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LAO-TSÉ
"Nas profundezas do Insondável jaz o Ser. Antes que o céu e a terra existissem, Já era o Ser. Imóvel,
sem forma. O Vácuo, o Nada, berço de todos os Possíveis. Para além de palavra e pensamento está o Tao, origem sem nome nem forma, a Grandeza, a Fonte eternamente borbulhante: O ciclo do Ser e do Existir"
As introduções à cultura chinesa e sua história espiritual falam habitualmente das três doutrinas: Ju
(confucionismo), Tao (taoísmo) e Fo (budismo), sendo que, particularmente na literatura ocidental, “doutrina”
e “religião” são colocadas no mesmo plano.
O nome Lao Tsé, velho Mestre, está ligado ao surgimento da filosofia de vida do taoísmo, sendo que
o texto-chave é o Tao Te Ching – Cânon do Caminho e da Virtude. A mais antiga nota biográfica sobre Lao
Tsé vem de um historiador da corte dos imperadores Tan, em 100 aC.
Seu nome era Erh Li, e na maturidade passa a ser Dan. Nasceu em uma aldeia do Estado de Ch’u,
extremo sul da China Imperial.
É nebuloso o fato de ter Lao Tsé entrado em contato com Confúcio, nada podendo ser provado; tem-
se de concreto o arrependimento de Confúcio (por ter sido falso profeta) e sua mudança de conduta, passando
a ser discípulo de Lao Tsé.
Diz-se que Erh Dan Li tinha uma personalidade marcante e dotada de grande afabilidade e
inteligência, recebendo tudo o que seu pai poderia oferecer-lhe em conhecimentos: foi discípulo de grandes
mestres de sua época.
De acordo com a tradição, Lao Tzu (Lao Tsé) foi guardião dos Arquivos Imperiais de Loyang
(província de Honan) até que, enojado com a hipocrisia e a decadência, foi procurar a virtude em ambiente
mais natural.
Partiu em direção a uma região que hoje é o Tibet. Ao atravessar a fronteira (em Hank Pass), o guarda
Yin Xi lembrou-lhe de que seus ensinamentos perder-se-iam, pois não haviam sido gravados. Pediu-lhe que os
registrasse por escrito para a sua preservação para a posteridade. Lao Tzu nada escrevera antes, pois admitia
que a observação da natureza era mestre mais confiável que as palavras dos homens, mas atendeu ao pedido
do guarda e deixa uma coletânea de 81 parágrafos que não transmitem princípios doutrinários, mas versos que
as pessoas adaptam nas diversas situações, dando uma maneira de aplicação prática de se viver em harmonia,
dentro do equilíbrio das polaridades da manifestação do TAO.
O nome Lao Tsé aparece pela primeira vez nos textos do século III aC. Nos primeiros tempos da
dinastia Han (começo do século II aC), sua doutrina deve ter alcançado uma posição de absoluto predomínio.
Quando, em 127 aC, a tradição clássica confucionista foi erigida como única doutrina a ser ministrada
na Academia Imperial, ocorreu ao mesmo tempo a degradação das tendências doutrinárias não-confucionistas,
como sendo heterodoxas. Com isso, também os ensinamentos de Lao Tsé desapareceram do horizonte oficial.
Em consequência, não foi mais possível reconstruir a sua tradição nos séculos seguintes.
Na segunda metade do século II, surgiu uma seita que evoluiu para um movimento popular, uma
rebelião espalhada pelo país. Com seu líder –Chang Tao Ling- começou uma hierarquia que perdura até hoje.
Esse movimento denominou-se taoísmo, Doutrina de Tao, taoísmo religioso. Lao Tsé assou a ser venerado
como seu patriarca e foi, inclusive, divinizado.
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A ortodoxia neo-confuncionista desaloja esta posição no início do século XX sob a alegação de que
seriam vários os autores da doutrina, colocando abaixo, portanto, os dados do historiador Sse-Ma Ch’ien...
porém, ainda hoje as estátuas do divinizado Lao Tsé são veneradas.
Segundo Wang Pi, temos que na época em que a dinastia Han sucumbia em meio a uma terrível
desordem, havia uma divisão em três focos de poder. A síntese arquitetada no século II a. C. – que associava a
Escola confuciana a uma compreensão do universo – perdera a sua força inspiradora original. O mundo chinês
estava em crise espiritual... A antiga concepção chinesa do mundo e do homem encontrou aqui as suas
primeiras ideias fundamentais (mais tarde decisivas para o desenvolvimento de uma história espiritual)
voltando aos antigos escritos taoístas. Gradativamente, o influxo da filosofia budista veio acrescentar-se ao
pensamento da elite, de tal sorte que se difundiu o conceito de que “as três doutrinas” eram complementares
entre si.
Durante mais de um milênio a religião espalhou-se por toda a China e por partes significativas da
Ásia. Com o fim da dinastia Ch’ing em 1911 o apoio estatal ao taoísmo terminou, e a China voltou a entrar
numa fase de violentos confrontos internos. Com a revolução de 1949, as práticas religiosas também foram
esquecidas e só depois de 1982, com a maior tolerância religiosa permitida por Deng Xiao-ping, é que o
taoísmo voltou a expandir-se.
Historicamente
O povo chinês reconhece três tradições principais em sua história espiritual: o Confucionismo, o Taoísmo
e o Budismo. Confúcio e Lao-Tsé são os fundadores respectivamente do Confucionismo e do Taoísmo.
Confúcio, considerado o pensador mais influente da história chinesa, inspirou um movimento que insistia nos
valores tradicionais: conduta adequada, modéstia, moderação e respeito pelos rituais.
O Taoísmo começou como uma espécie de filosofia mística, que sublinhava a importância de ser
"natural" e espontâneo, de viver sendo um com o Tao, o Caminho, o princípio da realidade. Com o tempo se
desenvolveu até converter-se numa religião popular, apoiada em rituais e elixires, assim como em deuses.
Enquanto Confúcio e seus seguidores se preocupavam com a moralidade e a sociedade, o Taoísmo tem
uma vertente mais sobrenatural. O Tao e suas ramificações nascem do Tao Te-Ching, uma obra de Lao-Tsé.
(Confúcio não era um místico, e sim um reformador ético e social na antiga China. "O que não queres que
façam a ti, não faças a outro", é uma de suas regras. Seus textos formaram o sistema político e religioso,
estruturado para manter o equilíbrio e a harmonia entre o Céu, a Terra e a humanidade).
O Tao Te-Ching foi escrito quando a vida chinesa estava sendo brutalmente compartimentada por
governantes locais que lutavam por conquistar seus oponentes. O escritor taoísta respondeu com uma
eloquente defesa do indivíduo, que contempla muito além da sociedade. Com 5.000 caracteres, Lao-Tsé
escreveu esse livro em retiro nas montanhas.
O Tao fala da ação espontânea (wu-wei); a relatividade de todos os juízos de valor; a inevitabilidade da
mudança entre os opostos polares; os benefícios da obscuridade, da inutilidade, e especialmente do "nada
fazer".
A tradição taoísta hoje tem rituais com sacerdotes, festivais comunitários, e crenças compartilhadas por
todos de que o mundo (macrocosmo) é paralelo ao corpo (microcosmo).
O Taoísmo organizado tem a ver com a dinastia Chang, que tem suas origens no fundador da ordem dos
Senhores Celestiais, ChangTaoling. No século XX, o 63° Senhor Celestial escapou da China para Taiwan,
sendo sucedido nos anos 70 por Chang Yuanxian.
Enquanto os taoístas consideram Lao-Tsé como seu fundador, a tradição taoísta não procede de uma
fonte ou época únicas.
Hoje, centenas de milhares de pessoas conhecem a teoria yin e yang, e sabem que ela representa as
energias masculina e feminina; talvez se utilizem do I Ching, o livro das mutações, um importante oráculo
chinês; mas talvez não saibam que, no fundo, a chave de tudo isso está no Taoísmo.
Além do Tao Te-Ching, outro importante livro é o Chuang Tzu, uma coletânea de dizeres, histórias e
alegorais que apontam para diferentes aspectos da vida.
No fundo, todas as tradições chinesas se aproveitaram dos ensinamentos do Tao: os confucianos, os
budistas e os próprios taoístas – até Mao Tse-tung escreveu o Tao da política, na sua época.
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Dizem os mitos que Lao Tzu tinha uma personalidade marcante e dotada de grande afabilidade e inteligência e que
recebeu tudo o que o seu pai poderia oferecer-lhe em conhecimentos. Por sua dedicação aos estudos e pelo
carisma que detinha, lhe foi facilitado o ter se tornado discípulo de grandes mestres de sua época.
Todos os mitos dizem Lao Tsé haver sido um ser excepcional e até mesmo existe uma lenda que diz
haver ele sido "concebido imaculadamente por uma estrela cadente" e permanecido no ventre materno por 62
anos, até que surgiu na terra no ano 604 a.C. já com a cabeleira branca.
Fontes confiáveis atribuem a Lao-Tsé a missão de haver sintetizado o Monismo numa doutrina que
recebeu o nome de Taoísmo, em parte numa obra milenar conhecida pelo nome de Tao Te Ching.
De acordo com a tradição, Lao Tsé foi contemporâneo de Kung Fu Tsé (Confúcio) de quem foi discípulo
de Confúcio após haver vivido na China durante 80 anos se dirigiu para o Tibet tendo antes deixado um
pequeno livro, o Tao Te Ching que haveria de se constituir a síntese do pensamento Monista Chinês.
Não há bastante evidência histórica de alguém de grande influência que haja vivido na China com o
nome de Lao Tzu no 6º século a.C., porém há registros históricos (Shih-chi) de Suma Ch'ien do 2º século a.C.
que citam um arquivista do Tribunal de Tribunal de Chou e que pessoalmente instruíra Kung Fu Tzu
(Confúcio). Mas essa afirmação é incompatível com outras crônicas que datam a morte de Lao Tzu meio um
século antes do nascimento de Confúcio.
De acordo com a Tradição Lao Tzu foi o guardião dos arquivos do tribunal imperial e que aos oitenta
anos partiu para a fronteira ocidental de China, onde é agora o Tibet, entristecido e desiludido com as pessoas
que estavam pouco dispostas a seguirem o caminho da bondade natural.
