II
III
IV
A282 A água na indústria: uma análise da visão do setor industrial da região do Alto Iguaçu e afluentes do Ribeira / Antonio Ostrensky... [et al.]. - Curitiba: Instituto GIA, 2017. 1 v.: il.; 29 cm.
Inclui referências. Apoio FIEP/Plankton Soluções em Meio Ambiente. ISBN: 978-85-60930-17-3 1. Água. 2. Água na indústria. 3. Água - Uso. 4. Reuso de água. 5. Recursos hídricos - Desenvolvimento. I. Borghetti, José Roberto. II. Título.
CDU 628.179(816.2)
V
Apresentação
O documento “Água na Indústria: Uma análise da visão do setor industrial da região do Alto
Iguaçu e afluentes do Ribeira” é uma iniciativa da Fiep, em parceria com a empresa Plankton
Soluções em Meio Ambiente. O trabalho realizado teve como propósito avaliar a visão do setor
industrial acerca de seu papel como agente da conservação dos recursos hídricos na bacia do
Alto Iguaçu.
O ponto de partida para esse trabalho foi a cobrança pelo uso da água, estabelecida pelo
Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira e à utilização dos recursos
arrecadados a partir desta cobrança. Os usuários industriais das águas dessas bacias, na Região
Metropolitana de Curitiba, são os primeiros da região Sul do Brasil a ter que pagar pelo uso da
água.
Em um primeiro momento o valor cobrado dos consumidores industriais é apenas simbólico
(R$ 0,01/m3 para cada metro cúbico captado de águas superficiais; R$ 0,02 para cada metro
cúbico captado de águas subterrâneas; R$ 0,10 para cada metro cúbico consumido). Porém, é
fácil deduzir que muito em breve o pagamento pelo uso de águas captadas (ou seja, águas outras
que não aquelas tratadas pela Sanepar) não apenas será uma regra para todos os consumidores
industriais, como o valor cobrado tenderá a aumentar significativamente.
Mas, além disso, a questão da água vai muito além do simples valor cobrado por esse
indispensável e limitado recurso natural, de alto valor ecológico e econômico. Basta observar o
que tem acontecido na região Sudeste, em que a longa estiagem e o déficit hídrico a ela associado
levaram ao aumento acentuado nos valores pagos pelo uso da água e, mesmo assim, isso não
garantiu às indústrias acesso à água e muitas tiveram que reduzir seu ritmo de produção.
A preocupação do Sistema Fiep com as questões ambientais é hoje algo bastante concreto,
manifesta não apenas no trabalho aqui apresentado, mas na própria criação de uma Gerência de
Meio Ambiente e Sustentabilidade, que deverá atuar fortemente no planejamento e no suporte
às ações ambientais da Fiep junto aos seus afiliados.
O trabalho de diagnóstico da visão do setor industrial sobre o tema água e recursos naturais
em geral, foi desenvolvido a partir de um extenso questionário dividido em três etapas:
identificação da indústria e do responsável pelas informações; questões específicas sobre a
cobrança pelo uso da água; questões gerais sobre a visão e sobre as ações ambientais da empresa.
Este trabalho faz parte de um processo irreversível de enfrentamento dos problemas
ambientais; de utilização racional dos recursos naturais; de responsabilidade quanto ao uso da
água e à conservação das bacias hidrográficas; de aplicação de tecnologias cada vez mais
eficientes, voltadas à produção de produtos e sistemas compatíveis com as demandas da
sociedade. Um processo que não afeta ou envolve apenas a indústria, mas a todos,
indistintamente. Um processo que será decisivo para que a palavra "sustentabilidade" tenha de
fato algum sentido. Porque, se nada for feito e de forma eficiente, a conta, como sempre, será
cobrada de todos os brasileiros.
Edson Luiz Campagnolo
Presidente
Fiep
VI
Prefácio 1
Dentre todos os inúmeros recursos naturais explorados pelo homem, talvez nenhum tenha
a importância da água para a manutenção da vida na Terra. Não importa quem somos, o que
fazemos, onde vivemos, o que ou o quanto temos.... Sem água simplesmente não somos nada,
não sobrevivemos.
Mas, a disponibilidade de água doce, e de modo ainda mais evidente, as águas superficiais, é
ínfima se comparada com o volume total de água presente no planeta. Para se ter uma ideia,
97,5% da água na Terra está nos oceanos. Ou seja, é salgada e não serve nem para o consumidor
e nem para a maioria das indústrias. Apenas 2,5% da água do planeta é água doce e, desse total,
somente 1,2% está presente em rios, lagos e reservatórios. Além disso, ao contrário do que
muita gente pensa, água não é um recurso natural renovável, mas apenas reciclável. Podemos
limpar e purificar a água, mas não criá-la em larga escala. Assim, a água que temos hoje no planeta
é exatamente a mesma água que havia na Terra na época dos dinossauros.
Essa água, que passa pelos seus ciclos naturais de evaporação, transpiração, condensação,
precipitação, escoamento e infiltração, é utilizada de forma múltipla por todos nós: para
abastecimento da população, para a produção agrícola, para o transporte, para o lazer, para a
geração de energia e, no contexto do trabalho aqui realizado pela Fiep, para os processos
produtivos industriais.
Então, é evidente que se não utilizarmos adequadamente essa água, teremos custos cada vez
mais elevados para o seu tratamento (reciclagem), para que ela possa ser utilizada para o
abastecimento da população ou como base para os processos industriais. Custos mais elevados
significam sempre exclusão. Ou seja, quem não tiver condições financeiras para adquiri-la poderá
ficar sem água, ou sem acesso aos produtos industriais que precisam de água para ser produzidos
(e quase todos eles, de fato, utilizam água em algum ponto de seu processo produtivo).
As demandas da indústria por água variam de setor para setor. Em toda e qualquer indústria
a água é utilizada para o chamado "consumo humano" (utilizada em ambientes sanitários,
vestiários, cozinhas e refeitórios, bebedouros, equipamentos de emergência). Mas, ela também
pode ser usada como matéria prima, naqueles casos em que ela é incorporada ao produto final,
a exemplo do que ocorre nas indústrias de bebidas, de produtos de higiene pessoal e limpeza
doméstica, de cosmética, de alimentos e conservas e de farmácias), ou nos casos em que é
utilizada para a obtenção de outros produtos (por exemplo, o hidrogênio por meio da eletrólise
da água). A água pode ser utilizada como fluido auxiliar (por exemplo, na preparação de
suspensões e soluções químicas, compostos intermediários, reagentes químicos, veiculo, ou para
operações de lavagem); na geração de energia (por meio de transformação da energia cinética,
potencial ou térmica, da água, em energia mecânica e posteriormente em energia elétrica); como
fluido de aquecimento e/ou resfriamento (como fluido de transporte de calor para remoção de
calor de misturas reativas ou outros dispositivos que necessitem de resfriamento devido a
geração de calor); além de vários outros usos (combate a incêndio, rega de áreas verdes ou
incorporação em diversos subprodutos gerados nos processos industriais, seja na fase sólida,
liquida ou gasosa).
Por outro lado, o aumento da população e de suas demandas por padrões cada vez melhores
de vida leva ao aumento das atividades técnico-industriais, promovendo o crescimento
VII
econômico, mas gerando um aumento da demanda por água na indústria. Assim, o chamado
"desenvolvimento sustentável" só existe se consegue conciliar crescimento econômico e
conservação dos recursos naturais. Caso contrário, o desenvolvimento nunca será sustentável.
Assim, como um dos grandes usuários da água, o setor industrial não pode se abster da sua
corresponsabilidade pela gestão, pelo uso mais racional e cada vez mais eficiente dos recursos
hídricos. Nesse contexto, o presente documento apresenta um painel bastante interessante e
atual sobre como a indústria da região do Alto Iguaçu e dos Afluentes do Alto Ribeira encara
hoje o desafio de, não apenas ter que pagar pelo direito de usar os recursos hídricos, mas
também de usá-los de forma adequada.
Infelizmente, não temos no país uma política de gestão minimamente eficiente da água, o que
acaba levando, como única alternativa, a um modelo decentralizado e descoordenado de gestão
dos recursos hídricos. Um modelo muito mais difícil de apresentar resultados concretos porque
depende da conscientização e de ações coletivas em relação ao uso e à apropriação desse
recurso natural.
O trabalho realizado pela Fiep não é apenas um registro dessa visão do setor industrial sobre
o tema. Ele vai muito além disso, ao instigar as pessoas que estão ligados ao setor industrial a
buscar soluções para problemas que, apesar de coletivos, dependem de ações individuais.
Nelson Hubner Coordenador do Conselho Temático
do Meio Ambiente
Sistema Fiep
VIII
Prefácio 2
Vivemos um tempo em que falar de mudanças climáticas em escala global não é mais coisa
para o futuro. Não é mais tema para se tratar como "o mundo que vamos deixar para as gerações
futuras". Não! Discutimos hoje o que ainda podemos fazer para evitar que nossas próprias vidas
se transformem em um verdadeiro pesadelo, que é um mundo com déficit hídrico.
Em escala mundial, a indústria tem papel fundamental no uso da água. Indústrias não operam
sem dois insumos básicos: água e energia. Hoje, a preocupação principal dos representantes das
indústrias que participaram da pesquisa aqui realizada (como poderá ser constatado pela leitura
deste documento desenvolvido pela Fiep) é maior com a energia que propriamente com a água.
Contudo, é preciso lembrar que um dos usos múltiplos da água é justamente a produção de
energia para o desenvolvimento econômico. Hoje, o setor energético consome cerca de 8% de
toda água doce do planeta e até 40% do recurso em países em desenvolvimento. A energia
também é um insumo-chave na cadeia de valor da água, sendo utilizada para movimentar e tratar
a própria água.
As implicações relacionadas à água já deixaram de ser uma questão operacional para se
transformar em assunto estratégico, tanto para países quanto para as corporações. O problema
não é mais "mundial", ou seja, longe de nós. O problema hoje é o sistema Cantareira, são os
níveis dos reservatórios do Capivari-Cachoeira ou da Voçoroca. O problema literalmente está
chegando às nossas casas, às nossas empresas... Se não o enfrentarmos adequadamente, só tende
a piorar.
As mudanças do clima terão impacto absolutamente relevantes na disponibilidade de água e,
fundamentalmente, nas condições de previsão e avaliação dos riscos para o setor produtivo e
para a sociedade. A capacidade da economia nacional de cumprir suas aspirações de crescimento
passará, necessariamente, pelo gerenciamento sustentável dos recursos hídricos e pela
preocupação com a dimensão humana do tema "água".
Nesse contexto, é claro que o gerenciamento da água vem se tornando uma questão
relevante para as indústrias, pois trata diretamente de suas operações, da oferta desse insumo
essencial para toda a cadeia produtiva e, em última instância da sua licença social para realizar
negócios.
Há números que mostram essa preocupação do setor industrial em participar das decisões
sobre o uso e o gerenciamento dos recursos hídricos. Levantamento realizado pela CNI, em
2013, aponta que o setor industrial conta com mais de 700 representações nos diversos
colegiados de recursos hídricos, sendo um dos setores mais engajados na construção de uma
boa gestão das águas no país. Ou seja, a indústria reconhece seus desafios e está disposta a
buscar um diálogo com governos e com a sociedade na busca por soluções compartilhadas.
O setor industrial também é plenamente consciente de que se a crescente demanda pela
água faz com que as preocupações com o recurso sejam globais – especialmente em função das
mudanças climáticas – as soluções devem obrigatoriamente ser locais. Até porque o transporte
de água por longas distâncias quase nunca é viável.
Verter as preocupações globais com a água para soluções locais requer investimentos e
soluções ligadas à inovação e à sustentabilidade. Esses dois elementos serão essenciais para a
IX
competitividade das indústrias nas próximas décadas. Conservação do ambiente e uso eficiente
de todo e qualquer recurso natural nos processos produtivos, combinados com ações voltadas
à garantia de equidade social, são os pilares do desenvolvimento sustentável.
O Sistema Fiep estrutura-se para oferecer parcerias estratégicas para seus filiados em
relação aos recursos hídricos, sinalizando para seus parceiros e para a sociedade em geral que
pode atuar como agente de articulação e representação do setor industrial em relação à agenda
da sustentabilidade, aportando contribuições e soluções para que empresas e industriais possam
ser proativos e cada vez mais competitivos em suas operações.
O presente documento tem justamente como objetivo contextualizar a situação atual e
tendências associadas ao uso e governança da água, bem como compartilhar a visão do setor
industrial do Alto Iguaçu e dos afluentes do Alto Ribeira para o aprimoramento da sua própria
gestão e minimização dos riscos associados ao seu uso. Por isso, este documento serve não
apenas como leitura, mas como fonte de consulta e de reflexão.
Irineu Roveda Júnior Assessor da Presidência
Sistema Fiep
X
Sumário Geral
APRESENTAÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------------------- V
PREFÁCIO 1 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- VI
PREFÁCIO 2 --------------------------------------------------------------------------------------------------------- VIII
SUMÁRIO EXECUTIVO ------------------------------------------------------------------------------------------- XIV
CAPÍTULO 1 - AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA --------------------- XVI
CAPÍTULO 2 - MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA------------- XVII
CAPÍTULO 3 - A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS --------------------------------------- XIX
CAPÍTULO 4 - A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS ----------------- XX
CAPÍTULO 5 - A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA ------------------------ XX
CAPÍTULO 6 - USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA -------------------------------------- XXI
CAPÍTULO 7 – ARCABOUÇO LEGAL ------------------------------------------------------------------------- XXIII
CAPÍTULO 8 – SETOR DE ALIMENTOS ---------------------------------------------------------------------- XXIII
CAPÍTULO 9 – SETOR DE BEBIDAS --------------------------------------------------------------------------- XXV
CAPÍTULO 10 – SETOR DE PAPEL E CELULOSE ----------------------------------------------------------- XXVI
CAPÍTULO 11 – CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ---------------------------------------------- XXVII
CAPÍTULO 12 - ENTREVISTA COM O PRESIDENTE ---------------------------------------------------- XXVIII
1 AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E DOS AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA ------------------------------- 1
1.1 O PLANO DE BACIAS DO ALTO IGUAÇU E AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA ------------------------------------- 5
2 MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA ------------------------------ 7
XI
2.1 O TRABALHO REALIZADO ---------------------------------------------------------------------------------------- 7
2.2 CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS PARTICIPANTES ------------------------------------------------------------ 9
2.3 CERTIFICAÇÕES E EXPORTAÇÃO-------------------------------------------------------------------------------- 10
2.4 OUTORGA E COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA ----------------------------------------------------------------- 12
2.5 AÇÕES E INICIATIVAS PARA O USO MAIS EFICIENTE DA ÁGUA EM PROCESSOS E PRODUTOS -------------- 15
2.6 IMPACTOS AMBIENTAIS ---------------------------------------------------------------------------------------- 18
2.7 CAPACITAÇÃO DO CORPO TÉCNICOS DA INDÚSTRIA NA ÁREA AMBIENTAL --------------------------------- 23
2.8 REFLEXÕES SOBRE AS RESPOSTAS APRESENTADAS ----------------------------------------------------------- 24
3 A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS -------------------------------------------------------- 27
3.1 CASO 1- CINI BEBIDAS ----------------------------------------------------------------------------------------- 27
3.1.1 APRESENTAÇÃO DA CINI BEBIDAS --------------------------------------------------------------------------- 28
3.1.2 O PROCESSO INDUSTRIAL ADOTADO NA CINI BEBIDAS ----------------------------------------------------- 29
3.1.3 ANÁLISE DO PROCESSO INDUSTRIAL DA CINI BEBIDAS LTDA. ---------------------------------------------- 46
3.1.4 CONCLUSÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------- 49
3.2 CASO 2- A UTILIZAÇÃO DE ÁGUA EM ABATEDOUROS DE AVES --------------------------------------------- 49
3.2.1 REGULAMENTAÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------ 49
3.2.2 FLUXOS DE USO DE ÁGUA NO PROCESSAMENTO DE AVES -------------------------------------------------- 52
3.2.3 A POSSIBLIDADE DE RACIONALIZAÇÃO DO USO DE ÁGUA EM ABATEDOUROS DE AVES ------------------- 54
3.2.4 QUESTÕES LEVANTADAS ------------------------------------------------------------------------------------- 55
4 A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS ------------------------------ 57
4.1 OUTORGAS X VALORES PAGOS -------------------------------------------------------------------------------- 57
4.2 METODOLOGIA DE ANÁLISE ----------------------------------------------------------------------------------- 67
4.3 A COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA SOB O PONTO DE VISTA DA INDÚSTRIA --------------------------------- 68
4.4 USO DA ÁGUA NOS DIFERENTES SETORES INDUSTRIAIS------------------------------------------------------ 70
4.5 IMPACTO FINANCEIRO DO VALOR COBRADO PELA ÁGUA PARA A INDÚSTRIA ------------------------------ 71
5 A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA ---------------------------------------- 75
5.1 O PAPEL DA FIEP------------------------------------------------------------------------------------------------ 75
5.2 A POSIÇÃO DA FIEP NA VISÃO DE SEUS DIRETORES ---------------------------------------------------------- 77
5.2.1 IRINEU ROVEDA JUNIOR ------------------------------------------------------------------------------------- 77
5.2.2 JOSÉ ANTONIO FARES ---------------------------------------------------------------------------------------- 78
5.2.3 MARCO SECCO ----------------------------------------------------------------------------------------------- 78
5.2.4 RAFAEL CESAR DA COSTA ------------------------------------------------------------------------------------ 79
5.3 PROPOSTAS INSTITUCIONAIS DA FIEP EM RELAÇÃO À COBRANÇA PELO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS - 80
5.3.1 COBRANÇA PELO VOLUME EFETIVAMENTE CAPTADO, COM USO DE HIDRÔMETROS.--------------------- 80
5.3.2 LIMITAÇÃO NO AUMENTO DOS VALORES COBRADOS. ------------------------------------------------------ 82
5.3.3 INCENTIVOS À REDUÇÃO DO CONSUMO. -------------------------------------------------------------------- 83
5.3.4 RECURSOS ARRECADADOS SENDO INVESTIDOS NA PRÓPRIA BACIA. --------------------------------------- 83
5.3.5 TEMAS RELEVANTES EM RELAÇÃO À ÁGUA NA INDÚSTRIA DE BEBIDAS ------------------------------------ 86
XII
6 USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA ----------------------------------------------------- 89
6.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA ----------------------------------------------------------------------------- 91
6.2 DESAFIOS A SEREM SUPERADOS ------------------------------------------------------------------------------- 92
6.3 A BUSCA POR AUMENTO DE EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADE ------------------------------------------------- 93
6.3.1 REÚSO EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO ------------------------------------------------------------------ 94
6.3.2 REÚSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA ----------------------------------------------------------------------------- 96
6.3.3 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA ---------------------------------------------------------------------------- 97
7 ARCABOUÇO LEGAL ---------------------------------------------------------------------------------------- 101
7.1 DIRETRIZES MUNDIAIS --------------------------------------------------------------------------------------- 101
7.2 DIRETRIZES EPA (EUA) ------------------------------------------------------------------------------------- 101
7.3 LEIS E REGULAMENTAÇÕES FEDERAIS ----------------------------------------------------------------------- 105
7.4 LEIS E DECRETOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS ---------------------------------------------------------------- 107
7.4.1 DISTRITO FEDERAL ----------------------------------------------------------------------------------------- 108
7.4.2 SANTA CATARINA ------------------------------------------------------------------------------------------ 108
7.4.3 MINAS GERAIS --------------------------------------------------------------------------------------------- 108
7.4.4 PARANÁ ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 108
7.4.5 PERNAMBUCO ---------------------------------------------------------------------------------------------- 109
7.4.6 RIO DE JANEIRO -------------------------------------------------------------------------------------------- 109
7.4.7 RIO GRANDE DO SUL --------------------------------------------------------------------------------------- 109
7.4.8 SÃO PAULO ------------------------------------------------------------------------------------------------- 109
7.4.9 TOCANTINS ------------------------------------------------------------------------------------------------- 110
7.5 NORMAS ABNT ---------------------------------------------------------------------------------------------- 110
8 SETOR DE ALIMENTOS ------------------------------------------------------------------------------------- 112
8.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL ------------------------------------------------------------------------------------ 112
8.1.1 OPORTUNIDADES E SOLUÇÕES ----------------------------------------------------------------------------- 114
8.2 A AGROINDÚSTRIA INTEGRADORA -------------------------------------------------------------------------- 115
8.2.1 ABATEDOUROS E FRIGORÍFICOS DE AVES ------------------------------------------------------------------ 117
8.2.2 ABATEDOUROS DE SUÍNOS --------------------------------------------------------------------------------- 119
8.3 DIRETRIZES TÉCNICAS DO BANCO MUNDIAL --------------------------------------------------------------- 120
9 SETOR DE BEBIDAS ------------------------------------------------------------------------------------------ 123
9.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL ------------------------------------------------------------------------------------ 123
9.1.1 OPORTUNIDADES E SOLUÇÕES ----------------------------------------------------------------------------- 124
9.2 A NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DOS PADRÕES DE POTABILIDADE------------------------------------- 127
9.3 DIRETRIZES TÉCNICAS DO BANCO MUNDIAL --------------------------------------------------------------- 130
10 SETOR DE PAPEL E CELULOSE--------------------------------------------------------------------------- 133
XIII
10.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL ----------------------------------------------------------------------------------- 134
10.1.1 OPORTUNIDADES E SOLUÇÕES --------------------------------------------------------------------------- 136
10.2 DIRETRIZES TÉCNICAS DO BANCO MUNDIAL ------------------------------------------------------------- 139
11 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES -------------------------------------------------------------- 141
11.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------------------------------ 141
12 ENTREVISTA COM O PRESIDENTE --------------------------------------------------------------------- 144
13 ANEXO I ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 148
14 ANEXO II ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 162
15 REFERÊNCIAS CITADAS ----------------------------------------------------------------------------------- 170
xiv
SUMÁRIO EXECUTIVO
O presente projeto foi realizado com o objetivo de iniciar, no âmbito da Federação das
Indústrias do Estado do Paraná, um processo de discussão e de ações voltadas ao tema “água na
indústria”. A primeira motivação para a sua realização é a cobrança pelo uso da água, estabelecida
pelo Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira. Mas, a questão do uso de
recursos hídricos extrapola atualmente o impacto causado por tal cobrança.
Observa-se, muito em função da crise de abastecimento de água que vem se alastrando pela
região Sudeste e, de forma mais específica, no estado de São Paulo, que os problemas
relacionados à disponibilidade hídrica deixaram de ser exclusivos da região Nordeste e começam
a bater em nossas próprias portas. Assim, mais cedo ou mais tarde, as indústrias terão que
inserir este tema entre suas preocupações e prioridades.
Segundo nossa consciência coletiva, parecia ser normal ver pela TV pessoas andando por
quilômetros e quilômetros de distância para disputar um pouco de água barrenta e contaminada
com bois, vacas ou porcos. Como esse problema vem desde que o Brasil foi descoberto,
achávamos isso realmente normal. Mas, agora, com a crise instalada na região Sudeste, a busca
sobre formas de se utilizar mais racional e eficientemente os recursos hídricos não é mais uma
questão regional, mas sim uma necessidade nacional, afetando indistintamente os consumidores
residenciais, o setor agrícola e o setor industrial do país.
Fonte: Maxres
Apesar de o Brasil ser considerado um país com uma (teórica) abundância de água, talvez
até aqui não precisamos nos dar conta de que a lei da oferta e da procura também se aplica à
água e aos recursos hídricos. Como a distribuição de água no país é irregular; como a água é um
xv
insumo indispensável para quase todas as indústrias; como a demanda por água, tanto para uso
residencial quanto agrícola e industrial, só aumenta; como o nível de tratamento de esgotos e
efluentes não consegue aumentar na mesma proporção da demanda; tem-se aí um previsível
cenário para os próximos anos:
• Aumento contínuo da demanda por água, especialmente se o país conseguir reverter a
tendência de redução do seu baixo ritmo de crescimento econômico verificado nos
últimos 25 anos;
• Aumento da pressão pelo grau de modernização do Estado, ampliando sua capacidade
de gestão, de formulação e implementação de políticas públicas relacionadas aos
recursos hídricos;
• Consequente aumento do rigor nos processos relacionados à captação, uso, reúso de
água, descarte de efluentes e redução de perdas nos processos industriais;
• Consolidação de um disputado e irreversível cenário de economia globalizada, que força
a conscientização da indústria quanto a uma substancial mudança nos processos de
transformação, pela incorporação de práticas de produção mais limpa;
• Aumento dos custos para obtenção e direito de uso de água na indústria;
• Pressão por aumento do ritmo da inovação tecnológica na indústria, na agroindústria e
no saneamento nacionais.
Com relação a este último ponto, essa é também uma questão estratégica. O bom
aproveitamento dos recursos hídricos é hoje preocupação da agenda internacional e deve
crescer de relevância nos próximos anos, em grande parte por sua escassez.
Tem havido um inegável avanço no desenvolvimento científico e tecnológico,
particularmente nos processos relacionados ao consumo, ao uso e reúso e à despoluição das
águas. Isso, por sua vez, cria um cenário favorável para inserção internacional daqueles países
dotados de fatores tradicionais (trabalho e recursos naturais), que consigam compatibilizar as
inovações tecnológicas decorrentes da sua inserção na nova “Economia do Conhecimento”,
podendo produzir um novo dinamismo em suas economias.
Em termos de gestão de recursos hídricos, o modelo que vem sendo tentado no país é a
construção de consensos1, tendo como unidade geográfica as bacias hidrográficas, e como
agentes os comitês de bacia hidrográfica. No caso específico da região metropolitana de Curitiba,
alvo do presente trabalho, o principal fórum de discussão sobre água e recursos hídricos é o
Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira, criado em 2006.
Tal modelo prevê a implementação de programas de responsabilidade social que promovam
a despoluição dos corpos d’água, em complemento aos programas de incentivo governamentais.
Porém, na prática, essa teórica "descentralização" acaba não funcionando e o poder público
continua determinando as prioridades, ações e investimentos, em detrimento dos demais
setores representados nos comitês de bacia.
1 A construção de consenso é um método participativo e inclusivo de elaboração de consenso pautado no diálogo. É instrumento especialmente útil para diálogos que envolvem múltiplas partes e múltiplos interesses que necessitem ser articulados na propositura de normas, projetos, acordos ou ações que visem ao benefício e à satisfação mútuos, assim como à preservação das diferenças entre os envolvidos. http://www.mediare.com.br/08artigos_10construcaodeconsenso.html
xvi
Assim, como um grande usuário dos recursos hídricos, é muito importante que o setor
industrial instalado na região do alto Iguaçu e representado pela Fiep, crie um fórum interno de
discussão e orientação aos seus afiliados e que esteja, de fato, envolvido no processo de
planejamento, regulamentação e gestão dos recursos hídricos.
Fonte: Maurílio Cheli - Acervo: IPPUC
O trabalho aqui realizado esteve inserido neste contexto de avaliação da indústria como
agente da conservação dos recursos hídricos na bacia do Alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribeira.
Ele foi baseado na elaboração de um diagnóstico sobre a visão do setor industrial em relação à
cobrança pelo uso da água, estabelecida pelo Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do
Alto Ribeira e a utilização dos recursos gerados a partir desta.
Capítulo 1 - As bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do
Alto Ribeira
O trabalho realizado através da parceria entre a Fiep e a Plankton Soluções em Meio
Ambiente está inserido no contexto de avaliação da indústria como agente da conservação dos
recursos hídricos na bacia do alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribeira.
Neste primeiro capítulo é feita uma apresentação das bacias hidrográficas paranaenses, que
são agrupadas em 12 unidades hidrográficas. Uma dessas unidades engloba as bacias do Alto
Iguaçu, Afluentes do Rio Negro e Afluentes do Alto Ribeira. A área de abrangência do Alto
Iguaçu e dos afluentes do Alto Ribeira compreende a bacia do Rio Iguaçu até imediatamente à
xvii
jusante da confluência com o Rio Negro e toda a bacia do rio Ribeira em território paranaense,
até a divisa com São Paulo. A área total abrangida é de aproximadamente 5.870 km² e engloba
26 municípios, sendo 19 da Região Metropolitana de Curitiba, a mais populosa do estado.
Nessa região, entre 2007-2013 a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos
Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA (atual Instituto das Águas do Paraná)
desenvolveu o “Plano da Bacia do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira”.
Os resultados deste Plano foram publicados em julho de 2013, em um documento que
apresentava, entre outros resultados, o Plano de Ações nas Bacias, relacionando o conjunto de
programas, subprogramas e ações específicas que visam atender às necessidades identificadas no
desenvolvimento do Plano das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira.
A partir de 2013 também começou a vigorar a cobrança pelo uso da água por grandes
usuários dessa bacia. O grande dilema, entretanto, é como desenvolver todas as ações previstas
se os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água não chegam sequer a cobrir 4% das
demandas projetadas.
Capítulo 2 - Meio ambiente e recursos hídricos na
visão da indústria
Este capítulo foi baseado na elaboração de um diagnóstico sobre a visão do setor industrial
em relação à cobrança pelo uso da água, estabelecida pelo Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e
Afluentes do Alto Ribeira e a utilização dos recursos gerados a partir desta.
Para isso, foi desenvolvido um extenso questionário dividido em três etapas: identificação
da indústria e do responsável pelas informações; questões específicas sobre a cobrança pelo uso
da água; questões gerais sobre a visão ambiental da empresa.
xviii
A seguir, foi feita a
identificação das 72 principais
empresas localizadas na
região do Alto Iguaçu que já
pagam pelo uso da água. As
empresas foram contatadas
através e-mail e,
posteriormente, por telefone.
Uma vez identificados os
responsáveis técnicos e
apresentada a proposta de
trabalho, o questionário foi
disponibilizado de modo a ser
respondido online. Dessas,
representantes de 20
empresas responderam, o que
perfaz uma taxa de retorno de
28%. Dez delas possuem mais
de 500 funcionários, sendo
classificadas como grandes
empresas; sete possuem
entre 100 e 499 funcionários
(médias empresas) e três
possuem entre 20 e 99
funcionários (pequenas
empresas).
Alguns detalhes das
respostas chamaram a atenção,
como, por exemplo, o fato de
que metade das empresas que responderam ao questionário afirmarem que pretendem manter
os atuais volumes outorgados de água, enquanto a outra metade se divide igualmente entre as
que pretendem aumentar e as que pretendem reduzir os volumes outorgados.
Representantes de cinco empresas afirmaram que a cobrança pelo uso da água captada
causou impacto no custo final de produção. Entre eles, apenas dois reportaram a relevância
deste impacto, estimado em 0,45% em um dos casos e em 0,1 % no outro caso. Os
representantes de 12 empresas concordam com a cobrança pelo uso da água.
Representantes de sete empresas afirmaram que concordam com o pagamento mesmo
que os valores fossem mais altos do que os cobrados atualmente, seis responderam que não
concordam e dois não souberam responder.
Quando questionados se a cobrança pelo uso da água tem incentivado melhorias nos
processos da indústria ou se os eventuais aprimoramentos aconteceriam mesmo sem a
cobrança, 13 representantes responderam que não. Alguns justificaram que a relação
custo/benefício não incentivaria essas modificações. Outros que as melhorias vêm acontecendo
independentemente da cobrança, em parte por política ambiental ou econômica da empresas.
Tabela 1. Relação das empresas que responderam à
pesquisa.
Nome da indústria
Água Mineral Naturale Ltda.
BRASILSAT HARALD S/A
COCELPA - Companhia de Celulose e Papel do Paraná
Companhia Siderúrgica Nacional
Frigorífico Argus Ltda.
Furukawa Industrial S.A.
Gerdau
Hugo Cini S.A.
IBQ - Indústrias Químicas S.A
Iguaçu Celulose, papel S.A.
Importadora de Frutas La Violetera Ltda.
Isogama Indústria Química Ltda.
Leão Alimentos e Bebidas Ltda.
MULTILIT Fibrocimento Ltda.
Resinas Yser Ltda.
Solo Vivo Fertilizantes
SPAL Indústria Brasileira de Bebidas
TERRA RICA Indústria e Comércio de Calcários e Fertilizantes
de Solo Ltda.
Volkswagen do Brasil
Volvo
xix
Ou seja, antecipando-se a qualquer legislação, muitas indústrias já estariam incorporando em
seus processos práticas ambientalmente mais adequadas.
Fica também claro pelas respostas que as empresas de grande porte dispõem de condições
técnicas e financeiras para implantar essas práticas, enquanto as pequenas empresas podem
precisar de apoio e orientação para adotarem sistemas e práticas mais eficientes em suas
unidades produtivas.
Capítulo 3 - A água na indústria - estudos de casos
Atualmente a Fiep conta com 21 coordenadorias nas regiões-polo do estado do Paraná,
prestando assessoria direta aos 109 sindicatos empresariais filiados e defendem os interesses de
mais de 46 mil indústrias, responsáveis por 820 mil postos de trabalho.
Obviamente, seria impossível analisar as questões relacionadas à água de forma a abranger
esse imenso universo de particularidades, demandas e desafios. Por isso, dois casos foram
escolhidos para ilustrar a importância de um tema central hoje para a indústria paranaense: a
discussão sobre reúso e sobre a utilização de água de chuva na indústria, temas que permeiam
todo o trabalho aqui apresentado.
Para ilustrar esse vasto universo de possibilidades foram escolhidos dois setores, que
serviram de base para a discussão dos temas: a indústria de bebidas e a indústria de carnes.
A indústria de bebidas, aqui representada pela Cini Bebidas, foi escolhida por ser um bom
exemplo de um setor que faz preponderantemente o uso consuntivo da água. Ou seja, é uma
indústria que consome água de sua fonte natural, o que pode, se não for realizado de forma
tecnicamente planejada e ordenada, levar à diminuição da disponibilidade, espacial ou temporal,
deste recurso (água) que é o seu insumo básico.
O segundo caso estudado aborda um setor estratégico para a economia paranaense e
brasileira: o de carnes, mais especificamente, de frangos. O Brasil é o terceiro maior produtor
mundial de frangos e 30% dos frangos do país são abatidos no Paraná.
A legislação que disciplina o uso de água no processamento de frangos é de 1998, quando
ainda praticamente não existia nenhum tipo de preocupação concreta com o uso racional da
água, principalmente em regiões sem histórico de eventos causadores de grandes déficits
hídricos, como ainda é o caso do Paraná. Essa legislação obriga as empresas a gastar no mínimo
30 L de água no processamento de cada frango abatido.
Para se ter ideia do que isso representa, em 2014 o país abateu mais de 4 bilhões de frangos.
Ou seja, só no Paraná foram gastos pelo menos 40 bilhões de litros de água no abate e no
processamento desses animais. Esse valor poderia ser muito menor se a legislação fosse
modernizada, permitindo que as empresas utilizassem tecnologias mais modernas, que podem
levar a uma redução significativa no consumo de água nesse processo industrial.
xx
Em ambos os casos abordados, o reúso e até mesmo a possibilidade de utilização de água
de chuva, poderiam levar a um uso mais racional e sustentado de água, o que certamente também
se aplicaria a vários outros setores industriais do Paraná.
Capítulo 4 - A indústria e a cobrança pelo uso de
recursos hídricos
Neste capítulo é feita uma discussão bastante direta sobre a cobrança pelo uso da água
no âmbito do Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira (COALIAR).
A questão do pagamento pelas outorgas de captação e de lançamento de efluentes, os
valores cobrados, as dificuldades administrativas do COALIAR de cobrar de todos os usuários,
são temas apresentados em números e discutidos.
Em seguida, com base em uma análise dos dados do questionário aplicado às empresas
filiadas à Fiep, e em uma análise histórica dos coeficientes de uso de água na indústria, foi realizada
uma análise que mostra a quantidade de água usada em diversos setores industriais.
Para fazer uma comparação de intensidade do uso da água entre os diferentes setores,
foi proposto um índice técnico, que relaciona a quantidade monetária produzida para cada metro
cúbico de água usado no processo industrial.
Por fim, foi realizada uma análise do Impacto financeiro do valor cobrado pela água para
a indústria. Ainda que os dados utilizados nessa análise tenham sido estimados e, portanto,
sujeito a erros, foi possível concluir que, mesmo nas indústrias com uso mais intensivo de água,
o valor cobrado atualmente não é financeiramente impactante. Mesmo no caso em que a razão
entre o valor cobrado e receita da empresa é numericamente o maior, esse valor representa
apenas cerca de 0,012% da receita líquida da empresa. Ou seja, definitivamente, os valores pagos
atualmente pelo uso da água não impactam financeiramente nenhuma empresa.
Capítulo 5 - A visão do sistema Fiep em relação
ao tema água
Em paralelo à aplicação do questionário junto aos representantes das indústrias (Capítulo
4), um outro questionário específico foi preparado e aplicado a quatro representantes-chave da
Fiep: Irineu Roveda Júnior, advogado, assessor da presidência; José Antonio Fares, psicólogo e
gestor empresarial, superintendente do SESI/IEL; Marco Secco, pedagogo, pós-graduado em
gestão empresarial e logística, Diretor do SENAI no Paraná; e Rafael Cesar da Costa, arquiteto
e urbanista com competências nas áreas de habitação, governança e infraestrutura urbana,
gerente de Meio Ambiente da Fiep. Também foi feita uma entrevista com o presidente da Fiep
xxi
Essa parte do trabalho, realizada junto aos principais representantes da Fiep, teve por
objetivo ajudar a compreender a visão do setor industrial sobre o tema em análise, porém, na
visão de profissionais que estão à frente de cargos estratégicos na Federação das Indústrias do
Estado do Paraná.
Em termos gerais, os resultados mostram que existe, sim, uma preocupação do setor
industrial com a utilização mais racional e eficiente da água. Isso cria um cenário adequado para
que o tema seja efetivamente incorporado ao planejamento institucional do próprio Sistema
Fiep, de forma que o setor industrial seja um agente ativo de um processo de gestão dos recursos
hídricos que está só começando.
Em uma segunda parte desse capítulo são apresentadas e discutidas as quatro principais
propostas institucionais da Fiep em relação à cobrança pelo uso da água:
1. Cobrança pelo volume efetivamente captado, e não apenas pelo volume outorgado, com
uso de hidrômetros.
2. Limitação nos aumentos dos valores cobrados.
3. Incentivos à redução do consumo.
4. Recursos arrecadados sendo investidos obrigatoriamente na própria bacia.
Capítulo 6 - Uso, reúso e utilização de água de chuva
A água é um recurso natural indispensável para a sobrevivência e para o desenvolvimento
humano. Essa dependência da água se manifesta desde os primórdios da história humana até os
dias atuais. Nem mesmo o desenvolvimento tecnológico conseguiu diminuir nossa dependência
em relação a água e, para piorar, o número de habitantes no planeta tem aumentado em escala
praticamente exponencial nos últimos dois séculos.
Atualmente, a disponibilidade de água é um evidente fator de desenvolvimento das
sociedades humanas e, em função das diferenças existentes na distribuição geográfica dos
recursos hídricos ao redor do mundo, ou se aprende a viver em um ambiente de limitação
hídrica, ou se vive em constante crise econômica e social.
Conforme princípios estabelecidos na Agenda 21, o reúso de água é uma prática de
racionalização e de conservação de recursos hídricos. Sua maior "virtude" é a de reduzir a
descarga de poluentes em corpos receptores, conservando os recursos hídricos para o
abastecimento público e outros usos mais exigentes quanto à qualidade. O reúso reduz os custos
associados à poluição e contribui para a proteção do ambiente e da saúde pública.
Da mesma forma, o aproveitamento da água pluvial consiste basicamente em um modelo de
captação da água precipitada em áreas impermeáveis como telhados, lajes e calçadas e o seu
consequente armazenamento em reservatórios (cisternas), para posterior uso e/ou distribuição
dessa água, que pode ser tratada ou não, dependendo da do uso que se dará ela.
xxii
A captação e o uso de água da chuva já deixaram, há muito, de ser novidade em vários países:
Na Dinamarca, aproximadamente 25% do consumo das casas provém da água da
chuva;
Na Inglaterra, o Millennium Dome capta certa de 13.100 m³ de água da chuva em
um ano;
Na Alemanha e na Coreia do Sul a captação de água de chuva está integrada ao
cotidiano das pessoas e das corporações;
Na Austrália, na Gold Coast, estima-se que 7,3 milhões de m³ por ano de água da
chuva seja coletada, o que corresponde a 8% do consumo local;
Em Cingapura, a água da chuva é coletada essencialmente para abastecimento de
água potável e cerca de 90% dos telhados urbanos estão adaptados para coletá-la.
No Brasil, diante da maior escassez hídrica das últimas décadas, o estado de São Paulo, por
meio da Sabesp, está promovendo soluções para ampliar a sua disponibilidade hídrica, o que
inclui plantas de reúso de água nas indústrias.
A conservação, o uso racional e o reúso de água são práticas ambientalmente corretas e
necessárias. Mas, mais que isso, já podem ser consideradas economicamente viáveis para muitos
setores industriais.
Além disso, o pagamento pelo uso da água, política de gestão que tende a se disseminar por
todas as bacias hidrográficas do país, deve, então, resolver parte da demanda advinda do setor
industrial por soluções para o uso racional, bem como diminuir o impacto da emissão de
efluentes industriais sobre os corpos hídricos. Nesse contexto, práticas de reúso de água ganham
importância, pois permitem que efluentes tratados ou correntes com qualidade adequada
possam ser reutilizados, levando a um menor consumo de água e, muitas vezes, à melhora da
qualidade do efluente descartado no corpo de água.
Em relação à questão hídrica, o Paraná encontra-se em uma posição privilegiada em relação
à maioria dos estados brasileiros. As crises hídricas até aqui não foram tão severas como as que
atingiram vários outros estados ao longo do tempo. Entretanto, em um cenário de alterações
climáticas globais, isso não é nenhuma garantia de que não tenhamos que nos preocupar com o
tema ou que estejamos imunes à falta de água.
Por isso, ainda que água tenha hoje um custo relativamente baixo para o setor industrial, ela
precisa ser encarada como um recurso natural cada vez mais limitado; cada vez mais sujeito à
elevação de valor econômico; cujo uso compartilhado por todos os setores da sociedade tende
a gerar cada vez mais conflitos de uso... Em outras palavras, a água precisa ser encarada - de fato
- como uma matéria prima de alto custo pelo setor industrial.
xxiii
Capítulo 7 – Arcabouço legal
A legislação brasileira e os próprios regulamentos industriais são, via de regra, inexistentes,
arcaicos ou ineficientes. Na maioria das vezes as normas e regulamentos que disciplinam o uso
de água na indústria não estão em sintonia com as demandas crescentes do setor industrial e
pelos avanços tecnológicos, que possibilitariam um uso muito mais eficiente e responsável da
água.
Neste capítulo é feito um levantamento do arcabouço legal brasileiro relativo ao uso e reúso
de água que afetam direta ou indiretamente o setor industrial.
Capítulo 8 – Setor de alimentos
Como via de regra, a água pode ser utilizada em processos industriais para os mais variados
fins, como:
• Matéria-prima - quando é incorporada no produto final, como, por exemplo, na indústria
de bebidas, ou quando é utilizada para gerar outros produtos, como exemplo o
hidrogênio;
• Fluido auxiliar - preparo de suspensões e soluções, reagentes químicos, lavagem ou
como veículo;
• Geração de energia - transformação de energia cinética, potencial ou térmica acumulada
na água inicialmente em energia mecânica e posteriormente em energia elétrica;
• Fluido de aquecimento e/ou resfriamento - neste caso, o aquecimento normalmente se
dá na forma de vapor e o resfriamento é exigido devido à geração de calor ou às
condições de operação estabelecidas, pois a elevação de temperatura pode
comprometer o desempenho do sistema e danificar equipamentos;
• Transporte e assimilação de contaminantes - neste uso ficam incluídas as instalações
sanitárias, lavagem de equipamentos e instalações, incorporação de subprodutos sólidos,
líquidos ou gasosos gerados pelo processo.
O setor de alimentos e, de forma ainda mais especial, as indústrias de carnes, tem uma
relação muito especial com a água.
A água é amplamente usada para lavagem de matéria-prima, remoção de partes não
comestíveis, preparação dos alimentos e fabricação de embalagens. Além disso, há produtos
como os “em conserva” em que a água está incorporada no próprio produto em si.
Em relação ao uso de água na indústria de alimentos, a grande dificuldade do setor em
reduzir ou reutilizar seus recursos hídricos diz respeito principalmente aos aspectos legais e
sanitários envolvidos na atividade.
O setor de alimentos precisa ter preocupações extremas com a inocuidade de seus
produtos e com a segurança alimentar dos consumidores. Ainda assim, há um grande
xxiv
descompasso entre os regulamentos técnicos e os avanços tecnológicos alcançados nas últimas
décadas. Assim, reduzir a quantidade de água na produção sem esbarrar na legislação é o
principal desafio.
Por outro lado, há atualmente inúmeras inovações e tecnologias disponíveis para o
tratamento e a reutilização da água na indústria alimentícia, de modo que se as soluções
tecnológicas existem, passa a ser fundamental e necessário o interesse por parte da indústria e
do poder público rediscutir a legislação de uso e de reúso de água no setor industrial.
Neste capítulo, dois casos em especial são abordados: a agroindústria de frangos e de suínos
no Brasil. Em ambos os casos, a produção é concentrada em indústrias integradoras, sistema que
fez do Brasil um dos maiores produtores e um dos maiores exportadores de alimentos de
origem animal do mundo.
Integração é a denominação do sistema de parceria entre a empresa (Integradora) e os
produtores rurais (Integrados) - que possuem áreas próprias para a criação de aves, suínos, em
que o Integrado é remunerado de acordo com a produtividade obtida e o preço de mercado do
frango e do suíno no momento da venda.
Nesse modelo, a indústria precisa ir muito além de se preocupar em apenas processar e
transformar a matéria prima recebida do setor primário. Ela acaba se envolvendo diretamente
com o próprio processo de produção primária.
O sistema de produção integrada, ou integração, existe no Brasil há mais de 60 anos. Trata-
se de uma parceria, onde produtores e a agroindústria somam bens e esforços para a consecução
de um fim comum: a produção de animais e/ou vegetais destinados à indústria, cada um atuando
na sua especialidade.
No caso de aves e suínos, a agroindústria geralmente participa com os animais, rações,
medicamentos, transporte de animais e insumos, e a assistência técnica necessária à produção;
enquanto o produtor, geralmente participa com as instalações, equipamentos, água e energia
elétrica, bem como se responsabiliza pelo manejo (criação e engorda) dos animais até que os
mesmos atinjam a idade de abate.
Largamente utilizado no Brasil, este modelo tem permitido a obtenção de índices de
desempenho altamente competitivos e uma vigorosa expansão de suas parcerias.
É um sistema vitorioso no cenário nacional, quando comparado com outros setores da
agropecuária, pois gera renda no campo com certa estabilidade e continuidade e, com isso,
minimiza o êxodo rural, além de se mostrar, até aqui, competitivo no cenário internacional,
especialmente pela qualidade do produto na mesa dos consumidores.
Mas, por outro lado, como a legislação ambiental prevê a responsabilização solidária dos
entes envolvidos em qualquer processo de uso de recursos naturais ou que causem efeitos
potencialmente poluidores, é evidente que as indústrias integradoras assumem uma série de
riscos ambientais neste modelo, inclusive das etapas que precedem a chegada da matéria prima
nas próprias indústrias.
xxv
Capítulo 9 – Setor de bebidas
De acordo com informações da PIA 20112 (IBGE, 2011), o setor de fabricação de bebidas
responde por aproximadamente 4% do valor adicionado da indústria de transformação brasileira.
Por ser intensivo em capital, o setor tende a ser menos expressivo em relação ao trabalho.
Ainda assim, emprega cerca de 144 mil pessoas no mercado formal, o que corresponde a 2,2%
do pessoal ocupado na indústria de transformação do Brasil.
Em razão do fácil acesso a fontes de água no Brasil (um dos principais insumos da produção
de bebidas), a localização geográfica das plantas industriais do setor é orientada pela proximidade
de seus mercados consumidores. Isso explica porque essa indústria encontra-se distribuída por
todo o território nacional, o que revela também sua importância enquanto gerador de postos
de trabalho em áreas periféricas do país 1.
