TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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Material de Estudo – Tema 6
Teoria e Prática da Mediunidade
Caderno 03/03
Baseado em conteúdo do livro “Diversidade dos Carismas”.
O médium: eclosão, desenvolvimento e exercício de suas faculdades.
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ÍNDICE
01–PSICOGRAFIA 3
02–INCORPORAÇÃO 7
03–PSICOFONIA 10
04–GRADUAÇÃODAPASSIVIDADE 12
05–PARTICULARIDADESDOTRABALHOMEDIÚNICO 15
06–REGRESSÃODAMEMÓRIAEPASSIVIDADE 19
07–PROCESSODEINCORPORAÇÃO 24
08–DESDOBRAMENTOÀDISTÂNCIA 27
09–DESINCORPORAÇÃODEUMESPÍRITODOENTE 30
10–CLARIVIDÊNCIAEVIDÊNCIA 32
11–COMUNICAÇÃOMEDIÚNICAMENTAL 33
12–FORÇAMENTAL 50
13–EXPERIÊNCIASDEUMDOUTRINADOR 50
CONSIDERAÇÕESPESSOAIS 112
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01 – Psicografia
A psicografia é uma diferente modalidade de transmissão. Para
melhor entender vamos observar o exemplo de Regina:
“Com alguns manifestantes, Regina vê, em imagens, o que o
espírito lhes transmite e quando isso acontece, desliga-se do texto que
a sua mão escreve, acompanhando a narrativa. Não pelas palavras,
mas pelas próprias imagens.
Não ocorre aí uma tradução. Ela acha que nesses casos, ela vê
diretamente o que se passa na mente dos manifestantes, onde não há
sons nem palavras, mas imagens. Ou talvez eles projetem tais
imagens externamente pelo simples trabalho intelectual de pensar
enquanto eles próprios escrevem.
Há espíritos que preferem ditar as comunicações e ela vai
anotando o que ouve.
Outros se aproximam e apenas solicitam que ela dê tal ou qual
recado para esta ou aquela pessoa.”
Entendemos que a técnica empregada por eles nessas diferentes
formas de transmissão varia segundo o estado evolutivo de cada
espírito:
• Alguns articulam claramente as palavras enquanto falam –
essa exposição será melhor refletido no item 10 –, como
qualquer pessoa comum que ali estivesse a dizer alguma
coisa;
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• Outros aproximam-se de Regina, colocam a mão sobre sua
cabeça e como que transfundem para a mente dela o
pensamento puro.
Ainda outros parecem também falar, mas ela não percebe
nenhum tipo de articulação das palavras, ou melhor, os lábios deles
não se movem. No entanto, ela tem a nítida convicção de ouvi-los
normalmente e é até capaz de distinguir sons familiares de voz, uma
vez habituada a eles.
Estamos, pois, diante da audição coclear, ou seja, os espíritos
manifestantes movimentam energias específicas junto à cóclea, no
ouvido interno, sem nenhuma interferência com a instrumentação
auditiva externa, que serve para captar sons e encaminhá-los aos
centros nervosos específicos.
Pode acontecer também, em tais casos, que ela veja as imagens
enquanto eles lhe falam, ou seja, combina-se a visão diencefálica com
a audição coclear.
Concernente a psicografia, estamos tão habituados a considerar
como fenômeno tipicamente mediúnico que nos esquecemos dela
como fenômeno anímico, quando o sensitivo funciona como médium
de si mesmo, ou seja: ele escreve uma mensagem do próprio espírito.
A psicografia é um fenômeno que pode estar em ambas
categorias, anímica ou mediúnica.
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É preciso observar ainda que, nem sempre a comunicação
psicográfica de característica mediúnica provem de um espírito
desencarnado.
Kardec já nos alertava para esse aspecto, ao informar que o
espírito encarnado também pode comunicar-se através de um
médium, como se ele estivesse desencarnado, pois não deixa de ser
espírito somente porque está preso a um corpo material.
Sobre esse aspecto, o Dr. Fodor tem interessante contribuição a
oferecer. Segundo ele, o jornalista inglês Willian T. Stead recebeu
durante quinze anos comunicações dessa natureza de vários de seus
amigos encarnados.
Aqui cabe uma pergunta:
É possível alguém transmitir pela psicografia, coisas que
nunca lhe diria pessoalmente?
Os espíritos assim se manifestam em resposta: o ser encarnado
não revela segredos pessoais a não ser deliberadamente, mas que o ser
real é muito diferente – ele fica atrás dos sentidos físicos e da mente,
usando um e outro como lhe apraz.
Não há como ignorar a dificuldade que existe em atestar
positivamente se um texto recebido por psicografia é de ordem
mediúnica ou anímica. Dificuldade igualmente encontrada no caso da
vidência, principalmente se o médium tem o desejo de mentir.
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Quanto a psicografia, não estamos dizendo que é impossível
atestar se a mensagem é mediúnica ou anímica, nas duas situações a
dificuldade é a mesma.
A doutrina espírita não ignora ou minimiza tais dificuldades,
mesmo na psicofonia, mas alerta para o fato de que o fenômeno
anímico não exclui nem renega o fenômeno espírita ou mediúnico. Ao
contrário, confirma que se o espírito encarnado tiver desejo, ele pode
manifestar-se por outra faculdade ao seu alcance, inclusive
materializando-se parcialmente.
Mas independente de anímico ou mediúnico, onde está o mal se
o conteúdo é saudável?
v A psicografia é a faculdade através da qual, espíritos
encarnados ou desencarnados se manifestam por escrito.
Podendo ter presença anímica;
v É uma faculdade anímica quando o próprio espírito do
sensitivo encarnado que se manifesta, em tais casos, pode
perfeitamente revelar um conhecimento acima do seu nível
habitual como encarnado;
v A terceira opção de manifestação seria aquela na qual os
espíritos encarnados se manifestam através do sensitivo,
também encarnado.
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Elaboramos um curso de desenvolvimento mediúnico
denominado de cinco fases onde acreditamos ter encontrado o
mecanismo de identificação quando ao animismo ou não na
psicografia que logo mais estará no site.
02 – Incorporação
As ligações do espírito manifestante com o médium se dá por
uma espécie de acoplamento do respectivo períspirito na faixa da
aura. A incorporação não é a mesma coisa que a aproximação, que
ocorre nos pontos sensíveis do médium, via chacras e plexos, sem
adentrar com seu períspirito no corpo do médium.
Segundo Kardec, “não é possível e nem preciso que o
manifestante substitua o espírito do médium. O que ocorre portanto, é
a ligação entre ambos, pelos terminais do períspirito – pontos de
sensibilidade – de cada um, como o plug da eletricidade que se liga
ou desliga da tomada”.
Quanto ao acoplamento, Hernani Guimarães Andrade assim
entende:
“O mecanismo de incorporação é fácil de compreender. Ele
pode principiar pela aproximação da entidade que deseja comunicar-
se. Este poderá, eventualmente, influenciar o médium, facilitando-lhe
o transe.
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O médium passa então a sofrer um desdobramento astral,
juntamente com o corpo astral, desloca-se parcial ou totalmente de
maneira a permitir que o corpo astral do espírito comunicante ocupe
parcial ou totalmente o campo livre deixado pelo corpo astral do
médium.
A incorporação é tanto mais perfeita quanto maior o espaço
cedido pelo astral do médium ao afastar-se do seu corpo físico,
deixando lugar para o acoplamento com o corpo astral do
comunicante.
Este – o espírito comunicante – deverá também sofrer um
processo semelhante ao desdobramento astral para permitir que o seu
corpo astral possa juntar-se ao espaço livre deixado pelo médium.”
A superposição do corpo astral do espírito ao restante
equipamento mediúnico implica na justaposição do cérebro astral da
entidade comunicadora ao cérebro fisiológico do médium.
Embora grande parte da consciência do médium tenha se
deslocado juntamente com a sua contraparte astral, ele ainda mantém
o controle da situação, graças à sua ligação com o corpo físico através
do cordão prateado.
Motivo de o médium nunca estar inteiramente inconsciente
durante o processo da incorporação deste tipo. As ideias que lhe
afluem ao cérebro, por indução do cérebro da entidade, podem no
momento parecer-lhe ideias próprias. Mas passado o transe, ele quase
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sempre se esquece do que foi exatamente registrado à sua mente em
ocasião.
Sabendo que não existe fenômeno mediúnico sem acoplamento
– encarnado x desencarnado – é oportuno explicar que o médium usa
seus próprios meios de expressão, inclusive o linguajar comum. Isto,
porém, não impede que as ideias transmitidas sejam do espírito. As
ideias são dos espíritos, o médium então reveste a linguagem e os
pensamento dele com suas próprias palavras.
Muitas pessoas desistem do estudo, acreditando que pouco
dessas complicadas informações foram absorvidas pelo intelecto.
Estão enganados, pois os registros tornam-se imortais, pois tudo
que aprendemos e temos interesse o cérebro físico transfere
automaticamente ao cérebro espiritual. Se assim não fosse, um
profissional de regressão de memória não teria sucesso. Esse
profissional obtém sucesso ao escutar os relatos de particularidades de
algumas existências daquela pessoa. Eis o psiquismo.
De posse momentânea do corpo do encarnado – quando o
envolvimento é mais profundo – o espírito se serve dele, como se
fosse seu, ou seja: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com
os seus braços, tudo conforme o faria se estivesse vivo, entre nós.
No fenômeno da mediunidade-simples de psicofonia, a chamada
incorporação tem o aspecto telepático, em que o espírito encarnado
fala transmitindo o pensamento de um desencarnado.
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Sobe esse aspecto do problema, há a seguinte informação no
“Livro dos Médiuns”, capítulo 22, item 240:
“A subjugação pode ser moral e corporal. No primeiro caso, o
subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e
comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele juga sensato: é
como uma fascinação. No segundo caso, o espírito atua sobre os
órgãos materiais e provoca movimentos voluntários”.
03 – Psicofonia
A respeito da psicofonia, assim se manifestou Allan Kardec em
“O livro dos Médiuns”, capítulo 19, item 166:
“Os médiuns audientes que apenas transmitem o que ouve não
são a bem dizer, médiuns falantes – psicofônicos. Esses últimos, na
maior parte das vezes, nada ouvem. Neles o espírito atua sobre os
órgãos da palavra, como atuam sobre a mão dos médiuns escreventes.
Querendo comunicar-se, o espírito se serve do órgão que se lhe
depara mais flexível no médium. A um, toma da mão, a outra, da
palavra; a um terceiro, o ouvido.
“O médium falando – psicofonia-sonambúlica – geralmente se
exprime sem ter consciência do que diz e muitas vezes diz coisas
completamente estranhas às suas ideias habituais, aos seus
conhecimentos e até fora do alcance da sua inteligência.
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Embora se ache perfeitamente acordado e em estado
aparentemente normal – sempre com consciência alterada – raramente
guarda lembrança do que diz. Em suma, nele a palavra é um
instrumento de que se serve o espírito.
Nem sempre, porém, é tão completa a passividade do médium
falante. Alguns há que tem a intuição do que dizem, no momento
mesmo em que pronunciam as palavras”.
O codificador distingue ainda o audiente do psicofônico,
chamando a atenção para o fato de que o primeiro limita-se a repetir o
que está ouvindo do espírito comunicante, enquanto que o outro não
tem necessidade disso porque o espírito vai diretamente ao seu
aparelho fonador, sem precisar falar-lhe ao ouvido.
É interessante dizer: o espírito recorre ao instrumento que lhe
parece mais adequado no médium, para desenvolver o seu trabalho.
Por isso escreve por meio de um, fala por meio de outro, ou dita ao
ouvido de um terceiro. Eis uma boa razão pela qual o médium deva
deixar que suas faculdades passem por esse processo de seleção
natural, por iniciativa dos próprios espíritos que o procuram para se
comunicar.
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04 – Graduação da passividade
Creio que vale a pena estudar esse aspecto, pela importância que
tem o conceito da passividade nos diversos mecanismos da
mediunidade em operação.
Muitos entendem que tornar-se passivo, ou dar passividade, é
entregar---se totalmente aos espíritos manifestantes para o que der e
vier. Chico era um exemplo disso, ele se entregava completamente,
mas jamais deixava de ser o comandante.
Passividade total, sem reservas, é inércia, é indiferença, é
inatividade. O médium espírita não é cavalo.
Podemos observar, portanto, que a passividade é graduada,
como muito bem afirmou Kardec, com a sua indiscutível competência
de linguística.
Receber uma comunicação sem resistência e transmiti-la
fielmente, sem reações emocionais é dever do médium responsável.
Não se deve, porém, entregar-se indolente ou indiferentemente ao
espírito manifestante para que ele diga o que quiser e faça o que bem
entender com o seu corpo, sua inteligência, seus conhecimentos ou a
sua falta de cultura.
O médium precisa dispor de uma bem treinada passividade, na
qual ele consiga matizar, graduar nas suas manifestações. Uma
passividade seletiva que lhe permita uma boa filtragem da
comunicação, mas que não se deixe dominar pelo comunicante ao
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ponto de este forçar a sua passagem com qualquer tipo de
procedimento.
Para que o exposto seja possível, a chave desse segredo está no
comportamento diário do médium controlado, sereno e equilibrado. O
médium impertinente, atento aos mil nadas da vida, naturalmente tem
uma mente composta de lixos mentais e inquietude excessiva. A sua
consciência ausenta-se temporariamente do corpo físico, enquanto
este serve de instrumento para que a manifestação mediúnica se
produza, mas não deixa de funcionar alhures no veículo perispiritual.
Eis o problema da pessoa que não se enquadra no silêncio do seu
mundo interior.
Portanto, da próxima vez que ouvirmos alguém dizer que os
médiuns devem “dar passividade”, é bom ter em mente o que
significa isso, com maior nitidez e convicção, pois o médium pode e
deve interferir quando for necessário filtrar a comunicação carregada
de impurezas, mas deixa que ela siga o seu curso fluentemente, com
paciência e tolerância.
Uma posição difícil, mas a mediunidade é difícil mesmo. Quem
não estiver suficientemente preparado para a tarefa ou disposto a
suportar seus contratempos, sem ser portador de mediunidade tarefa, é
melhor ser um bom e silencioso doador de energia de sustentação
vibracional nas sessões de desobsessão.
A seguir será demonstrado o que entendo por um médium
responsável que, longe de entregar-se às cegas ao exercício da
mediunidade, procura estudá-la, observá-la, esmiúça-la nas suas mais
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sutis características, a fim de orientar-se devidamente pelos seus
meandros, segredos e mistérios.
O espírito do médium não perde sua autonomia nem a sua
autoridade e soberania sobre o corpo emprestado à outra
individualidade que o manipula. O espírito do médium empresta sua
aparelhagem física, mas continua dono dela.
Tanto é assim que, se julgar necessário, poderá interromper a
comunicação em qualquer momento, voltando a oferecer a
passividade. Não há mediunidade inconsciente a rigor. O espírito está
sempre consciente e atento.
Essa consciência não se expressa pelo cérebro físico – que
naquele momento está sendo manipulado por uma mente estranha –,
mas sim no períspirito do médium, usualmente desdobrado, mas
presente à curta distância. Por isso é difícil ao médium registrar a
comunicação transmitida por intermédio do seu cérebro físico, mas
gerada por outra mente.
Coisa semelhante acontece com o sonho do qual nem sempre
podemos nos lembrar, porque as atividades desenvolvidas pelo
sonhador não ficam registradas no cérebro físico, e sim na sua parte
espiritual. Isso não quer dizer que a pessoa ficou inconsciente
enquanto sonhava. Apenas não guardou a lembrança do que
aconteceu.
Vamos a um pequeno entendimento em torno da mediunidade
inconsciente. A princípio não sabemos dizer qual é o nível de
implicação física e de aura. Assim sendo, buscamos nas informações
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do senhor Boddington em seu livro “University of Spiritualism”,
citado no livro “Diversidade de Carismas”:
“Indivíduos sujeitos a estados de transe profundo são as
pessoas mais práticas e objetivas, sem a menor ambição por se
projetarem dessa maneira. O transe inconsciente, ocorre em menos
frequência àqueles que pensam rápido e que aparentemente não
possuem a qualidade especial de aura, através da qual o estado de
transe se torne possível”.
05 – Particularidades do trabalho mediúnico
Para uma visão mais prática e ampla da mediunidade de
psicofonia em ação, procuremos estudar alguns aspectos dos trabalhos
mediúnicos da médium Regina.
“A medida que determinado espírito amigo se aproxima parece
que a sua mente vai se interiorizando e em seguida, ela experimenta
sensações semelhantes às que tem quando se desdobra e expande.
Outras vezes, sente como se alguém a abraçasse, envolvendo-a
em uma atmosfera diferente da habitual. Tem a impressão de estar
balançando para frente e para trás, até que perceber estar fora do
corpo, aí o espírito comunicante assume.
De outras vezes, vê-lo chegar por um lado, um pouco atrás,
colocar a mão direita sobre a sua cabeça, o que lhe causa uma
sensação de estar diminuindo de tamanho. Em seguida, ele começa a
falar.”
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Regina comentou as suas sensações em momentos diferentes e
com espíritos amigos diferentes. A respeito dos mesmos, cabe
algumas perguntas:
Quando o médium registra a presença de espíritos amigos e o
grupo se questiona. Por que eles não oferecem aquela mensagem que
tanto gostaríamos de ouvir?
A médium Regina certa vez perguntou a eles porque nem ele –
seu amigo – e ou mentores que se comunicavam com mais frequência
não brindavam o grupo com belas mensagens.
