Drogas: atuação do Estado questionada
Vidigal: custo de vida lá no alto
Ano V, No maio de 2014 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita53
Nem todos os eventos culturais da Maré continuam. O baile funk do Parque União chegou a voltar em outro local, mas parou de novo. O da Nova Holanda retornou no campo da Rubens Vaz. A chamada Força de Pacificação elaborou um documento com uma série de regras a se-rem cumpridas para que um evento de maior porte seja autorizado. Pág. 8 e 9
Em tempos de militarização, dois especia-listas explicam porque a lógica de atuação do Estado no campo da segurança pública causa resultados desastrosos e desvia o foco do que realmente interessa. O norte--americano Carl Hart, criado num gueto de Miami, diz que a “guerra às drogas” escon-de a origem da questão: a falta de melhores oportunidades e de inclusão social para os pobres. E o brasileiro Luiz Eduardo Soares explica como a lógica do Estado criminaliza pobres e negros. Pág. 10 e 11
As favelas da zona sul estão passando por transformações por causa da especulação imobiliária. Saiba como isso impacta o Vidigal,
onde o alto preço dos imóveis dificulta a vida dos antigos moradores e provoca a chamada “remoção branca”
ou gentrificação, ou seja, muitos se mudam e dão lugar a outro perfil de pesso-
as, pondo em risco a cultura da favela.
Pág. 6 e 7
Parado!
O dobro do tempo no trânsitoPág. 5
Obra da CedaeSerá que agora vai? Pág. 12
EducaçãoSeminário de pais e alunos dia 31/05
Pág. 12
É de pingaReceita de sacolé de caipirinha
orgânico Pág. 13
Centro de ArtesPág. 13
Lona da MaréPág. 14
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Cultura em tempos demi l i tar ização
Tanque das Forças Armadas circula pelas ruas da Maré
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Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,
Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531
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Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.
Parceiros:
Fotógrafa Elisângela Leite
Proj. gráfico e diagramaçãoPablo Ramos
Logomarca Monica Soffiatti
Colaboradores Anabela Paiva
André de LucenaAydano André Mota
Flávia OliveiraNumim/ Redes da Maré
Coordenadoresde distribuição
Luiz GonzagaSirlene Correa da Silva
Impressão Gráfica Jornal do Commercio
Tiragem 40.000 exemplares
Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré
Diretoria Andréia Martins
Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva
Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir
Patrícia Sales Vianna
Instituição Parceira Observatório de Favelas
Apoio Ação Comunitária do Brasil
Administraçãodo Piscinão de Ramos
Associação Comunitária
Roquete Pinto
Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas
Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança
Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias
Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros
Associação de Moradores do Morro do Timbau
Associação de Moradores do Parque Ecológico
Associação de Moradores do Parque Habitacional
da Praia de Ramos
Associação de Moradores do Parque Maré
Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz
Associação de Moradoresdo Parque União
Associação de Moradores
da Vila do João
Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda
Biblioteca Comunitária Nélida Piñon
Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa
Conexão G
Conjunto Habitacional Nova Maré
Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros
Luta pela Paz
União de Defesa e Melhoramentos do Parque
Proletário da Baixa do Sapateiro
União Esportiva Vila Olímpica da Maré
Editora executiva e jornalista responsável
Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)
Editor assistente Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)
Repórteres e redatores Aramis Assis
Beatriz Lindolfo (estagiária) Fabíola Loureiro (estagiária)
Rosilene Miliotti
EDIT
OR
IAL
PER
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HUMOR - André de Lucena: “Zezinho, o sábio”
Expediente
Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare
EditorialTempos de mudança
A edição deste mês nos leva a uma reflexão sobre quantas transformações estamos vivendo na cidade do Rio de Janeiro. As obras em preparação para os megaeventos mexem com o cotidiano de todos, como poderá ser visto na pág. 5. Nosso tempo livre vem sendo subtraído diariamente. Militarizada, a Maré, em particular, vivencia ainda novos tempos, com bastante polêmica (leia na reportagem de capa nas pág. 8 e 9).
Mas há mudanças para todos os lados. Os moradores das favelas da zona sul vêm enfrentando um processo de transformação que coloca em risco a cultura local. Nas páginas 6 e 7 trazemos o caso do Vidigal.
Por aqui, na Maré, não detectamos um processo de gentrificação quando fizemos reportagem sobre o custo dos imóveis (Ed. nº 50, de fevereiro passado. Leia pelo site: redesdamare.org.br), mas ainda é cedo para chegar a conclusões. A Maré também passa por mudanças. É preciso estar atento e, se possível, fazer um esforço para participar dos debates sobre esse momento, a exemplo dos Diálogos sobre Segurança Pública na Maré (pág. 11). Acompanhe pelas redes sociais (redes da maré).
Boa leitura!
Pioneiro do Parque União Beatriz Lindolfo Elisângela Leite
Antônio Fernandes de Freitas, mais conhecido como Capitão Brasil, tem 83 anos e mora no Par-que União há 50. Nasceu em Guarabira, município localizado no estado da Paraíba, e resolveu vir para o Rio de Janeiro trabalhar na construção do está-dio do Maracanã. Assim que chegou, sua função era preparar a comida para os operários da obra. Inicialmente, morou em Laranjeiras e depois veio para cá. Assim que chegou já existiam algumas ca-sas de taipa (barro) e alvenaria. A comunidade era coberta por barro e não havia saneamento básico. “Escolhi morar no Parque União porque quando passei pela Av. Bra-sil e vi que do outro lado já existiam casas, resolvi fazer a minha por aqui também”, conta ele. Pioneiro por aqui, ele deu nome a diversas ruas do P.U. (sigla usada pelos moradores para se referir à comu-nidade).
Um fato curioso do Capitão é estar sempre de terno, carregando a bandeira do Brasil. Em tempos de ocupação da Maré pelas Forças
Em tempos de ocupação, o Capitão Brasil pode ser confundido com um militar, mas ele é morador das antigas e um patriota que chama a atenção por onde passa
Armadas, algum desavisado pode confundi-lo com militar, o que ele não é. Ele é, de fato, um patriota. “Essa bandeira não tem preço, ela é de todos os bravos guerreiros do nosso amado Brasil”, exalta.