Atualmente, os refrigerantes despontam como o principal produto do setor, seguidos da
produção de cervejas – juntos, ultrapassam 75% do valor total da produção de bebidas, exclusive
xaropes. Aguardentes e outras bebidas destiladas, vinhos e águas envasadas completam o quadro.
São analisadas as principais fontes de resíduos de duas indústrias de bebidas (destilados e
refrigerantes) bem como as suas principais características. O primeiro exemplo é da indústria
de destilados e fabricação de bebidas de modo geral, que tem como principais fontes de resíduos
as atividades de maceração e pressionamento de grãos, resíduos da destilação do álcool e
condensados a partir da evaporação da vinhaça. As principais características desses resíduos são
a elevada quantidade de sólidos orgânicos dissolvidos, com altas taxas de nitrogênio e amidos
fermentados em seus produtos. Já os resíduos das indústrias de refrigerantes vêm dos processos
de lavagem das garrafas, do piso e dos equipamentos e dos drenos dos tanques de
armazenamentos do xarope. Esses resíduos são compostos basicamente por sólidos suspensos,
com pH e DBO elevados.
Por isso, a despeito do uso de grandes quantidades de água em seus processos, na indústria
de alimentos e de bebidas a taxa de reciclagem da água acaba sendo baixa. Como a poluição
orgânica e bacteriológica oriunda dos seus rejeitos pode afetar a saúde pública, o reúso exige
rigor e cautela.
Os principais decretos, portarias e normas técnicas para reúso de água neste setor industrial
são apresentados e discutidos, assim como as diretrizes técnicas do Banco Mundial para
financiamento de empreendimentos no setor.
2 PIA: Pesquisa Industrial Anual
xxvi
Capítulo 10 – Setor de papel e celulose
Dentre os setores industriais brasileiros, o de papel e celulose está presente em 450
municípios, 17 estados e nas cinco regiões geográficas. O Brasil está entre os maiores produtores
mundiais, sendo líder na produção de celulose de eucalipto 2.
Apesar da retração econômica atual, o setor de celulose destoa positivamente no cenário
nacional, principalmente nos casos em que o destino da produção é o mercado externo, que, ao
contrário do mercado de petróleo, e minérios, encontra-se aquecido.
De acordo com dados da Indústria Brasileira de Árvores – IBA, de janeiro a abril de 2015, a
produção totalizou 5,42 milhões de toneladas, alta de 4,3% em relação ao mesmo período do
ano passado (IBGE, 2015).
O maior responsável pelo bom desempenho da indústria de celulose é a forte desvalorização
cambial, que impulsionou as exportações, levando a um crescimento de 12,7% no volume
vendido no mercado externo, totalizando 3,66 milhões de toneladas.
Em relação ao uso de água no processo industrial, o setor de papel e celulose é considerado
um típico consumidor de água bruta, apresentando cargas elevadas de DQO e sólidos suspensos
em seus efluentes.
Aliás, o segmento de papel e celulose é considerado uma das principais indústrias poluidoras,
atrás apenas da indústria de cimento, açúcar, termoelétricas, destilarias, fertilizantes,
petroquímicas, mineração, ferro e aço e imediatamente a frente de curtumes, farmacêutica, tintas
e corantes têxteis e pesticidas 3.
Além disso, a indústria de papel e celulose, juntamente com as termoelétricas e a indústria
do aço, pertencem à categoria das que mais utilizam água. Enquanto uma indústria de açúcar usa
cerca de 15 m³/t de produto e a de fertilizantes químicos consome mais de 270 m³/t de produto,
uma indústria que produz papel comum pode consumir até cerca de 300 m³/t de produto
(embora a média seja de 50 m3/t) e uma de papel de alta qualidade necessita de até 1.000 m³ de
água por tonelada de produto produzido 3.
Essa incômoda situação pode fragilizar este segmento industrial e o colocar em alerta tanto
em relação a eventuais problemas com a legislação ambiental, quanto em relação às exigências
dos clientes ou ao estabelecimento de barreiras não alfandegárias para exportação, fatores que
podem levar as fábricas a ter que reduzir suas vazões de captação.
Porém, diferentemente dos outros setores discutidos anteriormente, no de papel e celulose
não há legislação específica para o uso e o reúso de água. O processo se adequa à legislação que
diz respeito à emissão de efluentes em corpos receptores e temas relacionados, previstos na
Política Nacional de Recursos Hídricos.
Assim o reúso de água neste setor está intrinsecamente relacionado às condições
operacionais, principalmente para a garantia da qualidade do produto final e manutenção do bom
funcionamento dos equipamentos.
xxvii
Ou seja, pelo menos em relação ao reúso, as principais limitações deste segmento industrial
são de caráter técnico e não normativo ou legal. Com isso, cabe ao próprio setor buscar
alternativas para seus problemas e desafios, sem precisar da interveniência mais incisiva da Fiep
ou de outros entes externos.
Capítulo 11 – Considerações e recomendações
Apesar da crise econômica atual estar devidamente consolidada e afetar a produção de
diversos setores industriais, é preciso lembrar que a escassez hídrica ou mesmo o aumento dos
custos de obtenção de água são ameaças reais, que podem comprometer ainda mais a capacidade
produtiva e a renda no setor industrial, além de provocar outros prejuízos econômicos e sociais.
Em outras palavras, a preocupação com o uso racional, eficiente e viável dos recursos hídricos
precisa ser incorporada ao dia das indústrias e também à relação cotidiana da Fiep com as
indústrias a ela associadas.
A água atualmente ainda é um insumo considerado de baixo ou de baixíssimo custo para as
indústrias. Mas, é evidente que essa situação deverá mudar irreversivelmente nos próximos anos
e o custo da água deverá deixar de ser apenas marginal, para constituir um elemento significativo
no processo industrial.
Contudo, como no Brasil o planejamento é quase sempre atropelado pela urgência dos fatos,
é mais que compreensível que diante de um cenário de forte crise econômica e política, com
elevação significativa dos custos de energia, com os custos para obtenção de água em patamares
pouco significativos, que o setor industrial venha, de fato, a se preocupar com os riscos de
escassez hídrica.
Dentre os três setores analisados no presente documento (alimentos, bebidas e papel e
celulose), observaram-se duas situações distintas. Nos dois primeiros casos, a exigência de
potabilidade da água utilizada em praticamente todo o processo industrial limita sobremaneira o
estabelecimento de práticas mais adequadas e a conservação e o uso racional dos recursos
hídricos. No caso do setor de papel e celulose as soluções passam mais pelos aspectos técnicos
que normativos ou políticos, o que coloca o setor em vantagem em relação ao reúso de água.
Obviamente, definir as ações a serem adotadas em uma relação tão complexa e tão cheia de
nuances, como a existente entre a Fiep e as indústrias a ela associadas, não é algo simples. Mas,
fica claro que o papel central da Fiep, como um fórum de representação das indústrias, inclusive
das grandes indústrias, que, ao menos em teoria, precisam menos dela que as pequenas e médias
indústrias, é o de se antecipar às crises.
Por isso, o trabalho termina com 10 sugestões direcionadas à Fiep e ao próprio Sistema Fiep
de caminhos a serem trilhados nesse processo de consolidação do seu papel de protagonista no
processo de discussão e de decisão de temas relacionados ao uso dos recursos hídricos pelo
setor industrial.
Capítulo 1 - As bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira
XXVIII
Capítulo 12 - Entrevista com o presidente
O capítulo que fecha este trabalho é uma entrevista com Edson Luiz Campagnolo, um
empresário paranaense que chegou em 2003 à vice-presidência da Fiep, entidade para a qual foi
eleito presidente em 2011 e reeleito em 2015. Atualmente Edson Luiz Campagnolo, além da
presidência da Fiep, também ocupa a vice-presidência da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) e é presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/PR.
Na entrevista, Campagnolo fala do relacionamento da Fiep com as indústrias paranaenses;
apresenta sua visão sobre a questão ambiental e, mais especificamente, aborda o tema "água na
indústria".
1
PARTE 1 – A Água no Setor
Industrial do Alto Iguaçu e
Afluentes do Alto Ribeira
AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E DOS AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA
1
1 AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E DOS
AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA
O estado do Paraná é fisicamente dividido em 16 Bacias Hidrográficas (Figura 1) e a
Resolução 49/06 do Conselho Estadual de Recursos Hídricos agrupa estas bacias em 12 Unidades
Hidrográficas (Figura 2), sendo uma delas as bacias do Alto Iguaçu, Afluentes do Rio Negro e
dos Afluentes do Alto Ribeira. Nessa Resolução a área de abrangência do Alto Iguaçu e Alto
Ribeira compreende a bacia do Rio Iguaçu até imediatamente à jusante da confluência com o Rio
Negro e toda a bacia do rio Ribeira em território paranaense, até a divisa com São Paulo.
A área de abrangência da Bacia do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira é de
aproximadamente 5.870 km², incluindo as seguintes bacias 4:
Bacia do rio Açungui, das nascentes até a jusante do reservatório projetado para
abastecimento público, compreendendo uma área parcial de 1.285 km²;
Bacia do rio Capivari, das nascentes até o reservatório da UHE Parigot Souza
(Capivari-Cachoeira), compreendendo uma área parcial de 955 km²;
Bacia do Alto Iguaçu, desde suas cabeceiras, situadas nos contrafortes ocidentais da
Serra do Mar, até as corredeiras situadas no município de Porto Amazonas,
compreendendo uma área parcial de 3.638 km².
Estão inseridos nessa área 26 municípios (Figura 3), sendo 19 da RMC: Curitiba, Rio Branco
do Sul, Bocaiúva do Sul, Colombo, Campina Grande do Sul, Quatro Barras, Piraquara, Pinhais,
São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Mandirituba, Araucária, Contenda, Balsa Nova, Lapa,
Campo Largo, Campo Magro, Almirante Tamandaré, Itaperuçu, além dos não-pertencentes à
RMC: de Porto Amazonas, Agudos do Sul, Campo do Tenente, Palmeira, Piên, Quitandinha e
Tijucas do Sul.
De acordo com o Censo Demográfico do IBGE realizado em 2000, a área dos estudos
possuiria uma população de aproximadamente 2,7 milhões de habitantes, sendo 93% deste total
constituído de população urbana.
AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E DOS AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA
2
Figura 1.Bacias hidrográficas do Paraná
Fonte: SEMA, SUDHERSA
AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E DOS AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA
3
Figura 2.Unidades hidrográficas do Paraná
Fonte: SEMA, SUDHERSA
AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E DOS AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA
4
Figura 3. Municípios da região do Alto Iguaçu e Alto Ribeira.
Fonte: IBGE
AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E DOS AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA
5
1.1 O plano de bacias do Alto Iguaçu e afluentes do Alto
Ribeira
A Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental –
SUDERHSA (atual Instituto das Águas do Paraná) desenvolveu, no período entre 2007-2013, o
“Plano da Bacia do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira”. A finalização dos trabalhos deste
Plano foi publicada em julho de 2013, em um documento que apresentava, entre outros
resultados, o Plano de Ações nas Bacias, relacionando o conjunto de programas, subprogramas
e ações específicas que visam atender às necessidades identificadas no desenvolvimento do Plano
das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira 4 (Figura 4).
Segundo esse documento, os programas, subprogramas e ações específicas contribuem para
o direcionamento da aplicação dos recursos provenientes da cobrança pelo direito do uso da
água.
A grande questão, entretanto, é como executar tudo isso. O volume de recursos advindos
da cobrança pelo uso da água precisaria ser muito superior aos valores que serão efetivamente
captados para que tais programas possam ser desenvolvidos. A outra opção seria investir
dinheiro público para complementar os montantes necessários.
O setor industrial relaciona-se, em maior ou menor grau, com vários dos programas e
subprogramas apresentados na Figura 4. Contudo, está mais diretamente relacionado com o
processo de gerenciamento dos recursos hídricos (uma vez que a forma como obtém a água
empregada em seu processo produtivo e a forma como dispõe seus resíduos e efluentes interage
com esse processo de gestão); conservação e proteção dos corpos d´água (principalmente
aquelas indústrias localizadas às margens de corpos hídricos); promoção do uso racional dos
recursos hídricos e na educação ambiental e na comunicação social.
A experiência na área tributária mostra que a tendência ao longo do tempo será o Poder
Público aumentar cada vez mais os valores cobrados pelo uso dos recursos hídricos sem,
contudo, conseguir resolver os graves problemas ambientais relacionados. Nesse cenário, os
usuários (incluindo-se aí a indústria) seriam duplamente penalizados, por pagarem cada vez mais
e terem serviços cada vez piores.
Para se evitar que isso aconteça, a indústria precisa ser enxergada como um verdadeiro
parceiro e participar ativamente do processo decisório nas questões relacionadas à gestão e à
conservação dos recursos hídricos.
AS BACIAS DO ALTO IGUAÇU E DOS AFLUENTES DO ALTO RIBEIRA
6
GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS
Sistema de informações em recursos hídricos
Estudos e levantamentos para apoio ao Sistema de Suporte à Decisão para Gestão de Recursos Hídricos
Gestão Integrada dos Recursos Hídricos
Monitoramento quali-quantitativo das águas superficiais e subterrâneas
Desenvolvimento de instrumentos normativos de proteção da qualidade das águas subterrâneas
Monitoramento dos lançamentos de efluentes domésticos e industriais, e respectivas outorgas
Monitoramento das fontes difusas de poluição urbana e por insumos agrícolas
RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE DOS CORPOS D´ÁGUA
Tratamento dos Efluentes Urbanos, Efluentes das ETA e ETE, disposição final dos Iodos das ETE e dos resíduos sólidos urbanos
CONSERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS
CORPOS D´ÁGUA
Estudos de viabilidade e aperfeiçoamentos da legislação de proteção dos mananciais atuais e futuros
Recomposição da vegetação ciliar e da cobertura vegetal e disciplinamento do uso do solo
PROMOÇÃO DO USO RACIONAL DOS
RECURSOS HÍDRICOS
Racionalização do uso da água no sistema de abastecimento urbano
Apoio à atividade industrial
PREVENÇÃO E DEFESA CONTRA EVENTOS
HIDROLÓGICOS EXTREMOS
Estabelecimento e apoio às medidas não estruturais e às atividades de Defesa Civil
Operação de sistemas de alerta, radares meteorológicos e redes telemétricas
Projetos e obras de desassoreamento, retificação, canalização de cursos d'água e estruturas para contenção de cheias
Monitoramento dos indicadores de estiagem prolongada
CAPACITAÇÃO TÉCNICA, EDUCAÇÃO AMBIENTAL
E COMUNICAÇÃO SOCIAL
Treinamento e capacitação dos membros do Comitê e corpo técnico da Gerência de Bacia
Apoio e treinamento aos municípios para elaboração de projetos e captação de recursos
Ampliação do conhecimento da sociedade quanto à gestão dos recursos hídricos
Figura 4. Relação dos programas e subprogramas propostos no Plano de Ações nas Bacias.
Fonte: SEMA, SUDHERSA
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
7
2 MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA
VISÃO DA INDÚSTRIA
2.1 O trabalho realizado
Com apoio da Fiep, foi realizado, entre fevereiro e agosto de 2014, um trabalho que teve
por objetivo levantar informações que permitissem criar um painel sobre a visão do setor
industrial instalado na região do Alto Iguaçu e Alto Ribeira sobre questões ligadas à água e à
conservação dos recursos hídricos.
Um formulário contendo questões sobre esses temas foi preparado e encaminhado, através
da própria Fiep, às 72 empresas localizadas na região de estudo 3 e que foram cobradas pelo
uso da água pelo COALIAR em 2013 (Tabela 2).
Também foram feitos contatos pessoais com representantes dessas indústrias, convidando-
os a participar da pesquisa. No final, 20 indústrias, totalizando 28% do universo pesquisado,
aceitaram participar. Nas páginas seguintes são apresentadas as principais respostas dadas pelos
representantes das indústrias participantes.
Conforme ficou acordado com esses representantes, as respostas não serão analisadas ou
apresentadas de forma individualizada, mas sim de forma agrupada, permitindo uma avaliação da
visão geral do setor industrial sobre os temas tratados.
3 Neste trabalho foi feito um feito um mapa com a localização das empresas que pagam pela captação, consumo e lançamento de efluentes na região abrangida pelo COALIAR. O mapa está disponível em: http://batchgeo.com/map/bd2da1f25136f2550f4ab83523c880a7
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
8
Tabela 2. Relação das indústrias que pagaram pelo uso da água em 2013.
RAZÃO SOCIAL
Água Mineral Frescale Ltda.
Água Mineral Graciosa Ltda.
Água Mineral Jordão - Extração e Comércio de
Água Mineral Ltda.
Água Mineral Naturale Ltda.
Água Mineral Prata da Serra Ltda.
Araucária Nitrogenados S.A - Valefértil
Arauco do Brasil S.A. (Destivando Poços)
Areal Chueda Ltda
Aves Aliança Produção e Comercialização de
Frango Para Corte Ltda
Berneck S.A. Painéis e Serrados
Brasilsat Harald S.A.
Britânia Eletrodomésticos S.A.
Cervejaria Curitiba Ltda.
Charlex Indústria Têxtil Ltda.
Cocelpa
Companhia de Bebidas Das Américas - Ambev
Companhia de Cimento Itambé
Companhia Providência Indústria e Comércio
Copel Transmissão - Ueg Araucária
Petrobras Coquepar - Companhia de Coque
Calcinado de Petróleo S.A.
Csn - Cia, Siderurgica Nacional
Dixie Toga S/A
Durlicouros Ind. e Com. de Couros, Exportação e
Importação Ltda.
Dynea Brasil S.A. - Arauco
Electrolux
Fábrica de Papel e Papelão Nossa Senhora da
Penha S.A.
Faurecia Automotive do Brasil Ltda.
Frigorífico Argus
Furukawa Industrial S. A. Produtos Elétricos
Gerdau Operação Aços Longos Brasil S.A.
Gl Eletro-Eletrônicos Ltda.
Gpc Química S.A.
Grupo Vinícula Famíglia Zanlorenzi
Bigfer (Hettich do Brasil Ltda)
Hugo Cini S.A. Indústria de Bebidas e Conexos
Ibq Indústrias Químicas Ltda.
RAZÃO SOCIAL
Iguaçu Celulose Papel S.A.
Imcopa - Importação, Exportação e Indústria de
Óleos S.A.
Importadora de Frutas La Violetera Ltda.
Ingredion Brasil Ingredientes Industriais Ltda
Isdralit Indústria e Comércio Ltda.
Isogama Indústria Química Ltda.
Juliatto, Fogiatto & Cia. Ltda.
Labra Indústria Brasileira de Lápis S.A.
Leão Alimentos e Bebidas Ltda
Michel Thierry do Brasil Indústria Têxtil Ltda
Momentive Química do Brasil Ltda
Mondelez Brasil Ltda (Kraft Foods Brasil S.A.)
Multilit Fibrocimento Ltda.
Norberto Shin-Iti Esumi
Peccin Agro Industrial Ltda
Pedreira Roça Grande Ltda.
Pepsico do Brasil Ltda.
Peróxidos do Brasil Ltda.
Petróleo Brasileiro S.A. Petrobras
Plásticos Metalma S.A.
Potencial Biodiesel Ltda.
Primos Agroindustrial Ltda.
Resinas Yser Ltda.
Siderquímica Indústria e Comércio de Produtos
Químicos
Solo Vivo Indústria e Comércio de Fertilizantes
Ltda .
Souza Cruz S/A
Spaipa S.A. Indústria Brasileira de Bebidas
Taurus Blindagens Ltda.
Termotécnica Ltda
Terra Rica Ind. e Com. de Calcário e Fertilizantes
do Solo Ltda
Trombini Embalagens S/A
Vale Fértil Indústrias Alimentícias Ltda.
Volkswagen do Brasil Indústria de Veículos
Automotores Ltda
Volvo do Brasil Veículos Ltda.
Votorantim Cimentos S.A
Whb Fundição S/A
Fonte: COALIAR – dados não publicados.
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
9
2.2 Caracterização das empresas participantes
Nas tabelas e gráficos, estruturados exclusivamente a partir das respostas apresentadas
pelos representantes das indústrias, são identificadas as respectivas questões que originaram as
respostas. No Anexo I pode-se consultar o questionário completo.
A indústria mais antiga que participou deste estudo tem 110 anos de fundação/instalação no
Brasil, a mais nova tem cinco anos e a média de tempo de fundação/instalação é de 35,4 anos.
Tabela 3. Identificação das Indústrias participantes da pesquisa.
Nome da indústria Ano de
instalação
Hugo Cini S.A. 1904
Frigorífico Argus Ltda. 1954
IBQ - Indústrias Químicas S.A 1961
COCELPA - Companhia de Celulose e Papel do Paraná 1963
SPAL Indústria Brasileira de Bebidas 1971
TERRA RICA Indústria e Comércio de Calcários e Fertilizantes de Solo Ltda. 1973
BRASILSAT HARALD S/A 1974
Furukawa Industrial S.A. 1977
Volvo 1977
Iguaçu Celulose, papel S.A. 1981
Gerdau 1982
Importadora de Frutas La Violetera Ltda. 1984
Isogama Indústria Química Ltda. 1987
Resinas Yser Ltda. 1988
Solo Vivo Fertilizantes 1991
MULTILIT Fibrocimento Ltda. 1994
Volkswagen do Brasil 1999
Companhia Siderúrgica Nacional 2001
Água Mineral Naturale Ltda. 2002
Leão Alimentos e Bebidas Ltda. 2009
Das empresas participantes, dez são consideradas grandes (com mais de 500 funcionários);
sete médias (entre 100 a 499 funcionários) e três são pequenas (de 20 a 99) funcionários.
Empresas de pelo menos 11 setores listados no sistema de Classificação Nacional de
Atividades Econômicas (CNAE) participaram da pesquisa.
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
10
Tabela 4. Código CNAE das empresas que participaram da pesquisa.
Indústrias/Empresas por CNAE Total
Extração de minerais não-metálicos 1
Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 1
Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos 1
Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos 1
Fabricação de produtos de minerais não-metálicos 1
Metalurgia 1
Fabricação de bebidas 2
Fabricação de celulose, papel e produtos de papel 2
Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias 2
Fabricação de produtos alimentícios 4
Fabricação de produtos químicos 4
Os questionários foram respondidos fundamentalmente por técnicos de nível superior. Mas,
em alguns casos, também por técnicos ou tecnólogos e também por pessoas com o ensino
médio completo. Esses resultados, por si só, indicam que muitas das respostas podem ser fruto
mais de uma visão mais pessoal que propriamente institucional sobre os temas tratados. Por
isso, o presente estudo não tem e nem foi planejado para ter rigor científico. Ainda assim, deve-
se ressaltar que as respostas foram dadas por pessoas indicadas pelas respectivas empresas.
Figura 5. Formação do responsável pelo preenchimento do questionário.
2.3 Certificações e exportação
Sete grandes indústrias, quatro médias e uma pequena possuem algum tipo de certificação.
Entre essas 12 empresas, dez são empresas que exportam seus produtos. Já entre as oito que
não possuem certificação, duas são de grande porte, quatro são de médio porte e duas são de
pequeno porte. Entre elas, cinco são indústrias exportadoras.
5%
25%
70%
Ensino Médio completo Técnico ou tecnólogo Ensino Superior
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
11
Tipo de certificação Número de
Indústrias
ISO 9001 10
ISO 14001 9
ISO 22000 1
FSSC 22000 1
OHSAS 18001 2
Rótulo Ecológico ABNT. 1
FSC Cadeia de custódia 1
Certificado LEED (Leadership in Energy and Environmental
Design - NEW CONSTRUCTION) 1
Mercados para onde exporta Número de
Indústrias
Mercosul 11
União Europeia 1
América Latina 1
África 1
EUA 1
Diversos 1
Motivos por não ter certificação Número de
Indústrias
Financeiro. O processo é muito caro ou as alterações
necessárias para obter a certificação são muito caras 3
Técnico. O processo é muito complexo ou as alterações
necessárias para obter a certificação são muito complexas 1
Não tem interesse 4
Não tem conhecimento 1
As certificações mais frequentes são a ISO 9001 e a ISO 14001. Isso pode significar que as
empresas não estão apenas visando a qualidade de gestão, mas também começam a focar, por
inciativa própria, ou por pressão dos clientes, na questão ambiental quando da definição de seus
processos e produtos.
No entanto, entre os clientes dessas indústrias, os que se interessaram em saber sobre a
situação ambiental eram, em sua maioria, clientes nacionais e não exportadores, o que pode
indicar que as indústrias que buscam aprimorar seus processos em relação ao meio ambiente o
fazem por conscientização própria.
Clientes e/ou parceiros comerciais já questionaram
sobre a situação ambiental da indústria?
Número
SIM 9
NÃO 11
Em caso afirmativo, eram clientes estrangeiros? Número
SIM (Argentina e Uruguai) 1
NÃO 8
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
12
Em caso de clientes nacionais, era cliente exportador? Número
SIM 2
NÃO 6
2.4 Outorga e cobrança pelo uso da água
Das indústrias que responderam ao questionário, 15 possuem outorga para captação e cinco
não possuem. Entre as cinco indústrias que não possuem outorga, três são de grande porte e
duas de médio porte.
A média anual de captação declarada foi de 451.028,34 m3/ano, sendo que o menor volume
declarado foi de 84 m3/ano e o maior de 500 m3/hora, o que corresponde a 4.380.000 m3/ano.
Quanto aos volumes outorgados para os próximos três anos:
Há estimativa de aumento ou redução dos volumes
outorgados de captação (m³/ano) para os próximos 3
anos?
Número de
Indústrias
Sim Aumento 5
Sim Redução 5
Não 10
Quando perguntados sobre a tendência de aumento ou redução dos volumes outorgados
de água para os próximos três anos, as respostas variaram bastante:
Estimativa quanto ao volume outorgado (%)
para os próximos três anos
Aumento
35
40
0,5
0,11
1
Redução
0,2
N/R
0,0937
50
20
Apenas cinco dos responsáveis pelas informações prestadas afirmaram que a cobrança pelo
uso da água captada causou impacto no custo final de produção. Entre elas, apenas duas
reportaram a relevância deste impacto, estimado em 0,45% em um dos casos e em 0,1 % no
outro caso.
Doze empresas concordam com a cobrança pelo uso da água, As justificativas para essa
concordância estão descritas abaixo (ipsis litteris):
“A empresa vê essa pratica como uma forma de conscientização
ambiental dos grandes consumidores de água do estado”.
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
13
“A preocupação da empresa é que a cobrança seja justa e que esses
recursos arrecadados se destinem a melhorias dos recursos hídricos
disponíveis”.
“Viabiliza o recebimento de recursos para implementação de ações
focadas nas prioridades da bacia”.
“Sim, mas desde que seja dado um prazo para adequação ao uso
consciente e elaboração de um projeto de
reutilização/aproveitamento.”
“Sim, desde que seja uma cobrança justa e desde que sejam usados
estes recursos para recuperação ou manutenção da bacia
hidrográfica”.
“Como as empresas utilizam os recursos hídricos em grande escala,
nada mais justo que uma cobrança por parte do governo com a
intenção de garantir a sustentabilidade dos nossos recursos naturais”.
“Acreditamos que esta cobrança aumenta o controle do uso deste
recurso natural”.
“Sim, se for um valor simbólico e for usado para recuperação de rios
e córregos”.
“Desde que seja revertido para a prevenção e ou preservação desses
recursos não há problemas”.
“Uma ferramenta para uso consciente dos recursos hídricos”.
Duas empresas que concordaram com a cobrança, não justificaram a resposta. Das oito
empresas que não concordam com a cobrança, cinco justificaram dessa forma sua posição:
“Não concordamos, pois a finalidade do uso da água é para envase
de bebida e a tributação no produto já é demasiadamente alta no
Brasil, além do que a exploração da fonte é consciente não
absorvendo toda sua capacidade, mantendo uma sustentabilidade
natural da vazão. Neste país, sempre se começa com um valor baixo
e em poucos anos os valores sobem sem qualquer justificativa cabível”
(empresa de produção de bebidas).
“Acreditamos que falta clareza quanto a aplicação do dinheiro
arrecadado. Aliado a isso, não temos garantias de que este valor, que
até o momento é simbólico, não sofrerá aumento com o passar do
tempo”.
“As empresas já trabalham com pesadas cargas tributárias e a cada
ano nasce uma nova forma de cobrança de pagamento de novas
taxas, a empresa investe em meio ambiente com ações sócio
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
14
ambientais relevantes, porém não recebe nem um benefício do
governo por estas ações.
“Pois já pagamos pelo consumo. Vamos pagar novamente?”.
“Porque já recolhemos pelo DNPM o CFEM que também é pela
captação da água e mais do estamos recolhendo para o Instituto das
águas, o que caracteriza uma bitributação.
Uma das perguntas complementares relacionadas ao tema era: “Se os valores cobrados
fossem mais altos, a indústria ainda concordaria com a cobrança? Justifique”.
Sete empresas afirmaram que concordam com o pagamento mesmo que os valores fossem
mais altos do que os cobrados atualmente, seis empresas responderam que não concordam e
duas não souberam responder. As que concordam com o pagamento justificaram assim:
“Sim, pois sendo a água um bem de uso comum, cabe aos
consumidores desse recurso contribuir para o monitoramento e
preservação do mesmo. Pensando e sustentabilidade da própria
atividade industrial”.
“Sim, desde que de forma justa e que os recursos se destinem a
projetos de melhorias da qualidade dos recursos hídricos”.
“Concordaria, desde que haja um período de adaptação”.
“O aumento dos valores poderá ter impacto no custo final de produto
e competitividade da empresa. O aumento dos valores poderá ocorrer
desde que o impacto seja irrelevante para o custo do produto final”.
“Concordaria caso seja justificado, por motivos reais, o uso desse
valor”.
“Sim, desde que compatíveis com a realidade da empresa e não
comprometa a sustentabilidade do negócio e a viabilidade dela no
país/ estado”.
Duas empresas não souberam responder, afirmando que caberia analisar melhor a situação.
As empresas que se manifestaram contrárias a qualquer aumento no valor cobrado justificaram
assim sua posição:
‘Não. As grandes empresas já investem em seu tratamento de
efluentes e em projetos de minimização de efluentes. Possuem
outorgas de descarte e mantém monitoramento e controle. Já pagam
pelo consumo dos poços e participam do Comitê de Bacias. Demais
recursos devem vir de outros órgãos, por exemplo ANA, investimento
do governo que precisam compartilhar esta responsabilidade em
resolver a poluição da bacia causada em boa parte de forma difusa
pelas pequenas empresas e falta de saneamento”.
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
15
“Não concordamos. O valor cobrado atualmente não impactou no
produto final."
“Se for um valor alto não”.
“Não concordamos, pois essas taxas só tendem a aumentar”.
“Não, tornaria totalmente inviável o negócio.
Quando a pergunta foi: "A cobrança pelo uso da água tem incentivado melhorias nos
processos da indústria ou os eventuais aprimoramentos aconteceriam mesmo sem a cobrança?",
treze indústrias responderam que não. Algumas justificaram que o valor sendo muito baixo não
incentivariam essas modificações. Outras que as melhorias vêm acontecendo
independentemente da cobrança, em parte por política ambiental ou econômica das empresas.
Ou seja, muitas indústrias já estão incorporando em seus processos práticas ambientalmente
mais adequadas.
Seis indústrias responderam que a cobrança serve de incentivo, sendo mais uma justificativa
para o aprimoramento, ainda que as indústrias não tenham conhecimento sobre a destinação
dos recursos obtidos a partir da cobrança pelo uso da água.
A indústria conhece a destinação dos recursos que são obtidos com
a cobrança do uso da água?
Sim 2
Não 18
Este resultado demonstra a necessidade de um maior esclarecimento a respeito da
destinação dos recursos oriundos da cobrança do uso da água, já que a maioria não conhece, e
para que essa cobrança não fique incorporada como mais uma taxa.
2.5 Ações e iniciativas para o uso mais eficiente da água em
processos e produtos
A maior parte das empresas investiu em ações relacionadas à área ambiental no último
ano.
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
16
Figura 6. A indústria investiu na área ambiental nos últimos 12 meses?
Representantes de 18 indústrias afirmaram que a empresa adota ações e iniciativas com a
finalidade de utilizar a água de forma mais eficiente em seus processos e produtos. Os programas
desenvolvidos pelas indústrias em relação ao uso mais racional da água não são recentes, têm
em média 8 anos. Dez empresas informaram os investimentos que realizaram ou que ainda
pretendem realizar com este fim.
Das duas empresas que afirmaram não possuir esse tipo de iniciativa, apenas uma justificou.
Em sua resposta, afirmou que:
“A empresa possui um sistema de gestão com acompanhamento do
consumo específico de água, o qual está alinhado ao consumo médio
do segmento”.
Quatorze indústrias responderam que adotam ações e iniciativas para a redução do
lançamento de carga orgânica no rio. Entre essas, apenas uma não definiu quais seriam essas
ações. Entre as que responderam que não adotam essas ações, várias justificaram que não lançam
efluentes nos corpos hídricos.
Ações e iniciativas
Estimativa de
investimento
anual (em
reais)
Estimativas de metas de
redução para os próximos
anos
Plano de ação para readequação da ETE e
redução da carga poluidora. R$ 4.000.000,00 N/D
Existe um plano de ação permanente. R$ 120.000,00
Considerando que o limite para
carga de DBO é de 50 mg/l a meta
para os próximos anos e
estabilizar ao redor de 30 mg/l.
16
1
3
Sim Não Não sabe responder
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
17
Ações e iniciativas
Estimativa de
investimento
anual (em
reais)
Estimativas de metas de
redução para os próximos
anos
Reduzir perdas no processo, Monitoramento
e controle da dosagem de químicos, Utilização
de produtos não biodegradáveis, medição de
consumo e água por processo.
N/D O objetivo é reduzir a carga, não
está estabelecida meta específica.
Utilização de peneiras, separação e linhas de
processo e lagoas de decantação
Aproximadamente
R$ 30.000,00 Não saberia precisar
Análise do processo, análise de eficiência,
redução de carga inicial do efluente, com ações
preventivas de redução de perdas, melhorias
de processo, investimento em tecnologia tanto
em equipamentos quanto produtos.
R$ 150.000,00 Da ordem de R$ 500.000,00.
Tratamento efetuado do efluente na ETA.
Melhoria da ETA e em estudo com a empresa
que administra a nossa estação de tratamento.
R$ 120.000,00 N/D
Monitoramento da ETE. Busca por produtos
mais eficientes e menor gasto econômico. N/D Não existem metas de redução.
Treinamento e conscientização N/D N/D
Novas tecnologias de tratamento de efluentes
para essa redução N/D N/D
Conscientização N/D
Não haverá redução dos
parâmetro e sim do volume
gerado
Nos últimos anos a empresa realizou diversos
investimentos que aumentaram a eficiência do
tratamento e redução da carga poluidora,
mantendo-se 70% abaixo do limite
estabelecido.
N/D N/D
Estação de Tratamento de Efluentes por
sistema de lodos ativados, estudo de
viabilidade de reúso do efluente tratado para
irrigação.
Gastos somente
com consumo
de energia
elétrica e
poucos
produtos
químicos
Nosso sistema atende 90% de
remoção
Tratamento de efluentes. N/D N/D
Por fim, 15% dos técnicos que responderam ao formulário afirmaram que a indústria não
realiza nenhum tipo de registro sistemático de atividades relacionadas aos principais temas
ambientais do seu processo industrial. Por outro lado, tais registros indicados no formulário são
realizados pela maioria, principalmente em relação aos resíduos sólidos gerados.
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
18
Figura 7. Registros sistemáticos feitos pela indústria
2.6 Impactos ambientais
O questionário também teve como objetivo avaliar a percepção do setor industrial em
relação à poluição ambiental, tanto em relação à forma como a poluição afeta eventualmente a
empresa, quanto as formas de poluição que eventualmente são causadas pela própria empresa.
Dentre os impactos externos mais significativos identificados destacam-se a preocupação
com o uso intenso de recursos naturais, especialmente água, energia e combustível.
No caso dos impactos ocasionados pelas indústrias, a situação praticamente se repete. Os
mais citados foram: o uso intenso de energia elétrica ou combustível (que alia impacto ambiental
com econômico) e o uso intenso da água, além da geração de resíduos sólidos perigosos e dos
efluentes gerados durante o processo produtivo.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
a. Volume captado de água (em rios ou através
de poços artesianos)
b. Volume descartado de efluentes sem
tratamento prévio
c. Volume descartado de efluentes após
tratamento prévio
d. Emissões atmosféricas
e. Geração de resíduos sólidos
f. Horas de treinamento e capacitação de
pessoal para ações ligadas ao meio ambiente
g. Procedimentos de gestão ambiental
h. Incidentes ambientais
i. Auditorias ambientais periódicas
j. No momento não há nenhum registro
Número de respostas
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
19
Figura 8. Como os impactos ambientais externos afetam a atividade da indústria
Figura 9. Grau de importância dos impactos ambientais ocasionados pela indústria durante
a realização de suas atividades.
Dezoito indústrias adotam ações de controle/prevenção ou minimização dos impactos
provocados por elas mesmas, uma não adota e uma não respondeu a essa questão. Importante
destacar que todos os eventuais impactos ocasionados e apontados pelos responsáveis técnicos
como os mais significativos possuem ações de minimização ou de mitigação relacionadas:
13
12
10
9
8 8
9
7 7
5 5
4
5
7
8
9 9
7
1 1
5
2
4
3
1
2
4
1
2
1
4
1 1 1
2 2
0
2
4
6
8
10
12
14
Resíduos
sólidos não
perigosos
Resíduos
sólidos
perigosos
Uso intenso
de energia
elétrica ou
combustível
Uso intenso
de água
Efluentes
sanitários
Efluentes de
processos
produtivos
Vibrações e
ruídos
Emissões
atmosféricas
Odor
Não afetam Afetam pouco Afetam Afetam muito
4
6
32
4
7
23
7
9
5 5
7
9
3
9 910
43
56
5 56
433
67
5
2
5
34
00
2
4
6
8
10
12
Inexistente Pouco importante Importante Muito importante
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
20
Figura 10. Ações de controle/ prevenção/ minimização adotadas para os impactos
ocasionados pela indústria e considerados satisfatórios na percepção da própria indústria
Segundo as respostas apresentadas, são diversos os motivos que levam uma indústria a
adotar esse tipo de ação. Em ordem de importância, a necessidade de se adequar à legislação
ambiental, seguida de motivos de ordem de consciência ambiental e de redução de custos.
Um único representante de empresa respondeu o porquê a indústria não realizava ações
nesse sentido: devido ao custo elevado de investimento.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
a. Reciclagem ou reaproveitamento de
matérias-primas ou materiais
b. Disposição adequada de resíduos sólidos
c. Redução do uso de água por produto
produzido
d. Redução do uso de energia por produto
produzido
e. Construção de uma estação de tratamento
de efluentes (ETE)
f. Introdução de equipamentos para controle
de emissões atmosféricas
g. Introdução de equipamentos para controle
de ruídos e vibrações
h. Mudança significativa dos processos
industriais para reduzir desperdícios e…
Não respondeu
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
21
Figura 11. Motivos que levaram a sua indústria a implantar iniciativas para
minimizar/evitar problemas ambientais.
Entre as 20 indústrias, apenas duas afirmaram que não realizarão investimentos na área
ambiental nos próximos 12 meses.
As ações futuras mais importantes apontadas pela pesquisa foram: a obtenção ou renovação
de licença de operação, seguida da implementação do reúso da água e a realização de auditorias
ambientais periódicas.
Ao mesmo tempo, as ações não consideradas em um planejamento futuro foram a obtenção
de licença ambiental para expansão ou nova planta, a realização de projetos/parcerias com
comunidades ou ONG’s e a certificação pela ISO 14000. Essa última ação foi considerada como
“inexistente” (ou que não se pretende implementar) pelo mesmo número de indústrias que já
possui essa certificação.
0 2 4 6 8 10 12 14 16
a. Necessidade de adequação à legislação
ambiental
b. Obtenção de certificação ambiental
c. Preservação do meio ambiente
d. Melhorar a imagem perante
clientes/consumidores
e. Adequação às exigências de órgãos
financiadores
f. Adequação às exigências do mercado
g. Aumento de receita com a venda de
resíduos
h. Redução de custos de produção
i. Melhoria da qualidade de vida dos
funcionários
j. Conscientização ambiental da indústria
k. Responsabilidade Social da indústria
l. Manter padrões de produção
Não respondeu
Número de respostas
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
22
Figura 12. Importância das ações ambientais futuras na visão da empresa.
3 3
2
6
5
3
8
2
6
4
33
5
4 4
5 5
1
2
4
5
4
5
6
5
2 2
1
3
2
7 7
3
9
6
9
8 8
11
8
14
3
4
10
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Implantar a
coleta seletiva
em todos os
setores
Alterar
infraestrutura
para se
adequar a um
sistema de
gestão
ambiental
Introduzir
procedimentos
ou Sistema de
Gestão
Ambiental
Certificar-se
pela ISO
14.000
Comprar
equipamento
para controle
ambiental
Implementar
o reuso da
água
Obter licença
ambiental
para expansão
/ nova planta
Obter ou
renovar
licença de
operação
Realizar
projetos em
parceria com
comunidades /
ONGs
Utilizar a
imagem
ambiental da
indústria no
marketing
institucional
Realizar
auditorias
ambientais
periódicas
Inexistente Pouco importante Importante Muito importante
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
23
2.7 Capacitação do corpo técnicos da indústria na área
ambiental
Quando questionados sobre quais os temas ambientais de maior interesse das indústrias
em relação à capacitação de seu corpo técnico, os entrevistados podiam escolher entre as
opções apresentadas ou manifestar opções complementares. Neste caso, apenas um dos
técnicos optou por acrescentar uma nova área temática (eficiência energética). Dentre as opções
apresentadas, a preferência recaiu sobre gestão, tratamento e disposição de efluentes líquidos.
Figura 13. Temas ambientais nos quais a indústria teria interesse em capacitar seus
técnicos
Quando questionados sobre a utilidade de se promover as capacitações indicadas na
pergunta anterior, mais uma vez, houve uma resposta espontânea: otimizar o tratamento de
efluentes, afim de reduzir custos de tratamento e disposição de lodo. Dentre os demais, a visão
de que as capacitações estão inseridas em um contexto de melhorias contínuas dos processos
industriais.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
a. Tecnologias limpas
b. Sistema de Gestão Ambiental
c.Gestão, tratamento e disposição de
efluentes líquidos
d. Produção mais limpa
e. Gestão, tratamento e disposição de
resíduos sólidos
f. Gestão, tratamento e disposição de
emissões atmosféricas
g. Sistema de Gestão Integrada (SGI),
h. Prevenção da poluição
i. Educação ambiental
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
24
Figura 14. Para que as capacitações técnicas seriam importantes?
2.8 Reflexões sobre as respostas apresentadas
Sem que haja nisso qualquer juízo de valor, é um fato que nas últimas décadas, as empresas
deixaram de ser vistas apenas como instituições econômicas, com responsabilidade para resolver
os problemas meramente econômicos – do tipo o que produzir como produzir e para quem
produzir – e passaram a ser cobradas também em relação a questões de caráter social, político
e ambiental, tais como: controle da poluição, segurança do trabalho, qualidade de produtos,
assistência social, defesa de grupos minoritários, etc.
Neste contexto, a literatura que trata desse tema e as próprias respostas dadas pelos
participantes deste estudo permitem afirmar que a adoção desses procedimentos por parte das
empresas dificilmente surge espontaneamente. A preocupação ambiental dos empresários e a
conscientização tem tido influência de três grandes forças que interagem simultaneamente: o
governo, a sociedade e o mercado.
O aumento (ainda que lento e gradual) da conscientização da sociedade em relação à
conservação ambiental e, no caso em voga, ao uso racional dos recursos hídricos, tem
acarretado pressões governamentais e de entidades não governamentais, além das comunidades,
sobre as empresas, para que assumam a responsabilidade pelo controle ou redução das emissões
de efluentes e resíduos gerados em seus processos produtivos. Aumenta também a pressão para
que as empresas se responsabilizem, inclusive, pela destinação final dos produtos, após seu
consumo, a chamada logística reversa.
Essa preocupação com a redução de impactos na indústria ficou evidente nas respostas
apresentadas nos questionários, até mesmo porque a redução de impactos pode ser associada
0 2 4 6 8 10 12 14 16
a. Melhor disposição dos resíduos
b. Atender aos requerimentos da licença
ambiental
c. Atender legislação específica
d. Atingir a excelência ambiental
e. Programa de melhoria contínua da indústria
f. Atender a política ambiental
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
25
ao aumento de eficiência e redução de custos. O fato, é que atualmente é impossível as empresas
ficarem alheias ao tema.
Difícil, porém, é avaliar o papel do mercado nesse processo, pois participaram da pesquisa
empresas de 11 setores tão distintos quanto extração de minerais não-metálicos, bebidas,
indústrias automotoras e de produtos alimentícios.
O que se observa, porém, é que o mercado tem, pouco a pouco, exercido também influência
na adoção de práticas ambientais por parte das empresas. Os processos de abertura comercial
têm intensificado a competição entre países e empresas. As organizações que oferecem
produtos/serviços ecologicamente corretos começam a ser encaradas de uma forma especial no
mercado mundial, onde um novo consumidor começa a ser moldado para diferenciar produtos
e serviços pelo desempenho ambiental de quem os oferta.
O aumento do número de empresas certificadas, de rótulos ou selos verdes, em muitos
países, nas últimas décadas é um indicador da importância do desempenho ambiental como
critério definidor das escolhas por parte dos consumidores na hora de realizar suas compras.
Um dos certificados de maior destaque internacional é o da ISO 14001, que atesta o
compromisso da organização com a melhoria contínua do seu desempenho ambiental. Algumas
das empresas que participaram do presente estudo já possuem esse certificado, mas são ainda a
minoria. Talvez isso aconteça porque essa "venda" de uma imagem ambientalmente correta ainda
não se traduza automaticamente em benefícios financeiros, como chamou a atenção o Dr.
Roveda Jr. durante a entrevista realizada com ele. Mas, essa é uma tendência que só tem se
intensificado.
O fato é que a gestão ambiental tem ganhado importância na indústria, como mostram as
respostas apresentadas pelos representantes do setor. A grande maioria das empresas
participantes adota algum procedimento de gestão ambiental. Usam também isso como forma
de externar à sociedade sua preocupação com o desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo
em que buscam a manutenção de suas fontes de recursos naturais (o que fica claro quando da
preocupação com os impactos causados em relação ao uso e disponibilidade de água e de
combustíveis).
Alguns mercados internacionais começam também a discriminar produtos potencialmente
poluidores e premiam os produtos “verdes”. Por outro, a crescente internacionalização da
economia brasileira, com a entrada de empresas estrangeiras e processos de fusão e aquisição,
tem introduzido modificações no comportamento dos empresários, especialmente naqueles que
colocam seus produtos em países onde a regulamentação ambiental é mais restrita.
A partir do conjunto de respostas obtidas nos questionários apresentados, observa-se que
o setorial industrial da região do Alto Iguaçu, confirmando o que foi apontado pelos
representantes da Fiep, apresenta condições e alternativas técnicas e tecnológicas para se
adaptar às demandas ambientais estabelecidas pela sociedade, pelo mercado ou pela legislação e
já investe efetivamente nisso. Porém, também ficou absolutamente evidente que não o faz
motivado pela cobrança pelo uso da água (pergunta inicial do presente estudo), mas pelas
pressões que começam a ser exercidas pelo mercado ou pelas oportunidades oferecidas através
do marketing verde, e, principalmente, pela legislação ambiental.
MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS NA VISÃO DA INDÚSTRIA
26
Atender as exigências legais em relação ao uso e reúso da água e ao descarte de efluentes
são uma preocupação efetiva das indústrias. Contudo, o tema água e recursos hídricos ainda
está longe de ser prioritário na agenda das empresas, ficando certamente atrás de temas
considerados por elas como mais relevantes, como custos e disponibilidade energética, por
exemplo. Então, apenas na medida em que tais exigência legais implicam em aumento de custos
ou em necessidade de grandes investimentos, esses temas passam a despertar a atenção mais
direta e efetiva por parte das indústrias.
