Texto de apoio 1: A problemática ambiental
Texto de apoio 2: Desenvolvimento Sustentável
Texto de apoio 3: Produção e Consumo Sustentável
Texto de apoio 4: (In)formação / educação ambiental
Texto de apoio 5: A pegada ecológica
Texto de apoio 6: As recomendações do WBCSD e da UNEP
Texto de apoio 7: Produção Mais Limpa (PML) e Ecoeficiência
Texto de apoio 8: Novas visões de gestão
Texto de apoio 9: Benchmarking Ambiental
Texto de apoio 10: Eco-marketing
Texto de apoio 11: Rotulagem ambiental
Texto de apoio 12: A Declaração de Princípios de Hannover
Texto de apoio 13: O Factor X
Texto de apoio 14: Sistemas de Produto-Serviço
Texto de apoio 15: Reciclagem
Texto de apoio 16: Pensamento criativo
Texto de apoio 17: Checklist
Texto de apoio 18: Análise de Matriz MET
Texto de apoio 19: Embalagens e ambiente
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ÍNDICE | COMPILAÇÃO DE TEXTOS
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Com este texto, que não esgota, de todo, a temática do ambiente, pretende-se
apenas proporcionar uma breve introdução à evolução histórica das questões do
ambiente e fornecer uma breve explanação de algumas das principais questões
ambientais mais prementes de actualidade. Pretende-se que estas noções pos-
sam servir de base para uma pesquisa complementar mais profunda e completa
a realizar pelo formador e pelos formandos, para uma melhor compreensão das
restantes temáticas e do trabalho sobre ecodesign a desenvolver no processo de
formação apoiado neste Manual.
Uma história recente
As primeiras preocupações com as questões ambientais surgiram já nos finais
do século XIX, numa perspectiva conservacionista e de protecção da natureza,
com a criação dos primeiros parques e reservas naturais e programas e associa-
ções de protecção da natureza e da vida selvagem (em 1872, surgiu nos EUA o
primeiro parque nacional - o Yellowstone National Park). As condições insalubres
resultantes da industrialização e das cidades industriais, deram origem a uma
tendência higienista de conservação da natureza, sem que a cultura dominante
de apropriação e exploração da natureza pelo Homem, tivesse mudado. Mas,
apesar de tudo, significava algum progresso no sentido de uma mudança lenta.
No início do século XX a poluição era aceite como uma característica colateral do
progresso e a degradação do ambiente um fenómeno local. A atenção aos ele-
mentos naturais, como luz do Sol, água e ventilação natural, zonas verdes, fazia
parte de uma forma instrumental das preocupações com as necessidades e usos
urbanos. Não havia ainda preocupações públicas com a deplecção de recursos,
nem com efeitos potencialmente negativos da tecnologia sobre a natureza ou
sobre o ser humano - vivia-se de acordo com o espírito tecnologicamente opti-
mista da época.
Em 1946, era criada a UNESCO, no interior da qual surgiria mais tarde (em 1948)
a IUPN - International Union for the Protection of Nature, cujo nome mudou para
Texto de apoio 1: A problemática ambiental(com base em Leal, 2000)
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IUCN - International Union for the Conservation of Nature and Natural Resour-
ces (1956). Em 1953, teve lugar a Third International Conference for the Protec-
tion of the Fauna and Flora of Africa. Em 1962, a primeira World Conference on
National Parks (Seattle).
Progressivamente, às preocupações conservacionistas começaram a acrescen-
tar-se outras duas linhas de preocupação e intervenção: o problema dos efeitos
das diferentes formas de poluição na saúde pública; e as dúvidas e inquietações,
essencialmente económicas, com o quadro de progressivo esgotamento dos
recursos materiais e energéticos. Segundo Soromenho-Marques (1998: 30), esta
inquietação com os esgotamento dos recursos foi perfeitamente identificável nas
actas da Conferência de Governos de Estados, dos EUA, em 1908, Washington,
onde se encarava com apreensão o desaparecimento ao longo dos dois séculos
seguintes do carvão, petróleo, gás natural, e alguns minerais de interesse estra-
tégico entre outros recursos.
Nos anos 50 e inícios de 60, no despertar da energia nuclear, pela primeira vez
a ciência e a tecnologia moderna foram aplicadas para explorar outros tipos de
energias renováveis que pudessem substituir os combustíveis fósseis (que conti-
nuavam a dominar devido ao seu baixo custo). Eram tempos de optimismo cien-
tífico e euforia tecnológica, de importantes inovações em todas as áreas, da
medicina à exploração do espaço - tempos de crença generalizada de que qual-
quer problema poderia ser resolvido pela ciência moderna. Mas, a abordagem
não tinha mudado muito, continuava a ser a mesma: a natureza continuava a ser
explorada, agora mais eficientemente, e usada para o benefício da humanidade.
Um dos marcos no movimento ecologista a nível mundial foi o livro de Rachel
Carson, publicado em 1962, “Silent Spring”, um forte grito de alerta para o
impacto ambiental e nocividade dos químicos no ambiente, como os resultan-
tes do uso de pesticidas da agroquímica moderna. O DDT, por exemplo, extensi-
vamente usado nessa altura como pesticida, acumulava-se na cadeia alimentar
e afectava a espessura dos ovos de muitas aves, que eram literalmente esmaga-
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dos durante a postura pelos progenitores, colocando algumas espécies em risco
de extinção (especialmente aves de rapina). Muitas espécies estavam à beira
da extinção quando em 1972 - dez anos depois do alerta - os Estados Unidos e
outros países prescreveram o uso do DDT. Algumas espécies estão ainda a recu-
perar, devido ao efeito cumulativo de longo prazo na cadeia alimentar.
Nos finais da década de 60 e início de 70, uma certa falta de confiança na ciência
e na tecnologia começou a emergir. Para Soromenho-Marques terão contribuído
para a emergência nesta época de um novo paradigma ambiental mais integrado
e pluridisciplinar, as obras de diversos autores, citando entre outros: Rachel Car-
son, com o grito da sua “Primavera Silenciosa”, alertando para o problema da
contaminação química; E.F. Schumacher, pelo seu contributo para a formação
de uma economia ecológica; Arne Naess, pelo repensar de uma filosofia e uma
ética mais adequadas às exigências da crise ambiental; e Ivan Ilich, chamando
à atenção para a importância das dimensões do quotidiano e do modo de vida
para a mudança de paradigma civilizacional (1998:32). Surge uma tendência de
“regresso à natureza”, particularmente com o movimento hippie e os aconteci-
mentos de 1968. A crise do petróleo dos anos 70 catalizou uma segunda vaga de
pesquisa de fontes de energia alternativas, que, embora por motivos essencial-
mente geopolíticos e económicos (reduzir a dependência de petróleo do Ocidente
em relação ao Médio Oriente), fez convergir interesses de diferentes grupos
da sociedade - políticos, industriais, ambientalistas e intelectuais e científicos.
A ecologia tornara-se num termo muito usado pelos media e uma consciência
ambiental e da fragilidade ecológica começava a emergir.
A primeira Conferência sobre Ambiente Humano (“UN World Conference on the
Human Environment”), a Conferência de Estocolmo, em 1972, trouxe a público
de forma alargada as preocupações com a poluição e os recursos, e o con-
senso entre as 112 nações envolvidas resultou na aprovação de um plano glo-
bal de ambiente. As Nações Unidas lançavam então o Programa de Ambiente -
PNUA (UNEP - United Nations Environment Programme), que viria a ser criado
em 1974, tendo como mandato catalizar e coordenar actividades para aumen-
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tar a compreensão científica da mudança ambiental e desenvolver instrumentos
ambientais. Torna-se sem dúvida um dos principais actores a nível internacional
na implementação de acordos internacionais, medidas e programas de acção ao
longo das décadas seguintes.
O relatório do Clube de Roma, “The Limits to Growth”, de 1972, que resultou na
publicação do livro com o mesmo nome, por Dennis e Donella Meadows (que
lideravam um grupo de investigação do MIT - Massachusetts Institute of Tech-
nology), aplicando um modelo computacional de projecção dos crescimentos
de consumo e produção tendo em conta os limites dos recursos a nível mundial,
confirmava de forma preocupante a previsão da deplecção de recursos materiais
e alimentares e a poluição do planeta (embora para muitos as previsões fossem
consideradas alarmistas).
Em 1980, era lançado pela IUCN a World Conservation Strategy, numa das pri-
meiras publicações onde se empregou o termo ‘sustentabilidade’ (“sustaina-
bility”) em relação ao ambiente, de forma indissociável do desenvolvimento. A
intenção era desarmar o debate pró-crescimento / anti-crescimento, polarizado
ao longo dos anos 70, entre os que argumentavam que o crescimento econó-
mico era necessário para financiar a protecção ambiental, e os que se opunham a
esse crescimento, porque o resultado inevitável seria a degradação de recursos
e poluição. Este documento acabou por ter pouco impacto nas políticas gover-
namentais. Uma iniciativa mais efectiva acabou por ser o trabalho desenvol-
vido pela Comissão para o Desenvolvimento Internacional (Brandt Commission)
criada em 1977 pelas Nações Unidas, de cujo estudo resultou o relatório “Nor-
th-South: A Program for Survival”. O relatório publicado em 1980, viria a ser bem
sucedido na chamada de atenção para as iniquidades entre Norte e Sul; colo-
cando a ênfase nas questões comerciais, financeiras e do desenvolvimento do
Terceiro Mundo, a Comissão abriu a porta para o crescente enfoque na procura
de aproximação entre economia e ecologia dos anos que se seguiram.
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O boom económico dos anos 80 veio restaurar a esperança no progresso econó-
mico e tecnológico, e parecia que o conforto material voltava a poder ser o objec-
tivo humano principal - mesmo que se à custa da natureza. Mas, paralelamente a
esta abundância e euforia material nos países mais industrializados, começavam
a confirmar-se, a mediatizar-se e reforçar-se as preocupações com os problemas
ambientais, que deixaram de ser apenas dos ambientalistas, e se tornavam senso
comum, face aos sinais crescentes de riscos, acidentes e degradação ambiental.
Em 1984, as Nações Unidas criavam a Comissão para o Ambiente e Desenvolvi-
mento (WCED - World Comission on Environment and Development), com a mis-
são de estudar e sugerir estratégias ambientais de longo prazo, com o objectivo
de se atingir um desenvolvimento sustentável no ano 2000 (e para além dele) e,
consequentemente, preparar uma Agenda para a mudança. O relatório da Comis-
são, “Our Common Future”, o famoso Relatório Brundtland, publicado em 1987,
demonstrava que as questões levantadas em Estocolmo, quinze anos antes, não
tinham diminuido e assuntos como a depleção do ozono e aquecimento global,
que pareciam então distantes e eventuais, confirmavam-se e tornavam-se uma
preocupação do presente. O conceito de sustentabilidade é central neste relató-
rio, defendendo-se um desenvolvimento económico usando os recursos naturais
de forma a que a qualidade de vida das gerações futuras seja assegurada. A pos-
sibilidade de potencial compatibilização e complementaridade entre ambiente
e desenvolvimento económico, aliviava o paradigma de conflito aberto que tinha
caracterizado o debate em torno dos limites do crescimento dos anos 70.
De acordo com o “State of World Report 1991” (World Watch Institute, EUA):
“A sustainable economy represents nothing less than a higher social order: one
that is concerned with future generations, as with our own, and more focused on
the health of the planet and of the poor, than on material acquisitions. While it is
a fundamentally new endeavour, with many uncertainties, it is far less risky than
continuing with business as usual.” (in IOCU, 1993:2).
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A recessão do início dos anos 90, causou outra crise de confiança, particular-
mente no Ocidente. Os avanços científicos e tecnológicos, e a capacidade real de
certas áreas do conhecimento e actividade humana (política, economia, medi-
cina) preverem e resolverem problemas complexos e sérios, passou a ser ques-
tionada e a estar sob escrutínio público.
Em Junho de 1992, numa operação mediática global, líderes de cerca de 170
países encontram-se no Rio de Janeiro, para a primeira Cimeira Mundial sobre
ambiente. O mote da sustentabilidade era lançado publicamente e disseminado
desde então por todo o mundo, popularizando a expressão de René Dubos - “think
globally, act locally”. Parecia que a terceira vaga de consciencialização ambiental
tinha sido efectiva, a perspectiva tinha finalmente mudado - o bem-estar da natu-
reza e dos outros seres vivos eram essenciais para o bem-estar e sobrevivência
humana (para informações sobre esta conferência ver Texto de Apoio 2. sobre
Desenvolvimento Sustentável).
Ao longo destas últimas décadas, foram realizados muitos encontros internacio-
nais e nacionais no âmbito das reformas para a sustentabilidade, iniciados inú-
meros projectos e programas. Foram assinados a nível internacional, dezenas
de tratados, acordos, convenções e protocolos, abrangendo desde o combate às
chuvas ácidas, a protecção da camada de ozono, a segurança nuclear, a protec-
ção de espécies em perigo, a prevenção da poluição marinha, a gestão de bacias
hidrográficas internacionais, entre muitas outras matérias ambientais. Embora
não se tenham provado muito eficazes na sua implementação e cumprimento de
objectivos. Como, referiu Joke Waller-Hunter, Directora da Division for Sustai-
nable Development, Department of Policy Coordination and Sustainable Deve-
lopment, das Nações Unidas,“We may not expect that international agreements
change individual behaviour directly. National governments have an influence, but
real action is taken by economic sectors and individuals.” (in FLAD, 1996:6).
A ecologia que surgira como conceito em finais do século do século XIX, é ao
longo do século XX que se afirma como ciência autónoma, sobretudo depois da
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Segunda Guerra Mundial, num crescendo até aos nossos dias. Mas foi sobretudo
a partir dos anos 60 que sofreu o grande impulso com a publicação de numero-
sas obras tanto de divulgação como científicas, quando anteriormente era igno-
rada pelo grande público.
Em meados dos anos 80, o cientista inglês James Lovelock, no seu livro “Gaia:
A New Look at Life on Earth”, descreve a Terra e todas os seus sistemas de vida
como um organismo vivo global auto-regulado - “a living entity seeking, like the
Greek Earth goddess, always to create and sustain life.”, onde nós seres huma-
nos, “Far from being masters of nature, we are an integral part of Gaia.” (Love-
lock, in Zeiher, 1996:24). Um princípio que ficaria conhecido como Teoria de Gaia
- a deusa da Terra na mitologia grega - e que se tornou uma referência do movi-
mento ecológico. Lovelock começou a formular a sua teoria enquanto trabalhava
no projecto da sonda espacial para Marte, da NASA, com o professor Lynn Mar-
gulis. Desde então, eles e outros, compilaram uma grande quantidade de infor-
mação para suportar a hipótese de Gaia. Lovelock propõe que toda a vida na
Terra tem uma relação simbiótica com o planeta. O equilíbrio entre organismos
vivos e os sistemas do planeta é mantido de forma tão precisa que a multiplici-
dade de todas as coisas vivas pode ser considerada como um grande organismo
vivo, do mesmo modo que todas as células do nosso corpo se juntam para formar
uma pessoa. Uma mudança em qualquer uma das partes do sistema produz efei-
tos encadeados através da rede de vida que constitui o organismo maior. A Terra
e a sua atmosfera pode muito bem ser considerada como uma entidade viva, com
o equivalente aos sentidos, ciclos de energia, e mecanismos de feedback e con-
trole que têm a capacidade de interagir e manter o equilíbrio e estabilidade do
planeta numa rede de interrelações de funcionamento inteligente. Uma compre-
ensão do funcionamento de Gaia não pode ser obtida estudando-a de acordo com
as disciplinas separadas das áreas científicas especializadas. É necessária comu-
nicação entre disciplinas para tentar obter uma visão geral do sistema como um
todo.
Ecologia e tecnologia, que inicialmente pareciam colidir e ser incompatíveis,
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começaram ao longo do final do século XX a ser cada vez mais conciliadas e arti-
culadas, abrindo novas possibilidades e criando novas expectativas de resolu-
ção dos problemas ambientais. As estratégias para o desenvolvimento susten-
tável integram ambos os domínios, fazendo depender um do outro, numa nova
visão do futuro para o século XXI. A ecologia como que parece libertar-se do jugo
do “sentimento de culpa”, da “consciência pesada”, e do “dedo acusador”, que
durante muito tempo contribuiu para o mal-estar, angústia e desenvolvimento de
iniciativas e projectos de “cosmética verde” em muitas áreas, desde a produção
industrial ao planeamento urbano e à política, para ser assumida lenta e progres-
sivamente como um factor real e universal, integrado no espírito e nas acções
actuais.
Algumas das principais questões ambientais
As principais preocupações/questões ambientais presentemente identificadas
pela comunidade humana, tendem a ser repartidas por categorias e áreas. Exem-
plo de uma enumeração dos principais problemas ambientais (in Carapeto et al.,
1998:140):
> Chuvas ácidas
> Conflito e disparidades Norte-Sul
> Crescimento demográfico
> Desertificação/salinização e desflorestação
> Alterações climáticas/efeito de estufa
> Gestão da energia
> Poluição das águas marinhas e terrestres
> Poluição dos solos
> Racismo e xenofobia
> Radioactividade
> Rarefacção da camada de ozono
> Resíduos
> Ruído
> Sobreexploração dos recursos naturais não renováveis
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Algumas das principais causas podem-se enquadrar nas seguintes áreas: indus-
trialização/produção; sobrepopulação/consumo/ocupação; distribuição de
riqueza (pobreza) e nível cultural; aumento da diversidade, complexidade e sofis-
ticação tecnológica da satisfação material de necessidades (materialidade); glo-
balização de um modelo de desenvolvimento baseado em critérios económicos
e numa mono-cultura de produção e consumo industrial; a guerra e os conflitos
armados (políticos, étnicos e religiosos).
A descrição e explicação sobre os principais ‘problemas ambientais’ pode ser
facilmente consultada na vasta bibliografia de temática ambiental, bem como
nas diversas publicações específicas sobre design e ambiente já existentes a
nível internacional, que fornecem quase todas um apanhado, tipo digest, com
estes temas em linguagem não técnica e com discurso orientado para os desig-
ners. Abordam-se de seguida apenas algumas das principais de modo muito
breve.
Acidificação
Os óxidos de enxofre e de azoto são causadores típicos de acidificação atmosfé-
rica e, portanto das famosas chuvas ácidas, agressivas para o ambiente e para a
saúde. As fontes mais importantes de emissão destes gases são a combustão de
carvão e petróleo. O petróleo contém entre 1 a 3% de enxofre e o carvão muito
mais. Embora seja relativamente acessível remover o enxofre do petróleo, falta
ainda em muitos casos a vontade política para o fazer. Como resultado a maioria
dos navios ainda consome fuel, que contém teores de enxofre cerca de dez vezes
superiores ao dos carros. O óxido de azoto resulta da combinação dos dois com-
ponentes mais importantes do ar, o oxigénio e o azoto, em processos de combus-
tão a temperaturas elevadas. Assim, a produção de óxidos de azoto (NOx) não é
determinada pela utilização de um tipo de combustível, mas pela temperatura de
combustão. A indústria e os automóveis são a fonte principal. Uma vez na atmos-
fera, estes gases participam em reacções húmidas contribuindo para a produção
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de chuvas ácidas, que causam danos graves ao nível dos ecossistemas (ex: morte
das copas das árvores nas florestas; acidificação do solo e das águas de superfí-
cie); bem como danos materiais ao nível do património construído (ex: corrosão
das barrreiras de auto-estrada, com arrastamento do zinco, tóxico, para o meio
ambiente; erosão química de monumentos e edifícios); e com consequências ao
nível da saúde (ex: agravamento das doenças respiratórias e alérgicas). Os óxidos
de enxofre, bem como de azoto para além de tóxicos também contribuem para a
eutrofização, e os óxidos de azoto participam ainda no processo de produção de
smog, como veremos de seguida.
Alterações climáticas/Efeito de estufa
Da enorme quantidade de energia que o Sol irradia, uma parte atinge a superfí-
cie terrestre. Desta, a maior parte é reflectida de novo para o espaço sob a forma
de radiação infra-vermelha. A atmosfera ao ser atravessada por esta radiação,
retém uma determinada percentagem de calor, mantendo a Terra quente. Sem
este efeito a Terra seria demasiado fria para ser habitada pelo ser humano. A
este fenómeno chama-se efeito de estufa, por analogia com a retenção de calor
radiante que se verifica nas estufas, que possibilita manter temperaturas inter-
nas superiores às do exterior, mesmo no Inverno, só pelo “aprisionamento” pas-
sivo da energia solar pelas suas superfícies envidraçadas. A extensão da absor-
ção de infra-vermelhos pela atmosfera é determinada pela quantidade dos
principais gases de estufa, o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), embora
existam outros gases. O CO2 é maioritariamente produzido durante a combus-
tão de materiais orgânicos - combustíveis fósseis. A queima de um kilo de petró-
leo ou óleo, produz cerca de 3.2 kg de CO2 (Goedkoop,1994, p.9). O metano é pro-
duzido pela decomposição de matéria orgânica e pode ver-se a sua libertação
natural em pântanos ou turfeiras. O gás natural é maioritariamente metano. O
metano tem um efeito de estufa 10 vezes superior ao do dióxido de carbono. No
entanto o CO2 é o gás de estufa mais importante devido a ser por nós produzido
em grandes quantidades. Tem sido provado que a temperatura na Terra perma-
neceu mais ou menos constante durante biliões de anos, aparentemente devido a
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um equilíbrio biológico natural. Embora ainda não seja completamente compre-
endido, parece que a actividade biológica aumenta com o aumento da tempera-
tura. Aumenta, portanto, a actividade fotossintética das plantas que retiram CO2
da atmosfera fixando-o em matéria orgânica nova, reduzindo assim o efeito de
estufa. O que diminui a temperatura da Terra, diminuindo a actividade biológica,
aumentando a quantidade de CO2 na atmosfera, e sempre assim, sucessiva-
mente. Alguns dos factores antropogénicos que contribuem para o desequilíbrio
deste mecanismo de regulação são:
> A queima de grandes quantidades de matéria orgânica que liberta grandes
quantidades de CO2, com particular aumento do uso de combustíveis fósseis
desde o início da revolução industrial. Esta matéria orgânica tinha sido lenta e
naturalmente fixada ao longo dos últimos 100 milhões de anos, sob a forma de
reservas de petróleo, gás e carvão.
> O decréscimo de actividade fotossintética, devido à desflorestação extensiva,
iniciada na Europa no século XIX e com grande importância actualmente nas
zonas tropicais. Como resultado a capacidade natural da Terra para absorver
CO2 tem diminuido drásticamente.
> A libertação de grandes quantidades de metano para a atmosfera. Entre as
causas estão as fugas de gás natural, em particular no bloco de Leste, aumento
das áreas húmidas de cultivo de arroz, aumento da produção de gado, e fermen-
tação de resíduos biodegradáveis em lixeiras e aterros.
> A continuação da produção, utilização e libertação de CFCs, que não só con-
tribuem para o buraco da camada de ozono, como são responsáveis por 10% do
efeito de estufa. Alguns gases propulsores de aerossóis possuem um efeito de
estufa muito superior ao do dióxido de carbono e do metano.
As consequências do aumento de temperatura não são absolutamente fáceis de
prever, mas passam por alterações dos padrões climáticos complexas, com pre-
visível aumento do degêlo com consequente aumento do nível médio da água do
mar, risco de tempestades, desertificação em alguns locais, aumento da produ-
ção vegetal noutros, alterações nas produções agrícolas e, portanto, riscos de
escassez alimentar, problemas de saúde, entre outros.
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Biodiversidade
Os ecossistemas naturais para além de sustentarem toda uma série de seres
vivos que fazem parte do ecossistema global, fornecem uma variedade de “bens
e serviços” que sustentam a vida humana e melhoram a sua qualidade. Um dos
factores determinantes da preservação é a manutenção da diversidade bioló-
gica; os ecossistemas com um grande número de espécies animais e vegetais
interligadas são geralmente mais estáveis e saudáveis do que os sistemas sim-
ples com menos espécies. Os ecossistemas, e portanto os seres vivos que os
compõem, estão sob fortes pressões e destruição em muitas regiões do pla-
neta. Desde os processos maciços de desflorestação, à sobrexploração agrícola
e piscícola, à contaminação, à caça, destruição de habitats, têm conduzido a uma
perda grave e crescente de espécies animais e vegetais, a uma perda irreversível
da biodiversidade. A biodiversidade pode ser considerada a três níveis diferentes
e respectivas escalas de atenção e preocupação com diversas ameaças e desa-
fios de manutenção: diversidade genética (da informação contida nos genes de
cada organismo vivo); diversidade específica (associada às diferentes espécies de
seres vivos); e diversidade ecossistémica (diferentes ecossistemas com as espé-
cies associadas).
Eutrofização
Os fosfatos, bem como os óxidos de enxofre e azoto já referidos, constituindo
nutrientes para muitos microorganismos e plantas, contribuem para uma ferti-
lização em excesso quer do solo, quer das massas de água, o que pode conduzir
ao crescimento excessivo de diversas plantas, colocando em risco as produções
mono-cultura, e ao crescimento excessivo de algas no caso da água, com conse-
quente degradação da qualidade da água.
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Ozono
A atmosfera terrestre pode ser considerada composta por diversas cama-
das que se sucedem em altitude, com propriedades físicas e químicas relativa-
mente definidas e diferentes. Na parte mais exterior da atmosfera existe uma
camada, denominada estratosfera, que apresenta um nível relativamente ele-
vado de ozono. Esta camada filtra grandemente as radiações solares mais noci-
vas (Ultra Violeta - UV) - o Sol é como um enorme reactor nuclear - assim, pro-
tegendo-nos e possibilitando a vida na Terra como nós a conhecemos. O ozono,
com uma molécula triatómica de oxigénio (O3), é um gás muito instável e reac-
tivo e está constantemente a dividir-se e a ser reproduzido nesta camada onde
existe praticamente isolado. Durante as últimas décadas este balanço foi afec-
tado pelas emissões gasosas de CFCs (Cloro Fluor Carbonetos) fabricados pelo
Homem e com diversas aplicações - expansão de espumas, gás propulsor de
aerossóis (sprays) e como gás de refrigeração (frigoríficos, ar condicionado).
Outros gases como o halon dos extintores de fogo e os solventes, como o triclo-
roetileno, têm o mesmo efeito. Gradualmente começou-se a perceber o funcio-
namento dos mecanismos que causam a perda da camada de ozono. Ao que tudo
indica, as reacções de cisão do ozono tomam lugar na presença de água; em par-
ticular à superfície de cristais de gelo. Estes cristais de gelo ocorrem na atmos-
fera principalmente nas regiões polares, o que explica o aparecimento do buraco
de ozono nos Pólos Norte e Sul. De momento estima-se que a capacidade pro-
tectora da camada de ozono por cima da Europa tenha diminuído de cerca de
5%, sendo esta redução no hemisfério sul consideravelmente superior. Como os
gases deplectores do ozono são de um modo geral estáveis na baixa atmosfera,
as suas moléculas vão-se difundindo lentamente em altitude, até chegar à estra-
tosfera onde reagem com o ozono. Como este processo de difusão em altitude é
muito lento, a deplecção da camada de ozono continuará por muitos anos após a
produção destas substâncias ter parado. Apesar da assinatura por vários países
e corporações do Protocolo de Montreal em 1987 até ao momento não há uma
paragem mundial de produção em vista e a indústria continua a reclamar a falta
de alternativas. Nos últimos anos a indústria tem mudado para formas menos
nocivas de CFCs, chamados HCFCs ou soft CFCs - substâncias com menor
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tempo de vida, portanto, que reagem mais facilmente nas camadas inferiores da
atmosfera, não permanecendo activas durante tanto tempo, reduzindo as hipóte-
ses de alcançar a camada de ozono. No entanto, não são gases completamente
inofensivos para a camada de ozono, ou então têm outros impactos como contri-
buirem para o efeito de estufa. As consequências do aumento do buraco do ozono
são, nesta altura, já do domínio público, e vão desde causar danos ao património
construído, às culturas agrícolas, vegetação, mutações genéticas, cancro da pele
e afectações oculares.
População
O aumento da população é o fenómeno que está na base do agravamento de
todos os outros. As questões demográficas têm recebido muita atenção há várias
décadas, ao nível nacional e internacional, no contexto das preocupações com
o desenvolvimento económico. Mais recentemente acrescem as preocupações
com as questões ambientais e da sustentabilidade de um número crescente de
pessoas, num mundo finito. Até ao século XIX a população mundial manteve-
se relativamente estável. Em 1850 a população da Terra era de cerca de mil
milhões de pessoas. Em 1987 atingia os cinco mil milhões, e os cerca de seis mil
milhões no final do século, esperando-se que duplique para doze mil milhões nos
próximos 80 anos (Sydenham, 1996). Mesmo as estimativas mais baixas pro-
jectam uma população mundial de oito mil milhões em 2050 (Weizsäcker, 1998,
p.263). O crescimento mais rápido de população verifica-se nos países em desen-
volvimento, onde os padrões de vida crescentes conduzem a grandes expecta-
tivas materiais. Este aumento de população para o próximo século leva a eleva-
das pressões sobre os recursos do planeta. Estas tendências representam um
enorme desafio para as nações de todo o mundo, que têm que de algum modo
encontrar formas de alimentar, abrigar, educar, e assegurar emprego, cuida-
dos de saúde, e bens de consumo e serviços para o dobro das pessoas que agora
existem, num espaço de tempo de uma geração.
