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Ana Ribeiro(a)
João de Araújo Correia, o vinho e tudo o mais que no Douro há
Resumo
João de Araújo Correia (1899-1985), escritor duriense, foi um dos arautos do turismo na sua região.
Publicou na imprensa, ao longo de vários anos, diversos textos sobre esta temática. Estudaremos a
conceção de turismo do autor e a maneira como encara a ligação entre esta atividade e o mundo rural. No
final, apresentaremos os produtos turísticos do Douro identificados pelo escritor.
Palavras-chave: Douro, João de Araújo Correia, turismo, ruralidade
João de Araújo Correia, the wine and everything else that exists in
Douro
Abstract
João de Araújo Correia (1899-1985), a writer from Douro, was one of the heralds of tourism in his region.
Throughout the years, he has published in the press several texts about this theme. We will study his
conception of tourism, as well as the way he conceives the connection between this activity and the rural
world. At the end, there will be a presentation of the touristic products of Douro identified by the writer.
Keywords: Douro, João de Araújo Correia, tourism, rurality
1. INTRODUÇÃO
Apesar de ser um fenómeno recente, o turismo no Douro teve os seus arautos entre aqueles que,
por conhecerem bem a região, sabiam quanto ela tinha para dar. Entre estes seres visionários
conta-se João de Araújo Correia (1899-1985), escritor renomado que foi também um cidadão
(a) Instituto de Letras e Ciências Humanas, Universidade do Minho, [email protected]
16, 17 e 18 de Julho de 2015
Instituto de Ciências Sociais
(ICS-UL)
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exemplar na dedicação à sua “pátria pequena”, expressão com que designava o concelho de Peso
da Régua.
Numa zona em que a vinha reina(va) e numa época em que o turismo não era a indústria que é
hoje, a consciencialização do valor turístico do Douro não era pequena tarefa. Acompanharemos
o percurso do escritor neste projeto. Interessa-nos a maneira como ele concebe o turismo,
particularmente na sua articulação com a identidade e o desenvolvimento. Para tal, não podemos
dispensar o elenco dos aspetos da realidade duriense contemplados pelas propostas turísticas do
autor de Contos bárbaros.
2. ESCREVENDO SOBRE TURISMO
O turismo enquanto tema da escrita de João de Araújo Correia surge logo no Sem método, título
de estreia do autor que, embora de 1938, recolhe textos publicados na imprensa local pelo menos
desde 1936. A carta do trecho XII, supostamente da autoria de alguém que visita com
regularidade a região duriense por motivos profissionais, põe lado a lado as potencialidades
turísticas do Douro e as limitações ao seu bom uso: “O primeiro viajante a quem inculquei o
Douro país de regalos estéticos foi vítima duma desgraça” (Correia, 1983: 45). Este visitante,
atacado na estação da Régua por numerosos e solícitos taxistas, foi turisticamente esquartejado
pelos quatro cantos da região. Na tradição do ridendo castigat mores, o autor censura com humor
a competição desenfreada entre motoristas que sofrem de bairrismo ou da vontade de explorar
estrangeiros.
Algumas páginas depois, no trecho LXIII, não é uma mudança de comportamento que se propõe,
mas a criação, na Régua, do Museu do Douro. Significa isto que “o vinhedo imenso que é o
Douro” (ibidem) deve ser complementado com outros polos de atração turística.
Apenas cerca de vinte anos depois voltará João de Araújo Correia à sua missão de dinamizador
do turismo duriense. Nas páginas do Vida por vida, boletim pertencente à Associação
Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua, apresenta, entre 1956 e 1974,
múltiplas sugestões para fazer da capital do Douro uma vila turística. Elas integram, em 1977, o
seu último volume de textos de imprensa, o Pátria pequena. Entretanto, outras compilações de
textos publicados em jornais como O comércio do Porto vêm a lume e tornam bem patente a
importância que o escritor atribuía ao turismo para o desenvolvimento do seu “país vinhateiro”.
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A partir de Passos perdidos (1967)1, não há coletânea que não contenha propostas turísticas
relacionadas com o património arquitetónico, os lugares literários ou mesmo a elaboração de
folhetos promocionais. Curiosamente, em Passos perdidos, num texto de 1963, afirma-se o
escritor como um turista praticante e recente: “Tenho-me feito, à última hora, grande peregrino
em terra portuguesa” (1967: 39). Destas andanças e doutras2 nos dará conta nos diversos relatos
de viagem presentes neste volume, bem como em quase todos os que se lhe seguiram. Escritor-
turista e impulsionador da consciência turística duriense, em João de Araújo Correia a teoria e a
prática do turismo caminham a par.
3. O QUE É O TURISMO?
Médico de profissão, é a preocupação com o bem comum que orienta os passos que Araújo
Correia vai dando na “vinha jornalística” (1975a: 228). As diversas crónicas dedicadas ao
turismo não fogem a esta regra. A maneira como encara esta atividade torna bem claros os
benefícios que ela pode trazer ao seu “país das uvas”.
Assim, e sem qualquer intuito hierarquizante, podemos começar por apontar a conceção do
turismo como uma atividade de natureza económica, expressa na afirmação “O Turismo é fonte
de receita” (1998: 246). A mesma perceção subjaz a “Turismo duriense”, texto onde, como
exemplo de terras que “inventam coisas para subsistir” (idem: 131), o escritor louva a Suíça, que
“Inventou o turismo” (ibidem), e o Algarve, que “Inventou, de mais a mais, a amendoeira. E
inventou-a já florida, e até com lenda” (idem: 132). Por isso lamenta: “Nós, durienses, depois de
inventarmos o melhor vinho do mundo […] caímos numa sonolência que faz dó. Faltou-nos o
caco para o invento supremo, que são, pelo Outono, as vinhas coloridas” (ibidem). Deste modo,
o vinho não esgota os recursos do Douro. A vinha pode proporcionar outro tipo de rendimento a
esta região “sempre em crise” (1968: 48) devido à dependência exclusiva da vitivinicultura. O
olhar do escritor realça o valor estético e turístico deste mundo construído pelo homem, apelando
à sua turistização. A divulgação deste olhar, a que o autor procede mesmo quando critica,
complementa a invenção, como se de uma operação de marketing se tratasse: “Faltou-nos a voz
para apregoar: vinde ver! Vinde ver!” (ibidem).
1 Nos dez anos que medeiam entre esta obra e Pátria pequena, João de Araújo Correia coligiu as suas
crónicas em Horas mortas (1968), Ecos do país (1969), Pó levantado (1974), Nuvens singulares (1975a) e
Pontos finais (1975b). 2 João de Araújo Correia jornadeou também por Espanha e França.
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Precisamente pela sua valia económica, o turismo constitui para João de Araújo Correia um
antídoto importante contra a desertificação do mundo rural: “Não sabe [a Régua] que ficará
deserta se não conseguir prender-se a si própria e atrair quem a visite ou se radique dentro do seu
aro, que é um anel de montanhas” (1975a: 19). Note-se que já nos anos 50 o escritor pressentiu
este perigo3. Não nos parece que seja indiferente a esta realidade o recrudescimento da temática
turística nos seus textos desta época.
