PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO CENTRO DE REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLA BOSQUE PROFESSOR “EIDORFE MOREIRA”
CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE
MYRTES SORAIA MARTINS MACIEL
MARIA LUZINEIDE COSTA
CONTRACULTURA E MOVIMENTO SUSTENTÁVEL Um olhar sobre a ética da sustentabilidade a partir do
movimento hippie “Refúgio da Tribo” (Ilha de Caratateua, Belém-PA)
Ilha de Caratateua, Belém Março de 2012
MYRTES SORAIA MARTINS MACIEL
MARIA LUZINEIDE COSTA
CONTRACULTURA E MOVIMENTO SUSTENTÁVEL Um olhar sobre a ética da sustentabilidade a partir do
movimento hippie “Refúgio da Tribo” (Ilha de Caratateua, Belém-PA)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor “Eidorfe Moreira” como requisito à obtenção do título de Técnico em Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Msc. Breno Rodrigo de Oliveira Alencar
Ilha de Caratateua, Belém Março de 2012
MYRTES SORAIA MARTINS MACIEL
MARIA LUZINEIDE COSTA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor “Eidorfe Moreira” como requisito à obtenção do título de Técnico em Meio Ambiente.
Banca Examinadora:
_____________________________________
Prof. MSc. Breno Rodrigo de Oliveira Alencar (Orientador)
_____________________________________
Prof. MSc. Agnaldo Aires Rabelo (Examinador)
Conceito:_____________________
Belém, XX de março de 2012
Dedicatória/Epígrafe
Dedicamos este trabalho às pessoas que sempre acreditaram no nosso potencial, e nos apoiaram em nossas decisões. Aos nossos pais, os quais amamos muito, pois os mesmos nos ajudaram através do carinho, amor e compreensão.
“O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim”. (Auguste Comte)
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus por estar presente comigo a cada passo e a cada decisão tomada.
Muito amor e gratidão à minha família, pelo apoio e compreensão.
Ao meu pai, por me ouvir sempre e pela sua disposição constante a me ajudar nos momentos em que precisava.
À minha mãe, pela sua paciência e compreensão em relação às tarefas da casa que não pude cumprir por razão de estar ocupada com meus trabalhos e projetos.
À minha irmã Michelle Martins, por estar sempre disposta a me ajudar e por ter me apoiado desde o início deste TCC.
Ao meu orientador Breno Rodrigo de Oliveira Alencar, por ter me ajudado na construção deste TCC, sempre acreditando no meu potencial, o que me fez excluir qualquer hipótese de desistência do Curso Técnico.
Por fim, agradeço ao Senhor Paulo Oliveira, da comunidade “Refúgio da Tribo” e da ONG GANV, pelas informações e ensinamentos prestados para a realização deste TCC.
Myrtes Soraia Martins Maciel
AGRADECIMENTOS
Agradeço especialmente à minha família pelo fato de me compreender em relação aos momentos em que me ausentei de tarefas e compromissos que não pude cumprir por razões específicas voltadas a este TCC.
Agradeço à minha mãe, pela sua compreensão, paciência e motivação, pois com isso me fortaleci na busca da conclusão de meus trabalhos e projetos.
Agradeço a meu pai, pela sua disposição em me buscar na escola, mesmo estando cansado da sua longa jornada de trabalho.
Agradeço ao meu orientador Breno Rodrigo de Oliveira Alencar, pelos seus “puxões de orelha” quando necessário, agradeço também às suas orientações de leitura, que foram fundamentais no decorrer deste trabalho.
Agradeço à comunidade hippie “Refúgio da Tribo” e à ONG GANV, por todas as informações e por terem nos servido como base de todo este trabalho, pois no deram a oportunidade de conhecermos de perto seu cotidiano e seu modo de vida hippie.
