Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística Edição Temática em Sustentabilidade Vol. 4 no 2 - Agosto de 2014, São Paulo: Centro Universitário Senac ISSN 2179474 X © 2014 todos os direitos reservados - reprodução total ou parcial permitida, desde que citada a fonte portal de revistas científicas do Centro Universitário Senac: http://www.revistas.sp.senac.br e-mail: [email protected]
Identificações dos aspectos e impactos ambientais associados à
cadeia produtiva do etanol – a partir da cana-de-açúcar:
contribuição para o estabelecimento do perfil de desempenho
ambiental por meio da técnica de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)
Identifications of the aspects and environmental impacts associated to the
productive chain of the ethanol – from the sugar cane: contribution for the
establishment of the profile of environmental performance through the
technique of the Life Cycle Assessment (LCA)
ARAUJO, Nayla Aparecida Alves1. SEO, Emília Satoshi Miyamaru2 1Tecnologa em Gestão Ambiental; Bolsista do CNPq; Centro Universitário SENAC – SP. 2Professor(a) e orientador(a) do Centro Universitário Senac [email protected]; [email protected]
RESUMO. Em busca de alternativas que diminuísse o uso de derivados do petróleo, o
setor sucroenergético encontrou uma alternativa singular: a produção do álcool etílico
hidratado – o etanol, a partir da cana-de-açúcar. O Brasil destaca-se sendo o maior
produtor de etanol, concentrando 90% do plantio da cana na região centro-sul. Por sua
vez, mesmo com a introdução de novas técnicas e tecnologias que incorpore uma
postura de prevenção ao meio ambiente, o processo produtivo do álcool etílico
apresenta-se como um grande causador de impactos ambientais em seu processo
produtivo. Impactos estes gerados pelo uso de agroquímicos nos tratos culturais,
emissão de gases tóxicos durante a colheita manual utilizando métodos como a
queimada (um método facilitador aos trabalhadores rurais), consumo de água para
lavagem da cana e diversas outras atividades no processo produtivo, e significativo
consumo de energia elétrica.
Portanto, a finalidade do presente projeto, visa identificar os impactos e aspectos
ambientais deste processo tomando conceitos da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), uma
ferramenta que avalia todos os estágios do Ciclo e Normas técnicas padronizadas pela
ISO (International Organization for Standardization) da série 14000.
Palavras-chaves: Etanol. Cana-de-açúcar. Impactos ambientais. Avaliação do ciclo de
vida.
ABSTRACT. In search of alternatives for reduction of the use of derivates of the oil,
the energetic sugar sector found a singular alternative: the production of the hydrated
ethylic alcohol – the ethanol, from the sugar cane. Brazil stands out being the biggest
producer of ethanol, concentrating 90 % of the planting of the cane in the region I
south-center. For his time, with the introduction of new techniques and technologies that
a prevention posture incorporates to the environment, the productive process of the
ethylic alcohol presents itself a great transmitter of toxic gases during the manual
harvest using methods as the forest fire (a method facilitador to the rural workers),
water consumer for washing of the cane and several other activities, and bigger
consumer of electric energy. Besides the pesticides use for the cultural dealings.
So, the finality of the present project, visa to identify the impacts and environmental
aspects of this process taking concepts of the Evaluation of Vida's Cycle (ACV), a tool
that values all the traineeships of the Cycle and technical Standards standardized by ISO
(International Organization will be Standardization) of the series 14000.
Key Word: Ethanol. Sugar Cane. Environmental Impacts. Life Cycle Assessment.
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1. Introdução
A preocupação com as questões ambientais surgiu logo após o homem constatar que os
recursos naturais são escassos. Com isso a principal motivação era de encontrar uma
resposta singular para diminuição da utilização de derivados de combustíveis fósseis –
do petróleo.
A década de 60 marcou o início dos primeiros estudos de avaliação ambiental de
produtos, em específico, relacionado ao inventário de consumo de energia (VIGON et
al.,1993). Para Curran (1996) a adoção aos combustíveis fósseis gerou o modelo que
não atende a necessidade de preservação e conservação de recursos naturais, pois, os
combustíveis não são renováveis e seu uso promove diversos impactos ambientais,
como por exemplo, emissão de poluentes atmosféricos.
Em 1973, com a primeira crise do petróleo, o setor sucroenergético, acabou por
encontrar uma alternativa singular: a produção do álcool combustível ou etanol a partir
da cana-de-açúcar.