À frente da seleção de 1994
Uma situação divertida lembrada por muitos vem da Copa de 1994, quando o ônibus que transportava os jogadores vitoriosos da sele-ção brasileira passava pela Av. Brasil. O Capitão fez uma escolta à frente do cortejo, com a sua bicicleta e seu capacete personaliza-dos. Quem assistiu a essa cena não se esquece. Hoje em dia, em função da idade, ele não anda mais de “magrela”.
Ele fala emocionado de sua vontade de ter participado da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Porém, segundo ele, não foi possível por ter nascido apenas com dois dedos em cada mão. Assim, ele se tornou um pesquisador da Segunda Guerra. Além disso, criou a associação brasileira dos direitos sociais dos deficientes.
Sua esposa Maria Auxiliadora, com quem é casado há 48 anos, quer levá-lo para morar em Campos, no norte do estado do Rio, mas Capitão diz que vai morrer na comunidade que está marcada em sua vida e principalmente em seu coração. Ele segue com a ideia de viver até o seu último segundo no seu tão amado Parque União.
Capitão Brasil: sempre de terno e com a bandeira nacional
Maré nas ruas na segunda quinzenaO Maré de Notícias passou a circular na segunda quinzena de cada mês e não mais a partir do dia 10. Em geral, os exemplares chegam da gráfica por volta do dia 15. Primeiro são distribuídos nas institui-ções parceiras e nas Associações de Moradores. Em seguida, a equipe de distribuição passa de asso-ciação em associação, pega os exemplares e circula pelas ruas, deixando o jornal de porta em porta. Mais informações, fale com a gente (Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda. Tel.: 3104-3276. E-mail: [email protected]).
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Av. Brasil parada na altura do Parque União por causa das obras da Transcarioca
Ruínas localizadas na Ilha do Catalão, onde no passado havia grilhões que prendiam escravos
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Beatriz Lindolfo Elisângela Leite
O trânsito no Rio de Janeiro não está fácil para ninguém. O Maré de Notícias foi até os pontos de ônibus e de vans localizados próximos à passarela 10 da Av. Brasil, nos dois sentidos. Ouvimos a opinião dos cariocas sobre as obras que estão ocorrendo e sobre o tempo gasto ultimamente nos deslocamentos pela cidade. Todos os entrevista-dos relataram que estão gastando no trânsito, no mínimo, o dobro do tempo do que levavam há um ano.Intervenções como a Transcarioca e o Porto Mara-vilha, além da derrubada do elevado da Perimetral, estão sendo experimentadas pela população como obras de “imobilidade” urbana. A proibição pela pre-feitura da circulação de vans ligando as zonas nor-te e sul já tinha piorado o cotidiano das pessoas.
Cariocas estão gastando o dobro do tempo para se locomover por causa das obras na cidade
É devagar, devagarinho...Luana Galvão é moradora da Nova Holanda e tra-balha em Botafogo. É obrigada a pegar duas condu-ções para chegar ao trabalho. Antes, o tempo gasto até seu destino ficava entre 1h e 1h30; hoje, com as obras, passou para três horas. Luana considera a ida pior, pois de manhã o trânsito é mais intenso. “Está atrapalhando todo mundo, espero que na con-clusão aconteça uma melhora nesses engarrafa-mentos”, afirma Luana, que não perdeu o otimismo.
Cariocas descrentes sobre futuro
Para muitas pessoas essas obras nem deveriam estar acontecendo. A opinião é de que há outras prioridades que deveriam estar à frente de investimentos de bilhões de reais em mudanças associadas aos megaeventos Copa e Olimpíada. Amanda Wolf, moradora de Campo Grande, trabalha na Barra da Tijuca. Foi encontrada por nós aguardando condução na Av. Brasil. Antes das obras, ela gastava 30 minutos para chegar ao trabalho e hoje leva o dobro do tempo. “Essas obras são gastos desnecessários, são melhorias
só para certos eventos. Deveriam investir em educação, saúde, em segurança nas ruas e nos transportes públicos”, ressalta.
André Luiz, motorista da van 818, que faz o trajeto Av. Brasil x NorteShopping, contou que gastava 40 minutos para completar seu itinerário, mas agora está levando entre 1h30 e 2h. “Para nós morado-res da Maré está muito ruim esse trânsito, vai me-lhorar para quem trabalha na Barra”, opina. Antes, ele costumava fazer em um dia até 12 voltas. Este número caiu para sete, no máximo. O motorista mudou até o seu horário devido aos engarrafa-mentos, deixando de trabalhar na parte da manhã e preferindo tarde e noite, quando a situação é menos pior.
Glauber Nascimento, morador da Maré, trabalha em Del Castilho e para chegar ao seu destino está demorando uma hora, antes o tempo era de 30 minutos. “Para mim essas obras são só aparência”, diz. As maiores dificuldades para ele são a lotação e o tempo que fica dentro do ônibus.
Outra mudança sentida pelos entrevistados refere-se aos fins de semana. Os dias de sá-bado e domingo já foram mais tranquilos, sem o incômodo dos engarrafamentos. Hoje em dia não se pode dizer o mesmo.
Segundo a Secretaria Municipal de Transpor-tes, a cidade viverá intervenções com impacto no trânsito até os Jogos Olímpicos de 2016. A Transcarioca, ao menos, estará pronta em breve, antes da Copa.
LEMBRO, LOGO EXISTO - Memória e Identidade
Na região onde hoje é a Maré havia o Engenho da Pedra, onde em 1779 trabalhavam 36 escravos
Os escravos na Ilha do Catalão Texto, foto e pesquisa: Gilson Silveira, pesquisador
do Numim / Redes da Maré
Em 2012, como parte do tra-balho para produção do se-gundo livro do Núcleo de Memória e Identidade dos Moradores da Maré (Numim), sobre o Morro do Timbau e o Parque Proletário da Maré, nós do grupo de pesquisado-res fizemos um maravilhoso passeio pela Ilha do Catalão (uma das oito que foram ater-radas e anexadas ao Fundão para construção da Cidade Universitária). Neste passeio estávamos acompanhados do Seu Arnóbio e seu filho Beto, que era o nosso guia. Lá, dentre todas as impressionantes ruínas que ainda resistem, eu me de-tive diante do antigo portal de pedra coberto pela vegetação e o que me impressionou bastante foi quando o Senhor Arnóbio, um dos mais antigos moradores da ilha do Catalão, nos con-tou que ele mesmo viu quando crian-ça, ainda preservados, os grilhões que prendiam os escravos. Esse relato me trouxe a lembrança desse triste episó-dio da nossa história e aguçou minha curiosidade sobre o que se passou por aqui pela Maré e arredores no tempo da escravidão.