Promotor turístico da sua região, João de Araújo Correia, embora consciente dos benefícios
económicos do turismo, não é apologista do turismo de massas. Receando os efeitos nefastos
dum afluxo numeroso de visitantes chega a arrepender-se do seu desvelo: “Gabei demais as
Caldas da Cavaca. Digo demais, porque não convém apregoá-las à toa, que podem degenerar em
congresso anual de gente chique. Se tal acontecer, até os pássaros, que ali gorjeiam nas tílias,
deixam de cantar” (1975a: 73). Por isso, em “No tempo das maias” (1975a: 159-162) e “Árvore
feliz” (1998: 119-121), resolve o conflito entre difusão e preservação omitindo o nome das
aldeias enaltecidas nos seus textos e que, a bem da sua conservação, não devem ser identificadas.
Se, por um lado, como vimos num dos parágrafos anteriores, o turismo pode contribuir para a
sobrevivência de uma região, por outro, ele também a pode pôr em risco ao ameaçar aspetos da
sua identidade. Neste caso concreto, é a ruralidade vinícola que caracteriza o mundo que o
escritor-médico revela e é ela que lhe confere interesse turístico, já que o que move o turista é a
“busca da constatação de uma alegada diferença entre comunidades necessariamente desiguais,
autênticas e genuínas” (Cadavez, 2012: 76). Adepto de uma conceção de turismo que hoje se
diria integrada, João de Araújo Correia projeta um turismo regido pelo que considera ser
específico de um lugar, como bem revelam estas palavras a respeito das termas de Caldas do
Moledo: “O Moledo é uma estância termal conciliável com a função turística. Não é uma estação
turística obrigada a esconder as termas” (Correia, 1975a: 157)4. Acrescente-se que, na sua
imutabilidade, o “espírito do lugar” não é incompatível com o progresso, desde que este se molde
àquele: “Mas, de poucas [aldeias] se terá condoído, para as refundir sem as desvirtuar, um
benemérito digno do nome” (1969: 34).
3 Em “Casas Fechadas”, texto de 1955 inserido em Manta de farrapos (1962: 13-19), manifesta o autor a
sua preocupação com “O êxodo de gente culta, para os meios grandes” (idem: 17). Na mesma obra, chega
mesmo a afirmar que “A província desapareceu” (idem: 215). Em crónicas posteriores, como “Decadência
das aldeias” (1968: 251-254) e “Portugal a monte” (1969: 71), Araújo Correia, que se fixou para sempre na
rua da sua infância, lamenta a troca do campo pela cidade e a emigração para o estrangeiro. 4 Na mesma fidelidade ao que considera ser a essência de um local, reafirma mais adiante: “Não se consinta
que o espírito provinciano as desvie [às termas do Moledo] do seu trilho para improvisar uma Copacabana
sem areia ou um Saint-Tropez sem Brigitte” (1975a: 158).
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Ao mesmo tempo que a identidade local fundamenta o turismo, este, como se se auto-
alimentasse, é um importante veículo para a afirmação dessa mesma identidade. Assim se
compreende o elogio que faz ao turismo de Monte Real: “Bem haja ele, que acarinhou, na sua
área, alguma nota característica” (1967: 211). Porém, em “Pobre turismo”, é a inobservância
deste parâmetro que está na origem da crítica bem-humorada que o escritor-turista dirige à
Pousada de São Bartolomeu:
Tudo aquilo era muito bonito, muito asseado, mas, negava Bragança por quantas juntas tinha. Era um hotel
de aeroporto interplanetário.
(…) Mas, ao entrar no meu quarto, vi-me em Angola. Numa parede, pastava um antílope dentro de um
caixilho. Um antílope, em Bragança? Esfreguei os olhos para ver estrelas e, à luz delas, uma excelente vaca
mirandesa. (idem: 27-28)
Para além da substituição de elementos característicos de uma região por outros que lhe são
estranhos, também a adulteração de imagens da identidade local por olhares alheios merece a
reprovação do autor. Esta é a atitude que lhe suscita o bilhete-postal ilustrado com “uma rapariga
de Cima do Douro com um cacho de uvas” (1962: 59), descrito em “Como se comem as uvas”
(1962: 59-62), texto que encerra uma reflexão sobre a representação para “turista ver”. Sendo os
postais “um pouco da nossa terra que a outras terras vai parar; e talvez um convite implícito para
mais alguém dessas terras visitar a nossa terra” (apud Gonçalves, 2011: 1), “A máquina de caçar
imagens não deve ser mentirosa” (Correia, 1962: 60). Consciente da encenação que toda a
imagem implica, João de Araújo Correia reconhece, no entanto, que “Estilizar é preciso” (idem:
61). Louva, por isso, o “bom pedaço de rapariga, e o cacho – o que há de melhor em uvas” (idem:
59) que o postal lhe mostra. Porém, “O povo de qualquer sítio é escravo da sua étnica. Pintá-lo
ou descrevê-lo sem o conhecer é grave risco” (idem: 61), o que significa que nem toda a
estilização é lícita. Condena por isso a pose da fotografada, que se prepara para “devorar uvas
como as raposas as devorariam, se lhes pudessem chegar” (idem: 59-60). Nesta postura de desejo
animalesco, ela “sacrificou uma regra de civilidade, corrente na sua terra, à estética do retratista”
(idem: 59), deixando que esta se sobrepusesse à tal “étnica”, que é, no caso vertente, a “finura no
comer” (idem: 61) da mulher duriense “na vinha, quando lhe apetece um bastardo ou um
moscatel” (ibidem), revelando-se, simultaneamente, um primor da natureza e da civilização.
Em “Entre o Porto e Salamanca” (1968: 248), João de Araújo Correia, ao mesmo tempo que
enaltece uma descrição queirosiana das margens do Douro, não deixa igualmente de assinalar
uma incongruência: “Não se retire vírgula a esta descrição, mas, repare-se no equívoco do barco
lento, que descia o rio, carregado de pipas, com a vela cheia. É fatal em escritores que
desconhecem o Douro. O barco, se descesse o rio carregado de pipas e com a vela cheia,
despedaçava-se na primeira pedra”.
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Continuamos no domínio da invenção de que falamos atrás, mas só é legítima a invenção que,
expurgada de elementos estranhos, não atraiçoe o que se considera ser a natureza de um povo.
Por conseguinte, se a identidade de uma região é um capital turístico, não se podem menosprezar
as imagens que dela se constroem e se divulgam em textos, fotografias ou pinturas.
4. TUDO O MAIS QUE NO DOURO HÁ
Nas primeiras décadas do século XX, quando o turismo começou a ganhar terreno no nosso país,
o Douro não era um destino turístico apetecido, como se nada mais tivesse para oferecer que o
seu produto mais famoso, o vinho do Porto. Para além da procura crescente das estâncias de “sol
e praia”, outras razões há que explicam esta situação. Pelos textos de João de Araújo Correia,
percebem-se as debilidades da região neste domínio, apesar das potencialidades que possui.
