Histria do Brasil
Rio de Janeiro 2010
1
PR-VESTIBULAR COMUNITRIO VETOR
Organizadora:
Aldilene Marinho Csar
Autores:
Aldilene Marinho Csar
Paula R. Albertini Tlio
Rafaella Lcia de A. Ferreira Bettamio
Revisora:
Paula R. Albertini Tlio
2
Ter sucesso no vestibular no privilgio de uns
poucos alunos brilhantes. Mas do que uma inteligncia fora do comum a dedicao, a maturidade
intelectual e o equilbrio emocional que mais
contribuem para essa vitria. E essa adquirida
atravs das aulas; do contato com o mundo, da troca
de experincias com outras pessoas; pelas leituras e
atividades desenvolvidas no estudo.
Boa sorte a todos!
Equipe de Histria.
3
SUMRIO
1 As grandes navegaes ................................................................4
2 O descobrimento do Brasil e as primeiras dcadas da Colnia ......8 3 A implantao do colonialismo na Amrica portuguesa ..............14
4 O Brasil e as relaes internacionais ..........................................19 5 A Economia mineradora .............................................................24 6 As reformas pombalinas e as conjuraes coloniais ...................31
7 A poca joanina 1808-1821 .......................................................37 8 A Independncia e o Primeiro Reinado 1822-1831.......................42
9 O perodo regencial 1831-1840 ..................................................47 10 A afirmao do Imprio 1840-1850 ..........................................53 11 O auge do Imprio 1850-1870 .................................................56
12 Decadncia do Imprio 1870-1889 ..........................................60 13 O surgimento da Repblica ......................................................64
14 A Repblica oligrquica 1894-1930 ..........................................67 15 Rebelies da Repblica Velha ...................................................70 16 A crise dos anos 20 ..................................................................73
17 A Revoluo de 1930 ................................................................78 18 O governo constitucional e movimentos polticos .....................81
19 O Estado Novo 1937-1945 ........................................................84 20 O Governo Dutra 1946-1951 ....................................................88 21 O Segundo Governo Vargas 1951-1954 ....................................90
22 O Governo JK 1956-1960 .........................................................92 23 A crise da Repblica Populista 1960-1964 ................................98
24 O golpe de 1964 .....................................................................102 25 Ditadura Militar: o panorama poltico e cultural 1964-1974 ....105
26 Ditadura Militar: o panorama econmico ................................111 27 A Crise da Ditadura Militar e os primeiros sinais da abertura poltica ........................................................................................113
28 O governo Figueiredo e a Redemocratizao 1979-1985 ........115 29 Planos econmicos e recesso ...............................................119
30 A eleio e o Governo Fernando Collor 1989-1992 .................121 31 O neoliberalismo no Brasil .....................................................124 32 O governo Lula e o Brasil atual ...............................................126
Gabaritos ....................................................................................128
4
Captulo 1. As Grandes Navegaes
Apresentao - As grandes
navegaes marcaram um perodo da
Histria europia no qual os
horizontes se alargaram
enormemente. Dentre outros eventos,
nessa poca, encontrou-se o fim do continente africano e entrou-se em
contato com civilizaes do Oriente e
do Extremo Oriente. No sculo XVI,
uma expedio espanhola liderada
pelo portugus Ferno de Magalhes
comprovaria que a terra redonda,
atravs da viagem de circunavegao.
No entanto, no se deve perder de
vista o sentido maior dessa expanso
martima para os europeus: obter
riquezas.
Transio da Idade Mdia Idade Moderna
A Idade Mdia espao temporal compreendido entre os sculos V ao
XV , na Europa, foi marcada pelo sistema feudal de produo. O perodo
dividido em Alta Idade Mdia e
Baixa Idade Mdia.
Alta Idade mdia (sc. V-XI).
poca na qual a Europa ocidental
sofreu sucessivas invases dos povos
germnicos (tambm chamados
brbaros). Essas invases, ocorridas entre os sculos IV e V, contriburam
para a decadncia do antigo Imprio
Romano e foram responsveis por
profundas alteraes polticas, sociais,
e culturais. Alm disso, durante o
sculo VIII, houve tambm a
dominao dos povos rabe-
muulmanos, que ocuparam at o
sculo XV a Pennsula Ibrica.
Organizao poltica - Poder poltico
descentralizado, distribudos entre o
rei, os membros da nobreza e o alto
clero. Cada feudo constitua uma
unidade poltica autnoma baseada,
governada pelo senhor feudal.
Economia - Essencialmente agrria
fundamentada na agricultura de
subsistncia sem grandes excedentes
para comercializao. A terra era
considerada a principal fonte de
riqueza. Em conseqncia das crises
geradas pelas invases e pela
ocupao do mar Mediterrneo pelos
rabe-muulmanos, ocorreu no
perodo o quase desaparecimento das
atividades comerciais e do uso da
moeda.
Sociedade - Era basicamente rural e
estamental com funes bem
definidas para os seus trs principais
grupos sociais. O clero, que cuidava
da f; a nobreza, responsvel pela
defesa do territrio; e os camponeses
ou servos, que trabalhavam a terra.
Cultura Pode dizer que a sociedade medieval era teocntrica, ou seja,
essa sociedade concebia Deus como
centro do universo e a razo de todas
as coisas. Dessa forma, a Igreja
determinava os modos de pensar e de
viver das pessoas e os fenmenos
naturais eram explicados pela f.
A Baixa Idade Media (sc. XII-XV)
- Resultado de diversos processos
histricos, a partir do sculo XI,
houve um reflorescimento do
comrcio na Europa ocidental. Dentre
esses, destacam-se a renovao das
prticas agrcolas (o arado de ferro, a
foice, a enxada, o aproveitamento da
gua e do vento como fora motriz),
que permitiram um aumento da
produo, e consequentemente, o
crescimento demogrfico. A expanso
das reas produtivas gerou um
excedente agrcola que estimulou o
crescimento do comrcio. Aos poucos,
a atividade comercial aumentou,
tornando necessria a expanso da
quantidade de moedas para facilitar
as trocas. O antigo comrcio,
realizado entre a Europa ocidental e o
Oriente, foi aos poucos reativado com
o movimento das Cruzadas
(expedies religioso-militares crists
contra os mulumanos do Oriente
Mdio - sc. X-XIII), o que acabou por
se constituir em uma via de acesso ao
comrcio mediterrneo. Em seguida, a
Pennsula Itlica passou a ter o
monoplio desse comrcio. No sculo
XV, os ltimos rabes-muulmanos
foram expulsos da Europa e do mar
Mediterrneo nas lutas da Guerra de
Reconquista travadas na Pennsula
Ibrica. Essa Guerra esteve
diretamente ligada luta dos cristos
5
para recuperar os territrios ocupados
pelos mouros (mulumanos), e s
teve fim em 1492. No continente
europeu, as feiras, antes provisrias,
tornaram-se permanentes e algumas
deram origem aos burgos (cidades),
permitindo, alm disso, a emergncia
de um novo grupo social, a burguesia
mercantil. Tais acontecimentos
passaram a constituir o chamado
Renascimento comercial e urbano. A
partir de ento, os servos passaram
cada vez mais a abandonar as reas
feudais e a se dedicar a novas
atividades econmicas.
Do feudalismo ao Antigo Regime Desde o sculo XIV, o feudalismo j
apontava sinais de decadncia. Com o
crescimento das cidades e do
comrcio, a relao feudal entre
senhor e servo comeou a perder
fora. Ao mesmo tempo, os reis, que
procuravam concentrar em suas mos
o poder poltico, tambm comearam
a entrar em choque com os senhores
feudal. Seguiu-se um longo perodo
de lutas e guerras entre os reis e a
nobreza feudal. Os reis obtiveram o
apoio financeiro da burguesia e
conquistaram o monoplio do uso
legtimo da fora. Centralizando o
poder e transformando reinos
politicamente fragmentados em
naes unificadas, que assumiram as
polticas de monarquias nacionais. Na
Europa ocidental a sociedade feudal
deu lugar sociedade do Antigo
Regime. Nesse sistema de governo,
os nobres e o alto clero perdem parte
do poder, mas ainda assim,
continuam como grupos dominantes
na sociedade. As monarquias, agora
centralizadas, passam a concentrar
grande poder na mo dos reis.
Portugal, do Surgimento
Expanso Martima - O surgimento
de Portugal se deu no contexto da
Guerra de Reconquista. Das diversas
casas nobres que tomaram parte
nessa luta, uma delas foi a de
Borgonha, que fundou o condado
Portucalense. Em 1139, esse condado
foi declarado emancipado de Castela
sob o nome de Portugal. Os reis desta
dinastia incentivaram a colonizao
interna do pas, estimulando a
libertao dos servos, transformando-
os em trabalhadores assalariados, ou
em pequenos proprietrios. As
atividades comerciais tambm foram
estimuladas. No reinado de Afonso IV
(1325-1357) a pesca foi estimulada, e
se transformou no setor mais
dinmico da economia propiciando o
desenvolvimento dos centros urbanos
do litoral, onde surgiu uma poderosa
burguesia. Alm disso, a casa de
Borgonha limitou o poder da nobreza,
com a Lei de Sesmarias e incorporou
novas terras aos domnios do rei.
Assim, no final do sculo XIV, s as
propriedades da Igreja podiam se
equiparar as da realeza. Dessa forma,
Portugal se afirmava, antes da
Espanha e de outras naes, como
um dos primeiros Estados europeus a
efetuar a centralizao administrativa
e a unificao nacional.
A vocao comercial - Logo, a
regio ganharia importncia
comercial, por ser entreposto
martimo entre as duas principais
regies mercantis da Europa: as
cidades do Norte da Itlia e a regio
de Flandres (atual Holanda, Blgica e
parte do Norte da Frana).
A Revoluo de Avis (1385) - O
reino de Castela, no entanto,
considerava Portugal como um
condado vassalo. Uma disputa pelo
trono portugus, colocou em luta dois
grupos antagnicos: de um lado a
grande nobreza portuguesa
(almejando mais poder), que defendia
a unio com Castela, de outro, a
burguesia mercantil, a pequena
nobreza, a populao urbana e do
campo que defendiam que a Coroa
fosse entregue a Dom Joo, mestre
da ordem militar de Avis, irmo
ilegtimo do rei. A luta foi decidida
com a ajuda do dinheiro dos
burgueses ricos de Lisboa e do Porto,
tornando Dom Joo rei de Portugal.
