III Simpósio de Psicologia Hospitalar do Centro-oeste Mineiro:
daquilo que se repete: o sujeito e seus tropeços
Alexandre Simões
Abril de 2012
Transferência:
via de saída deste circuito
Ontem:
O automaton deve possibilitar a tiquê
Repetição, em Freud, surge em detrimento à
rememoração.
Lembremo-nos que a rememoração, no ambiente
da Primeira Tópica, é tomada como fator de
avanço da análise
Modelo do Narcisismo: o eu, o objeto e a reversão da libido
Mas, notemos que em Freud a rememoração não se esgota nas
reminiscências:
Por meio das primeiras considerações possibilitadas pela cena clínica do narcisismo, Freud chega a nos mostrar um movimento pendular que a libido realiza entre o sujeito e
o objeto
Eu
objeto
libidolibido
O que Freud vai problematizar mais adiante, nos leva a
considerar a cada análise a opacidade do objeto:
a libido que recai sobre o sujeito (daí, a rememoração) não traz tudo do objeto
Eu
objeto
libidolibido
Resíduo que insiste
Por exemplo, no caso do luto, o objeto é desmontado e o que dele recai sobre
o sujeito são traços
E este retorno é trabalhoso
Uma paciente me dizia recentemente que, apesar de necessitar escrever alguns artigos (havia prazos para tal),
ela não conseguia exercer a escrita após a ruptura de uma relação de 15 anos.
Sentia que lhe faltavam letras.
Falamos da pedra no meio do caminho, do resíduo, do não-saber
temos aqui as pré-figurações do objeto a de Lacan que, como sabemos, abrem caminho para as formulações sobre o gozo e aquilo que insiste em não ser
absorvido pelo sujeito
A repetição, todavia, não é uma inviável resistência ao avanço de
uma análise.
Trata-se de verificar através da repetição relações muito singulares que o sujeito estabelece com o significante,
por um lado, e o objeto, por outro.
Continua sendo profícuo, ao
que tudo indica, revisitar
a argumentação de Freud em Análise com fim e análise sem fim (1937)
Ontem à noite, ao buscar um mapeamento
preliminar da repetição, argumentei que nós, brasileiros, temos de
alguma forma especial a poética ressonância da
“pedra no meio do caminho”
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhotinha uma pedrano meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimentona vida de minhas retinas tão fatigadas.Nunca me esquecerei que no meio do caminhotinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhono meio do caminho tinha uma pedra. Carlos Drummond de Andrade
Não se trata de esgotar esta pedra, na análise, por meio
de um alongamento das falas
Uma análise não se desdobra por meio do ‘muito dizer’ ou da expectativa do ‘dizer tudo’, porém, pelo ‘bem dizer’
pois o que se repete é o elemento excluído da
cadeia
A repetição produz o novo (ao invés de
ser reduzida à mesmice),
Diante da repetição, que saída?
Ou, ao contrário, devemos considerar que o percurso de uma análise comporta entradas
e saídas?
O automaton deve possibilitar a tiquê
O Lacan dos anos 70 oferece novos verbos ao fazer do analista:
ao lado de pensar, compreender, falar, elaborar temos o
atar, enodar, costurar, trançar, linkar
Como a transferência se apresenta neste campo?
Pela transferência, é possível recosturar o nó da repetição?
Em todos os momentos em que Freud aborda o tema da transferência, dois aspectos são sempre apresentados (e
problematizados):
• O vínculo ou as articulações que se constroem na cena analítica (e não podemos deixar de perceber que uma articulação que se sobressai aqui é a que se estabelece entre PACIENTE e ANALISTA);
• A PRODUÇÃO (mais especificamente, o que é produzido, o efeito do processo) por meio da articulação estabelecida na transferência;
ALEXANDRE SIMÕES
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Mostra-se clinicamente prudente, antes de se buscar definições excessivamente esquemáticas da
transferência, perguntar:
• O que se vincula na transferência ?# em outros termos: quais elementos se articulam na
transferência e sob quais modos se dá esta articulação?
• O que é produzido a cada forma de
vinculação ? ALEXANDRE SIMÕES
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Esta palavra traz consigo a ideia de um processo de ida e vinda (tal como uma gangorra, um bumerangue, um vai e vem etc.).
Este movimento tanto pode ser relativo ao tempo (ida e vinda entre o passado e a atualidade) ou ao espaço (o longe e o perto, de uma pessoa para outra)
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Übertragung :
tranferência
Por fim, não podemos deixar de apontar que a transferência abre caminho para uma
forma de passagem ou travessia: Übergang
“A transferência (Übertragung) cria, assim, uma região intermediária entre a doença e a vida real, através da qual
a travessia (Übergang) de uma para outra é efetuada”
(Freud, in: Recordar, repetir e elaborar. 1914)
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Voltemos ao Tiquê como nó:
Lembremo-nos daquela paciente de ontem que, em meio a um momento bastante tenso de sua vida, inicia um périplo por vários médicos, clínicas e exames invasivos por conta de sintomas bem
difusos que se instalaram em seu corpo.
No período de apenas um ano, ela chegou a ser reconhecida em três categorias diagnósticas distintas e muito severas, com prognósticos
sombrios.
Nas idas e voltas da transferência, foi possível construir outros enodamentos, que remeteram a paciente para
tecidos de outra ordem.
A análise avançou exatamente quando
não mais nos preocupamos quanto
ao esvaziamento daquilo que
severamente parecia habitar seu corpo
Localizar a travessia em meio à transferência
implica no desdobramento do automaton em tiquê
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Boa tarde, obrigado pela atenção!
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