Por isso, se hoje a cobrança pelo uso da água é vista pelo setor industrial apenas como mais
uma forma do Estado de criar taxas e tributos para arrecadar recursos, há também um certo
temor de que essa cobrança possa tornar-se um fator verdadeiramente impactante nos custos
dos produtos industriais, caso os valores cobrados pelo uso da água deixem de ser simbólicos e
passem a ser mais significativos.
Analisando a questão tendo como foco o Comitê de Bacia, têm se certamente um dilema
que todos sabem onde vai desaguar: 1) os valores cobrados pelo uso da água são simbólicos, tão
simbólicos que nem chegam a ter caráter educativo; 2) por outro lado, são uma grande diferença
em relação há alguns poucos anos atrás, quando sua cobrança não era nem mesmo cogitada; 3)
mas, também são insuficientes para investir na melhoria efetiva das condições hidrográficas
regional, tanto que nenhum representante das indústrias declarou conhecer o destino e a
aplicação dos recursos captados, o que significa, indiretamente, que melhorias nas condições
ambientais nos locais onde as indústrias estão instaladas não estão ocorrendo ou, se estão, são
muito pequenas para serem percebidas.
Devido ao histórico recorrente de péssima aplicação dos recursos arrecadados pelo Estado
Brasileiro, a preocupação da Indústria Paranaense é que o Poder Público alegue que tais
melhorias não acontecem porque os valores arrecadados são muito baixos e que seria
necessário aumentar os valores cobrados. Nesse caso, ficaria aberta a possibilidade de se
implantar o mecanismo de cobrança pela água segundo a importância que esse recurso tem para
cada setor industrial ou então segundo seu valor ecológico. No entanto, nenhum valor a ser
cobrado será suficiente se não forem revistos e aprimorados os mecanismos gerenciais de
aplicação desses recursos.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
27
3 A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
3.1 Caso 1- Cini Bebidas
De um modo geral, as indústrias associadas à Fiep estão bastante atentas às legislações e
também à utilização responsável dos recursos hídricos. Além disso, estão abertas a alternativas
eficientes para o negócio e para a população, desde que isso, é claro, não comprometa a
viabilidade financeira e operacional dos empreendimentos. Assim, achar soluções que possam
conciliar o uso sustentável dos recursos hídricos e a produção industrial é um objetivo comum
das indústrias e da sociedade.
Embora a água seja um insumo importante para a maioria absoluta das atividades
industriais, no caso da indústria de bebidas ela é simplesmente a matéria-prima mais importante,
uma vez que mais de 90% da composição do produto final é água. Por esse motivo, talvez nenhum
setor seja tão apropriado para a discussão do processo de uso e reúso da água na indústria como
o setor de bebidas.
Além de ser imprescindível em diversas etapas do processo, a água é responsável por
diversas características de sabor e cor da bebida. No processo industrial, a água é dividida em
dois grupos:
Água nobre ou de fabricação: é a água incorporada ao produto ou usada na carga e
descarga de produtos em elaboração.
Água de serviço: é a água usada em situações locais e equipamentos onde não ocorre
contato com o produto, por exemplo: lavagem de vasilhames, pisos e equipamentos e
resfriamento. Permite-se reúso desta água em diversas situações, devendo ser observadas as
necessidades sanitárias para garantia da qualidade do produto, bem como para atendimento de
legislação específica.
Nesse setor, as indústrias devem se preocupar, além da escassez e da cobrança, com a
busca por alternativas viáveis para minimizar a captação de água e o lançamento de efluentes.
Alternativas que passam por soluções internas, como estabelecimento de metas para utilização
da quantidade da água, reutilização interna através de processos e reciclagem.
Algumas indústrias já trabalham também com o aproveitamento da água da chuva, bem
como o reúso com a utilização segura dos efluentes gerados.
A legislação brasileira (por exemplo, Decreto Nº 6.871, de 4 de junho de 2009). classifica
as bebidas em alcoólicas e não alcoólicas. Estas últimas são assim classificadas se contiverem até
0,5% de álcool, a 20o C. Ainda de acordo com a legislação em vigor 5, “refrigerante é a bebida
gaseificada, obtida pela dissolução, em água potável, de suco ou extrato vegetal de sua origem,
adicionada de açúcares”. O mesmo decreto estabelece ainda padrões mínimos de identidade e
qualidade, informações acerca de registro, inspeção, padronização e rotulagem de bebidas. Os
refrigerantes são bebidas artificiais, caracterizando-se por apresentar, em sua composição,
determinados ingredientes não naturais, como aromatizantes, corantes e/ou flavorizantes, em
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
28
conjunto ou separadamente 6. Os padrões de identidade e qualidade dos refrigerantes e de suas
matérias-primas também estão definidos em legislação 7.
A legislação que regula os requisitos de higiene e condições sanitárias relativos à indústria
de alimentos, de modo a prevenir a contaminação e assegurar as condições mínimas de limpeza,
desinfecção e higiene na produção e uso da água (não potável, tratada e recirculada), é centrada
na Portaria ANVISA SVS/MS nº 326, de julho de 1997 e na Portaria do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento nº 368, de 4 de setembro de 1997.
O estudo de caso da água na indústria de bebidas será realizado tendo como base o
processo de captação, tratamento, uso e reúso de água na empresa Cini Bebidas (Hugo Cini S/A
Indústria de Bebidas e Conexos), uma indústria de médio porte, instalada na região
metropolitana de Curitiba e que capta cerca de 80% da água que em seu processo produtivo a
partir do lençol freático.
3.1.1 Apresentação da Cini Bebidas
Fundada em 1904, a Cini Bebidas dedica-se à produção de gaseificados (refrigerantes e
águas) e não gaseificados (bebidas mistas e energéticos), que são comercializados
fundamentalmente em garrafas de Polietileno Tereftalato (PET) e, mais recentemente, em
garrafas de vidro. Hoje, cerca de 70% da produção da empresa está centrada nos carbonatados.
A empresa conta hoje com 250-260 funcionários e tem como missão "Produzir bebidas
tradicionais, inovadoras e de qualidade para o mercado, aplicando tecnologias atualizadas".
A fábrica está localizada em uma área com mais de 23 mil metros quadrados no município
de São José dos Pinhais (Rua Marechal Hermes, 2001- Afonso Pena), próximo à rodovia PR 277.
Fazem parte do complexo, a fábrica, a área administrativa, o estoque e também o setor de
distribuição. A área construída totaliza mais de 10 mil metros quadrados.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
29
Figura 15. Fábrica da CINI, em São José dos Pinhais – PR.
Fonte: Cini
3.1.2 O processo industrial adotado na Cini Bebidas
A princípio, o processo produtivo de refrigerantes (sintetizado na Figura 16) não
apresenta grande complexidade. Contudo, é suscetível a uma série de variáveis e controles, que
influenciam tanto na qualidade do produto final quanto na operacionalidade e na produtividade
da indústria. Nesse cenário, a otimização do processo é considerada um constante desafio.
A seleção e utilização de matérias-primas de boa qualidade são fatores decisivos na
elaboração e fabricação de um produto. Neste sentido, e de forma complementar a esta
qualidade inerente, a empresa deve realizar um rigoroso controle de qualidade. No caso da Cini,
as matérias primas são recebidas, analisadas para avaliação da conformidade e estocadas.
O processo produtivo, propriamente dito, inicia-se no setor de xaroparia, onde o xarope
simples (chamado também de padrão ou caldo base) que faz parte da composição de todas as
linhas de bebidas com açúcar da Cini, é obtido a partir da dissolução de açúcar cristal em água
aquecida. Basicamente, o xarope simples pode ser definido como a solução de açúcar em água
potável que, segundo a legislação, deve ter uma concentração mínima de 62 gramas de açúcar
por 100 gramas de solução 6.
A seguir, o xarope simples é resfriado e filtrado, passando para o setor de formulação. Aí
ocorre a adição do concentrado responsável pelo sabor da bebida (composto por sucos,
essências, ácidos, corantes, etc.) ao xarope simples, originando o chamado xarope composto.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
30
Essa mistura é então agitada e homogeneizada, passando para o setor de carbonatação e,
posteriormente, de envase.
A composição do xarope composto está diretamente associada ao tipo de refrigerante
que se deseja produzir. Desta forma, parâmetros como extrato, acidez e cor devem permitir a
obtenção de refrigerantes que atendam aos padrões pré-estabelecidos para cada tipo de
produto. A qualidade do xarope composto é fortemente influenciada pelas características do
xarope simples, bem como pelos seus demais componentes 6.
A dissolução do xarope composto em água, e sua posterior carbonatação, darão origem
ao produto final, o refrigerante. Para a qualidade da bebida, é fundamental que se obtenha uma
carbonatação correta e uniforme.
Enquanto as bebidas são fabricadas, as embalagens dos refrigerantes são moldadas na
própria indústria por equipamentos chamados “sopradoras”. Este maquinário utiliza uma pré-
forma PET, com gramaturas específicas para cada tipo de embalagem. A seguir, as garrafas são
lavadas e higienizadas.
Depois de prontas as embalagens, as bebidas são envasadas automaticamente, nas
enchedoras, lacradas, rotuladas e agrupadas em fardos com 6 ou 12 unidades. Os fardos passam
para o setor de paletização e depois pelos setores de armazenagem e de expedição, estando
prontas para ser enviadas aos diversos pontos de venda do produto.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
31
Figura 16. Esquema básico do processo de produção de refrigerantes.
3.1.2.1 Capacidade produtiva
Hoje a Cini trabalha próximo ao limite de sua capacidade de captação de água. Embora a
capacidade instalada seja de cerca de cerca de 6 milhõesde litros por mês, a indústria produz a
metade disso, em função da limitação na oferta de água. Assim, para compensar o aumento da
demanda que ocorre principalmente nos meses mais quentes do ano, a empresa precisa
aumentar o volume de água comprada junto à SANEPAR (Companhia de Saneamento do
Paraná). Usualmente, essa água tratada pela SANEPAR é utilizada principalmente nos setores
administrativos da indústria, na torre de resfriamento e no condensador. Utilizar essa água no
processo industrial significa aumentar os custos de produção.
3.1.2.2 O uso da água na Cini Bebidas
3.1.2.2.1 Origem e tratamento
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
32
A água utilizada no processo industrial da Cini Bebidas é captada em um poço artesiano
(180-220 m de profundidade), localizado no interior da própria indústria. O poço, nos 8 anos
em que a indústria está instalada no local, nunca apresentou problemas, mantendo uma vazão
operacional de cerca de 10 m3/h e operando durante aproximadamente 18h/dia. Sua água,
embora apresente um padrão microbiológico adequado, possui elevados teores de ferro e
precisa ser tratada, antes de ser utilizada no processo.
Por isso, a água bruta passa por um processo de floculação, utilizando-se o policloreto de
alumínio (PAC), que apresenta grande poder de floculação, possibilitando uma melhora
significativa nos valores de turbidez da água tratada. A seguir, a água é abrandada. Ou seja, passa
por um processo de remoção de dureza (sais de cálcio e magnésio) mediante aplicação de resinas
de troca iônica. A dureza é uma das responsáveis pela característica de incrustação da água, e
quando presentes em quantidades maiores, pode interferir na qualidade de alimentos, bebidas e
processos industriais. A seguir a água é clorada (através do uso de hidroejetores, que consiste
na passagem de água através de um ejetor que produz vácuo e succiona a solução a ser dosada),
filtrada através de filtros de pedra e carvão e está pronta para ser armazenada.
A capacidade atual de armazenamento de água da empresa é de cerca de 250.000 -
300.000/L. Mas, como a produção é contínua ao longo de semana, apenas nos finais de semana
é possível estocar água sem consumi-la paralelamente.
3.1.2.2.2 Consumo de água x produção
O consumo de água numa indústria de bebidas varia numa ampla faixa, em função
principalmente dos seguintes fatores: tipo de envase utilizado (garrafas retornáveis, garrafas
descartáveis, latas, etc), tecnologia de pasteurização, idade da planta, nível tecnológico e aspectos
operacionais (eficiência das operações de limpeza de equipamentos, pasteurização, envase, etc.).
A relação “consumo de água/produção de bebidas” varia também de modo bastante
significativo conforme o porte das instalações, sendo que a tendência geral é que quanto
menores as instalações, maior o consumo relativo. A média mundial de consumo está em torno
de 2,54 litros de água/litro de bebida 8.
A Cini produz anualmente cerca de 40.000.000 de litros de bebidas. Assim, considerando
uma captação contínua de 10 m3/h, durante 18h/dia, chega-se a estimativa potencial máxima de
65.700.00 L de água captada ao ano. Como a empresa também tem acesso à água tratada pela
SANEPAR, e como a relação declarada entre água comprada junto à SANEPAR e a água captada
no poço é de cerca de 1:4, tem-se que o consumo total estimado de água na empresa seria de
cerca de 82.100.000 L/ano. Ou seja, a relação “consumo de água/produção de bebidas” seria de
2,05, abaixo, portanto, da média mundial.
3.1.2.2.3 Características da água
As bebidas comercializadas pela Cini contêm até 94% de água em sua composição (o
restante é constituído de açúcares, sucos naturais, dióxido de carbono, ácidos diversos,
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
33
emulsificantes, corantes, conservantes, antioxidantes, vitaminas e minerais). Portanto, uma
indústria de refrigerantes é, em última instância, uma indústria "engarrafadora de água". Ou, em
outras palavras, a água é o insumo mais importante dessa indústria.
Os padrões de qualidade físico-químicos devem respeitar os valores apresentados na
Tabela 5 9.
Tabela 5. Padrões físico-químicos desejáveis para a água na indústria de bebidas.
ITEM LIMITES MÁXIMOS
Aparência Clara/cristalina
Matéria orgânica Nenhum
Sabor Nenhum
Odor Nenhum
Cor 5
Turbidez, ppm, como SiO2 1
Sólidos totais dissolvidos, ppm 500
Cloretos, ppm, como Cl 250
Sulfatos, ppm, como SO4 250
Ferro, ppm, como Fe 0,1
Alcalinidade Total, ppm, como CaCO3 50
Dureza Total, ppm, como CaCO3 50
Cloro Livre, residual, ppm, como ClO Zero
Nitratos, ppm, como NO3 25
Fluoretos, ppm, como F 1
Manganês, ppm, como Mn 0,05
Zinco, ppm, como Zn 5
Cobre, ppm, como Cu 0,05
Os padrões microbiológicos desejáveis para a água de produção são mostrados na Tabela
6, segundo Bevtech 9.
Tabela 6. Padrões microbiológicos desejáveis para a água na indústria de bebidas.
ITEM LIMITES MÁXIMOS
Bactérias aeróbicas totais – UFC/mL ausência
Leveduras – UFC/mL ausência
Mofos – UFC/mL ausência
Algas e protozoários – UFC/mL ausência
Coliformes – UFC/mL ausência
Segundo Hutchinson e Mccarthy 10, algumas das possíveis impurezas encontradas na água
(Tabela 7) podem afetar a qualidade do produto final. Por isso a qualidade da água deve ser
objeto de contínuo monitoramento e controle por parte do fabricante.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
34
Tabela 7. Efeitos de impurezas na água sobre a qualidade do produto final.
IMPUREZA EFEITO NO PRODUTO PROCESSO DE
TRATAMENTO
Alta alcalinidade
Neutraliza a acidez da bebida. Alteração
no sabor.
Coagulação. Remoção por
troca iônica.
Bactérias
Depósitos ou precipitação no produto.
Formação de anéis na garrafa durante o
armazenamento.
Deterioração e aparecimento de sabor
estranho. Perigos para a saúde do
consumidor.
Eliminação por troca iônica.
Matéria orgânica
Depósitos ou precipitação no produto.
Formação de anéis na garrafa durante o
armazenamento.
Eliminação por troca
iônica.
Nitrato Perigo para a saúde do consumidor.
Corrosão de latas. Troca iônica.
Partículas suspensas
Formação de espuma no enchimento.
Partículas visíveis no produto.
Filtração e/ou coagulação
Coagulação e cloração.
Polissacarídeos Precipitação no armazenamento. Osmose reversa.
Sabor e odor
(compostos orgânicos) Sabor estranho.
Cloração e radiação
ultravioleta.
Fonte: Adaptado de Hutchinson e Mccarthy 10.
3.1.2.2.4 Perdas de água durante o processo produtivo
Na indústria de bebidas não alcoólicas as características dos efluentes são basicamente
influenciadas pelo tratamento de água, pela xaroparia e pelas linhas de envasamento. Essas
características são definidas em termos de um pH altamente alcalino, devido às soluções de
limpeza utilizadas; elevadas DBO e DQO, provocadas pela grande carga orgânica; cor e turbidez,
devido a elevada quantidade ao açúcar do xarope e alguns extratos vegetais empregados na
formulação.
Na Cini, há pouca perda de água no processo de envase. As perdas maiores se dão em
função do sistema de CIP. Os efluentes são captados e transportados para uma caixa de
equalização. Ali passam por abrandamento e sofrem acidificação, para redução do pH que é alto
(acima de 12). Passam também por membranas e resinas catiônicas, de modo a ficarem em
condições de ser lançados na rede coletora.
O descarte nesse processo chega a cerca de 100.000 L/dia de água (só no CIP são
descartados 70.000 L/dia).
Já a lavadora de garrafas consome cerca de 8 a 10 mil L/h e trabalharia cerca de 7h/d, mas
opera apenas durante 10 dias/mês, em média, totalizando 560.000 – 700.00 L/mês para lavar
garrafas.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
35
A composição dos efluentes gerados é bastante variável, em função da tecnologia
empregada tanto no processo produtivo como nas etapas de lavagem 11.
As perdas de água durante o processo produtivo, por sua vez, concentram-se em quatro
pontos principais:
• Efluente da xaroparia - provenientes dos ralos e perdas no sistema;
• Efluente do CIP (Clean In Place), limpeza dos tanques e de linhas;
• Efluente proveniente da limpeza das resinas da regeneração do açúcar;
• Efluente proveniente das lavadoras de garrafas retornáveis.
Esses pontos citados geram efluentes em um sistema interligado. Eles, assim como os
demais efluentes industriais, são concentrados em uma caixa de inspeção, onde ocorre uma
homogeneização, gerando um efluente final que, posteriormente, é encaminhado para
tratamento.
3.1.2.2.4.1 Efluente da Xaroparia
A xaroparia é o setor onde ocorrem as misturas para produção do açúcar liquido, dos
xaropes de refrigerantes e dos produtos não carbonatos. Aí também pode ser feito o
recebimento e armazenamento de algumas matérias primas como açúcar, sucos, ácidos e
conservantes. Entretanto, pelo que foi observado na Cini, as instalações físicas da xaroparia são
pequenas, não permitindo essa armazenagem no local.
Os efluentes provenientes da xaroparia são originados a partir das perdas ocorridas nos
tanques, das amostragens de controle de qualidade e de controle sanitário, que são enviados
para tratamento. Apesar da sua baixa quantidade de efluente, este apresenta uma elevada carga
orgânica. O efluente de lavagem dos tanques e linhas só é descartado da primeira lavagem, para
remoção da sujidade, os demais efluentes de limpeza retornam para armazenamento e novas
lavagens.
3.1.2.2.4.2 Clean in Place (CIP)
O clean in place é um sistema de limpeza e sanitização realizado no interior da própria
tubulação nas linhas de produção de refrigerantes e nos tanques de armazenamento de xaropes
do setor de xaroparia.
Nesses sistemas, o solvente (água), acrescido de agentes de limpeza (alcalinos ou ácidos),
é bombeado para bicos injetores estrategicamente localizados nos equipamentos, que aplicam
jatos pressurizados.
Ainda que não haja uma distinção formal, os equipamentos CIP são distintos dos WIP
(wash in place), em que é necessária uma verificação ou intervenção manual do operador ao final,
enquanto nos CIP este cuidado não é necessário, ainda que possa ser realizado.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
36
Além disso, existe dentro do conceito de CIP uma enorme variedade de sistemas: fixos
ou móveis; exclusivos ou multipropósito; com ou sem reúso de água; de pequeno ou grande
porte, etc.
Este é um método mais adequado para uso por indústrias que necessitem de limpeza
frequente e que exigem um alto nível de higiene. Seus benefícios se traduzem em rapidez,
facilidade de operação, repetitividade, representando menores riscos de exposição às
substâncias químicas, pois os agentes são circulados sem a necessidade de se desmontar o
equipamento, formando um circuito fechado que permite a automação do método clássico de
higienização.
No caso da Cini, todos os produtos dependem da mesma xaroparia e por isso, o sistema
precisa ser completamente higienizado ao final de cada batelada para a troca de sabor. A
quantidade de produtos a ser produzida por dia, por sua vez, depende da demanda do mercado.
Mas, há pelo menos uma a até três trocas de produto fabricado por dia, o que aumenta a
necessidade de higienização e, consequentemente, o volume gerado de efluentes.
O CIP é realizado em etapas, podendo ser de três, cinco ou seis etapas, variando de
acordo com o próximo produto que será produzido. Produtos mais sensíveis exigem uma
higienização maior.
Em alguns casos, os efluentes de uma lavagem podem ser reutilizados em lavagens
seguintes, em até 5 ou 6 vezes, e em operações de limpeza mais intensa, realizadas com maior
intervalo de tempo, acrescenta-se uma etapa de desinfecção, em geral usando hipoclorito de
sódio.
Primeiramente, o tanque sofre enxague com água quente que foi recuperada da última
etapa de CIP anteriores. Essa água não necessita estar totalmente limpa, pois será utilizada retirar
os resíduos mais grosseiros do sistema.
A segunda etapa é feita através de bombeamento ou borrifamento (com sprayball) da
solução de detergente alcalino a quente (75ºC). A temperatura tem a função de potencializar a
ação do detergente. Nesse processo, deve-se evitar temperaturas superiores a 85ºC para não
se gerar um efeito térmico oposto, provocado pela polimerização de materiais gordurosos. Se
isso ocorre, aumenta a dificuldade de retirada desse material.
Na terceira etapa, o enxágue é realizado com água potável em temperatura ambiente. A
qualidade e a utilidade da água com detergente que retorna dependerá da sua condutividade.
Enquanto a condutividade for inferior a 5 mS/cm, o efluente pode ser direcionado para o tanque
de solução. O restante retorna para o tanque de água recuperada.
A quarta etapa é realizada apenas para produtos mais sensíveis e para remoção de
possíveis micro-organismos indesejáveis. Nesse caso, a desinfecção é realizada com ácido
fosfórico 30%.
Na quinta etapa a sanitização é feita com água quente, 75ºC a 80ºC, enquanto a sexta e
última etapa e feita através da passagem de água tratada para resfriar a linha e/ou tanque.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
37
3.1.2.2.4.3 Regeneração
A indústria tem a opção de adquirir o açúcar na forma líquida, mas normalmente opta por
promover a dissolução na própria fábrica, pois isso facilita uma série de procedimentos, como
dosagem, armazenamento e manipulação do produto. Após a dissolução em água aquecida a
70º C, têm-se a formação do xarope simples, que é enviado para filtração por filtro magnético
(sujidades e retenção de elementos de tamanho entre 5 e 25 µm).
A regeneração é o método de limpeza das resinas utilizadas no processo de clarificação
do açúcar granulado em açúcar líquido. Os elementos retidos na resina são posteriormente
removidos e a resina reciclada.
3.1.2.2.4.4 Clarificação
Para a descoloração do açúcar, que deve chegar à cor de 35 uH, o produto passa por
resinas aniônicas e segue para coluna catiônica para eliminação de eventuais aminas desprendidas
pela resina aniônica.
O xarope que sai da coluna aniônica ou catiônica é encaminhado ao filtro de carvão para
remover o odor do melaço, passa por resfriamento, por filtros bag (para eliminação de eventuais
impurezas que tenham sido arrastadas nas etapas anteriores), e vai para o tanque pulmão, para
ser armazenado e utilizado nas bebidas que requerem o açúcar líquido.
Na primeira etapa do processo são utilizados cloreto de sódio 25% (regenerante de baixo
custo que pode ser recuperado e reciclado posteriormente), hidróxido de sódio e água a 75ºC,
com repouso mínimo de quatro horas na coluna. Na segunda etapa utiliza-se apenas a solução
de sal, sem a soda, e água a 75ºC.
Na terceira e na quarta etapa, utiliza-se água a 75ºC para enxágue com controle de
condutividade, até a mesma chegar a 150 µS/cm. O efluente é então drenado para uma caixa de
retenção exclusiva da regeneração e descartado, em pequenas quantidades.
Toda vez que a planta está saturada deve ser feita a regeneração da coluna catiônica e do
tanque de carvão, ambos os procedimentos realizados com água a 85ºC.
3.1.2.2.4.5 Lavadoras de Garrafas
A linha de produção das embalagens reutilizáveis envolve o extrator de canudos,
lavadoras, envasadora, lacrador de tampas e aparelhos eletrônicos de teste de produtos não
conformes (garrafas trincadas, bicadas, lascadas, lixadas, quebradas, sujas) são retirados.
Em uma primeira etapa, é feita a remoção dos canudos presentes nas garrafas. Após isso,
elas seguem para a lavadora. As garrafas são então lavadas com solução detergente cáustico
aditivado, com concentração, temperatura e tempo padrão pré-estabelecidos. Depois são
enxaguadas, com água clorada à temperatura ambiente, as garrafas passam por aparelho
eletrônico que detecta a presença de não conformidades, depois seguem para o envase. Após o
envase, as garrafas recebem as tampas no lacrador de tampas passando novamente por um
detector eletrônico de identificação de não-conformidades.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
38
A solução de soda cáustica descartada é encaminhada para um tanque de armazenagem e
o efluente gerado pela lavadora é enviado para tratamento. A soda caustica é reutilizada para
balancear o pH no tanque de equalização da estação de tratamento.
O consumo de água nas lavadoras de garrafas depende basicamente da tecnologia
empregada no projeto e construção do equipamento. As lavadoras de garrafas mais modernas
consomem menor quantidade de água, cerca de 0,5 L água/ L de volume nas garrafas, isto é, para
cada garrafa de 600 ml de capacidade são consumidos 300 ml de água na lavagem. Em máquinas
mais antigas, no entanto, este valor está em torno de 3 a 4 L água/ L volume nas garrafas, ou
seja, para cada garrafa de 600 ml consome-se de 1,8 a 2,4 litros de água.
Algumas medidas que podem ser adotadas no projeto de máquinas de menor consumo:
Instalação de válvulas automáticas que cortem o fluxo de água quando houver paradas;
Uso de aspersores mais eficientes, de menor consumo de água;
Controle da pressão da água, para não usar vazões maiores que as necessárias,
Circulação da água de lavagem em contra corrente, ou seja, usar água limpa apenas
nas últimas etapas e usar o efluente destas nas etapas anteriores, e assim
sucessivamente.
Uma outra medida é o uso do efluente da lavadora de garrafas numa etapa anterior, de
pré-lavagem das garrafas. Esta medida, segundo as próprias empresas, permite uma redução de
consumo de água em até 30% neste processo. Este efluente pode ainda ser usado na lavagem de
engradados, atividade que em geral é realizada com água limpa.
3.1.2.3 Impactos ambientais da indústria de bebidas
De modo geral, pode-se dizer que os principais impactos ambientais da fabricação de
refrigerantes são similares a alguns também observados da indústria cervejeira, como por
exemplo: a elevada carga orgânica, a presença de sólidos em suspensão nos efluentes ou a
geração de resíduos de rótulos e vasilhames danificados.
3.1.2.3.1 Insumos utilizados
Assim como no caso da indústria cervejeira, a produção de não alcoólicos consome
grande quantidade de água, cuja vazão consumida e distribuição pelas áreas da fábrica depende
de diversos fatores, entre eles o tipo de vasilhame utilizado e a tecnologia empregada para
limpeza.
Embora a média mundial de consumo esteja em torno de 2,54 litros de água/litro de bebida 8, esses números podem variar bastante. Dados britânicos da década de 80 12 apresentam
consumos que variam de 2,3 a 6,1 litros de água por litro de refrigerante. Segundo estes dados,
em plantas que produzem apenas refrigerantes carbonatados e concentrados, 78% da água é
incorporada ao produto. Já em plantas onde se fabricam refrigerantes carbonatados e sucos de
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
39
fruta, apenas 23% de toda água utilizada no processo é incorporada ao produto, sendo que 33%
da água é usada para lavagem de garrafas.
Outra referência europeia (European Commision) apresenta uma faixa de variação com
valores bastante superiores, entre 6 e 14 m3 de água/ m3 refrigerante
Para citar um exemplo nacional, na preparação do xarope simples são utilizados cerca de
500 kg de açúcar cristal/m3 de xarope simples, além de 430 litros de água, e pequena quantidade
de benzoato de sódio.
3.1.2.3.2 Principais poluentes gerados
3.1.2.3.2.1 Resíduos sólidos
Exceto pelas plantas de produção de extratos vegetais, sobre as quais não há informações
disponíveis, a produção de refrigerantes gera resíduos sólidos quase que exclusivamente na etapa
de envase e acondicionamento. Alguns exemplos destes resíduos são:
Garrafas de PET, latas de alumínio e garrafas defeituosas;
Restos de papel e plástico de embalagens, e
Borra de rótulos da lavagem de garrafas.
3.1.2.3.2.2 Efluentes líquidos
Como já discutido anteriormente, os efluentes líquidos da produção de refrigerantes são,
em geral, oriundos de etapas de lavagem, seja dos vasilhames, equipamentos ou da instalação em
si. A estes é possível somar ainda as contribuições (mínimas) de carga provenientes de lotes
defeituosos e perdas de processo, como por exemplo, derramamentos de produto.
Estes efluentes têm como principais características: o pH alcalino, devido às soluções de
limpeza utilizadas, e a elevada carga orgânica, devida ao açúcar do xarope e alguns extratos
vegetais empregados na formulação.
A composição destes efluentes parece ser bastante variável, em função da tecnologia
empregada tanto no processo produtivo como nas etapas de lavagem. Para exemplificar, a Tabela
12 mostra valores para alguns parâmetros medidos em indústrias do Estado de São Paulo que
produzem tanto cerveja como refrigerante, e outros para plantas apenas de refrigerante 13.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
40
Tabela 12: Caracterização de efluentes de indústria de refrigerantes. Valores mínimos –
máximos (média).
PARÂMETRO VALOR UNIDADE
DBO 940-1.335 (1.188) mg/L
DQO 1.616-3.434 (2.149) mg/L
Resíduo total 1.704-02.210 (2.003) mg/L
Resíduo volátil 1.292-1.724 (1.532) mg/L
Resíduo não filtrável (SST) 236- 655 (495) mg/L
Nitrogênio total 22- 49 (34,6) mg/L
Fosfato total 4-13 (6,7) mg/L
Surfactantes 0,22- 0,80 (0,45) mg/L
Óleos e graxas 69- 115 (87) mg/L
pH 8-12,3 (10,2) -
Temperatura 28- 35(32) oC
Fonte: Cetesb 13
3.1.2.3.2.3 Resíduos pós-consumo
A expansão do uso de embalagens não retornáveis (especialmente PET), a partir do início
da década de 90, gerou um grave problema ambiental relativo à geração de resíduos de pós-
consumo.
O termo PET provém de Politereftalato de Etileno, que consiste de um tipo de poliéster,
polímero termoplástico de alta resistência mecânica e química, que além destas características
apresenta reduzido peso. Apenas como comparação, uma garrafa de vidro para 2 litros de
refrigerante pesa 952 gramas, e pode ser substituída por uma garrafa de PET com 54 gramas, ou
seja, um peso cerca de 18 vezes menor para a mesma função, o que reduz consideravelmente
os custos com a logística de distribuição do produto.
Desenvolvido na década de 40, e aplicado em embalagens a partir dos anos 70, o PET foi
introduzido no Brasil em 1988, mas só passou a ser largamente utilizado para embalagens após
1993. Desde então, devido a suas características, o PET tem sido largamente utilizado em
diversos tipos de vasilhames, seja para bebidas (refrigerantes, isotônicos, água mineral, sucos,
etc), produtos de limpeza, cosméticos, medicamentos, etc.
O descarte após o uso de grandes volumes de embalagens de PET de modo inadequado
consiste atualmente numa questão ambiental de grande relevância, por causar problemas desde
a poluição visual de corpos d’água até o entupimento de bueiros e galerias pluviais, incluindo a
proliferação de mosquitos vetores de diversas doenças.
A solução para estes problemas passa necessariamente pela melhoria do sistema de coleta,
uma vez que o PET é um material 100% reciclável e a resina reciclada possui diversos usos,
dentre os quais cordas, cerdas para vassouras e escovas, peças injetadas (automotivas, utensílios
domésticos, etc), embalagens para fins não alimentícios, embalagens multi camadas para fins
alimentícios, fibras de poliéster (enchimento de estofados, pelúcias, tecidos, etc).
Nilo Cini Júnior é presidente do Sindicato das Indústrias de Cerveja de Alta e Baixa
Fermentação, da Cerveja e de Bebidas em Geral, do Vinho e Águas Minerais do Estado do Paraná.
A sua empresa, a Cini Bebidas, através do Sindicato, e chancelado pela procuradora do Ministério
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
41
Público do Trabalho, Margaret Matos de Carvalho, desenvolve um programa de logística reversa
através do projeto socioambiental Central de Valorização de Materiais Recicláveis (CVMR).
Segundo a Agência Fiep 14, o Sindibebidas lidera um grupo que engloba pelo menos 50
indústrias, e envolve a organização de uma rede de associações e cooperativas de catadores de
material reciclável e a implantação de uma usina de reciclagem e a venda dos produtos com valor
agregado. O projeto beneficia milhares de famílias de catadores de material reciclável de Curitiba
e região.
A CVRM tem a adesão de empresas da base do Sindibebidas e também de empresas de
fora do Paraná, que comercializam seus produtos no Estado. Foi esse grupo de empresas que
bancou o investimento de R$ 1,1 milhão para implantação da usina de reciclagem, localizada em
Pinhais.
O investimento envolveu a adequação do imóvel, aquisição de equipamentos industriais e
veículos.
O projeto tem a parceria do Instituto Lixo e Cidadania, que capacita e supervisiona as
atividades da CVRM e está em consonância com a legislação do Plano Nacional de Resíduos
Sólidos (Lei número 12.305/2010 e decreto 7.404/2010). O projeto tem a aprovação da
Secretaria Estadual do Meio Ambiente e do Ministério Público do Meio Ambiente.
3.1.2.4 Uso racional da água e medidas de produção mais limpa no processo
de produção de bebidas4
As medidas de racionalização de uso de água sempre contribuem para a redução e
efluentes, na medida em que menores consumos representam menores vazões de efluentes.
De modo geral, uma primeira medida importante em qualquer programa de prevenção à
poluição é o monitoramento. No caso do consumo de água e geração de efluentes, isso significa
instalar medidores de vazão e totalizadores de fluxo nos equipamentos de maior consumo,
permitindo levantar informações que gerem subsídios à implementação de medidas de uso
racional.
Uma ação usualmente de grande eficácia, principalmente em plantas mais antigas, é a
realização de um programa detalhado de manutenção, que objetive eliminar ou reduzir
vazamentos em dutos, cotovelos, junções, registros e válvulas.
Recomenda-se a instalação de restritores, temporizadores e válvulas de controle de fluxo
automático, para interromper o suprimento de água durante as paradas de produção ou em
casos de falta de energia elétrica, evitando a ocorrência de transbordamentos.
O aumento da eficiência de limpeza reduz o uso e, consequentemente, o descarte, de
produtos químicos como soda, ácido ou detergente. Após serem gerados, no entanto, estes
4 Baseado em Cetesb 11
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
42
efluentes devem ser segregados para a ETE, para acerto do pH do efluente final, de modo a
reduzir o consumo de produtos para corrigir este parâmetro.
Todas as perdas requerem remoção por lavagem, originando efluentes a serem tratados.
Assim recomenda-se por exemplo o melhor controle de processo, evitando perdas e
principalmente a redução e retorno ao processo destas.
Na Tabela 8 estão sintetizadas algumas medidas de otimização de processos e seus
consequentes benefícios em termos de uso racional dos recursos naturais. Essas medidas serão
discutidas em maior detalhe a seguir.
Tabela 8. Resumo das medidas de otimização de processos em indústrias de bebidas e
benefícios associados.
MEDIDA BENEFÍCIO
Uso racional da água em todos os processos de
uma forma geral
Redução consumo de água;
Redução geração de efluente;
Uso racional de água na lavagem das garrafas
Redução consumo de água;
Redução consumo de energia;
Redução geração de efluente;
Reúso do efluente de lavagem das garrafas na
lavagem de engradados
Redução consumo água;
Redução consumo de energia;
Redução geração de efluente;
Uso do efluente de lavagem de garrafas na pré-
lavagem de garrafas
Redução consumo de soda;
Redução do lodo da lavadora de garrafas;
Reúso da água de retrolavagem filtros ETA Redução consumo de água;
Redução geração de efluente;
Uso racional de água nas unidades CIP Redução consumo de água;
Redução geração de efluente;
Uso de mangueiras com gatilho e pressurizador
Redução do consumo de água
Redução geração de efluente;
Redução custo aquisição em
Recuperação e reúso de óleo lubrificante das
máquinas Redução DBO/DQO efluente;
Redução do arraste de soda na lavagem das
garrafas Redução da descarga de soda;
Redução descarga de soluções de limpeza Redução da descarga de soda;
Coleta e reúso da solução de soda extraída da
massa de rótulos Redução da descarga de soda;
Melhoria da admissão de ar nos compressores Redução consumo energético;
Efeito das medidas na operação da ETE Redução de vazão e parâmetros do efluente;
3.1.2.4.1 Pasteurização
Em muitos casos, a água no pasteurizador é usada em circuito aberto, sendo destinada à
ETE após o uso no processo, representando altos valores de consumo de água. Tendo em vista
que esta água apresenta-se limpa, estando apenas quente, com exceção no caso de quebra
acidental de garrafas no interior do equipamento, sugere-se fechar o circuito utilizando uma
torre de resfriamento ou outro tipo de sistema para reduzir a temperatura da água.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
43
Desta forma, a água é resfriada e retorna ao pasteurizador, sendo necessário apenas repor
as perdas por evaporação e respingos, o que reduz o consumo de água limpa em cerca de 80%
neste equipamento. O mesmo tipo de medida pode ainda ser proposta para outros
equipamentos, como sistemas de ar condicionado, compressores de ar e compressores de CO2.
Como observação, cabe ainda dizer que no caso de se adotar um circuito de água fechado
no pasteurizador deve-se ter o cuidado de adicionar produtos que combatam o crescimento de
microrganismos no interior da tubulação, de modo a preservar a qualidade da água.
Outra possibilidade é utilizar a água quente de saída do pasteurizador em outros locais da
planta, onde não seja necessária água de alta qualidade ou pureza, como na limpeza dos pisos,
resfriamento de equipamentos, etc. Neste caso, faz-se necessário a instalação de um tanque para
armazenagem da água após a segregação, de onde esta seria destinada ao uso final.
3.1.2.4.2 Limpeza de equipamentos
A limpeza de equipamentos consome não apenas água, mas também gera grandes
quantidades de efluente, além de consumir energia e produtos químicos. As características dos
sistemas de limpeza variam bastante, desde sistemas simples, que apenas preparam a solução e
as bombeiam para o local de aplicação, até elaborados equipamentos que permitem monitorar
e reutilizar as soluções de limpeza.
Uma primeira providência diz respeito à aplicação de um planejamento para a produção,
no sentido de minimizar o número de lavagens necessárias. Além disso, recomenda-se realizar
limpeza a seco antes do uso de soluções de limpeza, removendo restos de produto por gravidade
ou com uso de ar comprimido.
Em geral, verifica-se que muitas empresas realizam o reaproveitamento de soluções de
limpeza em ciclos anteriores de limpezas subsequentes, ou seja, recupera-se por exemplo a água
do último enxágue no preparo da solução para uma etapa preliminar da próxima lavagem de
uma dorna. Para assegurar a qualidade do processo, pode se realizar o controle químico das
soluções a serem reutilizadas por meio de medidores simples, como indicadores de pH.
Atenção especial deve ser dada ao uso de detergentes fosfatados como agentes de
limpeza, uma vez que a presença de fosfato nos corpos d’água provoca sua eutrofização.
3.1.2.4.3 Envase
Para facilitar o enchimento das garrafas, as máquinas enchedoras são dotadas de uma
bomba que retira o ar antes da entrada da bebida. Nestas bombas, o vácuo é obtido por colunas
barométricas, equipamento que utiliza jatos de água para produzir pressão negativa numa
tubulação. Neste tipo de sistema, em geral, perde-se água, uma vez que parte da água sai junto
com o ar que é expelido das garrafas.
Para evitar esta perda, estimada em cerca de 50% da vazão de água, deve-se instalar um
tanque de recirculação, que retorna a água extraída do equipamento para o topo do mesmo.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
44
3.1.2.4.4 Limpeza de pisos
A limpeza de pisos, em geral, é realizada com uso de mangueiras, e deve-se utilizar o
mínimo de água possível. Para tanto, recomenda-se implementar equipamentos de limpeza que
funcionem com alta pressão (por exemplo bombas de alta pressão ou bombas de
hidrojateamento).
3.1.2.4.5 ETE - ETA
Utilização de parte do efluente tratado na ETE para realizar a lavagem da peneira do
desaguador de lodo na própria ETE. Esta medida, aparentemente simples, elimina um
consumo desnecessário de água limpa, e
Reúso do efluente de lavagem do sistema dos filtros de areia da ETA. Após efetuar a
limpeza destes filtros, que é realizada por jato pulsante em sistema de retrolavagem,
a água é retornada ao início do processo de tratamento da água ao invés de ser
descartada como efluente para a ETE.
3.1.2.5 Uso racional de energia
3.1.2.5.1 Calor
Em uma indústria de bebidas há diversas opções de recuperação de calor que podem fazer
o consumo energético ser reduzido significativamente. Uma medida bastante importante neste
sentido é garantir o bom isolamento térmico de tubulações, dornas, tanques, conexões, etc, não
só os aquecidos mas também os refrigerados.
Segundo estimativas genéricas, uma camada de isolante térmico com 8 mm de espessura,
aplicado sobre 1 metro de tubulação de vapor saturado, com tempo de uso de 6.000 horas/ano,
proporciona uma economia de 450 kg de óleo combustível por ano.
Quando se trata de uso racional de calor, há que se considerar que reduções e consumo
de vapor significam não apenas um processo mais eficiente, mas menores necessidades de gerar
vapor, ou seja, menos operação das caldeiras, e consequentemente economia de combustíveis
e redução de emissões atmosféricas.
3.1.2.5.2 Eletricidade
A maior parte da eletricidade que entra numa indústria de bebidas é consumida nos
motores elétricos utilizados em diversas funções.
Desta forma, a principal medida para redução do consumo de eletricidade é a substituição
dos motores em uso por outros equivalentes e de melhor desempenho, ou seja, de tecnologia
mais recente e dimensionado para operar no ponto ótimo de sua curva de potência.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
45
Além disso, diversas medidas de eficiência energética podem ser propostas em relação à
iluminação, dependendo do caso. Alguns exemplos são:
Substituir as lâmpadas incandescentes ou fluorescentes por lâmpadas de LED, de
menor consumo e maior durabilidade;
Instalar interruptores de detecção de presença nos locais onde não há necessidade de
iluminação ininterrupta, e
Instalar, e limpar periodicamente, telhas translúcidas, de modo a aproveitar melhor a
luminosidade natural do ambiente durante o período diurno.
Uma medida que tem sido adotada cada vez mais pelas indústrias de bebidas, e que tem
trazido importantes resultados em termos de eficiência energética, é a adoção de sistemas de
cogeração. Basicamente a cogeração significa gerar vapor de processo e eletricidade com apenas
uma fonte de energia. Na verdade o que se faz é usar no processo o vapor que já passou por
uma turbina para gerar eletricidade, mas que ainda está superaquecido ou saturado.
A adoção desta prática tem permitido a algumas empresas utilizar com vantagens
ambientais e econômicas o gás natural, em alguns casos inclusive vendendo excedentes de
eletricidade à rede distribuidora.
3.1.2.6 Redução do consumo de matérias - primas/Aproveitamento de
resíduos
3.1.2.6.1 Resíduos de embalagens
Os resíduos da área de envase e embalagem se constituem em grande parte de
restos de vidro, alumínio, papel e plástico, que devem ser separados e vendidos para a
reciclagem, em função de seu elevado valor de mercado.
3.1.2.6.2 Uso racional de materiais auxiliares
3.1.2.6.2.1 Hidróxidos e ácidos usados para limpeza
A primeira medida para reduzir o consumo de hidróxido de sódio (soda) e ácidos na
indústria de bebidas é aumentar a eficiência do processo de lavagem, o que em geral é realizado
nas empresas pela implantação dos sistemas CIP, já apresentados.
Em alguns casos, como na limpeza de dornas, a solução pode ser reutilizada no próprio
local, sem necessidade de tratamento na central de CIP, usando apenas um indicador de pH para
monitorar sua eficiência e bombas com bicos direcionadores de fluxo.
Um aspecto importante é a própria preparação destas soluções, que deve na medida do
possível, ser realizada automaticamente usando condutivímetros, o que evita gastos
desnecessários de produtos químicos.
O uso de soda na lavagem de garrafas é também significativo, sendo que este pode ser
reduzido pelas medidas já citadas de redução de consumo de água neste equipamento. Além
disso, muitas empresas procedem ao uso de um tanque de sedimentação no interior da lavadora,
que permite o reúso da solução de modo mais amplo. Esta solução no entanto deve ser
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
46
considerada com cautela, uma vez que sua adoção não deve comprometer a higiene do processo
de limpeza.
Uma observação sobre o processo de lavagem é que em alguns casos ainda se utiliza o
EDTA- Etil Diamina Tetra Acetato, composto químico complexante que oferece riscos
ambientais e cujo uso deve ser evitado.
3.1.2.6.3 Terra diatomácea
É bastante conhecido o emprego da terra diatomácea em quase todos os tipos de filtragem
industrial, inclusive processamento de óleos, bebidas, solventes, etc. terra diatomácea ou
diatomita é uma forma hidratada de sílica composta de conchas silicosas de diatomáceas, que
são algas unicelulares de dimensões microscópicas. A diatomácea utilizada é proveniente de
jazidas brasileiras, sendo facilmente encontrada no mercado nacional.
Para evitar o uso de terra diatomácea, recomenda-se o emprego de filtros de membranas,
podendo-se usar também filtros de fluxo transversal, que reduzem perdas de produtos.
No caso de empregar-se terra diatomácea, recomenda-se quando possível instalar uma
centrífuga antes da filtração, para aumentar a sua vida útil.
3.1.3 Análise do processo industrial da Cini bebidas Ltda.
A Cini Bebidas representa um setor industrial onde a água é obviamente peça-chave na
qualidade do produto.
Segundo entrevista realizada com o Diretor da empresa, Sr. Nilo Cini Jr., o processo de
envase gera cerca de 100.000 litros/d de efluentes e se divide em retornáveis e descartáveis. No
setor de retornáveis, a perda é obviamente maior, uma vez que a rinsagem (enxague) demanda
uma maior quantidade de água e o efluente gerado pela lavadora possui uma DBO mais alta.
No setor de descartáveis, o efluente advém basicamente do enxague de garrafas e também
quando há a troca de sabores da bebida/refrigerante.
A fase de formulação também gera efluente, muito semelhante ao produzido durante a
embalagem.
Todos os efluentes do processo de fabricação das bebidas passam por uma caixa de
equalização, onde sofrem abrandamento (acidificação para redução do pH que é alto, acima de
12). Depois, passam por membranas e resinas catiônicas e são lançadas na rede coletora.
Há tratamentos diferentes para as águas coletadas: efluentes com DBO alta passam por
sedimentação, equalização, reator anaeróbico e biológico.
Segundo o Sr. Nilo, a água gerada pela lavadora, por exemplo, poderia ser reutilizada na
administração e nas torres de resfriamento, após a equalização. O que impede é não ter um
tratamento completo. A empresa trata apenas para ter as bases legais para lançar o efluente na
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
47
rede de esgoto da concessionária (Sanepar). Também há o problema na distribuição interna,
uma vez que o prédio é antigo e a rede de distribuição é unificada. Seriam necessárias adaptações
na infraestrutura.
