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O impacto da regulamentação da oferta de alimentos nas cantinas escolares sobre o consumo
alimentar dos estudantes
Kalinca Léia Becker1
Marcela Nogueira Ferrario2
Jaqueline Severino da Costa3
Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar o efeito da regulamentação da oferta de alimentos nas
cantinas das escolas brasileiras sobre o consumo alimentar dos alunos. As estimativas foram
calculadas por meio do método de Propensity Score Matching utilizando os microdados da POF
2017-2018 (IBGE). Nas escolas privadas, os resultados indicaram que a regulação contribuiu para
reduzir o consumo de sódio em 92 mg e de gorduras saturadas em 0,42 g. Nas escolas públicas não
foram observadas evidências significativas.
Palavras-chave: alimentação, saúde, escola, políticas públicas.
The impact of regulation of food supply in school canteens on student food consumption
Abstract: The objective of this paper was to analyze the effect of the regulation of food supply in
Brazilian schools' canteens on the food consumption of students. Estimates were calculated using the
Propensity Score Matching method and the POF 2017-2018 (IBGE) microdata. In private schools,
the results indicated that regulation contributed to reducing the consumption of sodium by 92 mg and
saturated fats by 0.42 g. In public schools, no significant evidence was observed.
Keywords: food, health, school, public policies.
JEL: I18, I28, H51, H52
Área 12 - Economia Social e Demografia Econômica
1. Introdução Estimativas apontam que em 2025, mais de 2,3 bilhões indivíduos estariam acima do peso,
sendo que desse total 700 milhões estariam com obesidade mórbida (WHO, 2015). Este problema é
ainda mais preocupante quando observado entre crianças e adolescentes. Na infância, fatores como o
excesso de peso e obesidade podem ser uma das causas da hipertensão arterial na vida adulta (Souza
et al.; 2016; Pinto et al.; 2011). Embora grande parte de doenças como aumento de pressão arterial e
diabetes tenha prevalência na fase adulta, existem evidências de que o processo começa na infância
ou na adolescência (Schaan et al., 2018). Uma pressão arterial elevada na infância significa que existe
um risco de 2,4 vezes de ocorrer hipertensão arterial na vida adulta (Souza et al.; 2016; Pinto et al.;
2011).
A prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e adolescentes, com idade de 5 a 19
anos, é global e afeta de forma contínua países desenvolvidos como Estados Unidos, mas sobretudo
muitos países em desenvolvimento como Chile, China, México, entre outros que experimentaram
crescimento econômico e rápida urbanização (Nguyen et al., 2021; Levasseur, 2021; Al- Jawaldeh et.
al., 2020, Antwi et al., 2012). No Brasil, 16,33% das crianças com idade entre cinco e dez anos estão
com sobrepeso; 9,38% com obesidade; e 5,22% com obesidade grave. Entre os adolescentes, 18%
apresentam sobrepeso; 9,53% são obesos; e 3,98% têm obesidade grave (Vigilância Alimentar e
Nutricional, 2019).
1 Professora na Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: E-mail: [email protected] 2 Professora na Universidade Federal de Integração Latino-Americana. E-mail: E-mail: [email protected] 3 Professora na Universidade Federal de Lavras. E-mail: E-mail: [email protected]
2
Mancini et al. (2016) estimou que, no Brasil, os gastos com hospitalização de crianças e
adolescentes decorrentes de doenças vinculadas ao sobrepeso e obesidade ultrapassou os 100 milhões
de dólares/ano a partir dos anos 2000.
Além dos custos individuais com saúde, o consumo de alimentos não saudáveis têm efeitos
negativos para a saúde pública coletiva, uma vez que carreia recursos financeiros de outros setores
da sociedade para aplicar em tratamentos farmacológicos e hospitalares de doenças crônicas, além de
pressionar o sistema de saúde e causar custos sociais imensuráveis na medida em que prejudicam o
crescimento e desenvolvimento dos indivíduos, causam desemprego, perpetuam os salários baixos e
elevam problemas psicossociais (Anttila et al., 2021; Levasseur, 2021; Al- Jawaldeh et. al., 2020,
Abarca-Gómez et al., 2017; De Onis, 2016, Antwi et al., 2012, Currie, 2009).
Em decorrência desse problema vários governos vêm regulamentando, via aumento de
impostos ou proibições, a venda de comida e bebida não saudáveis (Junk Food) no ambiente escolar.
A utilização de políticas públicas aplicadas as escolas podem ser exitosas na mitigação da obesidade
infantil e sobrepeso, uma vez que pode provocar mudanças nos hábitos alimentares dos estudantes,
(Nguyen et al., 2021; Levasseur, 2021; Antwi et al., 2012; Haerens, et al.,2007; Anderson e Butcher,
2006; Kwan et al., 2005). Ademais, intervenções no comportamento de consumo de crianças e
adolescentes podem contribuir para a prevenção de doenças decorrentes do consumo de alimentos
não saudáveis (Pimenta et al., 2015, Ochola e Masibo, 2014; Mariz et al, 2015).
Contudo, mesmo com a implementação de políticas que regulamentam a alimentação no
ambiente escolar nos países desenvolvidos (Estados Unidos, Canadá, Inglaterra) e em
desenvolvimento (Vietnã, China, Índia e Brasil), muitas escolas continuaram a ofertar alimentos não
saudáveis. Alguns estudos apontam haver uma correlação entre consumo de Junk Food e aumento de
peso e obesidade entre crianças e adolescentes (Gupta et al., 2021; Al- Jawaldeh et. al., 2020; Leonard,
2017; Ochola e Masibo, 2014; Reilly e Kelly, 2011; Haerens et al., 2007; Anderson e Butcher, 2006;
Reilly e Dorosty, 1999) enquanto outros não observaram o mesmo efeito (Datar e Nicosia, 2012).
Muitas vezes a não adesão às políticas de intervenção é justificada pela percepção de que ainda não
existe um consenso na literatura sobre existência ou não dessa relação. Contudo, esses resultados,
podem estar relacionados aos métodos de estimação utilizados nas pesquisas, visto que muitas vezes
encontram correlações entre as variáveis, mas não estabelecem relação de causa e efeito entre
consumo de junk food, sobrepeso e obesidade (Levasseur, 2021).
No Brasil, alguns estudos conduzidos no estado de São Paulo buscaram avaliar se o consumo
de alimentos em cantinas escolares provocava aumento de peso ou obesidade em crianças e
adolescentes. Os resultados mostraram que grande parte dos estudantes consumiam alimentos
disponíveis nas cantinas escolares e que esse consumo poderia aumentar a incidência de sobrepeso e
obesidade entre crianças e adolescentes (Oliveira et al., 2010, Danelon e Silva, 2006, Carvalho, 2005;
Caroba e Da Silva, 2005).