Alargando o âmbito de palavras do autor já mencionadas, as suas crónicas revelam-nos uma terra
onde o turismo tardava a ser inventado. Um dos primeiros passos neste sentido terá sido dado
por José Afonso de Oliveira Soares ao editar Regoa, coração do Douro, centro de excursões e
de turismo (1926), guia onde o autor se propõe a epopeia de resgatar a sua região do esquecimento
turístico. Araújo Correia evoca-o em Horas mortas, ao afirmar: “Razão tinha Afonso Soares
quando escreveu o folheto intitulado Regoa, centro de excursões e de turismo. Pena é que não
haja, aqui na Régua, nenhuma repartição que ensine o visitante a dar belos passeios” (1968: 77).
Uma vez que, cerca de quarenta anos depois, continuava por debelar a falha detetada por Oliveira
Soares, a situação turística da Régua e de concelhos vizinhos parece continuar inalterada. Não se
deve isso à falta de estímulo, pois também João de Araújo Correia, na senda do seu antecessor,
chamou a atenção para as belezas da sua terra e para a forma de as valorizar turisticamente.
Valeu-se para isso do seu acesso à comunicação social, designadamente a jornais de projeção
nacional como O comércio do Porto. Aí publicou crónicas que fornecem um retrato do Douro
desde os inícios do século XX até aos anos 70. Algumas, com um espírito semelhante ao das
Farpas5, têm o turismo como alvo. Apesar da sua natureza descontínua, delas é possível extrair
o programa do autor para o desenvolvimento turístico daquele que ele designa como o “pais
vinícola mais célebre do mundo” (1967: 58).
5 É o próprio autor que reconhece a influência das Farpas na sua atividade de cronista: “Mas, na crónica,
muitas vezes me surpreendo a escrever com uma farpa de Ramalho. […] O que por aí se perde por incúria
ou deixou de se adquirir por abulia obriga-me a farpear” (1972: 190).
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4.1. PAISAGEM
Resultando o turismo da procura do diferente, a paisagem duriense não podia deixar de constituir
um dos atrativos principais desta região: “Quem percorre a via férrea, desde Barqueiros até Barca
de Alva, e espreita do comboio a singular paisagem, única no mundo como aspereza domada
pelo homem, com pá e ferro pacíficos, poderá, de lance a lance, exclamar: que maravilha!” (1967:
187). O papel do comboio na fruição destes “belos panoramas – tão belos, que os não há
semelhantes em terra portuguesa” (1968: 247), é sublinhado em “Da Régua a Barca de Alva”
(1969: 95-99) e “Entre Porto e Salamanca” (1968: 247-250), evidenciando as potencialidades
turísticas de uma linha que, recentemente, esteve no centro das atenções do projeto Street View,
da Google6. A ligação por comboio entre Régua e Lamego, congeminada por um “engenheiro
que percorreu montes e vales para traçar a planta de uma via férrea tão linda, que seria hoje um
acepipe turístico” (1975b: 16), se tivesse vingado, arriscar-se-ia também a ir parar ao meio
virtual.
Na celebração da beleza da paisagem do “Douro feliz” (1975a: 179), isto é, aquele que circunda
a capital duriense, o escritor socorre-se da autoridade do Eça de As cidade e as serras (1968:
248-249), de uma “farpa” de Ramalho Ortigão (1967: 188; 1975a: 179) e de estudos como
Portugal antigo e moderno (1975a: 179). Refere ainda personalidades como o Dr. Manuel
Gonçalves Moreira, ou Moreirinha, cujo enlevo suscitado pelas margens do Douro traduz ao
declarar: “Douro era para ele um feitiço” (1969: 48). Tanto os escritores como o cardiologista
são de outras zonas do país, não podendo, portanto, ser acusados de bairrismo.
O escritor-turista chama por diversas vezes a atenção para o renovado interesse que o outono
confere a esta paisagem – “Vinha aí o pintor, que pinta os montes de púrpura cansada e ouro
velho” (1969: 96) –, trunfo do qual, como já vimos, incita os seus conterrâneos a tirar proveito7.
Para além das belezas do “Douro feliz” e do “Douro carrancudo” (1975a: 179), a região conta
ainda com a excelência paisagística do Marão:
Não precisamos de sair do nosso concelho para avistar o Marão em sua cristalina formosura. De Poiares, é
uma safira engastada num aro de montanhas. Aqui de cima, do Fial, lembra um pano rico, adaptado à estátua
dormente de um colosso. Chegados a Mouramorta, idos de Loureiro, caímos em êxtase diante do seu vulto.
Sobre as ubérrimas chãs de Sedielos, caem a prumo arestas e ravinas agressivas e misteriosas. Casa-se a graça
6 No dia 21 de Abril, o Público noticiou: “Depois dos caminhos-de-ferro transalpinos da Suíça, a linha do
Douro será a primeira a ser filmada utilizando o conceito de Street View da Google. A viagem nas linhas
de Cascais, do Norte e do Oeste também vai ser registada desta forma. (…) /A linha do Douro, entre o Porto
e o Pocinho, será a primeira a ser percorrida, devendo as filmagens terem [sic] início na próxima quinta-
feira, 23 de Abril”. 7 A variada coloração outonal das vinhas esteve na origem do título Montes pintados (1964), atribuído a
uma coletânea de contos do autor em estudo.
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com a severidade num silêncio augusto. A alma suspende-se, voa como águia naquele espaço audacioso e
tranquilo. (1998: 86)
Nesta descrição, é visível a importância dos miradouros para a contemplação da paisagem. Em
“Apatia”, depois de uma extensa listagem que acrescenta outros aos apontados na citação
anterior8, remata: “quem nunca assomou a esses miradoiros nunca viu panoramas inquietantes
pelo conluio da natureza com o homem” (1975a: 18). Segundo a classificação que faz em
“Miradoiros”, estes são miradouros rurais e “Urbanizá-los será, porventura, fazer-lhes perder o
inefável encanto” (1998: 16). Já os que ficam na Régua ou nas suas imediações pedem
intervenção. Esses pontos privilegiados de observação “precisam de o ser no moderno sentido da
palavra” (idem: 16-17), isto é, com bancos a convidar o turista a demorada apreciação da beleza
circundante. Só assim “Quem vier de fora, mal os conheça, dirá bem de nós” (ibidem). Noutros
casos, como sucede com o cais, a urbanização passa por transformar aquele local, donde “a vista
do rio, com a sua voluptuosa curva, a miragem das colinas de além, a cúpula do céu encastoada
entre montanhas” (1998: 115) deslumbra, num local asseado.
Dada a sua importância para a fruição da paisagem, não só é necessário poupar os miradouros ao
“urbanismo que tem em vista roubar as vistas” (idem: 259), como, no interior da Régua,
“Multiplicar esses pontos, como quem abre mais vigias no ventre dum velho buque” (idem: 71).