Essa resoluo deu a Portugal a
consolidao de sua independncia e
ps fim ao feudalismo no pas.
Expanso Martima Com o incentivo da coroa, Portugal passou a
ser a primeira nao moderna a
expandir seus limites por meio das
grandes navegaes. A expanso
martima teve incio em 1415 com a
6
tomada de Ceuta (cidade muulmana
no Norte da frica) e atendia aos
interesses da nobreza e da burguesia.
Em seguida, Portugal parte em
direo s ilhas atlnticas e ao
continente africano, em busca de
riquezas, em especial, de metais
preciosos.
Tratado de Tordesilhas - O segundo
pas europeu a se expandir para o
Atlntico foi a Espanha (unificada em
1469). Esse pas viria a descobrir a Amrica em 1492. Com a entrada dos
espanhis no ciclo das grandes
navegaes, criou-se um conflito
diplomtico entre Espanha e Portugal
pela posse das terras conquistadas e
a conquistar. A questo foi resolvida
com o Tratado de Tordesilhas, de
1494, que estabelecia uma linha
imaginria passando, a 370 lguas a
Oeste das ilhas de Cabo Verde,
divindindo o Novo Mundo em duas
partes, uma para Portugal, outra para
a Espanha. As terras ao leste desse
meridiano seriam de Portugal; as
restantes pertenciam Espanha.
Pintura representando Vasco da Gama em sua
chegada s Indias.
O comrcio indiano. Desde o incio,
Portugal conheceu grande sucesso na
expanso martima. Encontrou minas
de ouro e prata na frica,
desenvolvendo ali um importante
comrcio. Ainda, em 1498, descobriu
o Caminho para as ndias, regio
onde viriam a se localizar os principais
entrepostos comerciais portugueses
no ultramar. Esse foi o perodo de
maior prosperidade na histria de
Portugal. Como exemplo disso, de
1500 a 1520, chegou por ano a
Portugal, cerca de 200 kg de ouro
africano, e, at 1530, esse pas teve o
monoplio sobre a explorao do ouro
africano e sobre o comrcio indiano.
Questes de Vestibulares 1. UFRJ 2003. frente do projeto de expanso do lusocristianismo
estavam os monarcas portugueses,
aos quais, desde meados do sculo
XV, os papas haviam concedido o
direito do padroado (...) Quando se
iniciou o ciclo das grandes
navegaes, Roma decidiu confiar aos
monarcas da Pennsula Ibrica o
padroado sobre as novas terras
descobertas. (AZZI, Riolando. A Cristandade Colonial: Mito e Ideologia. Petrpolis: Vozes, 1987, p. 64).
As relaes entre os Estados
nascentes e a Igreja Catlica
constituram-se em um dos mais
importantes eixos de conflito ao longo
da etapa final da Idade Mdia. Ao
contrrio de outras regies, na
Pennsula Ibrica a resoluo do
problema implicou o estreitamento
das interaes entre uma e outra
instituio.
a) Cite duas das atribuies das
Coroas Ibricas contidas na delegao
papal do Padroado, cujo fim ltimo
era a expanso do catolicismo nas
terras recm-descobertas da Amrica.
b) Indique a principal fonte de
arregimentao de recursos para a
realizao das tarefas que, por meio
do Padroado, estavam a cargo das
Coroas Ibricas na Amrica nos
sculos XVI e XVII.
2. UERJ 2006. As grandes
navegaes dos sculos XV e XVI
possibilitaram a explorao do Oceano
Atlntico, conhecido, poca, como
Mar Tenebroso. Como resultado, um
novo movimento penetrava nesse
7
mundo de universos separados, dando
incio a um processo que foi
considerado por alguns historiadores
uma primeira globalizao e no qual
coube aos portugueses e espanhis
um papel de vanguarda.
A) Apresente o motivo que levou
historiadores a considerarem as
grandes navegaes uma primeira
globalizao.
B) Aponte dois fatores que
contriburam para o pioneirismo de
Portugal e Espanha nas grandes
navegaes.
3. ENEM 2007. A identidade negra
no surge da tomada de conscincia
de uma diferena de pigmentao ou
de uma diferena biolgica entre
populaes negras e brancas e/ou
negras e amarelas. Ela resulta de um
longo processo histrico que comea
com o descobrimento, no sculo XV,
do continente africano e de seus
habitantes pelos navegadores
portugueses, descobrimento esse que
abriu o caminho s relaes
mercantilistas com a frica, ao trfico
negreiro, escravido e, enfim,
colonizao do continente africano e
de seus povos. K. Munanga. Algumas consideraes sobre a diversidade e a identidade negra no Brasil. In: Diversidade na educao: reflexes e experincias. Braslia: SEMTEC/MEC, 2003, p. 37.
Com relao ao assunto tratado no
texto acima, correto afirmar que
a) a colonizao da frica pelos
europeus foi simultnea ao
descobrimento desse continente.
b) a existncia de lucrativo comrcio
na frica levou os portugueses a
desenvolverem esse continente.
c) o surgimento do trfico negreiro foi
posterior ao incio da escravido no
Brasil.
d) a explorao da frica decorreu do
movimento de expanso europia do
incio da Idade Moderna.
e) a colonizao da frica antecedeu
as relaes comerciais entre esse continente e a Europa.
8
Captulo 2. O descobrimento do Brasil e as primeiras dcadas
da colnia Apresentao No ano 2000, o governo brasileiro organizou uma
ampla programao em comemorao
aos 500 anos do Descobrimento do Brasil. Contudo, preciso ressaltar que o termo descoberta do Brasil se
aplica somente chegada, em 22 de
abril de 1500, da frota comandada
pelo navegador portugus Pedro
lvares Cabral a uma parte da
extenso de terra onde atualmente se
localiza o territrio brasileiro. A
palavra "descoberta" usada nesse
sentido em uma perspectiva
europocntrica, ou seja, referindo-se
estritamente a um olhar europeu que
descobre um Novo Mundo, deixando de considerar a presena de
diversos grupos de povos amerndios
que habitam a regio h muitos
sculos.
O perodo pr-colonial 1500-1530
O descobrimento e o comrcio indiano Em 1500, as ndias, recm-descobertas por Portugal, supriam as necessidades comerciais
do Reino, atravs do afluxo de
especiarias. Neste momento, o Estado
e a burguesia portuguesa estavam
mais interessados na frica e na sia,
pois os lucros oferecidos pelo
comrcio com essas regies eram
imediatos, com o comrcio das
especiarias asiticas e dos produtos
africanos, como o ouro, o marfim e o
escravo negro. Em contrapartida, os
lucros conseguidos com a extrao do
pau-brasil eram insignificantes se
comparados com aqueles adquiridos
com os produtos afro-asiticos.
O escambo de pau-brasil - Em
1501 e 1502 foram feitas expedies
pela costa brasileira. Aps os
primeiros contatos com os indgenas,
os portugueses comearam a explorar
o pau-brasil da Mata Atlntica. O pau-
brasil tinha grande valor no mercado
europeu, j que sua seiva
avermelhada era muito utilizada para
tingir tecidos e para a fabricao de
mveis e embarcaes. Como estas
rvores no estavam concentradas
em uma nica regio, mas espalhadas
pela mata, passou-se a utilizar a mo
de obra indgena para executar o
corte. At esse momento, os ndios
no eram escravizados, eram pagos
na forma de escambo, ou seja,
atravs da troca de produtos.
Machados, apitos, chocalhos, espelhos
e outros objetos utilitrios foram
oferecidos aos nativos em troca de
seu trabalho (cortar o pau-brasil e
carreg-lo at s caravelas). Os
portugueses continuaram a
explorao da madeira, erguendo
toscas feitorias no litoral, onde
funcionavam armazns e postos de
trocas com os indgenas.
Motivaes para a colonizao -
Nesse perodo, encontravam-se, alm
dos portugueses, outros estrangeiros
no territrio da Amrica portuguesa.
Dentre estes, destacam-se os
franceses, que eram os principais
compradores do pau-brasil da costa
brasileira. No final da dcada de 1520, Portugal via uma dupla
necessidade de dar incio
colonizao no Brasil. Pois, se por um
lado, o Reino passava por srios
problemas financeiros com a perda do
monoplio do comrcio das
especiarias asiticas, por outro, a
crescente presena estrangeira,
notadamente francesa, no litoral do
Brasil, ameaava a posse portuguesa
da sua parte nas terras do Novo
Mundo. Outro fator relevante foi a
descoberta de ouro e prata na
Amrica espanhola. Em 1530, o
governo portugus enviou ao Brasil a
primeira expedio colonizadora, sob
o comando de Martim Afonso de
Sousa. Essa expedio visava o
9
povoamento e a defesa da nova terra,
assim como, sua administrao e
sistematizao da explorao
econmica.
A organizao da estrutura
poltico-administrativa do Brasil colonial
O sistema de Capitanias
Hereditrias - Em 1532, tomou-se a
deciso de dividir a colnia em 14
Capitanias Hereditrias, doadas a
nobres portugueses que teriam a
obrigao de povoar, proteger e
desenvolver economicamente seus
territrios. Para estimular os
donatrios a ocupar as novas terras, o
rei lhes concedeu amplos poderes
polticos, para governar suas terras.
Dessa forma, os donatrios poderiam
doar sesmarias, exercerem jurisdio
civil na Capitania e obterem direitos
comerciais. Em contrapartida, os
donatrios deveriam arrecadar
tributos para a Coroa. A nobreza e a
burguesia portuguesa no se
interessaram pelo empreendimento,
pois no apresentavam atrativos
visivelmente rentveis. Das Capitanias
organizadas, poucas obtiveram xito.
As que mais prosperaram foram as
Capitanias de So Vicente e de
Pernambuco. As outras fracassaram
como empresa colonizadora, como foi
o caso da Capitania de Ilhus, onde o
donatrio Pereira Coutinho acabou
sendo devorado pelos ndios
antropfagos locais. Contudo, o
sistema continuou a existir at finais
do sculo XVIII.
