Ministrio da Cultura - IPHAN Mdulo 1 Conhecimento M1 Sistema Integrado de Conhecimento e Gesto Contextualizao Geral 01
1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO 2. LOCALIZAO DO UNIVERSO/ OBJETO DE ANLISE
2.1.UF(s) 2.2. Municpio (s) 2.3. Localidade (s) MG, BA, PE, AL, SE
MG: Pirapora, Uba, So Francisco, Pedras de Maria da Cruz, Januria BA: Bom Jesus da Lapa, Stio do Mato, Paratinga, Ibotirama, Barra, Pilo Arcado, Remanso, Sento S, Casa Nova, Sobradinho, Juazeiro, Cura, Abar, Rodelas, Corroch PE: Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Oroc, Cabrob, Belm do So Francisco, Floresta, Tacaratu, Jatob, Nova Petrolndia, Glria AL: gua Branca, Delmiro Gouveia, Olho dgua do Casado, Porto Real do Colgio, Piaabuu SE: Canind do So Francisco, Propri, Santana do So Francisco, Nepolis, Ilha das Flores, Brejo Grande
MG: Vrzea da Palma, distrito de Pirapora BA: Gameleira da Lapa, distrito de Stio do Mato; Riacho Seco e Pedra Branca, distritos de Cura; Aldeia Pamb, na divisa entre Abar e Cura. PE: Ib, distrito de Belm do So Francisco; Volta do Moxot, distrito de Jatob SE: Curituba e Xingozinho, distritos de Canind do So Francisco; Santa Cruz, distrito de Propri; Brejo dos Pretos, comunidade de Brejo Grande
2.4. Mesorregio (es) Dados IBGE 2.5. Microrregio(es) Dados IBGE Norte de Minas, Oeste de Minas, Vale So-Franciscano da Bahia, So Francisco Pernambucano, Serto Alagoano, Serto Sergipano, Leste Sergipano, Leste Alagoano.
Pirapora, Montes Claros, Januria, Bom Jesus da Lapa, Barra, Petrolina, Juazeiro, Paulo Afonso, Itaparica, Serrana do Serto Alagoano, Alagoana do Serto do So Francisco, Sergipana do Serto do So Francisco, Propri, Penedo.
2.6. Mapa de Localizao No Brasil Em relao ao contexto/ limites
Na regio/ estado
2.7. Municpios limtrofes (nominar)
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Ministrio da Cultura - IPHAN Mdulo 1 Conhecimento M1 Sistema Integrado de Conhecimento e Gesto 01 Contextualizao Geral
1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO Os Mapas 1 e 2 demonstram a localizao da Bacia Hidrogrfica do Rio So Francisco, no territrio brasileiro. Podemos perceber que
ocupa rea de grande extenso em vrios estados, sendo, portanto, rio de grande relevncia nacional.
O Mapa 3 demonstra a classificao do rio em Alto, Mdio, Submdio e Baixo So Francisco, utilizada pela Companhia de
Desenvolvimento do Vale do Rio So Francisco (Codevasf).
Foram selecionados municpios na calha do rio So Francisco para o levantamento do patrimnio cultural material, conforme
determina o Projeto Bsico Especificao dos servios para a execuo do Inventrio de Conhecimento do Patrimnio Cultural das
localidades existentes na calha do Rio So Francisco nos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. A empresa
executora dos servios incluiu os municpios de Barra (BA) e gua Branca (AL), e a Aldeia Pamb (entre os municpios de Cura e
Abar, na Bahia) devido relevncia do patrimnio encontrado nessas localidades. Outra modificao de nomenclatura, proposta,
refere-se substituio de trecho por recorte, tendo em vista que nem sempre as caractersticas de diviso poltica e geogrfica
coincidiram com os objetivos do Inventrio. A fim de contemplar as cidades que constam no Termo de Referncia, cuja existncia
est relacionada construo de usinas hidreltricas, ou que foram alagadas por elas, esta ficha inclui um tpico relativo s
Barragens, no item 3 (Informaes sobre Contexto Histrico). As cidades so as que seguem, classificadas por hidreltrica:
Hidreltrica de Sobradinho (Bahia)
Cidades alagadas: Pilo Arcado, Remanso, Sento S e Casa Nova
Cidade originada devido construo da barragem: Sobradinho
Hidreltrica de Itaparica (Bahia e Pernabuco)
Cidades alagadas: Rodelas (BA), Barra do Tarrachil - distrito de Chorroch (BA), Petrolndia (PE) e Glria (PE)
Hidreltrica do Xing (Sergipe)
Cidade realocada: Canind do So Francisco (SE)
RECORTE 1: Mdio So Francisco (todas em Minas Gerais)
Pirapora, Uba, So Francisco, Pedras de Maria da Cruz e Januria
RECORTE 2: Mdio So Francisco (todas na Bahia)
Bom Jesus da Lapa,Sitio do Mato, Paratinga, Ibotirama e Barra
RECORTE 3: Submdio So Francisco, divisa Pernambuco e Bahia
Petrolina (PE), Juazeiro (BA), Santa Maria da Boa Vista (PE), Riacho Seco e Pedra Branca - distritos de Cura (BA), Oroc (PE),
Cabrob (PE), Ib - distrito de Belm do So Francisco (PE), Abar (BA), Aldeia Pamb - divisa entre Cura e Abar/BA,
Belm do So Francisco (PE) e Floresta (PE)
RECORTE 4: Submdio e Baixo So Francisco (regio dos cnions)
Tacaratu (PE), Jatob (PE), Paulo Afonso (BA), gua Branca (AL), Delmiro Gouveia (AL), Olho Dgua do Casado (AL), Curituba e
Xingozinho - distritos de Canind do So Francisco (SE), e Canind do So Francisco(SE)
RECORTE 5: Baixo So Francisco (regio da foz)
Propri (SE), Santa Cruz - distrito de Propri (SE), Porto Real do Colgio (AL), Santana do So Francisco (SE), Nepolis (SE),
Ilha das Flores (SE), Brejo Grande (SE), Piaabuu (AL) e Potengi - distrito de Piaabuu (AL)
Bacia Hidrogrfica do Rio So Francisco
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO Ela no se precipita das rochas com violncia, exibindo, pelo contrrio, um belo lenol de gua branca e espumosa que se
expande lentamente e aparece formado por grandes flocos de neve. As guas caem numa base semicircular, rodeada de
pedras amontoadas desordenadamente, de onde descem por uma encosta escarpada para formar o famoso Rio S. Francisco,
que tem quase 700 lguas de extenso e recebe uma infinidade de outros rios.
O estrondo que as guas da Cachoeira da Casca-dAnta fazem ao cair ouvido de longe, e a nvoa extremamente fina que
elas produzem levada a uma grande distncia pela deslocao de ar causada pela queda. (...) Para ter uma idia de como
fascinante a paisagem ali, o leitor deve imaginar estar vendo em conjunto tudo o que a Natureza tem de mais encantador:
um cu de um azul purssimo, montanhas coroadas de rochas, uma cachoeira majestosa, guas de uma limpidez sem par, o
verde cintilante das folhagens e, finalmente, as matas virgens, que exibem todos os tipos de vegetao tropical.
Auguste de Saint-Hilaire em
Viagem s Nascentes do Rio So Francisco. Paris, 1847.
1. Localizao - No texto acima, Auguste de Saint-Hilaire narra suas impresses sobre as nascentes do rio So Francisco localizada
na Serra da Canastra, municpio mineiro de So Roque de Minas, no sul do estado de Minas Gerais, distante cerca de 380 quilmetros
da costa atlntica na altura do Rio de Janeiro. Mais de um sculo depois, em 1972, outro viajante-pesquisador, Donald Pierson,
escreveu em O homem do Vale do So Francisco: A 1.280 metros acima do nvel do mar, guas claras e cintilantes caem a
formando vrias cascatas. Destas, a maior conhecida por Casca dAnta, pode ser ouvida a considervel distncia, precipitando-se
suas guas de uma altura de mais de 180 metros em uma bacia semicircular de rocha, a se juntando s de numerosas outras
cascatas e correndo em seguida, entre seixos rolados e densas florestas, para formar as cabeceiras do So Francisco.
As nascentes e a cachoeira esto protegidas, h alguns anos, pelo Parque Nacional Serra da Canastra, que se estende por vrios
municpios de Minas Gerais, dentre eles So Roque de Minas onde, a cerca de 40 km, no distrito de So Jos do Barreiro, de um
paredo com mais de 200 metros de altura, cai, majestosa, a cachoeira da Casca dAnta, na Serra da Canastra. a primeira
cachoeira do So Francisco, que nasce um pouco antes de se transformar formar a bela imagem to brilhantemente descrita pelos
primeiros visitantes e que continua sendo uma referncia no patrimnio natural da Mata Atlntica. A origem do nome est na rvore
Drymis brasiliensis, conhecida popularmente como Casca de Anta e que era muito comum na regio, no perodo da colonizao do
Brasil.
A Bacia Hidrogrfica do rio So Francisco - terceira bacia do Brasil, com relao rea, e a nica totalmente brasileira - com rea de
drenagem de 634.781 km2 (8% do territrio nacional), abrange sete Unidades da Federao: Bahia, Minas Gerais, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Gois e Distrito Federal e 503 municpios (e Regies Administrativas do Distrito Federal). A maior parte de sua
superfcie localiza-se nos estados nordestinos 62,5%; em seguida na regio sudeste com o Estado de Minas Gerais representando
36,8% e pequena parte na regio Centro Oeste (Gois e Distrito Federal) com 0,7%. A Bahia , dentre as demais unidades de
federao, a que possui a maior rea compreendida na bacia. Desde a primeira vez que um colonizador entrou em suas guas, em
1501, outros diversos nomes foram atribudos ao So Francisco: Velho Chico, rio da integrao nacional, rio da unidade nacional (liga
o Brasil do Sudeste, sua nascente, at o Nordeste), alm dos que se perderam no passado.1
O rio se estende por 2.700 km da nascente foz, atravessa cinco estados, em direo ao norte e s suas margens esto dezenas de
cidades e vilas at a sua foz situada entre os estados de Alagoas e Sergipe, prxima cidade alagoana de Piaabuu, onde encontra o
Oceano Atlntico. Sua importncia deve-se ao grande volume de gua que transporta para a regio semi-rida do Nordeste, e sua
contribuio histrica e econmica na fixao das populaes ribeirinhas e criao das cidades que surgiram ao longo de seu vale.
1. MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Programas de Aes Estratgicas e Integradas para o Desenvolvimento do Turismo sustentvel na Bacia do Rio So Francisco Programa de Revitalizao da Bacia
Hidrogrfica do Rio So Francisco Conhecer para Revitalizar. Secretaria Executiva. Braslia: 2006
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Ministrio da Cultura - IPHAN Mdulo 1 Conhecimento M1 Sistema Integrado de Conhecimento e Gesto 01 Contextualizao Geral
1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO Bacia Hidrogrfica do Rio So Francisco tambm contempla fragmentos de diversos biomas: Floresta Atlntica em suas cabeceiras, o
Cerrado (Alto e Mdio So Francisco) e Caatinga (Mdio e Submdio So Francisco).2
Possui 68 afluentes, entre veredas, crregos, ribeires, riachos e rios, sendo 90 pela margem esquerda e 78 pela margem direita.
Destes, 99 so perenes e 69 intermitentes. So 36 os tributrios de porte significativo, dos quais somente 19 so perenes. As vazes
mdias de longo termo do rio SF variam de 707 m3/por segundo em Trs Marias para 3.200 m3/s na foz. Ao longo de mais de 2.700
km de extenso, a maior parte das vazes provm dos tributrios de Minas Gerais. Na divisa Bahia-Minas Gerais a vazo de longo
termo atinge 2.200 m3/s. Seu curso subdividido em trechos e a diviso fsica, de acordo com diversos critrios, mais utilizada,
atualmente, correspondendo a quatro regies geogrficas, estabelecidas da seguinte forma: Alto, Mdio, Submdio e Baixo So
Francisco. As quatro partes do rio podem ser classificadas como: a faixa das cabeceiras, o verdadeiro corao do So Francisco, a
faixa das corredeiras e cataratas (quase contnuas) e a faixa virtualmente ao nvel do mar.3
a. Alto So Francisco (das nascentes, na Serra da Canastra at Pirapora, em Minas Gerais) - Abrange, portanto, as sub-
bacias dos rios das Velhas, Par, Indai, Abaet e Jequita. Essa regio est totalmente inserida no Estado de Minas Gerais, desde as
cabeceiras, no municpio de So Roque de Minas, at a confluncia com o rio Jequita, a montante da cidade de Pirapora. A regio do
Alto So Francisco apresenta terrenos ondulados, com altitudes que variam de 600 a 1.600 m, onde o ndice pluviomtrico varia entre
1.000 a 1.500 mm anuais. Constitui-se basicamente pelo bioma Cerrado e uma de clima tropical mido, porm, em alguns locais,
considerada temperada.4
b. Mdio So Francisco (de Pirapora, em Minas Gerais at Remanso, na Bahia) - composto por reas dos estados de Minas
Gerais, Gois, Bahia e Distrito Federal, o que corresponde a 51% da rea total da bacia, e pelas sub-bacias dos afluentes Paracatu,
Urucuia, Cariranha, Corrente, Verde, Grande, Paramirim, Pilo Arcado e Jacar. A altitude, neste trecho, varia e 500 a 2.000 m, com
ndice pluviomtrico variando entre 600 a 1400 mm durante o ano. Devido ao trecho de maior extenso nas subdivises da bacia,
comporta a subdiviso entre mdio superior e inferior. Essa diviso comporta outra: em trecho Mdio Superior de Pirapora at o
limite entre Minas Gerais e Bahia (rios Cariranha, Verde e Grande); e trecho Mdio Inferior desse limite at a cidade de Remanso
(BA). A partir dessa subdiviso percebe-se que o primeiro trecho tem caractersticas mais prximas as do Alto So Francisco do que
do Mdio, embora esteja inserida nesta ltima. Est localizado no bioma Cerrado, abrangendo tambm a caatinga, ao norte, rea que
corresponde ao semi-rido brasileiro, onde existe grande diversidade de recursos naturais - serras, vales, cachoeiras e cavernas, que
formam um importante patrimnio espeleolgico e arqueolgico. 5
c. Submdio So Francisco (entre as cidades de Remanso e Paulo Afonso, ambas na Bahia) - Suas sub-bacias so as dos
rios Paje, Touro, Vargem e Moxot. Nesta regio localizam-se as represas de Sobradinho, Paulo Afonso e Itaparica. Abrange as
reas da Bahia e Pernambuco. O territrio rico em recursos naturais, e possui grande diversidade cultural, histrica, arqueolgica. A
altitude est entre 200 a 800m, caracterizada por topografia ondulada. A precipitao anual mdia entre 350 a 800 mm, e a
temperatura mdia anual de 27C. Localizada em rea do bioma Caatinga, vem sofrendo constantes degradaes em funo de
queimadas e das secas peridicas.6
d. Baixo So Francisco (de Paulo Afonso (BA) at a sua foz, entre Alagoas e Sergipe) - Regio que vai desde Paulo Afonso
at a foz, e engloba as sub-bacias dos rios Ipanema e Capivara. A represa de Xing localiza-se nessa regio. O Baixo So Francisco
abrange reas da Bahia, Pernambuco, Sergipe, e Alagoas. Possui altitude entre 100 a 200 m, com ndice pluviomtrico anual variando
2. MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Programas de Aes Estratgicas e Integradas para o Desenvolvimento do Turismo sustentvel na Bacia do Rio So Francisco Programa de Revitalizao da Bacia
Hidrogrfica do Rio So Francisco Conhecer para Revitalizar. Secretaria Executiva. Braslia: 2006. Pgs. 32 a 35
3. MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Programas de Aes Estratgicas e Integradas para o Desenvolvimento do Turismo sustentvel na Bacia do Rio So Francisco Programa de Revitalizao da Bacia
Hidrogrfica do Rio So Francisco Conhecer para Revitalizar. Secretaria Executiva. Braslia: 2006. Pgs. 32 a 35
4. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do vale do So Francisco (Codevasf). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999. Pgs. 42 e 43 5. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do vale do So Francisco (Codevasf). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999. Pgs. 42 e 43
6. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do vale do So Francisco (Codevasf). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999. Pgs. 42 e 43
7. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do vale do So Francisco (Codevasf). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia:1999. Pg. 45
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Ministrio da Cultura - IPHAN Mdulo 1 Conhecimento M1 Sistema Integrado de Conhecimento e Gesto 01 Contextualizao Geral
1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO entre 800 a 1300 mm.7
3. INFORMAES SOBRE CONTEXTO HISTRICO DO UNIVERSO/ OBJETO DE ANLISE Sntese dos aspectos histricos e socioeconmicos - Sculo XVI ao Sculo XX 1. Introduo - A histria do Vale do Rio So Francisco pode ser apreendida de trs formas: a primeira, a partir da anlise dos
textos escritos como relatos de viajantes ou dirios de viagem de colonizadores que deixavam as terras da costa brasileira em
direo aos sertes e florestas descortinadas aps a descida das serras, verdadeiras muralhas entre o mar e o interior; a segunda -
que em alguns perodos se sobrepe primeira no legado dos historiadores autores dos primeiros estudos sistemticos com os
instrumentos metodolgicos e tcnicos dos quais dispunham, poca; e a terceira, durante o sculo XX, com a profuso de projetos,
planos e programas governamentais de colonizao, desenvolvimento e, finalmente, de transposio das suas guas.
Em meio a esse substancial volume de textos, documentos, iconografias e obras de fico, surgem os paradoxos comuns a outras
regies do Brasil. Apesar de todas essas iniciativas, o estudo in loco nos mostra o patrimnio natural deteriorado e o patrimnio
histrico e cultural descaracterizado, disperso ou submerso nas guas das represas formadas ao longo do rio So Francisco. O
agravamento desse quadro deve-se, em sua quase totalidade, concentrao de renda que persiste e comprova o enriquecimento de
determinados segmentos sociais beneficiados pelo modelo de ocupao da terra e de desenvolvimento econmico que, desde o
perodo colonial, se mantm no interior dos estados pelos quais se estende a Bacia do Rio So Francisco.
Observa-se, ainda, um conflito de interesses entre os prprios rgos governamentais estaduais e municipais aos quais cabe o
reconhecimento e a preservao do patrimnio histrico e cultural do Vale do So Francisco. Soma-se a esta postura, a resistncia
das populaes dessas reas. Lembramos que, atualmente, os inventrios de patrimnios histricos e cultural vm agregando estudos
sobre o patrimnio natural, sendo que alguns pesquisadores realizam seus estudos e diagnsticos levando em conta o conjunto de
bens naturais, histricos e culturais. Consideram fundamental a apreciao dos bens naturais tambm como patrimnio histrico, pois
esses compem a paisagem e representam os recursos utilizados pelas comunidades locais e os visitantes. Nos recortes do Vale do
Rio So Francisco, onde este inventrio foi realizado, observamos o quadro descrito acima.
