GESTÃO, SUSTENTABILIDADE E
ENRIQUECIMENTO DA FLORA NATIVA
EM FLORESTA PLANTADA DE
EUCALIPTO
Leila Cunha de Moura
(Universidade Estadual Paulista - Unesp)
Denize Zanchetta
(Instituto Florestal de São Paulo)
Edgar Fernando de Luca
(Instituto Florestal de São Paulo)
Resumo O presente trabalho propõe diferentes alternativas de manejo para a
restauração e o enriquecimento das espécies de vegetação nativa que
ocorrem nos sub-bosques de talhões plantados com Eucalyptus
citriodora Hook, E. urophylla S.T.Blake e E.. grandis Hill ex maiden,
localizados na Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade -
FEENA, Rio Claro, SP. As propostas técnicas utilizadas visam acelerar
a regeneração natural, tendo como base os modelos de sucessão
secundária, contribuindo para o aumento da biodiversidade e
projetando a sustentabilidade da floresta.
Dentro da paisagem atual, com área de 2.230,53 hectares, a Floresta
Estadual apresenta uma mescla de plantios florestais com diferentes
espécies de eucalipto, de diferentes idades e densidade, o que permitiu
o desenvolvimento de uma vegetação florestal secundária em seu
interior. Em geral, essas florestas de eucalipto possuem área muito
superior a diversos fragmentos florestais que compõem a paisagem
local, isolados entre canaviais, pastos e áreas urbanas.
Tal isolamento restringe o deslocamento e busca de alimento pela
fauna, não ocorrendo o mesmo no interior da Floresta Estadual
Edmundo Navarro de Andrade, onde a distância entre um plantio e
outro, na maioria das vezes, é menor que cinco metros, sendo frequente
o contato entre a copa das árvores na borda desses talhões, o que
sugere que tais áreas, praticamente, compõem uma única formação
florestal secundária, em pleno processo de re-estruturação e
enriquecimento de sua diversidade.
Entre os talhões que compõem a FEENA, nove foram selecionados
para implantação de práticas de manejo na comunidade de sub-
bosque, onde é proposta a implantação de derrubada das árvores
emergentes encobertas por lianas; o controle da biomassa de
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ISSN 1984-9354
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trepadeiras; a restrição no estabelecimento de plântulas de espécies
exóticas, invasoras e de lianas; o enriquecimento da regeneração
natural; e o tratamento das bordas desses fragmentos.
Palavras-chaves: Gestão, florestas plantadas, técnicas de restauração,
biodiversidadel.
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1. INTRODUÇÃO
No período compreendido entre 2000 e 2010, anualmente cerca de 13 milhões de
hectares de florestas foram convertidos para outros usos (agricultura, pastagens, entre outros)
ou ainda perderam-se devido a causas naturais, no âmbito mundial. Esse montante é menor
em comparação aos 16 milhões de hectares anuais na década de 1990 (Soares e Motta, 2010).
Segundo esses autores, a América do Sul e a África tiveram a maior perda líquida anual de
florestas entre 2000 e 2010, com 4 e 3,4 milhões de hectares, respectivamente. A Oceania
também registrou uma alta perda líquida, em parte, devido a severa seca na Austrália desde
2000.
Em resposta a crescente preocupação mundial em relação à mudança climática global
e ao desmatamento nos países tropicais, foram iniciados projetos visando interferir no uso da
terra e nas florestas em países em desenvolvimento através do seqüestro e banco de carbono,
mesmo antes da adoção do protocolo de Quioto (May et al., 2005).
No Brasil, o Estado de São Paulo possui 3.457.301 ha do seu território (13,94%)
coberto por formações florestais nativas (KRONKA, 2005), e uma área de 770.010 ha (3,1%)
com cobertura florestal decorrente do plantio de espécies exóticas, incluindo Pinus spp e
Eucalyptus spp (KRONKA, 2002). Esses percentuais juntos representam 17,4 % do Estado,
no entanto é oportuno lembrar a redução da cobertura florestal, que em São Paulo no inicio do
século XIX, foi avaliada por Victor (1975) e estimada em cerca de 20.450.000 ha, o que
representava 81,8% do território do Estado.