O Governo Geral - Com o risco
sempre iminente da perda do
territrio para os franceses e com a
notcia da descoberta da mina de
Potosi (na atual Bolvia) pelos
espanhis, em 1545, (a maior mina
de prata do mundo na poca), em
1548, a Coroa portuguesa decidiu
implantar um governo central na
colnia. Esse sistema administrativo,
introduzido em 1548, centralizava o
poder poltico e administrativo da
colnia nas mos de um
representante do rei, o governador
geral. Entre suas principais funes
estavam: consolidar o poder poltico e
religioso; incentivar o povoamento
visando a defesa do territrio contra
invases; auxiliar na administrao e
proteger militarmente os donatrios,
estabelecendo, assim, um maior
controle social. A primeira sede do
Governo Geral foi em Salvador.
As Cmaras Municipais Eram rgos locais da administrao
colonial portuguesa. Sua fundao
data de 1549, na cidade de Salvador,
por Tom de Souza. Suas funes
eram bastante extensas e abarcavam
diversos setores da vida econmica,
social e poltica na colnia. As
cmaras municipais prevaleceram em
todo o perodo colonial, tornando-se a
base da administrao. Seus
membros eram constitudos pelos
homens bons, grandes proprietrios
de terras e escravos. Posteriormente,
nas cidades que desenvolveram
atividades mercantis, as cmaras
municipais foram ocupadas por
grandes comerciantes, como ocorreu
em Olinda. As cmaras eram
importantes centros de poder e de
deciso na colnia e, algumas vezes,
se confrontavam com a Coroa.
Os cristo-novos O termo designa os judeus convertidos ao cristianismo
catlico. A distino entre cristo-
velho e crito-novo tornou-se
corrente a partir de 1497, quando o
rei portugus D. Manuel I ordenou a
converso em massa dos judeus
residentes em Portugal ao catolicismo.
Muitos destes fugiram para o Brasil,
com receio do Tribunal da Santa
Inquisio instalado em Portugal,
entre 1536 e 1540. Por essa poca
consolidaram-se tambm as
exigncias de pureza de sangue, em
consequncia da considerao da
impureza do sangue dos judeus,
negros e mouros. Com base na
pureza de sangue, a sociedade do
Antigo Regime consolidava-se
estabelecendo uma srie de
obstculos ascenso social,
exigindo-se, inclusive, o exame de
origem dos candidatos aos cargos
eclesisticos, polticos e
administrativos. Apesar disso, a
presena dos cristo-novos foi muito
importante para a colonizao
portuguesa na Amrica.
10
A questo indgena - A carta de Pero Vaz de Caminha o primeiro
documento em que relata os
primeiros contatos dos portugueses
com as populaes nativas do Brasil.
Nesta carta, percebe-se o grande
choque cultural provocado pelas
enormes diferenas culturais entre os
europeus e as populaes amerndias
da Amrica portuguesa. Dessa forma,
a nudez dos ndios foi relatada com
perplexidade. Estima-se que, neste
primeiro contato, os ndios no Brasil
eram contados em cerca de 3 milhes
ao todo, somando-se todas as
diversas tribos. A partir do amplo
contato com os colonizadores, o
extermnio dos ndios gerou uma
reduo quantitativa drstica, e, com
o passar dos sculos, os avanos civilizatrios foram levando cada vez mais os ndios sua extino.
Dezenas de milhares de ndios
morreram em conseqncia do
contato direto e/ou indireto com os
europeus e pelas doenas por eles
trazidas. A gripe, o sarampo, a
coqueluche e outras doenas
consideradas mais graves, como a
tuberculose e a varola, vitimaram,
muitas vezes, sociedades indgenas
inteiras, pelo fato dessas populaes
no possurem imunidade natural
contra esses males. Alm da violncia
contra os indgenas, que foram
escravizados em muitas regies da
colnia, durante o processo de
colonizao, suas terras foram
tomadas, seus meios de sobrevivncia
destrudos e suas prticas religiosas
proibidas. Durante o sculo XIX, com
os avanos em epidemiologia,
verificaram-se casos em que foram
usadas epidemias de varola como
arma biolgica contra os ndios. Esses
casos se encontram amplamente
documentados e sugerem que, com o
objetivo de conseguir mais terras,
homens brancos "presenteavam" os
ndios com roupas infectadas pela
doena, em seguida, aldeias inteiras
eram dizimadas. Existem relatos de
casos semelhantes por toda Amrica
do Sul.
Menino ndio de Mato Grosso (Brasil). Data:
1896, Autor: Marc Ferrez.
Um dos principais grupos indgenas do
Brasil foi o dos tupinambs, e tambm
um dos grandes inimigos da
colonizao portuguesa. Espalhados
pela costa brasileira, eram
encontrados, sobretudo, na Bahia e
no Rio de Janeiro. Povo de
comportamento belicoso, a guerra
desempenhava um papel de destaque na sua cultura como fator de conservao e aumento dos recursos
naturais sujeitos ao domnio tribal.
Aps o incio da colonizao efetiva do
Brasil pelos portugueses (1530),
foram empreendidas muitas guerras
entre portugueses e tupinambs, em
consequncia disso, estes ltimos
foram expulsos de suas terras ou
aniquilados. A Coroa portuguesa, logo
no incio da colonizao, proibiu a
escravido dos ndios, mas essa logo
se tornou letra morta. Apesar das leis contra a escravido indgena,
abria-se a exceo nas situaes
consideradas como Guerra Justa,
que consistia, segundo os
portugueses, nas situaes em que
homens brancos eram atacados pelos
nativos. Alm disso, a escravido
indgena era justificada pela f e
camuflada sob o compromisso da
evangelizao. Segundo a ideologia
oficial da colonizao, a catequizao
dos ndios compreendia o seu
principal objetivo. Nos primeiros anos
da empresa colonizadora, os
portugueses fizeram comrcio
(escambo) com os ndios, no entanto,
com a implementao das plantations,
comearam a utilizar a mo de obra
indgena de forma compulsria. O
11
trabalho indgena conseguido pela
fora, foi largamente utilizado em
toda a colnia at cerca de 1600.
A integrao com os indgenas -
Uma das maneiras de viabilizar a
conquista europia seria estabelecer
relaes estveis com as comunidades
indgenas. Com esse objetivo, muitos
portugueses se uniram a mulheres
ndias e, assim, mudaram sua
condio de invasor para parente,
passando a serem aceitos e
integrados quelas sociedades. Dessa
forma, muitos homens brancos
passaram a usufruir no s do
trabalho, mas tambm da proteo
dos nativos. Os bandeirantes paulistas
so um exemplo de indivduos que
puseram em prtica essa ao.
A resistncia Indgena Os povos indgenas, ao contrrio do que
preconizava parte da historiografia
tradicional, no aceitaram
pacificamente a dominao dos no-
ndios e, durante todo o processo
colonizador, empreenderam uma forte
resistncia. Dentre esses movimentos
de resistncia indgena antiescravista,
destaca-se a Confederao dos
Tamoios, um movimento que reuniu
diversos povos indgenas contra a
dominao portuguesa. Ocorrida por
volta de 1554-1563, colocou em
perigo o domnio metropolitano no Rio
de Janeiro e em So Vicente. Os
ndios do tronco Tupi, de vrias
regies do sudeste da colnia (Rio de
Janeiro, Angra e Ubatuba) e os no
Tupis, como os goitacs e os aimors,
habitantes do interior, junto da Serra
do Mar, aliaram-se para combater a
escravido indgena. Os tamoios
lutavam contra a escravido e pela
posse de suas terras e, com esse
intuito, se uniram aos Franceses.
Aps a interferncia dos padres
Manoel de Nbrega e Jos de
Anchieta, foi estabelecida a paz
atravs de um acordo, posteriormente
desrespeitado pelos portugueses, que
mataram cerca de 2.000 ndios e
escravizaram aproximadamente
outros 4.000. Os que conseguiram
escapar acabaram por se refugiar no
interior do territrio. Os Tamoios
foram vencidos, em 1563,
A Confederao dos Cariris -
Iniciada em 1554, foi outro exemplo
desses movimentos de resistncia
indgena, e consistiu numa srie de
confrontos ocorridos no Nordeste, nos
quais se envolveram ndios Cariris,
Caripus, Ics, Janduis e os
bandeirantes. Os conflitos se
intensificaram em 1622, e, sobretudo,
em 1654, quando os holandeses
deixaram a regio. Reagindo a
ocupao de suas terras, cerca de
14.000 ndios das capitanias de
Pernambuco, Paraba, Cear e Rio
Grande do Norte se rebelaram, mas
foram vencidos pelas bandeiras
paulistas, comandadas por Domingos
Jorge Velho, em 1698.
A Frana Antrtica - Os Franceses que se fixaram na costa brasileira,
conseguiram conquistar, com um
tratamento amistoso, a simpatia e o
auxlio dos ndios tanto para o corte
de pau-brasil, como na luta contra os
portugueses. Liderados por Nicolau
Duran de Villegaignom, os franceses
invadiram e conquistaram parte da
atual cidade do Rio de Janeiro, em
1555, nela pretendiam fundar uma
colnia de explorao econmica e, ao
mesmo tempo, fugir das guerras
religiosas da Europa. Se instalaram
nas Vilas de Sergipe, Paranapu
(atual Ilha do Governador), Uruu-
mirim (Flamengo) e em Laje,
denominando essa rea de Frana
Antrtica. O inimigo comum
(portugueses) aproximou os franceses
dos ndios, que se agruparam e
formando a Confederao dos
Tamoios. Os Portugueses reagiram,
sob as ordens do Governador Geral
Mem de S, procurando o apoio dos
Jesutas, dos colonos e do pedido de
reforos a Portugal. Em 1563, foi
enviada ao Brasil uma expedio
comandada por Estcio de S,
paralelamente, Mem de S conseguiu
o apoio do Arariboia, chefe dos ndios
Temimins. Finalmente, nesse mesmo
ano, os Jesutas Manoel de Nbrega e
Jos de Anchieta negociaram com os
Tamoios, conseguindo uma trgua
para o conflito, que ficou conhecido
12
como o Armistcio de Iperoig (atual
Ubatuba, So Paulo). Em 1. de
maro de 1565, Estcio de S fundou
a cidade de So Sebastio do Rio de
Janeiro, que serviria inicialmente de
base na luta contra os franceses e
seus aliados indgenas. Mesmo aps a
fundao da cidade, os franceses
insistiram em permanecer na regio.