2. Descobrimento e Ocupao - Os navegantes Andr Gonalves e Amrico Vespcio chegaram foz do rio So Francisco em 4 de
outubro de 1501. A explorao da bacia sanfranciscana pelos portugueses comeou, assim, pela extremidade nordestina, em caravela
comandada por Gonalo Coelho. Eles chegaram ao esturio do grande Opar (rio-mar, em Tupi-Guarani, chamado assim pelos ndios)
que recebeu seu nome atual em homenagem ao santo festejado naquele dia: So Francisco. Durante o sculo XVI, os portugueses
no se aventuraram muito alm dos 100 km iniciais do rio. Derrubaram as matas litorneas de pau-brasil e enviaram expedies
exploradoras s regies mais prximas. As primeiras expedies datam de 1553, com a busca por escravos para as cidades
litorneas. Aps o incentivo da Coroa Portuguesa, com a doao de territrios, visando colonizao e ocupao de novas reas, o
povoamento se intensificou e com ele a atividade pastoril. Data, tambm, desse perodo a construo dos primeiros engenhos de
acar, que utilizavam mo-de-obra de ndios escravizados. Touros e vacas, que no existiam no Brasil, foram trazidos por Tom de
Souza, primeiro governador-geral (entre 1549 a 1553). Seu sucessor Duarte da Costa (1553 a 1558) enviou, durante seu governo,
embarcaes para desbravar o rio So Francisco. 8
Com a instalao de colonos no vale do So Francisco, surgem vilas e cidades ribeirinhas que adquiriram, ao longo dos sculos,
importncia histrica significativa. O povoamento sistemtico veio pela regio da nascente, no final do sculo XVII e comeo do sculo
XVIII, quando a descoberta de ricas jazidas de ouro e pedras preciosas no centro-sul de Minas Gerais e na provncia de Gois atraiu
levas de desbravadores e redesenhou o mapa econmico e poltico da Colnia. A concentrao demogrfica no vale superior
8. LINS, Wilson. O Mdio So Francisco: Uma Sociedade de Pastores e Guerreiros. 2 Ed. Revista e aumentada Aguiar & Souza Ltda. Livraria Progresso Editora. 1960. Pg. 46
5
estimulou, por sua vez, a expanso da pecuria no vale mdio, entrelaando as "civilizaes" das minas e do couro, convertendo o
So Francisco no "rio da integrao nacional". No sculo XVII, beneficiados com a concesso de imensas sesmarias, a Casa da Torre
(de Garcia Dvila, beneficiado com terras por Tom de Souza) e a Casa da Ponte (de Guedes de Brito) eram os grandes feudos da
Bahia, e seus senhores penetraram no vale intermedirio, espalhando seu gado e seus vaqueiros at o Piau. O So Francisco passou
a ser chamado, tambm, "rio dos currais". No entanto, pelas prprias caractersticas da pecuria extensiva, essa frente de penetrao
9. LINS, Wilson. O Mdio So Francisco: Uma Sociedade de Pastores e Guerreiros. 2 Ed. Revista e aumentada Aguiar & Souza Ltda. Livraria Progresso Editora. 1960. Pg. 46 10. LINS, Wilson. O Mdio So Francisco: Uma Sociedade de Pastores e Guerreiros. 2 Ed. Revista e aumentada Aguiar & Souza Ltda. Livraria Progresso Editora. 1960. Pg.47 11. ZARUR, Jorge. A Bacia do Mdio So Francisco: uma anlise regional, 1947. Pg. 6.
12. ZARUR, Jorge. A Bacia do Mdio So Francisco: uma anlise regional, 1947. Pg. 6.
13. ZARUR, Jorge. A Bacia do Mdio So Francisco: Uma Anlise Regional, 1947. Pg. 6.
14 . ZARUR,Jorge. A Bacia do Mdio So Francisco: Uma Anlise Regional, 1947. Pg. 6.
15. ZARUR, Jorge. A Bacia do Mdio So Francisco: Uma Anlise Regional, 1947. Pg. 6.
16. ZARUR, Jorge. A Bacia do Mdio So Francisco: Uma Anlise Regional, 1947. Pg. 8.
17. ZARUR, Jorge. A Bacia do Mdio So Francisco: Uma Anlise Regional, 1947. Pg. 8.
18. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 195.
19. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 195.
20. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 195.
21. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 208
22. 22 SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 208.
23. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 208.
24. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 213. 25. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 213.
26. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 213.
27. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 213.
28. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do Vale do So Francisco (CODEVASF). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999. Pg. 23 29. MACHADO, Fernando da Matta. Navegao do Rio So Francisco. Topbooks, Rio de Janeiro:2002, Pg. 121.
30. MACHADO, Fernando da Matta. Navegao do Rio So Francisco. Topbooks, Rio de Janeiro:2002, p. 121.
31. MACHADO, Fernando da Matta. Navegao do Rio So Francisco. Topbooks, Rio de Janeiro:2002, p. 122.
32. MACHADO, Fernando da Matta. Navegao do Rio So Francisco. Topbooks, Rio de Janeiro:2002, p. 122.
33. BANDEIRA, Souza. O Rio So Francisco e alguns pequenos portos martimos do norte do Brasil. Typ. Alba, Rio de janeiro, 1925, Pg. 16-17. 33.
34. LINS, Wilson. O Mdio So Francisco: Uma Sociedade de Pastores e Guerreiros. 2 Ed. Revista e aumentada Aguiar & Souza Ltda. Livraria Progresso Editora. 1960. Pg. 46
35. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 195.
36. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 195.
37. SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Crtica, 2008. Pg. 195.
38. PIERSON, Donald. O Homem no Vale do So Francisco, 1972. Pg. 32.
39. PIERSON, Donald. O Homem no Vale do So Francisco, 1972. Pg. 32.
40. CARVALHO, Orlando M. O Rio da Unidade Nacional O So Francisco (Reportagem Illustrada). Companhia Editora Nacional, So Paulo, Rio de Janeiro, Recife, 1937, p. 139-140.
41. PIERSON, Donald. O Homem no Vale do So Francisco, 1972. Pgs. 32-45
42. ROCHA, Geraldo. O Rio S. Francisco Fator Precpuo da Existncia do Brasil. Col. Brasiliana.Vol.184. 3 ed. So Paulo: Companhia Editora Nacional. 1983. Pgs. 42-45
43. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do Vale do So Francisco (CODEVASF). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999. Pgs. 45-48 44. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do Vale do So Francisco (CODEVASF). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999. Pgs. 45-48 45. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do Vale do So Francisco (CODEVASF). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999. Pgs. 45-48 46.CEEIVASF. O Reservatrio de Sobradinho: Problemas decorrentes do seu deplecionamento, 1987. Pg. 15 -17.
47. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do vale do So Francisco (CODEVASF). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999.
48. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do vale do So Francisco (CODEVASF). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999.
49.MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do vale do So Francisco (CODEVASF). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999.
50. MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL. Companhia de Desenvolvimento do vale do So Francisco (CODEVASF). Inventrio de Projetos. 3 Ed. Revista Atualizada. Braslia: 1999.
6
Ministrio da Cultura - IPHAN Mdulo 1 Conhecimento M1 Sistema Integrado de Conhecimento e Gesto 01 Contextualizao Geral
1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO no promoveu uma ocupao expressiva do trecho mdio da bacia.9
Essa poca foi marcada pelo confronto entre bandeirantes e indgenas encontrados no territrio. Para explorar grandes extenses de
terra - os latifndios - e aumentar a produo agrcola, os ndios foram caados ferozmente, mas a maioria resistiu escravido. A
ocupao do Vale do Rio So Francisco ocorreu de forma desordenada, como em outras regies do Brasil: extrao de madeira, caa
predatria e matana de ndios. Um dos combates aconteceu onde hoje est Januria, com os ndios Kayap, guerreiros famosos pela
resistncia contra os invasores de suas terras. O uso das terras para agricultura e o pastoreio era mais lucrativo com a explorao da
mo-de-obra escrava e os colonizadores substituram os ndios pelos negros, a partir do sculo XVII. Entretanto, os africanos tambm
resistiram escravido, fugindo e criando inmeros quilombos na regio. No houve uma ocupao pacfica, a do Vale do So
Francisco: h inmeros registros de lutas entre famlias e grupos que ocuparam a regio entre os sculos XVI e XVIII. 10
a. Misses e cidades histricas do Baixo So Francisco - Na segunda metade do sculo XVII e incio do sculo XVIII, diversos
aldeamentos cristos foram criados ao longo do So Francisco. A Companhia de Jesus percorreu o rio durante seu trabalho da
catequizao dos indgenas da regio. O estabelecimento da misso ocorria com a construo de uma igreja, utilizando a fora de
trabalho indgena. Ao redor da igreja eram construdas casa paroquial e as residncias para os nativos. O aldeamento de Aracap,
fundado por um missionrio capuchinho, pode ser considerado modelo em sua poca. Localizado em uma ilha - seis lguas do local
onde hoje est a cidade de Cabrob (PE) -, padres de outras misses o visitavam e l permaneciam por alguns meses para conhecer
o seu funcionamento. Um desses missionrios, padre Anastcio, viajava at 120 km para assistir ndios e portugueses residentes na
ribeira, o que evidencia o alcance da ao missionria nas ltimas dcadas do sculo XVII. A cidade de Cura (BA), uma das mais
antigas da regio, surgiu a partir de uma vila criada por uma misso jesuta fundada em 1562.11
No Baixo So Francisco, predominava a presena de padres jesutas que pretendiam disseminar a f catlica e para isso, tentavam
catequizar os ndios e fundavam igrejas nas cidades e vilas da regio, e espalhavam capelas pelas fazendas e lugares mais ermos.12
Alagoas integrava a Capitania de Pernambuco e sua ocupao remonta fundao da vila do Penedo (1545), s margens do rio So
Francisco, pelo Donatrio Duarte Coelho, que incentivou a fundao de engenhos no vale, onde predominou a produo de acar e a
criao de gado, graas ao trabalho escravo de negros e mestios. Algumas cidades do Estado foram tombadas pelo Iphan - Marechal
Deodoro, Penedo, Piranhas e Unio dos Palmares (AL) - e um dos exemplos da formao histrica das cidades Porto Real do Colgio
(AL), datada de meados do sculo XVII.
Diferentes tribos de ndios, entre elas os Tupinamb, Carapota, Acorane (ou Acon) e Cariri habitavam a regio e foram caados pelos
bandeirantes da Bahia que desceram o rio So Francisco em companhia dos padres jesutas, encarregados da catequese dos
gentios, considerados os primeiros civilizados a pisarem o aldeamento margem do grande rio. Bandeirantes e jesutas ocuparam
uma extensa faixa de terra e batizaram-na com o nome Urubu-Mirim, para diferenciar de Urubu, hoje Propri (SE). Os jesutas
erigiram, na povoao, no alto de uma colina, uma capela rstica sob a invocao de Nossa Senhora da Conceio, em torno da qual
comeou a florescer o novo ncleo populacional. Em meados do sculo XVII, fundaram um convento e um colgio, no lado sul da
margem do rio So Francisco. O nome deveria ser Colgio do Porto Real, pois o povoamento se originou do colgio dos jesutas que
tinha o nome de Real.13
As lutas internas que envolviam o clero, no Brasil e na Europa, tambm chegaram regio e, em 1759, os jesutas foram expulsos do
vale. Os inacianos possuam as residncias de Tejupeba (SE) e Jaboato dos Guararapes (PE) e tinham a seu cargo a aldeia indgena
do Geru, onde edificaram uma das mais belas igrejas missionrias do interior do Brasil. Os jesutas foram substitudos pelos
sacerdotes seculares (quase sempre sados das casas-grandes) e aos franciscanos e carmelitas (com bons conventos em So
Cristvo/SE). Mais de cem anos depois, em 1877, o novo Estatuto das Misses permitiu o incio do trabalho apostlico para as
misses religiosas das provncias da Itlia e de outros pases. Esses evangelizadores, designados para as provncias da Bahia e
Sergipe, instalaram suas misses s margens do rio So Francisco, para catequizar os ndios que ali viviam. Para isso, era necessrio
construir igrejas e povoados; surgiam as vilas e, mais tarde, as cidades.14
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO A Bacia do So Francisco desenvolvia uma cultura prpria - tradies, folclore, alimentao e habitaes. Entretanto, sua populao
sobrevivia em condies penosas, embora fosse intensificada a ocupao ao longo do rio. Os jesutas aliavam seus conhecimentos aos
dos indgenas para construir embarcaes e habitaes, e tambm aproveitavam essa mo-de-obra nos trabalhos nas misses
catequizadoras.15 Com os missionrios capuchinhos, deixaram marcas histricas que, em conjunto, formaram um importante
patrimnio cultural. Entre o legado das misses, na regio, destacam-se em Laranjeiras (SE) e So Cristvo (SE). Tombados pelo
Iphan esto os monumentos: Igreja Matriz de Divina Pastora (So Cristvo/SE); a antiga residncia jesutica, atual casa da Fazenda
Iolanda e capela anexa (Itaporanga dAjuda/SE); a casa do Engenho Retiro e sua capela de Santo Antnio e a Igreja de Nossa
Senhora da Conceio (tambm chamada Nossa Senhora da Conceio da Comandaroba), em Laranjeiras, fundada pelos jesutas; a
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Perptuo Socorro (Nossa Senhora do Socorro/SE); a Capela do Engenho da Pedra (Riachuelo/SE);
e a Igreja Nossa Senhora do Socorro (em Tomar do Geru/SE).
