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CONCEITOS E FUNÇÕES DA ARTE

O QUE É ARTE?

Qual a forma mais adequada para se definir o que vem a ser arte? Todo trabalho fruto da

criatividade é uma obra de arte? Perguntas como essas são difíceis de responder, pois não é possível

colocar limites ao trabalho artístico. No máximo, o que se pode fazer é julgar tecnicamente uma obra,

levando-se em consideração a utilização dos elementos da composição cênica, o contexto histórico no

qual está inserido o autor, o estilo ao qual ele pertence e suas maiores preocupações ao conceber tal obra.

Entender o porquê de uma obra talvez seja mais fácil do que buscar defini-la como uma

obra artística ou não. Perceber sua significação histórica provavelmente nos trará mais frutos do que nos

prendermos somente ao ideal de beleza ou mesmo de artes sublimes. Assim, numa formulação bastante

simples, podemos conceber como uma produção artística toda e qualquer obra que expressasse as ideias

de alguém ou de algum grupo de pessoas de forma simbólica por meio da utilização dos elementos

compositivos, combinando-os do modo que achar mais adequado. Vale lembrar que a obra pode

apresentar apenas um objetivo meramente ornamental, sem se voltar para a transmissão de conceitos ou

pensamento.

Partindo desse princípio, notaremos que não só as pessoas que fazem cursos específicos

estão aptas a produzir obras artísticas. Até crianças podem fazê-las, apesar de sabermos que os motivos,

o domínio da técnica e o estilo são bem diferentes. A arte é, pois, uma forma de comunicação.

FUNÇÕES DA ARTE

De acordo com o interesse do artista e conforme o contexto histórico no qual está inserido, a

arte pode apresentar funções diferentes.

Função cognitiva ou pedagógica da arte: apresentar-nos eventos pertinentes à esfera dos

sentimentos, que não são acessíveis ao pensamento discursivo. Através da arte somos levados a conhecer

nossas experiências vividas, que escapam à linearidade da linguagem. A lógica é suspensa e eu vivo

meus sentimentos, sem tentar traduzi-los em palavras. Numa civilização onde cada vez são mais estritos

os espaços destinados à imaginação, onde o racionalismo elegeu o “realismo” como norma de ação e

onde até mesmo o prazer deve ser comprado, a arte pode construir-se num elemento libertador.

Justamente por negar a supremacia do conhecimento exato, quantificável, em favor da lógica do coração;

por guardar em si um convite para que a imaginação atue em favor da vida dos sentimentos.

Até aqui consideramos estes dois fatores pedagógicos da arte: a livre atuação da imaginação e o

conhecimento dos nossos sentimentos, que ela possibilita. Há que se considerar, por outro lado, que a

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arte não apenas permite que conheçamos nossos sentimentos, mas também propicia o seu

desenvolvimento, a sua educação – fato este a ser assinalado como o terceiro fator educativo da arte.

Como, então, podem ser desenvolvidos e educados os sentimentos?

Da mesma forma que o pensamento lógico, racional, se aprimora com a utilização constante de

símbolos lógicos, os sentimentos se refinam pela convivência com os Símbolos da arte.

Quanto mais é o contato com a arte, maior é a bagagem simbólica para “representar” e,

consequentemente, compreender as minúcias do sentimento. Ao saber como expressar ou saber onde

(em quais obras) encontrar expressos os meus sentimentos, possuo um guia seguro para desvelá-los e

entendê-los.

Quando dizemos que uma obra de arte é “aberta”, significa dizer que o sentido expresso por

ela se completa através da atuação do espectador, ou seja, a obra de arte, não transmitindo um

significado explícito, mas expressando um campo geral de sentidos, possibilitando ao espectador a sua

compreensão (fruição) segundo os seus próprios sentimentos.

“A obra de arte deve apoderar-se da plateia não através da identificação passiva, mas

através de um apelo à razão que requeira ação e decisão. As normas que fixam as relações entre os

homens hão de ser tratadas no drama como temporárias e imperfeitas, mas de maneira que o espectador

seja levado a pensar no curso da peça e incitado a formular um julgamento, afinal, quanto ao que viu...”

Mais uma vertente pedagógica da arte diz respeito à oportunidade que ela nos fornece para

sentir e vivenciar aquilo que, de uma forma ou de outra, nos é impossível experimentar na vida

cotidiana. E isto é a base para que se possa compreender as experiências vividas por outros homens.

Quando no cinema, sinto as emoções do alpinista, quando, no teatro, sinto o drama dos

migrantes, ou ainda frente à tela de Goya, sinto o horror em face do pelotão de fuzilamento, descubro

meus sentimentos frente a situações (ainda) não vividas por mim, que não me são acessíveis no meu dia-

a-dia.

Cada cultura possui uma forma própria de sentir um determinado sentimento básico,

comum a todos os seus membros; tal sentimento caracteriza o que chamamos de “personalidade de base”

ou “personalidade cultural”. E ainda, as culturas “civilizadas” são históricas, ou seja, modificam-se no

tempo, alterando seus sentimentos, sentidos e construções.