Nas nossas pesquisas sobre a forma-ção do território da Maré descobrimos que ele fazia parte da freguesia de Inhaúma, uma importante região agrí-cola e com vários engenhos de açúcar, entre eles o Engenho da Pedra cujo território corresponde ao que é hoje o bairro da Maré.
Nesse engenho, no ano de 1779, traba-lhavam 36 escravos que produziam 20
caixas de açúcar e 20 pipas de aguar-dente por ano. Pesquisando mais so-bre a movimentação de trabalhadores escravizados nesta região encontrei no relato de um viajante inglês chamado Thomas Ewbank, de 1846, que na atual Ilha do Governador havia uma grande propriedade que funcionava como um “centro de criação” de pessoas negras que seriam vendidas como escravos. Nesse lugar, meninos e meninas eram aprisionados até terem idade suficiente para serem enviados aos engenhos de açúcar e cachaça para trabalhar como escravos.
Por mais documentos, livros e registro que encontremos e que nos façam ter uma ideia do que acontecia há tantos anos, apenas a nossa imaginação tem a capacidade de nos transportar para aquela época e lá sermos testemunhas dos dias de trabalho pesado nos enge-nhos, dos castigos, da separação das famílias e todos os males a que foram submetidos os negros escravizados.
Mas, ao mesmo tempo, podemos ob-servar a luta do povo que não aceitava o cativeiro e conquistou a liberdade, pois – longe do que se pensa - ela não foi fruto da boa vontade de uma prin-cesa imperial, pelo contrário, foi fruto de uma enorme pressão da sociedade e da luta dos negros.
O fato é que mesmo após a abolição da escravidão a luta continua. Uma luta por respeito, igualdade, pela liber-dade de fato e, principalmente, para que os resquícios desse período fi-quem iguais às ruínas localizadas na Ilha do Catalão, ou seja, com seus gri-lhões destruídos pelo tempo.
Por isso que o 13 de maio, dia da li-bertação dos escravos no Brasil, sirva para homenagear a memória de mi-lhões de pessoas mortas sob o peso da escravidão. Que a data sirva ainda para nos alertar permanentemente contra os perigos do preconceito e da discriminação.
“Longe do que se pensa a abolição da escravatura
não foi fruto da boa vontade de uma princesa imperial, pelo contrário, foi fruto de uma
enorme pressão da sociedade e da luta dos
negros”
“Deveriam investir em educação, saúde, em
segurança nas ruas e nos transportes públicos”
Amanda Wolf
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Favelas da zona sul do Rio enfrentam a chamada “remoção branca”, ou seja, moradores se mudam por causa dos altos custos de vida. Este processo de gentrificação não ocorre somente no Rio. A diferença
é que muitas cidades estrangeiras criam políticas habitacionais para conter essas mudanças
Gentrificação“É necessário pensar a urbanização de outra forma, que priorize os direitos e necessidades dos moradores que
construíram a própria comunidade” Theresa Williamson, do Comunidades Catalisadoras
Gentrifica... O QUÊ ?!
Aramis Assis
As favelas do Rio de Janeiro, onde vivem 23% da população cario-ca, estão passando por um rápi-do processo de visibilidade que atrai novos moradores, turistas e investidores. Em geral, estão in-teressados no clima hospitaleiro, nos movimentos artísticos e cul-turais, nos preços mais acessíveis que outras partes da cidade, na localização muitas vezes próxima às áreas centrais já saturadas de imóveis e ainda nas peculiarida-des desses espaços que pos-suem identidade própria.
O problema é que essa movimentação teve como consequência o aumento absurdo dos alugueis, fruto da supervalorização imobiliária dessas regiões, dificultando a vida dos mora-dores que não possuem condições financeiras para se adequar às novas exigências do cha-mado mercado. Esse processo é chamado de gentrificação, o mesmo que “remoção branca”.
Esse fenômeno também está associado à rea-lização dos megaeventos de caráter internacio-nal que a cidade irá sediar, a Copa e as Olim-píadas, e à instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em diversas favelas do Rio.
A urbanista e diretora executiva da Comunida-des Catalisadoras, Theresa Williamson, apre-sentou seus estudos sobre regulamentação fundiária e planejamento urbano nas favelas do Rio, no ciclo de debates “Fala Vidigal”, que acontece uma vez por mês nesta comunidade da zona sul para discutir os problemas da alta
de preço dos imóveis.
O estudo explica que com a chegada da UPP já ocor-re aumento no preço dos imóveis instantaneamente, afetando os alugueis. Os serviços públicos como luz e água começam a ser co-brados a um alto custo e muitos moradores acabam sendo obrigados a sair de suas próprias residências; ou seja, não há remoção forçada, mas a chamada “remoção branca”.
Theresa conta que a gen-trificação é comum nas grandes cidades do mundo. Porém, as que foram bem sucedidas no enfrentamen-to do problema iniciaram uma regulação no setor imobiliário para dar aces-so à moradia para a classe econômica baixa. É o caso de Cingapura, com 90% do seu setor habitacional pú-blico, contemplando toda a classe média; de Londres,
onde 24% da população recebe aluguel social, e de Santiago do Chile, onde 20% da popula-ção recebe casas do governo.
A gentrificação, processo quase que inevitável nas grandes cidades, modifica as favelas em áreas mais luxuosas e caras. Ainda segundo o estudo, os estrangeiros e jovens, geralmente de outras regiões do Brasil, que chegam nesses espaços, não têm a intenção de explorá-los. O problema é que, mesmo assim, o lugar passa a vivenciar uma transformação.
Theresa explica que, além de lutar contra a “remoção branca”, deve-se também estar aten-to para evitar que a cultura vinda de fora não se sobreponha à da favela. “É necessário pensar a urbanização
de outra forma, que priorize os direitos e ne-cessidades dos moradores que construíram a própria comunidade”, frisa.
