LEITURA E LETRAMENTO NO ENSINO MEDIO SOB UMA VISAO
AMPLIADA.
Átila Sabrina Bispo Santos (Universidade Federal de Sergipe)
Licenciatura em Letras Português Espanhol
Patrícia de Carvalho Andrade (Universidade Federal de Sergipe)
Licenciatura em Letras Português Espanhol
RESUMO: Este estudo que tem como tema leitura e letramento no ensino médio
sob uma visão ampliada, explora o valor dado à leitura pelos alunos do ensino
médio, mais especificamente, procura delimitar sua relevância atual na sociedade
como um todo. Por este caminho, busca também oferecer aos professores de
língua portuguesa e estudiosos da linguagem, subsídios para uma compreensão e
avaliação correta dos índices avaliativos do ensino. Letramento assim seria
segundo os estudos baseados nos pensamentos Kleiman, uma palavra recém-
chegada ao vocabulário da educação e das ciências linguísticas: é na segunda
metade dos anos 80, há cerca de apenas dez anos, portanto, que ela surge no
discurso dos especialistas dessas áreas. Uma das primeiras ocorrências está no
livro de Mary Kato, de 1986 (No mundo da escrita: uma perspectiva
psicolinguística. Editora Ática). No decorrer do artigo, com base em pesquisas
feitas com alunos do ensino médio em comparação às pesquisas do INAF, são
debatidos, dentre outros conceitos, o de leitura, letramento e participação social.
Com base nos estudos de Abreu (2004); Gonçalves (2006); Britto (2004);
Kleiman (1995; 2004; 2008). O estudo conclui que o fato de estarmos inseridos
em uma sociedade fortemente regida pela escrita, nos leva a crer que quanto maior
a nossa participação nessa cultura, maiores nossas contribuições para formação de
uma identidade social positiva.
Palavras-chave: leitura. Letramento. Ensino. sociedade.
1. Introdução
No presente estudo, anlisamos o comportamento dos alunos do ensino
medio quanto às atividades de leitura, mais especificamente, procura delimitar
sua relevância atual na sociedade como um todo. Por este caminho, busca
também oferecer aos professores de língua portuguesa e estudiosos da
linguagem, subsídios para uma compreensão mais ampla e objetiva dos índices
de avaliação adotados para medir competências de leitura no ensino. No decorrer
do artigo, com base em pesquisas feitas com alunos do ensino medio,
comparando com as pesquisas do INAF, são debatidos os conceitos de leitura,
letramento e participação social.
No primeiro momento, fizemos o levantamento bibliográfico acerca das
obras relevantes para nosso tema. No segundo momento, elaboramos um
questionário prático que foi aplicado aos alunos do ensino médio de uma escola
pública com o intuito de conhecermos as visões dos mesmos sobre a leitura, em
seguida fizemos uma análise desses questionários que serviram como subsídios
para o nosso trabalho.
O presente estudo está organizado em cinco tópicos: no primeiro
introduzimos o trabalho com uma breve apresentação do tema; no segundo
momento explanamos a importância da leitura contrastando as idéias dos
principais autores consultados; no terceiro, fizemos uma discussão ampla sobre
letramento induzindo o leitor ao interesse sobre o tema. No quarto momento
fizemos uma avaliação da pesquisa, intercalando as respostas dos alunos com as
ideias de autores renomados na área de educação como Paulo Freire; e por
ultimo, as palavras finais, nas quais aglomeramos superficialmente todas as
ideias expostas no artigo e apresentamos uma possível explicação para o
desinteresse dos alunos em relação à leitura.