A principal rua da então vila seria, “aos olhos do forasteiro, uma bela rua” (idem: 72), se contasse
com mais alguns pontos donde se pudesse avistar o rio. Urbanismo e turismo não devem, pois,
andar de costas voltadas.
Para outros lugares de vistas magníficas, o escritor reclama a construção de vias de acesso, como
sucede com o lugar da Senhora das Candeias (idem: 175-177), na sua aldeia natal, ou a melhoria
das que já existem, como o troço que liga a Régua ao Pinhão, “miradoiro donde se disfruta uma
nobre porção do país vinhateiro” (idem: 117), servido por “uma estrada que degenerou em
caminho rural” (idem: 119)9. Diga-se, a propósito, que também dos caminhos rurais João de
Araújo Correia se ocupa, deplorando o seu abandono e propondo a transformação de caminhos
íngremes numa sucessão de “confortáveis lacetes” (1967: 186-187). Aponta mesmo um exemplo:
“Nada perderia a Penajóia se um belo ziguezague, arborizado a cerejeiras, a riscasse de alto a
baixo. Essa linha quebrada, com o auxílio de linda ponte lançada sobre o rio, nas Caldas do
Moledo, seria chamariz do viajante moderno, poço de comodismo” (idem: 187). A região
8 O cronista refere “o miradoiro de S. Leonardo, em Galafura; os de Monte Raso e Curvaceira, perto de
Canelas; o de Sergude e os de Loureiro; [...] o de Lobrigos, no alto de Remostias; os de Mesão Frio, abaixo
das Quintãs” (1975a: 18). 9 Esta estrada foi considerada no corrente ano, num estudo encomendado pela Avis, “a melhor estrada do
mundo para conduzir”. Entre outros motivos, “Os desníveis da via e a paisagem também contribuíram para
a escolha” (Público, 22/04/2015).
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contaria, deste modo, com um atrativo turístico do género das “levadas” da Madeira, propício ao
atual culto da caminhada.
4.2. TERMALISMO
Como o Douro não é só paisagem, dispõe de outros recursos que podem fazer dele um concorrido
destino turístico. Embora seja famoso pelo vinho, possui também relevantes mananciais
hidrológicos. Limitando-se à Régua, o autor destaca as termas de Caldas do Moledo, sem deixar
de referir, contudo, “as Águas de Covelinhas, as de Cambres e as do Tedo” (1998: 219).
Desde 1964, e até ao fim da sua vida, João de Araújo Correia desenvolveu uma cruzada em defesa
das Caldas do Moledo, abaladas pela cheia de 1962 e ameaçadas pela construção da barragem de
Carrapatelo. Esta estância termal documentada desde o século XVIII conta com vários
argumentos turísticos: “Caldas cobiçáveis são elas. No género, não as há melhores nem mais bem
situadas. Ficam à beira do rio Douro, do caminho de ferro do Douro e da estrada que vai do Porto
ao Pinhão. […] Como clima, são únicas. Não conhecem nevoeiros. Como paisagem, miram
constantemente a vírida Penajóia […]. Como águas, têm incontáveis fontes de abundante caudal
e múltiplas temperaturas” (1967: 105), com provas dadas “em reumatismos crónicos,
broncorreias velhas e certas dermatoses” (idem: 106). Considera-as, por isso, “uma riqueza local,
regional e nacional” (1998: 56) cuja perda a todos afetará10.
O parque destas termas é outro motivo para as acarinhar: “Enquanto não houver parque
municipal, gozemos e amemos o do Moledo, que também é nosso como principal adorno das
nossas ricas termas. Não se diga, por vergonha nossa, que não temos árvore capaz de abençoar e
amparar o viajante cansado” (1998: 249). Compensaria, assim, a falta, na capital do Douro, de
um “bosque municipal” (1975a: 181) que fosse “um Bom Jesus, um Buçaco ou uns Remédios”
(idem: 182), isto é, uma atração turística e, sobre isso, um local onde o forasteiro, no verão,
encontrasse alguns dos “requisitos de hospitalidade” (1998: 246) que o turismo exige: “a água, a
sombra, a frescura, o canto dos passarinhos, uma boa migalha da natureza” (idem: 247).
4.3. BENS ARQUITETÓNICOS E ARQUEOLÓGICOS
Para além das dádivas da natureza, o turismo duriense pode ainda beneficiar de património
arquitetónico construído pelo Homem. “Poupe-se o antigo ainda reparável e ainda vivo” (1998:
10 Segundo informação disponível no site da Câmara Municipal de Peso da Régua, as termas de Caldas do
Moledo não funcionam desde junho de 2011.
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50) é um mandamento que visa contrariar a descaracterização e salvar testemunhos do passado.
Vila Flor, que “Não se modernizou à custa do antigo” (1969: 245), é, por isso, “Vila exemplar”.
Os solares contam-se entre os sobreviventes de um mundo que a sedução da cidade ameaça de
extinção. Ao solar dos Canavarros, da Rede, da Corredoura, dos Silveiras, do Terreiro,
protagonistas de “Solares desabitados” (1967: 95-99), acrescenta o autor, em “Adebarros” (1974:
153-156), o solar com o mesmo nome. Sugere a transformação destes imóveis em bibliotecas,
museus, pousadas ou casas de repouso. Evitar-se-ia desta maneira o desaparecimento de edifícios
valiosos, ao mesmo tempo que se dotaria a região de equipamentos de que carecia quer para atrair
turistas, particularmente as instalações hoteleiras11, quer para o dia-a-dia dos seus habitantes.
O palácio de Mateus constitui uma exceção neste panorama de abandono dos solares rurais.
Embora não sendo “habitado por família que todos os dias o aqueça, é protegido por mãos
conscientes da sua formosura” (1968: 171). Desde a quinta que o circunda, “lençol de perfumadas
dobras para agasalho da noite” (ibidem), aos tesouros que encerra (idem, 173), o turista encontra
neste local diversos motivos de interesse. Pela informação sobre os preços dos ingressos (idem:
172), percebemos que o turismo é um importante aliado da sobrevivência deste espaço que
proporciona visitas diferenciadas.
Bem mais antiga do que os solares e de interesse turístico indiscutível é a estação arqueológica
da Fonte do Milho. Enquanto prova de “que azeite e vinho se cultivam no Douro há milhentos
anos” (1975a: 190), ela autentica a natureza tradicional destes produtos bem enraizados na
cultura e paisagem da região. O inexplicável abandono das escavações desta “estação romana
digna de ser visitada por enchentes de turistas cultos e incultos” (ibidem) devolveu-a até hoje ao
quase anonimato. Diga-se a propósito que outro tanto sucedeu ao santuário romano da “fabulosa
Panóias” (1968: 174), território mencionado quase no final de “O solar de Mateus”.