Um recorte da gentrificação na favela do Vidgal
Localizada no Morro Dois Irmãos, entre os bairros nobres do Leblon e São Conrado, a favela do Vidigal sofreu, após os anos 2000, grande urbanização e valorização; e com a entrada da UPP, em janeiro de 2012, pas-sou por um rápido processo de visibilidade, principalmente pela vista privilegiada para o mar.
Com esse crescimento populacional e de procura imobiliária, o Vidigal sofre com a precariedade na infraestrutura, no sanea-mento básico e na coleta de lixo. A Associa-ção dos Moradores já está em reunião com a prefeitura reivindicando investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e lutando por um planejamento urbano, já que as ruas estreitas demais e o excesso de pessoas tornam a acessibilidade do transporte pés-sima.
O artista plástico Vik Muniz e o empresá-rio Rene Abi Jaoudi já compraram casa no morro. Diversos outros produtores culturais, artistas e arquitetos se tornaram adeptos do lugar, como o músico pernambucano Otto. Há ainda aqueles que nasceram no Vidigal e não pretendem sair, como a atriz Roberta Ro-drigues.
O austríaco Andreas Wielend mora no Vidi-gal desde 2009 e é dono do badalado Hostel Alto Vidigal, localizado no Arvrão, área com uma das vistas mais belas da favela e local para bons negócios. Nessa região vendem--se muito imóveis para moradia e devido à grande procura os moradores acabam fa-zendo negócio próprio. Questionado sobre a supervalorização, Andreas afirma que “valori-zou muito sim, mas isso pode ser apenas es-peculação e depois de um tempo os valores acabam caindo novamente. O crescimento muito rápido normalmente não é saudável e o povo é que sofre com isso”, reconhece ele.
“As pessoas que não tem preconceito, a maioria profissionais liberais, estão descobrindo o Vidigal
como um lugar para bons negócios. Um imóvel que custava R$ 30 mil por volta de 2004/2005, hoje não
vale menos que R$ 350 mil” André Bacana, diretor da Associação dos Moradores
da Vila do Vidigal (AMVV)
A partir deste número, o Maré de Notícias começa a publicar reportagens sobre outras favelas da cidade, em edições alternadas.
Moradores do Vidigal se reúnem mensalmente para discutir os problemas
decorrentes da alta dos preços na favela
André Bacana, diretor cultural e social da Associação dos Moradores da Vila do Vi-digal (AMVV), comenta a atual “remoção branca” na favela. “O Vidigal está localizado entre duas áreas ricas que não possuem mais imóveis fáceis para comprar. Então as pessoas que não tem preconceito, a maio-ria profissionais liberais, estão descobrindo o Vidigal como um lugar para bons negó-cios. Um imóvel que custava R$ 30 mil por volta de 2004/2005, hoje não vale menos que R$ 350 mil”, afirma.
André afirma que orienta os antigos mora-dores a não venderem barato seus imóveis nem se mudarem para muito longe, pois isso provoca uma mudança de hábitos mui-to grande para quem está acostumado com a comunidade.
Silva Costa, corretor de imóveis no Vidigal, ratifica a fala de André ao afirmar que a maioria dos moradores se arrepende quan-do vende seu imóvel e se muda da favela. Segundo Silva, a supervalorização imo-biliária também faz com o que o morador aprenda a valorizar mais seu trabalho e se beneficiar desse fenômeno.
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Embora muitos eventos culturais estejam acontecendo, nem todos continuam. A Força de Pacificação adotou regras a serem cumpridas para eventos de maior porte e o organizador deve assinar um termo
de responsabilidade
Rosilene Miliotti
A rotina cultural não voltou à normalidade em toda a Maré. Alguns bailes funk, uma das atividades de fim de semana mais frequentadas por visitan-tes e moradores da região, aos poucos vão voltando a acon-tecer, porém em novos locais e não mais no meio da rua, por determinação da chamada Força de Pacificação.
Diversos eventos rotineiros, como shows de forró, rock e pagode, por exemplo, continuaram a todo vapor desde o início da ocupação militar, ao passo que muitos foram interrompidos, sem data para retornar, especialmente os realizados na Vila do Pinheiro e Vila do João.
Segundo o coronel Adriano Fructuoso, da Força de Pacificação, os organizadores precisam pedir autorização para cada evento de maior porte que desejarem
realizar. E tais eventos podem não ser autorizados se forem no meio da rua, como antes. Este é o caso do funk. Fructuoso diz que semanalmente é preciso renovar o pedido. Assim, o baile da Nova Holanda, que acontecia na Rua Teixeira Ribeiro, retornou no sábado, 26 de abril, no campo da Rubens Vaz próximo ao Ciep Hélio Smidt. O do Parque União voltou na sexta, 25 de abril, acontecendo próximo à Linha Vermelha, no campo, mas foi interrompido semanas depois e não está mais ocorrendo.
O fato de ter passado para quadras de futebol, saindo das ruas e da janela dos moradores, agradou boa parte da população local. “Frequento os bailes há anos. Para mim, o local está ideal porque que não perturba o sono de ninguém, mas ficou distante para quem não mora aqui”, pondera um morador da Nova Holanda, que preferiu não ser identificado. Ele defende a continuidade dos bailes por considerá-los uma tradição. “Se eles acabarem, vamos perder o que já tinha na comunidade. Meu pai já frequentava os bailes. É uma tradição”, afirma ele.
Entretanto, o funk não é uma unanimidade na Maré. Alguns moradores tinham ficado aliviados pensando que esses eventos haviam terminado. “Se nada mudasse em relação ao baile eu ia me mudar daqui, mas os policiais entraram e eu consegui descansar em casa para ir trabalhar no dia seguinte. Antes eu tinha que dormir em Nova Iguaçu, na casa de parentes”, diz um morador do Parque União.
Uma moradora da Nova Holanda conta que, a princípio, tomou um susto quando viu o retorno do baile, mesmo em outro local. “Sim, tem baile de novo. O som está mais baixo do que antes, mas às vezes eles ainda aumentam o som durante o evento”, conta ela.
