UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
Mestrado em Ciências do Envelhecimento
Luiz Carlos Marinovic Doro
Surfe e Qualidade de Vida do idoso: uma pesquisa exploratória
São Paulo
2015
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
Mestrado em Ciências do Envelhecimento
Luiz Carlos Marinovic Doro
Surfe e Qualidade de Vida do idoso: uma pesquisa exploratória
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Ciências do Envelhecimento
da Universidade São Judas Tadeu para a
análise da banca examinadora como
requisito à obtenção do título de Mestre em
Ciências do Envelhecimento
Linha de pesquisa: Aspectos educacionais,
psicológicos e socioculturais do
envelhecimento.
Orientadora: Profª Drª Ana Martha de
Almeida Limongelli.
São Paulo
2015
Doro, Luiz Carlos Marinovic
D715s Surfe e qualidade de vida do idoso: uma pesquisa exploratória / Luiz
Carlos Marinovic Doro. - São Paulo, 2015.
107 f. ; 30 cm.
Orientadora: Ana Martha de Almeida Limongelli.
Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo,
2015.
1. Atividade física. 2. Envelhecimento. I. Limongelli, Ana Martha de
Almeida. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Ciências do Envelhecimento. III. Título
CDD 22 – 613.70446
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca
da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecária: Daiane Silva de Oliveira - CRB 8/8702
FOLHA DE APROVAÇÃO
Luiz Carlos Marinovic Doro
SURFE E QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO: UMA PESQUISA EXPLORATÓRIA.
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Ciências do Envelhecimento da
Universidade São Judas Tadeu para a análise
da banca examinadora como requisito à
obtenção do título de Mestre em Ciências do
Envelhecimento
Linha de pesquisa: Aspectos educacionais,
psicológicos e socioculturais do envelhecimento.
Aprovado em:____/____/______
Banca Examinadora
Profa. Dra. Ana Lúcia Gatti
Instituição: USJT Assinatura:___________________________
Prof. Dr. Waldecir Paula Lima
Instituição: IFSP Assinatura____________________________
Profa. Dra. Ana Martha de Almeida Limongelli. (Orientadora)
Instituição: CeuClar/USJT Assinatura:____________________________
DEDICATÓRIA
Esta dissertação é dedicada às minhas filhas
Clara e Julia e à minha querida
esposa Simone.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus e Nossa Senhora, por me darem saúde e força para eu conciliar
os estudos ao trabalho e à minha família.
Ao meu grande amor, minha esposa Simone, pela paciência e conselhos durante
minhas horas de estudo.
A todos da escolinha de surfe, em especial aos alunos participantes deste estudo, sem
vocês esta pesquisa não se concretizaria.
À minha querida mãe Inês, ao meu irmão Marco, à Larissa, à Maria da Penha e toda
minha família pela força e pensamento positivo.
À minha orientadora, Prof.ª Doutora Ana Martha de Almeida Limongelli, por
compartilhar seu conhecimento ,direcionar o trabalho e, acima de tudo, me aconselhar
o quanto é importante, dentro de um Mestrado, conciliar os estudos com a família.
Acredito que de todas as ajudas esta foi a mais importante para seguir firme até à
conclusão da pesquisa.
Em especial à minha tia Prof.ª Doutora Norma Marinovic Doro, que sempre incentivou
não só a mim, mas a todos seus sobrinhos a investirem em cultura e conhecimento.
Hoje, vejo o quanto isso engrandece nossa vida. Só mesmo uma pessoa tão inteligente,
humilde e com um coração extremamente bondoso para nos possibilitar esta
oportunidade.
Sou grato de coração a todos.
RESUMO
Com o avanço da ciência no controle de diversas doenças, tem aumentado
significativamente a expectativa de vida no ser humano. Há evidências cientificas de
que a atividade física realizada por idosos relacionada a hábitos de vida saudáveis
proporcionam uma expectativa de melhor qualidade de vida, e contribuem para retardar
os efeitos do envelhecimento. Dentre essas modalidades esportivas está o surfe,
modalidade esportiva que trabalha capacidades físicas, como: equilíbrio, flexibilidade,
coordenação motora geral, e variáveis psicológicas como: confiança e autoestima além
de possibilitar novas relações interpessoais. O objetivo deste trabalho foi identificar a
percepção subjetiva da Qualidade de Vida do idoso praticante de um programa de
surfe. Para tanto, foi realizada uma pesquisa descritiva do tipo exploratório de cunho
qualitativo. Participaram desta pesquisa seis idosos do sexo masculino e feminino com
idade entre 60 e 75 anos, com status funcional ativo e fisicamente independente. Para a
coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: Questionário de Qualidade
de Vida, WHOQOL-Bref, WHOQOL-Old, Questionário de Classificação Econômica
Brasil (ABEPE, 2014), Questionário de Anamnese e entrevista individual
semiestruturada. Para a análise de dados obtidos pelos instrumentos tipo questionários
utilizaram-se as orientações específicas de cada instrumento. As entrevistas foram
submetidas à Análise de Conteúdo, adotando o tema como unidade central.
Concluímos que os participantes do estudo apresentaram percepção subjetiva, em
relação à Qualidade de Vida, de boa para muito boa. A prática do surfe foi considerada
como fator positivo para a Qualidade de Vida dos participantes influenciando
predominantemente nos domínios psicológico, ambiental e social. Isso indicou que os
participantes referem-se mais aos elementos psicológicos, ambientais e sociais que a
prática do surfe pode oferecer para sua Qualidade de Vida do que pelos benefícios
físicos e metabólicos. Os elementos psicológicos preponderantes foram às conquistas e
sentimentos positivos. O elemento ambiental preponderante foi a oportunidade de
aprender novas habilidades. O elemento social preponderante foi o suporte social.
Palavras-chave: Atividade Física; Envelhecimento; Atividades Aquáticas.
ABSTRACT
Life expectancy in human being has increased significantly with the science
advancement in control of various diseases. There are scientific evidences that physical
activities performed by elderly people and related to healthy lifestyle habits provide a
better quality of life expectancy and they can slow down the effects of aging. Among
these sports is surfing. This sport deals with physical abilities, such as balance,
flexibility, general coordination, and psychological variables such as confidence and self-
esteem. Furthermore, surfing can enable new interpersonal relationships. The objective
of this study was to identify subjective perception of life quality by elderly people, who
are taking part of a surfing program. For this purpose a descriptive research of
exploratory type, with qualitative approach, was carried out. Six elderly men and women
aged between 60 and 75 years old participated in this research, with active functional
status and physically independent. For data collection, the following instruments were
used: Life Quality Questionnaire, WHOQOL Bref, Old WHOQOL, Questionnaire of
Brazil’s Economic Classification (ABEPE, 2014), Anamnese Questionnaire and semi-
structured individual interviews. For the analysis of data, which were obtained by
instruments like different questionnaires, we used the specific guidelines of each of
them. The interviews were subjected to Content Analysis, adopting the theme as central
unit. We concluded the studied participants showed subjective perception concerning
life quality, changing from good to very good. The practice of surfing was considered a
positive factor for Life Quality by participants, influencing predominantly in the
psychological domains, environmental and social fields. This indicated that the
participants refer more to the psychological, environmental and social elements which
the practice of surfing can offer to their quality of life, than the physical and metabolic
benefits. The predominant psychological elements were the achievements and positive
feelings. The major environmental element was the opportunity to learn new skills. The
dominant social element was social support.
Keywords: Physical activity; Aging; Water Activities.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Conceitos e conteúdos das facetas inclusas no módulo WHOQOL-OLD ..... 41
Quadro 2: Pontuação do instrumento WHOQOL-OLD, considerando reversão de
escores negativos .......................................................................................................... 42
Quadro 3: WHOQOL-BREF: Questões, Domínios e Facetas ........................................ 43
Quadro 4: Alinhamento WHOQOL-OLD E WHOQOL-BREF ......................................... 46
Quadro 5: Perfil dos participantes .................................................................................. 47
Quadro 6: Histórico da Prática de Atividade Física ........................................................ 49
Quadro 7: Anamnese e Locomoção cotidiana................................................................ 51
Quadro 8: Percepção Subjetiva QV (WHOQOL-BREF) ................................................. 52
Quadro 9: Percepção Subjetiva QV (WHOQOL-OLD) ................................................... 53
Quadro 10: Motivos da Prática ....................................................................................... 55
Quadro 11: Mudança da rotina diária ............................................................................. 57
Quadro 12: Chamamento para novo praticante idoso .................................................... 58
LISTA DE TABELA
Tabela 1: QV (WHOQOL-BREF) x QV (WHOQOL-OLD) ............................................... 53
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 12
1.1 Justificativa do Estudo .......................................................................................... 16
2 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 19
2.1 Envelhecimento .................................................................................................... 19
2.2 Qualidade de Vida ................................................................................................ 26
2.3 Surfe ..................................................................................................................... 30
3 PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................................ 39
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 47
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 69
6 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 71
APÊNDICE A - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ......................................... 83
APÊNDICE B - TERMO DA AUTORIZAÇÃO E RESPONSABILIZAÇÃO DA
INSTITUIÇÃO ................................................................................................................. 85
APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................. 86
APÊNDICE D - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS (ROTEIRO DA
ENTREVISTA) ................................................................................................................ 88
APÊNDICE E - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .................................................. 89
ANEXO A - PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO ............................................................... 95
ANEXO B - QUESTIONÁRIO DE ANAMNESE E PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA DO
PROJETO SÊNIOR PARA VIDA ATIVA/USJT .............................................................. 97
ANEXO C - WHOQOL-OLD ......................................................................................... 100
ANEXO D - WHOQOL-BREF ....................................................................................... 105
12
1 INTRODUÇÃO
Um fenômeno comum no mundo inteiro e, em especial nas nações mais desenvolvidas,
é o aumento do número de indivíduos que atinge a velhice. Dentre as razões para
explicar o aumento da expectativa de vida na população, destacam-se a diminuição de
enfermidades cardiovasculares e a melhoria do saneamento básico e das condições de
saúde pública. Para investigarmos o envelhecimento humano, devemos ter em mente
que este processo não é idêntico para todos os indivíduos, ou seja, não basta atingir
certa idade cronológica para se tornar um velho. Pessoas da mesma idade cronológica
podem estar em diferentes processos de envelhecimento (JACOB, 2006).