Entre os autores chineses há também aqueles que dizem que Lao Tsé se tornou o guardião dos Arquivos
Imperiais de Loyang (província chinesa de Honan), onde viveu até a idade de 160 anos, quando, então,
enojado com a hipocrisia e a decadência da época, decidiu-se a procurar a virtude em um ambiente mais
natural. Vemos, portanto, que a data específica de nascimento de Lao Tzu é desconhecida desde que grande
parte da sua vida e obra se baseia em lendas. É a Lao Tzu atribuída a autoria do "Tao-Te Ching" (tao-
significando o modo de toda a vida; te-significando o ajuste de vida pelo homem; e ching-significando texto
ou clássico).
Nem mesmo se tem certeza de que o verdadeiro nome do autor do Tao Te Ching haja sido Lao Tzu; e sim
(Erh Dan Li). Lao Tzu seria apenas um apelido, não o seu nome real. Lao Tzu seria apenas de um título
honorifico cujo significado seria "O Velho Mestre". Esta afirmativa tem como base um mito que diz que o
termo "Velho Mestre" tem como base o fato dele haver nascido já com uma cabeleira branca, portanto, como
um homem velho. Também se pode considerar que, no contexto de ensinar e aprender, a palavra "mestre"
pode significar "O Estudante Velho" tal como na língua japonesa o nome "roshi" significa mestre de ensino de
Zen.
Assim como o nascimento de Lao Tsé é envolto em certo grau de mistério, mais ainda a sua morte. Na
verdade, oficialmente nada mais se sabe dele após haver saído da China, mas há uma lenda que ele partiu da
terra com a idade de 162 e transforma em um dragão.
Com certeza Lao Tsé viveu por muitos anos na China até que decidiu partir em direção a uma região que
hoje constitui o Tibet. Foi nessa viagem que ele ao atravessar a fronteira da China, em Hank Pass, um guarda
chamado Yin Xi (Yin Hsi), lembrou-lhe que possivelmente todos os seus ensinamentos logo cairiam no
esquecimento se alguma coisa não ficasse gravada, e assim pediu-lhe que, antes de abandonar a China,
deixasse alguns ensinamentos básicos registrados por escrito a fim de tudo aquilo que havia transmitido
durante tantos anos não caísse no esquecimento, para que pelo menos em parte pudessem ser preservados para
a posteridade. Lao Tzu, que antes jamais aceitara escrever os ensinamentos por admitir que a observação da
natureza era um mestre bem mais confiável do que as palavras dos homens, mesmo assim resolveu atender ao
pedido do guarda e redigiu numa coletânea de 81 versos a síntese de sua sabedoria.
A obra:
O Caminho, o Tao, está expresso em uma obra, Tao Te Ching (ou King), coletânea de 81 pequenos
aforismos - síntese do pensamento monista chinês.
Coerentemente com a sua maneira de pensar ele não escreveu princípios doutrinários, e sim aforismos
(versos) de forma tal que pudessem ser adaptados por qualquer pessoa ante diversas situações. Algo aplicável
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a tudo e a todos, um escrito de forma genérica e não especifica; um texto de natureza aberta que não
possibilitasse uma forma textual capaz de ser desvirtuado intencionalmente, ou simplesmente ser deformado
pelas traduções. Assim nasceu o fabuloso o Tao Te Ching, um livro de conhecimentos profundíssimos embora
pouco volumoso desde que nele constam 81 aforismos em forma de versos, que mostram uma maneira de
aplicação prática de se viver em harmonia, dentro do equilíbrio das polaridades da manifestação do TAO e
simbolizada pelo Tei Gi.
Os aforismos que compõem os 81 versos são de uma simplicidade desconcertante e o que é bem especial,
eles são adaptáveis a todas as atividades, a todos os lugares, e a todas as épocas. Por esta razão é que existem
centenas de interpretações, cada uma delas especialmente direcionada para um determinado campo de
atividade. Por esta razão, de inicio o Tao Te Ching era uma obra destinada aos sábios, aos líderes políticos, e
aos governantes da China, mas, com o transcorrer dos séculos, tornou-se uma obra destinada a qualquer
pessoa. Pela razão exposta o Tao Te Ching é mais um texto de aplicação prática do que de ensinamentos
doutrinários diretos. Originalmente no Tao Te Ching foram usados cerca de 5.000 caracteres descrevendo o
modo de funcionamento e a manifestação do poder presente no mundo.
(Tao Te King na pg 10)
Tao (modo de vida) Te (ajuste de vida pelo homem) Ching (texto). Há vários sentidos na tradução:
“As leis da Virtude e seus caminhos”, “Como as coisas acontecem”, “O Livro que revela Deus”, “O Livro que
leva à divindade”. De início, o Tao Te Ching era uma obra destinada aos sábios, aos líderes políticos e aos
governantes da China, constando, originalmente de 5 000 caracteres.
O taoísmo é praticado no oriente sob duas formas: Taoísmo Filosófico e Taoísmo Religioso. Os
taoístas filosóficos veem o Tao como método de vida, guia para se achar a harmonia entre o ser e a natureza.
Os religiosos acreditam na existência de um lugar de grandes e pequenos deuses, estudam a natureza
procurando encontrar formas de mudá-la. Estes desenvolveram complicadas cerimônias mágicas e algumas
formas de artes marciais.
Na realidade, no Taoísmo encontra-se um dos princípios herméticos, o princípio da Polaridade: tudo
na natureza tem o seu oposto, físico ou biológico, os pólos yang e yin.
Comentários:
Sobre o governante ideal: (a necessidade de ter em mente a unidade dos opostos). O governante deve ter
a capacidade de conduzir de tal maneira o processo de complementação dos contrários a ponto de não permitir
que eles se apresentem como contrários.
“Quando todo o mundo conhece a beleza do que é belo, então é dada a conhecer também a feiúra.
Quando todo mundo conhece a bondade do que é bom, então é dada a conhecer também a maldade.
Dessa forma, o que é e o que não é aparecem à luz, o pesado e o leve mutuamente completam-se, o
comprido e o curto entre si medem-se, o alto e o baixo inclinam-se um ao outro, sons fortes e fracos
harmonizam-se, o adiante e o atrás se sucedem...” (cap 2)
Quando não se privilegiam os capazes, não haverá rivalidades entre o povo.
Quando não se dá valor aos bens difíceis de conquistar, acabarão as roubalheiras entre o povo.
Quando não se expõe à vista um objeto de desejo, os corações do povo não entram em confusão.
Por isso, o santo, em seu governo, esvaziará os corações do povo e encherá as suas barrigas.
Enfraquecerá as suas vontades e fortalecerá os seus ossos.
Providenciará para que o povo permaneça na ignorância e sem desejos e para que os sábios não se
atrevam a imiscuir-se com ele”. (cap 3)
A tradução da palavra Te pode ser “Força Verdadeira”, comumente vertida como “virtude”. Neste
trecho, Te tem o sentido de força, conquistada pelo apreço do que é humilde. Isto vem ilustrado ainda mais
claramente por meio da metáfora da água, como imagem da fraqueza que supera a força:
“Nada no mundo é mais fraco que a água, mas nada se lhe compara no seu embate contra o que é
forte, porque nada há que possa substituí-la.” (cap 78)
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“O fundamento pelo qual o rio e o mar são na verdade os reis de centenas de vales é justamente
porque sabem que estão por baixo”.
... “Portanto, se alguém quiser estar acima do povo, deve, por suas palavras, colocar-se abaixo dele,
e se alguém quiser estar à frente do povo, é preciso segui-lo...” (cap 66)
Quanto à palavra Wu Wei, que acolhe traduções diversas (“não-intervir”, “não fazer”, “não atacar”),
para o que se dispõe a governar não quer dizer “não intervenção” nos processos naturais do mundo, mas
manter-se afastado, conscientemente, da ideia de que “eu sou aquele que faz isso ou aquilo”:
“Ele não se mostra, por isso brilha.
Não se afirma a si mesmo, e com isso adquire fama.
Não se vangloria, e isso lhe resulta em proveito.
Não se exalta a si mesmo, e com isso ele é o maior.
Por não se meter em emulações, ninguém no mundo terá como rivalizar com ele”.(cap 22)
Quanto a um antecedente Criativo:
“Ele é silencioso e informe, subsiste por si, e não se altera, tudo circunda permanentemente; poderia
ser a mãe do mundo”. (cap 25)
“Se encontraste a Mãe, então conheces o filho.
Se conheces o filho, então volta atrás e agarra-te à Mãe.
Assim estarás a salvo, até o fim da tua vida”. (cap 52)
O movimento do Tao é de retorno. Muitos aspectos do taoísmo podem ser interpretados como uma
fuga do mundo, como uma auto-retração do mundo, mas a mensagem de Lao Tsé pode também ser entendida
como a experiência pura do poder Criador, no seio da vida e da comunidade:
“Aquele que se dedica ao estudo cresce diariamente,
aquele que se dedica ao Tao diariamente diminui.
Por meio de diminuições e mais diminuições, chegarás à não-intervenção, e na não-intervenção nada
há que não aconteça” (cap 48)
“Aferrolha as tuas aberturas, cerra as tuas portas, e estarás livre de fadiga, até o fim da tua
vida” (cap 52).
Segundo a história, Lao Tsé, agora com 80 anos, regressou após três dias com os ensinamentos escritos
em um pequeno livro com aproximadamente 5.500 palavras. Ele o denominou de “Tao te Ching”, o “Caminho
e seu Poder” ou o “Caminho e Princípios Morais”. Logo após, ele montou em um búfalo e partiu para nunca
mais voltar. Lao Tsé foi canonizado pelo imperador Han entre os anos 650 e 684 a.C. Segundo a história, ele
morreu no ano 517 a.C.
Uma das facetas do “Tao te Ching” é ensinar ao povo como resistir às terríveis calamidades comuns na
China. Ele diz que a pessoa deve sempre permanecer em um nível baixo, sem nenhuma ambição, e sem
desejar sobressair sobre qualquer circunstância, a fim de sobreviver.
O Taoísmo religioso (Tao Ciao) surgiu na dinastia do imperador Han, no século II. Tchuang-tseu, um
discípulo de Lao Tsé e filósofo chinês, que morreu no princípio do século III, desenvolveu e proliferou os
ensinamentos de seu mestre.Tchuang-tseu escreveu uma média de 33 livros sobre a filosofia de Lao-Tsé, que
resultou na composição de 1.120 volumes, os quais formam o Cânon Taoísta. Ele acreditava que o “Tao-te-
Ching” era a fonte da sabedoria e a solução para todos os problemas da vida.