Maria Luzineide Costa
RESUMO
O presente trabalho analisa a relação entre movimentos hippies e
sustentabilidade, buscando compreender as interlocuções entre o discurso
sustentável e a prática desses grupos. O trabalho se baseou em pesquisa
bibliográfica e aplicação de questionário semiestruturado junto a uma comunidade
alternativa de hippies chamada “Refúgio da Tribo”. O ponto principal do trabalho é
mostrar que sociedades assentadas em uma utopia/ideologia ecológica, embora
discriminadas pela sociedade abrangente devido seu comportamento “desviante”,
possuem uma prática ambiental que se tornou modelo de desenvolvimento no
mundo de hoje.
Palavras-chave: Sustentabilidade; Contracultura; Utopia Ecológica.
ABSTRACT
This paper analyzes the relationship between hippies and
sustainability movements, seeking to understand the dialogues between the
discourse and the practice of sustainable groups. The work was based on
bibliographic research and the application of a semi-structured
questionnaire with an alternative community of hippies called "Refúgio da Tribo". The
main point is to show that societies seated in an ecological utopia/ideology,
though discriminated by the most of society because of its "deviant"
behavior, have an environmental practice that became a model of development in
the world today.
Keywords: Sustainability; Counterculture; Ecological Utopia.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Logomarca da ONG GANV (Grupo Ambiental Natureza Viva)............. 17
Figura 2: Plantio de mudas da Avenida Beira-Mar no bairro do Outeiro............ 20
Figura 3: Conjunto de comportamentos característicos dos movimentos de
contracultura........................................................................................ 22
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 11
1 - HIPPIES E CONTRACULTURA.................................................................... 14
1.1- MOVIMENTO “REFÚGIO DA TRIBO”: IDENTIDADE E IDEOLOGIA............ 15
2 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.......................................................... 117
2.1 A ÉTICA DA SUSTENTABILIDADE COMO IDEOLOGIA E IDENTIDADE........ 18
3. REFÚGIO DA TRIBO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...................... 19
3.1 - A MODA COMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA ÉTICA DA SUSTENTABILIDADE................................................................................
20
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 22
REFERÊNCIAS................................................................................................. 24
11
INTRODUÇÃO
Na metade do século XVIII iniciou-se no continente europeu um processo de
transformação socioeconômica que consolidou o capitalismo como modo de
produção. Surgiu, assim, a Revolução Industrial, um movimento econômico e
tecnológico que inseriu na sociedade a manufatura, fenômeno que alterou o padrão
produtivo, pois substituía a mão-de-obra operária pelas máquinas tecnológicas. Essa
transformação levou as indústrias a produzirem mais mercadorias e enriquecerem
cada vez mais. Como consequência, séculos depois, a sociedade passou a ter à sua
disposição um número cada vez maior de bens de consumo, levando ao surgimento
da Sociedade de Consumo.
Com o desenvolvimento das indústrias, os produtos foram normalizados e os
padrões de consumo massificados. As empresas queriam vender seus produtos e
passaram a adotar as estratégias de marketing na divulgação dos mesmos. Dessa
forma, os consumidores foram levados a consumirem radicalmente. Prova disso foi o
colapso de 1929, quando o número de bens disponíveis foi tão superior ao poder de
compra da população norte-americana que reduziu o valor das mercadorias e quase
levou as empresas norte-americanas à falência.
A sociedade de consumo está ligada à economia de mercado e ao conceito
de capitalismo. Como no capitalismo a reprodução das mercadorias sempre excede
sua demanda, a sociedade de consumo surge da contínua reprodução dos meios que
favorecem a reprodução de mercadorias. Entre eles estão a moda, o marketing e o
ideal de satisfação pessoal embutido nos mesmos. Nesse contexto, os indivíduos se
rendem a um padrão de consumo que possui alta relevância na formação social do
ser humano, na sua aceitação perante os outros e como sinônimo de qualidade de
vida. Com o avanço das técnicas de produção e reprodução dos padrões de
consumo, esse processo leva os indivíduos a perderem sua individualidade e
adotarem um perfil “consumista” de comportamento, uma espécie de cultura do “ter”
sobre a cultura do “ser”. Nesse sentido, a sociedade passa a ser considerada
ambientalmente insustentável, pois para garantir seu padrão de consumo infinito
recorrem à extração de recursos naturais finitos, ameaçando a biodiversidade do
planeta e ocasionando impactos ambientais irreversíveis.