Em função desta contínua redução da cobertura vegetal nativa também no interior do
estado, fitocenoses que se desenvolvem no sub-bosque de plantios com exóticas, em geral
abandonados, passaram a ser estudadas visando à análise do potencial de regeneração de
comunidades secundárias, em muitos casos com o interesse no acompanhamento de algumas
essências nativas, importantes regionalmente.
Os estudos da estrutura de comunidades vegetais das formações florestais
remanescentes do interior de São Paulo vêm apresentando, há quase quatro décadas,
contribuições significativas. No entanto, ainda existe carência daqueles que extrapolam a
barreira descritiva e desenvolvem discussões no âmbito da dinâmica de comunidades, e a
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lacuna é ainda maior, com relação àqueles que se propõem a interferir de maneira positiva nos
processos envolvidos nessa dinâmica.
Portanto, torna-se evidente a necessidade de trabalhos com enfoque na experimentação
de técnicas de manejo, para acelerar a restauração vegetal em formações secundárias.
As técnicas de restauração com base em modelos de sucessão secundária exigem a
implantação de experimentos geralmente extensivos e intensivos para que os resultados
obtidos tenham relevância dentro do contexto da heterogeneidade que qualquer paisagem
apresenta.
Dentro das práticas de manejo existentes é relevante o uso de amplas áreas
experimentais, técnicas variadas de restauração e numerosas réplicas para quantificação
efetiva dos resultados obtidos em função do projeto de restauração utilizado.
Se obedecidos tais pressupostos, os resultados obtidos terão tamanha confiabilidade
que o método utilizado terá o seu uso possível em qualquer área cujas condições estruturais do
solo e da vegetação sejam análogas às áreas selecionadas no presente estudo.
Os modelos de manejo aqui propostos para a Floresta Estadual Edmundo Navarro de
Andrade, visam a manutenção de sítios de propagação das espécies regionais nativas,
constituindo-se em um banco genético ativo da flora local.
A manutenção da biodiversidade e a estabilidade da comunidade restaurada no tempo
ecológico, bem como as possíveis oportunidades de interação socioambiental por parte das
comunidades de entorno, são premissas indispensáveis para garantir a sustentabilidade de
qualquer sistema.
Pretende-se com o desenvolvimento do projeto em questão, testar variadas alternativas
de manejo para restauração e enriquecimento de sub-bosque, visando caracterizar a facilitação
da regeneração natural e mitigar os efeitos primários, da ocorrência local, de espécies
invasoras e exóticas no interior dessas florestas plantadas de Eucalyptus spp.
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
2.1 Localização
A Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA) está situada junto à área
urbana do município de Rio Claro e parte da zona rural do município de Santa Gertrudes,
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localizada entre os paralelos 22º 36’ e 22º 16’ Sul e entre os meridianos 47º 36’ e 47º 26’
Oeste, na região central do Estado de São Paulo, 120 km ao sul do trópico de Capricórnio
(TAKAHASI, 1992). O município de Rio Claro situa-se na média Depressão Periférica
Paulista, próximo à linha de Cuestas que delimita as bordas do Planalto Ocidental, a cerca de
185 km da capital (Fig.1).
Fonte: Prefeitura Municipal de Rio Claro de 1984, atualiza
]
Figura 1: Acesso à Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA), Rio
Claro, SP.
Atualmente, a Floresta estadual Edmundo Navarro de Andrade - FEENA é gerenciada
pela Fundação Florestal, conforme o Decreto no 51.453/2006 que cria o Sistema Estadual de
Florestas – SIEFLOR (GOVERNO DO ESTADO SÃO PAULO, 2006) e a Resolução SMA-
16, de 03/04/2007 (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2007) constituindo-se na
área com maior concentração de diferentes espécies de eucalipto fora do centro de origem
(Austrália e algumas ilhas da Oceânia).