Em 1975, o governo brasileiro criou o Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL), pelo
Decreto-Lei nº76.593 de 14 de novembro de 1975, possibilitando a ampliação da área
plantada com a cana-de-açúcar e a implantação de destilarias de etanol. Servindo como
alternativa para diminuir a vulnerabilidade energética do país devido à crise mundial do
petróleo. Até 1979 o programa focou-se na produção de etanol anidro para ser
adicionado à gasolina. E em segundo momento, à produção de etanol hidratado e no
desenvolvimento de motores para serem adaptados a este combustível.
E em 1984, os carros a etanol passaram a responder por 94,4% da produção das
montadoras instaladas no Brasil (SOUSA e MACEDO 2009).
Segundo Dantas Filho, Franco e Parente (2008) o Programa Proálcool, introduzido nos
meados da década de 70, produz atualmente, cerca de 15 bilhões de litros de etanol por
ano e se constitui um dos principais programas de aplicação energética da biomassa do
mundo. Enfatizam ainda que a geração de energia elétrica por meio da queima da cana-
de-açúcar é uma oportunidade de negócio, ou seja, é uma terceira fonte de receita
complementar a do açúcar e etanol.
Acredita-se que essa alternativa esteja compatível quanto às questões de
sustentabilidade.
Sustentabilidade é uma ponte de ligação entre ética, ecologia e economia. Este conceito
foi estabelecido em 1987 no Relatório de Brundtland – “Our Commum Future” (Nosso
Futuro Comum). Segundo o qual:
“Desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as necessidades do
presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem suas
próprias necessidades”
O Brasil é reconhecido pela Comunidade Internacional devido a composição de uma
matriz energética extremamente limpa, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa,
pelo uso de fontes de energia renovável. Este é um cenário propício a produção de
etanol, principalmente pelo baixo teor de carbono. (FILHO e MACEDO, 2009).
Com estes fatores dá oportunidade do Brasil se tornar líder global pelos benefícios da
produção de biocombustíveis, ligados aos atributos de sustentabilidade, juntamente com
o desenvolvimento limpo e principalmente com justiça social (SOUSA e MACEDO, 2009)
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Partindo desse pressuposto, em termos globais, um dos grandes desafios atuais é a
busca pela redução de emissão de poluentes, com o aumento da eficiência ambiental nos
processos produtivos e o desenvolvimento do país, de forma que haja a integração
desses três requisitos. Estes que conceituam “sustentabilidade”.
Devido a ocorrência de diversos impactos ambientais, na década de 80, conduziu, então,
as empresas a pensarem em termos de administração de negócios a adotarem ações de
prevenção. Porém seguindo a lógica de que preservação da natureza permite reduzir
despesas operacionais.
Este é um dos pontos que o presente projeto buscou analisar, se a produção do etanol,
oriundo da cana-de-açúcar, atende ao conceito de sustentabilidade. Para tal,
Identificaram-se os aspectos e impactos ambientais associados à cadeia produtiva de
etanol, suas funções dos processos envolvidos, unidade funcional e a fronteira da cadeia
produtiva, com a coleta de dados secundários, visando fornecer dados para estabelecer
o perfil de desempenho ambiental por meio da técnica de Avaliação de Ciclo de Vida
(ACV).
Esta identificação dos aspectos e impactos ambientais dos processos envolvidos na
produção do etanol, como contribuição a uma gestão ambientalmente adequada
justifica-se pelo fato de que a humanidade evolui a partir do uso de fontes de energia
que consegue usar, cabe então esperar que ela mesma, devido ao declínio dos recursos
energéticos e da perda da biodiversidade, dos problemas da poluição e da crise social,
consiga mudar de rumo e se adaptar a um novo leque de fontes de energia, no qual
caberá a biomassa um papel fundamental (CAVALETT, ORTEGA e WATANABE. 2001).
Em termos globais, a produção e o uso de etanol no Brasil contribuíram para a redução
de 0,1% das emissões globais associadas à energia em 2006. Parece pouco, mas não é.
