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1. INOVAÇÃO CURRICULAR NO ENSINO SUPERIOR : ORGANIZAÇÃO ,
GESTÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES.
Marcos Tarciso Masetto1
INTRODUÇÃO.
Vivemos uma cultura do “novo”. A frequência com que nos deparamos
com esta expressão seja em trabalhos acadêmicos, seja na apresentação de
cursos universitários, seja como exigência para projetos no ensino superior
brasileiro até a exploração desta sigla novo sob as mais diferentes formas na
divulgação de serviços, de negócios, de oportunidades e de produtos faz com
que continuamente nos sintamos agredidos por este termo “novo”, que começa
a cair na rotina, num modismo e perder seu significado. Em pouco tempo,
corremos o risco de contar com mais uma palavra que em algum tempo atrás
teve um significado muito importante, mas que posteriormente se esvaziou de
sentido.
Antes de chegarmos a este tempo, acredito que temos oportunidade de
refletir sobre essa questão da Inovação no Ensino Superior visando resgatar
seu genuíno significado e valor.
Ao iniciar esta reflexão, vamos partir do fato de que o significado dado
ao termo “inovação” ou “inovador”, ou “novo” em diversas situações nas IES se
reveste de uma polissemia que se estende desde sua concepção até a
abrangência e profundidade de alterações implementadas nessas instituições.
Assim, denomina-se inovação as novidades da era tecnológica da
informação e comunicação, as novas condições para o conhecimento, o
interesse em superar a fragmentação nos diversos campos do conhecimento, a
busca de um saber interdisciplinar, as recentes revisões das carreiras e perfis
1 Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Professor Titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Professor Livre Docente Associado da Universidade de São Paulo (Aposentado)
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profissionais até as demandas que o século XXI faz para a educação nos seus
diferentes ângulos.
Assim, por vezes, o fato de se usar um pouco das Novas Tecnologias de
Informação e Comunicação em algumas aulas já é considerado inovador;
prover a cada aluno de um lep top ou note book para suas anotações e
trabalhos escolares ou dispor de laboratórios de informática já são critérios
para se falar em cursos inovadores; possuir programas ou disciplinas
ministradas a distância , introduzir disciplinas novas na grade curricular ,
como por exemplo: informática para muitos cursos, o empreendedorismo para
a administração e economia, criatividade para a engenharia, têm o mesmo
efeito; incentivo a trabalhos com projetos e a atividades extensionistas com
apoio da instituição e, por vezes, até mesmo o fato de “não haverem mais
aulas expositivas, mas apenas trabalhos em grupo” são indicadores que se
apresentam como “inovações”.
Estas observações nos fizeram perguntar: Será que estes e outros
indicadores semelhantes podem ser considerados “inovações”no Ensino
Superior? Que sentido poderíamos atribuir a este termo? O que os autores
que se têm debruçado sobre questões educacionais pensam sobre inovação
em educação ? O que nós professores e pesquisadores de pós-graduação
pensamos sobre esta questão?
Compartilhar esta reflexão com os nossos leitores constitui-se como
uma oportunidade muito rica de aprofundamento para os estudos que vimos
realizando no Programa de Pós Educação:Currículo da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUCSP) ( Brasil).
Este Programa de Pós graduação sedia um Grupo de Pesquisa que se
intitula “Formação de Professores e Paradigmas Curriculares” , registrado no
Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq, coordenado pelo Prof. Dr. Marcos
Tarciso Masetto, e composto por estudantes de pós-graduação e
pesquisadores mestres e doutores.
Este Grupo de Pesquisa iniciou suas atividades em 2005 e estabeleceu
como objetivos investigar e identificar projetos inovadores em ensino de
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graduação e aprofundar questões teóricas sobre inovação, currículo e
formação de professores.
A partir de estudos bibliográficos, análises documentais, estudos de
casos, pesquisas individuais e coletivas, seminários os membros do grupo têm
apresentado trabalhos em eventos específicos ligados à temática, publicado
artigos em periódicos e capítulos em coletâneas sobre o resultado de suas
investigações.
Para desenvolver este capítulo, vamos abordar os seguintes tópicos: Inovação
Educacional, Inovação no Ensino Superior e Organização, Gestão e Formação
de Professores em projetos inovadores.
I - CONCEITO DE INOVAÇÃO EDUCACIONAL.
No intuito de compreendermos este conceito de inovação educacional,
pesquisamos autores que têm-se debruçado sobre o assunto.
Marcarmos como pressuposto que as inovações educacionais nunca se
apresentam com a característica da neutralidade. Pelo contrário, sempre
surgem como resultado de um contexto social, de uma determinada concepção
de educação e como resposta a necessidades emergentes para as quais os
paradigmas atuais já não oferecem encaminhamentos aceitáveis.
A inovação sempre emerge em um processo histórico de uma
Instituição, num determinado tempo e , ela mesma , tem sua história, pois é
um processo e não se esgota em medidas pontuais.
Cunha (2001) entende inovação com esse mesmo pressuposto quando
afirma:
Não é possível pensar os processos inovativos sem levar
em conta seu caráter histórico-social. Eles se constroem
num tempo e espaço e não podem ser percebidos como
uma mera produção externa, nem ingenuamente como algo
espontâneo e independente.Percebe-se que inovação é
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resultado de tensões e não meramente a inserção de
novidades técnicas e tecnológicas, como dispositivos
modernizantes”( CUNHA, 2001,p.128)
Hernandez (2000) assume posição semelhante quando comenta que “ o
campo da inovação...não é homogêneo, e suas diferentes acepções andam
paralelas à ideologia dominante na educação escolar, nas formas de ensino e
na atuação de professores’ ( HERNANDEZ, 2000,p.20)
Entrando no estudo de alguns autores que têm se dedicado à
investigado deste tema, iniciamos nossas considerações com Carbonell ( 2002)
que já no 1º. Capítulo de seu livro considera que na maioria dos países algo
mudou nas escolas. No entanto, tem sido mudanças mais epidérmicas que
reais, sintomas de modernidade , mas que nada têm a ver com a inovação.
Inclusive o uso da tecnologia que pode abrir caminho no campo da inovação ,
em geral se apresenta apenas como um enganoso valor agregado:com o
domínio de algumas habilidades instrumentais e o acesso ao crescente
arsenal informativo.
