IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”
Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5
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GRUPO ESCOLAR DR. THOMAS MINDELLO: SÍMBOLO DE MODERNIZAÇÃO DO ENSINO PRIMÁRIO NA PARAHYBA DO NORTE
Rosângela Chrystina Fontes de Lima1 [email protected]
(UFPB)
Resumo
O estudo aqui apresentado objetivou investigar sobre uma significativa instituição escolar, que foi inovadora, criada no início do período republicano ‐ o Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello, no contexto do processo de modernização do ensino da cidade da Parahyba e posteriormente João Pessoa, no período de 1916 a 1935. Adotamos uma metodologia que manteve durante toda a sua narrativa o entendimento da relação entre o geral e o particular, seja nos aspectos relativos ao movimento da história da educação brasileira, seja na especificidade paraibana. A análise e a interpretação das fontes documentais coletadas e a conseqüente construção do conhecimento acerca da instituição escolar e suas singularidades, e, conseqüentemente, de uma parcela significativa da nossa história educacional, fundamentaram‐se em uma perspectiva crítica e problematizadora, aportados na abordagem teórica concebida no âmbito do que os historiadores passaram a denominar de História Social, tomando por empréstimo os referenciais propugnados por Hobsbawm. O corpus documental foi composto de fontes secundárias (bibliografias concernentes à temática) e primárias coletadas no Arquivo Histórico da Paraíba, da Fundação Espaço Cultural ‐ FUNESC; no setor de obras raras da Biblioteca Central da UFPB; no Arquivo das Escolas Extintas, referente à 1ª Região de Ensino, e no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP). Toda a documentação consultada nos apontou para o entendimento de que o referido Grupo Escolar se constituiu em um núcleo disseminador das novas práticas escolares, e um modelo que deveria ser seguido pelas demais instituições de ensino primário na Parahyba do Norte. Ao adentrarmos na discussão em torno das iniciativas empreendidas pela Diretoria do Ensino para difundir as novas práticas pedagógicas, baseadas nos pressupostos da Escola Ativa, considerando, por conseguinte, a história do referido grupo escolar, verificamos que esse foi marcado por ser uma instituição disseminadora da pedagogia renovada, visto que nele se instalaram as instituições auxiliares de ensino Palavras‐chave: Grupo escolar. Modernidade. Escola Ativa. Instituições Auxiliares de ensino.
Introdução
Esse artigo é resultante de um recorte da dissertação de Mestrado intitulada “Grupo
Escolar Dr. Thomas Mindello e a cidade: espaços de difusão dos ideais modernos (1916‐1935),
defendida em 2010 no Programa de Pós‐Graduação em Educação – PPGE/UFPB.
Inicialmente, o interesse em investigar o Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello2 surgiu de
reflexões, questionamentos e recortes revelados no transcorrer da Pesquisa de Iniciação Científica
1 Mestre em Educação (2010), Doutoranda em Educação PPGE/UFPB.
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– PIBIC (pesquisa financiada pelo CNPq), do qual participei na condição de bolsista. Tal pesquisa
intitula‐se: “Grupos Escolares na Paraíba (1916 – 1929): subsídios históricos para proposta de
tombamento”, que ocorreu no período de agosto de 2004 a agosto de 2006. Daí surgiu nosso
primeiro contato com a temática acerca dos grupos escolares, despertando‐nos especial interesse
pela supracitada Instituição.
Assim, a pesquisa que resultou neste trabalho é recorte da dissertação de Mestrado em
andamento, intitulado provisóriamente: Grupo Escolar “Dr. Thomas Mindello” e a Cidade:
compassos e descompassos entre a tradição e a modernidade, de caráter histórico documental,
baseada em fontes primárias e secundárias que nos possibilitaram revelar alguns traços da história
dos grupos escolares e o contexto sócio‐político, econômico e cultural da época em estudo e
particularmente, a criação do primeiro Grupo Escolar paraibano.
Sendo assim, constituiu‐se fundamental o levantamento e análise de fontes primárias
coletadas no arquivo público do Estado da Paraíba, localizado na Fundação Espaço Cultural –
FUNESC e no Instituo Histórico e Geográfico da Paraíba ‐ IHGP. Sendo que no primeiro Arquivo,
nos detemos particularmente nos periódicos do Jornal “A União”, imprensa oficial3 do Estado. No
IHGP, focamos a nossa atenção nos periódicos do Jornal Diário do Estado, que circulou
prioritariamente na Capital do Estado da Parahyba do Norte. Ainda no IHGP, encontramos alguns
exemplares do Jornal “O Educador”, que possuiu curta circulação, apenas no ano de 1922.