Para se ter uma ideia, é possível estimar que, desde o início do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) da ONU, em julho de 2005, até julho de 2009, o etanol
brasileiro evitou emissão equivalente a mais ou menos 60% de todos os créditos de
carbono gerados por esse mecanismo no mundo (FILHO e MACEDO. 2009)
2. Metodologia
A metodologia adotada para o desenvolvimento do presente projeto foi dividida nas
seguintes etapas, a saber:
Levantamento junto à literatura quanto à metodologia de ACV conhecendo o
status tecnológico atual da produção de etanol no país;
Definição do objetivo e escopo: definindo os objetivos e com o conhecimento
pormenorizado da tecnologia de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar,
no que se refere a suas condicionantes operacionais e às possíveis interações
destas com o meio ambiente. Visando o estabelecimento da função processo, a
unidade em relação a qual os dados foram coletados e tratados, o sistema
estudado e a definição das categorias de impacto;
Identificação, dos aspectos ambientais relacionados a processo de produção de
etanol a partir da cana-de-açúcar, de acordo com a rota selecionada de análise. O
tratamento dos aspectos ambientais relacionados a cada etapa do processo: A
atividade em questão é constituída de levantamento dos elementos conhecidos na
metodologia de ACV de “aspectos ambientais” inerente a rota de produção de
etanol. Trata-se da compilação das entradas e saídas a cada processo em termos
de energia, matérias, geração de resíduos e emissões para água, terra e ar,
considerando as categorias de impacto e fronteiras definidas.
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3. Conceitos 3.1 Etanol
Tratando-se do combustível etanol, cuja fórmula é C2H5OH, sua composição química foi
determinada no século XIX pelo suíço Nicolas-Theodore de Saussure. Pode ser obtido por
vários processos, tendo como fonte de matérias primas, vegetais e hidrocarbonetos. O
álcool a partir da cana obteve melhores condições na implantação de sua estrutura, em
detrimento ao álcool produzido da mandioca, que não dispunha de meios produtivos
desenvolvidos e confiáveis (MARCOCCIA, 2007).
Em 1532, Martim Afonso iniciou o cultivo da cana-de-açúcar no Brasil, a atual fabricação
de etanol esta relacionada à produção de açúcar. Pela adaptação ao clima e solo
brasileiro, a monocultura da cana, passou a ser praticada em grandes propriedades
agrícolas. A expansão da agroindústria canavieira se intensificou na região Sudeste do
Brasil, devido ao declínio do ciclo de café, na década de 30.
A produção de Etanol no Brasil, no ano de 2008, foi de 27,5 bilhões de litros, onde cerca
de 80% da produção é consumida internamente. Os Estados de maior produção do
Etanol estão apresentados no gráfico1:
63%8%
8%
6%
4%4% 3% 4%
São Paulo
Paraná
Minas Gerais
Goiás
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Alagoas
Maranhão, Paraiba e
Pernambuco
Gráfico 1 – Produção de etanol pelos maiores Estados produtores, nas safras de 08/09, quando a produção
brasileira total de etanol foi de 27,5 bilhões de litros.
Fonte: Secretaria do Estado de São Paulo/ Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais – Cadernos de Educação Ambiental (2011)
Desde julho de 2007, o etanol é adicionado na proporção de 25% em toda gasolina
vendida no Brasil. Para combater fraudes, é por meio da Resolução nº 36/2005, que a
ANP estabeleceu a obrigatoriedade da adição de corante cor laranja ao etanol anidro.
Pois como o etanol hidratado é incolor, este corante denuncia caso houver adição de
água no combustível. (Secretaria do Meio Ambiente/ Coordenadoria de Biodiversidade e
Recursos Naturais, 2011).
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3.2 Avaliação do Ciclo de Vida
Devido às crescentes preocupações sobre os impactos ambientais da indústria nos
âmbitos regional e global reacenderam o interesse pelas fontes alternativas, para isso
um dos passos direcionado foi o conhecimento do Ciclo de Vida do Produto.
De acordo com Garcia, Mourad e Vilhena (2002), o primeiro passo para a
sustentabilidade é o conhecimento do ciclo de vida de um produto. Ciclo de Vida é
quando são removidos os recursos da natureza, para uma determinada fabricação,
finalizando no processo de devolução a terra. Ou seja, é uma avaliação do “berço” ao
“túmulo”.