Segundo apuramos, nem todos os organizado-res de eventos estão sabendo da existência do documento com as novas regras (leia na pá-gina ao lado). Certamente haverá contestação e voltaremos a tratar do assunto nas próximas edições. Muitas pessoas estão preocupadas com os eventos de rua, como as festas juninas que vem por aí, que são outra tradição local.
O que exige a Força de PacificaçãoLeia na íntegra o documento da Força de Pacificação que impõe várias regras para a realiza-ção de eventos na Maré. O organizador de um evento deverá cumprir os itens e ainda assinar um T e r m o de Responsabilidade.
Normatização das festas nas comunidades
- As festas serão autorizadas mediante contato prévio de 15 (quinze) dias de antecedência do evento, com o co-mando da tropa da área, mediante preenchimento do Termo de responsabilidade pelo responsável pelo evento. Este documento deve ser solicitado na Associação de Moradores ou ao Comando da Tropa na área.
- Essa autorização estará sujeita a não ocorrência de hostilização contra a Força de Pacificação e poderá ser revo-gada se essa condição não for atendida.
- Solicitar na Associação de Moradores e no 22º BPM o documento que comprove a ciência dessas instituições da realização do evento – o “Nada a opor” – e no Corpo de Bombeiros, caso a festa seja em ambiente fechado.
- O responsável pelo evento deverá se certificar e se responsabilizar que não haverá venda e/ou consumo de drogas, ostentação de armas, tiros, brigas e confusões antes, durante e depois do evento, sob pena de não haver mais ne-nhum tipo de festa em toda a comunidade, sendo a festa imediatamente finalizada se ocorrer algum desses eventos.
- O responsável pelo evento deverá fazer, no mínimo, um anúncio através de sistema de som sobre a proibição de venda de drogas, utilização de armas e confusões no evento.
- As músicas não poderão fazer apologia a sexo, droga e armas, bem como a altura do som não deverá perturbar a paz e o sossego dos moradores.
- O responsável deverá informar à comunidade que mora próximo ao local do evento sobre o dia, o horário de início e término da festa.
- O responsável deverá deixar o local do evento, no mínimo, nas mesmas condições em que o encontrou, evitando lixo jogado nas ruas.
- É recomendável que os menores de idade estejam acompanhados por adultos após às 22h.
- A Força de Pacificação não fará a segurança interna dos eventos, que ficará a cargo do realizador do evento. Ha-verá somente a intensificação do patrulhamento externo.
Após reunir todos os documentos ou em caso de dúvidas, o organizador do evento deve entrar em contato com a tro-pa pelo telefone 2519-5685. Qualquer irregularidade, perturbação da ordem, dano ao patrimônio, violência ou outro ilícito deve ser informado, o morador deve ser denunciado pelo Disque Pacificação: 3105-9717.
(!)
Não deixe o funk morrer
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Norte-americano diz que problema das drogas é gerado por falta de política pública e de outras oportunidades de inclusão social e econômica para todos os cidadãos
Um dos principais pensadores brasileiros sobre segurança pública defende a desmilitarização da polícia e a liberação das drogas. Lógica atual apenas
criminaliza negros e pobres
DROGASO que todos temos a ver com isso
(IN)SEGURANÇA PÚBLICA(IN)SEGURANÇA PÚBLICAA lógica perversa daA lógica perversa da
Silvia Noronha Rosilene Miliotti
O debate sobre as drogas no mundo deveria ser so-bre como gerar outras oportunidades econômicas e incluir socialmente as pessoas que acabam se envol-vendo com a questão. Em visita à Maré, no sábado, 10 de maio, o norte-americano Carl Hart, professor da Universidade Columbia, de Nova York, afirmou que o combate às drogas, do jeito que vem sendo feito, é um equívoco.“O que está por trás da questão é o abandono das pessoas envolvidas pelo Esta-do. Precisamos enfatizar que o problema central é a falta de oportunidades. Não devemos entrar no discurso governista de que o problema é a droga”, pontuou ele, que é negro e cresceu em um gueto (bairro onde vivem basicamente negros dos Estados Unidos) de Miami. “Também, para mim, entrar para o tráfico já foi a melhor oportunidade de vida que eu via”, contou ele, que vê semelhanças entre os guetos e as favelas do Rio.
Carl, entretanto, acabou estudando e se tornando neurocientista. Além de profes-sor, ele é neuropsicofarmacologia e pesquisador da Divisão de Abuso de Substân-cias do Instituto de Psiquiatria de Nova York. Para ele, o problema não é o consumo das drogas. Pelo contrário, ele defende a liberação inclusive da cocaína e do crack. A ideia é que as pessoas devem saber usar drogas. Caso o consumo vire um pro-blema, o Estado deve dispor de políticas públicas de tratamento para as pessoas.
Silvia Noronha Elisângela Leite
Em visita à Maré para participar do encontro Diálogos sobre Segurança Pública, no dia 6 de maio, o cientista político Luiz Eduardo Soares deu um panorama sobre a lógica perversa com que o Brasil lida com essa questão. Assim como o norte-americano Carl Hant (leia na pági-na ao lado), Luiz Eduardo é forte crítico ao modo como o Estado atua nessa área.Segundo ele, que é especialista no tema e foi secretário nacional de segurança públi-ca, um dos resultados da política governamental pode ser encontrado nas penitenci-árias: temos a quarta maior população carcerária do mundo. Ele suspeita que o país tenha a maior taxa mundial de crescimento de população carcerária, porque eram 140 mil presos em 1995 e hoje são 550 mil.
“Não somos o país da impunidade”, contesta ele, em oposição ao senso comum. O problema é quem são os presos. De acordo com o especialista, 70% são negros; dois em cada três estão respondendo por crimes contra o patrimônio ou por comércio de drogas; e 40% estão em prisão provisória, ou seja, não foram sequer julgados. “Nós sabemos que o problema é a desigualdade no acesso à Justiça porque o empresário não fica preso nem 24 horas”, afirma ele, que é professor da Uerj.
Ainda sobre o total de presos, apenas 12% estão na penitenciária por terem sido con-denados por homicídio. Entretanto, um número que persiste no Brasil é a quantidade de pessoas assassinadas. A cada ano ocorrem cerca de 50 mil homicídios dolosos (com intenção), dos quais apenas 8% são investigados pela polícia. Em números absolutos, a Rússia é a única nação com quantidade maior de assassinatos. “É uma catástrofe tão impressionante quanto não nos mobilizarmos integralmente em torno dessa questão. Não compreendo como isso não está no centro da agenda política”, ressalta.