Distâncias
Rio Claro a São Paulo: 185
Km
Rio Claro a São Carlos: 57
Km
Rio Claro a Araras: 37 Km
Rio Claro a Santa
Gertrudes: 8 Km
Rio Claro a Limeira: 28 Km
Rio Claro a Piracicaba: 41
Km
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2.2 Histórico
A Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade traz um histórico singular, pois no
século passado foi a primeira área, no Brasil, a ser utilizada experimentalmente pelo
engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, para o plantio de eucalipto. Depois de
um século de estabelecimento desses plantios, temos uma vegetação rica em espécies nativas
originárias de formações florestais regionais, envolvendo a flora de matas estacionais
semideciduais, mata atlântica e cerrado. Assim como, também exóticas introduzidas
acidentalmente pelo próprio homem ao longo do século passado, e invasoras herbáceas, que
comumente colonizam os terrenos baldios de nossas áreas urbana e rural.
Já é conhecida a importância da formação de um sub-bosque em áreas de plantios de
espécies arbóreas nativas ou exóticas, a fim de aumentar o ganho de nutrientes, promover
naturalmente a diversidade biológica, e propiciar a formação de florestas secundárias mistas,
que poderão chegar a substituir, eventualmente, o plantio da espécie de interesse econômico.
A partir de 1908, o eucalipto foi introduzido no Brasil em plantios experimentais
destinados a produzir madeira, que seria utilizada como lenha para as locomotivas da
Companhia Paulista de Estradas de Ferro, no Horto Florestal Navarro de Andrade, em Rio
Claro, hoje denominada Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA).
Em talhões remanescentes do acervo de 144 espécies de eucaliptos introduzidas no
antigo Horto Florestal de Rio Claro com requisitos ecológicos particulares que podem ser
vistos como representantes de uma formação florestal secundária, onde é possível a
implementação de técnicas de manejo estratégicas, visando obter resultados efetivos para
resguardar o importante banco genético ativo de espécies regionais, quer seja para a
sustentabilidade da biodiversidade, para pesquisas científicas ou mesmo visando a exploração
econômica.
2.3 Relevância
O gênero Eucalyptus é representado por mais de 700 espécies, de ocorrência natural na
Austrália, Indonésia, Timor e Ilhas adjacentes, sendo que, aproximadamente, 50 delas estão
disseminadas por centenas de países com climas e solos bastante diferentes.
Cem anos depois da introdução do eucalipto sua utilização oferece madeira para
fabricação de móveis, montagem de divisórias de escritórios, produção de papel, energia para
a indústria siderúrgica, madeiramento para cobertura pontaletes e tábuas para a indústria da
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construção civil, inclusive para pisos que no passado eram tábuas de madeira de lei, além de
continuar sendo utilizado como lenha.
Hoje, encontramos na FEENA uma predominância de Eucalyptus citriodora Hook
(29,9%) e Eucayiptus tereticornis Smith (11,86%).
Dos seus 2.230,53 hectares cerca de 40% foram incluídos na Zona de Manejo
Florestal, definida no Plano de Manejo da Unidade (Fig. 2). Essa Zona é aquela que
compreende as áreas de floresta nativa ou plantada, com potencial econômico para o manejo
sustentável dos recursos florestais. Seus objetivos são: o uso sustentável dos recursos
florestais, geração de tecnologia e de modelos de manejo florestal, sendo também permitidas
atividades de pesquisa, educação ambiental e interpretação. Os talhões T25, T27 e T32
selecionados de Eucalyptus citriodora, representam essa zona no presente estudo (Fig. 2). A
espécie indicada apresenta alto valor de mercado e grande interesse comercial, principalmente
por ser fonte de madeira de eucalipto de boa qualidade, cujos usos mais tradicionais são na
produção de postes, estacas, moirões, dormentes, carvão vegetal, além de seus sub-produtos
como essências e óleos para uso farmacêutico e nas industrias de cosméticos e produtos de
limpeza, ou ainda, para usos mais nobres como fabricação de móveis e estruturas.
A zona histórico-cultural compreende os demais talhões do presente estudo (Fig.2).
Essa zona é onde são encontradas amostras históricas, científicas, culturais, arqueológicas que
deverão ser conservadas e interpretadas para o público. Seu objetivo é proteger sítios
históricos e arqueológicos, em harmonia com o meio ambiente, facilitando atividades de
pesquisa científica, educação ambiental e interpretação. Na FEENA, nessa zona, estão
inseridos os antigos talhões, que marcaram o início dos reflorestamentos compondo as
coleções de Eucalyptus e Pinus, de grande interesse genético.