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Recursos naturais
À medida que aumenta a população e a produção e consumo, usam-se e gas-
tam-se os recursos finitos do planeta - os recursos não renováveis que se acu-
mularam ao longo de milhões de anos, que não podem ser repostos. Como os
combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás), e muitos minerais (ferro, alumínio,
chumbo e cobre). Apesar de se desenvolverem novas técnicas e tecnologias de
exploração e extracção, e se descobrirem e conseguirem explorar novas jazidas,
algumas das principais fontes de recursos materiais e energéticos começam a
escassear. Muitas jazidas de metais encontram-se próximo dos seus limites pre-
visíveis para as próximas décadas. Os metais podem ser reciclados com bastante
eficácia desde que haja energia suficiente. Existem enormes quantidades de
metal em lixeiras ou sucateiras, que podem ser recicladas mais tarde, se existir
energia suficiente. Por outro lado, a extensão das reservas mundiais depende do
preço que estamos dispostos a pagar pela exploração de jazidas menos ricas.
Resíduos
Para além dos problemas de contaminação dos solos e aquíferos subterrâneos,
emissão de metano (gás de estufa), incómodos odores, e desperdício de mate-
riais e recursos naturais que representam os resíduos sejam industriais sejam
domésticos, a maioria dos países industrializados e os seus governos enfrentam
uma grave crise de espaço para proceder ao seu despejo. Os processos de reco-
lha, transporte e tratamento cujos custos aumentam e que implicam também
os seus impactos ambientais (desde os aterros à incineração e a própria recicla-
gem). Apesar das políticas e esforços das últimas décadas no sentido de mitigar
esta questão, o volume de resíduos continua a aumentar em todo o mundo, cons-
tituindo uma das principais preocupações dos governos, autoridades competen-
tes e indústrias.
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Smog
O smog é um poluente atmosférico secundário, pois é uma espécie de um nevo-
eiro poluente que resulta da reacção entre gases poluentes primários, emitidos
directamente de actividades humanas, nomeadamente da reacção entre óxidos
de azoto e hidrocarbonetos (compostos orgânicos gasosos dos escapes automó-
veis, resultantes da combustão incompleta, solventes, etc.) sob acção da energia
da radiação da luz solar. Estas reacções conduzem à formação de ozono ao nível
da superfície - baixa atmosfera, onde, contrariamente ao ozono estratosférico,
as suas propriedades o tornam num poluente. Por ser um oxidante muito forte,
o ozono na baixa atmosfera é um poluente altamente agressivo para os seres
humanos (especialmente com doenças respiratórias, como a asma), fauna e flora
(já se provaram danos elevados provocados pelo smog em culturas agrícolas).
Substâncias tóxicas
Há muitas substâncias de origem antropogénica que são tóxicas para os huma-
nos e para outros seres vivos (plantas e animais) e, portanto, para os ecossis-
temas. Por exemplo, os pesticidas, os metais pesados, e compostos orgânicos
carcinogéneos. Em 1993 estimam-se entre 70.000 e 100.000 o número de subs-
tâncias químicas sintéticas usadas comercialmente nas indústrias, agricultura
e produtos de consumo. A sua maioria são potencialmente nocivos para a saúde
humana e para o ambiente. Alguns como pesticidas, fertilizantes, e substâncias
para derreter o gelo das estradas, são deliberadamente despejados no ambiente.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1993, estimava que morreriam
40.000 pessoas por ano, devido a exposição ocupacional ou ingestão acidental de
pesticidas; enquanto um número muito superior de pessoas sofre de problemas
de saúde, como consequência directa de poluição ambiente. Alguns destes pro-
dutos são persistentes e têm tempos de vida longos no ambiente, infiltrando-se
nas cadeias alimentares e disseminando-se com efeitos cumulativos. Os conta-
minantes tóxicos são omnipresentes e continuarão a ser para o futuro.
21
A primeira Conferência sobre Ambiente Humano (“UN World Conference on the
Human Environment”), a Conferência de Estocolmo, em 1972, trouxe a público
de forma alargada as preocupações com a poluição e os recursos, e o consenso
entre as 112 nações envolvidas resultou na aprovação e um plano global de
ambiente. As Nações Unidas lançavam então o Programa de Ambiente - PNUA
(UNEP - United Nations Environment Programme), que viria ser criado em 1974,
tendo como mandato catalizar e coordenar actividades para aumentar a compre-
ensão científica da mudança ambiental e desenvolver instrumentos ambientais.
Torna-se sem dúvida um dos principais actores a nível internacional na imple-
mentação de acordos internacionais, medidas e programas de acção ao longo
das décadas seguintes.
Em 1984, as Nações Unidas criavam a Comissão para o Ambiente e Desenvolvi-
mento (WCED - World Comission on Environment and Development), com a mis-
são de estudar e sugerir estratégias ambientais de longo prazo, com o objectivo
de se atingir um desenvolvimento sustentável no ano 2000 (e para além dele) e,
consequentemente, preparar uma Agenda para a mudança.
O relatório da Comissão, “Our Common Future”, o famoso Relatório Brundtland,
publicado em 1987, demonstrava que as questões levantadas em Estocolmo,
quinze anos antes, não tinham diminuido e assuntos como a depleção do ozono e
aquecimento global, que pareciam então distantes e eventuais, confirmavam-se
e tornavam-se uma preocupação do presente. O conceito de sustentabilidade é
central neste relatório, defendendo-se um desenvolvimento económico usando
os recursos naturais de forma a que a qualidade de vida das gerações futuras
seja assegurada. A responsabilidade intergeracional assume uma importân-
cia nuclear na definição de sustentabilidade adiantada no Relatório Brundtland,
a mais frequentemente disseminada e adaptada aos mais diversos sectores: “...
to meet the needs of the present generation without compromising the ability of
future generations to meet their own needs.”
A possibilidade de potencial compatibilização e complementaridade entre
ambiente e desenvolvimento económico, aliviava o paradigma de conflito aberto
que tinha caracterizado o debate em torno dos limites do crescimento dos anos
Texto de apoio 2: Desenvolvimento Sustentável (com base em Leal, 2000)
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70. Um ponto importante assumido pela Comissão é que a indústria deve produ-
zir mais com menos.
A Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento - CNUAD
(UNCED - United Nations Conference on Environment and Development), ou
Cimeira da Terra (“Earth Summit”) realizada no Rio de Janeiro em 1992, por isso,
também conhecida por Cimeira do Rio, ou Eco’92, reuniu em torno do debate das
questões ambientais e do futuro do planeta, líderes mundiais e representantes
de inúmeras instituições e organizações internacionais e nacionais, governamen-
tais e não governamentais (representantes do mundo dos negócios, associações
profissionais, associações de defesa dos consumidores, ONGAs, cientistas, filó-
sofos, etc.). O objectivo era dar seguimento ao trabalho desenvolvido até então
pela ONU, no sentido de estabelecer uma Agenda para a mudança reunindo
amplo apoio internacional.
A Conferência tornou-se num marco histórico e resultou na assinatura de
vários documentos importantes, pelos representantes de governos de mais de
150 países:
> A Declaração do Rio, onde se reconhece “the integral and interdependent
nature of the Earth, our home”, resultado do compromisso entre as nações do
Norte e do Sul, reflectindo o empenhamento político internacional para
esta causa.
> A Convenção da Biodiversidade, que procura defender a biodiversidade,
embora, se acabe por dar mais relevo ao direito de acesso internacional a espé-
cies biológicas e à transferência de biotecnologias que contribuam para a preser-
vação da biodiversidade.
> A Convenção sobre Alterações Climáticas, que procura limitar as emis-
sões de gases de efeito de estufa, prevenindo o aquecimento global, embora
falhe na fixação concreta de limites.
> A Agenda 21, um plano de acção de 40 secções para implementar o desenvol-
vimento sustentável ao longo do século XXI, num extenso documento de cerca
de 500 páginas (não vinculativo para os Estados).
23
A Agenda 21, documento-chave da Cimeira do Rio, embora criticada por alguns
por ser demasiado vaga e não estabelecer metas concretas não passando de
uma declaração de intenções, tornou-se uma referência orientadora para o
futuro difundida a nível mundial. Trata-se de um plano de acção para o século
XXI, que pode ser sintetizado em seis áreas principais: 1) a qualidade de vida na
terra, 2) uso eficiente dos materiais da Terra, 3) a protecção dos bens comuns
globais, 4) a gestão de comunidades humanas, 5) produtos químicos e a gestão
de resíduos, e 6) crescimento económico sustentável. No primeiro parágrafo de
introdução do documento pode ler-se:
“Humanity stands at a defining moment in history. We are confronted with a per-
petuation of disparities between and within nations, a worsening of poverty, hun-
ger, ill health, and illiteracy and the continuing deterioration of the ecosystems
on which we depend for our well-being. However, integration of environment and
development concerns and greater attention to them will lead to the fulfilllment
of basic needs, improved living standards for all, better protected and managed
ecosystems and a safer, more prosperous future. No nation can achieve this on
its own, but together we can in global partnership for sustainable development.”
(in Steele, 1997:9).
Embora a Agenda 21 se tivesse constituído num importante documento político,
prevendo metas programáticas a nível da condução das políticas ambientais,
devido a sucessivas incapacidades de acordo entre os blocos mais industrializa-
dos, a definição de objectivos quantitativos apenas foi concretizada em Dezem-
bro de 1992, na Conferência de Quioto, para a redução das emissões de gases
de efeito de estufa, da qual resultou o conhecido e mediatizado Protocolo de
Quioto.
Na Eco’92 foi decidida a constituição da Comissão das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Sustentável - CNUDS, (UN-CSD - United Nations Comission
on Sustainable Development), que foi criada em 1993, e reúne anualmente para
rever os progressos nacionais e internacionais da implementação da Agenda 21.
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Nos anos seguintes, e apesar do esforço diplomático, houve dificuldades e muitos
obstáculos à implementação eficaz das determinações para a sustentabilidade
emanadas da Eco’92.
A Conferência Rio +5, em 1997, Nova Iorque - UNGASS (Assembleia Geral espe-
cial das Nações Unidas), para efectuar o balanço do primeiro quinquénio do pós-
Eco’92, confirmava que o impacto efectivo, até então, da Cimeira do Rio tinha
sido limitado e até algo desencorajador. A Agenda 21 tinha-se resumido a gran-
des declarações de intenções e muito pouco em acções concretas. E o estado do
ambiente global e local continuava a degradar-se e a ser submetido a pressões
crescentes.
Hoje em dia os efeitos de longo prazo da Eco’92, são talvez mais visíveis. Existe
uma consciência geral alargada dos problemas ambientais, quer nos países
desenvolvidos, quer nos países em desenvolvimento (ainda que por vezes super-
ficial, ou relativa). As sondagens mostram consumidores mais atentos e interes-
sados em produtos ambientalmente mais saudáveis, ainda que isso signifique
pagar mais caro; e as empresas mais atentas já se colocam no mercado com pro-
dutos “ecológicos” e marketing ambiental. Os media não deixam passar a cober-
tura de um acontecimento sobre ambiente; e as organizações não governamen-
tais têm cada vez mais voz pública e mediatizada. A pressão sobre os governos e
líderes políticos aumentou.
Mas o conceito de desenvolvimento sustentável não surgiu de forma inequí-
voca nem é universalmente aceite. Como refere Van Weenen (1997a: 21), o rela-
tório “Our Common Future” estimulou a discussão com diferentes interpretações
do conceito de sustentabilidade, e a própria Comissão antecipou isso referindo:
“Interpretations will vary, but must share certain general features and must
flow from a consensus on the basic concept of sustainable development and on a
broad strategic frame work for achieving it.”
A definição original de sustentabilidade, de 1987, ao ser muito aberta e vaga, foi
desde logo tida por muitos autores como encerrando ambiguidades: Como são
25
definidas as “necessidades” e por quem? O que são necessidades “reais” e neces-
sidades “supérfluas”? Que padrões devem ser usados, os dos países em desen-
volvimento ou dos países desenvolvidos? Como avaliar e medir tudo isto?
Para procurar dar resposta a questões como estas, nos últimos anos foi avan-
çada a noção de “capital total”, transferível de geração em geração (Ruano,
1999:10). Um capital global constituído por três componentes: um “capital arti-
ficial” - as estruturas e infraestruturas construídas, como fábricas, escolas e
estradas; um “capital humano” - composto pela ciência, conhecimento e know-
how; e um “capital natural” - que incluirá o ar limpo, água potável, biodiversidade,
etc. O desenvolvimento sustentável significará, então, que cada geração deve
viver do “rendimento” da “herança”, e não do capital principal em si, como refere
Ruano.
Como qualquer conceito novo e qualquer tentativa de definição, sobretudo
quando implica inúmeras e diversas visões e interesses como esta, a ambigui-
dade e a polémica subsistem. Muitas pessoas argumentam que, desde que o
capital total acumulado seja preservado um dos seus componentes (como o
“capital natural”) pode ser despendido para aumentar correspondentemente
outro (o “capital artificial”, por exemplo). Esta visão, frequentemente - e, na opi-
nião de Ruano, convenientemente - defendida por muitos interesses políticos e
empresariais, foi chamada de “sustentabilidade fraca” (“weak sustainability”). Os
defensores da chamada “sustentabilidade forte” (“strong sustainability”), argu-
mentam que o “capital natural” não deve mais ser delapidado (desflorestação
maciça, extinção de espécies), uma vez que as consequências podem ser irrever-
síveis e a extensão do impacto a longo prazo sobre a vida humana e a biodiversi-
dade desconhecido. Esta é a posição da maioria dos cientistas e ambientalistas.
O debate continua aberto e muitas definições e adaptações do conceito de desen-
volvimento sustentável têm surgido.
Num estudo efectuado por John Pezzey (economista consultor do World Resour-
ces Institute), Definitions of Sustainability” , de 1989, refere-se que o conceito de
desenvolvimento sustentável e outros conceitos tornaram-se crescentemente
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importantes como orientadores das políticas económicas e ambientais nos finais
dos anos 80. Mas não há um consenso geral sobre o que significa exactamente
desenvolvimento sustentável. O autor inventariou então mais de 60 abordagens
diferentes, e considera que esta indefinição é útil para promover o debate e aju-
dar a forjar um consenso em promover o desenvolvimento sustentável, mas por
outro lado turva os aspectos políticos, filosóficos e técnicos que permanecem
por resolver da contenda “ambiente versus crescimento” da década de 70. Mas o
autor conclui:
“The large number of different definitions of sustainability concepts spring from
differences in both political and technical opinions. There is no great trouble in
agreeing that the idea of sustainability is to ensure that some measure of social
welfare should continue to go up rather than down and not just for a few years but
far into the further future. But political opinions differ as to how important ove-
rall environmental quality, the gap between the rich and the poor and the rights
of other species, are to social welfare. The beguiling rethoric of sustainable deve-
lopment makes such differences of opinion no easier to resolve: conflicts will still
exist between Cadillacs and clean air and difficult choices will still have to be
made through the democratic process.” (Pezzey, 1989:27).
A Organização Internacional de Uniões de Consumidores, num documento de
1993, entre os obstáculos para alcançar uma economia mundial sustentável,
colocava (IOCU, 1993:15):
Ignorância > nós não sabemos como é uma sociedade sustentável. Há questões
críticas que não têm resposta simples: Sustentável para que população mundial
total? Com que padrão de vida? Mesmo que as questões económicas possam
respondidas, as ecológicas não podem. Não é possível prever com rigor que nível
de consumo de energia per capita, produção de comida, ou outras questões fun-
damentais, o planeta pode sustentar indefinidamente.
Iniquidade > as grandes iniquidades no consumo de recursos, dentro das nações
e entre nações, precisam de ser reabordadas, e as diferenças acentuadas exis-
tentes entre nações actualmente tornam difícil acordar uma agenda comum para
a mudança.
Instituições > os mecanismos políticos e económicos existentes para lidar com
os problemas internacionais do ambiente são inadequados para a tarefa que se
avizinha. Os líderes com visão global devem convocar os melhores recursos inte-
lectuais e morais do mundo para tentar criar uma sociedade sustentável.
O debate, a procura de clarificação e concretização do desenvolvimento susten-
tável, tem conduzido nos últimos anos à definição de alguns princípios de sus-
tentabilidade, que se sustentam em três pilares - o ambiental, o social e o eco-
nómico. Os três lados indissociáveis e complementares da sustentabilidade (ver
Figura seguinte).
Figura 1 > Os três pilares do Desenvolvimento Sustentável.
Em 1996, a comissão presidencial americana para o desenvolvimento sustentá-
vel publica “Sustainable America: A new consensus”, baseado no estudo da expe-
riência dos últimos 25 anos da sociedade norte-americana onde se adiantam os
seguintes critérios orientadores dos processos de tomada de decisão (in Ferrão,
1998:6):
1. Estender a responsabilidade sobre o produto. Um sistema de extensão
de responsabilidade a todo o ciclo de vida do produto deve ser garantido em con-
junto pelos projectistas, fabricante, utilizador e processador de resíduos.
2. Estabelecer novas forças de mercado e propiciar a sua utilização.
Devem ser envolvidos novos mecanismos de actuação de mercado, como a com-
Desenv.sustentável
econ
ómico social
ecológico
pra e venda de quotas de emissões, e inovação do sistema fiscal, taxando os
resíduos, as emissões ou a ineficiência alternativamente à riqueza, emprego ou
investimento como se verifica actualmente.
3. Encorajar o desenvolvimento de tecnologias ambientais. Os sistemas
de gestão económica e ambiental devem criar um ambiente favorável à inova-
ção e ao desenvolvimento de tecnologias que apoiem a criação de emprego e de
riqueza e simultaneamente contribuam para minimizar o impacte ambiental da
indústria e melhorar a qualidade de vida do cidadão.
Linhas de orientação para o Desenvolvimento Sustentável estabelecidas pela
Scottish Natural Heritage (in Carapeto et al., 1998:187):
> Uso sensato: não desperdiçar os recursos não renováveis.
> Capacidade de sustentação: colher unicamente o excedente, a capacidade de
renovação do ambiente ou, por outras palavras, o “juro” e nunca o “capital”.
> Qualidade do ambiente: necessidade de alargar horizontes relativamente
ao desenvolvimento, para que se tomem em conta os impactos indirectos das
nossas acções sobre o ambiente e as oportunidades para um desenvolvimento
sustentável.
> Princípio da prevenção: pensar, antes de adoptar de imediato uma nova ideia,
ou um novo modelo de desenvolvimento e perguntar-se “valerá a pena o risco
ambiental?”.
> Benefícios partilhados: olhar para o ambiente em busca de novos benefícios,
não só os nossos mas pensando nos outros organismos do planeta, porque nós
dependemos tanto deles como eles de nós relativamente aos recursos ambien-
tais que partilhamos.
A IUCN, a UNEP, e a WWF, na publicação “Caring for the Earth” estabeleciam
nove princípios de uma Sociedade Sustentável (in idem):
1. Respeitar e ter preocupação pela comunidade viva.
2. Melhorar a qualidade de vida.
3. Conservar a vitalidade e a diversidade da Terra.
4. Minimizar o esgotamento de recursos não renováveis.
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5. Manter o crescimento dentro da capacidade de carga da Terra.
6. Alterar as atitudes e as práticas individuais.
7. Dar às comunidades a oportunidade de proteger os seus próprios ambientes.
8. Fornecer um enquadramento a nível nacional para integrar o desenvolvimento
e a conservação.
9. Criar uma aliança global.
A sustentabilidade deve, portanto, ser vista como um processo que tem uma
componente ambiental, social e económica, que se podem resumir do seguinte
modo (VROM, 1995:2):
Comportamento ambientalmente sustentável:
> não causa a deplecção de recursos naturais, incluindo a biodiversidade;
> não causa sobrecarga de poluição sobre o ambiente.
Comportamento economicamente sustentável:
> assegura o bem-estar da geração presente, bem como das gerações futuras;
> melhora os padrões de vida à escala global, pelo menos satisfazendo as neces-
sidades humanas básicas.
Comportamento socialmente sustentável:
> reforça as comunidades;
> proporciona acesso à tomada de decisão através da participação ou
outros meios;
> salvaguarda a saúde e a segurança;
>procura a equidade.
A necessidade de estabelecer metas, avaliar progressos e medir resultados
rumo à sustentabilidade sentida pelas entidades e pelos responsáveis pela
implementação de políticas novas, tem conduzido nos últimos anos ao estudo
e desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade, que compreendem
vários parâmetros das três faces do triângulo do desenvolvimento sustentável.
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Num relatório da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e
de Trabalho sobre indicadores de sustentabilidade urbana, alguns anos depois
(1998), lê-se:
“Sustainbility is equity and harmony extended into the future, a careful jour-
ney without an endpoint, a continuous striving for the harmonious co-evolution
of environmental, economic and socio-cultural goals. A sustainable city is one
which succeeds in balancing economic environmental and socio-cultural pro-
gress through processes of active citizen participation. All cities are now confron-
ted with the challenge of considering economic, social and environmental issues
simultaneously and constantly reajusting the balance. An unusual definition for
sustainability is that sustainability is a striving for eternal youth. It is a continuous
invention of new opportunities, resembling youth it self, a capacity for innova-
tion which is a non-depletable resource, a permanente thirst for the unknown, the
search for something better.” (Mega e Pedersen, 1998:2).
E a propósito de inovação preconizada para o salto qualitativo global necessário
para alcançar a sustentabilidade, o relatório continua,
“‘Innovation is a creative destruction’ (Schumpeter 1976). It includes the inven-
tion of new concepts, products or ideas, the coalitions for their implementation
and the transformation that they bring. An old world of obsolete ideas, principles
and practices dies while a new one emerges. According to A. Einstein, ‘the world
we have created today as a result of our thinking thus far has problems which
cannot be solved by thinking the way we thought when we created them’.” (idem).
O balanço internacional 10 anos pós a Eco’92, na Cimeira das Nações Unidas
para o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (2002), veio confirmar
a tímida evolução do Desenvolvimento Sustentável e a necessidade de reforçar
políticas e medidas concretas neste domínio. Na sequência dos resultados da
Cimeira de Joanesburgo, a UNESCO, assumindo a educação como factor chave
para a mudança e promoção do Desenvolvimento Sustentável, lança em 2005 a
Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Susten-
tável (DNUEDS, 2005-2015), onde, entre vários objectivos e prioridades, se rei-
tera a de educar para promover padrões de produção e consumo sustentáveis.
31
Para mais informação sobre desenvolvimento sustentável consultar Van Weenen
(1997a), e Charter & Tischner (2001) (ou, entre inúmeros outros sítios na internet
com informação sobre este assunto, o site da UNEP, site do Internacional Insti-
tute for Sustainable Development - IISD: http://iisd1.iisd.ca/business/cases).
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Texto de apoio 3:Produção e consumo Sustentável (com base em Leal et al, 2003)
Apesar de se poder considerar que as ligações do consumo com o ambiente
remontam à eclosão da “crise ambiental” dos anos 60, as atenções, as pressões
e as medidas começaram, então, a exercer-se essencialmente sobre o lado da
produção, sobre os produtores – as industrias. Só mais tarde e gradualmente, à
medida que o sector produtivo foi sendo condicionado, se foi realizando a impor-
tância do lado do consumo e este foi sendo considerado igualmente prioritário e
determinante nas políticas de ambiente.
Muito antes de se falar de “consumo verde” – uma tendência dos anos 80 –, já
as organizações ambientalistas pressionavam os governos nesta área. Com a
emergência do “consumo verde” no início da década de 80, passou-se a ter o pró-
prio consumidor como agente de pressão. Comprar produtos que tinham menos
impacto sobre o ambiente era uma forma de pressionar a indústria a tomar medi-
das de melhoria de performance ambiental.
Foi também sobretudo ao longo dos anos 80 que os impactes ambientais dos
produtos começaram a ser avaliados mais frequentemente pelas organizações
de consumidores e a fazer parte dos testes e das informações regulares para o
consumo (ex: conteúdo em CFCs de produtos em aerossol e sistemas de refri-
geração; conteúdo em fosfatos de detergentes; metais pesados em pilhas; pre-
sença de pesticidas em alimentos e água de consumo; etc.).
A mais elevada consciência pública das questões ambientais e crescente pres-
são dos consumidores “verdes”, fomentaram uma crescente procura de produtos
“verdes”, como os detergentes livres de fosfatos, gasolina sem chumbo e outros.
Muitas empresas pioneiras no lançamento de produtos inovadores mais “amigos
do ambiente” foram muito bem sucedidas.
No início dos anos 90, o “design verde” (“green design”) era uma moda, e a indús-
tria e o design tiveram que responder à procura do mercado. O efeito de “arraste”
trouxe consigo um efeito multiplicador e hoje em dia quase todas as empresas
líderes têm um produto ou uma gama de produtos ditos “amigos do ambiente”.
33
Embora muitos autores chamassem desde logo à atenção para as falácias des-
tas novas designações publicitárias. A este propósito, Santos (1994) adverte que
“não há produtos ‘amigos do ambiente’, o que há são produtos menos danosos
para o ambiente.”
Começou, então, a colocar-se o problema da informação sobre o produto, a ques-
tão da rotulagem independente e oficial, a chamada rotulagem ecológica (“eco-
labelling”), que, apesar de reconhecidamente necessária, foi revelando as suas
limitações.
Apesar da forte resposta inicial da indústria à “procura verde”, no início dos anos
90 ainda não era claro o quanto era possível melhorar os produtos em termos
ambientais, sem perda de qualidade ou desempenho, que também são importan-
tes para os clientes. Estas dúvidas começaram progressivamente a dissipar-se à
medida que o crescimento do mercado e a concorrência “verde” amadureciam e
aumentavam os novos desenvolvimentos tecnológicos e de “produtos verdes” de
qualidade.
No entanto, é necessário realçar que a redução dos impactes ambientais nega-
tivos resultantes dos padrões de consumo a que nos habituamos, não será pos-
sível apenas pelo recurso a novos desenvolvimentos tecnológicos e ao desen-
volvimento mais avançado e ambientalmente adequado de novos produtos. Para
alguns autores, as soluções tecnológicas só adiam situações ambientais críticas
que seriam melhor abordadas através de mudanças comportamentais e de estilo
de vida (Macfarlane, 1997).
Progressivamente, a par com a noção de que era possível e desejável consumir
melhor, começou a desenvolver-se a ideia de que não bastava “consumir verde”,
era também necessário consumir menos – levantava-se, assim, a questão crítica
das “necessidades”.
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Uma limitação importante no “consumo verde”, como foi surgindo, reconhecida
por diversos autores, é o seu impacto apenas parcial ou muito reduzido sobre as
atitudes, por vezes mais relevantes em termos ambientais e, nesta perspectiva, o
“consumo verde” terá muito que evoluir até se aproximar de formas de consumo
sustentáveis.
Com a Conferência do Rio, em 1992 – Conferência das Nações Unidas para o
Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD) –, reafirmavam-se as conclusões de que
a capacidade de carga do planeta não podia sustentar os padrões de desenvolvi-
mento ocidentais correntes. Na Agenda 21 declarava-se que a causa principal da
deterioração do ambiente global é o padrão insustentável de consumo e produ-
ção, particularmente nos países industrializados. A CNUAD colocara a mudança
dos padrões de consumo no coração do plano de acção para o desenvolvimento
sustentável e chamava os países industrializados a tomarem a liderança. Após a
Conferência, vários governos, organizações internacionais, empresas, institutos
de investigação e organizações de cidadãos, sobretudo nos países industrializa-
dos, começaram a explorar as implicações práticas da agenda global para o con-
sumo sustentável.
Os consumidores em geral não estavam - e continuam a não estar - bem infor-
mados a respeito das consequências ambientais dos seus padrões de consumo e
estilos de vida. Para serem ambientalmente responsáveis as pessoas precisam
de informação sobre as ligações entre os seus padrões de consumo, atitudes,
acções, estilos de vida e a qualidade do ambiente. Mas para além da informação
não ser suficiente, é necessário repensar e reformar atitudes sociais, culturais e
políticas.
Como sobreviver às forças do mercado e voltá-las a favor dos consumidores e do
ambiente? Em vez de uma atitude moralizadora e de penalização – quer psicoló-
gica, do tipo “consumir faz mal ao ambiente” ou “consumir faz mal à saúde”, quer
económica, através da aplicação de taxas e preços mais elevados –, há autores
que defendem o estabelecimento de um quadro de informação e incentivos que
35
encorajem as pessoas a adquirir comportamentos de consumo mais informados
e saudáveis. No alinhamento destas ideias, surgiram nos últimos anos do século
XX, em vários países, iniciativas e projectos de educação para o consumo, ao nível
formal e não formal, para crianças, jovens e adultos.
Um aspecto-chave considerado por alguns autores para o desenvolvimento de
consumos sustentáveis, é a procura de definições alternativas e inovadoras do
que os consumidores realmente precisam, daquilo que são as “necessidades”
das pessoas, para além de abordagens exclusivamente baseadas na satisfação
e consumo material. O que surge a par com a procura de redefinições do que é
riqueza e bem-estar de pessoas e países, preconizadas também por muitos auto-
res para as áreas económica e social, à luz das orientações para o desenvolvi-
mento sustentável.
O novo enfoque é claramente na criação de alternativas que conduzirá, em última
instância, a que se encontrem progressivamente no mercado apenas produtos
saudáveis. Mas este será um processo gradual de mudança, no qual teremos que
estar empenhados durante um longo período de tempo (Ananthakrishnan, 1992).
Entre 1994 e 1996, o governo norueguês organizou vários encontros internacio-
nais de alto nível sobre consumo sustentável em colaboração com outras ins-
tituições internacionais, onde se reuniram representantes de países da OCDE,
peritos e representantes de organizações das Nações Unidas, ONGs e indústria
de vários países. O objectivo era ajudar a clarificar a base conceptual para a con-
centração de esforços a nível internacional no desenvolvimento de políticas de
produção e consumo mais sustentáveis nos anos vindouros.
A Mesa Redonda Ministerial Sobre Consumo Sustentável, de Fevereiro de 1995,
em Oslo, organizada pela OCDE com o Ministério do Ambiente norueguês, tinha
por objectivo preparar elementos para um programa de trabalho internacional
sobre consumo e produção sustentável para a Comissão das Nações Unidas para
o Desenvolvimento Sustentável (CNUDS). A mesa redonda centrou-se no desen-
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volvimento de uma estratégia para o consumo sustentável que tome o consu-
midor final como ponto de partida, e conclui que consumo e produção mais sus-
tentáveis irão requerer mudanças estruturais de longo prazo nas economias e
estilos de vida (PNUD, 1998).
