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Hiperplasia linfóide angiofolicular - doença de castleman - do mediastino:Apresentação de um caso clínicoVítor Sousa, Lina Carvalho

Hiperplasia linfóide angiofolicular – Doença de Castleman– do mediastino: Apresentação de um caso clínico

Mediastinal angiofolicular lymphoid hyperplasia –Castleman’s disease – Case report

Vítor Sousa*

Lina Carvalho**

ResumoResumoResumoResumoResumoA hiperplasia linfóide angiofolicular foi inicialmentedescrita por Castleman como uma hiperplasia dogânglio linfático, caracterizada por folículosanormais, com centros germinativos pequenos emarcada proliferação capilar.Os autores apresentam o caso de um homem de 37anos com toracalgia e massa mediastínica com 4 cmde diâmetro, constituída por tecido vermelho-escuroe carnudo, com pequena área central branca. Foidiagnosticada a variante plasmocitária da hiperplasialinfóide angiofolicular em gânglio linfáticomediastínico. Apresentava mais dois gânglios

Cadernos de Anatomia PatológicaPathology Note Books

AbstractAbstractAbstractAbstractAbstractAngiofolicular lymphoid hyperplasia was first des-cribed by Castleman as a lymph node hyperplasiacharacterized by abnormal follicles with small ger-minal centres and high capillary proliferation.The authors present a case of a 37 year old manwith thoracalgy and a mediastinal mass of 4 cmdiameter, fleshy and red with a white central area.The diagnosis of plasma cell type of angiofolicularlymphoid hyperplasia in an mediastinal lymphnode was made. He also had involvement of two“diaphragmatic” lymph nodes.Angiofolicular lymphoid hyperplasia – Castleman’s

* Assistente Hospitalar e Assistente Estagiário de Anatomia Patológica** Chefe de Serviço e Professora Associada de Anatomia PatológicaHospitais da Universidade de Coimbra. Serviço de Anatomia Patológica (Directora: Dra. Fernanda Xavier da Cunha)

Recebido para publicação/received for publication: 06.03.02Aceite para publicação/accepted for publication: 06.03.09

Coordenadora: Lina Carvalho

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disease - is a rare lymphoproliferative disease thatinvolves the mediastine or the pulmonary hiluswhen of solitary form but it can also have otherlocalizations (multicentric or systemic form). Twohistological variants are described, the hyaline vas-cular type and the plasma cell type. IL-6 seems tobe in the plasma cell type, due to plasma cells pro-liferation. Castleman’s Disease must be consideredin the differential diagnosis of mediastinal masses,namely lymphomas.

Rev Port Pneumol 2006; XII (3): 275-280

Key-words: Castleman’s disease, mediastinalangiofolicular lymphoid hyperplasia, mediastinaldisease.

“diafragmáticos” envolvidos pela mesma doença.A hiperplasia linfóide angiofolicular, ou doença deCastleman, é uma doença linfoproliferativa rara queatinge frequentemente o mediastino ou os gânglioslinfáticos do hilo pulmonar. Pode ter, no entanto,outras localizações, na forma multisistémica. Estãodescritas duas variantes morfológicas: a vascularhialina e a plasmocitária. A IL-6 parece ter um papelimportante na sua patogenia, quando se trata davariante plasmocitária. A doença de Castleman deveser considerada no diagnóstico diferencial de massasmediastínicas, nomeadamente com linfomas.

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Palavras-chave: Doença de Castleman, hiperplasialinfóide angiofolicular do medistino, doenças domediastino.

IntrIntrIntrIntrIntroduçãooduçãooduçãooduçãooduçãoA doença de Castleman também édesignada por hiperplasia gigante dogânglio linfático e hamartoma do gângliolinfático e foi inicialmente descrita porCastleman como uma hiperplasia dogânglio linfático caracterizada por folí-culos anormais, com centros germinativospequenos e marcada proliferação capilar1.Actualmente, reconhecem-se duas varian-tes histológicas: a forma hialina-vasculare a forma plasmocitária. A doença de Cas-tleman pode ser multicêntrica ou multisis-témica e, nesta forma, é geralmente do tipoplasmocitário2.