Da quase totalidade das espécies descritas para Eucalyptus, aproximadamente doze
não ocorre naturalmente no continente australiano, entre elas o Eucalyptus urophylla
S.T.Blake, originário do Timor e outras ilhas a leste do arquipélago indonesiano, sendo
encontrada nos talhões de números T31, T33 e T38 aqui investigados.
Os talhões 36-A, 51, e 99 objeto do estudo ora proposto, são representantes de
Eucalyptus grandis Hill ex maiden, que atualmente é a espécie juntamente com seus híbridos,
responsável pela maior área reflorestada de eucalipto do País, sendo utilizado principalmente
para a obtenção de celulose, chapas de fibras e partículas. Diante da relevante fonte biológica
viva “ex-situ”, existente na FEENA, torna-se imprescindível a investigação desse rico banco
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genético direcionado para desenvolver as novas funções a ele associadas, no sentido de
conservação da biodiversidade e exploração econômica.
Figura 2: Zoneamento da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA),
Rio Claro, SP.
2.4 Descrição da Área de Estudo
Os talhões de E. citridora , T25 e T27 e a maior parte do T99 de E. grandis
encontram-se em uma área de média suscetibilidade erosiva em decorrência de apresentar
comprimentos de rampa entre 50 e 400m e baixos índices de dissecação vertical. Já o T32, de
E. citriodora e os talhões T31, T33 e 38 de E. urophilla; e ainda, o T36a, T51 e parte do T99
de E. grandis , encontram-se localizados em uma superfície onde predomina uma forte
suscetibilidade erosiva associada à presença de longos comprimentos de rampa, em geral
superior a 400m (Fig.3).
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Figura 3: Relevo da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA) Rio
Claro, SP.
Fonte: IGC (1979)
2.4.1 Geologia
Segundo o Plano de Manejo da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade –
FEENA (REIS et al., 2005) a Unidade de Conservação apresenta no setor norte, leste e
nordeste a formação Rio Claro, datada do cenozóico onde se verifica a presença de arenitos
incosolidados de textura arenosa a arenosa argilosa, entre 630 a 656m. No entanto, no
intervalo entre 600 e 650m podemos também encontrar as litologias vinculadas a formação
Corumbataí, sendo contituídos por siltitos e argilitos da era mesozóica, sendo que ao longo do
ribeirão Claro e de forma descontínua margeando o córrego Santo Antônio depósitos
aluvionares quartenários compostos de areias e argilas entre 568 e576m. No setor noroeste,
sul e sudeste tem-se a ocorrência das formações Rio Claro e Corumbataí vinculadas às
litologias mesozóiacas-intrusivas básicas (Fig 4).
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Figura 4: Mapa geológico da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade
(FEENA) Rio Claro, SP.
Fonte: Plano de Manejo da FEENA
2.4.2 Solos
Ainda, de acordo com o mesmo documento a FEENA no setor norte compõem-se de
solos com textura média a arenosa, e analiticamente distróficos; e ao setor sul, de solos com
textura argilosa e muito argilosa, e analiticamenteeutrófico.
Já na porção nordeste encontramos a predominância de Argissolo Vermelho-Amarelo
e na porção noroeste são predominantemente Neossolo Quartizarênico e Latossolo Vermelho-
Amarelo.
No setor sul, a ocorrência de solos com textura argilosa é coerente com o material que
o originou, ou seja, diabásico intrusivo, porém a maior heterogeneidade se dá principalmente,
devido a maior declividade do terreno.
Em geral, pode-se afirmar que o solo predominante na FEENA é o Argissolo, antigo
podzólico.
3. MÉTODOS
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3.1 Levantamento da Diversidade da Flora de Sub-Bosque
Para análise da comunidade vegetal no interior das florestas plantadas serão
configurados 40 plots de 20x20m em cada um dos nove talhões selecionados: T25, T27 e T32
de Eucalyptus citriodora; T31, T33, T38 de Eucalyptus urophylla; e T36-A, T51, T99 de
Eucalyptus grandis (Tab. 1). As mensurações da avaliação de altura e diâmetro serão feitas
em todos os indivíduos arbustivos e arbóreos que possuam perímetro na altura do peito (PAP)
maior ou igual a 10cm. O levantamento será realizado em um período estimado de 24 meses,
onde a biodiversidade vegetal será analisada e acompanhada por coletas sucessivas de
material botânico para confecção de exsicatas, formação de uma coleção de herbário e
determinação taxonômica.