Para compreender a filosofia do Taoísmo, vejamos o que Tchuang-tseu pronunciou quando sua esposa
morreu:
“Como posso me comover com sua morte? Originalmente ela não tinha vida, nem forma, e nem força
material. No limbo da existência e não-existência havia transformação, e a força material estava envolvida. A
força material se transformou em forma, a forma em vida, e o nascimento em morte. Da mesma maneira que
acontece com as estações do ano. Ela agora dorme na grande casa, o universo. Para eu estar chorando e
pranteando, será mostrar minha ignorância do destino. Por isso eu me abstenho. ”
A ênfase do Taoísmo é: “Sujeite-se ao efeito, e não busque descobrir a natureza da causa.”
O Taoísmo é uma religião anti-intelectual, que leva o homem a contemplar e se sujeitar às leis aparentes
da natureza, ao invés de tentar compreender a estrutura destes princípios.
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A doutrina básica do Taoísmo se resume em uma forma prática, conhecida como as “Três Jóias”:
compaixão, moderação e humilhação. A bondade, simplicidade e delicadeza também são virtudes que o
Taoísmo busca aparentar às pessoas.
"Meu destino não depende do Céu ou da Natureza; meu destino depende de mim, assume um taoísta.
Como devo ser, pergunta-se o taoísta."
O we wu-wei, o caminho da tranquilidade, não significa exatamente o não fazer, mas sim o fluir com a
corrente da vida, evitando esforços e preocupações desnecessários."
A compreensão do princípio da mudança é a essência do Taoísmo. Buscar o equilíbrio primordial, o seu
conceito filosófico."
Os ensinos de Lao Tsé eram, em parte, uma reação contra o Confucionismo humanístico e ético daquele
tempo, o qual ensinava que as pessoas só poderiam viver uma vida exemplar, se estivessem em uma sociedade
bem disciplinada, e que se dedicassem aos rituais, deveres e serviços públicos. O Taoísmo, por sua vez,
enfatizava que as pessoas deveriam evitar todo tipo de obrigações e convívios sociais, e se dedicar a uma vida
simples, espontânea e meditativa, voltada à natureza. Por isso, o imperador Shi Huang Ti mandou queimar os
livros de Confúcio.
Tao — Deus:
Apesar do Taoísmo originalmente ignorar um Deus criador, os princípios do Tao eventualmente têm o
conceito de Deus. LaoTsé escreveu: “Antes do céu e da terra existirem, havia algo nebuloso... Eu não sei o
seu nome, e eu o chamo de Tao.”
Segundo os ensinamentos do Taoísmo, o Tao (caminho) é considerado a única fonte do universo, eterno e
determinante de todas as coisas. Os taoístas creem que quando aos eventos e coisas são permitidas existir em
harmonia natural com a força macro-cósmica, então existe paz.
Yin e Yang:
Eles consideram também que tudo no mundo é composto pelos elementos opostos Yin e Yang. O lado
positivo é o yang, e o negativo, o yin. Esses elementos transformam-se, complementam-se e estão em eterno
movimento, equilibrados pelo invisível e onipresente Tao. Yang é a força positiva do bem, da luz e da
masculinidade. Yin é a essência negativa do mal, da morte e da feminilidade. Quando esses elementos não
estão equilibrados, o rítmo da natureza é interrompido com desajustes, resultando em conflitos. Eles ensinam
que da mesma forma que a água se modela dentro de um copo, o homem deve aprender a equilibrar seu Yin e
Yang, a fim de viver em harmonia com o Tao. O filme “Guerra nas Estrelas” foi baseado na filosofia taoísta,
em que a força universal existe e as pessoas determinam se a usam para o bem, ou para o mal.
Esta filosofia vai contrária a Teologia Bíblica. Deus é onipotente e a fonte de todo o bem. Lúcifer, hoje
Satanás, foi criado por Deus, e por isso tem limites quanto à sua autoridade e poder. Como fonte do mal, o
Diabo se opõe ao reino de Deus. Ele não é, nunca foi, e nunca será igual ou se harmonizará em sua oposição à
Deus.
Embora formulado há mais de 2.500 anos, o Taoísmo influencia a vida cultural e política da China até
hoje. Suas manifestações mais populares são o chi-kung, arte de autoterapia; o wu-wei, prática da inação; ioga;
acupuntura; e as artes marciais wu-shu ou kung-fu.
Artes Marciais
É ensinado nas artes marciais como: kung-fu, caratê, judô, aikidô, tai-chi-chuan e jujitsu, que o equilíbrio
da pessoa com o Tao é estabelecido quando a “Força” ou “Ch'i”, uma energia que sustenta a vida, flui no
corpo e se estende a fim de destruir o seu oponente.
Acupuntura
Usando a mesma filosofia, eles vêm a saúde fisiológica como a evidência do equilíbrio do Yin e Yang.
Se estes elementos estão desequilibrados, as enfermidades surgem. Eles ensinam que para restaurar a saúde
necessita haver uma ruptura no fluxo do Yin e Yang, o qual é feito através de agulhas inseridas no corpo. Uma
vez que o equilíbrio dos elementos tenha sido restabelecido, a força do Tao pode fluir livremente no corpo
trazendo a cura.
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Ioga Apesar da ioga não referenciar ao Taoísmo, ela incorpora a mesma filosofia da “Força” como
sustentador da vida e da estética. O Taoísmo professa a longevidade e a imortalidade física pela perfeita
submissão à ordem natural universal, através da ioga, meditação, prática de exercícios físicos e respiratórios,
dietas especiais e mágica.
Culto aos ancestrais
Para os chineses, a maioria dos deuses são pessoas que tiveram poder excepcional durante a sua vida. Por
exemplo, Guan Di, que é o deus protetor dos negociantes, foi um general dos anos 200 d.C.
Rituais de exorcismo
O Taoísmo possui um sacerdócio hereditário, principalmente em Taiwan. Esses sacerdotes dirigem
rituais públicos, durante os quais, eles submetem as orações do povo aos deuses. O sacerdote principal, que no
momento da cerimônia se encontra em transe, se dirige a outras divindades, representando outros aspectos do
Tao, em favor do povo. O Taoísmo enfatiza que os demônios devem ser aplacados com presentes, a fim de
assegurar a passagem do homem na terra.
Alquimia
Química da Idade Média e da Renascença, que procurava, sobretudo, descobrir a pedra filosofal e o
elixir da longa vida. O imperador Shi Han enviou expedições navais para várias ilhas, a fim de descobrir a
erva da imortalidade. O imperador Wu Tsung tomou medicamentos taoístas para eterificar seus ossos. Os
chineses buscam o Taoísmo para fins de cura e livramento de espíritos maus. O Taoísmo é a religião que mais
trata da saúde: a longa vida ou a imortalidade é um de seus objetivos.
Magia ou mágica
Arte oculta com que se pretende produzir, por meio de certos atos e palavras, e por interferência de
espíritos (demônios), efeitos e fenômenos contrários às leis naturais. Os discípulos de Lao Tsé diziam ter
poder sobre a natureza e se tornaram adivinhos e exorcistas.
O Ch'i
A palavra mais usada e abusada no Taoísmo é Ch’i, ou qi. Pode ser traduzida por "energia", "poder vital",
"poder interior", ou simplesmente alento. Muitos estudiosos sugerem que é uma palavra que não poderia ser
traduzida. A letra escrita que representa Ch’i na sua forma antiga mostra água se transformando em vapor, e
significa "nuvens de vapor". E quando um chinês quer falar "respiração", ele usa a palavra Ch’i. se uma
pessoa está doente, o médico confirma que o Ch’i da pessoa está funcionando mal. Ch’i é o que pode mudar
de uma hora para outra, e causar a mudança, ao mesmo tempo; o que pode algumas vezes ser visto e outras
vezes não...
O Ch’i está presente em tudo no universo, e é também o TAO. O Ch’i forma a essência da existência e a
compreensão da evolução cósmica. Nós já sabemos que yin e yang são usados para explicar todas as
mudanças, mas eles não são mais do que o próprio Ch’i, chamado yinch’i e yangch’i.
O Ch’i interage com o Jing, ou essência. Ele é considerado a origem do corpo. Sem esse Jing, o corpo
não existe, e não pode fabricar Ch’i.
Para manter a saúde, é essencial resguardar o Jing da pessoa. Por isso se compreende por que os médicos
chineses se interessam muito pela vida sexual do paciente. Quando muito Jing é perdido, não consegue ser
reposto pelo corpo, que carece de sua fonte essencial.
O Ch’i, como uma transformação de Jing, pode ser transformado ou refinado em Shen, que significa a
consciência e a inconsciência, ou melhor, o espírito.
O Taoísmo tem esse nome porque mostra como viver de acordo com o Tao, a fonte de todas as coisas,
indo ao sabor da corrente, não lutando contra a maré. "O Tao nada faz, mas ao mesmo tempo nada deixa de
ser feito."
As forças opostas são independentes e cada um contém a semente ou potencial da outra. O yin está
associado à escuridão, à água e ao feminino; o yang, à luz, à atividade, ao ar e ao masculino. O Taoísmo,
como outros cultos orientais, assume uma equação entre o mundo exterior e o mundo interior. O homem e o
mundo são funções um do outro, o que normalmente uma pessoa comum não percebe. Para que isso se
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manifeste, existe um "know-how" de dois estágios: o primeiro é o uso apropriado do sexo; o segundo é
desenvolver uma estrutura interior meditativa, um "corpo sutil" feito de energias, fazendo com que cada um
entre em harmonia com o Todo.
Isso no Tao é experimentado como tranquilidade total.
Feng Shui
A prática do Feng Shui, ou geomancia, com todo o equilíbrio do yin e do yang dentro e fora da casa em
que moramos, e a circulação do Ch’i pelo ambiente, são muito praticados na China ( e atualmente no mundo
inteiro). Manifestação popular da visão taoísta, o Feng Shui é poderosamente mágico e determina construções,
local de habitação para mortos e vivos, a adequação ou não de cômodos para viver, dormir e trabalhar.