Nos dias atuais, os indivíduos que se encontram na velhice recebem vários termos para
definição de suas idades cronológicas. Segundo Neri (2000), a razão para tantos
termos está relacionada ao preconceito em relação à velhice. Esta situação está
associada com as doenças, afastamentos e perdas que os idosos sofrem no decorrer
de suas vidas.
Devemos ter em mente que uma velhice bem sucedida não é um atributo do indivíduo
biológico, psicológico ou social, mas sim resulta da qualidade da interação entre
pessoas em mudança, vivendo em uma sociedade que se transforma a todo o
momento. Envelhecer satisfatoriamente depende do delicado equilíbrio entre as
limitações e as potencialidades do indivíduo. Esse equilíbrio lhe permitirá conviver, em
diferentes graus de eficácia, com as perdas inevitáveis do envelhecimento. Ter uma
boa velhice depende da correlação entre o indivíduo e seu contexto, ambos em
constante transformação (NERI, 2012).
A qualidade de vida, na velhice, é conceituada por Neri (2011) como sendo uma
associação direta entre conseguir realizar as funções diárias básicas, manter uma rede
de amigos e dar continuidade aos papéis familiares, ou seja, viver de uma forma
independente e com contato social, o que permite a aquisição de papéis e
competências relacionadas à sua faixa etária.
Jacob e Santarém (2006) corroboraram com estas citações, dizendo que atualmente
percebe-se uma maior sensibilidade dos pesquisadores para os estudos científicos
sobre envelhecimento, decorrente do crescimento do número de idosos e do aumento
da longevidade. E ainda cita que a atividade física realizada por idosos associados a
13
hábitos de vida saudáveis proporcionam uma expectativa de melhor qualidade de vida,
além, de ser um facilitador para novas relações interpessoais.
Os mesmos autores apontam, entretanto, que apesar do grande número de estudos
comprovando os inúmeros benefícios de se manter ativo, constata-se que com o
aumento da idade cronológica há uma tendência de as pessoas se tornarem menos
ativas, mais dependentes física e socialmente.
Okuma (2002) comenta que o indivíduo idoso que realiza atividade física regular obtém
benefícios físicos, psicológicos e sociais. Isto é comprovado cientificamente por meio da
melhora da autoestima, do humor, da imagem corporal, das funções cognitivas e da
sociabilização; associada à redução do estresse, da ansiedade, da insônia além do
menor consumo de medicamentos. Não se pode pensar nos dias atuais em minimizar
os efeitos do envelhecimento sem que, além das medidas gerais de saúde, não se
inclua também a atividade física.
A atividade física regular e o vínculo familiar ajudam o idoso a encontrar a satisfação
pessoal e o suporte social, o que parece ser um redutor de preocupações nos
momentos em que estejam desanimados. Esse suporte social aliado à pratica de
atividades físicas pode reforçar o sentimento de valor social, assim como o
autoconhecimento e o sentimento de eficácia, facilitando com isso o modo de lidar com
situações de estresse e, também, com a possibilidade de dar sequência ao seu
crescimento pessoal (NERI, 2012).
Matsudo (2009) afirma que a atividade física realizada pelo idoso fortalece seu bem-
estar físico, social, espiritual e ajuda a minimizar os efeitos do envelhecimento,
motivando-o buscar formas saudáveis de conviver com o avanço da idade. As
atividades mais indicadas para os idosos são de preferência de baixo impacto como
caminhada, ioga, tai-chi-chuã, o ciclismo entre outras, e, se possível, realizadas no
meio aquático tais como: natação e hidroginástica. Estas devem ocorrer paulatinamente
e de acordo com as condições individuais do idoso. Em média, iniciam-se-entre 50 a
70% da frequência cardíaca máxima e a duração das atividades não deve ultrapassar
60 minutos, para não desmotivar a prática regular da atividade física.
Simões et. al. (2011) citam que entre as diversas possibilidades de atividades físicas
para os idosos, as realizadas em ambientes aquáticos vêm se destacando por ser
14
particularmente apropriado para essa faixa etária por facilitar a locomoção, diminuir o
impacto aos ossos e às articulações.
Embora as pesquisas sobre as relações entre prática regular de atividade física e seus
benefícios, em particular benefícios para o envelhecimento, estejam ganhando cada
vez mais divulgação nas redes de comunicação, ainda a vida cotidiana em nossa
sociedade é urgente, rápida e ansiosa. Desta forma, ainda não programamos nosso
tempo no sentido de realizá-las. Nunca as pessoas tiveram uma mente tão agitada e
estressada. Estamos na era da indústria do entretenimento e, paradoxalmente, na era
do tédio. As pessoas fazem diversas amizades nas redes sociais, mas raramente
conhecem alguém a fundo e o que é pior, raramente conhecem-se a si mesmas. Esse
quadro descrito relaciona-se à Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). A SPA
talvez seja o mal do século, acarreta diversos sintomas: ansiedade, sedentarismo,
transtorno do sono, impaciência, problemas sociais, intelectuais, cansaço físico e
mental. Provavelmente atinge mais de 80% dos indivíduos de todas as faixas etárias,
inclusive os idosos. A Síndrome do Pensamento Acelerado nos leva a viver uma vida
tão rápida em nossa mente, que distorce nossa percepção do tempo. Vivemos mais
tempo biologicamente, mas morremos mais cedo emocionalmente. A medicina
prolongou a vida e o sistema social contraiu o tempo emocional. Não sabemos mais
amar, dialogar, ouvir, sonhar e interiorizar. Estamos viciados em informações, viciados
em celulares, viciados em asfixiar o tempo, viciados em pensar. As pessoas estão
ansiosas, impacientes, inquietas, sedentárias, detestam a rotina e querem tudo
imediatamente e não percebe a vida passar (CURY, 2014).
De acordo com Bauman (2008), vivemos hoje a “modernidade líquida”, pois o ritmo
acelerado do mundo na atualidade contribui para que nada seja estável. As pessoas
estão submetidas a uma constante pressão para acompanhar o mercado desta
sociedade globalizada em suas relações econômicas e políticas. O excesso de
informação através das inúmeras tecnologias, a busca por objetos, que, rapidamente
são descartados exercem uma pressão sobre o ser humano. Esses novos valores
provocam incertezas, ansiedade e medo. Diante desse quadro, as atividades físicas
podem ajudar na diminuição dessa tensão, elas, quando bem orientadas, ajudam o
indivíduo a enfrentar com maior desempenho este mundo acelerado.
15
Define-se o surfe como um esporte em que a pessoa, utiliza uma prancha para deslizar
na crista de uma onda. Para que isso ocorra são necessárias algumas demandas, tais
como, capacidade aeróbica, anaeróbica, equilíbrio e técnica apurada (ALEGRO,
SIMÃO, EVANGELISTA 2013).
García et al. (2008) comentam que o surfe é modalidade esportiva classificada como
intermitente por exigir esforços variados em intensidade, duração e recuperação ativa
ou passiva, durante uma sessão na água, entretanto em média a intensidade
predominante utilizada é a moderada com frequência cardíaca em torno de 70% da
frequência cardíaca máxima.
Quando sua prática é realizada como uma atividade de lazer, pode-se classificá-lo
como um esporte de baixo impacto e baixo ou moderado volume e intensidade. Estas
características permitem associar tal prática a um menor risco de lesões aos seus
praticantes (COSTA, 1998).
O mesmo autor comenta que as atividades físicas de baixo impacto são realizadas com
menos impacto sob as articulações, ligamentos e estruturas ósseas do nosso corpo. E,
de acordo com especialistas, são as mais adequadas para os indivíduos que se
encontram na velhice. Além disto, a prática do surfe também é capaz de proporcionar a
realização de novas amizades aos seus praticantes, ou seja, observa-se que esta
modalidade esportiva exerce um papel socializador e de lazer ao mesmo tempo.
Ortega (2010) corrobora com as citações acima, afirmando que atividades realizadas no
ambiente aquático oferecem maior segurança ao idoso, aprimoram seu
condicionamento físico, mobilidade articular e postura, influenciando no desempenho
das suas atividades cotidianas, além de também ajudar a desenvolver o relacionamento
social.
De acordo com Steinman (2003), a prática regular do surfe ou de qualquer outra
atividade física contribui no combate do sedentarismo e da obesidade, além de
proporcionar uma redução nos níveis de glicose, colesterol, triglicérides, ácido úrico e
hipertensão arterial.
Costa (2010) corrobora com as citações acima, dizendo que uma atividade física bem
planejada poderá aumentar ou manter a saúde e a aptidão física do idoso, podendo
propiciar benefícios agudos e crônicos. Dentre eles, destacam-se redução na perda de
16
massa óssea e muscular, na pressão arterial, na incapacidade funcional e nas
dislipidemias e no aumento na força, coordenação e equilíbrio. Além de promover uma
melhoria no bem-estar e no humor.