Continua o mesmo autor salientando que se queremos falar em
inovação educacional há que se
associar em qualquer proposta educativa o conhecimento
e o afeto, o pensamento e os sentimentos, o raciocínio e a
moralidade, o acadêmico e a pessoa, as aprendizagens e
os valores . Estamos falando de educação integral (
CARBONELL 2002, p.16)
Enfaticamente, Carbonell mais adiante em seu texto define inovação
como :
um conjunto de intervenções, decisões e processos, com
Intencionalidade e sistematização que tratam de
modificar atitudes, idéias, culturas, conteúdos ,
modelos e práticas pedagógicas e introduzir novos
materiais curriculares,, estratégias de Ensino e
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aprendizagem, modelos didáticos e outras formas de
organizar e gerir o currículo, a escola e a dinâmica da
classe.. ( os grifos são nossos) (CARBONELL,2002,p.19)
Propositalmente fizemos os grifos nessa definição de Inovação
Educacional dada por Carbonell porque ela inclui um conjunto de elementos
que, quando trabalhados conjunta e simultaneamente , em nosso entender, são
alterações essenciais, para se compreender e implementar uma inovação
educacional: conjunto de decisões, intervenções e processos orientados por
uma intencionalidade que se preocupa com aprendizagens para modificar
atitudes de professores e de alunos , conteúdos, valores, currículo, práticas
pedagógicas, materiais e estratégias de aprendizagem, a dinâmica da classe
e, por fim a escola. Tudo isso dentro de um novo planejamento estratégico.
Em um artigo por nós publicado em 2004 na Revista Interface também
defendíamos um conceito de inovação semelhante, ao afirmar que
Trata-se de um conceito de inovação amplo e
multidimensional que na educação superior deveria ser
entendida como o conjunto de alterações que afetam
pontos chaves e eixos constitutivos da organização do
ensino universitário provocadas por mudanças na sociedade
ou por reflexões sobre concepções intrínsecas à missão da
Educação superior. (MASETTO, 2004,p.197)
Trata-se de um conceito de inovação amplo e multidimensoinal que não
se volta para o acessório e as aparências, mas para os aspectos importantes
e fundamentais de uma nova proposta educacional.de uma nova formação que
afeta toda a instituição escolar e não apenas algumas partes isoladas.
Fernando Hernandes (2000) em seu livro “Aprendendo com as
Inovações nas escolas” aborda o conceito de inovação educacional
destacando alguns tópicos como :
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- uma inovação sempre emerge de conjunturas, buscando respostas às
necessidades das escolas ou da sociedade, desenvolvendo alternativas a
crenças existentes;
- são mudanças realizadas de forma consciente e diretamente vinculadas a
objetivos de melhoria do sistema educativo, que afetam a
multidimensionalidade do sistema ( atendimento a novas áreas de
aprendizagem, organização curricular, conteúdos, práticas alternativas de
aprendizagem, trabalhos dos docentes, . planejamento para atender a todos
os objetivos propostos na inovação e: criação de sistema de avaliação continua
da inovação, evitando que ela se perca ou não atinja os objetivos esperados).
Já no último capítulo de seu livro, Fernando Hernandez procura resumir
sua posição sobre o conceito de novação e destaca os pontos que lhe parecem
fundamentais.
1, Uma prática inovadora nunca começa do zero. Sua origem e
desenvolvimento sempre estarão relacionados à trajetória de cada instituição,
ao seu contexto histórico e às necessidades e carências sentidas pelo grupo e
para as quais as respostas existentes já não satisfazem, tendo em vista
melhores resultados para seu projeto pedagógico.
2. Uma inovação também tem uma história. Sempre se trata de um
processo, de um projeto que se constrói por fases, em geral de forma dialética,
integrando reflexões e práticas pedagógicas, superando confrontos e pontos de
vista, encaminhando para uma nova cultura educacional, levado à frente pela
participação e dinamismo de seus integrantes, ansiosos por respostas a
necessidades ainda não atendidas.
3. O que a inovação modifica: concepções e organizações curriculares
como resultado das decisões do grupo; formas de ensinar e aprender ,
materiais curriculares, processo de avaliação e técnicas avaliativas, orientação
e acompanhamento dos alunos
4. Uma inovação tem maiores possibilidades de ser levada a frente pelos
professores se partir deles e vier responder às suas necessidades.
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5.. Qualquer que seja a inovação não terá condições de ser levada a
frente sem participação da Administração Superior
6. O processo de inovação será enriquecido se for permeável ao
intercâmbio e ao contraste de pontos de vista com outros professores e
assessores e outros agentes que possam contribuir para a dinamização da
inovação.
O mais relevante da história e do processo de uma inovação é saber
resolver o confronto de culturas pedagógicas, detectar as causas e tratar de
encontrar pontos de encontro entre os participantes
7. Uma inovação curricular traz como seu fundamento o questionamento
e redirecionamento de concepções e organizações curriculares, pois, o
currículo é a forma organizacional de materialização de uma inovação
educacional.
8. Uma inovação necessita de um grupo de referência que a impulsione.
Condição básica para um projeto inovador ser levado adiante é contar com a
participação daqueles que o irão construir desde seu início. Este grupo de
referência , em geral, é constituído por professores, funcionários e
administradores da Instituição
9. Aspectos que incidem na organização da inovação : Negociação e
canais de comunicação operativos.
Tais reflexões e consideraçóes de Hernandez nos apontam para a
complexidade e abrangência de um processo de inovação. Chamam nossa
atenção para diagnosticarmos situações que se denominam “inovadoras” ,
mas que acontecem em momentos ou circunstâncias pontuais e/ou
desvinculadas de um processo.
Esta preocupação com a abrangência de um processo de inovação
também aparece em Francisco Imbernón (2000) quando ao apresentar seu
pensamento sobre mudanças em educação nos dias de hoje comenta a
existência “de crise em relação ao que se deve ensinar ou aprender em um
mundo onde impera a incerteza e a mudança vertiginosa e em relação ao novo
8
papel do professor.... como gestor e mediador de aprendizagem”( Imbernón,
2000.p.89)
O mesmo autor . concretiza estas suas preocupações ao assinalar:
um meio social baseado na informação e nas
comunicações; a tendência a que tudo seja planejado......
Estes imperativos comportam novas exigências e
demandas à instituição escolar e aos professores e a uma
nova concepção de trabalho educativo: análise da
obsolescência dos processos, dos materiais e das
ferramentas de aprendizagem existentes; o diagnóstico das
novas necessidades dos alunos; a busca de novas
motivações dos alunos para a aprendizagem; a grande
influência do meio social na aprendizagem; a busca de
novos métodos;a gestão coletiva da aprendizagem ; a
utilização dos meios tecnológicos ; a formação permanente
como parte intrínseca da profissão de educar e como
compromisso na aprendizagem durante toda a vida”. (
IMBERNÓN, 2000, pp.89/90.) .
Concordamos com estas proposições de Imbernón sobre os aspectos
que merecem ser considerados na discussão sobre o conceito de inovação..O
que é muito interessante neste autor é que ele consegue aliar à teoria
propostas concretas, coerentes e conseqüentes com a mesma , evitando uma
situação de apenas discurso sobre o tema. Imbernón chama seus leitores a um
compromisso com suas idéias através de sugestões concretas que permitem a
implantação das inovações ou mudanças que defende.