Atuação da PM nas favelas
Embora Luiz Eduardo rejeite explicação fácil para esse panorama, ele correlaciona a atuação da Polícia Militar a esse estado de coisas. Isto porque 90% das prisões no Brasil são em flagrante, efetuadas pela PM, que por determinação constitucional não pode investigar. Dificilmente um crime de colarinho branco é descoberto num flagran-te; requer investigação, diferencia ele.
O problema seria político. Pela dinâmica atual, uma cobrança da mídia e de parte da sociedade por mais segurança pública produz, como resultado, incursões da Polícia Militar nos territórios populares. “Qual é a cor de quem pode ser preso em flagrante? Quais são os territórios da cidade objeto de atenção (da PM)? São os territórios estig-matizados, onde os suspeitos de sempre correspondem à descrição racista e classis-ta. São os pobres e negros que possivelmente cometem algum tipo de transgressão, como muitos cometem, mas só eles são objeto de um crivo seletivo”, critica ele.
A guerra às drogas, política defendida e praticada pelos Estados Unidos e seguida pelo Brasil, desvia o assunto, que deve ser debatido pelo governo, pela sociedade e pela mídia. Do jeito que vem ocorrendo há décadas, as pessoas acabam culpando vendedores e usuários de droga como se eles fossem a causa do problema, mas a questão envolve a sociedade, que não oferece oportunidades melhores e estigma-tiza os envolvidos.
O neurocientista esteve no Brasil para lançar o livro “Um preço muito alto” (Ed. Zahar), no qual afirma que a falta de informação sobre as drogas ilegais encobre os verdadeiros problemas enfrentados pelas pessoas marginalizadas na sociedade, que são negras em sua maioria. Para ele, a desinformação contribui para graves equívocos, como a aplicação de pouco dinheiro público direcionado ao tratamento.
Crack: usuários não são o problema
Um exemplo dado por Carl é o consumo do crack. Segundo ele, é preciso mudar a imagem negativa construída a respeito dos usuários. Os dependen-tes da droga precisam ser acolhidos e não abandonados. Porém, o Estado prefere culpá-los em vez de criar políticas específicas para eles. Carl com-para o que ocorre com os dependentes químicos de classe econômica mais alta, para os quais as drogas não geram o mesmo nível de problemas, pois as famílias têm recursos para lidar com a questão por conta própria.
“Eu me comprometo a escrever artigos para chamar a atenção internacional para o que está acontecendo no Rio de Janeiro”, finalizou ele, que pretende lançar uma campanha provocando a sociedade a questionar a atual política antidrogas, que gera tantos equívocos e provoca a mortes principalmente de jovens negros oriundos de espaços populares.
Assim como o norte-americano Carl Hunt, o especialista brasileiro também defende a legalização das drogas. Defende ainda a desmilitarização da polícia. Sobre este tema, ele é um dos autores da proposta de emenda constitucional (PEC) nº 51, que reestru-tura o modelo de segurança pública a partir da desmilitarização do modelo policial. A PEC 51 tramita desde o ano passado no Senado.
“Se nós não desmilitarizarmos a polícia ostensiva e não transformarmos o modelo po-licial brasileiro, nós vamos continuar com centenas de milhares de homens e mulheres uniformizados nas ruas (os PMs), destinados a reproduzir desigualdades buscando os que são passíveis de flagrante por atos visíveis em territórios marginalizados”, pontua.
Diálogos sobre Segurança
O evento Diálogos sobre Segurança Pública na Maré foi realizado no Centro de Artes (CAM), na Nova Holanda, organizado pela Redes da Maré e Observatório de Favelas em parceria com a Anistia Internacional. Trata-se de uma segunda fase da campanha “Somos da Maré e temos direitos”, lançada no fim de 2012 com o objetivo garantir os direitos dos moradores da comunidade à segurança e prevenir contra abusos e ações desrespeitosas por parte das forças policiais. Outros encontros serão marcados para debater a questão. Quinze favelas da Maré – do Conjunto Esperança até a Praia de Ramos – estão militarmente ocupadas desde 5 de abril.
Carl Hart conversa com estudantes da Redes da Maré
Carl passeia pelas ruas da Maré ao lado de Eliana Sousa, da Redes, e da jornalista Rebeca Lerer
“Qual é a cor de quem pode ser preso em flagrante? Quais são os territórios da cidade objeto de atenção (da
PM)? São os territórios estigmatizados, onde os suspeitos de sempre correspondem à descrição racista e classista.
São os pobres e negros” Luiz Eduardo Soares
Luiz Eduardo no evento Diálogos
sobre Segurança Pública na Maré
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Segunda-feiraDança de Rua
Iniciante - 18h às 19hIntermediário - 19h às 20h30
Faixa etária: acima de 10 anosIntrodução ao ballet (NOVA!)
Iniciantes17h às 18h (8 aos 12 anos)
Danças Urbanas em dose duplaSábado, 24/05Com a Companhia Híbrida ProduçõesOficina de Hip Hop, às 15h, aberta ao público, com Renato Cruz Espetáculo Moto Sensível, às 18h
“Um concerto para o Sol”Domingo, 25/05, às 18h
Espetáculo teatral infantil com a Cia Trança de Folia
Sexta-feiraDança de salão
Iniciante - 18h às 19hIntermediário - 19h às 21h
Acima de 16 anosOBS: No momento,
inscrições para damas só com o seu cavalheiro.
Quarta feiraDança Criativa
18h às 19h(acima de 12 anos)
Dança contemporânea (iniciante)
19h às 20h
Quinta-feiraBallet
14h30 às 16h30(acima de 12 anos)
Dança contemporânea (intermediário) 16h às 18h
(acima de 12 anos)Dança criativa (NOVA!)