Em 1567, no dia 18 de janeiro, Mem
de S mandou reforos para enfrent-
los. A batalha final aconteceu em 20
de janeiro, dia de So Sebastio, no
Outeiro da Glria. Os portugueses
venceram, mas Estcio de S foi
ferido no rosto e morreu um ms
depois. Assim nasceu a cidade, com
cerca de 600 habitantes: os
fundadores, que vieram com Estcio e
Mem de S; os Jesutas; os ndios
catequizados; alguns franceses e
umas poucas mulheres. Esses
pioneiros ocuparam os 184 mil metros
quadrados da colina, com limites nas
atuais Ruas So Jos, Santa Luzia,
Mxico e Largo da Misericrdia.
O ndio na atualidade - Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil ndios,
distribudos entre 225 sociedades
indgenas, que perfazem cerca de
0,25% da populao brasileira. Cabe
esclarecer que este dado populacional
considera to somente aqueles que
vivem em aldeias, havendo
estimativas de que, alm destes, haja
entre 100 e 190 mil vivendo fora das
terras indgenas, inclusive em reas
urbanas. H tambm 63 referncias
de ndios ainda no contactados, alm
de existirem grupos que esto
requerendo o reconhecimento de sua
condio indgena junto ao rgo
federal indigenista.
Questes de Vestibulares
1. Puc-Rio 2005. A aventura da
colonizao empreendida pela Coroa
de Portugal, nas terras da Amrica,
entre os sculos XVI e XVIII,
expressou-se na constituio de
diversas regies coloniais. Sobre
essas regies coloniais, esto corretas
as seguintes afirmativas COM
EXCEO DE:
(A) No vale do Rio Amazonas, a partir
do sculo XVII, ordens missionrias
exploraram as "drogas do serto",
utilizando o trabalho de indgenas
locais.
(B) No vale do Rio So Francisco, a
partir do final do sculo XVI, ocorreu
a expanso de fazendas de criao de
gado, voltadas para o abastecimento
dos engenhos de acar do litoral.
(C) Na Capitania de So Vicente, em
especial por iniciativa dos habitantes
da vila de So Paulo, organizaram-se
expedies bandeirantes que, no
decorrer do sculo XVII, abasteceram
propriedades locais com a mo de
obra escrava dos ndios apresados.
(D) Nas Minas, durante o sculo
XVIII, a extrao do ouro e de
diamantes, empreendida por
aventureiros e homens livres e
pobres, propiciou o surgimento de
cidades, onde o enriquecimento fcil
estimulava a mobilidade social.
(E) No litoral de Pernambuco, durante
a segunda metade do sculo XVI, a
lavoura de cana e a produo de
acar expandiram-se rapidamente, o
que foi acompanhado pela gradual
substituio do uso da mo-de-obra
escrava do nativo americano pelo
negro africano.
2. UERJ 2008.
Capa de caderno escolar, 2000. In: GOMES,
ngela et al. A Repblica no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
13
O ato de comemorar uma forma de
reiterar lembranas e evitar
esquecimentos. As comemoraes dos
500 anos de histria do Brasil no
fugiram a essa inteno. Em produtos
variados, como a capa do caderno
acima reproduzida, procurou-se
enaltecer o que era caracterstico e
particular da nao. Um dos valores
da identidade nacional brasileira
representado na imagem est
diretamente associado :
(A) riqueza mineral
(B) unidade religiosa
(C) extenso do territrio
(D) miscigenao do povo
3. UFRJ 2008. Em meados do sculo XVI, mais da metade das receitas
ultramarinas da monarquia
portuguesa vinham do Estado da
ndia. Cem anos depois, esse cenrio
mudava por completo. Em 1656,
numa consulta ao Conselho da
Fazenda da Coroa, lia-se a seguinte
passagem: A ndia estava reduzida a seis praas sem proveito religioso ou
econmico. (...) O Brasil era a
principal substncia da coroa e
Angola, os nervos das fbricas
brasileiras. (Adaptado de HESPANHA, Antnio M. (coord). Histria de Portugal O Antigo Regime. Lisboa: Editora Estampa, s/d.)
a) Identifique duas mudanas nas
bases econmicas do imprio luso
ocorridas aps as transformaes
assinaladas no documento.
4. UFRJ 2008. As Cmaras
Municipais da Amrica portuguesa do
sculo XVII tinham a responsabilidade
de, juntamente com os Oficiais da
monarquia, zelar pelo bem comum da
populao. Para o exerccio de tais
funes, a Cmara possua certas
atribuies econmicas, polticas e
jurdicas. Indique duas prerrogativas
das Cmaras Municipais coloniais.
14
Captulo 3. A implantao do colonialismo na Amrica
Portuguesa
Apresentao - Somente a partir de
1550, pode-se considerar que a
estrutura colonial se imps de fato na
Amrica portuguesa. Diferente da
europeia, a sociedade colonial
apresentou um novo modelo
organizativo baseado no trabalho
escravo (indgena e africano) e na
produo fundamentalmente voltada
para o mercado externo. Era a
sociedade colonial, patriarcal,
escravista e monocultora.
A estrutura colonial
O Pacto colonial - Foi um conjunto
de normas que regulamentaram as
relaes polticas e econmicas entre
as metrpoles e suas respectivas
colnias, na chamada Era
Mercantilista. O pacto colonial atendia
primordialmente s necessidades
metropolitanas, atravs do
monoplio (ou exclusivo)
comercial, que garantia metrpole
o comrcio exclusivo com sua rea
colonial, excluindo desse comrcio
qualquer outra nao. De acordo com
esta prtica, eram os portugueses que
determinavam os preos de venda dos
produtos agrcolas da colnia, como
tambm aqueles dos produtos
manufaturados trazidos da metrpole
para o Brasil. Outra restrio aos
coloniais residia na proibio de
produzir quaisquer artigos
manufaturados que pudessem fazer
concorrncia queles trazidos da
metrpole.
A explorao da cana-de-acar -
O principal objetivo da coroa e dos
comerciantes portugueses era extrair
das colnias produtos de alto valor no
mercado europeu, de preferncia
metais, de acordo com os princpios
mercantilistas. Nesse perodo,
tambm o acar extrado da cana
possua um alto valor nesse mercado
e, como esse cultivo se adaptou muito
bem ao clima e ao solo brasileiros (em
especial ao nordestino, cuja terra de
massap era ideal para a cultura da
cana, onde passou a ser cultivada) foi
o responsvel por tornar o litoral
nordestino na regio colonizadora
central dos sculos XVI e XVII. Nesse
panorama, passou a ser chamado de
engenho o conjunto formado pela
grande propriedade rural aucareira,
constitudo pela casa grande, por
outras casas que compunham a
propriedade, pelas senzalas e
plantaes. O engenho de aucar
constituiu a pea principal do sistema
mercantilista portugus do perodo,
sendo organizado na forma de
latifndios, com tcnicas agrcolas
complexas, mas apesar disso, com
baixa produtividade. Esta unidade
produtora de acar e de outros
produtos para exportao era
chamada de plantation. As platations
foram um tipo de sistema agrcola
baseado na grande propriedade,
produtoras de um produto principal,
com monocultura de exportao,
regime de trabalho escravista e numa
sociedade patriarcal.
Navio negreiro ilustrando o livro Voyage
pittoresque dans le Brsil, 1835, de Rugendas.
A partir de meados do sculo XVI,
para sustentar a produo de cana-
de-acar, os portugueses
comearam a importar africanos como
mo de obra escrava. Esses africanos
eram capturados entre as tribos das
feitorias europias na frica (s
vezes, com a conivncia de chefes
locais de tribos rivais) e atravessados,
via oceano Atlntico, em navios
negreiros, em pssimas condies de
higiene. Ao chegarem Amrica,
eram comercializados como
mercadoria e obrigados a trabalhar
nas plantaes ou casas dos
colonizadores. Dentro das fazendas,
viviam aprisionados em galpes
chamados de senzalas. Seus filhos
tambm eram escravizados,
15
perpetuando, assim, a condio de
escravos pelas geraes seguintes.
A pecuria - a atividade criatria
cumpriu um duplo papel no
desenvolvimento colonial: primeiro, o
de complementar a economia do
acar; segundo, o de dar incio a
penetrao, conquista e povoamento
do interior do Brasil, principalmente
do serto nordestino. Com o passar
do tempo, a boiada ultrapassou os
limites das reas agrcolas. Com
produo destinada ao mercado
interno, no sculo XVII a atividade
criatria se tornou mais
independente. Nesse momento, a
atividade pecuarista foi fundamental
como um fator de povoamento do
interior. At meados do sculo XVIII,
a pecuria ocupou diversas regies do
interior do nordeste, tendo como
centros de irradiao as capitanias da
Bahia e de Pernambuco, sempre ao
seguindo o curso dos rios, prximos
aos quais se construam os currais,
como ficaram famosos aqueles ao
longo do Rio So Francisco. O nortista
ia ocupando as terras marginais,
garantindo seu avano com uma
retaguarda reforada pelos currais e
ranchos dos vaqueiros. J a expanso
territorial baiana subiu o curso do Rio
construindo bases em torno dos quais
foram nascendo e se desenvolvendo
os primeiros ncleos populacionais.
Via de regra, os baianos e
pernambucanos fizeram suas entradas
guiados pelas boiadas, fixando currais
pelo vale adentro; enquanto os
bandeirantes do Norte avanaram
lentamente, chegando a atingir, dessa
forma, as regies mineiras. Ao mesmo tempo em que os baianos
subiam o So Francisco, os paulistas o
navegavam em sentido contrrio.
O escravismo colonial At 1640, aproximadamente, o ndio constituiu a
mo de obra bsica utilizada na
colnia. Aos poucos, esses foram
sendo substitudos devido,
principalmente, disperso das
populaes nativas do litoral; aos
altos ndices de mortalidade indgena,
a resistncia dos ndios ao trabalho
compulsrio, e a aos lucros
alcanados com o trfico negreiro. A
partir do sculo XVII, a opo pelo
escravo africano vai se difundir por
toda a colnia, principalmente nas
reas centrais, onde foram
implantadas as principais estruturas
coloniais. A continuidade do processo
colonizador dependeu da reposio da
mo de obra escrava, que foi
assegurada pelo trfico negreiro, uma
vez que, essa atividade era altamente
rentvel tanto para os traficantes de
escravos como para a Metrpole.
