Lexikon | obrasdereferência
ADRIANODAGAMAKURY
parafalareescrevermelhoroportuguês2ªedicãorevistaeatualizada
©2012,byAdrianodaGamaKury
DireitosdeediçãodaobraemlínguaportuguesaadquiridospelaLexikonEditoraDigitalLtda.Todososdireitosreservados.Nenhumapartedestaobrapodeserapropriadaeestocadaemsistemadebancodedadosouprocessosimilar,emqualquerformaoumeio,sejaeletrônico,defotocópia,gravaçãoetc.,semapermissãododetentordocopirraite.
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1ªedição–19891ªedição/2ªreimpressão–19941ªedição/3ªreimpressão–2008
CIP-BRASIL.CATALOGAÇÃONAFONTESINDICATONACIONALDOSEDITORESDELIVROS,RJ
K98p
Kury,AdrianodaGama,1924-Parafalareescrevermelhoroportuguês[recursoeletrônico]/AdrianodaGamaKury.–RiodeJaneiro:Lexikon,2013.Recursodigital
Formato:ePubRequisitosdosistema:AdobeDigitalEditionsMododeacesso:WorldWideWebISBN978-85-86368-98-1(recursoeletrônico)
1.Línguaportuguesa-Gramática.2.Livroseletrônicos.I.Título.
CDD:469.5CDU:811.134.3'36
APRESENTAÇÃO
COMONASCEUESTELIVRO
EmmuitosdosnumerososcursosquevenhodandoporesteBrasil,ouvisempredos meus alunos referências à leveza, amenidade e bom humor com que tratoassuntosdalínguaporvezesáridos.(NuncameesquecidoconselhoouvidonumaauladoMestrePauloRónai:nãoéidealaaulaquenãoprovoquesorrisos.)Tudoisso aliado à clareza que apontavam na minha exposição, feita em linguagemacessível.
Acreditando que talvez tivessem razão, fui transpondo para a escrita, semranço gramatical, muitas dessas aulas: e assim ia nascendo este livrinho, quetambémseinspirou,posteriormente,paraaelaboraçãodealgumcapítulo,numdeCesareMarchi intitulado Impariamo l’Italiano (“Aprendamos o Italiano”), daEditoraRizzoli,deMilão,quealcançouêxitoincomumgraçasaotomamenodequesereveste.
Amaiorpartedolivro,comoveráoleitor,édecaráterprático:tivesempreemmente,comocaminhoparaaboaredação,acorreçãodalínguaescritanasuamodalidadeculta,indispensávelatodosemdiferentescircunstânciasdavida.
Procureifrisar,noprimeirocapítulo,quenãosefalaumaúnicamodalidadeda
línguaportuguesa,masvárias,deacordocomaocasião.Éprivilégio,naescrita,ao contrário de certa corrente em voga, a língua culta, sem excessos deformalismo.Condeno,poroutro lado(cap.2),a linguagemempoladamasvaziadecertossetoresdaEconomia,daSociologiaedaTecnocracia.
Napartepráticatratodetemasquevãodaacentuaçãocorretaedoempregode certas letras ao uso do hífen (de sistematização oficial tão falha) e dasmaiúsculas,semesqueceracabulosacrase.
Não podia deixar de merecer minha atenção o emprego dos sinais depontuação,queprocurovincularàmelodiadafrase.
Doiscapítulossãodedicadosàboaarticulaçãodossonsnalínguafalada(10e11).
Especialcuidadodeiaoestudodoverbo,tratadoemcincocapítulos,oúltimodos quais dedicado aos verbos irregulares, responsáveis por tantos desvios danormaculta.
Àsintaxe,nasáreasdaconcordânciaedaregência,couberamoscapítulos19a22.
Não quis deixar de dar um toque à história da língua: daí a parte chamada“Evolução”.
Asaulasde redaçãoquevenhoministrandohámaisde30anos—umadasminhasfontesmaisricas—estãonaorigemdoscapítulosfinais.
Nasuavariedade,queespelhaomultiformedalíngua,enaboadoutrinaquecolhi nos meus mestres — especialmente Serafim da Silva Neto, Sousa daSilveira,MatosoCâmaraJúnior,CelsoCunhaeAurélioBuarquedeHolanda,aosquaisdeixoaquimeupreitodegratidãoesaudade—repousaráautilidadedestelivro,queentregoaosleitoresdesejososdeatualizarepolirseuconhecimentodanossalíngua.
AdrianodaGamaKury
SUMÁRIO
PRELIMINAR
1.Vocêsabequefalaváriaslínguas?2.Oeconomêseoutroseses:comonãosedeveescrever
ESCREVENDONOFIGURINO:ORTOGRAFIAECRASE
3.Acentosnecessárioseacentostalvezinúteis4.Otremajáera,mascomoeramesmo?5.Aletracertanolugarcerto6.Ohífen—tracinhotrapalhão7.Dúplicesetríplices:hápalavrascommaisdeumaformacorreta8.Asmaiúsculas,areverênciaeatradição9.Oacentonoà:acrase
FALE(EESCREVA)CORRETAMENTEASPALAVRAS
10.Evitandodeformações11.Evitandosilabadas:saibaqualasílabatônica
PONTUANDO...
12.Alínguaescritaeamelodiadafrase:ossinaisdepontuação13.Ascadências,opontoevírgulaeosdois-pontos
OVERBO—ALMADAFRASE
14.“Noprincípioeraoverbo”
15.Ontem,hoje,amanhã:otempocorre...16.Omododaincerteza17.Oimperativonemsempremanda18.Verbosirregulares(masnemsempre)
NALÍNGUATAMBÉMHÁCOMANDANTESECOMANDADOS
19.Regenteseregidos:aconcordância20.Opronomeseeaconcordância21.Omachismonalinguagem:aconcordâncianominal.22.Regência
EVOLUÇÃO
23.Nossaherançalatina24.Asinvasõesestrangeiras25.Aspalavrastambémmudamdesentido
AEXPRESSIVIDADEEOESTILO
26.Alínguacomoinstrumentodebeleza27.Alinguagemfigurada:as“figuras”28.Embuscadapalavraexata:avariedadetrazbeleza
POSFÁCIO
PRELIMINAR
1.VOCÊSABEQUEFALAVÁRIASLÍNGUAS?
JoãodaSilvatalveznuncasetenhadadocontadeque,mesmosemteraprendidoqualqueridiomaestrangeiro,fala(eescreve)maisdeuma“língua”.
Porque, sem a menor dúvida, não é a mesma a linguagem que usa com osfilhosnoàvontadedecasa,ounatorcidapeloseuclubenoestádio,ounumarodadechope—eaqueutiliza,porexemplo,numaconversaformalcomodiretordaempresaondetrabalha.
Bemdiferente, também,aqueempreganumacarta íntimaaumvelhoamigo,ex-colegadeginásio,eadeumacartadenegócios,cerimoniosa.
Esse fatoacontececomqualquerpessoadealguma instruçãoquevivanumacidade.
Somentenocasorarodalínguaprópriadeumpequenogrupodefamílias—apenasfalada,semescrita—,comoaindaocorreemalgumasaldeiasoualgumastribos deste vastomundo, é que haverá uniformidade, limitadas as variações acertosaspectosindividuais(dedicção,defeitosdefala,porexemplo).
Já as línguas que possuem as modalidades falada e escrita, tanto mais sediferenciam quanto maior a população que as fala e quanto mais antiga a sua
cultura.NocasodalínguaportuguesadoBrasil,alémdasdiferençasqueseobservam
entreosnativosdasváriasregiões—diferençasgeográficas,horizontais—,sãomarcantestambémasdiferençasresultantesdascamadassociaisaquepertencemosusuários,oudomeioeocasiãoemqueautilizam—diferençassocioculturais,verticais.
Em resumo, toda língua de cultura, como o português, que possui asmodalidadesfaladaeescrita,apresentaníveis—ou“registros”,comodizemoslinguistas—,quepodemosassimesquematizar:
I–LÍNGUAFALADA II–LÍNGUAESCRITA4.ultraformal 4.ultraformal3.coloquialcuidada(culta) 3.cuidada(culta)2.coloquialdespreocupada,corrente,familiar 2.despreocupada1.vulgar 1.vulgar
Alínguanatural,básica,éa falada,quesediferencia,comovimos,deduasformas:geograficamente(falaresregionais)eculturalmente(níveissociais).
Deixando-sede lado as variantes regionais (p. ex., “frear no sinal”,RiodeJaneiro e “brecar no farol”, São Paulo), verifica-se que não é exatamente amesmaalínguasegundoascircunstânciaseomeiosocial.
Dessaforma,avulgarincorporatermosdegíria,porvezesgrosseiros,enelanãoexisteamínimapreocupaçãocomanormagramatical,totalmenteignorada:éa língua de analfabetos e pessoas sem instrução, de marginais, e mesmo depessoas com alguma instrução, especialmente jovens, quando se utilizam dalínguacomosimplesinstrumentodecomunicaçãonoseugrupo.
Uns exemplos imperfeitos (porque a língua escrita não consegue reproduzirexatamentetodososfatosobservadosnafala):
1)“—TufoinocasamentodoZé?”;“—Tejepreso!”2)“—TudeviatorcêpeloFramengo!”3)“—’Cêfoinafesta?Comoéque’tavaaparada?”“—Pô,aparada’tava
chocante;foialucinante;sóque’tavaomócraude,saca?”[=Afestaestavaótima,masmuitocheia,entendeu?]
A coloquial despreocupada — o nome o diz — é a de conversação, acorrente,detodasashoras,faladaporpessoasdemaioroumenorinstruçãoem
situaçõesinformais.Nelasepodemintroduzir,commoderação,certostermosdegíriamaisusuais,queaospoucossevãoincorporandoàlínguageraleperdendoo seu caráter especializado; é a linguagem familiar por excelência, com ummínimodepoliciamentogramatical.
Éonívelemqueseouve,porexemplo:“—Vocêassistiuo [emvezdeao]Fla-Flu?Infelizmentenãopudeirno[emvezdeao]Maracanã.Medisseram[emvezdeDisseram-me]queojuizanulouumgoldoFlamengoequiseramagredirele[emvezdeagredi-lo].”—Ouentão:“—Mepassaofeijão.”ou“—Suairmã’táestudando.Deixeelaempaz!”
Na escala seguinte situa-se a coloquial cuidada ou culta, mais tensa,fiscalizadagramaticalmente:éa linguagemdepessoaseducadase instruídasemsituaçõesgeralmenteformais,semfugir,contudo,ànaturalidade:
“—VocêassistiuaoconcertodaFilarmônicadeViena?Disseram-mequeomaestroéexcepcional. Infelizmentenãopude iraoMunicipal: estavagripado.”“—Sóassistiàprimeirapartedoconcerto.Deixei-ocommuitapena,poistinhaumcompromissoinadiável,umafestadebodasdeprata.”
Há também, cada vez mais restrita, uma modalidade que se pode chamarultraformal, que em tudo imita a língua escrita, e soa como artificial, peloempregodetermoseconstruçõesdesusados:éalinguagemdecertasconferênciasediscursosempolados,dealgumasreuniõesformaisacadêmicas.
Namodalidadeescrita,o registrovulgar éodepessoasdepouca instruçãoforçadas a escrever, p. ex., um bilhete apressado, ou um cartaz improvisado,anúncios volantes, uma carta, uma solicitação.Quem escreve nessas condiçõescarregaparaaescritaoshábitosdoseunível,quecontrastamcomosdoregistroculto:
“Concerta-se [porConsertam-se] rádios.”— “Não deixem [em desacordocomAproveite,maisembaixo]deconsultarMadameSoraya!A[emlugardeHá]poucosdiasnoBrasil estavidente resolve seucasode amoroudenegoçio [=negócio].Aproveiteestararaoportunidade!”
O melhor exemplo do nível seguinte, a língua escrita despreocupada, é acorrespondência íntima entre pessoas de instrução. Nesse registro, duasinfluênciassecruzam:adalinguagemcoloquialdescontraídaeadalínguaescritaformal.Daíocarátermistoquepodeoferecer:deumlado,termoseexpressõesfamiliares, oumesmo de gíria, e desrespeito a certas normas da gramática; deoutro, pela própria condição cultural de quem escreve, surgem construções etermoseruditos,determinadosigualmentepelopróprioassuntoversado.
Este trecho de carta de Monteiro Lobato a seu amigo e também escritor
GodofredoRangelébemilustrativo:
“Apontas-me, como crime, a minha mistura do você com tu namesmacartaeàsvezesnomesmoperíodo.BemseiqueaGramáticasofre com isso, a coitadinha; mas me é muito mais cômodo, maislépido,maissaído—e,portanto,seboparaacoitadinha.Àsvezesotuentranafrasequeéumabeleza;outrasénovocêqueestáabeleza—ecomo sacrificar essas duas belezas só porque umCoruja1, umBentoJosédeOliveira,umFreiredaSilva,umEpifânio2 eoutrosperobas3“nãoquerem”?Nãofiscalizogramaticalmenteminhasfrasesemcartas.Línguadecartasélínguaemmangasdecamisaepé-no-chão—comoafalada.E,portanto,continuareiamisturarotucomvocêcomosemprefiz—ecomonãofazoMacuco4.Juroqueelerespeitaessaregradegramática como os judeus respeitavam as vestes sagradas do SumoSacerdote.Logo,onossodeveréfazerocontrário.
L(obato).”(CartaaGodofredoRangel,7/11/1904,emAbarcadeGleyre,1.ºtomo,Brasiliense,SãoPaulo,
1948,p.79-80.)
Alínguaescritacultaé(oudeveriaser...)adoslivrosdidáticosecientíficos,de ensaios, dos editoriais e artigos assinados de jornais e revistas, daadministração,das leiseatosdoGoverno:nelaexistepreocupaçãoemseguiraNORMAgramaticalvigente,oPADRÃOCULTO.
Paralelamenteaessesnumerosos registros, emquepredominaa intençãodeCOMUNICAR, situa-se a LÍNGUA LITERÁRIA, que em princípio tem preocupaçãoestética, expressiva e em tempos passados buscava cingir-se às normasgramaticais.
Hojeemdia,diversificou-sebastante.Duasgrandescorrentesadividem:1.ª) A corrente conservadora, tradicional, em que se imitam sobretudo os
escritoresportuguesesebrasileirosconsiderados“clássicos”numsentidoamplo.2.ª)Acorrenterenovadora,queprocuraaproximaralíngualiteráriadalíngua
oral, e incorpora termos e construções de há muito correntes nesta, e que seevitavamnaquela.
Em ambas se podem revelar dois aspectos distintos, um radical, outromoderado.
Numa forma como a crônica, por exemplo, vão-se incluindo numerosasconstruções da língua viva, que assim vai contribuindo para renovar a língua
escrita,injetando-lhenovaseiva.Éclaroquenãoconstituemcompartimentosestanquesosváriosníveisdeuma
língua: há permanente intercomunicação entre eles. Na modalidade oral, porexemplo,componentesdeumgruposocial inferior tendema imitarosdogruposocialmaisalto,osquaisporsuavezlherecebemainfluência.
Odesenhopodedar-nosumavisãodeconjuntodasmodalidadeseníveisdeumalínguaedasuainterinfluência.
Notas
1(AntonioÁlvaresPereira)Coruja.2(Augusto)Epifânio(daSilvaDias)—Osquatronomescitadossãodeautoresdegramáticas.3Perobaoindivíduomaçador.4Macuco é o apelidodeumpersonagemmaçantedas relaçõesdeLobato eRangel, desconsideradopelassuasopiniõesexcessivamenteconservadorasetolas.
2.OECONOMÊSEOUTROSESES:COMONÃOSEDEVEESCREVER
“A nível de ideologização (ainda que primariamente dicotômica)há várias leituras para umdiscurso autoritário enquanto proposta elemesmo: há uma tríade de condicionantes obsequentes para que seimplante num país e/ou nação uma impostura xenófoba caracterizadaporumufanismo...”
EssepequenotextodecompreensãonadafáciléumagozaçãoqueohumoristaZiraldo (Ziraldo Alves Pinto) fez, numa página ilustrada do “Caderno B” doJornal do Brasil de 22/10/1985, do estilo em voga especialmente entre oseconomistas, tecnocratas e sociólogos, motivo por que essa linguagem-mistificaçãofoiapelidadade“economês”,“tecnocratês”ou“sociologuês”.
O uso de termos difíceis (em geral não dicionarizados), de construçõesadaptadas de línguas estrangeiras (sobretudo o inglês e o francês) tornamuitasvezesaleituraincompreensível—enãohácomunicação.
Muitosassimescrevempordeformaçãoprofissional,eesperamhonestamenteque pelo menos seus irmãos da opa lhes entendam o jargão; outros, porém,utilizam-se de expressões que não entendem porque pensam que com elas vãoadquirirstatus.LembramopobreFabiano(deVidasSecas,admirável romancedeGracilianoRamos),personagemdeminguadosrecursosdeexpressão,queàsvezes decorava algumas palavras difíceis e empregava-as inteiramente fora depropósito.
Contra esse tipo de palradores, mestres na arte de “não dizer nada compalavraspomposas”,jásetêmfabricadocuriosasmontagensdepalavrasefrasesbombásticas, para serem ditas (ou escritas) em ocasiões em que se desejaimpressionar os ouvintes (ou os leitores), mas que não querem dizerabsolutamente nada. A primeira foi fartamente distribuída em cópiasmimeografadaseatépublicadanoInformativodaFundaçãoGetúlioVargas.
É um exemplo vivo de como não se deve falar ou escrever, e serve paradesmascarar os “bem-falantes” de ideias vazias... Reproduzimos a seguir umadessasmontagens:
“ComoFazerCarreirasemMuitoEsforço
ArevistaNewsweek publicou em6demaiode1963umanota interessante:funcionárioamericano,PhilipBroughton,observou,duranteanosseguidos,quesófaziacarreiraemWashingtonquemfalasseembolado.Ofuncionário,dequalquercategoria, que optasse pela simplicidade, era e é — segundo a revista —sumariamenterelegadoaposiçãoinferior.Nãomerececonsideração.Daí,teveaideiadecriarumarelaçãocompalavras-chavesaseremusadasnaconversação,de maneira a converter frustrados em indivíduos vitoriosos. São 30 palavras-chaves,agrupadasem3colunas,comanumeraçãode0a9:
COLUNA1 COLUNA2 COLUNA30–Programação 0–Funcional 0–Sistemática1–Estratégia 1–Operacional 1–Integrada2–Mobilidade 2–Dimensional 2–Equilibrada3–Planificação 3–Transicional 3–Totalizada4–Dinâmica 4–Estrutural 4–Presumida5–Flexibilidade 5–Global 5–Balanceada6–Implementação 6–Direcional 6–Coordenada7–Instrumentação 7–Opcional 7–Combinada8–Retroação 8–Central 8–Estabilizada9–Projeção 9–Logística 9–Paralela
Ométodo de emprego dessas palavras-chaves é o seguinte: escolhe-se, aoacaso, um número qualquer de três algarismos e busca-se a palavracorrespondenteacadaalgarismoemcadaumadastrêscolunas.Porexemplo:onúmero 3-1-6 produz ‘planificação operacional coordenada’; e o número 1-3-9
produz ‘estratégia transicional paralela’ e o número 7-4-0, produz‘instrumentação estrutural sistemática’. Qualquer delas pode ser referida emconversas, com indiscutível autoridade. Segundo o gaiato e humorado inventordestafórmula,ninguémfaráamaisremotaideiadoquefoidito,masnãoadmitirátalfato,e,oqueémaisimportante,asfrasessoammaravilhosamentebem.”
OachadodeBroughtoncorreumundo.OJornaldeNotíciasdeLisboa,emsuaediçãode9demaiode1986,publica
listasemelhante,comasseguintespalavras-chaves:Coluna 1: opção, flexibilidade, capacidade, mobilidade, programação,
conceito,vivência,projeção,equipamento,contingência;Coluna 2: gerencial, organizacional,monitorizado/a, recíproco/a, digital,
logístico/a,intermediário/a,incremental,conjuntural,diretivo/a;Coluna 3: integrado/a, total, sistematizado/a, paralelo/a, funcional,
receptivo/a,facultativo/a,sincronizado/a,compatível,equilibrado.
Sãonovasopções,que,comainclusãodedoissubstantivosmasculinosna1.ªcoluna, permitem aindamaiormaleabilidade na fabricação de “belezas” vaziasdo tipo “conceito logístico receptivo”, ou “equipamento organizacionalsincronizado”,capazesdeproduzirgrandeefeitodiantedepapalvos.
Experimente!Aindamaissofisticadaéamontagemfeita—segundoinformaCesareMarchi
no seu livro Impariamo l’Italiano, (“Aprendamos o Italiano”), Milão, RizzoliEd.,1984—pordoisprofessoresuniversitáriositalianosnumestudolinguísticointitulado “Prontuário de frases para todos os usos para preencher o vazio denada”,dequetraduzimoseadaptamosumaamostranoquadrodapáginaaolado.
Entrelaçando à vontade as diferentes colunas de que se compõe, podem-seobtermilharesde frases, algumasdasquaisvocê talvez jáhaja lidoemartigosque devem tê-lo impressionado na ocasião, e que você não deve tercompreendido, o que não é de admirar, porque, com toda a sua sonoridadepomposa,sãointeiramentedestituídasdesentido...
COLUNAA COLUNAB COLUNAC COLUNAD
1.Anecessidadeemergente
secaracteriza
por
umacorretarelaçãoentreestruturaesuperestrura
nointeresseprimáriodapopulação,
2.Oquadronormativo prefigura asuperaçãodecadaobstáculoe/ou
resistênciapassivasemprejudicaroatualnível
dascontribuições,
3.Ocritériometodológico
reconduzasínteses
apontualcorrespondênciaentreobjetivoserecursos comcritériosnãodirigísticos,
4.Omodelodedesenvolvimento incrementa oredirecionamentodaslinhasdetendência
ematoparaalémdascontradiçõese
dificuldadesiniciais,
5.Onovotemasocial propicia oincorporamentodasfunçõesea
descentralizaçãodecisionalnumavisãoorgânicaenão
totalizante,
6.Ométodoparticipativo propõe-sea oreconhecimentodademandanão
satisfeitamediantemecanismosda
participação,
7.Autilizaçãopotencial privilegia umacoligaçãoorgânicainterdisciplinarpara
umapráxisdetrabalhodegrupo,segundoummódulode
interdependênciahorizontal,
COLUNAE COLUNAF COLUNAG
substanciandoevitalizando, numaóticapreventivaenãomaiscurativa,
atransparênciadecadaatodecisional.
nãoassumindonuncacomoimplícito,
nocontextodeumsistemaintegrado, umindispensávelsaltodequalidade.
potenciandoeincrementando, namedidaemqueissosejafactível,
oaplanamentodediscrepânciasediscrasiasexistentes.
evidenciandoeexplicitando, emtermosdeeficáciaeeficiência,
aadoçãodeumametodologiadiferenciada.
ativandoeimplementando, acavaleirodasituaçãocontingente,
aredefiniçãodeumanovafiguraprofissional.
nãoomitindooucalando,masantesparticularizando,
comasdevidaseimprescindíveisenfatizações,
ocoenvolvimentoativodeoperadoreseutentes.
recuperando,ouantesrevalorizando,
comosuapremissaindispensávelecondicionante,
umacongruenteflexibilidadedasestruturas.
ESCREVENDONOFIGURINO:ORTOGRAFIAECRASE
3.ACENTOSNECESSÁRIOSEACENTOSTALVEZINÚTEIS
Examine, leitor, os objetos que o cercam e verifique um fato que vai terimportância para você compreender o porquê da nossa acentuação gráfica: osvocábulosqueosdesignam,emsuagrandemaioria,terminamnasvogaisa,e,oesãoparoxítonos,istoé,suasílabatônicaéapenúltima:casa,sala,quarto,mesa,cadeira,porta, janela, soalho, tapete, parede, quadro, estante, caneta, livro,lápis(umaexceção),etc.
Aminoriasecompõede:a)monossílabostônicos(chão,luz,gás,pó);b)deoxítonosterminadosemvogal(chaminé,paletó)ouemconsoante(papel,xerox,colher);c)deproparoxítonoscomuns(máquina,árvore,lâmpadas)eocasionais(água,rádio,armário,régua,relógio).
Repareaindaquequasetodosessesnomesseusamtambémnoplural,equeoíndicedepluralemnossalínguaés:casas,paredes,livros,chaminés,lâmpadas,réguas,etc.
Com base nessa estatística, estabeleceu-se um dos princípios da nossa
acentuaçãográfica:osparoxítonosterminadosem-a,-ee-o(seguidosounãodes), por seremos vocábulosmais frequentes emnossa língua, dispensam acentoindicador da sílaba tônica: sabia,doce,cravo (e sabias,doces, cravos). Já osoxítonos com as mesmas terminações, por constituírem minoria, devem sermarcadoscomacentográfico,numatradiçãojásecular:sabiá,você,avô,avó (esabiás,vocês,avôs,avós).Osproparoxítonos,por suavez,dadaa sua relativararidade,sãosempreacentuados:sábia (comparecomsabiaesabiá), lâmpada(comparecomempada),pêndulo (comparecompenduro),régua (comparecomrecua),pêssego(comparecomsossego),veículo(comparecomveiculo,verbo),história (compare com historia, verbo), fôlego (compare com pelego), úmido(comparecomunido).
OsACENTOSusadosemportuguêssãoosseguintes:
1. ACENTO AGUDO, que, sobreposto às letras a, e, o, indica que elasrepresentamvogaisabertas:máquina,cajá,pérola,café,córrego,após;noienouindicaapenasvogaltônica:índio,túmulo.
2.ACENTO CIRCUNFLEXO, que, sobreposto a essasmesmas letras, indica queelas representam vogais fechadas: pântano, pêssego, você, fôlego, compôs.Nuncaseusanoienou.
Usam-seaindaoutrossinais:
1. o TIL, que, sobreposto às letras a eo (só muito excepcionalmente ao u,comoemPiũí5,piũiense),nosadvertequeelasestãorepresentandovogaisnasais.Compareláelã,poisepões,nauenão,perdoeeexpõe,maisemães.
2.oTREMA,queatéareformaortográficade2009sóocorrianoudosgruposde letrasgue,gui,que,qui, para assinalar que o u aí se pronuncia. Compareunguento(escrevia-seungüento)ebriguento,linguista (lingüista)edroguista,frequentar(freqüentar)eesquentar,tranquilo (tranqüilo)eesquilo.Paramaisinformaçõessobreotrema,vejaocapítuloseguinte.
AACENTUAÇÃODOSMONOSSÍLABOS
Emportuguês,hávocábulosTÔNICOS,providosdeacentopróprio,eÁTONOS(namaiorpartemonossílabos),queseproferemfracamentee,nafrase,seapoiamnum vocábulo vizinho, tônico. Na frase abaixo transcrita, os vocábulos átonosestãogrifados:
“Oranger/dasrodas/docarro/debois/quepassava/pelaestrada/atraiu-nos/paralá.”
Para·distinguir os monossílabos tônicos dos átonos, os tônicos, quandoterminadosem-á,-ás,-é,-és,-ê,-ês,-ó,-ós,recebemoacentodevido:
cá; dá, dás (verbo dar), já; há, hás (verbo haver), lá,má,más(adj.),pá,pás,trás,vá,vás,zás!;é,és(verboser),fé,pé,pés,ré,rés,sé,Zé;crê,crês;dê,dês(verbodar),lê,lês,mês,rês,sê(verboser),três,vê,vês,quê(subst.);cós,dó(subst.),nó(subst.),nós(pron.reto),pó,só,vós(pron.reto);pôs,xô!;dá-lo,tê-lo,pô-lo.
Jáosátonosnãoseacentuam:arodadafortuna;asdoresdoparto;eleeela;Nuncamedeixes;Sempre te
amei;Não se afaste, peço-lhe; Deus nos livre!; Era pobre,mas orgulhoso; Sepuder,venhaamanhã,nahoradesempre.
Ovocábuloquêétônico,eportantoacentuado,quandosubstantivo(“Emboranãosejabela, temumcertoquêquea todoscativa.”), interjeição(Quê?!)eempausaouemfimdefrase(“Averdadeéquetivemedo,nãoseidequê,nemporquê.”).
Osmonossílabostônicosqueterminamem-i, -is, -u,us, -m, -ns, -l, -re -z,ditongooutritongonãoseacentuam:
vi,ati,porsi,lis,giz,vem,vens,tem,tens,rim,rins,qual,quais,seu,ser,rol,traz(v.trazer),vez,eis,tu,pus,luz.
Umaexceçãoéa3.ªpessoadopluraldeterevir,têmevêmquelevaacentocircunflexoparasedistinguirda3.ªpessoadosingular,temevem.
QUANDOSEACENTUAMOSOXÍTONOS
Sóseacentuamosoxítonosterminadosem:-á,-ás,-é,-és,-ê,-ês,-ó,-ós,-ô,-ôs,-ém,-éns:
está,estás(masesta,estas), tirá-lo,rapé,revés,mercê,marquês(masMarques),avó,após, ioiô,expôs;harém,haréns,refém,reféns,convém,detém,deténs,recém-casado.
Nasformasde3.ªpessoadopluraldosverboscompostosdeterevirseusaacentocircunflexo,paradistingui-lasdaterceirapessoadosingular:elecontém—elescontêm;istonosconvém,elasnosconvêm.
Nãoseacentuamosoxítonoscomoutrasterminações:parti,tupi,gentis,tatu,expus,Iguaçu.
OSPAROXÍTONOSACENTUADOS
Jávimosquenãoseacentuamosparoxítonosterminadosem-a,-as,-e,-es,-o,-os,quesãoosvocábulosmaisnumerososdanossalíngua.
Igualmentesemacentoosqueterminamem-am,-em,ens:
amam,amaram,acordam, fazem, dizem, querem; jovem, jovens,item,itens,nuvem,nuvens,hifens.
Osquerecebemacento,menosnumerosos,terminamem-i,-is,-us,-ã, -ãs, -ão,-ãos,-um,-uns,-n,-om;-ei,eis,-l,-r,-x,-ps:
júri, tênis, bônus, órfã(s), órgão(s), álbum, álbuns, hífen (mashifens, sem acento!), pólen,Nélson, cânon, rádom; jóquei, fósseis,fôsseis, fizésseis;grácil, têxtil, túnel, cônsul,dólar,César, câncer;Félix,látex,fênix,sílex,córtex;bíceps,fórceps.
Osprefixosparoxítonos,quandoseparadosporhífen,nãoseacentuamporquenãotêmexistênciaautônomanalíngua:anti-inflacionário,semi-histórico,super-homem.
ACENTOSABOLIDOSPELOACORDOORTOGRÁFICODE1990
Comareformaortográfica,nãomaisseacentuam:1.Osditongosabertoséieóiquandorecaememsílabastônicasdepalavras
paroxítonas: ideia, assembleia, proteico (e não idéia, assembléia, protéico);joia,boia,heroico(enãojóia,bóia,heróico).
OBS.:Mantém-seo acentonessesditongosquando recai emsílaba tônicadepalavras oxítonas (anéis, heróis) e de palavras proparoxítonas (axóideo). Apalavradestróiermantém o acento, como exceção, de acordo com a regra quepedeacentosobrevogaltônicaempalavraparoxítonaterminadaemr.
2.Oacento circunflexodoô tônico empalavras paroxítonas terminadas emôo(s):enjoo,voos,abençoo(enãoenjôo,vôos,abençôo).
3. Em palavras paroxítonas, o acento agudo em vogais tônicas i e u apósditongodecrescente:feiuraenãomaisfeiúra,alauitaenãoalauíta.
ACENTOPARADISTINGUIRVOCÁBULOSTÔNICOSDEÁTONOS
Como acento diferencial, continuam acentuando-se, por vezes inutilmente,algunsvocábulostônicosqueseescrevemcomasmesmasletrasdeoutrosátonos:
1.pôr(verbo),aoladodepor(preposição):“Costumopôrumacamisetaporbaixodacamisa.”;
2.porquê(subst.)eporque(conjunção):“Gostavadeinvestigaroporquêdascoisas,porquesuacuriosidadeeragrande.”
3.quê (substantivo) eque (pronome ou conjunção):V. o que escrevi sobremonossílabosátonosetônicos.
4.pôde(pretéritodoverbopoder)epode(presentedoverbopoder)
OBS.: O Acordo Ortográfico aboliu a maioria dos acentos diferenciais queaindaestavamemuso:polo(enãopólo),pera (enãopêra),pelo (enãopêlo),
etc.
Aíestáoporquêdousodeacentosemnossaortografiaoficial.
Lembraria, por fim, que a classe da palavra não importa, para efeito deacentuação.Anote,pois,algumasformasverbaisacentuadas:
andávamos,andássemos,andáramos,andásseis;devíamos,devêssemos,devêramos,devêsseis;fôramos,fôreis,fôssemos,fôsseis;éramos,éreis;íamos,íeis.
Eassimpordiante.
4.OTREMAJÁERA,MASCOMOERAMESMO?
Areformaortográficade2009aboliuotremaempalavrasdalínguaportuguesa.Mascomoeleaindaserávistonoslivrosqueforampublicadosantesdareforma(queaindaserão,pormuitotempo,agrandemaioria),valeapenasabercomoerausado.
Logo que saíram as notas de NCz$ 50,00 (cinquenta cruzados novos, naépoca),aSr.a JoãodaSilva,que sempreescreveranoschequescincoenta (porinfluênciadecinco),estranhouquenelasestivesseescritocinquenta,econsultouofilhosobreessagrafia.
—Jáaprendiissonocolégio!—Joãozinhofoiprontonaresposta.Erepetiuparaamãeoquelhehaviamensinado:—cinqüentanãoderivadecinco,poisaformaantigaeracinquaenta.E leva tremaporque, namaioria das palavras emqueapareceumdosgruposde letrasque,qui,gue,gui, ou é uma letramuda:esquenta,aquela,esquilo,joguete,seguir.Masquandoousepronuncia,põe-seotrema,paraevitarerrodepronúncia:freqüente,tranqüilo, lingüeta,cirigüela,argüir,seqüela...
Amãe interrompeu-o,perguntandooquesignificavaseqüela,masJoãozinhonãosoube responder (ovocabuláriodasnovasgeraçõesé tão reduzido!...).Eojeito foi consultar o Caldas Aulete, que esclareceu a dúvida: “Continuação,sequência (naquela época, ainda com trema: seqüência); Efeito, resultado ouconsequência (na época, conseqüência) de um acontecimento, de um fato, etc.;Anomaliaresultantedeumamoléstia”.Ecomaconsultasurgiramduaspalavrastremadas: sequência e consequência, motivo de comentário de Joãozinho, queestavacomamatériadeaulaaindafrescanapontadalíngua...
Mas Joãozinho teve de reaprender depois a reforma ortogáfica de 2009, ehojeelesabequenãoexistemais tremanalínguaportuguesa,ehojeseescrevesequela,linguiçasequênciaetc.
É claro que nessas palavras, mesmo sem trema, todos sabem que o u sepronuncia.Masemoutraspodehaverdúvida;eparaquevocênãocometaerrosdepronúncia,lembro-lheaquiaspalavrasmaisfrequentesemque,mesmotendosidoabolidootrema,oudeveserpronunciado:
aguentar, em toda a sua conjugação; apaziguei, apazigueis,apaziguemos, doverboapaziguar;aquistar; arguir (e seu compostoredarguir), nas seguintes formas: em todo o imperfeito (arguia,arguias,arguíamos,arguíeis,arguiam); em todo o perfeito simples(argui, arguiste, arguiu,arguimos, arguistes, arguiram); em todo omais-que-perfeitosimples:(arguira,etc.);emtodoofuturodopresentee do pretérito: (arguirei, etc.; arguiria, etc.); em todo o imperfeito(arguisse,etc.)eemtodoofuturodosubjuntivo(arguir,arguires,etc.—quetemasmesmasformasnoinfinitivoflexionado);nogerúndioenoparticípio(arguindo,arguido);nasseguintesformasdeaveriguar:averiguei,averigueis,averiguemos;
banguê;banguense;bilíngueebilinguismo;ciriguela;consanguíneoeconsanguinidade;consequênciaeconsequente;delinquência,delinquenteedelinquir;eloquênciaeeloquente;equestreeequino(=cavalar);equidade;frequênciaefrequente;linguetaelinguiça;linguista,Linguísticaelinguístico;nicaraguense;pinguim;quinquagésimo;quinquenalequinquênio;quiproquó;
reguinha;sagui,sariguêesarigueia;sequela;sequênciaesequente;sequestraresequestro;Tarquínio;tranquilidadeetranquilo.
Mascuidado,muitasvezesnãosepronunciaou:adquirir, distinguir, equilíbrio, equitação, equívoco, inquérito,
inquirir,perquirir.
Emalgunscasoséfacultativaapronúnciadou;naspalavrasabaixoelepodeounãoserpronunciado:
anhanguera;antiguidade;equilátero;equidistância,equidistar;equitativo;equivalência,equivalente,equivaler;lânguido;liquefação,liquefazer;liquidação,liquidar,líquido;liquidificador;questão;questionar;quíntuplo;retorquir;sanguento;sanguinário;sanguíneo;sanguinolento;séquito.
Nãoestariaterminadoesteassuntosobreouproferidosenãolembrássemos
quenassequênciasdeletrasgua,guo,qua,quo,emqueouésempreproferido,mesmoantesdareformaortográficanãoseusavatrema:
ambíguo, adequado, aguar, aquático, equação, averiguar,linguado,minguante,Nicarágua,Guatemala, oblíquo, quadrúpede,ventríloquo.
Em vocábulos como catorze/quatorze, cota/quota, cotidiano/quotidiano,cociente/quociente,emqueéopcionalapronúnciadou,essadiferençaregistra-senaescrita,comosevêdosexemplos.
ACENTOAGUDONOU
NumaspoucasformasdeverbosemqueouéTÔNICO(enãoÁTONO,comonoscasos anteriores), usava-se acento agudo, e não trema, nas sequênciasde letrasgúe,gúi, qúe,masmesmo este acento foi suprimido na reforma ortográfica de2009:
apazigue,apazigues(doverboapaziguar);averigue,averigues(doverboaveriguar);oblique,obliques(dopoucousadoverboobliquar);argui, arguis (do verbo arguir), redargui, redarguis (do v.
redarguir).
Uma exceção curiosa é o nome geográfico Guiana (e seu derivadoguianense):ounãoé tônico,massubtônico,epor issonão levaacentoagudo.Nelecaberiaacentograve,masasregrasoficiaisesqueceramessecaso...
Nãoserá inútilobservarquenão levaacentoouTÔNICO das sequências deletrasgua,guo,qua,quodestasformasverbaisparoxítonas:
argua, arguas, arguo; averiguas, averigua, averiguo; obliqua,obliquas,obliquo.
5.ALETRACERTANOLUGARCERTO
Depoisdasprimeirasaulasdeinglês,Joãozinhofezumagrandedescoberta,quecomunicouemcasaaopai:
—Pai,nóstemossortedeescreveremportuguês:aortografiainglesaéumabagunça!Elesusamumaporçãodeletrasquenãopronunciam,eummesmosoméescrito de várias maneiras! Ainda bem que a nossa ortografia é fonética! Nósescrevemosfísicosemphnemy,comoéeminglês.—Emostrouaopaiolivro,emque,numaliçãosobreesportes,estavaescritophysique,embora,garantiu,sepronunciasse[fizik](como,aliás,estavanapronúnciafigurada).
João da Silva concordou com o filho, e durante algum tempo Joãozinhopermaneceueufóricodiantedasimplicidadedanossaortografia.
Mastantoofilhoquantoopaisótinhammeiarazão,porque,emboraanossaescrita seja, naverdade,muitomais simples que a do inglês, está longede serfonética,comoexemplificaopróprionomecitadoporJoãozinho,físico,emqueseescreveumsondesepronunciaz, talcomoemcasa,rosa,usoedezenasdeoutraspalavras.
Numalfabetofonético,acadaletracorrespondeumúnicosomdalíngua—ouFONEMA,comodizemos linguistas—,eacadafonemaumasó letra,oquenãoocorrecomoportuguês,comovamosver.
Naverdade,emnossoalfabetoháváriasletras,alémdos,quepodemfigurarfonemas diferentes.O x é um bom exemplo. Compare estes vocábulos escritoscomx com os da coluna ao lado, em que omesmo som representado por x seescrevecomletrasvariadas:
lixa fichaauxílio concílioflexão fricçãoexistir resistir
Por outro lado, ummesmo som pode ser grafado por letras variadíssimas.Vejaestesvocábulos,emqueomesmofonema(quefiguraremospelosímbolo/s/)vemescritodeoitomaneirasdiferentes!:
cansado – tecido – aço – trouxe – passo – descer – desça –exceder.
(Em alguns desses vocábulos, como você pode ver, duas letrasvalemporumsófonema:ss,sc,sç,xc.ÉoquechamamosDÍGRAFOS.)
Se a compararmos com a inglesa ou a francesa, nossa ortografia é, semdúvida,bastantesimplificada;masestámuitolongedeserfonética.
Eporquenãooé?—perguntaráoleitor,comjustaestranheza.São vários os motivos, meu caro, e o principal é a tradição, a história da
nossalíngua,cujabaseéolatim.Eumaescritapuramentefonéticatrariaalgunsproblemassérios.
Em primeiro lugar, as diferenças de pronúncia regionais e de “registro”cultural provocariam a existência de várias escritas fonéticas; além disso, aprópria imagem gráfica dos vocábulos em muitos casos nos pareceriadesfigurada,irreconhecível.Vãounspoucosexemplos:
[leitxi]/[leite], [poxtau]/[postal], [dejdji]/[desde],[coléju]/[culéju]/[còléju]/[colégio], [fautá]/[fartá]/[faltar],[d˜ieru]/[dinheiro],[gãiá]/[ganhar],etc.
De vez em quando surgem reformadores, sem maior preparo linguístico, aproporuma“ortografiafonétika”quecausaarepulsaimediatadosestudiososdalíngua.
Eébomlembrarque,quandoépreciso reproduzir fielmenteapronúnciadeum vocábulo, dispõem os linguistas de um alfabeto fonético internacional, deaceitaçãogeral,queresolvequaisquerdúvidas.
Cumprelembrar,porúltimo,queanormaescrita,entrenós(comonospaíses
civilizados),éobjetoderegulamentoseconvenções,elaboradosporespecialistase, em nosso caso, aprovados por lei federal. Para esclarecimento de todos,publicam-sevocabuláriosedicionáriosquesãoosnossosguiasnoemaranhadoortográfico.
Atualmente, aortografiaoficial doBrasil é regidapeloAcordoOrtográficodaLínguaPortuguesa,assinadoemdezembrode1990pelossetepaísesnosquaiso português é a língua oficial (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe), referendado em 2004 peloSegundoProtocoloModificativo,aoqual seacrescentouaassinaturadeTimor-Leste,esancionadonoBrasilpelopresidentedaRepúblicaem29desetembrode2004 pelo Decreto 6.584, entrando em vigor em 1º de janeiro de 2009. Noentanto,atéapresenteediçãodestaobra,somenteoBrasiladotaraoficialmenteanovaortografia,comodelineadanoAcordoOrtográficode1990.
Nomesmoanode2009,aAcademiaBrasileiradeLetrasfezpublicaraquintaediçãodoVocabulárioOrtográficodaLínguaPortuguesa,queéconsideradoaúltimapalavranoassunto.Sevocêquiserescrevercorretamente,deve,portanto,submeter-seaoquemandaaLei,eescreveraletracertanolugarcerto...
Nãoseacanhedeconsultarumdicionário.Todososmestresofazem!Concordo em que nem sempre é fácil reproduzir a grafia correta de certos
fonemas.Masohábitoda leituraedaconsultaaumdicionáriocomooCaldasAulete(impresso,ounainternet)olevará,comalgumesforço,aobomcaminho.
Voutentarajudá-lo,relembrandooscasosmaisdifíceis,semprefundamentadonoqueéoficial.
Souz?
Vocêháde ficar,porvezes,embaraçadonoempregodecertas letrasqueseusampararepresentarnaescritaomesmofonema.
