FLA 0346 – Introdução à Etnologia Sul-americana
Professor Responsável: Renato Sztutman
2as. feiras, das 14h às 18h
4as. feiras, das 19h30 às 23h
Início das aulas:
Noturno – quarta-feira, 07/08
Vespertino – segunda-feira, 12/08
Este curso tem como objetivo: a) introduzir os alunos de Ciências Sociais aos
estudos dedicados às sociedades indígenas da América do sul; b) oferecer um
panorama da imensa diversidade cultural existente na região, a partir do foco em
algumas áreas etnográficas; c) situar diferentes abordagens teóricas no estudo das
sociedades indígenas do continente, atentando para a relação entre etnografia e
modelos analíticos.
O recorte temático será dado na assim chamada “etnologia clássica”, deixando
em segundo plano uma discussão mais aprofundada sobre o “Brasil indígena”. Os
textos trabalhados no curso estão em maior parte compreendidos no período que vai
do começo dos anos 1970 até o final dos anos 1990, período que se poderia denominar
de “consolidação da etnologia sul-americana” no panorama mais amplo da
antropologia.
Após breve introdução, partiremos dos estudos sobre as populações Jê e
Bororo do Brasil Central, estas que colocam “problemas” para a tradição estrutural-
funcionalista focada na noção africanista de “descendência”, fazendo emergir
abordagens analíticas mais próximas ao solo etnográfico americanista, até chegarmos
tanto às novas sínteses teóricas sobre o continente – o lugar “afinidade” e do
“perspectivismo”, por exemplo – como às abordagens mais contemporâneas que
tratam o problema do “contato” com a sociedade não-indígena a partir de um ponto
de vista indígena.
O curso baseia-se em aulas expositivas, seminários de textos que implicam a
participação dos alunos, bem como atividades de avaliação, que incluem duas provas
escritas e a resenha de uma monografia escolhida pelo aluno. (Será divulgada, logo nas
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primeiras sessões, uma lista de monografias.) Como atividade paralela, preparamos
uma mostra quinzenal de filmes sobre os povos indígenas, muitos deles realizados por
cineastas indígenas.
Programa:
(Sujeito a alterações e cortes ao longo do semestre)
1a sessão
Apresentação do curso
2a sessão
Que é índio?
Krenak, Ailton. “O eterno retorno do encontro”. In: Novaes, A. (org.) A outra margem
do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
Manuela Carneiro da Cunha. “O futuro da questão indígena”. In: Cultura com aspas.
São Paulo: Cosac Naify, 2009.
Eduardo Viveiros de Castro. “No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é”. In:
Eduardo Viveiros de Castro: Entrevistas. Rio de Janeiro: Azougue, 2008.
Eduardo Nunes. “Aldeias urbanas ou cidades indígenas: reflexões sobre índios e
cidades?” In: Espaço Ameríndio 4/1, 2010.
3a sessão
Etnografia e modelos teóricos
Roy Wagner. “Existem grupos sociais nas terras altas da Papua Nova Guiné?” In:
Cadernos de Campo, n. 19, 2010.
Joanna Overing. “Social time and social space in lowland South American Societies”
(Introdução e conclusão). Atas do XLII Congresso Internacional dos Americanistas,
1977.
Anthony Seeger et alli. “A construção da pessoa nas sociedades indígenas”. In:
Oliveira, João Pacheco. Sociedades indígenas e indigenismo no Brasil. Rio de Janeiro:
Marco Zero/UFRJ, 1987.
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4a sessão
Dualismo, corpo e nome entre os Jê
Julio C. Melatti. “Nominadores e genitores”. In: Schaden, E. (org.) Leituras de
Etnologia Brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.
Roberto da Matta. “Uma reconstrução da morfologia social apinayé”. In: Schaden, E.
(org.) Leituras de Etnologia Brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.
Anthony Seeger. “Corporação e corporalidade: ideologia de concepção e
descendência”. In: Os índios e nós. São Paulo: Campus, 1980.