“Já dissemos tudo o que precisava ser dito. – respondeu ele –
Todos tem conhecimento das responsabilidades e já aprenderam que
dificuldades e lutas são instrumentos de aprendizado evolutivo. O
momento agora é de trabalhar. Nosso tempo é escasso e precioso. Não
podemos utilizá-lo em conversas meramente sociais. Há muito o que
fazer”.
Aí está contida uma lição de seriedade, responsabilidade e
pedagogia espiritual. Os espíritos sérios não fazem elogios, e quando
falam, a fala tem caráter de
instrução ou de estímulo.
Exemplo: “Temos obrigação de lembrarmos que é alegria
merecer a honra de servir ao Cristo.”
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Quanto ao desenrolar dos trabalhos – cada médium tem a sua
particularidade e situações que são diferentes em cada momento
mediúnico. Alguns exemplos dessas situações:
1. Quando as auras se ligam, o médium quase sempre experimenta
um choque, como se tivesse tocado um fio elétrico;
2. Às vezes, já fora do corpo, sente dificuldade na garganta, como
se alguém estivesse a remexer com ela ou como se estivesse
engasgado. Isto é certamente um resultado das manipulações um
tanto inábeis do manifestante no centro nervoso que comanda a
fala. O médium, como simples espectador do que se passa
percebe que o corpo fala, gesticula e argumenta – aí está um
estado mais profundo no estado mediúnico: de desdobramento
em suas diversidades;
3. O médium sente a repercussão dos males físicos de que se
queixa a entidade ou mesmo quando ela não se queixa. Como
nesse caso o fenômeno não é telepático, o médium não consegue
falar se o espírito manifestante teve a sua língua cortada.
A mediunidade nem sempre se apresenta como dita:
mediunidade telepática, na qual o médium reveste com as suas
palavras aquilo que o espírito deseja dizer. Eis os carismas da
mediunidade, suas nuanças.
Naturalmente, o médium experimenta desconforto físico das
mazelas orgânicas, mas também sente as mazelas sentimentais, o
estado de aflição, a angústia, desespero, revolta ou ansiedade. É difícil
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livrar-se dessas verdadeiras contaminações físicas e psíquicas, dado
que as sensações fluem de um períspirito para outro, através das
tomadas que ligam as auras.
Interdependência das mentes:
Como pode-se entender tal questão?
Nos fenômenos mediúnicos, as memórias individuais
permanecem autônomas em ambas as entidades – médium e espírito
comunicante. Faltando ao manifestante a palavra ou expressão
adequada, ele precisa buscar no dicionário verbal do médium, mesmo
aí, contudo, parece haver uma consulta entre ambos. Sem que um
invada a memória alheia.
Parece haver um confronto mental no campo do pensamento
puro e que o espírito do médium “traduz” na expressão que ele usaria
para se fazer entendido pelos destinatários da comunicação.
São diferentes os circuitos utilizados. É como se, em um
sofisticado equipamento de som e imagem, fosse cedido apenas o
acesso aos dispositivos de comando do toca-disco, não os circuitos
eletrônicos da parte nobre do sistema.
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06 – Regressão da memória e passividade
Para entender a situação exposta, é necessário observar duas
situações:
1. É preciso deixar o espírito falar tão livremente quanto possível,
dentro das normas habituais do procedimento, a fim de que se
possa ter uma visão nítida da sua problemática. Do contrário,
não é possível ajudá-lo. Principalmente nessa fase de exame, nas
profundezas das suas dores, ele não deve estar magnetizado ou
hipnotizado, ou seja, não se deve oferecer qualquer tentativa de
magnetização para que ele fale exatamente o que sente no
momento.
Observação: em situações de mediunidade consciente ou
inconsciente em desdobramento, com a consciência parcialmente
alterada ou sob severo controle, com palavras bem escolhidas, sem
veemências verbais e gestos de impaciência ou de nervosismo, aí sim
haveria dúvida quanto à autonomia da entidade.
Em tais casos, poderia haver a suspeita de que o espírito a falar
era do próprio médium e não um espírito desencarnado. Seria
desastroso para o trabalho que o comunicante fosse dominado pelo
médium de tal maneira a ponto de produzir uma comunicação bem
educada e artificial que jamais conduziria ao verdadeiro núcleo dos
seus problemas.
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É esta exagerada contenção dos médiuns equivocadamente
treinados para serem “bem comportados”, com as mãos imobilizadas
sobre a mesma, olhos fechados e voz controlada, o fator responsável
por muitas dificuldades encontradas pelos grupos em ajudar certos
espíritos que comparecem para serem tratados. Como ajudá-los se o
informe recebido deles não é uma expressão dos seus problemas e sim
uma versão toda arrumadinha e comportada, produzida em segunda
mão pelo médium inibidor.
O dirigente e o médium devem encontrar um meio entre permitir
que o espírito faça tudo quanto entender e como bloqueá-lo de tal
maneira que fixamos sem saber das suas verdadeiras e profundas
motivações. Não se pode exigir de um espírito indignado com uma
situação, que para ele é uma das mais aflitivas, que se comporte como
um bem educado, diplomata, em uma conferencia internacional de
negociações políticas. Pedir para que ele não quebre a mesa com seus
murros, é claro, mas que lhe seja permitido dizer dos sentimentos e
das emoções que lhe sacodem o ser.
O médium que não consegue esse equilíbrio entre os dois
extremos não está corretamente preparado para a sua tarefa.
Se bloquear demais, estará dando a sua versão do conflito que
lhe é mostrado, mesmo nas palavras, expressões, gestões e emoções
de quem as sofre. Em suma: convertendo a comunicação mediúnica
em uma narrativa anímica.
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Não se deve culpar o médium por essa atitude restritiva, mas à
sua formação, que não foi adequada.
2. Mesmo depois de hipnotizado ou magnetizado e regredido no
tempo, em busca de suas memórias pregressas, ele não está à
mercê da vontade e do arbítrio do doutrinador. É certo que ele
experimente, quase sempre, uma compulsão de dizer coisas que,
sob condições normais, ele não diria. Ouvirmos com frequência,
o espírito declarar que não sabe o motivo de estar dizendo isto
ou aquilo.
Observamos inicialmente a sua resistência à magnetização e
posteriormente, a relutância em dizer o que ele sabe que precisa dizer.
Nunca, porém, é forçado a dizer o que não quer.
Pelo contrário, frequentemente pedimos a ele que diga apenas o
que desejar. Não é forçá-lo a contar a sua história para satisfazer
eventuais curiosidades, mas para que tome conhecimento dos
fantasmas e das aflições que traz arquivadas na sua memória, mas que
ele bloqueou para esconder---se por algum tempo da dor.
Por isso, hipnotizado ou não, o espírito não é apenas deixado
livre para expressar seus pensamentos e emoções, mas até estimulado
a fazê-lo a fim de que possamos avaliar toda a extensão de sua dor, de
suas angústias e podermos, dessa maneira, ajudá-lo a resolver seus
impasses.
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A técnica da regressão é de grande eficácia nos casos em que o
espírito manifestante se coloca obstinadamente na posição de quem
está apenas cobrando uma dívida, no exercício pleno de um direito
que lhe asseguram as leis divinas, ao vingar-se de alguém que, no
passado, tenha cometido contra ele atrocidades e arbitrariedades.
Em princípio, isso é verdadeiro, pois é fato que a lei autoriza, ou
melhor, tolera ou permite a cobrança da dívida cármica. O Cristo
advertiu que: “pecador é escravo dos pecados, que nossas faltas nos
seriam cobradas até o último ceitil e que não insistíssemos nelas para
que não nos acontecesse ainda pior”.
Isso não quer dizer, contudo, que a vítima tenha de tomar a
vingança em suas mãos ou assumir a postura de cobrador para que a
reparação se faça perante a lei cósmica. Quer ele se vingue ou não, o
devedor tem seus ajustes programados.
“O bem é a moeda que paga as nossas dívidas”.
O apóstolo Paulo entrou na vida física como devedor e a deixou
dizendo: “hoje estas mãos estão limpas”.
O espírito vingativo nos sente como éramos e não como somos
no presente.
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Em qualquer situação, quem sofre fica livre do problema e quem
causa a dor se dá mal, porque reabre o ciclo da dor que virá como
reação futura.
Quem se condiciona ao ódio vingativo, tem a ilusão de que
aplaca as dores. Acha que vingando, estará se libertando, quando ao
contrário, fica preso ao antigo algoz, convertido em vítima.
É diante de semelhante impasse que costumamos recorrer à
técnica de regressão da memória, para que o vingador seja
confrontado com o seu passado e se certifique das razoes pelas quais
sofreu as aflições que lhe foram impostas pela sua vítima de hoje. O
objetivo da regressão, é portanto, ir buscar na memória do vingador
de hoje, o episódio que o expôs aos rigores da lei, quando sofrem nas
mãos do seu adversário.
O processo da regressão da memória é um instrumento auxiliar à
mediunidade que nos permite, mostrar ao perseguidor de hoje o
argumento irrespondível, fornecido por ele mesmo, para convencê-lo
de que ele pode continuar praticando o mal, se ainda existe débitos,
mas se ele foi conduzido ao trabalho mediúnico é porque chegou o
momento do basta. Evitando assim, outra reviravolta, em futuro
imprevisível, mas inevitável.
Na literatura espírita, observamos que a magnetização para se
obter a regressão é praticada via passes dados no corpo do médium –
nesse caso alguém precisa dispor de tais faculdade no grupo
mediúnico. No nosso caso, eu utilizo as mãos na testa do médium,
sem tocá-lo, e usamos as palavras como comando e elemento indutor.
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Aí cabe uma pergunta: que efeito tem essa regressão sobre o
médium?
É claro que ele recebe a sua quota de magnetismo. Ele fica um
tanto sonolento, mas ao retornar, logo que o espírito manifestante é
desligado, ele retorna ao normal, poderá ser ajudado por meio de
passes dispersivos, aplicados de preferência transversalmente ao invés
de longitudinal.
Os passes longitudinais não são também dispersivos?
Sim, são dispersivos, mas no início da regressão, o médium foi
saturado de fluidos magnéticos. Assim sendo, no final do atendimento
ao espírito necessitado, parece-nos aconselhável a retirada dos fluidos
ainda existentes no médium via o passe dispersivo transversal, ou
longitudinal, conforme opção do passista.
07 – Processo de incorporação
Vamos mais uma vez recorrer ao exemplo de Regina: “Ela
percebe que a entidade às vezes se recusa a incorporar-se, e mesmo
estando ali, ao seu lado, ainda se mostra indecisa ou mesmo disposta a
recuar.”
Nesse caso, é aconselhável que o médium informe ao dirigente,
para que utilizando palavras cheias de sentimento, ofereça estímulo ao
desencarnado e se necessário, a imposição das mãos na cabeça do
médium, com moderação.
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“Ela diz sentir os entrechoques da luta que se passa na
intimidade do espírito em forma de pressão indefinível que, se durar
muito tempo, causa-lhe enorme canseira.
Em certas ocasiões, ela precisa mesmo pedir ajuda do dirigente
para que a ligação se faça com o auxilio de passe magnético. Nesses
casos, o impacto do choque elétrico é bem mais forte. Parece que
chega com uma carga superior à sua.” Não há como ligar suavemente
os dois campos magnéticos em situações como essa. Como na
eletricidade, o circuito está aberto ou fechado, ligado ou desligado.
Não pode estar meio aberto ou meio fechado.
“De outras vezes, ela vê a entidade à sua frente, antes da
incorporação, a fazer-lhe ameaças, dizendo que vai acabar com ela.”
Nessas situações, ela também pede ajuda, mesmo porque já se
encontra naquela etapa da incorporação, com a sua sensibilidade um
tanto exacerbada, como se estivesse com os nervos à flor da pele.
Como ainda não se acha no seu próprio corpo e está
condicionada às suas limitações, acaba por registrar uma tendência à
intimidação.
Cabe ao doutrinador, nesse momento, proporcionar ao médium
o conforto de sua presença e de sua confiança, assegurando-lhe que
nada poderá acontecer àquele que está a serviço do bem, o que é
estritamente verdadeiro.
O médium é o culpado pelo afastamento do espírito sem autorização
do responsável pelo trabalho mediúnico?
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
26
Na maioria das vezes, sim. Até porque, o observamos que o
mesmo não acontece com outros elementos do grupo.
Quais são os motivos?
O mais comum e o principal é o mundo íntimo do médium, o
qual se desvia do foco vibratório. Ou no momento de indecisão,
quanto a sua capacidade em atender aquela entidade.
O afastamento feito a revelia do dirigente tem alguma consequência?
Tal afastamento torna-se constrangedor, pois deixa o dirigente
falando sozinho e como se não bastasse, cria a possibilidade desse
espírito permanecer, perturbando o médium após o término da
reunião.
Nesse momento tem alguma providência que o doutrinador possa
tomar?
Sim, a de solicitar que o espírito retorne ao processo de
incorporação para que a sua doutrinação seja concluída. Não resta
dúvida que tal procedimento será prejudicial se o grupo ou o médium
não entender essa postura do dirigente.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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08 – Desdobramento à distância
Abaixo será exposto alguns exemplos de atividades mediúnicas
em desdobramento à distância e suas nuanças:
v Há casos em que a entidade a ser tratada não se encontra no
recinto da reunião, mas no reduto. Regina percebe ou é
informada pelos amigos espirituais responsáveis pelo trabalho
que terá de ser desdobrada – tudo indica que nesse
desdobramento o seu corpo físico tenha ficado consciente – e é
levada até onde se encontra a entidade com a qual se deseja o
diálogo. E onde o espírito tem suas instalações e o seu grupo é
que é efetivada a ligação períspirito a períspirito, a partir de lá é
que a comunicação é transmitida ao corpo físico, junto à mesa
do trabalho mediúnico;
v Regina desligou-se do corpo e saiu, após caminhar algum tempo
– esse tempo é diferente do nosso – chegaram a uma região onde
o terreno era bastante acidentado. O amigo espiritual trazia uma
pequena lanterna semelhante a um lampião. Desceram por um
branco, percorrendo uma trilha estreita. Era possível divisar
pequenas cavernas, mais abaixo, simples buracos abertos no
branco. Foi daquele sinistro cenário de pesadelo que a
comunicação se transmitiu, pois se tratava de um espírito de
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
28
nariz adunco – expressão facial indescritível – vestindo um
manto indefinível;
v Outra experiência assustador para Regina foi o seu encontro, em
desdobramento, para servir de médium junto a uma comunidade
de bruxos. De repente, eles começaram a dançar um ritual com a
óbvia intenção de intimidá-la. Até aí ela descreveu as peripécias
ao doutrinador. Mas não se lembrava de mais nada depois disso.
É que o chefe daquela fantástica confraria de sombras acabara
de incorporar-se, isto é, estabelecer com ela a ligação
perispiritual para dialogar com o doutrinador. Embora a
literatura não tenha dito que esse “apagão mental” tenha sido
motivado pelo exercício da mediunidade inconsciente, eu
acredito que sim;
v Em outra oportunidade, Regina foi levada ao local onde terrível
entidade estava de plantão debaixo de uma árvore e dali não
concordava em arredar o pé. Feita a ligação, pode ser
doutrinada. Já na reunião seguinte, foi possível levá-la a sala
mediúnica;
v A médium tem uma ternura muito especial e antiga por uma
dessas entidades. Regina foi sua filha em agitado período da
civilização egípcia – certa vez comunicou-se dessa maneira –
encerrava-se o atendimento da noite aos espíritos necessitados,
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
29
quando Regina divisou, ao longe, através de um cone luminoso,
a figura da entidade. Foi de lá mesmo que ela começou a
transmitir-lhe seu pensamento, mas não por incorporação ou
contato espiritual, e sim por palavras via telepatia. Ela parecia
falar e Regina repetia o que ouvia como uma intérprete. A
entidade, porém, preferiu modificar o processo para que a
comunicação fosse mais nítida. Logo sentiu-se desdobrada e
levada até o espírito.
O espiritou puxo-a para si, deitou-lhe a cabeça em seu colo e começou
a acariciá-la mansamente. A partir desse momento ela percebeu que,
através do seu corpo, lá na sala mediúnica, a comunicação chegava
aos demais companheiros. Foi um momento inesquecível para ela. De
volta ao corpo, foi vencida pelas emoções e começou a chorar;
v Ela se lembra de determinada comunicação, em que fora levada
a determinado local, por um caminho iluminado. Subitamente,
venerável entidade aproximou-se, parando a poucos passos dela.
O espírito ergue o braço direito e começou a transmitir o seu
pensamento enquanto o corpo físico, junto aos companheiros
encarnados, reproduzia o teor da mensagem.
Todos os exemplos expostos acima têm o objetivo de fortalecer
o entendimento de que nada na mediúnica é estático, ela é dinâmica.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
30
Os espíritos superiores ou não, tem as suas técnicas pessoais,
relacionado com as possibilidades mediúnicas do médium.
Todos os fenômenos quanto à mediunidade são produzidos via
particularidades de cada médium. Esses três cadernos retratam as
experiências de Regina, mas as diversidades dos carismas são
individuais, mesmo o espiritismo sendo um só.
09 – Desincorporação de um espírito doente
A desincorporação dos companheiros em tratamento sempre
causa certo choque, como no início, ao serem feitas as ligações
perispirituais.
De volta ao corpo físico, Regina, como outros médiuns, pode
necessitar de alguns momentos para reassumir a consciência de sua
própria identidade, do local onde se encontra e coisas assim.
É como se, subitamente acordada por uma explosão, ela
precisasse tomar conhecimento do que se passa. A intensidade dessa
dissonância depende, obviamente, do estado de desarmonia do
espírito que acaba de servir-se de seu corpo físico.