Além de Hernandez (2000) e Imbernón (2000) , outros autores como
Thurler (2001), Camargo (2002), Canário (2006), Cebrian (2003) também
consideram que inovações educacionais não se realizam apenas com
modificações pontuais em um ou outro ponto de um projeto educacional.
Projetos inovadores em educação exigem que as alterações se façam na
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totalidade de um projeto abrangendo um conjunto de fatores cuidadosamente
planejados e integrados.
Nossa posição a respeito do conceito de Inovação Educacional se alinha
aos autores acima citados. Nossas pesquisas desde 2004 sobre Projetos
Curriculares Inovadores no Ensino Superior nos levaram a aprofundar este
conceito em sua relação e em suas aplicações a cursos de graduação .
Por isso, nossa posição sobre o que entendermos por Inovação
Educacional vem refletida em nossas considerações a seguir sobre Inovação
no cenário de Ensino Superior .
II - INOVAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR
Em 2004, publicamos um texto pela Revista Interface no qual nós nos
perguntávamos: Afinal o que caracteriza inovação no Ensino Superior? Nesse
artigo, iniciávamos uma resposta . Hoje, as pesquisas continuaram e queremos
trazer outras contribuições.
Vamos dividir estas considerações em três partes: inovações
provocadas no Ensino Superior por mudanças na sociedade em que vivemos,
inovações provocadas por reflexões sobre papel e missão das Universidades
nos nossos tempos e inovações curriculares implementadas no Ensino
Superior com alterações significativas na Organização, na Gestão e na
Formação dos Professores.
1. Inovação - Sociedade Contemporânea - Universidade
Nas últimas décadas do século passado , nossa sociedade vem
sofrendo profundas alterações provocadas principalmente pela revolução das
tecnologias de informação e comunicação (TICs) que, além de afetar a vida
cotidiana das pessoas, atingiu alguns aspectos fundamentais da própria vida
universitária:construção e socialização do conhecimento, formação de
profissionais competentes e cidadãos, desenvolvimento da pesquisa , revisão
das carreiras profissionais e exigências axiológicas.
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Nossa sociedade, entre outros epítetos que já lhe atribuiram, um deles
foi o de “Sociedade do Conhecimento”2,devido ao fato de se ter criado uma
pluridiversidade de fontes de produção do conhecimento, de os meios de
comunicação terem permitido um acesso imediato e em tempo real ao mesmo,
ter-se ampliado a socialização do conhecimento e se ter resgatado o
significado e o valor do processo de aprendizagem.
O conhecimento se apresenta hoje com uma multiplicidade quase
infinita de fontes de sua produção. Se até bem pouco tempo poderíamos dizer
que as universidades se constituíam no grande e privilegiado locus de
pesquisa e produção científica, hoje , e já faz algum tempo, as investigações e
conseqüente produção de conhecimento partem de outros espaços também:
dos organismos e institutos de pesquisas que não se encontram vinculados à
universidade, dos laboratórios industriais, das empresas , das Ongs, de
Organismos públicos e privados voltados para projetos de intervenção na
realidade e realizadores de programas e de políticas governamentais em todos
os níveis. Chegamos mesmo hoje a produzir conhecimento em escritórios de
atividades profissionais, e até em nossas bancas domiciliares, graças aos
computadores.
Ao mesmo tempo que se multiplicaram as fontes de produção do
conhecimento, o acesso a ele também se transformou: acesso imediato em
tempo real aos periódicos, artigos, livros, palestras, conferências, sites, e ao
próprio pesquisador e especialista que publica. Um simples e-mail e , eis –nos
dialogando com o protagonista daquele último artigo ou livro publicado, ou
conferência proferida.
Através deste desenvolvimento do conhecimento e sua produção, as
áreas da ciência se aproximaram: os fenômenos a serem compreendidos ,
explicados exigem mais que uma só abordagem, um só especialista, uma só
explicação : a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade são chamadas a
estar presentes e colaborar para o desenvolvimento da ciência. A interação
2 Bell, Daniel , The Coming of Post-industrial Society,New York, Basic Books, 1976
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entre as ciências exatas e humanas se torna uma exigência para o
desenvolvimento do mundo e da comunidade humana.
Nessa sociedade em constante transformação e
autocriação, no dizer de Hargreaves , o conhecimento é um
recurso flexível, fluido, em processo de expansão e
mudança incessante. Na economia do conhecimento, as
pessoas não apenas evocam e utilizam o conhecimento
“especializado” externo, das universidades e de outras
fontes, mas conhecimento, criatividade e inventividade são
intrínsecos a tudo o que elas fazem”.(HARGREAVES,
2004:32)
Um conhecimento que se volta para a compreensão do mundo ; seus
fenômenos e sua evolução; as ciências tecnológicas e suas sempre
maravilhosas conquistas e projeções, mas não desligada do homem, da
comunidade humana, de sua evolução e desenvolvimento dos povos.
Por isso mesmo, Hargreaves escreve: “A sociedade do conhecimento é
uma sociedade de aprendizagem”( Hargreaves, 2004,p.34). Uma sociedade
que assume o processo de aprendizagem com o significado de
desenvolvimento da totalidade do homem e da sociedade em seus aspetos
educacionais, políticos, éticos, econômicos, culturais, de direitos individuais e
responsabilidades sociais, enfim da própria cidadania. Por isso mesmo,
assume-se uma aprendizagem ao longo da vida , “life long learning”, para além
dos espaços escolares e presente durante toda a existência humana,
desenvolvendo-a em sua totalidade.
O mesmo autor comenta :
ensinar na sociedade do conhecimento , e para ela, está
relacionado com a aprendizagem cognitiva sofisticada, com
um repertório crescente e inconstante de práticas de ensino
informadas por pesquisas, aprendizagem e auto-
acompanhamento profissional contínuo, o trabalho
coletivo.... desenvolvimento e utilização da inteligência
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coletiva e cultivo de uma profissão que valorize a solução de
problemas, a disposição para o risco, a confiança
profissional, lidar com a mudança e se comprometer com a
melhoria permanente” (HARGREAVES, 2004: 45)
O conhecimento é a matéria prima de trabalho no Ensino Superior.
Consideremos o quanto a alteração no mundo do conhecimento exige de
mudanças na Universidade. Minimamente abertura, diálogo, intercomunicação
e parceria com as mais diversas fontes de produção de conhecimento , revisão
e reformulação de seus bancos de dados e informações, implantação de novos
processos informativos e de comunicação, reorganização de seus currículos
permitindo que alunos e professores usufruam dessa nova situação do
conhecimento . O tratamento dado ao conhecimento em situações de aulas ,
de ensino, de pesquisa e de extensão exige inovações significativas.