12
Após o fim da Segunda Grande Guerra e o apogeu dos Estados Unidos como
maior potência econômica capitalista o padrão de consumo ganhou contornos nunca
antes vistos e chegou a ser denominado “American way of life”, dado o estímulo
daquela cultura em adquirir bens industriais para alcançar qualidade de vida. Como
resultado, entramos no século XXI convivendo com disparidades sociais, nas quais
uma pequena parte da população pode adquirir tais bens, enquanto a grande
maioria convive com o colapso urbano e os efeitos do desmatamento, poluição
hídrica e atmosférica, perda da fauna e flora, visto ocuparem as franjas dos grandes
centros industriais onde se produz cada vez mais bens industrializados, isto é, a
periferia das grandes cidades.
Em meados do século XX, com o avanço do ambientalismo, surgiram
posturas favoráveis aos eventos ecológicos em defesa dos ecossistemas que sofriam
profundas perdas em virtude dos hábitos ostensivos de produção e consumo. De
acordo com Portilho (2005), foi desse cenário que, ao longo da década de 1960,
surgiram os primeiros movimentos anticonsumistas. Os chamados grupos
alternativos ou movimentos de Contracultura exigiam mudanças no padrão de
consumo das sociedades industriais a fim de que produzissem somente o necessário
para sua sobrevivência. Os movimentos anticonsumistas não se preocupavam apenas
com as problemáticas que o consumo causara sobre as sociedades modernas, mas
também com os impactos ambientais decorrentes do mesmo nas gerações futuras.
Entre os críticos do anticonsumo estavam os hippies, partidários de uma
utopia ecológica e social que era contrária ao modo de vida industrial, urbano e
insustentável das sociedades capitalistas. Para eles, as catástrofes ambientais
ocorridas no período (extinção de espécies, derramamentos de óleo, desmatamento,
poluição urbana, acidentes nucleares como o da Usina de Chernobyl) eram
motivadas pela cobiça irrefreável das grandes indústrias.
Preocupados, principalmente, em criticar o estilo de consumo da sociedade
americana, eles passaram a adotar formas alternativas de vida. Sendo assim, os
mesmos deixaram de viver na cidade e passaram a morar no meio natural,
valorizando os aspectos ambientais como alternativa de vida. Os hippies, como
sujeitos sociais e ecologistas, estavam sendo inseridos em uma luta de contestação
social, em que a dimensão ambiental ganhava enorme importância em decorrência
13
dos discursos catastróficos provocados pelas sociedades no período dos anos 70.
Esses discursos catastróficos eram provenientes de pesquisas científicas sobre os
impactos ambientais que a humanidade estava observando no planeta.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que surgiam esses discursos
catastróficos, houve um crescente processo educativo que fora assimilado pelos
jovens dessa geração e que acabaram por constituir os principais movimentos
ecológicos do período. Segundo Guattari (1995 apud GUIMARÃES, 2009), nos anos
setenta, surgiram inúmeros movimentos que parecem ter sido cooptados por um
processo de individuação caracteristicamente forjado na própria contradição do
movimento capitalista, o que ele chamou de “subjetivação capitalística”. Assim, ao
mesmo tempo em que configuravam processos de singularização, também
instauravam processos de individualização através de seus ideais educativos, pelos
quais todos aqueles que não estivessem inseridos nos movimentos deveriam sofrer
um processo de conscientização (GUATTARI, 1995 apud GUIMARÃES, 2009).
A preocupação com o consumo e seus efeitos sobre as sociedades
consumistas, no entanto, só se tornaram pauta das políticas governamentais muito
recentemente, em parte devido à forte pressão exercida pelas instituições
intergovernamentais e ONGs que defendem os interesses das populações mais
afetadas pelo desequilíbrio ambiental observado nos últimos anos. Segundo os
críticos do consumo de massa e da sociedade de consumo, tal estilo de vida estimula
os impactos no meio ambiente e precisam ser freados.