Alguns deles, mesmo que causando choque inicial ao se
incorporar, desligam-se sem grandes problemas, porque conseguem
tranquilizar-se durante o longo diálogo mantido, em função dos passes
que receberam e das preces que foram pronunciadas a seu favor.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
31
Após certas incorporações mais traumatizantes – quando os
espíritos despertam em desespero para uma realidade dolorosa – ela
volta com uma terrível sensação de vazio na mente, como se não
tivesse mais cérebro, fosse incapaz de pensar e nem mesmo soubesse
sua identidade. É uma sensação angustiante e aflitiva.
Ela percorre o ambiente com o olhar, observa as pessoas em
torno da mesa, rostos familiares, afinal de contas nada daquilo faz
sentido – pensa ela. E pergunta-se onde está, quem é aquela gente ali,
que estão fazendo. É o momento de o doutrinador interferir mais uma
vez com os passes para dispersar fluidos que ainda a envolvem e a
relembrar de que ela é Regina.
A profundidade dessas sensações não é corriqueira. No caso de
Regina, é que ela se doa totalmente, propiciando exteriorização em
grau elevado do seu corpo perispiritual, pelo fato de ter alcançado um
alto grau de evolução de sua mediunidade e coração evangelizado,
possibilitando essa grande confiante.
Se algum médium, ao retornar ao corpo físico, sofrer
repercussões dos resíduos ali deixados pela entidade manifestante,
basta alguns passes para que ele se refaça com relativa presteza.
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10 – Clarividência e vidência
Existe diferença entre elas?
Sim. Partindo do exemplo formulado por Allan Kardec de que
“médium é a pessoa que pode servir de intermediário entre o espírito
e os homens, não há como deixar de concluir que somente há
fenômenos mediúnicos quando entra em ação essa estrutura básica, na
qual figuram o espírito desencarnado e os seres encarnados”.
Para melhor entender, propomos a separação do termo
clarividência para caracterizar apenas os fenômenos de vidência à
distância pelo espírito encarnado em desdobramento, o que o
conceitua como fenômeno anímico.
Neste caso, ficaria o termo vidência reservado apenas para os
fenômenos de natureza nitidamente mediúnica, quanto contamos com
o esquema básico de que falamos, ou seja: quando há espírito (fonte
transmissora). Por certo comodismo foi adotado a primitiva expressão
clarividência, palavra proposta pelos primeiros magnetizadores
franceses. Em torno da palavra vidente – não estamos falando de
sensitivo que vagamente vê, e percebe intuitivamente – muito ainda se
tem que estudar, se levarmos em consideração dois aspectos:
1. O médium vidente julga ver com os olhos, os espíritos, como os
que são dotados de dupla vista, quando na realidade é a alma
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
33
quem vê, por isso é que eles tanto vêem com os olhos fechados,
como com os olhos abertos;
2. Quanto aos médiuns videntes propriamente ditos, ainda são mais
raros e há necessidade de se ter muita prudência em relação a
sua classificação e à sua condução, senão diante de provas
positivas.
Provas positivas: procurando sanar essa e outras dificuldade em
torno dos fenômenos da mediunidade, elaboramos um curso teórico e
prático assim identificado “Regras e normas para o desenvolvimento
mediúnico”.
11 – Comunicação mediúnica mental
A comunicação mediúnica é via linguagem dos pensamentos?
Kardec nos esclarece dizendo: “Os espíritos só têm a linguagem
do pensamento, não dispõem da linguagem articulada, pelo que só há
para eles uma língua”.
Seguindo Kardec, temos o entendimento do porque os espíritos
que ao dirigirem-se ao médium, não o fazem em francês, inglês, árabe
ou grego, mas pela linguagem universal que é a do pensamento.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
34
Nesse conjunto de mente e cérebro, que após recebido o
pensamento gerado pelo comunicante, incubem-se de comandar os
instrumentos necessários à fala ou a escrita.
Aqui cabe mais uma vez um dos exemplos de Regina quanto ao
registro de Kardec:
“Alguns articulam claramente as palavras (...) – disse Regina”.
Essa afirmação está correta, pois ela referia---se à mediunidade
de psicografia e Kardec refere-se ao fenômeno de psicofonia –
mediunidade de incorporação.
Assim entendido, tudo fica claro e fácil, mas é necessário não
desprezar as nuanças, denominadas por Hermínio C. Miranda de
“Diversidade dos carismas”.
Aqui começa uma epopeia em torno da teoria e prática da
mediunidade:
Como funciona o fenômeno da xenoglossia, segundo o qual o
comunicante fala a sua própria língua e não a do médium?
O processo continua sendo o mesmo: a entidade comunicante
emite seu pensamento e o envia através dos canais condutores do
médium, nos quais pode encontrar matrizes de línguas que o médium
tenha falado em outras existências ou aprendido na atual existência. O
que nos parece, é que uma ação conjunta se apresenta, quanto a quem
transmite quanto a quem recebe.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
35
Convém enfatizar que não é no cérebro físico do médium que
ficam gravas lembranças de línguas faladas em outras encarnações. O
cérebro somente registra o que se aprende durante a existência do
corpo físico a que pertence.
A linguagem que ali está com as suas estruturas arquivadas,
podemos comparar a um computador, composto de símbolos sonoros
e gráficos, cada um com o seu valor próprio. Mas não é aí que ocorre
o processo da elaboração do pensamento, que vem da individualidade
do espírito, através do períspirito.
Observando o croqui a seguir, fica mais fácil o entendimento
quando ele mostra o espírito a esquerda, transmitindo o seu
pensamento ao médium a direita, ligeiramente desdobrado:
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
36
Eis a telepatia estabelecida entre espírito e médium, na qual em
seguida o médium reveste com as suas palavras e transmite ao
encarnado que se encontra ao seu lado.
Se o espírito manifestante pudesse transmitir o seu pensamento
diretamente ao ser encarnado com o qual desejasse comunicar-se, não
precisaria recorrer a nenhum intermediário – médium – e por
conseguinte, nem ao recurso da linguagem humano, utilizando-se
diretamente da única linguagem de que se dispõe, ou seja: a do
pensamento.
É nessa linguagem de indução mental que os espíritos
irresponsáveis, ao encontrar espaço na pessoa, atuam para prejudicá-
la. Em mediunidade expressa, o problema que os espíritos encontram,
na maioria das pessoas, é a falta de condições necessárias e
suficientes para o processo de comunicação.
Precisa-se valer de alguém que lhe sirva de intermediário e que
possa captar o seu pensamento, convertendo-o em palavras escritas,
ou faladas, inelegíveis à(s) pessoa(s) às quais a mensagem se destina.
Logo, a comunicação mediúnica é a resultante de um
entendimento telepático – de mente a mente. Não esquecendo que o
espírito comunicante, como diz Kardec, “compreende” todas as
línguas, pois que as línguas são expressão de um pensamento.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
37
Expressão de um pensamento: o espírito do alemão, do
italiano, do argentino, projetando telepaticamente o pensamento de
uma cachoeira, qualquer médium do mundo terá condições de dizer
na sua língua a palavra “cachoeira”.
Diante da dinâmica dos planetas, do dia-a-dia da humanidade, é
correto engessar o nosso entendimento somente em uma direção
quanto ao acima citado?
Entendo que não. Até porque, Kardec nos orientou dizendo que:
“toda vez que a ciência dos homens descobrir novos horizontes e a
doutrina espirita considerar verdadeira, o espiritismo deve aceitar,
pois é verdadeira”. Ainda a respeito da “expressão do pensamento” –
a qual representa o entendimento de linguagem universal dos espíritos
– ela pode sofrer alterações em algumas situações:
v Os desencarnados em campo de batalha na segunda guerra
mundial, necessitados de socorro imediato, não sabiam que
tinham desencarnado e continuavam lutando no campo de
combate.
O mundo espiritual mobilizou-se como nunca ao atendimento a
esses combatentes, muitos dos quais atrelados a sua inferioridade
moral. Nessa ajuda, particularidades tinham que ser consideradas,
umas delas é que os voluntários ao resgate falassem a língua do
desencarnado.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
38
Nesse caso, não foi citado a “linguagem mental”. Não se pode
afirmar se nesses casos, o entendimento em relação a linguagem
mental seria possível, visto que eles estavam em condições
psicológicas precárias.
Para entender melhor a “expressão do pensamento”, basta
observar os comentários de Kardec.
Ao nosso ver, só existem duas realidades:
I. Expressão do pensamento dos espíritos;
II. Expressão do pensamento entre desencarnados e encarnados.
Como entender quando determinada voz apresenta-se forte
como um trovão e amorosa quanto o carinho de uma mãe vinda do
céu, conforme narra o apóstolo Joao em Apocalipse, capítulo 21, vv.
3:
“E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: eis aqui o
tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará e eles
serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu
Deus”.
Cabe aí três entendimentos:
A. Construção pela espiritualidade de uma garganta ectoplasmática,
produzindo o som da voz, mas se assim fossem, todos
escutariam ou;
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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B. Fenômeno idêntico ao que acontece com Regina, talvez com
algumas particularidades, visto que João era médium ou;
C. Todas as vem do céu, mas de qualquer forma, vem também de
outra dimensão.
Ainda a respeito em relação ao entendimento do fenômeno da
psicofonia comum, entre médiuns do nosso dia-a-dia:
Se o espírito não fala, mas apenas usa a linguagem do pensamento,
como é que pode elaborar em conjunto com o médium um sotaque –
não estamos falando da linguagem africana?
Para responder a essa pergunta, citamos como exemplo uma
experiência pessoal, muito grata, oferecida por um espírito africano,
utilizando um médium conhecido nosso, desenvolvido nos moldes
Kardequianos.
A sua colaboração vinha no momento em que não sabíamos
oferecer mais detalhes a não ser o oferecido por Hermínio C Miranda
– que embora não atendesse nossa pretensão, era a única: “é possível
que o espírito, com o auxílio do médium, faça adaptações à garganta,
pois sem esse recurso não consegue ativar de maneira adequada e
eficaz os centros cerebrais de comando da fala”.
Já tínhamos definido esse entendimento, quando comentando a
nossa inquietação ao médium em questão que nos visitava, quando
recebemos espontaneamente a visita de um espírito que fora escravo
via uma incorporação.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
40
Ele pediu-nos que tivesse um pouco mais de paciência, que
teríamos logo mais um entendimento detalhado.
Falou-nos que realmente, a mediunidade acontece pelo processo
telepático, com as palavras inarticuladas do desencarnado, entretanto,
nos lembrava que não podemos esquecer que existe um conjunto de
fatores orgânicos participando do fenômeno – acreditamos que a
mente transcendental e o cérebro físico sejam os principais.
Com referência ao sotaque, ele nos esclareceu de uma forma
muito prática e simpática:
v A sua fala inicial através da médium, era carregada de sotaque
comum dos pretos velhos nos tempos de Umbanda. Em pouco
tempo a sua fala foi modificando-se para um português bonito e
perfeito. E aí ele acrescentou: não esqueçam que esse fenômeno
tem a sua origem na experiência conjunta, deste que vos fala e
da médium que fora escrava.
Frederick W. Myers informou, já na condição de espírito,
através da mediunidade da Sra. Geraldine Commins:
“É muito difícil, deste lado em que nos encontramos, lidar com
a mente do médium. Nós a impressionamos com a nossa mensagem,
nunca impressionamos diretamente o cérebro do médium. É a mente
que recebe a nossa mensagem e a envia ao cérebro. Este é um
simples mecanismo. A mente é como cera macia, recebe nossos
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
41
pensamentos como um todo – como um bloco de informações -, mas
deve produzir as palavras como que vesti-los”.
Informação essa que só confirma o que já foi dito: não é no
cérebro físico que ficam gravadas lembranças de línguas faladas em
outras encarnações do médium. O cérebro somente registra o que se
aprende durante a existência atual do corpo físico.
Aí fica uma dúvida, se o cérebro somente registra o que se aprende
durante a existência do corpo, podemos entender que é o físico que
intelectualiza o nosso mundo mental e espiritual?
Sim, em todos os aprendizados existenciais, o cérebro físico vai
transmitindo as suas experiências ao cérebro espiritual. É nesse
conjunto de experiências que vamos dotando o nosso psiquismo de
sabedoria, ou seja: intelectualizando o nosso espírito.
Situações existem em que os espíritos precisam do cérebro do
médium, do contrário não conseguiriam movimentar a sua mão – eis o
fenômeno de efeito físico – e nem fazê-lo expressar na língua que lhe
é própria, o pensamento que é dele.
v Os efeitos inteligentes são aqueles para cuja produção o espírito
se serve dos materiais existentes no cérebro do médium.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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Os espíritos afirmam consistentemente que é mais fácil para eles
utilizarem das próprias palavras e expressões do médium do que
despejar sobre eles ideias completamente novas.
No sistema que produz a comunicação mediúnica, desde a
mente do espírito comunicante até o conhecimento do destinatário
encarnado, o elo fraco da corrente é o médium.
Quanto melhor for o médium, mais seguro o sistema e em
consequência, melhor o processo.
Se o grupo de estudo experimenta alguma dificuldade em aceitar
isso como válido, basta dar uma parada e prestar atenção em si
mesmo. Se você está pensando em comprar um livro, viajar ou
escrever um artigo, você vai pensar em palavras existentes em sua
intimidade, sobre cada passo que tiver que dar.
Por exemplo: “amanhã, na hora do almoço, na cidade, vou
entrar em uma livraria, na avenida, procurar um vendedor e pedir a
ele tal ou qual livro. Se ele tiver o livro, eu lhe pergunto o preço. Se
for tanto reais, fico com ele, mando-o embrulhar, pago, recebo o troco
e saio”.
Esse exemplo é para mostrar que assim como nós, a entidade
espiritual pensa sem palavras. Ela é pensada simplesmente em nível
onde a palavra não aparece, porque não se faz necessário.
Nos casos em que você pensa sem palavras, é o seu espírito que
está em pleno comando e ele não precisa de nenhuma língua para
falar consigo mesmo.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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Médiuns, se já é difícil a uma mente bem arrumada e rica em
informações converter seu próprio pensamento em palavras, faladas
ou escritas, imaginem a dificuldade encontrada por aquele que precisa
preparar-se para isso, em virtude de sua própria desarrumação mental
ou falta de conhecimento.
Nessa relação de conversação não encontramos um ponto
critico, ou seja: dialogar, interpretar corretamente o pensamento do
espírito comunicante, converter em palavras suas, adequadas e fiéis
aos conceitos que recebe? E não estamos falando em pensamentos de
conceitos que nunca ouvimos falar, nunca lemos, mas as que o
médium recebe por meio de palavras inarticuladas dos pensamentos.
Sim, existem vários pontos críticos entre tantas situações, um
exemplo simples: certa vez um médium perguntou se seu pai já
falecido costumava vender patos “Drake”. Ele afirma que não. Por
que então, insiste em me mostra um pato pela linguagem do
pensamento? Porque ele só poderia transmitir a palavra “Drake”
mostrando um animal com esse nome, ou seja: projetando, com a
força do seu pensamento, essa ave conhecida.
Toda essa confusão se deu porque o espírito somente queria
dizer que o seu nome era esse, ou seja, que ele era o velho Sr.
“Drake”.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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Por que razão o espírito comunicante não disse logo o seu nome ao
invés de mostrar um pato, ou seja, ao invés de criar a imagem de um
pato?
A obrigação do espírito é projetar o pensamento em forma de
linguagem, cabe ao médium dar forma, corpo ou expressa esse
pensamento de maneira inteligente. Ou seja, a codificação de
símbolos e sons próprios ao médium e não familiares a entidade
comunicante. Entram pois, em conflitos, os dois sistemas de
expressão, sendo necessário um esforço do comunicante para
converter suas palavras em símbolos correspondentes.
Episódios como esses são prontamente agarrados pelos
negadores profissionais para invalidar o fenômeno mediúnico.
A verdade, porém, é que os espíritos, como vimos há pouco, não
se utilizam de palavras, mas de pensamentos.
Podemos acreditar que esse assunto em torno da linguagem dos
espíritos esteja devidamente dissecado e entendido por todos?
Não.
Nos livros de André Luiz e em todos os demais, lemos que os
espíritos “falam tal coisa”. É uma informação verdadeira.
Hermínio C. Miranda apresenta duas razoes para que assim seja:
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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A. Os livros de André Luiz são narrativas dramatizadas, escritos
em linguagem didática, na qual o pensamento já aparece
convertido em palavras que o nosso Chico psicografou;
B. Os diálogos reproduzidos pela espiritualidade não são
comunicações mediúnicas, mas conversações entre espíritos
desencarnados.
Regina ainda oferece a sua colaboração acrescentando que os
espíritos lhe diziam o nome para identificar-se, especialmente os que
comparecem como visitantes ao grupo em que ela serve.
Outros “conversam normalmente com ela”.
Isto também é certo, entretanto é preciso lembrar que ela dispõe
de recursos mediúnicos adequados a receber, pela audição coclear –
psicoaudiência. Os diálogos mentais, usualmente, senão sempre, são
realizados em estado de transe mais profundo, ou mais superficial.
Regina acrescenta: observo com muita frequência a dificuldade
que certos espíritos encontram em transmitir nomes, datas, aspectos
geográficos e outros dados concretos e objetivos. “Drake” por
exemplo.
Como podemos observar, o que está em jogo no mecanismo da
captação de uma comunicação espiritual não são os sentidos
individuais – visão, audição, tato e etc. – mas o dispositivo central que
comanda e integra os sentidos em uma percepção global, onde a
mensagem captada não é visão, nem audição e muito menos palavras,
mas sim uma ideia, de vez que os instrutores foram taxativos e
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
46
enfáticos ao declarar que os espíritos não têm linguagem articulada,
apenas os pensamentos.