Estima-se que foram trazidos cerca de
3,6 milhes de africanos para
trabalhar como escravos no Brasil, e
aproximadamente 12 milhes como
um todo para a Amrica. Os
portugueses no capturavam os
cativos na frica, mas compravam
escravos de comerciantes africanos.
As sociedades africanas possuam
escravos antes mesmo da chegada
dos europeus. Em virtude da grande
demanda por escravos gerada pelo
trfico atlntico, essas sociedades
passam a multiplicar em vrias vezes
o nmero de cativos, exportando
escravos para todo o mundo. No
Brasil, o escravo africano, chegou a
constituir 50% da populao colonial
em alguns perodos do sculo XVIII.
A presena holandesa no comrcio
Os Pases Baixos possuam relaes
comercias com Portugal desde a Idade
Mdia. Assim sendo, tornaram-se
parceiros fundamentais para o
sucesso da agromanufatura
aucareira, participando do transporte
da cana para a Europa e do refino do
acar. Dessa forma, Holanda e
Portugal tornaram-se scios no
comrcio europeu do acar, havendo
nessa sociedade certa desvantagem
de Portugal.
Os Jesutas - Desde a dcada de
1550, a Companhia de Jesus estava
presente no Brasil. Essa Ordem foi
criada durante a Contra-Reforma
catlica com o objetivo de promover a
expanso da f catlica pelo mundo.
Esses religiosos foram os mais
presentes no Brasil at a sua
expulso, em 1759, durante o
governo do Marqus de Pombal. Na
16
colnia, possuam vrias propriedades
e utilizaram largamente o trabalho
compulsrio indgena. Estabeleceram
as misses, nas quais catequizavam e
usavam a fora de trabalho dos
amerndios. Os Jesutas tambm
desempenharam um importante papel
na educao da colnia, eles
educavam os filhos dos senhores de
engenho, comerciantes e de outras
famlias abastadas. Durante o perodo
colonial, o direito educao, era
restrito somente a esses grupos
sociais.
Questes de Vestibulares
1. UFF 2003. Segundo o historiador
Srgio Buarque de Holanda, vrios
aspectos estabeleceram a diferena
entre a colonizao portuguesa dos semeadores e a colonizao espanhola dos ladrilhadores. Identifique a opo que revela uma
diferena observada no tocante
construo das cidades no Novo
Mundo.
(A) As formas distintas de construo
das cidades no Novo Mundo
derivaram do modo como a Espanha
concebeu a idia renascentista de
homem, o que fez seus navegadores,
ao contrrio dos portugueses,
considerarem os indgenas
americanos como seus pares.
(B) As cidades portuguesas na Costa
da Amrica tornaram-se feitorias por
um acordo de no concorrncia
firmado entre Espanha e Portugal,
expresso no Tratado de Tordesilhas,
pelo qual a Espanha ficou encarregada
das reas de minerao.
(C) As experincias comerciais na sia
e na frica acentuaram o papel da
circulao nas prticas mercantilistas
de Portugal; por isso, as cidades
portuguesas da Amrica eram
feitorias, diferentemente das
espanholas que combinavam comrcio
e produo.
(D) As cidades portuguesas na
Amrica feitorias constituram-se centros comerciais por influncia
direta do modelo de Veneza e
Florena. As cidades espanholas, por
outro lado, tiveram como modelo a
experincia urbana manufatureira
francesa.
(E) As cidades portuguesas
especializaram-se em organizar a
entrada de produtos agrcolas no
territrio colonizado, enquanto as
espanholas atuaram como ncleos
mercantis voltados para a criao de
mercados consumidores de produtos
manufaturados da metrpole.
2. UFF 2004. (...) se a regio [colonial] possui uma localizao
espacial, este espao j no se
distingue tanto por suas
caractersticas naturais, e sim por ser
um espao socialmente construdo, da
mesma forma que, se ela possui uma
localizao temporal, este tempo no
se distingue por sua localizao
meramente cronolgica, e sim como
um determinado tempo histrico, o
tempo da relao colonial. Deste
modo, a delimitao espcio-temporal
de uma regio existe enquanto
materializao de limites dados a
partir das relaes que se
estabelecem entre os agentes, isto ,
a partir de relaes sociais. Ilmar Rohloff de Mattos. O Tempo
Saquarema. So Paulo: Hucitec,
Braslia: INL, 1987, p.24 A partir do
texto, podemos entender que a
empresa colonial produtora de uma
regio e de um tempo coloniais,
definidos pelas relaes sociais
construdas por suas caractersticas
internas e pela maneira como se
relaciona com o que se situa fora
dessa mesma regio colonial. A Afro-
amrica, produto da ocupao do
Novo Mundo, principalmente por
portugueses, espanhis e ingleses,
pode ser compreendida, nessa
perspectiva, como um conjunto de:
(A) economias subordinadas ao
mercado mundial capitalista e lgica
do capital industrial, garantindo a
penetrao do capitalismo no
continente americano, o que explica a
rpida industrializao ocorrida no
sculo XIX, como desdobramento da
revoluo industrial;
(B) sociedades que reproduziam as
existentes nas metrpoles, podendo
ser compreendidas a partir da
17
substituio do trabalho compulsrio
das relaes feudais pelo trabalho livre; (C) economias surgidas na lgica do
mercantilismo, no caso da Inglaterra,
e do feudalismo, nas colnias ibricas,
sendo o comrcio a principal
preocupao dos britnicos, enquanto
os governos de Portugal e Espanha
privilegiavam a expanso do poder da
Igreja;
(D) sociedades com organizao
socioeconmica diferente da existente
nas metrpoles, tendo na explorao
do trabalho escravo a base da
produo da riqueza, que era, em
grande parte, transferida para as
metrpoles, segundo a lgica do
capital comercial;
(E) economias baseadas na
monocultura de produtos de grande
demanda na Europa, gerando uma
sociedade polarizada entre Senhores e
Escravos, no possibilitando a
formao de um mercado interno e o
surgimento de outras classes sociais.
3. UFRJ 2009. A tabela a seguir
mostra algumas das conseqncias
econmicas e sociais da introduo do
plantio da cana-de-acar em
substituio ao de tabaco em
Barbados (Caribe) no sculo XVII.
Caracterst. scio-econmicas 1645 1680
Cultivo exportvel dominante Tabaco Acar
Nmero de fazendas 11.000 350
Tamanho das fazenda 10 acres* +10acres*
Nmero de escravos / 5.680 37.000 africanos e afro-descendentes
* medida agrria adotada por alguns pases (Adaptado de KLEIN, Herbert S. A escravido africana (Amrica Latina e Caribe). So Paulo: Brasiliense, 1987, pp. 64 e sgts)
a) Relacionando as variveis
presentes na tabela, explique como o
exemplo de Barbados ilustra as
transformaes fundirias e sociais
prprias da maior insero das
regies escravistas americanas no
mercado internacional na poca
colonial.
b) Cite duas capitanias aucareiras da
Amrica Portuguesa que
apresentavam caractersticas
fundirias e sociais semelhantes s de
Barbados em fins do sculo XVII.
4. PUC 2009. Sobre as
caractersticas da sociedade escravista
colonial da Amrica portuguesa esto
corretas as afirmaes abaixo,
EXCEO de uma. Indique-a.
(A) O incio do processo de
colonizao na Amrica portuguesa foi
marcado pela utilizao dos ndios denominados negros da terra - como mo-de-obra.
(B) Na Amrica portuguesa, ocorreu o
predomnio da utilizao da mo-de-
obra escrava africana seja em reas
ligadas agroexportao, como o
nordeste aucareiro a partir do final
do sculo XVI, seja na regio
mineradora a partir do sculo XVIII.
(C) A partir do sculo XVI, com a
introduo da mo-de-obra escrava
africana, a escravido indgena
acabou por completo em todas as
regies da Amrica portuguesa.
(D) Em algumas regies da Amrica
portuguesa, os senhores permitiram
que alguns de seus escravos
pudessem realizar uma lavoura de
subsistncia dentro dos latifndios
agroexportadores, o que os
historiadores denominam de brecha camponesa. (E) Nas cidades coloniais da Amrica
portuguesa, escravos e escravas
trabalharam vendendo mercadorias
como doces, legumes e frutas, sendo
conhecidos como escravos de ganho.
5. UERJ 2009. O trabalho na colnia
1. 1500-1532: perodo chamado pr-
colonial, caracterizado por uma
economia extrativa baseada no
escambo com os ndios;
2. 1532-1600: poca de predomnio
da escravido indgena;
3. 1600-1700: fase de instalao do
escravismo colonial de plantation em
sua forma clssica; 4. 1700-1822: anos de diversificao
das atividades em funo da
minerao, do surgimento de uma
rede urbana, mais tarde de uma
importncia maior da manufatura embora sempre sob o signo da
escravido predominante. Ciro Flamarion Santana CARDOSO In: LINHARES, Maria Yedda (org.). Histria geral do Brasil. 9 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
18
A partir das informaes do texto,
verificam-se alteraes ocorridas no
sistema colonial em relao mo-
de-obra. Apresente duas justificativas
para o incentivo do Estado portugus
importao de mo-de-obra escrava
para sua colnia na Amrica.
19
Captulo 4. O Brasil e as relaes internacionais
Apresentao - Se a primeira
metade do sculo XVI foi de grande
prosperidade para Portugal, o mesmo
no se pode dizer para a primeira
metade do sculo XVII. Entre 1580 e
1640, Portugal foi anexado pela
Espanha, o que acarretou, na colnia,
na tomada do Nordeste brasileiro
pelos holandeses. Em 1640, aps
reconquistar a sua independncia da
Espanha, Portugal teve ainda que
travar outra batalha: expulsar os
holandeses do Brasil. Com a sada dos
batavos e a retomada do rgido
controle colonial pelos portugueses,
veio a reao dos colonos e a ecloso
de uma srie de revoltas.