Ainda não foi considerada pela companhia a utilização da água da chuva no processo.
O volume de captação anual outorgado pela Cini Bebidas é de 37.914,2 m3, que geram um
custo de R$ 318,48 e que correspondem a 0,00133% do valor da receita segundo dados
estimados a partir de seu balanço patrimonial da empresa 15.
O diretor da empresa foi o responsável pelo preenchimento do formulário enviado pela
Fiep a seus associados e que foi a base do presente contrato. No formulário, o Sr. Nilo
respondeu que a indústria adota ações e iniciativas para o uso mais eficiente da água em seus
procedimentos e processos desde 2010. Relatou também que a média de investimento anual
nestas iniciativas é de R$ 30.000,00. A outorga anual por ele declarada é de 70.000 m3, mas que
a empresa tem interesse em ampliar esse volume.
Afirmou que a cobrança não causou impacto, entretanto a empresa não concorda com essa
cobrança por vários fatores:
Desconhecimento da utilização do recurso;
A tributação do produto (bebidas) é demasiadamente alta;
A exploração da fonte é consciente, mantendo uma sustentabilidade natural da
vazão;
Temor da cobrança ter iniciado com valores relativamente baixos mas que os
mesmos sejam aumentados sem justificativas cabíveis.
Afirmou também que a cobrança chama a atenção para um uso mais correto do recurso.
Apesar disso, afirma que a empresa está sempre investindo para a empresa obter “a melhor
relação possível entre a quantidade utilizada no processo fabril e o volume envasado de produto
final”.
Quanto à carga poluidora lançada no rio (em DBO), o Sr. Nilo afirmou que a Cini
Bebidas investe cerca de R$ 150.000,00 ao ano na análise do processo, análise de eficiência, na
redução de carga inicial do efluente, com ações preventivas de redução de perdas, em melhorias
de processo, investimento em tecnologia (tanto em equipamentos quanto produtos).
A Cini possui registros sistemáticos e organizados de:
Volume captado de água (em rios ou através de poços artesianos);
Volume descartado de efluentes sem tratamento prévio;
Volume descartado de efluentes após tratamento;
Emissões atmosféricas;
Geração de resíduos sólidos.
Isso demonstra um cuidado na produção, evitando perdas no processo.
A empresa investe ainda em ações ambientais diversas, como: reciclagem ou
reaproveitamento de matérias-primas ou materiais e disposição adequada de resíduos sólidos;
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
48
redução do uso de água e de energia por produto produzido e construção de uma estação de
tratamento de efluentes (ETE).
Essas ações foram adotadas não só para se adequar à legislação ambiental, mas pela
preservação do meio ambiente, pela redução dos custos de produção, pela melhoria da qualidade
de vida dos funcionários, pela responsabilidade social da empresa, além de melhorar a imagem
perante os consumidores.
O Sr. Nilo afirmou que seria interessante que os recursos oriundos da cobrança pelo
uso da água fossem utilizados em ações para beneficiar as indústrias situadas na bacia do Iguaçu.
Disse que a empresa se interessaria em capacitações para seus funcionários, principalmente em
gestão ambiental, gestão de efluentes líquidos e sistema de gestão integrada, gerando um
programa de melhoria contínua da indústria.
3.1.3.1 Reúso na Cini Bebidas Ltda.
O efluente de lavagem dos tanques e linhas só é descartado da primeira lavagem, para
remoção da sujidade, os demais efluentes de limpeza retornam para armazenamento e novas
lavagens.
Os efluentes da xaroparia (provenientes dos ralos e perdas no sistema), do CIP (limpeza
dos tanques e de linhas), da limpeza das resinas da regeneração do açúcar e o efluente
proveniente das lavadoras de garrafas retornáveis são captados em um sistema interligado. Eles,
assim como os demais efluentes industriais, são concentrados em uma caixa de inspeção, onde
ocorre uma homogeneização, gerando um efluente final que, posteriormente, é encaminhado
para tratamento.
Medidas de reúso em cada processo:
CIP: O primeiro enxague é feito com água recuperada da última etapa de CIP’s anteriores.
Na última etapa, o enxágue é realizado com água potável em temperatura ambiente. A
qualidade e a utilidade da água com detergente que retorna dependerá da sua condutividade.
Enquanto a condutividade for inferior a 5 µS/cm, o efluente pode ser direcionado para o tanque
de solução. O restante retorna para o tanque de água recuperada.
Clarificação
O cloreto de sódio 25% pode ser recuperado e reciclado posteriormente, Nas últimas
etapas, faz-se o controle de condutividade, até a mesma chegar a 150 µS /cm. O efluente é então
drenado para uma caixa de retenção exclusiva da regeneração e descartado, em pequenas
quantidades.
Lavagem das garrafas
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
49
O efluente da lavadora de garrafas pode ser usado na pré-lavagem das garrafas
(promovendo cerca de 30% de redução de consumo de água neste processo). Este efluente pode
ainda ser usado na lavagem de engradados, atividade que em geral é realizada com água limpa.
A solução de soda cáustica descartada é encaminhada para um tanque de armazenagem e
pode ser reutilizada para balancear o pH no tanque de equalização da estação de tratamento. O
efluente gerado pela lavadora é enviado para tratamento na ETE
3.1.4 Conclusão
Apesar de adotar várias iniciativas ambientais que têm como foco atender à legislação e
melhorar o processo como um todo, a Cini Bebidas ainda não considera que a cobrança pelo
uso da água estimule o uso mais racional desse recurso.
Isso acontece porque a indústria, de um modo geral, enxerga essa cobrança como mais
um imposto. Parte da responsabilidade dessa visão é dos próprios gestores da cobrança, que foi
instituída sem que se discutisse com os principais interessados a melhor forma de utilização do
dinheiro advindo dessa cobrança.
3.2 Caso 2- A utilização de água em abatedouros de aves
Um segundo caso foi analisado neste trabalho: o uso de água em abatedouros de aves. Neste
caso, a justificativa é a importância da indústria avícola brasileira no cenário mundial.
O Brasil é o terceiro maior produtor de frangos de corte do mundo e o uso de água, em
grandes volumes, é indispensável em abatedouros e indústrias de processamento de carnes, pois
a mesma é utilizada em praticamente todas as etapas do processamento.
A utilização de forma racional e eficaz deste insumo indispensável que é a água é uma
preocupação constante das indústrias do segmento alimentício, seja pelo seu impacto econômico
ou pelas questões sociais e ambientais associadas. Por isso, ao contrário do caso anterior,
centrado em uma indústria específica, neste caso não há especificidade, a análise realizada é válida
para qualquer indústria que abata frangos, esteja ela instalada na região metropolitana de Curitiba
ou em qualquer ponto do estado do Paraná ou do Brasil.
3.2.1 Regulamentação
A grande questão no caso de um abatedouro de aves são as normas técnicas envolvidas
na regulamentação do uso de água em um abatedouro.
A utilização de água em frigoríficos de aves é regulamentada pela Portaria 210/98, da
Secretária da Defesa Agropecuária (SDA), do Ministério da Agricultura, Pecuária e do
Abastecimento (MAPA). O Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico Sanitária
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
50
de Carnes de Aves padroniza os métodos de elaboração dos produtos de origem animal com
relação as instalações, equipamentos, higiene do ambiente, esquema de trabalho do serviço de
inspeção Federal para o abate e a industrialização de aves.
Em vários itens da Portaria 210/98 é possível observar a utilização da água em diferentes
etapas da produção.
Lavagem das instalações e equipamentos;
3.1. Lavagem geral com água quente, sob pressão, com detergente
adequado:
3.1.1. Pisos, paredes;
3.1.2. Equipamentos em geral;
3.1.3. Trilhagem aérea.
Insensibilização e Sangria
4.2.1. A insensibilização deve ser preferentemente por eletronarcose
sob imersão em liquido cujo equipamento deve dispor de registros de
voltagem e amperagem e esta será proporcional à espécie, tamanho
e peso das aves, considerando-se ainda a extensão a ser percorrida
sob imersão.
...
4.2.4. Na área, o sangue deverá ser recolhido em calha própria, de
material inoxidável ou alvenaria, totalmente impermeabilizada com
cimento liso, denominada "calha de sangria". Fundo ou piso da calha
deverá apresentar declividade acentuada em direção aos pontos
coletores, onde serão instalados 2 (dois) ralos de drenagem: 1(um),
destinado ao sangue e outro à água de lavagem.
Escaldagem
As aves poderão ser escaldadas pelos seguintes processos:
4.3.2.1. Por pulverização de água quente e vapor;
4.3.2.2. Por imersão em tanque com água aquecida através de
vapor;
Evisceração
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
51
4.4.2. Antes da evisceração, as carcaças deverão ser lavadas em
chuveiros de aspersão dotados de água sob adequada pressão, com
jatos orientados no sentido que toda a carcaça seja lavada, inclusive
os pés.
...
4.4.10. A calha de evisceração disporá de pontos de água
localizados em suas bordas na proporção de 1 (um) para cada 2
(dois) operários, destinados a lavações das mãos.
...
4.4.19.1. Exige-se a instalação de hidrômetro para controle do
volume da água consumida de no mínimo 1,5 (um e meio) litros por
carcaça, quando trata-se de pré-resfriadores por imersão em água.
Pré- resfriamento
4.5.1. Poderá ser efetuado através de:
4.5.1.1. Aspersão de água gelada;
4.5.1.2. Imersão em água por resfriadores contínuos, tipo rosca sem
fim;
Há na literatura científica muitas pesquisas com o objetivo de estabelecer o reúso da água
nos processamentos produtivos e a diminuição de seu consumo através de implantação de
técnicas e tecnologias mais atuais de produção. Porém, na prática, o processo produtivo deve
respeitar integralmente o disposto na Portaria MAPA/SDA 210/98, que, por sua vez, chega a
definir a quantidade mínima de água que deve ser utilizada nos procedimentos de abates e
processamento dos animais, como pode ser constatado nos diversos itens normativos
apresentados a seguir.
4.4.19.1 Exige-se a instalação de hidrômetro para controle do volume
da água consumida, de no mínimo 1,5 (um e meio) litros por carcaça,
quando trata-se de pré-resfriamento por imersão em água.
...
4.5.2 A renovação de água ou água gelada dos resfriadores contínuos
tipo rosca sem fim, durante os trabalhos, deverá ser constante e em
sentido contrário à movimentação das carcaças (contracorrente), na
proporção mínima de 1,5 (um e meio) litros por carcaça no primeiro
estágio e 1,0 (um) litro no último estágio.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
52
Se existirem diversos tanques, a entrada e a saída de água utilizada
em cada tanque deve ser regulada, de modo a diminuir
progressivamente no sentido do movimento das carcaças, sendo que
a água renovada no último tanque não seja inferior a:
- 1 (um) litro por carcaça, para carcaças com peso não superior a
2,5 (dois quilos e meio);
- 1,5 (um meio) litros por carcaça, para carcaças com peso entre 2,5
(dois quilos e meio) a 5,0 (cinco quilos);
- 2 (dois) litros por carcaça para carcaças com peso superior a 5
(cinco) quilos.
...
4.5.9. Os miúdos devem ser pré-resfriados em resfriadores contínuos,
por imersão, tipo rosca sem fim, obedecendo a temperatura máxima
de 4ºC e a renovação constante da água, no sentido contrário aos
movimentos dos mesmos, na proporção mínima de 1,5 (um e meio)
litros por quilo;
...
11.1.4.3 O consumo médio de água em matadouros avícolas poderá
ser calculado tomando-se por base o volume de 30 (trinta) litros por
ave abatida, incluindo-se aí o consumo de todas as seções do
matadouro. Permitir-se-á volume médio de consumo inferior desde
que preservados os requisitos tecnológicos e higiênico-sanitários
previstos na presente Norma, mediante aprovação prévia do DIPOA.
3.2.2 Fluxos de uso de água no processamento de aves
No fluxograma de abate de aves (Figura 17) é possível observar os principais pontos de
utilização de água nas diferentes etapas da produção.
Este intenso consumo de água em frigoríficos ocorre devido à adoção de rigorosas
exigências sanitárias, o que é uma garantia de qualidade e segurança do produto para o
consumidor. Por outro lado, essa regulamentação leva a um engessamento excessivo do
processo. É uma normatização baseada na realidade do final do século passado e não considera
os avanços técnicos e tecnológicos vivenciados pela indústria desde então. O resultado é um
possível uso excessivo e provavelmente desnecessário de água.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
53
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
54
Figura 17. Fluxograma de abate de aves, com destaque para a utilização de água nas
etapas de produção
3.2.3 A possiblidade de racionalização do uso de água em
abatedouros de aves
Preocupados com a escassez de água potável, pesquisadores vêm desenvolvendo estudos
que demostram a importância de utilizar a água de forma racional, sendo ela na forma de reúso
ou de uso racional da mesma.
Em estudo realizado por Krieger 16 avaliando o consumo de água, sua racionalização e o
reúso de efluentes líquidos em um frigorifico de suínos, conclui que é possível reduzir o
consumo de 776 litros/suíno abatido para 480 litros/suínos abatido através de implantação de
técnicas de Produção mais Limpa (P+L).
Avaliando a reutilização de água de resfriamento de carcaças de frango em um abatedouro
Gerloff 17 observou que uma das etapas que mais utilizam água no processamento são os tanques
de resfriamento, que correspondem a 15 a 27% do total de água consumida por dia em um
frigorifico.
Rosso e Mucelin 18, avaliando a redução e reúso de água em processos de abate e
industrialização em um abatedouro de aves, observaram que os processos de produção e afins
(Limpeza e higienização) consomem 77% da água utilizada por dia, enquanto o resfriamento sem
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
55
contato corresponde apenas a 12%. Ainda no mesmo estudo, os autores observaram que no
setor de Escaldagem e Depenagem os tanques de escalda são responsáveis pelos principais gastos
com água, seguida das torneiras para limpeza de impurezas e higienização das mãos dos
funcionários. No setor de Evisceração os maiores gastos com água estão na lavagem das
carcaças. No estudo foram sugeridos métodos para minimização do consumo de água. Como
exemplo, a utilização de torneiras acionadas por pedais, apresentando uma redução no consumo
de água da ordem de 96% nas torneiras de escaldagem quando comparadas às torneiras
convencionais, as quais ficavam ligadas durante todo o período de produção. Também foi
sugerido o reúso da água de resfriamentos para outros processos que não necessitem de água
potável, como no caso de transporte de vísceras para serem aproveitadas na graxaria.
O reaproveitamento da água dos pré-resfriadores é permitida, desde que apresente
novamente os parâmetros de potabilidade exigidos na legislação vigente, caso a mesma venha a
ter contato direto com as carcaças.
3.2.4 Questões levantadas
A Portaria do MAPA/SDA 210/98 está vigente há 17 anos e, em tempos de severo déficit
hídrico em várias regiões brasileiras, levanta alguns questionamentos, tais como:
A norma contida na Portaria não se encontra ultrapassada em virtude dos avanços
tecnológicos vivenciados pelo setor?
A Norma existente não estaria também inibindo o avanço tecnológico das empresas
do setor alimentício, em especial a avícola, em virtude dos valores de consumo de
água atribuídos para as diferentes etapas de produção?
A quantidade de água exigida atualmente para o abate e processamento de frango
seria excessiva, gerando e consequentemente grande quantidade de efluentes
líquidos?
No processo de evisceração, é possível utilizar volumes inferiores a 1,5 litro de água
por carcaça sem comprometer a qualidade do produto final ou será que há
tecnologia para reduzir tais volumes sem prejuízo à qualidade exigida na legislação?
É possível utilizar volumes inferiores a 1,5 litros de água por carcaça no pré-chiller
e 1,0 litro/carcaça no chiller de resfriamento sem comprometer a qualidade do
produto final ou será que há tecnologia para reduzir tais volumes sem prejuízo à
qualidade exigida na legislação?
Esses são apenas alguns dos questionamentos levantados referentes à Portaria
MAPA/SDA 210/98. Questionamentos que podem perfeitamente ser respondidos
através da realização de estudos técnicos e científicos.
A ÁGUA NA INDÚSTRIA - ESTUDOS DE CASOS
56
O fato é que a legislação não pode parar no tempo, principalmente quando
normatiza procedimentos tecnológicos que evoluem muito mais rapidamente que a
própria capacidade de atualizar a legislação.
Por isso, é fundamental que os comitês de bacia incentivem a realização de projetos
de pesquisa que visem à minimização no consumo de água na indústria de abate de aves,
verificando a possibilidade de utilizar menores volumes de água para cada etapa da
produção e consequentemente estimulando o desenvolvimento de tecnologias mais
eficientes de uso e reúso de água em abatedouros e processadoras de frangos, visto que
o setor é grande a geração de lodos e consequente necessidade de grandes lagoas de
decantação. Com menor o consumo de água, haverá menos lodo e efluentes.
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
57
4 A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE
RECURSOS HÍDRICOS
4.1 Outorgas x Valores pagos
O papel da economia em relação ao meio ambiente é, segundo Munasinghe 19, "identificar
opções para a melhor administração possível dos recursos naturais, buscando o
desenvolvimento sustentável". Segundo este autor, é de extrema importância que seja
reconhecido que a degradação ambiental é causada fundamentalmente pela ação humana.
A forma que mais obteve adesão nos últimos anos para o efetivo controle dos recursos
naturais foi a da valoração e internalização dos custos ambientais, como forma de combater as
externalidades geradas pelos processos. Porém, segundo Bromley 20 a transformação da
complexidade ambiental em valores monetários sempre levará a uma perda de informação 21.
No Brasil, os instrumentos de gestão hídrica foram aprimorados desde o final do século XX.
Os principais elementos foram a descentralização do controle dos recursos hídricos e uma
legislação voltada aos princípios de Dublin, ou seja, um reconhecimento da água como bem
econômico e público. A partir de então, cada vez mais bacias aderiram à política de cobrança da
captação da água 22.
A Lei nº 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, estabelece como um dos seus instrumentos
de gestão a cobrança pelo uso de recursos hídricos, que tem como objetivos (Seção IV, artigo
19):
I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma
indicação de seu real valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e
intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos
Assim, a cobrança é uma remuneração pelo uso de um bem público, que deve ser utilizada
em projetos destinados à gestão, recuperação e proteção dos recursos hídricos dentro das
bacias hidrográficas em que são gerados.
Compete à Agência Nacional de Águas (ANA) arrecadar e repassar os valores arrecadados
à Agência de Água da Bacia, ou à entidade delegatária de funções de Agência de Água, conforme
determina a Lei nº 10.881/04.
Até o momento, em rios de domínio da União, a cobrança foi implementada na Bacia do Rio
Paraíba do Sul, nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, na Bacia do Rio São Francisco
e na Bacia do Rio Doce. Em rios de domínio do Estado do Rio de Janeiro, além das bacias
afluentes ao rio Paraíba do Sul, o instrumento foi implementado nas bacias do rio Guandu, da
Baía da Ilha Grande, da Baía da Guanabara, do Lago São João, do rio Macaé e rio das Ostras e
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
58
do rio Itabapoana. Em rios de domínio do Estado de São Paulo, além das bacias afluentes ao rio
Paraíba do Sul e aos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, a cobrança foi implementada nas bacias
dos rios Sorocaba-Médio Tietê, Alto Tietê, Baixo Tietê e Baixada Santista. Em rios de domínio
do Estado de Minas Gerais, além das bacias afluentes aos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e ao
rio Doce a cobrança foi implementada nas bacias dos rios Velhas e Araguari. Em rios de domínio
do Estado do Paraná, a cobrança só foi iniciada nas bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto
Ribeira (Figura 18).
Figura 18. Mapa com um panorama da situação da cobrança pelo uso da água no Brasil.
Fonte: Agência Nacional de Águas
O valor dos recursos naturais segue duas divisões não excludentes: O valor de uso e o valor
de não uso. O valor de uso está relacionado com o consumo e os destinos dos recursos naturais
pelo homem. Já o valor de não uso é valor que o recurso tem apenas por existir, pelos diversos
motivos possíveis. O valor monetário é obtido por meio de algum método de valoração
determinado 23.
A precificação da água, segundo Rogers, Silva et al. 24, deve atender alguns objetivos. São
eles:
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
59
• Deve maximizar a alocação dos recursos.
• Os usuários devem achar o valor cobrado justo.
• O valor arrecadado deve ser suficiente para realizar obras de infraestrutura e melhoria
no aproveitamento da água.
• Deve promover a conservação da água, incluindo as externalidades geradas.
Vários são os estudos que se propõem a analisar os resultados específicos das cobranças
iniciadas em diferentes bacias no Brasil. Santos 25 faz uma análise da eficiência geral, em relação
aos objetivos da cobrança. A autora mostra que os valores cobrados ainda são inferiores ao
ideal, mas já são eficientes para promover a redução do consumo.
Por outro lado, Pedras, Magalhães et al. 26 realizaram um estudo do impacto da cobrança
pelo uso da água junto aos grandes usuários da bacia do rio Paraíba do Sul. Os autores chegaram
à conclusão que o valor cobrado teve muito pouca influência financeira na indústria local.
Uma análise da cobrança nas bacias de Piracicaba, Capivari e Jundiaí, feita por Martinez Junior
e Lahoz 27, constatou que a cobrança e a correta aplicação dos valores arrecadados podem
trazer benefícios regionais quantificáveis. Mas, os autores defendem que a cobrança só fará
sucesso no Brasil se houver transparência e adesão da sociedade.
Na Tabela 9 é apresentada uma lista contendo a identificação das indústrias localizadas nas
bacias do Alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribeira que tiveram que pagar pelo direito à captação
e uso de água em 2014.
Segundo dados disponibilizados pelo COALIAR (não publicados), o valor arrecadado com a
cobrança pelo uso da água nessas bacias pelas indústrias aí instaladas seria potencialmente de R$
516.316,63, para um volume total outorgado de 63.930.841,6 m3 outorgados em 2014. Ressalta-
se que nesses dados não constam os valores pagos pela SANEPAR, maior contribuinte da Bacia.
Nesse cenário "potencial", dentre todos os setores que pagariam pelo uso da água em 2014
(excetuando-se a SANEPAR), indústria contribuiria com 78,1% do volume total captado e com
73,1% dos valores outorgados no ano.
Das 501 outorgas listadas pelo COALIAR, 266 são relativas às indústrias. No entanto, o
Comitê só efetua a efetiva cobrança pelo uso da água dos cerca de 75 maiores consumidores
industriais da Bacia. Esses consumidores respondem por 91% dos volumes totais outorgados de
captação. Os demais 191 consumidores industriais acabam não pagando pelo uso da água.
A razão para isso está relacionada aos valores cobrados dessas empresas. Enquanto o valor
médio cobrado das 75 maiores indústrias é, em média de R$ 4.374,00/ano, o valor médio devido
pelas demais não chegaria a R$ 260,00/ano. Ou seja, considerando os custos financeiros e com
pessoal para emissão das guias de cobrança e o número insuficiente de técnicos disponíveis na
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
60
estrutura administrativa do COALIAR para isso, os valores que seriam arrecadados seriam
insuficientes sequer para cobrir os custos5
Dentre as empresas que efetivamente pagam pelo uso da água, a PETROBRAS, a Votorantim
Cimentos S.A e a Araucária Nitrogenados S.A. respondem sozinhas por 36.625.747 m3
outorgados e por R$ 251.644,32. Isso equivale a 73,3% dos totais outorgados e por e 66,7% dos
valores totais devidos pelo setor industrial, respectivamente.
Tabela 9. Relação das indústrias instaladas na região do Alto Iguaçu e Alto Ribeira e que
deveriam pagar pelo uso da água.
SETOR/INDÚSTRIA
VOLUME
CAPTADO
(m3/ANO)
VALOR
Total
(R$/ano)
Abate e preparação de produtos de carne e de pescado 643.344 6.363,11
ABATEDOURO DE SUÍNOS BASSO LTDA 26.880 301,06
AVES ALIANÇA PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE
FRANGO PARA CORTE LTDA 40.320 451,58
FRIGORIFICO SOUZA RAMOS LTDA 7.200 80,64
JULIATTO, FOGIATTO & CIA. LTDA. 67.200 752,64
NORBERTO I ESUMI COMÉRCIO DE PESCADOS - ME 18.816 210,74
NORBERTO SHIN-ITI ESUMI 137.088 877,36
PECCIN AGRO INDUSTRIAL LTDA 54.432 609,64
PRIMOS AGROINDUSTRIAL LTDA. 213.792 2.210,15
UNIÃO AGROARA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ALIMENTOS
LTDA. 77.616 869,30
Aparelhamento de pedras e fabricação de cal e de outros
produtos minerais 84.384 919,30
COLOMBOCAL LTDA. 25.920 290,30
GRANITOS GRAMARCAL LTDA. 5.376 34,41
GRECA DISTRIBUIDORA DE ASFALTOS LTDA. 11.520 129,02
MARMORARIA VARDÂNEGA LTDA. 7.680 86,02
PARANÁ GRANITOS LTDA. 19.488 218,27
SOLOFINO INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE CAL E CALCÁRIO
LTDA. 14.400 161,28
Curtimento e outras preparações de couro 24.192 270,95
DURLICOUROS IND. E COM. DE COUROS, EXPORTAÇÃO E
IMPORTAÇÃO LTDA. 24.192 270,95
Fabricação de acessórios do vestuário e de segurança
profissional 76.608 858,01
LUVASUL INDUSTRIAL LTDA. 10.080 112,90
TAURUS BLINDAGENS LTDA. 36.960 413,95
TAURUS HELMETS INDÚSTRIA PLÁSTICA LTDA 29.568 331,16
Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e
radiotelefonia e de transmissão 26.880 301,06
5 A contratação de um único funcionário, com um salário mensal de R$ 2.000,00/mês, mais os encargos e
despesas trabalhistas legais, custaria mais ao COALIAR que os R$ 50.000,00/ano que seriam arrecadados
a partir da cobrança pelo uso da água das 191 empresas. Além disso, desse valor arrecadado com a
cobrança, não mais que 7,5% poderia ser utilizado para pagamento de despesas administrativas.
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
61
SETOR/INDÚSTRIA
VOLUME
CAPTADO
(m3/ANO)
VALOR
Total
(R$/ano)
NILKO TECNOLOGIA LTDA 26.880 301,06
Fabricação de aparelhos e instrumentos para usos médico -
hospitalares, odontológicos 32.794 367,29
BECTON DICKINSON INDÚSTRIAS CIRÚRGICAS LTDA. 5.914 66,23
JJGC INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MATERIAIS DENTÁRIOS S.A. 26.880 301,06
Fabricação de aparelhos receptores de rádio e televisão e de
reprodução, gravação 80.640 903,17
BRASILSAT HARALD S.A. 80.640 903,17
Fabricação de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento,
gesso e estuque 356.467 3.837,60
A MINA IND. E COM. DE ARGAMASSA E ARTEFATOS DE
CIMENTO LTDA. 6.720 75,26
ARTEVAN - ARTESANATO E ARTEFATOS DE CIMENTO LTDA. 16.128 180,63
BLOCPAR - INDÚSTRIA DE ARTEFATOS DE CIMENTO LTDA. 2.592 29,03
CIBRACAL INDÚSTRIA BRASILEIRA DE CAL LTDA. 18.144 203,21
DIPAMIX CONCRETO LTDA - ME 13.440 150,53
ENGEMIX S.A. 6.720 75,26
ETERNIT S.A. 30.240 338,69
HIPERMIX BRASIL SERVIÇOS DE CONCRETAGEM LTDA 10.080 112,90
HIPERMIX BRASIL SERVIÇOS DE CONCRETAGEM LTDA. 24.192 270,95
HUME PRÉMOLDADOS DE CONCRETO CENTRIFUGADO LTDA. 6.720 75,26
ISDRALIT INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. 76.608 858,01
L.C. COSTA ENGENHARIA LTDA. 8.400 94,08
MULTILIT FIBROCIMENTO LTDA. 40.320 451,58
PEDREIRA NOVABRITA 25.200 282,24
VOTORANTIM CIMENTOS BRASIL LTDA. 32.256 206,44
VOTORANTIM CIMENTOS S.A 38.707 433,52
Fabricação de artefatos diversos de papel, papelão, cartolina e
cartão 12.960 145,15
TRENIER COMÉRCIO DE PAPÉIS LTDA 12.960 145,15
Fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos - exceto
vestuário - 114.240 1.279,49
MICHEL THIERRY DO BRASIL INDÚSTRIA TÊXTIL LTDA 114.240 1.279,49
Fabricação de artefatos têxteis, incluindo tecelagem 170.352 1.907,94
CHARLEX INDÚSTRIA TÊXTIL LTDA. 170.352 1.907,94
Fabricação de artigos de borracha 385.248 4.314,78
PIRÂMIDE FERRAMENTAS E ARTIGOS DE BORRACHA
ENDURECIDA LTDA 23.040 258,05
SUMITOMO RUBBER DO BRASIL LTDA 338.688 3.793,31
TORTUGA PRODUTOS DE BORRACHA LTDA. 23.520 263,42
Fabricação de artigos do mobiliário 36.288 406,43
CEQUIPEL INDÚSTRIA DE MÓVEIS E COM. DE EQUIPAMENTOS
GERAIS LTDA 36.288 406,43
Fabricação de bebidas 2.250.704 33.148,44
ÁGUA MINERAL FRESCALE LTDA. 158.976 2.797,98
ÁGUA MINERAL GRACIOSA LTDA. 60.480 1.064,45
ÁGUA MINERAL JORDÃO - EXTRAÇÃO E COMÉRCIO DE ÁGUA
MINERAL LTDA. 161.280 2.838,53
ÁGUA MINERAL NATURALE LTDA. 167.040 2.939,90
ÁGUA MINERAL PRATA DA SERRA LTDA. 26.880 473,09
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
62
SETOR/INDÚSTRIA
VOLUME
CAPTADO
(m3/ANO)
VALOR
Total
(R$/ano)
ÁGUA MINERAL TIMBÚ LTDA - EPP 23.040 294,91
ÁGUAS DO BRASIL LTDA. 36.288 483,84
AMBEV S.A 423.360 5.419,01
CERVEJARIA CURITIBA LTDA. 37.632 481,69
EMPRESA DE ÁGUAS AQUA REGIA LTDA - ME 100.800 1.128,96
FONTANA DI TREVI INDÚSTRIA DE ÁGUA MINERAL LTDA. 21.168 237,08
HUGO Cini S.A. INDÚSTRIA DE BEBIDAS E CONEXOS 49.280 630,78
PAULO ANTONIO DE SIQUEIRA 20.832 233,32
PURA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ÁGUA E MINERAL 372.960 6.564,10
SPAIPA S/A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BEBIDAS 590.688 7.560,81
Fabricação de caminhões e ônibus 205.632 2.303,08
VOLVO DO BRASIL VEÍCULOS LTDA. 205.632 2.303,08
Fabricação de cimento 4.244.128 30.503,07
COMPANHIA DE CIMENTO ITAMBÉ 1.665.216 11.683,12
HOLCIM BRASIL S/A 174.720 1.956,86
VOTORANTIM CIMENTOS BRASIL LTDA. 6.160 68,99
VOTORANTIM CIMENTOS BRASIL S.A. 30.240 338,69
VOTORANTIM CIMENTOS S.A 2.346.288 16.214,55
VOTORANTIN INDUSTRIAL S.A. 21.504 240,84
Fabricação de eletrodomésticos 163.296 1.828,92
ELECTROLUX DO BRASIL S.A. 163.296 1.828,92
Fabricação de embalagens de papel ou papelão 898.330 6.190,57
TROMBINI EMBALAGENS S/A 898.330 6.190,57
Fabricação de equipamentos para distribuição e controle de
energia elétrica 57.120 639,74
GL ELETRO-ELETRÔNICOS LTDA. 57.120 639,74
Fabricação de estruturas metálicas e obras de caldeiraria
pesada 65.520 733,82
BRAFER CONSTRUÇÕES METÁLICAS S. A. 55.440 620,93
ISOESTE SUL- INDÚSTRIA E COMÉRCIO CONSTRUTIVOS
ISOTÉRMICOS LTDA 10.080 112,90
Fabricação de fios, cabos e condutores elétricos isolados 164.506 1.842,46
FURUKAWA INDUSTRIAL S. A. PRODUTOS ELÉTRICOS 99.994 1.119,93
PK CABLES DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. 64.512 722,53
Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral 57.408 642,97
ELETROFRIO REFRIGERAÇÃO LTDA. 33.600 376,32
GELOPAR REFRIGERACÃO PARANAENSE LTDA. 10.368 116,12
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MÁQUINAS PERFECTA CURITIBA
LTDA. 13.440 150,53
Fabricação de máquinas-ferramenta 11.760 131,71
IKF SERVIÇOS E FERRAMENTAS DO BRASIL LTDA. 11.760 131,71
Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso
específico 14.112 158,05
ASPRO DO BRASIL - SISTEMAS DE COMPRESSÃO PARA GNV
LTDA. 14.112 158,05
Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso geral 13.440 150,53
TRIENG TÉCNICA INDUSTRIAL LTDA. 13.440 150,53
Fabricação de outros produtos alimentícios 693.216 7.764,02
ACEVEDO E DALL'AGNOL LTDA. 6.048 67,74
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
63
SETOR/INDÚSTRIA
VOLUME
CAPTADO
(m3/ANO)
VALOR
Total
(R$/ano)
ALL BRANDS INDÚSTRIA DE ALIMENTOS LTDA. 20.160 225,79
CHARLOTTE INDÚSTRIA E COMERCIO DE PRODUTOS
ALIMENTÍCIOS LTDA 10.752 120,42
CHARLOTTE INDÚSTRIA E COMERCIO PRODUTOS
ALIMENTÍCIOS LTDA 20.160 225,79
H L INDUSTRIA E COMÉRCIO DE GELO CRISTAL LTDA. ME 14.112 158,05
IMPORTADORA DE FRUTAS LA VIOLETERA LTDA. 134.400 1.505,28
MONDELEZ BRASIL LTDA 80.640 903,17
NUTRILATINA LABORATÓRIOS LTDA. 1.728 19,35
PEPSICO DO BRASIL LTDA. 332.640 3.725,57
PRODUTOS ALIMENTÍCIOS DELAKASA LTDA EPP 32.256 361,27
RISOTOLÂNDIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ALIMENTOS
LTDA. 16.800 188,16
RIVOLI INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA 23.520 263,42
Fabricação de papel, papelão liso, cartolina e cartão 837.312 7.378,02
FÁBRICA DE PAPEL E PAPELÃO NOSSA SENHORA DA PENHA
S.A. 174.720 1.311,74
IGUAÇU CELULOSE PAPEL S.A. 528.192 4.948,07
INDÚSTRIA DE PAPELÃO HÖRLLE LTDA. 110.880 854,78
MILI S/A 23.520 263,42
Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 501.984 5.622,22
AETHRA SISTEMAS AUTOMOTIVOS S.A 20.832 233,32
FAURECIA AUTOMOTIVE DO BRASIL LTDA. 90.720 1.016,06
GESTAMP PARANÁ S.A. 20.160 225,79
HÜBNER INDÚSTRIA MECÂNICA LTDA. 20.160 225,79
TREVES DO BRASIL LTDA. 28.224 316,11
WHB COMPONENTES AUTOMOTIVOS S. A. 90.720 1.016,06
WHB FUNDIÇÃO S/A 231.168 2.589,08
Fabricação de produtos cerâmicos 467.222 2.990,22
GERMER PORCELANAS FINAS S.A 262.656 1.681,00
INCEPA REVESTIMENTOS CERÂMICOS LTDA. 192.326 1.230,89
PORCELANA SCHMIDT S.A. 12.240 78,34
Fabricação de produtos de madeira, cortiça e material trançao 325.013 3.640,14
ARAUCO DO BRASIL S.A. 174.720 1.956,86
BERNECK AGLOMERADOS S. A. 32.256 361,27
BERNECK S.A. PAINÉIS E SERRADOS 18.144 203,21
DAL PAI S.A. INDÚSTRIA E COMÉRCIO 18.144 203,21
MAEMBA MADEIRAS E EMBALAGENS LTDA. 5.544 62,09
RIONILE MADEIRAS LTDA 16.128 180,63
SELECTAS S/A INDUSTRIA E COMERCIO DE MADEIRAS 40.320 451,58
SOCIEDADE TRÊS PINHEIROS LTDA. 7.661 85,80
TRIÂNGULO PISOS E PAINÉIS LTDA. 12.096 135,48
Fabricação de produtos de plástico 755.194 8.458,17
COMPANHIA PROVIDÊNCIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO 323.904 3.627,72
DIXIE TOGA S/A 80.304 899,40
EMBRASAT METALÚRGICA E TELECOMUNICAÇÕES LTDA. 11.760 131,71
ESPIRAL INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA 33.600 376,32
FAURECIA AUTOMOTIVE DO BRASIL LTDA. 4.368 48,92
HETTICH DO BRASIL LTDA. 116.122 1.300,56
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
64
SETOR/INDÚSTRIA
VOLUME
CAPTADO
(m3/ANO)
VALOR
Total
(R$/ano)
MG INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PLÁSTICOS LTDA 4.032 45,16
MVC - COMPONENTES PLÁSTICOS LTDA. 26.880 301,06
PARNAPLAST INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS LTDA. 24.192 270,95
PEGUFORM DO BRASIL LTDA. 9.072 101,61
PLÁSTICOS METALMA S.A. 48.384 541,90
PROCÓPIO INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. 30.240 338,69
TERMOTÉCNICA LTDA 42.336 474,16
Fabricação de produtos derivados do petróleo 27.954.816 179.012,20
CBB INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ASFALTOS E ENGENHARIA
LTDA. 7.680 86,02
COMPASA DO BRASIL - DISTRIBUIDORA DE DERIVADOS DE
PETRÓLEO LTDA. 13.440 150,53
COQUEPAR - COMPANHIA DE COQUE CALCINADO DE
PETRÓLEO S.A. 645.120 4.128,77
PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. PETROBRAS 27.288.576 174.646,89
Fabricação de produtos diversos 57.120 639,74
LABRA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE LÁPIS S.A. 57.120 639,74
Fabricação de produtos diversos de metal 57.792 647,27
BUNDY REFRIGERAÇÃO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
LTDA 33.600 376,32
FGVTN BRASIL LTDA. 24.192 270,95
Fabricação de produtos do fumo 29.568 331,16
SOUZA CRUZ S/A 29.568 331,16
Fabricação de produtos e preparados químicos diversos 452.861 5.072,04
DYNEA BRASIL S.A. 44.957 503,52
HEXION QUÍMICA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. 50.400 564,48
IBQ - INDÚSTRIAS QUÍMICAS S/A. 103.488 1.159,07
ISOGAMA INDÚSTRIA QUÍMICA LTDA. 38.976 436,53
MOMENTIVE QUÍMICA DO BRASIL LTDA 215.040 2.408,45
Fabricação de produtos farmacêuticos 11.520 129,02
HERBARIUM LABORATÓRIO BOTÂNICO LTDA. 11.520 129,02
Fabricação de produtos químicos inorgânicos 4.044.096 27.875,64
ARAUCÁRIA NITROGENADOS S.A. 3.628.800 23.224,32
DRYLLER INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE HIDRÓXIDOS LTDA. 23.520 263,42
FERTION INDÚSTRIA DE FERTILIZANTES LTDA 28.224 316,11
NITRAL URBANA LABORATÓRIOS LTDA. 14.112 158,05
PERÓXIDOS DO BRASIL LTDA. 215.040 2.408,45
SOLO VIVO INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE FERTILIZANTES LTDA
. 67.200 752,64
TERRA RICA - IND. E COM. DE CALCÁRIO E FERTILIZANTES DO
SOLO LTDA 67.200 752,64
Fabricação de produtos químicos orgânicos 125.184 1.402,06
COLORFIX ITAMASTER INDÚSTRIA DE MASTERBATCHES LTDA. 20.160 225,79
SIDERQUÍMICA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PRODUTOS
QUÍMICOS S.A. 105.024 1.176,27
Fabricação de resinas e elastômeros 151.872 1.700,97
GPC QUÍMICA S.A. 86.016 963,38
RESINAS YSER LTDA. 65.856 737,59
Fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza e
artigos de perfumaria 58.176 651,57
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
65
SETOR/INDÚSTRIA
VOLUME
CAPTADO
(m3/ANO)
VALOR
Total
(R$/ano)
BELGA INDÚSTRIAS QUÍMICAS LTDA 5.760 64,51
BLUE CHEMICAL BRASIL LTDA 24.192 270,95
GIOCA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. 28.224 316,11
Fabricação de tintas, vernizes, esmaltes, lacas e produtos afins 100.800 1.128,96
NACIONAL INDÚSTRIA QUÍMICA LTDA. 100.800 1.128,96
Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para
agricultura, avicultura 21.840 244,61
CNH LATIN AMERICA LTDA 21.840 244,61
Fabricação de tubos - exceto em siderúrgicas 13.171 147,52
PLASTILIT PRODUTOS PLÁSTICOS DO PARANÁ LTDA 13.171 147,52
Fabricação de vidro e de produtos do vidro 26.880 301,06
GLASS SERV COMERCIAL DE VIDROS LTDA. 26.880 301,06
Forjaria, estamparia, metalurgia do pó e serviço de
tratamento de metais 2.419 27,10
MARINGÁ SOLDAS S/A 2.419 27,10
Fundição 47.040 526,85
FUNDIÇÃO NEW HÜBNER LTDA. 47.040 526,85
Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de rações
balanceadas para animais 2.036.160 13.128,19
ANACONDA INDUSTRIAL E AGRÍCOLA DE CEREAIS S.A. 20.160 225,79
CORN PRODUCTS BRASIL INGREDIENTES INDUSTRIAIS LTDA. 2.016.000 12.902,40
Processamento, preservação e produção de conservas de
frutas, legumes e outros 155.232 1.738,60
IMPORTADORA DE FRUTAS LA VIOLETERA LTDA. 30.240 338,69
VALE FÉRTIL INDÚSTRIAS ALIMENTÍCIAS LTDA. 124.992 1.399,91
Reciclagem de sucatas não-metálicas 7.258 81,29
MENNOPAR INDÚSTRIA DO PLÁSTICO LTDA. 7.258 81,29
Siderurgia 821.251 6.488,51
GERDAU OPERAÇÃO AÇOS LONGOS BRASIL S.A. 799.747 6.247,66
PIERGO INDUSTRIA E COMERCIO DE AÇO LTDA 21.504 240,84
Torrefação e moagem de café 7.661 85,80
CAFÉ DAMASCO S.A. 7.661 85,80
Total Geral 49.953.010 377.360,58
Fonte: COALIAR/ Base de dados 2014 (Não publicados).
Em relação ao lançamento de efluentes (Tabela 10), os dados levantados pelo COALIAR em
2014 e totalizados em fevereiro de 2015 mostram que 50 indústrias pagaram pela outorga de
lançamento. O valor total pago foi de R$ 33.025,86, o que equivale a um valor médio de 8.256,47
m3 lançados e R$ 660,52 pagos por ano por empresa.
A empresa que mais contribuiu para esses valores foi a Petrobras, com 190.512,00 m3
lançados e R$ 15.240,96 pagos.
Considerando todas as outorgas de lançamento (industriais ou não) tem-se um montante
total de 12.061.556,64 m3 outorgados para lançamento o que gerou uma cobrança de R$
34.769,66. Considerando esses dados, a indústria foi responsável por 95% dos pagamentos por
outorga de lançamento na região do Alto Iguaçu e dos afluentes do Alto Ribeira em 2014.
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
66
Tabela 10. Relação das indústrias instaladas na região do Alto Iguaçu e Alto Ribeira
cobradas pelo lançamento de efluentes em 2014.
INDÚSTRIA Carga Lançada
(kg/ano)
VALOR LANÇADO
COBRADO
(R$/ano)
ÁGUAS DO BRASIL LTDA. 196,63 15,73
AKER SOLUTIONS DO BRASIL LTDA 2.243,81 179,50
ARAUCÁRIA NITROGENADOS S.A. 31.752,00 2.540,16
ARCELORMITTAL GONVARRI BRASIL PRODUTOS
SIDERÚRGICOS S/A 123,62 9,89
BECTON DICKINSON INDÚSTRIAS CIRÚRGICAS
LTDA. 352,80 28,22
BERNECK S.A. PAINÉIS E SERRADOS 5.080,32 406,43
BLOUNT INDUSTRIAL LTDA. 317,52 25,40
BOTICA COMERCIAL FARMACÊUTICA LTDA 1.905,12 152,41
BUNDY REFRIGERAÇÃO BRASIL INDÚSTRIA E
COMÉRCIO LTDA 529,20 42,34
CNH LATIN AMERICA LTDA 3.344,54 267,56
COMPANHIA DE BEBIDAS DAS AMÉRICAS - AMBEV 6.350,40 508,03
COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL 7.112,45 569,00
CORNPRODUCTS 76.204,80 6.096,38
DENSO DO BRASIL LTDA. 1.270,08 101,61
DURLICOUROS IND. E COM. DE COUROS,
EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO LTDA. 10.372,32 829,79
DYNEA BRASIL S.A. 39,69 3,18
ELECTROLUX DO BRASIL S.A. 4.445,28 355,62
ELETROFRIO REFRIGERAÇÃO LTDA. 264,60 21,17
FRIGO MUG ABATEDOURO DE SUÍNOS LTDA. 517,44 41,40
FRIGORÍFICO ARGUS LTDA. 6.468,00 517,44
FRIMESA COOPERATIVA CENTRAL 4.233,60 338,69
FURUKAWA INDUSTRIAL S. A. PRODUTOS
ELÉTRICOS 179,93 14,39
GESTAMP PARANÁ S.A. 370,44 29,64
GREIF EMBALAGENS INDUSTRIAIS DO BRASIL LTDA 617,40 49,39
HERBARIUM LABORATÓRIO BOTÂNICO LTDA. 88,20 7,06
HETTICH DO BRASIL LTDA. 423,36 33,87
IGUAÇU CELULOSE PAPEL S.A. 3.969,00 317,52
IMPORTADORA DE FRUTAS LA VIOLETERA LTDA. 1.749,89 139,99
INGERSOLL-RAND IND, COM. E SERV. DE AR
COND., AR COM. E REF. LTDA 78,26 6,26
JTEKT AUTOMOTIVA BRASIL LTDA 0,00 0,00
JULIATTO, FOGIATTO & CIA. LTDA. 1.171,30 93,70
MILI S/A 211,68 16,93
MONDELEZ BRASIL LTDA 2.286,14 182,89
NOVOZYMES LATIN AMERICA LTDA 2.116,80 169,34
PERÓXIDOS DO BRASIL LTDA. 444,53 35,56
PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. PETROBRAS 190.512,00 15.240,96
POTENCIAL BIODIESEL LTDA. 423,36 33,87
PRAXAIR SURFACE TECHNOLOGIES DO BRASIL
LTDA 7,06 0,56
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
67
INDÚSTRIA Carga Lançada
(kg/ano)
VALOR LANÇADO
COBRADO
(R$/ano)
ROBERT BOSCH LTDA. 2.815,34 225,23
SEARA ALIMENTOS S/A 571,54 45,72
SPAIPA S/A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BEBIDAS 5.927,04 474,16
TROX DO BRASIL DIFUSÃO DE AR ACÚSTICA,
FILTRAGEM, VENTILAÇÃO LTDA 296,35 23,71
UEG ARAUCÁRIA LTDA. 22.226,40 1.778,11
VALMET CELULOSE, PAPEL E ENERGIA LTDA 254,02 20,32
VOLKSWAGEN DO BRASIL INDÚSTRIA DE
VEÍCULOS AUTOMOTORES LTDA. 6.138,72 491,10
VOTORANTIM CIMENTOS BRASIL LTDA. 3.175,20 254,02
VOTORANTIM CIMENTOS BRASIL S.A. 469,93 37,59
VOTORANTIM CIMENTOS S.A 0,00 0,00
WHB COMPONENTES AUTOMOTIVOS S. A. 2.116,80 169,34
WHB FUNDIÇÃO S/A 1.058,40 84,67
Total Geral 412.823,30 33.025,86 Fonte: COALIAR/ Base de dados 2014.