Segundo U.S Environmental Protection Agency and Science Aplications International
Corporation, entende-se por Análise do Ciclo de Vida como ferramenta analítica de
gerenciamento ambiental, que avalia os aspectos e impactos potenciais associados a um
produto ou processo, pode contribuir significativamente para o uso racional dos recursos
investidos e, entre outras aplicações, auxiliar nas tomadas de decisão, na seleção de
indicadores ambientais para avaliação do desempenho ambiental de projetos ou
reprojetos de produtos, processos e planejamento estratégico (http://www.epa.gov,
2011)
Garcia, Mourad e Vilhena (2002) relatam que nesta avaliação deve considerar toda a
cadeia de processos, ou seja, desde sua origem, emissões e os impactos potenciais. “A
visão é ampla e não se restringe à avaliação de conceitos e parâmetros simplificados
como “reciclável” ou “retornável”, ou seja, todas as interações ambientais são
consideradas.”
A importância adquirida pela ACV nos contextos da Gestão Ambiental e da Prevenção da
Poluição fez com que a estrutura metodológica acabasse por ser padronizada pela
International Organization for Standardization (ISO), respectivamente na família 14040
da série ISO 14000. Foram lançadas até o ano de 2005 as seguintes normas técnicas
dessa coleção:
ISO 14040: Environmental management – Life Cycle Assessment –
Principles and framework (1997)
ISO 14041: Environmental management – Life Cycle Assessment – Goal
and scope definition and inventory analysis (1998)
ISO 14042: Environmental management – Life Cycle Assessment - Life
cycle impact assessment (2000)
ISO 14043: Environmental management – Life Cycle Assessment – Life
cycle interpretation (2000) (SEO e KULAY, 2006)
Deste modo, as seguintes categorias de aspectos e impactos para cada atividade do ciclo
de vida do álcool etílico hidratado combustível, estão descritas a seguir:
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3.3 Aspectos e Impactos Ambientais
Segundo a definição da ISO (1997) e ABNT (2001, apud Ometto.2005), a técnica da
Avaliação de Ciclo de Vida compila os aspectos ambientais e de avaliação dos impactos
ambientais associados ao ciclo de vida de um produto ou serviço.
Aspecto Ambiental: é o elemento das atividades, produtos ou serviço de uma
organização que pode interagir com o meio ambiente.
Impactos Ambientais: é a identificação e quantificação das mudanças ambientais
causadas pela avaliação do ciclo de vida de um produto ou serviço. Em suma, são
efeitos que podem ser causados ao Homem e Meio Ambiente.
4. Interpretação dos Resultados
Este estudo baseado na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) teve como enfoque avaliar os
impactos ambientais envolvidos no processo produtivo do etanol a partir da cana-de-
açúcar. Os elementos que compõem o escopo da ACV do álcool etílico hidratado serão
apresentados a seguir:
FUNÇÃO DO SISTEMA
Tratando-se do álcool etílico hidratado combustível, o etanol, objeto de estudo deste
projeto, tem como função a locomoção de automóveis para transporte.
UNIDADE FUNCIONAL
Sua unidade funcional é para 10.000 km percorridos por um carro de médio porte.
Chegada
à Usina
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FLUXO DE REFERÊNCIA
Relacionado à unidade funcional, o fluxo de referência é para obtenção dos dados de
Inventário de Ciclo de Vida (ICV) igual a 1 tonelada de etanol.
SISTEMA DE PRODUTO
As seguintes atividades descritas a seguir compõem o sistema de produto do etanol:
Figura 1: Sistema de Produto do Álcool Etílico Hidratado combustível
Deste modo, as seguintes categorias de aspectos e impactos para cada atividade do ciclo
de vida do álcool etílico hidratado combustível, serão apresentadas a seguir:
Processo Elementar: Preparo do Solo.
Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Uso de Maquinários PREPARO DO SOLO
Erosão do Solo
Consumo de Água Poluição das Águas
Aplicação Herbicida Escassez Recurso Natural
Queima Combustível Emissão de Gases
Desmatamento Degradação Ambiental
De acordo com Cruz, diretor científico da FAPESP, “se a cana for plantada em uma região
de floresta, é ruim partindo do ponto de vista das emissões, porém se for plantada em
áreas de pasto já degradado, já é um ponto positivo, pois desta forma fixa-se mais
carbono na terra”.
Com a finalidade de conservação do solo para que haja melhores condições de
germinação das sementes ou brotamento dos tubérculos tais operações são realizadas
como aração e gradagem ou gradagem pesada, subsolagem, sulcamento e adubação.
(OMETTO, 2005).