Taoismo na China
(por Guilherme Korte)
O Taoismo teve início no século II. É uma das religiões indígenas, e sua ideologia deriva de antigas
tradições, incluindo Huang-Lao, uma tradição cultural batizada depois de Hunag Di, O Imperador Amarelo, e
Lao Tzu, e seguida por seus fiéis durante a dinastia Han do oeste (206 a.C. - 24 d.C.).
Durante as dinastias Tang (618 - 907) e Song (960-1279), devido ao apoio de seus imperadores, o
Taoismo entrou em um período de pleno desenvolvimento e se converteu em uma importante religião na
China, somente menor que o Budismo. Lao Tzu, o fundador da escola de Taoismo, no começo da dinastia
Qin, é venerado como seu fundador, e a idéia do Caminho (Dao), que se preconiza no livro "O Caminho da
Energia", é a base da religião.
Crendo que o Caminho é a origem do universo e criador de todos os seres vivos, os taoistas adoram toda
a vida no universo e todas as coisas criadas pela natureza. Também crêem que o homem pode alcançar a
imortalidade e converter-se em um ser celeste mediante a prática da austeridade.
No século 12, o Taoismo dividiu-se em duas seitas: O taoismo Chuan-chen e o Taoismo Cheng-I. Os
seguidores do Taoismo Chuan-chen abandonam suas famílias e vivem em templos. Tornam-se vegetarianos e
praticam a austeridade tendo em vista a imortalidade. Outros, seguidores do Taoismo Cheng-I, viveram perto
de suas famílias e não deixaram de comer carne e como ideal, ajudavam outras pessoas a conseguir fortuna e
evitar seus males.
De acordo com o Taoismo, os deuses atuam como administradores e controlam cada coisa no Universo.
Entre muitos deuses venerados pelos taoistas, o Deus de Origem Primitiva, o Deus da Pedra Sagrada, e o Deus
do Caminho da Energia (Lao Tzu) são considerados os deuses supremos. Muitos dos templos taoistas foram
construídos em montanhas donde, segundo a tradição, nasceram os seres celestiais ou se transformaram em
imortais, os antigos taoistas que haviam praticado a austeridade física, mental e espiritual. Atualmente existem
mais de 1600 templos taoistas aonde vivem 25 mil sacerdotes.
A Organização Taoista da China, estabelecida em 1957, em Beijing, é uma organização nacional, com
Ming Zhiting como presidente. Para levar adiante e divulgar a cultura taoista, a associação publicou dezenas
de obras clássicas taoistas e compilou mais de 30 livros sobre o Taoismo e uma série de livro sobre a cultura
taoista. Publica ainda uma revista bimestral, "O Taoismo da China", distribuída no interior e enviada ao
exterior. A Academia Chinesa de Taoismo, fundada em 1990, oferece cursos aos jovens interessados sobre as
investigações e estudos taoistas. Milhares de estudantes graduaram na academia desde seu estabelecimento.
Os taoistas chineses sempre mantêm estreitos contatos com os taoistas em todas as partes do mundo. A
Associação Taoista da China, também é membro da União de Proteção Religiosa e Ambiental.
Fonte site Embaixada da República Popular da China no http://www.embchina.org.br
Site da Sociedade Taoísta do Brasil para consultas: http://www.taoismo.org.br/ - muito conteúdo!!
O Taoísmo na Atualidade Na atualidade, o Taoísmo está dividido em dois ramos: o filosófico e o religioso.
O Taoísmo filosófico é ateísta e se diz ser panteísta. Ele trata levar o homem a uma harmonia com a
natureza através do livre exercício dos instintos e imaginações.
O Taoísmo religioso é politeísta, idólatra e exotérico, pois consulta os mortos. Ele teve início no segundo
século, quando o imperador Han edificou um templo em honra a Lao Tsé, e o próprio imperador ofereceu
sacrifícios à ele. Somente a partir do século VII é que o Taoísmo veio ser aceito como religião formal.
9
O Taoísmo religioso possui escritura sagrada, sacerdócio, templos e discípulos. Também crêem numa
nova era que haverá de surgir e derrotará o sistema estabelecido. Com o tempo, o Taoísmo aderiu deuses ao
sistema religioso, crença do céu e do inferno, e a deificação de Lao Tsé.
Antes do Comunismo tomar a China, para cada 11 chineses, um era taoísta. Suas práticas animistas têm
diminuído na China, mas continua grandemente nas comunidades chinesas da Ásia. Apesar de não ser uma
religião oficial nos Estados Unidos, seus princípios filosóficos são encontrados na maior parte das seitas
orientais no Ocidente.
Atualmente, a religião conta com cerca de três mil monges e 20 milhões de adeptos em todo o mundo,
sendo muito popular em Hong Kong, com mais de 360 templos.
10
Tao Te King CAPÍTULO 1
O caminho que pode ser expresso não é o
Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome
constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe de dez mil coisas
Assim, a constante não-aspiração3 é contemplar as
Maravilhas4
E a constante aspiração5 é contemplar o Orifício6
Ambos são distintos em seus nomes mas têm a
mesma origem
O comum entre os dois se chama Mistério7
O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as
Maravilhas
3 Não-aspiração: significa a ausência de intenção.
4 MIAO: Maravilha, significa as manifestações do Caminho.
5 Aspiração: significa a manutenção da vontade.
6 CHIAO: tem dois sentidos, 1º) Luz, Claridade ou Cor
Branca; 2º) Orifício, Cova ou Abertura.
7 SHUEN: tem dois sentidos, 1º) Mistério; 2º) Cor Negra.
SHUEN é a convergência e a anulação dos opostos.
CAPÍTULO 2
Quando os seres sob o céu reconhecem o belo
como belo
Então isso já se tornou um mal
E reconhecendo o bem como bem
Então já não seria um bem
A existência e a inexistência geram-se uma pela
outra
O difícil e o fácil completam-se um ao outro
O longo e o curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e o baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o depois seguem-se um ao outro
Portanto
O Homem Sagrado8 realiza a obra pela não-ação9
E pratica o ensinamento através da não-palavra10
Os dez mil seres fazem, mas não para se realizar
Iniciam a realização mas não a possuem
Concluem a obra sem se apegar
E justamente por realizarem sem apego
Não passam
8 SEM ZEN: Homem Sagrado. Originado no conceito da
sagração do homem, que tem sentido de união
da Consciência Pura com a Vida Infinita.
9 WU WEI: Não-Ação; tem sentido de ação sem intenção.
10 WU YEN: Não-Palavra; tem sentido de palavra sem
intenção.
CAPÍTULO 3
Não valorizando os tesouros, mantém-se o povo
alheio à disputa
Não enobrecendo a matéria de difícil aquisição,
mantém-se o povo alheio à cobiça
Não admirando o que é desejável, mantém-se o
coração alheio à desordem
O Homem Sagrado governa
Esvazia seu coração11
Enche seu ventre12
Enfraquece suas vontades13
Robustece seus ossos
Mantém permanentemente o povo sem
conhecimentos e desejos
Faz com que os de conhecimento não se
encorajem e não ajam
Sendo assim
Nada fica sem governo
11 SHIN: Coração tem sentido de razão, emoção e intenção.
12 FU: Ventre tem sentido de vitalidade.
13 DZE: Vontades tem sentido de desejos.
CAPÍTULO 4
O Caminho é o Vazio14
E seu uso jamais o esgota
É imensuravelmente profundo e amplo, como a
raiz dos dez mil seres
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira
Límpido como a existência eterna
Não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste15
14 CHUN: Vazio ou Harmonia. Vazio é a Natureza do
Caminho; Harmonia é a Manifestação do Caminho.
15 HSIAN TI: HSIAN significa Imagem ou Forma; TI
significa Rei. “HSIAN TI” é o nome atribuído ao Rei Celeste
– Deus Onipotente criador de todas as formas.
CAPÍTULO 5
O céu e a terra não são bondosos
Tratam os dez mil seres como cães de palha16
O Homem Sagrado não é bondoso
Trata os homens como cães de palha
O espaço entre o céu e a terra assemelha-se a um
fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação
O excesso de conhecimento conduz ao
esgotamento
E não é melhor do que manter-se no centro17
11
16 DZOU GO: Cão de Palha representa no sacrifício o
desapego do ser.
17 CHUN: Centro, Meio ou Interior.
CAPÍTULO 6
O Espírito do Vale18 nunca morre
Isso se chama Orifício Misterioso19
A porta do Orifício Misterioso é a raiz do céu e da
terra
Seja suave e constante
Usufruindo sem se apressar
18 GU SHIEN: GU significa Vale; SHEN significa Espírito.
Espírito do Vale representa a Conciencia doVazio.
19 SHUEN SHUE: SHUE significa Orificio. Orificio
Misterioso é o espaço onde o universo se cria e se destrói. É o
SHUEN GUAN (Portal Negro) da alquimia taoísta.
CAPÍTULO 7
O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e
da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Assim
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o
Corpo20 avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo
20 SZE: O Corpo aqui tem sentido de corpo espiritual.
CAPÍTULO 8
A bondade sublime é como a água21
A água, na sua bondade, beneficia os dez mil seres
sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso assemelha-se ao Caminho
Viva com bondade na terra
Pense com bondade, como um lago
Conviva com bondade, como irmãos
Fale com a bondade de quem tem palavra
Governe com a bondade de quem tem ordem
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade
21 SUE: Água. No I Ching, é o primeiro elemento da
natureza, representa o princípio. Na alquimia
taoísta corresponde ao Sopro Primordial.
CAPÍTULO 9
O que é mantido cheio não permanece até o fim
O que é intencionalmente polido não é um tesouro
eterno
Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser
guardada
Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Trazem para si a própria culpa
Concluir o nome, terminar a obra, retirar o corpo
Este é o Caminho do Céu
CAPÍTULO 10
Quem conduz a realização do corpo por abraçar
a unidade
Pode tornar-se indivisível
Quem respira com pureza por alcançar a
suavidade
Pode tornar-se criança
Quem purifica através do conhecimento do
mistério
Pode tornar-se imaculado
Ame o povo e governe o reino através do não-
conhecimento22
Ilumine e clareie os quatro cantos através da não-
ação
Abra e feche a porta do céu através da ação
feminina
O que gera e cria
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude23
22 WU DZE: Não-Conhecimento tem sentido de
conhecimento sem engenhosidade e malícia.
23 SHUEN TE: Misteriosa Virtude tem sentido de virtude
oculta – um bem que ao é reconhecível pelos outros.