Porém, há uma contradição, pois os atuais críticos da sociedade de consumo
são, em parte, aqueles mesmos que perseguiam, prendiam e marginalizavam os
grandes pioneiros das críticas que denunciavam os impactos da produção e consumo
excessivo sobre o meio ambiente ainda na década de 60, as chamadas sociedades
alternativas de utopia ecológica, cuja visão de progresso era alimentada pelo
consumo sustentável e equilibrado dos recursos naturais. Esse movimento discutiu o
ecologismo como forma contestatória do estilo de vida contemporâneo, denunciando
sua faceta materialista e agressora do meio ambiente.
Desse modo, cabe ressaltar que embora o movimento de contracultura dos
hippies fosse considerado como um ponto de partida e um marco inicial na busca da
mudança de padrão de comportamento da sociedade de consumo e um referencial
14
em tudo que se relaciona com o meio ambiente, como as criações de políticas
ambientais, os mesmos foram e são discriminados/marginalizados pela sociedade
abrangente por terem uma identidade singular e uma visão de progresso que não se
coaduna ao estilo de vida das sociedades de consumo atuais.
Nesse sentido, este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo
analisar a importância do movimento de contracultura no atual debate sobre
sustentabilidade, enfatizando como referencial de análise a trajetória, o
comportamento, o discurso e as ideologias encontradas num grupo em particular, o
“Refúgio das Tribos”, localizado na Ilha de Caratateua, cujo estilo de vida e práticas
sociais refletem as contradições existentes entre o ideal do comportamento
sustentável e o preconceito derivado do mesmo.
1. HIPPIES E CONTRACULTURA
Entre os anos 50 e 60 do século passado, jovens de diferentes partes do
mundo começaram a questionar o modo de vida capitalista. Genericamente
conhecidos como hippies, eles tinham suas próprias ideias a respeito da natureza, do
mundo e da vida, o que os tornava, aos olhos da sociedade, pessoas com um
comportamento desviante.
Os hippies, junto com a Nova Esquerda e o Movimento dos Direitos Civis, são
o tripé daquilo que ficou conhecido como contracultura, um fenômeno, inicialmente,
caracterizado por sinais bastante evidentes, como cabelos compridos, roupas
coloridas, misticismo, estilo musical particular, uso de drogas e assim por diante. Um
conjunto de hábitos e costumes que, aos olhos das famílias de classe média, tão
ciosas de seu projeto de ascensão social, parecia no mínimo um despropósito, “um
absurdo mesmo” (ALBERTO, 1992 apud PEREIRA, 1992).
Segundo (PEREIRA, 1992) contracultura é a cultura marginal, independente
do reconhecimento oficial. No sentido universitário do termo, é uma anticultura,
obedecendo a instintos desclassificados nos quadros acadêmicos. Dessa forma,
podemos dizer que a contracultura é a identidade própria dos hippies, uma cultura
minoritária caracterizada por um conjunto de valores, normas e padrões de
comportamento que contradizem diretamente os da sociedade, de jovens que
15
pertenciam aos grupos e não dependiam da sociedade capitalista, enfrentavam a
mesma para ter o próprio espaço na sociedade.
A palavra ‘Hippies’, – de hip, hipsters, que vem de hep, que quer dizer, estar
por dentro, descolado, bacana, – saiu na imprensa pela 1ª vez no artigo “A New
Haven For Beatniks”, em 5 de setembro de 1965, assinado pelo jornalista de San
Francisco, CA., Michael Fallon. Naquele contexto, eles eram conhecidos também
como “filhos da flor”, denominação que surgiu após uma reunião de “turmas”, na
qual se reuniram jovens que cantavam e dançavam com flores pelo corpo e inclusive
nos cabelos. A manifestação ocorreu na cidade de San Francisco, nos Estados
Unidos, conhecida hoje como a Capital dos Hippies. Esse foi o tempo em que muitas
pessoas se juntaram ao movimento hippie, incluindo músicos e artistas, dentre eles
os Beatles, um grupo de garotos que tinham pensamentos e sonhos semelhantes aos
dos hippies, e na maioria de suas canções faziam apologias aos ideais desse grupo.