Desde um simples crucifixo perdido numa aldeia serrana à capela de Salzedas, os passeios que o
escritor dá pelo Douro, a que dedicaremos um capítulo à parte, revelam-lhe outros tesouros
artísticos que acrescentam interesse turístico à sua terra.
4.4. LUGARES DE DEVOÇÃO LITERÁRIA
11 No final dos anos 50, João de Araújo Correia responsabiliza o plano de urbanização da sua vila pela falta
do “grande hotel que a Régua exige” (1998: 67). Insta também constantemente à recuperação dos antigos
hotéis do Moledo, pois “Ter caldas sem ter cama nem mesa para hospedar banhistas é o mesmo que
escorraçá-los para outras estâncias” (1975a: 156).
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Em “Corografia literária”, João de Araújo Correia aponta a França como exemplo do culto
prestado aos “sítios em que pôs pé um escritor” (1969: 123). Estes locais revestem-se de interesse
cultural, turístico e económico: “Lugar onde nasceu ou viveu um escritor é sagrado. Atrai
peregrinos como santuário. E, com essas peregrinações, lucram as terras. O espiritual dá de comer
ao temporal” (ibidem). O turismo literário surge-lhe por isso como um possível escudo contra a
decadência rural: “Hoje, que a província se despovoa, não lhe convirá atrair o citadino com o
doce engodo dos sítios literários?” (idem: 124).
Na sua região, Resende é um destes lugares, pois “interveio na execução de muita página
queirosiana” (1968: 57). Daí o incitamento à visita dirigido ao público: “Porque não vão os
senhores um dia até Baião e Resende? Não é só ler até adormecer na poltrona. É preciso ver, com
olhos de ver, os lugares literários” (idem: 60-61).
Transformado em albergue, o solar de Adebarros seria o ponto de apoio para um percurso por
“terras de Aquilino” diligentemente traçado pelo escritor (1974: 155). É que a serra da Lapa, para
além de outros atributos de que trataremos mais adiante, tem a seu favor o facto de ser um sítio
aquiliniano, já que “O grande estilista estudou ali, no colégio instalado na casa que outrora fora
dos jesuítas” (1975a: 78) e desta experiência se serve em Uma luz ao longe e Terras do demo.
O próprio escritor, nos seus “devaneios de turista em terra portuguesa” (1968: 73), desloca-se a
alguns destes sítios e retrata-os nos seus relatos de viagem. Na sua jornada “Da Régua a Barca
de Alva”, visita a casa da Batoca, de Junqueiro, lugar que o deixa “indignado” (1969: 99) devido
ao estado de abandono em que se encontra, comprovando a pouca atenção que, em Portugal, este
tipo de espaços merece.
Mais satisfeito ficou o nosso turista literário quando foi propositadamente à Fraga da Ermida,
“colosso donde se pode extrair a estátua do Adamastor” (1975b: 151). Após uma falhada tentativa
anterior, o universo que descobriu levou-o a concluir: “A dois passos do mundo actual, vi-me
noutro mundo, nuns restos de mundo velho guardados num relicário” (1974: 151). A segunda
visita não o vai dececionar. A estrada que lá conduz, a esperteza e desafetação dos habitantes da
aldeia, a pureza dos seus produtos, a ruralidade intocada e o regresso das águias e das cabras
bravas ao Marão acrescentam encanto ao lugar imortalizado por Guedes de Amorim no seu
romance Aldeia das águias (1939).
4.5. GASTRONOMIA
12
Este mundo serrano e genuíno assegura o fornecimento dum produto que faz as delícias do
escritor e dos seus conterrâneos, o requeijão. A especificidade deste artigo leva o cronista a
esclarecer: “Não se confunda o requeijão da minha serra com o de outros sítios, que chamam
requeijão ao soro de leite fervido e refervido. Não, senhor… O da minha serra, mais uma vez o
digo, é leite coalhado” (1975b: 154). A mesma origem tem o queijo de cabra, apreciado por
“estrangeiros que uma vez o provaram. Assim como o requeijão…” (1998: 170).
Enquanto este último “É um produto de Primavera” (idem: 171), o outono traz a “boa castanha
com que se leve um resto de vinho do outro Verão, que faz o homem são” (1967: 55). O vinho
de consumo não compete com o vinho do Porto, cujo protagonismo entre os produtos típicos da
região justifica a atenção especial que devia ser dada à sua promoção. Constatando que “As
excursões passam na Régua como gato por cima de brasas” (1998: 27), Araújo Correia sugere
que “deveriam apear-se na Casa do Douro, serem aí mimoseadas com um cálice de Porto a cada
viajante” (ibidem). É que “A propaganda do nosso vinho e da nossa terra deve começar pelo país”
(idem: 28). Nesta altura em que o excursionismo era prática comum12, o turismo seria uma forma
de divulgar o vinho do Porto e não o oposto, favorecendo assim a região de várias maneiras.
Ao passear pelo Douro, o escritor enaltecerá, como veremos, outros sabores regionais, ao mesmo
tempo que indica pratos que agradaram ao seu paladar.
4.6. MUSEU, PRECISA-SE
No seu papel de impulsionador do turismo numa região em que praticamente tudo estava por
fazer neste domínio, compreende-se que João de Araújo Correia, para além de propor o
aproveitamento de estruturas já existentes, sugerisse também a criação de equipamentos novos.
Entre estes, avulta a proposta para a criação do Museu do Douro, detalhadamente apresentada no
inaugural Sem método, conforme já assinalamos, numa época em que em Portugal apareciam este
tipo de organismos13.
12 Deve-se à Sociedade Propaganda de Portugal a classificação de Portugal como “paiz das excursões”
(apud Ferreira e Simões, 2010: 83), rótulo reforçado pelo Estado Novo ao estimular a criação de associações
de recreio, promotoras de excursões, e ao fomentar o excursionismo nacional, tanto ferroviário como
rodoviário. Estas deslocações pelo território pátrio obedeciam a propósitos doutrinários (Cadavez, 2012:
160, 206-209). 13 Em João de Araújo Correia, cronista das gentes do Douro, Martins de Freitas (2013: 226-237) reconstitui
com pormenor o contributo do escritor para que este museu deixasse de ser só uma ideia sua.
13
Este “estabelecimento de pura função cultural” (1983:181) possuiria uma acentuada vocação
turística, pois o autor idealiza-o como “tombo de relíquias para bem-aventurança do forasteiro
erudito” (ibidem).
No esboço que dele traça, Araújo Correia consagra especial atenção à “lição permanente de
Etnografia” (ibidem) que o museu deveria constituir. Como “a Etnografia ajuda a definir a
individualidade cultural de uma dada região e do povo que a habita, contribuindo para a sua
afirmação” (Damasceno, s/d: 225), competiria ao museu exibir os diferentes tipos sociais
característicos do Douro, ao mesmo tempo que “Resquícios de danças e cantares regionais
seriam apanhados nesse museu como por lava fixadora de costumes” (Correia, 1983: 182).