Castro (1985, apud Ometto 2005) apresenta que no preparo convencional do solo
divide-se em primário seguindo o processo de aração, desmatamento e operações com
rolo faca. Já no secundário segue-se pelo nivelamento do terreno, destorroamento,
incorporação de herbicidas, eliminação de ervas invasoras com o uso de gradagem e/ou
enxada rotativa.
Processo Elementar: Plantio da Cana-de-açúcar.
Preparo
do Solo
Plantio
da cana-
de-
açúcar
Tratos
culturais
Colheita
da cana-
de-açúcar
Produção
industrial
do etanol
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Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Queima Combustível PLANTIO DA CANA-DE-
AÇÚCAR
Poluição Atmosférica
O plantio da cana-de-açúcar pode ser realizado de modo manual ou mecanizado. No
modo manual utilizam-se caminhões para transporte dos trabalhadores e da cana para o
plantio, isso gera a queima de combustíveis fósseis pelo uso do diesel. No plantio
mecanizado, de acordo com a Embrapa as plantadoras já distribuem as mudas, o adubo
e o inseticida. Mas não se verifica diferença do crescimento dos talhões, tanto no modo
manual, quanto mecanizado.
Processo Elementar: Tratos culturais.
Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Uso de Agrotóxicos TRATOS CULTURAIS
Poluição Atmosférica
Geração de Resíduos Poluição das Águas
Poluição do Solo
Diminuição da Vida Útil
do Aterro
No processo de trato cultural segundo Corbini (1987 apud Ometto 2005), as práticas
agrícolas tem as finalidades de preservação das propriedades físicas e químicas do solo;
redução de plantas invasoras; conservação do sistema de controle de erosão e controle
de pragas. Além disso, inclui a aplicação de agrotóxicos. Tais como: Aldrin (pelo seu
poder residual e acumulativo na cadeia alimentar, sendo proibido em vários países);
Ametrina; Atrazina; Clorpirifuos (considerado tóxico); 2,4 D; Diflubenzuron; Diuron;
Finitrotin; Hexazinone; Paration metil (banido pela Agência de Proteção Ambiental norte-
americana); Glifosato; Simazina; Tebuthiuron; Telrithiuron e Velpark (Ometto 2000 apud
Ometto 2005)
De acordo com o processo produtivo da ÚNICA a alternativa para diminuição ou até
mesmo a eliminação do uso de agrotóxicos se dá pela utilização de um fertilizante
orgânico feito a partir da vinhaça, um líquido com alto teor de potássio e outros
nutrientes e este se denomina como “fertirrigação”.
Processo Elementar: Colheita da Cana-de-Açúcar.
Aspectos Impactos Processo Elementar Impactos Ambientais
Queima Combustível COLHEITA DA CANA-
Poluição Atmosférica
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Queima da Palha DE-AÇÚCAR
Este é um dos processos de grande caracterização de impactos ambientais pela emissão
de gases tóxicos. Utilizam-se duas formas de colheita: Manual e Mecanizada. Na fase da
colheita manual se utiliza a prática da queima da palha da cana-de-açúcar como
despalhador e facilitador do corte.
Lei Estadual nº 10.547, de maio de 2000, que define
procedimentos, proibições e estabeleceu regras de execução e
medidas de precaução a serem obedecidas quando do emprego do
fogo em práticas agrícolas e Lei nº 11.241, de 19 de setembro de
2002, que dispõem sobre a eliminação gradativa da queima da
palha da cana-de-açúcar. (SMA, 2011).
De acordo com Silva (1998 apud Ometto 2005), apresenta em três fases o processo de
queima da palha:
a. Ignição: Por ser o inicio do processo há presença de oxigênio e baixas temperaturas.
Portanto, baixa concentração de poluentes;
b. Combustão incompleta: Já atinge altas temperaturas e formação de gases tóxicos,
como CO2, NOx e SO2.
c. Resfriamento: Caracteriza-se pela dispersão de materiais particulados,
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e outras substâncias orgânicas.
Na mecanizada devido a utilização de caminhões e maquinários, apesar de eliminar o
processo de queima, o consumo do diesel para sua locomoção emite o dióxido de
carbono, CO2.
Ometto (2005) explica que a quantidade de CO2 emitido pela queimada da palha é
indicada como emissão atmosférica, mesmo que essa quantidade seja absorvida no
crescimento da cana.
Processo Elementar: Transporte da cana-de-açúcar até a USINA.
Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Queima Combustível TRANSPORTE DA
CANA-DE-AÇÚCAR
Poluição Atmosférica
No transporte da cana-de-açúcar até a USINA para o inicio do processo produtivo do
etanol, utiliza-se caminhões e com isso o consumo do Diesel, emitindo assim CO2.
Processo Elementar: Produção Industrial do álcool etílico hidratado combustível.
O processo que será apresentado a seguir, com seus aspectos e impactos ambientais,
seguem pela 1- lavagem da cana, 2- moagem da cana, 3- tratamento do caldo, 4-
fermentação do caldo e 5- destilação do caldo.
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Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Consumo de Água LAVAGEM DA CANA-DE-
AÇÚCAR
Escassez do Recurso
Natural
Geração de Efluente Poluição das Águas
1- Após o processo de colheita, por ser perecível, a cana-de-açúcar chega rapidamente
a USINA, para que se evite a perda de qualidade. A cana que foi colhida
manualmente, passa pelo processo de lavagem para retirada das impurezas, devido
a utilização da queima da palha. Por sua vez, uma quantidade significativa de água é
utilizada.
Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Consumo de Energia
Elétrica MOAGEM DA CANA-DE-
AÇÚCAR
Escassez de Recurso
Natural
Consumo de Água para
embebição
2- Nesta etapa a cana percorre por uma esteira, logo após sob pressão de rolos ou
difusores, resta o bagaço da cana-de-açúcar. Este bagaço, um resíduo fibroso, é
encaminhado à geração de bioeletricidade. Já o caldo oriundo deste processo seguirá
para a produção do etanol.
Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Consumo de Energia
Elétrica TRATAMENTO DO
CALDO
Escassez de Recurso
Natural
Consumo de Combustível Poluição Atmosférica
- Bagaço
- Caldo
- Torta de Filtro
- Lodo
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3- No tratamento do caldo da cana-de-açúcar, gera a chamada “torta de filtro”, que
recuperada na usina será utilizado como adubo orgânico. O lodo resultante deste
processo é encaminhado à uma filtração a vácuo. O Diesel utilizado é referente aos
caminhões que levarão a torta de filtro até o campo.
Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Consumo de Energia
Elétrica FERMENTAÇÃO DO
CALDO
Escassez de Recurso
Natural
4- Na etapa de fermentação, o caldo passa por vários processos de filtragem formando
o “mosto”. Este caldo já purificado e misturado a leveduras é considerado como um
vinho fermentado.
Aspectos Ambientais Processo Elementar Impactos Ambientais
Consumo de Energia
Elétrica DESTILAÇÃO DO CALDO
Escassez de Recurso
Natural
5- O álcool do vinho fermentado, gerado no processo de fermentação, passa por uma
recuperação em colunas de destilação e retificação, surgindo então o etanol. Nesta
etapa obtêm-se a “vinhaça”, servindo como fertilizante orgânico, com alto teor de
potássio e outros nutrientes. Esta vinhaça por sua vez é considerada de grande carga
poluidora de uma destilaria. (Ometto, 2005).
De acordo com Ometto (2005) as categorias de potenciais de impactos pelo método
EDIP são consideradas para cada unidade do ciclo de vida do etanol, da seguinte forma:
Consumo de recursos
Renováveis
No processo de colheita manual a cana deve ser lavada para retirada de impurezas, além
de outras utilizações dentro do processo produtivo (como água para embebição, água
para lavagem das dornas de fermentação, água de resfriamento de fermentação, água
de resfriamento dos condensadores) torna-se grande consumidora de água.
Não- renováveis
- Mosto
- Vinhaça
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Nas atividades de tratos culturais, preparo do solo e colheita da cana, devido ao alto uso
de agroquímicos e do consumo de diesel nas máquinas agrícolas, nos caminhões e nos
ônibus.
Energia
A produção do Etanol é a maior consumidora de energia elétrica.
Potenciais de Impactos Ambientais
Potencial aquecimento global
A colheita é a atividade de maior potencial para o efeito estufa.
Potencial de Formação Fotoquímica de Ozônio Troposférico
A atividade de maior potencial para formação de ozônio é a colheita da cana, devido a
queimada emitindo hidrocarbonetos e ao monóxido de carbono.
Potencial de Acidificação do meio
A atividade de maior potencial para acidificação do meio é a colheita da cana. Isso se
deve aos óxidos de nitrogênios (NOx) emitidos durante a queima.
