HISTÓRIA DE UM GANSO
A gansa Inácia tinha
posto doze ovos e
chocara-os a todos, por
isso estava à espera de
ser contemplada com
doze gansozinhos muito
branquinhos e a grasnar
todos em sinfonia.
Havia de lhes ensinar a voar e em formação de V percorreriam o céu e desceriam ao mar para pescar algum peixe que descortinassem lá do alto.
No entanto, a mãe natureza quis que um dos gansos fosse
castanho e não tivesse uma asa! Como haveria ele de se
elevar às alturas e descer em voo picado sobre as ondas para
recolher o seu alimento?
A mãe desesperou! A cooperação, apanágio dos gansos que
voavam em formação de V e que substituíam o que ia na
dianteira quando ele se cansava ia cair por terra. Como havia
o seu pequenino de se desenvolver como os outros e de se
sentir feliz?
Como não deixava de se preocupar com o seu
gansozinho, foi outra vez ter com o pelicano Amâncio,
pássaro de muitos saberes.
Tens muitas hipóteses de
tornar o teu pequeno tão feliz
como os outros. Tens é que
pensar na hipótese mais
válida para todos. Pensa no
que tornará toda a tua
família mais feliz e unida. Tu
é que tens de encontrar a
resposta! – respondeu
Amâncio.
A gansa que esperava uma solução certeira, voltou
acabrunhada mas pensativa e com vontade de encontrar uma
resposta.
Reuniu, então, o ganso pai e
todas os gansozinhos e
gansozinhas:
-Temos de encontrar uma
solução para continuarmos a
cooperar uns com os outros
como é apanágio das famílias
gansas.
O Gansozinho castanho tem
que ser integrado no bando!
Temos de pensar na
maneira de o fazer
sentir-se útil e feliz -
observou um dos
irmãos - se ele não
pode pescar no mar,
pesca no rio, tornamo-
nos todos gansos de
rio e lago.
Sobreviveremos!
Pois é, mas é tão
bonito subir lá acima e
em voo picado descer
sobre um peixe que
saltita no mar, vamos
perder uma parcela tão
boa da vida? – replicou
um outro.
A mãe gansa também não queria
prejudicar os seus outros filhotes e
começava já a desesperar, quando se
abeirou deles o pelicano com a boca cheia
de penas largadas por alguma ave
Então um dos gansozinhos entusiasmado
gritou:
- Ó mãe, ó mãe, descobri a solução!
Os humanos voam e não têm asas, são
bons artesãos!
Fazemos uma asa postiça e ensinamos o
gansozinho a voar !
Vai ser lindo, quando voarmos em formação de V, qual linhas
convergentes brancas, mas com um ponto todo preto, como
chave que abre as portas de um outro mundo, ainda mais
solidário! O gansozinho castanho se não puder ir à frente irá na
cauda, mas irá e nós estaremos atentos para o estimularmos e
o ampararmos.
A mãe gansa ouvindo
isto, tratou logo dos
preparativos para a
confeção da asa e para
as aulas de voo.
Mais uma vez pediu
ajuda ao pelicano.
Este, prestável,
trabalhou com afinco.
Por fim puderam fazer todos o voo experimental.
Não iam tão depressa como gostariam, mas iam tão felizes
que parece que o coração estalava e saltava cá para fora –
coração de ganso castanho e branco numa onda de
felicidade de espuma e céu.
Maria de Fátima Gomes
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