Umadessasdificuldades:quandoescreversenãoz,ouzenãos?Primeiro, as terminações -ês e -ez, -esa e -eza. Você deve escrever -ês,
quandosetratadenomesqueindicamohabitanteounaturaldeumlugar(ouquenele vive), muitas vezes com o feminino em -esa: francês/francesa,inglês/inglesa, japonês/japonesa, etc.; burguês/burguesa (de um burgo),camponês/camponesa(docampo),cortês(dacorte),montês (domonte);com -esa se escrevem os femininos de certos títulos, como baronesa (de barão),consulesa (decônsul),duquesa (deduque),marquesa (demarquês, que era o“governadordamarca”[fronteira]),princesa (depríncipe). (O títulocondessa,
feminino de conde, se escreve com ss! Convém lembrar ainda os femininospitonisa,poetisa,profetisa,sacerdotisa.)
Com -ezou -eza se escrevemnomes femininos (semmasculino!), derivadosdeoutrosnomes:acidez(deácido),agudeza(deagudo),alteza(dealto),aridez(deárido),avareza(deavaro),certeza(decerto),embriaguez(deembriagado),escassez(deescasso),natureza(denatura),rigidez(derígido),rijeza(derijo),solidez(desólido),tristeza(detriste)—edezenasdeoutros.
Outras terminações que convém distinguir: a dos verbos em -isar e -izar.Escrevacomz:
1.osverbosderivadosdeumnomequejácontenhaumz,comoabalizar (debaliza),ajuizar(dejuízo),deslizar (dedeslize),enraizar (deraiz),envernizar(deverniz),matizar(dematiz);
2. os verbos derivados de umnome a que se acrescente izar:agonizar (deagon[ia]), amenizar (de amen[o]), anarquizar (de anarqu[ia]), batizar (debat[ismo]), catequizar (de catequ[ese]), civilizar (de civil), concretizar (deconcret[o]), exorcizar (de exorc[ismo]), realizar (de real), simpatizar (desimpat[ia]),utilizar(deútil).
Em-isarterminamunspoucosverbosdamesmafamíliadevocábulosemquejáexistes:alisar(deliso),analisar(deanálise),avisar (deaviso),eletrolisar(deeletrólise), frisar (de friso),guisar (de guisa),paralisar (de paralis[ia]),pesquisar(depesquisa),ealgunsmais.
Alémdessescasos,quepodemcaberemregras,procuregravarestaspalavrasqueseescrevemcomsouzdeacordocomasuahistória.
Coms:ananás,anis,arrasar,ás,asa,atrás,atrasar,atraso,através,Baltasar,brasa, coser (= “costurar”), despesa, Dinis, empresa, extravasar, freguês,freguesia,gás,gasolina,hesitar,obus;pôs,pus,puser,pusera,pusesse(dov.pôr);querosene;quis,quiser,quisera,quisesse(dov.querer);represa,Resende,revés,Satanás,siso,Teresa,usina.
Comz:abalizado,amizade,aprazível,atroz,azar,azia,baliza,buzina,cafuzo,cozer(=“cozinhar”),deslize,desprezar,esvaziar, feliz, felizmente, fuzil, fuzilar,giz, jazida,Muniz, prazo, preconizar, prezado, proeza, regozijo, revezar, rezar,trazer,vazar,vazio,vizinho,xadrez.
C,ç,s,ss,sc,sç,x,xc
Outrofonemacujagrafiatrazdificuldadeséo/s/,que,comojávimos,poderepresentar-sedeoitomaneiras.
Comc ouç: à beça, açaí, açu (e quaisquer palavras com esta terminação),almaço, censo (recenseamento), cerrar (= fechar), cerzir, cessão (de ceder),cetim, cidra, concertar (= ajustar, harmonizar), concerto (reunião musical,acordo), dança, escocês, exceção, facínora, juçara, maçada, maçante, maciço,miçanga,muçulmano,obcecado,paçoca,recender,rechaçar,resplandecer,ruço(=grisalho), soçobrar, seção ou secção (= parte de um todo, divisão), Suíça,vicissitude.
Com s: ânsia, ansioso, ascensão, asteca, cansar, consertar (= remendar),conserto (remendo, reparo), descanso, dissensão, distensão, excursão, farsa,hortênsia,obsessão,pretensão,recenseamento,senso(=juízo),universidade.
Comss:admissão,alvíssaras,asseio,carrossel, cassino, cessão (de ceder),discussão, escassez, presságio, procissão, profissão, repercussão, ressurreição,ressuscitar,sessão(=reunião),sossego,verossímil.
Comsc,sç:abscesso,abscissa,consciência,crescer,cresça,cresço,descer,desça, desço, discente, enrubescer, florescer, intumescer, nascer, nasça, nasço,obsceno,rescindir,seiscentos,víscera.
Comxc:exceção,exceder,excepcional,exceto,excitação.
Chex
Tambémnos causadúvidao empregodech ex, já que têmomesmovalorfonético.
Comchescrevem-se:charque,chimarrão,chuchu,cochichar,cocho(=vasodemadeira),encharcar,facho,flecha,tacha(=prego;mancha),tachar(=acusar).
Comx:coxo (=manco,quecoxeia),enfaixar,enfeixar, faixa, faxina,mexer,muxoxo,paxá,puxar,taxa(= imposto), taxar (impor taxa),xá(soberanodoIrã),xale,xará,xavante,xereta,xerife,xícara,xingar.
Gouj?
G (antes de e, i) e j, que indicam omesmo som, podem trazer embaraços.Anote,então.
Comg:angélico,estrangeiro, fuligem,girafa,gíria, herege,monge, rigidez,tigela,aviagem.
Com j:ajeitar,anjinho,berinjela,canjica,gorjear,gorjeio, gorjeta, granjear,interjeição,jeito,jenipapo,jerimum,jiboia,jiló,jirau, laje, lambujem, lisonjear,lojista, majestade, manjedoura, pajé, pajem, rejeição, rejeitar, rijeza, sarjeta,traje,ultraje,varejista,viaje,viajes,viajemos,viajeis,viajem(dov.viajar).
Eoui?
Asletraseoui,quandoemposiçãoátona,têmmuitasvezespronúnciaigual,edisso resultamdúvidasnahoradeescrever:despenderoudispender?,páteo oupátio?Daí a necessidade de consultar o dicionário.Abaixo você encontra umarelaçãodepalavrasquemaisembaraçospodemtrazer.
Com e se escrevem as formas de 3.ª pessoa dos verbos da l.a conjugação,comoabençoe (deabençoar),acentue (deacentuar),averigue (deaveriguar),continue(decontinuar),insinue(deinsinuar),entreoutras.Comiasdosverbosda3.ªconjugação,quejátêm inoinfinitivo:atribui(deatribuir),constitui (deconstituir),exclui(deexcluir),influi(deinfluir),etantasmais.
Anoteaindaestasgrafias:
Com e: antediluviano, arrear (= pôr arreios), baleeira, candeeiro, cardeais(pontos),cardeal,confessionário, confete, cumeada, cumeeira, descrição (= atodedescrever),despautério,despender (masdispêndio), dessemelhante, destilar,
descriminar(absolverdecrime,isentardeculpa),eminente(ilustre),empecilho,encarnação (e Encarnação), encorpar, entoação (mas intonação), paletó,parêntese(s),Pireneus,quepe,senão,sequer,umedecer(masúmido).
Com i: aborígine (preferível a aborígene), acriano (o Acordo Ortográficodescartou o antes admissível acreano), adiantar, adiante, arriar (= abaixar),balzaquiano,caititu,calcário,camoniano(eosnomesderivadosdesubstantivospróprios,comomachadiano,saussuriano,shakespeariano,wagneriano),casimira,Casimiro, cerimônia, cordial, cordialmente, crânio, criar (e criador, Criador,criatura), crioulo, dentifrício, diante, digladiar-se, dilapidar, discrição (=qualidade de quem é discreto), discriminar (= distinguir, diferençar), escárnio,esquisito, Eurípides, feminino, frontispício, Ifigênia, iminente (= próximo),incorporar, inigualável, inquirir, intitular, intonação, intumescer, Istambul,lampião, pátio, pior, pontiagudo, privilégio, requisito, réstia, Sigismundo,terebintina,Virgílio.
Oouu?
Com o e u, em posição átona, dada a identidade de pronúncia, ocorremtambém dúvidas frequentes: polir ou pulir? bolir ou bulir? Para facilitar suatarefa, fui aos vocabulários e organizei a relação das palavras em que maisfrequentementesehesitanagrafiadessasduasletras.
Como:banto(melhorquebantu),cobiça,comprimento(=extensão),engolir(e engolimos, engolis), esgoelar-se, goela, mágoa, mocambo, monjolo, óbolo,poleiro, polir, Romênia, romeiro, sortimento, sortir (abastecer), tribo, zoada,moqueca.
Com u: bruxulear, bueiro, bulir, burburinho, camundongo (preferível acamondongo), cumbuca (preferível a combuca), cumprimentar, cumprimento(saudação), curinga, curtir, curtume, cutia (animal), entabular, estadual, jabuti,jabuticaba, juá, juazeiro (e joazeiro), Luanda, Manuel, manuelino, muamba(preferívelamoamba),rebuliço,regurgitar(preferívelaregorgitar),desupetão,surtir (= resultar), tabuada, tabuleiro, tabuleta, usufruto, zulu (com a variantezulo).
Semeestendimuitonestecapítulo,perdoe-meo leitor,masnão tenhoculpadeanossaortografianãoserfonética...
6.OHÍFEN—TRACINHOTRAPALHÃO
Ohífen,essetracinhominúsculotambémconhecidocomotraçodeunião(nomedesprezado oficialmente porque nem sempre une, também separa), tem o seuemprego regulado (até recentemente, melhor seria dizer desregulado) pelasinstruções do Vocabulário da Academia Brasileira de Letras; e, nas suasomissões,pelatradição,pelaanalogiaepelobom-senso.OAcordoOrtográficode1990trouxemuitasmudançasnousodohífen,edeve-seestarmuitoatentoaessasmudanças,queàsvezesnãoparecemsermuitocoerentes.Porexemplo,oVocabulário registra tique-taque e zigue-zague,mas os verbos tiquetaquear eziguezaguear.
Masvamosaoshifens.Entreosseuspréstimos,de todosconhecidos,algunsháquenãotrazemproblemas:
1.Separaospronomesátonosenclíticosoumesoclíticosdasformasverbaisaquesereferem:pôr-se,dir-se-ia.
2.Separaassílabas (nemsemprerigorosamente)dosvocábulosque,nofimdeumalinha,nelanãocouberamporinteiro:cons-/tru-/ir(maspas-sar,guer-ra).Quandoapalavraécompostacomhífen,eestecoincidecomofimdalinha,recomenda-serepeti-lonoiníciodalinhaseguinte:guarda-/-chuva.
3. Indica a supressão de parte de um vocábulo: “A palavra esclarecer é
formadadoprefixoes-,doradical -clar-,dosufixo -ec- e da terminação -er.”;“Asmacro-emicrorregiões.”
Outra das suas serventias é unir os elementos de uma palavra composta:beija-flor,editor-proprietário,cor-de-rosa.
OAcordoOrtográficoaboliuoshifensemlocuções,amenosqueexpressemtermos de botânica ou zoologia (nomes de plantas ou de animais), além dasseguintes exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa. E suprimiu o hífen,juntandoostermos,nasseguintespalavras,antescompostas(tambémexceções,portanto): girassol, mandachuva, madressilva, paraquedas (e todas as suasderivadas), passatempo e pontapé. Nos demais casos, manteve-se o hífen(marca-passo,tira-teima,monta-cargas,reco-reco,para-lama,etc.).
Mas aqui já começamas dificuldades, pois nem sempre é pacífico entre osautores o que se deve considerar como “palavra composta”, diferente de“locução”ede“expressão”.
Emprincípio,devemunir-secomhífenaspalavrasquenoconjuntoadquiremumnovosentido,comoéocasode termosdo tipoolho-d’água (=“nascente”),amor-perfeito(nomedeumaflor).
OAcordoOrtográfico,portanto,regulaelimitaatendênciadeunirgruposdepalavras “sentidos” como unidades de significação, tais como ponto de vista,meio ambiente, não registrados como compostos pelos dicionários nem peloVocabuláriooficial,
Valeapenaanotaralgumaspalavrascompostas,deváriasclasses,unidaspelohífen:
I–SUBSTANTIVOS
boa-fé,má-fé,bom-senso,bom-tom,bem-estar,mal-estar, livre-câmbio,livre-arbítrio,lugar-comum,mais-valia,matéria-prima,etc.
Entreossubstantivoscompostosconvémlembrarosquedesignamplantas,emalguns dos quais figuram substantivos que de próprios se tornaram comuns (eportantoseescrevemcominicialminúscula).Comojáfoimencionado,todosostermos compostos que designam espécies botânicas ou zoológicas levam hífen,mesmoquesejamlocuções:
castanha-do-pará, laranja-da-baía, lágrimas-de-nossa-senhora,palma-de-santa-rita, erva-doce, erva-de-passarinho, erva-de-santa-maria,capim-limão,beija-flor,etc.
Outrossãoformadosdeverbomaissubstantivo:
guarda-roupa, mata-cavalo, para-brisa, quebra-pedra, para-raios,vira-casaca,bota-fora,etc.
Algunssãoformadosdesubstantivomaisadjetivo(ouvice-versa):alto-forno, alto-relevo, amor-perfeito, baixo-relevo, baixa-mar
(O adjetivo está no feminino porque mar, antigamente, era dessegênero.), dedo-duro, má-criação, mãe-benta, mau-caráter, mau-olhado,pão-duro,etc.
Outrosdesignamasomadoscomponentes:saia-calça, claro-escuro, capitão-médico, editor-proprietário,
dois-pontos,engenheiro-agrônomo,etc.
Anoteaindaestes:tim-tim, zum-zum, lufa-lufa, lusco-fusco, obra-prima, primo-
irmão.
II–ADJETIVOS
Além dos adjetivos compostos do tipo anglo-americano, luso-brasileiro,surdo-mudo,anotemaisestesqueseunempelohífen:sem-par,sem-pulo,sem-sal,sem-vergonha.
III–ADVÉRBIOS
assim-assim,mal-mal
IV–INTERJEIÇÕES
zás-trás!
OSPREFIXOSEOHÍFEN
OAcordoOrtográfico dirimiu algumas das dificuldades surgidas no uso dohífen,cujasregrasoficiaisimplicavamváriascontradições.
Quem escrevia ficava perplexo diante de incoerências como estas dosdicionários(quenistoseguiamoVocabuláriodaAcademiaatéaquartaedição):co-interessado,mascoirmão;auto-sugestão (comhífenparanãose terdeusardois ss), mas hipossecreção com dois ss, semi-interno, mas antiinfeccioso;super-homemeanti-humano (comhífenparaconservaroh),mas lobisomem edesumano sem h; semi-reta e auto-retrato (com hífen para evitar os rrdobrados),mastrirreme,microrregiãocomosrrdobrados...
—Quebagunçaessenegóciodohífen!—foioprotestonaturaldeJoãozinhoduranteumaaula,oquelhevaleuinjustareprimendadoprofessor.
Conta-se que, ao ser publicado em 1943 o Pequeno Vocabulário daAcademia, o velhomestre doColégio Pedro II, Prof. JoséOiticica, justamenteindignadocomafaltadecritériodasregrassobreohífen,desafiouorelatordasInstruções e executor do Vocabulário a submeter-se a um ditado, o queevidentementenãofoiaceito...
MasparaquevocêeoJoãozinhonãofiquemperdidosnesselabirintooficial,façoaquiumatentativadeorientá-loscomumasistematizaçãooquantopossíveldidática, seguindo as normas oficiais, em vigor desde janeiro de 2009,supostamente de conformidade com o Acordo Ortográfico de 1990, enormatizadas na 5ª edição do VOLP (Vocabulário Ortográfico da LínguaPortuguesa,daAcademiaBrasileiradeLetras).
PREFIXOSEELEMENTOSDECOMPOSIÇÃOTERMINADOSEMVOGAL
1.ºGRUPO(15):
6terminadosem-a:contra-,extra-,infra-,intra-,supra-,ultra-;2terminadosem-e:ante-,sobre-;3terminadosem-i:anti-,arqui-,semi-;4terminadosem-o:auto-,neo-,proto-,pseudo-.
REGRAS:
As palavras compostas com esses prefixos e elementos de composição sópedemohífenquandoo segundoelemento começacomamesmavogal emquetermina o prefixo ou elemento de composição, ou comh. Em todos os demaiscasosaglutinam-secomosegundoelemento.Quandoaprimeiraletradosegundoelementoérous,estaseduplica.
Exemplos:contra-almirante,contra-historicismo,contrarrevolução,contrassenso;extra-abdominal,extra-hospitalar,extrassensorial,extrarregimental;infra-atômico,infra-humano,infrarrenal,infrassom;intra-arterial,intra-hepático,intrarracial,intrassomático;supra-auricular,supra-humanismo,suprarrenal,suprassumoultra-aquecido,ultra-hiperbólico,ultrarrápido,ultrassom;ante-estreia,ante-histórico,anterrosto,antessala;sobre-elevado,sobre-humano,sobrerroda,sobresselo;anti-inflacionário,anti-histórico,antirrábico,antissocial;arqui-inimigo,arqui-hipérbole,arquirrival,arquissacerdote;semi-internato,semi-heresia,semirreta,semissilvestre;auto-oxidante,auto-hipnose,autorretrato,autossuficiente;neo-ortodoxia,neo-helênico,neorromantismo,neossimbolismo;proto-orgânico,proto-história,protorromance,protossolar;pseudo-osteose,pseudo-hérnia,pseudorraiva,pseudossábio.
Nasdemaiscircunstâncias,pelasnovasregras,nãoseempregaohífen,eosprefixosouelementosdecomposiçãoseaglutinamcomoelementoseguinte:
anteato extraoficial pseudociênciaantediluviano extraterritorial pseudoetimologiaantiaéreo infracitado pseudoprofetaantimilitarismo infraestrutura semiáridoarquiduque infravermelho semibárbaroarquioligarca intracraniano semideusautoanálise intramuros semimortoautobiografia intraocular sobretaxaautocrítica intravenoso sobreunha
autodefesa neoacadêmico supracitadoautodidata neoclássico supramencionadoautolotação neocriticismo supraoccipitalcontragolpe neogramático ultraconservadorcontraindicado neolatino ultracorreçãocontratorpedeiro neotomismo ultraotimistacontraveneno protoevangelho ultravioletaextrafino protomártirextralinguístico protovértebra
OBS. 1: Confundindo o elemento de composição auto- com a reduçãohomônima de automóvel, o Vocabulário engloba a ambos na mesma regra.Portanto:autoestrada,auto-ônibus,autolotação,autoviação.
OBS. 2: Nalgumas palavras, como protorganismo, o o final do prefixo seelide,dando-seaaglutinação;noutras,alémdaforma-íntegra,oVOLP consignatambém a forma aglutinada: pseudoartrose e pseudartrose, pseudoestesia epseudestesia, pseudo-ofite e pseudofite. Isso acontece também com outrascomposições, como termoelétrico e termelétrico, eletroencefalograma eeletrencefalograma,etc.
PREFIXOS E ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO TERMINADOS EMCONSOANTE
1°GRUPO(4):
4terminadosem-r:ciber-,hiper-,inter-,super-.
REGRA:Pedemohífenapenasquandoseguidosdeher.
Exemplos:super-homem,super-requintado;inter-resistente,inter-hospitalar,
hiper-realista,hiper-honesto,ciber-rede.
Nosdemaiscasosnãoseusaohífen:superabundante, superdotado, interestadual, internacional,
hiperestesia,hipertrofia,ciberespaço,ciberpirata.
OBS. 1:OAcordoOrtográfico de 1990menciona neste caso apenashiper-,inter-esuper-,noentanto,ousofrequentedoelementodecomposiçãociber-emnossostempos,referenteaocampodacibernética,justificaincluí-loaqui.
OBS. 2: Poder-se-ia considerar também, dentro da mesma regra e com asmesmasaplicações,opoucousadoprefixonuper-,quesignifica‘recentemente’,‘hápoucotempo’.
2ºGRUPO(1):mal-.
REGRA:Pedeohífenquandoseguidodevogalouh.
Exemplos: mal-acabado, mal-agradecido, mal-assada, mal-assombrado, mal-educado, mal-estar, mal-humorado, mal-ajambrado.
Nos outros casos não ocorre o hífen: malcriado, malfazejo, malferido,malgrado,malmequer,malquerença,malquisto,malsão,malsoante,malversar,malvisto.
3.ºGRUPO(1):bem-.
REGRA:Emprega-seohífen“quandoformacomoelementoquese lhesegueumaunidadesintagmáticaesemântica”.
Exemplos:bem-amado,bem-aventurado,bem-casado,bem-comportado,bem-educado,
bem-humorado,bem-estar,bem-parecido,bem-soante,bem-falante,bem-vindo,bem-sucedido.
Mas:bendito,bem-dizerebendizer,benfeitor,benfeitoria,bem-querençaebenquerença,bem-quererebenquerer,benquisto.
Repare-se que bem e mal, usados como advérbio, numa frase, não seaglutinam,nemseseparamcomhífen:
“Gostodecarnemalassada.”[Compare:“Amal-assada(=fritadadeovos)estavadeliciosa.”]
“Umrecadomalentendidonãopodeserbemtransmitido.”[Compare:“Porummal-entendido(=equívoco)quasehouveumatragédia.”]
“Trazoscabelosbem(oumal)arranjados.”
4ºGRUPO(2):circum-epan-.
REGRA:Usa-sehífenquandoosegundoelementocomeçaporvogal,h,moun.
Exemplos:circum-escolar, circum-hospitalar, circum-murado, circum-
navegação; pan-americano, pan-helênico, pan-mediterrâneo, pan-nacional.
Mas:circumpolar,circumpolaridade;pangermânico,pantelegrafia.
OBS.:Emmuitoscasos,oprefixocircum-,quandoseaglutinacomosegundoelemento, adquire a forma circun-: circuncircular, circungirar,circunvizinhança,circunvolver,etc.
5.ºGRUPO(4):
4terminadosem-b:ab-,ob-,sob-esub-.
REGRA: Pedem o hífen quando seguidos de elementos começados por r queiniciesílabaoub(VOLP).
Exemplos:ab-reação, ab-reptício,ab-rogação, ab-rogar, ab-rogatório; ob-
repção,ob-reptício,ob-rogação,ob-rogar;sob-roda,sob-rojar; sub-raça,sub-região,sub-reino,sub-rogar;sub-base,sub-borato.
OBS.1:OVOLPregistratambém,alémdeab-rupto,aformaabrupto.OBS. 2:OAcordoOrtográficonão incluina regraparausodohífencomos
prefixosterminadosembacondiçãodequeosegundoelementocomececomh.Especialmentenocasodesub-(oVOLPnãoregistraocorrênciascomosoutros
prefixos,anãoserabhenry),numareaçãoàrepugnânciaquenoscausamformascomo subepático, subumano, subumanidade, subirsuto, subíspido, o VOLPregistra igualmente sub-hepático, sub-humano, sub-humanidade, sub-hirsuto,sub-híspido.Nãoregistrasuborizontenemsuborizontal(massimsub-horizonteesub-horizontal).
Sem o hífen noutros casos: subauricular, subestelar, subintenção,subdiretor,subsecretário,subdesenvolvido,subperíodo,etc.
6.ºGRUPO(1):ad-.
REGRA: É seguido de hífen quando antes de r que inicie sílaba ou d: ad-digital,ad-referendar,ad-renal,ad-rogar(ederivados),ad-rostral.
PREFIXOSQUESEMPRESESEPARAMPELOHÍFEN
Consagradospelousocomohífen,assimconservaoAcordoOrtográficode1990 os seguintes prefixos: além-, aquém-, recém-, ex- (“com o sentido decessamentoouestadoanterior”);vice-eseusinônimoarcaicovizo-;sota-esoto-;pós-,pró-epré-(quandoacentuados);sem-.
Exemplos:além-fronteiras, além-mar, além-túmulo; aquém-fronteiras;
recém-casado, recém-chegado, recém-nascido, recém-vindo; ex-aluno, ex-deputado, ex-diretor, ex-presidente; vice-almirante, vice-presidente, vizo-rei; sota-capitânia, sota-piloto, sota-vento; soto-soberania; pós-datar, pós-dorsal, pós-glacial, pós-operatório; pró-democracia,pró-soviético;pré-agônico,pré-aviso,pré-escolar,pré-histórico,pré-natal, pré-nupcial, pré-romano; sem-cerimônia (s.f.),sem-deus,sem-dita,sem-fim, sem-fio, sem-justiça (s.f.), sem-modos,sem-nome, sem-número, sem-par, sem-partido, sem-pátria, sem-pudor, sem-razão (s.f.), sem-sal, sem-termo, sem-trabalho, sem-vergonha,sem-vergonhez(a),sem-vergonhice,soto-por.
Nãofaltamasexceções:alentejano(deAlentejo),sotaventear.Repare-se ainda que, referidos a substantivos próprios, além e aquém se
escreviam separadamente, “porque não constituem unidade semântica”(Formulário Ortográfico, § 49, 2°, obs. 1.ª), Exemplos: além Andes, aquémAtlântico. Mas o Acordo Ortográfico de 1990 (Base XV, 5º) modificou essaregra, e exemplifica: além-Atlântico, aquém-Pireneus. Entretanto, Alentejo seescreveaglutinado.
Quantoapos-,pre-epro-inacentuados,éprecisoadvertirseapalavraquesecompõedeumdessesprefixoséounãoantiganalíngua:seforantiga,oprefixoéátono e aglutinado ao radical: pospasto, pospor, pospositivo; preanunciar,preconceber, predestinar, predizer, predomínio, preestabelecer, preexistente,prefigurar, pregustar, prenunciar, pressentir, pressupor, pretônico, prever,previsível; procônsul, propugnar, prorrogar, prorromper. Observe-se que oVOLP registra, sem qualquer esclarecimento, preocupação e pré-ocupação,pretônicoepré-tônico.
PREFIXOSCO-ERE-
AntesdoAcordoOrtográficoedapublicaçãodaquintaediçãodoVOLP,eradifícilterumaorientaçãoclaraquantoaoempregodohífennoscompostoscomoprefixoco-.OPequenoVocabulárionãoformulavaqualquerregraaseurespeitonas “Instruções”: limitava-se a registrar, com ou sem hífen, os vocábulos deleformados. E a primeira impressão era de perplexidade: co-administrar,coadquirir, co-educação, coexistência, co-inquilino, coirmão, co-herdar,colimitar,co-participar,coonestar,co-responsável,correligionário,etc.
OVocabulário daAcademia das Ciências de Lisboa, em que se baseara onosso,tentavaumajustificaçãoteórica:
“É seguido de hífen, por ter evidência semântica especial, quando, com osentidodeapar,seligaaelementosmorfologicamenteindividualizados.”Comose vê, de pouco nos servia a regra. Parece-nos que a antiguidade do termo nalíngua,eoconsequenteusoaglutinado,équenortearaosvocabularistasdalémedaquém-mar.NoVOLP há uma predileção avassaladora para a aglutinação doprefixoco-:
coabitar cofiador coobrigarcoagente cofundador coocuparcoagir cogerir cooficiarcoagregar coigualdade coonestar
coaluno coincidir cooposiçãocoaquisição coindicar coopositorcoarrendatário coinquilino cooptarcoarticulação coirmão coparceirocoassociado coadquirir coparticiparcoautor cointeressado copartícipecoavalista colateral coperíodocobeligerante colatitude copilotococredor colegatário coprocuradorcodelinquente coleitor coproduçãocodemandante colíder coprodutorcodescobrir coliderança corradicalcodevedor coligação corredatorcodialeto coligar correferircodiretor colimitar corregentecodonatário colitigante corregercoedição colocutor correlacionarcoeditor cologaritmo correlatarcoeducação colongitude correligionáriocoeleitor comandante corresponsávelcoequação comandatário corréucoerdar comediador cossecantecoerdeiro comensurável cossegurocoessência coministro cossenocoestaduano conacional cossignatáriocoeterno conotação cotutelacoexistência conotar cotutorcoextensão coobrigação coutente
OAcordoOrtográficoeasubsequentepublicaçãodoVOLPpropiciaramumasoluçãosimpleseinequívoca–comodeviamtodasser–tantoparaousodoco-como para o uso (não mencionado no Acordo) do re-. Simplesmente, essesprefixosnunca serão seguidos de hifens e sempre se aglutinarão, qualquer quesejaocaso.Atémesmocomoexceçãoàsregrasquepreconizamohífenquandoseguidodehoudevogalidênticaàquelacomqueterminaoprefixo.Mantém-se,nosdoiscasos,aregradeduplicaçãoderedes.
Então:
coexistência, copiloto, coerdeiro (e não co-herdeiro),coobrigação (e não co-obrigação); correlação, cosseno;reorganização, refazimento, reospitalização (e não re-hospitalização), reerguimento (e não re-erguimento), rerratificar,resserrar.
Se todasas regraseusosfossemcoerentesassim,comoseria fácilescrevercorretamente...
ParalelamenteàaplicaçãodasregrasdoAcordoOrtográfico,deacordocoma quinta edição doVocabulário, os elementos de composição ântero-, ínfero-,póstero- e súpero- perderam o hífen e o acento, e se aglutinaram, como nosexemplosabaixo:
ântero-inferior (passou a anteroinferior), ântero-interior (agoraanterointerior), ântero-interno (anterointerno), ântero-lateral(anterolateral), ínfero-anterior (inferoanterior), ínfero-exterior(inferoexterior), ínfero-interior (inferointerior), ínfero-lateral(inferolateral), ínfero-posterior (inferoposterior), ínfero-súpero(inferossúpero), póstero-exterior (posteroexterior), póstero-inferior(posteroinferior), póstero-superior (posterossuperior), súpero-exterior(superoexteterior),súpero-interior (superointerior),súpero-posterior(superoposterior),etc.
PREFIXOSEELEMENTOSDECOMPOSIÇÃOQUENUNCAADMITEMOHÍFEN
Depoisdeestabelecerregrasecontrarregrasarespeitodequandoseutilizaohífen com tais e tais outros prefixos, oVOLP consigna sem hífen, em qualquercircunstância, os compostos com uma série de prefixos, e numerosos radicaisusadosapenascomoelementosdecomposição.Taissão:
1. Prefixos quantitativos e numerais:uni-,mono-, bi-, di-, tri-, etc.;multi-,pluri-,ambi-,poli-,anfi-,hemi-ealgunsmais;
2.Prefixosquenãoconstamdasrelaçõesanteriores,como:apo-,cata-,dia-,
endo-,hipo-,meta-,para-,retro-;
3. Radicais latinos e gregos usados em composição, como, por exemplo:aero-,agro-,alo-,antropo-,audio-,auri-,bio-,braqui-,caco-,cefalo-,cardio-,cloro-,cromo-,denti-,dermo-,electro-,equi-, ferro-, fibro-, filo-, fito-, fono-,foto-,geo-,hetero-,hidro-,homo-,iso-,linguo-,macro-,medio-,meso-,micro-,mini-, morfo-, neuro-, oftalmo-, oleo-, paleo-, psico-, radio-, socio-, tele-,termo-,zoo-,etc.
Algunsexemplos:
unissexual multirradiado apossínclise
monorrítmico plurisseriado catatermômetro
bissemanal ambisséxuo endovenoso
biebdomadário polissíndeto hipossecreção
dissílabo anfiteatro metapsíquico
trirreme hemissecção parassintético
retrovisor cacorritmia radiotelefonia
aeroespacial cefalorraquidiano fibrorradiado
hidrossolúvel cardiorrenal fibrossedoso
homorgânico cardiovascular filarmônico
homossexual cloroanemia filossoviético
isossilábico clorossulfato fitogeografia
linguidentalou cromofotografia fonorreceptor
linguodental cromossoma fotocomposição
macroeconomia minissaia fotossíntese
macrorrino morfo(e)strutura geossinclinal
mediopalatal morfofonêmico heteroinfe(c)ção
mesorrino morfossintaxe heterorgânico
microeconomia neurossífilis hidroelétricoou
microrregião oftalmorragia hidrelétrico
microssulco oleorricinato radiouvinte
aerofotogrametria paleozoologia radiumeral
agroindústria psicopatológico sociocultural
agropastoril psicossocial socioeconômico
agropecuário psicossomático sociolinguístico
alorritmia radiotécnico sociopolítico
antropogeografia dentilabialou teleimpressão
antropossocial dentolabial telessismógrafo
audiovisual dentirrostro termoelétricoou
audiosseletividade dermorreação termelétrico
aurirrubro ele(c)trossíntese termonuclear
bioestatística equissonância termorreação
braquirrino ferrossilício zoogeografia
Se você teve paciência de acompanhar-me até aqui, parabéns! Merece umdoce...
Mas,comonãohámemóriaquegravetodasasregrasecontrarregrassobreoempregodohífen,consultesempre,nadúvida,umdicionáriorecente,como,porexemplo, atualizado pela nova ortografia, o Minidicinário ContemporâneoCaldasAulete.
7.DÚPLICESETRÍPLICES:HÁPALAVRASCOMMAISDEUMAFORMACORRETA
Ouso—quefazanorma—aindanãofixoudefinitivamenteaformadecertosvocábulos; e, enquanto ocorrer mais de uma pronúncia autorizada, é arbitrárioexigiroempregodedeterminadavariante.
Em razão disso, o VOLP consigna numerosas dessas variações possíveis,algumasdasquaisrelacionoaseguir.
1. Um dos casos resulta da pronúncia facultativa de certas consoantes (porexemplo,contacto,tambémproferidocontato,ambasasformasigualmenteboas).Aquivaiumaextensalistadessesvocábulos:
(Registroemprimeirolugaraformaqueconsidero—ouqueoVocabuláriooficialconsidera—preferível.)
acessível/accessível laticínio/lacticínioaspecto/aspeto netuniano/neptunianocepticismo/ceticismo occipital/ocipitalcéptico/cético optimizar/otimizarconjectura(r)/conjetura(r) ótica/ópticacontráctil/contrátil ótimo/óptimocorrupção/corrução perspectiva/perspetivacorruptela/corrutela prospecção/prospecto
corruptível/corrutível prospecto/prospetocorrupto/corruto retrátil/retráctilder(r)elicto/der(r)elito seção/secçãoeréctil/erétil secionar/seccionarespectro/espetro(eseusvárioscompostos,comoespectroscópio/espetroscópio)
septuagenário/setuagenário
estrito/estricto setenal/septenalestupefação/estupefacção setilha/septilhaestupefato/estupefacto /setissílabo/septissílaboexcepcional/excecional setor/sectorexpectativa/expetativa sintático/sintácticoinacessível/inaccessível suntuosidade/sumptuosidadeindene/indemne suntuoso/sumptuosoinfecção/infeção sutil/subtilinfeccioso/infecioso sutileza/subtilezainspeção/inspecção táctil/tátilinspecionar/inspeccionar tatilidade/tactilidadeinsurrecto/insurreto tectônica/tetônicaintelecto/inteleto transacto/transatointerjectivo/interjetivo súdito/súbditojactancioso/jatancioso suscetibilidade/susceptibilidadejactar-se/jatar-se suscetível/susceptívelláctico/lático vindita/vindicta
voluptuoso/volutuoso
São igualmente dúplices as numerosas palavras em que entram os radicaisdactil-eelectr-,quemaiscomumenteseescrevemsemoc,quandodeusogeral:
datilografia/dactilografiadactiloscopia/datiloscopiaelectrocardiograma/eletrocardiogramaeletrólise/electrólisepterodáctilo/pterodátilo
2.Outraocasiãodeocorrênciadeformasduplasetriplasestánafaculdadedeproferirounãodeterminadavogalátona,quepodeserabsorvidapelasuavizinha.Algunsexemplos:
atomoelé(c)tricoatomelé(c)tricocerebrospinal/cérebro-espinhal/cerebrespinhalele(c)troacústico/ele(c)tracústicogeo-história/geistóriahidroálcool/hidrálcoolhidroavião/hidraviãohidroelé(c)trico/hidrelé(c)tricohidroenergia/hidrenergiahipoacusia/hipacusiainferovariado/ínfero-ovariadomacroestrutura/macrostrutura/macrestruturamicroestrutura/microstrutura/micrestruturamicrorganismo/micro-organismoproto-evangelho/protevangelhopseudo-artrose/pseudartrosepseudestesia/pseudo-estesia/pseudostesiatermoelé(c)trico/termelé(c)tricotermoestável/termostável/termestável
3.Um terceiro caso éprovocadopelapossibilidadedevariar aposiçãodasílabatônica:
acrobata/acróbataalbuminúria/albuminuria(eoutroscompostoscomoradical-úria)andreólito/andreolito(eoutroscompostoscomoradical-lito)cerebromalacia / cerebromalácia (e outros compostos com o radical -
malacia)duplex/dúplexestereótipo/estereotiponefelibata/nefelíbataneurópata/neuropata(eoutroscompostoscomoradical-pata)ortoepia/ortoépiaprojetil/projétil(eoseupluralprojetis/projéteis)quadruplex/quadrúplex/quádruplexréptil/reptil(eoseupluralrépteis/reptis)triplex/tríplexxerox/xérox
4. Cabe lembrar também a alternância dos ditongos oi/ou em numerosaspalavras,comoporexemplo:
açoite/açoutecoisa/cousalouro/loiromourão/moirão
5.Têmformadupla,também,unspoucosnomesdeusocultoterminadosem-ne-is,comvariantessemo-neem-e,maisusadas;sirvamdeexemplo:
abdômen/abdomealbúmen/albumealúmen/alumegérmen/germeregímen/regimeêxtasis/êxtaseparêntesis/parêntese
6. Não se podem esquecer alguns plurais duplos e triplos de nomesterminadosem-ão,comoguardiães/guardiões,aldeãos/aldeões/aldeães.Atendênciapopular,nestescasos,édecidirpelopluralmaisfrequente,em-ões,queseadota,aliás,paraaspalavrasintroduzidasmaisrecentementenalíngua,comoexemplificamvagõesecormorões.
8.ASMAIÚSCULAS,AREVERÊNCIAEATRADIÇÃO
Depois da invenção da imprensa, foram-se estabelecendo normas para oemprego das iniciaismaiúsculas, nem sempre uniformes de língua para língua.(Umadelas,oalemão,chegaaoexagerodeescrevercominicialmaiúsculaTODOSossubstantivos.)
Muitoligadoaesseusoestáorespeitoquesempremereceramossuperiores,porpartedosquesesituavamemnívelsocialinferior.
Assim,atradiçãoescritadanossalínguaregistra,emtemposmenosremotos,amaiúsculanosnomesquedesignamaltoscargoscivis—começandocomoReiou o Imperador, até, descendo na hierarquia, oDuque, oConde, oMarquês, oBarão—oureligiosos:Papa,Cardeal,Arcebispo,Bispo.
Essamaiusculização estendeu-se às “formas de tratamento” criadas para osocupantes desses cargos, tanto no tratamento direto, de 2.a pessoa (VossaMajestade, Vossa Alteza, Vossa Excelência, Vossa Senhoria; Vossa Santidade,Vossa Reverendíssima), quanto no indireto, de 3.ª pessoa (SuaMajestade, SuaAlteza,SuaExcelência,etc.),inclusivequandoabreviadas(S.M.,V.Ex.a,etc.).
Modernamente,cadalínguapossuisuasnormas,eosformuláriosortográficos,baseados na tradição, muitas vezes hesitante, dos escritores mais próximos denós, fixaram regras, um tanto incompletas, para o emprego das maiúsculasiniciais.
(Machado de Assis, por exemplo, geralmente escrevia “câmara dosdeputados”, ou “senado”, ou “ministério da agricultura”, ou “imperador” cominiciaisminúsculas.)
Algumas das regras oficiais são tão evidentes que nem precisam ser
lembradas:todossabem,porexemplo,queseusainicialmaiúsculaemseguidaaumponto.Massurgeadúvidaseapalavravemdepoisdedois-pontos.
Nesse caso, deve ser maiúscula a inicial quando se trata de uma citaçãodireta,entreaspas.Umexemplo:
FoiMachadodeAssisquemescreveu:“Omistérioéoencantodavida.”
Mesmoquenãovenhaprecedidadedois-pontos, a frase entre aspas recebeinicialmaiúscula:
Quandoescreveuque“Omistérioéoencantodavida.”,MachadodeAssisestavadefinindooseuprocessocriador.
Todos sabem igualmente que os nomes próprios se escrevem com inicialmaiúscula. Essa expressão “nomes próprios” engloba (segundo critérios nemsempreunânimes):
1.Nomesdepessoas(antropônimos),incluindo-sealcunhas:
OsonhodeAlexandre,oGrande,eradominaromundo.
2.Nomesdeentidadessagradas,religiosas,mitológicas:
Deus,Alá,Jeová,Tupã,Júpiter,EspíritoSanto,NossaSenhora,etc.
ÉdatradiçãoreligiosausarmaiúsculainicialnospronomesreferentesaDeuseaMaria:
AElerogamosenEleconfiamos.ATi(ouaVós,aEla)recorremos.
3.Nomes de lugares (países, cidades, etc.), regiões geográficas, topônimos(mares,rios,lagos,montanhas,etc.);linhasgeográficasimaginárias;logradourospúblicos:
A Espanha e Portugal, situados na Península Ibérica, estãoseparadosdorestantedaEuropapelosmontesPireneus.
OOcidenteeoOrientedevemlutarporumacoexistênciapacífica.O Parque do Flamengo e a Quinta da Boa Vista são duas das
maioresáreasverdesdoRiodeJaneiro.OTrópicodeCapricórniopassapertodacidadedeSãoPaulo.ARuadaQuitanda é dospoucos logradourosque conservam seu
nomeantigo.
OBS.:Háquempreconizequeostermos(emnomesdelugares)queindicamotipodelugar,acidentegeográficoetc.têminicialminúscula:parquedoFlamengo,rua daQuitanda, praça daLiberdade etc.).Genericamente, isso implica que osnomes comuns que acompanham os nomes próprios de acidentes geográficosescrevem-se com minúsculas: o canal do Panamá, a ilha da Madeira, o rioAmazonas,apenínsulaIbérica,ocabodaBoaEsperança,etc.
4.Nomesdeastros,emsentidoamplo:
OSol,estrelade5.agrandeza,pertenceàgaláxiadaViaLáctea,eàsuavoltagiram,alémdaTerra,maisoitoplanetas,omaiordosquaiséJúpiter.
OhomemjápisounaLua.
Quando usados fora do contexto astronômico, Sol e Lua se escrevem comminúsculas:banhodesol,namoraràluzdalua.
5.Nomesdeeraseperíodoshistóricos,épocaseeventosnotáveis:
A Héjira (ou Hégira), a Idade Média, o Renascimento, oQuinhentos (séculoXVI), a IdadeModerna, a Revolução Francesa, aRevoluçãoIndustrial,aGrandeDepressão,aSegundaGuerraMundial,aProclamaçãodaRepública,etc.
Neste item devem incluir-se, com toda a razão, os nomes de movimentosestéticos, filosóficos, políticos, doutrinários, etc., embora muitos, imitando osfranceses,nãosigamestepreceito:
O Classicismo, o Iluminismo, o Romantismo, o Positivismo, oCristianismo,aReformaeaContrarreforma,oNazismoeoFascismo,oMarxismo,etc.
6. Títulos de livros, jornais, revistas e produções do intelecto humano, quetradicionalmenteseescrevememtipodiferente,ogrifo:
Entreasobras-primasdaliteraturauniversaltêmlugarderelevoaIlíada e a Odisseia de Homero, a Eneida de Virgílio, a DivinaComédia de Dante, o Dom Quixote de Cervantes, Os Lusíadas deCamões,oParaísoPerdidodeMílton.
Com asMemórias Póstumas de BrásCubas se inicia a segundafase da obra de ficção de Machado de Assis; à sua primeira fasepertencem A Mão e a Luva, entre outros romances, e ContosFluminenseseHistóriasdaMeia-Noite.
ANonaSinfoniadeBeethoven;AsBodasdeFígarodeMozart;AAdoraçãodosMagosdeLeonardodaVinci.
Embora este preceito seja de lei, muitos não o seguem, especialmente nocampodaBiblioteconomia,apretextodeumapretensauniformidadenasváriaslínguas.Nestecaso,seriamemmaiúsculaaspalavrasiniciaise,naturalmente,osnomes próprios:Memórias póstumas de Brás Cubas, Para falar e escrevermelhoroportuguês,Dicionárioanalógico,etc.