Neste contexto, a arte caracteriza-se por exprimir – em relação às questões da existência

humana – os sentimentos da cultura e da época em que foi produzida. Aquilo se nomeia como o “estilo”

de um dado período histórico, nada mais e que a utilização de determinadas formas de expressão, ou de

determinados códigos, pautados no “sentimento da época”.

Conhecendo a arte de meu tempo e cultura, adquiro os fundamentos que me permitem uma

concomitante compreensão do sentido vivido aqui e agora. E mais: conhecendo a arte preterida da

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cultura onde vivo, posso vir a compreender as transformações operadas no seu modo de sentir e entender

a vida ao longo da história, até os meus dias.

Em termos interculturais a arte também apresenta um importante elemento pedagógico. Na

medida em que nos é dado experienciar a produção artística de outras culturas, a compreensão dos

sentidos alienígenas torna-se mais fácil. Isso, porque, através da arte, pode-se participar dos elementos

do sentimento que fundam a cultura estrangeira em questão, o que é o primeiro passo para que (a partir

de nossa “visão de mundo”) se interpretem os seus sentidos explícitos.

Porém, há que se ressaltar, que, dada sua quase universalidade, a arte tem-se mostrado como um

meio eficaz para a invasão cultural. Através dela torna-se mais fácil moldar os sentimentos da cultura

invadida, para que sinta e interprete o mundo segundo os padrões dos invasores. Quando um povo

abandona seus padrões estéticos em favor de padrões estrangeiros, brotados de condições diversas de

vida, deixa de sentir com clareza. Perde-se em símbolos que não lhe são totalmente expressivos,

acabando por produzir uma arte amorfa, inexpressiva e sem vida. Acabando por produzir uma arte que

corrompe seus próprios sentimentos, ocultando-os, mais que os desvelando.

Por fim, deve-se considerar o elemento utópico envolvido na criação artística. A utopia diz

sempre respeito à proposição daquilo que ainda não existe. Constitui-se em elemento importante dentro

de uma sociedade na medida em que significa um projeto, um desejo de transformação, que permite

dirigir o olhar dos outros para direções até então insuspeitas.

Outra função da arte é a Individual, que se refere ao ser humano em si, tanto o autor do trabalho

quanto o seu observador. Ela trata da importância que a arte tem para quem a produz, pois permite

externar o seu modo de ver o mundo que o cerca e também suas emoções; mas ela também se liga à

importância que a obra tem para o observador, o qual pode, no contato com a arte, adquirir

conhecimentos, vivenciar emoções, ver o mundo por outro ângulo ou, pelo menos, embelezar seu

ambiente. Em última análise, a arte ajuda as pessoas a aprimorarem o seu senso estético (capacidade para

reconhecer e familiarizar-se com o que é belo) e o seu senso crítico (capacidade de refletir de forma

questionadora o coerente acerca de um determinado assunto.

Outras duas funções são a Social ou Utilitária e a Ambiental.

Social: Pensando em termos de sociedade, podemos verificar que a arte, a partir do momento em

que colabora para que um indivíduo tenha possibilidade de desenvolver seu senso estético e seu senso

crítico, ajudará não só a tornar as pessoas melhores como seres humanos, mas poderá colaborar de modo

decisivo para a melhoria das relações interpessoais e da própria organização social. De acordo com essa

visão, a arte está a serviço de uma causa maior – a religião, o Estado, o comércio, etc.

Ambiental: Trata das possibilidades de dar aos diversos ambientes um acabamento e uma

configuração de acordo com as intenções do indivíduo, procurando unir a beleza plástica com a

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funcionalidade dos espaços. Vê-se muito bem esta relação quando estudamos a arquitetura e as artes

decorativas, pois são linguagens mais voltadas para uma caracterização simbólica dos diversos

ambientes criados pelo homem no decorrer da história da humanidade.

Para se julgar a qualidade de um trabalho é importante conhecer os fundamentos que existem à

respeito das imagens e os motivos do artista para realizar esta ou aquela obra de arte.

Assim, teremos as funções formalista e naturalista.

Formalista – do ponto de vista formalista, vamos procurar analisar em cada obra os princípios

que determinam sua organização interna, os elementos da composição e as relações que existem entre

eles. Esta função realça a importância como um momento em que, pela percepção e pela intuição, temos

uma consciência intensificada do mundo. Dessa maneira, a função formalista valoriza a beleza dos

próprios objetos, a atenção aos materiais básicos e às formas.

Naturalista – na função naturalista a arte está voltada para o conteúdo. A arte, dessa maneira

comunica ideias e sentimentos que estão relacionados ao modo como o artista deu forma ao material.

Nessa função o importante é o poder da imagem para provocar emoções e a comunicação de ideias

pessoais. Estética desse tipo de arte dever estar associada a uma grande ideia – a função é tornar o

cotidiano mais significativo e profundo

Em suas ramificações mais comuns, temos diversas outras funções, as quais variam de acordo

com a intenção do autor e de cada obra: função religiosa, política, decorativa, sociológica e comercial.

(Material produzido pelo Prof. Wagner Bôa Morte)