Nesse sentido, estudos e diagnósticos precoces sobre alterações decorrentes de dietas
consideradas não saudáveis podem direcionar o desenvolvimento de políticas públicas preventivas
ou intervencionistas que mostre efetivamente essa relação de causa e efeito. Essas políticas têm o
objetivo de promover no ambiente escolar um estilo de vida mais saudável entre crianças e
adolescentes de modo a evitar o aparecimento precoce de doenças cardiovasculares e diabetes
decorrentes de sobrepeso e obesidade (Anttila et al., 2021; Levasseur, 2021; Datar e Nicosia, 2012;
Souza et al.; 2016; Pinto et al.; 2011; Jaime e Lock, 2009).
Alguns estudos mostraram que políticas de intervenção como a introdução de regulamentação
que proíbe a venda de doces, salgadinhos, refrigerantes, entre outros, nas cantinas escolares têm
impacto sobre a redução no consumo de junk food no ambiente escolar. Em decorrência dessas
intervenções, o comportamento alimentar dos estudantes no ambiente escolar se modificou observou-
se uma redução no consumo desse tipo de alimento entre as crianças e os adolescentes (Levasseur,
2021; Jaime e Lock, 2009; Kwan et al., 2005).
3
Diante dessa percepção de que essas políticas são importantes para modificar o
comportamento de consumo de crianças e adolescentes, doze das vinte e sete Unidades da Federação,
no Brasil, aderiram às políticas de restrição do consumo de alimentos não saudáveis nas cantinas
escolares. Nesse sentido, esse estudo contribui para a literatura na medida em que buscou verificar o
impacto dessas leis que regulamentam a oferta de alimentos nas cantinas escolares sobre o consumo
de nutrientes dos estudantes no ambiente escolar. A expectativa é que essas leis reduzam o consumo
de alimentos não saudáveis de crianças e adolescentes no ambiente escolar. Além disso, outras
contribuições deste trabalho são a utilização de uma base de dados como a Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF), de 2017-2018, que possui uma riqueza de informações sobre o consumo diário de
macro e micronutrientes e o recorte entre as escolas privadas e escolas públicas. Para mensurar o
impacto utilizou-se o método de Propensity Score Matching.
2.3 Legislação sobre o consumo de alimentos nas escolas
O estado de Santa Catarina, foi o primeiro a regulamentar a oferta de alimentos nas escolas,
por meio da Lei no 12.061 de 18 de dezembro de 2001. A Lei objetivou mitigar os efeitos de uma
alimentação inadequada em crianças e adolescentes ao regulamentar os alimentos comercializados
nas cantinas das escolas. A Lei contemplava escolas públicas e privadas do ensino básico.
No estado do Paraná, a Lei estadual n.º 14.423 de 02 de junho de 2004 e a Lei estadual n.º
14.855 de 19 de outubro de 2005 passaram a proibir a comercialização de alimentos não saudáveis4
nas cantinas escolares na rede pública e privada da educação básica. Além de impor que estes
estabelecimentos ofereçam alimentos saudáveis.
A Lei nº 8.681 de 13 de julho de 2007 promulgada pelo estado de Mato Grosso proibiu a
oferta de alimentos não saudáveis nas unidades escolares, públicas e privadas, que atendam a
educação infantil e básica.
O Rio Grande do Norte por meio da Lei nº 9.434 de 27 de dezembro de 2010 proibiu a
comercialização de gêneros alimentícios que contenham nutrientes comprovadamente prejudicial à
saúde, por particulares como lanchonete, cantinas, no interior das escolas estaduais.
No Estado de Mato Grosso do Sul, a Lei nº 4320 de 26 de fevereiro de 2013 proibiu a proibiu
a comercialização, confecção e distribuição de produtos não saudáveis que contribuam com riscos à
saúde ou à segurança alimentar dos consumidores em cantinas e similares instalados em escolas
públicas.
A Portaria nº 38-R, de 06 de abril de 2010 regulamentou o funcionamento de cantinas
escolares quanto a oferta de alimentos não saudáveis na rede estadual de ensino Espírito Santo.
O estado do Amazonas proibiu, por meio da Lei nº 4.353 de 05 de julho de 2016, a
comercialização, aquisição e distribuição de produtos não saudáveis que colaborem para a obesidade
infantil, em cantinas e similares instalados em escolas públicas e privadas.
No estado do Sergipe, a Lei nº 8178-A de 21 de dezembro de 2016 proibiu a comercialização
de alimentos não saudáveis em cantinas e similares que contribuam para o aumento da obesidade
infantil nas escolas públicas e privadas situadas
A Lei nº 4508 de 11 de janeiro de 2005 e tinha como objetivo proibir “a comercialização,
aquisição, confecção e distribuição de produtos não saudáveis que colaborem para a obesidade
infantil em bares, cantinas e similares instalados em escolas públicas e privadas” no estado do Rio de
Janeiro. Posteriormente, a Lei 6590/13 e a Lei nº 6590, de 18 de novembro de 2013 obrigaram bares,
lanchonetes, restaurantes e estabelecimentos similares, cantinas e quiosques, que funcionam no
4 Alimentos não saudáveis considerados na legislação são bebidas alcoólicas, doces, refrigerantes, sucos artificiais,
salgadinhos, biscoitos recheados, frituras bebidas alcoólicas; refrigerantes; balas, pirulitos, gomas de mascar e afins;
alimentos industrializados com teores elevados de gorduras saturadas, gorduras trans e sal; salgados fritos;, doces, balas,
gomas, biscoitos recheados, biscoitos salgados tipo aperitivo, sorvetes cremosos, frituras em geral, salgados folheados,
pipoca industrializada, refrescos artificiais, refrigerantes, bebidas à base de xarope de guaraná ou groselha, bebidas
isotônicas, ou qualquer alimentos que contenham nutrientes comprovadamente prejudiciais à saúde
4
ambiente escolar da rede particular de ensino, disponibilizar informações sobre quantidade de
calorias; a presença de glúten; concentração de carboidratos e lactose e a concentração de
triglicérides, colesterol, fibras, sais minerais como sódio, cálcio, ferro, potássio, e vitaminas no
rótulos dos alimentos comercializados. Já as Lei 6859/14 e Lei nº 6859 de 07 de julho de 2014, têm
como objetivos disporem sobre a organização e o funcionamento (local, aluguel, locação,
remuneração, horários, etc) das cantinas escolares na rede pública de ensino.