O professor se pergunta como dar conta de estar atualizado com todas
as informações existentes e como passá-las para os alunos com sua carga
horária e programa estabelecidos. Como ajudar o aluno a acessar a internet e
dela retirar com criticidade as informações que sejam relevantes. E por final , a
grande questão que se faz : o que devo ensinar ou o que o aluno precisa
aprender para se formar um profissional competente?
De uma coisa o professor começa a desconfiar: o seu papel de expert
em uma determinada disciplina afunilando sinteticamente para o aluno o
conjunto máximo de informações que ele precisa ter não é mais o seu papel de
professor. Qual é então? Como trabalhar com os conteúdos em aula?
Hargreaves também se propõe a mesma questão e ousa respondê-la
indicando algumas pistas. Para ele, os professores se verão na necessidade
de
promover a aprendizagem cognitiva profunda, aprender a
ensinar por meio de maneiras pelas quais não foram
ensinados, comprometer-se com aprendizagem profissional
contínua, trabalhar e aprender em equipes de colegas,
desenvolver e elaborar a partir da inteligência coletiva,
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construir uma capacidade para a mudança e o risco,
estimular a confiança nos processos”(HARGREAVES,
2004:40)
Esta mudança quanto ao conhecimento ,aliada às novas exigências de
qualidade no desempeno profissional exigido por nossa sociedade, vem
trazendo uma crise às próprias carreiras profissionais que também se
perguntam sobre qual o papel de cada uma das profissões nesta sociedade ,
quais os novos perfis de profissionais , que características são mais relevantes.
Se antes predominava o conhecimento técnico atualizado, domínio do
mercado , hoje estas qualidades já não são mais suficientes. Outras
habilidades e competências se exigem como por exemplo, capacidade de
trabalhar em equipe, de se comunicar, de se adaptar, de transferir
conhecimentos e aprendizagens, de se atualizar continuamente, de estar
aberto a mudanças com criticidade, de criar soluções, de usar línguas
estrangeiras, de dominar o computador e processos de informática , de gestão
de equipe, de diálogo com colegas de equipe e subalternos, de buscar novas
informações, de pesquisar para inovar.
Com estas ou outras características semelhantes se definem hoje os
perfis profissionais.
E o Ensino Superior que, praticamente, é o grande formador destes
profissionais precisa se adaptar a essas novas exigências , rever seus
currículos, estabelecidos em geral a partir apenas de uma comissão interna de
professores e voltados apenas para os interesses da comunidade universitária.
Não queremos com isto defender a tese de que o mercado de trabalho
deve dizer como vamos formar nossos profissionais e que a Universidade deva
correr atrás dele. Longe de nós tal perspectiva. Apenas queremos dizer que há
mudanças significativas em nossa sociedade e que estão afetando o exercício
das diferentes profissões, o que está exigindo inovações no Ensino Superior no
seu papel de formador de profissionais.
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Além disto, as atuais políticas governamentais para o Ensino Superior
independentemente dos princípios que as provocaram, têm trazido
oportunidade para alterações nos cursos de graduação para as diferentes
profissões.
Disse “independentemente dos princípios que as provocaram” , primeiro
porque as razões governamentais muitas vezes merecem discussão quanto
aos seus fundamentos educacionais ; em segundo lugar, porque o uso dessas
normas pode também servir para organizações de Ensino Superior apenas
realizarem algumas alterações superficiais que atendam à legislação, que
apresentem certa modernidade , para dizer que se modificaram, mas que no
fundo não alteram as questões básicas , chaves do paradigma de ensino que
vem vigindo desde o início do ensino superior no Brasil.. Em nosso modo de
ver, não realizam inovações , apenas introduzem algumas alterações
circunstanciais.
A sociedade em que vivemos ainda está propondo o desenvolvimento
de parcerias entre organizações da mesma área, com objetivos comuns ou
entre organizações de áreas diferentes mas que possuam objetivos afins.Se
esta se tornou quase uma palavra de ordem até mesmo entre empresas , na
área de administração, que diremos do campo científico onde a pesquisa está
exigindo cada vez mais um conhecimento interdisciplinar , cooperativo,
integrado .Se por um lado, a pesquisa se desenvolve com estudos específicos
em determinada área do conhecimento, por outro lado , hoje, se torna cada vez
mais claro que há um novo conhecimento quando as investigações envolvem
pesquisadores de áreas diferentes , mas que encontram pontos de intersecção
e interdisciplinaridade.
2. Inovações provocadas por reflexões sobre o papel e missão das
Universidades nos nossos tempos
Defendemos como inovações , as mudanças no ensino Superior que
procuram traduzir na vida das Instituições as reflexões atuais sobre
concepções intrínsecas que estão repensando o Ensino Superior e seu papel
ou missão nos nossos tempos .
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A Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: Visão e
Ação da UNESCO ( 1998) se apresenta como um grande marco na reflexão
sobre a missão do Ensino Superior voltada para a formação de pessoas
altamente qualificadas e cidadãos responsáveis, para a aprendizagem
permanente, para promoção , geração e difusão da pesquisa,para contribuição
na proteção e consolidação de valores atuais. Destaca a função ética , a
necessidade de o Ensino Superior reforçar a cooperação com o mundo do
trabalho e analisar e prevenir as necessidades da sociedade.
Esta Declaração chega a alguns pontos bastante concretos que
merecem mudanças imediatas como :currículos, métodos pedagógicos de
trabalho e aprendizagem, formação contínua de professores, inclusive no
aspecto pedagógico, enfrentamento da tecnologia e da educação a distância,
compreensão e exploração dos ambientes virtuais.
Além destes, outros aspectos vêm se apresentando como indicadores
de verdadeiras mudanças no Ensino Superior porque envolvendo concepções
intrínsecas nesse sistema.
Por exemplo: o processo de ensino vem sendo repensado para que
seja dada ênfase ao desenvolvimento do processo de aprendizagem dos
alunos, à construção do conhecimento desde a busca da informação até a
elaboração de um pensamento próprio e produção de texto que reflita este
processo, ênfase ao desenvolvimento de habilidades e competências pessoais
e profissionais , à aquisição de valores éticos, sociais, políticos contidos nas
discussões dos problemas técnicos.
O Ensino com pesquisa na graduação enfatizando-se o processo de
investigação, de busca, de informações sobre os assuntos e problemas a
serem conhecidos e/ou resolvidos, alterando-se a disposição anterior de se
entregar todas as informações já pontas e sistematizadas para memorização e
reprodução .
O ensino por projetos, o uso de novas tecnologias são formas de se
colocar todo o estudante universitário participando de seu processo de
aprendizagem, integrando os espaços de aprendizagem ( universidade – local
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de trabalho profissional - comunidade) já com atitudes de intervenção e
ativiadade profissional.