Unio Ibrica e invaso holandesa
A Unio Ibrica Foi o perodo em que Portugal permaneceu anexado
Espanha entre 1580-1640. Com a
morte do rei D. Sebastio (1557-
1578), Portugal mergulhou num
colapso poltico, visto que o monarca,
epoca de sua morte, ainda era
solteiro e tambm no possuia
herdeiros. Na poca, muitos foram os
relatos sobre as cirscuntncias da
morte do rei. Para alguns, esse
morrera ao lado de outros
combatentes portugueses, outros
mencionavam que o rei teria
desaparecido em meio a batalha de
Alccer-Quibir no Norte da frica,
onde lutavam contra os mouros. Com
a ausncia de D. Sebastio teve incio
uma questo dinstica, que permitiu
que o reino portugus caisse nas
mos da Espanha de Felipe II. O
mistrio envolvendo o
desaparecimento do rei, gerou o
sebastianismo, espcie de crena
messinica no seu retorno a Portugal.
Com a anexao Espanha, Portugal
herdou tambm os inimigos dos
espanhis, como os holandeses, que
passaram a promover incurses em
suas colnias. No Oriente, na frica e
no Brasil os flamengos se instalaram
em Pernambuco e ocuparam boa
parte do Nordeste.
A tomada do Nordeste 1630-1654
- Em 1630, com 70 navios, os
holandeses tomaram Pernambuco e
depois todo o Nordeste, do Sergipe ao
Maranho. Dominaram ainda portos
escravistas na frica, dominando,
portanto, a produo de quase todo o
acar brasileiro e tambm o
abastecimento de escravos para as
plantagens. Era a Nova Holanda, a
principal colnia holandesa na
Amrica. Em linhas gerais, as
invases holandesas do Brasil podem
ser recortadas em dois grandes
perodos:
1624-1625 Invaso de Salvador,
na Bahia.
1630-1654 Invaso de Recife e
Olinda, em Pernambuco.
1630-1637 Fase de resistncia ao
invasor.
1637-1644 Administrao de
Maurcio de Nassau
1644-1654 Insurreio
pernambucana
O governo de Nassau 1637-1644 De todo o perodo holands destaca-
se o governo de Maurcio de Nassau
em Nova Holanda (atual Recife).
Algumas medidas de destaque da sua
administrao foram a aliana com a
elite aucareira nordestina,
fornecendo crdito aos fazendeiros e a
concesso de liberdade religiosa na
colnia, em lugar da obrigatoriedade
de professar o credo catlico, imposto
pelo governo portugus. Alm do
interesse no domnio da produo
aucareira, Nassau trouxe consigo
uma equipe composta por pintores,
arquitetos, escritores, naturistas,
mdicos, astrlogos, e outros
profissionais envolvidos nos projetos
das misses artsticas e cientficas, as
primeiras vindas ao Brasil. Durante
seu governo, a cidade do Recife
sofreu uma verdadeira reformulao
urbana com a construo, dentre
outras obras, de jardins, lagos
artificiais e um palcio para sua
acomodao.
A sada dos holandeses - Mesmo
com o fim da Unio Ibrica, os
holandeses se recusaram a sair do
20
Nordeste. Portugal e Holanda
entraram em guerra e a luta contra os
holandeses no Nordeste brasileiro foi
iniciada pelos prprios senhores de
engenho da regio. A luta se
arrastaria por cerca de dez anos. As
batalhas mais importantes foram as
de Guararapes (1648 e 1649) e a de
Campina do Taborda (1654). Mas a
expulso definitiva dos holandeses
teve incio em junho de 1645, em
Pernambuco, atravs da ecloso de
uma insurreio popular liderada pelo
paraibano Andr Vidal de Negreiros,
pelo senhor de engenho Joo
Fernandes Vieira, pelo ndio Felipe
Camaro e pelo negro Henrique Dias.
A chamada Insurreio
Pernambucana chegou ao fim em
1654, tendo libertado o Nordeste
brasileiro do domnio holands.
Porm, a expulso dos holandeses do
territrio brasileiro teria um impacto
negativo sobre a economia colonial.
Durante o perodo em que estiveram
no Nordeste, os holandeses tomaram
conhecimento de todo o ciclo da
produo do acar e conseguiram
aprimorar os aspectos tcnicos e
organizacionais do empreendimento.
Quando foram expulsos do Brasil,
instalaram-se nas Antilhas
organizando nesse local uma prspera
indstria aucareira.
O acirramento do colonialismo A Restaurao portuguesa
(independncia da Espanha) se deu
em um pssimo momento financeiro:
Portugal havia perdido algumas de
suas colnias na frica e na sia;
precisava combater a presena dos
holandeses no Nordeste e ainda
enfrentava uma forte queda no preo
do acar no mercado internacional,
devido ao surgimento de novas reas
produtoras de cana na Amrica.
Objetivando conseguir mais fundos e
estabilizar as finanas, o rei D. Joo
IV (1640-1656) decidiu criar a
Companhia de Comrcio do Brasil
(1647-1720) e a Cia de Comrcio do
Maranho (1682-5). Estas deveriam,
segundo os moldes ingleses e
holandeses, monopolizar todo o
comrcio com o Brasil. Em 1640 foi
criado tambm o Conselho
Ultramarino, rgo portugus
responsvel pelas colnias.
Implementando uma poltica de forte
centralizao, foram criados tambm
os cargos de juzes de fora, que
seriam os presidentes das cmaras
municipais, os juzes seriam todos
nomeados pelo Rei.
As Revoltas Coloniais
A Revolta de Beckman (1684) Foi um movimento liderado pelos
irmos de origem alem Manuel e
Thomas Beckmam, no Estado Gro-
Par e Maranho. Essa revolta revela
a difcil relao entre colonos, jesutas
e a Metrpole. A convivncia era
conflituosa entre os senhores de
engenho e os missionrios da
Companhia de Jesus. Os primeiros
queriam escravizar os ndios e os
segundos eram contrrio
escravizao indgena. O estopim do
conflito foi a determinao real, em
1680, que estabeleceu que todos os
ndios do Maranho fossem declarados
livres e com direito a uma poro de
terra e criao da Companhia de
Comrcio do Maranho, que passou
a deter o monoplio do comrcio na
capitania. Os revoltosos propunham o
fim do monoplio e atacaram a
Companhia de Comrcio e os Jesutas.
Os Beckmam se rebelaram
juntamente com boa parte do povo do
maranho, destituindo a governana e
assumindo o poder por cerca de um
ano, aps esse perodo, a Revolta foi
massacrada.
O Quilombo dos Palmares (1630-
1694) Dentre as diversas formas de resistncia escravido, a fuga foi
a principal delas. No Brasil, durante o
perodo colonial e o Imprio, houve
centenas de quilombos. O mais
emblemtico destes foi o quilombo de
Palmares. Situado na Serra da
Barriga, no atual limite entre os
Estados de Alagoas e Pernambuco,
ficou sendo o mais conhecido por sua
longa durao, aproximadamente, 64
anos; pelo nmero de seus habitantes
(cerca de 18.000, embora haja
autores que falem de 30.000
pessoas), e por sua estrutura interna
de organizao poltica e Militar. Os
21
escravos que fugiram para Palmares
organizaram um verdadeiro Estado,
nos moldes africanos, onde viviam
sob o governo de um rei, o primeiro
deles foi Ganga Zumba (governo
entre 1670-1678), antecessor de seu
sobrinho Zumbi. Palmares se tornou
um reduto to bem organizado e
poderoso que chegou a manter
relaes diplomticas com as
autoridades coloniais. Ganga Zumba,
organizou tticas de guerrilha na
defesa do territrio, nas quais eram
armadas emboscadas para atrair o
inimigo para lutar dentro das matas,
ambiente que lhes era favorvel
porque conheciam melhor. Em 1677,
o governador de Pernambuco,
ofereceu um tratado de paz com
Palmares. O acordo reconhecia a
liberdade dos nascidos no quilombo e
daria a eles terras infrteis na regio.
Grande parte dos quilombolas rejeitou
o acordo. Ganga Zumba se
comprometeu a no mais aceitar
escravo fugido em Palmares e s
concederia liberdade aos nascidos no
quilombo, essa deciso culminou com
a sua morte por envenenamento em
1678. Em meados do sculo XVII,
foram organizadas vrias expedies
contra Palmares. Nesse contexto,
Zumbi se tornou o lder da resistncia
quilombola, substituindo a defensiva
ttica de guerrilha por uma estratgia
de ataques surpresa a engenhos,
libertando escravos e se apoderando
de armas. Com o tempo, foi
crescendo at mesmo um tipo de
comrcio entre quilombolas e colonos,
de tal forma que estes ltimos
chegavam a alugar terras para plantio
e trocavam, com os negros, alimentos
por munio. Diante de tal situao, a
Coroa portuguesa precisava tomar
medidas imediatas para reafirmar seu
poder na regio. Foram organizados
novos ataques e Palmares foi
destrudo em 1694, aps 18
expedies repressivas. A expedio
vitoriosa foi comandada pelo
bandeirante Domingos Jorge Velho,
que comandou um exercito formado
por brancos, ndios e mestios. Em 20
de novembro de 1695, Zumbi foi
assassinado em seu esconderijo e
recebeu o castigo exemplar:
decapitado, teve sua cabea exposta
em praa pblica no Recife. Em
homenagem a Zumbi, o dia 20 de
novembro foi declarado no Brasil
como o Dia Nacional da
Conscincia Negra.
A Guerra dos Mascates 1709-1711
Foi o conflito ocorrido entre os proprietrios de terras e senhores de
engenho de Olinda e a elite comercial
de Recife, entre 1709 e 1711. Aps a
expulso dos holandeses, em 1654,
os senhores de engenho da regio,
alm de perderem o mercado de
acar para os antilhanos, tiveram
que enfrentar os comerciantes
portugueses (chamados de Mascates)
que passaram a elevar taxas e a
executar hipotecas. Dependentes
economicamente desses
comerciantes, junto a quem
contraram dvidas e que foram
agravadas pela queda internacional
dos preos do acar, os latifundirios
pernambucanos no aceitaram a
emancipao poltico-administrativa
da cidade do Recife, at ento
subordinada a Olinda. A emancipao
de Recife foi entendida como um
agravante da situao dos
latifundirios (devedores) diante da
burguesia lusitana (credora), que por
esse mecanismo passava a se colocar
em patamar de igualdade poltica.