O estado do Piauí por meio da Lei nº 7.028 de 22 de agosto de 2017, dispõe sobre a
obrigatoriedade de informar aos consumidores sobre os ingredientes utilizados no preparo dos
alimentos fornecidos por restaurantes, cantinas escolares, hospitais, confeitarias, padarias,
sorveterias, hotéis e similares. Assim, cabe aos estabelecimentos a menção sobre a existência ou a
inexistência de glúten, lactose e açúcar. As informações deverão ser disponibilizadas em tabelas
visíveis e legíveis dispostas na entrada dos estabelecimentos ou em cardápios impressos, e nos
cardápios disponíveis em páginas na internet. De forma complementar, a Instrução Normativa
GSE/ADM nº 001, de 05 de março de 2018 estabeleceu o uso obrigatório de equipamentos de
proteção individual (EPI) na manipulação de alimentos em Escolas Públicas da Rede Estadual de
Educação para garantir a segurança alimentar e nutricional, mas também a segurança do manipulador
de alimentos.
O Decreto Estadual de nº 47.557 de 10 de dezembro de 2018 que regulamenta a Lei 18.372
de 4 de setembro de 2009, resolve que todas as escolas públicas e privadas de Minas Gerais deveriam
adequar suas cantinas para a promoção de uma educação alimentar e nutricional baseada em uma
alimentação saudável, além de proibir a comercialização desses produtos em cantinas e similares
instaladas em escolas públicas e privadas do Estado, de modo a influenciar na redução da obesidade,
diabetes e a hipertensão entre crianças e adolescentes. No Distrito Federal, a Lei n.º 3.695 de 8 de novembro de 2005 proibiu a comercialização de
produtos não saudáveis nas dependências das cantinas das escolas. Posteriormente, o Decreto nº
36.900 de 23 de novembro de 2015 regulamentou a Lei nº 5.146 de 19 de agosto de 2013, cujo
objetivo era promoção de uma alimentação saudável nas escolas do Distrito Federal. De forma
complementar, a Lei nº 6.475 de 03 de janeiro de 2020 proibiu a oferta de embutidos na composição
da merenda escolar servida nas escolas públicas do Distrito Federal.
3. Procedimentos Metodológicos
3.1 Fonte de dados
A base de dados utilizada nesta pesquisa foi a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF),
elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A POF é uma pesquisa de
natureza amostral e tem como finalidade coletar informações sobre despesas, rendimentos e consumo
dos indivíduos e das unidades de consumo do Brasil. Essa pesquisa foi executada nos biênios de
1987-1988, 1995-1996, 2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018, porém foi apenas na edição 2003/2004
que ela tomou uma dimensão nacional. A edição de 2017-2018 possui uma amostra de 58.039 famílias
ou “unidades de consumo” e apresentou um contingente de 178.431 pessoas. Ao se utilizar a
ponderação do fator de expansão da amostra essas pessoas passaram a representar uma população de
69.017.704 famílias e 207.103.790 indivíduos.
A POF tem como foco investigar as despesas das famílias sejam elas monetárias e não
monetárias nas seguintes categorias: Alimentação, Habitação, Vestuário, Transporte, Higiene e
Cuidados Pessoais, Assistência à Saúde, Educação, Recreação e Cultura, Serviços Pessoais etc.
Contudo, neste trabalho utilizou-se apenas as informações referentes ao consumo alimentar e
nutrientes, fora do domicílio, especificamente no ambiente escolar brasileiro.
3.2 Método de avaliação de impacto O propósito deste estudo é estimar o efeito da legislação dos Estados que regula a oferta de
alimentos nas cantinas escolares sobre o consumo de sódio, carboidrato, gordura trans e gordura
saturada dos jovens em idade escolar, com base nas informações da POF 2017-2018. Para isso,
5
utiliza-se o estimador de propensity score matching, que busca estimar o efeito médio do tratamento
nos tratados (βATT). Para isso, considera-se, primeiramente, a seguinte equação:
𝛽𝐴𝑇𝑇 = 𝐸(𝑌𝑖1 − 𝑌𝑖
0) (1)
Em que Yi é o resultado observado do aluno i no caso de frequentar a escola em um Estado
que possui legislação (𝑌𝑖1) e no caso um Estado que não possui legislação (𝑌𝑖
0). Como, na prática, 𝑌𝑖1
e 𝑌𝑖0não são observáveis para o mesmo aluno i, considera-se Y1 como os resultados potenciais para o
grupo de tratamento (alunos em Estados com legislação) e Y0 como os resultados potenciais para o
grupo de controle (alunos em Estados sem legislação), respectivamente.
Dessa forma, para estimar β é preciso encontrar indivíduos pertencentes aos grupos tratado e
controle que possam ser comparados, depois de ajustadas às características observáveis contidas em
um vetor Xi, com base na hipótese de independência condicional Y1, Y0 ╨ Si | Xi, onde Si é o tratamento,
ou seja, Estado com legislação para a oferta de alimentos nas cantinas (Angrist e Pischke, 2009).
Apesar de ser uma hipótese forte, a base de dados da POF fornece uma série de características
observáveis dos estudantes que podem afetar tanto o tratamento quanto o resultado.
Mesmo assim, para testar a validade da hipótese de independência condicional, utiliza-se o
método proposto por Oster (2019) para estimar bounds para o efeito de tratamento, com base no
pressuposto de que a seleção nos controles observáveis Xi é proporcional à seleção nos controles não
observados. Dessa forma, pode-se definir um coeficiente de proporcionalidade δ para fornecer
informações sobre como as não observáveis se relacionam com o tratamento S, dado que é conhecido
como as observáveis se relacionam com tal tratamento. Assim, se o vetor Xi contém as informações
dos alunos no grupo controle e tratamento, é possível construir o contra factual para o aluno tratado
e, então, estimar o resultado do aluno no caso de frequentar a escola em um Estado que não possui
legislação.
O propensity score ou probabilidade de o aluno ser tratado, p(Xi), permite encontrar o efeito
do tratamento para cada valor de Xi através da diferença das médias de Y1 e Y0 (Rosenbaum e Rubin,
1985). Dessa forma, a equação (1) pode ser reescrita como:
𝛽ATT = 𝐸{𝐸[𝑌𝑖 ∨ 𝑝(𝑋𝑖), 𝑆𝑖 = 1] − 𝐸[𝑌𝑖 ∨ 𝑝(𝑋𝑖), 𝑆𝑖 = 0]} (2)
Estima-se o propensity score através de um modelo probit, fazendo o matching do grupo de
tratamento com o grupo de controle. Para o pareamento entre os alunos tratados e não tratados são
utilizados três algoritmos: 1 vizinho mais próximo, 5 vizinhos mais próximos, e kernel matching (uma
pessoa tratada comparada com uma ponderação das pessoas do controle). Para avaliar a qualidade do
pareamento são utilizados os testes propostos por Dehejia e Wahba (2002). Os valores do Pseudo-R2
próximos a zero indicam que o modelo tem menor poder para explicar a condição de tratamento,
evidenciando uma boa qualidade do pareamento. Uma evidência adicional é a não significância
conjunta dos regressores no teste da Razão de Verossimilhança (LR).