A valorização da parceria e da co-participação entre professores e
alunos e entre os próprios alunos na dinamização do processo de
aprendizagem , da comunicação entre os participantes gerando novas formas e
recursos de trabalho e aproveitamento das atividades escolares revitalizando a
formação profissional.
O papel do professor se altera de um especialista em determinado
assunto que deverá comunicá-lo a todos os alunos para o de um educador que
se sente co-responsável com seus alunos por realizar uma mediação
pedagógica que facilite a aprendizagem do aluno como processo pessoal e
grupal, que o oriente em seus trabalhos, que discuta com ele suas dúvidas,
seus problemas, suas perguntas , que o incentive e motive para avançar , que
interage com o grupo e faz com que o grupo interaja entre si.
Talvez, agora possa ficar mais claro o conceito que defendemos de
inovação no Ensino Superior quando afirmamos que não será qualquer
alteração casual, moderna ou oportunista que podemos assumir como
inovação . Serão alterações relevantes, integradas e coesas, coerentes com
novas propostas para o próprio Ensino Superior que provenham ou das
mudanças de nossa sociedade e das novas concepções da Universidade
profundamente vinculadas a um novo processo de aprendizagem a ser
desenvolvido ou a uma nova proposta de se trabalhar com o conhecimento em
nossos dias;
3. Inovações curriculares implementadas no Ensino Superior com
alterações significativas na Organização, na Gestão e na Formação
dos Professores.
Por último, explicitando esta concepção, entendemos que ao falar de
inovação no Ensino Superior precisamos promover alterações que afetam
pontos chaves e eixos constitutivos de sua Organização , sua Gestão e a
Formação dos Professores.
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a) Organização do Ensino superior
Entendemos com essencial para se pensar, falar, propor e implementar
uma proposta inovadora no Ensino Superior que se dê toda atenção à
organização curricular de um curso de graduação em toda sua dimensão e
em todos os seus componentes curriculares. Não será suficiente que
alterações sejam promovidas apenas em sua metodologia, ou no uso de
recursos tecnológicos, ou em construções de laboratórios Há que se pensar e
planejar para que toda a organização curricular responda ao projeto inovador,
oferecendo condições adequadas para que a resposta esperada para as
atuais necessidades possa ser alcançada.
Assim, o primeiro ponto a ser repensado é o projeto pedagógico de um
curso ou de uma Instituição , desde sua criação até as alterações no projeto
curricular em curso, por força de novas exigências da sociedade quanto ao
exercício profissional ou por decorrência de novas políticas governamentais
para o mesmo Ensino Superior.
Para tal empreendimento , contar com a participação daqueles que
irão construir o projeto pedagógico desde seu início é fundamental. Não há
possibilidade de qualquer inovação acontecer e se implantar quando imposta
de cima para baixo ou de fora para dentro por melhor que seja o projeto. O
sentimento de “pertença” ao projeto é requisito básico a ser vivenciado e
trabalhado desde o início. A maior presença e coesão desse grupo pode
determinar o ritmo de implantação da inovação.
Na sequência desta idéia, a interação entre professores e professores,
professores e alunos, professores e direção se apresentam como as inter-
relações que podem dar suporte à construção da inovação.
Todo projeto inovador tem-se apresentado com a preocupação de que
sua organização curricular leve em consideração a formação profissional
para seu exercício na sociedade contemporânea, com explicitação de
objetivos educacionais mais amplos que apenas aqueles referentes à
aquisição e aplicação de informações tecnológicas.
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Projetos inovadores se apresentam trazendo como objetivos
educacionais a abertura para formação na área do conhecimento,
explorando o ensino com pesquisa, a multi e a interdisciplinaridade, na área
de habilidades trabalhando competências humanas e profissionais e novos
recursos tecnológicos, no desenvolvimento de valores, atitudes e
comportamentos como a competência, a ética, a política, o profissionalismo
vinculado à cidadania e ao desenvolvimento pessoal.
O atendimento a tais objetivos requer uma flexibilização curricular
que permita se repensar disciplinas, conteúdos, metodologia, avaliação,
tempo e espaço de aprendizagem.
A reconceitualização das disciplinas, resgata seu papel de
componente curricular, ou seja o fato de serem selecionadas como fonte de
informações necessárias para colaborar com a formação do profissional que
se pretende. O importante não é ensinar uma disciplina, mas trabalhar com
informações necessárias desta e daquela área de conhecimento para a
formação do profissional .
São disciplinas que se organizam como componentes curriculares,
integradas , incentivando conhecimento interdisciplinar e a interação entre
disciplinas básicas e profissionalizantes; o aparecimento de grandes temas
como eixos integradores do conhecimento e da prática profissional utilizando-
se das áreas de conhecimento das disciplinas.
Assim, a organização curricular não é construída a partir de disciplinas,
mas sim a partir de problemas profissionais contextualizados. Parte-se do
concreto, abstrai-se a caminho de uma sistematização teórica e se retorna ao
concreto, transformando-o.
As novas organizações curriculares estruturam –se com a vivência de
experiências problematizadoras e integradoras do conhecimento, alternando a
vivência e a sistematização do conhecimento produzido, contemplando o
diálogo entre distintas disciplinas do domínio do saber.
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Esta estrutura de organização substitui a dos desenhos curriculares
tradicionais nos quais as disciplinas são estruturadas de forma justaposta tanto
no sentido horizontal como no vertical, enquadradas em horários de aulas de
60 minutos sucessivos
Os projetos inovadores apontam para a necessidade de um currículo
que incentive a integração e interdependência das disciplinas e atividades
curriculares em função dos objetivos educacionais, buscando a superação do
isolamento das disciplinas, da fragmentação do conhecimento e criando
experiências de projetos de interdisciplinaridade. Pode colaborar nesse sentido
o planejamento de um Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) desde qe se
assuma como objetivo desta atividade realizar uma síntese das
aprendizagens conseguidas durante o curso.
.Não há como se projetar um currículo inovador baseando-nos em
métodos tradicionais como as aulas expositivas e aulas práticas onde o
interesse está na comunicação de informações.
A substituição por uma metodologia ativa e participativa, por técnicas
e recursos que favoreçam o alcance dos vários objetivos educacionais
propostos , que motivem o aluno para aprender e incentivem sua participação
no processo de aprendizagem é imprescindível. Por exemplo, explorar as
tecnologias de informação e comunicação (TICs) como apoio aos cursos
presenciais ou em educação a distância, o ensino com pesquisa, a
preparação de cada encontro com o professor e com os colegas (Aula)
através de atividades variadas, uso de dinâmicas de grupo nos tempos em
que professor e alunos estejam juntos presencial ou virtualmente.