Recorde-se que o Estado Novo, com os mesmos propósitos nacionalistas que favoreceram o
desenvolvimento da etnografia em Portugal a partir do século XIX, apoiou esta disciplina e
incrementou a criação de museus regionais e etnográficos como o da Póvoa de Varzim,
inaugurado em 1937, ou o de Vila Real, de 1940. Neste panorama, o museu proposto por João
de Araújo Correia à margem dos planos oficiais seria um bilhete de identidade ao serviço da
afirmação de uma região secundarizada.
Os diversos elementos de natureza identitária desempenhariam também uma função
promocional, dirigindo uma espécie de convite ao turista comum: “Quantos vultos! Mais
interessantes para o turista do que para nós […], permaneceriam hirtos no Museu, é verdade, mas
como se dissessem: quereis ver-nos na lidairada? Caminhai por esse Douro acima…” (idem:
182).
Ao mesmo tempo, ao ser instalado na Régua, onde “portas dentro, além dos armazéns, nada há
que mostrar aos forasteiros” (ibidem), o museu seria um pólo de atração turística, mostrando
como a cultura é uma importante aliada do turismo.
Cerca de trinta anos depois, altera-se a funcionalidade atribuída ao museu a haver. Compete-lhe
nesta altura ser guardião da extinta “Poesia agrária”: “A esse museu devem ir recolhendo, quanto
antes, as alfaias inúteis da vinicultura arcaica, feita empiricamente, mas de tão boa memória, que
deu volta ao mundo. […] Se, à míngua de braços, não vale a pena tocar na leiva, guardem-se
naquele álbum essas recordações” (1967: 193-194). Como dirá explicitamente numa crónica de
1972, o Douro que inspirou o projeto inicial do museu, “Aquele Douro desapareceu” (1975a:
14
228)14. Joana Damasceno (s/d: 224) fornece a explicação para esta outra missão do futuro
organismo cultural:
As transformações brutais que caracterizam o século XX transformaram o mundo rural e tradicional, fizeram
com que a sua essência corresse perigo; a industrialização acabou com essa imagem idílica do campo, onde
o homem estava perfeitamente integrado na natureza, embora, em Portugal, tal só tenha ocorrido depois da
década de 60, dado a importância que foi atribuído ao ruralismo por Salazar (…).
De qualquer modo, o desenvolvimento da etnografia fez com que surgissem em Portugal estudiosos que logo
alertaram para esse perigo, defendendo a criação de museus que guardassem a memória da cultura popular e
dos valores a ela inerentes e que atraíssem turistas ansiosos de conhecer esse mundo que se perdia.
À estação da Régua caberia também uma função museológica e, por conseguinte, cultural e
turística. Concebida como “apropriado invólucro” (1998: 31-32) do museu, competia-lhe
anunciar “ao viajante, mesmo sem letreiro: aqui é a Régua!” (idem: 31), isto é, a capital de um
mundo específico, com uma identidade bem vincada. Por isso o escritor a monumentaliza,
idealizando para ela um painel de azulejos, inspirado talvez na estação de S. Bento, que
representasse o Douro de boa memória e não deixasse dúvidas quanto aos símbolos identitários
desta região: “Uma estação que fosse o Douro em azulejos… Que mostrasse o labor vitícola, a
cava, a poda, a vindima, o lagar, o tonel, o carro de bois e o barco rabelo. Que fixasse alfaias e
costumes condenados a desaparecer por técnicas modernas. Que perpetuasse poesia certa
ameaçada por poesia incerta” (ibidem).
4.7. UM FESTIVAL DE CULTURA
A afirmação e preservação da identidade de uma comunidade não tem nos museus o seu único
obreiro: “As exposições e os espaços museológicos atribuem e validam significados, pelo que se
tornam importantes em contextos nacionalistas e turísticos, nos quais se pretende difundir as
histórias e os saberes que identificam inequivocamente os grupos” (Cadavez, 2012: 16).
Embora em contexto regional, não nos parece ser outra a função da “parada agrícola”, evento
cuja recuperação o autor de Cinza do lar defende. Na sua conceção original, e de acordo com a
sua própria designação, a parada agrícola evidenciaria a natureza rural da capital do Douro,
exibida no seu melhor: “Quis o Dr. Zagalo que a nossa Régua, sua pátria adoptiva, mostrasse em
cada ano, a quem a visitasse, tudo quanto vale como centro produtor de maravilhas agrícolas”
(1998: 59-60). Seria, pois, uma antepassada da Feira Nacional do Cavalo, do Festival da Cereja
ou da Festa da Flor.
14 Apesar de repetidos apelos do escritor na imprensa, aos quais se juntaram outras vozes, este museu apenas
foi criado pela Lei 125/97 e inaugurado a 20 de dezembro de 2008, vinte e três anos após a morte de João
de Araújo Correia e mais de setenta anos depois da sugestão inicial.
15
Na reformulação de João de Araújo Correia, os visitantes, habitantes e outros, deparariam com
uma feira agrícola integrada num festival eminentemente cultural:
Debaixo de telha, os gráficos, os mapas, as fotografias, as conferências, as exposições bibliográficas, alguma
relíquia vínica. Ao ar livre, ao longo do cais, diante do rio, a ostentação de frutas, flores e legumes, os vinhos
de mesa e de sobremesa, as alfaias, o apeiro, os descantes, a etnografia. Ao lume da água, e à beira de água,
os barcos rabelos provariam ainda a sua serventia estética e utilitária. Armariam alguns em restaurante. Mas,
a maior parte, carregados de pipas, melões, melancias, aumentariam como barracas, na superfície líquida, o
recinto da feira. (idem: 60)
Nesta versão, o certame seria não apenas uma montra do presente, mas sobretudo uma montra
do passado que, enquanto cerne da identidade regional, se pretende eternizar. Repare-se, a
propósito, nas inovadoras propostas relativas aos barcos rabelos, veículos de cuja
refuncionalização depende a sua sobrevivência como símbolo identitário. Uma solução
harmoniosa como esta revela a necessidade de um equilíbrio entre progresso e passado, de forma
a que este não pereça às mãos daquele. Só assim eventos deste tipo desempenham o papel que,
turisticamente e não só, lhes compete: “Os espaços de exibição e o património assumem-se,
assim, como evidências óbvias de essencialismos e veículos de transmissão e validação de
memórias culturais, estimulando a familiaridade com a cultura regional ou nacional” (Cadavez,
2012: 17).
4.8. PERCURSOS
Nas suas assumidas “peregrinações pela formosa terra portuguesa” (1998: 121), não podia João
de Araújo Correia deixar de calcorrear os quatro cantos da sua terra-mãe. A profissão de médico
assim o exigia. Porém, não é destas deslocações profissionais que o escritor se ocupa nas
narrativas de viagem durienses que nos deixou. Nestes textos, relata geralmente jornadas curtas
empreendidas a partir da sua vila, resultantes de convites de conhecidos ou amigos, como a ida
a Vila Flor (1969: 241-245), ou, o que é mais comum, deambulações empreendidas por iniciativa
própria. Num caso como no outro, viajar é, ao mesmo tempo, um passatempo e uma forma de
ilustração. Este comportamento típico do turista distingue o escritor dos seus conterrâneos: “Ir à
Barca de Alva, percorrer de ponta a ponta o país vinhateiro, é façanha que mal cabe no cérebro
de muito reguense. Que vou eu fazer à Barca de Alva? Se não tenho lá que fazer, não vou” (1969:
95).