Tendo em vista as reflexões aqui desenvolvidas, podemos dizer que os
problemas relacionados à leitura estão interligados a uma gama de fatores
políticos, econômicos e sociais que nos coloca diante de uma necessidade de
mudança imediata nos preceitos da educação brasileira. Desse modo, a escola
deve ser vista por todos como a principal agência de letramento, no entanto, a
família ainda é a mola propulsora do interesse pela leitura, cabendo ao professor
o aprimoramento desse entusiasmo, o que não acontece se o mesmo se limitar à
metodologia arcaica de ensino baseada na tradição erudita nacional e
internacional. Enquanto os programas sociais focam suas atenções em
propagandas de incentivo à leitura, percebemos que o público alvo clama pelo
acesso igualitário das obras que quando os chama atenção, essas não estão
disponíveis nos acervos públicos, e as obras que se tem acesso no seu cotidiano
não são vistas como objeto relevante de leitura para a maioria dos “leitores
literatos”.
2. Diversas Visoes sobre a leitura
Com base em pesquisas realizadas por nós, os jovens do ensino médio
conhecem a importancia da leitura, no entanto, afirmão que não sentem o
interesse, que não possuem a vontade de leitura.
De acordo com Marcia Abreu: “Governos, instituições culturais e escolas,
tem despendido esforços para convencer as pessoas de que é “importante ler”, de
que “Ler é um prazer”, mas elas já sabem disso. ”(Abreu, 2004;p.34)
Diante dessa conclusão Abreu resalta a necessidade de ampliar não só a
rede como o arcevo das bibliotecas, além de difundir a ideia de que esse é um
espaço não só de realização de tarefas escolares, como também para qualquer tipo
de leitura oriunda do seu desejo espontâneo.
Percebe- se então, a existencia atual de uma consciência de que o problema
está mais relacionado com as condições de acesso ao livro que a vontade, ou a
falta de interesse das pessoas.
Outro fato observado na pesquisa foi que, quase que com unanimidade,
esses jovéns respondiam que é de importância inarrável, que alguém leia para as
crianças, contundo, a maioria não teve alguém que lesse para os mesmos na
infância. O que nos coloca diante de um fator cultural, em que a sociedade comete
o equívoco de responsabilizar apenas o professor de português pelo ensino da
leitura, ou seja, esquivando- se de um papel tão importante para formação de um
bom leitor, (O incentivo familiar).
Contudo, é necessário analisar também qual o tipo de leitura relevante para
essa formação, pois, caracterizar o texto literário como objeto por excelência da
atividade de leitura, faz com que decaiam ainda mais os indices de leitura no
Brasil, visto que a posse de livros literarios é proporcional a condição economica,
no entanto, sabemos que todo cidadão possui uma biblia ou uma conta em casa,
assim, todos leem algo durante o ano, seja qual for a fonte escrita, o fato de não
ler um livro literario não que dizer que o cidadão brasileiro não possua o hábito de
leitura.
Além de todos esses fatores, é notável a desenfreada imersão dos jovens
no mundo da tecnologia, um elo que influencia o desinteresse dos mesmos pela
leitura, principalmente as literarias que são adotadas unanimamente pelas escolas,
o que prejudica ainda mais, pois a maioria dos professores não conseguem
atrativos suficientes para prendar atenção dos seus alunos nem mesmo no curto
período de sala de aula.
3. Discutindo sobre Letramento
Segundo Magda Soares (UFMG) – coordenadora de grupos de pesquisa
sobre alfabetização e letramento – a palavra “letramento” foi traduzida do inglês:
“literacy” que se origina da forma latina “littera”, cujo significado é “letra”. Ao
latim “littera” foi adicionado o sufixo “-cy”, que expressa estado ou condição,
para formar o vocábulo inglês “literacy”. Do mesmo modo se fez em português,
ou seja, ao radical “letra-” foi acrescentado o sufixo “-mento”, formando assim a
nova palavra.
Alguns autores argumentam que o termo “literacia”, utilizado em Portugal,
seria mais apropriado que letramento. Outros propõem, ainda, o vocábulo
“leiturização”. Há também aqueles que defendem ser desnecessária a adoção de
um novo termo, já que acreditam que a palavra alfabetização é própria e adequada
para abarcar também o novo conceito.