A definição de Produção e Consumo Sustentável aí apresentada foi: “the produc-
tion and use of goods and services that respond to basic human needs and bring
a better quality of life, while minimising the use of natural resources, toxic mate-
rials, and emissions of waste and pollutants over the life cycle, so as not to jeopar-
dise the needs of future generations” (WBCSD/UNEP, 1996:5).
Desta mesa redonda ministerial sobre consumo sustentável concluía-se (PNUD,
1998):
> Colocar o mundo numa trajectória de consumo sustentável vai demorar déca-
das. As infra-estruturas físicas – como por exemplo, na habitação, energia trans-
portes e gestão de resíduos – podem prender as sociedades a padrões de con-
sumo insustentáveis, sobre os quais os consumidores individuais têm pouca
influência. Para além disso, muitos padrões de consumo insustentáveis estão
profundamente enraizados em hábitos culturais, apesar da crescente evidência
de que muitos cidadãos estão agora preparados para reexaminar os seus estilos
de vida.
> A realidade política nas sociedades democráticas fará com que seja muito mais
fácil alterar os padrões de consumo do que o volume (ou níveis) de consumo,
apesar de ser necessário abordar ambos.
> Os governos têm de fornecer o enquadramento geral de incentivos, infra-estru-
turas, regulamentação e liderança que ajudará os outros actores a assumir a sua
parte na cadeia, desde a produção, ao consumo e à recolha final.
> O sector empresarial tem uma enorme responsabilidade na gestão dos impac-
tes ambientais dos bens e serviços que fornece.
> Os sindicatos podem ajudar a promover novos padrões de produção e consumo
que unam preocupações laborais e ambientais.
> Também os cidadãos têm um grande papel a jogar na mudança dos padrões de
consumo, nas suas múltiplas funções de consumidores, famílias, trabalhadores e
37
eleitores. Assumindo o relatório que as mulheres têm um papel particularmente
importante na determinação das decisões de consumo sustentável.
Confirma-se a necessidade e tendência de alargamento das políticas para a sus-
tentabilidade da abordagem apenas do lado da oferta (medidas para a mudança
dos padrões de produção), para a abordagem também do lado da procura (medi-
das para a mudança dos padrões de consumo). Medidas do lado da oferta, da
produção industrial, incluem as tecnologias mais limpas, gestão e auditorias
ambientais, ecodesign, rotulagem ecológica, controle de poluição e ecoeficiên-
cia energética e material. Medidas do lado da procura, incluem consumo “verde”
e consumo e investimento ético, o acesso à informação, mudança de estilos de
vida, eco-taxas e educação do consumidor.
Num estudo sobre influências sobre os padrões de consumo para o desenvol-
vimento sustentável, promovido pelo governo Norueguês, em 1996, os agentes
identificados como influenciadores do consumidor a diferentes níveis, são: produ-
tores, media, ONGs, governo central e agências governamentais, governos locais,
escolas e outras instituições educativas e de investigação (Rensvik, 1996).
Para a CI (1997:10/11) avançar em direcção à sustentabilidade, requer mudan-
ças no sentido de:
> minimizar o uso de recursos não renováveis, tais como minerais e combustíveis
fósseis;
> usar recursos renováveis de forma sustentável, como água potável, solo, flo-
resta, pesca;
> manter dentro dos limites da capacidade de regeneração do ambiente, da capa-
cidade dos ecossistemas para absorver resíduos;
> conservar a diversidade biológica de plantas e animais.
Como pode tal ser feito, inclui diversos contributos em discussão, como:
> Produzir de forma ambientalmente mais adequada: através da eco-eficiência
dos processos, reduzindo o consumo de energia e matéria-prima, através do re-
design dos produtos, tornando-os mais duráveis, recicláveis e reparáveis.
> Satisfazer necessidades de novas maneiras: usando serviços em vez de produ-
tos (ex: uso de lavandaria colectiva, em vez de posse individual de uma máquina;
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uso dos transportes públicos, em vez do carro individual).
> Reduzir o consumo: voluntariamente ou através de regulamentação (ex: proibi-
ção de determinados produtos descartáveis).
> Redistribuir o consumo: aplicando taxas sobre usos de luxo, usando o dinheiro
para subsidiar usos essenciais.
Depois do relatório ministerial de 1997, sobre “Produção e Consumo Sustentá-
vel”, a OCDE publicava em Março de 1998, uma avaliação das medidas e polí-
ticas para o consumo sustentável dos países membros, no relatório intitulado
“Towards Sustainable Consumption Patterns - A Progress Report on Member
Country Initiatives”. Lidar com os padrões insustentáveis de consumo é conside-
rado como um desafio crucial dos países da OCDE, que continuam a ser os prin-
cipais consumidores mundiais de recursos naturais. As medidas para influenciar
a demanda dos consumidores têm recebido menos atenção no passado do que
medidas para influenciar os padrões de produção. As tendências comuns nos paí-
ses membros para continuação do aumento do número de habitações, consumo
doméstico de energia, posse de bens, e posse e uso de automóveis, constituem,
segundo o relatório, um dos principais motivos para a crescente necessidade dos
governos influenciarem as decisões dos consumidores individuais e de expan-
direm as opções que lhes são disponibilizadas – em complemento das medidas
ligadas à produção que se revelam insuficientes (OCDE, 1998).
Muitos países têm promovido o debate público alargado sobre esta temática do
consumo sustentável, e, para além dos governos centrais, iniciativas de outros
parceiros ao nível local e internacional têm-se revelado profícuas, incluindo
desde abordagens inovadoras ao nível de comunidades locais, promovidas pelos
próprios cidadãos no sentido de mudar os seus estilos de vida de forma efec-
tiva, até diversos encontros internacionais. O mesmo relatório da OCDE (1998),
concluía estarem em curso nos países membros, sérios esforços para mudar os
padrões de consumo, aparentemente por razões como:
> reconhecimento crescente entre os cidadãos, governos, empresas, ONGs e
outras organizações e grupos na sociedade, que estilos de vida excessivos e des-
39
perdiçadores de recursos não podem ser mantidos;
> evidência concreta de que são praticáveis mudanças significativas no estilo
de vida, que conduzem a reduções significativas de matérias-primas e emissões
poluentes, sem efeitos negativos nos padrões de vida; a experiência da indústria
a este nível é importante;
> o crescente conjunto de instrumentos políticos disponível para os governos
influenciarem os comportamentos de consumo, particularmente através dos
mercados e das técnicas avançadas de comunicação.
Em Julho de 1998, o Conselho Económico e Social das Nações Unidas (ECO-
SOC) pediu aos governos que iniciassem consultas nacionais sobre orientações
de protecção ao consumidor para consumo sustentável. As discussões seriam
baseadas no documento de base proposto pela Consumers International (CI),
cobrindo tópicos como a necessidade de produtos duráveis, recicláveis, repará-
veis, reutilizáveis, testes ambientais, educação do consumidor, fornecimento de
informação verdadeira sobre os aspectos ambientais dos produtos e serviços, e
políticas de aquisição mais “verdes”.
Santos (1999) realça o investimento prioritário que muitas instituições e organi-
zações têm efectuado no estudo do papel da indústria na formação e educação
dos consumidores para um consumo sustentável, mas não deixa de chamar a
atenção para o facto de as investigações não poderem iludir os conflitos, contra-
dições e recuos do funcionamento do mercado. O autor dá o exemplo da informá-
tica e da electrónica que se pensava iriam reduzir o consumo de papel, tendo-se
passado exactamente o inverso; ou nos fornos electrodomésticos de micro-
ondas que vieram implicar a criação de um novo mercado de embalagens. Ou
seja, para o autor, o progresso tecnológico deve levar-nos a interrogar o signifi-
cado do que é consumir menos e consumir melhor, “até porque este mesmo pro-
gresso tecnológico faz eclodir novas minipoluições”, que supõem novas técnicas
curativas e preventivas, novos mecanismos de reaproveitamento e reciclagem
das sucessivas gamas de aparelhos eléctricos e electrónicos, que imediatamente
tornam obsoletas as gamas precedentes (Santos, 1999).
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Encontram-se em curso em vários países do mundo inúmeras iniciativas comu-
nitárias para a sustentabilidade. Todas estas iniciativas – do tipo acções de cida-
dãos, apoio de autoridades locais, reformas políticas nacionais e novas estraté-
gias empresariais – na opinião de Robins (1999), precisam de se difundir e somar
a estilos de vida que as pessoas não só queiram como possam alcançar – numa
riqueza e bem-estar de baixo impacto ambiental (“low-impact affluence”). O
papel dos media é considerado crucial por muitos, não só para escrutinar as “ale-
gações verdes” das empresas e dos governos, como para estimular o debate
público e promover alternativas à corrente principal.
Ao longo dos últimos anos do século XX e início do século XXI, um número cres-
cente de instituições de investigação, organizações ambientais e agências de
governos têm procurado desenvolver cenários de sustentabilidade em que, ape-
sar das necessidades drásticas de redução de uso e desperdício de recursos,
se antecipam perspectivas optimistas para o futuro nos países industrializa-
dos. Estes cenários apontam para que, com o uso óptimo de inovações técnicas
e sociais, máximo de esforço para melhoria de eficiência e com a ajuda de ins-
trumentos económicos, pode ser criado um futuro que não tem que sacrificar a
nossa qualidade de vida (ODIN, 1999).
Para mais informação sobre Produção e Consumo Sustentável consultar Char-
ter & Tischner (2001), e o site da UNEP sobre Produção e Consumo (www.unep-
tie.org/pc).
41
Texto de apoio 4: (In)formação/educação Ambiental (com base em Leal, 2005)
(in)formação ambiental nas e das empresas
Há uma falta geral de consciência e compreensão acerca da sustentabilidade,
com o conceito frequentemente aplicado à manutenção da longevidade econó-
mica, ou seja, crescimento económico sustentável. Para Tischner (2005: s/p),
isto é tanto verdade para clientes como para outros stakeholders na maioria das
áreas de negócio, existindo um significativo potencial de mudança associado à
cadeia global de fornecedores.
O processo de desenvolvimento de produto começa com uma ideia e cresce até
ao conceito. Portanto, e segundo a mesma autora (idem), se aqueles indivíduos
cuja responsabilidade é gerar e gerir a criação de novos produtos não têm cons-
ciência e compreensão do conceito de sustentabilidade, dificilmente se verifica-
rão avanços organizados e sistemáticos no sentido da ecoeficiência e de soluções
sustentáveis. Se soluções mais sustentáveis são para ser projectadas e desen-
volvidas, então é necessário maior compreensão dos aspectos práticos do con-
ceito e das questões de fundo associadas.
Uma questão chave é a integração da compreensão do que é a sustentabilidade
no planeamento estratégico, mesmo antes das fases iniciais de desenvolvimento
do produto. O que pode ajudar a evidenciar oportunidades de mudança de longo
alcance, que requerem frequentemente tomadas de decisão estratégicas den-
tro de um negócio. É, por isso, necessária educação e re-educação entre todos
os stakeholders para re-orientar o processo de desenvolvimento do produto para
soluções mais sustentáveis (ibidem).
Presentemente, segundo Tischner (idem), não existe um enquadramento teó-
rico ou prático sobre o que significa o Desenvolvimento Sustentável de Pro-
duto (SPD) para as empresas no mundo industrializado. A pressão para reduzir
o tempo de lançamento no mercado e os custos percebidos são, actualmente,
constrangimentos chave para o ecodesign, ou mais alargadamente para o SPD.
Para esta autora a informação ambiental deverá focar nas necessidades dos
stakeholders do processo. No entanto, os dados são frequentemente vistos como
complexos, a recolha de dados como demorada, e a análise como atrasando o
processo de desenvolvimento do produto.
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Para esta especialista alemã em Ecodesign/SPD, para permitir a implementa-
ção efectiva do ecodesign/SPD nas empresas, a informação terá que ser prepa-
rada mais eficazmente para os técnicos de desenvolvimento de produto, desig-
ners e outros quadros. Também deverá existir um envolvimento mais alargado
dos stakeholders no processo, com visão e pensamento para a sustentabilidade a
ser “injectados” tão cedo quanto possível, particularmente através de maior input
dos clientes e fornecedores – ou seja a palavra-chave é: participação. Considerar
as questões ao nível da fase do design de pormenor é demasiado tarde, uma vez
que muitas opções já terão sido feitas e perdidas oportunidades (ibidem).
Dirigida ao consumidor
Com a Conferência do Rio, em 1992 – Conferência das Nações Unidas para o
Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD, ou Eco’92) –, reafirmaram-se as conclu-
sões de que a capacidade de carga do planeta não podia sustentar os padrões de
desenvolvimento ocidentais correntes. Na Agenda 21, então criada, declarava-
se que a causa principal da deterioração do ambiente global é o padrão insus-
tentável de consumo e produção, particularmente nos países industrializados.
A CNUAD colocou a mudança dos padrões de consumo no coração do plano de
acção para o desenvolvimento sustentável e chamou os países industrializados
a tomarem a liderança. A educação ambiental foi então assumida como um dos
meios a privilegiar. Após a Eco’92, governos, organizações internacionais, institu-
tos de investigação, organizações de cidadãos e empresas, sobretudo nos países
industrializados, começaram a explorar as implicações práticas da agenda glo-
bal para a produção/consumo sustentável.
Apesar de se saber que o acesso à informação não é condição suficiente para a
mudança de comportamentos, para Abraham (1992), dirigente do Programa de
Ambiente da IOCU (International Organization of Consumers Unions), os consu-
midores em geral não estavam, então – nem estão hoje –, bem informados a res-
peito das consequências ambientais dos seus padrões de consumo e estilos de
vida. Para serem ambientalmente responsáveis as pessoas precisam de informa-
ção sobre as ligações entre os seus padrões de consumo, atitudes, acções, esti-
43
los de vida e a qualidade do ambiente. No alinhamento destas ideias surgiram
nos últimos anos em vários países iniciativas, projectos e programas de informa-
ção/educação ambiental, para o desenvolvimento sustentável e educação para
o consumo (sustentável), ao nível formal (escolar) e não formal, para crianças,
jovens e adultos.
Por outro lado, a necessidade de alargamento das políticas de ambiente de
uma abordagem apenas do lado da oferta para uma abordagem também do lado
da procura, veio implicar algumas medidas ao nível do consumo e do consumidor.
Ou seja, das medidas ao nível da indústria para a mudança dos padrões de produ-
ção (tecnologias mais limpas, gestão e auditorias ambientais, ecodesign, rotula-
gem ecológica, controle de poluição e eco-eficiência energética e material), pas-
sou-se também para as medidas ao nível do consumidor, para a mudança dos
padrões de consumo, que incluem: consumo sustentável e consumo e investi-
mento ético, mudança de estilos de vida, eco-taxas, acesso à informação, e edu-
cação do consumidor.
No que respeita à “descida” das políticas para a sustentabilidade ao nível do
cidadão comum, a entrada prioritária passou a ser o consumo. O conceito de con-
sumo sustentável abriu caminho e cresceu muito para além do movimento do
“consumo verde” dos finais dos anos 80 e inícios de 90. Então, a ênfase era colo-
cada no fornecimento de eco-produtos para nichos de mercado servindo consu-
midores afluentes, com o apoio de políticas modestas, como a rotulagem ecoló-
gica. Nos finais dos anos 90, início de 2000, a abordagem desejável passou a ser
(Robins, 1999):
> Integrada: fazer com que bens e serviços sirvam o desenvolvimento susten-
tável, satisfazendo as necessidades básicas, melhorando a qualidade de vida,
aumentando a eficiência e não apenas reduzir o dano ambiental.
> Pró-activa: abordar os padrões da procura – forças de mercado, demografia,
valores sociais e culturais, tecnologia, regulação, infra-estruturas.
> Estratégica: usar o lado da procura para levantar benefícios sociais, económi-
cos e ambientais de longo prazo, na utilização e ao longo da cadeia do produto.
> Abrangente: influenciar as escolha de aquisição, uso e descarte feitas pelas
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companhias (cadeia de fornecimento) e autoridades públicas, e não apenas do
consumidor individual.
> Criativa: mudar os padrões de consumo é novo para as políticas de ambiente e
requer inovadores instrumentos reguladores, de mercado e culturais.
No final do século XX início de XXI, as ligações entre as questões do consumo,
ambiente e desenvolvimento sustentável tornam incontornável e prioritária a
integração da informação e educação para o consumo em qualquer estratégia e
programa de ambiente dos governos e das organizações, públicas e privadas –
empresas industriais e comerciais incluídas.
No entanto, desde o início dos anos 90 (após a Eco’92), no que respeita ao con-
sumo, a situação evoluiu mais ao nível teórico do que ao nível prático, das
mudanças preconizadas e esperadas rumo a consumos sustentáveis e ao desen-
volvimento sustentável. O mundo do consumidor parece construir muito len-
tamente caminho através da escolha mais ou menos (in)consciente, mais ou
menos fundada, mais ou menos ética, procurando o melhor da tecnologia cor-
rente disponível entre as forças livres do mercado, as orientações governamen-
tais e a informação e consciência individual possíveis.
O balanço internacional 10 anos após a Eco’92, na Cimeira das Nações Unidas
para o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (2002), veio confirmar
a tímida evolução do Desenvolvimento Sustentável e a necessidade de reforçar
políticas e medidas concretas neste domínio. Na sequência dos resultados da
Cimeira de Joanesburgo, a UNESCO, assumindo a educação como factor chave
para a mudança e promoção do Desenvolvimento Sustentável, lança em 2005
a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(DNUEDS, 2005-2015), onde, entre vários objectivos e prioridades, se reitera a de
educar para promover padrões de produção e consumo sustentáveis.
Informar e educar para o ambiente passou a ser informar e educar para o desen-
volvimento sustentável. Educar para o desenvolvimento sustentável é, também,
45
e cada vez mais, educar para o consumo sustentável – para a procura e constru-
ção individual e colectiva de alternativas mais adequadas. Educar para e através
da investigação, imaginação, criação e experimentação de hipóteses, cenários
alternativos de satisfação de necessidades. O que passa também pela procura e
intercâmbio de informação e comunicação sobre aquilo que se supõem ser bons
exemplos e práticas para a sustentabilidade, ao nível doméstico, empresarial e
institucional, à escala local, nacional e internacional.
Do lado do sector empresarial, as questões éticas colocadas pelos problemas
ambientais e pelas novas exigências do desenvolvimento sustentável, fizeram
emergir novas necessidades de formação, informação e comunicação associa-
das às dimensões ecológicas e sociais. O mundo empresarial foi chamado desde
logo como parceiro social incontornável nesta evolução sócio-económica e nas
mudanças a promover.
As respostas pragmáticas do sector empresarial surgiram gradualmente ao
longo dos últimos anos pela mão de algumas empresas líderes no mercado,
grupos e associações empresariais e outras organizações ligadas aos secto-
res produtivo e comercial. A promoção de relações de transparência e canais de
comunicação com os vários stakeholders ao longo de toda a cadeia produtiva
e comercial, em particular, conduziram a tendências e orientações de reporte
e comunicação ambiental para as empresas (“environmental reporting and
communication”).
Esta dimensão da informação/comunicação ao consumidor e aos vários parcei-
ros, associada aos objectivos, planeamento e gestão com preocupações ambien-
tais, surge de modo mais explícito e formalizado através de iniciativas de ade-
são voluntária como a implementação de esquemas de rotulagem ecológica
nacionais ou internacionais (ex: Rótulo Ecológico Europeu), ou do Sistema Euro-
peu de Auditoria e Gestão Ambiental (EMAS); bem como a família das normas
ISO 14000 (Anexo A.9), nomeadamente a série ISO 14020 relativa aos Rótulos
e Declarações Ambientais, e, mais recentemente, a ISO 14063 (2006) relativa
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à Comunicação Ambiental, com o objectivo assumido de ajudar as empresas a
estabelecer a importante ligação com os stakeholders externos.
A informação/comunicação ambiental dirigida aos vários stakeholders, e aos
consumidores em particular, tornou-se nos últimos anos uma componente incon-
tornável das políticas ambientais e estratégias de gestão e comunicação das
empresas mais responsáveis e líderes no mercado.
Para o consumo sustentável
Gradualmente, como consumidores as novas exigências que se nos colocam
neste início de século XXI, já não passam apenas pelas opções e decisões de
compra, pelo consumo no sentido mais estrito, mas começam-nos a ser pedi-
dos também uma consciência mais alargada e novos gestos e atenções de pré-
consumo, consumo e pós-consumo. No fundo, que como consumidores, contri-
buamos também de forma mais consciente e efectiva para reduzir os impactes
ambientais negativos resultantes das sociedades industrializadas e das econo-
mias de mercado massificadas de que participamos.
Acresce hoje a importância de perceber que qualquer produto ou equipamento
(industrial ou artesanal) resulta do aproveitamento de recursos naturais, que
foram extraídos de algum local, transportados, mais ou menos transformados
e utilizados para produzir o objecto desejado, que depois foi distribuído, comer-
cializado e usado algures. Toda esta cadeia de extracção, produção, consumo e
destino final, recorre a processos mais ou menos industrializados ou artesanais,
consumidores de matérias e energias e dos quais resulta inevitavelmente algum
impacte no ambiente.
A acentuada divisão do trabalho associada às sociedades mais industrializadas,
o aumento demográfico, a terciarização e, agora mais acentuadamente, a “glo-
balização”, vieram afastar-nos progressivamente das actividades produtivas que
passaram a estar nas mãos de poucos para satisfazer muitos. Este afastamento,
47
social e físico, veio implicar também uma gradual “insensibilização”, por desin-
formação e desconhecimento dos recursos e processos envolvidos e seus efei-
tos locais mais directos, que existia, apesar de tudo, de forma mais próxima, nas
sociedades tradicionais não industrializadas. De facto, a maioria de nós desco-
nhece como é que são obtidas e produzidas a maior parte das coisas que usamos
no dia-a-dia.
É importante que consigamos compreender que nos habituámos a uma socie-
dade de pronto-a-consumir, de produção contínua e consumo “suspenso”, em
stand-by. Uma sociedade fascinante, em que os milhares de milhões de produ-
tos e equipamentos que nas montras das lojas e prateleiras de hiper-mercados,
armazéns e fábricas de todo o Mundo, esperam para ser consumidos e tornar-se
úteis, correspondem a pedaços do Planeta que já foram transformados, com
um esforço ecológico, humano e energético, com inúmeros impactes ambien-
tais diferidos no espaço e no tempo, que já estão aí a produzir efeitos, apesar do
consumo e usufruto final dos produtos poder não se ter ainda consumado. Por
outro lado, é também importante compreender que em muitos casos, os impac-
tes ambientais negativos mais importantes destes produtos ou equipamentos,
podem verificar-se não na fase de fabricação, mas na fase do seu uso diário.
Tal como para os criadores/produtores, a noção mais importante a desenvolver
como consumidores, é a de visão (eco)sistémica e de ciclo-de-vida das coisas
(processos e produtos). Importa a noção de que há diversos impactes ambientais
ao longo das diferentes fases desta cadeia de exploração de recursos, seu trans-
porte e transformação em matérias-primas, fabricação de produtos, transporte
e distribuição destes, comercialização, uso/utilização pelo consumidor, e destino
final após vida útil; e que é necessária atenção e esforço para diminuir os fluxos
desnecessários de matéria e energia – reduzir as necessidades materiais e ener-
géticas, seus desperdícios e impactes negativos.
A tão defendida educação para o consumo sustentável passa inevitavelmente
pela educação, sensibilização e informação para a produção (sustentável).
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Como consumidores temos que gradualmente ir mudando os padrões de satisfa-
ção de necessidades e desejos, assentes no excesso e no desperdício – mudança
na quantidade –, e reorientar as nossas opções de consumo para alternativas
mais sustentáveis – mudança na qualidade. Hoje em dia, existem no mercado
uma procura e oferta crescentes de uma variedade considerável de produtos/
equipamentos e serviços desenhados, produzidos e comercializados com preo-
cupações ambientais (de ecodesign), e sociais (design para a sustentabilidade).
Importa saber e conseguir identifica-los para os podermos escolher. Para isso,
tornam-se vitais a formação, informação e comunicação para todos os agentes
do sistema económico, e para o consumidor em particular.
49
Texto de apoio 5: A pegada ecológica (com base em Leal, 2000)
Ao longo dos últimos anos têm sido inúmeras e crescentes as iniciativas e esfor-
ços para contribuir não apenas para a sensibilização dos diversos sectores da
sociedade e público em geral para as questões prementes do ambiente e da sus-
tentabilidade, mas para a tomada de acções concretas e orientar e basear essas
acções numa consciência ecológica pragmática.
Muitos conceitos têm surgido em áreas mais técnicas e especializadas, mas tam-
bém do domínio público, de um progressivo senso ecológico comum. Um desses
conceitos recentes que tem conquistado alguma popularidade e difusão e apli-
cação pela sua simplicidade e carácter intuitivo, é o de ‘Pegada Ecológica’, resul-
tante da publicação da obra “Our Ecological Footprint”, em 1996, por Wackerna-
gel e Rees (1998).
Teoricamente, num mundo sustentável e equitativo, cada pessoa teria uma pro-
porção igual dos recursos da Terra para usar. Isso corresponde à noção de
espaço ambiental próprio. Os autores propõem um método para estimar e com-
parar as quantidades de recursos usadas por uma pessoa, grupo, instituição ou
sociedade, calculando a quantidade de terra e água, necessárias para satisfazer
essas necessidades, convertido em equivalente de área - a ‘Pegada Ecológica’.
A produção e uso de qualquer bem ou serviço depende de vários tipos de produ-
tividade ecológica. O consumo pode ser dividido em cinco categorias diferentes:
alimento, habitação, transporte, bens de consumo e serviços. As pegadas são
calculadas convertendo estes consumos em equivalente de área de planeta e
somando a terra necessária para todas as categorias significativas de consumo e
desperdícios estimados. Num cenário de sustentabilidade, a pegada de cada pes-
soa ou sociedade não pode ser maior do que o seu espaço ambiental alocado.
Em 1995, havia aproximadamente 1,5 hectares de terra ecologicamente produ-
tiva por pessoa no planeta. Os países ricos usavam cerca de 3 a 5 ha por pessoa,
o que significa que a sua pegada ecológica excedia a sua alocação de um factor
de 2 a 3 vezes mais. Cálculos da pegada ecológica para a Holanda, indicavam que
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era uma sociedade dependente de 15 vezes a sua área de terra, ou o que outros
designaram de “ghost acres” noutras partes do mundo (Macfarlane, 1997). A
Índia, apesar da pegada ecológica per capita ser apenas de 0.38 ha, devido à sua
população, a sua pegada nacional é de cerca de 1,4 vezes a sua área de terra pro-
dutiva. Parte desta pegada é importada (como no caso da Holanda), mas a maior
parte é obtida pela deplecção do capital natural do país.
“Os carros usam 1.860 calorias por passageiro por milha, os autocarros 920, o
comboio 885, andar a pé 100, e de bicicleta apenas 35 calorias por passageiro por
milha.” (in Girardet, 1996:146). Ou, em termos das diferentes pegadas ecológicas
de uma pessoa que se desloque cinco quilómetros duas vezes por dia para ir tra-
balhar: de bicicleta será de cerca de 120 m2, de autocarro cerca de 300 m2, e de
carro cerca de 1.440 m2 (Wackernagel & Rees, 1998:105).
Os cálculos da pegada ecológica são apenas indicativos, e são criticados por mui-
tos como não fiáveis. Wackernagel e Rees estão convencidos que os seus cálcu-
los subestimam o nosso impacto ecológico real. Os autores estimavam em 1995,
que a pegada ecológica média no mundo seria de 1,8 ha/pessoa, o que já era mais
do que os 1,5 ha de espaço ambiental disponível. O mundo já vivia para além das
capacidades do planeta:
“Wanted: Two (Phantom) Planets. If everybody lived like today’s North Ameri-
cans, it would take at least two additional planet Earths to produce the resources,
absorb the wastes, and otherwise maintain life-support. Unfortunately, good pla-
nets are hard to find...” (Wackernagel & Rees, 1998:15).
Para mais informação e para o cálculo da pegada ecológica (individual, da famí-
lia, da escola ou da empresa), consultar os sites:
www.ecologicalfootprint.org
www.myfootprint.org
www.footprintnetwork.org
51
Texto de apoio 6: As recomendações do WBCSD e da UNEP (com base em WBCSD/UNEP, 1996)
Durante a Cimeira da Terra, em 1992, duas organizações do mundo dos negócios
contribuíram de modo significativo para a promoção do desenvolvimento susten-
tável: o Business Council for Sustainable Development (BCSD - Conselho Empre-
sarial para o Desenvolvimento Sustentável) e o International Chamber of Com-
merce com a sua iniciativa Business Charter for Sustainable Development. Em
1995, o BCSD e o World Industry Council for the Environment (WICE) criaram o
World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), responsável,
desde então, por diversas iniciativas relevantes a nível internacional e nacional
(www.wbcsd.org; também representado a nível nacional – BCSD Portugal: www.
bcsdportugal.org).
Um sinal dos tempos, foi o apelo conjunto lançado por representantes da Gre-
enpeace e do WBCSD, na Cimeira das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável (em Joanesburgo, 2002 – 10 anos após a Cimeira da Terra), no sen-
tido de ser criada uma plataforma para a luta contra as alterações climáticas.
Numa interessante e construtiva parceria para a conjugação de esforços e o
reforço de orientações, a UNEP e o WBCSD, em 1996, associam e articulam os
seus conceitos basilares num documento intitulado “Eco-Efficiency and Cleaner
Production: Charting the Course to Sustainability”. Neste documento, é sugerido
que a Produção Mais Limpa (UNEP) parte de aspectos de eficiência ambien-
tal que trazem benefícios económicos positivos, enquanto que a Eco-eficiên-
cia (WBCSD) parte de aspectos de eficiência económica que trazem benefícios
ambientais (WBCSD/UNEP, 1996).
