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jeca JORNAL DOS ESTUDANTES DE COMUNICAÇÕES E ARTES

AGOSTO/2014

Na última semana, veio à tona um documento revelando os planos da reitoria e do governo do Estado para a recuperação financeira da Universidade de São Paulo. Esse plano de reestruturação é na verdade um ataque aberto ao caráter público da Universidade.

No primeiro semestre, quando deflagramos a greve, já sentíamos na pele os cortes de verbas: enquanto obras monumentais da burocracia continuavam a subir dentro e fora do campus, bolsas de estudo (IC, intercâmbio) e bolsa-permanência eram cortadas e a contratação de professores e funcionários foi congelada. Isso, combinado ao reajuste de 0% oferecido a professores e funcionários, já anunciava veladamente o projeto de precarização e privatização defendido pela reitoria e pelo governo para a USP.

Esse projeto, até então velado, é escancarado por esse plano de reestruturação expresso no documento: nele estão incluídos um Plano de Demissão Voluntária (PDV) que diminuiria o número de funcionários em cerca de 2/3 do atual, um plano de redução de carga horário com redução de salários também para os funcionários, e uma diminuição drástica de docentes em regime de dedicação exclusiva (que apenas dão aulas). O PDV também abre portas para a terceirização, que precariza as condições de trabalho dos servidores.

O plano prevê ainda que 50% da política de permanência estudantil passaria a ser gerida pelo

governo do estado, e que áreas como o Hospital Universitário (HU) e o Hospital de Recuperação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC), um dos poucos serviços que a Universidade atualmente pode oferecer à população trabalhadora de fora, seriam desvinculadas e passadas também para o governo do Estado, deixando de ser hospitais-escola dos cursos da área da Saúde e sendo geridas pelas OSs, ou seja, privatizadas – transformando um direito, a saúde, em mercadoria.

Uma vez que esse plano entre em funcionamento, a Universidade e nossos cursos estarão cada vez mais sucateados, servindo apenas para formar mão-de-obra qualificada a serviço dos interesses do mercado e não da população. Este é um grande ataque aos interesses públicos da Universidade, enquanto os interesses particulares seguem intactos, com os supersalários de alguns docentes e as empresas privadas que poderão lucrar ainda mais dentro da USP.

Na terça-feira (26/08), pela força da nossa mobilização, o reitor Zago, no Conselho Universitário da USP, um colegiado de composição antidemocrática, no qual estudantes e funcionários têm uma representação ínfima, foi obrigado a recuar com relação à desvinculação do HU, e adiou a discussão por 30 dias. Porém, colocou em votação o tema do HRAC, que a partir de então será desvinculado. Essa foi uma votação em que menos de 200 pessoas decidiram sobre o futuro de milhares, que ignorou inclusive as reivindicações de uma greve forte que resiste a mais de 90 dias. Isso não é a “recuperação” da USP: é o seu verdadeiro desmonte.

Mas a luta continua: semana que vem terá um outro Conselho Universitário (02/09) que discutirá o PDV e o reajuste salarial.

O DESMONTE DA UNIVERSIDADE

CONTRA A REPRESSÃO! LUTAR É UM DIREITO!

O JECA É DE TODXS!O JECA é um jornal de grande alcance e circulação para estudantes de toda a ECA-USP! E para manter sua pluralidade de opiniões e discussões de pautas atualizadas, fazemos um amplo chamado a todas as pessoas que quiserem contribuir para a próxima edição, que deverá ser antecedida por uma Reunião de Pauta. Pessoa, fique atenta às publicações na página do Facebook CA Lupe Cotrim!

A greve em defesa da universidade já dura três meses e a reitoria não abriu nenhuma negociação. Muito pelo contrário: cortou o salário de funcionários em greve (o que, segundo a própria Justiça, foi ilegal) e mandou a Polícia Militar desmontar os piquetes dos funcionários, impedir com bombas de gás e balas de borracha o trancaço da última quarta-feira (20.08) e desfazer, no dia 24.08, o acampamento em frente à Reitoria, ações que ferem o direito democrático de greve e livre manifestação.

Isso são demonstrações da falta de democracia com que é gerida a universidade. Além de gerir seus projetos e seu orçamento a portas fechadas, entre alguns poucos, dentro do Conselho Universitário, excluindo 98% da comunidade

uspiana, a Reitoria coloca a Tropa de Choque para reprimir os estudantes e trabalhadores e cala as opiniões contrárias por meio da força.

Essa maneira de lidar com o movimento não é uma ação isolada: o governo do PSDB usa como primeira cartada a força policial e a criminalização dos ativistas na tentativa de reprimir as lutas que vêm crescendo cada dia mais desde junho de 2013 no país. A prisão de Fábio Hideki, os 42 metroviários demitidos por terem feito greve, o desmonte dos piquetes, o corte do salário e ação da Polícia Militar no trancaço do dia 20.08 são exemplos de uma política consciente para intimidar aqueles que lutam para transformar a sociedade e que se enfrentam com os governos e a elite. Mas a resistência dos trabalhadores está tão forte que até a justiça teve que dizer que os cortes de ponto são ilegais, e que 0% não é negociação.

Se a repressão avança, nós avançamos em resposta com muita organização! Resistimos! O momento é agora: os ataques são graves, e dizem respeito a todos nós. Não podemos deixá-los passar; se passarem, a USP pública, gratuita e de qualidade deixará de existir: será apenas o espaço dos interesses privados, da criação de mão-de-obra para o mercado das grandes empresas e fundações. É hora de lutar: é preciso engrossar a mobilização, para que possamos nos defender desse ataque em unidade. É hora de tomarmos em nossas mãos a responsabilidade de defender a universidade!

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24/1Zago assume a Reitoria, prometendo ser o “reitor do diálogo”

28/4A Reitoria envia comunicado à comunidade acadêmica declarando que há uma crise financeira na USP

12/5É proposto 0% de reajuste salarial. DCE e CAs protocolam carta de reivindicações à Reitoria

27/5Inicia-se a greve geral, após segunda reunião de negociação confirmar o arrocho salarial

12/6Abertura da Copa do Mundo, após meses de endurecimento da repressão

24/7Justiça concede liminar de reintegração de posse

31/7Funcionários iniciam acampamento no CEPE para impedir a realização da Feira de Profissões, que obrigaria funcionários em greve a trabalhar

3/8PM entra na USP para reprimir os piquetes e o acampamento

4/8É confirmado o corte de ponto para funcionários grevistas e inicia-se o acampamento na Reitoria

7/8É feito trancaço dos três portões e ato no Butantã contra os cortes de ponto e pela reabertura das negociações

14/8Documento que prevê “Plano de Recuperação” vaza na imprensa e no dia seguinte é confirmado pela Reitoria. No mesmo dia, ato unficado vai até o Palácio dos Bandeirantes

23/6O trabalhador e estudante da USP, Fábio Hideki, é preso arbitrariamente em Ato Contra a Copa, sua libertação virou pauta da greve dos trabalhadores

20/8PM reprime trancaço dos três portões feito por estudantes e funcionários. No mesmo dia, a justiça considera abusivos os cortes de ponto

24/8PM desobstrui portas da Reitoria, mas acampamento continua

LINHA DO TEMPODA GREVE 2014LINHA DO TEMPODA GREVE 2014

O trabalhador e estudante da USP, Fábio Hideki, é preso arbitraria-mente em Ato Contra as Injustiças da Copa e sua libertação virou pauta da greve dos trabalhadores

26/8 Conselho Universitário (CO)

desvincula HRAC