A flora amostrada terá suas espécies identificadas em laboratório, com auxílio de
chaves de identificação, bibliografia especializada e consultas à especialistas em diferentes
grupos taxonômicos. É importante ressaltar que as exsicatas das espécies amostradas serão
depositadas no Herbário da Universidade Estadual Paulista (HERCL – UNESP) e no Herbário
Dom Bento Pickel do Instituto Florestal de São Paulo.
No tratamento dos dados serão utilizados os softwares, “Multivariate Analysis of
Ecological data” – Versão 5.0 (PC-ORD) e o SYSTAT 10 (SPSS Inc., 2000).
Tabela 1- Cadastro geral dos talhões da área de estudo da Floresta Estadual Edmundo
Navarro de Andrade (FEENA), Rio Claro, SP.
Talhão No
Área (ha) Espécie Ano de
Plantio
Pés/ha Idade
(Anos)
25 4,74 E.Citriodora 1989 453 22
27 6,49 E.Citriodora 1972 369 29
32 8,71 E.Citriodora 1984 329 27
31 8,71 E.Urophylla 1984 316 27
33 16,20 E.Urophylla 1984 638 27
38 8,81 E.Urophylla 1983 527 28
36a 3,05 E. grandis 1950 752 61
51 4,84 E. grandis 1968 90 43
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99 3,19 E. grandis 1922 43 89
Fonte: Cadrasto FEPASA- Ano 1994
3.2 Aplicação de Técnicas de Restauração
Algumas técnicas de manejo da vegetação têm que ser implementadas no interior
dessas florestas plantadas para que, o aumento da diversidade de nativas que ocupam seus
sub-bosques e a sua sustentabilidade a longo e médio prazo, venham a ser efetivadas. Entre as
possíveis práticas de serem aplicadas, as abaixo descritas se mostram mais adequadas,
considerando-se a contextualização dos talhões da FEENA, apresentada nos itens 2.2
(Histórico) e 2.3 (Relevância).
Na gestão das áreas selecionadas, serão conduzidas experimentações que levantarão
dados a respeito da realidade local e indicarão com consistência as tomadas de decisão sobre a
adequação das técnicas de manejo abaixo relacionadas.
Tais práticas serão desenvolvidas no interior de plots de 20 m x 20 m, distribuídos
aleatoriamente no interior de cada talhão de eucalipto, com um número de réplicas que
correspondam aproximadamente a 25% da área total do fragmento.
3.2.1 Derrubada das Árvores Emergentes de Eucalipto Encobertas por Lianas
Observa-se, no interior das áreas de estudo, uma ampla distribuição de indivíduos de
eucaliptos seculares, com perímetro superior a 1m e altura entre 20 e 40m. Essas árvores
emergentes esparsamente distribuídas acabam por compor um dossel descontínuo,
entremeados por clareiras e ambientes de sub-bosque fechado de variados níveis de
intensidade e qualidade na cortina de luz. Esse padrão de ocupação espacial tanto horizontal
quanto vertical facilita o desenvolvimento exuberante de lianas referentes à variadas famílias
botânicas, acabando por cobrir, muitas vezes, toda a copa desses eucaliptos. Em função da
alta produção de biomassa dessas trepadeiras lenhosas, as mesmas passam a desempenhar o
papel de uma planta parasita, o que ao longo do tempo, sob condições variadas, restringe o
crescimento da copa da árvore hospedeira, levando posteriormente a deterioração do
indivíduo.
A retirada dessas árvores no interior dos plots experimentais aumentará a área
disponível para ocupação de indivíduos arbóreos e arbustivos de espécies regionais, nas
categorias de pioneiras e secundárias, bem como disponibilizará madeira para uso dessa
Unidade de Conservação.
