacionais, alm dos relacionados com o meio

    ambiente (incluindo os fatores geolgicos naturais, esco-

    po da geologia mdica, e os antropognicos).

    So poucas as doenas de causa ambiental que

    so patognomnicas no sentido de que apenas aquela

    exposio especfica est relacionada quele grupo de

    sinais e sintomas. Em geral, vrias substncias ou ele-

    mentos qumicos podem produzir o mesmo tipo de sinto-

    matologia ou doena. Da mesma forma, so inmeras as

    possibilidades de fatores ocupacionais, genticos e de

    hbitos pessoais causarem os mesmos problemas (Niel-

    sen & Jensen, 2005).

    Assim, para qualquer estudo relacionado geologia

    mdica, no qual nos defrontaremos com a necessidade

    de definir se determinado fator geolgico natural est as-

    sociado ou no de forma causal com os agravos sade

    observados, o concurso da epidemiologia essencial.

    A epidemiologia parte do pressuposto que a do-

    ena no ocorre aleatoriamente, ao contrrio, sua

    ocorrncia est ligada a caractersticas especficas

    daquela populao. A definio de uma causa relacio-

    nada a um fator geolgico natural, ou ambiental ordi-

    nrio, como colocam Selinus (2005), passa necessari-

    amente pelo estudo epidemiolgico daquela situao

    especfica, no qual a hiptese geolgica ser uma

    dentre outras possveis, num primeiro momento.

    OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA

    Os estudos epidemiolgicos tm por objetivo (Gor-

    dis 1996):

    a) identificar a etiologia (ou causa), e os chamados

    fatores de risco para a ocorrncia da doena em investi-

    gao, tentando definir a forma de transmisso ou a via

    de exposio, por exemplo;

    b) determinar a extenso da doena dentro da co-

    munidade;

    c) estudar a histria natural da doena (por exem-

    plo, se a apresentao do evento aguda, subaguda,

    crnica, qual a durao do problema, qual o prognstico

    quanto cura, cronificao, seqelas, e morte);

    d) estudar a mudana da distribuio das doenas

    ao longo do tempo, como mudanas no padro de mor-

    talidade, mudana na incidncia da doena com relao

    ao sexo e faixas etrias, expectativa de vida, etc.

    e) avaliar medidas teraputicas e preventivas;

    f) com os resultados dos estudos, fundamentar polti-

    cas pblicas e decises sobre regulao relacionadas a

    problemas de contaminaes ambientais, por exemplo.

    ABORDAGEM EPIDEMIOLGICA

    Os estudos epidemiolgicos se iniciam, em geral,

    descrevendo as situaes a partir de dados de incidn-

    15

    Eduardo Mello De Capitani

  • cia e prevalncia disponveis, ou coletados especial-

    mente.

    Incidncia de uma doena ou evento de sade de-

    finida como o nmero de casos novos sobre o nmero de

    pessoas expostas ao risco naquela comunidade (bairro,

    cidade, estado, pas, continente, etc.) por perodo de

    tempo (em geral por ano, ou durante epidemias, por ms

    ou semana).

    Prevalncia diz respeito ao nmero de casos acu-

    mulados durante certo perodo de tempo, incluindo os

    incidentes, e os que cronificaram ou ainda no se cura-

    ram. Estes seriam os dados referentes morbidade.

    Morbidade um termo genrico usado para desig-

    nar o conjunto de casos de uma dada afeco ou a soma

    de agravos sade que atingem um grupo de indivdu-

    os (Pereira, 2000). As estimativas de morbidade de uma

    dada populao so baseadas em diversas fontes de re-

    gistro, como dados de pronturios de servios de sade;

    notificao compulsria de determinadas doenas (em

    geral as infecto-contagiosas); registros especiais de do-

    enas como cncer, tuberculose, AIDS, lepra; arquivos

    de laboratrios de anatomia-patolgica; dados de inter-

    naes do SUS (Sistema nico de Sade), e outras fon-

    tes. A qualidade desses dados est sempre relacionada

    ao grau de cobertura desses registros e qualidade da

    assistncia mdica fornecida.

    Dados sobre mortalidade so tambm extremamen-

    te importantes e, dependendo da situao, podem ter

    mais relevncia epidemiolgica que os dados de morbi-

    dade.

    Os dados de mortalidade esto baseados em regis-

    tros feitos a partir dos atestados ou declaraes de bi-

    to, padronizadas internacionalmente, nos quais devem

    constar informaes sobre: a) a causa bsica da morte

    (ou seja, a doena ou leso que desencadeou a srie de

    acontecimentos patolgicos, e que redundou diretamen-

    te na morte); b) complicaes eventuais ocorridas; e c)

    outros estados patolgicos significativos que no te-

    nham tido relao direta com a morte.

    A padronizao no preenchimento das declara-

    es de bito trouxe grandes benefcios quanto pos-

    sibilidade de comparao de dados em nvel internaci-

    onal. Ocorre que a qualidade do preenchimento ainda

    um grande problema em todo o mundo, sendo de-

    pendente do nvel de assistncia mdica local, do trei-

    namento especfico dado aos mdicos, do interesse

    pessoal do mdico, da padronizao dos termos m-

    dicos, etc.

    Assim, frente a dados de morbidade ou mortalida-

    de, existe a necessidade de se perguntar, primeiramen-

    te, se os dados so reais, ou seja, se so representati-

    vos da situao de sade daquela populao, e se so

    comparveis com outras regies (qualidade da coleta,

    grau de cobertura de sade daquela populao, etc.).

    Qualquer inferncia sobre relao causal entre determi-

    nado fator (ambiental, ocupacional, gentico, relacio-

    nado a hbitos alimentares, etc.), que for feita ao final

    de um estudo epidemiolgico dever estar referencia-

    da qualidade do dado de morbidade e mortalidade

    inicial.

    Com relao definio da etiologia de determina-

    do agravo sade, o investigador deve proceder se-

    guindo duas etapas essenciais ao raciocnio epidemio-

    lgico: 1) determinar se existe uma ASSOCIAO en-

    tre um fator (por exemplo, determinada exposio am-

    biental) e um agravo sade e, 2) no caso de haver

    uma associao, derivar inferncias apropriadas sobre

    a existncia de RELAO CAUSAL na associao, se-

    guindo critrios de julgamento j bem definidos (ver

    adiante).

    Tipos de estudos (desenhos) epidemiolgicos

    Os estudos epidemiolgicos podem ser divididos

    didaticamente em observacionais e experimentais (Qua-

    dro 1). Os estudos observacionais so divididos em des-

    critivos, de um lado, e analticos, de outro.

    Os estudos experimentais em epidemiologia limi-

    tam-se basicamente aos chamados ensaios clnicos te-

    raputicos controlados, usados para avaliar a eficcia

    de novos medicamentos ou tratamentos, nos quais se

    tenta controlar todas as variveis interferentes no pro-

    cesso de tratamento, selecionando adequadamente os

    doentes, definindo critrios de diagnstico da doena,

    determinando doses de exposio, e estabelecendo o

    tipo de resultado que se espera de um novo medicamen-

    to ou tratamento em comparao com o tradicional, ou

    mesmo com o tratamento placebo (medicamento sem

    princpio ativo, por exemplo).

    16

    Epidemiologia e Geologia Mdica

    Quadro 1 Tipos de estudos epidemiolgicos.

    OBSERVACIONAIS

    1. Descritivos (descrevem a situao e geram hipteses de

    rel