Os benefícios físicos e mentais proporcionados pela prática do surfe são diversos, pois
possuem uma interação direta com a natureza. O surfe possibilita realizar um excelente
exercício cardiovascular, trabalhando tanto a resistência aeróbia como a anaeróbia, e
envolve variados grupos musculares. Por ser praticado em ambiente aberto, trabalha
equilíbrio e coordenação motora na tentativa do surfista sempre procurar se manter em
pé sobre a prancha. O bem - estar gerado pela prática do surfe intuitivamente faz com
que o praticante procure hábitos saudáveis, como cuidados com a alimentação, evitar
cigarros e bebidas alcoólicas, além de procurar conciliar outras atividades físicas
visando melhorar seu desempenho nas ondas Souza (2004 apud Bernardes, 2013).
Wheeler et al. (2012) verificou que as pessoas preferem ver e estar perto da água do
que em ambientes urbanos e verdes. Também foi constatado que, nas comunidades
costeiras os indivíduos tendem a ter uma melhor saúde global do que as pessoas que
vivem nas cidades ou no interior, e que a atividade física combinada a ambientes
aquáticos nos quais podem ser praticados esportes como: a natação, o surfe, o
caiaque, a pesca ou simplesmente uma caminhada ao longo da costa podem influenciar
de maneira positiva no bem-estar de seus praticantes.
Caddicke; Smith (2012) realizou uma pesquisa de como a prática do surfe e a
imensidão azul dos oceanos poderia influenciar no bem-estar de um grupo de
veteranos de guerra que sofreram estresse psicológico após os combates. O resultado
demonstrou que a prática regular do surfe não eliminou por completo esse estresse,
mas proporcionou aos veteranos de guerra momentos de diversão e uma sensação de
alívio dessa angústia, mesmo que de forma momentânea, colocando mesmo que fosse
por algumas horas, esse sofrimento em segundo plano.
1.1 Justificativa do Estudo
O surfe faz parte de minha rotina de vida, pelo menos, há vinte anos. Além de surfista
realizo também, em minhas horas de lazer, pinturas relacionadas ao tema, ou seja,
tanto na prática da modalidade ou em trabalhos artísticos o mar e todo o seu contexto
17
contribuem para melhorar meu estado físico, psicológico e social. Por meio desse
esporte, tanto tive oportunidade de trabalho de instrutor de surfe no Guarujá, como
também de conhecer lugares e culturas distintas. Já surfei ondas do litoral sul e norte
de São Paulo e das cidades de Natal, Florianópolis, Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro
além das ondas de Países como Costa Rica e Estados Unidos.
Com relação às pinturas, o surfe me proporcionou exposições em São Paulo, Minas
Gerais e Florianópolis, além de diversas matérias em jornais, sites e revistas
especializadas como: Hardcore, Venice, Mareas (Uruguai), Observer, Alma Surf,
Planeta Àgua, Waves, Câmera surf e Jornais Diário da Tarde (Belo Horizonte) e Go
Surf (Rio Grande do Sul).
Essa minha identificação com a prática corporal, levou-me a escolher os Cursos de
Educação Física, Bacharelado e Licenciatura, como minha profissão, tanto pela
motivação de aprofundar conhecimentos sobre as práticas corporais como, também,
contribuir com o processo de educação corporal das pessoas.
Frente à minha trajetória, escolhi este tema como objeto de pesquisa, pois acredito que
o surfe é um meio capaz de acrescentar elementos positivos na vida das pessoas, seja
no lado físico, espiritual, psíquico ou social.
Outro motivo que me fez escolher este assunto foi à escassez de material científico
sobre surfe existente em nosso país, mesmo tendo esse esporte inúmeros adeptos de
diferentes classes sociais e faixas etárias, e que vem crescendo muito a cada dia. Brasil
(2015) cita que houve aumento nas publicações sobre surfe entre os anos 2000 a 2011,
mas ainda há uma lacuna sobre estudos pedagógicos e de intervenção profissional.
Após levantamento de dados entre os anos de 2009 a 2014 nas bases de dados
Pubmed, Medline, Lilacs, Scielo, Capes, Scopus e constatou-se que há poucas
produções científicas relacionadas ao tema. Encontramos 67 trabalhos relacionados ao
surfe em seu contexto geral, e apenas um trabalho relacionado a Qualidade de Vida de
surfistas, daí a importância deste estudo. E, por fim, a escolha deste tema foi por eu
acreditar que este esporte possa trazer aos idosos a possibilidade de vivenciar uma
atividade diferente das tradicionais fomentando a sociabilidade, a alegria, o contato com
o mar/natureza e a harmonia integral da pessoa.
Frente ao exposto, os objetivos do presente estudo foram:
18
Objetivo Geral
Identificar a percepção subjetiva da Qualidade de Vida do idoso praticante de surfe.
Objetivos Específicos:
Apresentar o perfil sócio - demográfico
Levantar dados de anamnese e de atividade física ao longo da vida.
Identificar o motivo da prática do surfe.
Avaliar a percepção subjetiva da Qualidade de Vida.
19
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Envelhecimento
A Organização das Nações Unidas estima que o Brasil, por volta do ano 2020, tende a
ser o país com o maior número de idosos da América Latina e, ainda, o sexto do
mundo, com 32 milhões de indivíduos acima de sessenta anos.
Com o progresso e avanços da tecnologia e do conhecimento, nas diversas áreas da
medicina, temos tido considerável aumento da longevidade. De acordo com Jacob
(2006), nunca houve, na história da humanidade, tanta chance de envelhecer. Neste
último século, nenhuma faixa etária se expandiu tanto como a dos idosos
principalmente pela melhora do saneamento básico, das condições de saúde pública,
da diminuição das taxas de fertilidade e natalidade.
Biologicamente, o envelhecimento é descrito como um estágio de degeneração do
organismo. Esta deterioração, que está associada à passagem do tempo, tem como
consequência a diminuição da capacidade do organismo para sobreviver. Constata-se
que, com o aumento da idade cronológica, há uma tendência das pessoas se tornarem
menos ativas, mais dependentes física e socialmente, e suas capacidades físicas
decrescem; por outro lado, um estilo de vida ativo pode melhorar a saúde e a qualidade
de vida durante o processo de envelhecimento (MATSUDO, 2009).
De acordo com Ursine et al. (2011) as doenças crônicas, comuns ao envelhecimento,
podem dificultar a interação social do idoso, principalmente se estes indivíduos não
participarem de atividades que fujam da rotina de seus lares, ou seja, se ficarem
restritos as suas casas terão uma menor auto percepção da saúde.
Os declínios físicos, psicológicos e sociais que ocorrem normalmente com o
envelhecimento são lentos e graduais, porém pode ser ampliados pela presença de
doenças somáticas, demências e pela depressão. Este processo determina perdas
mais ou menos acentuadas da capacidade funcional, o que pode traduzir - se em maior
ou menor incapacidade física e cognitiva, necessitando de alguma ajuda, seja ela em
maior ou menor grau. O processo de envelhecer acarreta, ao indivíduo, perda da
memória, força, agilidade, visão, audição, vigor, sociabilidade e entusiasmo, ou seja,
conforme envelhecemos, ficamos cada vez mais vulneráveis as mudanças do meio
20
ambiente extemos tais como: o local e forma que vivemos nossas relações familiares e
sociais (REZENDE, 2006; GALIÁS, 2012).
Ocorrem também nos indivíduos que se encontram na velhice as perdas funcionais.
Elas se aceleram com o passar da idade, entre os 60 e 70 anos ocorrem as maiores
perdas, se comparadas com as que acontecem entre 50 e 60 anos. Entre os diversos
hormônios humanos, os níveis de melatonina produzidos pelo organismo diminuem com
o passar da idade. Isto ocasiona um descontrole nos processos fisiológicos durante a
noite, desregulando o sono, dificultando a digestão, diminuindo a temperatura e a
pressão sanguínea corporal, ou seja, alterando todo o relógio biológico humano.
Percebe-se, também, uma diminuição das capacidades visuais, motoras, intelectuais e
cardiorrespiratórias, além do aparecimento de doenças crônico-degenerativas
(HOFFMANN, 2003).
Também ocorre em mulheres idosas um declínio de estrogênios associados à
menopausa, acarretando rápida perda óssea, e causando, em muitos casos, a
osteoporose primária em mulheres no período pós-menopáusico. De acordo com
Sachetti et al. (2010), a osteoporose é uma doença caracterizada por diminuição da
densidade mineral óssea e deterioração na microarquitetura do tecido ósseo. Esta
diminuição da massa óssea contribui significativamente para o risco de fraturas
principalmente em indivíduos que se encontram na velhice. Estima-se que ela afete
grande parcela da população idosa no mundo com predileção pelo gênero feminino.
Outra alteração fisiológica e anatômica que acompanha os indivíduos que se encontram
na velhice é a sarcopenia. Conforme Cruz-Jentoft (2010), esta síndrome é caracterizada
pela perda progressiva e generalizada de massa muscular e força, em consequência do
envelhecimento. Esta perda de força, de massa muscular e funcionalidade muscular,
surgem como um potencial fator de risco para a baixa densidade mineral óssea, e
ocorre com maior prevalência em homens idosos.
Silva et al. (2006) ratificam e complementam, citando que a sarcopenia é uma das
variáveis utilizadas para definição da síndrome de fragilidade, que é muito comum em
idosos, o que propicia risco para quedas, fraturas, incapacidade e dependência. Esta
síndrome representa uma vulnerabilidade fisiológica relacionada à idade, resultado da
21
deterioração da homeostase biológica e da capacidade de o organismo se adaptar às
novas situações de estresse.
Outro transtorno que causa desconforto ao idoso está ligado à qualidade do sono. De
acordo com Cendes (2001), estima-se que em torno de 50% dos indivíduos com mais
de 65 anos possuem problemas de acordar muito cedo, muitos despertam ainda de
madrugada, e não conseguem mais retornar ao sono. Estas alterações que acontecem
no sono noturno proporcionam uma sonolência excessiva diurna, cansaço, falta de
energia, irritabilidade e mau humor.