É uma doença linfoproliferativa rara, queenvolve frequentemente o mediastino ouos gânglios linfáticos do hilo pulmonar,na forma solitária2-4.Os autores apresentam o caso de umhomem de 37 anos com toracalgia e massamediastínica. É feita breve revisão biblio-gráfica.

Informações clínicasInformações clínicasInformações clínicasInformações clínicasInformações clínicasDoente do sexo masculino, de 37 anos,com emagrecimento, astenia e toracalgiacom irradiação para o dorso.Radiografia do tórax com ligeiro reforçohilar.

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A tomografia axial computorizadaevidenciava uma lesão nodular para-aórtica, para-esofágica e retro-cardíaca com4x7 cm de eixos maiores, com plano declivagem com a aorta, esófago e coração.Foi submetido a toracotomia em 30 deJunho de 1998.

Material e métodosMaterial e métodosMaterial e métodosMaterial e métodosMaterial e métodosA peça cirúrgica foi fixada em formoltamponado a 4% e processada pelosmétodos de rotina. Os cortes obtidosforam corados com hematoxilina e eosina.Foram aplicadas técnicas de histoquímica(PAS) e de imuno-histoquímica: osmarcadores CD 3, CD 20, CD 4, CD 8,cadeias l e k, CD 68, factor VIII e CD 34.

Estudo anátomo-patológicoEstudo anátomo-patológicoEstudo anátomo-patológicoEstudo anátomo-patológicoEstudo anátomo-patológico

MacroscopiaFormação ovalada com 4 cm de maioreixo, envolvida por cápsula fina.Era constituída por tecido vermelho--escuro, carnudo e com pequena área cen-tral branca. À periferia identificava-seenvolvimento por escasso tecido adiposo.Os dois gânglios “diafragmáticos”, cadaum com 5 mm de diâmetro, eram acasta-nhados e com orla periférica esbran-quiçada.

HistologiaO nódulo apresentava a morfologia dahiperplasia linfóide angiofolicular –doença de Castleman – mediastínica,variante plasmocitária. Observaram-sefolículos linfóides, pequenos e grandes,com vasos sanguíneos centrais proemi-nentes, com parede espessa e hialinizada.Estavam por vezes envolvidos por

camadas concêntricas de células centro-foliculares. Nas áreas interfolicularesidentificaram-se numerosos vasos san-guíneos de parede fina, que se anasto-mosavam. Observaram-se entre oscapilares, linfócitos T e B (positividadepara os marcadores CD3 e CD20, res-pectivamente) e numerosos plasmócitos,alguns macrófagos, imunoblastos, eosi-nófilos e neutrófilos (Figs. 1, 2, 3 e 4).

DiscussãoDiscussãoDiscussãoDiscussãoDiscussãoO caso apresentado tem localizaçãomediastínica, um dos locais mais fre-quentes de diagnóstico de hiperplasialinfóide angiofolicular, na sua formasolitária2,4. As características morfológicassão típicas da variante plasmocitária.A riqueza em vasos sanguíneos foidemonstrada imuno-histoquimicamentefazendo uso do factor VIII. Há habitual-mente equilíbrio entre os linfócitos CD4+e CD8+. Nas zonas interfolicularesidentificam-se, sobretudo linfócitos T eplasmócitos.

Fig. 1 – Hiperplasia linfóide angiofolicular. Folículo com vasosanguíneo central proeminente, com parede espessa ehialinizada. HE, 100x.

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Fig. 2 – Áreas interfoliculares com vasos sanguíneos deparede fina, que se anastomosavam. HE, 50x.

Fig. 3 – Abundantes plasmócitos, alguns macrófagos,imunoblastos, eosinófilos e neutrófilos nas áreas interfo-liculares. HE, 200x.

Factor VIIIPAS

CD 3 CD 20

Fig. 4 – A técnica PAS permitiu pôr em evidência os vasos sanguíneos no centro dos folículos. O marcadorimuno-histoquímico FVIII demonstrou a riqueza vascular nas áreas interfoliculares. Os marcadores imuno--histoquímicos CD3 e CD20 evidenciaram a distribuição dos linfócitos T e B. PAS, 50x; FVIII, 50x; CD3,50x; CD20, 50x.