7.Nomesdeinstituiçõespúblicaseprivadas,agremiações,partidospolíticosecongêneres:
Ministério da Educação, Academia Brasileira de Letras,Organização das Nações Unidas, Sociedade Protetora dos Animais,PartidoSocialista, PartidoDemocrático, Fundação deAssistência aoEstudante, Lexikon Editora Digital, Fundação Casa de Rui Barbosa,etc.
8.Altosconceitosreligiosos,nacionaisepolíticos:
AIgreja,aPátria,aNação,oEstado,aDemocracia,oExército,a
Marinha, a Aeronáutica, o Império, a República, o CongressoNacional,oSenado,aCâmara,etc.
Quandousadosemsentidogeralouindeterminado,essesnomesseescrevemcominicialminúscula:
CostaRica,pequenarepúblicadaAméricaCentral,beneficia-sedeumdosmaisaltosníveisdevidadaAméricaLatina.—Ademocraciapodeexistirtantonumarepúblicaquantonumamonarquia.
9.Nomesde“artes,ciênciasoudisciplinas,bemcomoosquesintetizam,emsentidoelevado,asmanifestaçõesdoengenhoedosaber”:
Astronomia,Economia,Informática,Engenharia;Direito,Medicina,História,Letras,Artes,CiênciasHumanas,etc.
10.Nomesdefestasreligiosas:
Epifania,Páscoa,Quaresma,Ascensão,Natal,etc.
11. Substantivos comuns tornados próprios por personificação ouindividuação,eseresmoraisoufictícios:
AAntiguidade,oAmor,oÓdio, aSaudade;aCorte, aCapital,oPoeta(Camões);oLoboeoCordeiro,aCigarraeaFormiga;etc.
12.Nomesquedesignamaltoscargos,dignidadesoupostos:
Presidente da República, Governador, Prefeito; Papa, Cardeal,Arcebispo, Bispo; Embaixador, Chanceler, Ministro, Primeiro-Ministro;Rei,Imperador,Príncipe,Princesa,Duque,Conde,Marquês,Barão,etc.:“OPresidenteKennedyfoiassassinado.”—“ODuquedeWellingtonvenceuNapoleãoemWaterloo.”“OConded‘EucasoucomaPrincesaIsabel”
13.Nasexpressõesdetratamentoereverência,inclusivequandoabreviadas,enostítulosqueasacompanham:
Sr.,Dr.,DD.ouDig.mo,Ex.mo,V.S.a,V.Ex.a,Rev.;MagníficoReitor,Sr.Diretor,MM.JuizdeDireito,SuaAltezaRealoPríncipeX,etc.
“S.Ex.aOMinistrodaCulturavisitouaCasadeRuiBarbosa.”
Estanormaéfrequentementedesrespeitada,porém.
9.ACENTONOÀ:ACRASE
Jásedisse(etem-serepetido)que“acrasenãofoifeitaparahumilharninguém”.Isso reflete, sem dúvida, as lembranças nada agradáveis do tempo de
estudante, com a humilhação de notas baixas causadas ou pela falta ou pelapresençaindevidadeacentogravenoa,usadoparaindicaraCRASE.
Mas o que vem a ser crase? Essa palavrinha de origem grega quer dizer“fusão”, ou seja, “mistura”. Por exemplo, quando digo “Beatriz é uma alunaaplicada.”,oafinaldeumasemisturacomoa inicialdealuna,eoa finaldealuna se funde com o a inicial de aplicada: nessa frase houve, na fala, duascrasesquenãoseassinalamnaescrita,ondeosdoisaapermanecem.
Nestaoutrafrase:“Nãodeuatençãoaestenemaaqueleaviso.”,faz-secrase,na fala, entre a preposiçãoa e oa inicial do pronomeaquele. E neste caso écostume,hoje,escreverapenasosegundoa,emarcaracrasecomacentograve:“Não deu atenção a este nem àquele aviso.” O mesmo ocorre com aquela eaquilo (que,antecedidosdapreposiçãoa, formamcrase e se escrevemàquela,aquilo).
Alémdesteprimeirocasodecrasemarcadanaescrita,háoutromaiscomum:quando a preposiçãoa (que se usa depois de certos verbos e nomes) se junta,numa frase, com o artigo feminino a (ou seu plural as), que se usam antes demuitíssimos substantivos femininos, como “a Faculdade”, “a Bahia”, “asconclusõesdoinquérito”,etc.
Assim,numafrasecomo“—VocêjáfoiàBahia?”,oaseacentuaporqueonomefemininoBahiaseusacomoartigoa(“aBahia”),efoi,formadoverboir,éseguidadapreposiçãoa,comonafrase“VocêjáfoiaoPará?”[Observeque,
sendoParádogêneromasculino,vemantecedidodoartigomasculinoo,quesejunta,masnãosemistura,comapreposiçãoa,dandoacombinaçãoao.]
Senãohouverpreposição,ouseonomefemininonãoseusacomartigo,nãohaverádoisaa, nãohaverácrase, eportantooa não se acentua:“ABahia temmuitosencantos.”[Esseaésimplesartigo.];“VocêjáfoiaBrasília?”[Brasília,emboradogênerofeminino,nãoseusacomartigo:“Brasília(enãoABrasília)temumaarquiteturaoriginal.”;“EstiveemBrasília.”(enuncanaBrasília).]
Vejaoutrosexemplos:
a) “Dirigiram-seà Faculdade.” [Overbodirigir-se pede preposiçãoa, e osubstantivofemininoFaculdadevemprecedidodoartigoa,talcomocolégiotemoartigoo(“Dirigiram-seaocolégio.”)]
b)“Asconclusõesdoinquéritoforamsatisfatórias.”[OadeAsnãoseacentuaporquenãohácrase:aséapenasartigofemininoplural.]
c)“Todosficaramatentosàsconclusõesdoinquérito.”[Oadeàslevaacentoporque houve crase: o adjetivo atentos pede a preposição a, e o substantivofemininoconclusõesseusaaícomoartigofemininodopluralas.]
É preciso observar, ainda, que às vezes o substantivo feminino vemoculto,subentendido:
“PrefiroaUniversidadeFederalàEstadual.”[AntesdeEstadualsubentende-seUniversidade.]
“Nãoaderiuàpropostadospatrões,masàdoSindicato.”[Antesdacontraçãodosubentende-seproposta.](Emcasoscomoeste,quandoosubstantivofemininovem subentendido, a e as não se classificam como artigo, que vem sempreacompanhandoumsubstantivo,mascomopronomedemonstrativo.)
Depoisdestaintroduçãonecessária,umfatoimportantedeveserfixadoantesdemaisnada:
A não ser no primeiro caso que examinamos (preposição a + aquele (ouaquela, ou aquilo), do que resultam as escritas àquele,àquela, àquilo), só ÉPOSSÍVEL A CRASE QUANDO SE JUNTAM, NUMA FRASE, A PREPOSIÇÃO a E O ARTIGOFEMININOOUOPRONOMEDEMONSTRATIVOFEMININOa,PLURALas.
E como essas duas formas do artigo ou pronome só ocorrem antes de (ou
substituindo) substantivosFEMININOS (no caso do pronome, ocultos por estaremsubentendidos),fica-nosfácilestabeleceroscasosemqueNÃOPODEhavercrase,eemque,portanto,NÃOseacentuaoa:Vejaoquadrodapágina61.
ACRASEFACULTATIVA
Em alguns casos, pelo fato de ser opcional o uso do artigo antes de certaspalavrasfemininas,tambémseráfacultativaacrase,seocorrerapreposiçãoa.
1. Antes dos pronomes possessivos minha(s), tua(s), sua(s), nossa(s),vossa(s),ficaaogostodofalanteusarounãooartigoa,as:tantoécorretodizer“Minhaterratempalmeiras.”,semartigo,como“Voucantaraminhaterra.”,comartigoa(talcomoéindiferentedizer“meupaís”ou“omeupaís”).
“Voltareiafinalaminhaterra.”(talcomo“ameupaís”),ou“Voltareiafinalàminhaterra.”(talcomo“aomeupaís”).
“Prestavaatençãoa suavoz.” (como“a seucanto”),ou“Prestavaatençãoàsuavoz.”(como“aoseucanto”).
“Aderiuanossacampanha.” (como“anossopartido.”),ou“Aderiuà nossacampanha.”(como“aonossopartido”).
2.Conformeogosto,aintimidade,ouaregiãodofalante,évariávelousodoartigoaantesdesubstantivosprópriosfemininosdepessoa:Maria,ouaMaria(talcomoJoãoouoJoão).
Por essemotivo, é tambémvariável a ocorrência de crase antes dos nomesprópriospersonativosfemininos,quandoprecedidosdapreposiçãoa:
“Quando morreu Carolina, sua esposa, Machado de Assis dedicou-lheadmirávelsoneto,intitulado‘ACarolina’.”
“Abraços à Diana.” (Presume-se intimidade.) “Deu uma lembrança aCatarina,suasecretária.”
3.Numoutrocaso,aexistênciadavarianteatéaparaapreposiçãoaté,emmuitos casos indiferente, torna opcional a crase, quando essa preposição vemseguidadea,asoudeaquele(s),aquela(s),aquilo:
“OraiaatéA(ouÀ)janeladaesquerda,oraatéA(ouÀ)dadireita.”“FoiatéAS(ouÀS)últimasconsequências.”“AtéA(ouÀ)vista!”
“OhomemjáfoiatéA(ouÀ)Lua.”
QUADRO-RESUMODOSCASOSEMQUENÃOSEACENTUAOACASOS EXEMPLOS
1.º–Antesdesubstantivosmasculinos:EXCEÇÃO:Quandosesubentendeàmoda(de);àmaneira(de);faculdade,universidade,empresa,companhia:
andarapé;máquinaavapor;vendasaprazo;caminhõesafrete;dinheiroarodo;viagemaPortugaleaSãoPaulo;aJoãodaSilva.PoetaàOlavoBilac;Vestir-seàPierreCardin;RequereuumdiplomaàCândidoMendes;ConcederprivilégioàVolkswagen.
2.º–Antesdeverbo: demorouachegar;aprendeualer;condiçõesacombinar;casoaestudar;atransportar;arecolher.
3.º–Antesdoartigoindefinidoumaedospronomesquenãoadmitemoartigoa(pessoais,detratamento,indefinidos,demonstrativos,relativosque,quem,cujo):
Nãomesubmetoaumaexigênciadessas;amim;aela;asi;aV.S.ª;aV.Ex.ª;anenhumaparte;acadauma;aqualquerhora;aumahoraqualquer;aninguém;anada;acertahora;aessahora;aquemrespeito;acujaautoridademesubmeto;aquemerefiro.
4.º–Antesdenumerais: de11a20;de1939a1945.5.º–Entresubstantivosiguais: faceaface;gotaagota;departeaparte;corpoa
corpo.6.º–Quandoestásozinhoantesdepalavranoplural: aobras;amatériasdifíceis;apessoasilustres;a
consideraçõesvariadas;aconclusõesfavoráveis;aforçasocultas.
7.º–AntesdeNossaSenhoraedenomesdesantas:
ApelavaaNossaSenhoraeaSantaBárbara.
8.º–Depoisdepreposições(ante,após,com,conforme,contra,desde,durante,entre,mediante,para,perante,sob,sobre,segundo):
anteaevidência;apósasaulas;conformeaocasião;contraamaré;desdeavéspera;duranteaaula;entreasárvores;medianteaforça;paraapaz;peranteasociedade;sobafiscalização;sobreaquestãodopetróleo;segundoalei.
9.º–Antesdapalavracasaquandoserefereaoprópriolar:
VoltouacasaafimdeapanhardinheiroparairàCasaMatos.
10.º–Antesdapalavraterraquandoseopõeabordo:
Logoqueonavioatracou,osmarujosdesceramaterra.
11.º–Quando,antesdesubstantivofeminino,sesubentendeoartigoindefinidouma:
Estavaentregueaterríveldepressão;Procedeu-seaminuciosabusca.
12.º–Antesdenomesdelugarquenãoadmitemoartigoa:
FuiaBrasília,aFortaleza,aBelém,aNatal,aRecife,aMaceió,aRoma,aParis,aLisboa,aLondres,aRoraima.
ASLOCUÇÕESFORMADASCOMSUBSTANTIVOSFEMININOS
Existem em nossa língua numerosas locuções (adverbiais, prepositivas econjuncionais) formadas com a preposição a e substantivo feminino. E desdetemposantigossevêmusandocomacentonoa (ou,maisantigamente,comdoisaa, quando não era generalizado o uso dos acentos), tais como à custa de, àespada,àfome,àforça,àtoa,àvela(escritaaavelaemCamões),àscegas,àsvezes,etantasmais.
Algunsgramáticos(enãogramáticos...)brasileirostêmdiscutidoaexistênciadecraseemalgumasdessaslocuçõesporque,comparando-ascomoutrasemquefiguramsubstantivosmasculinos,nãoencontramaíoartigodomasculino,comoaremo,aferro,avapor.
Esquecem-se,porém,deumfatoimportante,decisivomesmo:osportuguesesacentuam o a quando o pronunciam aberto (como em à vela, à fome), comoacontecequandohácrasededoisaa,aopassoquenoutroscasos,emqueoaépreposiçãoouartigo,pronunciam-nocomtimbrefechado.Dessemodo,jáquenósbrasileiros, emqualquercaso,pronunciamosde igualmaneiraà oua, devemosguiar-nos,naescrita,pelapronúnciaportuguesa.
Estãonestecaso,entrealgumasoutras,asseguintes:
àbaila(=apropósito)àbeçaàbeiradeàbocapequena(=emvozbaixa,emsegredo)àcatadeàchaveàcontadeàcunha(muitocheiodegente)àderiva(=semrumo)àdireitaàdistânciaàescutaàespreitaàesquerdaàexceçãodeàfaltade
àfartaàfeiçãodeàfinaforçaàflorde(=àsuperfíciede)àfome(defome,maspelafome,comartigo)àforça(de)àfrancesaàfrente(de)àfrescaàgandaia(=semdestino)àgarra(=àderiva)àgrande(=àlarga)àguisade(=àmaneirade)àimitaçãodeàlargaàluz(“daràluz”=ter[umfilho])àmãoàmaneiradeàmatroca(=semrumo)àmedidaqueàmercêdeàmíngua(=empenúria,namiséria)àmínguade(=àfaltade)àminutaàmoda(de)ànoite(denoite,maspelanoite,comartigo)àpaisanaàparteàpressaàprimeiravistaàporfia(=emdisputa)àprocuradeàproporçãoqueàpuridade(=emparticular,emsegredo)àqueima-roupaàreveliaàrisca
àroda(de)àsaciedade(=atémaisnãopoder)àsemelhançadeàsocapa(=disfarçadamente)àsoltaàsorrelfa(=furtivamente)àsorteàtardeàtoaàtodaàtonaàtraiçãoàtripaforra(=àlarga,emgrandequantidade)àúltimahoraàuma(=unanimemente,conjuntamente)àunhaàvacafriaàventura(=aoacaso)àvista(de)àvivaforçaàvoltadeàvontadeàsapalpadelasàsavessasàsboasàscarreirasàscegasàsclarasàsdireitasàsescondidasàsfurtadelasàsmoscasàsocultasàsordensàstontasàsturrasàsvezes(=porvezes,algumasvezes;nãoconfundacom“fazerasvezesde”,
quesignifica“desempenharasfunçõesde“)
ALGUMASDICASPARAACENTUARCORRETAMENTEOA
Quando se trata de nomes próprios de lugar, é indispensável verificar se onomeéfemininoeseéusadocomoartigoa,poissomentenestecasoépossívelocorreracrasecomapreposiçãoanterior.
Assim,usam-secomartigoosnomesdoscontinentesedamaioriadospaíses;algunsestadosdoBrasil;nomesdeilhas,algunsnomesdebairros:
aAmérica,aEuropa,aÁfrica,aÁsia,aOceânia,aAntártida,aAustrália,a Espanha,a França, a Alemanha,a Inglaterra, a Itália,aRússia,aSuécia,aDinamarca,aNoruega,aArgentina,aColômbia,aVenezuela, a Nicarágua, a Guatemala, as Guianas, as Antilhas, asFilipinas,aChina,a Índia, a Arábia,a Etiópia, a Guiné, a Líbia,aÁfrica do Sul, a Paraíba, a Bahia, as Malvinas, a Groenlândia, aSardenha,aSicília,aCórsega;aGávea,aPenha,aTijuca.
Sem artigo, alguns nomes de países, nomes de estados e cidades, algunsnomesdebairros:
Angola, Andorra, Malta, Honduras, Cuba, Costa Rica, Lisboa,Madri,Barcelona,Paris,Roma,Atenas,Haia;Alagoas,MinasGerais,Sergipe,SantaCatarina,Roraima;Manaus,Fortaleza,Vitória,Curitiba,Florianópolis,Brasília;Copacabana,Ipanema.
Naprática,sevocêtiverdúvida,façaoutrafrasecomomesmonome,usandouma das preposições de, em, por, para. Se, na frase, aparecerem apenas aspreposições,ésinaldequeonomeemcausanãoadmiteoartigoa,eportantonãohaverácrase; se, aocontrário, surgiremascombinaçõesoucontraçõesda, das,na,nas,pela,pelas,paraa,paraas,ficaevidentequehaverácrase,eportantooaseacentua.
Alguns exemplos mostram que a nossa dica funciona. Imaginemos que suadúvidaestáemcompletarcomaouàafrase:
Quemembocavai...Roma.Usando-seapreposiçãoparateríamos:“QuemtembocavaiPARARoma.”
Comoutraspreposições:“VeioDERoma.”,“EsteveEMRoma.”
TudoprovaqueRomanãoseusacomoartigoa; logo,a frasecorretamenteescritaserá:
“QuemtembocavaiaRoma.”Oa,comopreposição,nãolevaacento.
Outroexemplo:
“OPresidentevoltou...Brasília.”(aouà?)Usando-seoutraspreposições:“OPresidentevoltouPARABrasília.”“OPresidenteviajouontemDEBrasíliaparaoRio.”
Comosevê,sóocorremaspreposiçõessimples,sinaldequeonomeBrasílianãovemprecedidodoartigoa.Afrasecorretaserá,portanto:
“OPresidentevoltouaBrasília.”
Maisexemplos:
“OPaparegressouàItália.”(Compare:“RegressouparaaItália.”,compreposiçãoeartigo.)
“Chegaremos amanhã à Espanha.” (Compare: “Chegou ontem daEspanha.”,tambémcompreposiçãoeartigo.
Tenhasempreemvista,portanto,estascorrespondências:
acorrespondeaDE,EM,PARA,POR;à(ouàs)correspondeaDA,DAS,NA,NAS,PARAA,PARAAS,PELA,PELAS.
Cumpre lembrar, por fim, que osmesmos nomes de lugar que não admitemartigo quando desacompanhados de adjuntos, passam a exigi-lo quando vêmseguidosdeumadjuntolimitador,especificativo:
aRomadosCésares;aParisdaResistência;aBrasíliadeJuscelino.
Nessecaso,quandoprecedidosdapreposiçãoa,dá-seacrase:
“PrestouhomenagemÀParisdaResistência.”“Dedicava-se,nosseusestudos,ÀRomadosCésares.”“AludiacomsimpatiaÀBrasíliadeJuscelino.”
Esseprocessodesubstituiçãodoaporoutraspreposiçõesé,aliás,omelhorindicadordaexistênciaounãodecrase:
Com a palavra casa, por exemplo, na acepção de “lar”, “morada”, é fácilverificaraausênciadoartigoa:
“Saídecasacedo.”,“Ontemnãodormiemcasa.”,“Voltelogoparacasa.”
Éporissoquenãoseacentuaoaemfrasescomo:
“Deregressoacasa,ofilhopródigofoirecebidoemfesta.”“Voltouacasaparaapanharosdocumentosdocarro.”
Mesmona acepção de “lar”, porém, a palavracasa, quando seguida de umadjuntodeposse,vemprecedidadeartigoa:
“FezumavisitasentimentalÀcasapaterna.”(Compare:“VoltoucomovidoDAcasapaterna.”)
“VouÀcasadeJoão.”(Compare:“VeioDAcasadeJoão.”)
Casosemelhanteocorrecomapalavra terra:namaioriadassuasacepções,usa-secomoartigoa,quesecraseiacomapreposiçãoa:
“Voltouàterraondenascera.”;“Oagricultortemapegoàterra.”;“docéuàterra”.
Quando,porém,seopõeabordonãoadmiteartigo,nemcrase:
“Logoqueonavioaportou,osmarinheirosdesceramAterra.”(Compare:“Estiveramemterrapoucashoras.”)
Depoisdestaenxurradadeexemplos,vocêestaráprontoasubmeter-seaumditado,doqual,semdúvida,nãosairáhumilhado...
FALE(EESCREVA)CORRETAMENTEASPALAVRAS
10.EVITANDODEFORMAÇÕES
Sãocomuns,principalmenteentreaspessoasmenosinstruídas,deformaçõesdevária natureza, devidas ora a falsas aproximações comoutras palavras ou comelementosformadores,oraasimplificaçõesinadequadasatermoseruditos,oraacertastendênciasdapróprialíngua,oraaindaaoutrosfatores.
Assim, para exemplificar, alguns escrevem advinhar em vez do corretoadivinharporacharem,numaultracorreção,queesse i teria sidoumacréscimoindevido para desfazer o grupo dv (que aí não existe!), como em advogado,quandonaverdadeo radicaldapalavra é -divinh- (variantede -divin-, que seencontra emdivino).Tambémescrevem incorretamenteprevilégio, em lugar docorretoprivilégio,julgandoquesetratadoprefixopre-,queaínãoaparece.
Paraevitarquevocêcometadeformaçõesdessetipo,eoutrasmais,percorraarelaçãoaseguir,procurandogravara formacerta,paraaqualchamoaatençãocomodestaqueemoutrotipo,buscandomostrar,quandocabível,asuaformação,oqueajustifica.Oquantopossível,evitoescreverformaserradas.
A correta pronúncia dos fonemas recebe o nome de ORTOEPIA (em gregoorthoepeia, de orthos, “direito”, “correto”, e epos, “palavra”, mais sufixo),palavra que também possui a forma ORTOÉPIA, menos consentânea com a suaorigem,jáqueaoditongoeicorrespondeumilongo.
abóbada,comaenãoonapenúltimasílaba.advocacia,comc,enãog,porserpalavradeorigemculta.advogado,semeentreodeov.adivinhar:oradicalé-divinh-.aforismo,com-ofinal,emboramuitaspalavrasdeorigemgregaterminemem-a.antediluviano: o prefixo é ante- que indica anterioridade, e não anti-, que
exprimeoposição.aeroplano:o1.ºradicalé-aer-,quequerdizer“ar”.babadouroebebedourotêmosufixo-douro,queindicao“lugar”(ondesebaba
oubebe),enão-dor,queindicao“agente”.beneficenteseescrevesemidepoisdoc(etambémbeneficência).bicarbonato: observe o radical -carbon-, evitando uma inversão indevida das
suasletras.bugiganganãotemndepoisdoi.cabeleireiroéformadodecabeleira,porissoconservaoidestacado.caramanchãoseescrevecomumsór.cadernetaéformadadecaderno;daíaposiçãodor.calidoscópio émelhor formadoquecaleidoscópio, poisoditongogregoei se
reduznormalmenteai.cataclismoémaisumapalavradeorigemgregaterminadaemo.caranguejonãotemiantesdoj.cócorastemona2.ªsílaba.coradouro,comosufixo-douro,éolugarondesepõearoupaacorar.Asformas
quaradorequaradourosãopopulares.dentifrício se compõe dos radicais dent(i) e -fríc-, o mesmo de fricção,
friccionar.Atentenaposiçãodor.descortinonãotemiantesdoofinal.disenteria é formada com o prefixo dis- (“mau funcionamento”) e o radical -
enter-(“intestinos”).dignitáriotemidepoisdon,enãoa.entretelaseformadeentre-+tela.Nãoinvertaaposiçãodor.espocarnãotemudepoisdoo.
exprobrardevemantero2.ºrdoétimolatino,emborahajatendênciadesuprimi-lo.
figadaltemoradicaldefígado.fratricídioconservaogrupotrdoseuétimolatino.frustrardeveescrever-secomrdepoisdot.GalizaéaformaportuguesaparaaregiãodaEspanhaondesefalaogalego.(Em
castelhanoéGalicia.)hilaridadenãotemedepoisdo2.ºi(destacado).infligir(“impor”)nãodeveconfundir-secominfringir(“transgredir”).inteligívelconservaoidaorigemlatina.irascíveléaquelequeépropensoàira:temumsór.lagartixa,derivadodelagarto,temorantesdot.legiferar,aocontráriodoseusinônimolegislar,nãotemsapósoi.manteigueiraderivademanteigaeconservaoida2ªsílaba.meritíssimoconservao1.ºidaformalatina.meteorologiaéderivadodemeteoro,edeveconservarasequência-oro-.mortadela,empréstimodoitaliano,nãotemndepoisdoa.muçulmanotemoldepoisdo2.ºu.opróbriotemdoisrr.pantomima,commnasílabafinal,temomesmoradicaldemímica.paralelepípedo,dolatimparallelepipedu,conservaasílabaledobrada.percalço,“transtorno”,“estorvo”,temasequênciaerna1.ªsílaba.perscrutarconservaasequênciaerna1.ªsílaba,doprefixolatinoper-.Oradical
-scrut-éomesmodeescrutínio.prazeroso,derivadodeprazer,nãotemina2.ªsílaba.presságio,comdoisss,paraindicarapronúnciacorreta.problema,temrna1.ªsílaba.próprioconservaortambémna2.ªsílaba.protagonista:oada2.ªsílabaprovémdoradical-agon-.prostrartemrdepoisdot.reivindicaçãoprovémdolatimreivindicatione,“reclamaçãodacoisa”.salsichatems,enãoch,na2.ªsílaba.suadourotemosufixo-douro,enão-dor.verossímil(everossimilhança,verossimilhante),comssparaindicarapronúncia
aconselhável.xifópagoforma-secomosradicaisdeorigemgregaxifo-,“apêndicexifoide”,e-
pago,“unido”,“ligado”.
11.EVITANDOSILABADAS:SAIBAQUALASÍLABATÔNICA
Parece exagero dizer da sílaba tônica que é a alma da palavra. Mas seobservarmos a evolução de uma palavra do latim falado para o português, averificação se impõe: por maiores que sejam as alterações fonéticas sofridas,mantém-seasílabatônica.Vejaalgunsexemplos:
Otratamentomedievallatinovostramercede(pronunciadocomosefosseumasó palavra, vostramercede) sofreu na boca do povo, através dos tempos, umasériedetransformações:vossamercê,vossemecê,vosmecêatéreduzir-seavocê(emesmoacê,nafalaapressadaevulgar,emfrasescomo“—Cê sabia?”,“—Cêébobo!”).Comtodasessasmodificações,persistiuasílabatônicace!
Incredulu perdeu o d e o l, porém manteve a sílaba tônica na resultanteincréu,hojemenosusadaqueaformacultaincrédulo.
Córrego reduz-se, na fala popular, a corgo, tal como música a musga ecócegaacosca(dondecosquinha),sempremantendoamesmasílabaforte.
Já empalavras entradas emportuguêspor via escrita (V. o capítulo “Nossaherança latina”), como em latim não se usavam os nossos acentos, por vezeshouvedeslocamentodatônica.Algunsexemplos:
limite,proparoxítonoemlatim(sílabatônicali),tornou-separoxítono:limite.(O mesmo latim limite, por via normal, falada, produziu linde, com o mesmosentido de “limite”, como você poderá ver num dicionário etimológico,conservando,nestecaso,asílabatônica.);
oceanu, também proparoxítona em latim, deu-nos oceano, por via escritaculta,commudançadasílabatônica;
pântanotevedeslocadaasílabatônica,poisnolatimmedievaleravocábulo
paroxítono,pantanum.Sãomuitososexemplos,masestesnosbastamporora.O que mais importa, porém, é ensinar-lhe a pronúncia certa de numerosos
vocábulos, na suamaioria eruditos, para que você, ao falar e ao escrever, nãoincorra numa SILABADA (nome que se dá ao erro de prosódia que consiste emdeslocaroacentotônicodeumasílabaparaoutra).
A lista que dou a seguir contém várias palavras de uso em geral restrito àlíngua escrita culta: mas quem sabe se um dia você não vai precisar utilizaralgumadelas?...
[Como nem todas as palavras recebem acento gráfico, a sílaba tônica vemdestacada; nos termos de uso erudito, consigno o significado— uma forma deenriqueceroseuvocabulário.]abside: “recinto em forma de abóbada, de planta circular ou poligonal”; “a
cabeceira do templo onde fica o altar-mor, nas basílicas cristãs”; “oratórioreservado,portrásdoaltar-mor”.
ádvena:“quevemdefora”,“forasteiro”.aerólito:“corpometálicoourochosoque,vindodoespaço,cainasuperfícieda
Terra”;omesmoquemeteorito.aeródromo:“campodeaviação”[Aspalavrasterminadasem-dromo(radicalde
origem grega que significa “corrida”, “lugar para corridas”) sãoproparoxítonas:autódromo,cartódromo,hipódromo.]
aeróstato:“balãooudirigívelmaislevequeoar”[Deveriamserproparoxítonasas palavras terminadas em stato, radical de origem grega que significa“parado”,“estacionário”;masousovemtornandoalgumasparoxítonas,comoéocasodoreostato(v.adiante),termousadoemeletricidadeparadesignaroaparelhoquepermitevariaratensãoelétrica.]
alanos:nomedeumpovoantigoquenoséculoVinvadiuaPenínsulaIbérica.alcíone:avefabulosa,entreosantigos.algaravia:“linguagemconfusa”,“coisadifícildeperceber”.algarvio:“doAlgarve(Portugal).”álibi:“provaqueoréuapresentadequeestavaemlugardiferentedaqueleemque
sedeuocrimeouodelito”.amálgama:“ligausadapelosdentistasparaobturações”;“misturadeelementos
queformamumtodo”.ambrosia:“manjardosdeuses”;“docefeitocomovoseleite”.ambrósia:“gênerodeplantas”.
ânodo: “elétrodo positivo” [Tal como cátodo e elétrodo, é correntementepronunciadopelosusuários,sobretudoosquímicos,comoparoxítono:anodo.)
Andronico(LívioAndronicofoiumdosprimeirosescritoresdelíngualatina.)Antioquia:cidadedaTurquia.aríete:“antigamáquinadeguerra”.arquétipo:“tipoideal”,“modelo”,“padrão”.autópsia (Etimologicamente deveria ser autopsia, prosódia não usada. Outros
dois vocábulos terminados em opsia (-ops- é radical de origem grega quesignifica“visão”)sãobiopsia,geralmentepronunciadobiópsia,enecropsia.)
azáfama: “muita pressa”; “trabalho muito ativo”. A prosódia azafama estágeneralizando-se.
aziago:“azarento”,“agourento”.azimute(termodeAstronomia).Bálcãs:montesepenínsuladosuldaEuropa.banto: raça de negros sul-africanos.A grafiabantu, que pressupõe a prosódia
oxítona,aindahojeéusadaporalgunsautores.barbariaoubarbárie:“atoprópriodebárbaros”.bororo:“indivíduodosbororos,triboindígenadeMatoGrosso”.Aindapersiste
igualmenteaprosódiabororó.caracteres.Nestepluralmantém-seoc,poucousualnosingularcaráter.cateter:“sondacirúrgica”.ciclope:gigantemitológicodeumsóolhonatesta.crisântemo.(Émaiscomumapronúnciacrisantemo.)Dario.Emboraetimologicamenteasílabatônicasejaasegunda,ocorretambéma
varianteDário.desvario.Avariantedesvairoestáemdesuso.Éfeso:cidadedaantigaJônia,nomarEgeu,habitadaporimigrantesgregos.Nela
S.Paulofundouumaigrejacristã.Epifania:oDiadeReis.Epifâniaénomedepessoa.Epiro:regiãodaGrécia.Érato:musadaelegia(“poematernoetriste”),representadacomumalira.Ésquilo:poetagrego.estampido:“estouro”,“explosão”.êxodo:“saída”.Êxodo(commaiúscula)éolivrodaBíbliaondesenarraafuga
doshebreusdoEgito.êxul:“exilado”,“desterrado”.filantropo:“humanitário”.Comotodososnomesterminadosem-antropo(radical
grego que significa “homem”), é vocábulo paroxítono: licantropo,“lobisomem”; misantropo, “que tem aversão à vida em sociedade”;pitecantropo,“homem-macaco”,etc.
fluido(substantivo):édissílaboparoxítono;rimacomcuido;comparecomfluído,particípiodoverbofluir.
fortuito:“queaconteceporacaso”.gárrulo:“palrador”,“tagarela”.Gibraltar:praça-fortenoextremosuldaEspanhaeestreitoentreaEspanhaea
África.grácil: “delicado”, “fino”, “delgado”. (Não é da mesma família de graça,
gracioso!)gratuito:étrissílaboparoxítono.harém:rimacomalguém.hieróglifo:nalinguagemcorrenteéparoxítono:hieroglifo.homilia:“pregaçãoemestilofamiliarsobreoEvangelho”.Tambémseadmitea
pronúnciahomília.homizio:“atodeesconder(-se)dajustiça”;“esconderijo”.horóscopo.ibero.Tambémparoxítonoéceltibero.impudico:“sempudor”.inaudito:“quenuncaseouviudizer”;“extraordinário”.ínterim.Usadonaexpressãonesteínterim(“nestemeiotempo”,“entrementes”).juniores,pluraldejúnior.Asílabatônicaéo.lêvedo:“fermento”.NoBrasilapronúnciacorrenteélevedo.Madagascar.IlhadoOceanoÍndico,naÁfrica,hojeRepúblicaMalgaxe.Nãose
justificaapronúnciacomoparoxítono.mister: “ofício”, “profissão”, “incumbência”, “necessidade”. Usa-se mais na
expressãoémister,“éindispensável”.Nadatemquevercomoinglêsmister,“senhor”(formadetratamento).
necropsia:“examedasváriaspartesdeumcadáver”.V.tambémautópsia.maquinaria.Estaéaprosódiaregistradanovocabuláriooficial;masapronúncia
usualnoBrasilémaquinária.mobiliaria. Prosódia registrada no vocabulário oficial. A pronúncia corrente,
contudo,émobiliária(tambémregistradanoVOLP),talcomoimobiliária).necromancia:“adivinhaçãopelainvocaçãodosmortos”.Variante:nigromancia.nefelibata:“quevivenasnuvens”.Agrafianefelíbatatambémestáregistradano
VOLP.
negus:“antigosoberanodaEtiópia”.Nobel.Nãosejustificaapronúnciacomoparoxítono.novel:“novo”;“inexperiente”.Oceânia.ÉmaisusadaavarianteOceania.ômega: “última letra do alfabeto grego. A prosódia omega é menos
recomendável,emboraessagrafiaestejaregistradanoVOLP.ortoepia: “pronúncia correta dos fonemas”. A variante ortoépia, embora em
desacordocomaetimologia,tambéméusada.pegada:“marcadospés”.perito.Nãotemqualquerjustificativaapronúnciacomoproparoxítono.pletora:“superabundância”,“exuberância”.pólipo. Também se ouve a pronúncia polipo (registrada no VOLP), contrária
emboraàetimologia.prístino:“antigo”,“primitivo”.prógnato: “que tem a mandíbula proeminente”. Embora seja esta a forma
etimológica,ausualéprognato.protótipo:“tipoexemplar”,“modelo”.pudico:“cheiodepudor”.quadrúmano:“quetemquatromãos”.Avariantequadrímanoédeusorestritoà
Zoologia(“quetemquatrotarsosdilatadosemformademão”).Quebrangulo:cidadedeAlagoasondenasceuGracilianoRamos.Quéops:nomedeumreidoantigoEgitoedapirâmidequemandouconstruir.quiromancia:“adivinhaçãopeloexamedaslinhasdasmãos”.recém-.Elementousadoemcompostoscomorecém-chegado,recém-nascido.recorde. (Adaptação do inglês record.) A forma récorde é a que se ouve nos
meiosesportivos.refém.refrega.“peleja”,“luta”.reóstato.Émaiscomumapronúnciareostato(registradanoVOLP).V.aeróstato.revérbero:“resplendor”,“reflexo”.rubrica:“assinaturaabreviada”.ruim.Évocábulodissílabooxítono, reduzidoàsvezes,napronúnciapopular, a
monossílabo,proferidorũi.SalonicaouTessalonica:cidadeeportodaGrécia.Samaria:regiãodaantigaPalestinanotempodeJesusCristo.senatoria. Embora seja esta a forma registrada no vocabulário oficial, a
pronúnciacorrenteésenatória.
Sófia:capitaldaBulgária.Sofiaénomedemulher.Talia:musadacomédia.têxtil.(Alémdeparoxítono,estenometemoetônicofechado.)transido:“trespassado”.transistor.Aformaoxítona(pluraltransistores)éoaportuguesamentonormaldo
inglês.Maiscomumente,contudo,seouvetransístor(registradanoVOLP).ureter: “cada um dos dois canais que conduzem a urina dos rins à bexiga”. A
prosódiauréternãoéaconselhável.xerox.A formaoxítonaéoaportuguesamentonormaldo inglês,queévocábulo
paroxítono, mas de pronúncia bem diversa (aproximadamente zírocs). Aprosódiaxérox,quetambémseouveetemregistronoVOLP,éalgoafetada.
zênite:“opontomaiselevado”,“apogeu”.
PONTUANDO...
12.ALÍNGUAESCRITAEAMELODIADAFRASE:OSSINAISDEPONTUAÇÃO
—Ninguémpodeescrevercomofala—afirmamoslinguistas.—Por quenão?!—contesta JoãodaSilva, admirado.Garanto queomais
humilde(epoucoinstruído)operário,aopegardolápisoudacanetapararedigirumrecadoouumacartadeamor,sentepruridosdeescritor...
Epossoenumerarumasériedemotivos:
1.Emprimeiro lugar,na línguafaladaaspalavrassãoformadasdefonemas—paraosouvidos;nalínguaescrita,deletras—paraosolhos.
2.Nalínguafalada—salvoemcasosexcepcionais—,osinterlocutoresestãopresentes, e alternam-se nos papéis de falante e ouvinte, como geralmenteaconteceduranteumaconversa,umbate-papo;nalínguaescrita,escritoreleitornãoestãoempresençaumdooutro,enãopodehaverdiálogo.
3.Nalínguafalada,alémdaspalavras—elementossonoros—atuatambém
umasériedeelementossuplementares:aexpressãodorosto,osgestos,amímica,a acentuação expressiva de certas sílabas, a entoação oumelodia da frase, aspausas...
Desdeasprimeiras tentativasde transpora linguagemfaladaparaaescrita,tem sido uma permanente batalha a transcrição da “entoação frasal”, com suaspausasesuasinflexõesexpressivas.
Ossinaisgráficosparaissousadosforamsendointroduzidosaospoucos,esónoséculoXIXachamadaPONTUAÇÃOchegouaumasistematizaçãosemelhanteàdehoje.
Na tentativa de reproduzir toda a expressividade da língua falada, osescritoresmodernosprocuramaproveitarnãoapenasossinaisdepontuação,masaindaosrecursosqueatipografiaoferece.Daíautilização—aoladodasaspassimpleseduplas,travessões,parênteses,reticências(?!,!...,!?...)—etodaumagama e tipos variados: o grifo ou itálico, o negrito, as MAIÚSCULAS e osVERSALETES.
Mas são aindamuito limitados, quanto à transposição damelodia da frase,todosessesrecursos:alínguafaladacontinuasendomaisricaeflexíveldoquealínguaescrita...
Uma simples palavra-frase, como “— Você.”, pode conter uma série demensagens diferentes, conforme a situação em que for proferida, com todas asvariaçõesproporcionadaspelaentoação,auxiliadapelaexpressãofacial,gestos,mímica.
A língua escrita, de qualquer forma, com os recursos que lhe são próprios,obtém pelomenos estas variações:—Você. (Que pode ser a simples respostaobjetiva, neutra, a vários tipos de perguntas, como p. ex.: “— Quem vai nafrente?”)
—Você?—Você?!—Você!—Você!...—Você...
E agora você pode imaginar as variadas situações em que essa palavra foiproferidaeaentoaçãoqueacompanhoucadafrase...
Conforme a sua finalidade, pode-se fazer a seguinte divisão dos sinais depontuação:
1. Sinais— mais objetivos— que procuram, antes de mais nada, indicarcorretamenteaspausas:avírgula,opontoevírgula,osdois-pontoseoponto.
2.Sinais—muitasvezessubjetivos—quesugeremaentoaçãoqueoescritorquisdaràfrase:opontodeinterrogação,opontodeexclamaçãoeasreticências.
Há outros sinais, de aplicação convencional, como os parênteses, oscolchetes,otravessão,asaspas.
Não é inútil observar queos sinais indicamSIMULTANEAMENTE as pausas, otomeascadênciasquedãomusicalidadeàsfrases;equepodehaverpausasquenãosecostumamassinalarnaescrita.
Vejamos,umporum,osprincipaissinaisdepontuaçãoesuasnormasdeuso.
AVÍRGULA
A vírgula assinala uma pausa ligeira, com o tom de voz em suspenso, ounitidamenteascendente,aindicaraincompletaçãodoqueseenuncia:nossamenteestásempreesperandoalgumacoisamaisalémdela.
Éassimqueseempregaavírgula:
1.Paraseparara)termoseb)oraçõesemsequência,coordenados,aindaquevenhamligadosporconjunções,quandorepetidas:
a)“Océu,aterra,oventosossegado...”(Camões)“Osdiaspassavam,easáguas,eosversos,ecomelestambémiapassandoa
vidadamulher.”(M.deAssis)“Nãoamavabailes,nempasseios,nemjanelas.”(Idem)“Possuíalavourasdetrigo,linhoearroz.”(ÉricoVeríssimo)(Apresençadaconjunçãoeantesdoúltimotermodispensaavírgula.)
b) “Agarrou-me, abraçou-me violentamente, molhou-me de lágrimas.”(GracilianoRamos)
“Um dia saí aos tombos, esbarrei com um esteio e ganhei um calombo na
testa.”(Idem).(Noúltimoexemplo,nãoseusouvírgulaantesdaúltimaoração(eganhei...),jáqueestápresenteaconjunçãoe.)
2.Paraisolartermosmeramenteexplicativos,entreelesoaposto:“Sete anos de pastor Jacó servia / Labão, pai de Raquel, serrana bela.”
(Camões)“Camilo,maravilhado,fezumgestoafirmativo.”(M.deAssis)“Asestrelas,grandesolhoscuriosos,espreitavamatravésdafolhagem.”(Eça
deQueirós)“Acria,miúda,certamenteficaraparatrás.”(Gr.Ramos)
Seoapostoforenumerativo,emlugardevírgulaseusamdois-pontos:“Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três cousas: olhos,
espelhoeluz.”(Pe.AntônioVieira)
3.Isolaovocativo:“Meninos,euvi!”(GonçalvesDias)“Verdadeisso,vovó?”(MonteiroLobato)Observequenosvocativosqueiniciamascartas(Caroamigo)pode-seusar
indiferentementeavírgula,osdois-pontos—maisaconselhável—oumesmooponto;e,àsvezes,nenhumapontuação.
4. Separa os termos e orações de valor adverbial, especialmente quandodeslocadosdesuaposiçãohabitual(queseriadepoisdoverboquemodificam);dispensa-se,porém,quandootermoédepequenaproporção.Hámuitavariaçãoentreosescritores:
“O Presidente, com sua comitiva, embarcará para o Uruguai, amanhã, noBoeingpresidencial.”
Variante:“AmanhãoPresidenteembarcarácomsuacomitivaparaoUruguai,noBoeingpresidencial.”
“Noseuquarto,deitadodecostas,dentrodeumatendadeoxigênio,Tibério,numsonho induzidopor sedativos, andaperdidoporumacampina imensa.” (É.Veríssimo)
“Aostreze,Jacintamandavanacasa;aosdezessete,eraverdadeiradona.”(M.deAssis)
“Depois,repreendeu-a.”(Idem)
“Depoisfezumgestoincrédulo.”(Idem)Os exemplos poderiammultiplicar-se,muitomais frequentes com a vírgula,
queseusarásemprequesedesejerealce.Repare que, em muitos casos, pela ausência de pausa, não se deve usar a
vírgula,oqueprejudicariaaleituracorretaeosentido:Os brasileiros, sobretudo os do Norte, costumam ser extremamente
hospitaleiros.