4.2 Metodologia de análise
No presente estudo, inicialmente foi realizada uma análise dos dados do questionário
aplicado às empresas filiadas à Federação das Indústrias do Paraná e apresentado no item
anterior. Em seguida foi feita uma análise histórica dos coeficientes de uso de água com base no
relatório técnico produzido pela Fundação de Apoio da Universidade de Viçosa, por Teixeira,
Lana et al. 28. O relatório discute os dados e as metodologias de várias pesquisas anteriores,
propõe e aplica uma matriz de coeficientes atual, que mostra a quantidade de água usada em
cada setor da indústria.
A partir de artigos, textos e dados pesquisados através da internet, procurou-se encontrar
os tipos de uso da água nos processos produtivos de alguns setores representativos na região
metropolitana de Curitiba. Foram analisados os setores de bebidas, papel e celulose e cimento,
que figuram entre as principais indústrias da região, principalmente para averiguar a intensidade
do uso da água, além de analisar se há processos como o de reúso, por exemplo.
A seguir, foi realizado um levantamento das receitas de algumas empresas da região, a fim
de possibilitar uma comparação, através de um índice que relaciona este valor e o valor cobrado
pela água captada pela empresa.
Ressalta-se que a receita líquida de cada empresa nem sempre é de fácil acesso, pois apenas
as maiores companhias divulgam abertamente seus balanços contábeis. Soma-se à essa
dificuldade o fato das grandes empresas possuírem, muitas vezes, mais de uma unidade industrial
e que raramente é possível encontrar o quanto cada unidade representa na produção total ou
no resultado financeiro da companhia.
Para a estimativa dos dados (receita proporcional da unidade industrial) foi estabelecido que
a fatia de produção representaria também a fatia da receita líquida. Para as empresas cuja fatia
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
68
exata de produção de cada unidade industrial não pôde ser encontrada, foi estimado um valor
com base em informações encontradas na internet, preferencialmente em balanços contábeis ou
em documentos das empresas. Procurou-se coletar os dados das receitas mais atuais possíveis,
situando-os no período de 2009 a 2013.
Para fazer uma comparação de intensidade do uso da água entre os diferentes setores,
foi proposto um índice, calculado a partir do valor da matriz dos coeficientes técnicos produzido
pelo relatório do Ministério do Meio Ambiente 28. Cada coeficiente técnico de retirada foi
dividido pelo preço de algum produto representativo produzido pelo respectivo setor, gerando
esse índice que relaciona a quantidade monetária produzida para cada metro cúbico de água
usado no processo industrial.
4.3 A cobrança pelo uso da água sob o ponto de vista da
indústria
Na Figura 19 são sintetizadas algumas das respostas apresentadas no questionário aplicado
junto às indústrias.
Alguns dados chamam a atenção imediata. O primeiro deles é o baixo índice de adesão das
empresas ao estudo: apenas 20, das 72 empresas contatadas nas bacias do Alto Iguaçu e rio
Ribeira, responderam o questionário, o que pode indicar uma ainda baixa preocupação sobre
esse tema no âmbito das indústrias.
Outra questão que fica clara é o baixo conhecimento sobre onde é aplicado o dinheiro
arrecadado. Somente duas empresas declararam saber o destino do pagamento. Isso implica em
uma falsa dedução de que a cobrança é uma tributação, como algumas empresas afirmaram. Uma
melhor divulgação do que a cobrança realmente é, implicaria, talvez, em uma aceitação mais alta
por parte da indústria. Mesmo assim, as empresas mostram que são relativamente a favor da
cobrança.
Quanto às justificativas contrárias à cobrança, a maioria dos representantes das indústrias
alega que há uma bitributação, além de uma já elevada carga tributária. Há um temor, mesmo
nas empresas que concordam com a cobrança, de que este valor cobrado aumente, levando a
um custo excessivamente alto. Quando perguntadas sobre a eficácia da cobrança em diminuir o
consumo de água, apenas uma empresa concordou que houve. A maioria das empresas afirmou
que sempre buscam aperfeiçoar o uso de recursos naturais por causa da preocupação ambiental
que elas têm.
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
69
Figura 19. Dados retirados do questionário aplicado junto às indústrias da região
metropolitana de Curitiba.
9
8
3
Porte da indústria (número de funcionários)
Grande
Média
Pequena
8
12
A indústria concorda com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos?
Não
Sim
15
5
A cobrança pelo uso da água causou impactos no custo final de
produção?
Não
Sim
18
2
A indústria conhece a destinação dos recursos provindos da cobrança
do uso da água?
Não
Sim
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
70
Os setores das empresas são o fator mais relevante para a análise do uso da água, pois a
intensidade no processo produtivo em cada tipo de indústria é bastante distinta. Os setores das
empresas que responderam ao questionário estão dispostos na (Figura 20).
Figura 20. Setores em que atuam as empresas que responderam ao questionário.
Com a obtenção da tabela com os dados detalhados de todas as empresas que pagam pela
captação, consumo e lançamento de efluentes, foi realizada a separação apenas das indústrias e
com isso, um mapa das empresas captadoras29 e das que lançam efluentes30.
4.4 Uso da água nos diferentes setores industriais
O uso de água é bastante específico em cada setor industrial. No setor de bebidas a água é
utilizada, além da própria preparação da bebida, para resfriamento e produção de vapor. No
caso das bebidas alcóolicas e, em menor grau, de refrigerantes, há ainda o fator de limpeza e
desinfecção das garrafas. Esta parte é a responsável pela maior parte do uso da água 31.
Na indústria do cimento a água é utilizada basicamente para resfriamento e nas torres de
arrefecimento. Toda água utilizada nos processos é liberada em forma de vapor, sem lançamento
de efluentes líquidos. Já a água usada para resfriamento é geralmente reutilizada 32.
Na indústria de papel e celulose a água é utilizada ao longo de todo o processo produtivo,
desde a preparação da matéria prima, passando pela lavagem da celulose, limpeza, geração de
vapor para gerar energia e resfriamento de processos. Portanto, é uma das indústrias com maior
intensidade de uso da água. A maior parte da agua captada é devolvida para os rios, sendo 11%
transformada em vapor e 1% convertida nos produtos 33.
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
71
No setor siderúrgico a água é usada principalmente para resfriamento de equipamentos e
lavagem de gases, além de funções secundárias como granular escória. Há um grande esforço de
reúso da água na maior parte das indústrias, chegando a 98% de água reutilizada 34.
Os principais usos da água no processo de refino de petróleo são para o resfriamento do
processo e geração de vapor. Nessa indústria há o reúso de águas ácidas tratadas para serem
usadas na dessalinização do petróleo. Cada vez mais há uma busca pelo reúso, focando-se na
água das torres de resfriamento 35.
A intensidade de uso da água pelos diferentes setores industriais pode ser analisada pelo
coeficiente proposto por Gleick, Haasz et al. 36 (Tabela 11), que considera a razão entre a
quantidade de água usada por dia e o número de funcionários da empresa (GED sigla em inglês
para galões por empregado por dia). Para efeito de cálculo, substituiu-se aqui a unidade galões
por metro cúbico, unidade mais utilizada no Brasil.
Tabela 11. Índice de utilização de água (em metros cúbicos por empregados por dia) em
cada setor industrial.
SETOR NÚMERO DE
EMPRESAS
METROS CÚBICO/
EMPREGADOS/DIA
Resinas 1 0,5
Eletroeletrônicos 2 1,3
Transportes 2 1,0
Papel e Celulose 2 4,4
Químicos 4 3,7
Cimento 1 5,7
Siderurgia 2 5,8
Bebidas e alimentos 6 8,7
Fonte: Elaborado com base no questionário respondido pelos representantes das indústrias associadas à
Fiep e em Gleick, Haasz et al. 36.
O coeficiente não leva em conta a intensidade do fator trabalho na produção e as
variações características de cada setor. Porém, é considerado um método para estabelecer
parâmetros de comparação entre os diferentes setores.
4.5 Impacto financeiro do valor cobrado pela água para a
indústria
Com a receita alcançada pelas empresas e a partir dos valores cobrados pela captação de
água de cada uma delas foi feito um cálculo para demonstrar a pouca relevância financeira
representada pela cobrança pelo uso da água junto a essas indústrias (Tabela 12).
Ainda que o número amostral seja pequeno, é possível se chegar a algumas conclusões
acerca dos resultados obtidos. O primeiro fato que deve ser levado em consideração é o das
empresas da amostra analisada serem todas de grande porte. Como explicado anteriormente,
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
72
apenas os dados relativos às receitas de empresas de grande e de médio porte são possíveis de
serem obtidos. Mas, é também razoável supor que, em função dos ganhos de escala alcançados
e de um melhor aproveitamento dos recursos hídricos, que as empresas maiores tenham uma
porcentagem mais reduzida dos gastos com captação de água em relação à sua receita. Ou, em
outras palavras, que o custo da água impacte proporcionalmente menos os custos de seus
produtos.
Ainda que os valores apresentados na Tabela 12 sejam meramente estimativos, é possível
concluir que, mesmo nas indústrias com uso mais intensivo de água, o valor cobrado atualmente
não é financeiramente impactante. Mesmo no caso em que a razão (valor cobrado/receita) é
maior, esse valor representa apenas cerca de 0,012% da receita líquida da empresa. No setor de
bebidas, onde o principal insumo é justamente a água, a razão é ainda menor. Isso mostra o
baixíssimo impacto financeiro que a cobrança atualmente gera a essas empresas.
Tabela 12. Relação entre o valor pago pela captação da água e a receita de empresas na
região do Alto Iguaçu6.
EMPRESA SETOR VALOR
PAGO (R$)
RECEITA
(R$)
VALOR
PAGO/
RECEITA
Repar/Petrobras7 Petróleo 174.646,88 74.436.642.207,00 0,00023%
Mili8 Papel e
Celulose 263,42 73.219.194,00 0,00036%
Dynea Brasil9 Químicos
Diversos 503,51 111.480.000,00 0,00045%
Siderquímica10 Químicos
Orgânicos 1.176,27 184.724.000,00 0,00064%
WHB11 Autopeças 3.605,14 428.792.000,00 0,00084%
Cini12 Bebidas 630,78 24.005.498,00 0,00263%
6 Valores estimados com base nos balanços contábeis das empresas (diversos anos) e em dados sobre
relacionados às outorgas de água das indústrias, disponibilizados pelo Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e
Afluentes do Alto Ribeira (2015). 7 Fontes consultadas: Anp 37; Index-Mundi 38. Valores estimados a partir dos volumes processados pela
unidade industrial e a partir do preço internacional da gasolina. 8 Fonte consultada: Mili S/A 39. Considerou-se, a título de estimativa, em 10% a participação da Unidade
industrial da RMC no total produzido pela empresa. 9 Fonte consultada: Amanhã 40. 10 Fonte consultada: Acsp 41. 11 Fonte consultada: Revista Exame 42. Neste caso, foi considerado que a unidade industrial da RMC
contribui com 50% da produção da empresa, pois existem apenas duas fábricas da empresa e a
Paranaense é a maior delas. 12 Fonte consultada: Bem Paraná 15.
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
73
EMPRESA SETOR VALOR
PAGO (R$)
RECEITA
(R$)
VALOR
PAGO/
RECEITA
Spal13 Bebidas 7.560,81 96.190.000,00 0,00786%
Iguaçu Celulose14 Papel e
Celulose 4.948,07 25.961.900,00 0,01906%
Outro ponto que chama a atenção é o ordenamento dos setores em relação à razão
calculada (valor cobrado/receita) para cada empresa. A classificação das empresas segundo essa
razão crescente apresentada na Tabela 12 coincide com aquela que seria obtida se a classificação
fosse realizada segundo a intensidade do uso/consumo da água pela indústria. Nesse caso, os
setores de papel e celulose e de bebidas também ocupariam lugares de destaque como os
setores mais intensos em relação à utilização de recursos hídricos. A única exceção é a empresa
Mili, que também atua no setor de papel e celulose e é uma das que apresentam menor razão
entre valor cobrado/receita. Porém, nesse caso cabe ressaltar que planilha relativa ao ano de
2013 fornecida pelo Comitê de Bacias essa mesma empresa apresentava um valor pago 10 vezes
maior do que o registrado em 2014.
Para comparar os setores em relação à intensidade no uso da água, foram cruzados os dados
apresentados na Tabela 12 com preços de produtos gerados por cada setor. Dessa forma, foi
estabelecido um índice que relaciona o valor monetário produzido por m³ utilizado na produção
(Tabela 13).
É necessário repetir que este número não é e nem tem como ser preciso, já que cada
indústria produz diferentes produtos em cada uma das suas próprias unidades industriais, além
de produzir itens diferentes das demais indústrias do próprio setor. Outro fator importante é
que alguns produtos sofrem constantemente flutuações de preço. Por fim, essa é uma análise
demasiadamente complexa porque em alguns setores não é possível se chegar a um preço
unitário (por exemplo, não é possível encontrar o preço de uma tonelada de peças automotivas).
Feitas todas essa ressalvas, ainda assim pode-se concluir que o índice apresentado é útil, pois
permite que se quantifique a grande variação de intensidade de uso da água existente entre os
setores analisados. Enquanto o setor de químicos inorgânicos gera cerca de R$ 49,00 para cada
metro cúbico de água usado no processo produtivo, o setor de produção de caminhões e de
ônibus gera R$19.833,00 com a mesma quantidade de água. Isso significa que a importância da
água é completamente heterogênea entre os diferentes setores industriais.
13 Foi considerado que a unidade localizada na RMC responde por cerca de 10% da produção total da
empresa, já que é a menor e menos produtiva das três unidades existentes, segundo o site da Spal 14 Fonte consultada: Iguaçu Celulose Papel S/A 43. Foi considerado que a unidade industrial de São José
dos Pinhais representa cerca de 10% da receita total, em uma estimativa conservadora, com base no
disposto no site da Empresa.
A INDÚSTRIA E A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
74
Tabela 13. Valor monetário (em R$) produzido na forma de produto acabado para cada
metro cúbico de água utilizado em diferentes setores industriais.
SETOR
(m³/
UNIDAD
E)
UNIDAD
E
VALOR DA
UNIDADE (R$)
VALOR PRODUZIDO
(R$/m3)
Químicos
inorgânicos 9,5 Tonelada 466,5015 49,11
Siderurgia 33,6 Tonelada 1.685,9816 50,17
Papel e Celulose 28,15 Tonelada 2.052,2117 72,90
Borracha 16,2 Tonelada 3.967,2018 244,88
Resinas 8,5 Tonelada 2.750,0019 323,53
Bebidas 1,85 m3 1.000,0020 540,54
Fibrocimento 0,25 m3 247,5821 990,32
Cimento 0,24 Tonelada 452,1922 1.884,12
Caminhões e ônibus 9 Unidade 178.500,0023 19.833,33
Fonte: tabela produzida com base na matriz dos coeficientes técnicos proposta por Teixeira, Lana et al. 28.
15 Fonte consultada: Index-Mundi 44. Baseado no preço da tonelada de Fertilizante DAP . 16 Fonte consultada: World Steel Prices 45. Baseado no preço da tonelada da Chapa laminada. 17 Fonte consultada: Centro De Inteligência Em Florestas 46. Baseado no preço da tonelada da celulose. 18 Fonte consultada: Index-Mundi 47. Baseado no preço da tonelada da borracha. 19 Fonte consultada: Aresb 48. Baseado no preço da tonelada da resina. 20 Preço considerado como R$ 1,00 por litro. 21 Fonte consultada: Orse 49. Preço do Concreto usinado bombeável b0-b1 fck=21mpa. 22 Fonte consultada: Cbic 50. Preço da tonelada de cimento (média do Brasil). 23 Fonte consultada: Icaminhões 51. Baseado no preço do Vm-220: caminhão mais básico da Volvo (única empresa do ramo na tabela).
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
75
5 A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO
TEMA ÁGUA
5.1 O papel da Fiep
O cenário desenhado como resultado do presente estudo mostra que a Fiep, assim como
suas entidades associadas, como o SENAI e o SESI, poderá ter papel de grande protagonismo no
processo de interação entre o setor industrial, o Estado (e, consequentemente, com as questões
legais), o mercado e a sociedade.
Como principal representante do setor industrial do estado do Paraná, cabe à Fiep antecipar-
se aos fatos e oferecer aos seus afiliados um dos insumos mais importantes para a sobrevivência
e para o sucesso de qualquer empresa nos tempos atuais: informação.
Atualmente, informação é a base para o sucesso empresarial, já que a mesma ajuda a
aumentar o conhecimento das organizações sobre temas estratégicos; orienta suas ações,
ajudando-as a reduzir suas incertezas na tomada de decisão. Nesse sentido, quem detém a
informação e sabe usá-la como um recurso para a definição de estratégias conseguirá uma maior
eficiência e se tornará mais competitivo.
As grandes empresas possivelmente têm acesso a tais informações estratégicas relacionadas,
no caso em foco, às questões ambientais e, mais especificamente, aos recursos hídricos. Têm
também a capacidade de se antecipar aos fatos e se adaptar mais rapidamente às exigências do
Estado, da sociedade e do mercado. Entretanto, as médias e, principalmente, as pequenas
empresas, possivelmente não tenham tal capacidade e é aí que se abre atualmente uma brecha
importante para o papel de protagonismo reservado à Fiep.
Também, como membro do Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira,
a Fiep tem um papel importante na discussão dos temas centrais relacionados ao uso e reúso de
água e o lançamento de efluentes pelas indústrias.
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
76
O momento é de
oportunidade para que a Fiep, na
qualidade de representante do
setor industrial e até mesmo as
indústrias, individualmente,
exerçam uma participação mais
ativa no processo decisório de
aplicação dos valores pagos por
elas pelo uso da água e no próprio
processo de definição das normas
que deverão reger o uso dos
recursos hídricos pelas indústrias
nos próximos anos.
O momento é também
importante para que o setor
industrial contribua, de forma
efetiva para a conservação desses
recursos hídricos na região onde as
indústrias estão instaladas, de
forma a garantir seu acesso à agua
e minimizar as chances de que
ocorra aqui o que tem acontecido
em São Paulo, em função não
apenas da falta de chuvas, mas
principalmente em função da falta
de planejamento. Com a
conservação de mananciais, com
uso mais racional e eficiente da
água, com a aplicação de práticas
sistemáticas de reúso e tratamento
adequado de efluentes, reduzem-se
as possibilidades de escassez,
mesmo em um já estabelecido
contextos de alterações climáticas
globais.
A Fiep está fazendo sua parte, criando uma estrutura institucional para abordar as questões
ambientais de interesse de seus afiliados. Inserindo efetivamente o tema na sua agenda de
trabalho e assumindo seu papel de interlocução com a sociedades.
Mas, a construção de novos modelos, para enfrentar novos tempos, novas demandas e novas
realidades é um processo complexo e que requer dedicação e continuidade. Para isso, o fórum
de discussões precisa estar permanentemente aberto.
A viabilidade de uma inserção competente do Brasil no
disputado cenário da irreversível economia globalizada
implica na conscientização da indústria quanto a uma
substancial mudança nos processos de transformação,
pela incorporação de práticas de produção mais limpa.
No que se refere ao uso racional da água nas plantas
industriais, será preciso investir em pesquisa e
desenvolvimento tecnológico, na implantação de sistemas
de tratamento avançado de efluentes, em sistemas de
conservação, em redução de perdas e no reúso da água.
Isto levará a significativos ganhos ambientais, sociais e
econômicos. As empresas de grande porte já estão
implantando tais práticas, pois dispõem de condições
técnicas e financeiras para tanto. As micro e pequenas
empresas, entretanto, necessitam de apoio e orientação
para adotarem tais sistemas em suas unidades
produtivas.
Horácio Lafer Piva
Presidente da FIESP entre 1998-2004
(Conservação e Reúso de Água – Manual de Orientações para
o Setor Industrial)
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
77
5.2 A posição da Fiep na visão de seus diretores
Em paralelo à aplicação do questionário (Anexo II) junto aos representantes das indústrias,
um outro questionário específico foi preparado e aplicado a quatro representantes-chave da
Fiep: Irineu Roveda Júnior, advogado, assessor da presidência; José Antonio Fares, psicólogo e
gestor empresarial, superintendente do SESI/IEL; Marco Secco, pedagogo, pós-graduado em
gestão empresarial e logística, Diretor do SENAI no Paraná; Rafael Cesar da Costa, arquiteto e
urbanista com competências nas áreas de habitação, governança e infraestrutura urbana, gerente
de Meio Ambiente da Fiep.
O questionário, neste caso, teve por objetivo ajudar a compreender a visão do setor
industrial sobre o tema em análise, porém, desta feita, avaliando a visão de profissionais que
estão à frente de cargos estratégicos na Federação das Indústrias do Estado do Paraná.
A seguir, será apresentado um breve resumo da visão manifestada por eles sobre o tema
recursos hídricos e meio ambiente no setor industrial.
5.2.1 Irineu Roveda Junior
A Fiep tem uma compreensão geral sobre a visão que as indústrias têm sobre o
tema. Não tem acesso aos detalhes, características técnicas ou demanda específica
por água das indústrias ou pelos diferentes setores industriais, mas compreende
muito bem a forma de ação, as demandas e as prioridades desses setores.
Acredita que o setor industrial possui alternativas tecnológicas para enfrentar as
demandas da sociedade e da própria legislação, mas, de maneira geral, acaba agindo
de forma responsiva e principalmente quando exigida. Hoje, a maioria das indústrias
adota, segundo ele, iniciativas de redução de lançamento de efluentes ou de cargas
poluidoras em geral. Mas, apesar disso, a questão ambiental não é ainda um tema
prioritário para elas.
O setor age principalmente pela necessidade de se adequar à legislação ambiental;
pela necessidade de preservação do meio ambiente; para melhorar a imagem
perante clientes/consumidores; buscando a redução de custos de produção; visando
a melhoria da qualidade de vida dos seus funcionários.
Dentre os fatores que inibem maiores investimentos em questões ambientais,
destaca: a falta de fontes de financiamentos; os custos elevados de investimentos; a
falta de especialistas em questão ambiental na indústria; a burocracia dos órgãos
responsáveis; a regulamentação ambiental, que muda com frequência.
Algumas de suas opiniões foram integralmente confirmadas pelas entrevistas realizadas junto
ao setor industrial, como, por exemplo, a de que a indústria desconhece o destino dos valores
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
78
arrecadados com a cobrança pela água; que as indústrias são indiferentes quanto à cobrança pela
água, mas que isso só acontece porque os valores cobrados ainda são simbólicos. Caso os valores
cobrados se elevem essa posição do setor industrial tende a mudar.
Por fim, Roveda destaca a criação da Gerência de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Fiep.
Essa gerência deverá atuar fortemente no delineamento das ações ambientais da Fiep junto aos
seus afiliados.
5.2.2 José Antonio Fares
Compartilha a mesma visão manifestada pelo Dr. Roveda Jr. de que a Fiep não tem
acesso aos detalhes, às características técnicas ou à demanda específica por água das
indústrias ou pelos diferentes setores industriais.
Ressalta que a cobrança pelo uso da água não tem impacto na busca por melhorias
e aumento de eficiência nos processos de utilização de água; que as indústrias não
concordam com o pagamento pelo uso da água, mas que estão atualmente mais
preocupadas com a questão do marketing ambiental que propriamente com a
questão dos valores cobrados pelo uso da água.
Também chama a atenção para o fato de que as indústrias não têm conhecimento
sobre a destinação dos recursos gerados pela cobrança pelo uso da água.
Tem como opinião que apenas a minoria das indústrias adota ações de redução de
cargas poluidoras lançadas no ambiente e que maiores investimentos na questão
ambiental acabam sendo limitados por questões da cultura empresariais e pelos
custos envolvidos. Segundo ele, a indústria costuma agir de forma responsiva, para
atender às determinações da legislação.
Explica que a Fiep não tem orçamento próprio destinado a ações ambientais e que,
no caso do SESI, há uma forte ação educativa junto aos alunos de suas escolas e
através dessa ação, o tema água e meio ambiente é tratado e discutido, como meio
de formação de agentes multiplicadores.
5.2.3 Marco Secco
Estima que nos próximos três anos haverá um aumento de 10 a 12% dos volumes
outorgados de água demandados pelas indústrias, com especial destaque para a
indústria de papel e celulose e de mineração.
Estima que a cobrança pelo uso da água atualmente impacta em cerca de 0,05% os
custos finais de produção e que o setor industrial, de uma forma geral, não concorda
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
79
com a cobrança e que teme que o valor seja aumentado com eventuais aumentos
nos custos estabelecidos pelo Comitê de Bacias.
Assim como os demais entrevistados, afirma que a indústria desconhece o destino
dos valores arrecadados com a cobrança pela água e que a indústria acaba se
motivando mais pela questão do "marketing verde" que propriamente pela
necessidade de pagar pelo uso da água.
Concorda com o Dr. Fares ao dizer que apenas uma minoria das indústrias adota
ações para redução de suas cargas poluidoras e que isso tem razões culturais e
financeiras.
Explica que o SENAI procura sensibilizar e motivar o setor industrial, mostrando o
lado positivo de se investir nas questões ambientais, além de oferecer consultoria a
seus afiliados para a certificação da ISO 14.000. Além disso, o SENAI tem realizado
uma série de trabalhos técnicos para ofertar às indústrias a adequação às bases
legais, com foco principal nas questões de resíduos e efluentes.
Afirma que 4 a 5% do orçamento do SENAI (que totalizou R$ 350 milhões em 2014)
é investido em ações na área ambiental, principalmente em seus laboratórios.
5.2.4 Rafael Cesar da Costa
O resultado deste estudo demonstra a importância de um papel ativo da indústria na
construção de propostas que garantam a boa gestão dos recursos hídricos no Paraná.
Neste sentido, é papel da Fiep fortalecer a participação do setor industrial nas discussões
sobre a utilização dos recursos provenientes da cobrança pelo uso da água, de forma
que este fundo seja utilizado para a promover práticas de reúso, tratamentos mais
eficientes de efluentes e aumento da eficiência operacional. Para assumir este papel, a
Federação visa estruturar uma rede estadual de recursos hídricos da indústria, de forma
a unificar a voz de representação do setor industrial nos diversos comitês de bacias
hidrográficas do estado.
Da mesma forma como a logística reversa de produtos industrializados, a escassez
hídrica traz uma oportunidade para que as indústrias se modernizem e utilizem
tecnologias e sistemas que visem reduzir custos e melhorar a sustentabilidade do ciclo
de vida dos seus produtos. Este contexto gera por consequência um aumento da
competividade da indústria paranaense no cenário nacional e internacional. No entanto,
para que este cenário ocorra, a Fiep e sua base de empresas associadas devem estar
bem informadas e presentes nas discussões em âmbito estadual e nacional, para que as
dificuldades enfrentadas possam ser revertidas em políticas públicas que promovam um
bom ambiente regulatório e fácil acesso a investimentos em melhorias de processos e
infraestrutura.
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
80
Por fim, a criação da Gerência de Meio Ambiente e Sustentabilidade, em julho deste ano,
reforça a preocupação da Federação em trazer a agenda ambiental mais próxima aos
seus afiliados. Com a nova estrutura, o Sistema Fiep poderá consolidar a sua visão de
olhar o meio ambiente não como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade para
promover o desenvolvimento sustentável da indústria do Alto Iguaçu, Alto Ribeira e de
todo o Paraná.
5.3 Propostas institucionais da Fiep em relação à cobrança
pelo uso dos recursos hídricos
Nos últimos anos, o Comitê de Bacia do Alto Iguaçu e afluentes do rio Ribeira (COALIAR)
tem realizado reuniões semestrais para discussão de todos os temas que envolvem usuários das
bacias. Nas reuniões sobre a instituição da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, participaram
membros da sociedade civil, do poder público e das indústrias, representadas pela Fiep e buscou-
se discutir a melhor forma de estabelecer a cobrança.
Na ocasião, a Fiep defendeu quatro pontos centrais em relação à cobrança pelo uso da água:
1. Cobrança pelo volume efetivamente captado, e não apenas pelo volume outorgado, com
uso de hidrômetros.
2. Limitação nos aumentos dos valores cobrados.
3. Incentivos à redução do consumo.
4. Recursos arrecadados sendo investidos obrigatoriamente na própria bacia.
Essas propostas têm, segundo a Fiep, função de instituir uma cobrança justa e que promova,
de fato, uma maior racionalização do uso dos recursos hídricos.
A seguir, serão discutidos melhor cada um desses itens e de que forma eles contribuem para
que se atinjam os objetivos da cobrança pelo uso da água.
5.3.1 Cobrança pelo volume efetivamente captado, com uso de
hidrômetros.
A cobrança pode ser baseada no valor outorgado, no valor captado medido e, em alguns
casos, levar em consideração tanto um quanto o outro fator.
O sistema de cobrança adotado nas bacias do Alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribeira leva
apenas em conta o valor outorgado, sendo os valores captados e consumidos estimados a partir
da outorga.
A proposta da Fiep, por sua vez, é que os valores fossem cobrados em bases dos volumes
efetivamente captados (ou lançados, no caso da emissão de efluentes), pois isso serviria como
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
81
incentivo ao uso mais racional da água. Além disso, as variações sazonais de captação seriam
adequadas, tornando o processo mais justo.
Pereira 52 fez uma análise da cobrança em doze países da OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e montou uma tabela de comparação em relação
à base de cobrança de cada um. Os resultados da análise realizada pelo autor estão sintetizados
na Figura 21.
Figura 21 - Base da cobrança em países da OCDE.
Fonte: produzido com base em Pereira 52.
Quatro dos onze países analisados não usam como base o valor efetivamente captado pela
indústria, mostrando que não há um consenso quanto ao melhor método a ser empregado.
A principal vantagem em se realizar a cobrança com base apenas nos volumes outorgados é
a estabilidade do fluxo de recursos que o órgão responsável (no caso, o comitê de bacias) terá
à sua disposição, possibilitando maior facilidade no planejamento do uso destes recursos.
Entretanto, a captação/lançamento com base em valores efetivos apresenta maiores
vantagens em relação ao sistema baseado apenas na outorga, pois pode incentivar a
racionalização do uso do recurso e a redução dos valores pagos pelas indústrias.
Obviamente que essa não é uma relação automática, pois se os valores cobrados pela
outorga forem muito baixos, as empresas não terão nenhum motivo para optar pelo consumo
real ou mesmo por investir em melhorias de tecnologias e processos industriais.
Porém, quando uma empresa investe na racionalização do aproveitamento hídrico, pode
passar a captar/lançar menos que os volumes outorgados ou a pagar mais, caso seu consumo
aumente. Por isso, o pagamento pelos volumes efetivamente utilizados pode significar economia
4
5
3
Outorgado
Captado
Ambos
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
82
para empresa e redução do uso dos recursos hídricos. Da forma como atualmente a cobrança
é realizada, não há controle efetivo sobre os volumes utilizados tão pouco incentivos eficazes
para a redução do consumo por parte das empresas. Ou seja, esse é o pior dos cenários.
5.3.2 Limitação no aumento dos valores cobrados.
Existe um receio por parte das empresas outorgantes de água de que o valor cobrado
aumente consideravelmente ao longo do tempo, principalmente aquelas em que o uso da água
é mais intensivo.
De fato, o setor produtivo e a sociedade brasileira em geral costumam pagar pela falta de
planejamento e pelo descontrole dos agentes oficiais no gerenciamento da coisa pública.
Aumentos indiscriminados de taxas, contribuições, impostos e preços controlados são um
reconhecido entrave ao empreendedorismo no país. A história recente mostra que há uma
grande facilidade em se aumentar alíquotas, mas uma resistência ferrenha em se reduzi-las.
Como fica claro a partir das análises dos números apresentados no item 4.1, o preço atual
cobrado é flagrantemente subestimado, principalmente se forem consideradas as necessidades
de investimentos ambientais para evitar ou combater a degradação ambiental nas bacias.
O simples fato, já relatado, de que é menos prejudicial ao COALIAR deixar de cobrar
pela outorga de cerca de 2/3 dos consumidores industriais que arcar com os custos
administrativos dessa cobrança mostra que há em relação à cobrança um grave problema a ser
enfrentado.
No presente caso, como os valores cobrados são exageradamente irreais, seja do ponto de
vista ambiental ou econômico, será inevitável que em um determinado momento haja uma
rediscussão e uma repactuação dos mesmos. Contudo, será igualmente importante que sejam
definidas regras claras de aumento (ou até de estabelecimento de indexadores) dos valores
cobrados pelo uso da água. Isso porque o preço cobrado pelo uso da água também não pode
ser arbitrariamente elevado a níveis que inviabilizem ou comprometam as atividades industriais.
Garantir regras claras e que permitam um planejamento de longo prazo é essencial para que
não haja aumentos de preços além do razoável e, ao mesmo tempo, que a cobrança pelo uso da
água atenda aos seus objetivos primários.
Essa prática de limitar aumentos é comum em países desenvolvidos. Por exemplo, na França
o código ambiental24 impede que as taxas cobradas subam além de 25% em uma determinada
24Disponível em: http://www.legifrance.gouv.fr/affichCode.do;jsessionid=65BC91C866636A15A06EF7ACCAC72203.tpdila22v_3?idSectionTA=LEGISCTA000006195231&cidTexte=LEGITEXT000006074220&dateTexte=20150209
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
83
unidade geográfica. Além disso, os valores cobrados têm que estar enquadrados dentro de
limites estabelecidos para cada tipo de uso.
Essa medida é importante para estabelecer uma relação de confiança institucional dos
outorgantes em relação à cobrança. Quanto melhor for esta relação, mais fácil será a cooperação
das indústrias na busca pela otimização do aproveitamento hídrico e maior o interesse em se
investir em redução de desperdícios ou de poluição.
5.3.3 Incentivos à redução do consumo.
A Fiep defende um incentivo aos usuários que invistam na redução do seu consumo. Por
exemplo, se uma empresa adota um processo produtivo que leve a um melhor aproveitamento
hídrico, ela teria direito a um abatimento no valor pago pelo uso da água.
Tal abatimento poderia ser aplicado através de desconto proporcional à redução de volumes
em relação à captação do ano anterior ou ainda ser aplicado mensalmente.
Esse tipo de estímulo existe no caso da cobrança pelo uso de água na Itália, onde a redução
a quem adota medidas que levem à economia de água pode chegar a 50% do valor cobrado.
Mas, os incentivos também poderiam envolver não apenas redução do consumo, mas
também a aplicação de práticas ambientalmente eficientes.
Na Holanda, por exemplo, os usuários industriais são incentivados a injetar água superficial
nos aquíferos antes de iniciarem a captação de água subterrânea.
Outra possibilidade é o incentivo ao reúso entre indústrias. Como a outorga se refere
apenas ao uso e é intransferível, as empresas não podem vender a água para outras empresas.
Porém, poderia haver um mecanismo de abatimento no valor pago da cobrança, caso a empresa
permita a outras indústrias usarem a água que sobra do seu processo produtivo.
Tal sistema permitiria que muita água, hoje simplesmente descartada, fosse aproveitada por
outras empresas. Para isso é preciso haver uma parceria entre o comitê de bacias e a Fiep, que
poderia organizar esse arranjo.
5.3.4 Recursos arrecadados sendo investidos na própria bacia.
O setor industrial tem uma clara preocupação que a aplicação dos recursos seja feita para
resolver/minimizar problemas ambientais da própria bacia. Há um claro temor de que a cobrança
torne-se mais um imposto ou taxa, sem a devida e proporcional retribuição por parte dos
agentes responsáveis pela arrecadação e aplicação dos recursos.
Segundo o artigo 22 da Política Nacional de Recursos Hídricos 53:
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
84
Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de água serão
aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram
gerados”.
Como "prioritariamente" e "obrigatoriamente" são termos bastante distintos entre si, não
há uma limitação legal para que essa aplicação seja de fato local.
Os dados obtidos por Pereira 52, acerca dos destinos dos recursos arrecadados nas
cobranças de 19 países (em um universo de 33 Estados membros) da OCDE, estão
demonstrados na Figura 22.
Figura 22 - Destino dos valores arrecadados na cobrança em países da OCDE.
Fonte: Produzido com base em Pereira 52.
Como é possível perceber, na maioria dos países os recursos são destinados
prioritariamente para investimento direto no ambiente regional da bacia. O país que aplica os
recursos arrecadados em um fundo nacional destinado a projetos relacionados à água é a
Holanda, que é um país relativamente pequeno. Portanto, neste caso a aplicação em um fundo
nacional parece ser suficiente para enfrentar os desafios locais.
Para países com maiores dimensões a aplicação tende a ser feita diretamente na própria
bacia geradora dos recursos captados. Em alguns desses casos, a aplicação é feita por intermédio
das próprias agências/comitês de bacia, como na França e na Espanha. Em raras exceções os
recursos não são aplicados para fins ambientais.
A destinação dos recursos captados através da cobrança pelo uso da água é outra questão
importante.
O comitê de bacias de Rhin-Meuse, na França, investe os recursos captados em: purificação
de resíduos (60%), restauração e preservação dos ambientes aquáticos (12,70%), proteção da
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Custos administrativos
Orçamento geral
Meio ambiente regional
Fundo para a água
Agência de Bacias
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
85
água potável (9,60%), despoluição e tratamento de dejetos industriais (9,07%), ações de
despoluição da agricultura (5,13%) e estudos, educação ambiental e informação (3,57%) 54.
No Brasil, a Política Nacional de Recursos Hídricos prevê que os valores arrecadados devam
ser aplicados em “Estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de Recursos
Hídricos” e em despesas administrativas, que devem ser limitados a 7,5% do valor arrecadado 53.
Porém, no caso do COALIAR, a gama de objetivos adotados pelo Plano de Recursos
Hídricos é demasiadamente elevada (Figura 4), em comparação aos montantes arrecadados.
O Comitê prevê investir todo o montante a ser arrecadado para o período de 2014-2017,
que equivale a R$ 19,8 milhões, em seis programas:
Gerenciamento dos recursos hídricos (R$ 6,3 mi);
Recuperação da qualidade dos corpos d’água (R$ 8,58 mi);
Conservação e proteção dos corpos de água (R$ 760 mil);
Promoção do uso racional dos recursos hídricos (R$ 1,59 mi);
Prevenção e defesa contra eventos hidrológicos extremos (R$ 370 mil);
Capacitação técnica, educação ambiental e comunicação social (R$ 2,2 mi).
Segundo o Plano de Bacias, os recursos serão aplicados ao longo dos anos de forma
gradual. Mas, o documento não explicita como isso será feito, apenas mostrando os supostos
recursos previstos para serem aplicados em cada programa.
Uma análise, ainda que superficial, evidencia que os recursos arrecadados serão
totalmente insuficientes para a realização dos programas propostos.
O Plano de Bacias estima que seriam necessários pelo menos R$ 2,92 bilhões em
investimento até 2036. Considerando que o valores previstos de arrecadação se concretizem
(R$ 19,9 milhões em 4 anos, ou seja, cerca de R$ 5 milhões/ano) em 22 anos (até 2036) seriam
arrecadados R$ 110 milhões, a arrecadação total não chegaria sequer a 4% da demanda
orçamentária total. É óbvio que isso tornará inviáveis os objetivos e metas projetados.
Os baixos valores arrecadados realçam o papel irrelevante da cobrança na totalização
dos recursos financeiros necessários para as ações e programas listados. No próprio plano
admite-se a necessidade de investimento em várias áreas e a pouca eficácia da baixa quantia
arrecadada para fazer frente a esses programas:
Por outro lado, cabe mencionar que se percebe, com base nos
programas, subprogramas e ações específicas consolidadas no plano
de ações, bem como na proposição de mecanismos de cobrança pelo
direito de uso de recursos hídricos apresentado neste documento, que
os recursos que advirão da cobrança não poderão fazer frente a tal
necessidade de investimentos. É necessário e fundamental o esforço
e comprometimento dos diversos atores envolvidos, sejam agentes
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
86
públicos ou privados, principalmente dos usuários, da atuação eficaz
do COALIAR e a sociedade em geral” 4.
Assim, a aplicação dos recursos na própria bacia é uma questão absolutamente necessária,
pois se os recursos já são insuficientes para fazer frente às demandas estabelecidas, o que dirá
da eficiência da cobrança se os recursos forem destinados a outras regiões ou para atender as
demandas não diretamente relacionadas?
Fica claro também que no caso do COALIAR, será necessário reduzir objetivos e
estabelecer prioridades reais, caso contrário a cobrança pelo uso da água não terá nenhuma
razão de ser.
5.3.5 Temas relevantes em relação à água na indústria de bebidas
Os seguintes temas deverão se tornar estratégicos para a indústria de bebidas nos
próximos anos e possivelmente estratégicos para um grande número de setores industriais
também:
Desenvolvimento de pesquisas científicas, de inovação e tecnológicas voltadas ao estudo
dos tipos de uso da água; os requisitos de qualidade para uso em cada setor empresarial;
definição da tipologia dos e efluentes gerados e avaliação das oportunidades de reúso
desses efluentes;
Capacitação técnica para atuação na otimização de usos e para promover o reúso de
água e efluentes na indústria;
Capacitação e sensibilização dos funcionários para reverter a cultura do desperdício;
Estabelecimento de mecanismos de incentivos e apoio para empreender ações
estruturais e para substituição de equipamentos obsoletos nas indústrias;
Promoção de uma gestão articulada e integrada das ações legislativas, nos diversos níveis
de Poder, para o estabelecimento de políticas públicas, leis e normas técnicas efetivas
que incentivem, viabilizem e disciplinem através de critérios técnicos, o uso, manejo e a
conservação dos recursos hídricos por meio de tecnologias de reúso e o uso potável de
água de chuva em processos industriais.
Embora a região de estudo ainda não sofra com o problema, estamos vivendo
tempos de alterações climáticas globais. Então, há necessidade de sensibilização dos
entes públicos, principalmente em regiões que não contam com um sistema tradicional
de fornecimento de água ou ainda em casos de escassez quantitativa e/ou qualitativa,
em prever alternativas viáveis e legalmente instituídas pelo poder local para sanar a
A VISÃO DO SISTEMA FIEP EM RELAÇÃO AO TEMA ÁGUA
87
problemática de abastecimento, que é de suma importância para a indústria, mas mais
que isso, para o desenvolvimento humano da população desassistida.
88
PARTE I1 – Uso, reúso e
Utilização de Água de Chuva
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
89
6 USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE
CHUVA
A água é um recurso natural absolutamente indispensável para a sobrevivência e para o
desenvolvimento humano. Desde os tempos mais remotos, o surgimento e o desenvolvimento
de agregados humanos (tribos, vilas, cidades, etc) deu-se em locais próximos a rios, lagos ou
outras fontes de água doce. Portanto, este está longe de ser um tema novo.
A partir da década de 1950, a população humana passou a ter acesso de uma forma até
então inédita na história da humanidade, a recursos tecnológicos e de saúde, que impulsionaram
o bem-estar e as condições de vida de todos. O resultado é que nos últimos 65 anos a população
aumentou mais de três vezes em relação ao número de habitantes atingido até então ao longo
dos mais de 200.000 anos anteriores. Em 1950 havia 2 bilhões de habitantes no planeta e em
2015 passamos de 7,5 bilhões.
Esse aumento no número de pessoas ansiando consumir levou também a um aumento
inédito da pressão sobre os recursos naturais. A demanda por água, por exemplo, cresceu duas
vezes mais que a própria população do planeta. Com isso, tem aumentado, nas últimas décadas,
o número de pessoas que não têm acesso à água potável para suas necessidades mais
elementares.
A ONU estima que 2050 a demanda por água aumente em mais de 55%, enquanto as
reservas hídricas deverão encolher em até 40%.
São evidentes as diferenças existentes na distribuição geográfica dos recursos hídricos ao
redor do mundo. Há diferenças na distribuição espacial dos recursos hídricos e também na
distribuição da população mundial, o que acaba gerando os mais diferentes cenários. A escassez
hídrica pode acontecer decorrente tanto da baixa disponibilidade do recurso, como da excessiva
demanda pela utilização da água. Um caso de destaque no cenário mundial é o de Israel, que
durante anos esteve em crise hídrica, e somente hoje a água é abundante no país, através da
dessalinização das águas do Mediterrâneo e também do reúso das águas residuais.
A captação e o uso de água da chuva, por sua vez, já deixaram, há muito, de ser novidade
em vários países (como exemplificado por Binning, 2009):
Na Dinamarca, aproximadamente 25% do consumo das casas provém da água da
chuva;
Na Inglaterra, o Millennium Dome capta certa de 13.100 m³ de água da chuva em
um ano;
Na Alemanha e na Coreia do Sul a captação de água de chuva está integrada ao
cotidiano das pessoas e das corporações;
Na Austrália, na Gold Coast estima-se que 7,3 milhões de m³ por ano de água da
chuva seja coletada, o que corresponde a 8% do consumo local de água;
Em Cingapura, a água da chuva é coletada essencialmente para abastecimento de
água potável e cerca de 90% dos telhados urbanos estão adaptados para coletá-la.
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
90
Figura 23 - Representação dos usos mais comum da água de chuva em processos
industriais (Fonte: Alumas Cain Water).
Apresentando o problema dessa forma, ele pode parecer distante e difuso, sem uma face
visível. Mas, quando se observa: a) a situação crítica dos reservatórios da região sudeste do
Brasil; b) os aumentos nas contas de energia elétrica que já atingem a todos os brasileiros, sejam
eles consumidores residenciais ou industriais; c) que indústrias estão se mudando para fugir do
racionamento de água; ou d) que a cobrança pelo uso da água captada é um fator irreversível e
com evidentes consequências econômicas para produtores e para consumidores; a face do
problema adquire contornos mais nítidos e definidos.
Diante da maior escassez hídrica das últimas décadas25, o estado de São Paulo, por meio da
Sabesp, está promovendo soluções para ampliar a sua disponibilidade hídrica, o que inclui plantas
de reúso de água nas indústrias. Cerca de 90% da água consumida pelas indústrias da região
metropolitana de São Paulo vem diretamente dos mananciais. A outorga para essa captação
pode, por lei, ser suspensa em qualquer momento. Governos estaduais vêm sinalizando a revisão
de outorgas concedidas a grandes indústrias, o que pode significar maiores taxações. Uma das
soluções para essa situação seria a substituição da captação de mananciais por águas de reúso26.
Percebe-se que a conservação e o reúso de água são práticas ambientalmente corretas,
sendo que o reúso nas indústrias é economicamente viável. Na prática, conforme avaliaram
25 http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/537204-maior-crise-hidrica-dos-ultimos-100-
anos-e-uma-consequencia-das-mudancas-climaticas-entrevista-especial-com-jose-
galizia-tundisi. Publicada em 10 de novembro de 2014. Acessado em 24 de agosto de
2015. 26 Oliveira et al. Água de reúso, solução para a indústria. Publicado em 5 de março de
2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/210528-água-de-reuso-
solucao-para-a-industria.shtml. Acesso em: 18/08/2015.
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
91
Mierzwa e Hespanhol 55, o custo por metro cúbico da água de reúso na Região Metropolitana
de São Paulo é de R$1,80, ao passo que, o custo unitário associado a sistemas de tratamento
internos, varia entre R$ 0,80 a R$ 1,20 por metro cúbico, dependendo de gastos excessivos
com transporte e disposição final de lodos, por exemplo. Para que os projetos de reúso nas
indústrias sejam efetivos e econômicos, se fazem necessárias a análise e caracterização de todos
os efluentes gerados pela indústria, além, é claro, de um levantamento de possíveis ações de
reuso.
Atualmente, o Paraná não apresenta problemas de escassez de água, e dentre os estados
brasileiros ocupa uma posição privilegiada, diferentemente de estados como Pernambuco,
Paraíba, Distrito Federal, Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte, que apresentam um estresse
hídrico periódico e regular, e de estados como o Rio de Janeiro, Ceará, São Paulo e Bahia, que
ocasionalmente tendem a sofrer com problemas de falta d’água (Lima, 2001).
Ainda assim, a verdade é que a água, que já foi um bem de custo praticamente ínfimo, é hoje
um recurso natural cada vez mais limitado, dotado de valor econômico cada vez maior, sendo
consumido e pago tanto por usuários residenciais, quanto por empresas e indústrias. Para a
indústria, especificamente, os custos em relação à água têm crescido em tal escala, que se pode
prever que em pouco tempo ela terá que ser encarada - de fato - como uma matéria prima de
alto custo pelo setor industrial.