A eco-eficiência inclui conceitos da produção mais limpa (PML), como o uso efi-
ciente de matérias primas, prevenção da poluição, redução na fonte, minimiza-
ção do desperdício, e a reutilização e reciclagem internas. Promove a redução da
poluição através da mudança dos processos, em oposição às anteriores aborda-
gens de fim-de-linha (para mais detalhes sobre ecoeficiência e PML consultar o
Texto de Apoio 7).
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Tem aspectos comuns com outros instrumentos de gestão ambiental como a
Avaliação Ambiental ou o Design para o Ambiente (Design for the Environment),
incluindo-os entre as opções técnicas para reduzir a intensidade material e ener-
gética na produção, e facilitar a reutilização através da refabricação e recicla-
gem. A eco-eficiência também se caracteriza pela perspectiva de ciclo-de-vida,
que acompanha os diversos estágios do produtos desde a matéria prima até ao
seu destino final.
Segundo a WBSCD, é, portanto, uma extensão do processo de Gestão da Quali-
dade Total (“Total Quality Management”).
Estas abordagens, ecoeficiência e produção mais limpa, associam-se e contri-
buem claramente para o esforço de desenvolvimento de padrões de produção
e consumo sustentáveis. Os dois conceitos fazem parte de uma visão macro de
Produção e Consumo Sustentável que envolve a totalidade do sistema comercial
e as suas interrelações.
Deste documento conjunto do WBCSD/UNEP, “Eco-eficiência e Produção Mais
Limpa: Traçando o Rumo para a Sustentabilidade” (1996), resultaram um con-
junto de recomendações do WBCSD para a indústria, e da UNEP para os gover-
nos, que se transcrevem nas páginas seguintes.
53
Recomendações do WBCSD para a indústria
(com base em WBCSD/UNEP, 1996)
O WBCSD apela à cooperação, partenariado ou alianças entre empresas, gover-
nos, ONGs e outros para desenvolver os quadros estruturais regulador, político
e económico, no seio dos quais a inovação seja estimulada. O que permitirá às
companhias fornecer mais valia e desempenho com menos recursos e menos
desperdício, e resultar em maior eficiência empresarial.
A transição para a eco-eficiência é um processo passo a passo. As recomenda-
ções seguintes podem ajudar as empresas a iniciar o processo de reforma.
> Cultura empresarial: a gestão de topo deve adoptar uma visão de negócio de
eco-eficiência e traduzi-la para a acção. Determinante para o sucesso é o envolvi-
mento de empregados a todos os níveis por forma a promoverem o conceito junto
de fornecedores e clientes. Criar uma cultura corporativa de eco-eficiência tam-
bém significa que cada empregado assume responsabilidade total pelo produto e
considera todo o seu ciclo de vida em todas as decisões. Este é um pré-requesito
para responsabilidade partilhada.
> Formação: a indústria tem um papel na formação dos seus profissionais,
começando com os seus próprios empregados, e também o público em geral.
> Reconhecimento: identificar ameaças e oportunidades que possam afectar o
negócio. Os gestores devem compreender que a Terra é finita, a sua capacidade
para recuperação do uso excessivo de recursos é limitada, e as pressões para
modificar os comportamentos empresariais aumentarão. Estes constrangimen-
tos permanecerão como um facto da vida, e portanto as empresas têm que ante-
cipar estes desafios aplicando critérios ambientais a partir ‘do laboratório para o
mercado’.
> Instrumentos de Gestão: uma parte deles, tais como avaliação ambiental,
avaliação de ciclo de vida, métodos de contabilidade ambiental, podem ajudar as
empresas a identificar e seleccionar oportunidades para melhoria.
> I&D para Eco-eficiência: as empresas devem-se focar mais fortemente na
redução da intensidade material de bens e serviços. Investigação e Desenvolvi-
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mento dirigidos às mudanças de processos e melhoria de produto podem condu-
zir a produtos de valor acrescentado e reduzir impactos ambientais.
> Design para a eco-eficiência: os detalhes de design podem fazer uma dife-
rença acentuada em termos de requesitos de energia e matéria para a fabrica-
ção, e para o uso primário e especialmente secundário.
> Produção e eco-eficiência: as empresas devem prestar mais atenção ao uso
de energia e às emissões, pois podem trazer oportunidades de ‘ganho-ganho’
(“win-win”).
> Comprar e comercializar para a eco-eficiência: ao focar no valor acres-
centado, as empresas podem influenciar quer as atitudes dos consumidores quer
dos fornecedores. Adoptar políticas específicas de encomenda/compra reque-
rendo aos fornecedores que apliquem práticas de desenvolvimento sustentável,
evitará às empresas despesas subsquentes com desperdício e poluição.
> Serviço pós-venda: as empresas devem reconhecer que a sua responsabili-
dade e potencial culpabilidade legal (liability) não acaba na venda, e que os servi-
ços pós-venda podem até acrescentar valor extra.
> Fechar o ciclo: alargando a responsabilidade a toda a cadeia do ciclo de vida de
forma a assegurar administração (stewardship) total do produto e serviço.
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Recomendações da UNEP para os governos
(com base em WBCSD/UNEP, 1996)
Se é a indústria que implementa a produção mais limpa e eco-eficiência, os
governos têm o papel crucial de assegurar as condições que encoragem a indús-
tria a progredir. Os seguintes ‘instrumentos’ políticos que têm sido implementa-
dos com sucesso em vários países podem ajudar os governos a criar essas condi-
ções favoráveis à produção mais limpa:
1. Reforma reguladora
A tarefa do governo é continuar a melhorar a regulamentação existente que
inclua requesitos de melhoria de desempenho ambiental e implementação de
produção mais limpa. Assim, os governos precisam de:
> encorajar ‘cumprimento negociado’ com a indústria, usar linhas de orientação
gerais e flexíveis, e diálogo aberto entre os reguladores (governo) e regulados
(indústria);
> atribuir prioridade à produção mais limpa sobre o controle de poluição fase-
ando os regulamentos que possam prender a indústria ao uso de tecnologias
específicas;
> estabelecer regulamentações industriais e ambientais novas e integradas,
que recompensem os membros da indústria que levam a sério a produção
mais limpa.
2. Utilização de instrumentos económicos
> incluir a produção mais limpa no desenvolvimento de novos instrumentos, tais
como deveres ambientais, subsídios, e programas de apoio;
> eliminar insustentáveis preços baixos da água, energia e outros recursos
naturais;
> estabelecer apoio à gestão e assistência tecnológica para as PMEs;
> apoiar investigação e desenvolvimento de processos, produtos e serviços
mais limpos.
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3. Assegurar medidas de apoio
Dois factores inibem a difusão da produção mais limpa: o conceito não é fami-
liar à indústria, em particular PMEs, e quando é conhecido, os seus benefícios
económicos não foram devidamente comunicados ou percebidos. Os elementos
seguintes podem ajudar a inverter esta tendência:
> fornecer informação à indústria sobre os aspectos técnicos e de gestão da apli-
cação da produção mais limpa;
> apoiar Programas de Produção Mais Limpa que possam contribuir para
aumento da consciência, investigação e desenvolvimento, e melhoria de capaci-
dade dentro do próprio governo e para a indústria;
> apoiar a adaptação dos curricula educacionais de engenharia e gestão empre-
sarial por forma a incorporarem medidas preventivas;
> estabelecer esquemas de apoio à transferência de tecnologia.
4. Obter assistência externa
Países com pouca experiência na produção mais limpa podem beneficiar de
assistência externa para melhorar a sua própria capacidade de gerir as mudan-
ças tecnológicas e de gestão. Esta assistência pode surgir na forma de ajuda
financeira, transferência de informação, transferência de tecnologia, educação e
formação. Há necessidade de:
> instar as instituições financeiras internacionais a integrar a produção mais
limpa nas suas práticas de empréstimo;
> empenhar os recursos nacionais (financeiros e em espécie) de forma a harmo-
nizá-los com a assistência fornecida pelos esquemas de desenvolvimento e coo-
peração técnica.
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Texto de apoio 7: Produção Mais Limpa (PML) e Ecoficiência
Produção Mais Limpa (PML)
O conceito de Produção Mais Limpa - PML (“Cleaner Production”) desenvolveu-se
na Europa nos anos 70, de esforços no sentido de promover tecnologias de baixa
produção de resíduos. Embora as Nações Unidas (NU) reclamem o cunho do
termo aquando do lançamento do seu Programa de Produção Mais Limpa (“Cle-
aner Production Programme”), em 1989, através do United Nations Environment
Programme - Industry and Environment Programme (UNEP-IE). Muitos outros
termos similares existiam na altura, como “clean technology, pollution preven-
tion, waste reduction, waste prevention, eco-efficiency and waste minimization”
(UNEP-IE, 1993:1).
A UNEP-IE (1993), contrapõe a PML como um novo paradigma relativamente
ao anterior de controle de poluição de fim-de-linha. Quando o controle de polui-
ção de fim-de-linha é acrescentado aos sistemas industriais, os danos imedia-
tos são reduzidos, mas estas soluções comportam custos crescentes quer para
a sociedade, quer para a indústria, não se tendo provado sempre como sendo
eficazes do ponto de vista ambiental. Acresce que o controle de fim-de-linha é
reactivo e selectivo. A PML, pelo contrário, consiste numa abordagem de protec-
ção ambiental abrangente e preventiva. Requer que as pessoas sejam criativas e
investiguem todas as fases dos processos de fabrico e do ciclo-de-vida dos pro-
dutos, incluindo a sua utilização nas casas e nos locais de trabalho dos consumi-
dores. Envolve acções que podem ir desde melhor gestão interna, conservação
de energia e de matérias primas, eliminação de substâncias tóxicas (como maté-
rias primas e como constituintes dos produtos), redução da quantidade de resí-
duos e poluentes resultantes dos processos e produtos, re-utilização interna de
produtos de desperdício, até à alteração de processos e produtos.
A implementação da PML pode passar por uma série de abordagens diversas,
desde intervenções que podem envolver altas tecnologias, a outras de tecnologia
simples, e outras apenas de melhores práticas de gestão industrial ou de design.
Podem ir da simples racionalização das operações e processos existentes, à
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introdução de inovações tecnológicas.
É apresentada como uma abordagem em desenvolvimento à gestão ambien-
tal. Conforme tem sido provado em dezenas de projectos de demonstração bem
sucedidos, promovidos desde há alguns anos em diversos países desenvolvidos
ou em desenvolvimento, de todo o mundo, em diferentes sectores industriais,
pela iniciativa de governos, de pequenas médias ou grandes empresas, algumas
apoiadas pelo Programa de PML das NU. Alguns desses projectos envolvem ino-
vações que passam directamente pelo design de produtos, como é o caso do pro-
jecto PROMISE uma iniciativa para melhoria do design de produtos desenvolvida
em colaboração com as indústrias.
Como conceito deve ser considerada a aplicação contínua de uma estratégia
ambiental integrada de prevenção, aplicada aos processos industriais, produ-
tos e serviços, aumentando a eco-eficiência e reduzindo os riscos para a saúde
humana e o ambiente, e compreende:
> Para os processos produtivos: conservar matérias primas e energia, elimina-
ção de matérias primas tóxicas, e redução da quantidade e toxicidade de todas as
emissões e resíduos na fonte (antes de sairem do processo).
> Para os produtos: reduzir impactos ao longo da totalidade do ciclo-de-vida do
produto, desde a extracção de matérias primas ao seu destino final, através da
Avaliação do Ciclo-de-Vida e estratégias de Ecodesign.
> Para os serviços: a incorporação de preocupações ambientais no design e na
prestação dos serviços.
A PML requer, assim, mudança de atitudes, gestão ambiental responsável, cria-
ção de políticas nacionais, aplicação de know-how, avaliação e melhoria tecnoló-
gica (UNEP-IE, 1995; WBCSD/UNEP, 1996).
59
Ecoeficiência
É um conceito que foi lançado e promovido pelo Business Council for Sustainable
Development (BCSD) através do seu relatório “Changing Course”, por Stephan
Schmidheiny, para a Conferência do Rio, em 1992 (CNUAD), como resposta do
mundo empresarial ao desafio do desenvolvimento sustentável, depois publicado
em livro. Schmidheiny, um influente homem de negócíos suiço muito empenhado
nas questões ambientais, membro do BCSD e consultor para a CNUAD, propunha
então o conceito de ecoeficiência como uma forma de concretizar o desenvolvi-
mento sustentável para as empresas, que precisam de se agarrar a coisas con-
cretas e mensuráveis - desenvolvimento sustentável era considerado muito vago
para o mundo empresarial, e ecoeficiência tem uma ressonância mais inteligível
para a engenharia industrial.
A Ecoeficiência foi assim definida, no primeiro Workshop sobre Eco-Eficiência, em
Antuérpia, em 1993:
“Eco-efficiency is reached by the delivery of competitively priced goods and ser-
vices that satisfy human needs and bring quality of life, while progressively redu-
cing ecological impacts and resource intensity throughout the life-cycle, to a level
at least in line with the Earth’s estimated carrying capacity.”
(WBCSD/UNEP, 1996).
Para Van Weenen esta definição pressupõe quatro elementos críticos: uma
ênfase nos serviços, um enfoque nas necessidades, uma perspectiva de ciclo de
vida, e o imperativo de eco-capacidade.
A eco-eficiência vai para além do uso de recursos e da redução da poluição enfa-
tizando a criação de valor para as empresas e para a sociedade no todo. Aumen-
tando o valor dos bens e serviços que criam, as empresas maximizam a pro-
dutividade dos recursos, ganham benefícios essenciais, e recompensam os
accionistas, em vez de apenas minimizar desperdícios ou poluição.
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A ecoeficiência é um conceito em evolução que permite às companhias adap-
tarem-se às dinâmicas do mercado em mutação. As companhias confron-
tam-se com novas exigências de um maior número de parceiros, e aquelas que
implementarem práticas eco-eficientes serão capazes de responder melhor
às pressões competitivas e antecipar as necessidades do cliente, assegu-
rando ao mesmo tempo a qualidade do ambiente, e a saúde e segurança dos
trabalhadores.
O WBCSD destaca sete factores chave para a ecoeficiência (idem):
> aumento da intensidade de serviço de bens e serviços
> com minimização da intensidade material
> e da intensidade de energia destes bens/serviços
> eliminação/redução da dispersão tóxica
> aumento da durabilidade dos produtos
> favorecimento da reciclabilidade dos materiais
> maximização do uso sustentável de recursos renováveis.
A mudança no modo de ver e pensar a relação com o ambiente, e o surgimento
de novas ideias e princípios para conceber e produzir o mundo material, impli-
caram, naturalmente, a emergência de novas visões e novas formas de enten-
der e procurar gerir os sistemas políticos, económicos e industriais. Olhemos
um pouco para algumas das principais ideias e designações que surgem neste
âmbito: Economia Ecológica; Ecologia industrial; Gestão Integral; Gestão de Pro-
duto; e Responsabilidade Alargada do Produtor.
Texto de apoio 8:Novas visões de gestão (com base em Van Weenen, 1997a)
61
Economia ecológica
O conceito de Sociedade de Eco-ciclo (“Eco-cycle Society”) é visto, em 1994, pelo
Ministério do Ambiente da Suécia como o de uma sociedade com uma gestão
cíclica dos bens e da produção, com ênfase na reutilização e na recuperação, com
o objectivo de procurar um uso mais eficiente dos recursos e diminuir a produ-
ção de resíduos/desperdício/poluição. Este princípio de economia ciclíca já existe
na Alemanha desde inícios dos anos 90, procurando alcançar o uso máximo pos-
sível de produtos de recursos renováveis, e com componentes que possam ser
reutilizados.
Van Weenen cita Schnitzer, referindo que uma economia de eco-ciclo requer
energia não ligada à matéria. O que significa que só energia solar seria apro-
priada. E que a electricidade assume um papel importante, como forma de ener-
gia simples de transportar e que pode ser usada eficientemente (1992, in Van
Weenen, 1997a: 14).
Narodoslawsky descreve a economia de eco-ciclo como um novo paradigma
tecnológico e económico. Este autor é da opinião que os produtos não duráveis
devem ser baseados em recursos renováveis, produzidos a partir de materiais da
biosfera, como resultado do processo da fotossíntese, num chamado “bio-ciclo”.
A energia usada neste bio-ciclo consistirá apenas da energia solar, implicando
um abandono dos combustíveis fósseis. Materiais com origem em recursos não-
renováveis devem ser usados com uma duração tão longa quanto possível, e
serão integrados no chamado “ciclo mineral”.
Este autor sugere que não haverá trocas entre estes dois ciclos, e que o bio-ciclo
serve para produtos de curta duração e o ciclo mineral para produtos de longa
duração (1992, in Van Weenen, 1997a: 14).
Van Weenen identifica muitos conceitos e práticas actuais ou propostas para o
futuro que considera inspirados na natureza. Um exemplo de certo modo decor-
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rente do conceito anterior, é o de Ecologia Industrial.
Ecologia industrial
Um conceito que data de início dos anos 90, e que visa uma abordagem de opti-
mização das inter-relações e fluxos através da infraestrutura industrial, num
modelo de analogia entre parques industriais e os ecosistemas naturais. Os resí-
duos de uma fábrica tornam-se em matéria-prima para outra.
Termos como metabolismo industrial e eco-fábrica aparecem associados a este
princípio, já a ser implementado em alguns países há alguns anos. Numa visão
mais abrangente, a ecologia industrial pode ser considerada como o metabo-
lismo de energia e materiais em processos produtivos interrelacionados, secto-
res industriais e sistemas de produção e consumo.
Van Weenen cita Ayres: “ It is increasingly urgent for us to learn from the bios-
phere and modify our industrial metabolism, the energy - and value - yielding pro-
cess essential to economic development” (1989, in Van Weenen, 1997a: 19); bem
como David Wann, registando que este autor apresentou, em 1991, um conceito
relacionado a que chamou de Biológico (“Biologic”): “He considers biologic to be
applied ecology and it is his conviction that there is no way things can be correctly
designed without understanding the fundamental dynamics of natural systems.”
(idem).
O conceito de Química Suave (“Soft Chemistry”) apresenta princípios de integra-
ção no metabolismo total da Terra e de como isso pode ser tornado compatível
com a Natureza, num uso sustentável das substâncias. Envolve o uso de recur-
sos renováveis como matérias-primas para os processos químicos industriais. Os
processos biológicos são promovidos, pelas suas características de baixa tem-
peratura, baixa pressão (economia energética) e resíduos degradáveis que lhes
estão associados.
63
Nas palavras de Van Weenen, de acordo com esta tendência, a Natureza é consi-
derada ter um avanço em termos de experiência no desenvolvimento de substân-
cias e produtos, da qual muito se pode aprender no processo de tornar as activi-
dades económicas compatíveis com os ciclos naturais.
Sirkin apresentou a lógica de uso de recursos em cascata (“resource cascading”)
como um instrumento para a conservação de recursos. Uma forma de repe-
tida e sucessivamente utilizar, recuperar e re-utilizar a qualidade de um recurso,
uma substância, no seu caminho para um equilíbrio limite (1990, in Van Weenen,
1997a: 24).
Gestão integral
O Ministério Holandês do Ambiente apresentou em 1994 o conceito de Ges-
tão Integral de Cadeia (“Integral Chain Management”) como princípio político.
Requer que produtores e consumidores tomem em consideração nas suas deci-
sões todos os efeitos (percebidos) no ambiente, que surjam em qualquer ponto
da cadeia de fluxo de substâncias. Produtores e consumidores deverão, portanto,
ser capazes de olhar para a frente e para trás nas cadeias de fluxo de substân-
cias e produtos, e perceber as séries de acções e implicações interligadas dos
diversos elos e participantes na cadeia do processo económico. Deverão estar
conscientes dos impactos das suas acções no ambiente em qualquer ponto da
cadeia, mas também das posssibilidades para melhorias e dos limites da capaci-
dade ambiental (Van Weenen, 1997a: 14).
Os conceitos relacionados com este princípio de Controle Integral da Cadeia
(“Integral Chain Control”), inventariados por Van Weenen na Europa, em 1992,
concernem todos com a realização de ciclos de substâncias, materiais, compo-
nentes de produtos e os próprios produtos. Contendo os materiais nesses ciclos
tanto quanto possível e através do uso de produtos de longa duração, o processo
da desmaterialização emergerá (idem).
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Gestão de produto
Este é um conceito que terá começado a ser implementado nos Estados Unidos,
nos finais dos anos 80, como resultado de um programa associado à indústria
química, procurando estimular dentro e fora do seu ramo, consciência nas áreas
da: saúde e segurança dos trabalhadores, segurança do processo e distribuição,
prevenção da poluição, consciência comunitária e gestão de produto (“Product
Stewardship”). Um dos objectivos é prestar atenção aos aspectos de um produto
relacionados com a saúde, segurança e ambiente, desde a sua proposta até ao
seu destino final - “from proposal to disposal” - e trabalhar com clientes, distri-
buidores, e fabricantes contratados para assegurar a manipulação segura do pro-
duto depois de este sair da fábrica. A gestão de produto pretende-se que comece
na fase de design, incluindo a contribuição dos fornecedores. Os fabricantes
devem acompanhar como os clientes usam um produto, realizando um feed-back
sobre o processo de I&D e as funções de comunicação de risco.
A propósito deste conceito, Van Weenen (1997a: 16) cita Underwood (1991), que
coloca a seguinte nota crítica: “Every question is asked about the product here
except one: should we make it at all? Companies should ask wether the product is
necessary, wether they are meeting a need or creating one.”
Responsabilidade alargada do produtor
O princípio de Responsabilidade Alargada do Produtor (“Extended Producer Res-
ponsability”), vem intimamente associado ao anterior, e inclui-se nas estratégias
mais recentes de protecção ambiental na Europa (início dos anos 90), apontando
para o objectivo de diminuir o impacto ambiental total dos produtos, tornando o
fabricante de qualquer produto responsável por todo o seu ciclo-de-vida e, espe-
cialmente, pelo seu retorno, reciclagem e destino final. A sua implementação
passa por instrumentos administrativos, económicos e informativos.
A política Holandesa remete para o produtor a responsabilidade do destino final
65
dos produtos. Num documento do Ministério do Ambiente Holandês de 1993,
relativo aos produtos e ao ambiente podiam ler-se as seguintes determinações
(idem:16):
“No interesse de reduzir o impacto ambiental relacionado com os produtos,
espera-se que os produtores façam duas coisas:
i) Estabelecer sistemas de informação e fazer uso da informação fornecida. Os
produtores serão nisto apoiados pelo governo, que estabelecerá um fundo para
desenvolver pesquisa na ligação dos sistemas de informação sobre produtos e os
sistemas de protecção ambiental.
ii) Desenvolver produtos ambientalmente conscientes. Os produtores serão nisto
apoiados pelo governo, que introduzirá medidas educacionais, organizará inves-
tigação, promoverá tecnologia ambiental e apoiará programas de intercâmbio
internacional.”
Responsabilidade Alargada do Produto (“Extended Product Responsability”) é um
conceito que emergiu e conheceu um crescimento nos últimos anos, e que usa
a abordagem de ciclo de vida para identificar oportunidades estratégicas para
produção mais limpa e eco-eficiência. Considera também o impacto crucial das
necessidades e preferências do consumidor, intervenção do governo, e o papel
dos elementos da cadeia de produção e distribuição (WBCSD/UNEP, 1996:9).
Num relatório do Conselho do Presidente Americano para o Desenvolvimento
Sustentável (United States President’s Council for Sustainable Development), de
1996, a responsabilidade alargada do produto é identificada como uma forma de
melhorar “the current fragmented approach to waste reduction, resource conser-
vation, and pollution prevention”. Fabricantes, fornecedores, utilizadores, e tra-
tadores finais de produtos, todos desempenham um papel na minimização dos
efeitos ambientais negativos dos fluxos de produtos e resíduos (idem). O Conse-
lho acredita que a responsabilidade partilhada dos efeitos ambientais contribuirá
para um uso mais eficiente dos recursos, tecnologias e produtos mais limpos,
melhores relações entre companhias ou comunidades, e escolhas mais respon-
sáveis do consumidor.
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Texto de apoio 9:Benchmarking Ambiental (“Environmental Benchmarking” - com base em AAVV, 2006)
O que é o Benchmarking
Existe uma confusão generalizada sobre o significado do termo Benchmarking.
Muito frequentemente o Benchmarking é entendido como um processo de sim-
ples comparação dos níveis de performance numérica entre diferentes organiza-
ções. No entanto, se o Benchmarking for entendido como uma ferramenta para a
melhoria é mais do que só comparar e ordenar. Vai para além do estabelecimento
de benchmarks (“marcas de bancada de trabalho”), padrões e normas, e inves-
tiga as práticas que suportam as benchmarks.
O Benchmarking tem a ver com descobrir porque existem diferenças de perfor-
mance e aprender com as melhores práticas dos outros. O conceito foi cunhado
pela Xerox Corporation para responder ao desafio japonês de competição na
década de 1970. Existem várias definições de Benchmarking (ver Tabela 1), mas
quase todas enfatizam a importância de aprender com os outros, através de um
método sistemático de identificar melhores práticas para um determinado pro-
cesso ou actividade.
Tabela 1 > Algumas definições de Benchmarking (com base na Agência Europeia
de Ambiente*).
> Benchmarking é o processo de melhoria de performance mediante contínua
identificação, compreensão, e adaptação das melhores práticas e processos
encontrados no interior e no exterior da organização.
> Benchmarking é o processo de medir e comparar continuamente os próprios
processos de negócio, contra processos semelhantes em organizações líderes,
de modo a obter informação que ajude a organização a identificar e implementar
melhorias.
* “Environmental benchmarking for local authorities: from concept to practice”. Envi-
ronmental issues report No 20, European Environment Agency, Copenhagen, 2001, in
AAVV, 2006.
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> Benchmarking é o processo contínuo de medir produtos, serviços e práti-
cas, contra os melhores competidores ou empresas reconhecidas como líderes
industriais.
> Benchmarking é a contínua procura e aplicação de significativamente melhores
práticas que conduzam a uma performance superior.
> Benchmarking é a prática de ser suficientemente humilde para admitir que
alguém é melhor em algo do que nós, e ser suficientemente sábio para aprender
como se comparar a eles e até superá-los nisso.
Quase todos os processos ou actividades de uma organização são candidatos
a Benchmarking: processos de trabalho, produtos e serviços, funções de apoio,
performance organizacional, estratégias.
É frequente os termos Benchmarking e avaliação de desempenho serem usa-
dos indistintamente e como equivalentes, apesar de não serem exactamente a
mesma coisa. A medição ou avaliação de desempenho, pode ser definida como o
trabalho inicial feito para especificar e reunir informação acerca dos critérios que
dão conta da performance de um programa ou serviço. Conhecer os factores que
são importantes para desempenho efectivo de um determinado serviço, ou fun-
ção, é a base da prática do Benchmarking.
Pode-se dizer que o Benchmarking em si é o passo seguinte, que é dado para
descobrir o que os actores identificados como possuindo melhores práticas estão
a fazer e que nós não estamos.
Também importa distinguir entre benchmark e o processo de Benchmarking em
si, muitas vezes confundidos. Uma benchmark é apenas um padrão de desem-
penho, que pode ser estabelecido pela organização como um objectivo ou nível
esperado de performance. As benchmarks também podem ser estabelecidas
olhando para fora da organização. No entanto, estabelecer benchmarks não
implica necessariamente um processo de benchmarking, uma vez que as bench-
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marks podem ser usadas para outras ferramentas de gestão, como a gestão da
qualidade e a gestão ambiental.
Um conceito importante da definição de Benchmarking é o de melhor prática. O
autor Robert Camp* (1998, in AAVV, 2006) define melhor prática, nas aplicações
mais tradicionais de Benchmarking, como “aquelas práticas que satisfazem mais
os clientes”. Por isso se diz que os objectivos de um estudo de Benchmarking
devem ser baseados nas necessidades do consumidor; sejam os consumido-
res internos (departamentos dentro de uma organização, níveis mais elevados da
gestão, empregados), ou externos (consumidores finais, cidadãos, reguladores,
legisladores, grupos ambientais, investidores).
Diferentes tipos de Benchmarking
As actividades de Benchmarking podem ter objectivos e âmbitos muitos diferen-
tes, e não há um modo único de abordar o processo. Podem, assim, ser distingui-
dos diferentes tipos de processos de Benchmarking, e uma forma de os classifi-
car é de acordo com o que é comparado e entre quem são feitas as comparações.
De acordo com Andersen e Pettersen** (1996, in AAVV, 2006) podem ser distin-
guidos os seguintes tipos de Benchmarking:
Benchmarking do quê?
> Benchmarking do desempenho ou de dados;
> Benchmarking do processo (métodos e práticas);
> Benchmarking estratégico (estratégias e tendências).
Benchmarking contra quem?
> Benchmarking interno;
> Benchmarking concorrencial;
> Benchmarking funcional (contra não-concorrentes dentro do mesmo negócio);
> Benchmarking genérico (contra melhores processos independentemente do
sector).
* Camp, R.C. “Global cases in benchmarking. Best practices from organizations around the world”, ASQ Quality Press, Milwaukee, Wisconsin (USA), 1998, in AAVV, 2006.** Andersen, B. And Pettersen, P-G., “The benchmarking handbook. Step-by-step instructions”, Chapman & Hall, London, 1996, in AAVV, 2006.
69
Para informação mais detalhada sobre cada um destes tipos de Benchmarking
consultar AAVV, 2006.
Com base na experiência das empresas, pode-se dizer que em muitos casos há
uma espécie de sucessão dos tipos de Benchmarking usados: Benchmarking de
dados antes do Benchmarking do processo, e Benchmarking interno antes do
Benchmarking externo. O Benchmarking do processo não pode ser realizado se
a organização não tem uma ideia acerca das áreas de desempenho insuficiente.