As alterações fisiológicas do aparelho respiratório também são frequentes nos
indivíduos que se encontram na velhice. Dentre elas, as mais encontradas são: perda
da propriedade de retração elástica do pulmão, enrijecimento da parede torácica e a
baixa potência muscular e motora (GALLO, 2001).
Souza (2013), Trindade (2011) e Fagherazzi (2010) citam que a redução na
complacência da parede torácica do idoso é provocada por alterações dos sistemas
colágeno e elástico gerando mudanças nos tecidos conectivos de suporte.
Gagliardi (2003) ratifica ao afirmar que, sob o ponto de vista anatômico e funcional, com
o envelhecimento ocorre redução da mobilidade da caixa torácica, da elasticidade
pulmonar e redução dos valores da pressão inspiratória e expiratória máximos.
A hipotrofia nos músculos respiratórios e perda da elasticidade torácica podem resultar
em dificuldades para os pulmões em captar o oxigênio do ar atmosférico, em razão da
deficiência na mecânica respiratória. Esse fato pode piorar em situações de esforço
físico, ocasionando uma diminuição na tolerância ao exercício. A fragilidade desses
músculos em indivíduos idosos pode dificultar até mesmo atividades do cotidiano, as
quais necessitam de pequenos esforços físicos (WATSFORD, MURPHY 2008;
BERBET e JORGETI, 2013).
Outra doença crônica que acomete grande parte dos idosos é a hipertensão arterial.
Segundo Monteiro; Sobral (2004), sua prevalência aumenta consideravelmente com o
passar da idade. Essa doença não possui causa conhecida, apresentando apenas
descritores para controle. Embora grande parte dos fatores de risco seja desconhecida,
alguns deles já foram detectados, como idade, antecedentes familiares, obesidade,
tabagismo, excesso de sódio na alimentação e estresse.
22
Brito et al (2008) corroboram com Monteiro; Sobral (2004), pois afirmam que a
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença de condição crônica, de origem
multifatorial com grande prevalência na população brasileira, constituindo-se como um
facilitador para futuras complicações cerebrovasculares e cardíacas. É considerado um
problema de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, estima-se que ela tenha
prevalência entre 50 a 70% dos idosos, o que a transforma num dos principais
determinantes de mortalidade dessa população. Além disso, a hipertensão interfere nas
capacidades física e emocional, nas atividades de interação social, intelectual e tarefas
cotidianas dos idosos, comprometendo a Qualidade de Vida dos mesmos.
O diagnóstico correto e a persistência dos pacientes no acompanhamento, incluindo
tanto o uso de medicamentos como as mudanças no estilo de vida, são fatores de
suma importância para se alcançar resultados positivos no tratamento, e reduzir as
enfermidades cardiovasculares (World Health Organization, 2011).
Outra modificação que ocorre nos idosos diz respeito à estrutura de sua pele. Harris
(2003) comenta que com o passar dos anos ocorre uma perda de elasticidade e
capacidade de retenção de água, aumentando assim a rugosidade e diminuindo sua
maciez. Já as unhas por sua vez ficam mais frágeis e demoram mais para crescer. O
cabelo com a perda do pigmento natural torna-se mais branco e quebradiço. Há
também uma perda do paladar e audição decorrentes do processo de envelhecimento.
Também ocorrem alterações no sistema imunológico, durante o processo do
envelhecimento. Estas alterações contribuem sensitivamente para o desenvolvimento
de doenças e para a alta taxa de mortalidade nos idosos (BAUER, 2003).
O mesmo autor cita que com o envelhecimento, a velocidade de condução nervosa,
declina de 10% a 15% dos 30 aos 80 anos, enquanto a frequência cardíaca em repouso
declina de 20% a 30% e a capacidade respiratória máxima ao se atingir 80 anos é de
cerca de 40% inferior à daquela observada aos 30 anos.
Com relação aos aspectos psicológicos e sociais do envelhecimento, Berbet e Jorgeti
(2013) afirma que ocorre uma diminuição da sociabilidade, um aumento no isolamento,
além da baixa da autoestima e do aumento nos casos de depressão. Porém, parece
que viver e fazer planos, ter projetos e objetivos a curto e longo prazo são elementos
fundamentais para minimizar estas situações.
23
Nota-se pelo exposto, que o olhar biológico do envelhecimento centra-se nas perdas
que o idoso apresenta ao longo de seu processo de desenvolvimento, mas na
atualidade, compreender o envelhecimento envolve ampliar essa visão. É trabalhar na
compreensão de que a pessoa humana é um ser multidimensional, complexo cujo
desenvolvimento é produzido dentro do contexto sócio-cultural-histórico, influenciando a
totalidade das dimensões da pessoa. Desta forma, atualmente o envelhecimento bem
sucedido está relacionado com uma boa qualidade de vida física, psicológica e social. É
indispensável à manutenção de hábitos saudáveis de vida, como tempo para o lazer,
contato social, alimentação adequada e atividade física regular. É importante ressaltar
que com o passar do tempo ocorrem os incidentes patológicos; o que torna o
organismo do idoso diferente qualitativamente, porém a velhice não é sinal de doença.
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2005) sugere a substituição da expressão
envelhecimento saudável por envelhecimento ativo, pois ocorre a “otimização das
oportunidades de saúde, participação e segurança, com objetivo de melhorar a
qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas” (OMS, 2005, p. 13).
Entretanto na literatura atual, encontramos diferentes conceitos como: envelhecimento
bem - sucedido, ativo, saudável entre outros. Porém, todos eles seguem o mesmo
princípio de que o processo do envelhecimento é multidimensional, e que fatores
externos podem determinar o processo de como envelhecemos (Gardner, 2006).
Oliveira (2012) cita que a escolha do termo tem relação direta com a área de formação
do pesquisador e dos elementos abordados no estudo. Desta forma, pesquisadores da
área biomédica tendem a utilizar o termo envelhecimento saudável, pesquisadores da
área de humanas já utilizam o termo envelhecimento bem-sucedido e pesquisadores da
área biológica preferem utilizar o termo envelhecimento ativo.
Frente ao exposto, o presente estudo adotará o termo envelhecimento bem - sucedido
para tratar do processo de envelhecimento.
Um envelhecimento bem - sucedido consiste na otimização da expectativa de vida e na
minimização da morbidade física, psicológica e social. Isto é, as pessoas poderão viver
por mais tempo e de maneira saudáveis, e seu período de doenças poderá ser adiado
ou até mesmo evitado, dependendo de fatores econômicos, sociais, estilo de vida e
segmento social que participam Fries (2006 apud NERI, 2012).
24
O mesmo autor comenta o que os exercícios aeróbios são importantes para os
indivíduos com mais de 70 anos, pois influenciam no controle da pressão arterial, do
colesterol e na diminuição de fraturas por osteoporose. Também o controle de fatores
de risco, tais como: fumo, álcool, obesidade, sedentarismo, entre outros, podem
minimizar as patologias crônicas nos idosos. Porém, é importante lembrar que estas
questões não podem ser observadas como responsabilidade individual, demanda de
políticas sociais que devem impactar os sistemas de saúde e educação, além do
planejamento dos ambientes de trabalho, dos espaços urbanos e da formação e
atuação de profissionais envolvidos nestes assuntos.
Outro fenômeno importante que vem sendo estudado no processo de envelhecimento é
o da plasticidade cerebral. É muito evidente em cérebros jovens, porém, existem casos
de idosos que após uma agressão do sistema nervoso apresentaram prejuízos de fala,
motores e cognitivos, e que, com o passar do tempo, recuperam parcial ou totalmente
essas funções. Não há como negar que os cérebros de pessoas que se encontram na
velhice podem sofrer mudanças por ação e fatores variados, e que a atividade física
possa contribuir para sua saúde física e mental. Isto ocorre devido a um aumento da
eficiência sináptica influenciando positivamente os processos de memória e
aprendizagem (GONCALVES, et al., 2006).
Conforme Ravaglia et al (2007), a atividade física propicia um impacto positivo nos
aspectos cognitivos, na saúde mental e bem - estar geral do indivíduo, durante o
processo de envelhecimento.
Já Cotman (2002) cita que a atividade física pode mobilizar a expressão de genes que
beneficiam o processo de plasticidade cerebral, aumentar a resistência do cérebro ao
dano, contribuindo na melhora da aprendizagem e do desempenho mental.
Colcombe; e Kramer (2003) corroboram com as afirmações acima, apresentando que
adultos idosos, que passaram por treinamento aeróbio mostraram melhoras
significativas em vários domínios cognitivos ligados as funções de planejamento,
organização e coordenação de tarefas em geral.
Antunes et al. (2006) citam que o exercício físico pode ser uma alternativa não
medicamentosa relevante para a melhora da função cognitiva de idosos, pois a prática
regular destes possibilitam aumento na capacidade oxidativa do cérebro,
25
desenvolvendo efeito trófico em centros cerebrais envolvidos com a função sensório-
motora. Mas, ainda são necessários mais estudos, tanto para identificar quais os tipos
dos exercícios físicos mais adequados como também para esclarecer os mecanismos
envolvidos entre a prática de exercícios e a função cognitiva de idosos. Embora, não se
possa negar que esta melhora esteja envolvida com fatores de crescimento neural
como o BDNF (brain-derived neurotrophic factor) ou outros estimuladores neurais que
promovem a manutenção da função cerebral e promoção da plasticidade neural, e que
os exercícios mais adequados para as funções cognitivas são os que envolvem o
controle da consciência e o aumento do processamento central.
Voelcker-Reahage (2010) em sua pesquisa, sobre a relação entre condicionamento
físico e cognição com 72 indivíduos com idade média de 68 anos, concluiu que
indivíduos que praticavam atividade física regular apresentaram uma pontuação
elevada em testes cognitivos.