1.1 - MOVIMENTO “REFÚGIO DA TRIBO”: IDENTIDADE E IDEOLOGIA
Embora com uma identidade própria e defendendo causas como a “Paz e o
Amor”, ainda hoje os hippies sofrem com o preconceito da sociedade abrangente.
Razão para isto está no seu estilo de vida perfeitamente adaptado às práticas
sustentáveis. Um hippie é aquele que procura se alimentar de produtos orgânicos ou
produz seus adornos a partir de objetos reciclados, assim como rejeita toda e
qualquer forma de interferência sobre sua individualidade. De acordo com Paulo
Oliveira, membro da comunidade “Refúgio da Tribo”, a filosofia de um hippie é
baseada na
“liberdade, pois a aceitação das diferenças faz parte dos padrões impostos nesta sociedade. Atualmente, no século 21, aqueles que andam juntos, são chamados de tribos, no qual são os hippies o melhor exemplo dessa manifestação. Além disso, para entrar no movimento, o principal requisito proposto pelos hippies é a atitude. Ou seja... Pega aquele carro que está ali, abre, liga o motor e se joga em um abismo”.
O movimento do qual Paulo Oliveira faz parte existe há quinze anos. Eles
procuram ter hábitos como: deixar os cabelos compridos, se alimentar de comidas
16
típicas (mexilhão, considerada “comida de maluco”, conforme denominado pelos
próprios), artesanatos (brincos, pulseiras, anéis, catador de sonhos etc.),
preservação dos recursos naturais, festivais de dança e roupas leves, semelhantes às
usadas pelos hippies dos anos 60. Esse grupo também possui uma organização
ambiental chamada GANV (Grupo Ambiental Natureza Viva), conhecida pelos
moradores como “Família Oliveira”. Segundo afirma Paulo Oliveira em seu blog,
“Estamos vivendo um momento de declínio da humanidade, onde as sociedades estão cada vez mais consumidoras, conseqüentemente exterminando as florestas, para retirada de matéria prima, onde servirá de milhares de produtos para nós consumirmos e dessa forma saciar nosso desejo, nossa satisfação, convém ressaltar que o planeta pede socorro, está doente, na UTI, precisamos abraçar esta causa e oferecer abrigo ao meio ambiente, oferecer uma mão amiga com a conscientização, contribuindo de alguma forma para a redução da alarmante poluição gerada diariamente por diversos fatores.” (sic)
A ONG é liderada pelo presidente Paulo Oliveira, que é conselheiro escolar da
Fundação Escola Bosque. Essa ONG defende o meio ambiente e trabalha como
entidade socioambiental estimulando crianças e jovens a participarem das atividades
educacionais que são desenvolvidas. O objetivo da organização é tirar essas crianças
e jovens da marginalidade, ensinando-lhes práticas sustentáveis. A ONG recebe
doações de matérias escolares, comidas, entre outras, dadas pelas instituições do
Estado, que incentiva a educação ambiental oferecida para essas pessoas.
17
Figura 1: Logomarca da ONG GANV (Grupo Ambiental Natureza Viva)
Lema da Organização Não-Governamental “Grupo Ambiental Natureza Viva”: “Um
olhar ambiental sobre o meio ambiente visando os aspectos naturais na busca da
sustentabilidade”
2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Nos últimos anos tem se observado que os antigos argumentos dos
ambientalistas, os quais relacionavam o desenvolvimento sustentável apenas às
questões ambientais, foram substituídos por versões mais abrangentes e completas,
que levam em consideração os aspectos sociais, econômicos e ambientais da vida.