Em síntese, entre idas e vindas aos arquivos, podemos assegurar que o trabalho neles
desenvolvidos,
[...] é, de fato, interessante, e todo historiador que entra por essa seara não se cansa de repetir como os momentos passados em arquivos são agradáveis. [...] O abnegado historiador encanta‐se ao ler os testemunhos [...] Com o passar dos dias, ganha‐se familiaridade, ou mesmo certa intimidade, com [...] personagens que se repetem nos papeis. [...] Os personagens parecem ganhar corpo, e é com tristeza que, muitas vezes, percebe‐se que o horário do arquivo está encerrado,
2 Na documentação consultada constatamos que a nomenclatura do referido grupo escolar apresenta gráfia diversa, podendo se apresentar como: Dr. Thomas Mindello; Dr. Thomás Mindello; Dr. Thomaz Mindello. Em virtude dessa panáceia (o nome Thomas ora apresenta o uso do s, ora do z, sendo acentuada ou não) achamos por bem padronizar no nosso trabalho a gráfia do grupo escolar utilizando como critério de escolha a forma empregada na fachada original do grupo escolar, sendo: Grupo Escolar “Dr. Thomas Mindello”.
3 O termo oficial é utilizado aqui para designar os documentos e instituições provenientes do poder público.
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que precisamos fechar os documentos e partir [...] essa é a vida da pesquisa: dura, cansativa, longa, mas gratificante acima de tudo (BARCELLAR, 2008, p. 24).
Assim, a construção do conhecimento histórico do Grupo Escolar “Dr. Thomas Mindello”
que aqui empreendemos está assentada numa perspectiva analítica que leva em consideração
tanto as informações que foram obtidas nas mais variadas fontes, quanto às leituras e análises
produzidas pela historiografia recente.
Antecedentes da criação do primeiro grupo escolar paraibano
Antes de adentrarmos na análise mais aprofundada dos antecedentes da criação e
posterior inauguração do primeiro grupo escolar paraibano cabe aqui tecermos algumas breves
considerações acerca do surgimento desse novo modelo escolar. Assim, a escola graduada/ e ou
grupo escolar surgiu na Europa seguindo um movimento de modernização educacional que
conferia identidade própria para a escola, bem como, conferia as cidades que abrigavam essa nova
instituição escolar um ar de modernidade que se refletia na construção de grandes edifícios. No
Brasil, essa nova organização escolar, surgiu primeiramente no Estado de São Paulo, no ano de
1894.
A escola primária, ainda sob égide do modelo organizacional das escolas e/ou cadeiras
isoladas, trazia em si uma feição antiga, que remontava ao período imperial. Logo, dentro do
projeto educacional republicano, fazia‐se necessário demover da memória quaisquer vestígios do
antigo regime, imputando a este, todos os malefícios e atrasos dos quais sofrera nossa educação,
ou seja, era necessário apagar o passado ou, quando não possível, ao menos descreditá‐lo. Assim,
era necessário que o “novo” se estabelecesse, favorecendo ao mesmo tempo a definição da ideia
de nacionalidade, conseqüentemente a construção da nossa “brasilidade”, e nada mais concreto e
sólido que o grupo escolar, uma vez que na sua grande maioria esses grupos foram projetados
com beleza e monumentalidade.
Criar um grupo escolar tinha um significado simbólico muito maior que a criação de uma escola isolada, cuja precariedade mais se assemelhava às condições das escolas públicas do passado imperial com o qual o novo regime queria romper. Em certo sentido, o grupo escolar, pela sua arquitetura, sua organização e suas finalidades aliava‐se às grandes forças míticas que compunham o imaginário social
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naquele período, isto é, a crença no progresso, na ciência e na civilização (SOUZA, 1998, p. 91).
Na Parahyba do Norte, a implantação do primeiro grupo escolar, objeto particular deste
trabalho, de acordo com Pinheiro (2002), foi idealizado como instituição autônoma, que remete
ao ano de 1908, ano em que o presidente do Estado, em mensagem enviada à Assembléia
Legislativa, ressaltou a necessidade de se realizar uma reforma na instrução pública. Apontando
assim, a importância da criação dos grupos escolares para a “moderna educação”:
Seria [...] de grande vantagem e faço votos para que o meu honrado successor adopte o mais depressa possivel a recommendada e utilissima instituição dos grupos escolares, reforma que tão largos e fundos beneficios tem produsido nos Estados que a introdusiram, como o mais proveitoso dos systemas de ensino até hoje conhecido. (Parahyba do Norte, Estado da. Mensagem de 1908, p. 13).
Também em 1909, o mesmo presidente já propunha para a Parahyba do Norte uma
contínua substituição das “[...] escolas comuns estaduaes pelos grupos escolares que são
instituições mais perfeitas e efficazes para a educação primária”.4
O discurso da elite paraibana sobre a necessidade da criação de grupos escolares no
Estado reportava‐se ao fato de outros Estados do Brasil já terem, há alguns anos, iniciado o
processo de implantação e expansão dessas unidades escolares, consideradas instituições de
ensino mais úteis, 5 por ser “[...] incontestavel a superioridade que decorre desses institutos sobre
as escolas isoladas, na diffusão do ensino popular”6.