Petroianu et al. (2010) encontraram que a prática regular de atividades físicas e mentais
retarda a perda cognitiva de idosos. Sugere-se que essas práticas regulares promovam
uma melhora na saúde geral do idoso, na qual há indícios de aumento dos níveis de
fatores neurotróficos cerebrais, que estimulam a sinaptogênese e neurogênese,
elevando a resistência às agressões cerebrais, e melhorando assim o aprendizado e o
desempenho mental do idoso. Mas o estudo evidenciou que as atividades mentais
demonstram maior eficácia do que as atividades físicas. Estes autores citam que a
dificuldade em esclarecer os benefícios do exercício físico isolado para a função
cognitiva decorre da própria dificuldade de separar qualquer estímulo cognitivo da
atividade física. Corroborando, Chiari et al. (2010) citam que há fortes evidências de
que atividade física e exercícios físicos regulares promovam benefícios na memória de
idosos, mas ainda são escassas as publicações que esclarecem os diferentes efeitos
dos exercícios aeróbios.
O envelhecimento bem-sucedido, na visão de Baltes e Smith (2003), pode ser
alcançado através da utilização de estratégias psicológicas relacionadas às perdas, que
ocorrem no decorrer da vida do idoso. Do ponto de vista psicossocial um
envelhecimento bem- sucedido se constrói através das situações vivenciadas que
ocorrem durante o dia a dia e de experiências, que ocorrem durante toda a vida.
26
Neri; Yassuda; Cachioni (2004) reforçam estas afirmações, citando que os aspectos
afetivos e cognitivos na velhice definirão um envelhecimento bem - sucedido, se vierem
precedidos de boas escolhas por parte dos idosos. Estas escolhas devem selecionar o
que é importante ou não para seu bem- estar, ou seja, suas amizades, seu lazer, sua
forma de conviver com perdas físicas, afetivas- emocionais e cognitivas.
Também a melhoria nas condições de vida das populações, associadas ao incremento
dos sistemas de saúde, trabalho, transporte, educação, lazer e habitação, conduzirá a
uma progressiva homogeneização de envelhecimento bem - sucedido. Porém ressalta
que em se tratando da realidade brasileira essas perspectivas estão distantes
considerando os indicadores sociodemográficos sobre o envelhecimento Fry (2001
apud NERI, 2012).
Em síntese, Neri (2011) pontua que o envelhecimento é um processo complexo que
envolve diversas variáveis como: genética, estilo de vida, doenças crônicas, entre
outras. O Envelhecimento bem - sucedido depende do delicado equilíbrio entre as
limitações e as potencialidades do indivíduo no qual lhe possibilitará lidar, em graus de
eficácia distintos com as perdas inevitáveis que surgirão até se atingir à velhice.
Frente ao exposto, esse estudo compreende que o processo de envelhecimento se
organiza segundo a compreensão do envelhecimento bem - sucedido, implicando
reconhecer que os processos biológicos do desenvolvimento humano não são iguais
para todos os idosos, visto sofrerem influências dos contextos socioculturais
experimentados ao longo da vida pelo idoso. Entendemos que a atividade física e o
contexto social interferem sobre a qualidade de vida do indivíduo, e sabemos que não
existe uma única forma mágica que conduzirá as pessoas a um envelhecimento bem -
sucedido.
2.2 Qualidade de Vida
Na sociedade atual há uma crescente preocupação com a qualidade de vida das
pessoas. Conforme o grupo de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde, o
conceito de qualidade de vida envolve três aspectos fundamentais: a subjetividade, a
multidisciplinaridade e a presença de dimensões positivas e negativas (WHOQOL
GROUP, 1998).
27
De acordo com Neri (2011), a QV na velhice é um conceito importante hoje no Brasil,
percebe-se que existe uma nova sensibilidade social para com os idosos, quer
considerada como um problema quer como um desafio para a sociedade em geral.
Vários elementos vêm contribuindo para essa nova sensibilidade. Primeiramente nas
últimas décadas, aumentou a consciência de que está em curso um processo de
envelhecimento populacional. Em segundo lugar, as mudanças sociais provocaram
novas formas das pessoas viverem a velhice, ou seja, os idosos da atualidade vivem
mais, são mais saudáveis e mais produtivos do que os do passado.
Irigaray; Trentini (2009) consideram que qualidade de vida é um construto
multidimensional, que envolve critérios subjetivos e objetivos sofrendo influências da
sociedade. Sendo assim, na velhice, a qualidade de vida está associada a ter prazer de
viver, ter relacionamentos saudáveis, ter saúde, ter autonomia, e ter participação em
atividades físicas, que trazem benefícios físicos e sociais aos idosos.
Segundo Castellóm (2003), o conceito de qualidade de vida se torna cada dia mais
importante dentro da sociedade. É bastante discutido, sobretudo em relação à vida de
adultos e das pessoas que se encontram na velhice, sendo considerado referencial no
âmbito da saúde e no planejamento de políticas sanitárias e sociais para os idosos.
Para Tavares (2011), a qualidade de vida é multidimensional, e envolve questões
financeiras, estilo de vida, saúde, moradia, satisfação pessoal e contexto do ambiente
social. É conceituada de acordo com um sistema de valores e normas que mudam de
individuo para individuo, de grupo para grupo e de lugar para lugar, de maneira que o
conceito de qualidade de vida integra, entre suas variáveis, o sentimento de bem-estar
que representa a somatória destes sentimentos.
Neri (2012) corrobora com as citações acima dizendo que a velhice é compreendida
como um construto sociopsicológico e processual, que reflete formas socialmente
valorizadas e continuamente emergentes de adaptação às condições de vida
culturalmente reconhecidas, que a sociedade, proporciona aos idosos. A procura por
condições de um envelhecimento bem – sucedido com boa qualidade física, psicológica
e social é mais que um desafio pessoal e social; são também questões de importância
relevante tanto para a ciência, como para a sociedade em geral.
28
Na perspectiva de Fleck et al. (2008), encontrar virtudes na velhice, e envelhecer com
boa percepção de qualidade de vida vêm se tornando um dos grandes desafios para o
ser humano na atualidade. Os autores acrescentam que, nesse contexto, passou a ser
determinante dispor de maneiras de mensurar a forma como as pessoas estão vivendo,
com o passar dos anos, suas vidas, ou seja, de medir a percepção de Qualidade de
Vida dos indivíduos idosos. Também ressaltam que esta concepção de Qualidade de
Vida se refere a uma percepção subjetiva sobre a vida de cada indivíduo, influenciada
pelo contexto sociocultural e ambiental em que vive.
Segundo o Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde - WHOQOL
GROUP (1995, p. 1405), a Qualidade de Vida pode ser compreendida como “a
percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto cultural e de sistemas de
valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações”.
Percebemos uma proliferação de programas voltados à qualidade de vida dos idosos,
encorajando-os desta maneira a buscarem a autonomia, a independência, a saúde
física, psicológica e a inserção social, contribuindo assim para a melhoria da
expectativa de vida. Na velhice, os idosos, precisam se movimentar para minimizar a
perda da independência física tanto no plano pessoal, individual e social. A atividade
física é apontada como um meio privilegiado de o idoso obter o bem- estar físico, social
e psicológico. Estas atividades podem ser físicas e mentais, individuais ou grupais e
podem constituir-se numa oportunidade de aumentar a autonomia e melhorar a
qualidade de vida dos idosos, pois proporciona a oportunidade de convívio com outras
pessoas fora do ambiente familiar (NERI, 2011; SILVA, 2012).
Farinatti (2006) diz que, a prática regular de atividades físicas é uma estratégia auxiliar
para a redução dos efeitos do envelhecimento sobre a autonomia funcional e da
qualidade de vida, considerando as relações entre os fatores socioculturais e
econômicos como participantes do processo.
Porém, é comum, trabalhos na área da saúde, realizarem aproximações entre os
termos autonomia e independência física e compreendê-los como sinônimos, quando
na realidade não o são. Por isso, é importante diferenciar o conceito de autonomia e
independência física. A independência física é caracterizada pelo desempenho
29
satisfatório das capacidades funcionais, ou seja, quando uma pessoa não precisa de
ajuda externa, ou ainda utiliza pouco auxílio para realizar suas atividades do cotidiano.
Já a autonomia deve ser considerada decorrente de algo que ultrapasse as ações
cotidianas e se relacione com a realização pessoal (VELARDI, 2003). Autonomia é um
processo de decisão e humanização que as pessoas constroem de acordo com as
várias tomadas de decisões que vão realizando ao longo da vida e dentro dos
diferentes movimentos sociais vivenciados. Desta forma, a autonomia se constrói
mediante apropriação de conhecimentos dentro de um processo de coerência e ética
(CORREIA; MIRANDA; VELARDI, 2011).
Os autores acima afirmam que a autonomia, tanto em relação ao ensino, quanto a
saúde, está amplamente relacionada à Promoção da Saúde. Ela é fundamental para
que os interesses individuais e coletivos dentro de uma comunidade sejam levados até
o objetivo final. Sendo assim, a Promoção da Saúde coloca a educação como uma
maneira de desenvolver o exercício da cidadania no sentido de estimular atitudes, que
propiciem melhorias das condições de saúde e qualidade de vida dos indivíduos.
Nesse sentido, Borges; Benedetti; Farias (2011) corroboram com as citações acima
afirmando que a autonomia é um elemento fundamental no processo do
envelhecimento ativo, pois promover a autonomia das pessoas idosas e o direito à sua
autodeterminação potencializam a dignidade, integridade e poder de escolha delas,
tornando-as mais aptas para gerenciar melhores condições de saúde.