CAPÍTULO 11
Trinta raios convergem ao vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo
A argila é trabalhada na forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto
Portas e janelas são abertas na construção da
casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa
Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade
CAPÍTULO 12
As cinco cores tornam os olhos do homem cegos
12
As cinco notas tornam os ouvidos do homem
surdos
Os cinco sabores tornam a boca do homem
insensível24
Carreiras de caça no campo tornam o coração do
homem enlouquecido
Os bens de difícil obtenção tornam a caminhada
do homem prejudicada
Por isso, o Homem Sagrado se realiza pelo ventre
e não pelo olho
Assim, afasta este e escolhe aquele
24 A relação entre cor, nota (musical) e sabor com os Cinco
Movimentos:
Madeira = Azul = Mi = Ácido
Fogo = Vermelho = Sol = Amargo
Terra = Amarelo = Dó – Doce
Metal = Branco = Ré = Picante
Água = Preto = Lá = Salgado
CAPÍTULO 13
O prestígio e a humilhação geram susto
A nobreza e a grande preocupação situam-se no
corpo
O que são prestígio e humilhação?
Prestígio é inferior
Ao obtê-lo ficamos assustados
Ao perdê-lo ficamos assustados
Isto é o que quer dizer “o prestígio e a humilhação
geram susto”
O que quer dizer “a nobreza e a grande
preocupação situam-se no corpo” ?
A razão de eu ter esta “grande preocupação” é ter
um corpo
Se não tivesse um corpo
Com que teria que me preocupar?
Por isso
Nobre é aquele que entrega o corpo ao mundo
A este o mundo pode se entregar
Quem ama faz do mundo o seu corpo
Neste o mundo pode confiar
CAPÍTULO 14
Aquilo que se olha e não se vê, chama-se invisível
Aquilo que se escuta e não se ouve, chama-se
inaudível
Aquilo que se abraça e não se possui, chama-se
impalpável
Estes três não podem ser revelados
Por isso se fundem e se tornam um
Enquanto superior não é luminoso
Enquanto inferior não é vago
O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência
É a expressão da não-expressão
É a imagem da não-existência
A isso se chama indeterminado
Encarando-o, não se vê sua face
Seguindo-o, não se vê suas costas
Quem mantém o Caminho Ancestral
Poderá governar a existência presente
Quem conhece o Princípio Ancestral
Encontrará a ordem do Caminho
CAPÍTULO 15
Os bons realizadores da antiguidade eram sutis
Maravilhosos, misteriosos e despertados
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E justamente por não poderem ser compreendidos
É preciso esforçar-se para ilustrá-los
Receosos como quem atravessa um rio no inverno
Cautelosos como quem teme seus vizinhos
Reservados como o hóspede
Solúveis como o gelo fundente
Genuínos como a madeira bruta
Vazios como os vales
Entorpecidos como as águas turvas
O turvo, através da quietude, torna-se
gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se
gradualmente criativo
Aquele que resguarda este Caminho não tem
desejo de se enaltecer
E justamente por não se enaltecer, mesmo
envelhecido, pode voltar a criar
CAPÍTULO 16
Alcançando o extremo vazio e permanecendo na
quietude da extrema quietude
Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno25
Apesar da diversidade dos seres
Cada um deles pode retornar a sua raiz
O regresso à raiz se chama quietude
Quietude se chama retornar a viver
Retornar a viver se chama constância
Conhecer a constância se chama iluminação
Desconhecer a constância é a impropriedade que
provoca o infortúnio
Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno
Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer
13
25 FU: Retorno – Hexagrama FU do I Ching, representa, no
auge da quietude, o nascimento da atividade.
CAPÍTULO 17
Do supremo, o inferior tem apenas ciência da
existência
Do estado que o sucede, intimidade ou admiração
Do estado seguinte, temor ou desprezo
Não havendo suficiente confiança, surge a
desconfiança
Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem
deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si,
naturalmente
CAPÍTULO 18
Quando se perde o Grande Caminho
Surgem a bondade e a justiça26
Quando aparece a inteligência
Surge a grande hipocrisia
Quando os seis parentes27 não estão em paz
Surgem o amor filial e o amor paternal
Quando há desordem e confusão no reino
Surge o patriota
26 São duas das cinco virtudes do
taoísmo: bondade, justiça, sabedoria, polidez e fidelidade.
27 Seis Parentes: mãe-filho representa a relação superior-
inferior, irmão-irmão representa a relação em mesmo nível,
marido-esposa representa a relação interno-externo.
CAPÍTULO 19
Anule o sagrado e abandone a inteligência
E o povo cem vezes se beneficiará
Anule a bondade e abandone a justiça
E o povo retornará ao amor filial e ao amor
paternal
Anule a engenhosidade e abandone o interesse
E não haverá mais ladrões nem roubos
Se estas três frases ditas não são o suficiente
Então faça existir aquilo em que se possa confiar
Encontrando e abraçando a simplicidade
Reduzindo o egoísmo e diminuindo os desejos
CAPÍTULO 20
No ensinamento pela supressão não há
preocupações
Entre aceitar e repudiar qual a diferença?
Entre apreciar e desprezar qual a distância?
O que os homens temem, poderiam não temer?
Abandone isso antes que se esgote!
Os homens se agitam como um festejo na grande
prisão
Ou como subir à varanda na primavera
Meu corpo não tem expressão
Como uma criança antes de nascer
Como a estrela Kuei28 que não tem onde se apoiar
As pessoas todas possuem em excesso
Somente eu aparento estar perdendo
Sou como um ignorante que tem o coração puro
Os medíocres vivem lúcidos
Somente eu aparento estar confuso
Os medíocres vivem lúcidos
Somente eu estou introspectivo
Indefinido como uma infinita noite silenciosa
As pessoas todas têm um ego
Somente eu o ignoro considerando-o precário
O que quero que me distinga dos demais
É valorizar o alimentar-se da Mãe29
28 KUEI: Alfa da constelação Ursa Maior. Representa o
Espírito Primordial dos seres.
29 “Alimentar-se da Mãe” refere-se a alimentar-se daquilo
que antecede tudo, é o Sopro Uno do Céu-Anterior da
alquimia taoísta.
CAPÍTULO 21
A abrangência da virtude do orifício30 é seguir
apenas o Caminho
O Caminho, enquanto existência é indistinguível e
indescritível
Dentro do indistinguível e indescritível há uma
existência
Dentro do indistinguível e indescritível há uma
imagem
E dentro dessa profunda obscuridade há uma
essência31
Essa essência é absolutamente autêntica
E dentro dela há uma prova32
Desde a antiguidade até hoje o seu nome nunca foi
esquecido
E ele pode observar a beleza e a bondade de tudo
Como posso saber a causa da beleza e da bondade
de tudo?
É através da prova
30 “Virtude do Orifício” significa a virtude do Vazio, da
Não-Ação.
31 CHIN: Essência do Universo Manifestado.
32 HSIN: Prova; algo real e fiel à natureza do Caminho.
CAPÍTULO 22
Curvar-se permite a plenitude
Submeter-se permite a retidão
Esvaziar-se permite o preenchimento
Romper permite a renovação
Possuir pouco permite a aquisição
Possuir muito permite a ganância
Por isso, o Homem Sagrado abraça a unidade
Tornando-a o modelo sob o céu
14
Não julga por si, por isso é óbvio
Não vê por si, por isso é resplandecente
Não se vangloria, por isso há realização
Não se exalta, por isso cresce
Só por não disputar, nada pode disputar com ele
Antigamente se dizia: “Curvar-se permite a
plenitude”
Como poderiam ser palavras vazias?
Assim, ao alcançar a plenitude encontra-se o
retorno
CAPÍTULO 23
Falar pouco é o natural
Um redemoinho não dura uma manhã
Uma rajada de chuva não dura um dia
De onde provêm essas coisas?
Do céu e da terra
Se nem o céu e a terra podem produzir coisas
duráveis
Quanto mais os seres humanos!
Por isso, quem segue e realiza através do
Caminho adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude adquire a Virtude
Quem se iguala à perda, perde o Caminho
Convicção insuficiente leva à não convicção
CAPÍTULO 24
Quem respira apressado não dura
Quem alarga os passos não caminha
Quem vê por si não se ilumina
Quem aprova por si não resplandece
Quem se auto-enriquece não cria a obra
Quem se exalta não cresce
Esses, para o Caminho, são como os restos de
alimento de uma oferenda
Coisas desprezadas por todos
Por isso, quem possui o Caminho não atua desse
modo
CAPÍTULO 25
Há algo completamente entorpecido
Anterior à criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente e inalterável
Move-se em círculo e não se exaure
Pode-se considerá-lo a Mãe sob o céu
Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho
Esforçando-me por denominá-lo, chamo-o de
Grande
Grande significa Ir
Ir significa Distante
Distante significa Retornar
O Caminho é grande
O céu é grande
A terra é grande
O rei33 é grande
Dentro do universo há quatro grandes, e o rei é
um deles
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza
33 WANG: Rei-Celeste (Deus-onipotente); simboliza a
Consciência Real que está em toda parte.
CAPÍTULO 26
A ponderação torna enraizado o leviano
A quietude torna governado o inquieto
Por isso o Homem Superior34 termina o dia de
caminhada sem se afastar da ponderação
e dos recursos
Embora existam maravilhas em perspectiva
Permanece quieto e naturalmente transcendente
Como pode um senhor de dez mil
veículos35 utilizar seu corpo levianamente sob o
céu?
Ao ser leviano, perderia a raiz
Ao ser inquieto, perderia o governo
34 Djuen Tzé: Homem Superior – o homem que possui
virtude e poder.
35 Na china corresponde ao senhor feudal; aquele que possui
riqueza e responsabilidade.
CAPÍTULO 27
A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número
A boa porta não necessita de ferrolho para ser
fechada
E não pode ser aberta
O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado
Assim, o Homem Sagrado
É constante e bondoso
Salva os homens e não abandona os homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz
O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele que
é bom
Quem não valoriza seu mestre e quem não ama
seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente
desorientado
15
A tudo isso denomina-se Maravilha Essencial
CAPÍTULO 28
Conhecendo o masculino, resguardando o
feminino
Sendo a ravina sob o céu
Sem se afastar da Virtude Eterna
Retornará a ser criança.