O desconforto com tal situação pode ser observado no relatório do Diretor Geral da
instrução pública enviado ao Presidente do Estado:
Como fiz sentir com meu relatorio anterior, a instituição dos grupos escolares, embora com organização modesta, conformadas ás condições financeiras do Estado, será de maior utilidade para o ensino popular do que as escolas isoladas. Nesses institutos em que terão de funccionar três ou mais escolas com um só prédio, conforme a população escolar da localidade, os respectivos professores serão mais estimulados no desempenho de seus deveres, pelo contacto interino em que se acham. A direcção e fiscalização serão mais fáceis e efficazes, assim aggrupadas todas as escolas.
4‐ Ver, na Mensagem de 1909, a lei nº 313, de 18 de outubro de 1909, que autorizou o poder executivo a instituir grupos escolares nos municípios (p.22).
5‐ Id., Ibid., p. 23. 6‐ Ver Mensagem de 1910, p. 17‐18.
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Esses institutos estão sendo estabelecidos, reconhecida sua incontável superioridade, em diversos estados do paiz, nomeadamente o do Rio Grande do Norte, onde já funccionam creio que dez, nos moldes do typo adaptados na precitada lei nº 313. 7
Afinal, no estado vizinho, Rio Grande do Norte, como afirmava o então Diretor Geral da
Instrução Pública, as municipalidades eram precursoras na construção de prédios e adoção de
material escolar adequado, enquanto que a Parahyba encontrava‐se à margem da modernidade
escolar, contando com um sistema arcaico de ensino. Para ele, o indispensável para a regular
instalação dos grupos escolares seria prédios apropriados, isto é, construções não
necessariamente suntuosas, mas simplesmente cômodos com boas condições de higiene.
Nesse sentido, a pesquisa sobre a gênese e a história dos grupos escolares, verdadeiras
“vitrines” da República no Brasil, vêm mostrando como a reunião de escolas isoladas foi aclamada
como uma fórmula mágica para resolver os problemas do ensino primário (SOUZA, 1998, p. 39).
No início, as escolas isoladas deveriam ceder lugar, tanto na memória como na realidade espacial,
para os grupos escolares, mais racionais e abrangentes (FARIA FILHO, 1998).
A instalação do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello
O primeiro grupo escolar paraibano foi criado em 1916, pelo decreto nº 778 de 19 de
julho. Recebeu o nome do intelectual e político paraibano Dr. Thomas de Aquino Mindello,
professor conceituado pela elite e apontado pela imprensa local como sendo o principal
reformador do “Lyceu Parahybano”, fato este que, justificou a homenagem prestada pelo governo
ao estado da Paraíba, em sugerir seu nome como patrono do novo estabelecimento de ensino.
O sr. dr. Thomáz Mindello referiu haver‐se sinceramente excusado a consentir que o seu nome patrocinasse o referido grupo, lembrando, em diversas ocasiões, em substituição, os de Eugenio Toscano, Cardoso Vieira, Gama e Mello, Epitácio Pessôa, Álvaro Machado, etc., além de outros, capazes da distinção, por merecimentos intrínsecos e serviços à Parahyba [...] como justificativa da homenagem, a remodelação praticada no Lyceu Parahybano, a qual, porém, declarou, modestamente, ser devido ao sr. dr. Castro Pinto, que lhe dera mão forte para sua execução (A UNIÃO, 10/07/1916).
7‐ Documento do Arquivo Histórico da Paraíba ‐ FUNESC, caixa 009, 1910.
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O período entre a criação oficial do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello e a sua
inauguração ocorreu em um curto espaço de tempo, uma vez que, aguardou‐se apenas o período
necessário para a entrega do edifício à Diretoria Geral da Instrução Pública.
Figura 01: Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello após a reforma e ampliação em 1931. Fonte: Stuckert Filho, 2004, p 169.
O grupo escolar foi instalado no prédio construído pelo arquiteto italiano Pascoal Fiorillo
e foi adquirido na administração do Coronel Antonio da Silva Pessôa, 1º vice‐presidente do Estado.
Verifica‐se, porém, que há divergências quanto à compra do prédio e a sua adequação
para o funcionamento do grupo escolar. Há registros de jornais que elogiavam a compra do imóvel
e outros que levantaram uma série de críticas e denuncias à administração e idoneidade do
governo do Cel. Antonio da Silva Pessoa.
Foi muito caro o prédio para o Grupo Escolar Thomáz Mindello. É tamanha a miséria de prédios públicos para as escolas nesta capital e no interior, que estávamos quase a elogiar a compra feita pelo governo do novo edifício da praça Pedro Américo, para nele ser instalado o Grupo Escolar Thomáz Mindello. Mas o prédio não vale mais de 40 contos de réis, e foi comprado por 52 contos. Foi carissimo. [...] Parabéns ao operoso arquiteto, Sr. Paschoal Fiorillo por ter encontrado quem advogasse, maneirosamente, esse negócio da China, juntos aos próceres situacionaistas. Pena é que não vão as algibeiras do Sr. Paschoal os bons lucros dessa compra. Não queremos dizer que o Sr. Antonio Pessoa também vá comer qualquer coisa, mas podemos garantir que foi explorada a boa vontade de
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s. exc. para a fundação do primeiro grupo escolar paraibano (DIÁRIO DO ESTADO, 23/07/1916).