Logo, eles não impressionam os sentidos um por um, mas o
núcleo central, no cérebro, onde as impressões sensoriais não
analisadas, são processadas e convertidas em imagens, sons ou
palavras faladas e escritas, ou permanecem como meras impressões,
que jamais atingem o estágio sensorial.
A tradução do pensamento recebido do espírito manifestante já é
a elaboração do médium e não emissão do espírito.
Hermínio C. Miranda nos ajuda: como certos espíritos atuam
diretamente sobre os centros nervosos da visão – diencéfalo – ou da
audição – cóclea –, uns tantos outros devem atuar diretamente sobre
os centros nervosos da fala ou da motricidade.
Basicamente, o processo é um só: a força do pensamento que
expede comandos mentais aos diversos centros, como se o corpo que
lhe está sendo emprestado pelo médium fosse seu próprio, tal como
ensina Kardec. Isto explica ainda, porque é possível a um só médium,
como tem sido observado, receber simultaneamente dois ou três
espíritos, um deles escrevendo com a mão direito, outro utilizando a
esquerda, enquanto um terceiro fala por psicografia.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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A comunicação mediúnica compreende quatro etapas distintas:
I. Transmissão de pensamento do espírito manifestante para o
médium;
II. Recepção desse pensamento e processamento dessa informação
na unidade central sensorial do médium, que a converte em
imagem, som ou palavra;
III. Quando o médium emite para o destinatário não mais um
pensamento, mas a palavras, seja escrita ou falado, com a qual
procurar descrever a “imagem” ou “som” recebido do espírito
sob forma de pensamento puro;
IV. Essa etapa vem diferenciar a realidade do médium em torno da
mediunidade consciência, semi-consciente ou mesmo a
sonambúlica, assim como os estados de desdobramento.
Essa quarta etapa é em torno do estado de hipnose relatada por
Léon Denis no livro “No invisível”:
“Em mais elevadas graduações, no estado de hipnose, a
exteriorização se acentua até o desprendimento completo. A alma,
quando liberta de sua prisão carnal, paira nas alturas; seus modos de
percepção, subitamente recobrados, lhe permitem abranger um vasto
círculo e se transporta com a rapidez do pensamento. A essa ordem de
fenômenos pertence o estado de transe, que torna possível a
incorporação de espíritos desencarnado ao envoltório do médium,
deixando-o livre, semelhante a um viajante que penetra em cada
devoluta.”
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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Eis a realidade dos médiuns que fazem cirurgias espirituais, pois
colocam o seu físico a disposição dos médicos espirituais.
Os “Carismas da Mediunidade” são palavras exatas para não
criarmos atavismos em torno do entendimento quanto se os espíritos
falam ou não falam.
Afinal, os espíritos falam ou não entre eles?
Tenho notícias de que Chacrinha continua fazendo
apresentações juntamente com Clara Nunes, Cazuza e outros, para
beneficiar o despertar da consciência dos espíritos recolhidos nos
umbrais.
A linguagem universal dos espíritos, em essência, é sim a do
pensamento, mas as variáveis surgem em função de espíritos muito
ligados a matéria.
Na pratica mediúnica, o fator importante de uma boa
comunicação reside nas condições morais do médium. Por isso é
importante que ele esteja sempre vigilante, policiando seus atos e
pensamentos, como alguém atento a limpeza e a higiene de sua casa.
É preciso ser zeloso mesmo quando está só, como também
nunca se sabe a que hora poderá chegar uma pessoa necessitada de
um passe, ou amigos espirituais buscando-o para um atendimento
urgente.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
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A consciência de sua responsabilidade pessoal é essencial a sua
mediunidade. Somente vivendo em responsabilidade, a mediunidade
se torna confiável, proporcionando que o pensamento do comunicante
chegue ao destinatário da comunicação na maior pureza possível.
Médiuns orgulhosos, vaidosos e preconceituosos sempre
relutam em ceder seus canais e neles conceder suficiente espaço e
liberdade ao comunicante.
As deficiências morais como o medo, o orgulho, a vaidade e a
lisonja formam bloqueios e criam obstruções e interferências. Quando
o receptor da comunicação se encontra defeituoso, podemos comparar
com um rádio em estática e interferências causados pelo mal tempo.
O livro “Muito além dos neurônios” de Núbor C. Facure da
Ame-Brasil – Associação Médica Espírita – aborda o assunto da
seguinte maneira:
“O nosso cérebro nos predispõe para um determinado tipo de
atuação diante do mundo que nos cerca. Acreditamos que a mente
instrumentaliza o cérebro para sua inserção no mundo físico e que o
cérebro não pode conter toda a potencialidade da mente se a
considerarmos como espírito que vivenciou múltiplas experiências em
vidas sucessivas.
Podemos conjecturar que hoje, somos apenas aquilo que nosso
cérebro nos permite estar sendo e não tudo aquilo que o espírito é ou
já foi”.
TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA
50
Nada na vida ou no espiritismo deve ser engessado e em torno
do fenômeno mediúnico, veremos que cada colocação está certa, ou
seja, devemos procurar retirar a essência de cada situação.
12 – Força mental
A mente é dínamo gerador de energia de difícil catalogação. É a
exteriorização do espírito, interpretado pelo cérebro que o transforma
em ideias. O seu teor vibratório é resultado do sentimento daquele que
o emite.
13 – Experiências de um doutrinador
Todo o conteúdo apresentado foi com relação a assuntos
atinentes à mediunidade. A partir de agora estaremos transcrevendo
algumas experiências doutrinárias do engenheiro pela Universidade
Federal do Ceará e professor de Ciências e de Matemática na rede
pública do estado, Dr. Luiz Gonzaga Pinheiro.
A nossa intenção é pode pincelar algumas informações que
atendam as necessidades individuais de cada um de nós. É necessário
que os médiuns, além de conhecer as nuanças do fenômeno
mediúnico, conheçam também os procedimentos doutrinários
exercidos pelo doutrinador do seu grupo. Esse entrelaçamento
beneficia os resultados da reunião mediúnica.
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A exposição do doutrinador Dr. Luiz Gonzaga Pinheiro é
interessante e tem o poder, em cada momento, de nos forçar a refletir.
Se o nosso coração não tiver a luz do amor, o tédio irá se apresenta,
pelo motivo de não conseguirmos sentir o que está escondido em suas
entranhas filosóficas e cientificas.
Podemos entender que o trabalha seja somente uma ocupação
material?
Segundo a pergunta 675 do Livro dos Espíritos, o espírito
trabalha com o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.
Observação: É inerente ao grupo empenhado em trabalho
desobsessivo, de que esse trabalho continua durante o sono físico. São
resgastes, doutrinação, treinamentos, cursos, passes em enfermos.
-Houve uma semana em que alguns de nós, estivemos ausentes dessa
salutar atividade noturna – comenta o Dr. Luiz
– Prestos, os espíritos nos pediram persistência e bom ânimo, para que
o trabalho do Cristo não viesse a sofrer interrupções.
Como doutrinador, perguntei aos companheiros a razão da
ausência de alguns no costumeiro trabalho durante o sono e repouso
do corpo. Não souberam responder, visto manterem-se firme no
propósito de acertar, frente aos compromissos assumidos. Resolvi
dialogar com o dirigente espiritual, que elucidou:
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-Alguns médiuns estão acompanhando a série que a televisão
está mostrando – holocausto – e como a mesma apresenta cenas muito
fortes e violentas, eles vão dormir com tais cenas registradas na
mente, dificultando o trabalho.
-Mas isso é suficiente para refletir no trabalho? – insisti.
-Vão dormir tarde. Impressionam-se com os episódios e
dificultam o desdobramento na hora aprazada (...). Chamo, ainda, a
atenção dos irmãos para as leituras indevidas, filmes não
recomendados, conversações fúteis e inoportunas e o excesso de
alimentação carnívora, fatores que dificultam o desdobramento (...)
Este deve ser o pensamento do trabalhador, cujo esforço o
credencia a perseverar até o fim, com os que serão salvos segundo
afirmativa de Jesus.
Esse dirigente, em um bate-papo descontraído, se expressa
brincando: nesses grupos em formação, identificamos médiuns com as
seguintes características:
v O médium diamante, portador de muitas arestas a serem
lapidadas nos dias subsequentes. Ao final do primeiro mês de
treinamento, percebi que um dos médiuns o havia abandonado,
talvez em razão da rígida disciplina que procuramos cultivar,
indo procurar outro centro, mas retornando ao nosso convívio
posteriormente;
v Um segundo, acostumara---se a orar baixinho, quebrando o
silêncio do ambiente com leves assobios;
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v Um terceiro, alternava---se em presenças e faltas;
v Um quarto, geralmente dormia com muita facilidade após a
penumbra invadir a sala.
Iniciei a quinta reunião do grupo falando sobre essas
dificuldades a serem administradas pelo doutrinador e sobre os
diversos tipos de mediunidade. Após exposição séria e compenetrada
de trinta minutos, comentei que existiam outros tipos de médiuns,
ainda não catalogados nos estudos doutrinários:
• O médium macaco: é o irmão que não se contenta com as
normais disciplinares e fica sempre a procura de outros
grupos. E quando o problema não é do centro, e sim dele,
pois não consegue adaptar-se a lugar nenhum, ficando a
pular de galho em galho, até que em determinado ele terá
que aterrissar, acordando para a realidade;
• O médium passarinho: é aquele que ainda não aprendeu a
orar mentalmente, sentindo a necessidade de pronunciar as
palavras da oração, emitindo sons e silvos, que embora
baixinhos, prejudicam a concentração dos demais
companheiros;
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• O médium bate-fofo: é aquele com cuja presença não se
pode seguramente contar. Ele arranja sempre um pretexto
para ausentar-se da reunião, dificultando o próprio
aprendizado;
• O médium sonolento: sonolento não é a mesma coisa que
sonambúlico. Este primeiro aproveita a música e a
penumbra para tirar uma soneca dizendo estar desdobrado.
Eu ia continuar quando um dos companheiros me fez a seguinte
indagação:
-E o doutrinador, não pode ter nenhuma mediunidade? -Não é
aconselhável outra mediunidade a não ser a intuitiva – respondi – A
de vidência poderia ser muito útil, mas com muita disciplina.
-Mas acabo de detectar um tipo de mediunidade no senhor –
respondeu ele.
-Em mim? Qual? – perguntei surpreso.
-O senhor é médium tesoura, pois não nos tem poupados nas
falhas que apresentamos – explicou ele.
-Peço desculpas pelas tesouradas e agradeço a crítica benéfica
que me fez, possibilitando-me identificar a sua mediunidade.
-Minha? Mas não sou médium, sou apenas passista. -Engana-se
amigos! Você é médium, a sua mediunidade possui inestimável valor.
É médium diamante. -Diamante? – perguntou ele, sem entender. -
Sim! A única coisa que pode cortar uma tesoura.
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Temos a necessidade de refletir. Mesmo sendo um momento de
descontração, existe um universo de comportamentos a serem
alinhados nessa educação entre pessoa do mesmo grupo mediúnico.
O espírito que anima o corpo de uma criança é tão desenvolvido
quando do adulto?
Resposta do Livros dos Espíritos, pergunta 379: Pode ser até
mais, se progrediu. Não são os órgãos imperfeitos que o impedem de
se manifestar. Ele age de acordo com o instrumento, com a ajuda do
qual pode se manifestar.
“Ninguém tem mais do que aquele que dá a vida pelo seu irmão. Essa
foi a lição de Lucinha – espírito desencarnado que nos auxilia nas
reuniões de desobsessão, que veio a nos ensinar, quando a atendemos
em movimentada noite de socorro aos necessitados.
A princípio, foi uma comunicação como outra qualquer. Uma
criança de oito ano, que levara um tiro desencarnara. Mas a medida
que ela contava a sua história, eu me emocionava mais a cada
instante, a tal ponto de quase ver, ou melhor, quase enxergar pelos
olhos da mente, a cena que a transportou para o mundo dos espíritos,
onde se ambientou logo nos primeiros dias.
-Tio! – disse ela – Eu amo as árvores, as flores, o céu, eu amo as
pessoas e os bichos. Amo porque sei que tudo foi feito por Deus, e
como aprendi que Deus é amor, vejo Deus em todas as coisas. Sabe
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Tio, aquele homem ia matar o passarinho, mas ele não podia fazer
aquilo. Um passarinho embeleza o mundo. O passarinho ama as
plantas e canta tão lindo! Eu não podia deixar aquele homem matar o
passarinho. Ele podia ter filhotinhos que estavam esperando por ele.
Então aquele médico me trouxe para falar com o senhor.
Hoje Lucinha trabalha conosco, ensinando às crianças que
recolhemos que o amor é a única força capaz de reverter a dor em
calma, a angústia em esperança, o desespero em paz.
Quando os enfermos se apresentam para atendimento, eis o que
Lucinha entrega, uma rosa para cada um. Lê páginas de
reconfortantes mensagens. Lembra Jesus, o médico divino, que
prescreve o amor como infalível remédio para os males da alma.
Quando o vingador, o obsessor, se apresenta rancoroso, Lucinha é
avistada orando por ele, ofertando-lhe flores, lembrando esta ou
aquela virtude que possuem, soterrada pelo entulho da rebeldia.
Quando algum médium está desmotivado, depressivo, o recado
é instantâneo, parecendo até que nos segue sempre vigilantes, para
que a tristeza e o desânimo não nos arme, tocaias, desgastando-nos as
energias. Invariavelmente, o seu recado é sempre sobre o amor.
-Quem ama não tem tempo para ser infeliz, é o que dizem – diz
ela.
Às vezes, espíritos maldosos agridem-na verbalmente em
retribuições a seus recados amorosos.
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-Esses são os que mais precisam de amor – é a conclusão que ela
tira do desamor.
E quando fora do centro, palmilhando o cotidiano, avisto
agressões generalizadas entre irmãos, agressão à vida, à natureza,
lembro da menina que deu a vida por um passarinho e ela me diz
sempre: “O amor não tem outras razoes. Só o que ele quer e faz é
amar”.
Qual seria o médium que poderíamos considerar perfeito?
Livro Dos Médiuns, cap. XX, tomo 226: Perfeito? É pena, mas
bem sabes que não há perfeição sobre a terra. Se não fosse assim, não
estaria nela. Digamos antes bom, e já é muito, pois são raros. O
médium perfeito seria aquele a que os maus espíritos jamais ousassem
fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, sintonizando-se
somente com os bons espíritos, tenha sido menos vezes enganado.
Diante do acima exposto, quero fazer um comentário quanto a
uma companheira médium do nosso grupo, a título de aprendizado de
todos nós.
Para mim ela era uma médium perfeita. Muitos anos de prática e
estudos mediúnicos, aliados a uma sólida moral evangélica, que me
faziam assim acreditar.
Ao dar passividade, fosse o espírito comunicante um enfermo,
um suicida, um obsessor, um pseudo-sábio, a educação ali se
expressava, em forma de controle da mensagem e da ação de quem a
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usava como instrumento de comunicação. Nada de gritos, de alteração
na respiração, de gestos agressivos, de bater na mesa.
Minha atitude para com ela era de inteira confiança, razão pela
qual afrouxava um pouco a vigilância no tocante ao uso da crítica
sincera e no emprego do bom senso ao avaliar suas comunicações.
Um dia comunicou-se através dela um companheiro com todas
as características de real necessitado:
-Ajude---me por favor! Faça-me uma caridade!
Acorri com passes e palavras de esperança para o irmão, que
apesar da ajuda emergencial, continuou seus lamentos de doente
grave. Fiz uma prece a Jesus, solicitando, na medida da urgência, da
necessidade e do seu merecimento, alívio para aquele sofredor.
Voltei a dialogar com ele, lembrando-lhe preceitos evangélicos
que lhe incutissem um pouco de esperança e otimismo.
Ele caiu na gargalhada.
-Eu não disse que um dia te enganava? Peguei dois bobos de
uma vez só – e continuou a zombar – Onde a médium perfeita? Vocês
são todos uns patetas. Estou gozando de muita saúde.
-Você tem razão quando nos lembra da nossa imperfeição –
respondi – Contudo, somos imperfeitos a procura da perfeição. E
pobre de ti, que és imperfeito e te comprazes na imperfeição. Não nos
enganaste por completo. Enganaste a ti mesmo, pois que te julgar
saudável, quando estás doente carregando dores atrozes.
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-Doentes? Eu? Estou é vendendo saúde.
-É o que pensas. Vejo que teu coração se acelera, começas a
suar frio. Breve sentirás forte aperto nas têmporas. A dor é inevitável
nesses casos – através de sugestão e de um pedido mental, solicitei
aos dirigentes espirituais que, por meio de técnicas hipnóticas e
magnéticas, o levassem a sentir-se realmente doente.
Em particular, eu entendo que no conhecimento diário entre o
doutrinador e os mentores espirituais daquela reunião, não seria
necessário o pedido, pois nas atitudes do doutrinador eles já sabem
qual o remédio corretivo que o espírito rebelde necessita.
Esses são momentos em que o remédio recomendado pelo
dirigente de forma precipitada, pode não ser o adequado. É necessário
muita cautela e sintonização com a intuição.
O espírito começou a sentir tremenda pressão na cabeça, e disse:
-Seu bruxo! – ele já demonstrava os sintomas da doença que lhe
sugerimos ser portador.