Assim, se uma organização decide fazer Benchmarking do processo sem qual-
quer experiência prévia de Benchmarking, é-lhe frequentemente recomendado
que comece por fazer Benchmarking interno, antes de olhar para parceiros exter-
nos (por exemplo, começando por comparar entre instalações fabris irmãs, ou
entre unidades estratégicas de negócio). No entanto, especialmente no que res-
peita ao ambiente, é muito provável que não sejam encontradas internamente
ideias inovadoras. Ainda assim, pode-se dizer que internamente é onde se deve
começar e aprender a fazer Benchmarking.
O que é o Benchmarking Ambiental
Em que difere o “Benchmarking Ambiental” do “Benchmarking normal”? A ideia
e metodologia de Benchmarking Ambiental não difere essencialmente de qual-
quer outro tipo de Benchmarking. De facto, até se pode questionar se o termo
“Benchmarking Ambiental” devia ser de todo usado. Para evitar mal entendidos
poderia ser mais adequado usar expressões como “Benchmarking do desempe-
nho ambiental”, “Benchmarking para a melhoria ambiental contínua”, “Benchma-
rking para a melhoria de custos na gestão de resíduos”, “Benchmarking de estra-
tégias ambientais”, dependendo do âmbito do processo. A Tabela 2 resume duas
definições de Benchmarking ambiental.
O Benchmarking Ambiental de produto é:
1. Um método sistemático para:
> Identificar os produtos de melhor desempenho ambiental existentes no
mercado;
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> Perseguir a melhoria contínua ambiental (e económica) do produto.
2. Uma ferramenta para aprender com as empresas “melhor comportadas”;
3. Uma base forte para a criatividade.
Tabela 2 > Algumas definições de Benchmarking Ambiental
(com base em AAVV, 2006).
> O Benchmarking Ambiental é uma abordagem estruturada para examinar e
comparar rigorosamente, numa perspectiva ambiental, os processos que supor-
tam diferentes actividades de negócio. O objectivo é identificar e avaliar as com-
petências e atitudes que uma organização deve ter para ser bem sucedida no
negócio e no ambiente simultaneamente.
> O Benchmarking Ambiental é uma ferramenta de gestão ambiental que pode
fornecer um contributo importante para a melhoria do desempenho ambiental,
através da facilitação da identificação do fosso entre o desempenho da organi-
zação e o de uma dada referência. Qualquer processo ou actividade de negócio
pode ser candidata a um processo de Benchmarking Ambiental*.
O Benchmarking Ambiental pode também ser usado para melhorar sistemas
de gestão ambiental em geral. Resumindo, pode-se dizer que o Benchmarking
Ambiental tem a ver com descobrir como as organizações “melhor comportadas”
alcançam altos desempenhos na gestão do ambiente, ou da eco-eficiência, e com
tentar adaptar estas práticas superiores à nossa própria organização. Eco-efici-
ência aqui refere-se a melhor qualidade ambiental e maior satisfação dos cida-
dãos, ao mais baixo custo possível.
Porquê fazer Benchmarking
O objectivo do Benchmarking é, basicamente, aprender com as melhores práti-
cas dos outros. È uma ferramenta de melhoria, que, usada adequadamente, con
*European Environmetal Benchmarking Network, Background, Fundazione Eni Enrico Mattei,2002
(http:www.eebn.org)
71
duz à melhoria do processo, que, por sua vez, conduz à melhoria do desempenho
de base.
Deve notar-se que, especialmente no que respeita às questões ambientais, os
custos e os benefícios nem sempre podem ser expressos em termos quantitati-
vos. Se houver melhoria da qualidade do ar como resultado de um exercício de
benchmarking, pode não ser possível (ou não ser apropriado) expressar todos os
benefícios em termos financeiros. Outros benefícios há, como a criação de redes
de parcerias, que também não são fáceis de quantificar. Estes aspectos qualitati-
vos devem ser tomados em consideração na avaliação da utilidade de um estudo
de Benchmarking de âmbito ambiental.
Adicionalmente, alguns dos atractivos do Benchmarking são (AAVV, 2006):
1. O Benchmarking ajuda a organização a compreender e a desenvolver uma ati-
tude crítica em relação aos seus próprios processos de negócio; ajuda a ultrapas-
sar a atitude de complacência (do tipo “está bem como está”) e a convencer os
incrédulos.
2. O Benchmarking promove um processo activo de aprendizagem na organiza-
ção e motiva para a mudança e melhoria. Pode vencer a resistência enraizada
à mudança e criar momentum – os empregados tornam-se mais receptivos a
novas ideias.
3. Através do Benchmarking a organização pode encontrar fontes para a melho-
ria e novas formas de fazer as coisas fora da sua própria organização, sem tentar
reenvintar a roda.
4. Através do Benchmarking são estabelecidos pontos de referência para medir o
desempenho dos processos de negócio da organização. Fornece atempadamente
avisos sobre as estruturas de custos, satisfação dos clientes, tecnologia e pro-
cessos de negócio. Pode também ajudar a corrigir percepções erradas acerca das
forças, fraquezas e estratégias da concorrência.
Para mais fontes e informação sobre Benchmarking Ambiental de produto con-
sultar: AAVV, 2006.
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Definição
Usa-se aqui o termo Eco-marketing, como forma abreviada e sinónimo do tam-
bém chamado Marketing Verde (do inglês “Green Marketing”, embora esta desig-
nação tenha sido cunhada e seja algo conotada com os anos 80), ou do, mais
recentemente, também designado como Marketing Ambiental. Embora haja
autores que distinguem algumas diferenças de filosofia, conteúdo e operaciona-
lização entre estas designações (dependendo da escola, da época e da origem),
estes termos pretendem significar essencialmente o mesmo: um marketing com
preocupações ambientais.
De um modo mais completo, o conceito de Ecomarketing pode ser apresen-
tado como o processo de gestão holístico e responsável, que identifica, ante-
cipa, e satisfaz as exigências dos vários parceiros interessados (“stakeholders”),
por uma compensação/lucro razoável, que não afecte adversamente o ambiente
humano ou natural. Ou, por outras palavras, o Ecomarketing envolve a satisfação
de objectivos organizacionais e das necessidades do consumidor assegurando ao
mesmo tempo que o ambiente não é afectado (AAVV, 2006).
No início do seu surgimento, como marketing verde (início dos anos 80), o con-
ceito conheceu fortes críticas devido a algumas abordagens superficiais (ex:
publicidade e rotulagem) com informação ambiental insuficiente acerca dos pro-
dutos “verdes”, ou que os consumidores não entendiam, ou, por vezes, devido a
alegações ambientais mal fundamentadas, ou até mesmo falaciosas. A chamada
lavagem verde (“Greenwash”), que levou a que os consumidores e muitos regula-
dores desenvolvessem atitudes de desconfiança em relação aos chamados “pro-
dutos verdes”.
O Ecomarketing integra as melhorias ambientais alcançadas pela companhia nas
suas campanhas de marketing, para obter vantagem competitiva. Mas o Ecoma-
rketing é muito mais do que simplesmente promover os “atributos verdes” dos
produtos ou das empresas. Requer que seja cuidadosamente avaliada a natureza
Texto de apoio 10: Eco-marketing(“Green marketing” - cam base em AAVV, 2006)
73
da relação de troca empresa-clientes, através de uma modificação das variáveis
tradicionais do marketing (produto, preço, promoção, distribuição), e através de
outras actividades. O verdadeiro marketing ambiental requer que as questões
ambientais façam tanto parte do enfoque estratégico da empresa, quanto a qua-
lidade ou serviço de clientes, e isto geralmente requer uma mudança na mentali-
dade e comportamento de toda a organização.
O Ecomarketing deve conseguir cumprir com a tarefa de comunicar, ao cliente,
informação consistente acerca dos potenciais benefícios ambientais do produto/
serviço e de promessas associadas a melhorias da performance e da qualidade
ambiental no seu todo.
O Ecomarketing envolve um largo leque de actividades, incluindo targeting, preço
“verde”, ecodesign/desenvolvimento sustentável de produto, posicionamento
“verde”, “verdejar” a logística, marketing dos resíduos, “verdejar” das promoções,
etc. É o cumprimento coerente do conjunto destas diversas actividades, que
devem ser consideradas durante todo o processo de ecodesign e para além dele,
que indicam que o Ecomarketing é um processo horizontal.
Relação do ecodesign com o ecomarketing
Por si mesmo, o ecodesign não altera a essência do marketing e vendas. O Eco-
marketing usualmente começa paralelamente com as fases da distribuição e
vendas. O marketing do produto ecodesenhado deve ser influenciado por todas
as fases e, reciprocamente, deve influenciar todas as fases do ciclo-de-vida do
produto.
Ecomarketing estratégico
O Ecomarketing estratégico requer mudanças substanciais na filosofia e nas prá-
ticas da organização. No processo de marketing estratégico a gestão tem a fun-
ção de identificar, analisar e influenciar oportunidades e ameaças para o negócio
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associadas com as suas alegações ambientais. Os princípios básicos relativos ao
Ecomarketing estratégico podem ser considerados (AAVV, 2006): seguir as últi-
mas modas, tendências, desenvolvimentos e legislação futura; auscultar e consi-
derar a opinião de todos os parceiros (“stakeholders”) relevantes; não falar ape-
nas, mas também agir “verde”; procurar melhorias contínuas, abrir a companhia
ao público e fornecer informação (ambiental) transparente e fiável (comunicação
e reporte ambiental).
Ecomarketing tático
O Ecomarketing tático é tipificado por mudanças em actividades funcionais tais
como produto, preço,promoção e distribuição, havendo pouca mudança em acti-
vidades organizacionais, e a atenção de curto-prazo pode ser concentrada em
cada instrumento de marketing.
Produto
Os produtos colocados no mercado devem satisfazer essencialmente dois aspec-
tos quando comparados com outros produtos: têm de ser mais ambiental-
mente adequados ao longo de todo o seu ciclo-de-vida; e devem ter o mesmo, ou
melhor, nível de performance, qualidade e funcionalidade. As características dos
produtos ecodesenhados colocados no mercado estendem-se para além do pro-
duto físico em si; também incluem a embalagem (ver Texto d Apoio 19), a marca,
e os serviços que acompanham os produtos. Com o objectivo de produzir pro-
dutos mais ambientalmente adequados, as empresas têm primeiro que exami-
nar e avaliar o impacte ambiental de todo o ciclo-de-vida do produto. Há muitas
estratégias para melhorar a performance ambiental do produto, e há diferentes
opções de (eco)marketing para o produto ecodesenhado
(ex: rotulagem ambiental – ver Texto de Apoio 11).
75
Distribuição
As decisões de distribuição estão relacionadas com todo o ciclo-de-vida de um
produto, desde o fornecimento de inputs, passando pela fabricação, até ao com-
prador final e destino final do produto. O objectivo da distribuição de produto
(logística) é a preparação, colocação e remoção de um produto, no tempo que se
adeque ao utilizador, no lugar certo, e no volume/quantidade exigidos. As deci-
sões com a logística também envolvem o uso de embalagem para transporte
(secundária e terciária – ver Texto de Apoio 19), bem como sistemas para a devo-
lução de produtos e o uso de locais descentralizados para a produção nesta fase.
Tornar a distribuição dos produtos mais ambientalmente adequada, envolve pro-
curar uma logística de poupança de recursos (ex: uso de diferentes meios de
transporte e agrupamento de produtos), e procurar reduzir o impacte ambiental
do transporte (ex: tipo de transporte/combustível; distâncias longas aumentam o
volume de poluentes emitidos).
Preço
O preço ambiental (“Green Pricing”) é um assunto complexo. Embora os produ-
tos “mais ecológicos” tenham, frequentemente, preços mais elevados que os
produtos tradicionais, isso não quer sempre dizer que sejam mais caros – espe-
cialmente quando se consideram todos os custos associados (incluindo os cus-
tos ambientais e sociais). O que quer dizer é que, normalmente, as despesas ini-
ciais com os produtos mais ecológicos são frequentemente mais elevadas, mas,
a longo prazo, os custos são menores (ex: lâmpadas de economia de energia).
Acresce que, normalmente, os produtos tradicionais não têm preços que incluam
todos os custos ambientais (externalidades). Na maior parte dos casos as exter-
nalidades dos produtos tradicionais são suportadas pela sociedade e resultam
em preços inferiores para os consumidores (por não incluirem, não internaliza-
rem, os custos dos danos ambientais). Paradoxalmente, todos os custos rela-
cionados com produtos menos prejudiciais para o ambiente, são passados para
os consumidores, normalmente sob a forma de preços mais elevados. A atribui-
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ção do preço ambiental (green pricing) de bens, precisa assegurar que o valor
ambiental é importante para os consumidores e, também, que é devidamente
comunicado aos consumidores.
Promoção
A fase final do ecomarketing diz respeito ao processo de informar os consumido-
res acerca dos produtos. Envolve a comunicação de aspectos do produto, preço,
local, serviços, etc. A promoção pode incluir diferentes actividades, por exemplo,
educar o consumidor através da promoção de formas de consumo responsáveis,
apelar aos interesses pessoais do consumidor, organizar exposições, seminá-
rios e conferências, ou fornecer novas garantias acerca da performance e quali-
dade do produto. É muito importante estabelecer a credibilidade do produto e da
empresa, usando alegações compreensíveis e verificáveis, considerando a cer-
tificação por terceiros, ou considerando o impacte ambiental dos métodos de
comercialização.
Instrumentos de Ecomarketing
Um produto ecodesenhado pode ter um selo ambiental independente de certifi-
cação, que facilitará e aumentará o nível de reconhecimento por parte do consu-
midor. Um instrumento para o Ecomarketing é a rotulagem ecológica – um meio
de marcar e distinguir os produtos que são mais ambientalmente amigáveis e,
assim, ajudar os consumidores nas suas decisões de compra. Os esquemas de
rotulagem ecológia podem ser voluntários ou obrigatórios. Podem incluir certi-
ficações de atributos, rótulos de aviso e de riscos, cartões de reporte, folhetos
informativos, etc.
A ISO – International Standardisation Organisation, classificou os rótulos ecoló-
gicos em três tipos:
Tipo 1 > Rótulos ecológicos;
Tipo 2 > Declarações voluntárias de atributos ambientais;
Tipo 3 > Declarações ambientais (EPD).
77
Os rótulos do Tipo 1 e do Tipo 2 são mais dirigidos a consumidores finais, e os
do Tipo 3 mais dirigidos a empresas (“business-to-business”). As Declarações
Ambientais de Produto (EPD – “Environmental Product Declaration”) dão infor-
mação sobre as características do produto muito útil para empresas, mas que
pode ser muito complexa para o consumidor final (que normalmente não tem
conhecimento suficiente para aceder à performance ambiental do produto).
Mais informações sobre as características desdes diferentes rótulos podem ser
encontrados no Texto de Apoio 11 sobre rotulagem ambiental.
Se uma companhia deve aplicar um esquema voluntário de rotulagem ecológica
para os seus produtos ecodesenhados, é uma decisão que depende de vários fac-
tores (AAVV, 2006): i) a candidatura à atribuição do rótulo ecológico pode ser dis-
pendiosa; ii) ainda não foram estabelecidos os requisitos ambientais para todas
as categorias de produtos; iii) o processo de candidatura e atribuição depende da
competição/concorrência existente no mercado; iv) as características do produto
ecodesenhado podem ser ainda melhores que as requeridas em certos esque-
mas de rotulagem ecológica (neste caso a performance ambiental do produto
ultrapassa os requisitos do rótulo ecológico aplicável, o que deve ser comunicado
aos consumidores).
Para informação mais aprofundada sobre Ecomarketing/Marketing Ambiental,
consultar o Manual de Formação sobre Marketing Ambiental .
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Texto de apoio 11: Rotulagem ambiental (com base em Leal, 2000)
Muitas economias avançadas viram o surgimento rápido do uso de ‘atributos ver-
des’ como um recurso do marketing nos finais dos anos 80. Segundo a Consu-
mers International (1997), alguns estudos, então realizados, concluíam que os
fabricantes com a sua propaganda ‘verde’ estavam a confundir os consumidores,
em vez de os informar.
Desde então, o desenvolvimento progressivo de uma consciência ambiental entre
os consumidores conduziu a uma procura crescente de bens e serviços que cau-
sam menos danos ambientais. Em resposta a esta demanda, muitos fabricantes
começaram a reformular as embalagens dos seus produtos e a colocar palavras
como ‘eco’, ‘verde’, ‘bio’, ‘amigo do ambiente’. A questão que se colocava era, o
que é um produto ‘verde’, e qual a validade destes rótulos?
Por outro lado, a aceitação por parte dos industriais da sua responsabilidade na
resolução dos problemas ambientais levou a que surgissem a nível internacional
um conjunto de instrumentos de gestão ambiental de carácter voluntário, entre
eles a rotulagem ambiental.
A rotulagem ambiental (“environmental labelling”), tenta encorajar os consumi-
dores a mudar o consumo para produtos menos nocivos para o ambiente. A argu-
mentação corrente é de que, à medida que aumenta o uso da rotulagem ambien-
tal aumenta também a pressão sobre as empresas para produzir de forma mais
saudável. Esta redução do impacte ambiental actua como um contributo para
uma produção e um consumo mais sustentáveis. Mas o que a rotulagem ambien-
tal não parece fazer é encorajar as pessoas a consumir menos.
Os esquemas de rotulagem ambiental diferem de todos as outras formas de
rotulagem de produtos, na medida em que operam numa base voluntária. A
maioria das outras formas de rotulagem são obrigatórias: rótulos com informa-
ção sobre nutrição, riscos e, em alguns países, uso de energia.
Por outro lado, a maior parte dos esquemas de rotulagem ambiental procuram
envolver organizações não-governamentais, em particular organizações de con-
79
sumidores, no estabelecimento dos seus requisitos.
Os esquemas de rotulagem ambiental também diferem de outras formas de
rótulos no modo como agregam, condensam, toda a informação numa forma
simbólica - um único símbolo (por um lado porque se pretende que seja um sim-
ples sinal distintivo, por outro lado, porque toda a informação ambiental apresen-
tada num rótulo do tipo descritivo poderia confundir o consumidor).
Em resposta à pressão dos consumidores para a criação de rotulagem ambien-
tal mais fiável, alguns países desenvolveram esquemas oficiais. Estes esquemas
oficiais, a sua maioria em países desenvolvidos, estabelecem normas de avalia-
ção ambiental para os produtos. As empresas candidatam-se junto de uma enti-
dade autorizada (governamental, quasi-governamental, ou privada em alguns
casos) para usar um rótulo num produto. A atribuição desse rótulo depende da
satisfação de critérios pré-estabelecidos por um orgão competente. O princi-
pal senão desta abordagem tem sido a quantidade de esquemas diferentes que
existem em diferentes países, sem que haja articulação e conformidade entre os
diversos sistemas de rotulagem.
Quando se fala de rotulagem ambiental pensa-se de imediato em rotulagem
ecológica (“ecolabelling”), mas, na linguagem técnica, os rótulos ecológicos
(“ecolabels”) dizem respeito apenas a um tipo particular de rótulo ambiental.
Pode-se considerar que os rótulos ambientais caem em duas categorias: rótu-
los que as empresas concebem para si próprias; e rótulos que são atribuídos por
uma entidade independente. A International Standards Organisation (ISO) no
seu trabalho desenvolvido pelo Comité Técnico (TC201) sobre normas ambien-
tais, identificou quatro tipos de rótulos ambientais para produtos (CI, 1995):
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a) Esquemas governamentais > independentes:
> esquemas do tipo ‘selo de aprovação’ - rótulos ecológicos (“ecolabels”)
(ISO Tipo I);
> decarações ambientais, ou rotulagem de níveis indicativos dos principais
impactes ambientais dispostos num gráfico de barras - perfil ecológico (“eco-
Profile”) (ISO Tipo III);
> programas de rotulagem de temática específica (ex: Forest Stewardship Pro-
gramme da WWF).
b) Esquemas privados > rótulos dos próprios fabricantes:
> auto-declaração de atributos “verdes” (ISO Tipo II).
A maior parte dos sistemas de rotulagem ambiental operam sob princípios de
ciclo-de-vida e aplicam, pelo menos, uma avaliação parcial do ciclo-de-vida dos
produtos.
Tabela 1 > Tipos de rótulos ambientais (com base em AAVV, 2006).
(>)
81
Características Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3
Nome genérico
Âmbito
Público alvo
Certificação por
terceiros
Organismo
regulador
Método de
comunicação
Critérios
eliminatórios
Exemplo
Rótulo ecológico
Todo o ciclo-de-
vida do produto
Consumidores
finais da venda a
retalho
Sim
Entidade atribui-
dora do rótulo
ecológico
Símbolo/rótulo
Sim
Cisne Branco
dos países
nórdicos:
Margarida do
rótulo ecológico
europeu:
Auto-declara-
ção de atributos
ambientais
Alguns aspectos
de produto
Consumidores
finais da venda a
retalho
Geralmente não
Departa-
mento de
consumidores
Símbolo e/ou
texto
Não
Símbolo da
reciclagem
Declaração
ambiental
Todo o ciclo-de-
vida do produto
Consumidores
industriais
Sim/Não
Entidade
acreditadora
Folha de
dados do perfil
ambiental
Não
Símbolo do
Environmental
Product
Declaration
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Os rótulos ecológicos (ecolabels), são a forma mais popular de rotulagem
ambiental independente. A grande variedade de esquemas de rotulagem ecoló-
gica reflecte a diversidade de abordagens de avaliação dos impactos ambientais
envolvidos. Apesar disso todos os sistemas tendem a seguir um esquema de ava-
liação de ciclo-de-vida, concentrando-se nos principais impactes ambientais. Por
exemplo, um frigorífico pode ser avaliado com base no seu consumo de energia,
conteúdo reciclado, e presença de químicos nocivos para o ozono. Estes impac-
tos são pesados atribuindo-se um impacte global ao produto, que é depois ava-
liado em relação a outros produtos da mesma categoria.
A maioria dos esquemas de rótulos ecológicos operam em países desenvolvidos,
alguns já criados há vários anos, embora se encontrem também em países em
desenvolvimento, e noutros estão em implementação (alguns exemplos destes
rótulos podem ser encontrados nas páginas seguintes):
País Ano Nome
Alemanha 1977 Blue Angel
Canadá 1988 Environmental Choice
Japão 1989 EcoMark
Países Nórdicos 1989 White Swan
Estados Unidos 1990 Green Seal
Suécia 1990 Good Environmental Choice
Nova Zelândia 1990 Environmental Choice
Índia 1991 EcoMark
Áustria 1991 Austrian Ecolabel
Coreia do Sul 1992 EcoMark
Singapura 1992 Green Label Singapore
França 1992 NF - Environnement
Holanda 1992 Stichting Milieukeur
União Europeia 1992 European Flower
Croácia 1993 Environmentally Friendly
83
A rotulagem ambiental é um assunto fundamental para todos os organismos
internacionais que lidam com as questões do ambiente ou comércio. Enquanto
organizações como as Nações Unidas (através da UNCATD - Comércio e Desen-
volvimento, e da UNEP - Programa de Ambiente) e a Organização Mundial do
Comércio (WTO), se têm concentrado nos aspectos políticos da problemática, a
Organização Internacional de Normalização (ISO) tem desenvolvido estudos de
normalização dos esquemas de rotulagem ambiental desde 1993.
Com a aprovação da norma ISO 14021, os fabricantes passaram a estar vincula-
dos, nas suas alegações ecológicas, à adopção procedimentos para evitar alega-
ções falaciosas e aproveitamentos comerciais:
> obrigação de citar explicitamente as razões pelas quais o produto é apresen-
tado como mais ecológico;
> obrigação de indicar a que fase do ciclo-de-vida do produto se refere o argu-
mento ecológico;
> obrigação de verificar as actualidades dos argumentos utilizados;
> proibição da utilização de símbolos relativos ao ambiente, salvo se houver um
indicação clara quanto à origem dos símbolos.
Uma área que merece crescente atenção na rotulagem ambiental, é o sector dos
serviços, existindo já alguns símbolos e rótulos de distinção ambiental ao nivel
dos serviços, como por exemplo nos sectores do turismo e hotelaria.
Para mais informação sobre as rotulagens ecológicas nacionais consultar o site
da GEN - Global Ecollabeling Network: www.gen.gr.jp. Para mais informação
sobre o Rótulo Ecológico Europeu: www.eco-label.com.
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Texto de apoio 12: A Declaração de Princípios de Hannover
Devem-se ao arquitecto americano William McDonough*, muitas das primeiras
ideias influenciadoras da corrente de arquitectura e design ecológico nos Esta-
dos Unidos, e tendências de práticas empresariais, fabricação de produtos e polí-
ticas públicas. O seu escritório foi contratado pelo governo alemão em 1992, para
desenvolver os princípios de design ambientalmente consciente para a EXPO
2000 - Feira Mundial de Hannover, subordinada ao tema “Humanidade, Natureza,
e Tecnologia”. O objectivo era informar as competições internacionais de design
para a EXPO 2000, das linhas mestras de ecodesign (no senso lato de eco-pro-
jecto) que deveriam ser consideradas pelos designers, planeadores, represen-
tantes do governo, e todos os actores envolvidos no ambiente construído. Os
princípios foram oficialmente apresentados na Cimeira da Terra, Rio’92, e trans-
crevem-se aqui na sua versão original em inglês e numa versão traduzida para
português.
The Hannover Principles (in Zeiher, 1996:47):
1. Insist on rights of humanity and nature to co-exist in a healthy, supportive,
diverse and sustainable condition.
2. Recognize interdependence. The elements of human design interact with and
depend upon the natural world, with broad and diverse implications at every
scale. Expand design considerations to recognizing even distant facts.
3. Respect relationships between spirit and matter. Consider all aspects of
human settlement including community, dwelling, industry and trade in terms of
existing and evolving connections between spiritual and material consciousness.
4. Accept responsability for the consequences of design decisions upon human
wellbeing, the viability of natural systems, and their right to co-exist.
5. Create safe objects of long-term value. Do not burden future generations with
requirements for maintenance or vigilant administration of potential danger due
to the careless creation of products, processes, or standards.
*Figura chave na promoção do desenvolvimento sustentável nos EUA e reconhecido inter-
nacionalmente; entre outras obras de referência na área do ecodesign/design para a susten-
tabilidade, co-autor do livro Mcdonough, W Braungart, M(2002) Cradle to Cradle, Remaking
teh Way We Make Things, North Point Press, NY
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Devem-se ao arquitecto americano William McDonough*, muitas das primeiras
ideias influenciadoras da corrente de arquitectura e design ecológico nos Esta-
dos Unidos, e tendências de práticas empresariais, fabricação de produtos e polí-
ticas públicas. O seu escritório foi contratado pelo governo alemão em 1992, para
desenvolver os princípios de design ambientalmente consciente para a EXPO
2000 - Feira Mundial de Hannover, subordinada ao tema “Humanidade, Natureza,
e Tecnologia”. O objectivo era informar as competições internacionais de design
para a EXPO 2000, das linhas mestras de ecodesign (no senso lato de eco-pro-
jecto) que deveriam ser consideradas pelos designers, planeadores, represen-
tantes do governo, e todos os actores envolvidos no ambiente construído. Os
princípios foram oficialmente apresentados na Cimeira da Terra, Rio’92, e trans-
crevem-se aqui na sua versão original em inglês e numa versão traduzida para
português.
The Hannover Principles (in Zeiher, 1996:47):
1. Insist on rights of humanity and nature to co-exist in a healthy, supportive,
diverse and sustainable condition.
2. Recognize interdependence. The elements of human design interact with and
depend upon the natural world, with broad and diverse implications at every
scale. Expand design considerations to recognizing even distant facts.
3. Respect relationships between spirit and matter. Consider all aspects of
human settlement including community, dwelling, industry and trade in terms of
existing and evolving connections between spiritual and material consciousness.
4. Accept responsability for the consequences of design decisions upon human
wellbeing, the viability of natural systems, and their right to co-exist.
5. Create safe objects of long-term value. Do not burden future generations with
requirements for maintenance or vigilant administration of potential danger due
to the careless creation of products, processes, or standards.
87
6. Eliminate the concept of waste. Evaluate and optimize the full life-cycle of pro-
ducts and processes, to approach the state of natural sistems, in which there is no
waste.
7. Rely on natural energy flows. Human designs should, like the living world,
derive their creative forces from perpetual solar income. Incorporate this energy
efficiently and safely for responsible use.
8. Understand the limitations of design. No human creation lasts forever and
design does not solve all problems. Those who create and plan should practice
humility in the face of nature. Treat nature as model and mentor, not an inconve-
nience to be evaded or controlled.
9. Seek constant improvement by the sharing of knowledge. Encourage direct
and open communication between colleagues, patrons, manufacturers and
users to link long-term sustainable considerations with ethical responsability,
and re-establish the integral relationship between natural processes and human
activity.
The Hannover Principles should be seen as a living document commited to the
transformation and growth in the understanding of our interdependence with
nature, so that they may adapt as our knowledge of the world evolves.
Os Princípios de Hannover (traduzido de Zeiher, 1996:47):
1. Insistir no direito da humanidade e da natureza à co-existência saudável,
diversa e sustentável.
2. Reconhecer a interdependência. O design humano interage com e depende do
mundo natural, com amplas e diversas implicações a todas as escalas. Expandir
as considerações de design para reconhecer até efeitos distantes.
3. Respeitar as relações entre espírito e matéria. Considerar todos os aspec-
tos da colonização humana incluindo a comunidade, a habitação, o comércio
e a indústria em termos de conecções evolutivas entre consciência material e
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A ideia de Desmaterialização (“Dematerialization”, da produção e da economia)
remonta já a finais dos anos 80, inícios de 90, e procura introduzir uma viragem
tecnológica nas economias baseadas em enormes e crescentes consumo e des-
perdício de matérias primas. Herman et al. (1989, in Van Weenen, 1997a) afir-
mam que de um ponto de vista ambiental a desmaterialização deveria talvez ser
definida como a mudança na quantidade de resíduos/desperdício gerada por uni-
dade de produto industrial - o que no fundo reflecte uma preocupação de eficiên-
cia e maximização do uso de matérias e processos.