18h às 19h (de 6 aos 12 anos)Com Tony Hewerton
Terça-feiraBallet
14h30 às 16h (acima de 12 anos)Dança contemporânea
(intermediário) – 16h às 18h30 (acima de 12 anos)
Consciência corporal 18h às 19h30 (acima de 16 anos)
Percussão 19h às 21h (acima de 10 anos)
Oficinas da Escola Livre de Dança da Maré
Mostra Maré de Artes Cênicas - maioSempre no último fim de semana de cada mês
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Sacolé de caipirinha orgânicoRECEITA - Por: Gendra, da RoçaEDUCAÇÃO
• 20 limões galegos • 800 ml de cachaça orgânica• 1,5 litro de água • 800 gramas de açúcar
MEIO AMBIENTE
Aramis Assis
O II Seminário de Estudantes e Famílias da Maré acontece no dia 31 de maio (sábado), na Escola Municipal Clotilde Gui-marães, em Ramos. O objetivo é construir um Plano Local de Educação para as escolas pú-blicas da Maré.Para isso serão priorizados três eixos de discussão: participação política, currículo e orçamento. Familiares e alunos terão a oportunidade de pensar sobre uma escola pública de qualidade e criar orientações a serem encaminhadas aos órgãos respon-sáveis.
O seminário ocorrerá como continuidade das discussões do Grupo de Pais e de outros espaços de debate do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP Maré). O Grupo de Pais é uma ação de mobilização social nas escolas, realizada pela Equipe Social da Redes da Maré, visando estimular a participação de todos no processo de escolarização de seus filhos e a reflexão dos assuntos relativos à escola e à comunidade. Mesmo quem nunca participou dessas discussões é convidado para o seminário.
Silvia Noronha Elisângela Leite
A Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae), do governo do estado, voltou a anunciar investimentos na Maré, que deveriam ter sido iniciados em março do ano passado. O presidente da Cedae, Wagner Victer, infor-mou que serão investidos quase R$ 450 milhões no sistema integrado de tratamento final de esgoto da Maré e de todas as comunidades que têm rejeitos lançados no Rio Faria Timbó e na Baía de Guanabara, pela Sub--Bacia do Canal do Cunha.A licitação CN 44/2013 está em andamento, porém a companhia aguarda o ok final do Tribunal de Contas da União para receber as propostas. Uma parcela dos recursos é do governo do estado e outra um empréstimo da Caixa.
Estão previstos a ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Alegria, no Caju, para onde serão levados os rejeitos orgânicos da região; a implantação de troncos coletores; e também a revisão da rede existente na Maré.
Questionado se a situação atual vai melhorar para os moradores e não apenas para a qualidade das águas da Baía de Guanabara, Victer garantiu que sim. “Claro que vai melhorar porque na realidade aquelas seis elevatórias muito antigas da Maré, que são as principais razões dos problemas, serão desativadas e colocada uma grande elevatória moderna”, afirmou ele, após se reunir com os dirigentes das Associações de Moradores, em 5 de maio, na Baixa do Sapateiro.
Victer garantiu ainda que haverá melhoria da rede coletora de esgoto. “Muitas redes que estiverem assoreadas ou abatidas (quebradas) vão sofrer intervenções. Eventualmente se tiver abatido pode abrir (a rua) ou botar um equi-pamento que a gente tem, que importamos dos Estados Unidos agora, chamado Topeirinha, que entra e desobstrui a rede”, explicou ele.
Segundo anunciado na reunião, os trabalhadores da futura obra serão contratados na própria comunidade. Em breve será feita uma campanha educativa para que moradores e comerciantes não joguem objetos na rede de esgoto, como lixo e entulho. Outra ação a ser avaliada em breve é o recadastramento dos imóveis, em função dos problemas já detectados na entrega da conta nas comunidades onde há cobrança de tarifa social da Cedae.
Alunos e responsáveis
unidosAgora vai, CEDAE?
II Seminário, dia 31 de maio, debaterá a qualidade do ensino
público nas escolas da Maré. Alunos e familiares estão todos
convidados
Cedae anuncia de novo o início das obras no sistema de esgoto
II Seminário de Estudantes e Famílias Sábado, 31/05/2014 das 8h às 12h
Local: Escola Municipal Clotilde Guimarães (próximo à passare-la 10, caracol, da Av. Brasil, no sentido centro)
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Só misturar no liquidificador e colocar nos saquinhos. Mas atenção: como o limão galego é muito ácido, é preciso bater no liquidificador uma vez só (uma rodada só), só para chacoalhar. Depois pode coar e jogar fora o bagaço.
R. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda. Programação no local ou pelo tel. 3105-7265 De 2 a a 6a, de 14h às 21h30
Tronco coletor existente Faria TimbóComplementação do tronco coletor Faria TimbóLinha de recalque a executar
Elevatória existenteElevatória a construirElevatória a desativar
Galeria de cintura a executarRede coletora a executar
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Herbert ViannaLona cultural
PROGRAME-SE !www.redesdamare.org.br
entrada gratuita
PROGRAMAÇÃOOFICINAS
Arte – costura2ª feira, 8h às 10h
Desenho básico2ª feira, 10h às 12h
Educação Ambiental2ª e 4ª feira, 16h às 17h30
3ª feira, 10h às 11h30e de 14h às 15h30
Design têxtil4ª feira, 14h às 16h
Contação de história5ª feira, 14h30 às 17h30
Artes visuais5ª feira, 16h às 17h30
SkateSábado, 9h às 12h
Oficina do movimento - dançaSábado, 10h às 12h
Complementação pedagógicaHorário e local a confirmar
Lona Música LivreCom Los Chivitos + Dona Joana. DJ Flora Mariah
Sexta, 16/05, 20h
Cia Urbana de DançaWorkshop
Terça e quarta, 27 e 28/05, 14hEspetáculo
Quinta-feira, 29/05, 19h
Urucuia – Grande Sertão Espetáculo infantil
Sexta a domingo, 23/05, 15h; 24 e 25/05, 16h
Salve os PrazeresEspetáculo de rua Sexta, 30/05, 14h30
R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréTels.: 3105-6815 / 7871-7692
[email protected] FACE: Lona da Maré / - Twitter: @lonadamare
cultura
Biblioteca PopularMunicipal Jorge Amado
Ao lado da Lona, atende a toda a Maré:Amplo acervo, brinquedoteca, gibiteca e
empréstimo domiciliar
Evento promovido pelo Boca de Siri já se tornou tradicional e este ano reuniu 400 pessoas
Feijoada!Dia de São Jorge é dia de...