Contrariando a informação citada acima, outro jornal da capital, apresentou versão
diferente sobre o fato, isto é, que o estado economizou a quantia de quatro contos de réis para os
cofres públicos.
O sr. Presidente, completando o seu pensamento de homenagear ao sr. dr. Thomáz Mindello, colocando o novo instituto sob o patrocínio do seu nome, decidiu ontem a aquisição para o Estado do prédio do sr. Paschoal Fiorillo, sito à praça do Thesouro. Firmando‐se no laudo dos peritos nomeados que estimaram em cinqüenta e seis contos aquella construção, o sr. cel. Antonio Pessôa contractou a compra por cincoenta e dois e já expediu para se lavrar hoje, no contencioso do Thesouro, o respectivo contracto. (A UNIÃO, 22/07/1916).
Percebe‐se, portanto a controvérsia acerca da compra do imóvel no qual passou a
funcionar o primeiro grupo escolar paraibano. Enquanto um jornal, provavelmente, crítico ao
governo denunciava que os cofres públicos perdera aproximadamente 12 contos de réis, outro
ressaltava que o estado havia, economizado 4 contos de réis. No entanto, é preciso destacar que,
o Sr. Manuel Tavares Cavalcanti, então Diretor Geral da Instrução Pública era, também, redator
chefe do Jornal A UNIÃO. Nesse sentido, essa polêmica fortalece a crítica elaborada por
historiadores de que não há neutralidade nas fontes. Conforme Carr (1978, p. 18):
Nenhum documento pode nos dizer mais do que aquilo que o autor pensava − o que ele pensava que havia acontecido, o que devia acontecer ou o que aconteceria, ou talvez apenas o que ele queria que os outros pensassem que ele pensava, ou mesmo apenas o que ele próprio pensava pensar. [...] Os fatos, mesmo se encontrados em documentos, ou não, ainda têm de ser processados pelo historiador antes que se possa fazer qualquer uso deles [...].
O Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello deveria sobremaneira servir de modelo a ser
seguido para as demais instituições de ensino primário, entretanto, segundo o Jornal Diário do
Estado (23/07/1916) o edifício não atendia:
[...] as necessárias condições de capacidade para preencher as exigências da higiene exalar, trata‐se de uma construção que de nenhum modo se presta ao funcionamento de uma escola e, muito principalmente, de um grupo que deve conter maior número de alunos. Assim não se justifica, de nenhuma forma, o sacrifício do Tesouro, adquirindo, por tão alto preço uma casa imprópria para servir de modelo as demais escolas primárias do Estado (DIÁRIO DO ESTADO, 23/07/1916).
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A má impressão demonstrada na nota acima, com relação ao prédio do primeiro grupo
escolar paraibano e sua inadaptabilidade ao fim que se destinava também pode ser conferida
indiretamente na imprensa oficial do Estado, na qual, divulgou em suas páginas (Parte oficial que
corresponde hoje ao Diário Oficial) a necessidade de cumprimento de contrato do arquiteto
responsável, no caso Pascoal Fiorillo, no tocante ao termino de algumas adaptações pendentes no
edifício do grupo escolar:
Expediente do govêrno do dia 18 de maio de 1917. Officios: Ao Sr. Dr. director das obras publicas. Remettendo‐vos, com a representação do Sr. Dr. director do grupo escolar “Dr. Thomáz Mindello” o incluso officio sob. Nº. 180, datado de 14 do corrente mez, dirigido a esta Presidencia pelo Sr. José Francisco de Moura, director geral da Instrucção Publica, e da Escola Normal recommendando‐vos que providencies no sentido do architecto Pascoal Fiorillo, realizar o serviço de que trata o mencionado officio, visto o mesmo profissional se ter obrigado a fazel‐o quando vendeu ao govêrno do Estado, o prédio em que funcciona o alludido grupo. (Jornal A União, 20/05/1917, p. 3).
Verificamos, que mesmo a Imprensa oficial do Estado se viu obrigada a divulgar as
pendências de ordem estrutural do edifício escolar, o que legitima as denúncias anteriores feitas
quanto a real condição do edifício para abrigar um grupo escolar.
Inicialmente, o Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello foi constituído com três cadeiras e/ou
escolas, sendo: uma mista (para ambos os sexos), e as outras duas, para o sexo masculino e
feminino. A mista ficou a cargo de dona Julita Ribeiro, a do sexo masculino sob a responsabilidade
do Sr. Sizenando Costa e a do sexo feminino com dona Maria Isabel Dantas. A direção do primeiro
grupo escolar da Paraíba coube ao Dr. João Alcides Bezerra, que também exercia a função de
Inspetor Geral do Ensino.
