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  • Emil Cioran e a Filosofia Negativa:Homenagem ao centenrio de nascimento

  • Conselho Editorial

    Alex Primo UFRGSlvaro Nunes Larangeira UTP

    Carla Rodrigues PUC-RJCristiane Freitas Gutfreind PUCRS

    Erick Felinto UERJEdgard de Assis Carvalho PUC-SP

    J. Roberto Whitaker Penteado ESPMJoo Freire Filho UFRJ

    Juremir Machado da Silva PUCRSMichel Maffesoli Paris V

    Muniz Sodr UFRJPhilippe Joron Montpellier III

    Pierre le Quau GrenobleRenato Janine Ribeiro USP

    Sandra Mara Corazza UFRGSTania Mara Galli Fonseca UFRGS

  • Emil Cioran e a Filosofia Negativa:Homenagem ao centenrio de nascimento

    DEYVE REDYSON(Organizador)

    Catalina Elena DobreDeyve Redyson

    Edson Manzan CorsiIkaro Max

    Marcelo SantosRenato TapadoRuy de CarvalhoWagner Guedes

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Bibliotecria Responsvel: Denise Mari de Andrade Souza CRB 10/960

    Todos os direitos desta edio reservados EDITORA MERIDIONAL LTDA.

    Av. Osvaldo Aranha, 440 conj. 101CEP: 90035-190 Porto Alegre RSTel.: (51) 3311.4082 Fax: (51) [email protected]

    Agosto / 2011

    E53Emil Cioran e a filosofia negativa: homenagem ao

    centenrio de nascimento / org. por Deyve Redyson. PortoAlegre: Sulina, 2011.151 p.

    ISBN: 978-85-205-0593-9

    1. Filosofia. 2. Cincia Humanas. 3. Emil Cioran -Filsofo. I. Redyson, Deyve

    CDU: 101CDD: 100

    A grafia desta obra est atualizada segundo o Acordo Ortogrficoda Lngua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    Deyve Redyson, 2011

    Capa: Vincius Xavier

    Projeto Grfico: SOLO EDITORAO/Niura FernandaEditorao: Niura FernandaReviso: Lcia Carolina e Mariane Farias

    Editor: Luis Gomes

  • NDICE

    IntroduoEmil Cioran: Sua vida e seu Brevirio de Decomposio | 7Deyve Redyson

    De Kynismus a Zynismus: ou do latidopedaggico ao pessimismo cnico de Cioran | 17Ruy de Carvalho Rodrigues Jnior

    Escrever com Cioran | 45Renato Tapado

    O Interesse pelo Pior. O Conceitode Pssimo na Metafsica de Cioran | 53Deyve Redyson

    Emil Cioran e a experincia existencial da escritura | 73Catalina Elena Dobre

    A Poesia em Cioran | 91Edson Manzan Corsi

    Emil Cioran o ltimo dos metafsicos | 101Wagner Alves Guedes

    Lucidez Demonaca: a revoltade Cioran contra Deus e os homens | 117Ikaro Max

    Sobre Deus e o Caos no Pessimismo de Emil Cioran | 129Marcelo Santos

    Carta-Prefcio de Cioran para Fernando Savater | 139E. M. Cioran

    Sobre os autores | 141

    Referncias | 144

  • 7Emil Cioran: sua vida e sua filosofia paradoxal,em homenagem ao centenrio de seu nascimento

    Deyve Redyson1

    Um gnstico contemporneo. Essa talvez seja a receita paracompreender o pensamento do filsofo romeno Emil Cioran(1911-1995). Filsofo polmico, pessimista e dono de uma obraque desperta, no mnimo, interesse. Quando surgiram seuslivros, o filsofo francs existencialista Gabriel Marcel afirmou:Acaso Cioran o diabo? Fernando Savater, quando decidiuescrever sua tese de doutorado sobre o romeno, ouviu a afir-mao de que este tal Cioran no existia e que no passava deum pseudnimo de Savater.

    Neste ano de 2011 faz cem anos que esse fisiologista deideias nasceu numa pequena cidade da Romnia. Escrevia pornecessidade e acreditava ser vtima de uma espcie de desgasteque o levou a produzir uma imensa obra nutrida de sentimentose dores, de arrogncias e especulaes. Acreditava, tambm,que a ideia de homem era inaceitvel e que a morte seria umestado de perfeio, uma certa urgncia do pior unida a um alvioexistencial. Ao mesmo tempo, cria que a msica seria o nicoacesso ao universo mstico de verdadeira transcendnciahumana.