3.2 Descrição dos grupos controle e tratamento
O grupo tratamento é composto pelos estados que implementaram leis5 que regulam a oferta
de alimentos nas cantinas escolares, conforme o Quadro 1, que são: Amazonas, Espírito Santo, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa
Catarina, Sergipe e também o Distrito Federal.
O grupo controle é composto pelos estados que não possuem regulação expressa de restrição
dos alimentos comercializados no ambiente escolar, que são os Estados do Acre, Alagoas, Amapá,
Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rondônia, São Paulo e Tocantins. O Rio
Grande do Sul também foi considerado como grupo controle, uma vez que a Lei foi implementada
em julho de 2018 e os dados da POF foram coletados em 2017-2018.
5 Foram consideradas Leis e Portarias
6
4. Descrição das variáveis e estatísticas descritivas
4.1 Análise das características observáveis, escolaridade do chefe e renda domiciliar per capita. A Tabela 1 traz informações para os grupos de tratados (Unidades da Federação que possuem
legislação sobre o consumo de alimentos nas cantinas escolares) e não tratados (Unidades da
Federação que não possuem legislação sobre o consumo de alimentos nas cantinas escolares) para as
escolas públicas e privadas.
Ao analisar a cor/raça dos estudantes, é possível observar que a proporção de não brancos
corresponde a grande maioria dos alunos que frequentam as escolas públicas. Contudo, ao se analisar
as escolas privadas, essa proporção se inverte, visto que grande parte dos estudantes são de cor branca.
Considerando que a amostra da POF é constituída por estudantes com idade entre 10 e 18
anos, pode-se verificar que a idade média dos estudantes analisados fica próxima dos 13 anos. Desse
contingente, observa-se que há um predomínio de indivíduos do sexo feminino que frequentam
escolas públicas, enquanto que nas escolas privadas, os estudantes do sexo masculino correspondem
a grande maioria.
A escolaridade média do chefe de família é de 6,8 anos para crianças e adolescentes que
frequentam escola pública e são do grupo de não tratados e de 7,6 anos para quem frequenta escola
pública, mas pertence ao grupo de tratados. Contudo, quando se analisa a escolaridade dos chefes de
família que têm filhos matriculados no ensino privado, é possível observar que a escolaridade é 11,6
anos para o grupo não tratado e de 12,4 para o grupo de tratados.
De maneira geral, é possível observar que a idade média dos chefes de domicílios com
crianças e adolescentes matriculados na rede de ensino privada é superior a idade observada para
aquelas crianças e adolescentes que frequentam escola pública. A idade média dos chefes de família
que possuem crianças e adolescentes que frequentam escolas públicas é de 45,3 anos e escolas
privadas para os não tratados é de 45,8 anos. Porém, para o grupo tratado das escolas privadas essa
média fica em 48 anos (Tabela 1 em Anexo).
A proporção de lares chefiados por mulheres é maior para estudantes que frequentam escolas
públicas do que entre os estudantes que frequentam escola privada. Em termos percentuais
observados nas escolas públicas, pode-se verificar que de 40% a 45% dos lares são chefiados por
mulheres. No caso das escolas privadas, esse percentual diminui para valores próximos a 38% do
total.
Com relação às regiões geográficas, pode-se perceber que na região Nordeste, o grupo dos
não tratados são os que apresentam a maior proporção de crianças e adolescentes que frequentam
tanto escolas públicas quanto privadas. Já na região Sudeste ocorre a maior proporção de estudantes
que pertencem ao grupo de tratados tanto nas escolas públicas quanto nas privadas (Tabela 1 em
Anexo).
Como a escolaridade do chefe da família é uma variável comumente estudada na literatura, já
que possui efeitos positivos sobre a frequência escolar dos filhos, além das estatísticas apresentadas
na Tabela 1, optou-se por discutir escolaridade e gênero do chefe por rede de ensino, conforme o que
é apresentado na Figura 1.
Pode-se observar um maior nível de escolaridade dos chefes das famílias que têm filhos
matriculados na rede privada, aos chefes que têm filhos na rede pública. Além disso, ao analisar a
escolaridade do chefe por gênero, observou-se que mulheres com filhos matriculados na rede privada
têm escolaridade superior às mulheres com filhos matriculados na rede pública.
Verificou-se que apenas 16% das mulheres que têm seus filhos matriculados na rede privada
possuem menos de 8,7 anos de escolaridade. Já as mulheres com filhos matriculados no ensino
público, 55% têm escolaridade menor que a média de 8,7 anos de estudo. Quando o chefe da família
é um homem e tem filhos matriculados no ensino privado, 17% tem menos de 8,7 anos de estudo,
enquanto que 60% dos homens que têm filhos matriculados no ensino público tem menos de 8,7 anos
de estudo. Pode-se observar que grande parte dos chefes de famílias das crianças e adolescentes que
possuem filhos matriculados no ensino privado têm escolaridade acima de 12 anos de estudo, o que
7
corresponde a ter o ensino médio completo e isso acontece a partir do percentil 21 para as mulheres
e 27 para os homens. Para aqueles que são chefe e possuem filhos no ensino público isso acontece
para as mulheres no percentil 71 e para os homens no percentil 75.
Figura 1 – Distribuição da escolaridade do chefe da família por gênero e por rede de ensino. Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
A renda domiciliar per capita (Rendapc) média dos estudantes que frequentam escolas
privadas é maior se comparada à renda dos estudantes das escolas públicas. Para os estudantes de
escolas públicas, a renda domiciliar per capita do grupo dos não tratados é R$932,02, enquanto que
para o grupo dos tratados é R$ 1.193,83. Já para os estudantes de escolas privadas, a renda domiciliar
per capita para o grupo dos não tratados é de R$ 2.449,25 e para os pertencentes aos tratados é R$
2.970,48. Conforme dados apresentados na Tabela 1.