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Naquele momento histórico educacional, ser professor de grupo escolar configurava‐se
referente ao ensino primário como uma verdadeira ascensão na carreira do magistério,
comparando‐se em termos comparativos ao status de ser professor do ensino secundário tanto do
Lyceu Parahybano e da Escola Normal. Nesse sentido, os professores que atuaram no grupo
escolar eram considerados autoridades de ensino. Além disso, alguns intelectuais paraibanos que
Figura 2: Julita Ribeiro, Professora Fundadora do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello. Fonte: FREIRE, 1982, p. 191.
Figura 3: Professora Maria Isabel Ramos (D. Maroquinha). Foi uma das fundadoras do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello e do Instituto São José. Fonte: A União, 4 fev. 1940, p. 8
Figura 4: João Alcides Bezerra Cavalcanti, 1º Diretor do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello, e Diretor Geral da Instrução Pública entre 1916 e 1921. Fonte: Jornal “O EDUCADOR”, 01 nov. 1921, s/p.
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se destacaram pela forte atuação na educação e na política local/nacional no início da década de
1910 até fins da década de 1920, foram alunos do grupo escolar.
A solene inauguração do primeiro grupo escolar paraibano
Quanto à festividade de inauguração do primeiro grupo escolar paraibano, ocorrida em
09 de setembro de 1916, foi amplamente divulgada pela imprensa local, merecendo destaque as
presenças do presidente em exercício do Estado, Cel. Antonio Pessôa; do Arcebispo
Metropolitano, o Exmo. Sr. D. Adaucto, que fez a bênção do edifício e se fez acompanhar dos Srs.
Monsenhor Odilon Coutinho e padre João Bezerril; contou também com a presença do Dr. Manuel
Tavares Cavalcanti, diretor geral da instrução pública, bem como de muitos professores,
professoras e intelectuais da sociedade paraibana.
A solenidade teve selecto e numeroso comparecimento dos corpos docentes e discentes, em quasi a sua totalidade, da Escola Normal, do grupo annexo a esse estabelecimento e do Lyceu Parahybano, estiveram presentes senhoras e senhoritas de nossa melhor sociedade, altas auctoridades professores públicos e particulares, magistrados, médicos, advogados, jornalistas, etc. (A UNIÃO, 10/07/1916).
A inauguração contou ainda com a execução de uma programação, na qual, todas as suas
partes foram cuidadosamente ensaiadas e, com sucesso realizado pelas professoras e alunos da
Escola Normal e grupo escolar modelo2 anexo ao supracitado estabelecimento de ensino. Toda a
organização do programa intitulado: “Bênção do edifício” foi supervisionada e minuciosamente
elaborada pelo diretor geral da instrução pública, Dr. Manuel Tavares Cavalcanti. Na seqüência,
após a bênção do edifício e do magistral discurso do diretor da instrução pública, seguiu‐se o
programa, iniciado com o hasteamento da bandeira nacional e concluído com o hino nacional3,
2 Nesta data, que não é a de sua fundação, o “Grupo Escolar Modelo” que funcionava como anexo a Escola Normal já existia e tinha por objetivo servir de espaço para o exercício das atividades pedagógicas dos alunos que estavam se preparando para o magistério. Apesar da nomenclatura de “Grupo Escolar”, este não se configurava como escola graduada, visto não possuir os elementos de seriação, graduação e hierarquização, bem como, por não se tratar de uma instituição autônoma, requisitos básicos que configuravam e caracterizavam um grupo escolar. Sendo assim, foi apenas em 1916 que se instituiu e se inaugurou o primeiro grupo escolar paraibano, Dr. Thomas Mindello.
3 Aspectos como o hasteamento da bandeira nacional e canção do hino nacional presentes na programação, revela a perspectiva a qual os historiadores denominam de nacionalismo‐patriótico, conforme Pinheiro (2002).
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toda a execução do programa contou ainda com a banda de música da Força Policial, que tocou
peças do seu repertório.
As festas de inauguração dos grupos escolares que ocupavam muito tempo com as preparações
(desde a elaboração até a execução do cronograma de atividades proposto no programa). É o caso da
inauguração do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello, na qual, todas as partes de elaboração e execução do
programa de instalação do novo edifício escolar foram minuciosamente cuidadas pelos professores e
alunos da escola Normal, sob a supervisão do Dr. Manuel Tavares Cavalcanti, Diretor da Instrução Pública
do Estado. O jornal “A União”, divulgou amplamente a inauguração do primeiro grupo escolar da Paraíba,
transcrevendo na integra o seu programa:
Programa “Benção do Edifício” Instalação do grupo – Alocução análoga ao ato pelo diretor da Instrução Pública. Hasteamento da Bandeira Nacional – sendo entoado o hino pelos alunos das Escolas Normal, Modelo e Grupo. Hino dos livros – pelos alunos do 1º grau da Escola Modelo. A cidade da luz – de Luiz Delfino, por Isaurina de Mattos Dourado. A boneca – cançoneta – por Zilda Teixeira. Saudação ao grupo recém instalado – pela senhorita Noemia Ribeiro, aluna da Escola Normal. A Escola – Recitativo – por Avany Fonseca. A Professora – Comedia – por Clívia Carneiro, Maria Luiza Mouraes, Maria da Penha Vinagre e Maria de Lourdes Coelho. Os Dois Edifícios – de Valentim Magalhães por Heloysa Almeida. Alocução de Agradecimento – pelo Diretor do Grupo. As Flores – Canto – pelos alunos do 1º grau da Escola Modelo. Um dia de anos – Monologo – por Maria de Lourdes Coelho. As duas lagrimas – Recitativo – por Isaurina de Mattos Dourado. Saudação ao Patrono do Grupo – pelo aluno Augusto da Silveira Paulo. O Gaturamo – Canto – por Jenay Tavares Bonevides. Hino Nacional – pelos alunos da Escola Normal, Modelo e Grupo.8
As festas escolares conforme podemos inferir a partir da programação acima explicitada,
marcaram ritos de passagem e a difusão de costumes, envolvendo em determinados seguimentos
sociais o espírito cívico, ou seja, as festas escolares se configuraram num acontecimento público
que reunia no mesmo evento a comunidade escolar, as famílias dos alunos, políticos, intelectuais e 8 Esta programação foi também publicada no Jornal Diário do Estado em 23 de julho de 1916 e encontra‐se no texto de Pinheiro (2006, p.114).