No envelhecimento usual ou normal, os indivíduos sofrem alterações cognitivas que
podem comprometer ou não a funcionalidade dos indivíduos para a realização de suas
atividades diárias. De acordo com Yassuda; Abreu (2006) as funções viso espaciais
tendem a ser pouco afetadas durante o envelhecimento, enquanto habilidades como
memória e atenção declinam marcantemente durante este processo.
Cançado; Horta (2006) corroboram com essas afirmações, dizendo que as perdas
cerebrais (como diminuição no número de neurônios) acontecem com intensidade maior
nos indivíduos que atingem a velhice, provocando alterações das funções do cérebro.
Estas alterações acarretam, nos idosos, deficiência funcional que muitas vezes
comprometem sua qualidade de vida, pois interferem diretamente em sua rotina social e
familiar.
30
Entretanto os mesmos autores afirmam que isso pode ser amenizado por atitudes
pessoais como: nível educacional, relações sociais, prática regular de atividade física e
hábitos de vida saudáveis.
Neri (2011) afirma que, variáveis objetivas tais como bom nível de renda, classe social,
escolaridade, etnia, religiosidade, idade e saúde são preditores da qualidade de vida de
indivíduos e de coletividade.
A pobreza, a baixa escolaridade e o baixo nível ocupacional favorecem a exposição dos
idosos ao estresse crônico, pois através desses fatores aumenta o risco de sofrerem
negligências, abandono e depressão. Os efeitos desses estressores podem
potencializar doenças crônicas como depressão, incapacidade física e demências
(TAVARES, 2004).
Porém, entendemos que uma boa qualidade de vida na idade madura excede os limites
da responsabilidade pessoal, e deve ser vista como um empreendimento de caráter
sociocultural. Ou seja, uma velhice aceitável não é atributo do individuo biológico,
psicológico ou social, mas resulta da qualidade da interação entre pessoas em
mudança, vivendo numa sociedade em mudanças Featherman (1990 apud NERI,
2012).
Percebemos que os autores concordam que o conceito de qualidade de vida é
multidimensional, e se torna cada vez mais importante em nossa sociedade atual.
No presente estudo, esse assunto estará baseado nesta linha de pesquisa, que
percebe que as interações sociais, culturais, familiares e esportivas podem influenciar a
nossa qualidade de vida quando atingirmos a velhice.
2.3 Surfe
O surfe é milenar, nasceu num passado distante irrecuperável, ninguém sabe onde e
como, ao certo. Para historiadores, seu provável surgimento ocorreu na Polinésia ou no
Peru, duas regiões cercadas pelas sagradas águas do Pacífico Sul. Migrou para o
Havaí, onde fincou suas raízes. Cresceu e se expandiu na Califórnia, e seguiu se
espalhando pelos oceanos mundo afora. Devido à cultura e à religião havaiana o surfe
se tornou mais do que um esporte radical ou tradicional; integrando o homem, o corpo e
sua mente com a natureza. O esporte passou a ser divulgado em todo o planeta graças
31
a Duke PaoaKahanamoku, pois demonstrou para a América, a Europa e a Oceania
toda a magia da modalidade. Ele é lembrado até os dias de hoje como o pai do surfe
moderno. Foi um grande esportista; como nadador ganhou duas medalhas de ouro
olímpicas (1912 e 1920) em Estocolmo na Suécia, além de bater o recorde mundial dos
100 metros livres, em 1914, na Austrália (BROWN, 1998).
Duke foi apelidado de “homem-peixe”, devido a suas exibições em provas de natação e,
imediatamente, influenciou a Califórnia ao esporte do surfe, associando a um estilo de
vida caracterizado pelas atitudes de rebeldia da juventude californiana, influenciada
pela sensação de liberdade e independência. A Austrália, maior nação surfista do
mundo, também foi iniciada por Duke após apresentações de surfe pelo País. Duke
morreu em 1968 de ataque cardíaco aos 75 anos de idade Souza (2004 apud
BERNARDES, 2013).
Já no Brasil, o surgimento do surfe ocorreu entre os anos de 1934 e 1938. Thomas
Rittscher, americano naturalizado brasileiro, e residente na cidade de Santos-SP, foi o
primeiro surfista e fabricante de pranchas no país no ano de 1934. Já por volta de 1938
Osmar Gonçalves e JuaHarfers, deslumbrados com o que presenciaram decidiram
também praticar a modalidade. Osmar é considerado o primeiro surfista brasileiro, pois
durante muitos anos deslizou sobre as ondas da Praia do Gonzaga, em Santos, na
companhia de seus amigos. Em sua homenagem, existem dois monumentos no
calçadão da praia de Santos. A partir de 1950 com a expansão de voos internacionais
para o país, abriram-se as portas para surfistas de todas as regiões do mundo
conhecerem as maravilhas do nosso litoral e a qualidade de nossas ondas (MENDES,
2005; SARLI, 2011).
A evolução das pranchas de surfe evoluiu paralelamente ao seu crescimento no Brasil,
por volta dos anos 40, eram planas, pesadas e feitas de madeira. Possuíam
comprimento de 6 a 10 pés, eram grossas e as bordas levemente arredondadas. A
partir do final dos anos 50, houve uma evolução das pranchas; foram utilizados blocos
de poliuretano: o que permitiam ao surfista explorar novos limites do seu corpo e das
ondas. Já na década de 80, o design das pranchas foi modificado, permitindo maior
estabilidade e velocidade nas manobras. Esta troca da prancha de madeira pela de
poliuretano aumentou muito o desempenho do surfista, mas acarretou um problema
32
para as pessoas que as confeccionavam. A inalação da poeira da espuma de
poliuretano do processo “Shapear” poderia irritar as vias aéreas, especialmente em
pessoas sensíveis, e causar ao longo do tempo bronquite e câncer (STEINMAN, 2003).
Outro momento importante se deu no inicio dos anos 60; assistiu-se uma explosão de
filmes de surfe de Hollywood que catapultaram o desporto para uma posição de
momentâneo prestigio e deram origem a um boom de conscientização de surfe por todo
o planeta. O surfe resistiu a quase uma década de caricatura nos filmes de Hollywood.
Graças ao seu êxito, todos os anos notava-se que surgiam milhares de novos surfistas
a comprar pranchas e acessórios de surfe (BROWN, 1998).
Souza (2004) comenta que, na metade dos anos 1970 “quase todos os surfistas tinham
cabelos longos e suas imagens não eram bem aceitas pela sociedade em geral , pois a
grande maioria não trabalhava, tinha poder aquisitivo elevado e alguns nem
estudavam”. Nessa época o surfe foi proibido nas praias cariocas entre 08h00min e
14h00min devido à possibilidade de as pranchas machucarem os banhistas. Muitas
crianças e adolescentes se apaixonavam pelo esporte, mas tinham seu comportamento
desaprovado pelos pais e familiares.
De acordo com Brownn (1998), nessa época a população em geral via os surfistas
como um conjunto de vadios da praia, algumas revistas escreviam artigos
caracterizando os surfistas como tontos e apanhados, mas não perigosos.
Todavia, após essa tribulação, o esporte cresceu em ritmo acelerado. Em Ipanema, os
hábitos alimentares de comer lanches e bebidas naturais pelos surfistas se expandiram
para outras regiões do país, juntamente com o surfe. Em 1980, ocorreu uma
verdadeira explosão no surfe. Filmes passaram a ser exibidos em circuito comercial nas
cidades de São Paulo, Santos e Rio de Janeiro como: Endlees Summer, Nas ondas do
surfe e Menino do Rio. As indústrias de surfe wear, as competições nacionais e
internacionais se modernizaram e consequentemente houve a profissionalização dos
atletas (SOUZA, 2004).
Em 1980, outro fator relevante para a história do surfe foi à criação de uma prancha
moderna pelo australiano Simon Anderson. A prancha era curta, leve, fina e possuía
três quilhas. A partir daí ele não parou de ganhar campeonatos importantes de surfe, o
33
que fez com que quase todos os surfistas do planeta aderissem a este tipo de prancha
(BROWN, 1998).
A evolução continuou em ritmo acelerado e, na década de 1990, as pranchas passaram
a ser mais leves, aumentando sua velocidade e projeção nas ondas, permitindo assim
manobras mais arrojadas, caracterizando e criando um estilo de uma nova geração de
surfistas. O que se pode notar neste período foi o ressurgimento de surfistas mais
experientes surfando ao lado de jovens, promovendo assim uma mistura de gerações
dentro do mar. Ou seja, todos estes aspectos interligados deram uma visibilidade
mundial à modalidade. Hoje o surfe é praticado em todas as praias do planeta que
ofereçam condições Souza (2004 apud BERNARDES, 2013).
No final dos anos 90, iniciaram a revistas especializadas em surfe no Japão, Inglaterra,
Irlanda, África do Sul, França, Espanha, Canadá, Uruguai, Portugal, Brasil e
provavelmente noutros países (BROWN,1998). Existem muitas hotlines de surfe,
telefônicas e na internet, que fornecem condições atualizadas das ondas em qualquer
lugar do mundo em que se queira surfar. A surfline, por exemplo, possibilita conferir
locais a norte e a sul na costa dos Estados Unidos e Havaí; vários sites estão
equipados com câmeras de vídeo modernas que mostram aos internautas fotos e
condições climáticas em tempo real.