    Cioran ainda no um pensador muito conhecido nosmeios filosficos, sua representao dada por pequenas e

    INTRODUO

  • 8esparsas citaes e seu nome ainda no foi inscrito nos manuaisde filosofia. Por ser um filsofo em emergncia contemporneae por estar sendo representado e conhecido como o maistrgico pensador aps Nietzsche e aps Schopenhauer, nafilosofia, e Leopardi e Byron, na literatura, Cioran severa-mente punido por suas ideias pessimistas e profundamenterevoltadas para com a vida, o homem e a sua finalidade. Acre-ditava, tambm, que vivera muito e que escrevera demais. E,sem necessidade, niilista por completo e pessimista de alma,entendia que a existncia humana e sua criao por um deus no passava de uma grande fatalidade, e que a existncia docompositor Johann Sebastian Bach teria feito com que estarealidade no fosse pior. Considerado o mais pessimista detodos os filsofos e responsvel por uma extensa obra trgica,que respira os dons da dor, da angstia e do completo desesperopor se encontrar, sem ter pedido por isso, num mundo defatalidades e desgraas.

    No Brasil, o pensamento desse romeno ainda menosconhecido e a verdadeira inteno deste livro apresentar suaobra e seu pensamento atravs das fases de sua vida, por ocasiode seu centsimo aniversrio. Um filsofo que relutou contraa prpria filosofia e que desempenhou uma criticidade extremaem relao aos seus contemporneos e antecedentes h de serreconhecido, pois, com grande lucidez, interpreta a filosofia eseus personagens. Cioran merece uma leitura mais cuidadosae reflexiva para encontrarmos os princpios de uma filosofiapessimista, alm de seus argumentos contra a vida e suasesperanas, ao mesmo tempo em que mergulharemos em suadensidade mstica e contemplativa.

    Formado em filosofia na Universidade de Bucareste,Cioran pode ser compreendido hoje como o pensador queainda tem muito a contribuir com os amlgamas da filosofia.Sua leitura somente enriquecer o pensamento contemporneoe nos far entender melhor o mundo e suas circunstncias. Amelancolia e o tdio dos quais se utiliza em suas obras contagiammortalmente quem o l, sua viso de mundo nos transporta a

  • 9uma leitura simptica aos sentidos do trgico. Suas leiturasiniciais circundam Balzac, Baudelaire, Dostoievski, Leopardi,Schopenhauer, Nietzsche, Heidegger, Simmel e Kierkegaard;escreve, inicialmente, uma tese sobre Bergson e, em seguida,dedica-se a outra sobre Nietzsche.

    No decorrer de sua obra, Cioran pe em releitura vriosmomentos da histria da filosofia, focalizando pensadores eescritores que perfazem a leitura do mundo. Em sua obra estocerca de vinte volumes, que se compem de livros, pequenosartigos, prefcios, entrevistas e dirios, alm de sua vastacorrespondncia, na qual aparecem nomes como os de: AngelusSilesius, Aristteles, Bacon, Bach, Balzac, Barthes, Baudelaire,Beckett, Beethoven, Bergson, Bhagavha-Gita, Blake, Boehme,Buda, Byron, Campanella, Confcio, Chestov, DAlembert,Dante, Descartes, Diderot, Dostoievski, Flaubert, Freud,Goethe, Hegel, Hartmann, Heidegger, Hitler, Hume, Ionesco,Joyce, Kafka, Kant, Keats, Kierkegaard, Kleist, Lao Tse,Lichtenberg, Lutero, Madame de Stal, Mahabharata, Maistre,Marco Aurlio, Montaigne, Nietzsche, Ortega y Gasset, Pascal,Pirro, Poe, Proust, Rilke, Rousseau, Russell, Sade, Saint-Simon, So Joo da Cruz, Sartre, Schopenhauer, Shakespeare,Scrates, Spinoza, Teresa de vila, Tolstoi, Upanishades,Unamuno, Valry, Voltaire, Wagner, Wittgenstein, Zambrano,Zola e outros.