5. Há uma série de palavras e expressões de natureza explicativa,continuativa,conclusiva,ouenfáticasdeummodogeral,quecostumamseparar-seporvírgula(ouvírgulas,seintercaladas).Eisalgumasdelas:alémdisso,aliás,asaber, assim, bem, com efeito, como dizer, demais, depois, em suma, enfim,então,istoé,não,nomais,ora,oumelhor,ouseja,outrossim,pensandobem,pois bem, por assim dizer, por exemplo, realmente, sim, etc. Veja algunsexemplos:
Enfim,avó./Emsuma,bailechinfrim./Sim,umdiaheidemorrer./Elas,aliás,nãogostavamdesairdecarro./Comefeito,acartafoidatadade26demarço./Poissim,deixeestar./Bem,omagistradoacabou,vamosembora.
6.Separaosnomesdelugar,nasdatas:RiodeJaneiro,15denovembrode1985.
7.Apesardasopiniõesemcontrário,usa-sevírgulaantesdaabreviaturaetc.Bastaconsultaras“Instruções”oficiais,aprovadasporlei:emmaisde100vezesaísevêessapartículaprecedidadevírgula.Oetc.incluiaconjunçãoe,oquefazalgunsgramáticosconsideraremavírguladesnecessária(comosevêem1a)eb),emboraaregranãoimpeçaseuusoantesdaconjunção,enemmesmoodepontoevírgula.
Masopontoevírgula,deusomaisdifícil,ficaparaopróximocapítulo.
13.ASCADÊNCIAS,OPONTOEVÍRGULAEOSDOIS-PONTOS
Vocêjásabeque,aofalarmos,subidasedescidasdavozmarcamaentoaçãooumelodiadafrase.
Assubidas—naspausasdetomdevozascendente-serepresentamnaescrita,amaiorpartedasvezes,pelavírgula,eindicamqueosentidoestáemsuspensoatéocorrerumadescidamaioroumenordotom:éavezdoponto,oudosdois-pontos,oudopontoevírgula.Observeeste trechodoconto“Acartomante”,deMachadodeAssis:
“Depoisfezumgestoincrédulo:eraaideiadeouviracartomante,que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas;desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro;mas daí apouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns girosconcêntricos... “[As reticências, no fim de um período, tambémindicamtomdescendente,depoisdelevesubida.]
A sucessão de tons ascendentes e descendentes está devidamente marcadapelasvírgulas,pelospontosevírgulasepelosdois-pontos.
Oempregodopontoevírgulavariabastantedeautorparaautor.Podem-se,contudo,estabeleceralgumasnormas:
1.Separaosmembrosdeumperíodomaisoumenoslongo,especialmentese
pelomenosumdelesestiversubdivididoporvírgula(s):
“Entrei apressado; achei Virgília ansiosa, mau humor, frontenublada.”(M.deAssis).
“No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei virembora;sóespereiocasião.”(Idem)
“Adisciplinadeuma tropaé rigorosa;paradirigi-laénecessáriaumasomadeprevisão,decuidados;umapráticaeumaenergiadequesó podem fazer ideia justa os capitães das expedições.” (AfonsoArinos)
2.Separaosváriosmembrosdeumaenumeraçãodescritivaounarrativa:
“Osferiadosdaqueletempoerampoucosebons.O1.ºdejaneiro,parase festejara fraternidadeuniversal,quenãose sabiabemoquefosse,mas,noalvoroçodecomeçaroano,significavaboadisposiçãogeral;21deabril,quenosensinavaamorrerpelaliberdade;/.../14dejulho,vivaaquedadaBastilha; íamossossegadosaté7desetembro,quando nos transportávamos ao Ipiranga e, com Pedro I e PedroAmérico,sacudíamosojugolusitano;/.../detínhamo-nosareverenciaros mortos em 2 de novembro, logo depois era forçoso proclamar arepública, e, ainda bem não era proclamada, escolher-lhe umabandeira, tudo isso num mês excepcionalmente rico: três feriados!”(CarlosDrummonddeAndrade).
3. Separa as orações chamadas ADVERSATIVAS (com as conjunções mas,porém, contudo, todavia, entretanto); observe que, a não ser mas, essasconjunçõesdepreferênciavêmpospostas:
“Sefossesórabugento,vá;maseleeratambémmau,deleitava-secomadorehumilhaçãodosoutros.”(M.deAssis)
“Crêemti;masnemsempreduvidesdosoutros.”(Idem)“Achou que a minha candidatura era legítima; convinha, porém,
esperaralgunsmeses.”(Idem)“NãomepeçatambémoimpériodoGrão-Mogol,nemafotografia
dosMacabeus;peça,porém,osmeussapatosdedefuntoenãoosdoua
ninguémmais.”(Idem)“Nas janelas e ruas estavam muitos dos seus credores; dois,
entretanto,naesquinadobecodasCancelas,perguntaramumaooutrosenãoeratempoderecorreràjustiça.”(Idem)
“Determinou recolhê-lo imediatamente à Casa Verde; deu-lhe,todavia,umdosmelhorescubículos.”(Idem)
“Eratalvezsobreposseavariedadedosadornos;contudo,apessoaqueosescolheradeviatergostoapurado.”(Idem)
É de notar que,mesmo estando subentendida uma conjunção adversativa, aoraçãosepara-seporpontoevírgula:
“Euainda fiqueiespiando,averseelevoltava;nãovininguém.”(Idem)
“Hámuitosmodosdeafirmar;háumsódenegartudo.”(Idem)
4.SeparaasoraçõeschamadasCONCLUSIVAS (comasconjunções logo,pois,então,portanto,porisso,etc.);etambémsubentendendo-seaconjunção:
“Asdoseseramdiáriasediminutas;tinham,portanto,deaguardarumlongoprazoantesdeproduziroefeito.”(Idem)
“Sóummilagrepodiasalvá-la;determinouviraqui.”(Idem)“Tinhaapedranamão,mas jánãoeranecessária; jogou-a fora.”
(C.DrummonddeAndrade).
Jáosdois-pontosassinalamumapausasuspensivadavoz,bemmaisfortequeadavírgula,eemgeraldeentoaçãodescendente;indicam,omaisdasvezes,queafrasenãoestáconcluída.Servem,maisfrequentemente,para:
1.Anunciaraentradadeuminterlocutor:“Jacobinarefletiuuminstante,erespondeu:—Pensandobem,talvezosenhortenharazão.”(M.deAssis)
2.Anunciarumaenumeraçãomaisoumenosextensa:“Naquela noite de lua cheia estavam acocorados os vizinhos na
sala pequena de Alexandre: seu Libório, cantador de emboladas, o
cegopretoFirminoemestreGaudênciocurandeiro,querezavacontramordeduradecobras.”(GracilianoRamos).
3.Anunciarumacitação:“FoiBismarckquemdefiniu:‘APolíticaéaartedopossível.’”
4.Anunciarumaposto,umaconclusão,umaexplicação,umesclarecimento:“E daí veio uma ideia: comparou a vida a um cavalo xucro ou
manhoso.”(M.deAssis)“Contudoumasombraàsvezesnostoldavaaalegria:arecordação
dovigário.”(GracilianoRamos)
5.SubstituiravírgulanaseparaçãodasoraçõesEXPLICATIVASeCAUSAIS,comavantagemdedispensaraconjunção,emmuitoscasos:
“—Podemosentenderisso?—Não:éummistério.”[Subentende-se, depois de Não, uma conjunção como pois, porque.] Igualmentequandosesubentendemas:
“A morte não extingue: transforma; não aniquila: renova; nãodivorcia:aproxima.”(RuiBarbosa)
OVERBO—ALMADAFRASE
14.“NOPRINCÍPIOERAOVERBO”
João da Silva estranhava, sempre que o relia, o início do Evangelho do seuhomônimoSãoJoão:“NoprincípioeraoVerbo”.
“— Por que o verbo?— perguntava a si mesmo. Que tem o verbo de tãoimportanteassim?...”
ÉqueJoão ignoravaque,em latim,verbum (dequeprovémonossoverbo)significa, antes demais nada, “palavra”, significação que, aliás, também existeemportuguês.LáestánoAulete:“Verbo.sm.4.Palavra,linguagem,discurso.”Enaacepção1,comindicaçãoGram.,quequerdizer“termodeGramática”,equetambémjáexistianolatim,define:“Classedepalavraqueexpressaação,estadoou mudança de estado.” E na acepção 2: Em determinadas línguas comcaracterísticasflexionaiseaglutinantes,palavraquepertenceaumparadigmadeformasflexionadasqueexpressam,nestecaso,tempoemodo,pessoaenúmero,etb.vozeaspecto.
Assim, aquele versículo do Evangelho de São João faz referência a JesusCristo,que“existiadesdeoprincípio”equeviriaaomundoexporsuadoutrinapormeioda“palavra”,verbalmente.
ÉoVERBO,semdúvida,apalavraporexcelência,umavezqueindicaoquesepassa nas coisas, dinamicamente: “O voo do pássaro era lindo.” não nostransmite com amesma vivacidade o que sentimos na frase “O pássaro voavalindamente.”,poisonomerepresentaosseresnoespaço,estaticamente,eoverbojá os apresenta no tempo, dinamicamente. Ou, usando o próprio verbo pelosubstantivo,comofazemexcelentesescritores:“Ovoardopássaroeralindo.”
Pode-se afirmar que o verbo é a alma da frase, embora às vezes ocorramfrasesaparentementesemverbo,que,todavia,estásubentendido,enemporissomenospresente:
“—Vocêgostoudofilme?—Muito!(=Gosteimuito!)—EaGretaGarbo?(=EquelhepareceuaG.G.?)—Divina!...”(=Elaestavadivina!...)
VocêpodealegarqueaLinguísticaafirmaexistiremfrasessemverbo,como“Silêncio”— inscrição no corredor de um hospital—, ou “—Depressa!”—frasecomquesepedeurgêncianaexecuçãodeumatarefa.
Maslembro-lhequetambémaíoverboestápresenteemnossoespírito,jáqueentendemos a primeira indicação como “— Faça silêncio.”, “— Fique emsilêncio.”,easegundacomo“—Andedepressa!”,“—Vádepressa!”
Emsuma,todaacomunicaçãohumanagiraemtornodeumverbo.
É o verbo, de todas as classes de palavras, a que apresenta maiorvariabilidade de forma e lhe permite indicar, além do TEMPO (passado oupretérito, presente e futuro), oMODO (INDICATIVO: amo; amava, amei, amara;amarei,amaria; SUBJUNTIVO:ame,amasse, amar); e as três PESSOAS em suasvariações de NÚMERO, singular e plural (amo, amas, ama; amamos, amais,amam);eavoz(ATIVA:amo;PASSIVA:souamado).
Você sabeque todasestas formascitadas (edezenasdeoutras)pertencemaummesmoverbo,amar, umdosnumerososverbos chamados regulares, porqueseguedeterminadomodelo,jáque,emqualquerdesuasvariadasformas,mantémo mesmo radical -am-, o mesmo do substantivo amor, a que se acrescentamdeterminadoselementosdeflexão.
Já outros, os IRREGULARES, apresentam VARIANTES no radical (como fazer,faço,fiz;trazer,trago,trouxe)ounoselementosflexionais(tenho,tinha,tive).
Alguns, tão irregularesquesãochamadosANÔMALOS,apresentamnãovariantes,masradicaisdiferentes,comoéocasodeser(sou,era,fui)ouir (vou,vamos,ia,fomos).
OsverbosmaisfrequentementeusadosemportuguêssãoosAUXILIARES,comosquaisseformamostemposcompostosdavozativa(terehaver:tenho feito,haviachegado)edavozpassiva(ser:souamado,erasamada).Outroauxiliardemençãoobrigatóriaéestar,comqueseformamcertasconjugaçõescompostas(estouamando,estácercadodeinimigos).
Écuriosoqueessesverbosauxiliares,dosmaisusados,sãotodosirregulares,eéindispensávelconhecer-lhesaconjugaçãocompletadostempossimples,quetranscrevemosadiante.
Convém relembrar que, na fala viva do Brasil, o pronome referente à 2.ªpessoadoplural,vós,estáemquasecompletodesuso,epraticamentesóocorrenaslinguagensoratóriaereligiosa.Foradissoésubstituídoporvocês,queexigeoverbonaformade3.ªpessoa.
Nosingular,opronomeda2.ªpessoa,tu,édeusorestritoacertasregiões,ealternacomvocê,muitomaisusadoequelevaoverboparaa3.ªpessoa.
Assim,noPRESENTEDOINDICATIVOaconjugaçãodoverboseré:
eusou,tués/vocêé,eleouelaé,nóssomos,vóssois/vocêssão,elesouelassão.
A 2.ª pessoa tradicional, do singular, tu és, não tem curso geral (mas écorrentemente usada em certas regiões, como, por exemplo, noRioGrande doSul);adoplural,vóssois,estáquase inteiramenteforadeusona línguafalada.Apesar disso, ela vem indicada, uma vez que se encontra em textos religiososconsagrados (“bendita sois vós; “Pai nosso que estais no céu”), em discursosacadêmicos e parlamentares, redigidos na norma culta, e até em autoresmodernos.
AssimcomeçaRuiBarbosaumdiscursoemque,agradecido,invocaaDeus:
“Deus, que me infundistes o amor da beleza, da verdade e dajustiça;quepovoaisdavossapresençaasminhashorasde segurançanavossamisericórdia;quemedescobrisosmeuserros,mereergueisdosmeusdesalentos,meconduzispelovossocaminho:dai-me,agoramaisdoquenunca,oânimodenãomentiraosmeussemelhantes,não
fugiraresponsabilidades.”(3/10/1909)
MachadodeAssis,nosseusromances,frequentementesedirigeaoleitor,orano tratamento tu, ora no vós, como nestas passagens doQuincas Barba, cap.XLIV:
“Nãovadescrerqueadoraquifoimaisverdadeiraqueacólera.““Crede-me:hátiranosdeintenção.”
Tambémnosprovérbios,formasfixasdasabedoriapopular,figuraàsvezesoesquecidovós:
“Nãofaçaisaoutremoquenãoquereisquevosfaçam.”“Fazeiobemquedigo,enãoomalquefaço.”
Eaindamaisrecentemente,numescritortãonaturalcomoRubemBraga,podesurgirinesperadamenteorenegadovós:
“Quandopensoemvós,minhasantigasamadas,agoraqueconheçoBeatriz,tenhopenadoquefuiedoquesois,epelaprimeiravezsinto-me infiel àvossa lembrança.Passai bem,princesas, adeus, pastoras,rainhasdasczardas,deusasqueeuendeuseioutrora,aindahojenãovosqueromal, apenas sucede que sobreveioBeatriz.” (“A inesquecívelBeatriz”,emRecadodePrimavera.)
Emvistadisso,comopoderíamosabandonarovós?Deumahoraparaoutravocêpoderá ser chamadoautilizá-lo.Vamos,pois,
aprendercomo.Assim fica, portanto, a conjugação completa do verbo ser no presente do
indicativo,comsuasseisformas:
eu sou
tu ésele,você é
nós somosvós soiseles,vocês são
Usareiomesmoesquemaparaosdemaisverbos.Antes, porém, de indicar a conjugação regular dos verbos, é indispensável
analisaraestruturadassuasformas.Diantededuasformasverbaiscomoamavaseamássemos,qualquerdevocês
reconhecerá,naprimeira,a2.ªpessoadosingulardoimperfeitodoindicativo,enaoutra,a1.ªpessoadopluraldoimperfeitodosubjuntivo.
Oquetornoupossívelessaidentificação?AFLEXÃO,istoé,avariaçãoqueocorrenapartefinal:emamavas,o-sindica
a2.ªpessoadosingular,enasílaba-va-reconhecemosoimperfeitodoindicativoda1.ªconjugação;emamássemoséadesinência-mosqueidentificaa1.ªpessoadoplural,e-sse-nosapontaoimperfeitodosubjuntivo.
Vou, então, sistematizar aquiloquevocê sabe intuitivamente, examinandooselementosquepodemocorrernumaformaverbal:
1.oRADICAL,quenosforneceasignificaçãobásica,epodeviracompanhadodePREFIXO:amar,fazer,desfazer;cobrir,encobrir.
2.aVOGALTEMÁTICA,característicadeumadastrêsconjugações:-a-,paraa1.ª,-e-,paraa2.ª,-i-,paraa3.ª:estudar,aprender,partir.
3. o TEMA, que se compõe do radical, prefixo (quando houver) e vogaltemática,prontinhoparareceberasflexões:falaste,aprendendo,ouvíssemos.
4.aCARACTERÍSTICAMODOTEMPORAL,queidentificaomodoeotempo;eisasprincipais:
-va-,dopretéritoimperfeitodoindicativoda1.ªconjugação:amávamos;-(i)a-,dessemesmotempo,na2.ªe3.ªconjugações:aprendia,partiam;-ra-, do pretérito mais-que-perfeito do indicativo de qualquer conjugação:
caminhara,esqueceras,fugira;-re-, -rá-, -rão, do futuro do presente do indicativo: chegaremos, correrá,
partirão;-ria-,dofuturodopretéritodoindicativo:falaria,aprenderias,ouviriam;
-e-,dopresentedosubjuntivoda1.ªconjugação:falemos,estudes;-a-,dopresentedosubjuntivoda2.ªe3.ªconjugações:corras,ouça;-sse-, do pretérito imperfeito do subjuntivo: estudasse, aprendesses,
partissem;-r-,dofuturodosubjuntivoedoinfinitivo:estudar,aprenderes,partirmos.
5.aDESINÊNCIANÚMERO-PESSOAL,própriadaspessoasgramaticais:-o(1.ªpessoadosingulardopresentedoindicativo):estudo,aprendo,parto;-s,-es(2.ªpessoadosingular):estudas,estudares;-mos(1.ªpessoadoplural):estudamos,aprendíamos,ouvíramos;-is,-des(2.ªpessoadoplural):estudais,quiserdes;-m,-em(3.ªpessoadoplural):estudam,estudarem.Opretéritoperfeito simplesdo indicativopossuidesinências características
(anãoserna1.ªpessoadoplural,mos): -i, -ste, -u, -stes, -ram: falei, falaste,falou,falastes,falaram.
Lembre-se de que o -s é que distingue a 2.ª pessoa do plural da 2.ª dosingular:tucantaste,vóscantastes;tufizeste,vósfizestes.
CONJUGAÇÃODOSVERBOSAUXILIARES
ter,haver,ser,estar
(TEMPOSSIMPLES)
MODOINDICATIVO
PRESENTE
Ter Haver Ser Estar
tenho hei sou estou
tens hás és estás
tem há é está
temos havemos somos estamos
tendes haveis sois estais
têm hão são estão
PRETÉRITOIMPERFEITO
tinha havia era estava
tinhas havias eras estavas
tinha havia era estava
tínhamos havíamos éramos estávamos
tínheis havíeis éreis estáveis
tinham haviam eram estavam
PRETÉRITOPERFEITO
tive houve fui estive
tiveste houveste foste estiveste
teve houve foi esteve
tivemos houvemos fomos estivemos
tivestes houvestes fostes estivestes
tiveram houveram foram estiveram
PRETÉRITOMAIS-QUE-PERFEITO
tivera houvera fora estivera
tiveras houveras foras estiveras
tivera houvera fora estivera
tivéramos houvéramos fôramos estivéramos
tivéreis houvéreis fôreis estivéreis
tiveram houveram foram estiveram
FUTURODOPRESENTE
terei haverei serei estarei
terás haverás serás estarás
terá haverá será estará
teremos haveremos seremos estaremos
tereis havereis sereis estareis
terão haverão serão estarão
FUTURODOPRETÉRITO
teria haveria seria estaria
terias haverias serias estarias
teria haveria seria estaria
teríamos haveríamos seríamos estaríamos
teríeis haveríeis seríeis estaríeis
teriam haveriam seriam estariam
MODOSUBJUNTIVO
PRESENTE
tenha haja seja esteja
tenhas hajas sejas estejas
tenha haja seja esteja
tenhamos hajamos sejamos estejamos
tenhais hajais sejais estejais
tenham hajam sejam estejam
PRETÉRITOIMPERFEITO
tivesse houvesse fosse estivesse
tivesses houvesses fosses estivesses
tivesse houvesse fosse estivesse
tivéssemos houvéssemos fôssemos estivéssemos
tivésseis houvésseis fôsseis estivésseis
tivessem houvessem fossem estivessem
FUTURO
tiver houver for estiver
tiveres houveres fores estiveres
tiver houver for estiver
tivermos houvermos formos estivermos
tiverdes houverdes fordes estiverdes
tiverem houverem forem estiverem
MODOIMPERATIVO
AFIRMATIVO
tem(tu) há(tu) sê(tu) está(tu)
tenha(você) haja(você) seja(você) esteja(você)
tenhamos(nós) hajamos(nós) sejamos(nós) estejamos(nós)
tende(vós) havei(vós) sede(vós) estai(vós)
tenham(vocês) hajam(vocês) sejam(vocês) estejam(vocês)
NEGATIVO
nãotenhas(tu) nãohajas(tu) nãosejas(tu) nãoestejas(tu)
nãotenha(você) nãohaja(você) nãoseja(você) nãoesteja(você)
nãotenhamos(nós) nãohajamos(nós) nãosejamos(nós) nãoestejamos(nós)
nãotenhais(vós) nãohajais(vós) nãosejais(vós) nãoestejais(vós)
nãotenham(vocês) nãohajam(vocês) nãosejam(vocês) nãoestejam(vocês)
FORMASNOMINAIS
INFINITIVOIMPESSOAL
ter haver ser estar
INFINITIVOPESSOAL(FLEXIONADO)
ter haver ser estar
teres haveres seres estares
ter haver ser estar
termos havermos sermos estarmos
terdes haverdes serdes estardes
terem haverem serem estarem
GERÚNDIO
tendo havendo sendo estando
PARTICÍPIO
tido havido sido estado
CONJUGAÇÃODOSVERBOSREGULARES
1.ªconjugaçãoModelo:estudar
2.ªconjugaçãoModelo:aprender
3.ªconjugaçãoModelo:partir
MODOINDICATIVO
PRESENTE
estud-o aprend-o part-o
estud-a-s aprend-e-s part-e-s
estud-a aprend-e part-e
estud-a-mos aprend-e-mos part-i-mos
estud-a-is aprend-e-is part-i-s
estud-a-m aprend-e-m part-e-m
PRETÉRITOIMPERFEITO
estud-a-va aprend-i-a part-i-a
estud-a-va-s aprend-i-a-s part-i-a-s
estud-a-va aprend-i-a part-i-a
estud-á-va-mos aprend-í-a-mos part-í-a-mos
estud-á-ve-is aprend-í-e-is part-í-e-is
estud-a-vam aprend-i-am part-i-am
PRETÉRITOPERFEITO
estud-e-i aprend-i part-i
estud-a-ste aprend-e-ste part-i-ste
estud-o-u aprend-e-u part-í-u
estud-a-mos aprend-e-mos ppart-i-mos
estud-a-stes aprend-e-stes part-i-stes
estud-a-ram aprend-e-ram part-i-ram
PRETÉRITOPERFEITOCOMPOSTO
tenhoestudado tenhoaprendido tenhopartido
tensestudado tensaprendido tenspartido
temestudado temaprendido tempartido
temosestudado temosaprendido temospartido
tendesestudado tendesaprendido tendespartido
têmestudado têmaprendido têmpartido
PRETÉRITOMAIS-QUE-PERFEITO
estud-a-ra aprend-e-ra part-i-ra
estud-a-ra-s aprend-e-ra-s part-i-ra-s
estud-a-ra aprend-e-ra part-i-ra
estud-á-ra-mos aprend-ê-ra-mos part-í-ra-mos
estud-á-re-is aprend-ê-re-is part-í-re-is
estud-a-ram aprend-e-ram part-i-ram
PRETÉRITOMAIS-QUE-PERFEITOCOMPOSTO
tinha(havia)estudado tinha6*aprendido tinha*partido
tinhasestudado tinhasaprendido tinhaspartido
tinhaestudado tinhaaprendido tinhapartido
tínhamosestudado tínhamosaprendido tínhamospartido
tínheisestudado tínheisaprendido tínheispartido
tinhamestudado tinhamaprendido tinhaspartido
FUTURODOPRESENTESIMPLES
estud-a-re-i aprend-e-re-i part-i-re-i
estud-a-rá-s aprend-e-rá-s part-i-rá-s
estud-a-rá aprend-e-rá part-i-rá
estud-a-re-mos aprend-e-re-mos part-i-re-mos
estud-a-re-is aprend-e-re-is part-i-re-is
estud-a-rão aprend-e-rão part-i-rão
FUTURODOPRESENTECOMPOSTO
terei*estudado terei*aprendido terei*partido
terásestudado terásaprendido teráspartido
teráestudado teráaprendido terápartido
teremosestudado teremosaprendido teremospartido
tereisestudado tereisaprendido tereispartido
terãoestudado terãoaprendido terãopartido
FUTURODOPRETÉRITOSIMPLES
estud-a-ria aprend-e-ria part-i-ria
estud-a-ria-s aprend-e-ria-s part-i-ria-s
estud-a-ria aprend-e-ria part-i-ria
estud-a-ría-mos aprend-e-ría-mos part-i-ría-mos
estud-a-ríe-is aprend-e-ríe-is part-i-ríe-is
estud-a-ria-m aprend-e-ria-m part-i-ria-m
FUTURODOPRETÉRITOCOMPOSTO
teria*estudado teria*aprendido teria*partido
teriasestudado teriasaprendido teriaspartido
teriaestudado teriaaprendido teriapartido
teríamosestudado teríamosaprendido teríamospartido
teríeisestudado teríeisaprendido teríeispartido
teriamestudado teriamaprendido teriampartido
MODOSUBJUNTIVO
PRESENTE
estud-e aprend-a part-a
estud-e-s aprend-a-s part-a-s
estud-e aprend-a part-a
estud-e-mos aprend-a-mos part-a-mos
estud-e-is aprend-a-is part-a-is
estud-e-m aprend-a-m part-a-m
PRETÉRITOIMPERFEITO
estud-a-sse aprend-e-sse part-i-sse
estud-a-sses aprend-e-sses part-i-sses
estud-a-sse aprend-e-sse part-i-sse
estud-á-sse-mos aprend-ê-sse-mos part-í-sse-mos
estud-á-sse-is aprend-ê-sse-is part-í-sse-is
estud-a-sse-m aprend-e-sse-m part-i-sse-m
PRETÉRITOPERFEITO
tenha*estudado tenha*aprendido tenha*partido
tenhasestudado tenhasaprendido tenhaspartido
tenhaestudado tenhaaprendido tenhapartido
tenhamosestudado tenhamosaprendido tenhamospartido
tenhaisestudado tenhaisaprendido tenhaispartido
tenhamestudado tenhamaprendido tenhampartido
PRETÉRITOMAIS-QUE-PERFEITO
tivesse*estudado tivesse*aprendido tivesse*partido
tivessesestudado tivessesaprendido tivessespartido
tivesseestudado tivesseaprendido tivessepartido
tivéssemosestudado tivéssemosaprendido tivéssemospartido
tivésseisestudado tivésseisaprendido tivésseispartido
tivessemestudado tivessemaprendido tivessempartido
FUTURO
estud-a-r aprend-e-r part-i-r
estud-a-r-es aprend-e-r-es part-i-re-s
estud-a-r aprend-e-r part-i-r
estud-a-r-mos aprend-e-r-mos part-i-r-mos
estud-a-r-des aprend-e-r-des part-i-r-des
estud-a-r-em aprend-e-r-em part-i-r-em
FUTUROCOMPOSTO
tiver*estudado tiver*aprendido tiver*partido
tiveresestudado tiveresaprendido tiverespartido
tiverestudado tiveraprendido tiverpartido
tivermosestudado tivermosaprendido tivermospartido
tiverdesestudado tiverdesaprendido tiverdespartido
tiveremestudado tiveremaprendido tiverempartido
MODOIMPERATIVO
AFIRMATIVO
estud-a(tu) aprend-e(tu) part-e(tu)
estud-e(você) aprend-a(você) part-a(você)
estud-e-mos(nós) aprend-a-mos(nós) part-a-mos(nós)
estud-a-i(vós) aprend-e-i(vós) part-i(vós)
estud-e-m(vocês) aprend-a-m(vocês) part-a-m(vocês)
NEGATIVO
nãoestud-e-s nãoaprend-a-s nãopart-a-s
(tu) (tu) (tu)
nãoestud-e nãoaprend-a nãopart-a
(você) (você) (você)
nãoestud-e-mos nãoaprend-a-mos nãopart-a-mos
(nós) (nós) (nós)
nãoestud-e-is nãoaprend-a-is nãopart-a-is
(vós) (vós) (vós)
nãoestud-e-m nãoaprend-a-m nãopart-a-m
(vocês) (vocês) (vocês)
FORMASNOMINAIS
INFINITIVOIMPESSOALSIMPLES(PRESENTE)
estudar aprender partir
INFINITIVOPESSOALSIMPLES(FLEXIONADO)
estud-a-r aprend-e-r part-i-r
estud-a-r-es aprend-e-r-es part-i-r-es
estud-a-r aprend-e-r part-i-r
estud-a-r-mos aprend-e-r-mos part-i-r-mos
estud-a-r-des aprend-e-r-des part-i-r-des
estud-a-rem aprend-e-rem part-i-rem
INFINITIVOIMPESSOALCOMPOSTO(Pretéritoimpessoal)
ter*estudado ter*aprendido ter*partido
INFINITIVOPESSOALCOMPOSTO(Pretéritopessoal)
ter*estudado ter*aprendido ter*partido
teresestudado teresaprendido terespartido
terestudado teraprendido terpartido
termosestudado termosaprendido termospartido
terdesestudado terdesaprendido terdespartido
teremestudado teremaprendido terempartido
GERÚNDIOSIMPLES(PRESENTE)
estud-a-ndo aprend-e-ndo part-i-ndo
GERÚNDIOCOMPOSTO(PRETÉRITO)
tendo*estudado tendo*aprendido tendo*partido
PARTICÍPIO(PRETÉRITO)
estud-a-do aprend-i-do part-i-do
Nota
6Obs.:Asformasassinaladascomasterisco(*)tambémseconjugamcomoauxiliarhaver.
15.ONTEM,HOJE,AMANHÃ:OTEMPOCORRE...
Consideremos,nas frasesabaixo, as formasverbaisgrifadasde1.ªpessoadosingular:
1.Estudodiariamente.2.Ontemestudeiduashoras.3.Enquantoeuestudava,ouviamúsica.4.Játinhaestudadobastante,quandoresolvisair.5.Amanhãnãoestudarei:ireiaofutebol.
É fácil ver que a l.a, estudo, se refere a um momento PRESENTE; todas asformasdas frases2a4,aummomento jápassado,queemgramáticasechamaPRETÉRITO;asduasúltimas,nafraseden.º5,aummomentoFUTURO.
Podemosconcluir,portanto,queoverbovariaemTEMPO.
PRETÉRITO PRESENTE FUTURO
Hápouco. Aquieagora. Daquiapouco.Ontem. Hoje. Amanhã.Naqueletempo. Nestemomento. Dentrodealgumtempo.Noiníciodomundo. Nomundoatual. Nofinaldostempos.
Compareagoraestastrêsformasverbaisda2.ªpessoadosingular:
1.Trabalhasmuito.2.Éprecisoquetrabalhes.3.Trabalha,rapaz!
Astrêsformassereportamaummomentopresente.Aprimeiraindicaumfatocerto,real—eoverboestáno“modo”INDICATIVO;a2.aexprimeumatoapenaspossível—eoverbosediznomodoSUBJUNTIVO;na3.a,sedáumconselho,ouumaordem,eoverboestánomodoIMPERATIVO.
Conclui-sefacilmentequeoverbotambémvariaemMODO.OINDICATIVOéomododarealidade,dacerteza,daverificação,daexposição
objetiva(oucomotalapresentada),emreferênciaaopresente,aopassadoouaofuturo:
Otempoestáfirme.ATerrasemoveemtomodoSol.OhomemjápisouaLua.AmanhãviajareiparaSãoPaulo.
Éoindicativoomodobásicodoperíodosimplesedaoraçãoprincipal,oquenão impede figure nas orações subordinadas dependentes de verbos queexprimemcrença,afirmação,verificação,certezaesentimentosanálogos:
AchoAcreditoCreioPenso
} queelemerececonfiança.
CompreendeuReconheceuVerificouViuAdmitiu
} quenãovaliaapenaoesforço.
Afirmou
DisseAssegurou } queocasoésério.
ProvouDemonstrouComprovou
} quetemtalento.
Basta, porém, que o verbo da oração principal venha modificado por umanegaçãoparaqueoverbodasubordinadapasseparaosubjuntivo:
Nãoacreditoqueelemereçaconfiança.Nãoadmitiaquevalesseapenaoesforço.Nãopossoassegurarqueocasosejasério.Nãoprovouquetivessetalento.
Dos tempos do indicativo, uns são SIMPLES, numa só palavra, outrosCOMPOSTOScomosauxiliaresterouhaver(menosusadohojeemdia).
OPRESENTE
Noseuusomaisgeral,opresentedoindicativoseprestaparaexprimirofato,aação,omododeserquesedesenvolvemesemantêmnomomentoemquesefala,nopróprioatodapalavra:
Escrevo-tedoaeroporto.Agoramesintomelhor.Minhadecisãoéesta.—Estáscommedo?Oluarestátãointensoquepermiteler.
Alémdesseempregobásico,indicaváriasoutrasparticularidades,taiscomo:
a)ohábito,arepetição,aregularidadecomqueseverificaumfato:
“Aqui,seventaumpouco,apoeirase levantaeentraemnossospulmões.”
Acordasempreàsseishoras.Gostomuitodemúsica.
b)oqueserealizasempre,asverdadespermanentes,osdogmas,asleis:
ATerraéumplaneta.Aáguasecompõedeoxigênioehidrogênio.Todossãoiguaisperantealei.
[Nos provérbios e aforismos o presente quer indicar exatamente a validadeperene do que se afirma: “Ninguém é profeta em sua terra.”, “A mentira tempernascurtas.”]
OPRESENTEdoindicativoé,porassimdizer,otempouniversal,epredominasobreosdemais:estranhocomopareça,tambémseusaparaindicaropassadoeofuturo:
OPRESENTEHISTÓRICO éumpassadoem formadepresente; éuma formadereviveropassadonopresente,dando-sevivacidadeànarrativa:
“Emfrenteaomeuedifícioexisteumafeirahippie,comtudobemorganizado, muita gente comprando. Pois de repente, de um lado eoutroaparecembarracas, ascalçadassão invadidaspor camelôs e asujeiradominaaPraça.”
“Os navios aproximam-se da costa francesa e começa odesembarquedastropasaliadas.“
–Ousodopresentepelo futurodo indicativoéummeioexpressivodedarcomocertoumfatoaindaporocorrer:
Obrigadopelolivro;amanhãdevolvo.Maisumpasso,eésumhomemmorto.
–Tambémseusapelofuturodosubjuntivo:
Sevocêdáascostas,começamacriticá-lo.Nãoseioquefaçoseelescontinuamdenamoro.
–Substituioimperativo,paraabrandar-lheotomautoritário;muitasvezesemformainterrogativa:
Vocêmedevolvelogoolivro,sim?Osenhormeemprestaosfósforos?
OPRETÉRITOIMPERFEITO
Comoopróprionomesugere(imperfeitoquerdizer“inacabado”),opretéritoimperfeitodesignabasicamenteumfatoanterioraomomentoatual,masqueduraaindanomomentodopassadoaquenosreferimos.
Assim,emprega-senasseguintescircunstâncias:
1.Como imperfeitonarrativo, serveparadarum tomdepresente aoque secontadeumaépocapassada:
“A lua cheia descia vagarosa; descambava para trás. À frente,brilhavaumagrandeestrelaavermelhada,quenosserviadeguia.”
Se nos referimos a dois fatos simultâneos, indica o que se estava passandoquandoocorreuooutro:
“Quandoeuerarapazola,alguémmedeuparalerumlivrodeJúlioVerne.”
“Explicoutudoaoguardaqueointerrogava.”
2.Exprimeumfatopassadohabitualoufrequente:
“Antigamenteagentefugiaparaapraia,paraomar.”“Opassarinho logome reconhecia quando eumeaproximava da
gaiola.”
3.Substituiofuturodopretérito,emprestandomaisvigoràafirmação:
Seeutivessemeios,compravaumsitiozinho.
4.Substitui,emsinaldecortesia,opresentedoindicativo:
Apatroamandousaberseosenhorqueriaoalmoçoagora.
OPRETÉRITOPERFEITOSIMPLES
Opretéritoperfeitosimplesindicaumfatointeiramenteconcluídonopassado:OPresidentetomouposseontem.Embarqueiàsdezhoras,masoaviãosódecolouàsonze.
OPRETÉRITOPERFEITOCOMPOSTO
Muito diferente do simples é o emprego do pretérito perfeito composto,formado com o presente do indicativo do auxiliar ter e o particípio do verboprincipal;enquantoaformasimplesexprimeumfatointeiramenteconcluído,adoperfeito composto indica um fato repetido, que se inicia no passado e podeestender-seatéopresente:
“Como temsucedido emoutrasocasiõesdaminhavida,euagoraestoumaldedinheiro.”
“Tenholidomuitoultimamente.”“Temos tido administradores vaidosos que erguemmonumentos à
própriavaidade.”
OMAIS-QUE-PERFEITO
Oportuguêssedáaoluxodepossuirtrêsformasdiferentesparaomais-que-perfeitocomomesmovalor:umasimples,reconhecidapelacaracterística-ra-,eduas compostas, uma com o auxiliar ter, outra com haver no imperfeito do
indicativoseguidosdoparticípiodoverboprincipal:chegara,tinhachegado (amaisusada),haviachegado,estaúltimaquaseexclusivamenteliterária.
Qualquerdessasformasindicaumfatopassadoanterioraoutrojápassado:
“Eranoitedeluacheia,ealuajáatravessaragrandepartedocéuquandosaímosparapescar.”
“Em Portugal, o navio encheu-se de ex-emigrantes que tinhamprosperado no Brasil e agora retornavam com toda a família.”[Poderiaserhaviamprosperado.]
Obomescritortirapartidodessatríplicepossibilidadeparavariaroestilo.Veja como procede Graciliano Ramos, mestre do romance brasileiro, na
primeirapáginadeVidasSecas(livroquevocêdeveler,oureler):
“Osinfelizestinhamcaminhadoodiainteiro,estavamcansadosefamintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviamrepousadobastantenaareiadorioseco,aviagemprogredirabemtrêsléguas.”
Observeaindaque,porserigualàdopretéritoperfeitosimples,nãoécomumusar-sea formasimplesdomais-que-perfeitoda3.apessoadoplural,queseriasentida mais provavelmente como do perfeito: repousou — repousaram/repousara—repousaram.
A forma simples do mais-que-perfeito está em desuso entre o povo, queprefereaformacompostacomoauxiliarter.
Alémdesse valor fundamental, omais-que-perfeito simples tem sidousado,sobretudopelosescritoresmaisantigos,emlugardofuturodopretérito(em-ria)edopretéritoimperfeitodosubjuntivo(em-sse).SãodetodosconhecidosestesversosdefamososonetodeCamões:
“...Maisservira,senãofora,Paratãograndeamor,tãocurtaavida.”[Entende-se:“maisserviria,senãofosse”.]
Graças ao títulodeum filme, tornou-se até comuma expressão“Seeu forarei”.
O povo usa esta forma em frases exclamativas fixas, estereotipadas, como“Quemmedera!”,“Pudera!”,“ProuveraaDeus.”
OFUTURODOPRESENTESIMPLES
Pela própria natureza de exprimir fatos que ainda não se realizaram,posterioresportantoaomomentoemquesefala,oFUTURODOPRESENTE,emboradoindicativo,poucasvezespodereferir-sepropriamenteacertezas:indicamaisfrequentemente aquilo que se deseja ou se tem como certo num momento queaindaestáporvir.Vejaprimeirodoisexemplosdo“futurodecerteza”,tiradosdolivroRecadodePrimaveradocronistaRubemBraga:
“Pediram-me para dar um depoimento pessoal sobre oMarechalMascarenhasdeMorais,ocomandantedaFEB,nocentenáriodoseunascimento. [...] Recordarei um dia em que estivemos lado a ladodurantealgumashoras.”(Capítulo“Umcombateinfeliz”)[Eocronistapassaanarrar,daíemdiante,oqueaconteceunaqueledia.]
“Relembro agora aquela a quem chamarei Beatriz, alegria deminha vista e de minha vida, saudade alegre, prazer de sempre,clarinadamatinal,doçura.”[Ocronistadiz“chamarei”edaípordiantedáessenomeàsuaamada.]
Eagoraalgunsexemplosdefatosquesetinhamcomoderealizaçãosegura:
Chegareiamanhã.[Masachegadapodenãosedar...]O cometa Halley será visível no Rio em março. [Isso se as
condiçõesatmosféricaspermitirem.]“O Presidente Tancredo Neves tomará posse amanhã.” (Dos
jornaisdaépoca.)[Maslamentavelmenteodestinonãoopermitiu.]—Nãoporeimaisospésaqui![Masnãosesabeseaintençãose
confirmará.]
Nãoédeestranhar,pois,queessetempo,quejogacomoimprevisívelporvir,tenha adquirido valores às vezes de um verdadeiro modo, designandoprobabilidadeoupossibilidade,suposição,dúvida:
Suaidadeéummistério:nãoterámaisde40anos.Quemseráaquelehomem?Haverápaznotúmulo?Existirávidainteligentenoutrosplanetas?Quandopuder,comprareiumsítio.Sevocêestudarcomafinco,semdúvidaaprenderá.
Nãoparamaíosusosdessetempoverbal.Como em português não dispomos de formas próprias para o imperativo
futuro (em latim existem), emprega-se com esse valor, especialmente nalinguagembíblica:
Nãofurtarás.Amarásateupróximocomoatimesmo.
Emboraofuturosimplesdoindicativoseja“dopresente”(ouseja,relativoaotempoquevirádepoisdoatual),usa-setambémparaexprimirumaaçãoposterioraoutranopassado:
“Nomeado Embaixador do Brasil à Conferência de Haia, RuiBarbosaaídefenderáintransigentementeaigualdadeentreaspequenaseasgrandesnações.”
Como você vê, na língua muitas vezes se confundem o ontem, o hoje e oamanhã...
AAGONIADOFUTUROSIMPLES
Se você atentar para a sua própria fala e a dos seus parentes, colegas eamigos, semdúvidavaiverificarque sómuito raramente seusamas formasdofuturosimplesdoindicativo,substituídasoupelopresente—quandosetemfirmeintenção de tornar real o fato futuro — ou por várias locuções com verbosauxiliares(comoir[omaiscomum],haverde,dever,querer,poder, terde, terque)nopresentedoindicativoseguidosdoverboprincipalnoinfinitivo:
Hojeànoitevou[emvezdeirei]aoteatro.OMinistrodaFazendadeclarouqueainflaçãovaibaixar[emvez
debaixará]nopróximomês.Meucandidatovaiser[=será(assimdesejoeespero)]eleito.Os candidatos de n.º 1 a 40 devem dirigir-se [= se dirigirão
(obrigatoriamente)]àsalaA.Hãodevir[=virão(semdúvida)]diasmelhores.Amanhã tenho de (ou que) comparecer [= comparecerei
(obrigatoriamente)]aumaaudiêncianaJustiçadoTrabalho.Vocêquer(oupode)fazer[=fará]issopormim?
Está acontecendo com o nosso futuro simples omesmo que sucedeu com ofuturo latino:aprincípiosimples,numasópalavra (p.ex.cantabo, “cantarei”),passou a exprimir-se numa locução com o auxiliar habere (“haver”) noindicativo,precedidodoverboprincipal:cantarehai (istoé, “tenhoa intençãode cantar”, “hei de cantar”), expressão que acabou produzindo o nosso futurosimples:cantar(h)ei>cantarei,queagora,comovimos,vaisendosubstituídoporformasanalíticas(emmaisdeumapalavra),numavelhatendênciadalíngua.Ahistóriaserepeteséculosdepois...
OFUTURODOPRESENTECOMPOSTO
Tambémchamado(emaisexpressivamente)futuroanteriorefuturoperfeito,o FUTURO DO PRESENTE COMPOSTO, formado pelo auxiliar ter (mais raramentehaver) no futuro do presente simples mais o particípio do verbo principal,exprimeum fatoposterior aomomentopresente,mas já acabadoantesdeoutrofatofuturo:
Aomeio-diaaprovajáterá(ouhaverá)terminado.Nãosesabeoque teráacontecidoaoCireneudepoisqueajudou
JesusCristoacarregaraCruz.