As controvérsias acerca do conceito de letramento e as dificuldades reais
de sua mensuração transformam-se na verdade em ferramentas de suma
importância para o debate em torno das condições de letramento no Brasil.
O letramento surge basicamente no século XX, em nosso país, com a
necessidade de aquisição de maior fluência na escrita e na leitura, em resposta aos
desafios apresentados na vida moderna diante de uma nova realidade social. A
sociedade passa a se firmar mais ainda na escrita, exigindo uma adequada
interpretação, uma vez que os elaboradores possuiriam um conhecimento mais
amplo e certo domínio da língua.
De acordo com Houaiss, letramento é “o conjunto de práticas que denotam
a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito.” Diferenciando-se da
alfabetização, que Magda Soares diz ser “a ação de ensinar/aprender a ler e a
escrever.” Uma pessoa que é letrada organiza seus pensamentos de maneira
reflexiva, sabe desenvolver sua consciência crítica diante de situações distintas –
conforme Freire – fazendo o devido uso da escrita.
Ante uma sociedade baseada literalmente na escrita, é preciso ter certo
poder diante da língua para melhor vivência e participação em tal sociedade, como
nos diz Kleiman em seu estudo “Modelos de letramento e as práticas de
alfabetização na escola”.
“Podemos definir hoje o letramento como um
conjunto de práticas sociais que usam a escrita
(...) em contextos específicos para objetivos
específicos.”
Dentre as várias agências de letramento existentes hoje a escola é a mais
importante, é aquela que deveria se preocupar com o letramento como prático
social, pois é nela que o indivíduo é preparado para a vida em sociedade. Mas a
situação é diferente, a preocupação nas escolas é somente a alfabetização, a
aquisição do código para sucesso e promoção da instituição.
No entanto, obviamente, é bom ressaltar o importante papel que tem a
família na vida letrada do individuo. Que podem e devem incentivar com “leituras
de livros antes de dormir, leituras de caixas de cereal, de sinais de trânsitos, de
propagandas na televisão e a interpretação de instruções de jogos e brinquedos
comerciais. (...) Assim, as crianças (...) aprendem, em casa, não apenas a fazer
sentido dos livros, mas também a falar sobre esse sentido.” (Kleiman, 2008, pag.
30) Desenvolvendo, portanto, a oralidade que também é um dos fatores advindos
ao letramento – já que letrados também conseguem se expressar não só através da
escrita, como também através da oralidade, uma vez que esta desperta as funções
e usos da escrita. E, assim, serão bem-sucedidas na escola e na vida.
Uma pessoa que é letrada também desenvolve habilidades cognitivas
capazes de resolver tarefas sistematicamente, assim como explicar da melhor
maneira possível para seus ouvintes. Não existe “grau zero de letramento” ou
“iletramento”, pois todo sujeito, independentemente de condição socioeconômica
ou intelectual, faz algum tipo de uso da escrita e de sua prática social. É bom
lembrar também que, como Martins nos diz, “a criança, mesmo não alfabetizada,
já pode ser inserida em um processo de letramento. Pois, ela faz a leitura
incidental de rótulos, imagens, gestos, emoções. O contato com o mundo letrado é
anterior do contato com o das letras e vai além delas.”
Para obter as vantagens do letramento, além de dedicação e da ajuda da
escola, a base é um fator importante para todos – como já dito anteriormente. A
base determina o grau de sucesso de um individuo num momento de expor seu
“caráter letrado”.
“Os benefícios de um ambiente familiar rico em
eventos de letramento resultam em maior sucesso
no desenvolvimento inicial da leitura e,
consequentemente, maior sucesso nas primeiras
séries escolares.” (Kleiaman, 2008, pag. 93)
E podemos pensar mais longe. Se isso não se interromper e só crescer, o
êxito só se prolongará na vida, tanto pessoal quanto profissional, do sujeito.