Neste cenário, conturbado ainda mais pela grave crise econômica que assola o país, não é
mais possível postergar a discussão sobre a otimização do uso dos recursos hídricos em todos
os setores da sociedade, inclusive na indústria e, antecipando-se a um problema que parece
iminente, na indústria paranaense.
6.1 Caracterização do problema
Segundo definição da NBR nº 13.696 56, o reúso pode ser tratado como a “utilização local
do esgoto tratado para diversas finalidades, exceto para consumo humano”. Já Blum 57 ressalta
que a água de reúso: a) não deve resultar em riscos sanitários à população; b) não deve causar
nenhum tipo de objeção por parte dos usuários; c) não deve acarretar prejuízos ao meio
ambiente. O autor destaca ainda que a fonte da água, que será submetida ao tratamento para
posterior reúso, deve ser quantitativa e qualitativamente apropriada devendo atender às
exigências relativas aos usos a que ela se destina.
Conforme princípios estabelecidos na Agenda 21, o reúso de água é uma prática de
racionalização e de conservação de recursos hídricos. Sua maior "virtude" é a de reduzir a
descarga de poluentes em corpos receptores, conservando os recursos hídricos para o
abastecimento público e outros usos mais exigentes quanto à qualidade. O reúso reduz os custos
associados à poluição e contribui para a proteção do ambiente e da saúde pública.
Da mesma forma, o aproveitamento da água pluvial consiste basicamente em um modelo de
captação da água precipitada em áreas impermeáveis como telhados, lajes e calçadas e o seu
consequente armazenamento em reservatórios (cisternas), para posterior uso e/ou distribuição
dessa água, que pode ser tratada ou não, dependendo da do uso que se dará ela.
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
92
Por absoluta necessidade, o aproveitamento da água da chuva já é uma fonte bastante
frequente de água para abastecimento humano no semiárido brasileiro. A "novidade" agora é
que essa necessidade começa agora a se estender para os grandes centros urbanos e industriais
do país.
Como as indústrias geralmente possuem grandes áreas de telhados e pátios, as águas pluviais
podem se tornar importantes fontes alternativas de recursos hídricos para uso nas próprias
indústrias.
E embora ainda haja muitos mitos a respeito das águas pluviais, na maioria das vezes elas
possuem uma melhor qualidade que alguns tipos de águas residuais geradas pela própria
indústria, que já são tratadas e reutilizadas em partes específicas dos processos industriais. A
vantagem das águas pluviais é que os sistemas de captação não requerem grandes investimentos
ou complexas adaptações de processos.
O problema é que no Brasil, tanto o reúso quanto a utilização da água da chuva por indústrias
são práticas relativamente recentes e sem normatização específica ou, o que é até pior, limitadas
por regulamentações arcaicas e ineficientes.
Em linha geral, a adoção de padrões internacionais ou mesmo a orientação de instituições
privadas é o que tem norteado o tema até aqui no Brasil, causando mais desinformação e dúvidas
que propriamente ordenamento para o uso seguro e economicamente viável desses recursos
hídricos.
Aliás, a falta de legislação, normatização específica e eficiente e até mesmo de fiscalização,
dificultam o trabalho das empresas e dos profissionais e ainda coloca em risco a saúde da
população 58.
6.2 Desafios a serem superados
Utiliza-se a água nos mais diversos e variados processos industriais: na limpeza, geração de
vapor, no aquecimento e/ou resfriamento, transporte de substâncias ou partículas, matéria prima
ou até diretamente na fabricação de produtos, que é o caso das indústrias de bebida. Apesar de
já existir a cobrança pelo seu uso, os valores praticados pela maioria dos comitês de bacias do
país, incluindo-se aí o COALIAR (Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira)
são quase simbólicos, o que acaba não inibindo o consumo excessivo por parte dos usuários e
consumidores.
Atualmente, não apenas esse consumo sem limite da água é o foco das preocupações em
relação ao seu uso pelas indústrias. Os impactos dos efluentes industriais sobre o ambiente
também são alvo de estudos visando uma maior eficiência e redução de desperdícios. Esses são,
inequivocamente, grandes desafios a serem superados para a racionalização do uso da água e
para a geração de efluentes com menores potenciais poluentes.
Até pouco tempo, o maior fator impeditivo do reúso era o seu custo, mas com as novas
tecnologias de filtros e membranas, de técnicas como a microfiltração ou a osmose reversa, o
tratamento da água e de efluentes começa a se tornar economicamente atraente para ser
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
93
utilizado em larga escala, até mesmo para fins não potáveis, como a lavagem de equipamentos,
de pátios, ou para a utilização em sanitários 59.
É pouco provável, porém, que o país estabeleça um programa de reúso em nível nacional 60. Aliás, iniciativas regionais talvez sejam mais adequadas devido às dimensões e particularidades
geográficas de cada região nacional. Por outro lado, os projetos só tendem a ser bem-sucedidos
quando houver um esforço conjunto das secretarias municipais e estaduais com as companhias
de saneamento e com as próprias empresas interessadas 61.
Para que o reúso seja praticado de forma segura é imprescindível que especificações legais
para a qualidade da água sejam determinadas por órgãos públicos, sejam eles de caráter
internacional, nacional, regional ou local, (Escalera,1995, citado por Almeida, 2011).
Porém, a morosidade que costuma permear a implementação de acordos com as esferas
governamentais afeta o estabelecimento de diretrizes sobre o tema. Em 29 de fevereiro de 2012,
a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Agência Nacional de Águas (ANA) assinaram
um acordo de cooperação técnica que prevê ações para aprimorar a gestão de recursos hídricos
no Brasil e incentivar o uso eficiente da água no setor industrial.
Um dos objetivos da CNI era a elaboração de um programa de uso racional e reúso de água
na indústria para estabelecer mecanismos de apoio do poder público ao setor. Durante o
encontro “Racionalização e reúso de água no setor industrial”, realizado em 14 de agosto de
2014 pela CNRH, surgiu um “desenho” do Programa que se pretende implementar e que será
elaborado ainda nesse ano (2015), por uma empresa especializada contratada para esse fim. Ou
seja, foram necessários 30 meses para que surgisse um "esboço" de um programa, um tempo
excessivo se considerado o cenário de crise instalado em várias regiões brasileiras.
Infelizmente, há uma cultura no país de se postergar o enfrentamento de problemas que,
logo em seguida, explodem de forma incontrolável, arrastando a todos para uma situação de
crise consolidada. Antevisão, planejamento e o enfrentamento dos problemas, das suas causas e
consequências, deveriam ser regra, mas ainda são exceção.
6.3 A busca por aumento de eficiência e produtividade
Quando se fala em uso racional de recursos hídricos tem-se que pensar em soluções
integradas. Pouco adianta um setor da sociedade fazer a sua parte e os demais esbanjarem
ineficiência.
A disponibilidade de água é limitada e o uso desse recurso é sempre compartilhado entre
todos os usuários (domésticos, agrícolas, industriais, prestadores de serviço e comércio em
geral). Então, via de regra, devemos ser todos protagonistas do processo decisório e de gestão
dos recursos hídricos. O uso prioritário da água é o abastecimento das populações humanas. Se
as indústrias querem continuar tendo acesso à água, elas precisam pensar e agir muito além de
seus muros e cercas.
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
94
6.3.1 Reúso em sistemas de abastecimento
Soluções com muita criatividade vêm sendo usadas na tentativa de minimizar efeitos do
estresse hídrico e do uso racional da água disponível. Em Los Angeles (EUA), 96 milhões de
esferas plásticas flutuantes foram jogadas, para cobrir um imenso reservatório (o Los Angeles
Reservoir27) de água que abastece consumidores residenciais, comerciais e industriais locais. O
objetivo é economizar 1,1 bilhão de litros de água por ano reduzindo a evaporação, além de
prevenir a formação de algas. O custo do projeto foi de US$ 34,5 milhões, segundo o "Los
Angeles Times". Essa tecnologia já havia sido usada anteriormente em outros reservatórios
americanos (Figura 24).
Figura 24 - Bolinhas de plásticos são inseridas no reservatório de Los Angeles. Uma medida
para minimizar a perda de água por evaporação em reservatório no estado da Califórnia.
Fonte: Divulgação.
Mas soluções menos complexas podem ser igualmente eficientes. Uma iniciativa
aparentemente simples como plantar árvores pode recuperar ou impedir o rebaixamento de
lençóis subterrâneos.
Soluções inteligentes, como o uso de sensores espalhados pela estrutura urbana, ajudam a
monitorar o uso e os hábitos da população, encontrar os vazamentos nos sistemas de
distribuição e medir a umidade do ar, para determinar se é ou não necessário ativar os sprinklers
públicos que regam as praças.
27 http://g1.globo.com/economia/crise-da-agua/noticia/2015/08/los-angeles-cobre-
reservatorio-com-bolas-de-plastico-para-poupar-agua.html. Publicado em 12 de
agosto de 2015. Acessado em 13 de agosto de 2015.
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
95
Cingapura também é um exemplo de sucesso, pois apostou e investiu na reciclagem da água
diante da sua carência crônica de recursos hídricos. O país desenvolveu o sistema NEWater
(Figura 25), que se baseia em sua própria marca de água recuperada de alta qualidade produzida
pelo serviço público local. O tratamento das águas residuais ocorre através da purificação por
dupla membrana, através da microfiltração e osmose reversa, além do uso de tecnologias
desinfecção UV. A água oriunda desse processo é potável, sendo utilizada principalmente por
indústrias que requerem uma água com alta pureza. A capacidade total das usinas é de cerca de
20 milhões de galões por dia (75.700 m³/dia)28.
Figura 25 - Esquerda: Água potável pronta para consumo produzida por osmose reversa.
Direita: Centro de Visitação NEWater, em Cingapura. Fonte: ht tp://www.pub.gov.sg/.
No Brasil, o caminho para o reuso em grande escala começa a dar seus primeiros passos. O
Aquapolo é o maior empreendimento para a produção de água de reúso industrial na América
do Sul, e quinto maior do planeta. É uma parceria entre a Odebrecht Ambiental e a SABESP
(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e está apto a produzir 1.000
litros/segundo de água de reúso, utilizando os mais avançados e complexos processos
tecnológicos existentes. A cada litro de água produzida em suas instalações, outro litro de água
potável é economizado (Figura 26).
O esgoto é tratado na ETE do ABC paulista. O Aquapolo desvia uma parte da vazão da ETE
e a transforma em água de reúso, enviada para as empresas e indústrias que compõem o polo
petroquímico, principal cliente.
28 Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/NEWater. Acesso em:
18/08/2015.
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
96
Figura 26 - Empreendimento Aquapolo (SP). Fonte: Divulgação.
6.3.2 Reúso de água na indústria
No âmbito interno, o uso mais eficiente e racional dos recursos hídricos no setor industrial
é, cada vez mais, motivado pela preocupação das indústrias em se tornar cada vez mais
produtivas e competitivas e pela valorização, por parte das indústrias, de certificações de cunho
ambiental, como por exemplo, a ISO 14001. Esse uso mais racional envolve:
A adoção de ações e programas integrados de governança ambiental por parte das
empresas;
O aumento da eficiência do uso de água através de acordos que misturem a adoção
de práticas voluntárias por parte das próprias indústrias com políticas públicas
eficazes de incentivos econômicos para sua adoção;
A revisão de processos e de regulamentos industriais para que seja possível reduzir
a quantidade de água consumida pela indústria. Estima-se que através da adoção de
técnicas de reciclagem e reúso adequadas o consumo de água pode ser reduzido de
50 a 95% (Visvanathan e Asano, 2004).
Os problemas de desperdícios e as estratégias de manejo das águas residuais devem ser
identificados e solucionados em cada estágio do processo ou da operação. Primeiramente,
deverá haver uma prevenção na poluição e minimização dos desperdícios e, posteriormente, o
tratamento dos efluentes, a reciclagem e reúso da água tratada e, finalmente, a disposição
adequada daqueles materiais que não poderão ser reciclados e deverão ser depositados de forma
segura.
É fácil, contudo, constatar que existem tecnologia e exemplos de que o reuso da água pode
efetivamente ser empregado em processos industriais, sem o comprometimento da viabilidade
econômica dos empreendimentos, como evidenciam alguns exemplos:
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
97
Aplicação de osmose reversa e processos de ultrafiltração para o tratamento da
água usada para a lavagem de garrafas na indústria de bebidas, que é utilizada desde
o início da década de 1990 62.
O tratamento da água consumida por indústrias de suco de frutas com propósito
de reúso por meio de um processo híbrido, pelo uso de um biorreator de membrana
e nanofiltração com desinfecção UV 63.
Um processo integrado de filtração por membrana, que foi desenvolvido para
produzir água potável a partir de água poluída gerada por processos industriais de
empresas de pequeno e médio porte de comida e bebidas, com o uso de um
biorreator suportado por membrana e outra etapa combinando a nanofiltração e o
UV 64.
Método Siemens, usado pela PepsiCo no Chile, que consiste basicamente em um
biorreator de membrana (MemPulse) que separa e trata líquidos e sólidos, que
posteriormente passam por um sistema de osmose reversa e um sistema de
desinfecção (Barrier® M UV )65(Figura 27).
Figura 27 - MemPulse – biorreator de membrana. Fonte: Siemens.
6.3.3 Utilização da água da chuva
A água de chuva sofre uma destilação natural muito eficiente e inteiramente gratuita. Mas,
por incrível que pareça, as águas de chuva são encaradas atualmente pela legislação brasileira
como esgoto.
Tal situação decorre do fato de que a água usualmente escorre pelos telhados e pisos até
as bocas de lobo onde, como "solvente universal", carreia todo tipo de impurezas, dissolvidas,
em suspensão, ou simplesmente arrastadas mecanicamente. Esse efluente escoa para um
córrego, em seguida deságua em um rio, que, posteriormente pode servir de manancial com
captação para Tratamento de Água Potável. Essa água sofre um processo natural de diluição e
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
98
autodepuração, ao longo de seu percurso hídrico, mas nem sempre isso é suficiente para
realmente depurá-la.
Uma pesquisa realizada por uma universidade da Malásia deixou claro que após o início
da chuva, somente as primeiras águas carreiam ácidos, micro-organismos e outros poluentes
atmosféricos, sendo que normalmente pouco tempo depois a mesma já adquire características
de água limpa, que poderia ser coletada em reservatórios fechados.
Em países industrializados, como a Alemanha, há políticas públicas voltadas ao
aproveitamento de água de chuva. O governo alemão financia a construção de sistemas de
captação de água pluvial, incentivando assim a economia de água potável. Essa água economizada
é destinada a suprir as futuras populações e novas indústrias, conservando as águas subterrâneas
que são utilizadas como fontes de recurso hídrico em muitas cidades do país.
No Japão, há normas que obrigam que todos os prédios com área construída maior que
30.000 m² utilizem mais de 100 m³ por dia de água para fins não potáveis, façam reciclagem da
água de chuva e de água servida (água de lavatórios, chuveiros e máquinas de lavar roupas). Além
disso, a fim de evitar enchentes, devem ser construídos reservatórios de detenção de água de
chuva em áreas de terrenos maiores de 10.000 m² (metro quadrado) ou em edifícios que tenham
mais que 3.000 m² (metro quadrado) de área construída 66.
O próprio Poder Público, pressionado pela falta de opções, incentiva o uso potável de
água de chuva, mesmo quando ela não atende às "normas técnicas". O Programa Água para
Todos, desenvolvido em parceria pelo Ministério do Desenvolvimento Social, Ministério da
Integração, FUNASA e Fundação Banco do Brasil, financia a instalação de reservatórios que
captam a água da chuva por meio de um sistema de calhas e tubos. O endereço eletrônico do
programa 67 registra que mais de 700.000 cisternas foram construídas até novembro de 2014.
Na região Amazônica, a construção de cisternas começa a ser implantada nos estados do
Pará e Amazonas. Este último possui uma iniciativa institucional promovida pela Secretaria de
Desenvolvimento Sustentável – SDS, que recentemente conseguiu recursos do Programa Água
para Todos do governo federal para o acesso à água aos ribeirinhos, através da captação da água
da chuva. No Pará, é realidade a utilização da água da chuva em diversas ilhas próximas à Belém:
Urubuoca, Murucutu, Grande, Jutuba, entre outras.
Se a água de chuva é encarada como "esgoto" pela legislação, não seria razoável aceitar a
existência de um programa federal de fomento à sua utilização para fins potáveis por populações
carentes. Por outro lado, se essa água, principalmente após tratamento, através das técnicas
modernas e eficientes que estão disponíveis, não representa riscos, seu uso industrial deveria
não apenas ser permitido, mas amplamente estimulado e disseminado
A captação de água de chuva tem uma relação indireta com os objetivos da Política
Nacional de Recursos Hídricos – PNRH e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, já que estimula o uso racional e ao mesmo tempo previne contra os eventos
hidrológicos críticos, tanto às secas, devido à promoção da reserva, quanto às inundações,
devido à diminuição do escoamento superficial. A inclusão da captação de água de chuva nesse
contexto indica o esforço da política de recursos hídricos na busca da transversalidade e no
gerenciamento integrado das águas.
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
99
Goedert 68 realizou um estudo de viabilidade do aproveitamento de águas pluviais em
diferentes indústrias do oeste paranaense. Essa pesquisa se baseou na metodologia básica
proposta pela ANA29 para o projeto de sistemas de coleta, tratamento e uso da água da chuva.
O dimensionamento dos reservatórios das indústrias analisadas - abate de aves, abate de suínos
e laticínios - foi feito com o uso de dois métodos: o Rippl (método do Diagrama de Massas), e
o método desenvolvido por Azevedo Neto30.
Esse estudo concluiu que apenas na indústria de laticínios o uso da água da chuva era
tecnicamente viável, pois nas indústrias de abate o volume máximo captado pelos telhados não
seria suficiente para o seu consumo. Outro exemplo que podemos citar é o caso da Coopavel
(Cooperativa Agroindustrial de Cascavel-PR) que adaptou os telhados de alguns prédios de seu
parque industrial em Cascavel, totalizando uma área de 46 mil m² para captação da chuva, com
armazenamento com capacidade de 1,5 milhão de litros de água. Esta água é utilizada basicamente
para lavagem de pisos, veículos, descarga de vasos sanitários, entre outros. De acordo com
Reinke 69, a economia nesse caso foi de 79 milhões de litros de água potável por ano.
Uma das maiores indústrias de bebidas do mundo, a Coca-Cola31, em seu relatório de
sustentabilidade de 2009, relata que implementou um sistema de captação de água da chuva na
sua sede no Rio de Janeiro e em outras 14 fabricantes, como a Spaipa em Maringá (PR) e a fábrica
de Marília (SP). O potencial de coleta de águas pluviais chega a 190 milhões de litros por ano, o
que representa cerca de 1% do total consumido pelo Sistema Coca-Cola Brasil. Além disso, em
alguns casos, o sistema de captação da água da chuva possibilita a redução em até 12% na média
de consumo.
De acordo com a Firjan 70, o aproveitamento da água da chuva pelas indústrias necessita
de estudos específicos para cada situação em particular, pois é necessário se determinar:
A área de cobertura dos telhados e pátios das indústrias;
As séries históricas de índices pluviométricos diários;
As características das demandas de cada indústria ou processo industrial, e;
Área disponível para implantação de reservatórios e de eventuais sistemas de
tratamento e de distribuição.
Um sistema de captação de água chuvas deverá ser composto por reservatórios de
acumulação (cisternas); reservatório de descarte, que elimina a água dos primeiros minutos de
chuva e faz uma limpeza da superfície de percolação; reservatório de distribuição, que deve
atender à NBR 5626 (Instalação predial de água fria); unidades separadoras de sólidos grosseiros;
sistema de pressurização por meio de bombas para distribuição nos pontos de consumo;
sistemas de tratamento ou apenas adição de produtos para desinfecção da água; e, claro, tubos
e conexões em um sistema de rede independente.
29 ANA et al. 2005. Conservação e reuso da água em edificações. Disponível em:
http://az545403.vo.msecnd.net/uploads/2014/08/conservacao-e-reuso-de-águas-
2005.pdf. Acesso em: 13/08/2015. 30 http://www.pliniotomaz.com.br/downloads/livro_calculos/capitulo109_julho.pdf 31 No Caminho da Sustentabilidade - Relatório de Sustentabilidade Coca-Cola Brasil
2009. Disponível em: http://assets.coca-colacompany.com/ed/20/
d4bfd4964321be577ed674b7d8fd/2009_brasil.pdf. Acesso em: 11/08/2015.
USO, REÚSO E UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA
100
Portanto, a água de chuva já vem sendo captada, armazenada e utilizada por várias
indústrias e setores industriais no Brasil. O que se precisa discutir, nesse caso, é os tipos de uso
permitidos. A tecnologia de purificação evolui muito e muito rapidamente, mas a legislação e as
normas técnicas que disciplinam o uso dessas águas podem demorar décadas para serem
atualizadas e, neste caso, é justamente na legislação (ou na falta dela) que se encontram os
maiores gargalos.
ARCABOUÇO LEGAL
101
7 ARCABOUÇO LEGAL
7.1 Diretrizes Mundiais
Organização Mundial da Saúde (OMS) 1971 - reconhece efetivamente a importância
dos aspectos de saúde relacionados com a reutilização de águas residuárias em irrigação.
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO
92) - estabeleceu dois critérios básicos para a gestão de recursos hídricos no século 21 ao
considerar a água como “um recurso finito e vulnerável, essencial para a manutenção da vida,
do desenvolvimento e do meio ambiente”; e dar um valor econômico para todos os seus usos.
7.2 Diretrizes EPA (EUA)
Assim como o Brasil, os Estados Unidos não possuem uma legislação federal que
regulamenta o reúso de água nas indústrias. Mas, há que ressaltar, lá a legislação é muito menos
centralizadora e a responsabilidade por legislar sobre a maior parte dos temas é dos estados.
Com o objetivo de auxiliar e encorajar os estados a desenvolverem suas próprias leis, a EPA
(Environmental Protection Agency32) publicou em 2004 um guia com diretrizes para a prática de
reúso em diversas atividades, inclusive a industrial. A última revisão do documento denominado
“Guidelines for Water Reuse33”, foi publicado em 2012. Alguns países usam o documento como
referência ou adotam os parâmetros esboçados nas suas diretrizes. O guia sugere formas de
reúso da água em locais em que não há uma legislação constituída, além de auxiliar no
desenvolvimento de programas de reúso da água.
De acordo os documentos, dos 50 estados norte-americanos, 31 já possuem algum tipo de
regra, regulamentação ou guia específico para reúso, inclusive reúso industrial.
O guia apresenta ainda orientações reguladoras para diferentes categorias de reúso da água:
reúso potável direto e indireto, urbano não potável, atividades agrícolas, uso recreacional, reúso
de água no meio ambiente, reúso para fins industriais, reúso em recargas de aquíferos
subterrâneos, reúso na aquicultura, entre outros.
A Tabela 14 (modificado de EPA, 2012) apresenta critérios, diretrizes e possíveis
tratamentos para a prática de reúso industrial.
O guia da EPA cita duas importantes utilizações para a água de reúso industrial: nas torres
de resfriamento e na alimentação das caldeiras. No caso da água utilizada para alimentação da
caldeira, a pressão é um fator que deve ser considerado, sendo que pressões mais elevadas
necessitam de uma água de melhor qualidade. A preocupação nesse caso é devido ao acúmulo
de incrustações e a corrosão dos equipamentos, desta forma, há necessidade de um controle de
32 Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. 33 Diretrizes para Reúso da Água. Disponível em: http://nepis.epa.gov/Adobe/PDF/
P100FS7K.pdf
ARCABOUÇO LEGAL
102
alguns parâmetros da água, principalmente a remoção da dureza da água potável ou da água de
reúso utilizada nas caldeiras. Diante do exposto, a EPA (2012) cita recomendações da American
Boiler Manufacturers Association34 (ABMA) com os limites de concentrações máximas da água
em operações realizadas nas caldeiras (Tabela 15).
34 Associação Americana dos Fabricantes de Caldeiras.
ARCABOUÇO LEGAL
103
Tabela 14 – Critérios e diretrizes da EPA para água de reúso industrial.
Tipo de reuso -
Industrial Tratamento Qualidade da água recuperada¹
Monitoramento da água
recuperada
Distância mínima de
proteção² Comentários
Resfriamento em
passagem única Secundário ⁽³⁾
pH = 6,0 - 9,0
≤ 30 mg/L DBO ⁽⁶⁾ ≤ 30 mg/L SST
≤ 200 Coliformes fecais em 100 mL ⁽⁷
⁸ ⁹⁾ 1 mg/L Cl₂ residual (mínimo) ⁽¹0⁾
pH: semanal
DBO: semanal
SST: diário
Coliformes fecais: diário
Cl₂ residual: contínuo
90 metros de áreas
acessíveis ao público.
O vapor/spray levado pelo vento não deve
alcançar áreas acessíveis aos trabalhadores
e ao público.
Recirculação em torres
de resfriamento
Secundário ⁽³⁾ Desinfecção ⁽⁵⁾
(coagulação química
e filtração ⁽⁴⁾ podem ser
necessárias)
Variável, depende da taxa de recirculação:
pH = 6,0 – 9,0
≤ 30 mg/L DBO ⁽⁶⁾ ≤ 30 mg/L SST
≤ 200 Coliformes fecais em 100 mL ⁽⁷
⁸ ⁹⁾ 1 mg/L Cl₂ residual (mínimo) ⁽¹0⁾
90 metros de áreas
acessíveis ao público.
Pode ser reduzido se
for alcançado um alto
grau de desinfecção.
O vapor/spray levado pelo vento não deve alcançar áreas acessíveis aos trabalhadores
e ao público.
Tratamento adicional por usuário é
habitualmente empregado por usuários
para prevenir incrustações, corrosão,
atividade biológica, entupimento e espuma.
Para outros fins industriais, alimentação da caldeira, equipamentos de lavagem, processamento, geração de energia; os requisitos dependem do local e da utilização final.
Fonte: Adaptado de EPA (2012). ⁽¹⁾ Salvo indicações em contrário, a aplicação dos limites de qualidade recomendados para água recuperada é do ponto de descarte das instalações de tratamento.
⁽²⁾ Essas distâncias são recomendadas para proteger as fontes de abastecimento de água potável de contaminação, bem como proteger as pessoas de riscos à saúde.
⁽³⁾ Processos de tratamento secundário incluem processos de lodo ativado, filtro biológico, disco biológico rotativo e sistemas de lagoa de estabilização, que devem produzir efluente com DBO e SS inferiores a 30 mg/L.
⁽⁴⁾ Filtração é a passagem de água residual através de solo natural não perturbado ou meios filtrantes como areia e/ou antracite; ou a passagem de água residual através de microfiltros ou outros processos por membranas.
⁽⁵⁾ Desinfecção significa a destruição, inativação, ou remoção de microrganismos patogênicos através de meios químicos, físicos ou biológicos. Desinfecção pode ser realizada por cloração, ozonização, outros desinfetantes
químicos, UV, processos por membrana, ou outros processos.
⁽⁶⁾ Como determinado através do teste de DBO de 5 dias.
⁽⁷⁾ Salvo disposição em contrário, os limites de coliformes recomendados são valores medianos determinados através de resultados bacteriológicos dos últimos 7 dias para as análises que foram concluídas. Podem ser usados
o filtro por membrana ou técnica de fermentação em tubos múltiplos.
⁽⁸⁾ O número de organismos de coliformes fecais não devem exceder 800/100 mL em nenhuma amostra.
⁽⁹⁾ Alguns sistemas de lagoa de estabilização podem ser capazes de adequar-se a esse limite de coliformes sem a desinfecção.
⁽¹0⁾ Essa recomendação aplica-se apenas quando o cloro é usado como o desinfetante primário. O total residual de cloro deve ser satisfeito após pelo menos 90 minutos, a menos que um menor tempo de contato tenha sido
demonstrado para prover a redução de organismos e patogênicos indicadores, equivalentes a aqueles sugeridos nessas diretrizes. Em nenhum caso, o tempo real de contato deve ser inferior a 30 minutos.
Tabela 15 – Limites recomendados para a água de caldeira.
ARCABOUÇO LEGAL
104
Pressão operacional de tambor (psig) 0-300 301-450 451-600 601-750 751-900 901-1000 1001-1500 1501-2000 OTSG¹
Vapor
Sólidos dissolvidos totais max. (ppm) 0,2-1,0 0,2-1,0 0,2-1,0 0,1-0,5 0,1-0,5 0,1-0,5 0,1 0,1 0,05
Água da caldeira
Sólidos dissolvidos totais max. (ppm) 700-3500 600-3000 500-2500 200-1000 150-750 125-625 100 50 0,05
Alcalinidade max. (ppm) 350 300 250 200 150 100 n/a n/a n/a
Sólidos suspensos totais max. (ppm) 15 10 8 3 2 1 1 n/a n/a
Condutividade max. (μ mho/cm) 1100-5400 900-4600 800-3800 300-1500 200-1200 200-1000 150 80 0,15-0,25
Sílica max. (ppm SiO₂) 150 90 40 30 20 8 2 1 0,02
Água de alimentação (água condensada e de make-up, depois do desaerador)
Oxigênio Dissolvido (ppm O₂) 0,007 0,007 0,007 0,007 0,007 0,007 0,007 0,007 n/a
Ferro Total (ppm Fe) 0,1 0,05 0,03 0,025 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01
Cobre Total (ppm Cu) 0,05 0,025 0,02 0,02 0,015 0,01 0,01 0,01 0,002
Dureza Total (ppm CaCO3) 0,3 0,3 0,2 0,2 0,1 0,05 ND ND ND
pH a 25°C 8,3-10,0 8,3-10,0 8,3-10,0 8,3-10,0 8,3-10,0 8,8-9,6 8,8-9,6 8,8-9,6 n/a
Carbono Orgânico Total não volátil (ppm C) 1 1 0,5 0,5 0,5 0,2 0,2 0,2 ND
Matéria oleosa (ppm) 1 1 0,5 0,5 0,5 0,2 0,2 0,2 ND
Fonte: American Boiler Manufacturers Association, 2005 apud EPA (2012).
⁽¹⁾ Once-Throug Steam Generators, processo em que a água de alimentação é convertida diretamente em vapor superaquecido.
max. = máximo
n/a = não disponível
ND = sem dados
ARCABOUÇO LEGAL
7.3 Leis e regulamentações federais
Constituição Federal Brasileira (1988) institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos
Lei 9433/1997 (Lei das águas), que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou
e definiu a estrutura jurídico-administrativo do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos. Essa lei contém vários dispositivos relativos ao reúso como alternativa importante para a
racionalização do uso da água e conservação deste recurso. Pela primeira vez, a água é tratada como
“um recurso limitado, dotado de valor econômico”. A Lei estabeleceu ainda a cobrança pelo uso
dos recursos hídricos sujeitos à outorga.
A Lei nº 9.433 estabelece nos objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos, a
necessidade de “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em
padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”.
A partir da instituição da Lei das Águas, a legislação hídrica brasileira passou a ser considerada
uma das mais modernas quanto ao planejamento do uso dos recursos hídricos. Essa Lei se destaca
pelo intenso envolvimento de entidades da sociedade civil na gestão das águas. Foram criados mais
de 130 Comitês de Bacia em todo o Brasil, além de 22 Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos
Lei 9.605/1998, (“Lei da Natureza ou dos Crimes Ambientais”) - declara como crime o ato
de causar poluição hídrica em cursos de água de abastecimento público. A Lei dos Crimes
Ambientais poderia estar sendo usada como incentivo para o reúso, uma vez que instituiu a
obrigatoriedade de se tratar os efluentes.
Lei 9984/2000 que criou a Agência Nacional de Águas, ANA, tinha como competência a
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos.
Projeto de Lei nº 5.296/2005, que trata da Política Nacional de Saneamento Básico (PNS),
prevê “o incentivo ao reúso da água, à reciclagem dos demais constituintes dos esgotos e à eficiência
energética, condicionado ao atendimento dos requisitos de saúde pública e de proteção ambiental”.
Resolução CONAMA 357/2005 dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, estabelece também as condições e padrões de lançamentos
de efluentes e define padrões de qualidade da água a serem observados de acordo com os usos
preponderantes dos cursos d´água.
Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos 54/2005 estabelece
modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reúso direto não potável de água, remete
para regulamentação complementar pelos órgãos competentes as diretrizes, critérios e parâmetros
específicos para as modalidades de reúso definidas nesta resolução.
A Resolução define cinco modalidades de reúso de água: urbano, agrícola e florestal, ambiental,
industrial e aquicultura e resolve que “deverão ser incentivados e promovidos programas de
capacitação, mobilização social e informação quanto à sustentabilidade do reúso”.
ARCABOUÇO LEGAL
Resolução CONAMA 430/2011– complementa e altera a Resolução CONAMA 357; dispõe
sobre condições, parâmetros, padrões e diretrizes para gestão do lançamento de efluentes em
corpos de água receptores. Em seu artigo 3º, estabelece que o lançamento dos efluentes de qualquer
fonte poluidora somente poderá ser lançado diretamente nos corpos receptores após devido
tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos na Resolução.
Águas pluviais - outros
Com relação à utilização da água pluvial, não há um ordenamento jurídico nacional que
discipline especificamente o tema. A lei nº 11445/2007, conhecida como lei do Saneamento Básico,
indiretamente estabelece alguns critérios para o manejo de água pluvial. Em seu artigo 3º define a
drenagem e manejo das águas pluviais urbanas como:
Conjunto de atividades, infraestruturas e instalações
operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de
transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de
vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais
drenadas nas áreas urbanas.
Seu decreto regulamentador Nº 7217/2010 admitiu, como forma de viabilizar o manejo da
água da chuva, a alimentação da instalação hidráulica predial ligada à rede pública de abastecimento
de água via aproveitamento de água da chuva, desde que devidamente autorizadas pela autoridade
competente.
Outra aparente contradição relacionada ao uso de água de chuvas no Brasil vem da avaliação
de uma Instrução Normativa (nº 1/2010) publicada pelo Ministério do Planejamento Orçamento e
Gestão – MPOG, que dispõe de critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens,
contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional
e dá outras providências.
Em seu Art. 4º, o normativo fornece uma série de especificações e exigências que visam à
economia da manutenção e operacionalização da edificação, a redução do consumo de energia e
água, bem como a utilização de tecnologias e materiais que reduzam o impacto ambiental nas obras
e serviços de engenharia, tais como: aproveitamento da água da chuva, agregando ao sistema
hidráulico elementos que possibilitem a captação, transporte, armazenamento e seu
aproveitamento.
No plano federal, tramitam atualmente apenas Projetos de Lei. Os principais estão
apresentados na Tabela 16.
ARCABOUÇO LEGAL
Tabela 16. Projetos de Leis federais acerca do aproveitamento da água da chuva tramitando
no Congresso Nacional
Projeto de Lei Ementa Situacão do
trâmite
PL 4109/2012 Institui o Programa Nacional de Conservação,
Uso Racional e Reaproveitamento das Águas.
Aguardando Parecer
na C. de Minas e
Energia
PL 2457/2011
Al tera a Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 da
Cidade), e a Lei nº 4.380, de 21 de agosto de
1964, que dispõe sobre o Sistema Financeiro da
Habitação, para insti tuir mecanismos de estímulo
à instalação de sistemas de coleta,
armazenamento e utilização de águas pluviais em
edificações públicas e privadas.
Aguardando
Designação de Relator
PL 1310/2011
Dispõe sobre a Pol í t ica Nac iona l d e Gestão e
Manejo Integrado de Aguas Urbanas e dá outras
providencias.
Apensada ao PL
4946/200 1
PL 682/2011
Toma obrigatória a execução de reservatório
para as águas coletadas por coberturas e
pavimentos em lotes, edificados ou não, nas
condições que menciona, e dá outras
providências.
Apensado ao PL
2750/2003
PL 242/2011
Dispõe sobre a utilização de energia solar e
reaproveitamento da água da chuva na construção
de habitações populares.
Apensada ao PL
6250/2009
PL 2565/2007
Dispõe sobre a instalação de dispositivos para
captação de águas de chuvas em imóveis
residenciais e comerciai s.
Apensado ao PL
2750/2003
PL 1069/2007 Dispõe sobre a contenção de águas de chuvas
nas áreas urbanas.
Apensado ao PL
2750/2003
PL 6250/2009 Dispõe sobre a utilização de energia solar e
reaproveitamento da água da chuva na
construção de habitações popu lares .
Apensada ao PL
5733/2009
PL 3322/2004
Dispõe sobre a obrigatoriedade de reservatórios
ou cisternas para o acúmulo de água da chuva
no território brasileiro.
Apensado ao PL
2750/2003
PL 2750/2003 Estabelece o uso eficiente das águas
e dá outras providências. Apensado ao PL
1616/1999
7.4 Leis e Decretos estaduais e municipais
Como se pode concluir pela análise do arcabouço legal em nível estadual e municipal, o uso ou
a conservação de água no setor industrial ainda são tratados de forma apenas periférica pela
legislação.
ARCABOUÇO LEGAL
7.4.1 Distrito Federal
Lei 2616/2000 - Distrito Federal - dispõe sobre a utilização de equipamentos economizadores
de água nas instalações hidráulicas e sanitárias dos edifícios públicos e privados destinados a uso
não residencial no âmbito do Distrito Federal.
Lei 4181/2008 – Distrito Federal – cria o programa de captação de chuva pelas edificações
urbanas, com concessão de habite-se condicionada ao cumprimento da lei.
7.4.2 Santa Catarina
Lei 3429/1999 - Município de Itajaí/SC - institui a Semana da Água para conscientizar a
comunidade para a importância do gerenciamento adequado dos recursos hídricos do município.
Lei 5935/2002 - Município de Blumenau/SC - dispõe sobre o consumo de água em novos
prédios públicos e privados. Instalação de dispositivos com fechamento automático para o controle
de consumo de água.
7.4.3 Minas Gerais
Lei 14401/2001 - Município de Viçosa/MG - dispõe sobre normas de controle de excesso de
consumo de água distribuída para uso humano. Fiscaliza atos de desperdício de água potável como
lavar calçadas e ruas e lavar veículos em residências
7.4.4 Paraná
Lei 10785/2003 regulamentado pelo Decreto 293/2006 - Município de Curitiba/PR – cria o
Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações - PURAE do Município de
Curitiba, e institui o PURAE – Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações.
O programa prevê a adoção de medidas que visam induzir a conservação da água através do uso
racional, e de fontes alternativas de abastecimento de água nas novas edificações. Tal programa foi
criado com o intuito de sensibilizar os usuários sobre a importância da conservação dos recursos
hídricos. Foi efetivamente implantado através da aprovação do Decreto Nº 212/2007, que
estabeleceu o novo Regulamento de Edificações do Município de Curitiba e relacionou as exigências
para cada tipo de uso das edificações.
LEI 6076/2003 - Município de Maringá/PR - dispõe sobre o reúso de água não potável pela
municipalidade na limpeza de ruas, praças, irrigação de jardins, considerando o custo-benefício.
Lei 6339/2003 - Município de Maringá/PR - dispõe sobre a instalação de dispositivos
hidráulicos destinados ao controle e à redução do consumo de água. Prazo de 5 anos para as
edificações já construídas se adequarem
ARCABOUÇO LEGAL
Lei 6345/2003 - Município de Maringá/PR - institui o programa de reaproveitamento de águas
de Maringá. Estímulo à instalação de reservatórios para a contenção de águas servidas e
recolhimento de chuvas para uso não potável.
7.4.5 Pernambuco
Lei 16759/2002 - Município de Recife/PE institui a obrigatoriedade da instalação de
hidrômetros individuais nos edifícios
7.4.6 Rio de Janeiro
Lei 3915/2002 - Estado do Rio de Janeiro - obriga as concessionárias de serviços públicos a
instalarem medidores individuais.
7.4.7 Rio Grande do Sul
Lei 11575/2001 - Estado do Rio Grande do Sul institui a "Semana Estadual da Água" visando à
conscientização da população em geral quanto à importância da conservação e de uso adequado
dos mananciais hídricos.
Lei complementar 110/2003 - Município de Passo Fundo/RS regulamenta a medição
individual nas instalações hidráulicas das edificações residenciais multifamiliares e comerciais no
município de Passo Fundo.
7.4.8 São Paulo
Lei 7663/1990 – Estado de São Paulo, que regulamenta o artigo 205 da Constituição do Estado
de São Paulo de 1989, institui a Política Estadual de Recursos Hídricos e o Sistema Integrado de
Gerenciamento de Recursos Hídricos de domínio do Estado. Marco inicial da legislação para a
gestão das águas.
Decreto 45805/2001 - Estado de São Paulo institui o programa estadual de uso racional da
água potável pelos órgãos do poder público. Redução de 20% do consumo
Lei 1276/2002 regulamentada pelo Decreto 41814/2002 - Município de São Paulo/SP - torna
obrigatória a execução de reservatório para as águas coletadas por coberturas e pavimentos nos
lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500m².
Lei 13309/2002 regulamentada pelo Decreto 44128/2003 - Município de São Paulo/SP -
dispõe sobre o reúso de água não potável pela municipalidade na limpeza de ruas, praças, irrigação
de jardins, considerando o custo-benefício.
ARCABOUÇO LEGAL
Lei 1018/2005 – Município de São Paulo/SP - Institui o Programa Municipal de Conservação e
Uso Racional da Água em Edificações, para estudo de soluções técnicas para possibilitar a
conservação, uso racional e utilização de fontes alternativas para a captação de água e reúso em
edificações.
Lei 12.526/2007 - Estado de São Paulo estabelece normas para a contenção de enchentes e
destinação de águas pluviais. O Artigo 1º - torna obrigatória a implantação de sistema para a
captação e retenção de águas pluviais, coletadas por telhados, coberturas, terraços e pavimentos
descobertos (pisos drenantes), em lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada
superior a 500m² (quinhentos metros quadrados), para reduzir a velocidade de escoamento de
águas pluviais, controlar a ocorrência de inundações, amortecer e minimizar os problemas das
vazões de cheias e contribuir para a redução do consumo e o uso adequado da água potável tratada.
Decreto 48138/2003 - Estado de São Paulo institui medidas de redução de consumo e
racionalização do uso de água no âmbito do estado de São Paulo.
Lei 6511/2009 - Município de Guarulhos – institui o Programa Municipal de uso racional da
água potável. Implantação de reservatórios para a captação de águas alternativas (chuva ou
drenagem) nas novas edificações com área de cobertura ou telhado igual ou superior a 250m2.
7.4.9 Tocantins
Lei 1085/2002 - Município de Palmas/TO institui a cartilha da economia da água e da energia
elétrica na rede municipal de ensino.
7.5 Normas ABNT
NBR 5.626 (1998) e NBR 10.844 (1989). Normatizam o projeto do sistema de coleta da água
de chuva, com alcance do projeto, a população ser atendida, a determinação da demanda, estudos
das séries históricas e sintéticas das precipitações da região.
NBR 13.969 (1997) não é específica para reúso, mas tem um item dedicado ao tema, definindo
classes de água nos casos de reúso menos exigente e indicação de padrões de qualidade para cada
classe. A classificação se baseia na quantidade (crescente) de coliformes fecais e nos valores de
oxigênio dissolvido, indicando a destinação de cada classe de água de reúso:
• Classe 1: Lavagem de carros e outros usos onde pessoas possam ter contato com a água;
• Classe 2: Lavagens de pisos, calçadas e irrigação dos jardins, manutenção dos lagos e canais
para fins paisagísticos, exceto chafarizes;
• Classe 3: Reúso nas descargas dos vasos sanitários;
• Classe 4: Reúso nos pomares, cereais, forragens, pastagens para gados e outros cultivos
através de escoamento superficial ou por sistema de irrigação pontual.
ARCABOUÇO LEGAL
Porém, a água de reúso considerada pela NBR 13969/1997 não deve ser utilizada, nem após
tratamento e desinfecção, em atividades onde haja o contato direto com pessoas. Mesmo a
utilização em irrigação de pomares e outros cultivos deve ser interrompido 15 dias antes do início
da colheita. E não deve ser utilizada em cultivos rasteiros e hortaliças. Ou seja, a norma impõe uma
série de restrições para se executar um plano de reúso da água e praticamente desestimulam essa
prática.
Deve ser considerado que a NBR 13969 é de 1997. Desde então, muitos anos se passaram e
as tecnologias de águas residuárias evoluiu muito. Portanto, seria mais que plausível uma atualização
da norma.
NBR 15.527/2007 - Água da Chuva - Apresenta os requisitos para o aproveitamento da
água de chuva de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis em que a água de chuva pode
ser utilizada após tratamento adequado. São descritos os sistemas de aproveitamento da água de
chuva, as diretrizes de projeto e dimensionamento. Essa norma possui como principal referência a
ABNT NBR 10844/1989, que fixa exigências e critérios necessários aos projetos das instalações de
drenagem de águas pluviais, visando a garantir níveis aceitáveis de funcionalidade, segurança, higiene,
conforto, durabilidade e economia nas instalações prediais de águas pluviais.
SETOR DE ALIMENTOS
8 SETOR DE ALIMENTOS
O momento para se tratar de uso e reúso de água na indústria em geral e no setor alimentício,
mais especificamente, não é dos melhores, pois, como discutido anteriormente, nos dias atuais as
prioridades são reconhecidamente outras.
Atualmente existe uma retração da atividade econômica no país. O segmento alimentício, que
produz bens de consumo de necessidades básicas, apresentou, em junho de 2015, uma queda de
2,1% quando comparado ao mesmo período no ano anterior (IBGE, 2015). Ainda assim, as
indústrias de alimentos estão ousando, ao relançar marcas antigas de sucesso no mercado, ou
inovando e lançamento de diversos tipos de embalagens diferentes para um mesmo produto35.
Em relação ao uso de água e, mais especificamente nas indústrias de carne, a grande dificuldade
do setor em reduzir ou reutilizar seus recursos hídricos diz respeito principalmente aos aspectos
legais e sanitários envolvidos.
Assim como no setor de bebidas, a indústria de alimentos precisa ter preocupações extremas
com a segurança alimentar dos consumidores, que deve ser garantida através da aplicação de
sistemas de qualidade como, por exemplo, o de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle
(APPCC)36, ISO, normas técnicas da ABNT, dentre outros.
8.1 Caracterização geral
O setor de alimentos é bastante amplo, com regulamentações e características muito
específicas, sendo, porém, que os produtos gerados devem se adequar à Portaria SVS/MS nº 326 de
1997, da Secretaria de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde, que preconiza que se deve ter,
como princípio geral, a manipulação de alimentos somente com água potável. Mas, a mesma Portaria
prevê o reúso de água na indústria alimentícia:
35 Scherer, A. Como algumas indústrias vêm driblando a crise econômica. Publicado em 14
de maio de 2015. Disponível em: http://exame.abril.com.br/revista-
exame/edicoes/1089/noticias/como-algumas-industrias-vem-driblando-a-crise-
economica. Acesso em: 18/08/2015. 36 O termo em inglês é “Hazard Analysis and Critical Control Point” – HACCP. Essa sigla é de
um sistema de gestão de segurança alimentar. Esse sistema baseia-se em analisar as
diversas etapas da produção de alimentos, visando garantir a produção de alimentos
seguros à saúde do consumidor. O sistema avalia medidas preventivas para controlar esses
perigos através de pontos críticos de controle.
Fonte: Wikipedia: Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Análise_de_Perigos_e_Pontos_Críticos_de_Controle.
SETOR DE ALIMENTOS
8.3.3 – A água recirculada para ser reutilizada novamente dentro de
um estabelecimento deve ser tratada e mantida em condições tais
que seu uso não possa representar um risco para a saúde. O processo
de tratamento deve ser mantido sob constante vigilância. Por outro
lado, a água recirculada que não tenha recebido tratamento
posterior pode ser utilizada nas condições em que o seu emprego
não constitua um risco para saúde e nem contamine a matéria–
prima nem o produto final. Deve haver um sistema separado de
distribuição que possa ser identificado facilmente, para a utilização
da água recirculada. Qualquer controle de tratamento para a
utilização da água recirculada em qualquer processo de elaboração
de alimentos deve ter sua eficácia comprovada e deve ter sido
prevista nas boas práticas adotadas pelo estabelecimento e
devidamente aprovadas pelo organismo oficialmente competente.