-Aí está o resultado de tua gracinha, meu amigo, não se deve
brincar com as coisas sérias. Enganaste a ti próprio, pensando-te
saudável. A verdade é que somos todos doentes, precisando do
médico divino que é Jesus.
Terminada a reunião, conversei com a médium. O comunicante
apresentara-se com o períspirito chagado e a aparência debilitada, o
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que lhe imprimira o aspecto doentio, encenação armada com a sua
mente.
Para melhor enganar a médium, ele atraiu para si fluídos
característicos de doentes, os mesmos utilizados pelos dirigentes da
casa para mostrá-lo enfermiço. Disciplina correta.
Voltei então à prática costumeira de observar atentamente as
comunicações, como aconselhou o mestre Kardec. Analisar
criteriosamente, independente de quem seja o médium ou o
comunicante, pois a perfeição ainda é algo que os séculos estão
preparando na fornalha do tempo, para a terra do futuro.
Quantos aos médiuns, muita ajuda e orientação.
Qual a causa do abandono do médium pelos espíritos?
Livro dos Médiuns, cap. XVII, tomo 220: O uso da mediunidade
é o que mais influi sobre os espíritos bons. Podemos abandoná-lo
quando ele a emprega em futilidades ou com a finalidade ambiciosa,
quando se recusa a transmitir as nossas palavras ou a colaborar na
produção dos fenômenos para os encarnados que apelam a ele ou que
precisam ver para se convencer.
Esse dom de Deus não é concedido ao médium para o seu
prazer, e menos ainda para servir às suas ambições, mas para servir ao
seu progresso e para dar a conhecer a verdade aos homens. Se o
espírito vê que o médium não corresponde mais aos seus propósitos,
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nem aproveita as instruções e os conselhos que lhe dá, afasta-se e vai
procurar um protegido mais digno.
A mediunidade exercida por seres evoluídos é coisa rara em
nosso planeta, sendo muito mais comum o caso em que o exercício
mediúnico é realizado por espíritos devedores da lei, que solicitam ou
recebam essa faculdade como prova, prova vencida quando bem
desempenhada.
Esses irmãos recebem a incumbência de pagar com amor as
dores que provocaram em seus semelhantes. No sistema de crédito
divino, uma dor não exige como pagamento uma dor por igual. Jesus
afirmou: “Ninguém entrará no reino dos céus sem pagar o último
ceitil”. E como o amor é a moeda corrente em todo o universo, jamais
serão negados ao médium os créditos ou fiadores de que necessita.
A mediunidade é considerada, desse modo, uma escada de
acesso para Deus, desde que aquele que a possui ostensivamente a
utilize dentro dos padrões éticos espirituais.
Ser médium não é apenas tornar-se passivo ao companheiro que
o busca, facultando-lhe o direito à voz. É fiscalizar suas intenções,
pensamentos que carrega. No caso, um chicote enrolado no ombro e
outros instrumentos, selecionados segundo a missão que vai
desempenhar.
Ele é acompanhado dos médiuns em regastes perigosos, em
ambientes de grande hostilidade. Traz obsessores rebeldes que
necessitam comparecer à reunião, exus ou quaisquer outros agressores
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de aluguel para que possam desfazer seus trabalhos, muitos dos quais
feitos contra o grupo mediúnico. E isso ele fez como ninguém.
Em nosso grupo temos o estimado Arakati:
Depois de tantos anos de convivência com ele, aprendi que suas
armas não são ornamentos estéticos. Na hora de utilizá-los ele não
vacila, malgrado a opinião de alguns “amantes da mansidão”, que
geralmente nunca participam de uma reunião de desobsessão para
verificar de perto a violência que é praticada pelos espíritos trevosos,
em nome da justiça.
Estes se arvoram em “defensores da justiça”, em nome dela
praticam as maiores atrocidades, espalhando a violência e o medo,
sendo eles mesmo facínoras, criminosos, torturadores, tentando burlar
a lei transvestindo-se de justiceiros.
As pessoas que acham que uma palavra enérgica, a imobilização
de um agressor, a sua prisão em grande, o tolhimento da visão e a
interrupção da voz são falta de caridade, não entendem que existe um
limite para o livre-arbítrio, que se ultrapassado, exige cerceamento
imediato a favor da ordem e da disciplina universal.
Muitos espíritas inexperientes nem se quer sabem como é
comum espíritos dessa natureza declararem que são inimigos do
Cristo.
Os bons espíritos não podem e nem devem ficar inertes diante
das agressões das trevas, pois estaria caracterizando a “omissão dos
bons”, também no plano espiritual.
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Então, estudando, trabalhando, amando, renovando-se, a pessoa
se firma como operário de Jesus, aprendiz dos bons espíritos e
vencedor de si mesmo, através da atividade incessante de várias
reencarnações.
A respeito da Mistificação, o Livro dos Médiuns, cap. XXIV,
tomo 259 explica:
Um meio às vezes usado com sucesso para assegurar a
identidade quando o espírito se torna suspeito, é fazê-lo afirmar em
nome de Deus todo poderoso que é ele mesmo.
Acontece de muitas vezes o usurpador recuar diante do
sacrilégio. Depois de ter começado a escrever –, na comunicação
falada essa técnica oferece o mesmo resultado satisfatório – afirma
em nome (...), para e risca encolerizado traços sem significação ou
quebra o lápis.
Sendo ainda mais hipócrita, contorna o problema através de uma
omissão, escrevendo por exemplo: “eu vos certifico de que digo a
verdade” ou ainda “atesto em nome de Deus, que sou eu mesmo que
vos falo” e outros. Mas há ainda os que não são assim escrupulosos e
juram por tudo o que se quiser.
Um deles se comunicava com o médium dizendo-se o próprio
Deus, o médium, então, muito honrado com tão elevada graça, não
hesitou em acreditar. Evocado por nós, não ousou sustentar a
impostura e disse:
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-Eu não sou Deus, mas sou seu filho.
-Então sois Jesus? Isso não é provável, porque Jesus está muito
elevado para empregar subterfúgios. Ousais afirmar em nome de
Deus, que és o Cristo?
-Eu não disse que sou Jesus, disse que sou filho de Deus, porque
sou uma de suas criaturas.
Deve-se concluir disso que a recusa de um espírito em afirmar a
sua identidade em nome de Deus é sempre uma prova de que usa de
impostura, mas que a afirmação nos dá apenas uma presunção e não
uma prova de identidade.
Como doutrinador, utilizo-me às vezes de um médium vidente,
como auxiliar, no caso de dúvida quanto a identidade de algum
espírito, quando desconfio que ele não é quem afirma ser.
Estou convicto de que esse procedimento não deve ser
frequente, uma vez que o doutrinador deve ter segurança e seguir as
intuições que, em geral, não lhes faltam em momentos difíceis.
No mais, ele deve estar preparado intelectualmente, conhecendo
pelo menos as obras da codificação espírita, o que lhe propicia
inúmeras saídas para as situações em que percebe o embuste, por
minúcias técnicas ou psicologias, incluindo entre estas a própria
expressão facial do médium que, em muitos casos, consegue retratar
as emoções do espírito comunicante.
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Certa feita – diz Dr. Luiz Gonzaga Pinheiro – um espírito
apresentou-se com uma voz melosa – que me pareceu um pouco
artificial, o que deve ser o suficiente para deixar o doutrinador atento
a seus gestos, palavras e intenções – dizendo-me:
-Venho agradecer a esse grupo maravilhoso, que muito tem sido
testado na fé, superando os mais difíceis obstáculos, pelas curas que
vem proporcionando a inúmeros necessitados. Louvo o trabalho
incessante de vocês, que já são espíritos conscientes, possuidores de
muitos méritos junto ao Senhor da Vida. Quantos dariam tudo para ter
essa luz que vejo em vocês! Quantos ainda se arrastam na lama,
enquanto vocês já contam com as venturas do evangelho instalado em
seus corações.
Notando-lhe a prodigalidade de elogios, fiz---lhe o seguinte
convite:
-Já que o irmão acompanha e aprova o nosso trabalho,
observando-nos constantemente, oremos juntos pelos doentes, pelos
injustiçados, para que a verdade se sobreponha à mentira, a luz
afugente as trevas e a honestidade venha finalizar o reinado do
engodo, da mentira e da falsidade sobre a terra.
Grande foi a minha surpresa quando o ouvi fazer uma prece tão
linda quanto a de Caritas. Uma verdadeira poesia, uma preciosidade
literária. Após a oração, contudo, veio o conselho, cujo veneno
sutilmente velado, identificou-lhe os objetivos:
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-Apesar de todos aqui estarem com o Cristo e deles receberem
força, o ânimo e a coragem na luta diária, noto na fisionomia de
alguns o cansaço pelas árduas tarefas. Conversei com o mentor de
vocês, e ele permitiu que aquele que estivesse se sentido afastado,
pudesse ausentar-se por alguns dias ou semanas, para a recuperação
devida. Deus supre a falta.
Identificada estava a sua farsa e evidente a sua missão: minar
pela vaidade através dos elogios, provocar baixas no grupo pela
ausência de alguns invigilantes que lhe aceitassem a sugestão.
Paralelamente, os seus comparsas tratariam de provocar nesses
companheiros, sensações de esgotamento, de cansaço, irritação e
vertigens. Essa foi a intuição que recebi claramente.
Intrigado com a prece que eu ouvira, principalmente porque não
notara nela o sentimento, a emoção e o fervor que caracterizam a
sinceridade na oração – fato que mais o identificava como
mistificador – perguntei baixinho ao nosso médium vidente:
-Como se apresenta esse espírito?
Eis o momento da ajuda útil, quando o médium vidente percebe
que é o momento exato de dizer rapidamente: esse espírito está
mentindo. Nunca dizer: o médium está equivocado.
Paradoxalmente, o vidente é aquele que vê muito e deve falar
pouco, para não quebrar o silêncio da vibração do grupo. O vidente
corre muito risco de ser enganado pelas projeções e visões
equivocadas.
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Entretanto, no decorrer da sua atividade nas reuniões
mediúnicas, dificilmente vemos algum espírito dizer: tal informação
não é verdadeira. Eis a segurança que o dirigente/doutrinador tem
naquele momento.
Uma informação equivocada tem um peso terrível na harmonia
do médium, no doutrinador e no grupo mediúnico. O vidente deve
adotar como norma, o seu policiamento no falar em relação ao que vê.
Se assim não proceder, ele eventualmente cairá na cilada dos inimigos
da luz.
Uma informação equivocada, independente de qual tipo de
mediunidade ela venha, conduz o grupo a considerações não
expressas a princípio, mas que logo mais desaguam no “disse me
disse”. Desarmonia previamente orquestrada pelos inimigos da luz.
Luiz Gonzaga declara que suas consultas – via vidência – são
raras, pois ele acredita que a constância nessas indagações pode levar
o doutrinador a uma espécie de dependência, inibindo a sua intuição,
tornando-o inseguro, uma vez que com isso, ele passe a enxergar
apenas pelos olhos do vidente – o qual também pode ser mistificado,
descrevendo cenas preparadas pelos seus adversários.
Outro inconveniente dessa prática é gerar no médium
consultado, caso ele seja descuidado, a vaidade de ser frequentemente
requisitado, com o que pode empavonar-se, passando a caminhar em
baba de quiabo. É como jogar a casca de banana para o médium
escorregar.
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Voltando a pergunta, o médium vidente respondeu: -Ele trouxe a
prece escrita em um papel e apenas leu. Descoberta a sua farsa, ele
quis retirar-se. Era um jovem ator utilizado por espíritos trevosos
empenhados em constante luta contra as casas espiritas. A dor ainda
não o havia ensinado suficientemente sobre a dignidade nos palcos da
vida.
Recomendei-lhe outro papel: o de trabalhador da última hora, do
semeador que saiu a semear as suas sementes.
Ele estava amedrontado pela falha na interpretação do papel que
lhe haviam encomendado. Por isso queria fugir daqueles que o
contrataram.
Eis o momento em que digo a mim mesmo: Jesus, temos
conosco a ovelha que foi colocada em nossas mãos, não permita que
seja extraviada.
Ofereço a minha opinião em relação a participação do médium
vidente em trabalho de obsessão:
Confirmo que o médium vidente, quando solicitado pelo
doutrinador, é um auxiliar precioso. Mas deve ter muita prudência,
quando voluntariamente venha a tecer comentário no momento em
que o médium esteja envolvido mediunicamente.
Ao comentar tal situação na qual não retrata a realidade que o
médium está percebendo, ele desarmoniza o psiquismo do médium,
que se vê forçado a questionar-se: “ele disse isso, mas eu vejo aquilo
ou sinto assim.”
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Mesmo Chico tinha muito cuidado em não ser enganado no
exercício da vidência.
Na atividade mediúnica, é natural que o médium vidente torne-
se psicologicamente imperativo e impulsivo em relação ao farto
material mediúnico que lhe é dado a observar. Acredito que esse
impulso seja maior se ele não estiver prepara para apenas observar,
mantendo-se em silêncio mental.
Não estamos falando que deve ser um vidente mudo, mas a falta
da disciplina interfere na harmonia psíquica do médium.
Como se tal imperatividade não bastasse, ele percebe, assim
como outros médiuns, com alguma nitidez, que nem sempre o
doutrinador é feliz na condução de tal diálogo. São momentos em que
ele deve abster-se do comentário, pois nem os mentores espirituais
interferem em nossos equívocos.
Em nenhum momento a doutrinação deve tornar-se dupla, ou
seja, não deve haver interferências mentais – pois em silêncio muitos
se tornam doutrinadores.
A doutrinação também se torna dupla quando um trabalhador se
levanta sem ser solicitado e vai ao encontro de determinado médium
que esteja apenas mediunizado. Pobre médium esse que está
administrando o momento certo para ceder à passividade, pobre
doutrinador que ainda não terminou um atendimento e percebe o risco
de haver comunicação simultânea.
Esse levantar-se e ir até o médium colocando a sua mão na
cabeça, cria um campo energético, forçando-o – mesmo sem a
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intenção – a ceder a uma comunicação fora de hora. Toda imposição
indevida na cabeça do médium é energia transmitida que poderá
oferecer o risco de desdobrar-se facilitando o exercício do animismo.
Tudo tem a sua hora, se alguém cria um momento diferente que
não está na intimidade do doutrinador, ele ficar desarticulado na sua
sintonia.
Não devemos, com isso, deixar de utilizar a participação
importante de quem identifica um momento saudável de ajudar. E
assim sendo, cabe a pergunta:
Por que aquele que se propõe a atividade no dia-a-dia dos
trabalhos mediúnicos não pode se levantar e se aproximar do
médium, orando por ele e pelo necessitado que está próximo, sem
impor as mãos?
A pergunta em si já é a resposta. Orar não quer dizer impor as
mãos com o risco de uma incorporação em momento importuno. Orar
emitindo sentimentos de paz, fé e esperança não é interferir na
condução da atividade mediúnica do doutrinador. Mesmo assim, esse
levantar-se não deve se tornar rotineiro, ou seja, as pessoas devem
orar sentados em seus lugares.
Como o doutrinador deverá proceder se ele ainda está ocupado com
um atendimento que ainda está em andamento e tal pessoa, ao
levantar-se e pela imposição das mãos, acelera a incorporação?
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Se o trabalho não estiver estruturado em bases sólidos, os
espíritos infelizes poderão deixar o doutrinador na roda das
comunicações simultâneas.
Outras pessoas não poderão ajudar o doutrinador nesse momento?
Respondo com outra pergunta: quem poderia ajudar, quem
poderiam ser promovidas a doutrinadores tão rapidamente? Estariam
essas pessoas em sintonia? E se for uma pessoa que tenha
mediunidade ostensiva e se incorpore no decorrer do trabalho?
Sabemos que em cada incorporação, o grupo deve ficar vibrando
naturalmente e prestando atenção por ser um aprendizado. Mas qual é
o comportamento adequado havendo manifestações simultâneas?
Deverá cada um adquiri capacidade auditiva seletiva, selecionando e
escolhendo para a sua atenção a comunicação do José, do Benedito ou
da Margarida?
Toda a indisciplina torna-se perigosa. Não está incluso aí os
médiuns que são incorporados por espíritos que vem em auxilio a
doutrinação, trazendo informações preciosas ao doutrinador e de
reflexão ao comunicando.
Ø Do que foi dito, nada tem a ver no caso do trabalhador,
que no final de uma incorporação levanta-se e aplica o
passe, ajudando o médium a recompor-se fisicamente e
psiquicamente. Assim como, na necessidade de o
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doutrinador socorrer o médium em uma necessidade, ou
facilitando a incorporação de um irmão que reluta em se
manifestar.
Acredito ser mais correto alguém ficar sentado fora da mesa
com a missão de atender o médium após cada atendimento mediúnico.
Qual pode ser o efeito das fórmulas e prática com a ajuda das quais
certas pessoas pretendem dispor da vontade dos espíritos?
Livro dos Espírito, perg. 553 – o efeito de torná-las ridículas se
não for de boa fé; caso contrário, são patifes que merecem um castigo.
Todas as fórmulas são enganosas. Não há nenhuma palavra
sacramental, nenhum sinal cabalístico, nenhum talismã que tenha uma
ação qualquer sobre os espíritos. Porque estes são atraídos pelos
pensamentos e não pelas coisas materiais.
• Os falsos profetas que aí estão não incorporam na sua
intimidade os preceitos evangélicos ditados por Jesus: “Quem
com ferre fere, com ferro será ferido” e “De ti será cobrado até o
último ceitil”.
Não há senão os espíritos elevados que cumprem missões?
Livro dos Espírito, perg. 561: A importância da missão está em
relação com a capacidade e a elevação do espírito. O estafeta que leva
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um despacho cumpre também uma missão, mas que não é aquela do
general.