Outro fator que prova que o surfe evoluiu bastante foi a sua introdução na área
acadêmica. Em São Paulo, a UNIFMU foi uma das pioneiras com aulas de surfe
teóricas e práticas em seu curso de Pós-Graduação em Esportes de Aventura. Em
Florianópolis, o ICPG (Instituto Catarinense de Pós-Graduação), ligado à Faculdade
Decisão, possui um curso de especialização em gestão e treinamento no
surfe/boardsports. As aulas são teóricas e práticas, e tem objetivos de formar
professores qualificados e desenvolver trabalhos acadêmicos sobre o assunto. Já na
cidade de Santos, a Unimonte (Centro Universitário Monte Serrat) foi uma das pioneiras
do Mundo a oferecer um curso de pós-graduação em Surfe no ano de 2002 através da
Unipran (Universidade da Prancha) que já não existe mais. Seus objetivos eram
fornecer informações científicas a respeito desses esportes para as pessoas que já
trabalhavam ou pretendiam trabalhar com a modalidade esportiva (FOLHA DE SÃO
PAULO, 2005).
34
Daólio (1998), Corrêa (2008) e Brasil; Carvalho (2009) verificaram necessidades de
ampliar a matriz curricular dos cursos de graduação em Educação Física, revendo o
olhar dos esportes, e citando a necessidade de incluir esportes de natureza, entre eles
o surfe.
Brasil; Ramos; Terme (2010) apresentam uma taxonomia para o surfe como esporte
moderno a fim de tanto facilitar seu processo de ensino-aprendizagem, bem como
contribuir com sua inclusão na matriz curricular de cursos de graduação em Educação
Física.
Ramos; Brasil; Goda (2012) realizaram pesquisa entre treinadores e professores de
surfe brasileiros. Encontraram que a formação destes era oriunda, em sua maioria, por
conhecimentos não formais, adquiridos em cursos oferecidos por associações de surfe
e esportes radicais ou conhecimentos informais em vivências pessoais de praticantes,
trocas de experiências com outros e relatos postados na net. Somente um sujeito
pesquisado citou ter adquirido conhecimento formal, via curso de pós-
graduação/especialização. Desta forma, os autores sinalizam para a importância de
ampliar a matriz curricular dos cursos de graduação em Educação Física incorporando
os esportes de aventura ou natureza ou radical para tratar, dentre eles, o surfe.
Brasil (2015) cita que a formação profissional de treinadores de surfe acontece, em
menor grau: via curso de Bacharelado em Educação Física e, em maior grau: via curso
oferecido por entidades esportivas de surfe.
Atualmente, alguns cursos de graduação em Educação Física no Estado de São Paulo
apresentam, em sua matriz curricular, disciplinas com nomes variados, como Esportes
da Natureza; Esportes Radicais e Esportes não convencionais que tratam do surfe
como prática corporal a ser conhecida e refletida na formação do professor e do
profissional de educação física.
Outro aspecto que demonstra o envolvimento do surfe com a educação ocorre na
cidade de Santos (SP). Todo ano é realizado um campeonato de surfe para estudantes
do ensino médio regularmente matriculado em instituições reconhecidas pelo MEC, de
Peruíbe a Bertioga, além de cidades convidadas como: São Sebastião, Caraguatatuba,
Ubatuba e Ilha Comprida. Neste campeonato além da premiação tradicional com troféus
são oferecidas as bolsas de estudos aos competidores (JORNAL A TRIBUNA, 2015).
35
Hoje em dia o surfe é um dos esportes que mais crescem no Brasil e no Mundo, está
correlacionado a um estilo de vida voltado à saúde, ao lazer, à liberdade e ao constante
desafio, além de ser uma modalidade com uma larga história, cultura e grandes
personagens (ALEGRO, SIMÃO, EVANGELISTA, 2013).
De acordo com a International Surfing Association (ISA) estima-se que
aproximadamente 35 milhões de pessoas o pratiquem em todo o planeta. Só no Brasil
são mais de sete milhões de pessoas que utilizam a modalidade como hábito de lazer.
A indústria do surfe movimentou, em 2013, um total de US$ 22 bilhões no ano. Só nos
Estados Unidos, o movimento chegou a US$ 8,8 bilhões, sendo que o Brasil figura com
um movimento de US$ 4 bilhões (VASCONCELOS, 2013).
Um dos motivos desde crescimento se dá pelo fato de o Brasil ser privilegiado em
relação ao terreno que nos proporciona riquezas: é uma beleza magnífica e apropriada
para a prática de esportes radicais. O litoral brasileiro possui uma extensão de 9.198 km
e se espalha desde as fantásticas ondas da pororoca nos confins da Amazônia, até as
recém-descobertas Ilhas dos Lobos, em Torres, Rio Grande do Sul. Atravessa
Fernando de Noronha, as ondas do Nordeste, Rio de Janeiro, São Paulo e continua
pelos 400 km do litoral catarinense.
Porém, apesar de ser uma atividade física prazerosa é importante salientar que o surfe
é um esporte que pode ocasionar acidentes, problemas físicos e de saúde aos seus
praticantes com o decorrer do tempo. Isto se justifica por ser praticado em ambiente
oceânico, algumas vezes de caráter hostil, onde o surfista é exposto às diferentes
condições ambientais como vento, Sol, chuva e frio além da possibilidade do contato
com praias que possuem pedras e corais abaixo das ondas. Também podem ocorrer
durante a prática, afogamentos; queimaduras por (águas-vivas); cortes e lacerações
causadas pela prancha; problemas de ouvido; lesões na coluna, pela constante
hiperextensão do pescoço; dores articulares pelos movimentos repetitivos; problemas
intestinais devido às precárias condições de limpeza das águas; e doenças de pele pela
constante exposição ao Sol (STEINMAN, 2003).
Lowe (2006) comenta que a exposição solar por longos periodos, e em horário
inadequado, é responsável por um grande número de doenças dermatológicas ao redor
do mundo nas últimas decádas. Sendo necessária a conscientização das pessoas no
36
sentido de diminuírem a exposição ao Sol, visando o retardamento do envelhecimento
da pele e a diminuição da possiblidade de contraírem o câncer de pele.
Segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer) profissionais que trabalham em
atividades ao ar livre e, portanto, muito expostos ao Sol, como os pescadores,
agricultores e salva-vidas, apresentam elevado risco de desenvolver câncer de pele. A
exposição inadequada (no horário das 10h às 16h, quando os raios são mais intensos)
e de forma intermitente é um fator importante nos tipos melanoma. Contudo, tem sido
observado que a exposição cumulativa e excessiva durante os primeiros 10-20 anos de
vida aumenta considerávelmente o risco de câncer de pele.
O surfe, quando praticado em nível competitivo, pode ocasionar comprometimentos
relacionados à saúde. Isso se deve principalmente à imprevisibilidade em manobras,
contato com prancha, fundo do mar, envolvimento com a onda e postura inadequada
durante a sua execução (ZOLTAN, 2005).
Define-se o surfe como sendo um esporte radical. Ele é intrigante e desafiador por
apresentar inúmeras variações em sua prática. Ou seja, um dia de surfe provavelmente
não será idêntico ao dia seguinte devido ao ambiente aberto e às situações
imprevisíveis que o mar proporciona. Neste ambiente natural de constantes
transformações e adaptações, o preparo físico e mental torna-se um importante aliado
para que o corpo humano se ajuste conforme os ventos, tamanho, velocidade e a força
das ondas (ALEGRO; SIMÃO; EVANGELISTA, 2013).
Os esportes radicais merecem atenção por serem opções diferentes das tradicionais
para os idosos e por possibilitarem um novo campo de estudos e investigações para
diversos pesquisadores (MARINHO, 2005).
De acordo com Costa Marinho; Passos (2007), os esportes radicais compreendem um
conjunto de práticas esportivas formais e não formais, vivenciadas a partir de
sensações e de emoções, sob condição de risco calculado, realizadas em manobras
arrojadas e controladas, como superação de habilidades de desafio extremo, e
desenvolvidos em ambientes controlados e artificiais como manifestações educacionais,
de lazer e de rendimento compreendidas com a sustentabilidade socioambiental.
Há uma classificação das práticas esportivas dentro das modalidades radicais conforme
o ambiente em que é realizado: aéreos, aquáticos e terrestres. O surfe é classificado
37
como aquático por ser praticado nos mares pelo mundo afora. Este esporte também
pode ser um veículo para desempenho esportivo ou apenas voltado para o lazer e a
saúde. Sendo assim pode ser praticado não só por atletas, mas, por qualquer individuo
independente de sexo, cor, origem, nível socioeconômico e faixa etária, incluindo os
idosos (STEINMAN, 2003).
De acordo com Nunes (2006), há uma tendência que a aprendizagem do surfe também
se realize em piscina. Muitas academias de São Paulo já oferecem aulas nesta
modalidade. Na piscina, os alunos estão isolados das intempéries da chuva, vento, frio
e correnteza: o que aumenta a segurança e autonomia nos iniciantes. Além de
favorecer a intervenção e correção dos movimentos pelo professor.
No surfe, a intimidade com a água e o aprendizado da natação é de suma importância.
A natação pode ser introduzida desde cedo na vida da criança, visto que grande parte
da população brasileira não sabe nadar e muitas vezes se aventura em piscinas, lagos
ou até mesmo no mar. Uma vez tendo aprendido a nadar, a possibilidade de
afogamento será minimizada além de facilitar bastante os primeiros passos para um
surfista iniciante (STEINMAN, 2003).
Para se surfar uma onda em boas condições é necessário ter algum conhecimento da
variação da maré, dos ventos e ondulações, e saber utilizar todos os fundamentos da
modalidade. Estes fundamentos são os movimentos específicos que seguem uma
sequência lógica. Ou seja, inicialmente observa-se o mar, verificando a melhor
formação das ondas e o vento ideal; em seguida, utiliza-se o fundamento da remada,
deitar sobre a prancha; utilizando os braços com o movimento de rotação, para se
deslocar até o outside (atrás da arrebentação das ondas). Após realizar este
fundamento, os surfistas sentam em suas pranchas, e aguardam pela onda mais
perfeita da série. Definida a onda, é realizado o fundamento do drop (ficar de pé e
descer a onda) em seguida é possível realizar outros fundamentos como as manobras
de front e back (movimento em que o surfista quebra a linha da onda e sobe com sua
prancha em direção à sua parte superior e volta a sua base rapidamente). Por fim,
dependendo da habilidade do surfista e da perfeição das ondas, é possível realizar a
manobra mais cobiçada que é o tubo: um dos momentos mais especiais para o surfista
é quando a onda se sobrepõe sobre ele, mas não consegue derrubá-lo. Ou seja, com
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velocidade e agilidade a onda é finalizada em pé pelo surfista (ALEGRO, SIMÃO,
EVANGELISTA, 2013).