Tinha-se tornado claro que para alcançar bem-estar económico e ecológico
generalizado de uma forma sustentável, era necessário reduzir acentuadamente
a intensidade material e de energia por unidade de serviço/produto. Na década de
90, com este tipo de preocupação e reflexões, alguns autores começaram a ten-
tar perceber e quantificar as necessidade de redução, calculando factores numé-
ricos que pudessem dar uma orientação mais concreta das mudanças que se
torna necessário operar.
Para alguns autores, com uma redução para metade do uso de recursos, será
praticável realizar uma duplicação da prosperidade no planeta (Weizsäcker,
1995, in Van Weenen, 1997a). Schmidt-Bleek (1993, idem) usa um parâmetro de
cálculo a que chama MIPS (“Materials Inputs Per units of Service”) que tem con-
quistado aceitação no meio científico e que considera o impacto ambiental poten-
cial de bens através do cálculo ponderado dos inputs de matéria e energia por
unidade de serviço obtida com esse bem. O autor afirma que para uma redução
de 50% dos fluxos materiais globais, as futuras infraestruturas, instalações, pro-
dutos e serviços, terão que ser desmaterializados de um factor de 10, em rela-
ção aos padrões ocidentais correntes. Para este investigador um factor de 4 não
é suficiente em termos ecológicos, e se a produtividade do trabalho levou apenas
15 anos para alcançar um factor de 10 ou 20, se a indústria estiver de facto agora
empenhada na produtividade dos recursos, no ano 2010 um factor de 4, 5 ou 6, já
não será nada de novo (in Peneda, 1997: 47).
Texto de apoio 13:Factor X (com base em Leal, 2000)
89
Para Reijnders, a mudança necessária na produção e consumo é sublinhada pela
crescente população mundial bem como pelos crescentes níveis de consumo
per capita. Para se alcançar a sustentabilidade com este cenário, é preciso uma
redução no uso de recursos naturais e nas emissões por unidade de produção e
consumo da ordem de 20-50, ou mais (1996, in Van Weenen, 1997a: 23).
Mais de vinte anos depois do famoso “Limits to Growth” do casal Meadows, em
1998, Weizsäcker (presidente do Instituto Wuppertal na Alemanha) publica mais
um relatório para o Clube de Roma, “Factour Four”, que se viria a tornar numa
das obras mais importantes dos anos 90. Depois do choque provocado nos anos
70 pelo relatório dos Meadows, Weizsäcker refere que pegando nas preocupa-
ções manifestadas e investigadas desde então, procura-se agora com este outro
resultado de um estudo de uma equipa alargada, face aos avanços tecnológicos
entretanto verificados, propôr uma resposta optimista - mas não fácil:
“Today’s emissions of greenhouse gases could double in the next half-century or
so; yet climat researchers think those emissions should be cut in half. Factor Four
efficiency gains can enable us to do twice the work with half the energy - powering
prosperity, yet protecting the earth’s climate.” (Weizsäcker et al, 1999).
Os autores defendem que é possível duplicar a riqueza reduzindo o uso de recur-
sos para metade numa nova revolução industrial de eficiência, que proporciona
um factor de melhoria de vida de quatro vezes (4x). O estudo apresenta diversos
casos (50) onde este princípio se verificou ou pode ser aplicado, desde as janelas
aos computadores, passando pelos iogurtes, com poupanças quantificáveis de
energia e de recursos. Este aumento de eficiência das sociedades desenvolvidas
passa por medidas e inovações tecnológicas e políticas numa lógica de mercado
- por exemplo a combinação de taxas penalizando ineficiência, com reduções
para premiar a eficiência. Por exemplo edifícios mais eficientes que o ‘normal’
receberiam subsídios, enquanto que os menos eficientes seriam taxados.
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Entretanto, este conceito, de aumento de (eco)eficiência e produtividade e redu-
ção de desperdício e poluição, conquistou o seu lugar no discurso técnico e cien-
tífico sobre ambiente. Muitos autores estimaram já e defendem a necessidade
de factores superiores a 4, para assegurar a sustentabilidade, factores de 10, e
mesmo 20, são já discutidos. É a era do Factor X.
“Em anos recentes, as máquinas atendedoras de chamadas tornaram-se obso-
letas desde que os operadores telefónicos passaram a fornecer serviços de
voice mail. Somos capazes de saber quem chamou, ouvir a mensagem gravada,
guarda-la por um certo período de tempo, e chamar de volta automaticamente.
Para o utilizador, isto é uma alternativa bem melhor de um ponto de vista funcio-
nal e económico, uma vez que já não é necessário comprar nem manter o equipa-
mento (gravador). De facto, o que é que o consumidor realmente precisa? Possuir
uma máquina de atender de chamadas? Ou ser capaz de usar a função de receber
mensagens telefónicas?” (traduzido de AAVV, 2006).
A ideia de serviço associada aos produtos, de caminhar do produto para o serviço
na procura de satisfação das reais necessidades das pessoas, e do produto-para-
o-serviço como uma estratégia e prioridade a explorar no ecodesign/design para
a sustentabilidade, surgiu nos últimos anos do século XX e tem-se vindo a desen-
volver e procurar aplicar, desde então, um pouco em todo o mundo.
Texto de apoio 14:Sistemas de Produto-Serviço(“Product-Service System” - com base em AAVV, 2006)
91
O termo “Sistema de Produto-Serviço” - SPS (em inglês PSS – “Product-Service
System”), é equivalente a “terciarização”, “serviçamento”, ou “pensamento fun-
cional” (do termos em inglês “servicizing” e “functional thinking”: AAVV, 2006). A
ideia de Sistema Produto-Serviço é adoptada por se considerar que não existem
produtos puros (há sempre necessidade, por exemplo, de uma distribuição do
produto – o que é um serviço); assim como também não há serviços puros (o for-
necimento de um serviço depende normalmente de bens ou estruturas materiais
– produtos/equipamentos).
Numa perspectiva de produção/consumo sustentável, são particularmente inte-
ressantes as situações em que a componente serviço/função é aumentada de
modo a fornecer uma forma inovadora e mais sustentável de satisfazer uma
dada necessidade dos clientes (que inerentemente faça sentido do ponto de vista
do negócio).
Um exemplo clássico da substituição de um bem tangível – produto – por um
intangível – serviço –, muitas vezes usado para ilustrar o potencial benefício
para a sustentabilidade da terciarização, é o da máquina atendedora de chama-
das telefónicas, actualmente obsoleta. Em vez da fabricação, distribuição e eli-
minação, no final de vida, de milhares, ou milhões, de atendedores de chamadas,
o produto (gravador) foi substituído por um serviço à distância (voice mail) cen-
tralizado e fornecido pela operadora telefónica, através do terminal de telefone
já existente na casa do cliente. Ainda por cima, com aumento da satisfação do
consumidor.
A tercearização, ou aumento do conteúdo em serviço do negócio (enquanto o
produto material se torna menos importante), é uma tendência em economias
modernas avançadas, que chamou a atenção dos peritos da sustentabilidade.
Esta tendência vem contribuir para a procura de desmaterialização das econo-
mias defendida por alguns autores (ver Anexo Texto de Apoio13). A procura de
redução do impacte ambiental de um “Factor 4”, ou superior, é difícil de se alcan-
çar apenas com a modificação dos produtos existentes. A ideia por trás de alar-
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gar a perspectiva de concepção para o design de sistemas e do produto para o
serviço, é a de integrar e optimizar/maximizar as funções do produto, ou substi-
tuir o produto por um serviço (Tischner et al, 2002, in AAVV, 2006).
A principal fonte de informação e conhecimento aqui usada a este nível é a Sus-
ProNet – Rede Temática sobre Desenvolvimento de Produtos-Serviço (Thema-
tic Network on Product Service Development, 2002-2004), que foi lançada com
o apoio do Quinto Programa Quadro da UE. A Rede foi organizada a partir de um
grupo de coordenação envolvendo sete institutos científicos1 e vinte e cinco orga-
nizações maioritariamente industriais, e o seu site (www.suspronet.org) fornece
uma variedade muito útil de recursos, relatórios de projectos, eventos organiza-
dos, links, etc. na área do SPS.
O que são sistemas de produto-serviço: definições e categorização
Investigadores, consultores políticos e companhias têm-se vindo a empenhar no
conceito de SPS e muitas definições têm sido sugeridas. Embora muitos casos
de SPS no mundo empresarial tenham sido desenvolvidos sem preocupações
ambientais à partida, alguns autores acreditam que o enfoque na satisfação da
função/necessidade que resulta do pensamento de SPS, leva naturalmente a ver
os serviços como solução, e que um serviço de satisfação de função/necessidade
usa inerentemente menos materiais (AAVV, 2006).
Mas a pesquisa com base em estudos de caso mostra que o potencial impate
positivo do sistemas de produto-serviço para o ambiente ou para o desenvolvi-
mento sustentável não é automático, tendo que ser avaliado caso a caso.
De acordo com Mont (2001, in AAVV, 2006), um SPS pode ser definido como um
sistema de produtos, serviços, redes e infraestrutura de apoio que é desenhado
para ser competitivo, satisfazer as necessidades dos clientes, e ter um impacte
ambiental menor que os modelos tradicionais de negócio.
Uma outra definição é apresentada pela rede SusProNet, que não enfoca no
potencial para a melhoria da sustentabilidade, mas enfatiza o facto de quase não
haver um produto material sem um serviço, e não há um serviço sem um pro-
93
duto material, mas sim uma gama desde as entidades produto-dominantes (ex:
maçã), às entidades serviço-dominantes (ex: servir tarte de maçã num restau-
rante) (Tischner et al, 2002, in AAVV, 2006) (ver Figura 1).
Um Sistema de Produto-Serviço consiste em produtos tangíveis e serviços
intangíveis desenhados e combinados para que, conjuntamente, sejam capazes
de satisfazer necessidades específicas dos clientes. Como o enfoque da maior
parte dos negócios hoje em dia está na fabricação do produto ou no fornecimento
do serviço, o design estratégico de SPS muda o enfoque da inovação do negócio
do design maioritariamente de produto ou maioritariamente de serviço, para uma
estratégia integrada de design do produto-serviço. O que pode resultar no envol-
vimento de parceiros adicionais, e até mesmo de clientes, no processo de design
e desenvolvimento do SPS.
A Figura 1 mostra as categorias de SPS integradas na definição da SusProNet. O
exemplo citado da máquina atendedora de chamadas vs. serviço de voice mail cai
na categoria C – sistema orientado para o resultado (serviço em substituição do
produto ou resultado funcional), que é a categoria com maior conteúdo de ser-
viço e potencial de inovação mais elevado, e corresponde ao tipo de inovação fun-
ção/sistema apresentada no capítulo 2.2.3 - Ecodesign e inovação, deste Manual.
Figura 1 > As categorias SPS integradas na definição da SusProNet
(AAVV, 2006).
Valor essencialmente no conteúdo tangível do Produto
Valor essencialmente no conteúdo intangível do Serviço
Sistema de Produto-Serviço
Produtopuro
Categoria A:orientado p/ o produto
Categoria B:orientado p/ o uso
Categoria C:orientado p/ o resultado
Serviçopuro
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O exemplo da máquina atendedora de chamadas/voice mail, não ilustra, cer-
tamente, todos os tipos de SPS. De facto, a tendência para o serviço não signi-
fica que os produtos físicos estão a ser substituídos por serviços imateriais em
grande escala. Frequentemente as companhias estão a adicionar serviços (ex:
assistência pós-vendas) aos produtos que vendem, como uma estratégia de dife-
renciação para aumento da competitividade em mercados de produto muito con-
correnciais (AAVV, 2006).
Tal como com a definição de SPS, é possível encontrar um grande número de
categorizações das combinações produto/serviço. Apresenta-se de seguida na
Tabela 1 a categorização proposta pelo projecto SusProNet, com base em revisão
da literatura e estudos de caso.
(>)
95
Categorias Dono do produto Exemplos
Categoria A:
Sistemas orienta-
dos para o Produto
O produto é propriedade
do utilizador/consumidor
Serviço de extensão dos
produtos:
o valor de um produto é
aumentado através de ser-
viços adicionais (ex: actua-
lização (upgrading), repa-
ração, garantias, esquemas
financeiros, fornecimento de
consumíveis, etc.)
Consulturia e
aconselhamento:
no que respeita ao uso mais
eficiente do produto.
Integração vertical:
estratégias modificadas de
fornecimento dos produtos
aos clientes; retalhistas e/
ou fornecedores podem ser
envolvidos directamente no
processo de produção (ex:
produção por encomenda).
Tabela 1 > Categorias de SPS de acordo com o projecto SusProNet (AAVV, 2006).
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Categorias Dono do produto Exemplos
Categoria B:
Sistemas orienta-
dos para o Uso
O produto é propriedade
do prestador do serviço
que vende as funções/ser-
viços em vez de produtos,
através de sistemas modi-
ficados de distribuição e
pagamento.
Leasing:
o fornecedor mantêm a pro-
priedade do produto e, fre-
quentemente, a responsa-
bilidade pela manutenção,
reparção e controle. O cliente
paga uma taxa regular pelo
uso do produto e, normal-
mente, tem um acesso ilimi-
tado ao mesmo.
Aluger ou partilha (sharing):
semelhantes ao leasing, mas
o utilizador/cliente não tem
acesso ilimitado e individual
ao produto. O mesmo produto
é sequencialmente usado por
diferentes utilizadores.
Pooling:
semelhante ao sharing, mas
há um uso simultâneo do pro-
duto por vários utilizadores.
(>)
97
Categorias Dono do produto Exemplos
Categoria C:
Sistemas orien-
tados para o
Resultado
Não há um produto pré-
determinado nesta
categoria
Gestão da actividade:
o fornecedordá incentivos ao
cliente para consumir mais
eficientemente e optimiza um
sistema (ex: através de sis-
temas modificados de paga-
mento, como o contrato).
Resultado funcional:
os produtos são substituídos
por novas soluções; o forne-
cimento é um resultado que
já não está relacionado com
um sistema específico de tec-
nologia (ex: serviço de con-
trole de pragas, em vez de
pesticidas; fornecimento de
um “clima agradável”, em vez
de equipamentos de aqueci-
mento ou de arrefecimento;
etc.).
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Exemplos de sistemas de produto-serviço
Apresentam-se na Tabela 2, alguns exemplos de SPS que foram implementados
por companhias e inventariados no âmbito de vários projectos da UE, em parceria
com várias instituições, como: o projecto SusProNet (www.suspronet.org); o pro-
jecto MEPSS (www.pss-info.com); e o projecto HOMESERVICES (www.sustaina-
ble-homeservices.com). Os exemplos estão organizados de acordo com as três
categorias definidas anteriormente e são apresentados como forma de inspirar
as companhias e os designers para novas soluções que satisfaçam as necessi-
dades dos clientes. É também indicado o tipo de relação de negócio: de empresa
para empresa - b2b (“business to business”), ou empresa para consumidor - b2c
(“business to consumer”). De notar que, até agora, são mais comuns os SPS do
tipo b2b do que aqueles fornecidos directamente aos consumidores (b2c).
SPS e sustentabilidade
O conceito de SPS tem merecido grande atenção pela parte dos ambientalistas,
devido ao seu potencial para contribuir para desacoplar as receitas dos fluxos
materiais e para aumentar a produtividade dos recursos. Alguns autores suge-
rem que uma maior produtividade dos recursos pode ser alcançada através de:
> Soluções de suficiência, organizando as operações de modo que a necessidade
de um bem ou serviço seja reduzida ou eliminada, sem comprometer qualidade
da prestação e as exigências do consumidor (ex: não lavar as toalhas não usadas
nos quartos-de-banho dos hotéis) (equivale a Categoria C: SPS orientado para o
resultado);
> Soluções de sistemas e utilização mais intensa dos bens, tendem a ir a par com
e cobrir a venda de utilização, resultados, ou função em vez de produtos (ex: lea-
sings, car-pooling, uso partilhado de estradas, caminhos de ferro, etc.) (equivale a
Categoria B: SPS orientado para o uso);
> Utilização mais longa dos bens usando técnicas deextenção do tempo de vida
dos produtos, refabricação, reutilização (ex: para mobiliário, componentes de
automóveis, etc.) (equivale a Categoria A: SPS orientado para o produto).
99
Mas os SPS não são ambientalmente mais amigáveis de per si. Um obstáculo
importante que contraria a eco-eficiência dos serviços é o aumento da intensidade
de transporte, sendo, por isso, especialmente importante lidar com os aspectos
relacionados com o transporte nos processos de desenvolvimento e provisão dos
serviços. Uma outra dificuldade para a eco-eficiência dos SPS, relaciona-se com
os utilizadores serem menos responsáveis e cuidadosos com o uso dos produtos e
equipamentos, do que seriam se estes lhes pertencessem (ex: leasing).
Em geral, o contributo potencial dos SPS para a sustentabilidade aumenta da
categoria A para a categoria C. Os serviços orientados para o produto têm pro-
vavelmente apenas benefícios ambientais marginais devido à melhor manuten-
ção e à extenção do tempo de vida do produto, aplicando-se o mesmo à gestão de
actividade. Não podem ser esperadas mudanças radicais, uma vez que o sistema
tecnológico se mantém o mesmo, sendo apenas gerido de um modo diferente.
O aluguer, a partilha e o pooling, podem conduzir a ganhos ambientais superio-
res, especialmente se a pressão está relacionada com a fabricação do produto,
uma vez que serão necessárias menos unidades uma vez que o produto é usado
mais intensivamente. Os benefícios ambientais tendem a ser ainda mais elevados
no caso do pooling, uma vez que os bens consumíveis são úteis a mais pessoas
ao mesmo tempo na fase do uso. O leasing pode levar ao agravamento do perfil
ambiental como já foi referido. O SPS mais promissor, em termos ambientais, é o
orientado para a função, pois dá ao criador/fornecedor do serviço um maior grau
de liberdade para desenhar um sistema de baixo impacto (AAVV, 2006).
Finalmente, é importante notar que a exploração dos benefícios ambientais dos
SPS é limitada pela sua aceitação e dimensão do mercado. Serviços inovadores
virados para a função/resultado levantam questões de incerteza e fiabilidade,
que inibem o seu desenvolvimento com sucesso. Quanto à partilha e ao pooling,
a sua aceitação pelo mercado tem sido limitada devido ao baixo valor intangível
para os utilizadores (habituados ao sentido de propriedade e de prestígio asso-
ciado aos bens materiais).
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Apesar deste tentativa de sistematização da potencial eco-eficiência por tipo
de SPS, a pesquisa indica claramente que os benefícios ambientais têm que ser
avaliados caso a caso. O que não é uma tarefa fácil, especialmente no respeita à
dimensão social da sustentabilidade. No contexto do projecto SusProNet, foi ela-
borada uma checklist para avaliação dos SPS (para mais informação consultar o
site).
Não fale de SPS!
Alguns autores (AAVV, 2006) consideram que a terminologia “sistemas de pro-
duto-serviço” embora reflicta correctamente do que se trata, não é apelativa
nem familiar para o mundo empresarial. Apenas os investigadores e os pratican-
tes directamente envolvidos nesta área estão familiarizados com a designação.
Assim, a recomendação é que não fale de SPS, fale de novas ideias de negócio
como soluções para problemas emergentes!
Tabela 2 > Alguns exemplos de Sistemas Produto-Serviço (SPS)
(para mais informação: AAVV, 2006/ www.learn-ecodesign.net).
Categoria : SPS orientado para o produto
Elementos para a construção personalizados por encomenda [b2b - Holanda]
A empresa holandesa Unidek Bouwelementen BV, fornece telhados completos e
outros elementos necessários no local de construção, personalizados sob enco-
menda, para pequenas casas, assim como para grandes edifícios. Os materiais
de desperdício são levados de volta para serem reutilizados.
(>)
101
Categoria A: SPS orientado para o produto
Sistema de retorno de embalagens para detergentes [b2c - Itália]
A empresa italiana Allegrini S.p.A., produtora de detergentes e cosmésticos, ofe-
rece o serviço Casa Quick, de entrega de detergentes, numa carrinha, nas casas
dos clientes. Cada família retira a qualidade e quantidade de detergentes neces-
sária, usando contentores especiais que podem ser cheios mesmo sem estarem
completamente vazios. Os benefícios ambientais decorrem principalmente da
optimização da distribuição, em termos de embalagem e transporte, sendo maxi-
mizados em zonas densamente habitadas (onde o transporte pode ser optimi-
zado quando comparado com as viagens individuais às lojas).
Jardinagem orgânica [b2b e b2c - Portugal]
A actividade principal da empresa portuguesa Teleflora, é a construção e manu-
tenção de áreas verdes para vários clientes, maioritariamente grandes espaços
verdes (jardins públicos e privados, declives de auto-estradas). Também fornece
serviços de consultoria sobre jardinagem com preocupações ambientais.
Este serviço de jardinagem é baseado em boas práticas aplicadas a todas as
tarefas/serviços fornecidos pela empresa, nomeadamente:
> Compostagem de resíduos verdes (orgânicos);
> Redução/eliminação de fertlizantes químicos;
> Fim de vida adequado para as embalagens (nocivas e não nocivas);
> Plano preventivo de manutenção do equipamento, ferramentas
e maquinaria;
> Cuidados de segurança e saúde na aplicação de todos os produtos químicos;
> Considerações sociais, incluindo a integração de minorias e indivíduos social-
mente excluídos como trabalhadores da empresa.
(>)
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Sistemas de café [b2b - a nível mundial]
A Douwe Egberts Coffee Systems international BV (DECS) é uma divisão da Sara
Lee/DE. Operando a nível mundial, a DECS é bem sucedida no fornecimento de
sistemas de café em cerca de 40 países. Desenvolve e fornece uma gama de sis-
temas de café para o mercado não doméstico. Ingredientes de marca (café),
de alta qualidade, são o coração da abordagem aos sistemas. São também for-
necidos as máquinas dispensadoras e os serviços associados, para assegurar
uma qualidade de topo em cada copo de café. As exigências dos clientes dife-
rem correntemente de local para local e de sector para sector. O sector comer-
cial (hotéis, restaurantes e cafés) é diferente do industrial (escritórios, fábricas),
do institucional (hospitais, educação). Assim, a DECS oferece uma ampla gama
de soluções.
Em 1986, a empresa decide alargar o âmbito das suas actividades, da produção
e distribuição de ingredientes de café (grão, açúcar, etc.), para o desenvolvimento,
produção, distribuição e manutenção de sistemas de café. O desenvolvimento
das máquinas dispensadoras, dos sistemas de limpeza, programas de manuten-
ção e promoção, passaram todas a ser também tarefas de DECS. Assim como, os
acessórios (copos de café, cinzeiros, etc.) e a formação, passaram a ser ofereci-
das ao cliente. A imagem de marca da empresa tornou-se cada vez mais impor-
tante, quando comparada com aspectos tradicionais da venda, como as caracte-
rísticas técnicas.
(>)
Categoria A: SPS orientado para o produto
103
Categoria B: SPS orientado para o uso
Químicos de aluguer (Rent-a-chemical) [b2b - Europa]
Em colaboração com grossistas a DOW Europe S.A., em 2004, investiu no desen-
volvimento de uma abordagem do tipo aluguer de produtos químicos (Rent-a-
chemical), que possibilita às pequenas empresas beneficiar do reembolso da
caução. O grossista que fornece os produtos, mantém a propriedade da substân-
cia alugando-a apenas ao utilizador, que a devolve depois de usada nos seus pro-
cessos produtivos, em que esta não se perde, sendo recuperada, reciclada e reu-
tilizada de novo, como um bem de aluguer.
Partilha de carros (Car sharing) [b2c – vários países]
Na partilha de carros, um grupo de participantes usa um fundo comum (pool) de
carros. Este fundo pode ser tão pequeno como apenas um carro, como em algu-
mas iniciativas privadas. A partilha comercial de carros é oferecida por compa-
nhias tradicionais de aluguer de carros, bem como por novas empresas e entre
companhias. A Greenwheels, por exemplo, oferece partilha de carros nas qua-
tro maiores cidades da Holanda. A característica essencial da partilha de carros,
é que se oferece mobilidade em vez de carros. Ao contrário do aluguer, a partilha
de carros usa um fundo carros par um grupo de participantes e o tempo de uso
pode ser tão reduzido quanto uma hora. Uma vez por mês os utilizadores rece-
bem uma conta onde estão incluídos todos os custos. O utilizador não é dono do
carro, mas é participante de uma frota de carros. A partilha de carro vende a uti-
lização do produto.
Edifícios inteligentes [b2b]
A Agentur ag4, de Colónia (Alemanha), oferece através do seu sistema de con-
trole Aleeks, a oportunidade de reservar online ou via telemóvel, espaços de tra-
balho individuais, ou quartos. Este sistema encaixa perfeitamente no novo mundo
do trabalho, onde não existem locais de trabalho fixos. Os visitantes são guiados
digitalmente para o escritório do seu parceiro de reunião. Um cartão electrónico
(Smartcard) é usado para adaptar o local de trabalho às exigências do trabalha-
dor. O seu slogan: “Não oferecemos um produto mas uma interface”.
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Categoria C: SPS orientado para o resultado/optimização do sistemaServiço de gestão química [b2b]
A Castrol, através da sua Metalworking Division, criou, em 1999, um programa
de gestão química, denominado Castrol+Plus. Indo para além dos lubrificantes,
o programa oferece, aos seus clientes industriais, a monitorização e controle,
na fábrica, dos sistemas químicos e dos custos associados à compra, manipu-
lação, uso e eliminação dos produtos químicos. Os serviços incluem a selecção
exacta do produto, aquisição, gestão de materiais e manutenção, engenharia de
processo, minimização de desperdícios, apoio à conformidade ambiental, forma-
ção em segurança e saúde, serviços de laboratório, e identificação de oportunida-
des de melhoria contínua. Dirigido a reduzir os custos totais de operação, mais de
metade da poupança de custos dos clientes resulta da melhoria dos processos.
Quanto aos lucros da Castrol, provêm das taxas e, em alguns casos, da partilha
de ganhos derivados da redução de custos. Por exemplo, este programa da Cas-
trol com a Navistar International Engine Plant (USA), levou a uma redução supe-
rior a 50% do líquido refrigerante, e a uma redução de mais de 90% dos resíduos
de refrigeração.
Gestão integrada de pragas [b2b]
A missão da Koppert Biological Systems era, em 1999, ser o parceiro preferido
no desenvolvimento e comercialização de sistemas de polinização e gestão inte-
grada de pragas, para culturas protegidas e de alto valor, sendo um fornecedor
fiável de soluções inovadoras, eficazes e de máxima qualidade. A pesquisa em
curso e a produção contínua de espécies benéficas e de polinizadores, contribiu
para o desenvolvimento da agricultura sustentável em todo o mundo. A Koppert
tem um departamento de investigação e desenvolvimento orientado para os
resultados, e uma rede de contactos a nível mundial. Esta inovação ecológica do
produto não só substitui o uso de químicos tóxicos, como é uma combinação de
produto-serviço nos casos em que é vendida por metro quadrado a ser protegido.
(>)
105
Categoria C: SPS orientado para o resultado/optimização do sistemaServiços para idosos [b2c]
A Sozial Global oferece serviços dentro e à volta de casa, tais como limpeza,
passagem a ferro, cuidados infantis, jardinagem, compras, estafeta, serviços de
visita, enfermagem, e refeições volantes pré-preparadas. O serviço é acordado
através de uma chamada telefónica, juntamente com os custos para o cliente.
O rendimento do cliente é considerado no cálculo dos custos. O serviço ofere-
cido pela Sozial Global pode aumentar significativamente o bem-estar e quali-
dade-de-vida de pessoas necessitadas e idosos. Os clientes deste serviço são,
assim, ajudados a continuar a viver nos seus locais familiares, em vez de ter que
mudar para um lar. Assim como são evitados custos elevados de internamento.
Um projecto relativamente recente, chamado “Homeservices”, dava a 30 mulhe-
res desempregadas de longo termo, a possibilidade de voltarem a entrar no mer-
cado de trabalho. É-lhes dado o máximo de um ano antes começarem um novo
emprego. A taxa de sucesso é de 70%.
Para informação mais aprofundada sobre sistemas de produto-serviço consultar:
AAVV, 2006/ www.learn-ecodesign.net; www.suspronet.org; Manzini & Jégou,
2003; Charter & Tischner, 2001.
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Texto de apoio 15:Reciclagem (com base em Leal, 2005)
É possível, e desejável, uma visão de ciclo-de-vida dos produtos e materiais que
permita uma melhor compreensão e gestão da sua produção, uso e destino final,
integrando as diversas possibilidades de recuperação para valorização, numa
perspectiva de fecho de ciclos, que inclui a reciclagem.
Uma dessas visões, de fecho de ciclos de reaproveitamento de materiais, preve-
nindo a geração de resíduos e desperdício de recursos naturais já explorados e
transformados ao longo do ciclo-de-vida, é a dada pelo US Office of Technology
Assessment – OTA (...), que considera a re-entrada dos materiais em diferentes
fases do ciclo, cada vez mais recuadas, com as designações:
> Reutilização (dos produtos para o fim original ou outros);
> Refabricação (reutilização de componentes no processo de fabricação de novos
produtos);
> Reciclagem (reprocessamento dos materiais em matéria-prima secundária).
Numa óptica de reciclagem, podem-se considerar vários níveis de reciclagem
material, numa visão de usos sucessivos em cascata (Figura 2, deste texto), pro-
curando aumentar a ecoeficiência da utilização das matérias-primas, maximi-
zando o aproveitamento material dos recursos naturais já explorados e trans-
formados, e minimizando os impactes ambientais, tal como se ilustra na figura
seguinte. Nesta perspectiva, a reciclagem primária é preferível, de um ponto de
vista ambiental e económico, em relação à secundária e à terciária; e a secundá-
ria, obviamente preferível em relação à terciária (química ou de feedstock).