Em qualquer agroindústria, as etapas de produção básicas necessitam de água basicamente para
lavagem de matéria-prima, remoção de partes não comestíveis, preparação dos alimentos e
fabricação de embalagens. Além disso, há produtos como os “em conserva” em que a água está
incorporada no próprio produto em si.
Se, anteriormente, as normas indicavam um volume enorme de água na produção, hoje sabe-se
o quão importante é esse recurso. Uma das grandes dificuldades, porém, para adequar a qualidade
da água de reúso aos requisitos exigidos é a caracterização da qualidade do efluente a ser tratado,
pois há incertezas em relação à presença, identificação e quantificação de 42 substâncias que podem
trazer algum risco à saúde pública.
As águas residuais (também chamadas de residuárias) são basicamente aquelas que entram em
contato com matéria-prima estragada, pré-lavagem e lavagem, transporte, águas oriundas dos
processos industriais, refrigeração, vazamentos e lavagem de equipamentos 72.
Além de gerarem grande quantidade de efluentes (entre 0,6 – 20 m³ de efluentes por tonelada
de produto produzido), as indústrias de alimentos produzem efluentes contaminados
principalmente por bactérias e com alta demanda biológica por oxigênio (DBO) 3. A Tabela 17
apresenta alguns exemplos de indústrias alimentícias que geram resíduos apresentando suas
principais origens e suas principais características.
Tabela 17 – Resíduos oriundos das indústrias de alimentos e suas principais características.
Alimento produzido Principais origens dos
resíduos/efluentes
Principais características
dos resíduos/efluentes
Enlatados Cortes, sumo e branqueamento de frutas e
legumes
Dissulfeto elevado, coloide e
matéria orgânica dissolvida
Laticínios Diluições do leite integral, separação do leite,
manteiga e soro do leite
Matéria orgânica dissolvida
elevada, com proteínas,
gorduras e lactose
Carnes e aves
Currais, abate dos animais, separação dos
ossos e das gorduras, condensados, gorduras
e água de lavagem, colheita de frangos
Matéria orgânica dissolvida e
suspensa elevadas, sangue,
proteínas e gorduras
SETOR DE ALIMENTOS
Confinamento animal
(produção intensiva) Excrementos de animais
Sólidos orgânicos suspensos
elevados e DBO
Açúcar de beterraba
Transferência, triagem, sumo, drenagens de
lama de cal, condensados após evaporação,
suco e açúcar extraídos
Matéria orgânica dissolvida e
suspensa elevadas, contendo
açúcar e proteína
Fonte: Visvanathan e Asano 72
8.1.1 Oportunidades e soluções
Reduzir a quantidade de água na produção sem esbarrar na legislação é o principal desafio.
Afinal, como discutido anteriormente, a segurança alimentar37 deve estar acima de tudo.
Há atualmente inúmeras inovações e tecnologias disponíveis para o tratamento e a reutilização
da água na indústria de carnes e alimentícia, de uma forma mais geral. Entretanto, segundo a
Comissão do Codex Alimentarius da FAO/WHO) (2001), o tipo de uso é limitado em função da
característica da água de reúso.
Em um sistema que utiliza água continuamente, como no abate de frangos, a substituição de
torneiras convencionais por torneiras com acionamento por pedais pode levar a uma redução média
de 96% do consumo e, consequentemente, no volume de efluente gerado (Rosso & Mucelin, 2011).
Blöcher, Noronha et al. 64, em estudo desenvolvido na Alemanha, reciclaram a água residual de
processos industriais em uma indústria de alimentos através de um processo integrado de filtração
por membrana. Esse processo foi desenvolvido para produzir água potável a partir de água poluída
em empresas de bebida e alimento de pequeno e médio porte. O método utilizado compreendia
um biorreator suportado por membrana e uma etapa combinada de nanofiltração e desinfecção
UV. A água oriunda desse tratamento possuía padrões dentro dos permitidos para água potável e
o retorno do investimento foi alcançado em três anos.
Na Nova Zelândia foi observado em um estudo piloto que a água residual de uma indústria de
laticínios, após passar por um sistema de lodos ativados seguido por filtração, teve qualidade
suficiente para ser reutilizada no processo industrial 72.
Outro exemplo é o Método Siemens (Siemens, 2012), utilizado pela PepsiCo em Santiago no
Chile. Esse sistema tem como meta diminuir mais de 70% do consumo de água pura, reduzindo
assim a quantidade de água usada para fazer salgadinhos em cerca de dois terços. A maior parte da
água residual passa através de um sistema extensivo de recuperação do amido e, é então, filtrado
antes de passar pelo tratamento primário, que inclui remoção de óleos e gorduras. Depois dessa
37 Segurança alimentar é um conjunto de normas de produção, transporte e
armazenamento de alimentos visando determinadas características físico-químicas,
microbiológicas e sensoriais padronizadas, segundo as quais os alimentos seriam
adequados ao consumo (FAO, 2003)
SETOR DE ALIMENTOS
etapa, passa por um sistema de biorreator de membrana, o MemPulse (MBR) da Siemens (Figura
27), que separa e trata líquidos e sólidos. Adicionalmente, um sistema remoto de supervisão vai
permitir que parâmetros de performance de MBR sejam monitorados online. Do MBR, a água será
então previamente tratada antes de passar para o tratamento terciário, que inclui um sistema de
osmose reversa (RO) e um sistema de desinfecção Barrier M ultravioleta (UV).
Mavrov and Bélières, (2000) fizeram a redução da quantidade do consumo de água e águas
residuais em uma indústria de alimentos na Alemanha, através da reciclagem de água usando
processos de membranas. A etapa de pré-tratamento envolveu filtros de cartucho, a segunda etapa
foi utilizada como um “filtro de segurança”, e a desinfecção UV, para a redução de microrganismos.
Já o tratamento principal foi uma etapa de nanofiltração (NF1) e a etapa de pós-tratamento foi uma
etapa de nanofiltração (NF2) ou osmose reversa de baixa pressão (LPRO 2). Depois disso, foi feita
uma desinfecção UV da água. A água tratada ficou então dentro dos limites exigidos para água
potável e/ou água de caldeira.
Em 2001, com o objetivo de atingir não só a qualidade de uma água potável, mas também uma
água com baixa salinidade e dureza (Ca, Mg), para utilizá-la como água quente para limpeza, Mavrov
et al. submeteram as águas residuais dos processos da indústria de alimentos a um tratamento
envolvendo remoção orgânica por membranas e dessalinização. Os parâmetros químicos e
microbiológicos após o tratamento apresentaram valores adequados e esse processo foi aprovado
para reúso de água pelo Ministério da Saúde de Saarland, na Alemanha.
Chmiel et al. (2002) fizeram o tratamento de água altamente contaminada (pré-lavagem da
produção de margarina) através de microfiltração integrada com desnatação do óleo e de água de
média e alta contaminação (proveniente do tanque de mistura e equalização do processo de
produção de suco de frutas), através de biorreator de membrana e pré-desinfecção UV (para
remoção de sólidos suspensos e maior parte dos orgânicos dissolvidos e microrganismos),
nanofiltração (para remover impurezas residuais orgânicas e inorgânicas), e posterior desinfecção
UV para preencher os padrões legais bacteriológicos para água potável.
Portanto, soluções tecnológicas existem. É necessário interesse por parte da indústria e do
poder público.
8.2 A agroindústria integradora
No caso das agroindústrias de frango e de carne suína, a produção brasileira está centralizada
em um modelo de integração entre as indústrias e os produtores rurais.
O Contrato de produção integrada é amplamente reconhecido pelo Estado, quer pelo legislador
(Lei 4.504, de 30.11.1964 (Estatuto da Terra), através da Lei nº 11.443, de 05.01.2007). O Poder
Judiciário, de forma unânime, reconhece esta relação como um contrato autônomo, do tipo
sociedade (parceria), regido pelo direito civil brasileiro.
SETOR DE ALIMENTOS
Mais recentemente, o Projeto de Lei (PL) 6459, de 2013, vem sendo discutido e encontra-se
ponto para ser apresentado no plenário da Câmara dos Deputados e pretende aperfeiçoar os
mecanismos legais, diante da normal evolução deste modelo de produção. Este PL dispõe sobre os
contratos de integração, estabelece condições, obrigações e responsabilidades nas relações
contratuais entre produtores integrados e integradores. Ele consolida o sistema de produção no
direito positivo nacional, unificando princípios e trazendo segurança às partes envolvidas.
O Art. 2º, parágrafo 4º, por exemplo, prevê que:
IV – contrato de integração vertical ou contrato de integração:
contrato, firmado entre o produtor integrado e o integrador,
que estabelece a sua finalidade, as respectivas atribuições no
processo produtivo, os compromissos financeiros, os deveres
sociais, os requisitos sanitários, as responsabilidades ambientais,
entre outros que regulem o relacionamento entre os sujeitos do
contrato
Já no Art. 6º fica evidente a corresponsabilidade da indústria integradora nas questões
ambientais ligadas à produção:
Art. 6º Cada unidade do integrador e os produtores a ela
integrados devem constituir Comissão para Acompanhamento,
Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadec),
respeitando as estruturas já existentes e com função similar, de
composição paritária e integrada por membros indicados pelo
integrador e pelos produtores integrados ou suas entidades
representativas, com os seguintes objetivos, entre outros a
serem estabelecidos em seu regulamento:
I – elaborar estudos e análises econômicas, sociais, tecnológicas,
ambientais e dos aspectos jurídicos das cadeias produtivas e seus
segmentos e do contrato de integração;
Por fim, no Art. 10º deixa bastante clara as responsabilidades ambientais das partes:
Art. 10. Compete ao produtor integrado atender às exigências
da legislação ambiental para o empreendimento ou atividade
desenvolvida em sua propriedade rural, bem como planejar e
implementar medidas de prevenção dos potenciais impactos
ambientais negativos e mitigar e recuperar os danos ambientais.
§ 1º Nas atividades de integração em que as tecnologias
empregadas sejam definidas e sua adoção supervisionada pelo
integrador, este e o integrado responderão, até o limite de sua
responsabilidade, pelas ações relativas à proteção ambiental e à
recuperação de danos ao meio ambiente ocorridos em
decorrência do empreendimento. § 2º A responsabilidade de
recuperação de danos de que trata o § 1º deste artigo deixa de
ser concorrente quando o produtor integrado adotar conduta
SETOR DE ALIMENTOS
contrária ou diversa às recomendações técnicas fornecidas pelo
integrador ou estabelecidas no contrato de integração. § 3º
Compete ao integrador, no sistema de integração em que as
tecnologias empregadas sejam por ele definidas e
supervisionadas:
I – fornecer projeto técnico de instalações e de obras
complementares, em conformidade com as exigências da
legislação ambiental, e supervisionar sua implantação;
II – auxiliar o produtor integrado no planejamento de medidas
de prevenção, controle e mitigação dos potenciais impactos
ambientais negativos e prestar-lhe assistência técnica na sua
implementação;
IV – elaborar, em conjunto com o produtor integrado, plano de
manejo de outros resíduos da atividade e de disposição final dos
animais mortos, e supervisionar sua implantação.
Diante de tudo isso, fica tipificada a responsabilidade das agroindústrias integradoras de
produção e de processamento de carnes no planejamento e gestão ambiental ao longo de um
extenso processo que começa no campo e que só termina quando esse produto acabado deixa a
indústria. E, como a agropecuária é o setor que mais consome água no mundo, é evidente que o
tema "água" precisa, talvez mais que em qualquer outro, fazer parte do planejamento e da gestão
industrial neste setor.
Entretanto, para que a discussão não se estenda para toda a cadeia de produção e transformação
de carnes, o que a tornaria demasiadamente longa e complexa, o foco, a seguir, está centrado no
uso e no reúso de água durante a fase de processamento dos produtos do setor.
8.2.1 Abatedouros e frigoríficos de aves
No que se refere exclusivamente à utilização de água em frigoríficos de aves, o processo é
regulamentado pela Portaria 210/98, da Secretária da Defesa Agropecuária (SDA), do Ministério da
Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA). O Regulamento Técnico da Inspeção
Tecnológica e Higiênico-Sanitária de Carnes de Aves padroniza os métodos de elaboração dos
produtos de origem animal nas instalações, equipamentos, higiene do ambiente, esquema de
trabalho do serviço de inspeção Federal para o abate e a industrialização.
Em todas as etapas de produção (lavagem das instalações e equipamentos; insensibilização e
sangria, escaldagem, evisceração e pré- resfriamento) há uma utilização intensa de água e ocorre
devido a rigorosas exigências sanitárias. Por outro lado, essa regulamentação pode levar a um uso
excessivo e provavelmente desnecessário de água.
A Portaria 210/98 estabelece que:
SETOR DE ALIMENTOS
11.1.4.3 O consumo médio de água em matadouros avícolas
poderá ser calculado tomando-se por base o volume de 30
(trinta) litros por ave abatida, incluindo-se aí o consumo de todas
as seções do matadouro. Permitir-se-á volume médio de
consumo inferior desde que preservados os requisitos
tecnológicos e higiênico-sanitários previstos na presente Norma,
mediante aprovação prévia do DIPOA.
É importante notar que essa Portaria tem quase vinte anos e comete um grave erro ao
estabelecer não os parâmetros de qualidade do produto final, mas sim a quantidade de água que
deve ser empregada no processo.
Figura 28 - Água residuária de uma planta processadora de frangos. Fonte: IWE.
Obviamente, a Portaria foi congelada no tempo, enquanto a tecnologia não. Atualmente, os
avanços tecnológicos permitiram a racionalização no uso da água, através de métodos mais eficazes
de tratamento (filtração por membranas, por exemplo) e medidas de otimização, como o transporte
de produtos como alimentos e vísceras a seco (por meio de transporte pneumático, “parafuso de
rosca sem fim”, entre outros, por exemplo), sem nenhum risco à saúde do consumidor. Mas, em
vez disso, a portaria serve como um forte desestímulo à inovação e ao aumento da competitividade
e da produtividade no que se refere ao uso de água.
SETOR DE ALIMENTOS
8.2.2 Abatedouros de suínos
O Brasil é o 4o maior produtor e exportador de carne suína do mundo. A suinocultura é uma
atividade que utiliza muita água e é classificada como potencialmente poluidora, principalmente
pelos dejetos com alta carga de DBO gerados durante o processo de produção. O foco dado pela
legislação era, inicialmente, a sanidade na produção, indicando a quantidade de água que deveria ser
utilizada durante o processo e a qualidade do efluente gerado.
Também neste caso, como pode ser observado no Capítulo IX (Parte Geral), da Portaria Nº
711, de 01 de novembro de 1995, que “Aprova as normas técnicas de instalações e equipamentos
para abate e industrialização de suínos” há, assim como no caso dos abatedouros de aves, uma clara
determinação sobre a quantidade de água que deve ser empregada no processo:
1.1 - Água
a) deve existir potencial de produção de água potável em
abundância para suprir as necessidades diárias do estabelecimento,
podendo para tanto serem utilizadas águas de superfície (cursos
d'agua, açudes e fontes) ou/e de profundidade (poços artesianos);
b) o volume diário mínimo de água disponível deve ser calculado em
função do número máximo de abate de suínos por dia, na base de
850 (oitocentos e cinquenta litros) por suíno abatido: Ex.: para um
abate de 500 suínos/dia: 500 x 850 = 425.000 l/dia
c) o aproveitamento de águas de superfície exigirá tratamento
eficiente e completo, compreendendo a instalação de hidráulica com
as respectivas floculação, decantação, filtração e cloração. No caso
de águas de profundidade (poços artesianos), desde que livres de
matéria orgânica, será exigida apenas a cloração;
d) cloração deverá ser a última etapa do tratamento da água e deve
ser feita com dosador de comprovada eficiência, mantendo um livro
próprio para anotações dos resultados;
f) os reservatórios elevados deverão ter capacidade compatível com
a demanda diária de água, e altura suficiente que permita junto com
tubulação de diâmetro adequado, boa pressão da água para uso da
indústria.
Em relação aos efluentes, a Portaria também pode ser considerada ultrapassada, ao exigir que
os efluentes, depois de tratados, sejam lançados em um rio:
1.2 - Esgoto
a) é indispensável a existência de curso d'água perene, com caudal
suficiente, para o livre escoamento de todas as águas residuais do
estabelecimento. O terreno deverá ainda apresentar declividade
suficiente ao bom escoamento das águas servidas através de
tubulações com dimensionamento adequado, exigindo-se antes de
serem lançados nos cursos d'água, tanques para decantação de
SETOR DE ALIMENTOS
gorduras e o indispensável tratamento, através de métodos eficientes
que eliminem os resíduos orgânicos e a poluição ambiental
aprovados por órgão competente;
b) a canalização geral dos esgotos deverá ser completa até os locais
de tratamentos, não se permitindo o livre curso de águas residuais a
"céu aberto".
Figura 29 - A indústria de abate de suínos é uma grande consumidora de água. Fonte: Feed &
Food.
8.3 Diretrizes técnicas do Banco Mundial
O Banco Mundial, através da IFC (International Finance Corporation)38, estabelece diretrizes
para as empresas em países em desenvolvimento que visam obter financiamento. As Diretrizes
Ambientais, Saúde e Segurança (EHS)39 são documentos técnicos de referência que contém aspectos
gerais e específicos para as indústrias, além de apresentar exemplos de Boas Práticas da Indústria
38 A IFC (Corporação Financeira Internacional) é considerada uma das maiores instituições
globais de financiamento voltada para o setor privado nos países em desenvolvimento.
Entre suas características é que os empréstimos são concedidos a longo prazo. 39 Environmental, Health, and Safety. Disponível em:
http://www.ifc.org/wps/wcm/connect/e9ae040048865967b912fb6a6515bb18/Final%2B-
%2BMeat%2BProcessing.pdf?MOD=AJPERES
SETOR DE ALIMENTOS
Internacional (GIIP) que devem ser seguidas pelas indústrias apoiadas financeiramente através das
linhas de crédito.
Essas diretrizes possuem níveis de desempenho e medidas que são geralmente consideradas
viáveis para as instalações tecnológicas existentes e a custos razoáveis. As Diretrizes de EHS devem
ser adaptadas para os perigos e riscos estabelecidos em cada projeto com base nos resultados de
uma avaliação ambiental em que as variáveis específicas, tais como o contexto do país, são
consideradas. Além disso, se o país tiver leis mais rigorosas ou não possuir legislação específica em
relação aos temas abordados nas diretrizes, deve sempre levar em consideração os termos e
medidas mais restritivas.
As atividades de processamento de animais requerem grande quantidade de água de alta
qualidade para processos de limpeza e resfriamento. A água residual gerada durante suas atividades
tipicamente tem alta demanda química e bioquímica de oxigênio (DQO e DBO) pela presença de
matéria orgânica como sangue, gordura, carne e excreções (fezes). Além disso, a água gerada pode
conter altos níveis de nitrogênio, fósforo, resíduos químicos, tais como cloro usado para lavagem e
desinfecção, assim como vários patógenos, incluindo Salmonella e Campylobacter.
Ainda em relação à indústria de processamento de carnes (aves, suínos e bovinos), as principais
diretrizes do documento são:
• Uso de grades e telas no chão da fábrica para prevenir que o material sólido orgânico
entre nos canais de coleta de água residual;
• Manutenção preventiva e inspeção de corrosão, para evitar vazamentos;
• Uso de bandejas de gotejamento para coletar e encaminhar o sangue para o tanque de
sangue ao invés de cair no fluxo de água residual;
• Considerar o uso de vapor escaldante nas aves para evitar excessiva geração de água
residual dos tanques de escaldamento;
• Quando utilizados tanques de escaldamento, garantir que não haja transbordamento
do seu líquido. O líquido que sai do tanque de escalda deve ser coletado e reusado no
tanque de escaldamento;
• Ajuste regular das máquinas de evisceração para reduzir a liberação acidental de
matéria fecal devido à ruptura do trato intestinal das aves (resultando na necessidade
de frequente enxágue);
• Sempre que possível, transportar o material orgânico usando bombas a vácuo, ao invés
de transportar pela água;
SETOR DE ALIMENTOS
• Aplicação de procedimentos de limpeza de tanque e equipamento apropriados.
Procedimentos de limpeza no local (CIP40) são úteis para reduzir o consumo de
químicos, de água, e energia em operações de limpeza;
• Escolher agentes de limpeza que não tenham impactos adversos no ambiente, ou nos
processos de tratamento de água residual e na qualidade do lodo para posterior
aplicação na agricultura;
• Otimizar o consumo de água da lavagem e resfriamento sem colocar em risco a
segurança alimentar;
• Quando as regulamentações de higiene permitirem, substituir o transporte pela água
de produtos e subprodutos, pelo transporte mecânico;
• Limpeza a seco da área de processos com o uso de raspadores, vassouras, ou
limpadores a vácuo especialmente projetados, antes da limpeza com água;
• A água deve ser fornecida à vontade, deve ser de boa qualidade e com temperatura
máxima de 20oC, estimulando o consumo; durante a gestação, o consumo individual
deve ser de cerca de 20 litros por dia. A quantidade deve ser monitorada por
hidrômetro na saída da caixa d’água principal e a qualidade a cada 6 meses, por meio
de análises de laboratório.
40 Cleaning-in-Place (CIP)
SETOR DE BEBIDAS
9 SETOR DE BEBIDAS
9.1 Caracterização geral
De acordo com informações da PIA 2011 73, o setor de fabricação de bebidas responde por
aproximadamente 4% do valor adicionado da indústria de transformação brasileira. Por ser intensivo
em capital, o setor tende a ser menos expressivo em relação ao trabalho. Ainda assim, emprega
cerca de 144 mil pessoas no mercado formal, o que corresponde a 2,2% do pessoal ocupado na
indústria de transformação do Brasil.
Em razão do fácil acesso a fontes de água no Brasil (um dos principais insumos da produção de
bebidas), a localização geográfica das plantas industriais do setor é orientada pela proximidade de
seus mercados consumidores. Isso explica porque essa indústria encontra-se distribuída por todo
o território nacional, o que revela também sua importância enquanto gerador de postos de trabalho
em áreas periféricas do país 1.
Segundo o Ibge 71, em relatório publicado em junho de 2015, o setor passa por uma forte
retração, com queda da produção de 4,2%, quando comparada ao mesmo período (junho de 2014)
no ano anterior.
Atualmente, os refrigerantes despontam como o principal produto do setor, seguidos da
produção de cervejas – juntos, ultrapassam 75% do valor total da produção de bebidas, exclusive
xaropes. Aguardentes e outras bebidas destiladas, vinhos e águas envasadas completam o quadro.
Essa é uma indústria cujo estágio tecnológico é considerado maduro, e as principais fontes de
melhoria estão relacionadas a temas como diminuição do consumo de água e de energia e redução
das emissões de CO2 e de resíduos 1.
No mercado de cervejas, a garrafa de vidro retornável responde por 58% do volume. Apesar
de demandar maior consumo de água nas fábricas por conta de sua lavagem, e além de exigir um
processo logístico de retorno dos vasilhames, esse tipo de embalagem torna-se uma opção mais
barata para o consumidor, que paga apenas pelo líquido.
Visvanathan e Asano 72 apontaram as principais fontes de resíduos de duas indústrias de bebidas
(destilados e refrigerantes), bem como as suas principais características. O primeiro exemplo é da
indústria de destilados e fabricação de bebidas de modo geral, que tem como principais fontes de
resíduos as atividades de maceração e pressionamento de grãos, resíduos da destilação do álcool e
condensados a partir da evaporação da vinhaça. As principais características desses resíduos são a
elevada quantidade de sólidos orgânicos dissolvidos, com altas taxas de nitrogênio e amidos
fermentados em seus produtos. Já os resíduos das indústrias de refrigerantes vêm dos processos
de lavagem das garrafas, do piso e dos equipamentos e dos drenos dos tanques de armazenamentos
do xarope. Esses resíduos são compostos basicamente por sólidos suspensos, com pH e DBO
elevados.
SETOR DE BEBIDAS
Por isso, a despeito do uso de grandes quantidades de água em seus processos, na indústria de
alimentos e de bebidas a taxa de reciclagem da água acaba sendo baixa. Como a poluição orgânica
e bacteriológica oriunda dos seus rejeitos pode afetar a saúde pública, o reúso exige rigor e cautela.
Com isso, nem sempre a reciclagem e o reúso da água são economicamente viáveis. Mas, existe,
sim, um potencial para reúso da água em processos em que não há a possibilidade de contaminação,
como por exemplo, na água utilizada para resfriamento (Visvanathan e Asano, 2004), além do uso
de métodos mais tecnificados de tratamento, principalmente para aquelas indústrias localizadas em
regiões com problemas de disponibilidade hídrica.
9.1.1 Oportunidades e soluções
Para enfrentar um período de economia enfraquecida, como o que se vive atualmente, e para
contornar a baixa fidelidade de seus consumidores, algumas empresas apostam na inovação, como
o fabricante de bebidas Ambev, que em conjunto com a fabricante de eletrodomésticos, Whirlpool,
desenvolveu uma máquina para a produção caseira de refrigerantes, cervejas e outros tipos de
bebidas em cápsulas (Figura 30).
Já outras empresas preferem investir em novas táticas de atuação regional. É o caso da
fabricante de bebidas Brasil Kirin, que, com a queda do consumo brasileiro na região nordeste, vem
investindo em anúncios para mercados regionais, ampliando dessa forma a verba destinada à
publicidade nesse local.
SETOR DE BEBIDAS
Figura 30 - Equipamento para processar bebidas em cápsulas. Fonte:
http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2015/05/bebidas-em-capsula-entenda-como-
tecnologia-funciona.html.
Em relação ao reúso de água no setor de bebidas, existem muitas formas de se tratar e
recuperar a qualidade de água, sendo que os processos são bastante similares aos da indústria
alimentícia:
Em Cingapura, Tay e Jeyaseelan (1995) fizeram uso de dois tipos de tratamento para tratar
a água usada para lavagem de garrafas da indústria de bebidas: a ultrafiltração e a osmose
reversa. O efluente tratado com o sistema de osmose reversa apresentou melhor qualidade,
mas a qualidade do efluente que passou pelo sistema de ultrafiltração era comparável à da
água de abastecimento de uma cidade. Assim, ambos apresentaram qualidade requerida
para a lavagem de garrafas. O tempo de retorno do investimento, avaliado para o estudo,
para a ultrafiltração é de dois anos e para a osmose reversa é de cinco.
Noronha et al. 2002 realizaram, na Alemanha, um estudo de tratamento de água residual
de média contaminação em uma fábrica de suco de frutas com propósito de reúso de água.
Foram realizados dois passos para o tratamento: (1) redução biológica da DQO e da DBO5
usando biorreator de membrana (MBR) e (2) redução de bactérias (inativando e/ou retendo
as bactérias), por nanofiltração com desinfecção UV integrada. A água tratada foi
parcialmente dessalinizada e preencheu os padrões químicos e bacteriológicos requeridos
pela legislação alemã sobre água potável (German Drinking Water Act).
SETOR DE BEBIDAS
Em Rennes, na França, Vourch et al. (2008) realizaram testes de tratamento da água residual
de laticínios por osmose reversa para reúso de água em uma indústria. A água residual era
oriunda de diversos processos, principalmente água de lavagem, onde existem misturas de
produtos do leite diluídos com a água, sem químicos. O tratamento de osmose reversa das
águas residuais foi executado até atingir 90-95% de recuperação/purificação da água. A
qualidade da água purificada foi similar à de vapor condensado, podendo ser reusada para
as mesmas aplicações, como por exemplo, para aquecimento, limpeza e resfriamento.
Existem também experimentos de reciclagem da água na indústria de fermentação de
cerveja em KwaZulu-Natal, na África do Sul (Talbot & Talbot, 2011). A primeira etapa da
reciclagem foi biológica, sendo uma anaeróbia com o UASB41 (Reator anaeróbio de fluxo
ascendente - RAFA) e uma aeróbia com MBR (Biorreator de membrana), onde um
clareamento é feito usando membranas de ultrafiltração para produzir uma água
intermediária de alta qualidade. Observou-se que uma pequena quantidade dessa água pode
ser reusada em pontos específicos em que a qualidade requerida seja apropriada. Depois, a
água foi tratada com osmose reversa (RO), que separa o efluente em dois fluxos, um
permeado e outro concentrado (salmoura).
Na região industrial do Hattar”42, Paquistão, foram testados três tratamentos para reúso
de águas residuais oriundas da lavagem de garrafas de bebidas: diluição da água residual em
diferentes proporções, osmose reversa e troca iônica. O sistema de osmose reversa
removeu mais de 99% das impurezas da água residual, sendo melhor do que água potável.
A troca iônica também foi bastante eficaz, especialmente em relação à remoção de dureza.
Os efluentes tratados por qualquer uma dessas duas combinações foram adequados para
reciclagem em todos os processos, desde a lavagem de garrafas até à alimentação de
caldeiras, exceto a lavagem final de garrafas, já que esta lavagem necessita de uma água de
qualidade melhor. De acordo com o estudo, ambas as alternativas de tratamento para reúso
de água são economicamente viáveis (Hajira Haroon, 2013).
Além dos tratamentos, Casado e Mendes (2007) defendem a redução do consumo de água na
indústria de bebidas pelo uso de PGA – Programas de Gestão da Água. Através desses programas,
empresas produtoras de bebidas podem diminuir despesas da indústria com captação, tratamento,
bombeamento, resfriamento e aquecimento da água para atender aos mais diferentes usos. Com
sua implantação, os autores avaliam conseguir uma redução de cerca de 20% dos custos
operacionais de uma indústria de bebidas.
41 Up-flow Anaerobic Sludge Bed 42 A zona industrial do Hattar está situada à 16 km de Kot Najibullah e foi estabelecida nos
anos 1985-1986 com uma área total de 1.032 hectares. Existem cerca de 117 unidades
operacionais que são compostas principalmente de alimentos e bebidas, têxtil, louças,
impressão em papel, química, cimento, publicação, química, borracha, tapetes e
produtos de couro. Fonte: Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Hattar.
SETOR DE BEBIDAS
A PepsiCo criou o ReCon, um conjunto de ferramentas de melhores práticas para
conservação de recursos em vários departamentos. Essas ferramentas são baseadas em uma
abordagem comum, em que primeiro se quantificam os fluxos e subfluxos de uso dos
recursos da planta e é calculado seu valor relativo. No caso de água, por exemplo, ele
permite que a planta disseque o uso da água e então fornece um mapeamento dos volumes
e valores relativos de cada fluxo. Os valores são determinados baseados no custo local da
água que chega, tratamento ou condicionamento de químicos, energia usada para aquecer
ou resfriar antes do uso, e custos associados com descarga, por exemplo. Comparar esses
dados permite uma avaliação quantitativa de quais fluxos oferecem as maiores
oportunidades para economia de água, seja evitando seu uso completamente, reduzindo o
volume de água usado ou reusando água. Um diagnóstico com uma série de questões
customizadas no estilo de auditoria é feito, e então, é avaliado se a planta está seguindo as
melhores práticas e quais oportunidades existem para melhoria. O envolvimento da
organização de qualidade na planta garante que quaisquer mudanças no uso de água vão se
adequar aos estritos padrões de qualidade 74.
A “Coca-Cola Company” elaborou um projeto baseado na abordagem de um plano de
segurança da água, consistindo de: avaliação da vulnerabilidade da fonte, plano de proteção
da fonte de água, design do sistema, monitoramento operacional e planos de
gerenciamento. O sistema projetado leva a água residual dos processos e purifica-a para
reúso em aplicações não relacionadas ao produto. Esse processo usa a combinação de:
tratamento químico, tratamento biológico em um biorreator com membranas, ultrafiltração
(UF), osmose reversa (OR), ozonização e desinfecção ultravioleta (UV). A qualidade da água
tratada concorda com todas as especificações químicas, microbianas e operacionais de água
potável das diretrizes e requerimentos mais estritos da Organização Mundial da Saúde, da
União Europeia, EPA, a própria corporação da Coca-Cola, assim como regulamentações
locais de cada fábrica da companhia 76.
9.2 A necessidade de manutenção dos padrões de
potabilidade
As regulamentações a respeito da fabricação de bebidas são gerais, indicando a necessidade de
se respeitarem os padrões de potabilidade da água utilizada no processo produtivo.
O “Codex Alimentarius – Internacional Food Standards”, elaborado pela FAO e a OMS,
apresenta normas, diretrizes e códigos de conduta, que contribuem para a segurança, qualidade e
equidade do comércio internacional de alimentos e bebidas, com orientações e recomendações
com o intuito de garantir a segurança alimentar. Em seu código geral de normas para suco de frutas
e néctares, por exemplo, há uma orientação quanto ao uso de água potável que deverá ser utilizada
na reconstituição do suco, devendo atender no mínimo, as Diretrizes para Qualidade da Água
Potável da Organização Mundial da Saúde. Essas diretrizes apresentam uma série de parâmetros,
SETOR DE BEBIDAS
químicos, microbiológicos e radiológicos, que devem ser atendidos para que a água seja considerável
potável.
O decreto nº 6.871, de 4 de junho de 2009 regulamenta a Lei no 8.918, de 14 de julho de 1994,
que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização
de bebidas, indica que:
Seção I - Das Disposições Preliminares
§ 7o A água destinada à produção de bebida deverá atender ao
padrão oficial de potabilidade.
Seção III - Das Bebidas Alcoólicas Fermentadas
Art. 37. Das características de identidade da cerveja deverá ser
observado o seguinte:
IV - A água potável empregada na elaboração da cerveja poderá
ser tratada com substâncias químicas, por processo físico ou
outro que lhe assegure as características desejadas para boa
qualidade do produto, em conjunto ou separadamente;
A Portaria SMS.G Nº 2.535 de 24 de outubro de 2003 do estado de São Paulo estabelece
critérios e parâmetros para a produção de alimentos e bebidas, aplicados às empresas de alimentos.
Esse é um exemplo bastante importante, pois a própria legislação abre o caminho para o uso de
fontes alternativas de água para uso no processo industrial, sem abrir mão da qualidade e da
inocuidade para os consumidores:
7 - ÁGUA E DEMAIS UTILIDADES
7.1. A água utilizada para o preparo dos alimentos, proveniente
de sistema de abastecimento público ou de fonte alternativa
deve ser potável, de acordo com os procedimentos relativos ao
controle da qualidade da água para consumo humano e seu
padrão de potabilidade, estabelecidos pela legislação vigente.
7.4. Será permitida a utilização de soluções alternativas de
abastecimento de água isolada ou integrada com outros
sistemas de abastecimento público, para ser utilizada para o
preparo de alimentos e para qualquer outra finalidade, somente
após a licença de outorga de uso concedida pelo Departamento
de Águas e Energia Elétrica, da Secretaria de Energia e
Saneamento, do Estado de São Paulo, conforme legislação
vigente. Os documentos de concessão e os laudos laboratoriais
periódicos decorrentes do controle de qualidade devem
permanecer no local para serem apresentados à autoridade
sanitária, sempre que solicitado.
7.4.1. Somente será permitida a utilização de água oriunda de
solução alternativa ou mista, mesmo com a licença de outorga
de uso, quando realizado o controle de qualidade da água,
constituída de análises físico-química e microbiológica,
conforme os parâmetros da legislação vigente.
7.5. A empresa fornecedora, distribuidora e/ou transportadora,
deve apresentar à autoridade sanitária municipal e ao
SETOR DE BEBIDAS
estabelecimento de alimento que está comprando a água, os
laudos de análise mencionados no item 7.4.1.
7.5.1. A empresa que transporta em caminhão pipa água
proveniente do sistema de abastecimento público deverá
apresentar à autoridade sanitária e ao estabelecimento que está
comprando a água, cópia do Relatório Mensal da água elaborado
pela empresa fornecedora.
7.5.2. A empresa que transporta água potável deve manter
registro da origem da água, data e local da sua captação, volume
transportado, identificação do veículo e seu destino.
7.5.3. O estabelecimento de alimento que utilizar água potável
transportada por caminhão pipa deverá apresentar à autoridade
sanitária municipal os laudos de análise laboratorial da água da
fonte, citados no item 7.4.1, bem como a nota fiscal, fornecidos
pela empresa fornecedora e/ou transportadora da água.
7.7. O vapor chamado culinário deve ser procedente de água
potável e quando utilizado em contato com produtos ou
superfícies que entrem em contato com alimentos não pode
representar riscos de contaminação.
7.7.1. A água potável, utilizada na forma de vapor, deve ter
tratamento próprio para evitar a formação de incrustações,
quando necessário. As tubulações devem ser desmontáveis,
resistentes à corrosão, dotadas de filtros, feitas de material
atóxico, de fácil limpeza e desinfecção. No caso de vapor
culinário, os produtos devem ter grau alimentício e a tubulação
deve prever ponto de coleta para degustação do vapor.
7.9. Os procedimentos de manutenção, limpeza e desinfecção de
água e sistema de utilidades devem ser estabelecidos, descritos,
monitorados e registrados para consulta.
Entretanto, no item 7.10 a Portaria estabelece um artigo que pode inviabilizar o reúso de água
no processo, dependendo da forma de sua interpretação:
7.10. Não é permitida a instalação de processo ou atividade que
possa representar risco de contaminação da água potável.
A Portaria nº368, de 4 de setembro de 1997, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, por sua vez, estabelece os casos em que o reúso da água seria permitido:
7.3.2. Desde que autorizado pelo órgão competente, poderá
utilizar-se água não potável para a produção de vapor e outros
fins análogos, não relacionados com os alimentos.
7.3.3. A água recirculada pode ser novamente utilizada desde
que tratada e mantida em condições tais que seu uso não
apresente risco para a saúde. O processo de tratamento deverá
manter-se sob constante vigilância. Excepcionalmente, água
SETOR DE BEBIDAS
recirculada que não recebeu novo tratamento poderá ser
utilizada naquelas condições em que seu emprego não
represente risco à saúde nem contamine a matéria prima ou
produto acabado.
Para a água recirculada deverá haver um sistema separado de distribuição que possa ser
facilmente identificado. Os tratamentos de água recirculada e sua utilização em qualquer processo
de elaboração de alimentos deverão ser aprovados pelo órgão competente.
Por motivos como esse, Miyaki, Adachi et al. 77 defendem que é mais eficiente se tratar e
reutilizar a água de cada processo individualmente, e não recolher todas as águas residuais dos
diferentes processos em um sistema único de tratamento, como era feito no passado, pois a água
residual proveniente de diferentes fontes tende a aumentar o custo do tratamento. Essa escolha,
segundo os autores, resultará em uma maior economia de energia, maior eficiência e menores
custos associados em relação ao tratamento.
Ainda assim, apenas a água de serviço, que é a água usada em situações locais e equipamentos,
sem contato direto com o produto, como a lavagem de vasilhames, pisos, equipamentos e
resfriamento, permite o reúso. Lembrando que sempre devem ser observadas a garantia da
qualidade do produto, bem como a sua segurança alimentar, com atendimento de legislação
específica.
9.3 Diretrizes Técnicas do Banco Mundial
Os documentos técnicos de referência do IFC (Internacional Finance Corporation,
anteriormente citados), denominados Diretrizes Ambientais, Saúde e Segurança (EHS43),
apresentam algumas recomendações em relação à produção de alimentos e bebidas. Lembrando
que essas diretrizes são exigidas no caso da indústria pleitear financiamento ao Banco Mundial44.
As recomendações feitas são:
• Minimizar a água consumida durante os processos de produção;
• Utilizar sistemas de transporte secos, ao invés de molhados;
• Otimizar a linha de operações de processos para evitar derramamento de água e
matéria-prima, reduzindo a necessidade de tratamento de águas residuais e consumo de
energia associado;
• Usar métodos secos para a limpeza primária de matéria-prima sólida com baixo teor de
umidade;
43 A IFC (Corporação Financeira Internacional) é considerada uma das maiores instituições globais
de financiamento voltada para o setor privado nos países em desenvolvimento. Entre suas
características é que os empréstimos são concedidos a longo prazo. 44 Disponível http://www.ifc.org/wps/wcm/connect/c7bfaf0048855482b314f36a6515bb18/
Final%2B-%2BFood%2Band%2BBeverage%2BProcessing.pdf?MOD=AJPERES. Acessado em 06/09/2015
SETOR DE BEBIDAS
• Sempre que possível, usar vapor contínuo ou descascamento à seco;
• Usar torneiras com válvulas de fechamento automático e injetores otimizados;
• Usar técnicas de lavagem contracorrente para lavagem primária de matéria-prima;
• Implementar lavagem a seco de equipamento com o uso de raspadores ou vassouras
antes da limpeza com água;
• Reusar o fluxo de água dos processos de produção sempre que possível, evitando a
contaminação da água e não comprometendo a segurança alimentar;
• Separar e recircular a água do processo de resfriamento, além de recircular essa água,
caso não comprometa à segurança alimentar dos produtos;
• Reutilizar a água condensada das caldeiras;
• Quando possível, reciclar a água de lavagem de baixa classe para reutilizar na lavagem
primária de matéria-prima, ou então, para o transporte molhado.
• Explorar o uso de águas pluviais sem comprometer a segurança alimentar;
• Instalar grades para reduzir ou evitar a introdução de materiais sólidos no sistema de
drenagem de águas residuais. Instalar bandejas para captar resíduos de operações de
corte em esteiras;
• Certificar-se em testar regularmente a integridade dos tanques de armazenamento a
granel para produtos e resíduos;
• Fornecer contenção secundária para armazenamento e reservatórios de processos para
conter derramamentos;
• Adotar boas práticas de manejo para a limpeza da indústria, através de CIP manuais ou
automatizados, usando químicos aprovados e/ou detergentes com mínimo impacto
ambiental e compatibilidade com os processos de tratamento de águas residuais
subsequentes.
O alto consumo de água de boa qualidade é característica da produção de cervejas. Mais de
90% da cerveja é água, e segundo as diretrizes EHS, uma cervejaria eficiente vai usar entre 4 e 7
litros de água para produzir um litro de cerveja. Além da água para o produto, as cervejarias usam
água para aquecimento e resfriamento, limpeza de embalagens, veículos, entre outros. A água é
também perdida através da fervura do mosto.
As recomendações específicas para consumo e reúso de água para operações de cervejaria
incluem:
• Substituir lavadoras de garrafas antigas por novas lavadoras de garrafas com uso
eficiente de água e energia. Novas máquinas usam muito menos água (cerca de 6 vezes
menos);
• Instalar válvula(s) automática(s) para interromper o suprimento de água quando existir
uma parada de linha de produção;
• Substituir prontamente bocais de lavagem gastos e grandes demais, como indicado por
programas de monitoramento de água, e usar bocais de lavagem em bom estado para
uso;
SETOR DE BEBIDAS
• Usar água doce para apenas os dois últimos bocais de lavagem. Bocais de lavagem
anteriores deveriam reusar água de lavagem em um método de lavagem
contracorrente;
• Otimizar as plantas das indústrias e procedimentos de limpeza no local (CIP) para evitar
perdas desnecessárias de água e químicos de limpeza (por exemplo, economizando
água da última lavagem para usar como a primeira água de lavagem no próximo ciclo
de CIP);
• Avaliar a viabilidade de um sistema de circuito fechado para a água utilizada no processo
de pasteurização, em que a água é recirculada através de uma torre de arrefecimento
e devolvida para o túnel pasteurizador. O tratamento da água recirculante se faz
necessário para prevenir o crescimento de algas e microrganismos, e o risco de
contaminação do produto oriundo da água reciclada deve ser cuidadosamente
gerenciado. Sistemas de reciclagem podem reduzir o consumo de água do túnel
pasteurizador em 80%;
• Recuperar a água de diversas etapas do processo e reusar sempre que possível em
atividades de resfriamento e lavagem, por exemplo;
• Coletar o mosto fraco em um tanque equipado com revestimento de aquecimento e
um agitador em baixa velocidade para usar na próxima fermentação. Isso reduz a carga
orgânica na água residual, economizando matéria-prima e conservando água. A coleta
de mosto fraco é particularmente importante para a produção de cervejas;
• Realizar melhorias processuais para reduzir a quantidade de cerveja residual, tais como
o esvaziamento de tanques, serviços ótimos de limpeza e sistemas de monitoramento
eficientes;
• Garantir a sedimentação de substâncias cáusticas da lavagem de garrafas;
• Coleta e reúso de água de lavagem da última limpeza no primeiro ciclo de limpeza no
local (CIP).
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
10 SETOR DE PAPEL E CELULOSE
Dentre os setores industriais brasileiros, o de papel e celulose está presente em 450 municípios,
17 estados e 5 regiões. O Brasil está entre os maiores produtores mundiais, sendo líder na
produção de celulose de eucalipto 2.
Apesar da retração econômica atual, com a atividade industrial apresentando uma queda de até
9,1%45, o setor de celulose destoa positivamente no cenário nacional, principalmente nos casos em
que o destino da produção é o mercado externo, que, ao contrário do mercado de petróleo, e
minérios, encontra-se aquecido.
Como cerca de 61% da celulose produzida no Brasil é destinada à exportação, enquanto apenas
19% do papel produzido tem o mesmo destino46, a produção de celulose vem propiciando elevação
de receitas, mesmo em cenário de crise nacional.
De acordo com dados da Indústria Brasileira de Árvores – IBA, de janeiro a abril de 2015, a
produção totalizou 5,42 milhões de toneladas, alta de 4,3% em relação ao mesmo período do ano
passado (IBGE, 2015).
O maior responsável pelo bom desempenho da indústria de celulose é a forte desvalorização
cambial, que impulsionou as exportações, levando a um crescimento de 12,7% no volume vendido
no mercado externo, totalizando 3,66 milhões de toneladas.
Já o papel é um segmento que vem sofrendo desaceleração em função da queda na produção
de produtos de gráfica, como revistas, jornais e livros, que acumulam retração no volume de vendas
de 8% em 2015, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE)”.
Em relação ao uso de água no processo industrial, o setor de papel e celulose é considerado
um típico consumidor de água bruta, apresentando cargas elevadas de DQO e sólidos suspensos
em seus efluentes.
O segmento de papel e celulose é considerado uma das principais indústrias poluidoras, atrás
apenas da indústria de cimento, açúcar, termoelétricas, destilarias, fertilizantes, petroquímicas,
mineração, ferro e aço e imediatamente a frente de curtumes, farmacêutica, tintas e corantes têxteis
e pesticidas 3.
45 Soares, P. Crise da indústria afeta 70% dos produtos, segundo IBGE. Publicado em 2 de
abril de 2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/04/1611532-
crise-da-industria-afeta-70-dos-produtos-segundo-ibge.shtml. Acesso em: 18/08/2015. 46 Salgado, 2015. Bom desempenho nas exportações salva indústria de celulose.
http://brasileconomico.ig.com.br/brasil/economia/2015-06-25/bom-desempenho-nas-
exportacoes-salva-industria-de-celulose.html. Acesso em 07/09/2015.
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
Neste setor, a água é usada em abundância em vários processos industriais para a produção de
celulose e de papel, como, por exemplo: em chuveiros, bombas de vácuo, selagem, preparo de
químicos, resfriamento, diluição/Pulper e limpeza.
10.1 Caracterização geral
A indústria de papel e celulose, juntamente com as termoelétricas e a indústria do aço,
pertencem àquelas que mais utilizam água. Enquanto uma indústria de açúcar usa cerca de 15 m³/t
de produto e a de fertilizantes químicos consome mais de 270m³/t de produto, uma indústria que
produz papel comum pode consumir até cerca de 300 m³/t de produto (embora a média seja de 50
m3/t) e uma de papel de alta qualidade necessita de até 1.000 m³ de água por tonelada de produto
produzido, sendo portanto, uma das que mais necessita de água em seus processos 3.
A quantidade e a qualidade de água bruta utilizada diferem de um processo para outro, sendo
que os efluentes gerados por essa indústria possuem alta concentração de químicos como hidróxido
de sódio, carbonato de sódio, sulfeto de sódio, bissulfeto, cloro elementar, dióxido de cloro, oxido
de cálcio, ácido clorídrico (HCl), halogenetos orgânicos, poluentes tóxicos, lama de cal, resíduos de
madeiras, traços de metais pesados e patógenos 3.