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a imprensa de modo geral. Faziam‐se discursos, cantavam‐se, representavam‐se, tudo com
preparação prévia visando mostrar a disciplina e a excelência pedagógica do estabelecimento de
ensino e da educação nele ministrada. Por conseqüência aspectos da modernidade educacional
era transmitida através das mudanças cotidianas da escola, dentro e fora dela, com seus ritos,
hinos e passeatas, difundindo assim os princípios republicanos.
Funcionalidade do espaço físico do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello.
A escola graduada inaugurou um novo tipo de relação entre a escola e a cidade, uma vez
que aprofundou as atividades de comunicação e de cultura com a comunidade, proporcionando
momentos de integração entre corpo docente, discente e pais dos alunos. Ainda no grupo escolar
eram oferecidos cursos, palestras e oficinas que favoreciam o “engrandecimento educacional e
social”.
À escola foi delegada, historicamente, a função de formação das novas gerações, ou seja,
a escola se constituiu no locus privilegiado. Assim, os constantes processos de urbanização
parecem ter destacado a escola, transformando‐a em um espaço social privilegiado tanto de
educação quanto de convivência social, e, portanto, em ponto de referência fundamental para a
constituição das identidades dos sujeitos que margeiam este espaço, ou seja, numa dialética entre
o interno e o externo, entre a cidade e a escola.
Monarcha (1999, p. 230) afirma que, no início no século XX: “Os edifícios dos grupos são
marcos arquitetônicos na paisagem urbana da capital e das cidades do interior [...] Apresentam
um padrão arquitetônico definido – criados por arquitetos famosos [...].”
Na figura 5, a seguir, observamos em primeiro plano a imagem aérea do Grupo Escolar
Dr. Thomas Mindello, e sua peculiar composição em “V”, ocupando na extensão do seu terreno,
todo um quarteirão: (1) Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello, (2) Comando da Polícia, (3) Correios e
Telégrafos, (4) Quartel de Policia e (5) Teatro Santa Roza.
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Figura 5: Foto aérea, de 1934, onde podemos observar o Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello e o seu entorno
urbanístico. Fonte: Stuckert Filho, 2004; p. 06.
Na Paraíba do Norte, o seu primeiro grupo escolar encontrava‐se fora dos padrões usuais
para edificações escolares, apesar de assinado por um renomado arquiteto – Pascoal Fiorillo ‐, o
fato é que o prédio onde se instalou o Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello não foi projetado para
este fim.
Salvo essa particularidade quanto à arquitetura singular desse grupo escolar, notamos
que a utilização das suas dependências físicas excedia para além da sala de aula, para além das
funções didático‐pedagógicas, sendo um importante centro de cultura e administração pedagógica
do ensino primério, muito provavelmente por sua localização privilegiada, no coração da Capital
paraibana, próxima as principais esferas de poder e cultura, como é possível observar na figura 5.
A utilização do espaço físico do grupo escolar Dr. Thomas Mindello esteve além de suas
funções pedagógicas, como podemos constatar ao observar em sentido horário o gráfico a seguir:
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GRÁFICO I
Utilização do espaço físico do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello
Certamente o Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello contava com conforto e higiene, e
também pelo status social que a ele foi atribuído de modo geral. Diversos eventos, festividades
cívicas, reuniões e conferências tomavam por empréstimo as dependências físicas do referido
grupo escolar. Assim, podemos aqui enumerar algumas delas.
A realização dos exames primários das escolas públicas da capital é constatada a partir
dos editais publicados por ordem do Diretor Geral da Instrução Pública, Dr. Eduardo Pinto de
Medeiros, que, em 1919, afirmou: “[...] faço sciente aos interessados que os exames finaes das
escolas públicas primárias diurnas desta capital se realizarão [...] na séde do grupo escolar “Dr.