b. Atividades produtivas O Mdio So Francisco teve sua ocupao estimulada pela descoberta do ouro, pela escravatura e pelas
pastagens de gado. Embora a ocupao do territrio tenha se estabelecido inicialmente no litoral, as margens do rio foram adentradas
por exploradores em busca de escravos indgenas para trabalhar no litoral, desde 155316. Mais tarde surgem os currais para criao
de gado, que representa um fator fundamental de ocupao na regio. Essa indstria pastoril foi a base da riqueza da regio at fins
do sculo XVII17. Durante os sculos XVI e XVII, o Brasil era o maior produtor de acar do mundo e as capitanias da Bahia e de
Pernambuco eram grandes produtoras.
Os colonizadores chegavam regio em busca de terras, os bandeirantes paulistas seguiam os caminhos das minas de ouro e das
pedras preciosas. Nas pegadas desses desbravadores surgiam os jesutas e vaqueiros. Um dos pousos dos bandeirantes hoje
conhecido como Guaicu, no distrito de Vrzea da Palma, prximo Pirapora (MG), no encontro do So Francisco com o rio das
Velhas. O Mdio So Francisco era chamado rio dos currais por ser uma regio dominada pela da pecuria. Nos primeiros anos do
sculo XVIII, as cabeas de gado da Bahia ultrapassavam 500 mil e em Pernambuco mais de 800 mil18. Alm da grande extenso de
campos adequados pecuria extensiva, o So Francisco possibilitava fcil acesso gua e a carne bovina produzida no vale
abastecia as regies mineradoras do centro-sul da antiga capitania de Minas Gerais. Em fins do sculo XVII e na primeira metade do
XVIII, o rio passou a exercer papel de via fluvial e substituiu a rota antes percorrida por terra, ligando as vilas do ouro e do diamante,
as fazendas de gado da regio e o porto de Salvador (BA), fazendo crescer o comrcio.
No comeo do sculo XVIII, os bandeirantes - a maioria era paulista - comearam a descobrir ouro em grande quantidade, o que
gerou maior desenvolvimento, principalmente, na regio mais tarde denominada Minas Gerais. O garimpo atraa milhares de pessoas,
que formaram vilas e cidades nas reas prximas da minerao, a principal atividade econmica do Brasil nesse sculo. Com o
crescimento desta atividade, o Mdio So Francisco passou a fornecer gado e produtos regionais para as reas de minerao. Havia
um grande comrcio de rapadura, farinha, peixe seco e cachaa. Em fins do sculo XVIII a economia do Brasil colonial entrou em
crise, houve o esgotamento das minas de ouro, e Portugal criou novos impostos para garantir a retirada de mais riquezas dos
brasileiros.19
Por essa poca, o Brasil caminhava para sua emancipao e as mudanas nas formas de produo que viriam. Com o declnio da
minerao, a Bacia do So Francisco entrou em prolongada letargia. Os grandes proprietrios aambarcaram terras devolutas e
formaram fazendas enormes, onde se dedicavam pecuria extensiva e ao plantio de cana-de-acar para a explorao de engenhos
de aguardente e rapadura. Os posseiros e pequenos proprietrios desenvolveram uma agricultura de subsistncia nos brejos, nas
vrzeas e nas ilhas, combinando-a com a pesca e a caa. Essa agricultura de vazante e o aproveitamento de reas agrcolas de
sequeiro ativaram o comrcio entre as cidades ribeirinhas, surgindo uma figura que por muito tempo impulsionou o desenvolvimento
das cidades-plo: o barqueiro. 20
Minerao (ouro e diamantes) Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, em 1690, e posteriormente do diamante, em
1729, h um fluxo intenso de pessoas que faziam a corridas para as minas. Isso intensificou o comrcio de gado e produtos
vegetais na regio21. O Brasil ocupou a posio de maior produtor mundial de ouro e diamantes, no sculo XVIII. Essas riquezas
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
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MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO eram transferidas para Portugal, para equilibrar as contas da metrpole. Minas Gerais era a principal regio mineradora, no
entanto havia extrao tambm nos estados de Gois, Mato Grosso e um pouco na Bahia. O ouro era encontrado no cascalho dos
rios, no barro das encostas ou em minas pouco profundas.22 Com a possibilidade de enriquecer com a extrao deste produto, as
regies de minerao foram ocupadas de forma extensiva, com muitas pessoas se instalando nas proximidades das minas. No
havia infraestrutura nem alimentos para aqueles aventureiros, no comeo do sculo XVIII. Como a regio apresentava uma
escassez de diversos produtos, alguns comerciantes passaram a traz-los produtos do Rio de Janeiro para o comrcio nas minas:
roupas, comida, ferramentas, louas e mveis, que eram vendidos a um alto preo, pois os garimpeiros tinham ouro.
Naquele perodo, a lei que valia na regio era a da facada, da traio, do roubo, do tiro de pistola, da emboscada, ou seja, era
uma terra sem lei. Havia uma grande rivalidade entre os bandeirantes paulistas (primeiros mineradores) e os forasteiros (no
eram paulistas e recebiam destes a denominao de emboabas). A situao era crtica, havia fome e falta de recursos. A violncia
desembocou na Guerra dos Emboabas, no comeo do sculo XVIII. Com o fim da guerra, o controle da zona mineradora passou
para o governo portugus, que instituiu a cobrana de impostos. A populao brasileira tambm aumentou consideravelmente
neste perodo, pois a corrida pelo ouro atraa milhares de pessoas para a colnia. A minerao foi a principal atividade econmica
no Brasil no sculo XVIII e utilizava majoritariamente mo-de-obra escrava. 23
A partir do sculo XVIII, a cultura do Brasil revela autonomia em relao portuguesa. A arte europia se encontrava adaptada
aos gostos da colnia. As construes mais importantes eram as igrejas e os prdios do governo. As igrejas eram cheias de
adornos por dentro, embora por fora pudessem parecer mais simples, seguiam, inicialmente, o estilo barroco e nas ltimas
dcadas do sculo traziam o estilo rococ. Esto em Minas Gerais as mais famosas igrejas nesses estilos, construdas por ordem
de leigos catlicos que demonstravam seu poder e riqueza por essas construes. Entretanto, o apogeu da extrao do ouro e
dos diamantes comea a declinar, e o Vale do So Francisco entrou em prolongada letargia.24
Cana-de-acar - Durante os sculos XVI e XVII o Brasil era o maior produtor de acar do mundo e as capitanias da Bahia e
de Pernambuco eram grandes produtoras25. Os holandeses invadiram o Brasil em 1630 com uma frota de sete mil soldados e
cerca de mil canhes e aps o massacre da capital Olinda, ocuparam o litoral do Nordeste aucareiro. Durante 24 anos o
Nordeste brasileiro esteve sob o domnio e leis holandesas, no entanto a propriedade dos engenhos de aucareiros no passou
para as mos deles, que se interessavam pelo comrcio, e no pela produo do acar. Desta forma, latifundirios e holandeses
conviveram harmonicamente, uns produzindo e outros comercializando, respectivamente. O Brasil foi administrado, nesse
perodo, pelo prncipe Maurcio de Nassau.
Nas ltimas dcadas do sculo XVIII, cerca de um tero do acar exportado pela Bahia, era produzido em Sergipe: mesmo aps
a recuperao da indstria do acar, a pecuria do So Francisco jamais deixou de ter importncia, tornando-se o elo entre o
serto e o litoral, com o gado sendo levado para o abate e voltando os seus condutores com carregamentos de alimentos e
produtos essenciais para os habitantes do serto. No Baixo So Francisco, a cultura da cana prosperou nos engenhos dos estados
de Sergipe e Alagoas, com a produo de exportao de acar. Aps 1860, como reflexo da guerra de secesso nos EUA, houve
o crescimento da cultura algodoeira que chegou a superar o acar na exportao, em 1867 e 1868, mas, em pouco tempo, o
acar retomou seu importante papel na economia da regio.26
A cultura do algodo, embora menor que a da cana-de-acar, possibilitou a criao - ao lado dos velhos engenhos e de novas
usinas -, a fbricas de tecidos em Aracaju, Estncia, So Cristvo, Vila Nova (Neoplis), Maruim e Riachuelo. A cana-de-acar,
entretanto, consolidou um patrimnio cultural e econmico regional e, no perodo republicano, por volta de 1930, a figura do
senhor de engenho ainda predominava e influa em decises polticas. Por volta de 1730 a comarca de Alagoas possua cerca de
50 engenhos, 10 freguesias e razovel prosperidade. A Lei provincial de 09 de dezembro de 1839 transferiu a capital da provncia
da cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro), para a vila de Macei, elevada a cidade. No perodo republicano, Alagoas mantm
as caractersticas econmicas e sociais de seu passado colonial: economia agrcola da Zona da mata e do Agreste e pequena
industrializao. A sociedade permanece dependente do poder e do clientelismo dos coronis, latifundirios e chefes de
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MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO oligarquias locais.