• De Dr. Luiz Gonzaga, Tibiriçá é um amigo índio –
desencarnado – que impressiona à primeira vista pelo seu porte
majestoso de guerreiro. Traz além da lança, trabalho e
renovação. É o primeiro enfermeiro daquele que o solicita,
mesmo para aqueles que o buscam para feri-lo.
Mediunidade é doação, porque sem ela só existe mediunismo,
descompromissado com a doutrina. Observemos que os riachos e rios
recebem água, mas só se tornam férteis quando a devolvem a outras
fontes e ao próprio mar.
Da mesma forma, se apenas recebemos e retemos, distanciamo-
nos da vida. Quando o médium adquire essa consciência, inicia-se
realmente o seu apostolado. No nosso dia-a-dia vimos muitos dele
suportarem as situações mais críticas com fé, desejo de renovação,
procurando-se manterem-se com bom humor e otimismo.
O verdadeiro médium não encontra obstáculos no uso da
vassoura ou da caneta, ao atender o mentor ou o obsessor. Tudo é
oportunidade digna de serviço, portanto, deve ser aproveitada.
A casa espírita que não se estruturar nessas bases, cujas pilastras
não tenham o cimento da fraternidade os tijolos do amor ao próximo,
melhor seria fechar as suas portas para o questionamento, reabrindo-a
somente quando adquirissem o discernimento necessário.
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O médium não é sofredor, nem santo, nem um ser especial
diferente dos outros, mas não deve ser igual a todo mundo. Deve ter
Jesus como guia, Kardec com estudo. Mas claro que isso não é uma
imposição ou fruto do fanatismo. É apenas uma conquista do espírito
consciente e forte.
O médium deve sentir-se feliz atuando. Pois assim procedendo,
ele/ela não abandonará a sua atividade mediúnica, ou seja, fará dela
uma profissão extra, diminuindo ainda mais o tempo reservado ao
descanso. Se for mãe e esposa, somente encontrará sucesso nessa
profissão transcendental oferecendo o amor incondicional, a renúncia
e paciência extremas. Descobrindo, aos poucos, que sem estudo e
aperfeiçoamento, o seu trabalho encontra-se sempre aquém de suas
possibilidades.
Agressores ficam impunes entre os encarnados por força do
dinheiro que possuem. Mas no plano espiritual a moeda é a virtude.
Os dirigentes espirituais não permitem que agressores fiquem
imunes aos apelos da justiça. Querem que eles esgotem seus estoques
de violência e maldade e decidam por si próprio largar o punhal e
tomar o arado.
Pode um homem mau, com o auxílio de um mau espírito que lhe é
devotado, fazer mal ao seu próximo, um homem bom?
Não, Deus não permitiria – Livro dos Espíritos, pergunta 551.
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Deus não permite. E como Deus não vai pessoalmente em forma
de figura humana e toma a pulso o espírito mau, utiliza seus auxiliares
em qualquer estágio de evolução. Quanto a trazê-los imobilizados, é
pelo fato da recusa a um convite formal e à zombaria que fazem dos
conselhos evangélicos.
É sabido por todos que ingressam nas fileiras mediúnicas que, o
escudo da prece e a armadura da vigilância são ferramentas do
cotidiano na construção de muralha protetora contra o assédio dos
espíritos imperfeitos – estes nos observam diuturnamente, como um
clínico a auscultar os sintomas, que sempre existem em nossa
intimidade, visto que ainda nos encontramos distantes de tão desejada
saúde moral capaz de nos colocar a salvo de tais companhias.
Sempre recomendamos que o ambiente da reunião de
desobsessão fique resguardado de conversações fúteis ou sobre fatos e
acontecidos na semana. Esse conselho, entretanto, às vezes se mostra
de difícil acolhimento, em virtude da invigilância dos médiuns.
Por isso, em reuniões mediúnicas sérias, existem sentinelas que
a protegem da invasão e do ataque dos espíritos trevosos que a têm
como quartel inimigo. Natural que haja lanceiros, guerreiros, bravos
como Luiz Tibiriçá.
Se a ordem é trazer alguém, logo mais esse alguém aparece, seja
com seus pés ou carregado, livres ou enlaçados por seu chicote.
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Tenho presenciado centenas de vezes a lança encostada no
pescoço de vampiros que procuram prejudicar os médiuns. Os exus
costumam dizer: “Só estou aqui porque foi esse índio que me trouxe,
senão...”.
Ou então: “Mas o que é isso? O senhor está fazendo apologia da
violência?”
Mansos e pacíficos, acalmem-se, pois sou totalmente contra a
violência. Por isso mesmo, devo zelar para que não a pratiquem.
Uma noite, enquanto a reunião de desobsessão transcorria em
ritmo acelerado, uma das médiuns me chamou discretamente e disse:
-Estou desdobrada, mas ocorre que estou me vendo criança.
Meu períspirito modificou-se independente de minha vontade e está
aparentando uns doze anos de idade.
Então, como um raio, um vampiro sexual tomou-lhe o corpo
carnal e exclamou:
-Onde está a menina? Eu preciso pegá-la.
O vampiro respirou ofegante, procurando a vítima para saciar-
se.
Entendi rapidamente o que se passava. O dirigente espiritual
havia atraído o vampiro à reunião utilizando a médium como isca.
Como fiquei sabendo depois, aquele vampiro havia sido um
estuprador de crianças. Tinha preferência por elas.
Coloquei uma das mãos sobre a testa da médium e a outra sob a
sua nuca, ele logo que percebeu que caíra em uma armadilha.
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Começou a sentir choques provindos de minhas mãos e passou a
ficar desesperado.
Assemelhava-se a um dependente de drogas na síndrome de
abstinência:
-Eu preciso de sexo! Eu preciso dessa menina! – repetia ele com
delírio.
Foi então que o ouvi dizer:
-Não faça isso homem! Você é louco? Não faça isso! Tire essa
lança daí!
-Se você não ficar bem quietinho, o índio decepa o seu órgão –
disse o dirigente.
E para minha surpresa, ele deu tremendo grito de dor e
exclamou:
-Você é louco! Você cortou! Como vou viver agora?
E foi retirado, como aquela cena gravada na memória. Depois
perguntei ao médium que sensação ela sentia por ocasião do corte. O
espírito sentiu-se decepado. Tanto sentiu a dor como a exclusão do
órgão. Foi a primeira vez que vi Tibiriçá fazer isso e confesso que não
entendi bem.
Será que aquilo se passou apenas na mente do espírito ou a lança
realmente decepou o órgão?
Só havia uma maneira de saber, perguntando a Luiz Tibiriçá. Foi o
que fizemos.
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Duas semanas depois do episódio, já no final da reunião, ele
tomou a palavra e disse:
-Você queria falar comigo e aqui estou. Pode perguntar o que
quiser sobre o acontecido com o vampiro sexual.
-Gostaria de saber se a sua lança decepou o órgão sexual
daquele pobre louco ou se os espíritos utilizaram alguma técnica para
que ele se sentisse decepado.
-O pobre louco a que você se refere foi um maníaco sexual, com
preferência por crianças, havendo violentado várias delas. Na prisão
onde foi encarcerado, os outros presos o castraram, por considerá-lo
um infame indigno de viver. Quando desencarnou, continuou com a
sua loucura sexual, transformando-se em perigoso vampiro, que
precisava ser detido, a fim de não provocar crimes bárbaros através de
influência sobre outros desajustados ainda em permanência na carne.
E continuou:
-A ordem que recebi de meus superiores foi de trazê-lo à
reunião, no que utilizei a médium como isca. Quando ele se viu
aprisionado, encostei a lança em seu órgão, mas não o decepei. Os
dirigentes da reunião fizeram nele uma regressão de memória,
obrigando-o a regredir ao momento em que fora castrado. Devo dizer
que ele sentiu toda a dor da castração e saiu daqui convicto de que
estava sem o órgão sexual.
-E quanto àqueles que se sentem amarrados, tolhidos,
chicoteados, com coceiras ou queimaduras?
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-O trabalho que faço está diretamente ligado à linguagem que o
espírito entende. Utilizo de fluido urticante, encosto a lança no
pescoço dos valentes e não vacilo em usar o chicote quando
necessário. Sei que você sabe que isso não me dá prazer, mas se é
para fazer, não dou viagem perdida. Se é para o bem, se é uma ordem
superior, se é por amor a Deus, considero a missão cumprida. Alguém
teria que fazer esse trabalho. Os bons espíritos, doces e meigos, têm
outras ocupações e confiam em nós, guerreiros, para essas tarefas
específicas – disse Tibiriçá, com seus olhos serenos contrastando com
seu corpo atlético.
O fato é, os espíritos necessitados de atendimento, os
obsessores, os suicidas, todos já se encontram no recinto, além dos
nossos colaboradores espirituais, empenhados em avaliar atentamente
a nossa boa vontade e responsabilidade. Por esse motivo, só devemos
adentrar ao ambiente da reunião quando as nossas necessidades de
conversar com os companheiros estejam serenadas em nossas
intimidades. Recomenda-se sentar-se à mesa em atitude de reflexão,
alguns minutos antes do estudo de abertura da prece. Harmonizando-
--se com o clima psíquico salutar já preparado pelos operários da
caridade. A sala mediúnica é o local das cirurgias efetuadas na alma
dos necessitados.
Muitos companheiros alegam que as conversas são
disciplinadas, mesmo assim, devemos ter muito cuidado.
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Exemplo:
Em uma dessas conversações, uma das médiuns falava sobre
pequena enfermidade de seu marido. Naturalmente, era conduzida de
forma fraterna e com nobreza de sentimentos. Seu marido, também
trabalhador da casa, o qual atuava como doutrinador em trabalhos de
educação mediúnica, dizia a irmã:
-Há três dias, meu marido está com um sério problema na
coluna. Ele não está podendo nem se mexer. Pediu para que nós
fizéssemos uma vibração para ele.
Como vemos, não há nada que desabone o mérito dessa
conversa. Aí fica fácil entender quando Jesus disse “orai e vigiai”.
“Eu escuto muito constantemente:
-Sr. Wilson, o senhor é muito exigente, durão. Ao que eu
respondo:
-Durão sim, mas malcriado não.”
Os participantes do grupo dos médiuns não percebem que
procedendo dessa maneira, estou oferecendo a todos segurança e
lealdade ao espiritismo.
Durante a reunião, um espírito com ares de vencedor, comunica-
se, dirigindo-se a companheira cujo marido estava enfermo:
-Eu já iniciei o trabalho de acabar com o grupinho. Comecei
pelos mais fracos. Bastou um jeitinho na coluna e ele caiu como uma
galinha morta.
Dr. Luiz Gonzaga Pinheiro disse:
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-Tive um momento de cristalina intuição de que era um pobre
sofredor querendo tirar vantagem por meio da informação que ouvira.
Estava fazendo passar por feiticeiro, imputando a si, poderes que não
possuía e nem sequer entendia, imaginando com isso, tornar-se
temido, respeitado, ou que o doutrinador o tratasse como distinção
pelo pseudo-estrago que dizia ter causado em nossas tarefas.
Estudando o caso com mais cuidado depois da reunião,
registramos as consequências que poderiam advir para o grupo caso
cedêssemos à sua ameaça.
A atitude do espírito, tentando apresentar-se como o autor da
enfermidade em nosso trabalhador, constitui mais uma técnica de
combate, muito usada pelas entidades que se empenham em dispersar
participantes de grupos espíritas.
As intenções do espírito, na realidade eram:
v Desacreditar o doutrinador enfermo perante o grupo, que
poderia considerá-lo fraco, sem vigilância, porque teria
possibilitado a ação do agressor por ter---lhe cedido alguma
brecha ou espaço;
v Deixar o próprio companheiro em dúvida quanto ao seu
desempenho, podendo torná-lo indeciso, vulnerável e menos
enérgico para com os agressores, por reconhecer---se igualmente
falho;
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v Exaltação do espírito procurando tornar patente o seu pseudo-
poder de ascendência sobre os médiuns, apresentando-se como
capaz de subtrair-lhes a saúde. O médium que admitisse que tais
poderes eles tinham, entrando na faixa vibratória do medo,
poderia ficar neutralizado para o serviço e teria grandes
possibilidades de realmente adoecer.
Pode-se liberar da influência dos espíritos que nos solicitam ao mal?
Sim, porque eles não se ligam senão aos que os solicitem por
seus desejos ou os que os atraem por seus pensamentos. – Livro dos
Espíritos, perg. 467.
O problema da companhia prende-se, em última análise, aos
tipos de pensamentos que emitimos – brechas abertas em nossa
intimidade. Pensar, pela ótica espírita, significa emitir ondas
carregadas de informações e imagens até coloridas.
Quando essas ondas são persistentes, refletindo um desejo do
espírito, eis que acorrem para atendê-lo, ou para simplesmente
acompanhá-lo, os seus iguais. Espíritos que, por união de esforços e
mentes influenciando-se reciprocamente, alimentando-se da mesma
atmosfera ou clima psíquico, no fenômeno da sintonia gerada, partem
para a materialização do desejo alimentado, do ideal acalentado, da
ideia obsedante.
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Nada melhor para identificar o espírito do que os seus
pensamentos. Somos o que pensamos, e quando exteriorizamos uma
ideia, fruto do nosso pensamento, ela sempre reflete aquilo que
caracteriza o conteúdo do nosso coração. O estudo do pensamento
como fator de atração e repulsão entre os espíritos veio destruir a
ideia da solidão, pelo fato de nunca estarmos sozinhos.
Desde que pense, ninguém nunca está só. E se pensa, pela lei
das probabilidades, deve existir outro que pense da mesma maneira
análoga, pelo menos em relação a alguns desses conceitos.
Se pensam de forma semelhante, então na mesma frequência, de
onde se conclui que estão solidários e presentes em pensamento, aí
estará o espírito que o criou.
Contamos, portanto, com as companhias que conquistamos pelo
nosso pensar. São as nuvens de testemunhas das quais falou Paulo de
Tarso, constituídas por entidades com afinidades conosco por uma
identificação clara e firme na área psíquica, o que nos torna
irmanados com elas, manifestando-se em nós e através de nós,
disseminando aquilo que se caracteriza, promovendo alegria ou mal-
estar – de acordo com as ideias que agasalhem.
Pensar, tanto entre os encarnados como entre os desencarnados,
é a arte da criação, através da qual promovemos encontros ou
desencontros, construímos ou destruímos, conforme seja o teor,
benigno ou leal, da onda gerada por nós.
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Deve-se portanto, cuidar de selecionar os pensamentos, vigiar o
verbo, acautelar---se no agir, essas são atitudes sensatas do aprendiz
espírita. Agir como garimpeiro, separando na mina da mente o
cascalho representado pelos pensamentos fúteis, e, retendo para
lapidação o diamante do pensamento translúcido, jóia rara que
promove o bem.
Infelizmente, grande parte da humanidade faz exatamente o
oposto. Usa o cascalho das paixões materiais para soterrar o diamante
da elevação espiritual.
Em um desdobramento efetuado por um dos médiuns em
reunião de estudos doutrinários, ele percebeu que não estava sozinho.
Era seguido por desagradável companhia, entidade a ele ligada por
sintonia estabelecida, como viemos a descobrir mais tarde – não pela
sua insistência em pensar no objeto que dera margem a ligação, mas
por não saber desligar-se no momento preciso de tal pensamento ou
desejo.
O processo de ligação do espírito ao médium ocorreu sem que
este percebesse, em virtude do ambiente desagradável e promíscuo,
frequentado por viciados e prostitutas pelo lado material, e de farta
vampirizacão pelo lado espiritual, nos momentos em que se vê
obrigado a tomar o ônibus para chegar até as proximidades do centro
espírita.
Eis como ele próprio narra o que lhe sucedeu após o
desdobramento:
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-Nós estamos em uma sala, onde observamos algumas pessoas
executando música. É uma orquestra, regida por um senhor bastante
adestrado. Ao meu lado, um irmão que não conheço, diz que eu
preciso voltar a determinado local porque está havendo uma
interferência na minha faixa mental, na minha vibração.
E continuou:
-Esta interferência ocorreu não por minha total responsabilidade.
Um espírito aproximou-se de mim hoje, no local onde eu apanho a
lotação e seguiu junto comigo em desdobramento, como se estivesse
imantado em meu períspirito. O meu retorno é para que os espíritos
façam o desligamento. Esse vampiro imantou-se a mim sem que eu
percebesse. Uma de suas ventosas está presa às minhas costas e a
outra aos meus órgãos intestinais.
E por fim falou:
-Agora, uma mulher está ministrando um passe sobre o vampiro,
que ao sentir descargas energéticas à semelhança de choques, afasta-
se aborrecido. Dois guardas o estão levando para a reunião que está
ocorrendo no andar de baixo – desobsessão – a onde ele deverá
manifestar-se se houver médiuns adestrados para isso. Fui levado
agora à Rua 24 de Maio, a rua onde ocorreu a ligação.
Conversei com ele sobre o ocorrido, havia sido invigilantes em
seu pensar.
Basta um filme erótico, um pensamento lascivo, um desejo
oculto na área sexual. É o bastante para estabelecer uma sintonia, uma
indução.
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Por que no mundo, os maus sobrepujam os bons em influência tão
frequentemente?
Pela fraqueza dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos, os
bons são tímidos. Quando estes o quiserem, dominarão – Livros dos
Espíritos, perg. 932.
É comum nas reuniões de desobsessão, o espírito rebelde não
aceita a argumentação do doutrinador, repelindo os conceitos
evangélicos que o capacitam, senão à paz, pelo menos ao conforto de
livrar-se da incômoda posição de devedor sem posses e iniciar o
pagamento parcelado de suas promissórias kármicas.