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3.2.2 Controle da Biomassa de Trepadeiras no Interior do Sub-Bosque
No sub-bosque, ao longo de um perfil vertical com cerca de 7m ocorre uma cortina de
trepadeiras lenhosas (lianas), sub-lenhosas e herbáceas, que competem ativamente por luz,
nutrientes, água e espaço, com demais formas de vida. Em função da existência de manchas
com alta luminosidade nesses sítios e de uma resposta positiva a esse fator, essas trepadeiras
apresentam um crescimento rápido e alta biomassa, o que dificulta o desenvolvimento das
copas e do porte de lenhosas diversas, entre árvores, arvoretas e arbustos, que se acumulam no
sub-bosque. Assim sendo, com a realização de poda, mesmo que parcial, possibilitará um
crescimento mais rápido de outras guildas de espécies, tornando esses sítios, ao longo do
tempo, mais sombreados, o que limitará o crescimento exacerbado das trepadeiras,
propiciando que outras formas de vida, que ocorrem dentro da mata, tenham melhores
condições para o seu estabelecimento e ocupação do habitat, que agora se encontra disponível.
3.2.3 Controle da Regeneração Natural de Plântulas de Espécies Exóticas, Invasoras e de
Lianas
É comum a ocorrência nos sub-bosques dos talhões da FEENA, assim como também
em fragmentos de matas no interior de São Paulo, de um acúmulo de plantas jovens de
espécies invasoras, inclusive espécies exóticas, compondo o compartimento da regeneração
natural. O predomínio de tais grupos ecológicos tende a excluir variadas espécies da flora
nativa local do banco de plântulas. Para que haja um controle sobre o crescimento e dispersão
desses grupos taxonômicos é necessário que se faça um desbaste, que permita a retirada
desses indivíduos. Dessa forma, é importante que em sub-plots de 2m x 2m circunscritos nos
interior das parcelas de 400m², totalizando 25 por parcela, ocorra um acompanhamento dos
regenerantes dentro da comunidade.
3.2.4 Enriquecimento da Regeneração Natural
Para que haja uma aceleração no processo de ocupação dessas florestas plantadas com
eucalipto por espécies nativas de interesse não apenas econômico, mas também como fonte de
recursos para a fauna de polinizadores e dispersores, entre esses, insetos, aves e mamíferos de
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pequeno e médio porte, é importante que mudas sejam introduzidas sob as manchas de dossel
contínuo, decorrentes da presença de nativas arbóreas e dos brasões de eucalipto no interior
dessas áreas. As próprias parcelas de 20mx20m deverão ser usadas também para essa
experimentação. Devendo-se alocar cerca de 12 mudas, entre 1,0m e 1,5m de altura por plot
(20m x 20m), distribuídas uniformemente sob dossel.
3.2.5 Tratamento das Bordas
Na faixa de 10 a 100m, que compõe a da zona de contato dessas formações florestais
com a região de entorno, ocorre um gradiente de resposta à variação microclimática, por parte
da flora e fauna local, alterando essa extensão em função do nível de alteração antrópica da
formação florestal analisada. Essa faixa denominada de zona de borda, em se tratando da
FEENA, é pouco impactada e em muitas situações acaba se tornando uma zona de transição
para outros fragmentos, funcionando muito mais como uma zona de contato entre plantios de
eucaliptos diversos, atuando também como aceiros no controle, durante a estação seca, da
propagação do fogo. Portanto, o seu tratamento, seria restrito aos trechos onde uma extensa
área de emaranhados de lianas se fazem presente, sendo que o controle de biomassa dessa
guilda, permitirá um trânsito mais livre da fauna local entre os fragmentos desse mosaico de
florestas plantadas, aumentando a mancha efetiva de forrageio das espécies que exigem maior
área de vida para busca de recursos e de parceiros para acasalamento.
Naturalmente que somados os efeitos decorrentes da implantação das experimentações
acima explicitadas, nos nove talhões selecionados, espera-se criar um estímulo para o
estabelecimento de essências nativas no interior dessas florestas plantadas de eucalipto,
contribuindo para a aceleração da sucessão secundária e enriquecimento dessas comunidades
de sub-bosque, como também enriquecendo a chuva de sementes local com a presença de
diásporas de espécies arbóreas, para que os fragmentos florestais dispersos na paisagem
regional, venham a ser beneficiados com o manejo aplicado às florestas plantadas da FEENA.