quase impossvel estabelecer uma diviso das atividades produtivas em ciclos estanques, no Vale do So Francisco. Os que l
viviam enfrentavam condies inspitas, violncia e toda sorte de dificuldades. Havia a predominncia de um produto, mas,
paralelamente as outras atividades tambm eram desenvolvidas, geravam produtos e movimentavam o comrcio. A criao de
gado era concomitante minerao e continuou durante o ciclo cana-de-acar. Outra importante atividade econmica na regio
era a comercializao do sal da terra, ao longo do rio, e representava o principal objeto de riqueza extrado diretamente do rio,
ainda nos primeiros anos do sculo XIX. Alm do consumo domstico, havia um amplo comrcio do sal utilizado na alimentao
do gado e para salgar peixes. O sal marinho, de melhor qualidade, comeou a competir com o sal da terra na segunda metade do
sculo XIX e, assim, o produto do rio perde sua importncia, gradativamente. A inaugurao da estrada de ferro Salvador-
Juazeiro, em 1896, aumentou consideravelmente o afluxo do sal marinho para a regio.27
Agricultura irrigada28 A ocupao da terra no Vale do So Francisco, como em quase todo o Brasil, foi caracterizada pelo poder poltico e econmico: os grandes proprietrios tomaram posse de terras devolutas e formaram enormes fazendas. Na
regio, predominava a pecuria extensiva e o plantio de cana-de-acar (abastecia os engenhos pra produo de aguardente e
rapadura). Os posseiros e pequenos proprietrios desenvolveram uma agricultura de subsistncia nos brejos, nas vrzeas e nas
ilhas, combinando-a com a pesca e a caa. Essa agricultura de vazante e o aproveitamento de reas agrcolas de sequeiro
ativaram o comrcio entre as cidades ribeirinhas, e surgem novas demandas e atividades. Esse quadro permanece praticamente
inalterado, at s mudanas que chegam com a construo das usinas hidreltricas (veja neste inventrio, o item Barragens e
Cidades Alagadas).
Nas ltimas dcadas do sculo XX, a irrigao se propagou nos cerrados mineiros, no Oeste baiano e nas reas vizinhas de
Juazeiro e Petrolina, multiplicando-se os permetros pblicos e os sistemas privados de irrigao, que alcanam uma rea
estimada de 400 mil hectares. Com a disponibilidade de energia eltrica e o crescimento dos plantios irrigados, a paisagem social
da bacia sanfranciscana modifica-se, mais uma vez. Na descrio do engenheiro agrnomo Jos Theodomiro de Arajo, "as
cidades voltam a crescer, estradas so abertas, as lutas pela terra retomam o antigo fragor e reabrem velhas contendas
judiciais. Um novo tipo de colono introduz novas relaes de trabalho: o agricultor no mais o plantador de feijo e mandioca
nas reas de vazante, e sim um empresrio que produz arroz, soja, cana, utiliza inseticidas e adubos qumicos.
Os velhos engenhos de aguardente transformam-se em grandes destilarias modernas. O pescador usa cada vez menos o anzol ou
tarrafa, e se organiza, cada vez mais, em colnias, o peixe vai para o frigorfico e no comercializado seco e prensado com sal.
As lanchas motorizadas ultrapassam os barcos a vela e torna-se difcil encontrar os barqueiros de antigamente; as mudanas
tambm atingem o vaqueiro, no precisa mais usar o gibo e a perneira, porque tange o gado em campo limpo, coberto de capim
colonio. O rebanho trazido pelo colonizador, entre os sculos XVI e XVIII, substitudo pelas raas indianas, mais rentveis. 1 As
culturas de ciclo mdio e longo ocorrem localizadamente e possuem pouca expresso territorial. Destacam-se a produo de
frutas e de gros em reas irrigadas. A minerao e os espaos ocupados com a infra-estrutura regional representam uma
parcela muito pequena do territrio.
3. Navegao - O rio So Francisco navegvel numa extenso de 2.130 km, sendo 312 km entre Pirapora e Juazeiro/Petrolina, 208
km entre Piranhas e a foz, 104 km no afluente Paracatu, entre Porto Cavalo e a foz, 155 km no afluente Corrente, entre Santa Maria
da Vitria e a foz e 351 km no afluente Grande, entre Barreira e a foz. A Companhia de Navegao do So Francisco (Franave), criada
pelo governo federal, no incio da dcada de 1960, construiu moderna frota de comboios empurrados, mas a instabilidade do leito
fluvial e crescimento do uso do transporte rodovirio impediram os resultados esperados.29 Com o desenvolvimento da indstria
automobilstica e da malha rodoviria, o transporte fluvial foi sendo menos solicitado; por outro lado com poucos recursos para
manuteno, modernizao da frota e investimentos na via navegvel, alm de inexistncia de poltica de captao de cargas, os
equipamentos passaram por um crescente sucateamento, havendo expressiva reduo de carga.30
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MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO Atualmente, a navegao no rio So Francisco caracteriza-se pela baixa movimentao de cargas e falta de perspectivas de que
recupere a importncia do passado. Entretanto, esse rio integrava o Sudeste e o Nordeste, e a cultura do vale tem fortes vnculos,
desde sua origem, com a navegao e a construo de suas embarcaes. As barcas desciam os rios afluentes carregadas de
produtos da terra, alcanavam o So Francisco - subiam para Pirapora ou desciam para Juazeiro, e retornavam com produtos
industrializados. Rapadura, banha de porco, algodo, peles silvestres, aguardente e muitas outras mercadorias eram levadas das
fontes locais de produo, enquanto dos grandes centros retornavam caf, querosene, lcool, gasolina, alm da correspondncia com
notcias das capitais e de outras comunidades. Produziam e viviam no vale, os barranqueiros, pescadores, agricultores, posseiros,
meeiros ou pequenos proprietrios, em convivncia, nem sempre pacfica, com o grande fazendeiro e senhor poltico dos municpios.31
Os ndios da regio usavam canoas, embarcaes feitas do tronco de grandes rvores escavadas com auxlio do fogo e de enxs,
usadas pelos colonizadores, desde os anos 1600. As primeiras canoas que navegaram no So Francisco foram construdas com
madeira extrada da regio do rio das Velhas.32 Armadores paulistas passaram a construir tais canoas na primeira dcada do sculo
XVIII e lanavam-nas a partir do rio das Velhas, percorrendo 600 km at chegar ao So Francisco, dali prosseguiam at a cachoeira
de Paulo Afonso. Ao longo de 2.300 km, os navegantes vendiam canoas aos ribeirinhos e, nos primeiros anos do sculo XVIII, todas
as grandes canoas da regio, a montante da cachoeira, eram fabricadas pelos armadores do Alto Rio das Velhas.
Em fins do sculo XVII e na primeira metade do XVIII, o rio passou a exercer papel de via fluvial e substituiu a rota antes percorrida
por terra, ligando as vilas do ouro e do diamante, as fazendas de gado da regio e o porto de Salvador (BA), fazendo crescer o
comrcio. No sculo seguinte, com a Independncia, a populao da regio esperava por mudanas. Pouca durao, porm, teve o
interesse dos novos governantes, entretanto, a nica novidade que a Independncia trouxe regio foi o uso de barcas na navegao
do rio, por iniciativa particular e no oficial. Alm das canoas, havia os paquetes (construdos com duas metades de uma canoa
aumentada pela insero de tbuas), e ajoujos (duas canoas presas lado a lado), e balsas formadas por toras de madeira amarradas
entre si.33
a. Embarcaes - Os primeiros a utilizarem as guas do rio So Francisco como um caminho a ser percorrido, navegado, foram os
ndios, para isso usavam canoas. Essas primeiras embarcaes eram feitas do tronco de grandes rvores escavadas com auxlio do
fogo e de enxs. Os colonizadores tambm utilizaram de forma extensiva esse meio de transporte, desde os anos 1600. As matas da
regio do rio das Velhas forneceram a madeira para produo das primeiras canoas que navegaram no So Francisco.34 Armadores
paulistas passaram a construir tais canoas na primeira dcada do sculo XVIII e lanavam-nas a partir do rio das Velhas, percorrendo
600 km at chegar ao So Francisco, dali prosseguindo at a cachoeira de Paulo Afonso. Ao longo de 2300 km, os navegantes
vendiam canoas aos ribeirinhos e, nos primeiros anos do sculo XVIII, todas as grandes canoas da regio, a montante da cachoeira,
eram fabricadas pelos armadores do Alto do Rio das Velhas.
Os padres jesutas utilizavam dos ndios nesse tipo de navegao e faziam uso de sua mo-de-obra para facilitar os trabalhos nas
misses catequizadoras. Para estes, era possvel navegar sob uma correnteza impetuosa e por entre rochedos. No s os ndios
conduziam as barcas, os portugueses tambm o faziam, embora mais leigos e com menos habilidades de incio. Os colonizadores
tambm utilizaram de forma extensiva esse meio de transporte, desde os anos 1600. As matas da regio do rio das Velhas
forneceram a madeira para produo das primeiras canoas que navegaram no So Francisco. Armadores paulistas passaram a
construir tais canoas na primeira dcada do sculo XVIII e lanavam-nas a partir do rio das Velhas, percorrendo 600 km at chegar
ao So Francisco, dali prosseguindo at a cachoeira de Paulo Afonso. Ao longo de 2 300 km, os navegantes vendiam canoas aos
ribeirinhos e, nos primeiros anos do sculo XVIII, todas as grandes canoas da regio, a montante da cachoeira, eram fabricadas pelos
armadores do Alto do Rio das Velhas.
Barcas35 Um registro de viagem do bispo Dom Manoel da Cruz, ocorrida nos anos quarenta do sculo XVIII, partindo do Maranho com destino a Mariana, pde-se concluir que, nesse perodo, a navegao no rio comeava a se fazer por barcas,
representando uma significativa incorporao de progresso tcnico ao transporte, por sua capacidade de transporte e maior
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
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INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO funcionalidade para vencer grandes distancias se comparadas s canoas. So conhecidos os nomes de algumas barcas no sculo
XVIII: a Santa Maria I, de propriedade de Joo Mauricio da Costa e de seu irmo Jos de Mattos; a Claro Dia, de propriedade de
Antnio de Souza e Mendona da Cunha; e a S. Jos, de Jos Lopes. No princpio do sculo XIX, partiam barcas dos povoados
salineiros Sento S, Pilo Arcado e Campo Largo e viajavam rio acima com destino s localidades ribeirinhas da ento
provncia de Minas Gerais. L descarregavam o sal e embarcavam produtos diversos, como rapadura, cereais e couros. Na
segunda dcada do sculo XIX havia barcas fazendo a ligao entre os povoados de Pirapora e Salgado (atual Januria). Eram
movidas pela fora fsica de trs ou quatro homens atravs de remos, e faziam o percurso em quatro ou cinco dias.