Conhecendo o branco, resguardando o negro
Sendo o modelo sob o céu
Sem se enganar com a Virtude Eterna
Retornará à Extremidade-Inexistente36
Conhecendo a glória, resguardando a humildade
Sendo o vale sob o céu
Sendo o vale sob o céu, completará a Virtude
Eterna
E retornará a ser madeira bruta
A madeira bruta partida transforma-se em
instrumentos
E o Homem Sagrado utiliza-os através de um
regente
Isto tudo é um grande corte sem incisão
36 WU DJI: Extremidade-Inexistente; termo originado do I
Ching, é o estado anterior da criação do universo.
CAPÍTULO 29
Para quem deseja possuir o mundo e age para isso
Vejo, não o conseguirá
O mundo é um recipiente espiritual
Que não se pode manipular
Quem o manipula, destrói
Quem o retém, perde
Pois as coisas
Caminham ou acompanham
Sopram quente ou sopram frio
São rígidas ou flexíveis
Ligam-se ou rompem-se
Por isso, o Homem Sagrado
Elimina o excesso
Elimina a opulência
Elimina a complacência
CAPÍTULO 30
Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o
senhor dos homens
Não utiliza a arma e a força, sob o céu
Pois esta atividade beneficia o revide
Onde o exército se instala, surgem espinhos e
ervas secas
Por isso
O homem bom é determinado, porém cauteloso
Não utiliza a força para conquistar
É determinado sem se orgulhar
É determinado sem se envaidecer
É determinado sem se glorificar
É determinado sem se tornar excessivo
Isto é, determinado, porém sem se esforçar
Coisas exuberantes dirigem-se à velhice
Isso se chama negar o Caminho
Negando o Caminho irá falecer cedo
CAPÍTULO 31
As boas armas
São recipientes de desventura
Os seres as detestam
Por isso
Os que guardam o Caminho não as compartilham
O Homem Superior, na residência, honra o
esquerdo
Na utilização da arma honra o direito
A arma é o recipiente da desventura
Não é o recipiente do Homem Superior
Seu uso é apenas para o inevitável
O superior é como uma chama serena
Por isso, não se maravilha
Ao maravilhar-se certamente teria prazer
Tal prazer mata o homem
Aquele que tem prazer em matar
Não pode triunfar sob o céu
Por isso
Assuntos venturosos valorizam o esquerdo
Assuntos funestos valorizam o direito
Sendo assim
O general-auxiliar encontra-se à esquerda
O general-superior encontra-se à direita37
Suas palavras são tratadas como rito fúnebre
Matam muitas pessoas
Por estas, chora-se de tristeza
A guerra vencida é tratada como rito fúnebre
37 No simbolismo do I Ching, a direção norte está nas costas
do homem enquanto a direção sul está na frente. Sendo assim,
a direção à esquerda é leste, corresponde à aurora, o lado da
vida. A direção à direita é oeste, corresponde ao acaso, o
lado da morte.
CAPÍTULO 32
O Caminho é eterno e não tem nome
É genuíno e, embora pequeno,
O mundo não tem coragem de dominá-lo
Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer
Quando o céu e a terra unem-se
Para escorrer o doce orvalho
O povo não pode interferir nisso, que por si é
uniforme
O princípio domina a existência e o nome
Então o nome passa a existir
16
E irá também saber cessar
Sabendo cessar não perecerá
A relação do mundo com o Caminho
É como a dos riachos e vales
Com os rios e mares
CAPÍTULO 33
Quem conhece os homens é inteligente
Quem conhece a si mesmo é iluminado
Vencer os homens é ter força
Quem vence a si mesmo é forte
Quem sabe contentar-se é rico
Agir fortemente é ter vontade
Quem não perde a sua residência, perdura
Quem morre mas não perece, eterniza-se
CAPÍTULO 34
O Grande Caminho é vasto
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
Os dez mil seres dele dependem para viver
E ele não os rechaça
Conclui a obra sem mostrar a sua existência
É o manto que cobre os dez mil seres, sem agir
como senhor
Podendo ser chamado de pequeno
Os dez mil seres voltam para ele, sem que aja
como senhor
Podendo ser chamado de grande
Assim o Homem Sagrado nunca age como grande
Por isso pode atingir sua grandeza
CAPÍTULO 35
Conservando a Grande Imagem
O mundo passa
Passa sem danos
Com tranqüilidade, serenidade e supremacia
A música e as iguarias
Param o viajante
As palavras que nascem do Caminho
São insossas, carecem de sabor
Olhar não é suficiente para vê-lo
Escutar não é suficiente para ouví-lo
Usar não é suficiente para esgotá-lo
CAPÍTULO 36
Para querer iniciar o recolhimento
É necessário consolidar a expansão
Para querer iniciar o enfraquecimento
É necessário consolidar o fortalecimento
Para querer iniciar o abandono
É necessário consolidar o amparo
Para querer iniciar a subtração
É necessário consolidar o aumento
Isto se chama breve iluminação38
O suave e o fraco vencem o rígido e o forte
Os peixes não podem separar-se do lago
O reino que tem o instrumento afiado
Não pode colocá-lo à vista do homem
38 MING: iluminação, tem sentido de ampliação da
consciência ou o enriquecimento de uma cultura.
CAPÍTULO 37
O Caminho é uma constante não-ação
Que nada deixa por realizar
Se reis e príncipes pudessem resguardá-lo
Os dez mil seres iriam se transformariam por si
Porém, se na transformação despertassem desejos
Eu iria estabilizá-los através da simplicidade do
sem-nome
A simplicidade do sem-nome também se inicia no
não-desejo
O não-desejo traz quietude
O céu e a terra, por si, estarão em retidão
CAPÍTULO 38
A Virtude Superior não é virtude
Assim, possui a Virtude
A Virtude Inferior não perde a virtude
Assim, não possui a Virtude
A Virtude Superior é não-ação
Pois não utiliza ação
A Virtude Inferior é ação
Que faz uso da ação
A Bondade Superior é ação
Porém não utiliza a ação
A Justiça Superior é ação
Que faz uso da ação
A Suprema Polidez é ação que,
se não obtém correspondência,
repele usando o braço como reação
Por isso, à perda do Caminho segue-se então a
Virtude
À perda da Virtude segue-se então a Bondade
À perda da Bondade segue-se então a Justiça
À perda da Justiça segue-se então a Polidez
Assim a Polidez é o empobrecimento da fidelidade
e da confiança
É o princípio da confusão
Aquele de conhecimentos avançados
Como a flor do Caminho
É o princípio da estupidez
Por isso, o Grande Homem
Coloca-se no consistente e não coloca-se no
rarefeito
Habita no Fruto e não habita na Flor
Por isso, afasta esta e persiste naquele
17
CAPÍTULO 39
Esses adquiriram o Um na antiguidade:
O céu adquiriu o Um e tornou-se transparente
A terra adquiriu o Um e tornou-se tranqüila
O espírito adquiriu o Um e tornou-se desperto
Os vales adquiriram o Um e tornaram-se
opulentos
Os dez mil seres adquiriram o Um e tornaram-se
vivos
Os príncipes e reis adquiriram o Um e tornaram-
se o eixo do mundo
Esses alcançaram a supremacia
O céu não se tornando transparente temerá
rachar-se
A terra não se tornando tranqüila temerá
estremecer
O espírito não se tornando desperto temerá
exaurir-se
Os vales não se tornando opulentos temerão secar
Os dez mil seres não se tornando vivos temerão
extinguir-se
Os príncipes e os reis não se tornando nobres
temerão a derrota
Por isso
O nobre utiliza a humildade como princípio
O alto utiliza o baixo como base
Sendo assim
Os príncipes e os reis denominam-se a si mesmos
de órfãos, carentes e indignos
Isto seria utilizar a humildade como princípio, não
seria?
Por isso, alcançar o valor é aproximar-se do não-
elogio
Não desejando o vulgar, como o jade
Sendo simples como a pedra
CAPÍTULO 40
O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência
CAPÍTULO 41
O homem superior ao ouvir sobre o Caminho
Esforça-se para poder realizá-lo
O homem mediano ao ouvir sobre o Caminho
Às vezes o resguarda, às vezes o perde
O homem inferior ao ouvir sobre o Caminho
Trata-o às gargalhadas
Se não fosse tratado às gargalhadas
Não seria suficiente para ser o Caminho
Por isso, as seguintes palavras sugerem:
A iluminação do Caminho é como se fosse a
obscuridade
O avanço do Caminho é como se fosse o
retrocesso
As planícies do Caminho são como se fossem
iguais
A Virtude superior é como se fosse o comum
A grande brancura é como se fosse o sujo
A Virtude ampla é como se fosse insuficiente
Construir a Virtude é como se fosse roubar
A consistência verdadeira é como se fosse o
instável
O grande quadrado não tem ângulos
O grande recipiente conclui-se tarde
O grande som carece de ruído
A grande imagem não tem forma
O Caminho é invisível e não tem nome
Assim, apenas o Caminho é bom em auxiliar e
concluir
CAPÍTULO 42
O Caminho gera o um
O um gera o dois
O dois gera o três
O três gera os dez mil seres
Os dez mil seres se cobrem com o obscuro e
abraçam o claro
E se harmonizam através do esplêndido sopro39
O que os homens detestam
São os órfãos, os carentes e os indignos
Mas é assim que os reis e príncipes se denominam
Por isso as coisas
Ao serem diminuídas, irão aumentar
Aumentadas, irão diminuir
O que os homens ensinaram eu também ensino
com o mesmo sentido:
Os rígidos troncos não merecerão a sua morte
Eu irei utilizar isto como o pai do ensinamento
39 CHUN CHI: CHUN é explêndido, CHI é sopro. É a
energia do Absoluto.
CAPÍTULO 43
Sob o céu
O mais suave cavalga sobre o mais duro sob o céu
A não-existência pode penetrar no sem-espaço
Por isso conheço o benefício da não-ação
O ensinamento da não-palavra
O benefício da não-ação
Sob o céu, são poucos que os alcançam
CAPÍTULO 44
A fama ou o corpo, o que mais se ama?
O corpo ou a riqueza, o que vale mais?
18
Ganhar ou perder, o que mais adoece?