Apesar da superioridade econmica
dos chamados Mascates de Recife,
estes no possuam autoridade
poltica, pois a Cmara municipal
ficava em Olinda. Os comerciantes de
Recife no queriam mais se submeter
a Olinda o que acarretou no conflito.
Em 1710, a Coroa interferiu no
confronto e logo aps receber a Carta Rgia que elevou o povoado
condio de vila, os comerciantes
inauguraram o Pelourinho e o prdio
da Cmara Municipal, separando-se
formalmente o Recife de Olinda.
Questes de Vestibulares 1. UFRJ 2000. (...) Assim, antes de partir de Frana, Villegagnon
prometeu a alguns honrados
personagens que o acompanharam,
fundar um puro servio de Deus no
22
lugar em que se estabelecesse. E
depois de aliciar os marinheiros e
artesos necessrios, partiu em maio
de 1555, chegando ao Brasil em
novembro, aps muitas tormentas e
toda a espcie de dificuldades. A
aportando, desembarcou e tratou
imediatamente de alojar-se em um
rochedo na embocadura de um brao
de mar ou rio de gua salgada a que
os indgenas chamavam Guanabara e
que (como descreverei
oportunamente) fica a 23 abaixo do
equador, quase altura do Trpico de
Capricrnio. Mas o mar da o
expulsou. Constrangido a retirar-se
avanou quase uma lgua em busca
de terra e acabou por acomodar-se
numa ilha antes deserta, onde, depois
de desembarcar sua artilharia e
demais bagagens, iniciou a construo
de um forte, a fim de garantir-se
tanto contra os selvagens como
contra os portugueses que viajavam
para o Brasil e a j possuem
inmeras fortalezas. (IN: LRY, Jean. De Viagem Terra do Brasil. Rio de Janeiro, Bibliex, 1961, pp. 51).
(...) Por esse tempo, agitava-se importante controvrsia entre os
dirigentes da Companhia (Cia. Das
ndias Ocidentais), a qual se travou
principalmente entre as cmaras da
Holanda e da Zelndia. Versava sobre
se seria proveitoso Companhia
franquear o Brasil ao comrcio
privado, ou se devia competir a ela
tudo o que se referisse ao comrcio e
s necessidades dos habitantes
daquela regio. Cada um dos dois
partidos sustentava o seu parecer. Os
propugnadores do monoplio
escudavam-se com o exemplo da Cia.
Oriental, usando o argumento de que
se esperariam maiores lucros, se
apenas a Cia. comerciasse, porque,
com o trfico livre, dispersar-se-ia o
ganho entre muitos, barateando as
mercadorias pela concorrncia. (IN: BARLU, Gaspar. Histria dos Feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. SP: Itatiaia, 1974, p.90)
Ao longo dos sculos XVI, XVII e incio
do XVIII, vrias potncias europias
invadiram a Amrica Portuguesa.
Houve breves invases e atos de
pirataria ao longo do litoral no incio
do sculo XVI. Posteriormente outras
invases iriam adquirir caractersticas
diferenciadas. As formas de invaso e
ocupao, assim como estratgias e
interesses econmicos seriam
diversos.
a) Aponte duas razes para a invaso
e o estabelecimento colonial de
franceses (a Frana Antrtica) no
litoral do Rio de Janeiro entre 1555 e
1567.
b) Identifique o principal interesse da
Cia. das ndias Ocidentais na invaso
de Pernambuco, em 1634.
2. UERJ 2008.
Quilombo, o eldorado negro
Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Como o claro que o sol da liberdade
produziu
Refletiu
A luz da divindade, o fogo santo de
Olorum
Reviveu
A utopia um por todos e todos por um
Quilombo
Que todos fizeram com todos os
santos zelando
Quilombo
Que todos regaram com todas as
guas do pranto
Quilombo
Que todos tiveram de tombar amando
e lutando
Quilombo
Que todos ns ainda hoje desejamos
tanto
Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Viveu, lutou, tombou, morreu, de
novo ressurgiu
Ressurgiu
Pavo de tantas cores, carnaval do
sonho meu
Renasceu
Quilombo, agora, sim, voc e eu
Quilombo
Quilombo
Quilombo
Quilombo Gilberto Gil e Waly Salomo (1983).
23
A letra da msica acima faz referncia
a uma das formas de resistncia
escrava a criao de quilombos verificada tanto no Brasil colonial
quanto aps a independncia.
Explique por que os quilombos
representaram um avano na luta dos
cativos contra seus senhores, ao
longo do sculo XIX, e indique duas
outras formas de resistncia escrava.
24
Captulo 5. A economia mineradora
Apresentao - O sculo XVIII
marcou na colnia o desenvolvimento
da economia mineradora. Os
bandeirantes desempenharam papel
de extrema importncia, rompendo as
barreiras do serto na procura de
ndios e de ouro. A princpio, o
governo portugus no colocou
empecilhos ao trnsito de pessoas
para as Minas, ao contrrio, procurou
facilitar o acesso s jazidas, j que,
quanto maior o volume populacional
diretamente ligado a extrao, mais
quintos (imposto cobrado pela
metrpole, que correspondia quinta
parte das riquezas minerais extradas
no Brasil, e sobretudo do ouro)
entrariam para o errio real.
Fonte: SCHMIDT, Mrio, Nova Histria Crtica do Brasil, Editora Nova Gerao.
A notcia da descoberta dos veios
aurferos causou um grande fluxo
migratrio para a Capitania das Minas
e trouxe um grande dinamismo
econmico colnia. Logo, a Amrica
portuguesa se tornaria a mais
importante colnia portuguesa. Nas
primeiras dcadas do sculo XVIII, o
desenvolvimento da economia
mineradora foi estabelecido graas s
prospeces (em sua maioria
executadas por bandeirantes) que
permitiram a descoberta de vrias
regies ricas em metais preciosos. O
acmulo de ouro e prata servia como
uma rpida alternativa para a
resoluo dos problemas econmicos
de Portugal.
A economia mineradora
O bandeirismo As Entradas e Bandeiras foram expedies
organizadas para explorar o interior
do Brasil. Foram quatro os principais
fatores que contriburam com a
interiorizao: a pecuria, a busca por
drogas do serto, a procura por
metais e o apresamento de ndios. Em
So Paulo, seus habitantes se
voltaram para o interior e adotaram
maneiras prprias para viver nas
matas. Devido intensa mestiagem,
muitos paulistas falavam o tupi-
guarani to bem, ou melhor, que os
portugueses, alm disso, influenciados
pelos costumes indgenas, andavam
com destreza pelas matas. Em
consequncia disso, tinham fama de
desbravadores de fronteiras e de
predadores de ndios. Diante das
necessidades do governo colonial, a
habilidade e a experincia dos
paulistas foram mobilizadas, um
exemplo disso foi a ao de Domingos
Jorge Velho, bandeirante, que
auxiliando o governo institudo,
destruiu Palmares. Em 1695 deu-se a
descoberta de ouro, a partir de ento,
desde a grande bandeira de Ferno
Dias Paes, organizada em 1674, at
as primeiras dcadas do sculo XVIII,
os paulistas definiriam os contornos
das Minas Gerais.
A descoberta Diamante - No ano de
1721, o minerador Bernardo Fonseca
Lobo noticiou a descoberta das
primeiras pedras na regio do Serro
Frio, no arraial do Tijuco, em Minas
Gerais. Inicialmente, a descoberta foi
mantida em sigilo pelo explorador e
outras autoridades locais que
realizavam a extrao ilegal,
justificando terem dificuldades para
identificar o valor comercial das
pedras. Somente em 1730, o
governador das Gerais, D. Loureno
de Almeida, enviou algumas pedras
para serem analisadas em Portugal.
Imediatamente foi aprovado o
primeiro regimento para os
diamantes, estabelecendo a forma de
cobrana dos impostos (quinto). O
principal centro de extrao de
diamantes foi o Arraial do Tijuco
(atual cidade de Diamantina em Minas
25
Gerais) que logo foi elevado
categoria de Distrito Diamantino, com
fronteiras delimitadas e um
intendente independente do
governador da capitania, subordinado
somente coroa portuguesa. A partir
de 1734, visando um maior controle
sobre a regio diamantina, foi
estabelecido um sistema de
exclusividade na explorao de
diamantes para um nico contratador.
O primeiro deles, em 1740, foi o
milionrio Joo Fernandes de Oliveira,
que se apaixonou pela escrava Chica
da Silva. Devido ao intenso
contrabando e a sonegao de
impostos, assim como ao elevado
valor dos diamantes, no final de 1771,
sob influncia do Marqus de Pombal,
o chamado Distrito Diamantino
passou a ser controlado diretamente
pela Coroa Portuguesa.
A Guerra dos Emboabas 1707-
1709 Foi o conflito entre paulistas e portugueses na regio central das
Minas ocorrido entre 1707 e 1709. A
descoberta de ouro, em fins do sculo
XVII, atraiu milhares de homens e
mulheres sados tanto de Portugal
quanto de vrias regies da Amrica
Portuguesa, com o objetivo de
explorar o ouro e, principalmente, o
lucrativo abastecimento da regio.
Logo os paulistas e os recm-
chegados passaram a se hostilizar,
disputando a posse da regio, uma
srie de pequenos incidentes foi o
pretexto para o conflito armado entre
paulistas e os emboabas
portugueses1. Com o fim da Guerra
dos Emboabas, a Coroa deu incio
montagem do aparelho administrativo
nas Minas, a fim de controlar a
arrecadao dos quintos e para o
controle poltico da Capitania.