Do ponto de vista político, essa perspectiva tem sido de grande utilidade, pois
permitiu que a causa do desenvolvimento sustentável fosse adotada por um público
muito maior, muito além dos primeiros devotos, que passaram a ser vistos como
radicais e desagregadores (MURRAY, 2001 apud MAWHINNEY, 2005). Com isso, o
discurso em torno do desenvolvimento sustentável passou a ser gradualmente
incorporado aos modelos de gestão empresarial e públicos em diferentes países do
mundo, pois cada vez mais as sociedades civilizadas, sobretudo as urbanas e com
expressivo desenvolvimento industrial, tem aprendido que ao desmatar, poluir ou
extinguir uma espécie, o homem e suas futuras gerações sofrem os efeitos desse
comportamento. Prova disso está no atual debate sobre os efeitos do aquecimento
global, que, por inúmeras razões, está diretamente ligado ao comportamento
predatório das sociedades capitalista em relação à natureza.
Por desenvolvimento sustentável, consideramos a seguinte definição:
capacidade de preservar os recursos naturais no presente para que as próximas
gerações possam fazer uso dos mesmos no futuro. Nesse sentido, a noção de
sustentabilidade inclui uma ética comportamental que engloba o controle da poluição
urbana e industrial, a eliminação do consumo de produtos que contenham
agrotóxicos, a redução nas produções de resíduos sólidos, o plantio de árvores,
enfim, tudo que possa garantir o equilíbrio no uso dos recursos naturais. Este,
porém, é um comportamento que vai de encontro ao modelo econômico de nosso
tempo, profundamente influenciado por um padrão de consumo que compromete o
18
uso racional dos meios naturais, produzindo, assim, a destruição da biodiversidade
que nos envolve.
Segundo Mawhinney (2005), as normas impostas na sociedade geram a boa
conduta de um ser humano. Essa é uma definição de ética. Por sua vez, a
sustentabilidade, conforme descrito anteriormente, define o uso racional dos
recursos naturais de modo que as futuras gerações possam usufruir dos recursos
naturais. Associando-se ambos os conceitos encontramos uma expressão capaz de
traduzir com proficiência o comportamento adequado do homem no sentido da
preservação do meio em que habita: ética da sustentabilidade.
Tal expressão pode ser utilizada como referência para compreendermos a
ideologia hippie, pois esse conceito faz parte da sua identidade. A ideia de respeito
aos recursos naturais vieram desde o surgimento do movimento hippie, que se
iniciou no final dos anos 50 e no começo dos 60. Hoje em dia, a preservação dos
recursos naturais e a filosofia paz e amor fazem parte do dilema dos mesmos.
2.1 - A ÉTICA DA SUSTENTABILIDADE COMO IDEOLOGIA E IDENTIDADE
A noção de ética da sustentabilidade é o resultado de um estudo sobre a
identidade hippie identificado a partir de pesquisas bibliográficas e da análise das
entrevistas decorrentes de estudo de campo realizado junto à comunidade “Refúgio
da Tribo”.
A princípio, o estudo abordava somente a sustentabilidade, mas após
observar os hábitos e comportamentos dos hippies da comunidade “Refúgio da
Tribo”, podemos chegar à conclusão de que esses hippies aderem à ética da
sustentabilidade por meio de uma prática que é, ao mesmo tempo, social e
ambiental, na qual ajudam a preservar os recursos naturais por meio da educação
ambiental, levando o conhecimento que possuem à comunidade em geral.
O artesanato é parte importante nesse processo, pois surge como mais uma
alternativa de usar os recursos naturais de forma consciente. Segundo Paulo Oliveira,
a comunidade “Refúgio da Tribo” extrai esses materiais de maneira sustentável e
utiliza-o como fonte de renda para sua família. Através de práticas sustentáveis como
essas, as pessoas que moram na Ilha de Caratateua conhecem essa sociedade
19
alternativa e, até mesmo, as ONGs internacionais que a incentivam. Na confecção
dos artesanatos, são utilizados materiais da natureza, alguns dos quais são
reciclados, gerando os produtos que serão vendidos em Belém e em outros Estados
do Brasil.
Outras características dessa comunidade são as danças e as músicas.
Podemos observar que os mesmos fazem pequenos festivais familiares, em
comemoração ao maior festival da década de 60, que foi o Woodstock, que juntou
muitos hippies na comemoração da liberdade.