As barcas, bem maiores que as canoas e ajoujos, eram impulsionadas por varejes ou velas, construdas com fundo raso, chato
(prato) para maior estabilidade da embarcao. Algumas caractersticas dessas barcas preservam-se at os dias atuais, como a
pequena cabine prxima popa, com o uso permanente de remos e eventual de velas latinas. H registros de que, nos anos
1870, de 250 a 300 barcas transitavam no Mdio So Francisco e em seus afluentes e, em 1892, esse nmero aumentou para
mais de 900 barcas navegando no So Francisco. A partir de 1930, esses nmeros comearam a decair, devido introduo das
leis trabalhistas no Brasil (governo do ento Presidente da Repblica Getlio Vargas), o que dificultou a contratao de remeiros
pelos barqueiros (os contratos eram informais, sem salrio definido ou qualquer benefcio para os que trabalhavam nessa
atividade) tia para, e com o aumento significativo da presena de vapores, a partir da criao empresa da Navegao Mineira do
Rio So Francisco, em 1925.
Gaiolas36 - O primeiro vapor (barco gaiola), em 1871, foi o Saldanha Marinho, construdo em Sabar pelo governo de Minas Gerais. Em 1872, foi lanado o Presidente Dantas, em Juazeiro, por iniciativa do governo da Bahia. Na dcada de 1930, cerca de
20 navios (vapores) de quatro companhias navegavam no rio, e os portos se multiplicaram: Pirapora, Barra do Guau, Ibii, So
Romo, So Francisco, Pedras de Maria da Cruz, Januria, Itacaramb, Morrinhos, Manga, Malhada, Carinhanha, Bom Jesus da
Lapa, Ibotirama, Xique-Xique, Pilo Arcado, Remanso, Sento S, Casa Nova, Sobradinho, Juazeiro e Petrolina. Nessas cidades,
havia um intenso embarque e desembarque de mercadorias e passageiros. Os vapores adquiriram fama na regio, eram
embarcaes de grande porte, movidas a vapor que realizavam transporte de carga e passageiros, em condies bem diversas
das embarcaes que navegavam no So Francisco, at ento.
Esses vapores possuam apitos caractersticos que informavam ao povo ribeirinho a sua chegada. Ainda hoje, o vapor Benjamim
Guimares realiza passeios semanais aos domingos na cidade de Pirapora. Esses barcos, com de rodas de ps, foram trazidos
do rio Mississipi (EUA) e restam apenas o Benjamim Guimares, ancorado em Pirapora (MG), o So Salvador, aguardando
restaurao em Ibotirama (BA), e o Saldanha Marinho, em Juazeiro (BA). Quem viveu essa poca exatamente no meio do
caminho, entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA), no porto de Itacarambi (MG) lembra: Durante a. guerra, os vapores foram a
salvao - diz Seo Jaime Machado (76 anos, 40 pescando no So Francisco) - quanto 12 vapores faziam o trajeto, trazendo
riqueza e comrcio para a regio. Os expedicionrios brasileiros subiram nos vapores para embarcar para a Europa, evitando
serem torpedeados pelo inimigo. A prioridade dada transporte rodovirio, a partir da dcada de 1950, o nmero de embarcaes
que circulam no rio foi reduzido drasticamente. Outro fator que contribui para essa subtrao o assoreamento do rio e a
construo de usinas hidreltricas no seu curso, o que reduz a rea navegvel.
Canoa de tolda - A Sociedade Socioambiental Canoa de Tolda, organizao no governamental que atua desde 1997, no Baixo So Francisco, encaminhou o processo de tombamento material e imaterial da arte da carpintaria naval dessa regio ao Instituto
do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Iphan), em Braslia (DF). A canoa de tolda considerada um smbolo dos bons
tempos da navegao fluvial da regio e em est em situao de risco de desaparecimento. A organizao restaurou a canoa
Luzitnia, cuja principal caracterstica a presena de duas velas triangulares ou quadrilaterais. ao longo de sua envergadura de
madeira. Existem, apenas, mais dois exemplares de tolda: um no Museu Nacional do Mar (SC) e o outro em Piranhas (AL).
A canoa de tolda o smbolo da prosperidade no Baixo Chico. Havia cem, duzentas canoas aqui para cima e para baixo, todas
eram de tolda, a chata era um uma canoa um pouco menor um, sem cabine na proa. A canoa carregava o arroz, o barro, as
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO pessoas os recados. Levava dinheiro para cima e para baixo, enfim, ela era a fora, o smbolo da economia local, e poder vir a
ser de novo o grande fator de agregao da comunidade ribeirinha. (Carlos Eduardo Ribeiro Junior, presidente da Sociedade
Canoa de Tolda). A Luzitnia (chamada Rio Branco, na poca do cangao) transportava queijo, querosene, entre outros produtos,
considerada uma canoa sertaneja e voltou a navegar.37
Carrancas A carranca um elemento que integra a histria das embarcaes sanfranciscanas. A habilidade no trabalho com a madeira teve origem na poca da colonizao, quando os bandeirantes aprenderam com os indgenas da regio a esculpir canoas
rudimentares para deslocamentos fluviais. Tal habilidade deu origem a uma prspera indstria regional, com o aperfeioamento
da construo canoas e barcos de madeira. Segundo Paulo Pardal, nos tempos modernos, as nicas embarcaes populares de
povo ocidentais que apresentam figuras de proa de forma generalizada foram as barcas do rio So Francisco. interessante notar
a evoluo das esculturas de proa, das pequenas embarcaes primitivas aos navios de maior porte. Entretanto, a origem das
carrancas do So Francisco deve ter sido a imitao da decorao de navios de alto-mar, vistos nas capitais da Provncia da Bahia
e do Brasil, pelos pequenos nobres e fazendeiros do rio, em suas viagens civilizao. Devido ao isolamento em que viviam os
habitantes do Mdio So Francisco, foi criado em tipo de figura de proa indito em todo o mundo: peas de olhos esbugalhados,
misto de homem, com suas sobrancelhas arqueadas e de animal, com sua expresso feroz e sua cabeleira tipo juba leonina. 38
As carrancas eram figuras zooantropomorfas, ambguas, esculpidas em madeira, e colocadas na proa das barcas do So
Francisco. Essas figuras caracterizavam o tipo de embarcao mais comumente usada. O que no se conhece ainda a
verdadeira funo da carranca: mgica (poder de afastar o mal) ou decorativo. Francisco Guarany citou que as carrancas
protegiam os barqueiros contra animais do rio, especialmente os jacars e o surubim. Quanto ao motivo original das carrancas,
mais lgico poderia ser o que diz W. Lins: Acredita-se que os donos da barca tenham adotado o uso de figuras de proa como
meio de atrair a curiosidade da gente das fazendas sobre as embarcaes e, assim aumentar as possibilidades de negcios. Este
fato corroborado por Osrio Alves de Castro: a originalidade das carrancas era a principal preocupao dos proprietrios. 39
b. Expedies - O So Francisco apresenta dois trechos de desnveis importantes: um de Trs Marias a Pirapora - separando o Alto
So Francisco do Mdio - e o outro que separa o Mdio So Francisco do Baixo e vai de Sobradinho a Piranhas. Datam do Segundo
Imprio - 1850 - os primeiros estudos sobre o rio: a expedio do engenheiro alemo Guilherme Fernando Halfeld, contratado pelo
imperador Dom Pedro II, percorreu o rio de Pirapora (MG) foz, no Oceano Atlntico. Alguns estudiosos comparam o So Francisco
aos rios Nilo, Niger, Mississipi, Tennessee e outros devido sua importncia e potencial de explorao econmica, entretanto, a
maioria de sua populao enfrenta, ao longo dos sculos, problemas sociais crnicos: falta de empregos e baixa renda, ausncia de
saneamento bsico, educao precria e pssimo atendimento sade. O Nordeste vive, desde tempos remotos, entre enchentes e
secas. As enchentes causam prejuzos, mas fertilizam a terra; as secas destroem as plantaes, os animais, a vida.
Henrique Guilherme Halfeld (1852, 1853 e 1854) - Durante o Imprio, os estudos realizados por Liais e Halfeld foram os mais importantes, pela abrangncia e rigor tcnico. De 1909 a 1948, rgos do extinto Ministrio da Viao e Obras, dos
ministrios da Agricultura, da Educao e Sade e da Aeronutica realizaram estudos e obras no vale, dentro de suas respectivas
atribuies. No sculo XIX, a explorao do So Francisco ficou a cargo do gegrafo e engenheiro mecnico Henrique Guilherme
Fernando Halfeld, nascido na Alemanha e ex-participante da batalha de Waterloo, contra Napoleo Bonaparte. Naturalizou-se
brasileiro e lutou, ao lado do governo, na revoluo liberal de Minas Gerais, de 1842.
A pedido do Governo Imperial, representado pela figura de Dom Pedro II, organizou a primeira expedio realizada no So
Francisco, percorrendo-o de Pirapora foz, fazendo o levantamento de toda a regio, entre 1851 e 1854. Elaborou o Atlas e
Relatrio Concernente Explorao do Rio So Francisco, desde a Cachoeira de Pirapora at o Oceano Atlntico, editado em trs
volumes: Relatrio Descritivo, lgua por lgua (Vol. 1), Perfil Longitudinal (Vol. 2) e Cartas Topogrficas (Vol. 3), traando
particularidades do canal de navegao, o preferido pelas barcas que trafegavam na regio. Depois de Halfeld, o astrnomo
francs Emmanuel Liais percorreu, em 1862, o rio das Velhas e o Alto So Francisco e realizou um levantamento sobre a melhor
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO opo para a navegao e produziu o estudo Hidrografia do Rio So Francisco e Rio das Velhas.
Expedio Fluvial Amrico Vespcio (2001) - Realizada entre 11/11 a 14/12/2001, da nascente foz, pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do So Francisco e do Parnaba (Codevasf) partiu de Braslia em 2001, para informar s populaes
ribeirinhas sobre a importncia da preservao do rio e sensibiliz-las quanto aos problemas ambientais que afetam a regio.