    1. Sobre a vida e sobre a obra2

    Emil Cioran nasceu no pequeno vilarejo de Rasinari, naRomnia, numa pequena cidade na regio da Transilvnia, aos8 de abril de 1911. Filho de um padre ortodoxo, Emilian, e deElvirei Cioran. Tinha uma irm mais velha chamada Virgnia eum irmo mais novo chamado Aureliu. Teve uma infncia feliz,nos arredores das montanhas dos Crpatos, entre os bosques eas conversas com os camponeses. Aos dez anos, por deciso dospais, mas contra a sua vontade, mudou-se para cidade de Sibiu,

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    a doze quilmetros de Rasinari, onde estudou no Liceu GeorgheLazar e viveu em uma penso de propriedade de alemes paraaprender alemo. Na cidade de Sibiu, o menino Cioran sentiaque seu paraso tinha acabado, que sua vida feliz terminara.Sempre que se lembra de sua terra natal acometido de nostalgiae lamento. Sibiu era uma cidade onde a influncia de culturasera muito grande, pois l moravam vrios povos: romenos,alems e hngaros. J aos quinze anos, Cioran lia: Diderot, Balzac,Flaubert, Schopenhauer, Nietzsche e Dostoievski. Em 1928,matricula-se na Faculdade de Filosofia e Literatura de Bucareste neste perodo comea a ter crises de insnia que o marcarampor toda a vida. A partir de 1932, suas leituras em filosofia tornam-se mais aguadas e Cioran comea a contribuir com pequenosartigos a revistas como: Calendarul, Florea de foc, Vremea, Azi eGandirea. Neste mesmo ano, termina o curso de Filosofia comuma tese sobre a intuio bergsoniana. Em 1934, como umestopim de suas crises de insnia, vem a pblico sua primeiraobra Pe Culmile Disperarii (Nos Cumes do Desespero), que representaum verdadeiro tratado sobre o desespero. Cioran diz sobre esseseu primeiro livro:

    Eu errava durante a noite pelas ruas, como uma esp-cie de fantasma, e tudo o que escrevi posteriormentefoi elaborado naquelas noites. Meu primeiro livro,Pe Culmile Disperari, remonta a esta poca. um livroque escrevi aos vinte e dois anos, como uma espciede testamento, pois eu pensava que depois me sui-cidaria. Mas sobrevivi (Cioran, 1995b, p. 287).

    Neste mesmo perodo se interessa pela noo de sofrimentodo budismo, naturalmente como um escape de libertao domundo.

    Entre o final de 1933 e o final de 1934, Cioran viaja a Berlim,ganhando uma bolsa de estudos do Instituto Alemo naRomnia, na Fundao Humboldt, para estudar filosofia. Nestapoca o nazismo est em plena ascenso, e Cioran tem ligao

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    com o grupo intitulado Guarda de fogo, um movimento pol-tico romeno de extrema direita que elogia Hitler por ele estarreerguendo a Alemanha. Faziam parte desse grupo a geraojovem romena da dcada de 30, como Constantin Noica, PetreTutea, Mircea Eliade e Eugne Ionesco. Esse grupo tambmtinha como ideal ressuscitar a Romnia, ento decadente pelapoltica. Sua amizade com Nae Ionesco surge ainda emBucareste, pois este era professor de metafsica e um grandecrtico da filosofia universitria e de toda forma de racionalismo.Essa amizade leva Cioran a interessar-se por diversos outrosassuntos dentro da filosofia, inclusive a continuar seus estudosde mstica e do budismo. Ainda em Berlim, Cioran tem aulascom Nicolai Hartmann e Ludwig Klages, decepcionando-secom o primeiro e exaltando a crtica ao racionalismo do segundo.Martin Heidegger tambm exerceu influncia sobre Ciorannessa fase com Ser e Tempo e a base da questo sobre a origemdo ser. Posteriormente, Cioran desprezar essa filosofia sobacusao de que Heidegger no passa de um manipulador doser e de sua verdade, o que faz com que Cioran e seu pensa-mento se distanciem das preocupaes e dos problemasexistencialistas e fenomenolgicos. Em 1936 retorna Romnia,onde vai exercer, por um curto perodo, a profisso de Profes-sor de filosofia no Liceu Andrei-Saguna de Brasov. Seu tempe-ramento irritado e as crises de insnia no permitem sua estadapor muito tempo.

    O ano de 1936 vai representar para Cioran uma intensarecolhida leitura de msticos e redao de textos. L comsatisfao a vida dos santos, em especial Teresa de vila, Jooda Cruz, Mestre Eckhart e outros. Publica mais um livro,Lacrimi si Sfinti (Lgrimas e Santos), profundamente influen-ciado pelas leituras msticas misturadas com um grande gritode horror perante a religiosidade e Deus, transformando olivro em um escndalo fortemente blasfematrio e hertico,pois a santa igualada a uma prostituta e Deus tratado deigual para igual no discurso, sem nenhum tipo de divindade. Olivro passou por grandes dificuldades para ser impresso e era

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    forte demais. Alm disso, o editor dizia que tudo o que conse-guiu foi com a ajuda de Deus, ento, aparece algum e querpublicar uma obra hertica dessas (Cioran, 1995b, p. 148). Almdo mais, criticado por sua me, que lhe escreve comentandoa zombaria que faziam a seu pai e a ela por serem religiosos epelo amigo Mircea Eliade. Em 1937 recebe outra bolsa deestudos, dessa vez do Institut Franai de Bucaret mudando-se paraParis, enquanto seu livro publicado na Romnia, sob diversospesares, marcando o incio de uma nova fase na vida de Cioran.