Thomáz Mindello”. (A UNIÃO, 06 nov.1919, p. 3).
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Assim, em data previamente escolhida e publicada via edital, à Diretoria Geral da
Instrução Pública determinava que todos os exames finais das escolas e/ou cadeiras isoladas da
capital seriam realizados no referido grupo escolar. Posteriormente, os demais grupos escolares
passaram a ceder suas dependências para este mesmo fim.
O Sr. Dr. inspector geral do ensino determinou que se iniciassem na próxima sexta‐feira, nove do corrente, os exames primarios das escolas publicas da capital. Esses exames serão procedidos no grupo escolar Dr. Thomas Mindello [...] No referido dia nove e no subsequente se effectuarão os do grupo escolar Dr. Thomas Mindello. É facultado aos Srs. Professores de escolas isoladas levarem para alli os seus alumnos afim de prestarem exames conjunctamente com os do grupo (A UNIÃO, 08 out.1917, 1917, p. 2).
No entanto, esta não era a única atribuição dada ou mesmo concedida aos edifícios dos
grupos escolares.
Ainda no Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello, fundou‐se a primeira “Caixa‐Escolar” 9 da
Parahyba do Norte, denominada de Caixa Escolar “Arruda Câmara”, fundada em 16 de junho de
1917 e inaugurada em 6 de maio de 1919, por iniciativa da Sociedade dos Professores Primários da
Parahyba.
Além das sessões extraordinárias dos sócios da Sociedade dos Professores Primários da
Parahyba e da Caixa Escolar “Arruda Câmara”, funcionava também no referido grupo escolar
algumas escolas de ensino noturno.
A expansão desta modalidade de ensino, como observamos, ocorreu de forma acelerada na década de 1920. Este crescimento, entre outros motivos, se deu pela exigência do mercado de trabalho aos adultos que almejassem nele entrar e permanecer, e ao trabalho infantil, pois crianças que trabalhavam durante o dia, não apresentavam condições de matricularem‐se nas escolas diurnas da capital, restando‐lhes assim, os cursos noturnos. No entanto, devido à precária condição financeira dos alunos destes cursos noturnos, a Sociedade dos Professores Primários da Parahyba disponibilizava mantimentos e roupas para o alunado por meio da Caixa Escolar Arruda Câmara, com sede no Grupo Escolar Thomás Mindello e da Caixa Escolar existente no Grupo Escolar Isabel Maria das Neves (PAIVA; LIMA, 2008, p. 6).
9 As Caixas Escolares que se fundaram no Estado foram regulamentadas no governo Camillo de Hollanda, através do decreto n.º 1.015, de 24 de abril de 1919.
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Ainda sobre o ensino noturno e sua relação direta com o Grupo Escolar Dr. Thomas
Mindello, o Jornal A União (1917, p. 2) publicou que Celso Affonso Pereira, a época Diretor do
Ensino Noturno, determinou que: “[...] a directoria do ensino nocturno, a seu cargo, no grupo
escolar Dr. Thomáz Mindello, [...] dá expediente e attende, das dezoito ás vinte e uma horas, as
pessôas que lhe precisarem falar.”
Nas suas dependências físicas, também funcionou, outra importante instancia
organizacional do ensino público paraibano, qual seja, a Inspetoria do Ensino, como nos assegura a
nota a seguir:
Hoje, de 9 ás 11 horas, o Sr. inspector geral do ensino estará na sede da Inspectoria, no grupo escolar Dr. Thomáz Mindello, afim de fornecer aos Srs. professores públicos desta capital os attestados de exercicio relativos ao proximo passado mez. Alli e não em sua residencia, deverá ser procurado para esse fim. (A UNIÃO, 02 ago.1917; p. 1).
Nesse contexto de grandes inovações educacionais, sob orientação das idéias do
movimento escolanovista, surgem às instituições de auxilio à causa educativa, como estas que
foram fundadas na Parahyba do Norte:
1 – Biblioteca Escola,
2 – Caixas Escolares;
3 – Cinema Educativo;
4 – Círculo de Pais e Mestres;
5 – Curso/ e ou Escola Complementar;
6 – Clubes Agricolas Escolares;
7 – Jardim da Infância;
8 – Jornal Escolar;
9 – Museu Escolar,
10 – Rádio Educativo.
Na Parahyba do Norte, não podemos deixar de dar destaque ao Grupo Escolar Dr.
Thomas Mindello, o qual pode ser apontado como a principal instituição disseminadora destas
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instituições auxiliares do ensino, visto que neste estabelecimento de ensino eram processadas
todas as inovações pedagógicas ditas modernas, tanto as de ação educativa quanto as de ação
social. Desse modo, relacionamos os jardins de infância, jornais escolares, Museus, Rádio, Cinema
educativo, Clubes agrícolas, e Curso/ e ou Escola Complementar como sendo as instituições de
ação educativa. As de ação social e de assistência – Associações de Pais e Mestres e as Caixas
Escolares.