A reciclagem é, portanto, uma forma de valorização que se caracteriza pelo
reprocessamento dos resíduos (domésticos ou industriais) num processo de pro-
dução, para o fim original ou para outros fins, incluindo a reciclagem orgânica,
mas não a valorização energética.
107
A valorização energética (por exemplo das embalagens usadas), consiste na
queima controlada dessas embalagens com aproveitamento do calor, tendo em
vista a produção de energia calorífica e eléctrica.
Por envolver uma série de etapas que implicam recolha, triagem, transporte, lava-
gem e reprocessamento industrial dos materiais, a reciclagem implica também
um conjunto de impactes ambientais não negligenciáveis que lhe estão asso-
ciados (consumo de combustível, água, energia, químicos, etc.). Daí que, mui-
tas vezes, os trade-offs económicos e ambientais em relação a outras opções de
valorização sejam de difícil avaliação, não se devendo, por isso, ficar com a ideia
de que a reciclagem é a melhor solução para o problema dos resíduos.
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Existem muitas técnicas de criatividade disponíveis na literatura e na Internet,
devendo ser escolhidas as que pareçam mais apropriadas para a resolução do
problema em causa, ou mais adequadas ao perfil da equipa de trabalho.
O objectivo das ferramentas de apoio à criatividade é potenciar o pensamento
criativo; ou seja, criar as condições para um trabalho mais intenso do lado direito
do cérebro, conhecido como o lado responsável pelo pensamento intuitivo e cria-
tivo (enquanto o lado esquerdo é responsável pelo pensamento lógico e analí-
tico)*. Na nossa vida normal do dia-a-dia tendemos a usar mais o lado esquerdo
do cérebro em vez do direito – por isso existem técnicas para estimular o pensa-
mento criativo.
Devem-se usar estas técnicas para obter tantas ideias quanto possível, não se
devendo excluir nenhuma ideia à partida (por muito descabida que possa pare-
cer), antes de serem todas mais desenvolvidas. Pois, por vezes, acontece ser das
ideias aparentemente mais estúpidas e malucas que surgem depois as ideias
mais adequadas e inovadoras para a o problema a ser resolvido. O criticismo faz
parte da função do “cérebro esquerdo” e só deve ser usado mais tarde, na fase de
avaliação e selecção de ideias.
O processo criativo pode ser dividido nas fases seguintes:
1) fase de preparação > análise e definição do problema;
2) fase intuitiva > incubação, iluminação;
3) fase crítica > avaliação e selecção.
Ao tentar resolver problemas pode-se sempre procurar inspiração e aprendiza-
gem a partir da natureza – processo a que se dá o nome de “biomímica” (a que a
“biónica” está muito associada). A natureza pode ser considerada um designer
superior e pode-se, assim, conseguir inspiração para fins técnicos ou estéticos.
* As diferentes funções dos dois lados do cérebro (hemisférios cerebrais) foram descober-tas nos anos 60, por Roger Sperry (Ph.D.): o hemisfério esquerdo é responsável pelo pen-samento lógico, pela linguagem, etc.; e o hemisfério direito é responsável pelas habilidades artísticas, pela criatividade e intuição. Roger Sperry ganhou o Prémio Nobel da medicina em 1981, pela sua investigação sobre “os cérebros separados” (AAVV, 2006).
109
Texto de apoio 16:Pensamento criativo(“Creative thinking” - com base em AAVV, 2006)
Existem muitas técnicas de criatividade disponíveis na literatura e na Internet,
devendo ser escolhidas as que pareçam mais apropriadas para a resolução do
problema em causa, ou mais adequadas ao perfil da equipa de trabalho.
O objectivo das ferramentas de apoio à criatividade é potenciar o pensamento
criativo; ou seja, criar as condições para um trabalho mais intenso do lado direito
do cérebro, conhecido como o lado responsável pelo pensamento intuitivo e cria-
tivo (enquanto o lado esquerdo é responsável pelo pensamento lógico e analí-
tico)*. Na nossa vida normal do dia-a-dia tendemos a usar mais o lado esquerdo
do cérebro em vez do direito – por isso existem técnicas para estimular o pensa-
mento criativo.
Devem-se usar estas técnicas para obter tantas ideias quanto possível, não se
devendo excluir nenhuma ideia à partida (por muito descabida que possa pare-
cer), antes de serem todas mais desenvolvidas. Pois, por vezes, acontece ser das
ideias aparentemente mais estúpidas e malucas que surgem depois as ideias
mais adequadas e inovadoras para a o problema a ser resolvido. O criticismo faz
parte da função do “cérebro esquerdo” e só deve ser usado mais tarde, na fase de
avaliação e selecção de ideias.
O processo criativo pode ser dividido nas fases seguintes:
1) fase de preparação > análise e definição do problema;
2) fase intuitiva > incubação, iluminação;
3) fase crítica > avaliação e selecção.
Ao tentar resolver problemas pode-se sempre procurar inspiração e aprendiza-
gem a partir da natureza – processo a que se dá o nome de “biomímica” (a que a
“biónica” está muito associada). A natureza pode ser considerada um designer
superior e pode-se, assim, conseguir inspiração para fins técnicos ou estéticos.
* As diferentes funções dos dois lados do cérebro (hemisférios cerebrais) foram descober-tas nos anos 60, por Roger Sperry (Ph.D.): o hemisfério esquerdo é responsável pelo pen-samento lógico, pela linguagem, etc.; e o hemisfério direito é responsável pelas habilidades artísticas, pela criatividade e intuição. Roger Sperry ganhou o Prémio Nobel da medicina em 1981, pela sua investigação sobre “os cérebros separados” (AAVV, 2006).
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Existem muitas técnicas de criatividade disponíveis na literatura e na Internet,
devendo ser escolhidas as que pareçam mais apropriadas para a resolução do
problema em causa, ou mais adequadas ao perfil da equipa de trabalho.
O objectivo das ferramentas de apoio à criatividade é potenciar o pensamento
criativo; ou seja, criar as condições para um trabalho mais intenso do lado direito
do cérebro, conhecido como o lado responsável pelo pensamento intuitivo e cria-
tivo (enquanto o lado esquerdo é responsável pelo pensamento lógico e analí-
tico)*. Na nossa vida normal do dia-a-dia tendemos a usar mais o lado esquerdo
do cérebro em vez do direito – por isso existem técnicas para estimular o pensa-
mento criativo.
Devem-se usar estas técnicas para obter tantas ideias quanto possível, não se
devendo excluir nenhuma ideia à partida (por muito descabida que possa pare-
cer), antes de serem todas mais desenvolvidas. Pois, por vezes, acontece ser das
ideias aparentemente mais estúpidas e malucas que surgem depois as ideias
mais adequadas e inovadoras para a o problema a ser resolvido. O criticismo faz
parte da função do “cérebro esquerdo” e só deve ser usado mais tarde, na fase de
avaliação e selecção de ideias.
O processo criativo pode ser dividido nas fases seguintes:
1) fase de preparação > análise e definição do problema;
2) fase intuitiva > incubação, iluminação;
3) fase crítica > avaliação e selecção.
Ao tentar resolver problemas pode-se sempre procurar inspiração e aprendiza-
gem a partir da natureza – processo a que se dá o nome de “biomímica” (a que a
“biónica” está muito associada). A natureza pode ser considerada um designer
superior e pode-se, assim, conseguir inspiração para fins técnicos ou estéticos.
* As diferentes funções dos dois lados do cérebro (hemisférios cerebrais) foram descober-tas nos anos 60, por Roger Sperry (Ph.D.): o hemisfério esquerdo é responsável pelo pen-samento lógico, pela linguagem, etc.; e o hemisfério direito é responsável pelas habilidades artísticas, pela criatividade e intuição. Roger Sperry ganhou o Prémio Nobel da medicina em 1981, pela sua investigação sobre “os cérebros separados” (AAVV, 2006).
111
Como estimular o pensamento criativo
Um princípio universal para obter ideias geniais: esqueça as leis (ou regras).
Conhecido como o pensamento à Einstein. As leis e as normas inibem o pensa-
mento inovador, porque julgamos estarem correctas. É como continuar a andar
nas linhas do caminho de ferro: é útil até onde chegam as linhas, mas estas não
nos permitem chegar a todo o lado. Muito frequentemente, é apenas a nossa
maneira de pensar que nos limita e não nos deixa ter uma ideia nova, original. E,
inesperadamente, é por vezes a ideia mais maluca e divertida que gera os melho-
res resultados. Por isso: nunca mate uma ideia até ter sido subsquentemente
desenvolvida.
Para explorar o dito “pensamento à Einstein” na resolução de problemas, é possí-
vel usar algumas ferramentas, como as que se seguem (AAVV, 2006)*:
Substantivos escolhidos ao acaso
Usar substantivos seleccionados ao acaso para encontrar uma solução. Por
exemplo, pergunte aos seus colegas ou amigos pelas primeiras palavras que
lhes vierem à cabeça e, depois, use-as para a solução. Por exemplo, vive em Nova
Iorque e tem que combater a fome, e o substantivo para encontrar a solução é
“uma fotonovela”. Como pode isto ajudar? Talvez uma novela trágica ajudasse a
alertar a consciência e angariar o dinheiro das pessoas mais ricas para apoio às
regiões pobres? Ou, então, se para combater a fome a única ferramenta fosse
“um prego”? O que faria? Que ideias é isto lhe dá?
* Para um conjunto completo de ferramentas e sua descrição consultar o livro: Thorpe, S., :
How to think like Einstein, 2000.
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Verbos escolhidos ao acaso
O mesmo princípio anterior pode ser usado com verbos seleccionados ao acaso.
Por exemplo, lance um dado e, com o número que sair, seleccione aleatoria-
mente um verbo da lista seguinte (pode criar a sua própia lista, esta é apenas um
exemplo).
Desenhar
É possível usar o desenho como uma das ferramentas para estimular a criativi-
dade. No entanto, a maior parte das pessoas que nunca tiveram aulas de desenho
tendem a resistir. Isto acontece precisamente por causa do chamado “regime
esquerdo”, ou funcionamento lógico do cérebro. Para ser capaz de desenhar facil-
mente, é necessário mudar para um “regime direito”, ou seja para o uso do lado
intuitivo do cérebro. Uma das técnicas desenvolvidas é desenhar de “pernas para
o ar”. Selecciona-se um desenho relativamente complicado, vira-se ao contrário
(de pernas para o ar), e desenha-se como se vê.
Uma outra técnica é a do desenho análogo. Por exemplo, desenhar um emoção
(ex: amor, medo, depressão, etc.) numa folha de papel sem pensar sobre como
deveria ficar (instantanemante). Pode-se fazer o mesmo com o tema da resolu-
ção de problemas. Este tipo de exercícios ajuda a libertar o hemisfério direito do
cérebro em contexto de trabalho.
Jogos
Se estiver a organizar uma sessão de brainstorming (que se descreve de
seguida), ou alguma técnica semelhante, torne-a divertida e lúdica, cheia de
humor. Transforme-a num jogo. Isso também ajuda a mudar para o lado direito
do cérebro e estimula a criatividade.
Número
Verbo
1
Comer
2
Correr
3
Saltar
4
Separar
5
Jogar
6
Oferecer
113
Técnicas criativas para a resolução de problemas
Apresentam-se de seguida algumas técnicas bem conhecidas e adaptadas. Use
as ideias da secção anterior para enriquecer e estimular as sessões
de brainstorming.
> Brainstorming;
> Brainwriting;
> Esquiçar e desenhar;
> Biomímica/biomimetismo.
Brainstorming
O Brainstorming é uma técnica de geração de ideias bastante conhecida e usada
frequentemente em diferentes contextos, nomeadamente, em empresas, ao nível
do design e de outros assuntos. Traduzido literalmente do inglês, o termo brains-
torming significa “tempestade cerebral”. Basicamente, reúne-se um grupo de
pessoas com competências em diferentes áreas para tentar chegar a uma res-
posta para um determinado problema, ou questão, levantada pelo próprio grupo.
É uma ferramenta muito útil na procura de melhorias ambientais.
Pode não se conseguir obter resultados muito concretos numa única sessão
de Brainstorming, especialmente se o problema for complexo. Embora, muitas
vezes, isso não se deva a uma insuficiência do Brainstorming em si, como técnica,
mas ao modo como foi conduzida a sessão. Os resultados podem ser melhora-
dos, quantitativa e qualitativamente, seguindo uma série de regras baseadas na
experiência (AAVV, 2006):
1 > Colocar uma pergunta específica. É preferivel realizar duas sessões curtas
de brainstorming, do que tentar responder a uma questão complexa numa única
sessão.
2 > Dividir a sessão de brainstorming em duas partes: Na primeira parte, geram-
se ideias sem qualquer crítica; na segunda parte, discutem-se e avaliam-se as
ideias.
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3 < Na primeira parte da sessão de brainstorming, colocar a ênfase na quanti-
dade e diversidade das ideias. Quanto mais ideias se obtiver e quanto mais diver-
sificadas elas forem, maior a possibilidade de um contributo positivo e inovador.
4 > Usar pessoas de diferentes formações e áreas disciplinares. O grupo não
deve, no entanto, ser demasiado grande, para não dificultar a gestão do processo
(idealmente, de 3 a 7 pessoas). Evitar explicações longas, e tentar evitar discus-
são durante a sessão; em vez disso, tentar usar as ideias dos outros elementos
para gerar novas ideias.
5 > Adoptar uma atitude de grupo positiva, em que as ideias que parecem pouco
lógicas são bem aceites. Podem parecer ridículas, mas podem conduzir a solu-
ções inesperadamente interessantes.
O Brainstorming é uma técnica fácil, mas não é uma panaceia para todos os pro-
blemas. Torna-se muitas vezes necessário reunir mais informação sobre vários
aspectos do problema, particularmente no caso de problemas complexos, tais
como na procura de melhoria ambiental. Pode ser introduzida nova informação
numa sessão seguinte. O Brainstorming é uma técnica de aprendizagem e, geral-
mente, são necessárias várias sessões para resolver um problema.
Brainwriting
Foram criadas muitas variações à volta do brainstorming, uma delas é o
Brainwriting, que, traduzido à letra, significa “escrita cerebral”. A intenção é
Regras básicas do Brainstorming:
> Dizer/escrever a primeira coisa/ideia que vier à cabeça;
> Apresentar todas as ideias;
> A quantidade conta mais que a qualidade;
> Não é permitida a crítica/censura;
> Encorajar a combinação de ideias;
> Usar um moderador neutro para dirigir a sessão.
115
que se fale pouco mas que os participantes na sessão escrevam ou desenhem
as suas ideias em papel. Esta técnica pode ser usada com o método 6-3-5, em
que seis participantes escrevem, cada um, três ideias num papel; depois de
cinco minutos estas ideias passam para o próximo participante. A segunda pes-
soa olha para estas ideias e pensa, por sua vez, em três novas ideias. Traba-
lhar deste modo permite gerar 108 ideias num curto período de tempo. Estas
ideias são subsquentemente avaliadas, sendo o resultado devolvido ao grupo.
O grupo decide então o que deve ser feito com elas: como podem ser usadas ou
melhoradas?
O método dos post-its
Este método (também conhecido como método do pin-board, do inglês “quadro
de afixação”), consiste numa outra das muitas variantes de brainstorming. É dado
a cada participante um conjunto de papéis de notas autocolantes (post-it) para
escrever as suas ideias. Estes papéis vão sendo afixados num quadro, ou numa
parede. Os participantes têm liberdade para escrever as suas ideias inspirando-
se nas ideias que os outros elementos tenham já afixado. Se existir no grupo sufi-
ciente criatividade, abertura e arrojo, toda a parede ficará rapidamente cheia de
soluções criativas. As ideias são discutidas quando todos tiverem terminado. É
aconselhável pedir a dois elementos do grupo que avaliem as ideias de modo
sistemático.
A Caixa Morfológica
Quando se procura ideias para melhorar um produto já existente, pode ser parti-
cularmente vantajoso usar a técnica da Caixa Morfológica. O produto a melhorar
é primeiramente analisado, sendo feita uma lista de todas as suas característi-
cas específicas, de modo a constituir uma descrição completa do produto. Faz-
se depois a pergunta: podem ser encontradas alternativas para as várias carac-
terísticas? Se, por exemplo, uma determinada parte é feita de alumínio, poderá
ser fabricada noutro material? Olhar do mesmo modo para cada característica
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separadamente (incluindo funções). Organizar depois os resultados numa apre-
sentação geral, mostrando quais os graus de liberdade de design que existem
para cada característica do produto. O objectivo é ilustrar cada variante, se pos-
sível, com um desenho simples. Uma Caixa Morfológica pode também ser usada
para melhorar as ideias que surgiram numa sessão prévia de brainstorming ou
brainwriting.
Metáforas
Uma das técnicas criativas é o uso de metáforas, que consiste simplesmente
em tomar ideias emprestadas de outras áreas. Se uma sessão de brainstorming,
ou outra técnica, fracassou na obtenção de resultados satisfatórios, frequente-
mente é porque o grupo se deixou conduzir por experiências próximas. Por exem-
plo, um impressor que continue a procurar soluções dentro do seu próprio mundo
das tecnologias de impressão, facilmente surgirá com ideias já conhecidas nesse
mundo. A vantagem é que as suas ideias serão muito realistas; a desvantagem é
que dificilmente constituirão uma solução estrutural.
As metáforas devem ser usadas para ligar ideias e coisas diferentes, indepen-
dentemente da natureza absurda dessas potenciais ligações. As metáforas ligam
noções que são diferentes. Estas ligações podem ser usadas para criar novas
estruturas de pensamento, adicionando uma ideia a outra, ou usando pontes
entre as diferentes ideias, emergindo, então, um novo conceito.
Quando são requeridas ideias inovadoras e originais, pode ser útil olhar para o
mundo dos outros. Este mundo pode ser um sector produtivo diferente, ou pode
ser encontrado no mundo à nossa volta. Por exemplo, pode ser útil olhar para o
mundo animal, ou das plantas, para ver como a natureza lidou com um problema
similar. O uso de metáforas pode conduzir a ideias radicalmente novas.
Biomímica/Biomimetismo: aprendendo com a natureza
A ideia básica da biomímica, ou biomimetismo (do inglês “biomimicry”) é apren-
der e copiar da natureza. Procurar perceber onde é que os sistemas e estrutu-
117
ras naturais podem servir como fontes de inspiração para soluções técnicas em
ecodesign. A biomímica é uma ciência que estuda os modelos naturais e depois
imita (mimetiza), ou inspira-se nestes designs e processos naturais para resol-
ver problemas humanos (para mais informação consultar: www.biomimicry.net).
Por exemplo, as aranhas produzem uma seda leve, forte e resistente, sem usar
calor, alta pressão ou produtos químicos tóxicos. Este princípio pode ser usado
para cabos de pára-quedas, cabos de pontes suspensas, estruturas, vestuário de
protecção, etc.
Para mais detalhes sobre estas técnicas e ferramentos de apoio à criatividade e
resolução de problemas consultar: AAVV, 2006; e Brezet & van Hemel, 1997.
Apresentam-se de seguida alguns exemplos do tipo de critérios e questões
que se podem encontrar numa Lista de Verificação (“Checklist”), para apoio ao
ecodesign.
Frazão et al (2003:11), definem 14 Checklists para o (eco)Design de Ciclo-de-
vida, organizadas de acordo com as diversas fases, cada uma com os temas con-
siderados mais relevantes pelos autores para apoiar o designer no desenvolvi-
mento sustentável do produto, conforme a estrutura seguinte:
pré-fabricação
> optimização da função
> poupança de recursos naturais
> uso de recursos renováveis e suficientemente disponíveis
> prevenção/minimização da utilização de substâncias perigosas
Texto de Apoio 17: Checklist(com base em Frazão et al, 2003)
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fabricação
> racionalização de consumos (matérias-primas, energia, água)
> prevenção/minimização na origem de emissões e resíduos
> distribuição
> optimização do sistema de embalagem*
> implementação de um sistema adequado de logística*
utilização
> aumento da durabilidade do produto
> prevenção/minimização dos impactes da utilização do produto
fim-de-vida
> optimização da desmontagem
> optimização da reutilização do produto
> optimização da reciclagem de materiais
> deposição adequada de materiais não recuperáveis.
Cada uma destas 14 Checklists é composta por vários critérios práticos de (eco)
design, estruturados de acordo com um esquema de valorização do tipo ABC,
para identificação rápida dos pontos fracos do design que é importante melho-
rar: A – situação ideal; B – situação a explorar; C – actuação urgente. Compete à
empresa e à sua equipa de design, escolher de entre os vários critérios listados,
aqueles que melhor se adequam às especificidades dos seus produtos/sistema e
às suas prioridades, e adaptar e melhorar gradualmente estas listas.
Embora existam muitos tipos diferentes de Listas de Verificação, criadas e adap-
tadas por diferentes autores, instituições de investigação e empresas, trans-
crevem-se de seguida, a título demonstrativo, as tabelas propostas por estes
autores para as duas Checklists referentes à fase da Distribuição (nº. 7 e nº 8,
assinaladas com * na lista acima).
Para informação mais detalhada sobre como usar esta ferramenta e sobre tipos
de questões associadas às outras fases do ciclo-de-vida do produto, consultar
Frazão et al, 2003.
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A matriz MET – Materiais, Energia, e Toxicidade – é uma metodologia de apoio ao
processo de ecodesign. Baseia-se numa análise de input-output, suportada numa
ferramenta gráfica matricial de identificação e avaliação dos principais impactes
ambientais associados ao ciclo-de-vida dos produtos - bens e serviços (Frazão,
2003: 53). Esta ferramenta facilita segundo Frazão (idem: 54): a análise expe-
dita dos problemas e definição de prioridades; a estimulação da criatividade; e o
apoio à realização de sessões de brainstorming (durante o processo de desenvol-
vimento do produto) para gerar novas ideias e soluções.
Consiste basicamente em organizar numa tabela/matriz de dupla entrada
(linhas e colunas) dados qualitativos ou quantitativos, consoante a informação
ambiental disponível.
Nas abcissas (colunas) registam-se as entradas e saídas de cada fase do ciclo-
de-vida, em termos de:
• fluxos de materiais (M);
• consumo de energia (E);
• e utilização ou emissão de substâncias tóxicas ou poluentes (T).
Ao nível da Toxicidade incluem-se genericamente todas as substâncias ou mate-
riais, produtos, sub-produtos e efluentes (sólidos, líquidos ou gasosos), poluentes
que, de algum modo, representam alguma nocividade para o ambiente ou saúde
(sem terem que ser necessariamente tóxicos – ex: CO2).
As ordenadas (linhas) representam esquematicamente as diversas fases do
ciclo-de-vida:
Texto de apoio 18: Análise de Matriz MET(com base em Frazão et al, 2003)
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Pré-fabricação (extracção e processamento de matérias-primas, fornecimento
de materiais e componentes, produção e distribuição de energia);
• Fabricação;
• Distribuição;
• Utilização (funcionamento normal e manutenção);
• Fim de vida (recuperação e deposição final).
A utilização desta ferramenta segue essencialmente três fases sequenciais: defi-
nição das fronteiras do sistema do produto, análise de necessidades, e análise do
produto.
• Definição das fronteiras do sistema do produto
A equipa define quais as actividades e agentes envolvidos no sistema do pro-
duto, com base no seu ciclo-de-vida e em tudo o que é necessário para o seu fun-
cionamento eco-eficiente.
• Análise de necessidades
É realizada uma análise das necessidades e expectativas dos consumidores
que o sistema do produto deve satisfazer, face às funções para as quais o produto
é concebido. Podem também ser indicadas soluções alternativas para desempe-
nhar a função pretendida.
• Análise do produto
Identificação dos aspectos fortes e fracos do produto de referência, como por
exemplo o conteúdo em substâncias tóxicas, as partes ou funções que provo-
cam avarias na utilização, o tempo de vida útil e o consumo energético. O produto
é desmontado, os materiais e componentes listados, pesados e identificados os
respectivos tipos de conexões.
A partir desta informação de base, a equipa está em condições de preencher a
Matriz MET, que também considera os materiais auxiliares associados ao ciclo-
de-vida. No caso de um componente revelar um impacte ambiental negativo sig-
nificativo, tal pode ser analisado noutra Matriz MET complementar à matriz de
base.
123
A informação contida na matriz permite então visualizar os problemas que exi-
gem maior atenção e, a partir daí, definir metas e prioridades de actuação para
melhoria do produto de base ou concepção de um novo produto.
A utilização sistemática de uma checklist de apoio ao preenchimento da matriz
permite evitar a perda de informação. A checklist contém uma listagem aberta
de questões (que poder ser enriquecida e melhorada à medida que é utilizada),
que devem ser colocadas durante a identificação dos problemas associados
ao ciclo-de-vida do produto, o que proporciona simultaneamente sugestões de
melhoria. A primeira parte desta checklist – Análise de necessidades – levanta
questões acerca do funcionamento do produto; as restantes partes referem-se
às fases do ciclo-de-vida consideradas na matriz MET – pré-fabricação, fabrica-
ção, distribuição, utilização, e fim de vida.
Apresenta-se de seguida, a título ilustrativo, um exemplo genérico das questões
de uma checklist para a Análise de Necessidades de um produto, e depois para a
fase da Distribuição, para uma matriz MET (Frazão, 2003: 55-57).
Checklist > Análise de Necessidades
Como é que o sistema do produto satisfaz as necessidades e expectativas
dos consumidores?
> Quais as funções do produto?
> O produto cumpre essas funções de forma eficaz e eficiente?
> Pode o produto passar a desempenhar as suas funções para satisfazer necessi-
dades e expectativas de modo mais (eco)eficiente?
> Quais as necessidades do utilizador que o produto satisfaz?
> Irão as necessidades do utilizador mudar ao longo do tempo?
> É possível antecipar esta mudança através da inovação do produto?
> Podem as necessidades ser satisfeitas por outras vias que não a apropriação
do produto?
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Que estratégia de melhoria?
> Desenvolvimento de novos conceitos:
• Desmaterialização
• Utilização partilhada do produto
• Integração de funções
• Optimização funcional do produto (componentes)
• Eco-eficiência
• Envolvimento de todos os agentes do ciclo-de-vida no aumento de valor do pro-
duto (diálogo “multistakeholder”).
Checklist > fase da Distribuição
Quais os principais problemas da distribuição do produto?
> Que tipos de embalagem para transporte, venda por grosso (grandes quanti-
dades) e venda a retalho (pequenas quantidades) são utilizadas (volume, peso,
materiais, potencial de recuperação)?
> Que meios de transporte?
> O transporte encontra-se eficientemente organizado?
> Há um responsável pela gestão do transporte?
Que estratégia de melhoria?
> Redução do consumo de materiais:
• redução em peso
• redução em volume
> Optimização do sistema de embalagem:
• menor quantidade de embalagens
• embalagens “mais limpas”
• embalagens reutilizáveis
• embalagens recicláveis
> Meios de transporte energeticamente eficientes
> Logística eficiente
Para mais informações sobre esta metodologia consultar Frazão et al, 2003, e
Brezet et al, 1997.
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As embalagens
A embalagem pode ser considerada como um símbolo e espelho da nossa cul-
tura de consumo. A história da embalagem conta a história das nossas realiza-
ções tecnológicas, de como preservamos a nossa comida, como protegemos e
transportamos o que compramos, como melhoramos a nossa qualidade de vida.
E, com Andy Warhol, e as suas latas de sopa Campbell e a caixa Brillo, a embala-
gem foi elevada ao estatuto de obra de arte. Ao mesmo tempo, o sector da emba-
lagem é um dos maiores contribuidores para um dos problemas de ambiente
mais preocupantes: a crescente crise dos resíduos sólidos urbanos.
As embalagens fazem parte do nosso dia-a-dia. A sua importância aumentou
nas últimas décadas com o desenvolvimento económico associado à produção
industrial e massificação do consumo, e à necessidade de proteger e distribuir
cada vez maior diversidade e quantidade de produtos, cobrindo cada vez maiores
distâncias, num mercado crescentemente globalizado.
Suportadas pela evolução tecnológica (novos materiais e processos), as emba-
lagens acompanharam e adaptaram-se às novas necessidades decorrentes das
mudanças de estilo de vida das pessoas e do mercado, condicionadas pela legis-
lação associada. As embalagens tornaram-se imprescindíveis e contribuem deci-
sivamente para a qualidade de vida de que hoje beneficiamos, satisfazendo uma
série de necessidades e exigências de segurança, higiene, e conforto associadas
aos padrões de produção e consumo que caracterizam a sociedade actual.
À medida que o mercado se foi sofisticando, as funções básicas iniciais das
embalagens – proteger o produto, facilitar a sua distribuição e realçar a sua pre-
sença – foram sendo superadas por outras, mais subtis, em particular como
importante ferramenta de marketing. As embalagens tornaram-se uma ferra-
menta comercial, dinâmica, essencial ao nível do marketing mix empresarial.
A embalagem faz parte e é um dos mais importantes meios de comunicação ao
serviço das estratégias de marketing das empresas (exteriorização e reforço da
imagem de marca, diferenciação do produto e influência da decisão de compra,
etc.). Daí a crescente importância dada ao design das embalagens como dimen-
são vital das estratégias e programas de marketing, a par com a publicidade ou
Texto de apoio 19: Embalagens e ambiente (com base em Leal, 2005)
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as campanhas de promoção de vendas – a embalagem como “vendedor silen-
cioso” (“The Silent Seller” de James Pilditch, 1973, in Calver, 2004:7).