Com mais ou menos detalhe, o escritor-viajante fornece indicações quanto ao percurso seguido
no seu trajeto: “Já Leomil […] ia ficando para trás […]. Moimenta, que cheira a gasolina,
idem…Vila da Rua, […] ainda estava a fazer meia-noite medieval. Adebarros, triste… […] Mais
alegre e despreocupada, a povoação de Penso…” (1974: 132). Por vezes, informa também sobre
16
a época em que realizou a viagem, sugerindo talvez a melhor altura para idêntico
empreendimento: “Ao partir, saudei o tempo, que me anunciou o próximo Outono com os
primeiros afagos de temperatura doce e mansidão do ar” (1969: 96).
Relativamente aos destinos, eles dividem-se em duas categorias, serranos e urbanos (vilas e
cidades), o que mostra as diversas realidades que, no Douro, o turista pode encontrar. Os lugares
serranos visitados por João de Araújo Correia correspondem quase todos a locais de
peregrinação. No entanto, não é esta vertente que entusiasma o escritor. A Senhora da Serra,
localizada num “topo agreste” (1974: 102) do Marão, impõe-se por uma natureza tão inóspita
que faz o narrador sentir que trocou a Terra pela Lua. A Serra da Lapa, “no termo de Sernancelhe”
(1975a: 75), é também o “reino da pedra nua” (idem: 76), mas tem outros motivos de interesse
turístico: “É atraente a serra da Lapa, com o seu santuário, cheio de histórias místicas, à Manuel
Bernardes, e acervo de bens profanos, que podem cativar quem ponha os pés neste mundo. Será
desprezível o nascimento de um rio e um pedaço de pão que se pode comer, apresigado com uma
lasca de milagroso presunto?” (idem: 78). Em S. Salvador do Mundo, próximo de S. João da
Pesqueira, há património a não perder: um calvário do século XVI, umas capelas “povoadas de
toscas esculturas” (1975b: 100), no meio de uma natureza agreste, “um pequeno museu de
imagens sacras provenientes do extinto convento dos Terceiros de São João da Pesqueira” (idem:
101) e a “Relíquia arquitectónica […] [que] é um cipo encravado numa parede” (ibidem) da
capela do santo. O nosso cicerone sublinha ainda o encanto da paisagem que dali se avista:
“Quem chega ao topo do monte fica boquiaberto – mais de espanto que de cansaço” (idem: 100).
O escritor-turista continua em território serrano ao visitar a aldeia da Ermida, no Marão. Apesar
de assinalar a beleza de um “calvário gótico aberto a cinzel numa folha de granito” (1975b: 152),
o que o cativa neste local são as pessoas, elemento em que o nosso viajante raramente se detém
quando relata os seus passeios: “Aquela gente […] era bem lançada e tinha rosto perfeito. De
mais a mais, falava bem. Muita naturalidade, nenhum tropeço, língua muito pura…” (1974: 148).
Nada que surpreenda em almas que vivem em harmonia com a natureza, bebendo o vinho
“consoante o deu a videira” (1975b: 152) e combatendo infeções com mel (1974: 151).
A paisagem guarda marcas da agricultura antiga, aquela que, por ser destino, não olha ao lucro:
“Pasmei de umas leiras poucos maiores que lenços de assoar, mas, caprichosamente agricultadas
em patamares estreitos, à margem de fios de água. Não passou por ali economista, com o rentável
apanhado a dente” (1974: 149; itálico no original). A Ermida, a aldeia onde vive a “Árvore feliz”
(1998: 119-121) e a terra do negrilho a caminho de Favaios (1975a: 159-162) são um museu a
céu aberto da ruralidade em estado puro.
17
Também no regresso de Barca d’Alva João de Araújo Correia se extasia perante a paisagem
agrícola: “Mas, vim recapitulando, de estação a estação, o meu passeio. Como se ajardinou em
vinha o sítio do Roncão… Inesperados recantos de bucolismo alpestre… […] Curvas e declives
de todas as colinas, umas atrás das outras, à parte o mistério, a personalidade de cada estação,
que geometria! É Euclides casado com Vergílio!” (1969: 99). No relato desta viagem ao termo
do “país vinhateiro”, é a diversidade da paisagem duriense que detém a primazia, embora a
prodigiosa engenharia de túneis e pontes não passe despercebida. O percurso torna-se, assim,
mais importante do que o destino. No único texto sobre uma viagem de comboio, a utilização
deste meio de transporte não será alheia a tal peculiaridade.
Nos relatos de viagens de automóvel a outras vilas ou cidades, as notações paisagísticas não se
sobrepõem a outras indicações. Vila Flor, por exemplo, conta com uma bela paisagem
envolvente, “um prodígio de ondulações coloridas, sépias e azuis, verduras e lumes de água que
enaltecem o povoado” (1969: 244), mas não só, pois também possui monumentos assinaláveis:
a “delicada matriz” (idem: 243), solares, uma fonte romana, “restos de muralha do tempo de D.
Dinis” (idem: 244) e castros a explorar. Uma biblioteca e um museu in ovo são outros motivos
de interesse cultural. Nesta “Vila exemplar” onde o antigo convive com o moderno, não falta
ainda uma pensão modelar no seu asseio e modéstia para acolher o turista.
Da mesma forma, a deslocação ao Pinhão proporciona um passeio “Rico de beleza e
ensinamento…” (1998: 117). O trajeto acompanha a “rude paisagem” (idem: 116) temperada
pela linha de “quintas veneráveis” (idem: 117). Avista-se ainda um castro a pedir escavações. A
vila e arredores guardam memórias da presença romana e de episódios sangrentos da história de
Portugal.
Os passeios nas “Margens do Varosa” e entre “Sernancelhe e Penedono” revelam um rico
património artístico. Em Salzedas, o escritor-viajante recomenda particularmente a capela da
Sagrada Família, mas não deixa de destacar os quadros que enfeitam cada altar da igreja de três
naves, um dos três claustros do antigo convento e “um belo jardim setecentista” (1968: 75). Já
na Ucanha, é “a ponte e, à entrada da ponte, a torre castrense ali construída no século XV” (idem:
76) que justificam a sua visita. O turista culto poderá ainda avistar a casa onde nasceu o etnólogo
Leite de Vasconcelos.