Por isso o excesso de desejo causará um grande
desgaste
E o excesso de acúmulos causará uma morte rica
Quem sabe se contentar não se humilha
Quem sabe se conter não irá se exaurir
Sendo assim, poderá viver longamente
CAPÍTULO 45
A suprema conclusão parece incompleta
Sua utilização não danifica
A suprema abundância parece vazia
Sua utilização não esgota
A suprema retidão parece tortuosa
A suprema habilidade parece canhestra
A suprema eloqüência parece tartamudear
O movimento vence o frio
A quietude vence o calor
A transparência e a quietude atuam governando
sob o céu
CAPÍTULO 46
Existindo o Caminho sob o céu
Conduzem-se os cavalos para estercar
Não existindo o Caminho sob o céu
Armam-se os cavalos para viver nas fronteiras
Não há delito maior do que estimar os desejos
Não há calamidade maior em não saber se
contentar
Não há erro maior do que desejar possuir
Por isso, com a suficiência de quem sabe que é
suficiente
Terá sempre o suficiente
CAPÍTULO 47
Sem sair da porta
Pode-se conhecer o mundo
Sem ver através da janela
Pode-se conhecer o Caminho do céu
Quanto mais longe saímos
Tanto menos conhecemos
Por isso, o Homem Sagrado
Conhece sem caminhar
Reconhece sem ver
Realiza sem agir
CAPÍTULO 48
A realização através dos estudos é expandir dia
após dia
A realização através do Caminho é simplificar dia
após dia
Simplificando e simplificando mais
Até alcançar a não-ação
Na não-ação não há o que não possa ser feito
Apoderar-se do mundo é permanecer através da
não-atividade40
Ao surgir a atividade
Já não é mais suficiente para apoderar-se do
mundo
40 WU SZE: não-atividade é atitude sem apego.
CAPÍTULO 49
O Homem Sagrado não tem coração
Toma o povo como seu coração
Com os bons faço o bem
Com os que não são bons faço o bem também
Adquirindo o bem
Com os sinceros sou sincero
Com os que não são sinceros sou sincero também
Adquirindo a sinceridade
O Homem Sagrado sob o céu
Age cautelosamente fundindo os corações do
mundo
O povo todo com olhos e ouvidos atentos
O Homem Sagrado os trata como crianças
CAPÍTULO 50
Nascer na vida, entrar na morte
Dos que pertencem ao nascimento, entre dez, há
três
Dos que pertencem à morte, entre dez há três
Dos homens vivos
Os que se movem para a terra da morte, entre dez,
há três
E qual é a causa?
Suas vidas são vividas em excesso
Ouvi dizer que o bom cultivador da vida
Viaja pela terra e não se confronta com
rinocerontes nem tigres
E atravessa um exército sem armadura nem armas
Os rinocerontes não têm onde enfiar o chifre
Os tigres não têm onde cravar as garras
E as armas não têm onde alojar as lâminas
E qual a causa?
Nele não existe lugar para a morte
CAPÍTULO 51
O Caminho gera
A Virtude cria
A matéria forma
A conclusão completa
Por isso os dez mil seres veneram o Caminho e
estimam a Virtude
O Caminho é venerável, a Virtude é estimável
Pois eles não segregam e são constantemente
naturais
19
Assim, o Caminho gera, a Virtude cria
Fazem crescer, fazem nutrir
Fazem completar, fazem concluir
Fazem o sustento e fazem a cobertura
Geram, porém não se apossam
Agem, porém não retêm
Cultivam, porém não controlam
Isto chama-se Misteriosa Virtude
CAPÍTULO 52
Sob o céu há um princípio
Que age como mãe do mundo
Já que existe a mãe
Pode-se conhecer o filho
Já que se conhece o filho
Volte a preservar a mãe
Assim
O fim do corpo não conduzirá à morte
Fechando a boca
Trancando a porta
Até o fim do corpo, sem desgaste
Abrindo a boca
Favorecendo a atividade
Até o fim do corpo, sem salvação
Ver o pequeno se chama iluminação
Usar a suavidade se chama força
Use de volta sua luz para voltar a iluminar-se
Assim, não restará dano ao corpo
Isto se chama herdar o constante
CAPÍTULO 53
Torne-me naturalmente firme e possuidor do
saber
Percorrendo o Grande Caminho
Temendo apenas o desperdício
O Grande Caminho é bastante tranquilo
Mas os homens gostam bastante de trilhas
Governo com excesso de degraus
Campo com excesso de erva daninha
Armazém com excesso de vazios
Vestir bordados coloridos
Carregar espada afiada
Satisfazer-se comendo e bebendo
Possuir moedas e bens em excesso
Isto chama-se roubo e auto encantamento
Roubo e auto encantamento negam o Caminho
CAPÍTULO 54
Bem plantado, não se desarraiga
Bem abraçado, não se aparta
Assim
Filhos e netos não cessam de cultuar
Restaure seu corpo
Sua virtude será autêntica
Restaure sua casa
Sua virtude será abundante
Restaure sua província
Sua virtude será crescente
Restaure seu reino
Sua virtude será farta
Restaure seu mundo
Sua virtude será vasta
Assim, através do corpo percebe-se o corpo
Através da casa percebe-se a casa
Através da província percebe-se a província
Através do reino percebe-se o reino
Através do mundo percebe-se o mundo
Como posso saber da natureza do mundo?
É através disso
CAPÍTULO 55
Quem possui a Virtude em abundância
É como um recém-nascido
Os insetos não o picam
As aves de rapina e os animais bravios não o
agarram
Tem ossos leves e cartilagens macias
Mas pegam com firmeza
Desconhece a união de macho e fêmea
Mas seu órgão se desperta, pela plenitude da
essência
Grita até o fim do dia
Mas não fica rouco, pela plenitude da harmonia
Conhecer a harmonia chama-se constância
Conhecer a constância chama-se iluminar
Enriquecer a vida chama-se esclarecer
E o coração que ordena o sopro chama-se força
As coisas no seu auge tornam-se velhas
Isso chama-se negar o Caminho
Negando o Caminho, rapidamente falecem
CAPÍTULO 56
O que é da compreensão não é a palavra
O que é da palavra não é a compreensão
Fechando a boca
Trancando a porta
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira
Isto chama-se o Mistério Comum41
Com o qual
Não se pode encontrar aproximação
Não se pode encontrar afastamento
Não se pode encontrar benefício
Não se pode encontrar malefício
Não se pode encontrar valorização
20
Não se pode encontrar desvalorização
Por isso age como nobre sob o céu
41 SHUEN TON: O Mistério Comum; significa a união com
o Todo.
CAPÍTULO 57
Através da retidão organiza-se o reino
Através da singularidade dirige-se a guerra
Através da não-atividade adquire-se o mundo
Como posso saber da natureza do mundo?
É através disso
Muitas restrições e omissões no mundo
Tornam completamente pobre o povo
Muitos instrumentos afiados entre o povo
Fazem crescer a confusão no reino e na família
Muito conhecimento engenhoso entre o povo
Faz crescer o surgimento de objetos estranhos
Leis e coisas crescendo visivelmente
Fazem surgir muitos ladrões e salteadores
Por isso o Homem Sagrado dizia:
Eu não agindo, o povo se transforma
Eu sem atividade, o povo se enriquece
Eu bem tranquilo, o povo se retifica
Eu sem desejos, o povo se simplifica
CAPÍTULO 58
Onde governa a tolerância
O povo tem tranquilidade
Onde governa a discriminação
O povo tem insatisfação
É na desgraça que se encontra a felicidade
É na felicidade que se esconde a desgraça
Quem é capaz de conhecer estes extremos?
Na ausência de governo
O governo passa a agir como estranho
A bondade passa a agir como maldade
A ilusão do homem tem seu dia consolidado
longamente
Seja quadrado sem corte
Seja honesto sem humilhar
Seja reto sem abuso
Seja luminoso sem ofuscar
CAPÍTULO 59
Para reger o homem e servir o céu
Nada como ser o modelo
Somente sendo o modelo
Pode-se dominar cedo
Dominar cedo significa aumentar o acúmulo de
Virtude
Aumentando o acúmulo de Virtude
Então não há o que não se possa vencer
Não havendo o que não se possa vencer
Não se conhece seu extremo
Podendo conhecer seus extremos
Pode-se possuir o reino
Possuindo a mãe do reino
Pode-se ser constante
Isto é uma raiz profunda e um pedúnculo sólido
É o Caminho da vida constante e visão duradoura
CAPÍTULO 60
Governar um grande reino é como cozinhar um
pequeno peixe
Atuando sob o céu através do Caminho
Seus demônios não são despertados
Não que seus demônios não sejam despertados
Seu despertar não fere o homem
Não apenas que seu despertar não fira o homem
O Homem Sagrado também não fere o homem
Sendo que os dois não se ferem
Assim suas Virtudes se unem e retornam
CAPÍTULO 61
O grande reino é aquele corrente abaixo
É um campo sob o céu
Num campo sob o céu
A fêmea sempre vence o macho através da
quietude
Por isso, o grande reino estando abaixo do
pequeno reino
Conquista o pequeno reino
O pequeno reino estando abaixo do grande reino
Absorve o grande reino
Assim
Ou por estar abaixo para conquistar
Ou por estar abaixo para absorver
O grande reino apenas deseja unir e cultivar os
homens
O pequeno reino apenas deseja integrar e servir
aos homens
Cada um destes dois encontra o local para seu
desejo
Portanto, o grande deve estar abaixo
CAPÍTULO 62
O Caminho é o segredo dos dez mil seres
Tesouro do homem benevolente
É o que o homem não-benevolente não guarda
Palavras bonitas podem ser negociadas
Atitudes reverentes podem aumentar um homem
Mesmo com a não-benevolência do homem
Como se poderia abandoná-lo?
Por isso, ergue-se o filho do céu42
Ordenam-se o três duques
21
Mesmo possuindo o jade de oferenda43, antes de
quatro cavalos44
Nada se compara a sentar e entrar no Caminho
Por que motivo antigamente se valorizava o
Caminho?
Não diziam que quem busca pode adquirir?
Quem possui culpa pode ser absolvido?
Por isso é valioso sob o céu
42 Os reis eram chamados de “Filhos do Céu”.
43 É um objeto de arte antiga feito de jade, representa as jóias
preciosas.
44 Antigamente, os carros de quatro cavalos pertenciam aos
nobres.