Uma inovação no aspecto metodológico, traz consigo a revisão do
conceito do processo de avaliação e de sua prática, implantação de novo
modelo e uso adequado de variadas técnicas avaliativas , buscando substituir
uma avaliação de produtos finais, de reprodução de informações, de
julgamento dos alunos, de classificação e só de aprovação ou reprovação por
uma avaliação formativa que se volta para ser um instrumento de feedback
(retro-informação) que motive o aluno para aprender, que colabore para o seu
20
desenvolvimento integral , que o acompanhe em seu processo de
aprendizagem de forma contínua, que com a colaboração dos colegas , do
professor e de si mesmo (pela auto avaliação) consiga ampliar e aprofundar
suas aprendizagens.
Nessa organização, revê-se a mudança do papel e das atividades do
professor de ministrador de aulas e transmissor de informações para o de
mediador pedagógico entre os alunos e suas aprendizagens, desenvolvendo
relação de parceria e co-responsabilidade com eles , trabalhando junto e em
equipe.
Esta mudança de atitude trará como conseqüência a mudança de atitude
do aluno também para um papel de co-responsável pelo seu processo de
aprendizagem, para uma atitude de pro-atividade, de iniciativa e de
participação no seu processo de formação profissional, saindo das posições
de passividade ou omissão frente às suas responsabilidades estudantis.e
participando das atividades de formação.
Este novo papel do professor é apoiado pelo incentivo à uma postura de
cooperação e desenvolvimento de equipe entre os professores como co-
responsáveis pela formação dos alunos e gestores , em aula, do projeto
pedagógico, superando seu isolamento e individualismo crônicos.
Docentes com tal visão e posturas pedagógicas exigem preparação
para participarem das inovações e assumirem compromisso com elas;
incentivos para a manutenção deste compromisso e acompanhamento dos
professores na implantação do novo projeto. O que pressupõe a criação de
condições de formação docente contínua e em serviço que permitam ao
professor estar refletindo e discutindo sobre suas atividades docentes ,
intercambiar suas experiências com os colegas e dialogar sobre elas
procurando sempre melhor desempenho.
Sem dúvida que uma reorganização curricular para a inovação precisa
poder rever normas e procedimentos nas instituições que estando em
vigência já por muitos anos definem carga horária das disciplinas , sua
distribuição na semana, o uso do tempo e espaço na faculdade atividades
21
extra classe, datas para avaliações, critérios de aprovação e reprovação,
número de alunos por turma, condições de trabalho e salário de professores
em função do novo projeto pedagógico, dos novos objetivos, do interesse em
motivar os alunos para envolvê-los nas mudanças e torná-los membros
participantes do processo inovador.
A organização de um projeto inovador conta também com a revisão de
infra estrutura de apoio como por exemplo, biblioteca atualizada e
informatizada, laboratórios adequados, preparação dos novos ambientes de
aprendizagem que forem exigidos, etc.
E por último, em toda inovação se planeja desenvolver um processo de
acompanhamento dela mesma através de um sistema de avaliação
adequado e permanente, da participação de uma assessoria externa que
permita ver melhor e com mais objetividade o deslanchar do projeto, a
participação dos docentes debatendo a implantação cotidiana do projeto,
suas realizações, suas dificuldades, as necessidades de correção de rota ou
aperfeiçoamento de posturas de compreensão e interiorização da inovação,
por parte dos atuais participantes do movimento de inovação e de todos os
futuros participantes.
Toda esta reorganização de um curso de graduação que pretende se
inovar não tem condições de se implantar sem a participação da
Administração Superior . A participação e o compromisso desta com o
projeto inovador é fundamental para as mudanças que serão necessárias ,
haja visto , por exemplo, as três últimas considerações acima , além dos
aspectos de alterações de espaços, tempo, currículo, formação de
professores e outros.
Esta participação é tão decisiva que muitos projetos inovadores se
inviabilizam , por exemplo, por falta de investimento na formação dos
professores, ou por não se contratar assessorias externas, por falta de
recursos tecnológicos, e assim por diante. A Administração Superior precisa
assumir o projeto inovador como seu e estar disposta a apoiá-lo efetivamente.
22
Este ponto vamos aprofundá-lo um pouco mais no item seguinte,
quando abordaremos a gestão de projetos inovadores.
Os tópicos acima indicados dizem que consideramos como inovações
no ensino superior aquelas alterações e mudanças que se realizam de modo
integrado e simultâneo para implantação de um projeto pedagógico em sua
totalidade. Em nosso entender não podem ser consideradas como inovações
as alterações que se apresentam como esparsas , esporádicas, oportunistas,
casuais.
Compreendemos e concordamos com o caráter de processo de um
projeto inovador : há projetos inovadores com todos os aspectos acima
mencionados já implementados; outros se encontram em fase de
desenvolvimento de uns aspectos e outros ainda em andamento, ou em
processo. É algo natural e de se prever, pois um projeto inovador não se
decreta de cima para baixo e nem se executa com mudanças imediatas em
todos os seus aspectos.
Seguimos o pensamento de Tavares ( 2003) quando afirma: “é na
intersecção de todos os elementos de formação, os sujeitos, o currículo e a
Instituição que é catalisada a verdadeira inovação que vem a presença e se
manifesta claramente nos diferentes indícios considerados “ ( Tavares, 2003,
p. 130).
b) Gestão de Projetos Inovadores.
Dissemos que inovação no Ensino Superior supõe promover alterações
que afetam sua Gestão.
A gestão de um projeto inovador se realiza em dois níveis: no
pedagógico quando nos defrontamos com a coordenação dos sujeitos (
professores e alunos) e das ações necessárias para fazer acontecer o projeto
e que afetarão disciplinas, atividades curriculares, aulas de um curso ou de
uma Instituição.
No entanto, esta gestão só poderá acontecer e funcionar se contar com
o segundo nível de gestão que envolve Coordenadores de Curso, Diretores de
23
Faculdades, Diretores de Centros ( dependendo do organograma da
Instituição), Reitores.
É sobre este segundo nível de gestão que queremos comentar,
destacando seu papel , também ele fundamental, para o êxito de um projeto
inovador.
Silva, Ana Cèlia ( 2000) entende que
coordenar a construção de um projeto pedagógico implica
competências de gestão no sentido da organização do trabalho,
de coordenação da ação coletiva, da busca de diálogo e das
relações objetivas com instâncias superiores da Instituição..... de
criar condições para que o projeto se concretize” ( SILVA,
2000,p.100)
Atitude básica para esta gestão é assumir a essencialidade do aspecto
educacional numa administração de Ensino Superior., para que possa
oferecer condições favoráveis para que um novo projeto possa ser planejado,
implantado e levado a bom termo, de tal modo que o professor e o educando
possam ter um bom desempenho no processo de sua formação. As questões
econômicas e administrativas serão assumidas para poderem oferecer as
condições básicas para sustentabilidade da Instituição e possibilidade de
realizar um novo projeto.