Tambémindicacomocertoumfatofuturodependentedecertascondições:
Se eles não chegarem até às seis horas é porque terão errado ocaminho.
OFUTURODOPRETÉRITOSIMPLES
OchamadoFUTURODOPRETÉRITO (que jásechamou“condicional”)exprimemaisgeralmenteumfatoposterior(eportantofuturo)adeterminadomomentojápassado(pretérito)dequesefala:
Afirmouquenuncamaisporiaospésali.
Esquematicamente:
nopassado presentehoje
futuramente
1 3 2
[Afrase,ditahoje3,serefereaummomentodopassado1emquealguémfazuma afirmação para o futuro 2. Tudo numa ocasião anterior ao presente (dopretérito, portanto). Trata-se, pois, de um futuro dentro do passado. A mesmaafirmação,seditanopresenteparaummomentofuturo,teráoverbonofuturodopresente:“—Nãoporeimaisospésaqui.”]
Tal como acontece com o futuro do presente, o futuro do pretérito adquiremuitasvezesvaloresdeumverdadeiro“modo”,oquetemlevadogramáticosdevárias línguas a falar, impropriamente, numMODO CONDICIONAL ou POTENCIAL(que,aexistir,incluiriaofuturodopresente):
Suaidadeeraummistério:nãoteriamaisde40anos.Dissequechegarianodiaseguinte.Os astrônomos garantiram que o cometa Halley seria visível no
Rioemmarço.Setivessemeios,comprariaumsítio.Quemseriaaquelehomem?Haveriapaznotúmulo?Sevocêestudassecomafinco,semdúvidaaprenderia.
A mesma frase com que antes exemplifiquei um uso estranho do futuro dopresente,seusa,talvezmaisadequadamente,comoverbonofuturodopretérito:
“Nomeado Embaixador do Brasil à Conferência de Haia, RuiBarbosa aí defenderia intransigentemente a igualdade entre aspequenasegrandesnações.”
Tal como o futuro do presente é muitas vezes substituído pelo presente, ofuturodopretérito,sobretudonalinguagemcoloquial,ésubstituídopelopretéritoimperfeito:
Seeupudesse,ia(emlugarqueiria)vê-lo.
OFUTURODOPRETÉRITOCOMPOSTO
OFUTURODOPRETÉRITOCOMPOSTO(ouANTERIOR), formadopeloauxiliar ter(maisraramentehaver)nofuturodopretéritosimplesmaisoparticípiodoverboprincipal, exprimeum fatoposterior aumaépocapassadaaquenos referimos,masjáacabadaantesdeoutrofatofuturo:
Estava previsto que ao meio-dia a prova já teria (ou haveria)terminado.
OqueteriaacontecidoaoCireneudepoisqueajudouJesusCristoacarregaracruz?
Tambémindicaumfatopossível,anterioradeterminadaépoca,dependentedecertascondições:
Euoteriaesperado,casonãotivesseumcompromissoinadiável.Umsapovenenosoteriacausadoadoençadonaturalista.
16.OMODODAINCERTEZA
O modo verbal com que se exprime um fato de realização incerta, apenaspossível, eventual, chama-se SUBJUNTIVO. É o modo típico da oraçãosubordinada,eocorrenasoraçõesdependentesdeverbosquedesignamdúvida,descrença, possibilidade, desejo, esperança, súplica, receio, conselho e váriosoutrossentimentosanálogos:
Duvidoqueeleconsigaatransferência.
ÉpossívelÉprovável } queaocasiãoapareça.
Esperamosquevocêaprecienossoesforço.
ÉcompreensívelÉnatural } queeleestejanervoso.
Ébom
ÉconvenienteConvémCumpre
} queelesaibadacombinaçãofeita.
DesejoEspero } quevolteslogo.
Gostariaqueestudassesmais.Aconselhoaosjovensqueleiam,quereflitam.
ReceioTemo } queeletenharazão.
AconselhouDeixouMandouRecomendou
} queeledesistisse.
Proibiramquelevassemarmas.Lamentaramquetivéssemosdevoltartãocedo.
PediramRogaramSuplicaram
} queficássemosmaistempo.
Mesmo figurando em orações independentes, o subjuntivo muitas vezes
carregaoquecomoumresíduodasubordinação:
“Que os jovens namorem, que curtam a vida material; mas nãoesqueçamavidaintelectual.”
Alémdoque,muitasoutrasconjunções,pelofatodesugeriremfatosincertosouhipotéticos,exigemoverbonosubjuntivo.Sãoelas:
–decomparaçãohipotética(comose):
Mostravam-sedescuidados,comosenadatemessem.
– concessivas (aindaque,conquanto,embora,mesmo que,posto (que), sebemque,apesardeque,pormaisque,nemque):
Posto(que)Pormaisqueetc.
} seesforçasse,nãoconseguiacompreender.
–condicionais(se,caso,semque,contantoque,salvose,desdeque,anãoserque,amenosque):
Seestudares,Casoestudes,Desdequeestudes,
enriquecerásteumundointerior.
Senãohouvessetristezas,nãodaríamosvaloràsalegrias.
–finais(paraque,afimdeque,porque):
Rezai,porque(ouparaque)nãoentreisemtentação.
– temporais, quandomarcam a anterioridade (antes que, até que, primeiroque)ouquandomarcamofuturo(quando,logoque,assimque):
Pensabem,antesqueescrevasaresposta.Logoque(quando,assimque)chegares,procuraodiretor.
Oadvérbiotalvez,quandoprecedeoverbo,geralmenteolevaaosubjuntivo:
Talvezchovahoje.Talvezumdiameuamorseextinga.
Quando, porém, o talvez indica possibilidade ou dúvida, mas com algumaproximidadedacerteza,overbovaiparaoindicativo:
“Euestavatãocomovido,quedeixeiafilhaelancei-meaosbraçosdopai.Talvezessaefusãoodesconcertou umpouco; é certoquemepareceuacanhado.”(MachadodeAssis,MemóriasPóstumasdeBrásCubas,cap.LXXXI.)
OSTEMPOSDOSUBJUNTIVO
Osubjuntivo tem três tempossimples (opresente,opretérito imperfeitoeofuturo) e três compostos (pretérito perfeito, pretéritomais-que-perfeito e futuroanterior),cujoempregoseassemelhaaoscorrespondentesdoindicativo.
OPRESENTE,queindicabasicamenteumfatoquesepassanomomentodafala,podetambémestenderaaçãoparaofuturo:
Émelhorqueeunãomintaavocê.Éprovávelqueeleviajeamanhã.
Observe-se que o verbo nopresente do subjuntivo, em oração dependente,estáemconcordânciacomoverbonopresentedoindicativo,naoraçãoprincipal:
Esperoquevocêvenha.
OPRETÉRITOIMPERFEITOindicafatopossíveldeacontecernopassado,emborasemmomentodefinido:
Setivessescoração,teriastudoagora.ODestinonãopermitiuqueelevivesseatéhoje.
O imperfeito do subjuntivo, quando em oração dependente, substantiva,mantémcorrelaçãocomopretéritoperfeitooucomoimperfeitodoindicativo:
Eraprovávelqueeleaindaaparecesse.Pedi-lhequeseacalmasse.
Emoraçãoadverbial,aconcordânciasedácomofuturodopretérito.
Mesmoquenãoresistisse,estariaigualmentecondenado.
O PRETÉRITO PERFEITO forma-se com o presente do subjuntivo do verbo ter(mais raramentehaver) e o particípiodoverboprincipal; exprimebasicamenteumfatoterminado(ousupostamenteacabado)emépocapassada:
Emboratenha(ouhaja)estudadocomafinco,nãofoiaprovado.Édeesperarqueelejátenhacumpridotodasasexigências.
Podeaindaexprimirumfatopossívelnofuturo,masjáterminadoemrelaçãoaoutrofatofuturo:
Quandochegarmos,esperoqueelajátenhaterminadoatoalete.
OPRETÉRITOMAIS-QUE-PERFEITO forma-secomo imperfeitodosubjuntivodeter ou haver mais o particípio do verbo principal; sempre dentro do sentidoeventualdosubjuntivo,exprimebasicamenteumfatoanterioraoutrojápassado:
Emboraasessãojátivessecomeçado,resolvemosentrar.
Seelehouvesseescutadomeusconselhos,nãoteriaidoàfalência.
OFUTURO SIMPLES exprime um fato presumivelmente realizável no futuro; eocorreemoraçõessubordinadas:
–adverbiaisconformativas:Façacomoquiser.
–adverbiaiscondicionais:Sefizerbomtempo,sairemosjá.
–adverbiaistemporais:Quandovieres,avisa-me.
–adjetivas:Oprimeiroquerespondercertoganharáumprêmio.
–substantivas:Quempuderajudeosflagelados.
OFUTUROCOMPOSTO(ANTERIORouPERFEITO)éformadocomofuturosimplesdeterouhavermaisoparticípiodoverboprincipal,eexprime,sempredentrodas características do subjuntivo, que um fato futuro estará terminado antes deoutrofatofuturo:
Sósairemosquandoeutiverterminadootrabalho.Sejátivereslidoesselivro,devolve-mo.
17.OIMPERATIVONEMSEMPREMANDA
Se nos guiarmos apenas pelo nome, ficaremos com a falsa noção de que oIMPERATIVO é o modo verbal com que se exprime mando, ordem de umaautoridadeoudealguémdeescalasuperior.
Arealidade,porém,éoutra:ocomandoeaordemsóocorremnaminoriadoscasos;muitomaisfrequentementeseusaessemodoparaumpedido,umconvite,umconselho,umaadvertência,umasúplicahumilde.Osexemplosdizemmaisdoquequalquerteoria:
Abram,emnomedalei!Empreste-meesselivro,sim?Vamosàpraia?Fechaajanela,queoventoestáfortedemais.“Dá-meumbeijinho,dá...”Nãotefiesnassuaspromessas.“Fazeobem,nãoolhesaquem.”Valei-me,SantaBárbara!Acudam!
ASFORMASDOIMPERATIVO
EmnossalínguaháumIMPERATIVOAFIRMATIVOeumIMPERATIVONEGATIVO.No imperativo afirmativo, somente a 2.ª pessoa do singular (tu) e a 2.ª do
plural(vós)possuemformaspróprias;asdemaissãoemprestadasdopresentedo
subjuntivo,quefornecetambémtodasasformasdoimperativonegativo.Como no imperativo aquele que fala se dirige a um ouvinte, este modo só
admiteaspessoasquedesignamaqueleaquemsefala,ouseja,a2.ªpessoadosingular e do plural, a 3.ª pessoa do singular e do plural para os pronomes detratamentovocê,vocês,osenhor,ossenhores.Admite,alémdisso,a1.ªpessoadoplural,emqueofalanteseassociaao(s)ouvinte(s)(vocêeeu,vocêseeu).
Amaneiramaispráticadeobterasformasprópriasdoimperativoafirmativoconsisteemconjugarnas2.aspessoasopresentedo indicativo, suprimindoo -sfinal;comissoobtêm-seasformasreferentesatuevós:
INDICATIVO IMPERATIVO
(tu) (vós)
estudas estudais estuda
} (tu)
estudai
} (vós)
sabes sabeis sabe sabeidizes dizeis dize dizeipões pondes põe(tu) pondepartes partis parte partitens tendes tem tendevens vindes vem vinde
As demais pessoas, como já dissemos, são tomadas de empréstimo aopresentedosubjuntivo:
SUBJUNTIVO IMPERATIVO
(quevocê)estude estude(você)(quenós)estudemos estudemos(nós)(quevocês)estudem estudem(vocês)
O imperativo negativo tem todas as suas formas iguais às do presente dosubjuntivo:nãoestudes,nãoestude,nãoestudemos,nãoestudeis,nãoestudem.
OIMPERATIVONAFALABRASILEIRA
Na fala natural doBrasil, já sabemos que é restrito o uso do tratamento tu
(muitasvezesmisturadocomvocê),einteiramentedesusadootratamentovós.Disso resulta que os falantes, mesmo que usem o tratamento você,
frequentemente lançam mão da forma própria do tratamento tu, fato que secomprovaatéemobrasliterárias,especialmentequandosereproduzemdiálogos,ouemcartasíntimas.ReleiaotrechodecartadeMonteiroLobatoreproduzidonocapítuloinicialdestelivro.
No seu conhecido poema “Irene noCéu”,ManuelBandeira nos dá umbomexemplo.QuandoaboapretavelhaIrenechegaaocéu,SãoPedro,numconvitemuitobonachão,lhediz:
“Entra,Irenevocênãoprecisapedirlicença.”
Aconstruçãoébemcarioca:otratamentoévocê,masaformadoimperativo,entra,pertenceà2.ªpessoa,tu.
Familiarmente,ousodaformaprópriasoamaisautoritário.Se a mãe de Joãozinho quer pedir-lhe que faça um pequeno serviço, sem
dúvidalhedirá:
—Vem cá, Joãozinho, preciso que você vá até a casa de DonaMarina.
[Ovem,referenteatu,semisturacomovocê.]
Mas, se estiver aborrecida com alguma traquinagemmais séria do filho, amudançadetratamentojápoderápreocuparJoãozinho:
—Venhacá,menino!Precisofalarcomvocê!
Éclaroque,emambososcasos,otomdevozcolabora,eacentuaaseumodoanaturezadoestadodeânimodofalante.
Muito ilustrativos sãoestes trechosdoconto (emformadecarta) “Oventreseco”,dofestejadoescritorRaduanNassar,publicadonosuplemento“Ideias”doJornaldoBrasilde18demarçode1989.(Vãodestacadasasformasqueatestamamisturaintencionaldetratamento.)
“Mas teadvirto,Paula:apartirdeagora,nãocontemais comigo
comotuaferramenta.”“Vocême deumuitas coisas, Paula,me cumulou de atenções (...)
Nãoquerodiscutirosmotivosdatuagenerosidade.”“Não me telefone, não estacione mais o carro na porta do meu
prédio,nãomandeterceirosmerevelaremtuaexistência.”“Nãotentemais,Paula,mecontaminarcomatuafebre,meinserir
no teu contexto, me pregar tuas certezas, tuas convicções e outrosremoinhosvirulentosqueteagitamacabeça.”
“Não seja tola, Paula, não estou te recriminando nada, sempreassisti com indiferença aos arremedos que você fazia da ‘bruxavelha’.”
Asformasdeimperativosãoinvariavelmenteasdotratamentovocê(quealiásvem explícito, como pronome reto, quando sujeito): “não conte”, “Não metelefone, não estacione”, “não mande”, “Não tente”, “Não seja”; mas ospronomesoblíquosepossessivosassumemsempreasformasdotratamentotu:te,tua,teu,tuas.
O contista usa conscientemente da liberdade que gozam os escritoresautênticosdedesviar-seintencionalmentedasnormasgramaticaisembenefíciodaexpressividade. Ele subscreveria, sem dúvida, estas palavras de outro grandeprosadorbrasileiro,AutranDourado:
“Não defendo a ignorância dos escritores: deve-se conhecer agramática,paraviolentá-laemfavordaexpressãoedofalareescreverbrasileiros.”
Masissoéprivilégiodosgrandesescritores.Enquantovocênãochegaaessasalturas,sequisermanter-sedentrodasnormasdalínguaescritaculta,nãomistureosdoistratamentosemtrabalhosoudocumentosformais.
Fazeaosoutrosoquequeresquetefaçam.Façaaosoutrosoquequerquelhefaçam.Fazeiaosoutrosoquequereisquevosfaçam.Nãofaçasaosoutrosoquenãoqueresquetefaçam.Nãofaça(você)aosoutrosoquenãoquerquelhefaçam.Nãofaçaisaosoutrosoquenãoquereisquevosfaçam.
18.VERBOSIRREGULARES(MASNEMSEMPRE)
Considera-seREGULARumverboquandoseconjugadeacordocomummodeloouparadigmadaconjugaçãoaquepertence(p.ex.amar,paraal.ª,vender,paraa2.ª,partir,paraa3.ª).
SeráIRREGULARoverboqueapresentavariaçõesnoseuradicalounasflexões(queseafastamdasdoseuparadigma).
Na prática, o radical de um verbo se obtém tirando-lhe do infinitivoimpessoal as terminações -ar, -er, -ir. Assim, o radical de cantar é cant-, devenderévend-edepartirépart-.
Paraverificararegularidadeouirregularidadedeumverbo,bastacomparar-lheaconjugaçãocomadoparadigma.
A conjugação correta de certos verbos irregulares pode causar sériosembaraçosaquemprecisaseguiropadrãoculto.
MaisdeumavezJoãozinhotevevontadedeesconder-seembaixodacarteiraquando o professor lhe corrigiu erros desse tipo, comoquando escreveu, numaredação:“Quandoo sol sepôr” (emvezdepuser).Deoutravez cometeu estabarbaridade:“Eumeentreti(emvezdeentretive)comumanzol,enquantomeuscolegasnadavam.”
Paraquenãolheaconteçaomesmo,vouapontaraquiasirregularidadesmaisfrequentesnaconjugação.
NA1.ªCONJUGAÇÃO
Éa1.ªconjugaçãoaqueapresentamenosverbosirregulares.Alémdoauxiliar
estar, atrás conjugado, extremamente irregular, o verbodarmerece atenção nopresentedosubjuntivo:
queeudê quenósdemosquetudês quevósdeisqueeleouvocêdê queelesouvocêsdeem
AGUAR
Observeestasformasdoverboaguar:Presentedoindicativo:águo,águas,água,aguamos,aguais,águam.Pretéritoperfeitosimples:aguei,aguaste,etc.Presentedosubjuntivo:águe,águes,águe,aguemos,agueis,águem.
OBS.: Na fala de certas regiões ocorrem as formas aguo e agoo, aguas eagoas,aguaeagoa,aguameagoam(nopresentedoindicativo);ague(ouágue)eagoe,agues (ou águes) e agoes, aguem (ou águem) e agoem (presente dosubjuntivo),quenãodevemserusadasnaescritaculta.
Seguemaconjugaçãodeaguarosverbosdesaguareenxaguar.
APIEDAR-SE
Este verbo apresenta, mesmo em escritores modernos, no presente doindicativo, no presente do subjuntivo e no imperativo, ao lado das formasregulares,outrascomatônicoemvezdee,porinfluênciadosubstantivoarcaicopiadade: apiado-me, apiadas-te, apiada-se, apiadam-se; eu me apiade, tu teapiades,eleouvocêseapiade,elesouvocêsseapiadem;apiada-te,apiade-se,apiadem-se.
Mas hoje em dia soam-nos estranhas essas formas, e bons escritores têmusadoasformasregulares:apiedo-me,(você)seapiede,apieda-te,etc.,quevocêpodeempregartranquilamente.
APOIAR
Nãoéirregular;masébomlembrarqueoditongooi,comoaberto, recebia
acentoagudo,quefoisuprimidopelonovoAcordoOrtográfico:
apoio,apoias,apoia,apoiam;apoie,apoies,apoie,apoiem.
Omesmoocorrecomboiar.[Lembre-se de que o substantivo apoio, com o ditongo oi, também não se
acentua,edequeapronúnciadooéfechada.]
VERBOSTERMINADOSEM-EAR
Os verbos em -ear, como cear, frear,passear, recear e numerosos outrosapresentam a particularidade de receberem um i após o e tônico. Mas esse i,emboraocorranapronúnciadeoutrasformas,nãoseescreveatualmentenousoculto:
ceio,freio,passeio,receiomasceamos,freamos,passeamos,receamos;ceie,freie,passeie,receie,masceemos,freemos,passeemos,receemos.
Dois verbos terminados em -ear têm o e aberto nas formas rizotônicasditongadas, e por isso o e recebia acento agudo, suprimido no novo AcordoOrtográfico. São estrear e idear: estreio, estreias, estreia; estreie, estreies,estreiem.Ideio,ideias,etc.
VERBOSTERMINADOSEM-IAR
Várias dezenas de verbos terminados em -iar são inteiramente regulares,como adiar, abreviar, apreciar, avaliar, chefiar, comerciar, confiar, criar,desviar, elogiar, enfiar, espiar, iniciar, licenciar, negociar, premiar, saciar,variar,etc.:
vario,varias,varia,variamos,variais,variam.
[Aformavareiaévulgarenãodeveserempregada.]
Meia dúzia de verbos com essa terminação, contudo, afastam-se dessemodelo,poisnasformaschamadasrizotônicas(emqueoacentotônicorecainoradical)apresentameiemlugardei.Sãoosseguintes:ansiar,incendiar,mediar(eintermediar),odiareremediar.Vejaestaamostra:
anseio, incendeias, medeia, intermedeiam, odeiam, remedeiam; anseie,incendeies,medeie,intermedeiem,remedeiem;anseia,anseie,anseiem.
Nasformasnãorizotônicassãoregulares:
ansiamos,ansiais;remediemos.
MOBILIAR
Osdicionáriosemanuaisdeconjugaçãoregistramparaesseverbo(entrenósgeralmentesubstituídopormobilhar),nasformasrizotônicas,oacentotôniconoi(dasílaba-bi-),quesemarcanaescrita:
mobílio,mobílias,mobília,mobíliam;mobílie,mobílies,mobíliem.
EmPortugalseusamaisavariantemobilar.
PERDOAR,MAGOAREOUTROS
Umaspoucasdezenasdeverbosterminadosem-oarsãoregulares,masvaleapenalembrarquenaescritaoo tônicoda1.ªpessoadosingulardopresentedoindicativo recebia acento circunflexo, abolido pelo novo Acordo Ortográfico:abençoo,abotoo,atraiçoo,caçoo,coroo,doo,enjoo,ensaboo,magoo,perdoo,voo,etc.Nasdemaisformasrizotônicas,emboraootenhatimbrefechado,nuncarecebeuacentonaescrita:
abençoa,perdoa,magoa,voa,etc.
Váriosverbosqueapresentamencontrosconsonantais(ct,gn,pt,ps,tm,entreoutros), como adaptar, captar, consignar, designar, detectar, dignar-se,eclipsar,impugnar,interceptar,jactar-se,raptar,repugnar,resignar,ritmarealgunsoutros)sãoregulares;masconvémchamaraatençãoparaofatode,comotermos de origem culta, manterem em toda a sua conjugação o encontro deconsoantes,sema intromissãodenenhum i entreelas,comofazempessoas seminstrução.Sãodebaixonívelpronúncias(eescritas)como“Eumeindiguino(porindigno), ritimo ou rítimo (verbo ou substantivo, em lugar de ritmo) esemelhantes.
Faleeescrevacerto,portanto:
Não me adapto (a-dap-to).— Isso me repugna (re-pug-na).— Impugno!(im-pug-no).—“Ossonsdasavesritmam(rit-mam)comomarulhardaságuas.”
Cabe também uma palavra acerca de verbos da 1.ª conjugação em queocorrem os ditongos ei e ou, como sejam descadeirar(-se), embandeirar,empoleirar,inteirar,maneirar,peneirar,afrouxar,agourar,estourar,roubar,epoucosmais.
Nafalaculta(e,portanto,naescrita),no1.ºgrupo,mantém-seoditongoeiemtoda a conjugação (se bem que, na fala vulgar de certas regiões, o ditongo setransformaemé,quandotônico:ele[manéra],elase[descadéra],p.ex.):
maneiro,peneira,Elasedescadeira,Elesseinteiramdosfatos.
Quantoaosegundogrupo,deve-semanternaescritaoditongoou(emborajáestejapraticamentereduzidoaô,mesmona falaculta),evitando-seapronúnciavulgarcomóaberto([afróxo,róbas,estóra,agóram]):
Euafrouxoocinto;Turoubasteutempo;Abombasempreestouranaminhamão.
Nosverbosda1.ªconjugaçãoterminadosem-oar,uar,a3.ªpessoadosing.do pres. do indicativo termina em e e não em i (como acontece com os da 3.ªconjugação):
abençoe,acentue,atenue,perdoe,etc.
Existemalgunsverbosregularesda1.ªconjugação,emqueocorreHIATOcuja2.ªvogaléiouu,erecebemacentoagudoquandotônicos.Sãoeles,entreoutrospoucousados:ajuizar,amiudar,arruinar,enviuvar,enraizar,esmiuçar,faiscar,saudar.Eisumaamostradessaparticularidademeramentegráfica:
ajuízo,amiúdas,arruína,enviúvam,enraízo,esmiúças;faísca,saúdam.
Observe,também,quenosverbosterminadosem-guarou,pelanovaregradoAcordoOrtográfico,nãorecebetremaouacento,sejatônicoouátono.Osmaisusadossãoapaziguareaveriguar:apaziguemos,averiguei,apazigue,averigue,averiguem,averiguo,apaziguas,averiguamos,averiguam.)
Enãoseesqueçademanteroi,nasílabadi,emtodaaconjugaçãodoverboadivinhar:
adivinho,adivinhava,adivinhei,etc.
NA2.ªCONJUGAÇÃO
–Aprazer(quesignifica“agradar,causarprazer,seragradável”)quasesóseusana3.ªpessoadosingular:“Seistolheapraz”;éirregularnopretéritoperfeitodoindicativoenostemposquedelederivam:
aprouve,aprouvera,aprouvesse,aprouver:“Façamoquelhesaprouver.”
–Caber tem irregulares: a 1.ª pessoa do singular dopresente do indicativo(caibo)e todoopresentedosubjuntivo,quedeladeriva:caiba,caibas, etc.; opretéritoperfeitodoindicativoeostemposqueoacompanham:coube,coubeste;coubera;coubesse;couber.
–Emcrerelermereceatençãoopresentedoindicativo:leio,lês,lê, lemos,ledes,leem;creio,crês,crê,cremos,credes,creem.
– Dizer e seus compostos têm irregulares estas formas: digo (e todo opresente do subjuntivo: diga, digas, digais, etc.); o pretérito perfeito doindicativo e seus derivados: disse,disseste;dissera; dissesse; disser; os doisfuturosdoindicativo:direi,diria;predirá,prediria;eoparticípio:dito.
–Escrevereseuscompostossótêmirregularoparticípio:escrito.
–Fazeré irregular:na l.ªpessoadosingulardopresentedo indicativoenosubjuntivo: faço, faça, façais, etc.; no pretérito perfeito do indicativo e seusseguidores: fiz, fizeste; fizera; fizesse; fizer; nos dois futuros: farei, farias,desfarei,desfarias;enoparticípio:feito,refeito.
– Reaver (composto de haver) só admite as formas em que aparece o v:reavemos,reaveis, nopresente do indicativo; não temopresente do subjuntivonemo imperativo negativo; no imperativo afirmativo só se usa a 2.ª pessoa doplural: reavei. São irregulares o pretérito perfeito e seus derivados: reouve,reouveste,reouvera,reouvesse,reouver.—Observeaausênciadoh.
–Atentenagrafiadestasformasdemoereroer:moo,móis,mói,moemos,moeis,moem;roo,róis,rói,roemos,roeis,roem;moí,moía,roí,roía;moídoeroído.
–Perder tem irregulares a l.ª pessoa do singular do presente do indicativo(perco,quesepronunciacomefechado),opresentedosubjuntivo(perca,percas,etc.), o imperativo negativo (não percas, etc.) e, no imperativo afirmativo, asformaspercavocê,percamosnós,percamvocês.
–Sãoestasasformasirregularesdepoder:posso,possa,possas,etc.;pude,pudeste,pôde,pudemos,pudestes,puderam;pudera,puderas,etc.;pudesse,etc.;puder,puderes,etc.
–Precaver(-se)sóseusanasformasemqueasílabatônicarecaidepoisdoa;não tem, portanto, a l.ª, 2.ª e 3.ª pessoas do singular, a 3.ª pessoa doplural dopresente do indicativo, o presente do subjuntivo, o imperativo negativo; noimperativoafirmativosóocorrea2.ªpessoadoplural(precavei-vos).Emlugar
dasformasquefaltampodemusar-seossinônimosacautelar-seeprecatar-se.—Observe que precaver(-se) não é formado de ver (o seu radical é -cav-, quesignifica“prevenir-se,desconfiar, acautelar-se”), e conjuga-se regularmentenasformas usadas: precavemo-nos, precaveis-vos, precavi-me, tu te precaveste,precavemos-nos, precavestes-vos, precaveram-se; precavera-me, etc.;precavido.
– Prover, embora composto de ver, só o segue no presente do indicativo(provejo, provês, provê, provemos, provedes, provêem), no subjuntivo e noimperativonegativo(proveja,etc.)—Nopretéritoperfeitodoindicativo(enostemposquedelederivam),aocontráriodever,éregular:provi,proveste,proveu,provemos,provestes,proveram; provera, etc.;provesse, etc.; prover, proveres,etc.Étambémregularoparticípio:provido.
–Querer é irregular no pretérito perfeito do indicativo e nos tempos que oseguem:quis,quiseste,etc.;quisera,etc;quisesse,etc.;quiser,etc.(semprecoms!)Enopresentedosubjuntivo:queira,queiras,etc.
–Requerer,emboracompostodequerer,nãolhesegueasirregularidades:opretéritoperfeitoé:requeri,requereste,etc.Eigualmente:requerera,requeresse,etc. — Sua irregularidade é outra: faz requeiro, na l.ª pessoa do singular dopresentedoindicativo(e,portanto,nopresentedosubjuntivo:requeira,etc.).
–Saber tem irregulares as formas: sei; soube, soubeste, soube, soubemos,soubestes,souberam; soubera, etc.; soubesse, etc., souber, etc.; saiba, saibas,etc.
– o verbo ter (cuja conjugação já apareceu nos verbos auxiliares) possuinumerosos compostos que lhe seguem as irregularidades.Atente nestas formas:Eumeabstive,eleseabsteve;sevocêseabstiver;eumeative,eleseateveaoessencial;detive-me,elesedeteve,elessedetiveram;quandoeuobtiver;eumeentretinha, ela se entretinha; elemanteve a palavra; se você semantiver; elereteve,elesretiveram.
–Trazer,alémda1.ªpessoadosingulardopresentedoindicativo(trago)edo presente do subjuntivo (traga, tragas, tragais, etc.), tem irregulares o
pretérito perfeito do indicativo e tempos derivados: trouxe, trouxeste, trouxe,etc.;trouxera,etc.;trouxesse,etc.;
–Valer(eseucompostoequivaler)sãoirregularesna1.ªpessoadosingulardo pres. do indicativo (valho) e seus derivados: valha, valhas, valhamos,valhais,etc.;equivalho,equivalha,etc.
–Merecemtodaaatençãoasirregularidadesdevereseuscompostos.Alémdo presente do indicativo (vejo, vês, vê, vemos, vedes, vêem), do presente dosubjuntivo (veja, vejas, vejais, etc.), imperativo afirmativo (vê tu, veja você,vejamos nós, vede vós, vejam vocês), convém observar que o tema vi, dopretérito perfeito do indicativo (vi,viste, viu, vimos, vistes, viram) permanecenostemposdelederivados:vira,viras,víramos,víreis,viram;visse,visses,etc.;seeuvir,setuvires,seeleouvocêvir,senósvirmos,sevósvirdes,seelesouvocês virem. Muitos pensam que estas formas são do verbo vir, que, porém,apresentanoperfeitooradical-vie-(vim,vieste;vieram;viesse;vier).V.entreosirregularesda3.ªconjugação.
–Paraterminara2.ªconjugação,nãosepodedeixardefalarnoverbopôr(eseusnumerososcompostos).
Vocêtalvezestranhe:—Verbopôrda2.ªconjugação?!Masnãoterminaem-er!Nãoseráda4.ª?...
Asaparências iludem:overbopôr é anômalo, isto é, superirregular, já queperdeu, no infinitivo, a vogal e, característica da 2.ª conjugação (as formasarcaicasforampõer,dolatimponere,epoer,quefoisubstituídapelaatual).Masconservaessemesmoeemváriostemposdasuaconjugação:puseste,pusemos,puseram, pusesse, puser (tal como quiseste, quisemos, quiseram, quisesse,quiser,doverboquerer, tambémda2.ªconjugação).Lembre-se:essee,VOGALTEMÁTICA,équeindicaaconjugaçãodeumverbo.Vejaoquedissemossobreavogaltemática.
Eolhovivonasuaconjugação,muitoirregular:Noindicativosãoirregularesestestempos:
Presente:ponho,pões,põe,pomos,pondes,põem.Imperfeito:punha,punhas,punha,púnhamos,púnheis,punham.Perfeito:pus,puseste,pôs,pusemos,pusestes,puseram.
Mais-que-perfeito:pusera,puseras,pusera,puséramos,puséreis,puseram.
Enosubjuntivo:
Presente:ponha,ponhas,etc.Imperfeito:pusesse,pusesses,etc.Futuro:puser,puseres,...puserdes,puserem.Imperativoafirmativo:põe,ponha,ponhamos,ponde,ponham.Imperativonegativo:nãoponhas,...nãoponhais,etc.Particípio:posto.
Comopôrseconjugamosnumerososverbosdeleformados:compor,dispor,expor,impor,propor,repor,transpor,etc.
NA3.ªCONJUGAÇÃO
–Abrireseuscompostostêmoparticípioirregular:aberto,reaberto.
–Cobrirecompostos tambémtêmparticípio irregular:coberto,descoberto,encoberto,recoberto.—Alémdisso, na 1.ª pessoa do singular dopresente doindicativoemvezdeosurgeumu:cubro,descubro.E,comoédepraxe,esseusemantémnopresentedosubjuntivo:cubra,descubra.
Aliás,háoutrosverbosda3.ªconjugaçãoemquesedáessamudançadeoemu:dormir,engolir,tossir(durmo,engulo,tusso).
Outrosverbos,comunasílabaantesdatônicadoinfinitivoena1.ªpessoadosingular do presente do indicativo, têm o nas demais pessoas: acudir, bulir,entupir,fugir,subir,sumir; (acudo,acodes;bulo,boles;entupo,entopes; fujo,foges;subo,sobes;sumo,somes).
Ainda outros, bem numerosos, como ferir, que têm e na pretônica doinfinitivo, mudam esse e em i: aderir, advertir, competir, conferir, despir,digerir, divergir,divertir, expelir, inserir, investir,mentir, preferir, preterir,proferir, prosseguir, refletir, repelir, repetir, seguir, sentir, servir, sugerir,transferir,vestir,entreoutrosmenosusados.Eisumaamostra:
adiro, aderes, adira; compito, competes, compita; dispo, despes, dispa;divirjo,diverges,divirja;expilo,expeles,expila;ingiro, ingeres, ingira; insiro,inseres, insira; invisto, investes, invista; pretiro, preteres, pretira; repilo,
repeles,repila;sugiro,sugeres,sugira.
O verbo frigir, que também segue esse modelo, modernamente mostra umatendênciaacentuadaemseconjugarregularmente:frijo,friges(enãofreges),etc.
Já uns poucos verbos, como agredir, cerzir, prevenir, progredir, regredir,transgredir,trocamoedoradicaleminasformasemqueoacentotônicorecainoradical(chamadasrizotônicas):
agrido,agrides,agride,agrida;cirzo,cirzes,cirze,cirza;previno,prevines,previna; progrido, progrides, progrida; regrido, regrides, regrida; transgrido,transgrides,transgrida.
–Polirmuda oo em u nas formas rizotânicas: pulo, pules,pule, polimos,polis,pulem.
– Os verbos construir e destruir admitem as formas regulares construis,construi, construem, destruis, destrui, destruem, cada vez menos usadas emfavor de constróis, constrói, constroem, destróis, destrói, destroem,praticamenteasúnicasvivashojeemdia.
–Medir,pedir(ecompostos)apresentamirregularesa1.ªpessoadosingulardopresentedo indicativoeas formasdelederivadas:meço,meça;peço,peça;impeço,impeça,etc.
–Ouvirtemirregularidadeidêntica:ouço,ouça,etc.
–Umverbo anômaloda3.ª conjugação é ir, que apresenta nadamenos quetrêsradicaisdiferentes:va-(evariantevo-),i-efo-(variantefu-):
vou, vais, vai, vamos, ides, vão; ia, ias, etc.; fui, foste, foi, fomos, fostes,foram; fora, foras,... fôreis, etc.;vá,vás,vá,vamos,vades, vão; fosse, fosses,etc.:for,fores,...fordes,etc.
– Finalmente, entre os irregulares da 3.ª conjugação, o verbo vir, queapresentaváriasparticularidadesdignasdenota,extensivasaosdeleformados:
nopresentedoindicativoéerrocomumtrocara1.ªpessoadoplural,vimos,porviemos,queédopretéritoperfeito;atentetambémnagrafiada3.ªpessoadoplural:elesvêm;
o pretérito perfeito apresenta o radical -vie-, que vai ocorrer nos temposderivados:vim,vieste,veio,viemos,viestes,vieram;viera,vieras,etc.;viesse,etc.;vier,etc.;
outrapeculiaridadeéteriguaisogerúndioeoparticípio,vindo:estávindo(=estáchegando),tinhavindo(=tinhachegado).
Nãoqueroterminarsemunslembretesortográficos:
–arguireredarguirtêmouproferidoemtodaaconjugação,oqualprescindedoacentoagudoquandoseguidodeeoui,quandotônico:arguis,argui,arguem;edotremaquandoátono:arguimos,arguis;arguia,arguias,etc.;argui,arguiste,arguiu,etc.;arguira,etc.;arguirei,arguiria,etc.;arguisse,etc.;arguir,arguires,etc.;
–nãoseesqueçadeacentuaroiemhiato(quandosónasílabaouseguidodes), em verbos como atrair, atribuir, afluir, cair, concluir, constituir, diluir,diminuir, distribuir, evoluir, excluir, extrair, fluir, fruir, incluir, influir,instruir, obstruir, poluir, possuir, proibir, recair, reunir, restituir, retribuir,sair,substituir,trair,etc.Vejaumapequenaamostra:
atraí,atraías (masatraiu),atraíra, atraísse;distribuísse (mas distribuiu),concluído, fluído (diferentemente do substantivo fluido), incluí (mas incluiu),incluía,incluísse,incluído;proíbo,proíbes,proíba,reúno,reúnes,reúne,reúna,etc.Observequea3.ªpessoadosingulardopresentedoindicativoterminaemi,enãoeme(comoacontececomosverbosdal.ªconjugação):atrai,atribui,cai,conclui,constitui,diminui,evolui,inclui,retribui,sai,influi,possui.
Acredito que você, depois desta enxurrada de verbos, muitos delesirregulares,háde terenriquecidobastanteoseuconhecimento,diminuindosuasocasiõesdeerro.
NALÍNGUATAMBÉMHÁCOMANDANTESECOMANDADOS
19.REGENTESEREGIDOS:ACONCORDÂNCIA
Nemtodosostermos,numaoração,têmomesmovalor:háumahierarquia,comtermos PRINCIPAIS (REGENTES, SUBORDINANTES) e termosDEPENDENTES (REGIDOS,SUBORDINADOS).
Esse conjunto formado de um termo regente e de um termo regido, para oslinguistas,éumSINTAGMA.Assim:
1. Numa oração, onde geralmente ocorrem um sujeito e um predicado, osujeito é o termo regente, o predicadoo termo regido.Épor ser regentequeonomeoupronomesujeitoobrigaoverboaacompanhar-lheas flexões,oqueseestudanaCONCORDÂNCIAVERBAL:sujeitonosingular—verbonosingular;sujeitonoplural—verbonoplural:
“Eu|nãosoupoeta.”—“Vós|soisaesperançadofuturo.”“Meupai|adorava-me.”—“Osparentes|dividiam-se.”
2.Numgruponominal,osubstantivoéo termoregente,oadjetivo(nomeoupronome) é o termo regido, e por isso o substantivo comanda a flexão doadjetivo: substantivo no masculino — adjetivo no masculino; substantivo nofeminino—adjetivonofeminino;substantivonosingular—adjetivonosingular;substantivo no plural — adjetivo no plural. Esses fatos se estudam naCONCORDÂNCIANOMINAL.Ex.:
dia / bonito — noite / fria — solos / fecundos — terras /produtivas.
3. Nas relações entre os vários termos da oração formam-se grupos (ousintagmas)comasmesmascaracterísticas:umtermoregente,outrotermoregido.Assim,overboéregenteemrelaçãoaoseucomplementoouaoseuadjunto:
a)encontrarocaminho;b)atinarcomocaminho;c)iraSãoPaulodeavião.
Aqui estamos diante da REGÊNCIA VERBAL: o verbo encontrar é transitivodireto,eseucomplemento,oobjetodireto,nãoéintroduzidoporpreposição.Jáoverboatinar,transitivoindireto,exigeapreposiçãocom.No3.°exemploocorreoverboir,acompanhadodocomplementoaSãoPaulo,devaloradverbial(poisindicaLUGAR),indispensávelparacompletar-lheosentido,comapreposiçãoa,eoadjunto(tambémadverbial,poisindicaoMEIO)deavião,nãonecessárioàsuasignificação.
Um dos capítulos mais importantes da regência é o estudo da PREDICAÇÃOVERBAL, que se preocupa em analisar se o verbo, numa oração, possui ou nãocomplementos,seestessãoregidosounãodedeterminadapreposição.
É conveniente saber, por exemplo, que na regência do verbo contentar-seadmitem-seaspreposiçõescom,deeem.Camõesescreveunumsonetocélebre:
“Osdias,naesperançadeumsódia,Passava,contentando-secomvê-la”.
EMachadodeAssis,noseuromanceQuincasBorba:
“Gostadeseramado.Contenta-sedecrerqueoé.”
EograndeprosadorportuguêsEçadeQueirós:“Contentam-seemcomerumaazeitona.”
4. O que se disse da regência dos verbos aplica-se também aos nomes(substantivoseadjetivos):muitosdeles,especialmentequandodamesmafamíliadeverbostransitivos,têmcomplementosregidosdedeterminadaspreposições.
É o caso, por exemplo, de contente, cognato de contentar-se, cujocomplementopodeserintroduzidopelaspreposiçõescom,de,emepor:
“Riu,contentecomanotícia.”(AfrânioPeixoto)“Luísa, muito contente da afabilidade de Basílio, pôs-se a rir.”
(EçadeQueirós)“contentedomeuapoio”(M.deAssis)“...contenteem saberquepossuíapropriedadede tamanhovalor.”
(Medeiros e Albuquerque) “Estou contente por te ver onde desejasestar.”(AnterodeFigueiredo)
5.Nasrelaçõesentreorações,amarcadaregência,dasubordinaçãopodeserumapreposição,umaconjunçãosubordinativa,umpronomerelativo:
“Bateu uma tempestade, de desnortear bicho do mato.” (RuthGuimarães)
[Aoraçãoiniciadapelodeésubordinada.]
[Poderia também usar-se a conjunção que para introduzir a oraçãosubordinada (que terá o verbo no indicativo): “Bateu uma tempestade, quedesnorteavabichodomato.”]
“Descobriraumquartoescondido,ondeseguardavamvelharias.”
CertasvezesésimplesmenteaENTOAÇÃOASCENDENTEamarcasubordinativa:
“Morreu,enterra.” [=Jáquemorreu”] (RuthGuimarães,noconto
“Biguá”,emÁguaFunda).
6.PodeaindaaregênciaentredoistermosserestabelecidapelaPOSIÇÃOouCOLOCAÇÃO. Assim, num grupo nominal, em nossa língua, é a anteposição queindicaanaturezadesubstantivodeumnome,eportantooseuvalorderegente,principal, em relação ao termo posposto, adjetivo, e nesse caso regido,subordinado.
MachadodeAssis,nocapítuloIdoseuromanceMemóriasPóstumasdeBrásCubas,fazumjogodepalavrascombasenessefato:
“Eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defuntoautor.”
[Na primeira ocorrência, autor é substantivo, e portanto nome principal,regente,edefuntoéadjetivo,adjunto,regido:trata-sedeumautorjáfalecido;nasegunda,invertem-seosdados:alguémjáfalecido,umdefunto (substantivo),dealém-túmulo,escreveumlivro,toma-seautor(adjetivo).]
7.Éaindaumcasodecomando,deregência,portanto,aobrigatoriedadedecorrespondência,istoé,deconcordânciadostemposverbais.
“Seestivervivo,vem(ouvirá)nomeurastro.”
Compare:
“Seestivessevivo,vinha(ouviria)nomeurastro.”