A embalagem deixou, assim, de ser apenas um simples recipiente que acondi-
ciona um determinado produto, e passou a ser ela própria um produto em evo-
lução constante, de forma a responder eficazmente às exigências de todos os
intervenientes (fabricantes, produtores/embaladores, distribuidores, vendedo-
res, e consumidores) ao longo de todo o seu ciclo-de-vida: concepção, produção,
uso e destino final (ver Figura 1). As principais funções da embalagem, ao longo
deste ciclo-de-vida e da sua cadeia de intervenientes, podem dividir-se em:
• estruturais: conter, proteger, conservar, transportar (o produto/conteúdo);
• comunicacionais: identificar, informar, diferenciar, atrair/seduzir, promover (a
marca/produto).
As embalagens podem ser classificadas conforme a sua função como (com base
em CNE, 1998:7):
1. embalagens primárias ou de venda – embalam directamente o produto
para venda ao consumidor;
2. embalagens secundárias ou agrupadas – embalam uma ou várias emba-
lagens primárias, com os produtos, para venda ao consumidor;
3. embalagens terciárias ou de transporte – embalam as anteriores para
transporte e distribução dos produtos ao longo da cadeia comercial.
Apesar de a embalagem, em muitos casos, se tornar tão ou mais importante que
o produto que embala (reforçando ou, por vezes, prejudicando a sua imagem), a
embalagem não constitui um fim em si mesma. A embalagem não deve, por isso,
ser considerada separadamente do par produto-embalagem que forma com o
seu conteúdo, um dos diversos modos de consumo desse conteúdo.
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Alguns estudos realizados mostraram que as funções cruciais das embala-
gens para os consumidores são a abertura, o esvaziamento e o fecho. Estudos
mais recentes sugerem que clareza e facilidade de percepção da informação são
também critérios importantes e que, adicionalmente, a importância destes fac-
tores aumenta com a idade dos consumidores (Letras, 2003:3). Para Hammer, o
consumidor clássico deseja qualidade, serviço e entrega num produto (s/d, in
idem). Actualmente, com a crescente consciência ambiental dos consumidores,
qualidade também significa não-tóxico, biodegradável, longa duração, “amigo” da
natureza e do consumidor; enquanto serviço e entrega também significam reci-
clável, retornável, eficiente, zero resíduos, baixo impacte ambiental, etc. O factor
“feel-good” (“sentir-se bem”), tornou-se indubitavelmente um novo critério para a
escolha dos produtos pelo consumidor (Burkle, 1998, in idem).
As embalagens estão, portanto, sujeitas ao desempenho de funções distintas e
à satisfação de diferentes interesses e necessidades. A diversidade e evolução
destas exigências tem sido e é, mais do que nunca, catalizadora de novas ideias
e soluções de design para o sector das embalagens. A evolução das principais
tendências na indústria de embalagem nas últimas décadas, pode ser resumida
do seguinte modo (com base em Stilwell, 1991:7):
anos 60 - conveniência como base de competição – “throw away society”;
- mercado Pop – “the silent salesman”;
anos 70 - avaliação da fragilidade – design analítico para o movimento;
- crise energética – leveza (1ª redução na origem);
anos 80 - vandalismo e violações ilegais – “safe packaging”;
- aumento do tempo de vida na prateleira – tecnologias: atmosfera
sdmcssi controlada + barreiras;
- qualidade – questões sensoriais;
- restruturação da industria – “evaporação” de recursos;
anos 90 - questões ambientais.
Segundo o Fraunhofer Institut (1998, in Letras, 2003: 58), os novos requisitos
para as embalagens são:
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• protecção do produto;
• processo de produção;
• processo de embalagem/enchimento;
• logística;
• apresentação e marketing do produto;
• aceitação pelo consumidor (inclui conveniência);
• informação;
• segurança;
• legislação;
• e ambiente.
As questões ambientais do final do século XX, fizeram surgir novas exigências
e variáveis no design e performance das embalagens, que vieram acrescentar
complexidade e aumentar o desafio nesta área criativa/produtiva. A sustentabili-
dade ambiental afecta as decisões de design de forma global, porque concentra
a atenção e interesses de todas as partes implicadas na cadeia de produção/con-
sumo: matérias-primas, fabricação, transporte, venda, utilização, e destino final.
Embalagens e ambiente
Se a gestão dos lixos desde cedo constituiu um problema para os governos locais
e centrais, as dificuldades e o desafio aumentaram ao longo da segunda metade
do século XX, com o aumento da população e dos padrões de produção e con-
sumo das economias mais desenvolvidas. A multiplicação de produtos e a gene-
ralização e uso crescente de embalagens para sua distribuição, em que estas se
foram tornando culturalmente num subproduto dos nossos actos de consumo
diários, começaram a levantar, um pouco por todo o mundo, novos problemas de
ambiente associados ao volume crescente de resíduos de embalagens e ao con-
sumo/desperdício de recursos associado.
O descarte fácil e generalizado das embalagens após transporte/acesso/usu-
fruto do produto, (em particular das embalagens secundárias – ex: caixa de car-
tão que contém o frasco de perfume), gera uma quantidade preocupante de
resíduos, que vieram agravar os custos e dificuldades dos sistemas de gestão
de resíduos sólidos urbanos (RSU), em particular ao nível do espaço disponí-
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vel para depósito em aterro (sanitário). Em termos simples, estamos a ficar sem
espaço para depositar o lixo que produzimos e o problema dos resíduos conti-
nua a aumentar, com os aterros em todo o mundo a ficarem saturados. Portugal
não escapa a esta tendência, estando o sistema nacional de tratamento de resí-
duos sólidos urbanos sobre enorme pressão e a atingir rapidamente os limites da
sua capacidade. O país produz cerca de 4,4 milhões de toneladas de RSU por ano,
com tendência para aumentar. O que equivale a dizer que são produzidos, em
média 1,2 kg/habitante∙dia de resíduos em Portugal (fonte: INR, 2005).
O contributo do sector das embalagens para os resíduos sólidos urbanos
conheceu, em todo o mundo, um aumento considerável nas últimas décadas,
constituindo hoje uma percentagem importante da massa de RSU. Só em Portu-
gal, em 2001, terão sido produzidas 1.162 milhões de toneladas de embalagens
(dados Pro-Europe - Packaging Recovering Organization Europe, 2005: www.
pro-e.org). Em termos percentuais, os resíduos de embalagem representam em
Portugal aproxidamente 26.5% do total dos resíduos sólidos urbanos, dos quais
cerca de 8% são resíduos de embalagem de papel e cartão
(dados Recipac, 2005: www.recipac.pt).
As principais alternativas de gestão dos RSU estão devidamente identifica-
das, estudadas, postas em prática, e são, por ordem de prioridade: 1) a preven-
ção/redução drástica dos resíduos produzidos; 2) a valorização material ou ener-
gética dos resíduos inevitáveis, através da reutilização (doméstica ou industrial
de produtos ou componentes), da reciclagem industrial (de matérias-primas e de
matéria orgânica – compostagem), e/ou da incineração (para valorização ener-
gética) da fracção que iria para aterro; e 3) a eliminação através do confinamento
dos resíduos em aterro sanitário.
Mas, se impacte ambiental das embalagens é mais evidente no fim da sua vida
útil, quando se tornam em resíduo de pós-consumo e são descartadas, não se
reduz a esse momento. Como qualquer outro produto, os impactes ambientais
das embalagens têm de ser considerados ao longo das várias fases de todo o seu
ciclo-de-vida: desde a extracção e transformação de recursos naturais para pro-
dução de matérias-primas, ao processamento e fabricação, transporte, venda,
utilização, e destino final.
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As estratégias ambientalmente responsáveis relativas às embalagens, sua
concepção e gestão (incluindo os seus resíduos), recorrem a toda a gama de
estratégias de ecodesign, desde o Design para a Reciclagem (DfR), ou o Design
para a Reutilização, numa perspectiva de fim-de-vida, às abordagens mais com-
pletas e preventivas, do chamado Design para o Ambiente (DfE), e, mais recente-
mente, do Design para a Sustentabilidade (DfS), numa perspectiva da totalidade
do ciclo-de-vida das embalagens.
Redução de embalagens na origem
As abordagens preventivas de redução na origem ganharam importância nos
últimos anos como estratégia e opção de gestão de resíduos sólidos. A redução
na origem, ou redução na fonte, frequentemente designada como “prevenção de
resíduos” (“waste prevention”), pode ser definida como o conjunto de actividades
ou opções que reduzem a quantidade de materiais nos produtos e embalagens
antes desses materiais entrarem nos sistemas de gestão de resíduos sólidos. As
opções de redução na fonte diminuem também o consumo de recursos na origem
dos produtos. Em geral, as opções de redução na origem incluem:
• o redesign dos produtos e/ou embalagens, para reduzir a quantidade de mate-
riais usados, substituindo por materiais mais leves, ou aumentando o tempo de
vida dos produtos adiando a sua eliminação;
• usar embalagens que reduzam os danos ou perda de produto;
• reduzir a quantidade de produto ou embalagem usados através da modificação
de práticas correntes dos processadores e consumidores;
• reutilizar produtos ou embalagens já fabricados;
• gerir resíduos orgânicos de origem natural (restos de alimento, ou de poda de
jardins) através de compostagem ou outras formas locais alternativas ao confi-
namento em aterro.
No fundo, os objectivos das acções de prevenção por redução na origem visam,
por um lado, a eliminação ou minimização de substâncias perigosas (passíveis de
serem libertadas para o ambiente aquando das operações de gestão de resíduos)
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e, por outro, a optimização dimensional da embalagem de forma a evitar situa-
ções de excesso ou défice de material.
Nesta perspectiva, há então que combater situações de excesso de embala-
gem, tomando contudo sempre em consideração o perigo do subdimensiona-
mento, na medida em que, caso a embalagem não seja suficientemente robusta
ou não proporcione a devida protecção ao longo de toda a cadeia de distribuição
e consumo, poderá atingir o ponto de ruptura, provocando a perda ou inutilização
do seu conteúdo (para além da própria embalagem), causando efeitos negativos
e custos acrescidos, tanto a nível económico como ambiental.
Por outro lado, na relação entre os diversos tipos de embalagem (primária,
secundária e terciária) deverá ser encontrado um equilíbrio, de forma a evitar que
a redução excessiva num dos componentes obrigue a uma sobrecarga material
nos outros, o que também pode ser contraproducente.
A norma europeia sobre prevenção (EN 13428:2000 - desenvolvida pelo Comité
Europeu de Normalização – CEN), estabelece um procedimento de avaliação da
embalagem que contempla diversos critérios de desempenho ao longo do seu
ciclo-de-vida, de forma a garantir que o peso e/ou o volume é o mínimo adequado
sem pôr em causa o seu desempenho funcional, a sua segurança e a respectiva
aceitação pelo utilizador/consumidor final.
Para a Europen – European Organization for Packaging and the Environment,
são basicamente as forças do mercado que encorajam as empresas a procu-
rar a prevenção de resíduos de embalagem. Para esta organização, a consciên-
cia ambiental dos consumidores mudou, tendo-se tornado também numa impor-
tante força motriz para a indústria e o sector das embalagens (www.europen.be,
2005).
A Europen sugere que algumas acções públicas e privadas podem ajudar a
encorajar a prevenção, sem interferir negativamente com a dinâmica do mer-
cado, nomeadamente através de:
• medidas do lado da procura, que reforcem a preferência pela prevenção na pro-
cura de embalagem pelo consumidor através, por exemplo, de feedback posi-
tivo: para a Europen a melhor maneira de guiar os consumidores no que respeita
à prevenção de resíduos é torná-los totalmente conscientes dos custos acres-
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cidos de gestão dos resíduos (recolha e recuperação) nas taxas municipais que
eles próprios pagam e, assim, levá-los a optar por produtos com menor peso de
embalagem ou impacte ambiental geral.
• medidas do lado da oferta, para sensibilizar os fornecedores da necessidade de
prevenção: apesar de as empresas já estarem legalmente obrigadas a minimizar
a embalagem, podem ser encorajadas a incluir os aspectos ambientais no design
e fabricação das embalagens; o que deve ser feito através da demonstração das
vantagens de integrar a prevenção dos resíduos de embalagens nos sistemas de
gestão ambiental (ISO 14000, ou EMAS), balançando globalmente diferentes
oportunidades e trade-offs.
Embalagens e informação/educação ambiental
Em 1991, Stilwell et al, num trabalho sobre embalagens e ambiente, identifica-
vam sete actores chave por trás das forças que moviam o mercado na procura
de produtos e embalagens “amigos do ambiente”: ambientalistas, mass media,
público em geral (consumidores), educadores, governos, retalhistas, e a própria
indústria de embalagens.
Logo no início da década de 90, a resposta da indústria de embalagens à crise
ambiental em geral, e dos resíduos em particular, foi diversificada, incluindo,
entre outras, as seguintes iniciativas: investigação e desenvolvimento; joint ven-
tures com os recicladores; rotulagem voluntária; educação pública; e novos con-
ceitos de produtos e embalagens.
A importância de informar/educar o público/consumidor em geral, cedo foi
identificada na política de ambiente da UE estando presente em inúmeros dos
documentos nesta área, sobretudo a partir dos anos 80. No início dos anos 90,
o sector da indústria de embalagem na Europa sofria de um conjunto de pro-
blemas, envolvendo a relação/comunicação com os consumidores que, se pode
considerar, não mudou muito. Por um lado, uma má imagem junto dos consumi-
dores, que se prendia com a ideia de que as empresas colocavam no mercado
produtos com excesso de embalagem para os diferenciar da concorrência. Por
outro lado, a indústria necessitava de educar um público que não conhecia as exi-
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gências e complexidade das técnicas de preservação e embalagem, que reduzem
o risco de degradação e, portanto, de desperdício de produto.
Embora regulamentações e acordos governamentais possam assegurar algu-
mas mudanças de curto-prazo, o consumidor tem uma grande influência no que
respeita ao futuro ambientalmente mais amigável da embalagem. É particu-
larmente importante assumir uma abordagem de parceria e cooperação entre
governo (local, nacional e internacional), indústria (desde o fornecedor da maté-
ria-prima ao fornecedor do produto de consumo), e o consumidor, para tornar as
embalagens ambientalmente amigáveis do ponto de vista do uso de recursos,
reciclabilidade, reutilização, e gestão de resíduos. Esta parceria e cooperação
tem-se vindo a construir na Europa à custa de legislação e normalização mais
exigente.
As evoluções tecnológicas têm permitido que o peso e volume das embala-
gens tenham diminuido substancialmente nos últimos 30 anos. Hoje em dia, a
embalagem permite um transporte mais eficiente (menos ar e mais conteúdo por
palete e, portanto, menos combustível gasto por unidade de produto), maior faci-
lidade de recuperação e reciclagem, e contém menos materiais nocivos para o
ambiente (ex: metais pesados). Esta melhoria contínua é reconhecida pela Euro-
pen como sendo dirigida pela economia, assim como pelos valores do consumi-
dor e – em certa medida – pela legislação.
Normas de embalagem
Os Requisitos Essenciais da Directiva Embalagens (94/62/CE) podem ser resu-
midos como:
• o peso e volume das embalagens deve ser minimizado à quantidade necessária
para a segurança e recepção do produto embalado;
• componentes nocivos ou perigosos das embalagens deverão ter um impacto
mínimo no seu fim-da-vida;
• a embalagem deve ser adequada para a reciclagem material, recuperação ener-
gética ou compostagem, ou para reutilização se pretendida.
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Sob mandato da Comissão Europeia, o Comité Europeu de Normalização (CEN),
preparou um conjunto de normas técnicas sobre embalagens e ambiente para
dar resposta aos Requisitos Essenciais da Directiva Embalagens. As normas
chave adoptadas foram a NE 13428:2000 e a NE 13432:2000 (sobre preven-
ção, reutilização, recuperação material, recuperação energética e recuperação
orgânica). Foi também preparada uma norma não mandatada, tipo “chapéu-de-
chuva”, NE 13427:2000, que explica como as normas e relatórios mandatados se
encadeiam entre si e devem ser usados.
Tendo em vista a enorme variedade de tipos de embalagens e possibilidades de
recuperação e eliminação, o CEN optou por uma abordagem de sistema de ges-
tão com o objectivo de melhoria contínua do perfil ambiental das embalagens
colocadas no mercado (http://www.cen.eu).
Para cumprir com as normas, os designers e técnicos de embalagens devem
trabalhar metodicamente através de uma checklist para assegurar que as suas
decisões consideram os frequentemente conflituosos factores sociais, ambien-
tais e económicos que afectam a escolha da embalagem, e encontrar uma solu-
ção correcta para o produto, para o sistema de distribuição e para ela ser eventu-
almente armazenada e usada.
135
Requisitos gerais
Os requisitos que devem ser satisfeitos no design para a reciclagem mecânica
de embalagens de plástico dependem do estado da arte das principais etapas do
processo: separação/triagem, processamento e reciclagem.
No caso da separação, estão a ser crescentemente usadas técnicas que faci-
litam a identificação material de acordo com os tipos de plásticos por recurso a
processos ópticos (ex: NIR – Near-infrared spectroscopy).
É também usado equipamento de trituração e esmagamento para preparar os
diferentes materiais, e processos de lavagem e separação em meio aquoso. O
objectivo é limpar e separar as diferentes fracções materiais ou tipos de plásti-
cos, através das suas diferenças de densidade. Também se recorre a separado-
res magnéticos ou indutores de metais. Materiais que não se consigam sepa-
rar, ou que apenas se consigam separar parcialmente, permanecem no produto
podendo prejudicar a sua qualidade, conduzindo a rendimentos mais baixos.
Requisitos específicos
Os requisitos de separação, processamento e reciclagem são baseados nos
seguintes critérios:
> selecção e combinação de materiais,
> separabilidade de materiais compósitos,
> facilidade de esvaziamento e
> impressão/rotulagem/adesivos.
> selecção e combinação de materiais
• uso de um único tipo de plástico é a solução óptima;
• se necessário mais do que um tipo de plástico, procurar densidades suficien-
temente diferentes (para facilitar a sua separação pelos processos normais em
meio aquoso);
• se usados diferentes tipos de plásticos que não se possam separar, devem ser
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compatíveis para reciclagem;
• substâncias nocivas devem ser evitadas na escolha das matérias-primas (ex:
pigmentos tóxicos);
• evitar a escolha de cores muito fortes por prejudicarem a qualidade do produto
reciclado.
> separabilidade de materiais compósitos
• se a embalagem possui várias partes, estas devem ser, tanto quanto possível,
do mesmo tipo de plástico; se não for possível, procurar designs que se desinte-
grem nos componentes de diferentes densidades durante a trituração ou esma-
gamento mecânico, para separação antes da reciclagem;
• devem ser evitados designs com diferentes materiais que não se possam
separar;
• resíduos de revestimento prejudicam a qualidade e baixam as vendas dos
reciclados.
> facilidade de esvaziamento
• deve ser possível esvaziar totalmente a embalagem de modo a que não fique
nenhum resíduo no seu interior (ou, que fique muito pouco) – o que simplifica o
processo e melhora a qualidade do produto final;
• algumas medidas de design podem ajudar na facilidade de esvaziamento (ex:
embalagens fáceis de comprimir).
> impressão/rotulagem/adesivos
• os rótulos deverão ser fabricados no mesmo tipo de plástico que o corpo princi-
pal da embalagem;
• combinações de plásticos são aceitáveis desde que as suas densidades sejam
suficientemente diferentes para separação mecânica;
• usar adesivos solúveis em água (mesmo que o rótulo/etiqueta seja separado
no processo, qualquer resíduo de adesivo remanescente prejudica significativa-
mente a qualidade do reciclado final);
• rótulos de papel são aceitáveis se colados com adesivos solúveis em água;
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• não usar substâncias nocivas nas tintas de impressão (informações detalhadas
podem ser encontradas na Exclusion List for Printing Ink and Related Products
do CEPE – European Council of Paint, Printing and Artists’Colours Industry www.
cepe.org);
• no caso de embalagens de filme plástico, a área de impressão pode ser >10%,
mas deve ser <50%;
• as diversas partes/tipos de plásticos devem ser marcados de acordo com uma
norma reconhecida (SPI ou norma DIN 6120).
(In)compatibilidades de reciclagem de plásticos (fonte:www.embopar.pt,
2005)
Ao nível do processo de reciclagem dos materiais plásticos é importante real-
çar os aspectos de compatibilidade entre materiais. Tendo em consideração que
em Portugal a reciclagem deste material, actualmente, é feita apenas a partir de
processos mecânicos, o critério de “selecção e combinação de materiais” reve-
la-se crucial para a obtenção de um reciclado de qualidade. Sendo inevitável, por
variados motivos, o uso de diferentes tipos de plástico e de diversos materiais
acessórios, é recomendável, porém, ter-se em consideração a seguinte tabela de
compatibilidades:
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1. PET
Politereftalato de Etileno
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Polietileno de Alta Densidade
3.PVC
Policloreto de Vinilo
4.PEBD
Polietileno de Baixa Densidade
5.PP
Polipropileno
6.PS
Poliestireno
7.EPS
Poliestireno Expandido
8.PE
Polietileno
9.ABS
Poliacrilo/Butadieno/Estireno
10.PC
Policarbonato
11.SBR
Borracha de Butadieno/Estireno
INCLUDEPICTURE “http://www.plastval.pt/conteudo/industria/grafico01.gif”
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Sinalética SPV nas embalagens para ajudar o consumidor
Para facilitar a separação doméstica de resíduos de embalagens, a Sociedade
Ponto Verde criou, em colaboração com os seus principais accionistas (EMBO-
PAR, DISPAR e INTERFILEIRAS), um conjunto de ícones que, de uma forma
simples, e colocados na própria embalagem, têm como objectivo indicar aos Con-
sumidores as regras básicas a seguir no acto da deposição selectiva de embala-
gens usadas. Estes ícones, bem como algumas recomendações e regras gráfi-
cas de utilização, encontram-se disponíveis para download no site da Sociedade
Ponto Verde (www.sociedadepontoverde.pt).
Estes ícones devem ser facilmente identificáveis pelo consumidor. Devem ser
claramente visíveis e de fácil leitura e ter uma duração compatível com o tempo
de vida da embalagem, mesmo depois de aberta.
Estes ícones poderão ser colocados na embalagem ou, no caso de haver mate-
riais diferentes, em cada componente da embalagem cuja separação do material
resulte fácil e lógica.
• Os materiais “plástico” e “metal” deverão ter o ícone do Ecoponto Amarelo;
• O material “papel/ cartão” deverá ter o ícone do Ecoponto Azul;
• O material “vidro” deverá ter o ícone do Ecoponto Verde.
Para as embalagens que sejam constituídas por vários materiais e cuja separa-
ção não resulte fácil e lógica por parte do utilizador, as empresas deverão seguir
a regra do “material dominante”, ou seja, prevalece o material de embalagem que
apresenta o maior peso no conjunto da embalagem.
De preferência devem ser utilizadas as cores dos respectivos ecopontos, embora
seja facultada a liberdade na escolha das cores.
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O Sistema Ponto Verde
O Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagem (SIGRE), ou Sistema
Ponto Verde (criado pelo Decreto-Lei 366-A/97), tem como objectivo dar cumpri-
mento às obrigações e metas estabelecidas pelas Directivas Comunitárias sobre
resíduos de embalagens no nosso país.
O SIGRE abrange todas as embalagens e resíduos de embalagens colocadas
no mercado nacional, ou seja: embalagens urbanas (ou domésticas), equiparadas
a urbanas (restaurantes, estabelecimentos comerciais, etc), industriais, agríco-
las e de serviço. E ainda, quanto à tipologia: embalagens primárias e secundárias
(aquelas a que o consumidor tem acesso directo no ponto de venda), e embala-
gens terciárias (de transporte).
Com vista à gestão dos Resíduos de Embalagens a nível nacional, o SIGRE
assenta numa articulação de responsabilidades e funções entre diversos parcei-
ros intervenientes na cadeia. O sistema não começa ou acaba num interveniente
específico, existindo uma interligação e uma interdependência entre todos os que
o integram: Fabricantes de Embalagens, Embaladores e Importadores, Distribui-
ção, Consumidor, Autarquias. Cada um destes intervenientes no SIGRE tem uma
função importante a desempenhar:
• Os Fabricantes de Embalagens e de Materiais de Embalagens garantem a
retoma (através da Sociedade Ponto Verde) dos resíduos triados, assegurando
que estes serão valorizados ou reciclados.
• Os Embaladores/Importadores, aqueles que colocam as embalagens no mer-
cado, são, perante a lei, os responsáveis pela gestão e destino final dos resíduos
em que aquelas se transformam após o consumo. Os Embaladores/Importado-
res transferem essa responsabilidade para a Sociedade Ponto Verde mediante
uma contrapartida financeira – Valor Ponto Verde – são assim os financiadores
do Sistema Ponto Verde.
• Os Distribuidores (do pequeno retalho às grandes cadeias de hipermercados) só
podem comercializar embalagens não-reutilizáveis quando estas estão abrangi-
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das pelo Sistema Ponto Verde.
• O Cidadão Consumidor deverá separar as embalagens usadas por tipo de mate-
rial, colocando-as nos recipientes próprios (Ecopontos, Ecocentros e/ou sacos e
cestos) disponibilizados pelas Autarquias para o efeito.
• Os SMAUT (Sistemas Municipais e/ou Autarquias) são responsáveis pela reco-
lha selectiva e triagem das embalagens usadas. Estes resíduos são depois entre-
gues à Sociedade Ponto Verde, que os encaminha para valorização e reciclagem.
Quando integradas no Sistema Ponto Verde, as Autarquias benefíciam do apoio
técnico e financeiro da Sociedade Ponto Verde.
Assim, é da responsabilidade das Autarquias, no âmbito do SIGRE, a recolha e
triagem de resíduos de embalagens urbanas. As Autarquias, através dos Siste-
mas de Recolha Selectiva – porta-a-porta, com recurso a Ecopontos, ou ainda
em sistemas mistos – recolhem os resíduos de embalagens provenientes da tria-
gem doméstica efectuada pelos cidadãos consumidores. Procedem depois à tria-
gem desses resíduos nas Estações de Triagem concebidas para o efeito, sempre
de acordo com as Especificações Técnicas em vigor. Finalmente, as Autarquias
entregam à SPV para reciclagem a totalidade dos resíduos triados, recorrendo
para tal aos Retomadores Acreditados.
Após a deposição, por parte dos cidadãos consumidores, nos sistemas de reco-
lha selectiva dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) - operados pelas Autarquias
-, procede-se à sua triagem por tipos de material. Esta triagem é competência
das Autarquias, que para o efeito instalam Estações de Triagem. Aí, os resíduos
de embalagens são sujeitos a uma triagem mais fina dentro de cada material –
por tipo de metais, por tipo de plástico, etc. – já que tal trabalho e conhecimento
dos materiais não pode ser exigido aos cidadãos. A triagem deve processar-se de
acordo com as Especificações Técnicas em vigor, para possibilitar a recepção dos
resíduos pelos Retomadores Acreditados. Após a triagem, efectua-se a compac-
tação e enfardamento dos resíduos, que são depois enviados para a Indústria de
Reciclagem.
Os Retomadores/Recicladores Acreditados – são a entidade responsável pela
valorização e reciclagem dos resíduos de embalagens, nomeadamente através
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da sua transformação em matéria-prima reciclada, pronta a ser utilizada pelas
Indústrias de Transformação, as quais produzem, em muitos casos, produtos
que podem ser fabricados com materiais reciclados. Os resíduos de embalagens
são recolhidos pelos Operadores de Recolha Privados junto das Autarquias, após
a recolha selectiva e a triagem por estas efectuadas, de acordo com as Especifi-
cações Técnicas em vigor.
O SIGRE é gerido pela Sociedade Ponto Verde (SPV), licenciada como entidade
gestora de resíduos de embalagens urbanas e não urbanas, pelo que pode assu-
mir a responsabilidade de retomar os resíduos dos diversos tipos de embalagens
(desde que as empresas responsáveis pelo seu lançamento no mercado tenham
aderido ao Sistema Ponto Verde).
A relação e obrigações entre o embalador/importador e a SPV são estabele-
cidas por um contrato entre as duas partes (de acordo com o DL 366-A/97, e a
Portaria 29-B/98), em que genericamente:
O embalador/importador:
> presta uma contribuição financeira em função do peso e tipo de material de
embalagem que coloca no mercado (o chamado Valor Ponto Verde);
> respeita as normas de utilização do símbolo Ponto Verde;
> certifica a Declaração Anual relativa às embalagens que coloca no mercado.
A Sociedade Ponto Verde:
> assume a responsabilidade legal das empresas, em matéria de gestão dos resí-
duos das embalagens;
> confere licença para o uso do símbolo Ponto Verde;
> emite e envia ao Embalador o Certificado Ponto Verde.
A Sociedade Ponto Verde S.A. é uma entidade privada, sem fins lucrativos, cons-
tituída em Dezembro de 1996, com a missão de promover a recolha selectiva, a
retoma e a reciclagem de resíduos de embalagens, a nível nacional. A SPV reúne
diversos accionistas, com o objectivo de dar cumprimento às suas obrigações
ambientais e legais: Embaladores/Importadores, Distribuidores, Autarquias,
Fabricantes de Embalagens e de Materiais de Embalagem.
As diversas industrias são representadas na SPV através da Interfileiras, que
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inclui a CERV, a EMBAR, a Fileira do Metal, a Plastval e a RECIPAC, como accio-
nistas representantes respectivamente das fileiras de vidro, madeira, metal,
plástico e papel/cartão. Cada fileira tem por missão representar a Indústria res-
pectiva nas suas diversas vertentes, ou seja, Produtores de Matérias-primas,
Transformadores, Embaladores e Recicladores (ver Figura 2).
Assim, por exemplo, à Plastval, representante do sector do plástico, compete a
gestão de todo o circuito de valorização de embalagens de plástico, sendo o elo
de ligação entre as Autarquias e os Retomadores e Recicladores, prestando tam-
bém o apoio técnico necessário a ambas as partes; e à Recipac cabe apoiar a ges-
tão do sistema no que diz respeito às embalagens de papel/cartão, como repre-
sentante da respectiva fileira (...)
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Concepção e Produção:
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