A Tabela 18 demonstra os processos industriais de papel e celulose, bem como o consumo de
água em cada um deles.
Tabela 18 – Processos da indústria de papel e celulose com seus respectivos consumos de água.
Processos Consumo de água
m³/ t-1
Polpeamento mecânico 5
Processos quimiotermo-mecânicos (CTMP) 5
Sem branqueamento 15
Com branqueamento 45
Fibra da celulose reciclada
Papeis Kraft 2
Descoloração 10
Fabricação de papel 15
Fonte: Visvanathan e Asano 72 apud UNEP/IE (1996)47
47 UNEP/ IE. (1996). Environmental management in pulp and paper industries. United Nations
Environment Program. Industries and Environment. Technical Report Nº 4.
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
Um grande volume de água advindo dos processos industriais acaba se contaminando através
do contato com outras matérias-primas, subprodutos e com resíduos de forma geral. A Tabela 19
apresenta as principais fontes de águas residuais oriundas da indústria de papel e celulose 72.
Tabela 19 - Processos da indústria de papel e celulose e suas respectivas fontes de água
residuais.
Processo fundamental Fontes de água residual
Preparação da madeira Condensadores e evaporadores, máquinas de
branqueamento e filtração da polpa
Polpeamento Kraft Condensados, evaporadores e trocadores de
calor
Operação das máquinas
de papel Água branca das máquinas de papéis
Fonte: Visvanathan e Asano 72 apud Carmichael & Strzepek (1987) 48
O potencial para a reutilização dos efluentes industriais depende de vários fatores e difere de
acordo com o tipo/tamanho de indústria. Além disso, empresas que consomem mais, possuem um
maior potencial de reutilização interna de água. Na Alemanha, por exemplo, houve uma redução
de 700 L/t de papel fabricado para 7 L/t 72.
De acordo com Amaral 2, é preciso se fazer a distinção entre a gestão de recursos hídricos de
plantas integradas e não integradas. No processo integrado, a polpa é produzida e segue para as
máquinas, com uma consistência de aproximadamente 4% e os efluentes gerados na planta da
celulose e nas máquinas seguem para tratamento numa planta única. Já no caso de plantas não
integradas, a polpa produzida sofre um desaguamento e secagem para posterior comercialização, e
o volume de água utilizado na produção está muito ligado à carga de efluentes descarregada pela
planta da celulose.
Em ambos os casos, o consumo pode ser reduzido através de recirculação interna de água
resfriada. Aliás, O sistema de circulação de massa e água branca49 apresenta importância no quadro
do consumo de água de uma planta, pois permite vários loopings de reúso. O padrão de qualidade
requerido para água fresca segue os parâmetros químicos e microbiológicos da água fornecida pela
ETA.
48 Carmichael J. B.; Strzepek K. M. (1987). Industrial water use and treatment practices.
UNIDO. 49 Água branca ou água de recuperação: é a água recolhida no poço da tela e do rolo
de sucção da mesa plana da máquina, que contém fibras e materiais sólidos em
suspensão. Esta água é usada em vários pontos, como para diluir a matéria prima nova
nos desagregadores, indo o excesso para a instalação de recuperação de fibras
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
10.1.1 Oportunidades e soluções
O investimento em tecnologias de reúso tem como objetivo a minimização dos impactos
ambientais sob corpos d’água, possibilitando dentro do contexto da nova Política de Recursos
Hídricos brasileira, um melhor aproveitamento da vazão outorgada dentro do processo, que traz
não só a redução dos encargos advindos da cobrança sobre os produtos finais, mas também
contribui para uma melhoria na qualidade da água do corpo hídrico e maior oferta de água a ser
outorgada na bacia 2.
Diferentemente dos outros setores discutidos anteriormente, no de papel e celulose não há
legislação específica para o uso e o reúso de água. O processo se adequa à legislação que diz respeito
à emissão de efluentes em corpos receptores e temas relacionados, previstos na Política Nacional
de Recursos hídricos.
Assim o reúso de água neste setor está intrinsecamente relacionado às condições operacionais,
principalmente para a garantia da qualidade do produto final e manutenção do bom funcionamento
dos equipamentos. Para isso, vários parâmetros precisam ser levados em consideração, como:
• Sólidos: a presença de sólidos na água de reúso pode levar a depósitos, desgaste ou
entupimento (no caso de chuveiros) de equipamentos. Partículas muito finas podem
ficar depositadas no trajeto, principalmente nas canalizações e reservatórios.
• pH: deve ser controlado, para evitar, por exemplo, a corrosão dos equipamentos e
tubulações.
• Scaling (Ca): A presença de cálcio pode levar ao depósito e incrustações nas tubulações.
• Cl-, SO4-2: Íons de sulfato e cloreto podem levar à salinização das águas, fenômeno que
afeta as propriedades do papel.
• Condutividade: é um indicador da quantidade de sais presentes na água e,
consequentemente, afeta a taxa de oxidação dos equipamentos.
• Presença de microrganismos: pode levar à formação de limo e mau cheiro originado do
metabolismo de organismos anaeróbios.
• Temperatura: A temperatura entre 28 e 30ºC é ideal para uso em bombas, a fim de
garantir sua máxima eficiência. O uso de água de selagem a 40ºC apresenta uma
eficiência 10% inferior a outra a 28ºC.
• Coloração: tem influência sobre as qualidades óticas do papel, portanto é um parâmetro
muito importante a ser controlado quando se pretende reutilizar uma corrente ou
mistura de efluentes.
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
• Substâncias indesejáveis: podem causar problemas nas diversas etapas do processo
produtivo, mas principalmente durante o preparo de químicos.
A Figura 31 mostra diferentes tecnologias que podem ser utilizadas para o tratamento de
efluentes gerados na produção de celulose e papel, relacionadas à magnitude de seus efeitos de
tratamento, avaliada segundo alguns parâmetros importantes no processo.
Figura 31 - Tipos de tratamento para efluente de indústria de papel e celulose e suas
eficiências relacionadas a diferentes parâmetros (Fonte: Amaral 2008).
Percebe-se que os sistemas de tratamento por membranas são eficientes na remoção de
poluentes. Entretanto, em uma indústria de papel na Turquia, 60% da reciclagem das águas residuais
passam por duas fases de ultrafiltração e osmose reversa, além da flotação por ar dissolvido (FAD).
Esse último tem a vantagem de recuperação da polpa tratada 72.
Hamaguchi 78 relata que a indústria de papel e celulose seria uma das mais desafiadas a utilizar
métodos mais eficientes para problemas relacionados ao alto consumo de água em seus processos
industriais. Dessa forma, ele avalia ferramentas como a análise de circuito de águas por integração
de processos, com o uso de técnicas gráficas, como o “Water Pinch”, também chamado de ponto
de mínimo consumo de água, e técnicas com programação matemática para minimizar o consumo
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
de água pelas indústrias. Essa técnica consiste basicamente no desenvolvimento de um modelo
superestruturado do sistema analisado, que engloba características do processo de forma detalhada,
sendo que devem ser analisados corretamente a mistura das diferentes fontes de água e também
dos diferentes contaminantes oriundos dela.
O uso de modelos para a realização de simulação dos processos na indústria de papel e celulose
já foi relatado por diversos autores, como por exemplo, Leiviskä 79, Dabros, Perrier et al. 80, Turon,
Labidi et al. 81, Hamaguchi 78; mas, assim como avaliou Hamaguchi 78, os valores simulados nem
sempre correspondem à realidade quando são realizados alguns ajustes finos. Entretanto, o método
é válido à medida que há alguma redução do uso da água pela indústria. No caso do trabalho
analisado a redução teórica inicial girava entre 38-40% ao passo que após a inclusão desses ajustes
finos, a redução da água na indústria caiu para 23%. Desta forma, percebe-se que os dados devem
ser coletados de forma eficiente e confiável para serem aplicados no modelo, além de ser
importante definir valores limites para concentração de contaminantes em cada
processo/equipamento, afirma o autor.
Kossar et al. (2013) avaliaram uma proposta de reúso de águas em uma indústria de produção
de celulose e papel Kraft em estudo realizado em Curitiba, no Paraná. Na ocasião, no tratamento
primário da ETE são removidas fibras em condições de serem utilizadas para a produção de papel.
O efluente depois é direcionado à etapa secundária, sendo que o controle do sistema é feito em
função da vazão de reciclo do lodo ativado, para que a partir desta ação sejam monitorados a
relação alimento/microrganismo, a idade do lodo e os sólidos presentes neste sistema. A próxima
etapa efetuada foi a da ultrafiltração, buscando a remoção dos sólidos suspensos presentes no
efluente, vírus e bactérias, sílica coloidal, proteínas e microssolutos.
Oliveira (2003) em estudo realizado no Brasil avaliaram a aplicação de ultrafiltração na
reciclagem de água na indústria de papel e celulose. No experimento, o autor usa a recirculação da
água branca tratada através de um processo de ultrafiltração com membranas poliméricas. O
tratamento removeu 100% dos sólidos em suspensão e acima de 84% da turbidez em todas as águas
brancas tratadas. Porém, o tratamento não removeu a porção solúvel presente na água branca
como já era esperado. Para obter a remoção do cálcio, foi montado um processo combinado através
da precipitação química pela elevação do pH, seguida de ultrafiltração. A qualidade do efluente
tratado cumpre as exigências de qualidades de cada setor e é tecnicamente viável, considerando-se
que as águas brancas testadas não possuem potencial de entupimento de membranas rigoroso
durante três dias de ultrafiltração.
Na cidade de Durango, no México, Bayona-Romero 82 realizaram um experimento biológico
utilizando uma coluna com biofilme de Pseudomonas fluorescens, para reduzir a concentração de
metais pesados de águas residuais provenientes de uma indústria de papel. Foi obtida uma redução
de 99,28% de alumínio, 95,3% de zinco, 90,4% de ferro, 88,54 % de chumbo, 86,04% de cromo,
entre outros elementos. Além disso, houve uma diminuição considerável do odor característico
pela presença de matéria orgânica.
Em estudo desenvolvido em um efluente (água clara) da máquina de papel, em uma unidade
industrial no estado de São Paulo, foram realizados uma série de ensaios de flotação por ar
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
dissolvido, ozonização, flotação seguida de ozonização e ozonização seguida de flotação. A água
tratada apresentava turbidez, cor aparente, DQO e sólidos suspensos totais (SST) baixos, o que
indica uma possibilidade de reúso indireto. Com relação à turbidez e cor, o efluente flotado
apresentou qualidade semelhante à água produzida pela ETA da indústria 83.
A unidade Jacareí da empresa Votorantim Celulose e Papel (VCP) tomou uma série de medidas
para otimização do uso da água e os resultados apresentaram significativos ganhos ambientais. Além
da elevada quantidade de água e efluentes gerados, algumas características químicas dos efluentes
gerados por esse tipo de indústria são potenciais causadores de danos ambientais, como por
exemplo, a presença de compostos orgânicos clorados (AOX) em seus efluentes. Destacam-se as
seguintes tecnologias: cozimento modificado, deslignificação com oxigênio e também o
branqueamento com ozônio. Nesse caso foi obtida uma economia de US$ 3,8 milhões, no período
entre 1998 e 2001, somente com a redução dos gastos com o tratamento de água e dos efluentes
(CETESB 2002).
10.2 Diretrizes técnicas do Banco Mundial
Algumas diretrizes vêm sendo recomendadas para serem adotadas nas indústrias de papel e
celulose de alguns países em desenvolvimento pelo Banco Mundial, através do IFC (International
Finance Corporation), por meio das Diretrizes Ambientais, Saúde e Segurança (EHS –
Environmental, Health, and Safety):
• Descascar a madeira a seco;
• Aplicação de sistemas para coleta e reciclagem de vazamentos temporários e
acidentais de água nos processos;
• Volume suficiente e equilibrado de armazenamento de celulose, tanques de
armazenamento de água branca para evitar ou reduzir descartes da água do
processo;
• Reciclagem de águas residuais, com ou sem a recuperação simultânea de fibras
através do uso de filtros ou processo de flotação;
• Separação de águas residuais contaminadas e não contaminadas com coleta e reúso
de águas de refrigeração;
• A água da chuva das áreas de manipulação de toras e madeiras é considerada
contaminada, sendo necessário o tratamento dos efluentes oriundos desses
processos;
• Como prevenção adicional, minimizar as perdas de rejeitos e maximizar a
recirculação de água em processos de polpação mecânica;
• Aplicação de agentes espessantes para separar a água dos moinhos de papel e
celulose;
• Deslignificação com oxigênio e eficiente lavagem da polpa (Kraft) antes da unidade
de branqueamento;
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
• Separar os sistemas de água das fábricas de papel e das fábricas de celulose, assim
como usar um sistema de água contracorrente das fábricas de papel para as de
celulose para reduzir a água total gasta, os sólidos suspensos totais e os compostos
orgânicos dissolvidos;
• Reciclagem da água branca, com recuperação das fibras por meio de filtros de disco,
de tambor ou unidades de microflotação e minimização do número de pontos de
entrada de água doce para o sistema de água branca;
• Tratamento separado de águas residuais de revestimento, por exemplo, por
ultrafiltração – reciclando os produtos químicos de revestimento;
• Substituição de processos químicos potencialmente prejudiciais por alternativas
menos nocivas.
CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
11 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
11.1 Considerações finais
Apesar da crise econômica atual estar devidamente consolidada e afetar a produção de diversos
setores industriais, é preciso lembrar que a escassez hídrica ou mesmo o aumento dos custos de
obtenção de água são ameaças reais, que podem comprometer ainda mais a capacidade produtiva
e a renda no setor industrial, além de provocar outros prejuízos econômicos e sociais. Em outras
palavras, a preocupação com o uso racional, eficiente e viável dos recursos hídricos precisa ser
incorporada ao cotidiano das indústrias e também ao relacionamento da Fiep com as indústrias a
ela associadas.
Como demonstrado no produto "A água no setor industrial da região do Alto Iguaçu e dos
afluentes do Alto Ribeira: em busca de alternativas para o uso mais eficiente", desenvolvido pela
Plankton Soluções em Meio Ambiente e realizado em conjunto com a Fiep, a água atualmente ainda
é um insumo considerado de baixo ou de baixíssimo custo para as indústrias. Mas, repetindo-se o
que foi dito ao longo desse trabalho, essa situação deverá mudar irreversivelmente e o custo da
água deverá deixar de ser apenas marginal, para constituir um elemento significativo de custo no
processo industrial.
Contudo, como no Brasil o planejamento é quase sempre atropelado pela urgência dos fatos, é
compreensível que diante de um cenário de forte crise econômica e política, com elevação
significativa dos custos de energia e, de outro lado, com os custos para obtenção de água em
patamares pouco significativos, que o setor industrial venha, de fato, a se preocupar com os riscos
de escassez hídrica.
Diante desse cenário, também não poderia se esperar que as indústrias investissem em
melhorias ou no desenvolvimento dos sistemas de gestão ambiental; na racionalização do consumo
de água; na diminuição dos volumes de efluentes gerados; no reúso de água; na captação, no
tratamento de água de chuva ou mesmo na conservação e otimização de seus recursos hídricos.
A implementação de projetos de reúso de água nos setores industriais envolve custos e, na
maioria dos casos, os valores pagos atualmente pela água não justificam os investimentos
necessários para se tratar a água. A menos, é claro, que a oferta de água caia e os custos aumentem
significativamente.
Isso não exime, porém, o sistema Fiep de se estruturar para antever, prevenir e se preparar
para atender as indústrias associadas em um cenário de crise hídrica no estado do Paraná.
Dentre os três setores analisados no presente documento (alimentos, bebidas e papel e
celulose), observaram-se duas situações distintas. Nos dois primeiros casos, a exigência de
potabilidade da água utilizada em praticamente todo o processo industrial limita sobremaneira o
estabelecimento de práticas mais adequadas e a conservação e o uso racional dos recursos hídricos.
CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
A regulamentação que incide sobre esses setores, via de regra, foi feita em épocas em que a
crise hídrica só era algo comum para determinadas zonas do Nordeste brasileiro e não para
enfrentar uma situação em que a principal região industrial do país padece com a falta de água.
O Brasil tem rígidas regras para o tratamento da água coletada em rios e mananciais. O
processo é regulamentado pelo Ministério da Saúde e prevê, entre outras coisas, análise da água
nas fases de tratamento e de distribuição. Ao todo, são 76 procedimentos feitos durante o processo
de tratamento. Depois de tratada, a água recebe cloro, flúor e outros componentes químicos que
garantem sua potabilidade.
Mas, ressalta-se, esse processo de transformação de água bruta em água potável é uma dentre
as inúmeras soluções tecnológicas existentes atualmente. Com as ocupações irregulares cada vez
mais frequentes das áreas de mananciais, com o uso de pesticidas, com a contaminação química das
águas (inclusive com hormônios e outras substâncias que não são eliminadas no processo de
tratamento), o conceito de potabilidade poderá ser revisto, com necessidade de modificações na
tecnologia de tratamento e encarecimento do produto final para todos os consumidores. Por esse
motivo, não há justificativas plausíveis para limitar o uso da tecnologia de uso e reúso de água no
âmbito industrial.
A regulamentação atual precisa revista. As imensas limitações para o reúso de água ou para
utilização da água de chuva em processos industriais devem ser revertidas. E não se sugere isso
como forma de diminuir o rigor com a qualidade dos produtos produzidos, pelo contrário.
Rediscutir essas limitações é o caminho mais adequado para que, em um cenário de crise, os
padrões de qualidade não sejam simplesmente ignorados por falta de opções.
Há a necessidade de estabelecimento de padrões de qualidade de água de reúso para as
diferentes finalidades industriais, a difusão desses padrões e a aplicação segura de técnicas de reúso.
Em muitos casos há a possibilidade de riscos à saúde humana quando da aplicação de práticas
de reúso e isso deve ser tratado com cautela. Qualquer critério sugerido para reúso deve ser
pautado em análises de riscos e em evidências epidemiológicas. A aplicação de tecnologias de reúso
não pode conduzir a uma abordagem simplista do problema, o que poderia resultar em riscos para
a saúde da população usuária.
Mas, por outro lado, não há nenhum sentido em se obrigar o uso de água potável em uma
esteira transportadora de penas em um abatedouro de aves. Ou se definir a quantidade mínima de
água que precisa ser utilizada no processamento de um frango ou de um suíno. Deve-se normatizar,
sim, os parâmetros de qualidade e de inocuidade dos produtos finais, mas não os processos para se
chegar a esses padrões de qualidade.
Então, tem-se a seguinte situação: de um lado a adoção de parâmetros muito restritivos,
relacionados ao conceito de risco zero, pode inviabilizar a aplicação de técnicas de reúso. De outro,
considerar o reúso ou o tratamento e uso da água de chuva uma panaceia pode induzir a práticas
inseguras. Assim, o principal desafio está na definição de parâmetros adequados às realidades locais
baseado no conceito de risco tolerável.
CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
O grande problema é o suporte que qualquer decisão nesse sentido necessita para que seja
eficaz: definir um arcabouço normativo e legal adequado aos objetivos a serem atingidos; existência
de profissionais qualificados para atuar no controle das suas execuções; além de um programa de
intervenção bem elaborado por parte dos usuários interessados. O setor industrial seria um dos
principais usuários a se beneficiar dessa ferramenta de reúso da água ou de utilização da água de
chuva, podendo investir em melhorias no processo produtivo, com a possibilidade (se isso for
incorporado ao processo normativo) de poder deduzir diretamente os investimentos do montante
a ser pago pelo uso da água.
Contudo, como todo e qualquer processo de alteração de leis ou mesmo de normas técnicas
é extremamente demorado e complexo, essa discussão, que é mais política do que técnica, tem que
começar o mais cedo possível.
Já em relação à indústria de papel e celulose, a situação é mais cômoda. As principais limitações
para o reúso da água no processo industrial são de caráter técnico e não normativo ou legal. Com
isso, cabe ao próprio setor buscar alternativas para seus problemas e desafios, sem precisar da
interveniência mais incisiva da Fiep ou de outros entes externos.
ENTREVISTA COM O PRESIDENTE
12 ENTREVISTA COM O PRESIDENTE
Edson Luiz Campagnolo é um empreendedor
por natureza. Nascido em 1959, em Francisco
Beltrão, iniciou sua vida empresarial ainda jovem, há
mais de 30 anos, ajudando a administrar uma
pequena malharia montada por sua mãe na própria
casa da família, em Curitiba, para onde haviam se
transferido. Depois de experiências no comércio, em
1990 fundou a Rocamp, com sede em Capanema,
Sudoeste do Paraná. A pequena fábrica cresceu ao
investir na produção de peças para o mercado
corporativo. Atualmente, as empresas Rocamp e Logic, além de seguirem atuando no setor
corporativo, fornecem para grandes marcas mundiais do segmento esportivo. A companhia conta
com mais de 300 colaboradores, responsáveis pela produção de 70 mil peças ao mês nas unidades
fabris instaladas em Capanema, Santo Antônio do Sudoeste, Planalto e Itaipulândia. Campagnolo é
presidente da Fiep desde outubro de 2011.
Como a Fiep se relaciona com as
indústrias e até que ponto as
representa?
A gente costuma dizer que a Fiep defende
o interesse de 52.000 CNPJs. Na verdade são
47.000 indústrias que, com o com suas filiais
chegam a 52.000 CNPJs, distribuídos em 109
sindicatos empresariais e industriais. De
forma compulsória, eles recolhem as
contribuições confederativas. Então a Fiep
entende que todos esses sindicatos e setores
produtivos e industriais estão, sim,
representados e faz a defesa de seus
interesses nos mais diversos organismos e
áreas.
E até que ponto as indústrias se sentem
representadas pela Fiep?
Acho que essa é uma pergunta que nunca
ninguém me fez. Eu digo que pode até haver
controvérsias, mas penso que as indústrias
deveriam, sim, sentir-se representadas. Até
porque está muito claro que tudo o que gente
fala não tem nenhum tipo de ideologia ou de
lado a ser tomado. A gente está transitando
em um ambiente democrático, convivendo
com toda a sociedade. Talvez se fossemos
A disponibilidade de água para a nossa geração é resultado de um
processo de milhões de anos e precisamos pensar na nossa
responsabilidade com as gerações futuras.
ENTREVISTA COM O PRESIDENTE
fazer uma pesquisa, haveria respostas dizendo
que um ou outro setor não se sinta
representado. Mas, se a mesma pesquisa fosse
feita há 10 anos, há três anos e agora, ela
mostraria que essa percentagem vem
diminuindo e o setor industrial se sinta, de
fato, cada vez mais representado pela Fiep.
Qual é a visão do presidente da Fiep
sobre as questões ambientais e, de
forma mais específica, a questão da
água no setor industrial?
A água como bem comum e como uma
dádiva, precisa ter um uso racional. Assim,
todas as pessoas, tanto na indústria quanto
individualmente, tem a responsabilidade de
fazer a sua parte. A disponibilidade de água
para a nossa geração é resultado de um
processo de milhões de anos e precisamos
pensar na nossa responsabilidade com as
gerações futuras.
O Sr. Considera que a questão da água
ainda não é encarada pelas indústrias
como algo verdadeiramente relevante
ou um tema tratado ainda
individualmente pelas indústrias?
Essa cultura está crescendo. Eu diria que
hoje ela não é pontual, mas sim setorial. Existe
hoje um aumento da pressão pelo uso
racional dos recursos naturais e as indústrias
acabam procurando ajuda para lidar com tais
questões.
A situação atual vivida na região
Sudeste e, mais especificamente no
estado de São Paulo, de alguma forma
preocupa os industriais paranaenses?
Talvez as indústrias paranaenses ainda
não tenham se dado conta do tamanho do
problema. Mas, certamente hoje a
preocupação é maior. Acendeu uma luz
amarela, literalmente. Eu considero que se o
tema não estava sendo tratado com a devida
atenção pelas indústrias, o caso de São Paulo
coloca o tema como algo recorrente de agora
para frente.
Existe alguma pressão efetiva do
mercado ou da sociedade sobre a
questão da água e de utilização de
recursos naturais, ou esse tema ainda se
limita à legislação e às pressões do
Estado?
Entendo que esse é ainda um tema novo,
mesmo para o mercado ou para sociedade.
Ele começou a ser tratado quando levantado
pelo Al Gore (ex vice presidente americano,
autor do documentário "Uma verdade
inconveniente"). Aquilo criou inicialmente um
pânico e que logo se mostrou exagerado.
Agora, com a questão das usinas hidrelétricas
e da questão energética, que está
intimamente ligada, a preocupação chega às
indústrias.
A maioria das indústrias que respondeu
ao questionário afirmou que a cobrança
pelo uso da água não incentiva a busca
A cobrança tem que servir de instrumento de conscientização e os
recursos captados inteiramente destinados a investir nos próprios
problemas da bacia hidrográfica.
ENTREVISTA COM O PRESIDENTE
por melhorias no processo industrial.
Em 2013 o Comitê de Bacias do Alto
Iguaçu arrecadou pouco mais R$
900.000 pelo uso da água, o que
equivale, média a pouco mais de R$
1.000,00/mês por indústria. Como o sr
avalia a questão da cobrança pelo uso
da água pelas empresas?
Eu considero que a cobrança deva
acontecer. Agora, o valor dela deve ser
discutido. Ainda que estejamos falando em
média, R$ 1.000,00 por mês para um pequena
empresa pode ser muito. Além disso, a
cobrança não deve ser feita de modo que o
Estado vá ter nisso uma nova fonte de receita.
A cobrança tem que servir de instrumento de
conscientização e os recursos captados
inteiramente destinados a investir nos
próprios problemas da bacia hidrográfica.
Dezoito das vinte indústrias que
responderam ao questionário
afirmaram desconhecer a destinação
dos recursos arrecadados pela cobrança
pelo uso da água. Há uma falta de
interesse das indústrias em participar
desse processo ou é um sinal de que a
cobrança pelo uso da água é encarada
apenas como mais uma taxa a ser paga
e cujos valores serão naturalmente
incorporados aos preços finais dos
produtos?
É mais ou menos por aí. Mas, entendo
que isso passa por uma questão chave:
precisamos discutir qual é o tamanho do
estado que a gente quer. O estado age hoje
criando burocracias. Da parte das empresas,
elas começam a procurar meios para superar
isso. Mas, isso não acontece apenas na
questão ambiental. Em todas as áreas, as
empresas precisam buscar meios para ser
competitivas. Só que quando as indústrias
colocam toda essas burocracias criadas pelo
Estado em seus custos, elas deixam de ser
competitivas. Então, a pergunta que
precisamos fazer é: qual é o modelo de estado
que queremos? Qual é o modelo queremos
adotar para que a indústria brasileira seja mais
competitiva? Hoje, estamos sendo
atropelados por essa discussão de
sustentabilidade mundial. Mas, não se têm
criados meios para que as indústrias possam
de fato de adaptar. Por exemplo, podemos
analisar o caso da China. Aparentemente, ela
parece começar a fazer o dever de casa, com
uma nova legislação ambiental muito mais
rigorosa. Mas, ao mesmo tempo, vem
transferindo suas principais indústrias
poluidoras para outros países da Ásia, como
o Vietnam, Bangladesch. Ou seja, estão
exportando o abacaxi e se modernizando
internamente. Ainda assim, o que estão
fazendo internamente não representa nada se
comparado ao passivo ambiental que eles
têm. Portanto, essa discussão passa
fundamentalmente pelo modelo de Estado
que queremos.
Quando as indústrias colocam toda essas burocracias criadas pelo
Estado em seus custos, elas deixam de ser competitivas. Então, a
pergunta que precisamos fazer é: qual é o modelo de estado que
queremos?
ENTREVISTA COM O PRESIDENTE
A maioria das indústrias afirmou que
investiu no aperfeiçoamento de
processos relacionados ao uso de água
ou ao tratamento de efluentes nos
últimos 3 anos. A água é considerada
como um insumo de valor econômico
pelas indústrias ou esse investimento
ainda é fruto apenas de uma pressão da
legislação ambiental?
De fato, a água ainda não é encarada pela
maioria das indústrias como algo de valor
econômico. Há menos de 15 anos falar em
uma Agência Nacional de Águas pareceria ser
algo tão absurdo como se criar uma Agência
Nacional do Ar. Ou seja, esse é um processo
muito recente. Ainda não há uma cultura
formada sobre o tema.
Qual é a contribuição às empresas
associadas que a Fiep pode ou que
pretende dar em relação às questões
ambientais e, mais especificamente, em
relação ao tema Água nos próximos
anos?
Em todas as condições de mercado que a
Fiep atua, ela oferece condições diferenciadas
para que as empresas se habilitem e busquem
os serviços do Sistema Fiep, que lhes serão
ofertados de forma subsidiada. Portanto, o
Sistema Fiep, principalmente através do Senai,
está à disposição das empresas e nós estamos
dispostos a fazer também investimentos.
Contudo, é preciso lembrar que nós temos
um número muito grande empresas
associadas. Tão grande que nós não temos
condições de acesso a todas. Porém, elas têm
nosso endereço. Quando a legislação
começar a bater às suas portas, elas irão
buscar as informações e perceberão que aqui
encontrarão um parceiro. Mas, é importante
que as empresas entendam também que têm
grande responsabilidade em todo esse
processo aqui discutido. Não adianta uma
empresa apenas exigir os favores do estado
para se estabelecer. As empresas também
precisam investir. A Fiep sempre estará aqui
para ajudar.
Como a Fiep está estruturada ou
pretende se estruturar para poder
desempenhar tal função?
A gente tem que acompanhar e, se não
está interferindo, precisa se envolver mais
com a definição de políticas públicas. Se o
setor não se envolve mais ativamente, corre
o risco de ter que lidar com exigências que
tornem o processo produtivo proibitivo.
Então é necessário acompanhar e construir as
políticas públicas. Mas, é importante ressaltar,
que com o aumento da demanda por ações
ambientais, não caberá apenas à Fiep e ao
Senai prestar esse serviço, pois isso também
criará um cenário para que empresas dos
setores de prestação de serviço se insiram.
Ou seja, o mercado acaba se regulando.
ANEXO I
13 ANEXO I
QUESTIONÁRIO APLICADO AOS REPRESENTANTES DAS INDÚSTRIAS
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO I
ANEXO II
14 ANEXO II
QUESTIONÁRIO APLICADO AOS REPRESENTANTES DA Fiep
ANEXO II
ANEXO II
ANEXO II
ANEXO II
ANEXO II
ANEXO II
ANEXO II
REFERÊNCIAS CITADAS
15 REFERÊNCIAS CITADAS
1 CERVIERI JÚNIOR, O. et al. O setor de bebidas no Brasil. BNDES, 2012.
2 AMARAL, K. J. Uso de água em indústria de papel e celulose sob a ótica da
gestão de recursos hídricos 2008. 187 p. (Tese de doutorado). Programa de
Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
3 RANADE, V. V.; BHANDARI, V. M. Chapter 1 - Industrial Wastewater Treatment,
Recycling, and Reuse: An Overview. In: BHANDARI, V. V. R. M. (Ed.). Industrial
Wastewater Treatment, Recycling and Reuse. Oxford: Butterworth-
Heinemann, 2014. p.1-80. ISBN 978-0-08-099968-5.
4 ÁGUASPARANÁ; LTDA, F. E.; PARANÁ, I. D. Á. D. Finalização do Plano das
bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira. Relatório Técnico Produto
10 - Versão 01,
http://www.aguasparana.pr.gov.br/arquivos/File/COALIAR/Publicacoes/pl
ano_de_bacias/finalizacao_plano.pdf, 2013. Acesso em: 16/03/2015.
5 BRASIL. Decreto nº 6.871, de 4 de junho de 2009. MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO 2009.
6 ANTARCTICA. Manual de Métodos Físico-Químicos: Controle de Produtos. In:
(Ed.). São Paulo, v.4, 1999. p.Paginação irregular.
7 BRASIL. Portaria n° 544, de 16 de novembro de 1998. MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO 1998.
8 ALVES, T. A. Aplicação de tecnologia para reuso de água na indústria de
refrigerantes. 2012. 91 f Dissertação (Mestrado). Pós-graduação em
Tecnologia ambiental, Universidade de Ribeirão Preto
9 BEVTECH, O. P. D. B. Tratamento de água. http://bevtech.com.br, 2005.
Acesso em: 11/10/2014.
10 HUTCHINSON, R.; MCCARTHY, W. Water Treatment. In: MITCHELL, A. J. (Ed.).
Formulation and Production of Carbonated Soft Drinks. Glasgow: Blackie,
1990. p.16-36.
REFERÊNCIAS CITADAS
11 CETESB. Cervejas e Refrigerantes, Série P+L. São Paulo, p.58 p. 2005
12 REINO UNIDO; DEPARTMENT OF TRADE AND INDUSTRY; DEPARTMENT OF
ENVIRONMENT TRANSPORT AND REGIONS. Reducing water and effluent costs
in breweries. Londres, p.47. 1998
13 CETESB. Nota técnica sobre tecnologia de controle: Fabricação de cervejas
e refrigerantes, NT- 24. São Paulo, p.27. 1992
14 AGÊNCIA Fiep. Sindibebidas-PR é homenageado pelo projeto Central de
Valorização de Materiais Recicláveis.
http://www.agenciaFiep.com.br/noticia/sindibebidas-pr-e-homenageado-
pelo-projeto-central-de-valorizacao-de-materiais-reciclaveis/, 2011.
Acesso em: 18/03/2015.
15 BEM PARANÁ, P. L. Hugo Cini S.A. - Indústria de Bebidas e Conexos - Balanço
Patrimonial 2013.
http://www.bemparana.com.br/imagens/publicidade_legal/2012/0603-
16.pdf, 2012. Acesso em: 16/03/2015.
16 KRIEGER, E. I. F. Avaliação do Consumo de água, racionalização do uso e
reúso do efluente liquido de um frigorifico de suínos na busca da
sustentabilidade socioambiental da empresa. 2007. Tese (Doutorado).
UFRGS, Porto Alegre.
17 GERLOFF, J. Reutilização de água de resfriamento de carcaças de frango.
2008. Dissertação (Mestrado). UFSC, Florianópolis.
18 ROSSO, A.; MUCELIN, A. Redução e Reúso de água em processos de abate
e industrialização de aves. 2011. TCC (Bacharel). UTFPR, Medianeira.
19 MUNASINGHE, M. Environmental Economics and Sustainable Development.
3 ed. Washington D.C.: World Bank, 1997.
20 BROMLEY, D. W. Handbook of Environment Economics. Blackwell:
Cambridge: 705 p. 1995.
21 MAIA, A. G. Valoração de recursos ambientais. 2002. 199 f. Dissertação
(Mestrado). Programa de Pós-graduação em Economia, Instituto de
Economia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
REFERÊNCIAS CITADAS
22 TUCCI, C. E. M. Desenvolvimento dos recursos hídricos no Brasil. Porto Alegre,
p.28. 2004
23 MAIA, A. G.; ROMEIRO, A. R.; REYDON, B. P. Valoração de recursos
ambientais – metodologias e recomendações. Unicamp. Campinas, SP.
2004
24 ROGERS, P.; SILVA, R. D.; BHATIA, R. Water is an economic good: How to use
prices to promote equity, efficiency, and sustainability. Water Policy, v. 4, n.
1, p. 1-17, // 2002. ISSN 1366-7017. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1366701702000041 >.
25 SANTOS, M. D. O. R. M. D. O impacto da cobrança pelo uso da água no
comportamento do usuário. 2002. 201 Tese (Doutorado). Curso de
Engenharia Civil, Coppe, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro.
26 PEDRAS, E. V.; MAGALHÃES, P. C. D.; AZEVEDO, J. P. S. D. Avaliação do
impacto da cobrança pelo uso da água em alguns setores industriais da
bacia do rio Paraíba do Sul. XV Simpósio Brasileiro De Recursos Hídricos.
Curitiba: ABRH 2003.
27 MARTINEZ JUNIOR, F.; LAHOZ, F. C. C. A cobrança pelo uso da água nas
bacias hidrográficas do Piracicaba, Capivari e Jundiaí – Aplicação e
Perspectivas. XVII Simpósio Brasileiro De Recursos Hídricos. João Pessoa:
ABRH 2006.
28 TEIXEIRA, A. D. F.; LANA, Â. M. Q.; SILVA, D. D. D. Desenvolvimento de matriz
de coeficientes técnicos para recursos hídricos no Brasil.
http://www.mma.gov.br/estruturas/161/_publicacao/161_publicacao2103
2012055532.pdf, 2011. Acesso em: 16/03/2015.
29 OSTRENSKY, V. P. Mapa das Empresas Outorgantes de Captação.
http://batchgeo.com/map/bd2da1f25136f2550f4ab83523c880a7 2014.
30 ______. Mapa das Empresas Outorgantes de Lançamento de Efluentes.
http://batchgeo.com/map/9fb39774496e0772470caee4f400833b 2014.
31 ABCP. Indústria do cimento brasileira é a mais ecoeficiente do mundo.
http://www.abcp.org.br/conteudo/imprensa/industria-do-cimento-
REFERÊNCIAS CITADAS
brasileira-e-a-mais-ecoeficiente-do-mundo#.VQc5q47aTQp, 2012. Acesso
em: 16/03/2015.
32 CASADO, E. A. D. S. et al. Redução do Consumo de Água na Indústria de
Bebidas XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos. São Paulo: ABRH: 14 p.
2007.
33 SAPPI. Water Use and Treatment in the Pulp and Paper Industry. Sappi. Boston,
p.1 - 7. 2012
34 BOSON, P. H. G. Estudo Prospectivo do Setor Siderúrgico. Brasília, p.64. 2008
35 MONTEIRO, J. P. et al. Gerenciamento de água na indústria de refino de
petróleo. Revista e Portal Meio Filtrante.
http://www.meiofiltrante.com.br/materias_ver.asp?action=detalhe&id=342
&revista=n29 2007.
36 GLEICK, P. H. et al. Waste Not, Want Not: The Potential for Urban Water
Conservation in California. http://www.pacinst.org/wp-
content/uploads/sites/21/2013/02/waste_not_want_not_full_report3.pdf,
2003. Acesso em: 16/03/2015.
37 ANP. Produção nacional de derivados de petróleo (barris).
http://www.anp.gov.br/?pg=64555&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cach
ebust=1410870714964, 2015. Acesso em: 16/03/2015.
38 INDEX-MUNDI. Petróleo bruto Preço Mensal.
http://www.indexmundi.com/pt/pre%C3%A7os-de-
mercado/?mercadoria=petr%C3%B3leo-bruto&moeda=brl, 2015. Acesso
em: 16/03/2015.
39 MILI S/A. Balanço Patrimonial 2013.
http://www.valor.com.br/sites/default/files/upload_element/23-04-mili-
balanco.pdf, 2013. Acesso em: 16/03/2015.
40 AMANHÃ, R. Ranking Regional de empresas do Paraná.
http://www.amanha.com.br/grandes20anos/?b=1&nome;=&setor;=&estad
o=PR&cidade, 2010. Acesso em: 16/03/2015.
REFERÊNCIAS CITADAS
41 ACSP. Balanço Anual - Melhores dos Maiores.
http://issuu.com/diario_do_comercio/docs/melhores_dos_maiores_2013__p
ag_193_, 2013. Acesso em: 16/03/2015.
42 REVISTA EXAME. Maiores empresas do Brasil em 2013.
http://exame.abril.com.br/negocios/melhores-e-
maiores/empresas/ficha/whb-fundicao/2013, 2013. Acesso em:
16/03/2015.
43 IGUAÇU CELULOSE PAPEL S/A. Ata da 44ª Reunião do Conselho de
Administração. http://cvmautomatico.mz-
ir.com/Download.aspx?id=245998, 2010. Acesso em: 16/05/2015.
44 INDEX-MUNDI. DAP fertilizer Monthly Price.
http://www.indexmundi.com/commodities/?commodity=dap-fertilizer,
2014. Acesso em: 16/03/2015.
45 WORLD STEEL PRICES. World Carbon Steel Prices.
http://www.worldsteelprices.com/, 2014. Acesso em: 16/03/2016.
46 CENTRO DE INTELIGÊNCIA EM FLORESTAS. Preço de Produtos - Celulose - Fibra
Longa (Estados Unidos). http://www.ciflorestas.com.br/dado.php?id=52,
2014. Acesso em: 17/03/2015.
47 INDEX-MUNDI. Rubber Monthly Price.
http://www.indexmundi.com/commodities/?commodity=rubber, 2014.
Acesso em: 16/03/2015.
48 ARESB. Preço médio resina.
http://www.aresb.com.br/precomediodaresina/index.html, 2014. Acesso
em: 16/03/2015.
49 ORSE. Pesquisa de Insumos.
http://187.17.2.135/orse/insumosargumento.asp?tarefa=consultar, 2014.
Acesso em: 16/03/2015.
50 CBIC. Consumo, Produção e Valores de Materiais de Construção.
http://www.cbicdados.com.br/menu/materiais-de-construcao/cimento,
2014. Acesso em: 16/03/2015.
REFERÊNCIAS CITADAS
51 ICAMINHÕES. Volvo VM 220 2015.
http://caminhoes.icarros.com.br/volvo/vm-220, 2015. Acesso em:
16/03/2015.
52 PEREIRA, J. S. A cobrança pelo uso da água como instrumento de gestão
dos recursos hídricos: da experiência francesa à pratica brasileira. 2002. 190
Tese (Doutorado). Curso de Engenharia, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre.
53 BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Brasília 1997.
54 AGENCE DE L'EAU RHIN MEUSE. Pourquoi les redevances ? , http://www.eau-
rhin-meuse.fr/les_redevances, 2013. Acesso em: 16/03/2015.
55 MIERZWA, J. C.; HESPANHOL, I. Água na indústria: uso racional e reúso.
Oficina de Textos, 2005.
56 ABNT. NBR nº 13.969: Tanques sépticos – Unidade de tratamentos
complementar e disposição final dos efluentes líquidos. Projeto, construção
e operação. TÉCNICAS, A.-A. B. D. N. Rio de Janeiro: 60 p. p. 1997.
57 BLUM, J. R. C. Critérios e padrões de qualidade da água. In: MANCUSO, P.
C. S. e SANTOS, H. F. (Ed.). Reuso de água: Manole, 2003. p.125-174.
58 GIACCHINI, M. Uso e reúso da água. Série de Cadernos Técnicos do CREA-
PR, 2010. 32 p.
59 PUB. Overseas Examples. Cingapura, 2010. Disponível em: <
http://www.pub.gov.sg/water/newater/overseas/Pages/default.aspx >.
Acesso em: 19/08/2015.
60 HESPANHOL, I. Potencial de reúso de água no Brasil: agruicultura, indústria,
municípios e regarca de aquíferos. In: MANCUSO, P. e SANTOS, H. D. O. (Ed.).
Reúso de água. Barueri-SP: Manole (USP), 2003.
61 ALMEIDA, R. G. D. Aspectos legais para a água de reuso. Revista VÉRTICES.
Campos dos Goytacazes/RJ. 13: 31-43 p. 2011.
REFERÊNCIAS CITADAS
62 TAY, J.-H.; JEYASEELAN, S. Membrane filtration for reuse of wastewater from
beverage industry. Resources, Conservation and Recycling, v. 15, n. 1, p. 33-
40, 10// 1995. ISSN 0921-3449. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0921344995000128 >.
63 NORONHA, M. et al. Treatment of spent process water from a fruit juice
company for purposes of reuse: hybrid process concept and on-site test
operation of a pilot plant. Desalination, v. 143, n. 2, p. 183-196, 5/20/ 2002.
ISSN 0011-9164. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0011916402002394 >.
64 BLÖCHER, C. et al. Recycling of spent process water in the food industry by
an integrated process of biological treatment and membrane separation.
Desalination, v. 144, n. 1–3, p. 143-150, 9/10/ 2002. ISSN 0011-9164. Disponível
em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S001191640200303X >.
65 SIEMENS. Water reuse: Snack food maker cuts water use. Filtration +
Separation, v. 49, n. 4, p. 44, 7// 2012. ISSN 0015-1882. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S001518821270201X >.
Acesso em: 2012/8//.
66 TOMAZ, P. Economia de água para empresas e residências: um estudo
atualizado sobre o uso racional de água. Água, usos e reusos. São paulo:
Navegar, 2001.
67 PORTAL BRASIL. Construção de cisternas. Observatório da Seca,
http://www.brasil.gov.br/observatoriodaseca/construcao-cisternas.html,
2014. Acesso em: 16/03/2015.
68 GOEDERT, M. D. L. Estudo da viabilidade do aproveitamento de águas
pluviais em diferentes indústrias do oeste do Paraná. 2012. (Bacharel em
Engenharia de Produção). Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Medianeira.
69 REINKE, C. D. Projeto Água Viva da Coopavel é exemplo de preservação do
meio ambiente. Jornal da Coopavel. Cascabel: 20 p. 2014.
70 FIRJAN, S. Manual de conservação e reúso de água na indústria. FIRJAN, S.
Rio de Janeiro 2015.
REFERÊNCIAS CITADAS
71 IBGE. Indicadores IBGE - Pesquisa Industrial Mensal Produção Física - Brasil
(junho 2015). p.41. 2015
72 VISVANATHAN, C.; ASANO, T. The Potential for Industrial Wastewater Reuse.
In: (Ed.). Wastewater recycle, reuse and reclamation: Encyclopedia of Life
Support Systems (EOLSS), v.1, 2004. p.14.
73 IBGE. Pesquisa Industrial - Empresa 2011.
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pia/empres
as/2011/defaultempresa.shtm, 2011. Acesso em: 07/09/2015.
74 DALLBAUMAN, L. Identifying Water Streams for Reuse in Beverage Facilities:
PepsiCo ReCon Tool. In: EPA (Ed.). 2012 Guidelines for Water Reuse, 2012.
75 EPA. 2012 Guidelines for Water Reuse. U.S. Environmental Protection
Agency, National Risk Management Research Laboratory, U.S. Agency for
International Development, 2012. 643 p. Disponível em: <
http://nepis.epa.gov/Adobe/PDF/P100FS7K.pdf >. Acesso em: 26/08/2015.
76 DARSHANE, D. V. et al. Recovery and Reuse of Beverage Process Water. In:
EPA (Ed.). 2012 Guidelines for Water Reuse, 2012.
77 MIYAKI, H. et al. Water recycling by floating media filtration and
nanofiltration at a soft drink factory. Desalination, v. 131, n. 1–3, p. 47-53,
12/20/ 2000. ISSN 0011-9164. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0011916400900055 >.
78 HAMAGUCHI, M. Análise do circuito de água em processo de fabricação
de papel imprensa integrada com produção de pastas termomecânicas.
2007. 162 p. Dissertação (Mestrado). Departamento de Engenharia
Química, Universidade de São Paulo, São Paulo.
79 LEIVISKÄ, K. Simulation in Pulp and Paper Industry. University of Oulu, Control
Engineering Laboratory. Linnanmaa, p.55 p. 1996
80 DABROS, M. et al. Model-based direct search optimization of the broke
recirculation system in a newsprint mill. Journal of Cleaner Production, v. 13,
n. 15, p. 1416-1423, 12// 2005. ISSN 0959-6526. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959652605001046 >.
REFERÊNCIAS CITADAS
81 TURON, X.; LABIDI, J.; PARIS, J. Simulation and optimisation of a high grade
coated paper mill. Journal of Cleaner Production, v. 13, n. 15, p. 1424-1433,
12// 2005. ISSN 0959-6526. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959652605001113 >.
82 BAYONA-ROMERO, B. N., S. G. SÁNCHEZ-NEVÁREZ, E. S. CISNEROS-ZAMORA,
J. A. ESCOBEDO-CARREÓN, M. C. T. MOORILLÓN-PIEDRA, R. MUÑOZ-RÍOS, B.
E. GARCÍA-CABALLERO AND G. ENRÍQUEZ-FLORES. Tratamiento biológico del
agua residual procedente de una industria papelera mediante la utilización
de una columna empacada. Revista Latinoamericana de Recursos
Naturales, v. 5, p. 180-185, 2009.
83 CONSTANZI, R. N.; DANIEL;, L. A.; REALI, M. A. P. Tratamento de efluentes de
fábrica de papel por processos físico-químicos empregando flotação por ar
dissolvido e ozônio. XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária
e Ambiental. Rio Grande do Sul. 2000.
Top Related