Depoisdestasériedeconsideraçõeseexemplos,vocêpodedizerquejátemuma noção razoável do que seja, na linguagem, a regência — importanteelementocaracterizadordaestruturadeumalíngua:éamarcadedependênciadeumtermoaoseuprincipal.
Numsentidomaisrestrito,podemosdizerquearegênciaéapropriedadequetêm certos termos de exigirem determinado complemento para sua perfeitacompreensão.
O estudo da regência é essencial para a correção da linguagem em trêscamposdiferentes:
1.naCONCORDÂNCIAdecertostermoscomoutros;2.naREGÊNCIA(strictosensu),ouseja,naexigência,ounão,dedeterminado
tipodecomplemento;3.naordemouCOLOCAÇÃOdecertostermosnaoração.
ACONCORDÂNCIA
Noprimeirocaso—aconcordância—,a regênciase fazpelaacomodaçãodasFLEXÕESdotermodependenteàsdoprincipal.
Seotermosubordinadoénome,pronome,numeralouartigo,aconcordânciasedizNOMINAL:
“Lua mansa, / pedaço perdido / do anel partido / de algumaesperança.”(CecíliaMeireles)
Seéumverbo,aconcordânciasedizVERBAL:
“Eucantoporqueoinstanteexiste/eaminhavidaestácompleta.”
Hádoistiposgeraisdeconcordância:1. concordância GRAMATICAL (ou LÓGICO-FORMAL), em que se obedece às
normasdagramáticaedalógica,comonosexemplosacima;2. concordância ESTILÍSTICA (ou EXPRESSIVA), em que ocorrem desvios,
motivadosporfatoresdeordemnãogramatical,maspsicológica.
ACONCORDÂNCIAGRAMATICAL
Sãomuitosimplesospreceitosgeraisdaconcordânciagramatical:
NOMINAL
1.Oadjetivo,nafunçãodeadjuntoadnominaloudepredicativo,oartigo,opronomeounumeraladjetivo,concordamemgêneroenúmerocomosubstantivooupronomeaquesereferem:
“Mal percebi o rostinho moreno, as tranças negras, os olhosredondoseluminosos.”(GracilianoRamos)
“Se ela estivesse próxima... Considerei-a mais perfeita que asmoçasdofolhetim.”(Idem)
“Perguntaserespostasafluíamclaras.”(Idem)“Seupaifoigeneroso.”(MachadodeAssis)“Apalavrasaía-lhemaisfácil,seguidaenumerosa.”(Idem)
2.Doisoumaissubstantivosdomesmogêneronosingularequivalemaumdomesmogêneronoplural,eparaopluralvaigeralmenteoadjetivoquelhesdizrespeito:
vinhoepãofartos;“A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas.” (Machado
deAssis)
3.Doisoumaissubstantivosdeambososgênerosnosingularequivalemaummasculinoplural,gêneroenúmeroquetomageralmenteoadjetivoreferente:
“Tinha a cabeça rachada, uma perna e o ombro partidos.”(MachadodeAssis)
Veja-se,apropósitodeste tipodeconcordância,ocapítulo“Omachismonalinguagem”.
VERBAL
a)Comsujeitosimples:
Overboconcordaemnúmeroepessoacomosubstantivooupronomequelheservedesujeito:
Eeuolhoaesteiraazulcelestequemeanuviaoolhartristonho:Ai,meuamor,tubemdisseste:
háumamentiraemcadasonho.”(HenriquetaLisboa)
“Nósestaremosnamortecomaquelesuavecontornodeumaconchadentrodaágua.”
(CecíliaMeireles)
“Olhai,vós,oscondenados,agrandesombraqueavança.”
(Idem)
“MelhornegócioqueJudasfazestu,JoaquimSilvério:queeletraiuJesusCristo,tutraisumsimplesalferes.”
(Idem)
b)Comsujeitocomposto:
1.Doisoumaissubstantivosnosingularequivalemaumnoplural:
“Achuvaeosolvinhamdocéu.”(GracilianoRamos)“Oamoreafomegovernamestemundo.”(MachadodeAssis)
2.Senosujeitohouveruma1.ªpessoa,overboiráparaa1.ªdoplural:
Eu,tueMariaviveremos.
3.Senosujeitohouver2.ªe3.ªpessoas,overboiráparaa2.ªdoplural:
“Quandotueosteusfordesnosfossos.”(CastroAlves)
OBS.: Como veremos adiante, apesar de rigorosamente gramatical e lógica,
essaconcordânciaestácadavezmaisforadeuso.
ACONCORDÂNCIAESTILÍSTICA
Aconcordâncianãogramaticalouestilística se efetua sobretudoemvirtudedetrêsfatores,quepassamosaexaminar.
a)Concordânciaporatração
A presença de um termo atraente, que se sobrepõe psicologicamente aoverdadeiro termo subordinante, arrasta para sua esfera de ação o termosubordinado—éaconcordânciaporatraçãoouposicional:
“Viuumcasaldenoivos,naflordavida,quesedebatiamjácomamorte.”(MachadodeAssis)
[Overbo,emvezdeconcordarcomosingularcasal,núcleodoobjetodireto,concordacomnoivos,seuadjunto,palavramaisimportante,paraoautor.]
“Lá embaixo está o mar, os rochedos e a espuma.” (AugustoFredericoSchmidt)
[Em lugar de se fazer a concordância do verbo no plural, com o sujeitocomposto,prevaleceuotermomaispróximo,mar.)]
Sempre houve na língua, e continua a haver, a tendência para que aconcordância se faça com o termo mais próximo, o que se acentua quando aconstrução se faz em ordem inversa— anteposição do adjunto adnominal aossubstantivos,oudoverboaosujeitocomposto:
Comsinceraadmiraçãoeapreço;Comsinceroapreçoeadmiração.
Mas:
Comadmiraçãoeapreçosinceros.
Mesmo posposto o adjetivo, encontra-se também a concordância com osubstantivomaispróximo:
Comadmiraçãoeapreçosincero;Comapreçoeadmiraçãosincera.
Serenava a bravura e cólera acesas na próxima luta.” (J. deAlencar)
“Vooumeuamor,minhaimaginação.”(C.Meireles)
Éaatraçãodopluraldeumpredicativo que levaaopluraloverbodeumsujeitonosingular:
“Operigoseriamasfebres.”(GilbertoAmado)
b)Concordânciapelosentido
Outrasvezesosentidonosfazrelacionarotermoregidonãocomseuregenteexpressonaoração,mascomumaideiaquedeletemos,implícitaemnossamente—éaconcordânciaideológica,chamadasilepseousínese,quepodefazer-seemgêneroouemnúmero:
“Então de uns tempos para cá, parece que essa gente está doida;botam abaixo, derrubam casas, levantam outras, tapam umas ruas,abremoutras...Estãodoidos!!!”(LimaBarreto)
[Aideiadepluralcontidanocoletivofemininogente(=muitoshomens)levaao plural os verbos da 2.ª e 3.ª frases, e, por influência do termo homens,subjacentenoespíritodoautor,oadjetivodoidosestánomasculinoplural.]
“O queme parece inexplicável é que osbrasileirospersistamos
emcomersemquasenenhumdeleiteessacoisinhaverdeemolequesederrete na boca sem deixar vontade de repetir a dose.” (ManuelBandeira)
Aexpressão“osbrasileiros”correspondeauma3.ªpessoadoplural;masoverbofoiparaa1.ªpessoadopluralemvirtudedapresençamentaldopronomeeu,quelevaoautoraincluir-seentreaqueles.
Ou ainda a concordância com os pronomes de tratamento formalmentefemininos,comoV.S.a,V.Ex.a,quesefazcomosexodapessoa,quesetememmente:
“V.Ex.ªtemsidomuitogeneroso.”
Éa ideiadopronomede tratamentovocês, usual emvez do esquecido vós,quelevaà3.ªpessoaoverboquandoconcorremnosujeitocompostoa2.ªea3.ªpessoa:
“Esperoquetuetodosemcasaestejambem.”(enãoestejais).
“Alinguagemcorrenteevitaumasintaxecomotueelepartireisamanhã,paraadotarapenastueelepartirãoamanhã.Nessecaso,temosaequaçãotu+ele=vocês,ossenhores,osdois, todos.”SãopalavrasdoMestreMartinsdeAguiarquesubscrevemos.
NesteversodeCecíliaMeirelesintervémaindaaproximidadedosubstantivoestrelas:
“Nãomeinteressammaisnemasestrelas,nemasformasdomar,nemtu.”
Ofatode se englobarmentalmentenumsó todosos componentesdo sujeitopodelevarparaosingularoverbo:
“Nemtormentanemtormentonospoderiaparar.”(Idem)
c)Concordânciaafetiva
A emoção e afetividade podem impregnar a linguagem dos sentimentos quenosdominam,fazendo-nosabandonarasnormasdaconcordância—quepassaaserafetiva.
Dos mais frequentes é o caso do emprego da 1.ª pessoa do plural, pormodéstia(realoufalsa),emlugardal.ªdosingular:
“Dentrodessalinhageraldepensamentofoiquenosaventuramosa este trabalho, que útil nos parece aos estudos estilísticos da línguaportuguesa.”(JesusBeloGalvão)
Outrocasointeressantedesintaxeafetivaéamudançadetratamentodeumafrase para outra, quando nos dominam e agitam sentimentos variados. QuincasBorba,personagemmeioalienadodeMachadodeAssis,dirigeumacartaaoseuamigoRubião:
“Meucarosenhoreamigo,Vocêhádeterestranhadoomeusilêncio.Nãolhetenhoescritopor
motivosparticulares[...]Ouça,ignaro[...]:ouçaecale-se.[...]Adeus,ignaro.Nãocontesaninguémoqueteacabodeconfiar,se
não queres perder as orelhas. Cala-te, guarda e agradece a boafortunade terporamigoumgrandehomem,comoeu,emboranãomecompreendas.”
Oautorcomeçausandoumtomalgocerimonioso(senhor),passadepoisparavocêe,noúltimoparágraforealçaaintimidadecomotratamentotu.
20.OPRONOMESEEACONCORDÂNCIA
Muitosembaraçosàcorreçãoda linguagemcausaestapalavrinha—ose—,especialmenteàconcordância.
Acontece que esse minúsculo saci pula facilmente de uma função a outra,embaraçandomuitoescritorquenãotenhaleituraabundantedosmaistarimbadosqueoprecederam,ouquerejeitecomoinúteisunsrudimentozinhosdegramática...
Para evitar pedrinhas e tropeços no seu caminho de escritor correto, lançoaqui umas noções preliminares bem simples, lembrando-lhe que sem umpouquinho de esforço não se conseguem bons resultados, pois, como diz asabedoriapopular, “Nãosepescam trutasabragasenxutas”... [braga éonomeantigodeumtipodecalção].
NOÇÕESPRELIMINARES
Vozativaevozpassiva
Numaoraçãoconstruídacomumverbodeação,háumnomequeexprimeoexecutor—oAGENTE—epodehaveroutronomequeindicaoserquerecebe(ousofre)oresultadodaação—oPACIENTE.
NachamadavozATIVA,oagenteéoSUJEITOdaoraçãoeopacienteoOBJETODIRETO.Observeestesexemplos:
SUJEITO-AGENTE AÇÃO OBJETODIRETO-PACIENTEGracilianoRamos escreveu VidasSecas.
Fabiano castigou ofilho.Baleia caçou umpreá.Ofogo queimou apalhoça.Omenino imitava opai.Umhalocordeleite cercava alua.Ovento sacudia asárvores.Ovento desfez asnuvens.Admiradores cercaram aatriz.
Tantoosujeitoquantooobjetopodemserexpressosporpronomes:
Elecastigouofilho.Elecastigou-o.Todosoabandonavam.Eladespertou-os.Elasacrificaraopapagaio.Elaosacrificara.
Noutrotipodeconstrução,emqueseusaoverboser(àsvezesestarouficar)e um particípio, o objeto-paciente transforma-se em sujeito, e o agente-sujeitopassaaserprecedidodapreposiçãopor(maisraramentede),eentãodiz-sequeaoraçãoestánavozPASSIVA:
SUJEITO-AGENTE AÇÃO OBJETODIRETO-PACIENTEVidasSecas foiescrito porGracilianoRamos.Apalhoça foidestruída pelofogo.Alua estavacercada deumhalocordeleite.Asárvores eramsacudidas pelovento.Opapagaio forasacrificado porela.Aatriz ficoucercada deadmiradores.
Muitasvezes,senãohouverinteressenisso,naoraçãopassivanãosedeclaraoagente:
Apalhoçafoidestruída.Asárvoreseramsacudidas.Ofilhofoicastigado.
Asnuvensforamdesfeitas.Opapagaioforasacrificado.
Émuitocomum,emnossalíngua,ainversãodaordemnavozpassiva:
Foidestruídaapalhoça.Forasacrificadoopapagaio.
ConstruçõesdavozativacomSE:
I.REFLEXIVA
Umagentepodeexecutarumatosobreoutroser,eessefatoseexprimenavozativa:
Ocabeleireiropenteavaaatriz.Eletepenteava.Oguarda-vidassalvou-os.
Osujeitoeoobjeto,nestecaso,sãodepessoasgramaticaisdiferentes.Mastambémpode—eessaconstruçãoéquenosinteressaagora—executar
umatoSOBRESIMESMO:éaconstruçãoREFLEXIVA:
Eumebarbeio.Tuterecolhesmuitocedo.Elasepenteava.Elemesmosebarbeia.Nósnoshospedamosnapousada.Elessesalvaramanado.
SãoDOIS pronomes—um sujeito, outro objeto direto—DA MESMA PESSOAGRAMATICAL.
Eoverbovariadeacordocomapessoadosujeito.
II.RECÍPROCA
Váriosagentespodemexecutaromesmotipodeaçõessobresimesmos:éaconstruçãoRECÍPROCA:
CarloseaJoaninhaamam-se.Eleeelaseabraçaram.Osmeninosseengalfinharam.Osdesafetossereconciliaram.Emborairmãos,nãoseconheciam.
Como o sujeito, neste caso, tem mais de um agente, o verbo vainecessariamenteparaoplural.
Como a construção recíproca pode confundir-se com a reflexiva, pois emambasseempregaumpronomedamesmapessoadosujeito,usam-se,paraevitarambiguidade,certasexpressõespleonásticas,comoumaooutro,unsaosoutros,mutuamente:
Elas se penteavam vagarosamente. (Reflexiva: cada uma sepenteavaasiprópria.)
Elassepenteavamumaàoutra.(Recíproca.)
III.APARENTEMENTEREFLEXIVA
Emalgunscasos,aconstruçãopronominalindicanãoreflexividade,masqueumagentequalquer,diferentedosujeito,obteveomesmoresultadoqueosujeitoteriaobtidoexecutandodeterminadoatosobresipróprio:
Eume barbeio diariamente com um barbeiro português. (Eu soubarbeadoporoutrapessoa.)
ElassepenteiamnosalãoVogue.(Outrapessoaaspenteia.)
Overbo,comosempre,concordacomosujeito.
IV.ADVENTÍCIA
Lembremos inicialmente que adventício quer dizer casual, inesperado, que
advém,istoé,queaconteceouocorreeventualmente,acidentalmente.Àsvezesseempregaaformareflexivanãoparaexprimirumatoqueosujeito
executa sobre simesmo,mas que nele se efetua algo adventício, um fenômeno,umamudança,umtranstorno:
Asfrutasseestragaramcomocalor(ficaramestragadas).Aschamasseextinguiram(ficaramextintas).Anevesedesfez(ficoudesfeita).Àmorte de Jesus, os sepulcros se abriram e rasgou-se o véu do
templo.Ascordasdoandaimeseromperam.Amemóriaseperdecomosanos.Aspaixõesseadormecemcomasocupações.Asnévoassedispersamcomosraiosdesol.Asrosasseabrirampelamanhã.Afumaçaseelevaemespirais.
Essas construções de sentido adventício equivalem muitas vezes a umaconstrução com o verbo ficar mais o particípio do verbo (ou um adjetivo domesmoradical).
Asruasseesvaziaram.(Equivalea“ficaramvazias”)Apraiaseencheudegente.(Éomesmoque“ficoucheia”)Ossentidosseembotamnainação.(Dizpraticamenteomesmoque
“ficamembotados”)
Neste caso podem enquadrar-se as construções com verbos essencialmentepronominais,ouseja,quenãodispensamopronome:
Elasearrependeutardiamente.(=“ficouarrependida”)Elecondoeu-sedoestadodeles.(=“ficoucondoído”)Elasezangaàtoa.(=“ficazangada”)Elasqueixavam-sedasorte.Eleabsteve-sedevotar.Elesseequivocaram.
Pode dizer-se, em princípio, que o adventício exprime o que ocorre nascoisas,eomeramentepronominaloqueocorrenaspessoas.
Esempreoverboconcordandocomoseusujeito.
Oseindicadordesujeitoindeterminado
O pronome se, na evolução da língua, passou a usar-se, com verbos nãotransitivosdiretos,na3.ªpessoadosingularparaindicarqueaoraçãonãopossuisujeitodeterminado:
Tambémsemorredeamor.(Querdizer:hápessoasquemorremdeamor)
Precisa-se de vendedoras. (= Há necessidade de vendedoras noestabelecimento)
Nunca se é excessivamente bom. (O se correspondeaproximadamenteaalguém,umapessoa)
Deumahoraparaoutraseestánoocodomundo.(Idem)Vive-sebemaqui.(Qualquerpessoavive)Jánãosefalava,gritava-se.(Todosgritavam)
Oseindicadordevozpassiva
Umverbo transitivo direto, já o vimos, admite uma construção denominadaVOZPASSIVA, em que se utiliza, nomais das vezes, o auxiliar ser seguido peloparticípiodoverboprincipal; equeéusual,nessaconstrução, aordem inversa(primeirooverbo,depoisosujeito-paciente)eaomissãodoagente:
1.Foianunciadaumadesgraça.2.Hojeseráfeitaaúltimaprovadoconcurso.3. Ontem foirealizada uma grandemanifestação pelas eleições
diretas.4.FoipublicadomaisumlivrodeCarlosDrummonddeAndrade.5.Ficamrevogadasasdisposiçõesemcontrário.6.Seráampliadoonúmerodesalasdeaula.7.Nãofoiesclarecidoo“crimedamala”.8.ForamenviadosmilharesdetelegramasaoPresidente.
9.Éignoradoqualoautordesselivro.10.Foifalsificadoouísqueescocês.11.NoBrasiljásãofabricadosminicomputadores.
Ora, para indicar a voz passiva, a língua portuguesa dispõe de outraconstrução,maisleveemaisbreve,comoverbonamesmaformadavozativa,e(comonãopoderiadeixardeser...)comopronomese.Compare:
1.Anunciou-seumadesgraça.2.Hojesefaráaúltimaprovadoconcurso.3. Ontem se realizou uma grande manifestação pelas eleições
diretas.4.Publicou-semaisumlivrodeC.D.A.5.Revogam-seasdisposiçõesemcontrário.6.Ampliar-se-áonúmerodesalasdeaula.7.Nãoseesclareceuo“crimedamala”.8.Enviaram-semilharesdetelegramasaoPresidente.9.Ignora-sequaloautordesselivro.10.Falsificou-seouísqueescocês.11.NoBrasiljásefabricamminicomputadores.
Ora,comoosujeitodessasoraçõesdevozpassivavemmuitasvezesdepoisdo verbo, o falante confunde a voz passiva com a indicação de sujeitoindeterminado:o sujeito-paciente é tomadocomoobjeto-paciente; e, quandonoplural,overbo,quedeviair tambémparaoplural,édeixadonosingular,numatendência bastante natural,mas que contraria a longa tradição da língua escritaculta.
Sevocêquer,então,manter-sedentrodoqueéconsideradocorretonanormaculta padrão, não pode confundir as construções do se indicador de sujeitoindeterminadoemqueoverboficasemprenosingular—comaquelasoutrasemqueoseexprimevozpassiva,emqueoverboiráparaopluralseoseusujeito,quasesempreposposto,estivernoplural.
Observeosexemplosatentamente,eassimvocêestarálivredeerrar:
1.Anunciou-seareforma. 1.Anunciaram-sereformas.
2.Amanhãsefaráaúltimaprova. 2.Amanhãsefarãoasúltimasprovas.
3.Publicou-senovolivrodeJorgeAmado. 3.Publicaram-senovoslivrosdeJorgeAmado.
4.Revogou-sealei. 4.Revogaram-seasleis.
5.Ampliar-se-áonúmerodevagas. 5.Ampliar-se-ãoasvagas.
6.Realizou-segrandemanifestação. 6.Realizaram-segrandesmanifestações.
7.Esclareceu-semaisumcrime. 7.Esclareceram-seoutroscrimes.
8.Enviou-seumtelegrama. 8.Enviaram-setelegramas.
9.Ignora-seoautordestelivro. 9.Ignoram-seosautoresdesteslivros.
10.Aquelelivroimprimiu-seem1495. 10.Aqueleslivrosimprimiram-seem1495.
11.Falsificou-seabebida. 11.Falsificaram-seasbebidas.
12.Fabricou-seumnovocomputador. 12.Fabricaram-senovoscomputadores.
13.Preparava-seumesquemadiferente. 13.Preparavam-seesquemasdiferentes.
14.Sóseconheceumasaída. 14.Sóseconhecemduassaídas.
15.Conservava-seoalimentonogelo. 15.Conservavam-seosalimentosnogelo.
16.Definiu-seoobjetivodalei. 16.Definiram-seosobjetivosdalei.
17.Rememora-seadata. 17.Rememoram-seasdatas.
18.Recuperou-seamercadoria. 18.Recuperaram-seasmercadorias.
19.Fechou-seaporta. 19.Fecharam-seasportas.
20.Emitiu-seumparecerdecisivo. 20.Emitiram-separeceresdecisivos.
21.OMACHISMONALINGUAGEM:ACONCORDÂNCIANOMINAL
Opreconceitodequeamulherénaturalmentedependentedohomem(einferiora ele) tem suaorigem, semdúvida, no episódiobíblicoquenarra ter sidoumacosteladeAdãoamatéria-primadequeDeuscriouEva.
AmetadefemininadoHomosapienssempretevepapelsubalternonaHistória—escritaporhomens,aliás.
NãoapenasaBíblia,mastambémoTalmude—enãoesqueçamosqueambosforamescritosporhomens...nos forneceminúmerosexemplosdediscriminaçãocontraamulher.
DesdeLilith(doTalmude)—aLuaNegra,queteriasidoaprimeiramulherde Adão e que, por não ter querido submeter-se a ele, saiu do paraíso pararegiões ignotas e é tratada como um espírito infernal feminino, uma “diabanoctívaga”incorporadaaofolcloredecertospovos...
Masoqueimportaagoraémostrarqueessepreconceito,velhíssimomasnempor isso menos injusto, se revela em todos os campos em que o homem vemimperandoatravésdosséculos,etemguaridaaténalinguagem.
Nosprovérbios—cuja fonte,dizemoshomens,éasabedoriapopular,nemtão sábia assim... — também se patenteia a discriminação. Desde os demenosprezo,como“Mulherebolachaemtodaparteseacha.”,atéosadágiosquejulgamperigosa amulher instruída: “Deusme livre demula que fazhim! e demulherquesabelatim.”
Todos conhecem as regras básicas de concordância nominal — não aestilística!— da nossa língua: apesar de haver em português dois gêneros, o
masculino e o feminino, é o masculino que predomina em numerosascircunstâncias,quepassoaresumir.
Ésabidoqueoadjetivoeopronomeemfunçãodeadjuntooudepredicativoconcordam em gênero (e número) com o substantivo a que se referem: “Altanoite, lua quieta, muros frios, praia rasa” — diz-nos a alta poetisa CecíliaMeireles.
Mas os fatos começam a complicar-se quando, numa frase, concorremsubstantivos dos dois gêneros: a norma gramatical prescreve, então, que oadjetivoreferentevaiparaomasculinoplural:alunosealunasaplicados;“Pedro,Maria e Helena são estudiosos.”. Isso ocorre mesmo que predomineavassaladoramenteosexofeminino:“Meusalunos(=3alunos+47alunas...)sãonumerosos.”Sempreamulherrelegadaaplanoinferior...
Vale a pena advertir que o gênero gramatical, quando em palavras quedesignamseresinanimados(oucoletivos),nadatemcomsexo:sãodomasculinoasqueadmitemoartigoo,um,como(o)problema,(um)jarro;edofemininoosquerecebemosartigosa,uma:(a)gente,(uma)jarra.
E lá vem a prepotência domasculino: nas enumerações de substantivos degênerosdiversos,mesmoquehajaumsódomasculino,énessegêneroquefica,por norma, o adjetivo: “Havia papéis, gravuras, revistas e canetas espalhadossobre amesa.” (A concordância com o nomemais próximo se considera casoexcepcional.)
Ocorremoutroscasosdopredomíniodomachismona línguaportuguesa:empalavrasemqueogênerogramaticalnãoédeterminado,opta-sepela formadomasculino. É o que acontece com os pronomes indefinidos, como alguém,ninguém (e acrescento se), neutros na sua forma: na concordância, o adjetivoassumeogêneromasculino:“Ficavahorasnajanelaaversealguémconhecidopassava.”;“Nãohavianinguémfamosonareunião.”;“Nuncaseésuficientementegeneroso.”
Outro exemplo está nos nomes que sintetizam substantivos de gênerosdiferentes:“Tenhotrês filhos,duasmoçaseumrapaz.”;pais representaasomade pai emãe; vizinhos é a soma de vizinho+vizinha; os tios incluem tio(s) etia(s);eassimpordiante.
O pronome pessoal da 3.ª pessoa do plural assume a forma eles, domasculino,quandosubstituinomesmasculinosefemininos:“JoãoeMariasaíram:elesvãoaoteatro.”
Étambémaformadomasculinoqueseusaparadesignarosmembrosdeumaclassenoseuconjunto.Homem,enuncamulher!,éosubstantivoqueseaplicaà
classedos“sereshumanos”, formadadehomens,mulheres,meninosemeninas:“O homem é um ser racional.” (= os homens e as mulheres); “O homemconquistouaLua.”(=oHomosapiens).
Quandosefazmençãoànacionalidade,éigualmenteomasculinoqueseusa:“Obrasileiroécordial.”(=osbrasileirosebrasileiras).
Só se diz homem de Cro-Magnon, homem de Neanderthal; a origem dohomem,aevoluçãodohomem(=dahumanidade).
Comosevê,sóaformadomasculinoenglobaosdoissexos.Daí a satisfação do filólogo não machista com alguns achados, posto que
raros,deusodofemininocompronomesindefinidos,talcomoestedeMachadodeAssisnocapítuloVIIIdeEsaúeJacó:
Natividade,desiparasi,confessavaostrintaeum[anos],etemianãoveragrandezadosfilhos.Podiaserqueavisse,pois tambémsemorrevelha,ealgumavezdevelhice,masteriaomesmogosto?”
EMárioBarreto,nosseusÚltimosEstudos,p.411,nosforneceesteexemplodeCamilo,comagente:
“Comestesleitoresassimprevistos,omaisacertadoéagentesersincera.”
Outro casodemachismoemnossos clássicos: coma expressãoum e outroaplicada a nomes dos dois gêneros, é mais comum o emprego das formas domasculino,lembraEvanildoBechara,quenosforneceexemplosdeHerculano,umdosquaistranscrevo:“Lácomeçaramosseusamores[dorei]comarainha,quetãofataisforamparaumeoutro.”,(enãooutra).AcrescentoesteoutrodeM.deAssis, no Quincas Borba, cap. LX: “A mulher do colchoeiro escovou-lhe ochapéu;e,quandoele[Rubião]saiu,um(emvezdeuma)eoutroagradeceram-lhemuitoobenefíciodasalvaçãodofilho.”
Uma conquista bem recente se refere à denominação das profissões, até hápouco designadas quase exclusivamente pelomasculino: já se diz “aSenadoraEunice”,“aMinistraEster”,“aPrimeira-Ministra”.
Asprópriasdefiniçõesdosdicionários,mesmoseonomeéuniforme,usamapenasomasculino.UmexemplodoCaldasAulete:
“Diplomata.Funcionáriodocorpodiplomáticodeumpaís.” (Porquenão“funcionáriooufuncionária”?...)
E embora existam as duas formas poeta/poetisa, considera-se depreciativa(porquê?)a forma femininapoetisa; e é comum,quandoumadelas atingeumaculminância, denominá-la, numa esdrúxula combinação, com a forma domasculino: “a poeta Cecília Meireles”. Vamos reabilitar o feminino poetisa,retirando-lhequalquerconotaçãopejorativa!
CONCORDÂNCIAPORATRAÇÃO
Outra compensação para o machismo imperante está na concordância poratração.
A posição dos determinantes em relação ao substantivo determinado,principal,éumadasrarasocasiõesemqueaatraçãodofemininosesobrepõeaomasculinismodalíngua:
Seoadjetivoprecedeos substantivos, e seoprimeirodestes fordogênerofeminino, a atração se exerce, e é mais comum usar-se o feminino (emboratambémcaibaoindefectívelmasculinoplural):
“Caladaanatureza,aterraeoshomens”—assimpoetouograndeGonçalvesDias,deixandodeladoomasculinopluralcalados.
De Machado de Assis posso citar: “aquietada a imaginação e oressentimento”(QuincasBarba,cap.LXIII)—enãoogramaticalaquietados.
E,emcertoscasos,aproximidadedosubstantivofemininoétãoatraentequeéimpossível o uso do masculino: “Com sincera admiração e apreço.”; “Ótimaocasiãoelugarescolheste.”—enuncasincerosnemótimos,nessaposição.
Aforteatraçãofemininachegaaexercer-se,àsvezes,sobreoadvérbiomeio(que,comoadvérbio,deveserinvariável),ocorrênciafrequenteemMachadodeAssis, que nisso seguia seus queridos clássicos: “janelameia aberta”. (Tenhoanotados exemplos de outros autores, por exemplo Emanuel Guimarães, cujoromance A todo transe! preparei para reedição: “De repente, a trapezistaprecipitava-sedoalto... eprojetava-se sobreo tapetedapista,desmaiada,umacostela fraturada, as carnes pisadas,meia morta.”; “Estava já na rua, ansiada,sufocando,meia douda.” — Os gramáticos, advirta-se, não recomendam essaconcordânciaporatração.)
A tendência a masculinizar os femininos se mostra, ainda, em certasexpressões,comohajavista.
Haver vista é “considerar-se”, “merecer consideração”, e a melhorconstruçãocomelaémanterosubstantivovistainvariável,flexionando-seapenasoverbohaver:
“Hajavistaadeterminaçãolegal.”“Hajamvistaasdeterminaçõeslegais.”
Apesar da inquestionável presença do substantivo vista nessa expressão,encontram-se, até em bons escritores, exemplos demasculinização, haja visto,comoseosubstantivofosseumadjetivoverbal(particípio).
Outra masculinização ocorreu na locução devido a (cujo uso, diga-se depassagem,nãotemrespaldonosautorescuidadosos):devido,particípiodoverbodever,concordavanormalmentecomosubstantivoreferente:“ausênciadevidaamotivoimperioso”;comotempo,foi-seusandoomasculino,surgindoalocução:“ausênciadevidoamotivoimperioso”.
Tambémoparticípiofemininodoverbodar—dada(s)—vem-seprestandoaumamasculinizaçãoquelevaagrosseiroerrodeconcordância,comosehouvessealocuçãodadoa.
Use:Dadaaatenuante;Dadasascircunstâncias—enuncadadoà,dadoàs!
É auspicioso registrar aqui a série de recomendações que duas prestigiosascasas editoras da França e dos EstadosUnidos—FernandNathan eMcGrawHill— fizeramaos seus autores comoobjetivodedarem tratamento igual aosdoissexosnosseuslivros.
ArevistaLeiadejunhode1987transcreveatraduçãodeumtextopublicadopela UNESCO, “Vencer o sexismo nos livros para crianças e nos manuaisescolares”.
Na luta contra estereótipos arbitrários baseados na discriminação contra osexo feminino, são de louvar tais recomendações, em que os editores desejam“mostrar o papel que o vocabulário desempenhou no reforço da desigualdadeentreossexos,esugerirosmeiosdeapresentarosdoissexosdamaneiramaisjustapossível”.
Como exemplo: é necessário mostrar as mulheres na grande variedade depapéis que hoje desempenham: médica e dentista, e não somente enfermeira;
diretoradeescolaouprofessorauniversitária,enãoapenasprofessoraprimária;advogada ou juíza, em lugar de assistente social; diretora de empresa, e nãoobrigatoriamentesecretária;deputadaesenadora;etc.
Comonãosedeveescrever:
“HenriLebrunéumadvogadoderenome,esuamulherumabonitamorena.”
Comosedeveescrever:
“OsLebrunformamumbelocasal.Henriéumlourobonito,esuamulher,morena, tembeloscabelos.Cadauméapreciadonodomíniodasuaprofissão:Anneéumaexcelentepianista,eHenriumadvogadodetalento.”
Como se vê, os tempos mudam, e já existem corajosos defensores daigualdadedamulher,paraosquaiseladeixadesermeroobjeto...
22.REGÊNCIA
Na regência em sentido restrito, a dependência não semanifesta pelo acordodasflexõesdeumapalavracomoutra(comoocorrenaconcordância),maspelaexigência, ou não, de um COMPLEMENTO, para a perfeita compreensão damensagem.
Eoimportanteproblemaparaacorreçãodalinguagemconsisteemsaberseumapalavra(geralmenteumverboouumnome)exigeounãoumcomplemento,equalotipodessecomplemento.
REGÊNCIAVERBAL
Vamosdeter-nosmaisdemoradamentenoverbo.
1.Háverbosque,numafrase—maisprecisamentenumaoração—,nãonecessitamdequalquercomplementoparaformaremumPREDICADO.Observeestasorações:
SUJEITO PREDICADO
Umapalavra bastava.Ocachorro sumiu.Odia raiou.Ocachorro latia.Ocachorro morreu.SeuPedro chorava.
Enaordeminversa(primeirooverbo,depoisonome):
PREDICADO SUJEITO
Desabou umatempestadedaquelas!Chegou anoite.Aconteceu umadesgraça.
PelofatodepoderemformarumpredicadosemnecessidadedecomplementoéqueessesverbosrecebemonomedeINTRANSITIVOS,ouseja:oseusentidonãotransitaparaumcomplemento.
2. Outros verbos, ao contrário dos intransitivos, só costumam formar opredicadoacompanhadosdeumcomplemento:aoenunciá-los,ficamosesperandomaisalgumacoisaquelhescompleteosentido.EssecomplementoéoOBJETO,eosverbosqueopedemsechamamTRANSITIVOS,dequehádoistipos.
3.SeoverboéTRANSITIVODIRETO,seuobjeto,quandosubstantivo,nãovemobrigatoriamente precedido de qualquer preposição; e, quando pronome átono,temaformao,a,os,as(ouassuasvarianteslo,la,los,laseno,na,nos,nas):
1.Atempestadeinundouasruas.v.tr.dir.obj.dir.
1a.Atempestadeinundou-as.o.d.
2.ForamesperaramãenaRodoviária.v.tr.dir.obj.dir.
2a.Foramesperá-lanaRodoviária.o.d.
3.Aguardaramoônibusdurantemeiahora.v.tr.dir.obj.dir.
3a.Aguardaram-nodurantemeiahora.v.tr.dir.o.d.
Observe nestes outros exemplos o emprego correto do pronome átono comalgunsverbostransitivosdiretos.
Quandovemantesdoverboouquandoesteterminaemvogalouditongooral,aformausadaéo(esuasflexões):
Esperou-os até tarde.— O pai estava esperando-os. — Deus aconservecomsaúde,Vovó.—Minhasexplicaçõesnãoosatisfizeram.
Quandooverboterminaem-m,-ão,-õeusa-seaformano(esuasflexões):Consideram-nosábio.—Minhasexplicaçõessatisfizeram-nos.—
Dãomuitasdesculpas:dão-nasexageradamente.—Põeaschavesnobolso;põe-nasnobolso.
Seoverboterminaem-r,-sou-z,aformadopronomeélo(esuasflexões),esuprimem-seessasletras:
Tentaramsequestrar oGovernador; tentaram sequestrá-lo.— Dizascoisasfrancamente;di-lasfrancamente.—Pôsaschavesnobolso;pô-lasnobolso.
São verbos transitivos diretos de uso frequente (objeto direto = o e suasflexões):
abençoar amolar facilitaraborrecer apreciar favorecerabraçar auxiliar humilharacompanhar castigar ouviracusar chamar prejudicaradmirar condenar prezaradorar conhecer protegerafligir conservar respeitarajudar defender satisfazeralegrar eleger socorreralmejar esperar suportarameaçar estimar
4.SeoverboéTRANSITIVOINDIRETO,oseucomplemento,oOBJETOINDIRETO,vem obrigatoriamente precedido de preposição, quando substantivo. Se apreposiçãoqueantecedeoobjetoindiretoéa,tomaaformalhe,lhescomalguns
verbos:
4.AdecisãodoDiretoragradouaosfuncionários.(verbotransitivoindireto+preposição+objetoindireto)4a.AdecisãodoDiretoragradou-lhes.(lhescomoobjetoindireto)
5.Coubeaocaçulaomenorquinhão.5a.Coube-lheomenorquinhão.
Anote agora estes verbos transitivos indiretos com a preposição a (objetoindireto=lhe):
acudira escrevera pertenceraagradara falara(oucom) repugnarabastara importara resistiracabera incumbira responderacompetira interessara restaraconvira ligara sobreviveracumprira obedecera telefonaracorrespondera ocorrera tocaradesagradara parecera valera
Háverbosmaisexigentes:nãosecontentamcomumsóobjeto,epedemdoisaomesmotempo,umdiretoeumindireto.DaíonomedeBIOBJETIVOS que lhesdãoalguns.Omaistípicodessesverbosédar(daralgumacoisaaalguém;dá-laaalguém;dar-lhealgumacoisa).Anoteosmaiscomuns:
aconselhar entregar pagaracrescentar enviar participaragradecer exibir passaranunciar explicar pedirapresentar expor perdoaratribuir franquear perguntaraugurar impingir permitircausar impor proporceder indicar proporcionar
comunicar informar provarconceder jurar recordarconferir legar referircontar lembrar remeterdedicar levar reservardeixar mandar restituirdestinar manifestar roubardeterminar ministrar solicitardevolver mostrar subtrairdirigir narrar testemunhardispensar negar tirardistribuir oferecer tomarditar ofertar trazerdizer opor venderensinar outorgar
Nãooferecemdificuldadeasconstruçõescomosverbostransitivosindiretosoucomosbiobjetivos:
Acudiu-lhe uma ideia nova. Não lhe agradou a escolha. Umaolhada bastou-lhe. Cabe-lhe a pior parte. Isso não lhe competia.Convém-lhe mais prudência. Cumpria-lhe executar a tarefa maispenosa. Não lhe fale disso. Obedeça-lhe sempre. Quero-lhe muitobem. Ninguém lhe resiste. Tocou-lhe o melhor lugar. Ninguém lhevaleunaqueladificuldade.
Agradeça-lhe o obséquio. Atribuíram-lhe a culpa. Concederam-lhes férias coletivas. Ensinava-lhes as primeiras letras. Expus-lhe aquestão.Jurou-lhevingança.Lembrava-lhesempreodever.Pagam-lhepouco.Perdoei-lheadívida.
Certos verbos transitivos indiretos cujo objeto indireto vem regido dapreposiçãoanãoadmitemopronomeátono lhe,masas formas tônicasaele,aela,aeles,aelas.Anotealgunsdeles:
aceder — aludir — aspirar (“pretender”) — assistir (“presenciar”) —atender—concorrer—escapar—presidir—proceder—prover—recorrer—renunciar—resignar-se—revidar—suprir—visar(“teremvista”).
Exemplos:Acedeuaela(=àproposta);Aludiuaele(=aofato);Aspiravaa
ele(=aocargo);Assistimosaeles(=aosjogos);Atendeuaelas(=àsponderações); Concorreu a ele (= ao prêmio); Escapou a ele (= aoperigo); Fugiu a ele (= ao compromisso); Presidiu a ela (= àcerimônia); Procederam a ela (= à mudança); Proveu a elas (= àsnecessidades);Recorreaele(=aodicionário);Renunciouaele(=aocargo); Revidoua ela (= à afronta); Supria a elas (= às despesas);Visavaaele(=aobem-estardafamília).
Merece registro o uso do pronome lhe como objeto indireto com valorpossessivoemsubstituiçãoelegantedopronomeseu(eflexões)oudoequivalentedele,dela,devocê:
Conheço-lhe asmanhas.Odiretor abonou-lhe as faltas.Deus lheconserve a saúde. Não o elegeram, porém elegeram-lhe o filho.Apreciei-lheogestogeneroso.Animei-lheosplanosdepesquisa.Eulhe satisfiz a curiosidade. Já ninguém lhe suportava as tolices.Castiguei-lheasoberba,abaixando-lheacrista.
Nemsóapreposiçãoa introduzoobjetoindireto:muitasoutraspreposiçõesfazemessepapel.
apelarpara gostardecarecerde incidiremcogitardeouem incorreremconcordarcom lembrar-sedeconfiarem lutarcomeporconsistirem optarporconstarde participardeouemcontentar-secom,deouem prescindirdecontribuirpara queixar-sedeconvencer-sede resultaremcrerem simpatizarcomcuidarde sonharcomesforçar-seem,paraoupor tratarde
emuitosoutros.
Háverbosqueapresentamregênciasdiferentessemmudançadesentido.Eisalgunsdeles:
abdicar(de)algo implicar(em)algo(=“trazercomoconsequência”)atender(a)alguém importar(em)algoconsentir(em) necessitar(de)algocontinuar(com)algo precisar(de)algocumprir(com)algo presidir(a)algodesfrutar(de)algo renunciar(a)algoesperar(por)alguém tratar(de)alguémgozar(de)algo usar(de)algo
–Agradar,nosentidode“acariciar”,“mimar”,“fazeragrados”,é transitivodireto:“Agradavademaisocaçula;agradava-odemais.”
Quando significa “causar prazer” é transitivo indireto, com a preposiçãoa:“Oconcertoagradouatodos;agradou-lhes.”
–Aspirar, no sentido de “atrair o ar aos pulmões”, “sorver”, “cheirar”, étransitivodireto:“Aspiravaoarpurodamata,aspirava-ocomprazer.”
Jánosentidode“desejarardentemente”,“almejar”,étransitivoindireto,coma preposição a, mas não admite o pronome lhe: “Aspirava a um alto cargo;aspiravaaelecomtodooseuempenho.”
–Ligar,“unir”,étransitivodireto:“Umaponteligaasduascidades;liga-as.”Ébitransitivonosentidode“associar”:“Nãoligouessefatoaocasamento;nãooligouaele.”
Mas quando significa “dar importância a” é transitivo indireto, com apreposiçãoa:“Ninguémligavaaobêbedo;ninguémligavaaele.”
–Prover,“nomear”,étransitivodireto:“OPresidenteproveuodeputadonocargodeMinistro.”
Naacepçãode“acudir”,“atender”,étransitivoindireto,comapreposiçãoa:“Proviaatodasasnecessidadesdacasa;proviaaelas.”
– Respeitar, “tratar com respeito”, é transitivo direto: “Respeite os maisvelhos;respeite-os.”
Significando“dizerrespeito”,“interessar”,“referir-se”,étransitivoindireto,comapreposiçãoa:“Noquerespeitaaessaquestão...;noquerespeitaaela;noquelherespeita...”
–Servir,“prestarserviços”, tantopodeser transitivodiretoquanto indireto:“JacóserviaLabão;servia-o”;“JacóserviaaopaideRaquel;serviaaele.”
No sentido de “convir”, porém, é apenas transitivo indireto: “Este empregonãolheserve.”
Hácertosverbosbiobjetivoscomosquaispodemalternarosdoisobjetos(depessoa e de coisa). Um modelo é avisar: avisa-se alguma coisa a alguém ouavisa-sealguémdealgumacoisa.Anotemaisestes:
advertir incumbircertificar indenizarcientificar pouparimpedir
OUTRASREGÊNCIASDIGNASDENOTA
1.Ensinaradmiteestasalternativas:
Ensinei-oadesenhar.Ensinei-lhedesenho.