Nos projetos inovadores que pesquisamos encontramos sempre uma
gestão que lhes dava apoio e os incentivava com algumas características que
nos chamaram a atenção.
Envolvimento e compromisso com o projeto , colocando se como
um dos sujeitos construtores do projeto e criando uma relação
de diálogo entre a base e a administração para a tomada de
decisões e as ações possam acontecer;
Compreensão da gestão como uma das interações necessárias
ao projeto, com a característica de mediação entre o projeto e
sua concretização.
24
Participação efetiva no diagnóstico das necessidades da
Instituição que estão exigindo algo inovador e , posteriormente,
na definição em conjunto com os professores dos objetivos
educacionais de formação dos profissionais conforme as
exigências da sociedade e os questionamentos das carreiras
profissionais.
Apoio e incentivo a um programa de formação continuada dos
professores envolvidos e compromissados com o projeto (
como veremos em outro item) tanto para os que iniciaram o
projeto, como para os novos que vierem para ampliar ou
substituir o corpo docente visando a busca constante de
aprimoramento pessoal e de produção científica.
Apoio Institucional e articulação do Projeto com a Comunidade
Externa ( parcerias) visando a realização de estágios e
utilização de espaços profissionais para aprendizagem e
realização de sub projetos de prestação de serviço à
comunidade
Apoio, como dissemos atrás, para uma revisão de normas e
procedimentos que estando em vigência já por muitos anos
definem carga horária das disciplinas , sua distribuição na
semana, o uso do tempo e espaço na faculdade atividades
extra classe, datas para avaliações, critérios de aprovação e
reprovação, número de alunos por turma, condições de
trabalho e salário de professores em função do novo projeto
para envolvê-los nas mudanças e torná-los membros
participantes do processo inovador.
Suporte institucional e financeiro para oferecer condições de
trabalho adequadas para os professores, recursos didáticos e
de infra estrutura necessários, como biblioteca,
laboratórios,tecnologias de informação e comunicação.
25
Participação com os docentes na concepção e implantação de um
sistema de avaliação e acompanhamento do projeto para fazer
as devidas adequações próprias de um projeto em processo,
manter uma reflexão permanente sobre ele , contar com uma
assessoria externa que permita ver melhor e com mais
objetividade o deslanchar do projeto, com a participação dos
docentes debatendo a implantação cotidiana do projeto, suas
realizações, suas dificuldades, as necessidades de correção
de rota ou aperfeiçoamento de posturas de compreensão e
interiorização da inovação, por parte dos atuais participantes
do movimento de inovação e de todos os futuros participantes.
Gestão do tempo institucional dentro do processo histórico da
Instituição; do tempo político na coordenação das diferentes
culturas pedagógicas presentes em todo o projeto; e gestão
do tempo pedagógico respeitando o andamento real do
projeto,flexibilizando prazos e administrando tempos e espaços
para que se adequem às necessidades emergentes do projeto.
Para encerrar este tópico, não há como não lembrar atitudes de gestão
que não favorecem a construção e implantação de um projeto inovador:
Atitude de autoritarismo centralizador de decisões e proposição
de projeto sem flexibilização para adaptações;
Atitude de laissez –faire como se o projeto inovador fosse auto-
aplicável ou realizável por si próprio;
Atitude omissa, não tomando conhecimento do projeto e deixando
que outros o construam, sem colaborar e nem se preocupando
em ajudar a remover obstáculos, por vezes fixando prazos
irremovíveis.
Um projeto inovador requer uma gestão inovadora.
c) Formação de professores.
26
A participação de professores em projetos inovadores não é uma atitude
fácil para a maioria dos docentes, pois sua formação e sua cultura estão
embasadas em organizações curriculares tradicionais.
Este fato exige todo um cuidado especial voltado para atividades de
formação continuada e em serviço daqueles professores que optarem por
participarem num currículo inovador.
A condição básica de um currículo inovador ser levado adiante é contar
com a participação daqueles que o irão construir desde seu início. O
sentimento de “pertença” ao projeto é fundamental ser vivenciado e trabalhado
desde o início com seus construtores
Necessita-se de um envolvimento individual e coletivo com o novo
currículo , com atitudes de percepção e vivência das necessidades sentidas,
abertura para a inovação, ousadia, coragem, compromisso, participação,
disposição de modificar crenças, culturas, atitudes, e idéias; disposição para
um trabalho de equipe , de co-responsabilidade e para “por as mãos na massa”
; disposição para discussão, implantação e desenvolvimento do projeto
Espera-se que o professor assuma um papel de mediador no processo
pedagógico e de planejador de situações e práticas pedagógicas inovadoras
que melhor colaborem com a aprendizagem de seus alunos.
No dizer de Saturnino de la Torre:
O papel do docente em lugar de centrar-se na explicação de
conteúdo assume o caráter de estimulador, mediador e criador de
cenários e ambientes... O docente não determina mais as
aprendizagens ( mudanças), mas as sugere, estimula , incentiva,
cria condições e meios para que seja o próprio aluno quem as
construa” ( TORRE,2008: 9)
Sabemos que não encontramos tão facilmente docentes com estas
características e muito menos já preparados para discutir, propor e implantar
um currículo inovador.
27
Hernandez (2000), em seu livro já citado, chama a atenção para alguns
fatores muitas vezes presentes no corpo docente que dificultam a realização de
um projeto inovador: a debilidade das relações interpessoais, ausência de
compromisso, de planejamento, aplicação descontextualizada da inovação,
resistências, rotinas, individualismo e corporativismo, pessimismo e mal estar
docente.
Além disso, as tensões, contradições e conflitos estão presentes em
qualquer inovação.Não se trata de tomar medidas preventivas para evitar, mas
de criar um clima democrático necessário para enfrentar e gerir coletivamente
e resolver de maneira positiva e criativa tais conflitos.
Por esta razão, merece nossa atenção a reflexão sobre alguns aspectos
fundamentais para a formação desta equipe de professores.( Zabalza,
2004,2006; Masetto, 2003,2010)
No número de dezembro/2009 da Revisa da ANEC (Masetto, 2009),
tivemos oportunidade de abordar esse assunto e , então, comentávamos o
seguinte.
A formação do corpo docente para participar de um currículo inovador
começa pelo processo de seleção destes professores.
Este processo nos projetos inovadores que pesquisamos acontece de
duas formas: ou a seleção do corpo docente é feita a partir do próprio projeto e
das suas características; objetivos e metas esperadas, áreas de conhecimento
necessárias, competências e atitude esperadas dos professores,
compromissos a serem assumidos e as condições de trabalho, ou é feita a
partir dos docentes da própria instituição que se interessam por participar de
um novo projeto e se dispõe a realizá-lo.