No entanto, Terzi em seu estudo “A oralidade e a construção da leitura por
crianças de meios iletrados”, nos alerta que por mais que no inicio as crianças
apresentem um desempenho admirável, este começa a cair rapidamente na quarta
série. Porque “não conseguem responder a questões avaliativas, nem criar estórias.
(...) Também raramente oferecem comentários pessoais sobre eventos reais ou
estórias.” Isso é preocupante e é relevante lembrar-se de estimular o senso crítico
da criança, dando-lhe o devido valor e atenção, assim como ativar sua capacidade
de criação e transportação de um determinado conhecimento aprendido num
determinado contexto para outro contexto distinto.
Uma boa sugestão seria a seguinte: Apresentar à criança uma notícia de
jornal, perguntar do que se trata a notícia, suas possíveis razões, explorar o
conteúdo profundamente, pedir para que lhe dê uma solução plausível, além de –
obviamente – pedir a opinião dela acerca do acontecimento. Em seguida, solicitar
que ela crie uma notícia semelhante, ativando assim sua capacidade de criação.
4. Avaliando a pesquisa
A pesquisa reflete o retrato da leitura numa escola pública consultada, nos
mostrando o quanto os alunos não se interessam e não fazem questão de ler, sendo
que muitos confessam nunca ter ido à biblioteca. Dentre os alunos questionados,
36% estão lendo algum livro e os demais 64%, além de confessarem não estar
lendo nada, atribuíram nota abaixo de 8 para a leitura, o que nos leva a perceber
que é uma questão de desinteresse.
Quando foram questionados em relação ao modo como são cobradas as
leituras em sala de aula, os mesmos contestaram que liam apenas a literatura
indicada pela professora, desprezando o restante do livro. Mostrando-nos assim
que não possuem o conhecimento de que o livro em si é uma literatura. Ou
simplesmente não lêem por ser mais cômodo estudar apenas mais uma pequena
parte do livro.
A partir dessas informações, comprovamos que os alunos do ensino médio
ao invés de sentir prazer pela leitura, tratam essa como uma obrigação árdua e
desnecessária. Indo de encontro à sábia afirmação de um grande pensador que
diz:: “Devemos dar valor a nossa literatura, pois ela é a cara da nossa sociedade.”
5. Palavras finais
O fato de estarmos inseridos em uma sociedade fortemente regida pela
escrita, nos leva à conclusão de que quanto maior a nossa participação nessa
cultura, maiores serão nossas contribuições para formação de uma identidade
social positiva.
Embora, poucos sejam aqueles que sentem prazer pela leitura,
desenvolvendo assim uma capacidade de índice mais considerável de letramento
do que outros, temos que ter em mente que – se for para atribuir culpa a algo ou
alguém – podemos depositar em nossa cultura que raramente se preocupa em,
desde cedo, incentivar o interesse da criança pela leitura. Podemos dizer também
que o fato do acervo público não suprir adequadamente a necessidade dos
indivíduos que buscam “ir atrás do tempo perdido”, é um fator que deve ser
levado em conta.
Uma cadeia viciosa onde o governo não se preocupa com as devidas
lacunas na educação brasileira, os professores que se sentem desmotivados em
repassar um conteúdo apropriado aos alunos, estes que – consequentemente – se
tornam desestimulados e não se preocupam em aprimorar seu “caráter letrado”.
BIBLIOGRAFIA
KLEIMAN, Angela B. (1995) Os significados do Letramento, Campinas, São
Paulo, Mercado de Letras.
RIBEIRO, Vera M. (2004) Letramento no Brasil: Reflexões a Partir do INAF
2001, São Paulo, São Paulo: Editora Global. 2ª Ed.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. São Paulo: Autêntica
1999.
http://educacao.uol.com.br/planos-aula/ult3900u67.jhtm
http://www.cavalcantejunior.com.br/pdf/postscriptum/nocoes.pdf
http://www.helomartins.com.br/temas/alfabetizacao-e-letramento.html
ANEXOS/APÊNDICES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
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Pesquisa de Campo
IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA: Gov.Valadares
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