2. Custar apresenta duas regências mais comuns, com certa mudança desentido.
Naacepçãode“demorar”,“tardar”,constrói-se,noBrasil,usualmente,comapreposição a: Custei a compreender; Custaste a responder-me. Veja estesexemplosdebonsautores:
“Custasavir.”(CecíliaMeireles)“Comocustaapassarumquartodehora!”(PauloMendesCampos)“O telegrama custou tanto a chegar.” (Carlos Drummond de
Andrade)“Custeiaconciliarosono.”(GastãoCruls)“Osmeninoscustavamadormir.”(AutranDourado)“Asnoitessãomaisfrias,/ecustamapassar.”(OlavoBilac)
Na acepção de “ser difícil”, “ser penoso”, constrói-se compronomeobjetoindiretoseguidodeverbonoinfinitivo(sujeito):
“Custou-me(custou-lhe,custou-nos)admitiraderrota.”
Literáriaéaconstruçãocomobjetoindiretodepessoaseguidodepreposiçãoamaisinfinitivo:
“Custava-meaouvirtaisblasfêmias.”(MachadodeAssis)
3.Esquecerelembrar,transitivosdiretos,tambémseusamcomopronominaistransitivosindiretoscomapreposiçãode:
a)“Nuncaesqueciaquelecaso.”b)“Nuncameesquecidaquelecaso.”c)“Lembrouseunomeparaocargo.”d)“Lembrou-sedoseunomeparaocargo.”
Literária é outra construção dos verbos lembrar e esquecer, usual nosclássicosdanossalíngua:
e) “Não lhe lembra nunca a possibilidade de um pontapé.”(MachadodeAssis)[=Nãolheocorre];
“Nunca me esqueceu aquele caso.” [= Nunca me saiu dalembrança].
Ainda ocorre uma última regência destes dois verbos, um tanto irregular,resultantedocruzamentodeboudcome,igualmentedeusoapenasliterário:
f)“Nuncameesqueceudaquelecaso.”
“Lembra-medequeelachorou.”
4.Depararapresentaasseguintesregências:
a)biobjetivo:“Eulhedeparei[=apresentei]váriassoluções.”
b)transitivodireto:“Deparei[=encontrei]váriassoluções.”
c) transitivo indireto (com objeto indireto de coisa, introduzido pelapreposiçãocom);éamaiscomumnoBrasil:
“Deparei[=“atinei”]comváriassoluções.”
d) pronominal transitivo indireto (com objeto indireto de pessoa regido dapreposiçãoa);quandoprononeátono=lhe:
“Depararam-se [= apresentaram-se] a João da Silva váriassoluções;depararam-se-lheváriassoluções.”
e)pronominaltransitivoindireto(comobjetoindiretodecoisa):“Deparei-mecomváriassoluções.”
5.Chegar, tradicionalmente, tem o seu complemento adverbial introduzidopela preposição a: chegar a algum lugar. Modernamente, no Brasil, muitosescritores, por influência da língua corrente, usam também a preposição em,especialmentenaexpressão“chegaremcasa”.Eisalgunsexemplosdeescritoresbrasileirosmodernos:
“Meupaichegouemcasadizendo:”(GilbertoAmado)“Opoetacheganaestação.”(CarlosDrummonddeAndrade)“Quandochegueinacasadeumamigo”(FernandoSabino)
VERBOSDEREGÊNCIADIFERENTECOORDENADOS
Há preconceito injustificado entre alguns gramáticos contra o emprego do
mesmocomplementoreferenteaverbosderegênciadiferentequesecoordenam;masarealidadedousonosrevelaqueoescritor,nestecaso,podeoptarporumadestassoluções:
1.Atribuiacadaverbooseucomplemento,deacordocomaregênciadecadaum,numaconstruçãoumtantopesada:
“Entravaemcasaesaíadela.”
2. Atribui omesmo complemento aos dois verbos, conforme a regência domaispróximo,obtendo,comisso,maisconcisãoeelegância:
“Continuouaentraresairdecasa.”(MachadodeAssis)“Iam contar lá em casa que me haviam visto de madrugada, na
Bica,entrandoousaindodetallugar.”(GilbertoAmado)
Umúltimocasode regênciaéodapreposiçãoque, embora seprendaaumverbonoinfinitivo,distantedela,secontrai,nacorrentedafala,comoartigoqueantecedeosubstantivosujeito,oucomopronomesujeito:
“... na hora da onça beber água, deu-me com o cotovelo.”(GracilianoRamos)
“Encontrava-me em Roma em 1942, antes do Brasil entrar naguerra.”(GilbertoAmado)
“Chegouavezdelecontar-measuavida.”(GilbertodeAlencar)
Tambémsepodesepararnaescritaapreposição:
antesdeoBrasilentrarnaguerra;Chegouavezdeelecontar...
Com isto chegamos ao fim deste longo capítulo da regência, tão importanteparaacorreçãoquevocêdevemanternalínguaescrita.
Os numerosos exemplos e as extensas relações de verbos que lhe forneciconstituem já um bommaterial, mas não dispensam a consulta aos dicionários
comooCaldasAulete, que registraasdiferentes regênciaspossíveisparacadaacepção,eindica,nocasodatransitividadeindireta,aspreposiçõesmaisusadas.
EVOLUÇÃO
23.NOSSAHERANÇALATINA
É certíssimo afirmar queoportuguês é uma língua românica, ouneolatina, ousimplesmente latina, já que pelo menos por três caminhos diferentes o latimcontribuiu para formar a nossa língua e as demais neolatinas (o castelhano, ocatalão, o occitânico ou provençal, o franco-provençal, o francês, o rético, oitaliano,osardo,odalmático—jámorto—eoromeno).
A fonte primária e básica é o LATIM FALADO, que os filólogos denominam“latimvulgar”(reconhecendoemboraaimpropriedadedotermovulgar,umavezque o latim corrente, de comunicação, não se limitava à camada vulgar, masabrangiaasváriasclassesdapopulaçãodeRomaedoImpérioRomano).
Esse latim vivo foi-se modificando através dos séculos, diferentemente emcadaregião,atétransformar-seemnovaslínguas,entreasquaisoportuguês.
Seolatim,aomodificar-se,produziutantaslínguasnovas(nasquaisexistemdezenasdevarianteslocais,osdialetos), issosedeveafatoresvários,entreosquais o contacto com as línguas locais que suplantou, as quais imprimiramcoloraçõesdiversasaolatimfaladoemcadaregião.
Édesselatimfaladoqueprovémnossovocabuláriobásico,quedesignatudo
aquilo que está em nós, os seres que nos cercam e suas qualidades, as açõescomunsquepraticamos,aspalavraspuramentegramaticais,emnúmerolimitado(pronomes,advérbios,preposições,conjunções).SãoaspalavrasPOPULARESouEVOLUTIVAS,assimchamadasporteremsofridoevoluçãonossons(etambémnosentido,comoveremosnoutrocapítulo):
–cabeça,cabelo,boca,mão,pé;–pai,mãe,filho,avô;homem,mulher;–céu,terra,rio,mar,montanha,casa,fogo,árvore,mesa,parede;–cão,gato,boi,vaca,galo,galinha,cavalo,égua,leão,lobo;–bom,mau,grande,pequeno,alto,baixo;–ir,vir,falar,comer,beber,dormir;– eu, tu, ele, este, tudo, nada, alguém, ninguém, que, quem,meu,
minha;– sim, não, cedo, tarde, sempre, nunca, já, agora, aqui, onde,
quando;–de,com,em,entre,por,para;–que,se,porque,embora;etc.
Claro que está incompletíssima essa listagem; mas não interessa gastarpáginasepáginasmultiplicando-a.UmdicionárioetimológicocomoodaLexikonsatisfará a curiosidade dos interessados. Ou uma gramática histórica.(Recomendamos-lhe as Lições de Português do grande mestre Sousa daSilveira.)
A segunda fonte é o LATIM ESCRITO, tanto o literário quanto o da IgrejaCatólica,quemantevebemvivaaculturaclássica,mesmodepoisqueolatimfoisubstituído pelas diferentes línguas românicas. Basta ler um livro como oromanceOnomedarosa,deUmbertoEco,parase teruma ideiadavitalidadedessa língua na IdadeMédia, entre osmonges, que sempre continuaram (e empartecontinuam)lendo,escrevendoefalandoolatim.
Por outro lado, muitos intelectuais da Europa, desde a Idade Média, massobretudo após oRenascimento, época em quemais intensamente se reviveu aleituradosclássicoslatinos(egregos),aprenderamtãobemolatimquepassaramaneleescrevermuitasdassuasobras,queassimobtiverammaiordivulgação:olatim passou a ser, entre a camada culta europeia, a língua universal, tal comohojeacontececomoinglêseofrancês.
Usaram o latim como segunda língua escritores de quase todos os países
europeus:naItália,Dante,PetrarcaeBoccacciooalternaramcomoitaliano;naHolanda sobressai Erasmo de Roterdam; na Inglaterra Thomas More, RogerBaconeFrancisBacon;emPortugal,AndrédeResendeeAquilesEstaço.
É natural, assim, que desse convívio constante tomassem do latim escritomuitaspalavraseasintroduzissemnasuapróprialíngua,emquesofreramapenasadaptações na sua parte final, para que tivessem aspecto vernáculo: são aspalavrasCULTASouERUDITAS.
São numerosíssimas, em português, as palavras de origem culta. Veja umaligeiraamostra:
acepção, agrícola, alienar (cognato, isto é, da mesma família do popularalheio), ascensão,audição, auditivo (cognatos de ouvir), celeste (c. de céu),ciência,clássico,crucificar (c.decruz),decapitar (c.decabeça),dicionário,doloroso (c. de dor), eclesiástico (c. de igreja), equitativo (c. de igual),explicar, faculdade, glacial, homicida, impulso (c. de puxar), insular (c. deilha),introspecção,invicto,jurisconsulto,lácteo(c.deleite),latifúndio,latino,legenda(c.deler),legislativo,(c.de lei),lúcido (c.de luz),magistério (c.demestre), manuscrito (c. de mão), matrimônio, meridiano, miraculoso (c. demilagre),ministério, noctívago (c. de noite),nomenclatura,núcleo, ocidente,oficial,palestra,pacífico(c.depaz),materno(c.demãe)paterno (c.depai),pecuária,península(c.de ilha),perpétuo,perspicácia,petróleo (c.depedra),plenilúnio (c. de cheio e de lua), pluvial (c. de chuva), população, popular(cognato de povo), potência (c. de poder), prejudicial (c. de prejuízo),previdência (c. de prever), privilégio, processo, proclamar (c. de chamar),proletário, propício, proponente (c. de pôr), putrefato (c. de podre e feito),quadragésimo, quadrúpede, quádruplo, quotidiano, racional (c. de razão),reflexo,regenerar(c.degerar),reivindicar,rememorar(c.delembrar),réptil,república, ressonância (c. de soar, som), ressuscitar, retrospecto, românico,rotação (c.derodar),ruptura (c.deroto),sacramento,sagitário (c. de seta),saliente (c. de sair), século, sedentário (c. de sentar), segregar, seminário,sensibilidade,sequência(c.deseguir),sequestro,sexo,silvícola (c.deselva),solstício, sortilégio, subjetivo (c. de sujeito), subjuntivo, subordinação,substância, subúrbio, superfície, superstição, taciturno, táctil, tangente,taurino (c. de touro ), tenebroso (c. de trevas), têxtil, título, transfusão,translação, triângulo, tribunal, túmulo, úlcera, umbilical (c. de umbigo),uniforme,vácuo,válvula, vernáculo, veterinário, vidente (c. de ver), vínculo,viperino (c. de víbora), vitalício (c. de vida), vocábulo, voluntário (c. de
vontade),emilharesdeoutras.Omaiscuriosoéquemuitasdessaspalavraseruditastêmamesmaorigemde
outrasque jáhaviamentradona línguaporviaoral, pelabocadopovo.Dessefatoresultaque,deummesmoétimolatino,nossalínguaàsvezespossuidoisoumais representantes, um ou mais, de origem popular, sofrendo as alteraçõesfonéticas próprias do português, conforme a época em que foram introduzidas,outros vindos da língua escrita, palavras cultas portanto, sem essas alterações,apenas adaptadas na parte final, como já disse, para apresentarem aparênciaportuguesa. Convém observar, desde agora, que essas formas divergentesdificilmente têmomesmo significado: geralmentehá tambémespecializaçãodesentidoemalgumasdelas.
É interessante observar também que algumas palavras de origem culta setornaram, com o tempo, mais usadas que as suas correspondentes de origempopular.Éocaso,porexemplo,deincrédulo(origemculta),hojemaisconhecidaque incréu (origem popular), ambas provindas do latim incredulu; limite(erudita), e linde (popular); operário (erudita) e obreiro (popular); palácio(erudita) e paço (popular); vicio (erudita) e vezo (popular), ambas do latimvitium.
Eisumarelaçãodamaioriadessasdivergentes,comformasduplas,triplaseatéquádruplasprovindasdeumamesmapalavralatina:
PORTUGUÊS
ÉTIMOLATINOPALAVRASPOPULARES;DOLATIMFALADO
PALAVRASERUDITAS;DOLATIMESCRITO
ABSCONSU escuso,esconso absconsoACTU auto,eito atoADRIANU Adrião AdrianoADVERSU avesso adversoAFFECTIONE afeição afecçãoALIENARE alhear alienarAMPLU ancho amploANGELU anjo ÂngeloAPREHENDERE aprender apreenderAREA eira áreaARENA areia arenaATRIU adro átrioAUGURIU agoiro,agouro augúrio
AUGUSTU agosto augusto,AugustoAURICULA orelha aurículaAUSCULTARE escutar auscultarBENEDICTU bento,Bento,bendito BeneditoBESTIA bicha bestaCALIDU caldo cálidoCAPITULU cabido capítuloCAPTARE catar captarCARDINALE cardeal cardinalCAUSA cousa,coisa causaCATHEDRA cadeira cátedraCLAMARE chamar clamarCLAVE chave claveCLAVICULA chavelha,cravelha clavículaCOAGULARE coalhar coagularCOGITARE cuidar cogitarCOGNATU cunhado cognatoCOHORTE corte(ô) coorteCOMPARARE comprar compararCOMPUTARE contar computarCREDO creio credoDECIMA dízima décimaDECRETU degredo decretoDELICATU delgado delicadoDESIGNIU desenho desígnioDIRECTO direito diretoDUPLU dobro duploEXAMEN enxame exameFACTU feito fatoFERIA feira fériaFINITU findo finitoFLAMMA chama flamaFLUXU frouxo fluxoFOCU fogo focoFRIGIDU frio frígidoFUGITIVO fugidio fugitivoGENERALE geral generalGENITIVO gentio genitivoGERMANU irmão Germano
GLANDULA landra,lândoa glândula
GLUTEN grude glútenHEREDITARIU herdeiro hereditárioIMPLICARE empregar implicarINCREDULU incréu incréduloINFLARE inchar inflarINSULSU insosso insulsoINTEGRU inteiro íntegroJACTU jeito ja(c)toLABORARE lavrar laborarLACUNA lagoa lacunaLAICU leigo laicoLATINU ladino,ladinho latinoLAURU louro,loiro LauroLEGALE leal legalLEGENDA lenda legendaLEGITIMU lídimo legítimoLIBELLU nível libeloLIBERARE livrar liberarLIMITE linde limiteLITANIA ladainha litaniaLOCALE lugar localLUCRU logro lucroMACULA,MACLA
mancha,malha,mágoa mácula
MASCULU macho másculoMASTICARE mascar mastigarMATERIA madeira matériaMATRE mãe madreMATURARE medrar maturarMEDICINA mezinha medicinaMEDIU meio médioMINUTU miúdo minutoMUSCULU bucho músculoNITIDU nédio nítidoNOTULA nódoa nótulaOCULU olho óculoOPERARE obrar operarOPERARIU obreiro operário
PAENITENTIA pendência penitência
PALATIU paço palácioPALLIDU pardo pálidoPALPARE poupar (a)palparPARABOLA palavra parábolaPARTICULA partilha partículaPELAGU pego pélagoPENSARE pesar pensarPERFIDIA porfia perfídiaPLAGA chaga,praga plagaPLANU chão,porão planoPLENU cheio plenoPOLIRE puir polirPRIMARIU primeiro primárioPULSARE puxar pulsarQUIETU quedo quietoRECITARE rezar recitarREGINA rainha ReginaRECUPERARE recobrar recuperarRIGIDU rijo rígidoROMANU Romão romano,RomanoROTULA rolha rótulaROTUNDU redondo rotundoRUGITU ruído rugidoSALTU souto,Souto saltoSANARE sarar sanarSECRETU segredo secretoSIBILARE silvar sibilarSENSU siso sensoSIGILLU selo sigiloSINISTRU sestro sinistroSOLITARIU solteiro solitárioSUMMA soma sumaTELA teia telaTENSU teso tensoUMERU ombro úmeroVIGILIA vigia vigíliaVITIUM vezo,viço vício
Sãousuais,aindaemportuguêseemtodasaslínguasdacivilizaçãoocidental,numerosasexpressõeslatinas,comoestas,entredezenas:
adhoc=“paraisso,paraestecaso“:“Foidesignadosecretárioadhoc”,ouseja,especialmenteparadeterminadoevento;
adreferendum=“sobcondiçãodeconsultaaosinteressados”;currentecalamo[cá]=“aocorrerdapena”;curriculumvitae=“ocursodavida”;datavenia=“comadevidapermissão”;defacto=“defato”:opõe-seadejure=“dedireito”;deficit[dé]=“falta”,ouseja,adiferençaamenosentreareceitaeadespesa;duralex,sedlex=“aleiédura,masélei”;excathedra=“doaltodesuacátedra”;grossomodo=“deformaaproximada”;habeas-corpus=“quedisponhasdoteucorpo”;habeas-data=“quedisponhasdeteusdados”;habitat=“lugaremqueviveumorganismo”;honoris [nô] causa = “para a honra”: diz-se de um grau conferido a título
honorífico;inextremis=“nosúltimosmomentos”;innatura=“noseunatural”;ipsofacto=“porissomesmo”;lapsuscalami[cá]=“errodacaneta”;latosensu=“emsentidoamplo”;opõe-seastrictosensu;modusvivendi=“maneiradeviver”;mutatismutandis=“mudandooquedevesermudado”, istoé,alterandoos
pormenores;necplusultra=“nãomaisalém”;persona(non)grata=“pessoa(não)recebidacomagrado”;primusinterpares=“oprimeiroentreseusiguais”;res,nonverba=“fatos,enãopalavras”;sinedie=“semdia[determinado]”;sinequanon=“semaqualnão”,istoé,condiçãoimprescindível;statusquo(oustatuquo)=“(n)oestadoemque[antesseencontrava]”;strictasensu=“emsentidorestrito”;sui generis = “do seu próprio gênero”, ou seja, sem analogia com outra
pessoaoucoisa;
superavit [rá] = “sobrou”, ou seja, a diferença a mais entre a receita e adespesa;
verbigratia=“porexemplo”.
Umaterceiraviasãooutraslínguas,quasesempreneolatinas,quereceberamcertaspalavrasdolatimequeoportuguêstomoudeempréstimo.Algumasdelastambémpassaramdiretamentedolatimparaoportuguês,econstituemigualmenteformasdivergentes.Vejaalgunsexemplos:
latim português1 línguaintermediária português2
anellu elo provençal:anel anelaramine arame castelhano:alambre→alambrado alambradocaput cabo francês:chef chefefacticiu feitiço fr.:fétiche fetichehomine homem cast.:hombre→deriv.:hombridad hombridadelumine lume cast.:lumbre→deriv.:deslumbrar deslumbrar vislumbrar vislumbrar
media média inglês:media(pronunciadomídia)nosentidode“meiosdecomunicação”
mídia
minuta miúda fr.:minute (à)minutaopera obra italiano:opera óperaplanu chão cast.:llano lhanosanguine sangue cast.:sangre→deriv.:sangrar sangrarsolu só ital.:solo solo(termode
música)tenore teor ital.:tenore tenorimpulsare empuxar cast.:empujar empurrar
Ocastelhanonosdeuainda:
amistoso, ligado a amistad (port. amizade), do lat. amicitate; bolero;caudilho,domesmoradicaldecabeça;empalar(depala,“pau”,emlatimpalu);
entretenimento,derivadodeentretener,port.entreter(dolat. tenere,comoprefixoentre-);
hediondo(dolat.foetibundu);mantenedor(demantener,“manter”,emlat.mantenere);
neblina(dolat.nebulina,diminutivodenebula,“névoa”).
Comovocêpodever,éimensaaherançaqueolatimnosdeixou,equenemaameaçadasinvasõesestrangeiras(v.ocapítuloseguinte)écapazdedestruir.
24.ASINVASÕESESTRANGEIRAS
Enquanto o português se formava, no noroeste da Península Ibérica, numatransformaçãogradualdolatimpopulartrazidopelosconquistadoresromanos,oterritório de Portugal sofreu invasões de povos estrangeiros que não lograramimporsualíngua,masneledeixaramamarcadasuapassagem,enriquecendo-lheovocabulário.
Primeiroforamosárabes,queestiveramnaPenínsulaIbéricadoséculoVIIIaoséculoXV,invasãoquedeumargemàgrandeepopeiadaReconquista,naqualoscristãoslutaramcontraosmuçulmanos(os“Infiéis”,comooschamavam).EmPortugalaReconquistadurouatémeadosdo séculoXIII,quandooAlgarve,nosul, foi definitivamente incorporado ao reino português, depois de batalhasmemoráveis.
Énaturalquenumperíodotãolongotenhamentradoemnossoléxicocentenasdevocábulos,muitosdosquaisiniciadosporal-(queéoartigodefinidoárabe,porvezes reduzidoàvogala). Pela variedade dos campos abrangidos se podeavaliarainfluênciadaculturaárabe,nessaépocamaisdesenvolvida.
Você reconhecerá como vindas do árabe muitas palavras nesta pequenaamostra;outraslhecausarãosurpresa,semdúvida:
açafrão, acelga, acepipe, açougue, açoute ou açoite, açucena, açude,aduana (que nos deu o derivado aduaneiro),alarde,alarido, alaúde, alazão,alcachofra,alcaçuz,álcali,alcateia,alcatra,alcatrão,álcool,Alcorão,alcova,alcunha,aldeia,alecrim,alface.alfaiate,alfarrábio,alfazema,alferes,alfinete,algazarra,álgebra,algemas,algibeira,algodão,alicate,alicerce,almanaque,
almirante,almofada,almôndega,almoxarife,alqueire,alvará,âmbar,andaime,argola,armazém,arrabalde,arrais,arroba,arsenal,atum,auge,azar,azeite,azinhavre, azougue, bairro, beduíno, benjoim, café, calibre, califa, camelo,cenoura, cetim, chafariz, cifra, ciranda, damas, elixir, emir, enxaqueca,enxoval, faquir, farda, fardo, fatia, fulano, garrafa, gergelim, giz, harém,haxixe,hégira, Islã ou Islame, jarra, javali, lima (fruta),mameluco,marfim,máscara, masmorra, mate (do jogo de xadrez), mesquinho, mesquita,muçulmano, nuca, oxalá, papagaio, quilate, quintal, rabeca, recife, refém,safra, saguão, sofá, sultão, tabique, talco, tâmara, tamarindo, tarifa, tripa,xadrez, xarope, xeque (forma portuguesa, ao invés de cheik ou sheik), xerife,xiita,zênite,zero.
De 1580 a 1640 permaneceu Portugal sob o domínio espanhol. São dessaépoca muitos destes — dentre centenas — espanholismos que penetraram noportuguês;outrossãomaisrecentes:
alambrado, antanho, apanhar, apetrecho, baunilha, bobo, bolero,bombacha, botija, castanhola, castelhano, caudilho, cavalheiro, cedilha,colcha, cordilheira, cortina, dengue, deslumbrar, desmoronar, despojar,duende, empurrar, engendrar, entretenimento, façanha, fiambre, frente,gado,galã, galante, galhofa, ganância, goela, granizo, hediondo, hombridade,lagartixa, lamparina, lhano, mantilha, mariposa, mochila, molde, moreno,neblina, ninharia, novilho, ojeriza, pandeiro, paradeiro, pastilha, penca,pepino, peseta, picaresco, pingente, pirueta, platina, quadrilha, rabanada,realejo, rebelde, redondilha, repolho, rol, sangrar, tablado, talão, trecho,vislumbrar.
Sempre tem havido no mundo uns poucos países que exercem influênciacultural mais ou menos acentuada sobre outros. E esse prestígio se manifestainvariavelmente pela intromissão da língua do país de maior cultura sobre alíngua dos demais, na qual se introduzem construções e vocábulos novos. Sealgunsdestessãonecessários—pelaprópriaevoluçãodosusosecostumes,oupelo avançodas ciências, que precisamde termosnovos para nomear criaçõesnovas—,muitos outros são dispensáveis, pelo fato de a língua influenciada jápossuirdesignaçõesprópriasparadeterminadasideiasoucoisas.
Umexemplo:
O português possui o nome castanho para designar a cor da casca dacastanha: “cabelos castanhos”. Apesar disso, importou do francês a palavramarron, que significa “castanha”, para indicar essa mesma cor: “uma bolsamarrom”...
São vários, aliás, os nomes de cores tirados do francês que usamoscomumente:beige(tambémescritobege),bordeaux(aportuguesadoparabordô),grenat(grená),lilás,etc.
Alínguaportuguesa,emséculosidos,teveascendênciasobrelínguasdaÁsiaedaÁfrica.Bastalembrarquehácinconaçõesafricanasemqueéoportuguêsoidiomaoficial.
Mais recentemente, contudo, sofreu (e continua a sofrer) a ingerência deoutras línguaseuropeias.Noséculopassado(eatéasprimeirasdécadasdeste),foi o francês o grande invasor: sua rica literatura penetrou continuamente entrenós, e o ensino do francês fazia parte da educação das moças de outrora.(MachadodeAssisomostraclaramenteemseusromances.)
O resultado não podia ser outro: nossa língua foi-se enchendo deFRANCESISMOS (ou GALICISMOS), grande parte deles supérfluos, outros úteis.Alguns mereceram aceitação geral e tiveram sua forma aportuguesada; outrosconservamafeiçãooriginal.
E dessa maneira se mantém uma verdadeira tradição de preferir nomesfranceses para a moda e a culinária, para termos de arte, numa prova decolonialismoculturalatéhojepersistente.
Ninguémperdeovernissage de umpintor damoda, cujoatelier repleto decroquisfoiobjetodereportagem.Ostrabalhosdecrochetetricoteosabat-jourspintados àmão fizeram sucesso na soiréechic. [Note-se que os dicionários járegistramcomformaportuguesamuitosdeles:ateliê,croqui,croché oucrochê,tricô,abajur(pl.abajures),chique.Aindahojeseconsiderachicomenuescritoemfrancês...]
Entre dezenas de palavras e expressões francesas de uso em português,algumas delas mais antigas, outras recentes, veja esta pequena amostra dessagrandeinvasão(vaientreparênteses,quandousual,aformaaportuguesada):
aigrette,aide-mémoire,bacará,bâton(batom),bidet(bidéoubidê),balloné,blasé,boulevard(bulevar),boutade,cabaret (cabaré),cabine (cabina),cache-col (cachecol), cachenez (cachenê), calembour (calembur), cancan (cancã),cavaignac (cavanhaque), chaise longue, chalet (chalé), champagne
(champanha e champanhe), chance, chauffeur (chofer), controle, crachat(crachá),escarpin, fetiche, flâneur, frappé, garage(m),garçon,grandmonde,jeunesse dorée,maiô,maquillage (maquiagem e maquilagem),menu, metrô,ménage à trois, molleton, morgue, omelete, peignoir, pince-nez (pencenê epincenê),plissé,pouf(pufe),purée(purê),réchaud,rimel(rímel),savoir-faire,savoir-vivre, soufflé (suflê), soutien (sutiã), trottoir, trousse, vitrina, voyeur,etc.
O excesso de palavras de origem francesa introduzidas no português temprovocado, através dos séculos, com alguma dose de razão— descontados osexagerospuristas—,airadecertosgramáticos,quefizerampublicardicionáriosdegalicismos“condenáveis”,eartigosemquesepropõemsubstitutos,porvezesridículos,algunsdosquais,porém,caíramnogostodopúblico.Outros,contudo,foram devidamente desprezados, e hoje é inútil querer condenar ou substituircertosgalicismos.
Assim,comoexemplos:paraavalanche (ou,aportuguesando,avalancha)—que aliás tem o correspondente português alude, pouco usado— se propôs oestranhorunimol,quenãovingou;paramenu,osubstitutoproposto,cardápio,édeusogeralnoBrasil(emPortugalsedizementa),aoladodemenuelista;paramorgue (aindausadoemPortugal),aceitou-seosubstitutonecrotério;poroutrolado,ninguémusalucivéuouluciveloemlugardogalicismoconsagradoabajur.
Sãocorrentes,porsuavez,galicismoscomoagir(quehojeninguémdebom-senso pensa em substituir); detalhe (pormenor, minúcia, particularidade sãoalternativas);destacar(-se) alterna com sobressair, distinguir-se, salientar-se,tal como destaque com realce, relevo; ao lado de constatar usam-se os maisvernáculosatestar,comprovar,verificar,observar.
Eninguémpensariaemretirardonossoléxicodezenasdevocábulos,algunsincorporadosaoportuguêsdesdeséculos,taiscomo:
altruísmo, apanágio, aprendiz, arranjar, assembleia, avenida, bagagem,bilhete, blusa, bombom, boné, broche, cadete, chaminé, chanceler, chapéu,chefe, claraboia, colete, creme, crepe, croquete, decolar, derrapar, divisa,envelope,etapa,etiqueta,filé,flanar,gabinete,greve,guilhotina,hotel,jardim,leste,loja, lote, luneta,paisagem,paletó,persiana,personagem,rampa,rapé,restaurante, roleta, rondó, sabre, saia, salada, silhueta, terrina, trem, trenó,triagem,trufa,usina,vantagem—escolhidosentrecentenas.
Também da Itália a língua portuguesa sofreu uma invasão, agradável sobváriosaspectos:aprincípiodetermosdeBelasArtes,especialmentedemúsicaede teatro, e mais recentemente de culinária; sem falar de alguns referentes àguerraeàartenáutica:
MÚSICAETEATRO:adágio,alegro,andante,ária,arpejo,balcão,bandolim,barcarola,batuta,
burlesco, camarim, cantata, concerto, contralto, coxia, dueto, empresário,escala, fagote, falsete, fiasco, libreto, maestro, madrigal, ópera, oratório,palhaço, partitura, piano, pizicato, quarteto, quinteto, ribalta, romança,saltimbanco,serenata,solfejo,solo,sonata,soprano,surdina,tarantela, tenor,terceto,tocata,trêmolo,trombone,violino,violoncelo,virtuose;
CULINÁRIA:brócolisoubrócolos,cantina,lasanha,macarrão,mortadela,nhoque,pizza,
polenta,ravióli,ricota,risoto,salame,salsicha,talharim;
MILITARES:alarma,alerta,batalhão,capitão,cidadela,coronel,escopeta,espadachim,
esquadra,fragata,galera,infantaria,sentinela;
OUTROS:bancarrota, bandido, belvedere, carnaval, cassino, charlatão, cicerone,
concordata, confete, diletante, esdrúxulo, fascismo, favorito, gazeta, granito,grotesco,lavanda,loteria,medalha,miniatura,modelo,mosaico,nicho,pajem,pasquim,pitoresco,poltrona,porcelana,trampolim,ventarola.
Mais perto dos nossos dias foi a vez da preponderância do inglês,primeiramente da Inglaterra, sobretudo nos esportes, e mais recentemente dosEstadosUnidosdaAmérica,numaverdadeirainvasãoculturalqueatingetambémovestuário,aalimentação,amúsica,acomunicaçãoe,nasduasúltimasdécadas,aeletrônicaeacomputação.
Antesdemaisnada,aprópriapalavraesporte(desport);eonomedoesportemais popular no Brasil, já devidamente aportuguesado: futebol, adaptação defootball.(Nãotiverambomêxitoosváriosnomespropostospornacionalistasepuristas para substituir este anglicismo: ninguém tomou conhecimento debalípodo,ludopédio,pedibolaeoutrosquetais.)
Junto com o futebol vieram numerosos termos a ele referentes, alguns dosquais substituídos, nos últimos decênios, por equivalentes portugueses(brasileiros,pelomenos),outrosdevidamenteaportuguesados:
gol (de goal) e seu derivado goleiro (que substituiu goal-keeper e suaabreviação keeper); beque (de back), hoje zagueiro; corner, preterido porescanteio, tiro de canto; chute (de shoot), com seu derivado chutar, usadostambém fora do futebol; pênalti (penalty); off-side (impedimento); drible (dedribble)edriblar,etc.
Váriosoutrosesportes(etermoscorrelatos)têmtambémnomesingleses:
basquete (redução de basquetebol, de basket-ball), ou bola ao cesto);voleibol (de volley-ball), reduzido a vôlei; e mais tênis (tennis),golfe (golf),hóquei (hockey),polo, sinuca (snooker),box ou boxe, ringue (ring), nocaute(knockout),entremuitos.Etermoscomoace(rede),grid(gradedelargada),pitstop(paradanoboxe),etc.
Novestuário,dademocráticacalçajeansaoblazer,aosmokingeaoblack-tie da soçaite (society); na alimentação, o bife (beaf) antecedeu o hot-dog(cachorro-quente)eohambúrguer,omilk-shakeeosundae;namúsica,háquemtenhasaudadesdofox-trotoudofox-blue,masaojazzeaoswingsucedeuorock,quehojeimperaentreosjovensdetodoomundo,commilvariaçõesdemúsicapop:blues,funk,punk,new-wave,new-age,heavy,reggae,etc.
Na área da Comunicação, da Economia e da Informática estão segeneralizando certos termos e expressões antes restritos a ummeio técnico; osjornaiserevistasestãorepletosdeanglicismoscomosoftware,hardware,knowhow,bit,openmarket,overnight,holding, lobby,marketing,mídia (demedia,comapronúnciainglesa),cartum(cartoon),etc.
Alémdosjácitados,vejaumarelaçãodetermos,algunsmaisantigos,queoportuguêstomoudoinglês,quasetodosaportuguesados:
abolicionismo,alô,bar,bebê (debaby),bigle (beagle), blefe (bluff),bote(boat),boxer,breque (break),bridge,brigue,buldogue (bulldog); cabograma(cablegram), casimira (kerseymere), cheque (check), chulipa (de sleeper,“dormente”), clip(e), club(e), coquetel (cocktail), comodoro (commodore),coque (coke), dândi (dandy),desapontamento (disappointment), dólar, draga
(drag),dreno e drenar (drain),drinque (drink); elevador (elevator), escalpo(scalp), escoteiro (scout + -eiro), spleen, esterlina (sterling), film(e), flerte(flirt) e flertar, folclore (folklore), galão (gallon), gim (gin), grogue (grog),humor (humour) e humorista, iate (yacht), jarda (yard), jóquei (jockey), júri(jury),lanche(lunch),linchar(dosobrenomeLynch),lord(e);macadame,malte(malt),panfleto (pamphlet),paquete (packet[boat]),parlamento (parliament),piche (pitch), pôquer (poker), pudim (pudding), pule (pool), puritan(o),repórter, revólver, rifle, rinque (rink), rosbife (roast-beef), rum, sanduíche(sandwich), standard, stress, teste (test), túnel, turf(e), turismo (tourism),uísque(whisky),vanguard(a),xerife(sheriff).
Vocêmesmopodemultiplicarestajáextensarelação.Numerosas outras línguas deixaram sua marca no português. Mas nenhuma
delasteveascaracterísticasde“invasão”culturalcomoascitadas.E o português continua aberto à importação de termos estrangeiros, sejam
alemães, russos, até japoneses, chineses e hindus, com a cada vezmaior ondaorientalistaemnossoscostumes.Sãodestanovasafradesdeoquibesírio-libanês(árabe) à sauna finlandesa ou à ioga indiana, ao ginseng chinês e ao zen,sachimi,suchijaponeses...
25.ASPALAVRASTAMBÉMMUDAMDESENTIDO
Não é apenas a forma das palavras que evolui e se modifica através dostempos: paralelamente às mudanças fonéticas, nos sons (o radical grego -fon-querdizer“som”)elassofremmudançassemânticas,nosentido(oradicalgrego-semant-querdizer”significação”).
E mesmo as palavras tomadas de empréstimo ao latim literário ou a outralínguaescritapodemadquirirsentidodiferente.
Pode haver tanto generalização quanto especialização de sentido; às vezesenobrecimento,outrasvezesdegradação.
Osexemplossãoinúmeros.Eisalguns:
1.Lápis,emlatim(línguaemqueapalavrapossuíaváriasformas,deacordocomsuafunçãonafrase,comolapidis,lapidem,entreoutras)significava“pedra”(em geral), “pedra tumular”, “marco miliário” (que indicava as milhas nasestradasromanas);“pedrapreciosa”.
Oportuguês,noséculoXVI,tomouprovavelmentedoitalianoapalavralápis,já com o sentido especial de “grafite”, ou seja, “variedade de carbonocristalizado, próprio para escrever”. E hoje designa qualquer bastãozinho,geralmentedemadeiraecilíndrico,queenvolveumaminadegrafiteoudeoutrassubstâncias,destinadoaescrever,desenharoupintar.
Daformalapidemprovém,porviaerudita,anossalápide,queseusaapenasnossentidosde“lajecominscriçãocomemorativa”e“lajetumular”.
2.Do latim vitium, “vício, defeito, anomalia, imperfeição moral”, além de
vício, de origem culta, com os mesmos sentidos, tem o português duas outraspalavras, deorigempopular, comsentidos especializados:1.ª,vezo, “hábito oucostume,geralmentecriticável”;2.ª,designificaçãomuitodiferente,viço,queéo“vigordevegetaçãonasplantas”e,daí,“exuberânciadevida”.Estenovosentidosedeveaofatodea“anomalia”nocrescimentodeumaplantaserfavorável.
3.Carroça, antigamente, era “carruagem de luxo”; hoje em dia, o sentidodegradou-se:é“carrogrosseiro”,“carrovelho,vagaroso”...
4. A família portuguesa derivada do latimmacula (“mancha, malha, marcanatural”;“nódoa”,“defeito”;“malhadumtecido”)temváriosrepresentantes.Porvia popular,mancha é o termo de sentidomais geral;malha tanto pode ser a“trança de qualquer fibra têxtil”, a “abertura no entrançado de um tecido”, o“entrançadodeumfiodemetalcomquesefabricavamasarmaduras”,o“tecidoquesedesfiafacilmente”,a“roupafeitacomtecidoentrançado”,comotambéma“manchanaturaldecoloraçãodiferentenapeledosanimais”(“vacamalhada”);mágoa, que já significou “mancha proveniente de uma contusão”, hoje só seemprega no sentido de “desgosto, amargura, pesar, tristeza” causados por umaofensaoudesconsideração.Jáporviacultanosveiomácula, termoempregadoquasesemprenosentidofiguradode“manchaounódoa”:“virgemsemmácula”.
5.O adjetivo latino planus significa “plano, igual, raso, nivelado”; “chato,achatado”.Emportuguês,porviapopular,deu-nos:chão,primeirocomoadjetivo(“plano, liso”, “singelo, simples”, “habitual, trivial”), depois como substantivo(“solo,pavimento“);porão,o“espaçomaisbaixodeumnavio”;“partedeumahabitaçãoentreosoloeoprimeiropavimento”.Porviaerudita,plano,adjetivo(“desuperfícielisa”):“terrenoplano”;esubstantivo:“superfícieplanalimitada”,“planície”; “planta, mapa”; e daí “projeto”, “trama”; “arranjo”; “situação”,“categoria”.Indiretamente,porempréstimodocastelhano,temoslhano(“sincero,franco”; “simples, despretensioso”; “afável, delicado”); e do italiano tomamospiano,oinstrumentomusical.
6.Umdosmaiscuriososexemplosdeenobrecimentodesentidoocorreucomapalavramarechal(empréstimoaofrancês),quehojedesigna“omaisaltopostoda hierarquia do Exército”, e na sua origem era simplesmente o “criado docavalo”,umhumildeempregadoque,naIdadeMédia,cuidavadecertonúmerode
cavalosdaCorte.Mascomopôdeapalavrasofrertãofortealteração?É preciso lembrar a importância da cavalaria nas guerras antigas, e que ao
marechalforamaospoucosatribuídosnovosencargos:passoueleaorganizaracavalaria em ordem de batalha, sob as ordens de um oficial; posteriormente oofíciodemarechalfoiaumentandodeimportância,passandoadesignaro“oficialcavaleiro”,depois“oficialgraduado”,atéindicaromaisaltooficialdoExército.
Parecequeosentidodemarechalandoudeavião,enãoacavalo...Outrasvezeséforteadegradaçãodesentido:
7.Vilão,queeraapenaso“aldeão”,o“habitantedocampo”,veioasignificar“homem grosseiro”, “perverso”, infame”. Certamente há de ter influído aassociação(indevida)comvil.E,namaneiradeverdosaristocratas,dosnobres,doshomensdacidade,sóosdaaldeia,davila,docamposãogrosseiros,capazesdepraticaraçõesvis...
8.Tratante, no português antigo, era apenas “o que trata (de negócios, depapéis)”; mas a falta de honestidade de certos “tratadores” e negociantes foiresponsávelpeladeterioraçãodosentidopara“canalha,patife,velhaco”.
9. Libertino, a princípio “filho de escravo liberto”, tomou o sentido de“libertado dos preceitos da moral e da religião”, e daí “devasso”, “imoral”,“despudorado”,“dissoluto”.
10.Cretino é palavra que várias línguas românicas tomaram emprestada deum dialeto franco-provençal dos Alpes Suíços, cretin (do latim christianu,“cristão”).Nessaregiãomuitosdoshabitanteseramacometidosdecretinismooubócio(doençacaracterizadapelocrescimentodatireoide,vulgarmenteconhecidaporpapo),eassimdenominadosporcomiseração,“pobrecristão”,“pobrezinho”.Como o bócio provoca a parada do desenvolvimento físico e mental, o termopassouausar-sepejorativamentecomosignificadode“imbecil”,“idiota”.
Masnemsemprehádegradaçãodesentido,comocomprovamestesexemplos:
11.Àprimeiravista,ninguémassociarálindoalegítimo.Maséprecisosaberque o latim legitimu, a princípio termo jurídico (“legal, conforme às leis”),também passou a significar “perfeito”, “excelente”, e nos deu, além da forma
eruditalegítimo,aevolutivalídimo,aqual,porumapermutadesonsusual,devetertidoaformalímido,que,comaqueda,bastantecomum,doiseguinteàsílabatônica,transformou-seemlim’do,efinalmentelindo.Aevoluçãodesentidoterásidoaseguinte:legítimo→puro→nobredeestirpe→perfeito→formoso.
12.Oadjetivo limpo (antigamente límpio)é transformaçãofonéticado latimlimpidu,“claro”,“transparente”,quenosdeulímpidoporviaerudita.Amudançade sentido se explica facilmente: para ficar transparente, um vidro deve estarlimpo.
13.Aopediralguémum“caldodecanabemgelado”,ninguémhojepercebecontradição.Masapalavracaldoprovémdolatimcalidu,adjetivoquequerdizer“quente”,sentidoaindavivoem“águascaldas”,ousimplesmentecaldas,“águastermais”, nome existente, por exemplo, em Caldas Novas, cidade de Goiásfamosapelassuasfontesdeáguasquentes,ePoçosdeCaldas,nãomenosfamosaestância hidromineral. Também o substantivo calda perdeu a sua conotaçãoprimitivade“quente”,epassouadesignara“soluçãodeaçúcareáguafervidosjuntos”(muitasvezescomsucodealgumafruta).Porviaerudita,calidunosdeucálido, que, ao lado de “quente”, significa, figuradamente (como em latim),“ardente”,e“apaixonado”.
14. Comprar provém do latim comparare, “comparar”, “confrontar”. Osentido atual se explica pelo fato de o bom comprador, antes de adquirir (umproduto,umobjeto),compara(qualidade,preço).
15. Você já pensou que cunhado resulta do latim cognatu? E cognatu(“nascidodomesmosangue”),aocontráriodecunhado,é“parentepelosangue”,e não por afinidade.Cognato é forma erudita, e além do sentido jurídico de“parente consanguíneo”, usa-se emgramática para designar a “palavra que temraizcomumcomoutras”,comoCLARo,CLAReza,CLARidade,esCLARecer.