5a sessão
Escatologia e pessoa I: Krahô (Jê)
Manuela Carneiro da Cunha. “De amigos formais e companheiros” e “Escatologia
entre os Krahô”. In: Cultura com aspas. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
6a sessão
Escatologia e pessoa II: Araweté (Tupi-Guarani)
Carneiro da Cunha, Manuela & Viveiros de Castro, Eduardo. “Vingança e
temporalidade: os Tupinambá”. In: Cultura com aspas. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
Eduardo Viveiros de Castro. “Os deuses canibais”. In: Revista de Antropologia n. 28,
1984.
Eduardo Viveiros de Castro. “A imanência do inimigo”. In: A inconstância da alma
selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
7a sessão
Alteridade, afinidade e o caso das Guianas
Joanna Overing. “Estruturas elementares de reciprocidade: notas comparativas sobre a
Guiana, o Noroeste Amazônico e o Brasil Central”. In: Cadernos de Campo n. 10,
2002.
Joanna Overing. “Dualism as an expression of difference and danger”. In K.
Kensinger (ed), Marriage Practices in Lowlands South America, pp. 127-155. Urbana:
University of Illinois Press.
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Denise Fajardo Grupioni. “Tempo e espaço na Guiana indígena”. In: Gallois, D. (org.)
Redes de relações nas Guianas. São Paulo: Humanitas, 2005.
8a sessão
O dravidianato amazônico
Eduardo Viveiros de Castro. “O problema da afinidade na Amazônia” e “Atualização
e contraefetuação do virtual: o processo do parentesco”. In: A inconstância da alma
selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
9a sessão
Guerra e Paz
Carlos Fausto. “Da inimizade”. In: Novaes, A. (org.) A outra margem do Ocidente. São
Paulo: Companhia das Letras, 1999.
Joanna Overing. “O elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida social em uma
comunidade amazônica”. In: Mana 5/1, 1999.
Marina Vanzolini Figueiredo. “Ser e não ser Aweti”. Ms., 2012.
10a sessão
Casas, chefes e rituais
Stephen Hugh-Jones. “Inside-out and back-to-front: the androgynous house in
Northwest Amazonia”. In J. Carsten & S. Hugh-Jones (eds.), About the house. Lévi-
Strauss and Beyond. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
Antônio Guerreiro Jr. “Esteio de gente: reflexões sobre assimetria e parentesco a partir
de depoimentos kalapalo”. R@U, 2012.
11a sessão
Natureza e cultura, corpo e alma
Philippe Descola. “A selvageria culta”. In: Novaes, A. (org.) A outra margem do
Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
Anne-Christine Taylor. “O corpo da alma e seus estados: uma perspectiva amazônica
sobre a natureza do ser humano”. In: Cadernos de Campo n. 21, 2012.
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12a sessão
Perspectivismo I
Tânia Stolze Lima. “O dois e seu múltiplo” In: Mana 2/2, 1996.
Tânia Stolze Lima. “Para uma teoria etnográfica da distinção entre natureza e cultura
na cosmologia juruna” In: Revista Brasileira de Ciências Sociais 14/40, 1999.
13a sessão
Perspectivismo II
Eduardo Viveiros de Castro. “Perspectivismo e multinaturalismo na América
indígena”. In: A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
Eduardo Viveiros de Castro. “Se tudo é humano, então tudo é perigoso”. In: Eduardo
Viveiros de Castro (entrevistas). Rio de Janeiro: Azougue, 2008.
14a sessão
Pacificar o branco
Dominique Gallois. “Nossas falas duras: discurso político e auto-representação
wajãpi”. In: Albert, B. & Ramos, A. (orgs.) Pacificando o branco: cosmologias do
contato no norte-amazônico. São Paulo: UNESP, 2000.
Bruce Albert. “O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica do fetichismo
da mercadoria”. In: Albert, B. & Ramos, A. (orgs.) Pacificando o branco: cosmologias
do contato no norte-amazônico. São Paulo: UNESP, 2000.
15a sessão
Ser misturado, virar branco
Peter Gow. Da Etnografia à História: “Introdução” e “Conclusão” de Of Mixed Blood:
Kinship and History in Peruvian Amazônia. In: Cadernos de Campo, 14/15, 2006.
José Antonio Kelly Luciani. “Notas para uma teoria do virar branco”. In Mana 11/1,
2005.
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