Rosilene Miliotti Elisângela Leite
“Vou acender velas para São Jorge / A ele eu quero agrade-cer / E vou plantar comigo-ninguém-pode / Para que o mal não possa então vencer” (trecho da música Pra São Jorge, composição de Pecê Ribeiro, interpretada por Zeca Pagodi-nho). Para todo bom devoto de São Jorge, 23 de abril é dia de passar pela igreja – ou pelo terreiro – pela manhã; rezar, agra-decer, pedir e depois saudar o santo com feijoada e samba no pé. Não foi diferente no Parque Roquete Pinto, na Maré. Pelo quarto ano, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Boca de Siri promoveu uma feijoada em homenagem ao santo.O evento reuniu cerca de 400 pessoas, a maior parte de fora da comunidade. Eufrasio Gomes Junior, tesoureiro da agremiação, aproveita para convidar os moradores para os próximos eventos. “Infelizmente a comunidade ainda não aderiu. A comunidade comparece para des-filar, mas todos os eventos feitos por nós têm muito mais pessoas de fora do que moradores do entorno”, lamenta ele. Devoto de São Jorge, Eufrasio diz que a feijoada foi criada após a escolha do enredo que homenageava o santo.
O evento tem o objetivo de arrecadar fundos para ajudar no desfile da agremiação. Com o feijão bem temperado e samba do bom, os participantes não se limitam a um prato apenas. Na feijoada do Boca de Siri você come o quanto quiser. São cerca de 40 quilos de carnes e 15 quilos de feijão.
O artesão Ubirajara Cardoso de Moura, o Bira, conta que conheceu o Boca ainda quando era bloco. “Ajudo a escola doando meus artesanatos para sorteios”, diz. Para ele, o fato de os moradores não aderirem aos eventos da escola não é exclusividade do Boca de Siri. “Na Mangueira têm moradores que não participam de nada que a Escola promove, mas apare-cem para desfilar na ala da comunidade. Aqui a cerveja custa R$ 3, mais barato que no bar. Comprem pelo menos a cerveja aqui para ajudar”, brinca.
Fé e feijoada
A devoção ao santo acontece no mundo inteiro. Padroeiro de Portugal, Inglaterra e da Catalu-nha, dos soldados, militares, ferramenteiros e ferroviários, São Jorge enfrentou e venceu seus inimigos e dragões, que hoje, fazendo um paralelo, poderiam ser nossos problemas.
No Brasil, a devoção cresceu pelos escravos que, proibidos de adorar seus Orixás, passaram então a fazer seus pedidos, cultos e rituais fora das igrejas, associando a imagem de São Jorge a Ogum. Ogum é o Orixá da guerra, do fogo e da tecnologia.
E por que feijoada? Na cozinha afrodescendente há pratos que chegaram dos terreiros e foram para as mesas das casas, feiras e restaurantes. Isso aconteceu com a feijoada gorda. Já na feijoada à baiana, base para a de Ogum /São Jorge, o feijão torna-se sagrado e integra--se ao calendário das festas em muitos terreiros. Comer este prato é uma forma de manter o sentido religioso da festa.
Quem comanda a cozinha é o chefe José Carlos Sales e mais quatro auxiliares, todos voluntários
Samba do bom fez muita gente dançar pelo salão
Bira, sempre presente Eufrásio, tesoureiro do Boca
Salão concorrido no Parque Roquete Pinto
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• Como evitar que o cabelo caia? Arrancando ele antes• O que tem no início da avenida, no meio da praça e no final da rua? A letra ‘a’ • Qual palavra que tem 41 assentos? Ônibus (esta última é legal quando falada,
porque aí as pessoas vão pensar em palavra com 41 ‘acentos’)
Por Alunos do Preparatório para o 6º Ano. da redes da maré. Turma: 13h às 15hRindoatoa)
Moradorestodos os meses!
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Ao meu amorThais de Sousa, 19 anos, moradora do Morro do Timbau. Poema dedicado à Dávilla Sandes
Tempero de mãeSara Alves, moradora da Vila do João. Poema dedicado a sua mãe e a todas as mães da Maré
“Faces de Ana”Ana Maria de Souza vai lançar seu tão sonhado livro de poesias. Será no dia 22 de maio, às 10h, na Associação de Moradores da Vila do João, que fica na Rua 14, nº 224. Para saber mais, acesse o blog www.anamariadesouza.blogspot.com.br. O Facebook da artista é: Ana Maria de Souza.
O projeto Maré Latina está com inscrições abertas para o curso de espanhol intensivo a distância. As aulas começarão em 22 de maio e irão até a primeira semana de junho. Inscrições pelo e-mail [email protected]. Mais informações no blog www.marelatina.blogspot.com.br.
Em tempo: o projeto precisa de doações de lanche, material escolar, computadores usados, rádio e TV para as atividades presenciais que voltarão em julho.
É cheiro que me invadecausa-me felicidade.Ver minha Mãe Queridadisposta e descontraída,na beira do fogão,cozinhando o maisdelicioso feijão.Àquele feijão fresquinho,que só ela sabe fazer;não tem como os lábiosnão lamber!Aparente pequeno momento,eterno em minha vida,o que me cicatriza.Só tenho que agradecera Deus por me conceder,a filha de Marina, ser.
O começo nem sempre é a saídaMas seus olhos podem ser a partidaOlhos que me afrontamQue me passam brilhoQue transpassa alegriaQue nos invejosos chega a dar alergiaBoca que me seduzLábios que aumentam a minha sedeSorriso que transborda felicidadePor inteiro chamando a minha bocaQue maldadeSeu toque me arrepia
Seu abraço quente e forte me dá saudadeÉ garotoMeu coração você tomouE nessa chuvaDançaria com você destemidaQueria euA cada gota que passa do céu a terraEstar envolvida em seus braçosMas no momentoEscrevo em linhas paralelasQue agora mais que nuncaQueria estar com você a dançar na chuva.
Curso de espanhol a distância
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O Dia Nacional do Líder Comunitário foi celebrado em 5 de maio.
Parabéns a todos os que se dedicam à comunidade!
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