Resultados: relatrios e diagnsticos alm da realizao de seminrios, palestras e audincias pblicas realizadas em cidades ao
logo de todo o percurso. A expedio integrou as comemoraes dos 500 anos de descoberta do rio So Francisco, , com apoio
dos ministrios do Meio Ambiente, da Integrao Nacional, Esportes e Turismo, e da Agricultura, Pecuria e Abastecimento.
Como resultado, apresentou amplo diagnstico itinerante e obteve dados para sua revitalizao, navegando um trecho maior do
que o percorrido por Halfeld, em meados do sculo XIX, e tendo a vantagem da tecnologia do Global Positioning System (GPS).
Pela primeira vez, uma expedio de carter nitidamente ambiental e cultural percorreu o rio So Francisco das nascentes foz e
os estudos realizados reafirmam que necessrio um plano multidisciplinar e abrangente, para resgatar as guas do rio So
Francisco aos usos mltiplos, deste que o principal manancial do Nordeste. A expedio Fluvial Amrico Vespcio encontrou,
prximas a Pirapora (MG), trs indstrias que enfumaam as margens do rio com a fabricao de ligas de alumnio e ligas
metlicas. Na gua, um grande volume de lixo - principalmente garrafas plsticas vindo dos afluentes mais poludos,
principalmente do rio das Velhas, que recebe detritos desde a capital mineira, Belo Horizonte. Apesar disso, nessa regio, o So
Francisco apresenta trechos com matas ciliares relativamente bem conservadas.
Expedio Engenheiro Halfeld - Em 2001 e 2002, foi realizada uma expedio que recebeu o nome do engenheiro alemo do sculo XIX e percorreu o rio em duas etapas a maior parte dos trechos navegveis do rio da nascente foz recolhendo
informaes, mas grande parte da viagem foi realizada por terra devido s condies de navegabilidade do rio. Essa expedio -
dividida em duas etapas (2001 e 2002) integrou a Campanha Rio So Francisco Patrimnio Cultural da Humanidade. O material
coletado foi encaminhado Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco) propondo a
declarao de patrimnio da humanidade com relao aos bens histricos, artsticos, culturais e naturais do rio So Francisco. A
campanha foi realizada pela Confederao das Associaes Comerciais do Brasil e executada pela Federao das Associaes
Comerciais, Industriais, Agropecurias e de Servios do Estado de Minas Gerais (Federaminas), com apoio da Petrobrs, do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama), Governo do estado de Pernambuco e
Ministrio da Integrao Nacional.
Expedies ao rio So Francisco tm sido realizadas, ao longo das ltimas dcadas, patrocinadas por organismos internacionais e
agncias financiadoras em acordos com governos estaduais e organizaes no governamentais. Os objetivos variam de
demarcao de roteiros tursticos recuperao dos permetros irrigados e reas de vrzea. Entre os projetos resultantes dessas
expedies esto a sinalizao e revitalizao do corredor fluvial do Baixo So Francisco, pela Companhia Hidreltrica do So
Francisco (Chesf) e a Fundao Delmiro Gouveia, para o uso turstico do Complexo da Usina de Angiquinho, a revitalizao da
rota fluvial-terrestre do cangao, da viagem do imperador Dom Pedro II. Os governos da regio tambm estudam condies de
visitao aos stios arqueolgicos regionais, e a proteo da foz do So Francisco que abriga rica biodiversidade de dunas e
mangues.
4. Chegada dos Trilhos: Ferrovias A alternativa navegao surgiu em 1894, quando foi inaugurada a primeira estrada de ferro
do Brasil, fato considerado a chegada do progresso e desenvolvimento econmico. Em 1896, vieram os trilhos da Estrada de Ferro
Juazeiro - Salvador, impulsionando o desenvolvimento da regio. No incio do sculo XX, em 1910, a Estrada de Ferro Central do
Brasil chegou Pirapora, ligando essa cidade a Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Pirapora tornou-se um importante entroncamento
hidroferrovirio, pois ali se inicia o trecho navegvel do Mdio So Francisco. Com o anncio da construo estrada de ferro
Petrolina-Terezina, na primeira dcada do sculo XX, esperava-se a dinamizao na economia local e da infaestrutura urbana. De
fato, a implementao do complexo ferrovirio (estao, armazns e funcionrios) a partir de 1919, impulsionou a expanso da malha
urbana nessa direo, incrementando o comrcio local e intensificando a vida sociocultural da cidade. A ferrovia trouxe o primeiro
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO exemplar arquitetnico de linguagem erudita e vigente nos primeiros centros urbanos: a Estao Ferroviria.40
Em 1905, havia nove estradas de ferro atravessando a Bahia, entre elas Estrada de Ferro Central da Bahia (316,6 km), a Estrada de
Ferro da Bahia ao So Francisco (123,3 km) e a Estrada de Ferro do So Francisco (452,3 km). O total de km de ferrovias alcanava
1.327,8 km, sendo que o governo federal era proprietrio de 974 km. A primeira construda no Estado, a partir a 1852, foi a Estrada
de Ferro da Bahia ao So Francisco. A concesso do governo mudou de controle duas vezes e at ser transferida para a empresa
Bahia and San Francisco Railway Company, instalada em Londres (Inglaterra). A Estrada de Ferro Central da Bahia, durante o perodo
de 1865 a 1902, partia de Cachoeira e So Flix para o interior da Bahia, com a linha principal dirigida Chapada Diamantina e
Feira de Santana. A empresa foi organizada pela iniciativa privada, mas, posteriormente, teve que ser encampada pelo governo
federal. Essa estrada, denominada, inicialmente, Paraguassu Steam Tram Road Company (1866) e, depois, Brazilian Imperial Central
Bahia Railway Company (1875), comeou a ser construda em 1867, com um trecho que ligava Cachoeira Feira de Santana. O
trfego definitivo somente foi aberto em 2 de dezembro de 1876.
A partir da dcada de 1950, com a prioridade dada ao transporte rodovirio, do sculo XX, durante o governo do ento Presidente da
Repblica, Juscelino Kubitschek nmero de embarcaes que circulam no rio foi reduzido drasticamente. Outro fator que contribui
para essa subtrao o assoreamento do rio e a construo de usinas hidreltricas no seu curso, o que reduz a rea navegvel. O
sistema de transportes do vale conta com a participao das modalidades rodoviria, ferrovirio, hidrovirio, aerovirio e intermodal.
So cerca de 1.900 km de ferrovias, quase todos em bitola mtrica. Belo Horizonte se destaca como um importante terminal,
conectando-se com So Paulo, Rio de Janeiro, Braslia, Salvador e Vitria. A ferrovia Belo Horizonte-Salvador, incluindo o ramal
Corinto-Pirapora, percorre quase 1.000 km dentro do vale, ligando a capital mineira com Sete Lagoas, Montes Claros, Janaba e
Monte Azul, todas no norte de Minas. Seguem, em importncia, a ferrovia Salvador-Senhor do Bonfim-Juazeiro/Petrolina e a ferrovia
Salvador-Recife.
Devido sua importncia no contexto hidroferrovirio, tornou-se necessrio criar uma ligao direta entre o porto de Pirapora e o sul
do pas. A ligao do rio com o interior de Minas era realizada pelo rio das Velhas, via Sabar. As mercadorias exportadas pelo Rio de
Janeiro para a regio do rio das Velhas, Paracatu, parte do Mdio So Francisco e procurava aumentar a sua participao comercial na
regio, sobretudo por via ferroviria. A idia de construir uma ligao frrea entre o Rio de Janeiro e os rios das Velhas e So
Francisco tinha como objetivo fazer do Rio de Janeiro porto de embarque para a produo do Mdio So Francisco. Segundo Fernando
Matta Machado, a crena bsica na poca era de que as terras marginais do Mdio So Francisco fossem de uma fertilidade
espantosa; a opulncia da regio cristalizou-se em idia fixa; somente uma minoria no acreditava existirem ali riquezas desmedidas.
A maioria convenceu-se de que, se meios de transporte rpidos colocassem a produo sanfranciscana em contato com o mar, o
desenvolvimento econmico se expandiria de forma admirvel. A via frrea propiciaria ao Rio de Janeiro tomar posse daquelas
riquezas e, para isso, pretendiam que a navegao a vapor a jusante de Pirapora funcionasse interligada com o porto da Corte,
atravs da linha de ferro.
Tipos Humanos da Cultura Sanfranciscana
Drede Joca Ramiro esto de braos cruzados, o chapu dele se desabava muito largo.
Dele at a sombra, que a lamparina arriava na parede, e transpunha diversa, na imponncia, pojava volume. (...) Vi que era homem gentil. Dos lados, ombreavam com ele dois jagunes.
Joo Guimares Rosa,
em Grande Serto: Veredas. Rio de Janeiro, 1956.
O jaguno menos teatralmente herico; mais tenaz; mais resistente; mais perigoso; mais forte; mais duro. Raro assume esta feio romanesca e gloriosa.
Procura o adversrio com o fim propsito de o destruir, seja como for.
Euclides da Cunha, em Os Sertes (I). So Paulo, 1902,
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
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MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO 5. O Homem do Vale do So Francisco41 O So Francisco teve sua ocupao estimulada pela descoberta do ouro, pela
escravatura e pelas pastagens de gado. Embora a ocupao do territrio tenha se estabelecido inicialmente no litoral, as margens do
Velho Chico foram adentradas por exploradores em busca de escravos para trabalhar no litoral desde 1553 . Mais tarde surgem os
currais para criao de gado, que representa um fator fundamental de ocupao na regio. Essa indstria pastoril foi a base da
riqueza da regio at fins do sculo XVII . Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais em 1690 e posteriormente do diamante em
1729 h um fluxo intenso de pessoas que faziam a corridas para as minas. Isso intensificou o comrcio de gado e produtos vegetais
na regio.
Os grupos populacionais mais expressivos na regio, os barranqueiros e os caatingueiros, avaliando as repercusses na estrutura
produtiva e nas relaes de trabalho. Os barranqueiros estavam relacionados com a pesca, agricultura de margem de rio e outras
atividades ribeirinhas. Demonstraram interesse de serem realocados prximo s margens do novo lago, desconhecendo que o solo
no seria adequado para a antiga prtica agricultvel deles. Alm disso, uma alterao no ecossistema aqutico no lago iria modificar
tambm sua atividade pesqueira . Do outro lado, os caatingueiros que ocupavam um solo rido e estril dependiam de uma
pecuria extensiva e de fragilidade econmica, pois as pastagens eram precrias mesmo em estaes chuvosas. Estes perderiam as
veredas e vazantes, que iriam desaparecer com a construo da barragem.