Em qualquer das duas situações , uma atitude pro ativa dos docentes
frente a um projeto é fundamental. Fernando Hernandez ( 2000) comenta
como, em dois projetos inovadores estudados por ele e sua equipe, nos quais
os participantes do grupo foram nomeados de cima para baixo pela autoridade
gestora, sem vinculação com o projeto, e sem interesse de participar dele ,
28
este fato se constituiu em grande entrave de saída para a execução do
projeto, e quando esta intervenção se deu durante a implantação de um projeto
inovador, isto praticamente causou a inviabilização do mesmo.
Com os professores selecionados, num primeiro momento de
sensibilização se discutem o próprio projeto, suas metas e objetivos,o porquê
de sua necessidade e a que problemas ele vem responder, o currículo
pensado, a postura de mediação esperada dos professores e atitude
participativa dos alunos, integração dos conhecimentos interdisciplinares, a
relação entre participantes do projeto partilhando responsabilidades no
processo de aprendizagem, os recursos e metodologias a serem usados, o
processo de avaliação proposto..
.Com relação à atuação docente foram discutidos métodos para facilitar e
intensificar a aprendizagem dos alunos; técnicas variadas, em ambientes
presenciais e virtuais que dinamizem a ação pedagógica e permitam o
desenvolvimento de múltiplas facetas ee aprendizagem dos alunos. Processo e
técnicas de avaliação foram revistos.
As intersecções entre teoria e prática, o saber e o saber-fazer no sentido
de desenvolver um conjunto de ações que resultem em uma situação de
aprendizagem estiveram presentes neste período de formação inicial.
Este início de formação do grupo de docentes responsável pelo projeto
tem continuidade em encontros e reuniões freqüentes em que se possa rever
as atividades do projeto e possíveis adaptações, refletindo sobre as práticas
pedagógicas, trocando as vivências e experiências didáticas dos docentes,
discutindo alguns aspectos teóricos que se manifestavam necessários,
. O tempo dos planejamentos semestrais costuma ser bem trabalhado
para se debater a atuação dos professores e sua coerência com o projeto, e
proposição de novos procedimentos., além de encontros realizados durante o
semestre.
As investigações recentes. sobre formação continuada de professores
apontam a necessidade de tomar a prática pedagógica como fonte do
29
conhecimento- base epistemológica - sobre os problemas educacionais , ao
mesmo tempo em que se evidencia a inadequação do modelo da racionalidade
técnica para dar respostas às dificuldades e perplexidades vivenciadas na
ação concreta desses profissionais.
Na perspectiva dialógica a formação continuada não mais se faz a partir
de cursos, palestras no sentido cumulativo de conhecimentos, mas sim por
meio de vivências educadoras quando em reflexões coletivas permitem uma
reconstrução da identidade pessoal e profissional dos sujeitos em contextos de
mudanças definidos.
Um projeto inovador não existe pronto, bastando apenas colocá-lo em
vigência. Ele precisa ser construído e os professores terão necessidade de
trocar idéias, sugestões, experiências e vivências, rever e discutir suas práticas
pedagógicas, refletir sobre sua ação educativa, problemas e questões que
tenham acontecido. Sentirão necessidade de aprofundar questões teóricas,
conhecer novas propostas, autores recentes que pesquisam temáticas que
interessam, contato com especialistas em diferentes áreas, conhecer projetos
alternativos já em andamento, apoio de consultores ou assessores externos,
aprofundar as relações interpessoais do grupo.
Da mesma forma que Freire indica que não se aprende a ser professor em
uma terça-feira à tarde, exigindo uma temporalidade, um conjunto de
experiências vivenciadas e, sobretudo, uma reflexão sobre a prática cotidiana
docente, a mesma prerrogativa é válida para os sujeitos envolvidos em projetos
inovadores ligados à Educação.
Entendemos que é necessário um tempo e espaço garantidos para que
uma nova concepção do ser professor, que assume novas posturas e um novo
agir séja construída. E nesse tempo, não se pode desconsiderar as histórias
pessoais e profissionais destes professores,suas experiências. suas crenças,
sua cultura, suas idéias, e sua “sabedoria” construída. A formação continuada
estará permitindo uma consideração do que se fez até então com uma
abertura para um novo a ser construído daí para frente numa linha de evolução
e crescimento pessoal e profissional dos docentes.
30
Lembrêmo-nos que toda inovação é um processo no qual será necessária
a gestão democrática que permita o encaminhamento dos confrontos de
culturas pedagógicas existentes , detectando as causas e procurando
estabelecer pontos de encontro entre os participantes
Quando se projeta um trabalho com características de inovação, faz-se
necessário valorizar efetivamente o professor como um ser que tem saberes
próprios, advindos da sua experiência , e é capaz de contribuir
significativamente para as discussões acerca do seu trabalho docente, para a
construção do novo ao expressar os seus saberes, seu sentimento de
pertença ao projeto, com vistas a assumir riscos nas incertezas que envolvem
o processo coletivo de ensinar e de aprender.
. Ainda neste ponto de discussão sobre o corpo docente responsável por
um projeto inovador há que se considerar que estes professores não são
eternos, nem perenes: substituições e ampliações serão fenômenos
constantes. Há que se pensar com especial carinho na formação inicial e
continuada dos novos integrantes deste corpo docente, de modo a permitir-lhes
compreensão, envolvimento e compromisso com o projeto e acompanhamento
para sua gradual integração às práticas pedagógicas do projeto.
Projetos há que se desmoronaram completamente por não terem tido este
cuidado com a formação de seus docentes.
PARA CONCLUIR.
No início deste capítulo propusêmo-nos objetivo ousado: há alguns
anos vínhamos estudando e pesquisando vários assuntos afins que, neste
momento, insistiam em se me afigurarem com vários pontos de intersecção
que brilhavam pedindo um texto que os aproximasse, interligasse e lhes desse
uma consistência teórica e experiencial.
O desafio era trabalhar alguns conceitos teóricos sobre Inovação
Educacional, encontrá-los em projetos atuais de Ensino Superior e procurar
vivenciar algumas destas propostas em projetos como, por exemplo, os
31
tratados neste livro, e experimentá-los em nossa realidade de professor do
ensino superior.
Como fomos felizes nesse empreendimento, nos sentimos encorajados
em apresentar aos nossos parceiros de investigação e pesquisa, aos nossos
colegas de magistério ,aos nossos alunos de graduação e de pós graduação e
a todos que se sentiram atraídos por construir algum projeto inovador estas
idéias e reflexões esperando que dialoguem com elas, discutam-nas, façam
suas críticas, criem novos projetos para que possamos trilhar novos caminhos
para a educação superior no Brasil.
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