16.Fogo(queemlatimsediziaignis)temorigemnoutrapalavralatina,focu,cujoprimeirosentidoé“lardoméstico”,“lareira”,esóposteriormentepassouasignificar“fogo”.Porviaculta,focunosdeufoco,jácomsentidosnovos.
17.O latim lucru,porviaculta,nosdeu lucro,desentidosemelhante.Mas,
por via popular, a forma resultante é logro, “engano”, “trapaça”, “fraude”. Hácertatendênciaadarsentidopejorativoaostermoscomerciais:naverdade,paraaumentarseu lucro,ocomerciantemuitasvezes lograo freguês.Observequeocognato lograr, ao lado do sentido depreciativo, conserva o de “obter”,“desfrutar”,“conseguir”.
18.Minuto emiúdo provêm, por vias diferentes, do mesmo termo latino,minutu,quequerdizer“diminuído”,“miúdo”.Osentidodaformaculta,minuto,resulta de ser parte diminuta em que se divide a hora. — O feminino latinominuta, “diminuída”,passouaaplicar-seaos rascunhos,queeramescritoscomletrasmuitomiúdas.
19.Oprimeirosentidodoverbolatinopensareé“suspender”,“pendurar(dasconchas da balança)”, “pesar”, e nos deu, por via popular, pesar. Do sentidoconcreto de “pesar” deriva o figurado de “pesar os prós e os contras”,“ponderar”, “examinar”, que nos leva ao de “meditar”, “refletir”, próprio daformacultapensar.
20. O latim orare tinha o sentido de “pronunciar uma fórmula ritual, umasúplica,umdiscurso”;“pedir”,“rogar”;“pleitear”,“advogar”.Estasduasúltimasacepções estão presentes nos cognatos oração (lat. oratione) e orador, dalinguagemjurídica.Masoverbo,porinfluênciadolatimdaIgreja,especializou-senosentidode“suplicaraDeus”,“rezar”.
21.Recitare,“leremvozalta”,“recitar”,“ler”,alémdaformaeruditarecitar,com o mesmo sentido, deu-nos a forma popular rezar, cujo sentido seespecializoucomo“recitaroulerorações”.
AEXPRESSIVIDADEEOESTILO
26.ALÍNGUACOMOINSTRUMENTODEBELEZA
Engana-se quem pensa que a língua funciona exclusivamente como meio deINFORMAÇÃO entre falante e ouvinte, entre escritor e leitor: muitas vezes ela éusadacomoformadeexternaroquenosvainomaisíntimodaalma,semquehajanecessariamenteumreceptordamensagem.Opoetaeoromancistaescrevemporumanecessidadeinterna,paraextravasaremseussentimentos.
Enquanto a linguagemde informação, para cumprir sua finalidade, deve serobjetiva,neutra—oqueaconteceraramente—,alinguagemexpressivacarrega-se de matizes poéticos, subjetivos, procurando, mediante todo um jogo deartifícios, transmitir algo de belo, de artístico. É a finalidade ESTÉTICAsobrepujandoafunçãoinformativa.
Sevocêcompulsarumjornal,muitasdassuasmatériasserãoessencialmente,masnãoexclusivamente,escritasemlinguagemobjetiva.
Vocêencontrará,porexemplo,nonoticiáriolocaleinternacional,informaçõescomoestas:
1. “A artilharia do Iraque derrubou um avião civil do Irã. Não
houvesobreviventes.”2.“OChallengerexplodenoar,matandoseustripulantes.”3.“Haveránovoaumentodopreçodagasolina.”4.“Passabemomeninoquerecebeutransplantedefígado.”5.“Tempobom,comnuvensesparsas.Temperaturaestável.Ventos
brandosdosudeste.Mínimadeontem:17°C;máxima:27°C.”
Todas estas notícias estão escritas em linguagem o quanto possível neutra,semenfeitesnemadornos,destinadasomenteaINFORMAR.
O mesmo jornal, entretanto, poderá conter matérias em estilos diferentes;umas,comoobjetivonãoapenasdeinformar,masdelamentarcertasocorrênciasinsensatas,decriticar,oudeconvenceroleitordarazãoousem-razãodecertasmedidastomadaspeloGoverno.
Outras, ainda— crônicas, por exemplo—, traduzem somente o estado deespíritodoescritor,esãoelaboradassemqualquerintuitoinformativo:pretendemapenastransmitiraoleitorumpoucodeprazerintelectual.Eparaissoocronistadispõedaliberdadedejogarcomaspalavras,buscandofazê-lasumveículodegraçaedebeleza.
Compare-se o que diz um cronista a respeito damudança do tempo com asóbria notícia da coluna “Previsão do tempo”, de meados de abril, acimatranscrita(n.º5).
O título já antecipa a diferença de tratamento: “Primavera no Outono.” Eassimcomeça:
“Abril vai em meio e expulsou o calor. No céu de safiranuvenzinhasdealgodãodesenhamfigurascaprichosas.
As noites frescas propiciam um sono suave, povoado de sonhosrisonhos.
E o ventinho frio obriga, na madrugada, a puxar uma colchaaconchegadora.
Éonossooutono-primavera.”
Se você examinar detidamente o pequeno texto, há de reparar em certaspalavraseexpressõesusadasforadoseusentidopróprio—osentidoFIGURADO:
“ Abril... expulsou o calor.” [Empresta-se a um nome de mês a
capacidadehumanadeexpulsar.];“céu de safira”: o nome da pedra preciosa sugerindo o azul
intenso;“nuvenzinhasdealgodão”:—ocronista-poetasabequeasnuvens
nãosãofeitasdealgodão;enósleitoresvisualizamosimediatamenteotipo de nuvens descritas. E o uso do diminutivo— nuvenzinhas —,maisdoqueotamanho,despertanossaafetividade,talcomoventinho,logoadiante.Easnuvens,todossabemos,nãodesenham.
Os adjetivos ocorrem com mais frequência: caprichosas, frescas, suave,risonhos(nãosãoossonhosquesorriem,masnós).
“Outono-primavera”.—A junção do nome de duas estações separadas pormesesfogeaorigorcientífico,masdespertaemnósosentimentodequeonossooutonoéagradávelcomoaprimavera.
Estamos, enfim, em pleno domínio da linguagem expressiva, poética, feitaparaimpressionaragradavelmenteenãoparainformar.
(Sobrealinguagemfigurada,vejaocapítuloseguinte.)
PROSAEVERSO.POESIA
Atrásfaleiem“linguagempoética”referindo-meaumtrechoescritonãoemversos, mas em PROSA, pois é dividido em parágrafos, e não em ESTROFES.(ESTROFE é um grupo de versos separado de outro por um espaço em brancomaior.)
Naverdade,háversosquenadapossuemdepoético,epodehavertrechosemprosacarregadosdepoesia—linguagemmágica,destinadanãoainformar,masadespertaremnóssentimentodebeleza.
Na prosa comum, não poética, predominam os elementos linguísticosindispensáveisàcomunicação;napoesia(sejaemprosapoética,sejaemversos),aocontrário,oselementossupérfluos,dispensáveis,superamosindispensáveis.
Vejaadistânciaquevaidacomunicaçãoàlinguagempoéticanestaspequenasamostras.
I–“MÚSICADECÂMARAUmpingod’águaescorrenavidraça.Rápida,umaandorinhacruzanoar.
Umafolhaperdidaesvoaça,esvoaça...Achuvacaidevagar.”
(RonalddeCarvalho)
II–“SEGREDOandorinhanofioescutouumsegredo.Foiàtorredaigreja,cochichoucomosino.
Eosinobemalto:delém-demdelém-demdelém-demdem-dem!
Todaacidadeficousabendo.”
(HenriquetaLisboa)
III–“TREMDEALAGOASOsinobate,ocondutorapitaoapito,soltaotremdeferroumgrito,põe-selogoacaminhar...
—VoudanadopraCatende,voudanadopraCatende,voudanadopraCatendecomvontadedechegar...
Mergulhammocambosnosmanguesmolhados,
moleques,mulatosvêmvê-lopassar.
—Adeus!—Adeus!”
(AscensoFerreira)
Você poderá descobrir, nos três poemas transcritos, uma série de recursosexpressivos que fazem parte do JOGO POÉTICO (os poetas brincam com aspalavras!):
–combinaçõeserepetiçõesexpressivasa) de fonemas, como a RIMA, que não é obrigatória (vidraça/ esvoaça, ar/
devagar; apito/ grito, caminhar/ chegar/ passar; a ALITERAÇÃO (mergulham/mocambos/mangues/molhados/moleques/mulatos);
b)depalavras(esvoaça,esvoaça;delém-dem,etc.;VoudanadopraCatende—trêsvezes,imitandooritmodalocomotiva;Adeus!Adeus!sugerindooapito);
c) de ritmo: os versos da l.ª estrofe do poema deHenriqueta Lisboa têm omesmonúmerodesílabas;
–elipses (=palavrasocultas) inesperadas: “Eo sino [bateu,ou tocou]bemalto”;
–asugestãomaisqueainformação,numacontençãodelínguamuitoprópria,na tentativa de apreender a magia de fatos para outros corriqueiros, como a“MúsicadeCâmara”;
–ousode termosforadoseusentidohabitual—a linguagem“figurada”:éuma folha que esvoaça (como se fosse um pássaro), o trem que solta um grito(comoumserhumano).
27.ALINGUAGEMFIGURADA:AS“FIGURAS”
Napermanentebuscadaexpressividade,oescritor(etambémofalante!)lançamão de recursos novos, dispensáveis para a simples comunicação: entram emjogoosentimento,aemoção,aafetividade.
Para isso, o escritor (ouo falante) desvia-sedaFORMA e dasCONSTRUÇÕESnormais,doSENTIDOprimeirodaspalavras—éocampodaDENOTAÇÃO—paraformas,construçõesesentidos“figurados”—nocampodaCONOTAÇÃO.
Poder-se-ia,assim,definirFIGURAcomoumaalteraçãooudesvionaFORMA,CONSTRUÇÃOouSIGNIFICAÇÃOdaspalavrascomfinalidadeexpressiva.
DaíresultaaclassificaçãotradicionaldasFIGURASemtrêsgrandesgrupos:
1. Figuras que dizem respeito a alterações na FORMA das palavras, usadassobretudonoverso,permitidascomo“licençapoética”,equeseconhecempelonomedemetaplasmos(palavradeorigemgregaformadapeloprefixometa-,quequerdizer“mudança”,epeloradical-plasm-,quesignifica“forma”).
NumasocorreSUPRESSÃO de sons, p. ex. ‘stamos, por estamos, neste versofamosodeCastroAlves:
“‘Stamosemplenomar”,
ouno2.ºversodestequartetodeumsonetodeCamões,queusa‘maginaçãoporimaginação,comissoobtendotambémumasílabaamenos:
“QuandodeminhasmágoasacompridaMaginaçãoosolhosmeadormece,Emsonhosaquel’almameapareceQueparamimfoisonhonestavida.”
[Observeaindaasupressãodoafinaldeaquela,no3.ºverso.]Maisinteressantes,porém,sãoasseguintes:
2. Figuras que dizem respeito à CONSTRUÇÃO da frase, por isso mesmochamadas“figurasdesintaxe”,emqueseprocuraobtermaiorexpressividadeporváriosmeios:
A.PelaREPETIÇÃO:a)deconceitos:
“Chorou lágrimas amargas.” (Mais enfático do que “Chorouamargamente.”—Emchorarjásesubentendemlágrimas.)
b) de um termo que se quer realçar, antecipando-o, e que surgeoutra vez, no lugar próprio, sob forma diferente— um pronome damesma função, como nesta passagem da novela O Alienista, deMachadodeAssis:
“Osquelánãopenetram,engole-osaobscuridade.”(Semafigurateríamos:“Aobscuridadeengoleosquelánãopenetram.”)
Àsvezeséopronomequeseantecipa:“Matou-osaamboscomosmaiores requintesdecrueldade.” (Da
mesmanovela.)
NestesexemplosacimaarepetiçãorecebeonomedePLEONASMO.
c) de uma conjunção coordenativa, como neste verso do poema “A moscaazul”,tambémdeMachadodeAssis:
“Ezumbia,evoava,evoava,ezumbia.”
(A repetição do e e dos verbos— puramente expressiva—, empresta aoversoumasensaçãodecontinuidadequenãoteriasesedissesseapenas:“zumbia
evoava.”)
d) num crescendo de ideias que se encadeiam— o CLÍMAX— como nestepassodeGracilianoRamos:
“Procurei, rebusquei, esquadrinhei, estive quase a recorrer aoespiritismo...”(RelatóriodePrefeitodePalmeiradosÍndios.)
B.PelaSUPRESSÃOdepalavrasquefacilmentesesubentendem,porqueestãopresentesemnossamente:éachamadaELIPSE:
“É que os morros serão doentios, e as praias saudáveis. (M. deAssis)[Depoisdepraiassesubentendeserão.]
“Osilêncioédeouroeapalavradeprata.“[Depoisdepalavrasesubentendeé.]
C.Pela INVERSÃO daordemnaturaldos termosdaoração, edasoraçõesnoperíodo. O nome genérico desta figura é HIPÉRBATO. Um bom exemplo são osversosdeCamõesatráscitados,cujaordemdiretaseria:
“Aquela alma que foi sonho paramimnesta vidame aparece emsonhos quando a comprida (i)maginação de minhas mágoas meadormece.”
D.PelaDISCORDÂNCIA:Afaltadeconcordância—concordânciaestilística,nãogramatical—recebe
onomedeSILEPSE,quepodeser:a)degênero:
“SãoPauloestáadiantadíssima.”
[Ocorre o feminino porque em nosso espírito está presente o substantivofemininocidade.]
b) de número. Em seus prefácios, é comum que os autores, por modéstia(muitasvezesfalsa...);usemal.ªpessoadopluralpeladosingular.Masnahoradeempregarosadjetivospredicativos,mantêmosingular,numdosmaiscuriosostiposdediscordânciadanossalíngua.Escreveumdeles:
“Antessejamosbrevequeprolixo.”
c) de pessoa. Outro caso comum de discordância é o uso da l.ª pessoa doplural (equivalenteanós)emlugarda3.ª,pelofatodequemescrevese incluircomo1.ªpessoa(eu)entreoscomponentesdosujeito:
“Osbrasileiros,emregra,somos[emvezdesão]conciliadores.”“Nem tudo tinham os antigos, nem tudo temos [por têm] os
modernos.”
d)poratração:umapalavrapróximalevaumadjetivoaconcordarcomela,desviando-sedaconcordâncialógicaougramatical:
“Máhoraelugarescolheste.”
[Tantoahoraquantoolugarsãomaus:oadjetivo,quegramaticalmentedeviairparaomasculinoplural,segundoomachismoimperantenalinguagem,éatraídopelofemininohora.]
e)porafetividade.Nalinguagemafetivaprevaleceaemoçãosobrearazão,eaconcordâncianemsempreseestabelece:
“Vamosdormirquietinho,meufilho?”
Oanacoluto
OcorreoANACOLUTO (palavradeorigemgregaformadadean-“faltade”+acoloutos,“sequência”),quandoseinterrompeasequêncialógicadopensamento,eafrasesedesviadaconstruçãojácomeçadaparaoutra:
“Quemtemdinheiro,nãolhefaltacompanheiro.”(Provérbio)
O termo grifado, com aparência de sujeito, não se integra sintaticamente nafrase.—Não haveria anacoluto se se dissesse: “Quem tem dinheiro conseguecompanheiro.”;ou:“Aquemtemdinheironãolhefaltacompanheiro.”
3. Figuras que dizem respeito ao SENTIDO, ou FIGURAS DE PALAVRAS:determinadapalavra seusa expressivamentenuma significaçãoquenão é a suaprópria,eganhasentidoousentidosnovos.AmaisimportanteéaMETÁFORA.
A imaginação do escritor vai buscar, nas suas associações mentais,semelhançasporvezesinsuspeitadasparaelaborarasuamensagem,quetemem
vistanãoameracomunicação,masumafinalidadeestética.Oqueohomemdopovo fazpor intuição,o artista realiza conscientemente:
buscarevestirsuasideiasdeimagenssensíveis,embelezadorasdaexpressão.E descobre relações de semelhança ou de contiguidade entre os objetos,
passandoadesignaroobjetorealpelonomedeoutro.Aspalavrasdeixamdeterapenas o seu sentido normal, denotativo — o dos dicionários —, e ganhamsentidosnovos,conotativos.
DACOMPARAÇÃOÀMETÁFORA
Fixando-se no objeto das suas cogitações (A), o escritor nele descobresemelhanças, qualidades em comum (Q) associadas com outro objeto (B),presentesapenasnasuaimaginação.Exemplifiquemos:
objetoA qualidadecomumQ objetoB
1)lábiosdemulher maciez,doçura, pétalasderosa,2)pétaladeflor corvermelha
maciezmel,seda,veludo
objetoA1)lábiosdemulher2)pétaladeflor
Taisassociaçõesmentaispermitem-lhefazer,comfeiçãoartística,expressiva,oconfrontoconcretoentreoobjetoAeoobjetoB,mediantecertaspalavrasqueexprimemsemelhança(S),nafigurachamadaCOMPARAÇÃO:
1.Aspétalasdocravosãomaciasqualaseda.AQSB
2.OslábiosdaamadaerammaciosevermelhosAQ
comopétalasderosa.SB
Observequeaqualidadecomumpodeestarimplícita:
1-A.Aspétalasdocravolembram[ouparecem]seda.AS[S]B
2-A.Oslábiosdaamadapareciampétalasderosa.ASB
Esseéoprimeiropassoparaametáfora—afiguraporexcelência.
AIMAGEMOUMETÁFORADEIDENTIFICAÇÃO
Se foremeliminadososelementosQeSdeumacomparação,de formaqueestase fazapenasmentalmente,e seAfor identificadoaB,pormeiodeverboser,ficasubentendidaaqualidadecomumaosdoisobjetos.Assimsetransformamcomparaçõesem
IMAGENSouMETÁFORASDEIDENTIFICAÇÃO:
1-B.Sãodesedaaspétalasdocravo.B
2-B.Pétalasderosaseramseuslábios.BA
Estaéametáforaprimária,aindanãoemestadodepureza,poisnelafiguramosnomesdosdoisobjetoseoverbodeligação,ser.
AMETÁFORADESUBSTITUIÇÃOOUMETAFORAPURA
Nametáforapura,designa-sediretamenteoobjetoApelonomedoobjetoB,quetemcomaqueleumarelaçãodesemelhança:
“Andamnascendoperfumesnasedacrespadoscravos.”(CecíliaMeireles)
“Pérolasmesorriamnarosaentreabertadasuaboca.”
[Pérolassubstituidentes(alvosebrilhantes);rosasubstituilábios(vermelhosemacios).]
AMETONÍMIA
UmobjetoAtambémpodeserdesignadopelonomedoobjetoB,quandoentreosdoisexisteumarelaçãodecontiguidade,deproximidade,deposse:
“Senhora,partemtãotristesmeusolhosporvós,meubem,quenuncatãotristesvistesoutrosnenhunsporninguém.”(J.R.CasteloBranco)[Osolhospertencemaopoeta,eportantopodemdesigná-lo.]
“Abocamorredesede.”(C.Meireles)[Nãoéapenasaboca,mastodoocorpoquetemsede;boca,parte
docorpo,estárepresentandootodo.]
Épelametonímia(esuairmãsinédoque7)queseusavelaporbarco,bronzepor sino, coroa por reino, espada pormilitar, balança por justiça, pão poralimento,suorportrabalho,salpormar,etc.
Por meio desses e de tantos outros recursos, os poetas e prosadores vêmrenovandoa língua,afastando-ado trivial, tornandomaisvivaemaisconcisaamensagemdebelezaquenostransmitem.
Nota
7Queremalgunsautoresdistinguira sinédoquedametonímiapelo fatode,naprimeira, sermaisconcretaarelaçãoemquesebaseia:otodopelaparteouvice-versa(acidaderevoltou-se=oshabitantesdacidade);aespéciepelogêneroouvice-versa(osmortais=oshomens);opluralpelosingularouvice-versa(obrasileiroserácordial?);etc.Jáametonímiaémaissimbolizadora,poisquesebaseiaemrelaçõesmaisabstratas,comooefeitopelacausaouvice-versa(Sócratesfoiobrigadoabeberamorte=ovenenoquecausaamorte);omoralpelofísicoouvice-versa (criaturasemcoração= sembonssentimentos);acoisa signifícadaporaquiloquea significa (abeca=amagistratura):oconteúdopelocontinenteouvice-versa (servirampratos finíssimos= iguarias); aobrapeloautorouvice-versa(umPortinari=umquadrodePortinari);etc.Hojeemdiausa-semetonímiaabrangendotambémasinédoque.
28.EMBUSCADAPALAVRAEXATA:AVARIEDADETRAZBELEZA
Há palavras que se usam como verdadeiras gazuas: abrem qualquer porta,mesmoqueàsvezestornemcapengaaexpressão.
Vocábulos como coisa (e seu horrível derivado coisar), negócio, troçoservemdemuletasaosdeexpressãotrôpegacomosubstitutosdequaisquertermosquenãoocorramnahora,doqueresultam“belezas”destegênero:
“Depoisqueelecoisouonegócio, acoisa vai.Você vai ver quecoisa!éumtroço!”
Usando sinônimos apropriados — que encontrará num dicionário — vocêevita vexames (ia escrever “coisas”... ) como esse. Experimente! Eis umaamostra:
Éumacoisaevidente.Avisãodocrepúsculoeraumacoisadeslumbrante.
Éumfatoevidente....ofereciaumespetáculodeslumbrante.
OSSINÔNIMOS:NEMSEMPREAPALAVRADIFÍCILÉAMELHOR
Sempreserepete,comboadosederazão,quenãohásinônimosperfeitos.Muitosvivemàcatadesubstitutos“difíceis”,julgandoqueaspalavrasraras
calhammelhornumaredação,oquepoucasvezesacontece:arepetiçãoenfadonhadosmesmostermoséqueaenfeia.Éavariedadebemescolhidaquepodetrazermaiorbelezaaotexto.Umexemploexpressivo:
Para barriga um dicionário arrola os sinônimos abdome (ou abdômen),bandulho,pança,papo,ventre;masnãoédeformaalgumaindiferenteousodecadapalavra:
barriga é o termo geral, da linguagem familiar: “dor de barriga”; e emsentido‘figurado’:“Elefaladebarrigacheia.”;“Tirouabarrigadamiséria.”
bandulhoétermopopular,umtantogrosseiro:“encherobandulho”;pançatambémépopular:“Estácomumapançaenorme.”;“Encheuapança.”;papo,tambémpopular,sóseusanestesentidonaexpressão“depapoproar”;abdome(emaisrebuscadamenteabdômen)étermocultoecientífico:“Viam-
sedeslizarpelapraçaosimponentesemonstruososabdomensdoscapitalistas.”—escreveuAluísioAzevedo;“F. temoabdome dilatado.”; “Certos artrópodesnãotêmseparaçãovisívelentreotóraxeoabdome.”;
ventre, também culto (e semiculto), usa-se em expressões como “prisão deventre”.“Certospeixestêmoventremuitovolumoso.”E,nalinguagemreligiosa,jácomoutrosentido:“Benditoéofrutodovossoventre.”
Ninguémchegariaaoridículodequerersubstituirpapoporabdomenacançãopopular:“Eumevingodela/tocandovioladeabdomeproar”...
Entreosprincipiantes,écomumarepetiçãomonótonadecertostermos,oquelhes torna o estilo frouxo e inexpressivo: parecem não conhecer, p. ex., outroadvérbiosenãoprincipalmente,quandopoderiamvariarusandoparticularmente,especialmente,notadamente,mormente,sobretudo,emparticular,emespecial.
Omesmo se diga da conjunção causalpois, para a qual dispõe a língua desubstitutoscomojáque,umavezque,vistoque,vistocomo,porquanto,porque.(E frequentemente ocorre modernamente a substituição errônea do pois pelalocuçãopostoque,cujosentidoéembora.aindaque,sebemque,conquanto—comoverbonosubjuntivo.)
Outra locuçãoqueocorre a trêspordois édevidoa (aliás sem tradição na
língua),desprezando-sesinônimosexpressivoscomograçasa,emvirtudede,emrazãode,emconsequênciade,porcausade.
Tambémháverdadeiramanianousodeatravésdequeexprimecorretamente,aliás, “travessia (no espaço e no tempo)” — para indicar o meio ou oinstrumento, em lugar demediante,pormeiode,por intermédio de, com baseem,valendo-sede,servindo-sede,ousimplesmentepor.
Percorrendo a lista a seguir você poderá variar bastante sua maneira deexprimir-se.
NÃOUSEAPENAS(OUEVITE) ALTERNECOM
abordar(nosentidode“tratarde”) tratarde,versar(sobre)
àmedidaque(Nãoconfundacomnamedidaemque)
àproporçãoque
apartirde(anãosercomvalortemporal)
combaseem,tomando-seporbase,valendo-sede,baseando-seem,fundando-seem
atravésde(paraexprimir‘meio’ou‘instrumento’) por,mediante,pormeiode,porintermédiode,segundo;servindo-se,usando-se,utilizando-se,ouvalendo-sede
constatar atestar,comprovar,evidenciar;observar,perceber;averiguar,verificar;registrar
destacar acentuar,darênfase,frisar,ressaltar,pôremrelevo,salientar,sublinhar
destemodo dessemodo,assimsendo,assim,desta(oudessa)forma,desta(oudessa)maneira,destarte,diantedisso,portanto,porconseguinte,emconsequência,consequentemente
detalhe minúcia,pormenor,particularidade
devidoa emrazãode,emvirtudede,graçasa,porcausade
direcionar dirigir,nortear,orientar
dito citado,mencionado
enquanto aopassoque
fazercomque compelir,constranger,fazerque,forçar,levara,obrigara
inclusive(anãoserquandosignifica“incluindo-se”)
até,ainda,igualmente,mesmo,também
namedidaemque pelofatodeque,quando,umavezque
nosentidode afimde,para
comvistasa comofito(ouobjetivo,ouintuito)de,comafinalidadede;tendoemmiraouemvista)
“nuance” matiz,meia-tinta,meio-tom,nuança
posicionamento atitude,posição,postura
pois(noiníciodeoração) jáque,porquanto,porque,umavezque,vistocomo,vistoque
principalmente especialmente,mormente,notadamente,sobretudo;emespecial,emparticular
sendoque e
NÃOUSE SUBSTITUAPOR
anível(de),aonível emnível,nonível
facea,frentea ante,diantede,emfacede,emvistade,perante
onde(quandonãoexprime‘lugar’) emque,naqual,nasquais,noqual,nosquais
(medidas)visando... (medidas)destinadasa
Fulanodizia-se(ouperguntava-se) F.diziaasimesmo,consigomesmo,comosseusbotões;perguntavadesiparaconsigo
sobumpontodevista deumpontodevista
sobumprisma por(ouatravésde)umprisma
OSVERBOSGENÉRICOS
Algunsverbosusuaisde significaçãomuitogenérica e extensivapodem, emcertos contextos, ser substituídos com vantagem por outros de significaçãoespecífica,maisprecisa,maisexpressiva,maiselegante.Entreelesfiguram(jáiaescrever estão... ) dar, dizer, estar, fazer, ser e ter, cuja repetição tornaenfadonho qualquer tipo de discurso. Escolha o sinônimo mais adequado aocontexto,emelhoreseuestilo!
I–DAR
1.Deumuitoslivrosàbibliotecapública. doou,ofertou.
2.Naquelaempresa,dãocasaecomidaaosoperários.
oferecem.
3.Seuexemplodeubonsfrutos. produziu.
4.Aexperiênciadeuemnada. resultou.
5.Deuacasaporempréstimo. cedeu.
6.Doupermissão. concedo.
7.Eraprecisodarfiador. apresentar.
8.Deusinaisdecansaço. manifestou,revelou.
9.Deuumagrandemancada. cometeu.
10.Oalhodámauhálito. causa,produz.
11.Deuumgritodesusto. soltou,emitiu.
12.Osjornaisderamanotícia. publicaram,divulgaram.
13.Deramumbanquete. realizaram,ofereceram.
14.Porquantomedáessecarro? vende,cede.
15.Darumpurgante. ministrar,administrar,aplicar.
16.Deuumaverdadeiraaulasobreoassunto. ministrou,proferiu.
17.Estamesanãodáoconfortodesejável. proporciona,oferece,apresenta.
18.Dátodaasuaafeiçãoaela. dedica,consagra.
19.Ovenenodosapodeu-lheumagravedoença. causou,provocou.
20.Deram-meumbomquartonohotel. cederam,reservaram.
21.Otextodeuquase200páginas. perfez,chegoua,rendeu.
22.Dêasuasugestão. proponha,apresente.
23.Otrabalhodáalegria. proporciona,oferece,traz.
24.AantologiadánovotextodeDrummond contém,publica,traz,inclui.
25.Estedicionárionãodáapalavradesmilinguir. registra,consigna,traz.
26.Dou-lhegarantias. ofereço.
27.Deuavidapelanamorada. sacrificou.
28.AcriticadeuaGracilianoaautoridadedeclássico.
concedeu,atribuiu,conferiu.
29.Osamigosderam-lheanotícia. participaram,comunicaram.
30.Seucomportamentodavapreocupaçãoaos causava,trazia.
pais.
31.Deudoiscarrosusadosporumnovo. ofereceu,trocou,permutou.
32.Deumilhõespelocavalo. pagou.
33.OModernismodeunovavisãoàsArtes. imprimiu.
34.Éprecisoquelhedeemumcréditodeconfiança.
concedam,ofereçam.
35.AsideiasdeBraudelsobreHistórialhederamrenomemundial.
granjearam,trouxeram.
36.Deram-lheaculpainjustamente. atribuíram,imputaram.
37.Dê-lheassuasrazões. exponha,mostre.
38.Davanosfilhosporumaninharia. batia;espancavaos...
39.Afinaldeucomolivroprocurado. topou,encontrouo...,achouo...
40.Osoldavanoseurosto. batia,incidia,queimavao...
41.Finalmentedeucomasoluçãodoproblema. atinou,acertou.
42.Seusolhosderamcomovisitante. divisaram,avistaram,perceberam.
43.Odinheirojánãodavaparaosgastos. bastava,erasuficiente.
44.Nãodouparaisso. Nãotenhovocação,jeito,aptidão.
45.Agoradeudefalarsozinho. cismou.
46.UltimamentedeiderelerCamões. dediquei-mea.
47.Deramduashoras. bateram,soaram.
48.Dou-mebemnoclimadaserra. sinto-me.
49.Ocrimedeu-seantesdameia-noite. ocorreu,aconteceu.
50.Dá-seadevaneios. entrega-se,dedica-se.
51.Poucoselhedá. Poucolheimporta.
52.AgorasedáàMatemática. aplica,dedica.
53.Deuapalavraaooutroorador. concedeu,cedeu.
II–DIZER
1.Atestemunhadisseoquesabia. expressou,confessou.
2.Diziapalavrassemnexo. proferia,pronunciava.
3.Elenãoconseguiadizer“pneu”. pronunciar.
4.Diziatudopormímica. exprimia.
5.Estesversosdizembemosentimentodopoeta. exprimem.
6.Dizia,nacarta,quepassavabem. declarava;escrevia.
7.Todosdisseram“—Viva!”,àsuapassagem. exclamaram.
8.Esseprovérbiodizumagrandeverdade. ensina.
9.Diziasempreamesmacoisa. repetia,afirmava.
10.Opoemadiziaumahistóriadeamor. contava,narrava,referia.
11.Eladizversoscommuitaexpressividade. declama,recita.
12.Naquelaigrejaaindasedizmissaemlatim. reza,celebra.
13.Asrugasdizembemasuaidade. mostram,revelam,
14.AConstituiçãodizquetodossãoiguaisperantealei.
estabelece,preceitua,prescreve,determina,estatui.
15.O5.°mandamentodiz:“Nãomatarás”. ordena,manda,determina.
16.Amúsicapopularnãolhedizianada. nãooseduzia;nãooatraía,nãootocava.
17.Suamãebemlhedissequenãosaísse. aconselhou.
18.Todosodizemumgênio. consideram;têmnacontade
19.Taismaneirasnãodizembemcomasuaeducação.
condizem,combinam,seharmonizam.
20.Dissequeseatrasaraemvirtudedeumacidente.
alegou.
21.Disseconvictoquetudoeraverdade. assegurou,asseverou,afirmou.
22.Àsuapergunta,disseoréuquenãoeraculpado.
respondeu,replicou,retorquiu.
23.Diz-seumgênioincompreendido. considera-se;tem-senacontade.
24.Disseasnovidadescomamaiorcalma. revelou;comunicou.
25.BraudeldizqueaHistóriatemavançoseretrocessos.
afirma,declara,assevera,assegura,sustenta,opina,entende,pensa,julga.
III–ESTAR
1.Océuestánublado. apresenta-se,encontrase,mostra-se.
2.Eleestáindeciso. mantém-se,acha-se,permanece.
3.Apolíciaestevedeprontidãotodaanoite. ficou,permaneceu,manteve-se.
4.Estásempretemeroso. vive,anda.
5.Estánumafasefelizdesuavida. acha-se,encontra-se;atingiuuma...
6.Estavadeternoegravata. trajava,usava,vestia.
7.Estevelongotempoempesquisas. dedicou-se...a,consagrou-se...a,manteve-se
8.DeixouoRioeagoraestánumsítio. mora,vive.
9.Estevenaconferência. presencioua;assistiuà.
10.OOrienteMédiosempreestáemguerra. seacha,seenvolve.
11.Estejaaíummomento:eujávolto. espere,fique.
12.Oproblemaestánaescolhacerta. reside,consiste;dependeda.
13.Estoucomasuaproposta. concordo;aceitoasuaproposta.
14.Adívidajáestánoscemmil. atingiuos...,seelevaa.
IV–FAZER
1.Deusfezomundoemseisdias. criou.
2.Faziaumaestanteempoucashoras. fabricava,montava.
3.Fizeramumnovoprédiosobreasruínas. construíram,edificaram.
4.Fazumromancecadaano. escreve,produz,compõe.
5.OAleijadinhofaziamaravilhascompedra-sabão.
criava,executava,realizava,esculpia,talhava.
6.Fazerabarba,asunhas. cortar,aparar.
7.Fazersociedadecomalguém. ajustar,contratar,firmar.
8.Fezvotodepobreza. formulou.
9.“Omedofazmaislisonjeirosqueoamor”. origina,produz,cria.
10.Osacidentesdetrânsitofazemmuitasvítimas. causam,ocasionam,provocam.
11.Elemesmofaziaacamaaolevantar-se. arrumava,arranjava.
12.EugênioGudinfez100anos. completou,atingiu,viveu.
13.Fezojantaremmeiahora. preparou.
14.Sófizdozepontosnaloteriaesportiva. consegui,obtive.
15.Fazpenavê-lonesseestado. dá,inspira.
16.Fezquenãooviu. fingiu,simulou.
17.Malsepodefazerumaideiadoseu formar,conceber.
sofrimento.
18.Aestrada,naquelepontofazumS. forma.
19.Avelhiceofezmaiscompreensivo. tornou.
20.Ofogofezamadeiraemcarvão. converteu;reduziu...a.
21.Fizeramumahomenagemaoescritor. prestaram,tributaram.
22.Faziaporserumbomaluno. esforçava-se,diligenciava.
23.Façacomoseuirmão. proceda,porte-se.
24.Acrisálidafez-seborboleta. tornou-se,converteuse,transformou-seem,virou.
25.Elefez-sededesentendido. fingiu.
26.Estavacalado,masfizquefalasse. forcei.
V–SER
1.Avidaéluta. resume-seem,consisteem.
2.Eraaépocadasmangas. chegara,estavana.
3.Quandoformaisvelho,compreenderá. setornar,ficar.
4.Éacaradopai. lembra.
5.Ignoravaque“tépido”é“morno”. significa,querdizer.
6.Quantoéestelivro? custa,vale.
7.Seagoraascoisasseachamassim,queseránofuturo?
acontecerá,sucederá,ocorrerá,sepassará.
8.Opiormaléternascido. consisteem.
9.Osfilhossãoasuariqueza. constituem,representam,formam.
10.Estelivroédele. pertence-lhe.
11.OsenhortambémédeMinas? nasceuem,provémde.
12.Eradefamíliatradicional. descendia,provinha,procedia.
13.Deussejacontigo. esteja;Deusteassista,teacompanhe,teproteja.
14.Serounãoser,eisaquestão. Viver,existir.
VI–TER
1.Temmuitasfazendas. édonode,possui.
2.Tinhaofilhonosbraços. segurava,carregava,sustinha.
3.Esperoterminhashorasdelazer. gozar,usufruir,desfrutar.
4.Tinhagrandepodernasmãos. detinha.
5.Aindatem15diasdeférias. dispõede,podegozar.
6.Nãoconseguiaternasmãosmuitodinheiro. conservar,manter.
7.Teveumcargoimportante. ocupou,obteve,alcançou,conseguiu,exerceu.
8.Tinhaasimpatiadetodos. conquistava,obtinha,atraía,conseguia.
9.Opacotetinhadezlivros. continha,encerrava.
10.Tivesteoquedesejavas. obtiveste,alcançaste,lograste,conseguiste,conquistaste.
11.Minhasograteve13filhos. gerou,procriou,deuàluz,pariu.
12.Quetemisso? importa,vale.
13.Eletemasmadesdecriança. padecede,sofrede.
14.Teveumdeslumbramento. sentiu,experimentou.
15.Olivrotinhamaisde500páginas. comportava,apresentava.
16.Eletemboaíndole. possui,édotadode.
17.Felizmentetenhoboasaúde. gozo(de).
18.Temboaaparência. apresenta,mostra,ostenta.
19.Tiveacriançaemminhacasadurantemeses. acolhi,abriguei,hospedei,recebi.
20.Nocasamentodafilha,tinhaumbelovestido. usava,trajava,vestia,trazia.
21.Tevemuitapresençadeespíritonoincidente. mostrou,revelou,deuprovade.
22.Tevemausmomentosduranteaviagem. passoupor,viveu,sofreu.
23.Oespetáculotevegrandepúblico. atraiu,obteve,alcançou,logrou.
24.Tenhoamesmaopinião. adoto,sigo,aceito.
25.Tenhacautela! procedacom.
26.Teve,afinal,arecompensaaosseusesforços. obteve,recebeu,conseguiu,alcançou.
27.Teveocastigomerecido. recebeu,sofreu,padeceu.
28.Teverespostanegativaaoseupedido. obteve,recebeu.
29.Quetemelecomatuavida? Quelheimporta(ouinteressa)atuavida?
30.Tinhaodinheiroseguro. mantinha,guardava,conservava,trazia.
31.Umpovoconscientetemamoraopassado. consagra,dedica,vota,devota,tributa.
32.Navida,sótemoscertaamorte. sóexiste.
33.Depoisdosusto,tinhaorostolívido. apresentava,mostrava.
34.Sempreotivepor(oucomo)honesto. considerei,julguei,reputei,imaginei.
35.Elajátem40anos. conta,completou.
36.Oquartosótemtrêsmetrosportrês. mede.
37.Elemalsetinhaempé. mantinha,sustinha,aguentava.
38.TenhodeiraSãoPaulo. preciso,necessito.
39.Tenhoparamimquesuafamaéumequívoco. acho,considero,julgo,estouconvencidode.
POSFÁCIO
IMPRESSÕESDEUMLEITORPAULORÓNAI
Esteéumlivroquefaziafalta.Àideiadagramáticaligam-se,emgeral,associaçõespoucoamenas:enquanto
muitos a acham uma disciplina bolorenta e dispensável, outros julgam-na umaexcrescência prejudicial, que, em vez de facilitar o estudo da língua, só fazcomplicá-la.Entretanto,quandobemensinada(oquetambémaconteceàsvezes),comonãocontribuielaparaaprimoraranossacapacidadedeexpressão!Verdadeestaimplícitanotítulodopresentelivro,emqueoAutor,evitandoadesignaçãoantipática,denomina-onãopeloassunto,maspelafinalidade,poisoqueelefaz,na realidade, é instruir-nos sobre como evitar ou vencer as dificuldadesprincipaisdagramáticaportuguesa.
Paraalcançarestefim,eleestáaparelhadocomopoucos.Uma de suas virtudes é a clareza com que torna acessíveis as noçõesmais
complexas. Evita, quanto possível, os termos técnicos com que, no esforço deinventar nomes específicos para cada incidente da fala,mesmoomais raro, osadeptos da linguística estão infestando até a linguagem comum.Decididamente,essespedantismosnãosãodeseuagrado.
Ligadaaessavirtudeestaoutra,adasimplicidade.Oprof.AdrianodaGamaKury usa uma língua escrita próxima à coloquial, e para conferir-lhe inteiranaturalidadedirige-seaoleitorcomosefosseoseuinterlocutor.
Acresce uma capacidade didática inata. Sempre em tom de conversa, lograconvenceroleitordequeoassuntoversado,pormaisintrincadoquepareça,naverdadeétransparentee,aopreçodeumpequenoesforçointelectual,poderáserdominado. Esse método dá resultados mesmo em casos de real complexidade,comoporexemplonodasregrasdoempregodohífen,que—convenhamos—éimpossível coordenar num sistema coerente. Aí, pelo menos, encontramosdevidamente explicadas as causas das incongruências apontáveis nos váriosdicionários.
Nodecorrerdesuavidaoperosa,oAutorjáfoirevisortipográfico,oquelheensinouossegredosdapaginação,recursotãoútildacompreensãosinóptica.Ejáexerceu também o ofício de copidesque, o que, pelo contato contínuo com odesleixoalheio,favoreceaconquistadaelegância,davariedadeedaprecisão.
Poroutro lado,graças aDeus, faltam-lhecompletamenteo ardorbélicoeofuror missionário, que caracterizam tantos gramáticos. Quando diverge de umcolegasabediscordardelesemcondená-lo.Alheioaqualquerfanatismo,passeiaentreasleisdalínguacomumsorrisobonacheirão.Maisqueleis,considera-astendênciasdafalaesabequeasmaisinsólitasdehojepoderãotornar-seregrasamanhã.Dogmatismonãoécomele.
Louvemo-lo também pela sua modernidade. Mais de 90 por cento de suaexemplificação provêm de autores vivos, conversações ouvidas, expressõesapanhadasnaimprensaescritaefalada.Quando,raramente,citaclássicos,nãoéparaerguê-losemparadigmasdehoje,esimparatornarsensívelaevoluçãodalíngua.
Umdosprimeirosleitoresdestevolume,nelemuitoaprendi,apesardetratarquase exclusivamente de matérias versadas alhures à saciedade. Por isso sóposso recomendá-lo a quantos queiram repassar e completar os seusconhecimentosdeportuguês.
Apraz-meamaneirafamiliar,quasecaseira,comqueeleabordatemasqueemgeralsãopretextoparadissertaçõessolenesesoporíferas.Egostodeapanhá-loemflagranteemocasiõesemqueesqueceseupapeldegramáticoparalembrarode cidadão, ou, noutras palavras, quando lhe ocorre inesperadamente que umexemplo gramatical tem também outro sentido. Assim no capítulo 15, ondeexemplificaousodofuturodopresentesimples:“[OPresidenteTancredoNevestomaráposseamanhã.)(Dosjornaisdaépoca).[Maslamentavelmenteodestino
nãoopermitiu.]”ConheçoonossoAutordesdeháváriosdecênios,dequandonãoeraaindaum
renovadordoensinodeportuguês,ummestredemestres,orientadorpioneirodeseus colegas de todo o Brasil. Fora-me apresentado pelo saudoso ProfessorAurélio Buarque de Holanda Ferreira como um de seus melhores alunos doColégioPedroII.Semelhanterecomendaçãofezcomquelheseguisseatrajetóriacomadmiraçãoesimpatia,acompanhandosuasnumerosaspublicações,decunhoacentuadamente didático. Na impossibilidade de citá-las todas, limito-me àPequena Gramática (para a explicação da nova Nomenclatura Gramatical),assuntoqueeleconseguiutornarpalpitanteapontodeesgotardozeedições,eosquatrovolumesdeMeulivrodeportuguês,baseadosnaleituraexplicada(muitonegligenciada em nossas escolas) de trechos vivos e expressivos da modernaliteraturabrasileira.Façovotosparaquepormuitosanoselepossaacrescentar-lhesnovos títulos embenefíciodoensinodoportuguêsedaquelesqueamamonossosofridoidiomapátrio.
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