A Rendapc é uma variável relevante sobretudo quando está associada com a frequência escolar
de crianças e adolescentes. A Figura 2 apresenta a distribuição da Rendapc por percentis da
distribuição amostral. É possível observar que o comportamento de tratados e não tratados seguem
uma trajetória próxima tanto para as escolas públicas quanto para as escolas privadas, porém só a
partir dos percentis de maior renda há um distanciamento entre as curvas, sendo mais perceptível para
aqueles que frequentam escolas privadas. Ao utilizar a Rendapc média (R$ 1.363,67) da amostra
como referência pode-se verificar que para os domicílios com crianças e adolescentes matriculados
na escola pública só consegue ultrapassar esse valor a partir do percentil 84 para os não tratados e
percentil 75 para os tratados. A Rendapc dos estudantes que frequentam escolas privadas ultrapassa
a renda média da amostra no percentil 42 para os não tratados e percentil 30 para os tratados.
As variáveis de infraestrutura domiciliar como pavimentação de ruas, abastecimento de água,
domicílio próprio e se são de alvenaria, são relevantes para dimensionar a qualidade de vida das
crianças e adolescentes que frequentam a escola. Observa-se, a partir da Figura 3, que crianças e
adolescentes matriculados nas escolas privadas possuem melhor qualidade de infraestrutura
domiciliar, tanto o grupo de tratados como controle. Já os estudantes das escolas públicas possuem
patamares menores de qualidade infraestrutural domiciliar, quando comparados aos percentuais dos
estudantes das escolas privadas.
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Figura 2 – Distribuição para renda domiciliar per capita para estudantes que frequentam escolas
públicas e privadas dos grupos tratados e não tratados. Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
Figura 3 – Composição das variáveis de infraestrutura domiciliar de crianças e adolescentes que
frequentam escolas públicas e privadas para tratados e não tratados. Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018).
Ademais, pode-se observar que, na Figura 3a, menos de 72% das crianças e adolescentes que
frequentam escolas públicas residem em ruas pavimentadas. Para os estudantes das escolas privadas
esse valor é superior a 89%. Com relação ao abastecimento de água, pode-se observar na Figura 3b,
que menos de 83% dos estudantes de escolas públicas têm abastecimento de água, enquanto que para
os estudantes que frequentam escolas privadas esse valor ultrapassa os 90%.
A Figura 3c apresenta o percentual de crianças e adolescentes que residem em domicílios
próprios. É possível verificar que menos de 70% dos estudantes das escolas públicas residem em
casas próprias e mais 77% dos estudantes que frequentam escolas privadas moram em residência
própria.
9
A Figura 3d apresenta o tipo de construção da casa de residência dos estudantes. É possível
observar que quase a totalidade dos estudantes que frequentam escolas privadas residem em casas de
alvenaria, porém entre os estudantes que frequentam escolas públicas quase 10% ainda residem em
outros tipos de construção.
4.2 Análise do consumo alimentar, calorias, carboidratos, gorduras e sódio.
A Tabela 1, mostra os valores médios dos percentuais diários de consumo de calorias,
gorduras e sódio, por idade dos estudantes, baseado nos valores de referência para uma dieta de 2.000
kcal/dia. Segundo WHO (2020) e Ministério da Saúde (2020), para uma dieta de 2.000 kcal/dia
recomenda-se a ingestão diária de 300 g de carboidratos ou 15% do total de calorias, em nenhum dos
locais de consumo observou-se um valor acima do recomendado.
Tabela 1: Valores médios dos percentuais diários de consumo de calorias, carboidratos, gorduras e
sódio, por idade e local de consumo, Brasil.*
Local de Consumo Idade Calorias (%) Carboidratos (%) Gorduras Saturadas (%) Gorduras Trans(%) Sódio (%)
Cantinas – Privada
10-12 1,76 1,70 1,94 1,09 2,46
13-15 2,45 2,38 3,14 2,18 2,80
16-18 2,29 2,23 2,46 1,00 2,97
Cantinas – Pública
10-12 0,60 0,59 0,69 0,64 0,80
13-15 0,78 0,78 0,81 0,82 1,09
16-18 1,07 0,98 1,14 0,74 1,39
* baseados nos valores de referência de nutrientes considerando uma dieta de 2.000 kcal/dia*,Para uma dieta de 2000
kcal/dia recomenda-se o consumo de até: 300 gramas de carboidratos; 20 gramas de gorduras saturadas; 2 g de gorduras
trans e 2.000 mg de sódio. WHO(2020) e Ministério da Saúde (2020).
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
Sobre o consumo de sódio, o valor diário tolerável é de até 2.000 mg/dia, observou-se que os
estudantes das escolas privadas consumiram na cantina o referente a 2,97% do total diário
recomendado, considerando a faixa etária entre 16 e 18 anos, o maior percentual em comparação aos
estudantes das demais faixas etárias. Já os estudantes das escolas públicas, dos 16 aos 18 anos,
consumiram o referente à 1,15% de sódio, em relação ao total diário. Esses valores indicam que há
indícios de excesso no consumo de sódio nas cantinas escolares, especialmente nas escolas privadas,
por exemplo, se a média de energia ingerida pelos estudantes, entre 16 e 18 anos, foi de 45,76 kcal e
a média de sódio foi de 59,35 mg - deveria ter sido em torno de 45,8 mg – então, o valor diário de
consumo de sódio na cantina está cerca de 29,7% maior.
Quanto ao consumo de gorduras saturadas, houve maior ingestão entre os estudantes das
escolas privadas, especialmente na faixa etária dos 13 aos 15 anos, cerca de 3,14% do valor diário. A
gordura saturada está presente em alimentos de origem animal, óleos, salgadinhos, biscoitos etc;
recomenda-se evitar o consumo desse tipo de gordura, pois ela pode provocar aumento de peso e
doenças cardiovasculares, WHO (2018). O percentual de consumo diário de gordura saturada pelos
estudantes, 13 a 15 anos, das escolas privadas deveria ter ficado em aproximadamente 2,45%,
considerando que o total de calorias ingeridas foi de 48,93.
Sobre o consumo de gorduras trans, para evitar ganho de peso e problemas de saúde,
recomenda-se que não seja ingerido mais do que 2 g em relação ao total de energia consumida, WHO
(2020). De acordo com a Tabela 1, houve registro do consumo de gorduras trans em todos os
ambientes analisados, e os maiores níveis estão nas cantinas das escolas privadas. Segundo os dados
apresentados na tabela acima, a ingestão desse tipo de gordura, por alunos com idades entre 13 a 15
anos, foi de 2,18% em relação ao total diário tolerável, 2 g para uma ingestão de 2.000 kcal/dia. Esse
tipo de gordura está presente em alimentos como: biscoitos, pizzas e salgados congelas, pipoca de
micro-ondas etc; isso explica o motivo dos altos índices de ingestão de gordura trans nas cantinas
escolares. O consumo de gordura trans não é recomendado, em virtude dos graves problemas de saúde
10
que podem causar ao organismo, as indústrias de alimentos no Brasil deverão eliminar o uso de
gordura trans até 2023, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (2019).