Os caminhos - Os caminhos que
levavam regio mineradora partiam
de So Paulo (cerca de 60 dias); do
Rio de Janeiro e da Bahia (por volta
1 O termo Emboaba de origem do Tupi, os
ndios o empregavam para se referir as aves que tem penas at os ps, como os portugueses usavam polainas que lhes cobriam os ps, eram chamados de emboabas de forma
pejorativa pelos paulistas. (Adriana Romeiro & ngela V. Botelho. Dicionrio Histrico da Minas Gerais. Ed. Autntica, 2003.)
de 43 dias). Os acessos baianos
ofereciam maiores facilidades e
muitas vantagens com relao aos
caminhos de So Paulo e do Rio de
Janeiro, pois eram mais largos,
possuam gua em abundncia, farinha, carnes de toda espcie,
laticnios, pastos para as
cavalgaduras, e casas para se
recolherem sem risco de Tapuias2. Alm dos caminhos terrestres, a Bahia
possua uma excelente via fluvial, o
Rio So Francisco e seus afluentes.
Devido ao intenso contrabando
realizado por este caminho e as
dificuldades no controle de tal rota, a
Coroa proibiu o seu uso. J os
caminhos do Rio de Janeiro para as
Minas, em 1701, constituam apenas
uma trilha de difcil acesso. Assim
sendo, a Coroa Portuguesa cuidou de
abrir um novo caminho que fizesse a
ligao direta do Rio de Janeiro com
as Minas. O caminho novo como ficou conhecido o trajeto, levava
apenas de dez a doze dias. O
encurtamento das distncias
representou uma significativa
economia de tempo para se chegar
regio mineira, acarretando tambm
numa melhoria no sistema de
comunicao entre o Rio de Janeiro e
as Gerais. Aps 1725, a abertura
desse caminho extremamente mais
curto fez com que se escoassem para
o Rio de Janeiro os lucros e,
conseqentemente, o contrabando do
comrcio com as Minas.
A nova invaso francesa no Rio de
Janeiro - Entre 1710 e 1711 o Rio de Janeiro foi novamente invadido
pelos corsrios Jean Franois Du Clerc
e Duguay-Trouin. Em 1710, os
franceses foram derrotados, mas
retornando em 1711, sob o comando
do corso francs Duguay-Trouin, 6000
homens em 17 navios ocuparam e
saquearam a cidade do Rio de
Janeiro, onde permaneceram por dois
meses, trazendo horror e pnico aos
locais. Depois de pilhar a cidade e
afugentar a populao para o interior,
Duguay-Troin exigiu o pagamento de
2 BNRJ, Autor annimo, Informaes sobre as Minas do
Brasil. Anais da Biblioteca Nacional, vol. LVII, 1930, Rio
de Janeiro p.180.
26
um resgate sob pena de destru-la. O
governador de ento, Francisco de
Castro, acabou pagando com seus
prprios recursos parte do valor
exigido, aconselhando o corso a levar
todo ouro e riquezas que conseguisse
amealhar, alegando que a populao
levara consigo seus pertences de
valor, tornando impossvel arrecadar o
resgate exigido3. Em 1710, chegou a
esquadra do francs Jean Franois
Duclerc, mas foram repelidos pelos
portugueses. Em 16 de agosto desse
ano houve nova tentativa. A esquadra
de Duclerc, depois de trocar tiros com
a Fortaleza de Santa Cruz, desistiu de
forar a entrada da barra e rumou
para a Ilha Grande. Em 11 de
setembro o capito Duclerc
desembarcou com 1.050 homens em
Guaratiba e tomou o caminho da
cidade. Cruzou o que hoje so os
bairros da Barra da Tijuca e
Jacarepagu, atravessando
montanhas e florestas. Aps invadir a
cidade pelos lados do atual bairro de
Santa Tereza, chegaram Praa do
Carmo (atual Praa XV), em seguida,
deu-se nova batalha e Duclerc, com
seus 600 homens restantes,
renderam-se encurralados no trapiche
da cidade. Em maro de 1711, o
capito Duclerc foi assassinado. A
Frana, a pretexto de indignao com
o ocorrido, enviou sob o comando do
almirante Ren Duguay-Trouin, uma
esquadra com 17 navios e 5.400
homens, que chegaram ao Rio de
Janeiro em setembro de 1711.
Favorecida por forte nevoeiro, a
esquadra penetrou na Baia da
Guanabara sem ser vista e ocupou,
com 500 homens, a Ilha das Cobras.
Logo aps, desembarcaram cerca de
3.800 homens na praia de So Diogo
e ocuparam, sem resistncia, os
morros de So Diogo, da Providncia,
do Livramento e da Sade. Ainda em
setembro, depois do bombardeio da
cidade pelas foras de Duguay-Trouin,
3 O Corsrio, ao contrrio do Pirata, do ponto de
vista do direito internacional um combatente regular, a quem o governo dava uma carta de corso. Poderia ser mantido diretamente pelo governo ou por um particular. No h grande diferena dos piratas quanto aos mtodos, porm, o corso reservava de 1/3 a 1/5 do amealhado para o tesouro real.
o governador Francisco de Castro
Morais abandonou a cidade e fugiu
para o interior. Em meio a trovoadas
e chuvas, a populao tambm
abandonou a cidade em pnico. A
guarnio da Fortaleza de Santa Cruz
se rendeu s foras francesas. Ocorre
em seguida a assinatura da
conveno para pagamento de grande
soma em dinheiro pelo resgate da
cidade. Em 11 de outubro, chegou
cidade uma tropa de 6.000 homens
chefiada por Antonio Albuquerque
Coelho de Carvalho, governador da
capitania de So Paulo e Minas, que
nada pode fazer em funo do acordo
assinado entre o governador Castro
Morais e os invasores. Aps receber a
ltima parcela do valor acordado,
Duguay-Trouin abandonou a cidade.
Em novembro, as tropas francesas
partiram do Rio de Janeiro deixando
para trs uma cidade totalmente
devastada.
Sobre as invases de 1710 e 1711, Brasil Gerson, em seu livro "Histria das Ruas do Rio", Editora Brasiliana, 1965, relata: "Rua
da Quitanda - Porto de desembarque para Portugal do ouro que descia das
montanhas mineiras, o Rio passou a despertar, no comeo do sculo XVIII, a cobia de muita gente vida de fcil enriquecimento. Esse foi o motivo que
levou o Capito de Fragata Duclerc a atac-lo em setembro de 1710, com sua poderosa esquadra. Temeroso de forar as fortalezas costeiras contornou-as por Guaratiba, vindo dali a p. O ataque foi iniciado depois de um descanso no Engenho Velho dos Jesutas, e com inteiro
xito, a princpio, para os invasores, s repelidos na Rua Direita (ou 1 de maro), em combates nos quais se destacaram os estudantes do Colgio da Sociedade de Jesus, do Morro do Castelo, os maiores
dos quais eram organizados militarmente e, alm desses estudantes, os escravos e
os homens brancos. Refugiados na Alfndega, acabaram por se render, e no dia 19 seu comandante Duclerc foi levado preso para o Forte de So Sebastio, tambm no Morro do Castelo, e por ltimo para a casa, na esquina da Rua da
Quitanda e do Sabo, vista da Candelria - e nela sendo assassinado na noite de 18 de maro de 1711 por quatro encapuzados. Para ving-lo e ver se levava o que ele no levou, outra frota francesa apareceu no Rio a 12 de
27
setembro, ainda de 1711, dispondo de 750 peas de fogo, entrando a barra protegida por um grande nevoeiro, e sem que lhe pudesse oferecer maior resistncia. O saque foi espantoso. Tudo quanto havia de valioso ao alcance de
suas mos eles transportaram para bordo: ouro da Casa dos Contos, acar e outras cargas dos trapiches, coisas belas das igrejas e das casas particulares. Arquivos foram remexidos e queimados. E para retirar-se, satisfeito e vingado, Duguay-
Trouin, ainda exigiu que lhe dessem dinheiro, no valor de 616.000 cruzados - contados moeda por moeda. Com os homens que lhe restariam, Costa Atade se retirou para o Engenho Novo, e a
encontraria com mais de 500 voluntrios, para a expulso do invasor. E a eles se
juntando, por outro lado, o Governador Antnio de Albuquerque Coelho de Carvalho, com mais de mil paulistas e emboabas j apaziguado, numa marcha batida de 17 dias atravs do Caminho Novo, que Rodrigues Garcia Pais tinha aberto entre Minas e o Rio. E sabedor de
que ele j se havia acampado em Iraj para recompor suas foras, o invasor saciado abandonaria seu plano de fixar a bandeira da Frana na terra carioca permanentemente, e zarparia, antes de ter de enfrent-los.
O abastecimento - O abastecimento
foi o nome dado a poltica da
administrao colonial, preocupada
com a subsistncia dos colonos e
escravos dedicados minerao,
assim como dos funcionrios
administrativos dedicados ao seu
controle. A Bahia foi um dos
principais, seno o principal centro de
abastecimento das Minas Gerais. A
Coroa, buscando manter uma
populao fixa e suprir as
necessidades imediatas dos colonos,
submetidos aos altos preos dos
alimentos e s constantes carestias da
regio mineira, passou a incentivar a
produo ao longo dos caminhos e
junto s minas. Essa produo,
abastecia de suprimento os viajantes
e ainda serviu de estmulo ao pequeno
comrcio local, sobretudo, aquele
efetuado pelos roceiros que traziam
seus produtos para vender nas vilas e
arraiais. O comrcio nas Minas Gerais
ao longo do sculo XVIII foi uma das
principais formas de descaminho do
ouro. A minerao promoveu um
dinamismo da economia colonial, com
formao de um mercado interno,
com certa especializao e integrao.
A sociedade mineradora
Ouro Preto, antiga Vila Rica
A atividade mineradora foi
responsvel por profundas mudanas
na vida colonial. Em cem anos a
populao cresceu de 300 mil para,
aproximadamente, 3 milhes de
pessoas, incluindo, um deslocamento
de 800 mil portugueses para o Brasil.
Paralelamente foi intensificado o
comrcio interno de escravos,
chegando do Nordeste para a regiao
mineira cerca de 600 mil negros. Tais
deslocamentos representam a
transferncia do eixo social e
econmico do litoral para o interior da
colnia, o que acarretou na prpria
mudana da capital de Salvador para
o Rio de Janeiro, em 1763, pois essa
era a cidade de mais fcil acesso
regio mineradora. A vida urbana
mais intensa viabilizou tambm,
melhores oportunidades no mercado
interno e a formao de uma
sociedade mais flexvel, permitindo,
por vezes, a mobilidade social.
Embora mantivesse a base escravista,
Top Related