Além da recusa, forma demonstrada pela agressividade e pela
intolerância, uma vez que somente não esbofeteia o doutrinador
devido ao servo controle que o médium lhe impõe, ainda usa de todos
os meios ao seu alcance para ridicularizá-lo.
Uma das técnicas mais usadas por tais irmãos é falar
ininterruptamente, sem permitir que o doutrinador intervenha. Com
esta técnica, eles visam dois pontos, para eles capitais. O comunicante
que assim se apresenta vem disposto a não ouvir, pois imagina que,
não ouvindo os lembretes evangélicos que lhe soam como
reprimendas e acusações reforçadas. Pela sua consciência, ele pode
permanecer invulnerável em sua posição de ideias anestesiantes, que
funcionam como defesa. Contra a luz celestial não existem barreiras.
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Assim procedendo, ele tenta esquivar-se de ceder ao
chamamento da ternura, que possui o poder de abrir as portas do
remorso ou do arrependimento, dando vazão aos sentimentos
positivos que, às vezes, encontram-se apenas levemente adormecidos
pelo narcótico do ódio ou da insensatez.
A ternura tem o poder de abrir corações de pedra e derreter o
gelo das grandes inimizades. Ninguém resiste à ternura por muito
tempo. Ou se aceita o seu carinho, ou foge-se dela.
Isso ocorreu quando o doutrinador, agindo com habilidade, após
escutar o drama do comunicante, revelado mesmo que a contragosto,
detecta no caminho do infeliz, alguma fagulha do passado que lhe
tenha sido cara no passado. Essa fagulha pode surgir na figura de uma
mãe, esposa, filha ou até mesmo de um amigo.
O importante é trazer de volta essa emoção, que ele
deliberadamente procura deixar lacrada em cofre forte, por saber que
essas lembranças tem o poder de quebrar-lhe a guarda, de franquear
uma passagem para a esperança que ele quer e ao mesmo tempo não
quer, temendo fragilizar-se ao contato com ela.
Para evitar esse enfrentamento, ele fala como um
desequilibrado, para que o doutrinador fique a margem, fazendo com
que aquilo que deveria ser um diálogo, se transforme em um
monólogo.
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Uma outra maneira de intimidação ao doutrinador, visando
desmoralizá-lo e a recusa do espírito em deixar o médium, pode
simplesmente dizer:
-Eu não vou sair! E agora? O que você vai fazer? Vai me
amarrar? Vai me bater?
Muitas vezes, eles são retirados à força pelos guardar
milicianos, sentinelas da casa espírita. De outras vezes, através de
técnicas hipnóticas, os espíritos os fazem sentir--- se com o corpo em
brasa, com queimaduras e coceiras contundentes, enorme peso na
cabeça, chicoteados.
Cada equipe espiritual tem os seus próprios métodos. Em
absoluto, isso não constitui falta de caridade. É uma medida
disciplinar necessária, sem a qual o espírito que assim procedesse,
recusando-se a deixar o médium, simplesmente tomaria todo o tempo
da reunião em ameaças e impropérios, não levando em conta o
desgaste físico do médium.
O médium pode bloquear uma comunicação. Mas, uma vez
concretizada, torna-se dificultoso o alijamento do hóspede abrigado.
Esse é o motivo do rigor das técnicas usadas, que visam
exclusivamente mostrar ao espírito rebelde que o seu pretenso poder é
muito limitado e que a disciplina é regra áurea da reunião.
Lembro-me de que, certa feita, um desses espíritos garantiu que
não deixaria o médium e que poderíamos usar as técnicas que
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desejássemos. Permaneci tranquilo e cerrei a mente em oração
silenciosa. Ele passou a sentir chicotadas sobre o dorso.
Logo disse:
-Índio covarde!
A cada chicoteada, contorcia-se como a sentir profunda dor.
Suportou apenas três doses. Disse baixinho, talvez para consigo
mesmo:
-Não vale a pena apanhar por tão pouco.
Um espírito de aspecto muito robusto, que foi resgatado por
nossos amigos espirituais após o desencarne, sentindo-se agradecido
com o tratamento recebido, ofereceu os seus serviços na luta do bem
contra a ignorância.
Em outra oportunidade, lidando com outro companheiro rebelde
e teimoso, os espíritos o fizeram sentir-se tolhido através de cordas.
Ele não cedeu. Veio a cegueira. Ele passou a não mais visualizar nada
ao seu redor. Apenas a treva da qual se dizia filho. Por ultimo, a
sensação de ter uma pedra sobre a cabeça, curvando-se para frente,
impossibilitado de voltar à posição vertical. Foi então que ele disse,
em tom de quem entregava aos pontos:
-Vocês são piores do que a gente!
Um terceiro, que teimou em permanecer junto ao médium, para
que este não continuasse o seu trabalho de atendimento aos enfermos,
foi convidado a deixar-nos por outro método bastante persuasivo.
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Notando que o evangelho não lhe penetrava a consciência
naquele momento, visto recebê-lo com zombaria e sarcasmo, recorri à
prece costumeira, despedindo-me e desejando-lhe paz.
-Quem disse que eu vou sair? – disse ele, em resposta aos meus
pensamentos.
-Você está preparado para as consequências da sua recusa? –
perguntei.
-Muito bem preparado, para o que der e vier! – e bateu o pé no
chão com força.
-Não torne a fazer isso! Dessa vez você teve a sorte de não ter
fraturado o pé com os pregos que eu coloquei no chão – exclamei.
Ele bateu o pé com mais força. Dessa vez, porém, emitiu um
grito de dor, em virtude de ter tido a sensação de que seu pé havia
sido perfurado por um prego, de modo que, entre choro e lamentos,
qual menino desconsolado, retirou-se, nos tachando de feiticeiros.
Assim é aplicada a terapia da obediência a irmãos que,
indigentes, julgando-se superiores, inadaptados ao bem, ousam não
conduzir sua vida pelo caminho do bem, anestesiando-se contra os
afagos da quietude dinâmica da paz.
É certo que são espíritos doentes e necessitados. Mas a doce
caridade do evangelho não lhes penetra, pois no momento, a espessa
couraça de ódio e indiferença a que se acostumam. A disciplina – e
não a violência – se faz imperiosa para que a força bruta não se
sobreponha à harmonia geral, em um mundo no qual a violência já é
bastante elástica pela omissão dos bons.
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Poder-se-ia acusar a Deus de ser mau, pela existência do câncer,
hanseníase, amputação do recém-nascido? Na história dos
semeadores, alguns não utilizaram a gleba para a prosperidade das
urtigas e outros para vastos trigais? Seria possível à vida, tão sábia na
matemática das penas e recompensar, negligenciar em tão delicado
tema?
Segundo o Livro dos Médiuns, cap. XIV, tomo 172, “o
sonambulismo pode ser considerado como uma variedade da
faculdade mediúnica, ou melhor, trata-se de duas ordens de
fenômenos que se encontram frequentemente reunidos. O sonâmbulo
age por influência do seu próprio espírito. É a alma que, nos
momentos de emancipação, vê, ouve e percebe além dos limites dos
sentidos. O que ele diz procede dele mesmo. Em geral, suas ideias são
mais justas do que o estado normal, seus conhecimentos são mais
amplos porque sua alma está livre. Em uma palavra, ele vive por
antecipação a vida dos espíritos”.
É comum vermos espíritas ortodoxos cerrarem barreirar contra a
inclusão no estudo espírita de pontos não abordados por Kardec.
Essas pessoas pararam no tempo, esquecendo-se de que o
espiritismo é uma doutrina evolutiva, e que o seu processo crítico
configura-se também na disposição de acompanhar o
desenvolvimento das ciência, prioritariamente daquelas que lhe são
afins.
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Não foi o próprio coordenador da doutrina quem mencionou a
necessidade dela caminhar passo a passo com a ciência?
Quando a humanidade se mostrava preparada para um entendimento
mais racional das leis divinas, não nos visitou Jesus, ministrando tal
atualização, adaptando os ensinamentos à nova realidade da época?
O espiritismo não veio como passo posterior, seguindo a mesma linha
de pensamento e raciocínio?
Perguntamos aos temerosos do avanço doutrinário em áreas não
mencionadas por Kardec: Qual a razão? Fobia do novo? Descrença na
sinceridade dos pesquisadores? Preguiça de estudar? Esperam
revelações contundentes do plano espiritual ditando fórmulas e
normas? Ou medo de descobrir erros ou limitações na Doutrina?
Se tudo está em constante evolução, como o espiritismo poderia ficar
restrito ao que o próprio Kardec afirmou? Já não invadem os espíritos
os canais de televisão, os telefones, os gravadores e os computadores?
Não á ostensiva a participação do pensamento dos desencarnados nas
artes, nas ciências e na filosofia?
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93
Na terra, a evolução apresenta-se a todo instante, e os
desencarnados de logo mais serão os que estarão participando da
evolução do mundo dos espíritos.
Estão aí as pictogravuras, as psicografias, as materializações, os
transportes, as cirurgias... Será que que todos esses fatos não são
suficientes para mostrar a vontade e o impulso dos desencarnados
nesse contexto evolucionista?
Não estou considerando em absoluto que a obra de Kardec está
superada. Eu o louvo, e conclamo os estudiosos de boa vontade a
prosseguirem na mesma linha de pesquisas austera e coerente com os
princípios já estabelecidos. Mas o espírita deve preocupar-se em
formar a sua opinião a respeito dos eventos novos que os próprios
espíritos mostram no dia-a-dia.
Eis pensamentos contraditórios:
• “Isso é assunto da ciência”;
• “Esse tema não pertence à minha religião”;
• “Aquilo que o orador falou não passa de enxerto”;
• “A codificação não fala sobre o tema, por isso não me
interesso”.
Frases como essas, bem demonstram a estreiteza da visão de
quem as pronuncia e a facilidade com que atestam a própria
incompetência em focalizar o assunto dentro do contexto religioso a
que se filia.
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Não se deve esquecer do que Kardec nos disse:
“Eu não dei a palavra final, toda vez que fatos novos surgirem
à luz da verdade, deveremos acatá-las.”
O próprio Jesus assim se manifestou quanto às informações aos
homens:
“Tenho muito para vos dizer, mas não estão preparados. Em
época oportuna mandarei o espírito da verdade para vos esclarecer.”
É responsabilidade da doutrina espírita, procurar respostas,
aprofundando-se no entendimento do Criador, da criatura e da criação
temática na qual se encontra o cerne da indagações humanas.
Prender-se ao que Kardec bateu e rebateu já seria muito se o
fizessem com afinco. Todavia, espera-se muito mais do espírita
autêntico. Espera-se o alongamento filosófico, a objetividade prática,
a busca científica.
Tudo mais que se disser como argumento contrário, sempre
será, a nosso ver, sintomas de acomodação, ou seja, o engessamento
da própria dinâmica da vida.
Acomodação essa que se disfarça com mil máscaras,
travestindo-se de verdade, mas que não reside ao toque vibrátil da
coragem.
Paulo de Tarso, após o desencarne, encontrou-se cego no plano
espiritual, caído embaixo de uma árvore amiga. “O homem precisa
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servir a Deus, ainda que tateando em densas trevas” – pensou ele,
levantando-se para a ação.
És cego? Paralítico? Hanseniano? Canceroso?
Mesmo que a resposta fosse sim, seria melhor que a morte te
encontrasse com um livro na mão do que em conversações estéreis
acerca da cor da porta do céu, onde julgarias adentrar-se logo mais.
Conversando certa vez com um confrade, homem nascido na
doutrina, tido como conhecedor das intrincadas questões mediúnicas,
este me confidenciou:
-Conheço um médium que se desdobra em quase todas as
reuniões para buscar o espírito necessitado em longínquas áreas,
trazendo-o para comunicar-se. Não acredito nessas coisas. Se vai com
os espíritos, porque estes não vão sozinhos e trazem os necessitados?
Nada respondi, por falta de oportunidade, pois o início da
palestra nos distanciou, interrompendo o diálogo. Fiquei pensando
nos desdobramentos citados. Ao meu ver, o desdobramento é uma
faculdade mediúnica de grande valia nas reuniões de desobsessão,
bem como instrumento de revelação no que tange aos dois planos
onde trabalhamos.
Eu já os tenho assistindo e auxiliando as centenas. E nas
mesmas condições a que ele aludira, sem motivos de descrença
quanto a sua veracidade. Outras informações a respeito da utilidade
do médium em atividade de desdobramento virão a seguir.
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Como se fazer visível a quem não se encontra tal materializado
a não ser com a colaboração do médium? Por que a dúvida, ou
melhor, a reprovação do companheiro?
Rebusquei a memória, dela retirando velhas lembranças que ora
transcrevo. São regastes, nos quais os nossos médiuns se dirigem a
regiões de difícil acesso, acompanhados pelas nossas vibrações e
orações. Eis os relatos que eles fizeram na ocasião:
Primeiro relato:
O local onde me encontro é muito quente. Aparenta ser uma
espécie de cratera vulcânica. Sinto um calor horrível que está me
causando pesado mal-estar. O instrutor me diz que esse recanto se
destina ao aprisionamento, pelos espíritos encarregados de limpar o
ambiente espiritual, dos criminosos, agressivos e violentos. São
espíritos cruéis que aqui ficam isolados em virtudes de suas
tendências guerreiras. Apesar de funcionar como uma prisão, eles não
sabem que são prisioneiros nesse ambiente. São mentes capazes de
muita crueldade.
Observo alguns, possuem aspectos animalescos. Quase
perderam a forma humana. Estamos aqui para resgatar um jovem que
cometeu alguns assassinatos, com requinte de crueldade. Há anos ele
se encontra aqui. Por intercessão de sua mãe, e também por já estar
em condições melhores, ele vai ser resgatado e levado a um
educandário, onde deverá reabilitar-se através do trabalho. Existe uma
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espécie de guarda que mora aqui. Esse homem possui cachorros.
Esses animais descobrem o espírito pelas vibrações.
Segundo relato:
Estamos andando em uma floresta muito fechada. Tão espessa
que a luz não consegue penetrar. À proporção que vamos adiante, a
paisagem vai se modificando. Atravessamos um rio cuja água é
amarelada, barrenta. As vibrações do ar parecem modificadas,
pesadas por assim dizer. Estamos agora amarrados uns aos outros, e
eu me situo no meio da fila indiana. Atingimos uma região deserta.
Não vejo uma árvore sequer e tudo parece escuro como a noite. A
paisagem é formada por pedras escorregadias, lodo, furnas. Sinto o
corpo tão pesado que me desloco com grande dificuldade. O espírito
que vamos resgatar não tem mais forma humana.
Ele já foi localizado atrás de umas pedras e, apesar da escuridão,
nossos amigos dizem que é ele mesmo. É engraçado que consigo ver
no escuro. Sinto que o rosto desse espírito é humano e diviso em
placas dérmicas em lugar da pele. Seus braços são curtos, terminando
em garras – nesse momento o médium sente muita dificuldade em
falar e respirar. Quase não escutamos a sua conversa com os espíritos:
-Por que tenho que ir na frente? Ele está fugindo! Como vou
chamá-lo? Devo chamar pelo nome? Mas qual é o seu nome? Neide?
É uma mulher? Neide! Ela escutou! Ela vai me atacar!
Nesse instante ocorreu a incorporação. O médium passou a
rosnar tendo-se-lhe encurvado as mãos em forma de garras. Procurei,
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chamando-a pelo nome, lembrando-lhe a condição humana. Falei de
seus pais, da sua infância, de como sua mãe a ensinou a orar. Ela
conseguir articular a palavra “mãe”, passando a repeti-la
sucessivamente. Apesar dos passes, das preces e do demorado
monólogo, onde lhe tomei as mãos, solicitando que as abrisse, não
conseguimos maiores resultados.
Ela adormeceu, ainda na forma com a qual chegou, ou seja,
como “mulher crocodilo” nos dizeres do médium.
Terceiro relato:
Estamos penetrando uma mata cerrada. À nossa frente, um
espírito de aspecto um pouco rústico. Ele está nos vestindo com uma
espécie de gibão de couro à semelhança daqueles usados pelos
vaqueiros. Agora seguimos em frente, com ele abrindo caminho entre
os galhos com um facão que trazia à cinta.
Somos três, ouço muitos gritos e lamentos, mas o instrutor diz
que não devemos nos deter para ouvi-los, nem nos deixarmos
impressionar. Cada grito estremece dentro de mim. Atingimos uma
lama escura e pegajosa. Sou alertada para me manter em prece
silencioso, porque esse pântano abriga muitos espíritos desajustados.
Atravessamos a lama e atingimos uma caverna. A paisagem é
tão estreita que temos que nos curvar bastante para penetrarmos em
seu interior. O guia acendeu uma tocha. Vamos em regaste a uma
homicida que se encontrar perdido nessas faunas, como se fugisse de
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si mesmo. Quase não existe ar para respirarmos aqui. Esse homicida,
em um acesso de loucura, matou os quatro filhos.
Consigo ver alguns habitantes dessas furnas. Eles nos causam
medo pelo aspecto sombrio que ostentam. O guia já o encontrou, mas
ele tenta fugir. Seu estado é deplorável. O guia tenta segurá-lo e trazê-
lo até nós. Coitado! O instrutor nos diz que era filho dele. Agora
temos que sair rápido. Essa caverna parece sugar nossas energias.
O irmão que nos dirige diz que esses espíritos podem nos buscar
como âncora de salvação, motivos pelo qual precisamos sair breve.
Esse espírito tinha, ao comunicar-se, o pensamento fixo no crime que
praticara e pedia perdão a Deus constantemente.