2. REFÚGIO DA TRIBO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Em prol de uma vida sustentável, os hippies passaram a ter um contato
maior com o meio ambiente. Por essa razão, adotaram um estilo de vida que se
afasta do padrão consumista da sociedade capitalista. Sendo assim, muitos desses
grupos passaram a morar no campo onde podem cultivar frutas e legumes sem
prejudicar o meio natural.
Tal característica permite afirmar que o grupo “Refúgio da Tribo” adota como
modo de sobrevivência práticas sustentáveis, uma vez que residem em uma área
pouco urbanizada, onde o contato com a natureza os permite consumir o que eles
mesmos cultivam e colhem. Além disso, seus membros plantam árvores a fim de
recuperar áreas degradadas em barrancos, reciclam objetos que encontram no lixo
e, principalmente, levam a educação ambiental para crianças e jovens. O dilema da
preservação levou esses hippies a fazer manifestações em lugares que estão sujeitos
a causar grandes prejuízos à Ilha de Caratateua, como no local do projeto de
construção do Condomínio Horizontal Aphalville, localizado na Avenida Paulo Costa,
próximo ao bairro da Água Boa, cujas obras iniciais já desmataram uma grande área
de reserva natural.
Não há dúvida de que o conhecimento que os hippies da comunidade
“Refúgio da Tribo” possuem sobre os efeitos da degradação se deve à consciência
ecológica herdada e adotada pelos movimentos de contracultura que incorporaram a
sua experiência de vida à ética da sustentabilidade. A preservação dos recursos
naturais, ou seja, a sustentabilidade, sujeita esse grupo a transmitir seus saberes
20
para a comunidade, levando-os a mostrar e ensinar a forma adequada de
preservação dos recursos existentes na Ilha. Segundo seus membros, as
consequências dessa destruição estão aparecendo de forma acelerada, provocando o
aquecimento global, e, entre outros efeitos, estão levando a extinção de diversas
espécies que dependem do meio ambiente para sobrevivência.
Figura 2: Plantio de mudas da Avenida Beira-mar no bairro do Outeiro
A fim de combater tal degradação, os membros do grupo, através da ONG
GANV, têm adotado como medida o plantio de mudas na beira do barranco visando
minimizar o processo de erosão das praias locais. A fotografia acima foi tirada após
crianças e jovens terem feito o plantio de mudas na área da Avenida Beira-mar. Tais
plantas são de açaizeiro (Euterpe oleracea) e coqueiro (Cocos nucifera), plantas
adequadas para a recuperação de áreas degradadas.
3.1 - A MODA COMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA ÉTICA DA
SUSTENTABILIDADE
O movimento de contracultura possui uma identidade que se destaca na
sociedade, não apenas pelas suas atitudes ambientalistas, mas também pelo seu
21
modo de vestimenta. Suas roupas lembram o estilo indiano, com cores chamativas,
que são motivadas pelo culto à natureza. Por essa razão, suas roupas são feitas de
materiais reciclados, sandálias feitas de pneus ou camisetas de fibra de cânhamo
(NASCIMENTO, 2011). Atualmente esse modo de vestimenta mudou, pois as roupas
são feitas com elementos colhidos diretamente da natureza, ou seja, transformando-
se no que se convencionou chamar de moda sustentável ou “moda verde”.
Esse estilo de vestimenta pode ser tomado como um exemplo da
manifestação da ética da sustentabilidade, seja por caracterizar a identidade hippie,
ou por se demonstrar formas alternativas de uso dos recursos naturais. A moda, em
propriamente dita, contudo, é vista nesse contexto como algo efêmero, e não subjaz
o princípio da sustentabilidade, pois não procura ser produzida em massa.
Diante do exposto, podemos considerar que, sendo a ética da
sustentabilidade uma forma de todos os seguimentos estarem engajados na busca
de atitudes sustentáveis, essa perspectiva pode ser aplicada na moda, através do
uso consciente de roupas ecologicamente corretas. Os consumidores passariam a
usar roupas cujas técnicas seguem os padrões semelhantes aos adotados pelas
empresas que utilizam elementos naturais na confecção de sacolas ecológicas. O
mesmo pode ser dito dos artesãos que reaproveitam roupas usadas e as
transformam em outro produto, tais como colares, brincos, carteiras e bolsas, tudo
de forma sustentável e consciente.