CAPÍTULO 63
Ação através da não-ação
Atividade através da não-atividade
Sabor através do não-sabor
Grande como pequeno, muito como pouco
Retribuir injustiça através da Virtude
Planejar o difícil a partir do fácil
Realizar o grande a partir do pequeno
Sob o céu
A difícil atividade se realiza certamente a partir
da fácil
A grande atividade se realiza certamente a partir
da pequena
Promessas levianas certamente carecem de
confiança
Excesso de facilidades certamente traz excesso de
dificuldades
Sendo assim,
O Homem Sagrado assemelha-se ao difícil
E, por isso, até o fim, não tem dificuldades
CAPÍTULO 64
O que tem paz é fácil de manter
O que é anterior ao despertar é fácil de planejar
O que é frágil é fácil de quebrar
O que é pequeno é fácil de dissolver
Realiza-se a partir da existência
Organiza-se a partir de antes da desordem
Uma árvore de grande abraço gera-se de uma fina
muda
Uma torre de nove andares levanta-se de um
acúmulo de terra
Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos
pés
Quem age fracassa
Quem se apega perde
Assim, o Homem Sagrado não age, por isso, não
fracassa
Não se apega, por isso não perde
Os homens, na realização das atividades
Sempre fracassam em suas quase-conclusões
Cautela tanto no fim como no princípio
Conduz à atividade sem fracasso
Assim, o Homem Sagrado deseja através do não-
desejo
Não valoriza as coisas de difícil aquisição
Aprende através do não-aprender
Possui o que ultrapassa todos os homens
Para auxiliar a naturalidade dos dez mil seres
E não encorajar a ação
CAPÍTULO 65
Na antiguidade, os bons realizadores do Caminho
Não o utilizavam para esclarecer o povo
Utilizavam-no para alegrá-lo
A dificuldade de se governar o povo
É devida aos seus conhecimentos
Por isso
Utilizando o intelecto para governar o reino
Têm-se furtos no reino
Não utilizando o intelecto para governar o reino
Tem-se Virtude no reino
Aquele que conhece estes dois
Também se orienta por estes modelos
O constante conhecimento de orientar-se por estes
modelos
Chama-se Misteriosa Virtude
A Misteriosa Virtude é profunda e longa, inverso
das coisas
Naturalmente, após isso, alcança-se a grande
fluência
CAPÍTULO 66
O que pode tornar os rios e mares reis dos cem
vales
E saber situar-se embaixo
Por isso podem ser os reis dos cem vales
Assim
O Homem Sagrado aspirando estar acima dos
homens
Coloca suas palavras abaixo das deles
Aspirando estar à frente dos homens
Coloca seu corpo atrás dos deles
Portanto
Situa-se em cima, mas seu povo não sente o peso
Situa-se à frente, porém o povo não é lesado
Assim, o mundo alegra-se em exaltá-lo, porém sem
desgosto
Como ele não disputa
O mundo não pode disputar com ele
CAPÍTULO 67
Sob o céu todos se consideram o grande
22
Não rio disso
O grande sendo grande
Por isso não ri
Se risse
Ha muito teria se tornado pequeno
Eu tenho três tesouros
Que valorizo e preservo:
O primeiro chama-se afetividade
O segundo chama-se simplicidade
E o terceiro chama-se
Não encorajar ser o dianteiro sob o céu45
Assim
Através da afetividade pode-se ter coragem
Através da simplicidade pode-se ter amplitude
Não encorajando ser o dianteiro sob o céu
Pode-se concluir o instrumento do eterno
Hoje
Abandonando a afetividade e tendo coragem
Abandonando a simplicidade e tendo amplitude
Abandonando o ulterior e tornando-se o
dianteiro
Isso é morrer
Através da afetividade
Com a manifestação, é ordenada a retidão
Com o resguardo, é ordenada a duração
Quando o céu quer salvar
Utiliza a afetividade como proteção
45 “Não encorajar a ser o dianteiro sob o céu” representa a
humildade.
CAPÍTULO 68
Na antiguidade, os bons praticantes de
cavalheirismo
Não eram belicosos
Bons em guerrear, sem ira
Bons em vencer os inimigos, sem disputa
Bons em empregar os homens, agindo como o
inferior
Isso se chama a virtude da não-disputa
Isso se chama a força de empregar os homens
Isso se chama a supremacia da união com o céu e
a antiguidade
CAPÍTULO 69
Sobre o uso da arma ha um provérbio
“Não me encorajo a agir como anfitrião
Prefiro agir como hóspede
Não me encorajo em avançar uma polegada
Prefiro recuar um pé ”
Isso se chama mover não movendo
Agarrar não abraçando
Defender não lutando
Enfrentar sem inimizade
Não há desgraça maior do que humilhar o inimigo
Humilhando o inimigo, então
Arriscamos perder nosso tesouro
Por isso
No confronto onde as armas se igualam
Vence, então, o que está entristecido
CAPÍTULO 70
Minha palavra é bastante fácil de compreender
Bastante fácil de praticar
Mas, sob o céu, ninguém consegue compreendê-la
Ninguém consegue praticá-la
Palavras têm uma origem
Atos têm um regente
E somente através da não-compreensão
Não se tem a compreensão do ego
Aqueles que me compreendem são poucos
Aqueles que me seguem são nobres
Por isso
O Homem Sagrado se cobre com andrajos
abraçando um jade
CAPÍTULO 71
Saber do não-saber é sublime
Não saber do saber é doença
Assim, o Homem Sagrado não adoece
Por considerar doença a doença
Por isso, não há doença
CAPÍTULO 72
Quando o povo não tem medo do temível
Então, o grande temor chega
Não estreite sua morada
Não despreze sua vida
Pois somente não desprezando
Pode-se tornar o não-apodrecido
Por isso, o Homem Sagrado
Conhece a si mesmo, mas não se evidencia
Ama a si mesmo, mas não se estima
E, assim, nega isto e admite aquilo
CAPÍTULO 73
Quem tem coragem de ser valente terá a morte
Quem tem coragem de ser cauteloso terá a vida
E esses dois são ora benéficos, ora maléficos
Quando o céu repudia
Quem compreenderá a causa?
O caminho do céu
Não disputa, mas é bom em vencer
Não fala, mas é bom em responder
Não é invocado, mas por si vem
Não fala, mas é bom em planejar
A teia do céu é grandiosamente grande
23
Liga-se a tudo e de nada se perde
CAPÍTULO 74
O povo constante não teme a morte
Como se pode intimidá-lo usando a morte?
Se considero estranho esse constante que não teme
a morte
Devo, sinceramente, matar
Mesmo reconhecendo sua coragem?
O Constante possui o encargo de matar e mata
O homem que tomar o lugar no encargo de matar
Será como substituir grande lenhador ao serrar
O homem que substituir o grande lenhador ao
serrar
Raramente não machucará a mão
CAPÍTULO 75
A fome do homem
É devida a seu superior alimentar-se de impostos
em demasia
Por isso existe a fome
A difícil governabilidade de cem famílias
É devida a seu superior agir intencionalmente
Por isso existe o desgoverno
A fácil morte do povo
É devida a viver-se uma vida de excessos
Por isso existe a morte fácil
Assim apenas aqueles que não utilizam a vida
para agir
São bons em valorizar a vida
CAPÍTULO 76
O homem ao nascer é tenro e brando
Ao morrer é rígido e duro
A erva, a madeira e os dez mil seres ao brotarem
São como a suave penugem do ventre do pássaro
Ao morrer são secos e murchos
Por isso, os rígidos e duros são companheiros da
morte
Os tenros e brandos são companheiros da vida
Sendo assim
As armas duras não vencem
As árvores duras são comuns
Por isso, os rígidos e duros moram embaixo
Tenros e brandos situam-se em cima
CAPÍTULO 77
O Caminho do Céu é como o retesar do arco
A parte superior abaixa, a parte inferior sobe
A parte que possui sobra e diminuída
A parte não-suficiente é completada
O Caminho do Céu
Diminui a sobra possuída
Completa o não-suficiente
Mas o caminho do homem não se orienta assim
Diminui do não-suficiente
Para oferecer ao que possui sobra
Mas quem pode possuir sobra para oferecer ao
mundo?
Somente aquele que possui o Caminho
Por isso, o Homem Sagrado
Age sem querer para si
Conclui a obra, mas não se apega
E não deseja mostrar sua eminência
CAPÍTULO 78
Sob o Céu
Nada é mais suave e brando que a água
No entanto, para atacar o que é rígido e duro
Nada pode se adiantar a ela
Nada pode substituí-la
Assim
A suavidade vence a força
O brando vence o duro
Sob o céu
Não há quem não o saiba
Não há quem possa praticá-lo
Por isso o Homem Sagrado disse:
Aceitar as impurezas do reino
Chama-se reger o cereal e a terra
Aceitar as desventuras do reino
Chama-se reinar sob o céu
As palavras corretas parecem contrárias
CAPÍTULO 79
Ao se conciliar um grande rancor
Certamente ainda se terá um resto de rancor
Então como se pode agir bem?
Sendo assim
O Homem Sagrado toma o Sinal Esquerdo46 e não
critica as pessoas
Por isso, quem tem Virtude se orienta pelo sinal
Quem não tem Virtude se orienta pelo vestígio
O Caminho do Céu não cria intimidade
Mas acompanha sempre o homem bom
46 FU: sinal tem sentido de correspondência; esquerdo é o
lado do coração. O Homem Sagrado se corresponde com o
mundo através do coração.
CAPÍTULO 80
Um pequeno reino de poucos habitantes
Mesmo que possua um utensílio para dezenas de
centenas não o usa
Faça o povo valorizar a morte e não viajar longe
Possuindo barcos e carruagens, mas não tendo
onde usá-los
24
Possuindo armas e armaduras, mas não tendo
onde enfileirá-las
Faça o povo retornar aos nós em corda e ao seu
uso
Então serão doces seus alimentos
Belas suas roupas
Pacíficas suas moradias
Alegres seus costumes
Que os reinos vizinhos estejam a vista
Que o som de galos e cachorros sejam ouvidos
Faça o povo alcançar a velhice sem ter que ir e vir
CAPÍTULO 81
Palavras confiáveis não são belas
Palavras belas não são confiáveis
Quem sabe não é abrangente
Quem é abrangente não sabe
Quem é bom não discute
Quem discute não é bom
O Homem Sagrado não acumula
Quanto mais faz para os homens, mais tem
Quanto mais dá aos homens, mais aumenta
O Caminho do Céu é favorecer e não prejudicar
O Caminho do Homem Sagrado é fazer e não
disputar
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