Por fim, tem-se como proposta não apenas a implementação de ações mitigadoras do
impacto decorrente de ação antrópica, mas uma preocupação com o aumento da extensão da
cobertura florestal, que tem sido colocado em segundo plano na implantação de políticas
públicas, em função da expansão urbana e de ampliação das áreas de monoculturas, em
grande parte da região sul e sudeste do país.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando o debate envolve produtividade, conservação, restauração do solo, ou a
combinação destes fatores, a floresta secundária, que no passado recebia um enfoque
marginal, atualmente é vista com grande interesse.
Tais formações são consideradas como ecossistemas de crescimento rápido, com uma
produtividade líquida superior a de variadas florestas primárias, com alto valor para a
formação de um banco de germoplasma ativo, fornecendo condições para a conservação
genética de espécies arbóreas presentes no mosaico de fragmentos florestais, e corredores
ribeirinhos que compõem a paisagem onde encontram-se inseridas.
Temos então, no sub-bosque da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade,
plantios com idades e densidades variadas de espécies de eucaliptos que se desenvolveram ao
longo de um século de história, constituindo um ambiente próprio para o estabelecimento de
sementes que são transportadas pelo vento, ou dispersas pela fauna local, principalmente aves
e roedores de pequeno e médio porte, ou ainda diásporos distribuídos pelas águas dos
córregos.
As árvores de eucalipto, além de serem exploradas como fonte de matéria prima para
fins diversos, acabaram por fornecer ao longo do tempo um sombreamento parcial às espécies
arbóreas que se instalaram no sub-bosque dessa floresta plantada. Tal sombreamento,
minimiza os efeitos restritivos da incidência direta dos raios solares sobre plântulas recém
estabelecidas.
Espécies com diversas funções dentro da cadeia alimentar, distribuições
biogeográficas distintas e com variadas utilizações pelo homem puderam se desenvolver e
enriquecer estas comunidades secundárias. Valendo lembrar, a importância daquelas
amplamente utilizadas em áreas de restauração florestal, indicadoras de solos férteis,
intimamente associadas com a fauna dispersora e polinizadora, assim como também as que
ocorrem com frequência em áreas de mata estacional semidecidual e de cerrado.
Sabendo-se da importância da conservação dessas áreas verdes próximas a centros
urbanos e da possibilidade de funcionarem como núcleos de preservação de espécies da
paisagem regional, a Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade é uma área estratégica
para o desenvolvimento de espécies arbóreas nativas, muitas das quais são atualmente raras,
ou que foram extremamente exploradas nas suas formações de origem, e encontram-se
atualmente isoladas em áreas restritas.
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A Floresta Estadual não é apenas um significativo patrimônio histórico-cultural que
enriquece a paisagem local, mas também é uma ampla cobertura florestal propícia à
conservação da diversidade da flora e fauna regional. Mundialmente, vêm-se buscando
ativamente a implementação de projetos de reflorestamento e restauração paisagística para
amenização climática e para fins turísticos dos centros urbanos, interesses esses perfeitamente
atendidos em uma área singular do ponto de vista das suas características paisagísticas e que
ainda, contribui para o bem estar dos moradores locais.
A existência dessa extensa área de floresta plantada suscita algumas questões. Que
plantas podem conviver associadamente com tantas espécies de eucalipto? E ainda, que
benefícios podem trazer para a produtividade e a conservação da biodiversidade a
implantação de técnicas de manejo que interferem na dinâmica de uma floresta secundária?
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEPASA – Ferrovia Paulista S.A. 1994 – Cadastro Anual das plantações. Horto Florestal
de Rio Claro. (cópia mimiografada, Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade –
FEENA, Rio Claro, SP)
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – Decreto nº 51.453 de 2006. Cria o Sistema
Estadual de Florestas – SIEFLOR e dá outras providências
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – SMA. Resolução nº 16, de 03 de março 2007.
Dispõe sobre a organização do Sistema Estadual de Florestas – SIEFLOR e dá outras
providências.
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