22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 3: Conjunto de comportamentos característicos dos movimentos de
contracultura
O esquema acima mostra o conjunto de comportamentos vivenciados pelo
movimento de contracultura de ideologia ecológica, surgido após detida análise dos
padrões de comportamento identificados na dinâmica hippie (ver bibliografia).
Em primeiro lugar, nosso estudo abordou o que se convencionou chamar de
Movimento Anticonsumo, surgido após a segunda metade do século XX, muito em
razão dos problemas enfrentados pelas diferentes sociedades no que diz respeito ao
uso dos recursos naturais. A partir dele é possível abordar as diferentes facetas do
que vem a ser o movimento sustentável e suas características junto a grupos como o
analisado neste trabalho, a saber a comunidade “Refúgio da Tribo”.
Por consumo “verde” estamos caracterizando uma forma alternativa adotada
por aqueles que preferem produtos que não agridem o meio ambiente. O movimento
de consumo verde enfatiza a habilidade dos consumidores de agir em conjunto,
trocando uma marca pela outra. Esse tipo de consumo consciente foi adotado por
ONGs, estas mesmas impulsionaram uma política ambiental de que grandes
companhias modificassem seus produtos. Atualmente, esse consumo verde agradou
empresas que adotaram esse comportamento ambiental, passando a criar produtos
corretos que não agridam o meio ambiente e não prejudiquem a vida das pessoas.
Consumo verde Ética ambiental
Movimento anticonsumo
Ética da sustentabilidade
23
Enfatizando uma nova conduta, a terminologia “ética da sustentabilidade” foi
criada ao longo da pesquisa, a partir do estudo do comportamento da comunidade
de hippies chamada “Refúgio da Tribo”,
As ações desenvolvidas na comunidade hippie “Refúgio da Tribo”, mostram-
se comprometidas com a ética da sustentabilidade, pois englobam, além da
afetividade do homem com o meio ambiente, a responsabilidade de preservar os
recursos naturais de maneira que os mesmos possam suprir as necessidades das
gerações atuais e, sobretudo, das gerações futuras.
Esta nova ética se assemelha com sua precursora, a “ética ambiental”, que
segundo Carvalho (2008 apud PORTILHO, 2005) integra outros valores e saberes,
onde os sujeitos envolvidos se abrem para novas formas de relação com a natureza
e, em particular, para um processo de formação subjetiva que enfatiza a dimensão
ambiental. Por meio dela a relação com os seres não humanos, como parte de nossa
humanidade, amplia a noção de humanização, assim podendo construir ideais de
convivência amistosa, respeitosa e prudente com o ambiente natural e social.
Por fim, destacamos que através do contato com a comunidade alternativa
associada à ONG GANV (Grupo Ambiental Natureza Viva) esses conceitos (ou
reflexões) contribuíram para nossa compreensão do padrão de comportamento
socioambiental, histórico e cultural desejável. De todo modo, nossa experiência
demonstrou-nos que a ética da sustentabilidade, embora muito comum no discurso
de governos, empresas e autoridades no assunto não significa respeito aos
movimentos que os adotam. A confecção de biojóis e o uso produtos reciclados,
muito pelo contrário, é visto apenas como um estilo de vida alternativa cuja ideologia
ecológica, sendo o norte moral de seu comportamento, é a razão de sua
marginalidade social
24
REFERÊNCIAS
GUIMARÃES, Leandro. O apelo à consciência nos movimentos ecológicos e nos
movimentos por educação ambiental. Disponível em
http://www.cefetes.br Acesso em: 18 Jan. 2012.
MAWHINNEY, Mark. Desenvolvimento Sustentável, Uma Introdução ao debate
ecológico. São Paulo: Loyola, 2005.
NASCIMENTO, Dayane. Moda Sustentável. Disponível em
http://www.rdmonline.com.br. Acesso em: 12 Set. 2011.
PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é contracultura. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1986.
PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São Paulo:
Cortez, 2005.
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