Após análise do consumo de calorias e nutrientes discutidos acima, a próxima tabela,
apresenta a descrição dos alimentos ingeridos pelos estudantes em escolas privadas e públicas. Os
alimentos preparados são os mais consumidos pelos estudantes tanto nas cantinas das escolas públicas
quanto privadas. Ao analisar o consumo de alimentos nas cantinas fica evidente a elevada proporção
de sal e condimentos que foram ingeridos, conforme mostra a Tabela 2. Esses itens são compostos
essencialmente por: mostarda, maionese e ketchup. Esse padrão foi observado tanto nas cantinas das
escolas públicas quanto privadas, sendo maior o consumo de ketchup. Dos alimentos preparados
observou-se que mais da metade do consumo nas cantinas das escolas públicas e privadas, se constitui
por: salgados fritos (coxinha, pastel etc), suco de frutas, pipoca, hambúrguer, açaí, salgadinhos etc.
A Tabela 2, evidencia as razões pelas quais há excesso na ingestão de sódio e gorduras trans
nas cantinas escolares, conforme os resultados que foram discutidos com base na tabela 1. Os
alimentos que aparecem com maior frequência na lista dos consumidos pelos estudantes são
justamente aqueles ricos em sódio e gorduras, muitos deles processados e ultraprocessados como: a
pipoca de micro-ondas, hambúrguer, açaí e salgadinhos. Por essa razão, conforme dito anteriormente,
políticas que regulamentam a oferta de alimentos com baixo poder nutricional e com altos índices de
sódio e gorduras, podem ser importantes instrumentos na disseminação de uma cultura alimentar
saudável no ambiente escolar público e privado.
Tabela 2: Alimentos consumidos no interior das escolas, por estudantes de 10 a 18 anos de idade.
Descrição Privadas Públicas
Freq. % Freq. %
Alimentos preparados 135 40,42 388 37,45
Aves e ovos 6 1,8 6 0,58
Açúcares e derivados 43 12,87 129 12,45
Bebidas e infusões 67 20,06 180 17,37
Carnes, vísceras e pescados 7 2,1 28 2,7
Cereais, leguminosas e oleaginosas 2 0,6 20 1,93
Enlatados e conservas 0 0 1 0,1
Farinhas, féculas e massas 0 0 3 0,29
Frutas 2 0,6 7 0,68
Legumes e verduras 0 0 6 0,58
Leites e derivados 4 1,2 23 2,22
Panificados 26 7,78 91 8,78
Sal e condimentos 39 11,68 148 14,29
Tubérculos e raízes 3 0,9 6 0,58
Óleos e gorduras 0 0 0 0
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
A Figura 4 apresenta uma análise descritiva das variáveis de resultado relacionadas ao de
consumo de sódio, gordura trans, gordura saturada e carboidrato do grupo tratamento, tendo como
referência o grupo de controle.
No que se refere ao consumo de gordura saturada, a Figura 4b apresenta uma similaridade
entre os grupos tratados e não tratados das escolas privadas com cantina. Já nas escolas públicas é
possível observar uma diferença de 0,07g entre os grupos tratados e não tratados, respectivamente.
Vale mencionar que, nas escolas privadas, o consumo de gordura saturada é superior a 2 vezes o
consumo observado nas escolas públicas com cantinas.
11
Figura 4 – Valores médios das variáveis de resultados considerando escolas públicas e privadas com
cantinas para os grupos controle e tratamento (em gramas – g) Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
O consumo de gordura trans observado na Figura 4c apresenta similaridade entre os grupos
tratados e não tratados. Observa-se que o consumo em gramas na rede pública e privada e que
possuem cantinas são valores muito próximos.
A Figura 4d apresenta o consumo de carboidratos para os estudantes nas escolas públicas e
privadas. Nas escolas públicas e privadas com cantinas é possível observar uma diferença de consumo
de 0,76g e 0,40 g entre o grupo controle e tratamento, respectivamente. Vale destacar que o consumo
de carboidratos nas escolas privadas com cantina é aproximadamente de 3 vezes o consumo nas
escolas públicas com cantina.
5. Resultados e Discussão
5.1 Pareamento dos grupos controle e tratamento
Na Tabela 3 estão representados os resultados do modelo Probit, que estima a probabilidade
de o aluno frequentar a escola em um Estado que possui regulação da oferta de alimentos nas cantinas
escolares. Na amostra das escolas públicas, 10 observações do grupo tratado estavam fora do suporte
comum e nas escolas privadas havia 6 observações, que foram excluídas da estimação.
As variáveis com maior magnitude para explicar o tratamento são, obviamente, as variáveis
de região. Alunos nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste têm maior probabilidade de serem tratados
em relação àqueles da região Norte. Conforme o Quadro 1, dos 7 estados da região Norte, apenas o
Amazonas possui legislação que trata do conteúdo nutricional ofertado em cantinas escolares. No
caso do Nordeste, o coeficiente não foi significativo e 3 dos 9 Estados dessa região possuem
legislação específica.
Para as escolas públicas, alunos não brancos e que residem em domicílio próprio apresentam
maior probabilidade de ser tratados. Já o fato de o domicílio ser chefiado por uma mulher tem efeito
negativo. As variáveis de infraestrutura urbana, como pavimentação e abastecimento de água, têm
efeito positivo na chance de o aluno ser tratado, aumentando a probabilidade em 0,04 e 0,06
respectivamente.
12
Tabela 3: Equação de probabilidade de ser tratado Variáveis/Modelos Público Ef. Marginal Privado Ef. Marginal
Não branco 0,129*** 0,051 0,183* 0,073
(0,041) (0,106)
Sexo 0,033 0,013 0,029 0,114
(0,035) (0,099)
Idade -0,002 -0,001 -0,006 -0,002
(0,007) (0,019)
Esc. Chefe 0,003 0,001 0,010 0,004
(0,005) (0,015)
Idade Chefe 0,003 0,001 0,014*** 0,006
(0,002) (0,005)
Chefe mulher -0,065* -0,026 -0,076 -0,030
(0,037) (0,104)
Rendapc 0,004 0,002 -0,081 -0,032
(0,026) (0,076)
Pavimentação 0,110** 0,044 0,295* 0,116
(0,045) (0,171)
Abast. água 0,145*** 0,057 0,133 0,053
(0,052) (0,204)
Dom, próprio 0,124*** 0,049 0,119 0,048
(0,041) (0,121)
Urbano 0,079 0,031 0,768*** 0,283
(0,056) (0,263)
Nordeste -0,062 -0,024 0,019 0,008
(0,050) (0,195)
Sudeste 1,228*** 0,447 1,159*** 0,425
(0,059) (0,204)
Sul 1,012*** 0,371 1,493*** 0,469
(0,073) (0,249)
Centro-Oeste 1,096*** 0,399 1,427*** 0,458
(0,065) (0,245)
Constante -1,104*** -1,966***
(0,194) (0,639)
Log pseudolikelihood 1204,74 189,88
Pseudo R2 0,1502 0,1779
Observações 5,805 770
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018) Nota: ***, **, * denotam significância ao nível de 1%, 5% e 10%. Desvio-padrão robusto entre parênteses.