O surfe vem crescendo muito no Brasil, em particular destaca-se o impacto da
conquista de Gabriel Medina no Campeonato Mundial de Surfe Profissional WCT (World
Championship Tour) conquistado na última etapa do circuito na praia de Pipeline, Havaí
em 12 de dezembro de 2014. Esta conquista foi amplamente divulgada na mídia
televisiva e redes sociais, provocando um acréscimo de novos participantes. Dentro do
contexto apresentado, o surfe aparece como uma opção diferente de praticar atividade
física para todas as pessoas, inclusive para os idosos, e também entra no rol de
conteúdos para a formação acadêmica do professor e do profissional de Educação
Física.
Frente ao apresentado, entendemos que a pesquisa proposta poderá ampliar as
discussões sobre as relações da prática do surfe com a promoção da Qualidade de
Vida do idoso, viabilizando o repensar de programas de surfe para a população idosa.
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3 PERCURSO METODOLÓGICO
Esse estudo caracterizou-se por uma pesquisa descritiva, do tipo exploratório de cunho
qualitativo com dados existentes, extraído de uma amostra escolhida pelo autor frente
ao problema de pesquisa levantado, condições temporais, técnicas e de acesso à
instituição promotora de aulas de surfe para idosos (THOMAS; NELSON; SILVERMAN,
2007; LAVILLE e DIONNE1999).
De acordo com Denzin e Lincoln (1998), as técnicas qualitativas, trabalhadas em
investigação científica são as mais apropriadas para o estudo das intervenções
existentes entre sujeito e meio (LIMONGELLI, 2006).
Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São
Judas Tadeu (CEP-USJT), sob o parecer número 824.009, visto ter atendido os
preceitos da Resolução 466/2012, sobre pesquisa envolvendo seres humanos
(Apêndice A).
A adoção de métodos qualitativos é justificada quando o estudo envolve situações no
seu contexto real, compreendendo, entre outros, estudo de fenômenos complexos, em
que os fatores contextuais necessitam ser analisados (LEONNARD-BARTON, 1998).
A amostra foi composta por seis participantes de um programa de surfe na cidade de
Santos, litoral sul do Estado de São Paulo. Os participantes, de ambos os sexos, já se
encontravam no programa. O coordenador do Programa de surfe assinou o Termo de
Responsabilidade e Autorização da Instituição para a realização da pesquisa (Apêndice
B)
Os critérios de inclusão foram: ter entre 60 e 75 anos; ter qualquer nível de
escolaridade e nível socioeconômico, estar classificado no nível 4 do status funcional:
independente e ativo, conforme Spirdurso (2005); ter frequência superior a 75% nas
aulas ministradas: e portar autorização médica para a prática de atividades físicas.
Os critérios de exclusão foram: apresentar dificuldades de compreensão que
prejudicassem o entendimento das avaliações realizadas (neste caso, os dados do
sujeito foram coletados, mas não utilizados nos estudos).
Todos os participantes foram informados dos objetivos e procedimentos do estudo, bem
como da possibilidade reduzida de riscos na sua participação. Também ficaram cientes
de que se espera como benefício que a sua participação traga um incremento no
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conhecimento sobre si e, ainda, que os ajudará a esclarecer aspectos relativos ao
envolvimento de idosos em programas de surfe, contribuindo, assim, para a construção
de conhecimentos.
Ressalta-se que para aqueles que concordaram em participar do estudo foi entregue o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice C), explicando
individual e detalhadamente, em linguagem clara e acessível, de modo a esclarecer
tanto os objetivos e finalidades da pesquisa como também os benefícios e riscos aos
participantes, segundo as normas do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
São Judas Tadeu - CEP/USJT e estavam livres para interromper a pesquisa no
momento em que desejassem, sem prejuízo em continuar participando do programa de
surfe. Todos assinaram o TCLE, indicando oficialmente anuência em participar da
pesquisa.
O programa de surfe para idosos da cidade de Santos é um curso anual que se inicia
em fevereiro e termina em dezembro. As aulas acontecem semanalmente às quartas,
quintas e sextas feiras no período da manhã, das 09h00 às 10h00 e no período da
tarde, das 16h00 às 17h00. Esta escola de surfe é a pioneira no Brasil, inaugurada em
junho de 1992. Tem o apoio da Secretaria de Esportes da Prefeitura de Santos. As
aulas acontecem na Praia da Pompeia (Avenida Senador Pinheiro Machado) em frente
ao prédio do Posto de Salvamento Dois. O curso é oferecido por uma equipe de cinco
professores formados em Educação Física. Ingressa, anualmente, um grupo de
aproximadamente 12 idosos participantes. O programa envolve duas fases,
primeiramente predomina o ensino de conceitos e na segunda predomina o ensino dos
procedimentos. As aulas são teórico-práticas estruturadas ao redor de temas como
Saúde, conhecimentos das técnicas do surfe e de benefícios das atividades físicas para
os idosos. A Escola oferece todo o material e equipamentos necessários para sua
prática, sendo esses: pranchas, camisetas de lycra, parafina e cordinhas (leash) entre
outros.
Para a coleta de dados foram utilizados os instrumentos abaixo relacionados:
a) Para levantar o perfil sócio demográfico foi utilizado o Questionário de
Classificação Econômica Brasil (ABEPE, 2014) (Anexo A).
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b) Para avaliar o estado de saúde geral e o histórico da atividade física praticada
ao longo das etapas de vida foi utilizado Questionário de Anamnese e Prática
de Atividade Física do Projeto Sênior para Vida Ativa/USJT (Anexo B).
c) Para avaliar a percepção subjetiva da Qualidade de Vida foi utilizado o
WHOQOL-OLD em português (Anexo C)
O questionário WHOQOL-OLD é um instrumento específico de QV para idosos.
É composto por 24 itens com escala de resposta tipo Likert atribuídos a seis
facetas: Funcionamento do sensório (FS), Autonomia (AUT), Atividades
presentes, passadas e futuras (PPF), Participação Social conforme descritas no
Quadro 1. No Quadro 2 está apresentada a pontuação de cada faceta podendo
variar entre quatro e 20 pontos. Para a obtenção da pontuação em cada faceta,
foram seguidas as orientações apresentadas no manual de aplicação, que
consiste na soma dos pontos assinalados pelos participantes. Não há valor de
corte, portanto os escores altos representam alta QV e os escores baixos
representam baixa QV (WHO, 2000).
Quadro 1: Conceitos e conteúdos das facetas inclusas no módulo WHOQOL-OLD
Facetas Sigla Conceito/conteúdo
Habilidades Sensoriais FS funcionamento sensorial, impacto da perda de habilidades sensoriais na qualidade de vida
Autonomia AUT independência na velhice, capacidade ou liberdade de viver de forma autônoma e tomar decisões
Atividades Passadas, Presentes e Futuras
PPF satisfação sobre conquistas na vida e coisas a que se anseia
Participação Social PSO participação nas atividades quotidianas, especialmente na comunidade
Morte e Morrer MEM preocupações, inquietações e temores sobre a morte e sobre morrer
Intimidade INT capacidade de ter relacionamentos pessoais e íntimos
Fonte do Quadro 1: WHO, 2000, p.14.
42
Quadro 2: Pontuação do instrumento WHOQOL-OLD, considerando reversão de escores negativos
Faceta Afirmativa Nada Muito pouco
Mais ou menos
Bastante Extremamente
FS
Q1 5 4 3 2 1
Q2 5 4 3 2 1
Q10 5 4 3 2 1
Q20 1 2 3 4 5
AUT
Q3 1 2 3 4 5
Q4 1 2 3 4 5
Q5 1 2 3 4 5
Q11 1 2 3 4 5
PPF
Q12 1 2 3 4 5
Q13 1 2 3 4 5
Q15 1 2 3 4 5
Q19 1 2 3 4 5
PSO
Q14 1 2 3 4 5
Q16 1 2 3 4 5
Q17 1 2 3 4 5
Q18 1 2 3 4 5
MEM
Q6 5 4 3 2 1
Q7 5 4 3 2 1
Q8 5 4 3 2 1
Q9 5 4 3 2 1
INT
Q21 1 2 3 4 5
Q22 1 2 3 4 5
Q23 1 2 3 4 5
Q24 1 2 3 4 5
Nota: As células destacadas em cinza já contém a pontuação invertida nas afirmativas negativas.
Fonte do Quadro 2: WHO, 2000, p.14.
d) Para avaliar a percepção subjetiva da Qualidade de Vida foi utilizado o
WHOQOL-BREF em português (Anexo D).
O questionário WHOQOL-BREF é um instrumento genérico de QV composto por
26 questões, sendo duas questões de auto percepção sobre QV geral. Todas as
questões apresentam escala de resposta do tipo Likert de cinco pontos. As 24
questões representam as 24 facetas dos quatro domínios: Físico, Psicológico,
Relações Sociais e Meio Ambiente (Quadro 3) e um escore global medido pelas
duas questões de auto percepção. Para obtenção da pontuação foram seguidas
as orientações contidas no manual de aplicação do instrumento. O instrumento
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não tem valor de corte, portanto os escores altos representa
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