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Estão descritos rearranjos clonais de genesde receptores de cadeias pesadas de imu-noglobulinas, principalmente de Ig M5.A patogénese deste tipo de lesão é com-plexa, parecendo depender da produçãode IL-6 pelas células plasmocitárias doscentros germinativos6. Os seus níveisséricos correlacionam-se com as mani-festações clínicas da doença7. Foramidentificadas sequências de ADN do vírusHHV-8, sobretudo em doentes HIVpositivos. O genoma deste vírus apresentaum gene análogo ao da IL-6 humana8,9.Neste contexto, há várias patologiasassociadas à síndroma da IL-6, tais comodoenças auto-imunes (artrite reumatóide,síndroma de Sjogren, lúpus eritematososistémico, doenças do tecido conjuntivo),infecção por HIV, infecção por HHV-8,sarcoma de Kaposi, discrasia de plas-mócitos e linfoma de Hodgkin. É ne-cessário excluir estas doenças para definircomo primária uma doença de Castlemanmulticêntrica10,11.No caso em questão não havia antece-dentes de nenhuma destas entidades.Os doentes com patologia localizada têmbom prognóstico, ao contrário dos doentescom formas multicêntricas, sobretudo seassociadas ou complicadas por infecçõesou neoplasias10-12.Assim, o patologista deve incluir a hiper-plasia linfóide angiofolicular no diag-nóstico diferencial de massas mediastínicase distinguir entre formas localizadas eformas multicêntricas que condicionamdiferentes prognósticos13.

BibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografia1. Castleman B, Iverson L, Menendez VP. Localizedmediastinal lymph node hyperplasia resembling thy-moma. Cancer 1956; 9:822-830.2. Keller AR, hochholzer L, Castleman B. Hyaline-vascular and plasma-cell types of giant lymph nodehyperplasia of the mediastinum and other locations.Cancer 1972; 29:670-683.3. Bragg DG, Chor PJ, Murray KA, Kjeldsberg CR.Lymphoproliferative disorders of the lung: histopa-thology, clinical manifestations, and imaging features.AJR Am J Roentgenol 1994;163 (2):273-81.4. Ozkan H, Tolunay S, Gozu O, Ozer ZG. Giantlymphoid hamartoma of mediastinum (Castlemandisease). Thorac Cardiovasc Surg 1990; 38(5):321-3.5. Menke DM, Tiemann M, Camoriano JK, et al. Di-agnosis of Castleman’s disease by identification of animmunophenotypically aberrant population of man-tle zone B lymphocytes in paraffin-embedded lymphnode biopsies. Am J Clin Pathol 1996;105:268--276.6. Yoshizaki K, Matsuda T, Nishimoto N, et al. Patho-genic significance of interleukin-6 (IL-6/BSF-2) inCastleman’s disease. Blood 1989;74:1360-1367.7. Leger-Ravet MB, Peuchmaur M, Devergne O, etal. Interleukin-6 gene expression in Castleman’s di-sease. Blood 1991;78:2923-2930.8. Gessain A, Sudaka A, Brière J, et al. Kaposi’s sar-coma – associated herpes virus-like DNA sequencesin multicentric Castleman’s diseas: Is there any re-levant association in non-human immunodeficiencyvirus-infected patients? [letter]. Blood 1996;87:414-416.9. Luppi M, Barozzi P, Majorana A, et al. Humanherpesvirus-8 DNA sequences in human immuno-deficincy virus-negative angioimunoblastic lympha-denopathy and benign lymphadenopathywith giantgerminal center hyperplasia and increased vascularity.Blood 1996;89(9):3903-3909.10. Weisenburger DD, Nathwani BN, Winberg CD,et al. Multicentric angiofollicular lymph node hyper-plasia: a clinicopathologic study of 16 cases. HumPathol 1985;16:162-172.11. Frizzera G, Peterson BA, Bayard ED, et al. A sys-temic lymphoproliferative disorder with morphologicfeatures of Castleman’s disease: clinical findings andclinicopathologic correlations in 15 patients. J ClinOncol 1985;3:1202-1216.12. Rosai & Ackerman´s Surgical Pathology – Vol 2

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– Chapter 12. Morby, 2004.13. Travis W, Brambilla E, Muller-Hermelink HK,

Harris C: Tumours of the Lung, Pleura, Thymus andHeart. IARC Press 2004.