Inclusive porque a baixa escolaridade e qualificao profissional de muitos ribeirinhos dificultaram a reinsero dos mesmos em outra
fatia do mercado de trabalho. Foi recomendado tambm um controle especfico de preveno esquistossomose doena transmitida
por caramujo comum na regio que seria alagada . As sedes municipais de Sento S, Casa Nova e Remanso foram totalmente
submersas. A populao afetada representaria 43% da populao total dos municpios atingidos. A economia da regio era constituda
pela agropecuria . Remanso possua uma atividade comercial atacadista e era o nico municpio que possua Posto Mdico, com
assistncia permanente, operado pela Fundao SESP . 74% das 3.219 moradias de que dispunham as cidades estavam em situao
precria. Ou seja, o piso de cho batido, paredes de taipa ou sopapo, sem instalaes sanitrias. Ligadas rede de gua
encontravam-se 32% das habitaes e destas 26% dispunham de energia eltrica geradas por usinas a diesel.
Ao longo da histria, no Vale do So Francisco a posse da terra e o controle poltico local eram os principais elementos causadores dos
conflitos na regio. Quanto ao uso da gua, a situao era tranqila, visto que as atividades econmicas desenvolvidas no vale at
ento no exigiam o aproveitamento da gua de forma to intensa como ocorre atualmente. Apesar da estreita relao que
moradores da regio tinham com o rio, o uso da gua, para o consumo domstico, pecuria, cultura de vazante, pesca e navegao,
era modesto demais. 3 A preocupao com a gua chegou ao mesmo tempo com a construo de barragens e usinas hidreltricas,
rio So Francisco. Milhares de pessoas foram retiradas de reas onde viveram e onde esto enterrados seus ancestrais. Os crticos do
processo afirmaram que em boa parte dos casos, a remoo se realizou sem devidos cuidados, o que provocou enormes prejuzos
materiais, morais, emocionais e culturais da populao dessas reas. Sem contar dos danos ambientais, apesar dos cuidados das
empresas responsveis por tais empreendimentos.
a. Cangaceiros - O cangao nasce nas investidas dos exploradores que desbravavam os sertes na caa de ndios . Desde o incio da
colonizao brasileira nosso territrio transformado em palco de guerrilhas e assaltos. Em 1674, no vale do rio So Francisco, h o
registro de um assassinato, de D. Rodrigo Castelo Branco , demonstrando que desde o incio de sua ocupao as terras ribeirinhas
eram cenrios de guerras, disputas e matanas truculentas. Quando os colonizadores se retiraram da regio sanfranciscana foi o
momento em que o vale ficou entregue a si mesmo, e se consolidou o caudilhismo. A populao sofria ora com a seca que destrua
plantaes ora com as cheias do rio. Os sertanejos ribeirinhos viviam em situao muito precria e realizavam assaltos e saque
para tentar driblar a misria. Nesse contexto, as pessoas providas de bens materiais e terras passam a contratar servio de homens
armados, para propiciar a defesa dos ataques. O banditismo foi inaugurado por pessoas empobrecidas, sem trabalho que assaltavam
rebanhos e roados para tentar se defender.
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
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MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO Conviviam no Brasil, portanto, esses dois grupos armados que se posicionavam em lados distintos. Havia diversos conflitos neste
perodo. Como revoltas populares e disputas de poder local. Cada localidade tinha seu prprio exrcito armado, o que tornava a
regio um terreno propcio para os conflitos. Antes da Independncia a navegao feita no So Francisco era em canoas construdas
pelos ndios em troncos de rvores cavados a fogo, e aps foram introduzidas as barcas, que surgiram depois de 1823 . Quando
Antnio D, o manda-chuva da cidade mineira de So Francisco da Areia, mandou espancar um seu amigo de infncia, pelo crime de
ter dado um piparote em sua barriga, por brincadeira, o fez em desagravo sua autoridade de chefe absoluto. Ainda em nosso sculo
existiam, no vale, figuras curiosas de mandes arbitrrios, cujos abusos nem sempre eram justificveis, como no caso daquele
poderoso senhor das Pedras, de nome Jos Correia de Lacerda, que foi deputado estadual e ditava ordens meia dzia de chefes do
Mdio So Francisco. At hoje so famosas as arbitrariedades desse senhor feudal.
b. Barqueiros - Com o declnio da minerao, a bacia do So Francisco entrou em prolongada letargia. Os grandes proprietrios
tomaram posse de terras devolutas e formaram fazendas enormes, onde se dedicavam pecuria extensiva e ao plantio de cana-de-
acar para a explorao de engenhos de aguardente e rapadura. Os posseiros e pequenos proprietrios desenvolveram uma
agricultura de subsistncia nos brejos, nas vrzeas e nas ilhas, combinando-a com a pesca e a caa. Essa agricultura de vazante e o
aproveita-mento de reas agrcolas de sequeiro ativaram o comrcio entre as cidades ribeirinhas, surgindo uma figura que por muito
tempo impulsionou o desenvolvimento das cidades-plo: o barqueiro. Essa figura singular, descendo os rios afluentes com suas
barcas carregadas de produtos da terra, alcanava o So Francisco, da subindo para Pirapora ou descendo para Juazeiro, e retornava
com produtos industrializados. A rapadura, a banha de porco, o algodo, as peles silvestres, a aguardente e muitas outras
mercadorias eram levadas das fontes locais de produo; dos grandes centros retornavam o caf, o querosene, o lcool, a gasolina.
Esses heris annimos serviam tambm de correio, transportando a correspondncia e trazendo as notcias das capitais e das outras
comunidades.
c. Barranqueiros e Caatingueiros - A mudana, dramtica para grande parte das populaes da regio, afetou grupos
populacionais expressivos - barranqueiros (relacionados pesca, agricultura de margem de rio e outras atividades ribeirinhas,
demonstraram interesse de serem realocados prximos s margens do novo lago, desconhecendo que o solo no seria adequado para
a antiga prtica agricultvel deles e, alm disso, uma alterao no ecossistema aqutico no lago iria modificar tambm sua atividade
pesqueira) e os caatingueiros (ocupavam um solo rido e estril, dependiam de uma pecuria extensiva com fragilidade econmica,
pois as pastagens eram precrias mesmo em estaes chuvosas; perderiam as veredas e vazantes, que iriam desaparecer com a
construo da barragem). Assentado em terra como fornecedor, estava o barranqueiro, pescador e agricultor, posseiro, meeiro ou
pequeno proprietrio, em convivncia, nem sempre pacfica, com o grande fazendeiro e senhor poltico dos municpios
d. Tropeiros - O tropeiro foi, at o fim do sculo XIX, o principal meio de abastecimento da vastido do interior brasileiro. Os
tropeiros tambm exploraram os escravos, que carregavam suas mercadorias pelos sertes adentro. Com a abertura de caminhos
ligando vilas e cidades, o tropeiro passou a utilizar a tropa de mulas, para as viagens que duravam semanas e meses. Partiam,
principalmente do Rio de Janeiro e de So Paulo, levando mercadorias para os sertes de Minas Gerais, Gois e Mato Grosso, onde os
resultados da minerao facilitavam o lucro daqueles que chegavam com todo o tipo de produtos para vender. Tal trabalho passou a
ser um empreendimento de lucros altssimos, muitas vezes maiores do que os dos prprios mineradores visto que estes dependiam
dos tropeiros. Segundo Srgio Buarque de Holanda, houve, em 1754, uma tropa que pode ser considerada a maior j registrada:
3.780 mulas fizeram o percurso do Rio Grande do Sul s Minas Gerais. Esses lucros possibilitaram a ascenso social dos tropeiros que
passaram a ostentar smbolos de riqueza (...). Os tropeiros so encontrados nas razes de diversas famlias importantes dos estados
de So Paulo e Minas Gerais.
Na regio do Vale do So Francisco aos tropeiros eram peas fundamentais para o acesso aos bens essenciais. Para completar o
comrcio da regio, o tropeiro conduzia a sua tropa de carga abarrotada de mercadorias, trazidas dos rinces mais interiores do pas -
Piau e Gois, por exemplo - para as cidades-plo ao longo do rio. Ali se processava o intercmbio do produto nativo pelo
industrializado oriundo, normalmente, de So Paulo, via Pirapora, retornando "em lombo de burro" para as comunidades mais
distantes. Os tropeiros representaram significativo papel na formao da sociedade sanfranciscana: comerciando, intermediando
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1. IDENTIFICAO 1.1.Recorte Territorial (Identificao da regio estudada)
BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO 1.2. Recorte Temtico (Identificao do estudo)
INVENTRIO DE CONHECIMENTO DO PATRIMNIO MATERIAL 1.3. Identificao do Universo/ Objeto de Anlise
MUNICPIOS DA CALHA DO RIO SO FRANCISCO negcios, aviando encomendas e receitas, servindo de emissrios oficiais e at de correio.
e. Vaqueiros e Remeiros - Os vaqueiros e os remeiros povoaram o Vale do So Francisco nos seus eternos combates contra as
secas e inundaes, que ameaavam a existncia dos rebanhos, ou contra as corredeiras e cachoeiras que interceptavam as
comunicaes. O So Francisco, em ciclos mais ou menos regulares, quando as chuvas torrenciais se generalizam pelas suas
cabeceiras e pelos seus afluentes, arrasta massa dgua colossal que inunda todo o vale, alargando-se por dezenas de quilmetros e
carregando, nas suas catadupas, currais e habitaes (pg. 41). (...) No baixo So Francisco, principalmente entre Juazeiro e Jatob,
a navegao das barcas, obra de tits. s vezes, para atravessar os peraus, a longas varas mal alcanam o fundo e os tripulantes,
apoiando os ps nas bordas, mergulham o ronco na gua para impulsionar a barca, fazendo-a vencer a corrente.42
f. Quilombolas - Tanto os indgenas quanto os africanos resistiram e lutaram contra a escravizao. Uma dessas formas de
resistncia negra foi a formao de quilombos, que eram comunidades de foragidos. Essas comunidades poderiam chegar a ter
milhares de habitantes. Um dos exemplos mais conhecidos na histria do Brasil o Quilombo dos Palmares, que transformou Zumbi
o ltimo rei de Palmares um smbolo da resistncia negra at os dias atuais. Em 1630 a capitania de Pernambuco foi invadida por
holandeses, e, aproveitando a confuso instalada entre estes e os portugueses, muitos escravos fu
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