Nas escolas privadas, alunos que residem na área urbana e em locais com rua pavimentada
têm 0,28 e 0,12, respectivamente, maior chance de serem tratados. A idade do chefe e o fato de o
aluno ser não branco também aumentam a probabilidade de ser tratado.
Os resultados do modelo probit servem de base para aplicação da metodologia de pareamento
por score de propensão. Foram utilizados os algoritmos de pareamento por 1 vizinho mais próximo -
Nn(1), 5 vizinhos mais próximos - Nn(5) e kernel. Para avaliar a qualidade do pareamento aplicamos
os testes propostos por Dehejia e Wahba (2002), cujos resultados estão na Tabela 4.
Os resultados do Pseudo-R2 reduziram-se após o pareamento para valores bem próximos a
zero em todos os algoritmos adotados para parear a amostra, o que sugere que o modelo após o
pareamento tem menor poder para explicar a condição de tratamento. Observa-se também a redução
do viés após o pareamento, dado pela diferença de média e de mediana entre as características
observáveis do grupo controle e tratamento. O teste da Razão de Verossimilhança (LR) aponta que os
regressores foram conjuntamente não significativos para as escolas privadas. Já nas escolas públicas,
esse resultado é observado apenas no caso do pareamento por 5 vizinhos mais próximos.
13
Tabela 4: Testes da qualidade do Pareamento Pseudo-R2 LR χ2 p > χ2 Viés médio Viés Mediano
Pública
Não Pareado 0,150 1204,74 0,000 21,8 18,7
Nn(1) 0,003 23,13 0,081 2,5 2,0
Nn(5) 0,002 16,79 0,332 2,1 1,8
Kernel 0,004 28,37 0,019 2,9 2,5
Privada
Não Pareado 0,178 189,88 0,000 25,9 23,2
Nn(1) 0,002 16,79 0,332 2,1 1,8
Nn(5) 0,009 9,78 0,834 4,8 3,5
Kernel 0,006 6,42 0,972 3,7 3,4
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
5.2 Análise de impacto
Na Tabela 5 estão os resultados do impacto da legislação na oferta de alimentos nas cantinas
escolares sobre o consumo alimentar dos estudantes. Nas escolas públicas, não foram observados
resultados significativos dos estimadores de impacto nas cantinas. Nesse caso, há ainda evidências de
que as características não observáveis são mais importantes para explicar o efeito médio do
tratamento do que as não observáveis, uma vez que o coeficiente de proporcionalidade (δ) foi menor
do que 1, conforme a Tabela 6.
Tabela 5: Estimativas do Efeito de Tratamento Médio Sódio Carboidrato G. Saturada G. Trans
Pública
Nn(1) 8,936
(6,351) 0,629
(0,663)
0,082
(0,051)
0,006
(0,009)
Nn(5)
3,376
(5,078)
0,309
(0,517)
0,033
(0,040)
0,004
(0,007)
Kernel
3,097
(4,824)
0,249
(0,482)
0,038
(0,039)
0,005
(0,006)
Privadas
Nn(1) -46.524
(45.601)
-0.868
(2.887)
-0.157
(0.301)
-0.013
(0.021)
Nn(5)
-91.858***
(28.067)
-1.987
(2.086)
-0.417**
(0.199)
-0.030**
(0.014)
Kernel
-63.966***
(24.350)
-0.886
(1.921)
-0.304*
(0.179)
-0.023*
(0.013)
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
Nota: ***, **, * denotam significância ao nível de 1%, 5% e 10%. Desvio-padrão robusto entre parênteses.
Esse coeficiente representa o valor que seria necessário para fazer a estimativa do efeito de
tratamento ir para zero (β=0), conforme o método proposto por Oster (2019) para estimações das
bounds. Foram considerados valores para o Rmax variando de 0,7 até 1, para haver aleatoriedade nos
movimentos da variável de resultado.
Conforme as informações da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (IBGE, 2016), apenas
32% das escolas públicas possuem cantina, o que poderia estar associado ao fato de não se observarem
resultados significativos. Vale ressaltar também que Bezerra et al. (2021), ao analisar as escolas
públicas, indicou que muitas descumpriram a legislação estadual de regulação da oferta de alimentos
nas cantinas. Evenhuis et al. (2018) e Choi et al (2019) ressaltam a importância de ferramentas para
monitorar a implementação das políticas para que se possa alcançar os resultados esperados.
Além disso, o estudo de Levasseur (2021) indicou que o impacto da disponibilidade de
alimentos não saudáveis no sobrepeso é mais forte entre os alunos não pobres, o que, conforme o
autor, estaria associado a maior probabilidade de estes obterem mesada dos pais em relação aos mais
14
pobres. Assim, é possível que os alunos de escolas públicas não tenham recursos para adquirir os
alimentos da cantina com frequência.
Tabela 6: Bounds para o Efeito Do Tratamento
Rmax 0,7 0,8 0,9 1,0
Pública
Sódio 0.425** 0.37124 0.329 0.296
(0.215) (0.349) (0.359) (0.404)
Carboidrato 0.338 0.29548 0.262 0.236
(0.340) (0.318) (0.334) (0.265)
G. saturada 0.542** 0.47357** 0.420 0.378
(0.231) (0.214) (0.392) (0.271)
G. Trans 0.097 0.08482 0.075 0.068
(0.099) (0.092) (0.081) (0.065)
Privada
Sódio 5.743* 4.991* 4.414** 3.956*
(2.985) (2.604) (2.236) (2.166)
Carboidrato 1.406 1.223 1.083 0.971
(1.119) (1.170) (0.662) (1.083)
G. saturada 5.609*** 4.871*** 4.304** 3.856*
(1.983) (1.758) (1.879) (2.020)
G. Trans 1.119** 0.972 0.860 0.770
(0.441) (1.111) (1.482) (1.445)
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
Nota: ***, **, * denotam significância ao nível de 1%, 5% e 10%. Desvio-padrão robusto entre parênteses, obtido por
bootstrap com 1.000 replicações.