Observando a esses três fatos, creio que podemos oferecer
algumas respostas, objetivando esclarecer a razão desses
desdobramentos a locais tão assustadores e o longo detalhamento,
exigindo por parte do médium muita oferta de energias e, limitando o
tempo, para que outros atendimentos houvessem naqueles dias.
v Situações assim servem como treinamento para o médium que
também participou de resgastes semelhantes durante o sono
físico;
v Constitui material de estudo para os aprendizes do espiritismo;
v O períspirito do médium, impregnado de fluídos vitais, favorece
o socorro de emergência ao necessitado.
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Quando a dúvida do dirigente, a respeito da necessidade da
espiritualidade levar com eles o espírito do médium, essas
observações respondem:
Em geral, o períspirito do médium, sendo mais denso, é avistado
por aquele que deve ser socorrido e facilita o momento, pelo fato da
visão restrita não captar a presença dos instrutores espirituais;
Os preparativos para o contato do resgate com o médium,
visando ministrar-lhe o choque anímico, são efetuados no local do
resgate. Ou seja: a comunicação mediúnica, se for o caso, é feita in-
-loco, sem que o espírito manifestante esteja presente na reunião
mediúnica – existem nesses casos, outros dois aspectos que merecem
algumas considerações:
I. As mentes enfermiças criam cenários grotescos, cuja geografia
lhe dificulta o próprio regaste e;
II. O períspirito pode atravessar a matéria do plano físico, mas o
mesmo não ocorre com a matéria do plano espiritual, obrigando-
se a escalar montanhas, atravessar rios, cortar a mata e etc.
A respeito do desdobramento, qual o maior obstáculo ao progresso?
Segundo o Livros dos Espíritos, perg. 785, “o orgulho e o
egoísmo. Eu quero lhe falar do progresso moral, porque o progresso
intelectual caminha sempre e, à primeira vista, parece dar a esse
vícios um redobramento de atividade, desenvolvendo a ambição e o
amor das riquezas que a seu turno, excitam o homem às procuras que
esclarecem seu espírito. É assim que tudo se tem, tanto no mundo
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moral quanto no mundo físico e que do mal mesmo pode surgir o
bem. Mas esse estado de coisas é breve e mudará, à medida que o
homem compreenda melhor que fora dos prazeres dos bens terrenos
há uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais durável.”
O orgulho é um vício bastante arraigado no coração humano.
Desvencilhar-se dele é trabalho hercúleo, no qual a boa vontade e o
esforço devem empreender longas e árduas batalhas ao longo dos
séculos, pois ninguém se torna humilde entre um nascer e um pôr-do-
sol. É esse vicio que causa ao indivíduo em particular às nações
inumeráveis malefícios.
É por esse sentimento orgulhoso que os crimes se avoluma, as
contentas se instalam nos lares e ambientes, que milhares de
obsessões são alimentada, que as mágoas são conservadas e que o
progresso do mundo é dificultado, retardando a instalação definitiva
da paz e da concórdia no planeta.
Os espíritos não estão imunes à sua virulência. Apesar de
conscientes do seu alto poder corrosivo – com o qual se tornam mais
responsáveis pela intimidade com o que se agasalham. São comuns as
atitudes hostis entre os aprendizes que, empolgados pela luminosidade
e lógica dos postulados espíritas, ingressam na doutrina sem a
legítima prioridade da reforma interior.
Infelizmente, esse vício está incrustado em todas as religiões,
qual células cancerosas a ameaçar órgãos e sistemas. Basta o orgulho
chegar para afastar os nascentes raios do perdão, o embrião da
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humildade, as tenras hastes da fraternidade, a gestação da paz. A
construção do anjo deve passar obrigatoriamente pela destruição
desses vícios milenares. É só através do esmeril da boa vontade, do
buril do esforço e da lixa do trabalho edificante que o espírito
consegue subtrair-se do seu jogo, mostrando a luminosidade a que foi
destinado.
Fomos chamados, certa feita, a ministrar pequenos curso sobre
mediunidade a médiuns que já tinham alguma prática, mas que ainda
eram carentes de subsídios teóricos.
Iniciei o curso fazendo ligeiro histórico da mediunidade,
despertando bastante interesse por parte de todos, que se desdobraram
em perguntas e apreensões. Um deles, entretanto, considerado a
estrela da casa – porque além de ser médium psicofônico ainda
atendia a clientela doente transcrevendo mediunicamente receitas e
remédios – permanecia algo crítico e indiferente às nossas
observações.
Ele logo se ausentou do curso, por dizer-se conhecedor do
assunto estudado e por julgar que ser médium era apenas receber
espíritos.
Talvez se considerasse um profundo conhecedor, ou quem sabe,
se sentisse inibido em participar junto com os outros companheiros de
estudos por ele considerados primários, de vez que há mais de dez
anos exercia dignamente a sua mediunidade.
Passei uma semana, conforme nos narra o Dr. Luiz Gonzaga
Pinheiro, com os companheiros, discutindo à luz da codificação
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103
espiritas, os assuntos específicos a cada tipo de mediunidade que
apresentavam. Transmiti conselhos recebidos de instrutores da casa
espirita onde trabalho e que muito me ajudaram dado que aclaravam
em muitos pontos dos livros doutrinários.
No último dia, fizemos uma espécie de aula prática. Dispusemo-
nos à mesa e dirigimos a reunião. No final, após os comentários e
observações sobre o desempenho do grupo, um dos médiuns me
entregou um papel com mensagens por ele psicografadas.
Eram conselhos de um amigo para o médium faltoso, ou seja, do
medico que o auxiliava no seu trabalho, pedindo-lhe pelo menos para
ler as bulas de remédios para facilitar a sua atuação através dele,
minorando, com isso, os sofrimentos daqueles buscavam a casa.
Estava faltando ao médium a virtude da humildade, para
reconhecer-se aprendiz.
Como definir o limite em que as paixões deixam de ser boas ou más?
Segundo o Livro dos Espíritos, perg. 908, “As paixões são como
um cavalo, que é útil quando está dominado e que é perigoso quando
é ele que domina. Reconhecei, pois, que uma paixão torna-se
perniciosa a partir do momento em que não podeis governá-la e que
ela tem por resultado um prejuízo qualquer para vós ou para outrem”.
Se o cérebro material nos é desconhecido, é fácil imaginar o
quanto ignoramos a mente, como complexo mecanismo criador e
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104
modelador. Basta lembrar que há nas regiões trevosas espíritos cujo
poder mental é incontestável, dominando vastas populações,
submetendo legiões de ignorantes que lhes obedecem cegamente,
escravizados, mantidos na condição de serviçais, através de métodos
hipnóticos ou magnéticos, e também, é lógico, pela afinidade das
vítimas com o trabalho que lhes é imposto.
Nesses recantos escuros, eles reinam sem contestação,
manipulando as forças mentais ou utilizando-se da crueldade, com
argumentos respeitados pelos seus subordinados, os quais os elegem
para os postos de comando nessas regiões trevosas.
Essas associações belicosas são frequentemente requisitadas por
espíritos que firmam com eles os mais diversos tipos de
compromissos e negociatas, interessados em vinganças, obsessões,
combate às casas espiritas e toda sorte de trabalhos indignos.
Todavia, aqueles que se escudam na oração e na vigilância, e em
cuja conta cármica não consta maiores débitos, pode prosseguir sem
tropeços, mesmo caminhando no gume da navalha, atingindo, afinal,
os seus objetivos, graças ao suor derramado no esforço de subida.
Assim também tem sido nas casas espíritas.
Ao notar que perdera alguns de seus auxiliares e que outros não
conseguiam cumprir adequadamente os seus propósitos junto aos
médiuns da casa, visitou-nos em certa reunião um desses espíritos-
chefes, assumindo postura calma, porém de intimidação.
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105
Através da psicofonia, passou a enumerar, para cada um de nós,
as deficiências mentais que ostentávamos, tentando estabelecer um
paralelo para mostrar em que pontos a nossa posição mental era
sensível à sua atuação.
-Já coloquei muitos a dormir aqui – disse ele – basta leve
sugestão e logo sente mal-estar, sono, irritação, desânimo.
E continuou:
-Você não se pergunta ainda por que o seu grupo de estudos está
diminuindo? Pois bem! Aqui estou eu! Vamos! Tentem! Façam-me
sentir coceiras, queimaduras, cegueira! Façam-me sentir amarrado,
imobilizado. Vocês são uns tolos! Domino todas essas técnicas
primárias. Sou um mestre, ouviram? Um mestre!
Tentei dizer-lhe que o único mestre a quem reconhecemos é
Jesus, e que não havia nenhum poder magnético superior à prece,
porém, ele continuou a zombar da nossa fragilidade. Passamos a orar,
mas a prece parecia não surtir efeito algum, apesar de todo o grupo
estar coeso em pensamentos e de dois passistas estarem em constante
atividade junto ao desafiante.
Um dos mentores da casa, após solicitar a permissão para falar,
dirige-lhe palavras de amor e fraternidade, tendo ele respondido que
estava imunizado contra tudo aquilo.
Passamos então, sem desespero nem afobação, com a mesma
calma com a qual saudáramos no início, a mentalizar a figura do Dr.
Bezerra de Menezes, solicitando o seu auxílio.
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O espírito permaneceu igualmente tranquilo, ciente da sua
superioridade. Passados dois minutos – que nunca pareceram tão
longos – de mentalização, ele começou a lutar contra o que dizia ser
uma sugestão que o dominava, fazendo-o sentir-se cego. Exclamava
para si mesmo:
-Não! É apenas uma sugestão!
Mas não logrou recuperar a visão. Após alguns instantes de
esforço mental sem resultado prático, ele se rendeu:
-Então, onde está o mestre que dominou a minha mente com
essa sugestão? Sei que foi isso. Apenas ele tem a mente superior à
minha. Onde ele está? Eu preciso conhecê-lo.
Contudo, nem nós sabíamos onde ele se encontrava. Teria o Dr.
Bezerra feito aquilo à distância, ou se deslocara até nós, atendendo ao
SOS que emitíamos? O comunicante ainda se sentia cego, retirou-se
com uma ameaça:
-Vou voltar aqui! Vou estudar essa técnica. Vou aprofundar-me
mais e voltarei para conhecer esse mestre que me sugestionou.
Ato contínuo, um amigo espiritual nosso comunica-se com
informações sobre o visitante:
-Chamara-se Hermógenes. Vivera em épocas recuadas no Egito
antigo, já dominando técnicas de hipnotismo e de magnetismo
avançadas para a sua época. Sempre tiveram grande paixão por esses
estudos e ainda hoje, continuava pesquisando e aprofundando-se, sem
associar seus conhecimentos ao fator crescimento espiritual, para si
ou para o próximo. Pode-se dizer que ele é um grande mago, mestre
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em magia negra e em hipnotismo. Domina muito bem a manipulação
dos fluídos e as correntes mentais e está ligado a uma organização
trevosa que provoca verdadeiras deformações perispirituais naqueles
que lhes caem no domínio. Ele é responsável pelos casos de
licantropia e zoantropia levados a efeito por essa organização, mas
apesar de tanto poder mental, não passa de um pobre irmão
necessitado, situado nas faixas inferiores da evolução.
Ao mesmo tempo em que esse amigo espiritual nos passava
essas informações, ele atuava com vistas a absorver os fluidos
enfermiços, carregados de pesado lastro de toxidez, propositalmente
deixados no ambiente pelo espírito necessitado que fora retirado.
Para nós, era mais uma demonstração de que o amparo e a
assistência de Jesus nunca estão ausentes quando a necessidade nos
pressiona. Alguém comentou depois:
-E se o Bezerra não tivesse vindo?
-Observação inócua, – respondeu o outro – não foi Jesus quem
disse que “tudo o que pedires orando, credes que o terás e assim vos
será feito”? Se ele não tivesse corrido em nosso auxílio, a lógica nos
diz que a causa teria sido insuficiência da nossa prece, que não teria
sido convincente, não atingindo, portanto, os seus objetivos.
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Há culpa em estudar os defeitos dos outros?
Segundo o Livro dos Espíritos, perg. 903, “se é para criticar, há
muita culpa, porque é faltar com a caridade. Se é para fazê-lo em seu
proveito pessoal e os evitar em si mesmo, isso pode, em algumas
vezes, ser útil. Mas é preciso não esquecer que a indulgência pelos
defeitos alheios e uma das virtudes na caridade. Antes de fazer aos
outros uma censura de suas imperfeições, vede se não se pode dizer a
mesma coisa de vós. Esforçai---vos, portanto, em terdes as qualidades
opostas aos defeitos que criticais nos outros, esse é o meio de vos
tornardes superiores”.
Ø Se censuras por serem avarentos, sede generoso;
Ø Se por serem orgulhosos, sede humilde e modesto;
Ø Se por serem duros, sede dóceis;
Ø Se por agirem com baixeza, sede grande em todas as vossas
ações;
Fazei de tal maneira que não vos possam aplicar estas palavras
de Jesus: “Ele vê um argueiro no olho do seu vizinho e não vê uma
trave no seu próprio”.
Em um grupo espírita sempre existe a necessidade de se fazer,
de quando em quando, uma parada para a avaliação do seu próprio
desempenho. Há sempre algo a corrigir, a aperfeiçoar, a exigir
arranjos e complementações.
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Criaturas em aperfeiçoamento que somos, distanciados ainda da
iluminação plena, estamos constantemente a introduzir parcelas de
nossas imperfeições no trabalho a que nos vinculamos, o que não quer
dizer, evidentemente, que dele nos devamos afastar, para retomá-lo
apenas quanto estivermos santificados, o que, bem o abemos, não
ocorrerá antes que muitas rochas se desgastem pelo atrito dos
fenômenos meteorológicos.
Enquanto essa santificação não estiver em nós, devemos
oferecer coerência e harmonia aos trabalhos em que nos empenhamos,
assim sendo, vamos edificando aos poucos via regência do tempo e da
dor.
É em regime de urgência que nós, os imperfeitos, conscientes de
nossas imperfeições e da necessidade de reduzi-las através das
oportunidades de serviço, firmemos as mãos a serem calejadas na
base do arado, removendo a terra árida da incompreensão humana, na
tentativa sempre digna de servir a Deus.
Esses são, no fundo, os pensamentos dos centros espíritas:
v Ninguém se santifica tão somente por ingressar no espiritismo;
v Ninguém vivencia o evangelho simplesmente porque o explica;
v Ninguém conquista as dulcificantes virtudes do amor ao
próximo, simplesmente por apontá-lo como salutar
medicamento para a obtenção da paz.
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Constitui-se assim o centro espírita, em aglomerado de irmãos
sofredores que procuram auxiliar a outros ainda mais sofredores.
Justamente através da luta incansável contra suas fragilidades é
que entendem e entram em sintonia com outros, ainda mais frágeis.
Auxiliando, são auxiliados. Doutrinado, acabam sendo doutrinados.
Amando, constroem amizades sólidas que os tornam amados.
A casa espíritas é uma abençoada oportunidade de serviço e de
renovação, materializando o chamamento de Jesus, quando enfatizou:
“toma a tua cruz e segue-me!”. Eis o convite ao trabalho voluntário,
que em nada se diferencia do convite à nossa redenção espiritual.
Adentremo-nos nessa oficina, portanto, conscientes de tais
perspectivas, firmes no desejo de servir, certo de que ali, somos
igualados pela dor e pela bravura diante do sofrimento, visto que
ainda nos caracterizamos mais pela enfermidade do que pela
santidade.
E como disse Jesus, será o maior, aquele que mais servir, o mais
humilde, aquele que tiver a caridade como norma de conduta, sendo,
portanto, o que menos fere.
Mesmo que a espora da dor, o cabresto da ingratidão, a cangalha
da maledicência e o chicote das agressões venham a nos atingir
quando em vez, isso será ainda o que necessitamos por não reunirmos
ainda condições de sermos promovidos a burrinho de cela.
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Com a graça de Deus, chegamos ao final desses três cadernos,
solicitando de nós mesmos que de tempos em tempos, façamos
individualmente o seguinte balanço moral em torno do nosso
procedimento:
1. Observar a disciplina e a assiduidade no trato com as funções
realizadas na casa espírita;
2. Fui instrumento dócil aos bons espíritos, tanto nas
mentalizações quanto na mediunidade ostensiva, participando
ativamente da ajuda prestada aos irmãos desencarnados?
3. Fui comprometido com as complementações das tarefas
mediúnicas durante o sono físico, como servos úteis à causa do
bem?
4. Consegui ser espírita fora do centro espírita, guardando as
proporções, mas mantendo uma relatividade com os esforços
empreendidos?
5. Fui atuante como fator de harmonização, evitando as fofocas, as
críticas infundadas, os melindres, a exteriorização do orgulho, as
agressões verbais e outras atitudes correlatas?
6. Consegui renunciar em muitas ocasiões ao repouso domiciliar,
ao convívio com os filhos, ao programa de televisão, à conversa
animada com as visitas, aos aniversários, colocando como
prioridade o cumprimento assumido comigo mesmo perante a
doutrina?
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7. Ofereci orações a meus irmãos, consegui perdoar, espalhar a
solidariedade e sobretudo, colocar a mão no arado sem olhar
para trás?
Depois de tudo ter sido exposto, resta agora o mais difícil,
incorporar na nossa intimidade os sentidos desse aprendizado.
Considerações Pessoais
Filhos – Marcelo, Marco e Mariane – se o que foi exposto não
encontrou guarida em seus corações, alguns séculos terão ainda que
percorrerem.
Cuiabá/MT – 2010 (Revisado em 2014).
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