Potencial de Eutrofização
As atividades que mais podem contribuir são as que incorporam nutrientes ao solo
(trabalhos culturais, fertirrigação e plantio)
Potencial de Ecotoxicidade
Pode ser causada, principalmente, pelas atividades de tratos culturais, plantio da cana-
de-açúcar, preparo do solo devido ao uso intensivo de agrotóxicos aplicados diretamente
ao solo.
Potencial de Toxicidade humana
Principalmente na atividade da colheita, devido a emissão dos gases tóxicos na queima,
incluindo o material particulado emitido, e pelo uso de diesel nos caminhões, máquinas
agrícolas e ônibus.
5. Considerações Finais
Um dos grandes pensamentos em termos de administração de negócios é a busca pela
redução das emissões de poluentes, com aumento da eficiência ambiental nos processos
produtivos e o desenvolvimento do país. Desta forma, em suas atividades de produção,
devido grandes ocorrências de impactos ambientais, na década de 1980, a visão das
empresas era apenas do controle “end of pipe”, uma ação reativa em que diante todo o
processo, no fim adicionavam uma ação de prevenção. Ou seja, a postura das empresas
só era efetiva na prevenção de um acidente ou desastre após o acontecimento.
Tal perspectiva cria um cenário vantajoso à implementação de técnicas que reforcem
Estudos de Impacto Ambiental, Sistemas de Gestão Ambiental, Programas de Prevenção
da Poluição, Avaliações de Riscos Ambientais, entre outros. Principalmente, pela
exigência atual da sociedade voltada ao monitoramento e a avaliação ambiental. Tal
preocupação relaciona-se a importância de saber até que ponto certos impactos
ambientais podem comprometer a preservação dos equilíbrios socioambientais.
Diante o exposto, o setor sucroenergético considera a produção do etanol combustível
como grande potencializador de um mercado global, no que tange o abastecimento
nacional e internacional. Atendendo aos conceitos de sustentabilidade – ponte de ligação
entre economia, ecologia e ética, definido em 1987 no Relatório de Brundtland.
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Atualmente o Brasil é considerado um dos maiores produtores de etanol. Pela análise
econômica, este processo brasileiro é o mais rentável. Pelas questões ambientais, de
fato, reduz em 90% das emissões de gases de efeito estufa comparados ao uso de
combustíveis fósseis. Já pelas questões sociais o setor sucroenergético tem grande
elevação na contratação de mão-de-obra. Porém, esta visão prevalece primordialmente
nos interesses econômicos.
Mesmo diante, de uma alternativa sustentável em resposta à dependência do uso do
petróleo, o processo produtivo do etanol requer o uso de derivados de combustíveis
fósseis, como o diesel utilizado nos caminhões e maquinários. Além do uso de
herbicidas, agrotóxicos, queimada da palha, uso intensivo da água, gasto com energia
elétrica entre outros, descaracteriza esta produção como fonte alternativa segura. A
contratação de mão-de-obra, para os tratos culturais, não é efetiva, ocorrendo apenas
na época de colheita. Há diversas queixas e denuncias contra o tipo de ambiente hostil,
periculoso e insalubre dos quais esses trabalhadores rurais enfrentam.
O que caracteriza a produção do etanol oriundo da cana-de-açúcar, não são interesses
de um desenvolvimento sustentável com melhorias ambientais, ganhos sociais e geração
de riquezas, mas de um abastecimento no mercado interno e externo acarretando outros
problemas, por falta de políticas publicas consistentes.
Espera-se que diante tal constatação, a próxima Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a RIO+20, definam ações de indicadores ambientais com
a determinação de escalas aceitáveis de degradação ambiental, considerando-se riscos
de perdas irreversíveis e limites dos recursos naturais globais à expansão do subsistema
econômico.
Esse é um desafio no âmbito ambiental, conectar todos os setores em um único
propósito de preservar e conservar, não somente a natureza, mas o meio em que este
se insere, possibilitando as presentes e futuras gerações o direito de viverem em um
ambiente sadio e equilibrado, conforme preconizado no Art. 225 de nossa Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988.
O essencial não se deve estar em apenas falar sobre como definir e enfrentar nossos
próprios desafios, mas buscar soluções dentro de tal realidade de vida e comportamento,
ou seja, estamos coletivamente e individualmente parte desse problema e, portanto
devemos também se tornar parte da solução.
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