Em Sernancelhe, numa manhã de inverno, apenas “a curiosa parte românica da igreja matriz”
(1974: 133) leva o autor a enfrentar o frio. A seguir, Penedono conta com “a sua torre de
menagem assente numa peanha” (idem: 135), com “mais carácter, como arquitectura, do que o
solar do lendário Magriço, construção singela, sobre o comprido” (ibidem). No balanço deste
18
“doido passeio” (ibidem), concluirá o escritor-viajante que só viu “sarcófagos” (idem: 136),
desde o dos Távoras ao da “nossa agricultura tradicional” (ibidem). Merecem-lhe nota positiva a
hospitalidade do transeunte que foi chamar o farmacêutico e este, que pôs a sua escalfeta à
disposição do visitante “com a lhaneza de quem oferece um cigarro” (idem: 134). Louvável
também a “casinha de pasto muito acolhedora” (ibidem) e o almoço à base de produtos locais:
“Ovos, presunto e ricos peixes do Távora, saborosos como trutas de primeira água” (ibidem),
acompanhados por um vinho “capaz de desafiar o do melhor hotel” (ibidem). Não é esta a única
vez em que o escritor se ocupa da gastronomia dos locais visitados. Para além das já apontadas
especialidades da Senhora da Lapa, uma refeição em terras do Varosa suscitou-lhe este
comentário: “Almocei portuguêsmente” (1968: 77). Sem “cartel escrevinhado em franciú”
(ibidem), este repasto celebra os sabores tradicionais: “Peixe frito, cabrito assado, arroz de forno,
lombo de porco e o subtil fumeiro da região” (ibidem).
Noutras ocasiões, os passeios de João de Araújo Correia são bem mais circunscritos, como
sucede com “mais uma visita” ao solar de Mateus. Começando pelo exterior, o escritor-viajante
realça a natureza bucólica do espaço envolvente, o qual “Lembra tempos antigos, cheios de paz
cantada por Vergílio” (1968: 171), assim como a “estrofe cheia de harmonia” (idem: 172) que é
o edifício. No interior deste, o turista empregará igualmente bem o seu tempo: para além de
“mobiliário, tectos artesoados, cerâmicas de várias procedências, pinturas, sedas” (idem: 173), o
palácio alberga a monumental “edição dos Lusíadas, feita em Paris pelo Morgado de Mateus em
1817” (ibidem). No regresso, pela referência à “fabulosa Panóias” (idem: 174) insinua-se outro
local de interesse cultural, recomendável também porque os “pinhais espessos” (ibidem) que
escondem parte da mítica localidade dão “de beber saúde ao viandante” (ibidem) citadino, vítima
da poluição. Apela, por isso, à conservação desta reserva de ar puro nas imediações da capital de
distrito. Note-se como, da natureza ao património, não falta numa pequena área com que captar
a atenção do viajante.
Nas suas crónicas, João de Araújo Correia não se limita a deixar o testemunho das suas andanças
durienses, chegando mesmo a idealizar itinerários turísticos para uma determinada zona.
Transformado o solar de Adebarros em pousada, ele serviria de ponto de apoio para “breves
passeatas” (1974: 155) que poderiam saciar diferentes apetites turísticos. O turista literário teria
à sua disposição os vizinhos territórios aquilinianos. O bacalhau da Ponte do Abade faria as
delícias dos cultores do turismo gastronómico. “Sernancelhe, terra de monumentos” (idem: 156),
e Aguiar da Beira, com a sua “Idade Média muito limpa e muito firme” (ibidem), agradaria aos
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apreciadores do património. Os devotos do turismo religioso poderiam dirigir-se à Senhora da
Lapa.
Não é tão completo o roteiro traçado no primeiro parágrafo de “Margens do Varosa”, constando
apenas de uma possível rota complementar da visita a Salzedas e à Ucanha: “Aí [Ponte de
Dalvares] descansei do meu passeio a Salzedas e à Ucanha. Mas, aí poderia tomar fôlego para ir
a Tarouca e, mais adiante, a São João de Tarouca” (1968: 73).
Viajante convicto, João de Araújo Correia, ao partilhar com o seu leitor os encantos da região
onde nasceu, deixou-nos um inventário dos tesouros turísticos da sua pátria vinhateira. As
estradas e os comboios modernos tornam próximo um mundo onde o antigo se torna eterno.
5. CONCLUSÃO
Não foi preciso amansar o poético “rio de mau navegar” nem fazer do Douro Património da
Humanidade para que surgissem vozes a salientar os dotes turísticos desta região. João de Araújo
Correia surge na sequência de nomes como o Visconde de Vila Maior ou Oliveira Soares.
Remando contra várias marés, ele destaca o potencial turístico da sua terra numa altura em que
o turismo nacional se encontrava em expansão, muito à custa do chamado turismo de “sol e
praia”. A paisagem é o cartão de visita de um universo rural a que específicos modos de vida,
tradições, personagens ou lendas dão corpo. É porque “há que ver, admirar e sentir” (1998: 121)
no campo que este possui indiscutível interesse turístico. O olhar deste escritor que é também um
turista culto, atento “ao valor de muita coisa humilde” (1975a: 158), encarrega-se de assinalar os
trunfos turísticos da ruralidade, contribuindo ao mesmo tempo para a preservação da identidade
local.
De qualquer maneira, é sempre o futuro da região que está em causa, pois, enquanto atividade
também de natureza económica, o turismo é outra fonte de rendimentos de que pode usufruir esse
“escravo da vinha” (1969: 130) que é o homem duriense, afastando a tentação de partir para
outros lugares e atraindo habitantes descontentes de outras zonas. Desta forma, o turismo
constitui sem dúvida um fator de desenvolvimento.
A ausência de sistematicidade nos escritos turísticos de João de Araújo Correia não os torna
aleatórios, sendo bem visíveis as ideias do autor sobre esta matéria. Embora não fosse seu
objetivo o levantamento exaustivo das valências turísticas da região, surpreende a quantidade de
propostas que apresenta para criar essa “obra de arte suprema, que é o viajante (1968: 249). Diga-
se que os seus conterrâneos também não estão fora da sua esfera de ação, pois ao mesmo tempo
20
que lhes revela que as valias da sua terra não se esgotam no vinho e na vinha, oferece-lhes razões
para a apreciarem mais e gostarem mais de si mesmos.
Na sua missão de dinamizador turístico, aponta criticamente o ativo e o passivo dos recursos
turísticos do Douro, mostrando que muito há a fazer para que turistas, mais ou menos cultos,
possam usufruir de produtos turísticos tão diversos como a paisagem, o termalismo, o património
arquitetónico, a gastronomia ou os lugares literários.
O profundo apego do escritor à sua terra, bem como a sua preocupação “com a felicidade dos
povos (1975a: 201), contribuíram para o profetismo turístico a que se dedicou. Pelo seu zelo,
João de Araújo Correia encarna sobretudo o exemplo de quem sente a responsabilidade de
descender dos homens que moldaram “A mais importante região agrícola do mundo” (1975b:
17). É esta consciência que o leva a exortar: “é imperioso sacudir a letargia e a mediocridade para
que sejamos dignos do Douro” (1974: 24).
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