No caso das escolas privadas, o valor do coeficiente de proporcionalidade foi significativo e
maior do que 1 em alguns casos, indicando que o viés causado pelas não observáveis não inviabiliza
os coeficientes estimados. No caso do sódio, considerando o Rmax de 0,7, o efeito das variáveis não
observadas no ATT estimado teria que ser 5,74 vezes mais forte do que o efeito das variáveis
observáveis para explicar todo o efeito da regulação da oferta de alimentos nas cantinas. Em outras
palavras, as não observáveis teriam que ser 5,74 vezes mais importantes na explicação do efeito
médio, de modo a fazer com que o coeficiente baseado nas observáveis fosse zero. Aumentando o
Rmax para 1, tal coeficiente ainda é de 3,96.
Assim, os resultados indicaram que a legislação contribuiu reduzir o consumo de sódio nas
cantinas das escolas privadas em 92 mg, conforme os resultados do ATT obtido pelo método de
pareamento por 5 vizinhos mais próximos. No caso da gordura saturada o impacto foi de 0,42 g e no
da gordura trans de 0,03 g. Porém, esse último pode estar viesado devido ao efeito das características
não observáveis, uma vez que o coeficiente de proporcionalidade foi menor do que 1 para os Rmax
acima de 0,8. Para o consumo de carboidrato, não foram observadas evidências significativas.
Embora o impacto observado seja aparentemente pequeno, é importante destacar que se trata
de uma política de longo prazo com caráter preventivo, cujos resultados serão observados, também,
ao longo do ciclo de vida dos indivíduos, com efeitos sobre o bem-estar da população. Campell et al.
(2014) apresentaram evidências de que intervenções precoces de políticas nutricionais e de saúde não
apenas contribuem para que as crianças obtenham massa corporal mais saudável, mas também
reduzem a prevalência de doenças cardiovasculares e metabólicas na idade adulta.
5. Conclusões
O estudo avaliou o efeito da regulamentação da oferta de alimentos nas cantinas das escolas
brasileiras sobre o consumo alimentar dos alunos, por meio do método de Propensity Score Matching
15
e dos microdados da POF 2017-2018 (IBGE). Nas escolas públicas não foram observados resultados
significativos do efeito da política e há evidências de que os efeitos não observados são importantes
para explicar o tratamento, tornando os resultados menos confiáveis. Isso pode estar associado à
dificuldade de cumprimento da legislação, ao fato de que muitas escolas públicas não possuem
cantina ou ainda que alunos de menor renda familiar não possuem recursos para adquirir alimentos
nas escolas.
Já nas escolas privadas, os resultados indicaram que a regulação contribuiu para reduzir o
consumo de sódio dos alunos na cantina em 92 mg e de gorduras saturadas em 0,42 g. Diante dos
diversos problemas de saúde relacionados à má alimentação, esses resultados demonstram que as
políticas de regulamentação nutricional, que foram adotadas pelas Unidades da Federação, foram
fundamentais no controle do consumo de alimentos não saudáveis nas cantinas das escolas privadas,
podendo funcionar como uma política de controle da obesidade infantil e de saúde preventiva.
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Anexo
1
Tabela 1 - Valores médios e seus respectivos desvios padrão das variáveis de características de crianças e adolescentes
Variáveis
Descrição Escolas Públicas Escolas Privada
Variáveis de característica das crianças e adolescentes Não tratados Tratados Não tratados Tratados
Média DP Média DP Média DP Média DP
Não brancas Proporção de crianças e adolescentes não brancas 0,7127 (0,4525) 0,6539 (0,4757) 0,5336 (0,4995) 0,4661 (0,4995)
Sexo Proporção de crianças e adolescentes do sexo masculino 0,5205 (0,4996) 0,5418 (0,4983) 0,4521 (0,4983) 0,4921 (0,5005)
Idade Idade média de crianças e adolescentes 13,7 (2,39) 13,7 (2,4) 13,4 (2,7) 13,8 (2,7)
Escol. chefe Média de escolaridade do chefe do domicílio 6,80 (4,49) 7,6 (4,3) 11,7 (4,2) 12,4 (3,6)
Idade chefe Idade média do chefe do domicílio (em anos) 45,03 (11,46) 45,3 (11,1) 45,9 (9,78) 48,0 (11,0)
Chefe mulher Proporção de mulheres chefes de domicílio 0,4549 (0,4980) 0,4141 (0,4926) 0,3798 (0,4859) 0,3880 (0,4879)
Renda pc Renda domiciliar per capita (em R$) 932,02 (33,40) 1.193 (31,30) 2.440,72 (137,25) 2.970,48 (158,13)
Pavimentação Proporção de domicílios de crianças e adolescentes com ruas pavimentadas 0,5196 (0,4996) 0,6331 (0,4825) 0,8191 (0,3854) 0,9218 (0,2687)
Abast. água Proporção de crianças e adolescentes com abastecimento de água 0,6608 (0,4734) 0,7464 (0,4351) 0,8733 (0,3329) 0,9401 (0,2376)
Dom. próprio Proporção de Crianças e adolescentes com domicílio próprios 0,7239 (0,4471) 0,6957 (0,4601) 0,7493 (0,4339) 0,7786 (0,4147)
Alvenaria Proporção de Crianças e adolescentes em domicílio e alvenaria 0,8468 (0,3601) 0,8819 (0,3227) 0,8191 (0,3854) 0,9869 (0,1135)
Urbano Proporção de crianças e adolescentes que residem nas áreas urbanas 0,6731 (0,4691) 0,7457 (0,4355) 0,8733 (0,3329) 0,9713 (0,1670)
Norte Proporção de crianças e adolescentes que residem na região Norte 0,2747 (0,4464) 0,1247 (0,0063) 0,1162 (0,0163) 0,0416 (0,2000)
Nordeste Proporção de crianças e adolescentes que residem na região Nordeste 0,4813 (0,4997) 0,2031 (0,0077) 0,6227 (0,0246) 0,2656 (0,4422)
Sudeste Proporção de crianças e adolescentes que residem na região Sudeste 0,0981 (0,2975) 0,3312 (0,0090) 0,1653 (0,0189) 0,3880 (0,4879)
Sul Proporção de crianças e adolescentes que residem na região Norte 0,0669 (0,2499) 0,1447 (0,0067) 0,0439 (0,0104) 0,1510 (0,3585)
Centro-Oeste Proporção de crianças e adolescentes que residem na região Centro-Oeste 0,0788 (0,2695) 0,1961 (0,0076) 0,0516 (0,0112) 0,1536 (0,3610)
Amostra Número de indivíduos 3.108 2.702 387 384
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da POF (2017/2018)
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