A escola, como espaço de convivência social, torna‐se um centro de referência pessoal
que marca os sujeitos que por ali passam, pelo simples fato de estar nessa e não em qualquer
outra, fruto de traços que a identificam, a tornam única.
A escola, que deve ser o reflexo dos ideaes e tendências da communidade, não póde manter‐se afastada da communidade, mas, ao contrario, deve formar parte della, variando com ella, e proporcionando egual opportunidade para todos. (A UNIÃO, 30 mar.1932, p. 1).
Portanto, ao confrontarmos nossas fontes frente à emergência dos demais grupos
escolares na capital paraibana, verifica‐se que, mesmo com a inauguração dessas novas unidades
de ensino primário, o status do Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello permanecera superior aos
demais grupos, levando‐se em conta a elevada ocorrência de eventos na sede desta instituição de
ensino. Talvez, isto se deva ao fato de que este tenha sido o primeiro do seu gênero a ser
implantado na Parahyba do Norte, marcando o início de todo um complexo processo de
reestruturação do ensino público primário paraibano.
Considerações finais
De acordo com a análise das informações coletadas, os indícios nos indicam que os
grupos escolares ocasionaram diversas transformações na instrução pública primária do Estado da
Parahyba do Norte. Houve, com a criação destes novos núcleos de ensino, uma reestruturação do
espaço escolar, tanto em seu aspecto físico como em seu aspecto burocrático e pedagógico. Além
disso, se percebe que, em nenhuma outra época, a escola primária contribuiu, de forma tão
expressiva, para reforçar o imaginário da República.
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A implantação do primeiro grupo escolar a partir de 1916, na cidade da Parahyba, atual
João Pessoa, constituiu o novo espaço escolar da cidade, criado à luz do ideário positivista e das
reformas educacionais propostas para aquele momento histórico. A sua instalação foi resultado
das aspirações culturais das lideranças políticas e de alguns intelectuais que se tornaram
importantes atores das relações e nos jogos de poder tanto de ordem econômica quanto política e
cultural entre as esferas municipal, estadual e federal.
Portanto, essa nova modalidade institucional de ensino primário marcou
consideravelmente a história da educação, pois a escola era, naquele momento, uma instituição
em construção. Estava deixando as casas e as igrejas para ocupar um espaço próprio. Estava
tornando‐se pública, no duplo sentido da palavra: deixava de ser coisa do mundo do privado (da
casa e, portanto, da intimidade familiar), e, também, tornava‐se conhecida, reconhecida.
Por fim, elencamos algumas contribuições para futuras pesquisas, uma vez que a
natureza desta investigação provocou o surgimento de questões pouco conhecidas, e de outras
que até o momento não haviam sido exploradas, mas que poderão ser relativamente aclaradas em
futuros trabalhos. Afinal, é necessário, pois, analisar mais detidamente tanto o conjunto dessas
instituições, enquanto política pública voltada à melhoria do ensino primário, quanto investigar
cada uma delas isoladamente, identificando suas particularidades, seu alcance e eficácia, seus
métodos, suas práticas desenvolvidas dentro de uma perspectiva inovadora da escola ativa, e,
acima de tudo, analisar os impactos que ocasionaram dentro e fora do espaço escolar público
primário.
Referências
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BACELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org). Fontes Históricas. São Paulo; Contexto, 2005.
MONARCHA, Carlos. A reinvenção da cidade e da multidão: dimensões da modernidade brasileira: a Escola Nova. São Paulo, Cortez; Autores Associados, 1989. (Coleção educação contemporânea. Serie memória da educação).
FARIA FILHO, Luciano. A escola no movimento da cidade: os grupos escolares em Belo Horizonte. Educação em Revista, Belo Horizonte. Nº. 26, dez / p. 89‐101; 1998.
FREIRE, Carmem Coelho de Miranda. História da Paraíba (Para uso didático). João Pessoa – PB: A União, 4 ed.; 1982.
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PINHEIRO, Antonio Carlos Ferreira. Da era das cadeiras isoladas à era dos grupos escolares na Paraíba. Campinas, SP: Autores Associados, São Paulo: Universidade São Francisco, 2002. (Coleção educação contemporânea).
__________. Grupos Escolares na Paraíba: iniciativas de modernização escolar (1916‐1922). In: VIDAL, Diana Gonçalves (org.). Grupos escolares ‐ cultura escolar primária e escolarização da infância no Brasil (1893‐1971). Campinas, SP: Mercado de Letras, 2006.
SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de Civilização: a implantação da escola primária graduada no Estado de São Paulo (1890‐1910). São Paulo: UNESP, 1998.
Fontes
Jornal DIÁRIO DO ESTADO, ano II, Parahyba; 23/07/1916.
Jornal A UNIÃO, ano XXIV, Parahyba, 1916.
Jornal A UNIÃO, ano XXV, Parahyba, 1917.
Jornal A UNIÃO, Paraíba, 04/02/1940, p. 8
Jornal “O EDUCADOR”, Parahyba, Ano I; n. II; 07/11/1921.
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