    A deciso de ir para Paris tinha como principal fundamentoa redao de uma tese, nunca concluda, sobre Nietzsche(Cioran, 1995b, p. 11). Mora inicialmente em hotis e, emseguida, matricula-se na Sorbonne para estudar a lngua inglesae para ter moradia e alimentao. Seu estilo de vida, em Paris,era despretensioso e sem muitas finalidades, at os quarentaanos ainda almoava no refeitrio dos estudantes da Sorbonne.Durante este perodo, somente exercita a leitura e a escrita.Em 1942 conhece Simone Bou, uma professora de ingls quese tornar a companheira de Cioran at a morte, passando adividir com ele um quarto de hotel. Ela organizar os CadernosPstumos de Cioran.

    O acontecimento capital em sua vida ser a mudana da lngua.Em 1947, abandona definitivamente a lngua romena e adota comosua lngua oficial o francs. Comea a escrever a sua obra maisimportante, inicialmente intitulada de Exerccios Negativos, maspublicada sob o ttulo Brevirio de Decomposio. Tambm em 1947,Cioran adota, apenas sob carter estilstico, um M aps seuprimeiro nome, passando a assinar como E. M. Cioran. Esse Mnada tem com o seu nome ou de sua famlia, acredita-se at quefora inspirado no escritor E. M. Foster. O Brevirio foi bemacolhido pelo pblico e ganhou o prmio literrio Rivarol. Odinheiro do prmio serviu para o autor estabilizar-se em Paris.Nesta poca, Cioran comea a fazer diversas amizades, comintelectuais dos mais diversos pases como os espanhis FernandoSavater (que escreveu sua tese de doutorado sobre Cioran) e MariaZambrano, o poeta alemo Paul Celan e o escritor mexicano

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    Octavio Paz, alm de Samuel Beckett, Henri Michaux e o escritorAlbert Caraco. Tambm trocou olhares e poucas palavras comJean-Paul Sartre e Albert Camus.

    Aps o Brevirio, Cioran redige outras obras e comea aser conhecido pela crtica e pelos estudantes de Paris. Surgemartigos sobre seu pensamento, o que no o agrada, e comea adesinteressar-se pela escrita. Em 1964, dirige, na editora Plon,uma coleo de ensaios que no ter nenhum sucesso, apesarde alguns clssicos serem publicados como: Chestov, Ortega yGasset e Rudolf Kassner. Ser a nica tentativa de Cioran comoeditor; a editora cancelou a coleo no stimo volume. De 1986em diante, comeam a surgir tradues de seus primeiros livrosescritos em romeno, para o francs.

    No ano de 1988, h um boato do suicdio de Cioran, porenvenenamento. Trs dias mais tarde, Cioran aparece na janelade seu apartamento desmentindo o boato. Sua morte acontecerno dia 20 de junho de 1995, consumido pelo mal de Alzheimer.Dois anos mais tarde, no dia 11 de setembro de 1997, falecerSimone Bou. Ela aparecer afogada em seu apartamento.Simone no viu a publicao dos Cadernos de Cioran que tinhapreparado e corrigido. Sobre a idade com a qual morreria, Ciorandizia ser escandalosamente avanada (Cioran, 2001, p. VII).

    A primeira obra de Cioran escrita sob os auspcios daideia de suicdio. Dominado pela insnia e pela angstia vem luz Nos Cumes do Desespero, escrito em romeno (Pe CulmineDisperari) em 1934, seguido por outros, tambm em romeno,O Livro dos Enganos (Cartea Amagirilor), em 1936; Lgrimas eSantos (Lacrimi si Sfinti), em 1937; O Crepsculo dos Pensamentos(Amurgul Gndurillor), em 1938; e Brevirio dos Vencidos(ndreptar Patimas), entre 1941 e 1944. Nos Cumes do Desespero considerado a suma do pensamento cioraniano. Em 1949escreve sua primeira obra em francs, pas que adotou comoresidncia, Brevirio de Decomposio sucedendo as seguintes:Silogismos da Amargura, em 1952; A Tentao de Existir, em 1956;Histria e Utopia, em 1960; A Queda no tempo, em 1964; de 1969;Do Inconveniente de ter nascido, em 1973; Esquartejamento, em 1979;

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    Exerccios de Admirao, em 1986 e Confisses e Antemas, em 1987.Alm de 34 cadernos escritos entre 1957-1972. Cioran foi umhomem do exlio metafsico e da ironia do paradoxo, explosivoe colrico, sua obra um reflexo contraditrio e intimamenteinspirador, sua escrita , na verdade, uma filosofia/confissodo espelho de sua vida, do pessimismo trgico e alucinanteque a vida. Cioran um exemplo de algum que fez da suavida uma testemunha do inferno metafsico e existencial queera a sua doena, isto , viver: escrever para aliviar a dor.

    No ano de 2009, o Brevirio de Decomposio completou 60 anosde publicao e se tornou o principal livro do pensador romeno.O Brevirio de Decomposio a obra que traz Cioran aos debatesfilosficos e literrios na Frana e sua retomada na Romnia. um livro pesado, doloroso e totalmente negativo, ele no abrepossibilidades para um acaso, o seu verdadeiro tema o pessi-mismo, o cinismo e a indiferena. O Brevirio de Decomposio oprimeiro livro escrito em francs por Cioran, ainda no repre-senta seu carter de aforismo, chama-se inicialmente ExercciosNegativos e foi reescrito por quatro vezes, recebendo assim o ttulode Brevirio de Decomposio. enviado por Cioran, em 1947, para aeditora Gallimard, que o aprova. Mas a publicao adiadainmeras vezes, s sendo realizada em 1949, com uma tiragemde dois mil exemplares. O Brevirio foi bem acolhido pela crtica,recebendo at elogios e comentrios. Em 1950, Cioran recebeu,pelo Brevirio, o Prmio Rivarol. No princpio do livro, Ciorannos mostra um pouco de seus tempos de juventude, somado auma irrefrevel nsia trgica:

    Em todo homem dorme um profeta, e quando eleacorda h um pouco mais de mal no mundo... a vidaem comum torna-se intolervel e a vida consigomesmo mais intolervel ainda (Cioran, 1995b, p. 14).

    A finalidade, deste pequeno livro, homenagear os cemanos de nascimento do filsofo Emil Cioran e sua obra. Mant-lo na memria filosfica e traz-lo para os estudantes que no

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    o conhecem como verdadeiro mestre dos auspcios, do pensa-mento trgico e pessimista que ainda tem muito a contribuirna academia e fora dela. Emil Cioran deixou uma obra quequer despertar de seu sono dogmtico e transpor, juntamentecom vrios outros, os academicismos atuais.

    Cioran comea a ser conhecido no Brasil, j surgiramalgumas tradues suas em lngua portuguesa e comentriosque auxiliam na leitura e interpretao de seu pensamento3.Nesta coletnea de textos, apresentamos, provindas depesquisadores do pensamento de Cioran, em vrias instituiesdo pas, expresses do seu filosofar e das diversas interrogaesexistentes dentro do universo cioraniano de viver a vida, afilosofia e, principalmente, a fisiologia do existir.

    Deyve Redyson, OrganizadorJoo Pessoa, 24 de Novembro de 2010

    NOTAS

    1

    Doutor em Filosofia (Oslo, Noruega). Professor da Universidade Federal da Paraba

    UFPB.2

    Uma das melhores biografias sobre Cioran , sem dvida, a de Liiceanu: Liiceanu,

    Gabriel. Itinraires dune vie: E. M. Cioran. Paris. Editions Michalon. 1995. Para

    outras, vide bibliografa.3

    Veja-se a bibliografia em que apresentamos os livros traduzidos em lngua portuguesa

    e obras de comentadores.

    REFERNCIAS

    CIORAN, Emil. Brevirio de Decomposio. Trad. Jos Thomaz Brum. Rio de Janeiro:

    Rocco, 1995a e Intretiens 1995a.

    CIORAN, Emil. Carta ao autor. In: Cioran. Exerccios de Admirao. Trad. Jos Thomaz

    Burm. Rio de Janeiro, Rocco. 2001, p. VII. Carta recebida por Jos Thomaz Brum de

    Cioran, em 25 de maro de 1988.

    CIORAN, Emil. Entretiens. Paris: Gallimard, 1995b.